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O Pensamento utópico, que tinha como precursor T. MORO (1478-1535), foi, talvez,
um dos primeiros a ressaltar a conexão de crime com os fatores socioeconômicos, com a estrutura
da sociedade. Para T. MORO, o crime responde a uma pluralidade de fatores (guerras, déficit
cultural e educativo, o ambiente social, a ociosidade, etc.). Mas, entre eles, se destaca os
socioeconômicos: desigual distribuição da riqueza, especialmente no âmbito agrícola, pobreza, etc
(MOLINA, 2003). Merece destaque a proposta de MORO para que os poderes públicos arbitrassem
as medidas necessárias para que o delinquente satisfizesse a vítima com seu trabalho, compensando
o dano causado.
Outro impulso importante sobre o exame do problema criminal teve origem com a
filosofia política da Ilustração na qual se incluem os precursores da filosofia das luzes, Ilustrados e
Enciclopedistas, que veiculava atitude crítica ao “Antigo Regime” (FERRI, 2009). As três correntes
fundamentais da Ilustração foram: a racionalista de MONTESQUIEU, a jusnaturalista de
PUFFENDORF e a utilitarista de BENTHAM. O Ancienne regime tinha um sistema cujas leis
respondiam tão somente à ideia de prevenção geral ou intimidação, e tomava o delinquente como
um exemplo para os demais.
Os ilustrados e os reformistas tiveram uma missão essencial e valiosa sob este aspecto,
embora limitada. Não só como crítica do “Antigo Regime”, mas no estabelecimento de bases
filosóficas e políticas do regime que viria. Legalismo, humanismo e individualismo eram os pilares
da Escola Clássica, que foram planteados pela Filosofia das Luzes (MOLINA, 2003).
da questão criminal encontra seu mais típico expoente, MONTESQUIEU (MOLINA, 2003). Para o
Barão de Montesquieu, a prevenção do delito deve ocupar o primeiro lugar em toda política
criminal, o bom legislador há de esforçar-se mais em prevenir o delito do que castigá-lo. Outro
destacado expoente era VOLTAIRE que, como BECCARIA, se manifestou partidário ao princípio
da legalidade e, portanto, pela redução do arbítrio judicial, afirmava que os juízes “devem ser
escravos das leis, não de seus arbítrios” (SHECAIRA, 2008). Para ele, a pena deve ser proporcional
e útil. Proporcional à personalidade criminosa do autor, à natureza do ato, ao escândalo produzido
por este, bem como à necessidade de exemplo à comunidade.
Por sua vez, a Escola Cartográfica ou Estatística Moral, fundada por GARRY
(advogado) e QUÉTELET (matemático), defendia que o crime era um fenômeno concreto e deveria
ser estudado pelas estatísticas, em oposição ao pensamento abstrato da Escola Clássica. A partir
desse momento se passou a utilizar o método empírico (análise, observação, indução) ao invés do
método lógico (dedutivo). É responsável pelo estudo e elaboração de mapas geográficos da
criminalidade, uma espécie de mapeamento do crime. Criou-se a curva agregada da idade, para
verificar o apogeu da criminalidade (por volta dos 23 anos).
Ao contrário dos clássicos, que usavam o método dedutivo, seus estudos baseavam-se
no método empírico, ou seja, na análise, observação e indução dos fatos. A Escola Positiva
considerava o crime como fato humano e social (SHECAIRA, 2008).
Logo, a pena deveria ter por finalidade a defesa social e não a tutela jurídica. Os
positivistas rechaçaram totalmente a noção clássica de um homem racional capaz de exercer o livre
arbítrio. Os pensadores positivistas sustentavam que o delinquente se revelava automaticamente nas
suas ações e que estava impulsionado por forças que ele mesmo não tinha consciência. Para eles, o
criminoso era escravo de sua carga hereditária (determinismo). Como expoentes de maior
relevância desta escola temos: Cesar Lombroso, Enrico Ferri e Raffaele Garófalo (FERRI, 2009).
A teoria do contrato social e da função preventiva da pena não era suficiente para
fundamentar positivamente a nova ordem social burguesa e industrial, assim, do ponto de vista
histórico-político, o positivismo contribuiu à consolidação e defesa da nova ordem social que
adveio (MOLINA, 2003).
Segundo LOMBROSO, criminosos e não criminosos se distinguem entre si por conta de uma rica
gama de anomalias e estigmas de origem atávica ou degenerativa. O delinquente seria um ser
atávico, produto da regressão a estados humanos primitivos, um sub-homem, ou espécie distinta e
inferior ao homo sapiens, como consequência de um “salto para trás” hereditário (MOLINA, 2003).
FERRI crê que o delito é produto de uma anomalia biológica, física e social. A tipologia
criminal de FERRI, conta com seis membros: delinquente nato, delinquente louco ou alienado,
delinquente passional, delinquente ocasional, delinquente habitual e pseudodelinquente ou
delinquente involuntário (MOLINA, 2003).
Por sua vez, GARÓFALO foi responsável por sistematizar e divulgar o pensamento
positivista, suavizando extremismos doutrinários da época (MOLINA, 2003). Cabe destacar que ele
discrepa do pensamento ortodoxo de seus companheiros de escola, tanto a nível filosófico, no
político, no político-criminal e no criminológico. Dedicou sua capacidade de síntese e comunicação
a converter os postulados teóricos do positivismo em módulos normativos que inspirassem as leis e
transformassem a realidade por meio da prática diária dos magistrados.
A Escola Francesa de Lyon era integrada fundamentalmente por médicos – não juristas
ou sociólogos -, com prestigiados autores como J. LAMARCK, E. GEOFFROY ST. HILAIRE e L.
PASTEUR. Era o mais aberto contraponto às teses da Escola positiva e, particularmente, às ideias
lombrosianas. A Escola Francesa ficou conhecida por LACASSAGNE, no Congresso Internacional
de Antropologia Criminal celebrado em Roma, em 1885 (MOLINA, 2003).
Cabe advertir, entretanto, que a importância conferida pela Escola de Lyon ao meio
social não se confunde com a teoria situacional da criminalidade que professava a Escola Clássica
(MOLINA, 2003). Quer dizer, para os clássicos, não haveria diferença qualitativa entre o homem
delinquente e o não delinquente (princípio da igualdade). O crime seria produto de um ato supremo
de liberdade individual e a opção concreta ao delito, explicáveis por fatores estritamente
situacionais (a ocasião).
a) A Terza Scuola italiana ou Positivismo crítico – esta Escola teve como mais
importantes expoentes ALIMENA, CARNEVALE e IMPALLOMENI. Para CARNEVALE, a
responsabilidade criminal do delinquente se baseia em sua saúde, embora reconheça a necessidade
de aplicar medidas de segurança ao inimputável (FERRI, 2009). Proclama a reforma social como
primeiro dever do Estado na luta contra a criminalidade, embora rejeite a concepção lombrosiana
sobre o criminoso nato. Por ser um positivista crítico, nega a possibilidade do Direito Penal de ser
absorvido pela Sociologia (como gostaria FERRI, da Escola Positivista), e reconhece a
conveniência sobre a complementação do exame dogmático do delito pela Sociologia, a Estatística,
a Antropologia e a Psicologia. Para esta Escola, a finalidade da pena não se esgota com o castigo do
culpado, mas requer também a sua correção e a sua readaptação social (MOLINA, 2003).
c) Para VON LISZT, o Direito Penal tem uma função de garantia do indivíduo e de
limite de todo o programa social. Embora assuma o pensamento determinista do positivismo
(negando, assim, o livre arbítrio), ele sugere a necessidade de uma pena finalista, que não seja mero
castigo e que se ajuste melhor à fase atual de evolução biológica da espécie humana (influenciado,
neste ponto, pelas concepções evolucionistas).