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Resumo
A falta de adesividade entre o ligante betuminoso e certos tipos de agregados é conhecida e pesquisada desde a década
de 1920. Desde então diversos trabalhos foram conduzidos de maneira a se desenvolver métodos de ensaios capazes de
avaliar com acurácia a sensibilidade à umidade de agregados e/ou misturas asfálticas, bem como desenvolver agentes
melhoradores de adesividade mais eficientes e com melhor estabilidade térmica. Este trabalho apresenta parte de uma
pesquisa para desenvolvimento de agentes melhoradores de adesividade (AMA) que apresentem essas características.
Foram pesquisados 11 diferentes tipos de agente AMA. Os ensaios realizados incluíram além dos ensaios de
caracterização do AMA, ensaio de adesividade expedita antes e após o RTFOT e o ensaio Lottmam (AASHTO T 283)
de misturas asfálticas elaboradas com agregado de origem granítica.
Abstract
The facts that the adhesion between asphalt and aggregate is reduced in the presence of water (stripping) and that the
cohesion within the asphalt binder itself deteriorates have been known to practitioners for a long time and date back to
at least the 1920s. Since then, several researchers have been pursuit suitable test methods in order to evaluate the HMA
moisture sensitivity as well as develop more appropriate and thermal stable antistripping agents. The present paper
shows some advances in antistripping agent development according this approach. Eleven different antistripping agents
were evaluated. The characterization included boiling test before and after RTFOT, Lottman test (AASHTO T283) in
relation of granite aggregate and mixtures.
1. Introdução
O fato de que a adesão entre o asfalto e o agregado é reduzida pela presença de água e que a coesão do ligante
asfáltico em si também se deteriora é do conhecimento dos técnicos da área desde a década de 1920. Os primeiros
trabalhos sobre esse tema foram conduzidos por Nicholson (1932), Riedel e Weber (1934), Saville e Axon (1937) e
muitos outros. O trabalho apresentado por Saville e Axon discute a pesquisa para um ensaio de laboratório viável e
apresenta os resultados dos ensaios de fervura e imersão e sua comparação com resultados de campo de misturas feitas
com diferentes tipos de agregados. O trabalho apresenta fotografias de revestimentos apresentando desagregação pela
má adesividade que poderiam muito bem ter sido fotografada em pavimentos atuais, indicando que os problemas de
adesividade não começaram por causa das alterações na composição dos asfaltos no início da década de 1980.
O fenômeno da adesão de um filme de asfalto sobre a superfície de um agregado mineral envolve o
desenvolvimento de interações eletrostáticas que dependerá fundamentalmente da natureza química do par. Sabe-se que
a maioria dos compostos presentes no asfalto é de natureza apolar (hidrocarbonetos) enquanto a superfície dos
agregados é polar, podendo possuir carga positiva ou negativa, dependendo da natureza química. A resistência do filme
a ação deslocadora da água será maior quanto mais compatível forem os materiais. Diversos testes foram desenvolvidos
a fim de determinar esta tendência.
Na década de 1960 iniciaram-se as pesquisas para prever a sensibilidade a umidade de misturas asfálticas e
não apenas a adesividade ligante-agregado. Os principais trabalhos deste período são os de Jonhson (1969), Schimidt e
Graf (1972), Jimenez (1974) e Lottman (1978).
O protocolo de ensaio desenvolvido por Lottman em 1978 foi um ponto de inflexão no tema, no sentido de
estabelecer um procedimento de ensaio coerente para induzir danos por umidade ao concreto asfáltico. O protocolo
introduzido por Lottman foi posteriormente modificado e normalizado com procedimento de ensaio AASHTO T 283.
______________________________
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Mestre, Engenheiro Civil – Betunel Ind. e Com. Ltda.
2
Mestre, Engenheiro Químico - Betunel Ind. e Com. Ltda.
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Após o trabalho de Lottman não houve desenvolvimentos significativos em procedimentos de ensaio para a previsão de
danos devido à umidade, até o advento do programa SHRP que patrocinou pesquisas para o desenvolvimento de novos
ensaios de sensibilidade à umidade. O resultado desta pesquisa foi o Environmental Conditioning System (ECS) (Al-
Swailmi e Terrel, 1992). Ao mesmo tempo, o simulador Hamburgo (HWTD) foi introduzido nos Estados Unidos
(Aschenbrener e Currier, 1993).
Desta forma, a maior parte dos componentes presentes no asfalto possui natureza apolar. E mesmo dentre os
polares, apenas alguns compostos são ativos em relação à superfície do agregado. A maioria dos compostos polares
presentes no asfalto são ácidos carboxílicos e anidridos e a sua ocorrência está relacionada à acidez naftênica ou “valor
ácido”, que é expressa em termos de KOH/g de asfalto titulado. Os valores típicos estão entre 0 a 4 mg KOH/g
(Plancher).
Por outro lado, pode-se a grosso modo classificar os agregados em função do teor de sílica (ou carbonato de
cálcio) presente em sua estrutura (Figura 1). Quanto maior o teor de sílica presente, mais ácido é o agregado. Os
agregados de natureza ácida necessitam de compostos com características básicas como promotores de adesão e vice-
versa.
quartzito
granito
arenito
dolomita
basalto
calcáreo
mármore
Normalmente os agregados ácidos silicosos possuem má adesividade ou interação química fraca com a maioria
dos asfaltos. No caso dos agregados alcalinos, como o calcáreo a adesividade dependerá fundamentalmente da acidez
naftênica do asfalto. Muitas vezes os finos (ou fração areia) é a mais sensível em termos de má adesão nos agregados
silicosos enquanto o calcáreo possui má resistência à abrasão, que leva ao polimento e perda de macrotextura do
revestimento asfáltico.
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O que normalmente é feito a fim de melhorar a adesão ligante-agregado é a adição de compostos que
melhorem a afinidade química do par. Exemplos desses aditivos é a cal hidratada e os aditivos promotores de adesão
(líquidos e sólidos).
Os compostos nitrogenados básicos presentes no asfalto, marcadamente as piridinas, possuem atividade
adesiva face aos centros ativos presentes nos agregados silicosos (ou ácidos). Contudo, a ocorrência destes depende da
natureza do asfalto e podem ser insuficientes para bem ancorarem em certos tipos de agregados ácidos. Um tipo de
composto nitrogenado básico (as diaminas) são bons promotores de adesão, porém degrada-se se expostas por longo
tempo a alta temperatura (> 140ºC). Desta forma, estas só são efetivas se adicionadas ao CAP no momento da
usinagem. A figura 2 ilustra o esquema de adsorção do nitrogênio básico da triamina com um sítio ácido silicoso.
Os calcáreos reagem quimicamente (reação de esterificação) com os ácidos carboxílicos presentes nos asfaltos
de origem naftênica (tais como o Boscan e Bachaquero) e dão origem a ésteres de cálcio que promovem a adesão do
filme asfáltico à superfície do agregado.
A idéia da adição da cal hidratada ou calcáreo junto aos agregados antes da usinagem segue um esquema
semelhante ao anterior. Ocorre a formação da cal virgem (CaO) que posteriormente reage com o ácido carboxílico do
CAP (caso disponível), promovendo a fixação do filme sobre a superfície do agregado (Figura 4).
Caso não haja uma ligação química efetiva entre o filme asfáltico e a superfície do agregado, quando houver
água livre na mistura, poderá ocorrer o deslocamento deste filme, expondo a superfície do agregado. Este mecanismo é
a gênese de diversas patologias observadas nos pavimentos asfálticos (Figura 5).
Quando existe naturalmente ou artificialmente no asfalto o composto compatível com a natureza química do
agregado, forma-se uma ligação química do filme no agregado, muito mais resistente à ação da água do que um mero
recobrimento físico (Figura 6).
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Em adição a correlação dos resultados dos ensaios de laboratório com o desempenho em campo, também se
exige que os ensaios sejam capazes de mensurar os efeitos das medidas mitigadoras da sensibilidade à umidade,
particularmente o uso de AMA e asfaltos modificados. Esses efeitos mitigadores devem ser correlacionados com o
desempenho de campo enfrentado as mesmas dificuldades discutidas anteriormente.
Como já mencionado, os ensaios de adesividade podem ser divididos em dois grupos: ensaios feitos em
agregados soltos e ensaios realizados em misturas asfálticas. Por este critério os ensaios existentes são classificados
conforme mostrado nas Tabelas 2 e 3.
Ensaio Especificação
ASTM AASHTO Outras
Azul de metileno ISSA TB 145
Film Stripping California Test 302
Imersão estática D 1664* T 182
Imersão dinâmica ? ? ?
Imersão química Método TMH-1 (Road Research Laboratory 1986,
Inglaterra)
Reação superficial Ford et al (1974)
Quick bottle Virginia Highway and Transportation Research Council
Fervura D 3625 Tex 530-C; Kennedy et al (1984)
Rolling bottle Isacsson e Jorgensen (1987) Suécia
Adsorção SHRP A-341 (Curtis et al, 1993)
Energia superficial Thelen 1958, HRB Bulletin 192;
Cheng et al (2002), AAPT
Pneumatic Pull-off Youtcheff e Aurilio (1997)
* Descontinuado.
Ensaio Especificação
ASTM AASHTO Outras
Suscetibilidade à umidade California test 307
por vapor Desenvolvido na década de 1940
Imersão-compressão D 1075 T 165 ASTM STP 252 (Gode 1959)
Imersão Marshall Stuart (1986)
Freeze-Thaw pedestal test Kennedy et al (1982)
Ensaio Lottman original NCHRP Report 246 (Lottman 1982), TRR 515 (1974)
Ensaio Lottman modificado T 283 NCHRP Report 274 (Tunniclif e Root, 1984), Tex 531-C
Tunniclif-root D 4867 NCHRP Report 274 (Tunniclif e Root,1984)
ECS com módulo resiliente SHRP-A-403 (Al Swailmi e Terrel, 1994)
Hamburgo Aschenbrener e Currier (1993). Tex-242-F
Asphalt Pavement Analyzer WK1822
ECS/ SPT NCHRP 9-34 2002-03
Multiple freeze-Thaw
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razão entre a resistência à tração no ensaio AASHTO T 283. O ensaio de azul de metileno é normalizado no Brasil pelo
método NBR 14949.
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• A razão entre as resistências seca e saturada dos corpos de prova Marshall de 100 mm de diâmetro foram
similares as obtidas com corpos de prova de 150 mm de diâmetro moldados com o compactador giratório
(SGC).
• A razão entre as resistências seca e saturada dos corpos de prova SGC de 150 mm de diâmetro foram maiores
que as obtidas em corpos de prova SGC de 100 mm e em de corpos de prova Hveem de 100 mm de diâmetro.
4. Materiais e Métodos
No presente trabalho foram avaliados 11 amostras de asfalto que receberam a adição de 0,09% de melhorador
de adesividade líquido e comparados com o CAP 50/70 REVAP “in-natura” e com o asfalto modificado por SBS
produzido com a tecnologia Stylink® e classificado pelo tipo PG 76-22, conforme a Especificação SUPERPAVE. Por
uma questão de comparação, fixou-se um único teor de princípio ativo no CAP (que será denominado doravante de
CAP dopado). Cabe comentar que não houve a preocupação de avaliar a dosagem ideal de cada melhorador e sim
compará-los na mesma base mássica. Na verdade os fabricantes destes produtos recomendam dosagens até 0,5%, que
devem ser ajustados em função da natureza química do par ligante-agregado. Não foram selecionados AMA
sabidamente sensíveis a temperatura tais como as diaminas de ácidos graxos.
Nos AMA “in natura” foi realizada a viscosidade saybolt furol a 50ºC e o ponto de fulgor., a fim de avaliar a
facilidade de uso e aspectos de segurança. Ensaiou-se a de adesividade expedita (ABNT NBR-14329) com o CAP
dopado antes e após o envelhecimento em estufa de filme fino rotativo (RTFOT - ABNT NBR 15235), usando como
referência um único tipo de agregado granítico da pedreira Riuma (SP), que apresenta má adesividade com o CAP puro.
A adoção do envelhecimento no RTFOT permitiu avaliar a estabilidade térmica de cada produto, expresso através da
adesividade retida. É importante comentar que atualmente inexiste especificação nacional (ANP) de AMA. Desta
forma, para efeito de comparação dos resultados arbitrou-se uma especificação particular apresentada na Tabela 4.
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120
y = 0,3424x + 54,206
2
R = 0,5802
100
80
DUI (%)
60
40
20
0
0 20 40 60 80 100 120
ADESIVIDADE APÓS O RTFOT (%)
Figura 7 – Relação entre a Adesividade Expedita após o RTFOT e o Danos por Umidade Induzida (DUI)
6. Conclusão
As principais conclusões foram:
O CAP não dopado possui grande chance de insucessos devido à ação nociva da água em relação a
agregados graníticos como o estudado.
O asfalto modificado produzido conforme a tecnologia Stylink® possui excelente resistência à água em
todas as metodologias avaliadas.
Permitir a BetunelKoch avaliar as diversas opções atualmente disponíveis no mercado de aditivos AMA, e
a possibilidade de oferecer aos seus clientes os melhores produtos.
Constatar que o ensaio de adesividade expedita, especialmente realizado com amostra após o RTFOT, é
útil na avaliação do tipo e teor de aditivo melhorador adesividade.
A adesividade expedita é um ensaio útil no controle de qualidade em canteiro de obra dado a facilidade e
rapidez de sua execução.
Constatar que o RTFOT permite avaliar a estabilidade térmica do AMA em função da comparação entre o
resultado da adesividade expedita obtida na amostra virgem e envelhecida.
O Lottman é reconhecidamente o melhor ensaio e o de maior correlação com o campo dentre as
metodologias disponíveis, apesar de execução trabalhosa e demorada. É o ensaio mais indicado para fins
de projeto.
Existe uma relação entre o ensaio de adesividade expedita realizada com o CAP dopado envelhecido no
RTFOT e o Lottman,. Na impossibilidade da realização do ensaio Lottman, a adesividade expedita pode
ser usada como indicativo de aceite/reprovação do AMA.
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7. Referências
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