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CRIMINOLOGIA

2. AS ORIGENS DO SABER CRIMINOLÓGICO.

A etapa pré-científica da criminologia

A criminologia só se firmou, como disciplina científica autônoma, com objeto


específico, ao final do século XIX. Antes disso, houve uma fase pré-científica da criminologia, que
era marcada por uma abordagem acidental e superficial do delito. Em sua origem, o pensamento
criminológico encontrava abordagem em duas fontes: a de caráter filosófico, ideológico ou político
(utópicos, ilustrados, clássicos, reformistas) e as de natureza empírica (Fisiologia, Frenologia,
Psiquiatria, etc) (MOLINA, 2003).

O Pensamento utópico, que tinha como precursor T. MORO (1478-1535), foi, talvez,
um dos primeiros a ressaltar a conexão de crime com os fatores socioeconômicos, com a estrutura
da sociedade. Para T. MORO, o crime responde a uma pluralidade de fatores (guerras, déficit
cultural e educativo, o ambiente social, a ociosidade, etc.). Mas, entre eles, se destaca os
socioeconômicos: desigual distribuição da riqueza, especialmente no âmbito agrícola, pobreza, etc
(MOLINA, 2003). Merece destaque a proposta de MORO para que os poderes públicos arbitrassem
as medidas necessárias para que o delinquente satisfizesse a vítima com seu trabalho, compensando
o dano causado.

Outro impulso importante sobre o exame do problema criminal teve origem com a
filosofia política da Ilustração na qual se incluem os precursores da filosofia das luzes, Ilustrados e
Enciclopedistas, que veiculava atitude crítica ao “Antigo Regime” (FERRI, 2009). As três correntes
fundamentais da Ilustração foram: a racionalista de MONTESQUIEU, a jusnaturalista de
PUFFENDORF e a utilitarista de BENTHAM. O Ancienne regime tinha um sistema cujas leis
respondiam tão somente à ideia de prevenção geral ou intimidação, e tomava o delinquente como
um exemplo para os demais.

Os ilustrados e os reformistas tiveram uma missão essencial e valiosa sob este aspecto,
embora limitada. Não só como crítica do “Antigo Regime”, mas no estabelecimento de bases
filosóficas e políticas do regime que viria. Legalismo, humanismo e individualismo eram os pilares
da Escola Clássica, que foram planteados pela Filosofia das Luzes (MOLINA, 2003).

BECCARIA, precursor da Filosofia das Luzes, criticava a irracionalidade, a


arbitrariedade e a crueldade das leis penais e processuais no século XVIII (SHECAIRA, 2008),
apontando-as como resíduo anacrônico de preceitos históricos obsoletos. Para ele, a origem da
sociedade civil, da autoridade e do próprio direito de castigar estavam na teoria do contrato social.
A sua obra também inclui críticas à desigualdade dos cidadãos perante a lei, a pena de morte, ao
confisco, ao emprego da tortura, etc.

Mas é na Filosofia Ilustrada francesa que o pensamento crítico, racionalista e utilitário

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da questão criminal encontra seu mais típico expoente, MONTESQUIEU (MOLINA, 2003). Para o
Barão de Montesquieu, a prevenção do delito deve ocupar o primeiro lugar em toda política
criminal, o bom legislador há de esforçar-se mais em prevenir o delito do que castigá-lo. Outro
destacado expoente era VOLTAIRE que, como BECCARIA, se manifestou partidário ao princípio
da legalidade e, portanto, pela redução do arbítrio judicial, afirmava que os juízes “devem ser
escravos das leis, não de seus arbítrios” (SHECAIRA, 2008). Para ele, a pena deve ser proporcional
e útil. Proporcional à personalidade criminosa do autor, à natureza do ato, ao escândalo produzido
por este, bem como à necessidade de exemplo à comunidade.

Se pronunciou, ainda, VOLTAIRE contra a pena de morte, porque a considerava inútil.


No âmbito processual, criticava a tortura, abominando o caráter secreto do procedimento. Por sua
vez, ROUSSEAU acreditava que o crime surge com o contrato social, a raiz do convênio a que
chegam os homens para passar do “estado natural” à convivência organizada em forma de Estado.
Em sua obra “O contrato social” (1762), formula a tese de que o homem é naturalmente bom, a
sociedade quem o perverte. A seu ver, o crime demonstraria a má estruturação do pacto social, a
desorganização do Estado.

Portanto, neste breve cenário, é possível dizer que, na fase pré-científica da


criminologia, antes da publicação da famosa obra lombrosiana “O homem delinquente”, que
costuma ser citada como a certidão de nascimento da criminologia empírica científica, já existiam
inúmeras teorias sobre a criminalidade (FERRI, 2009).

Nesta etapa pré-científica, podia-se delinear dois enfoques criminológicos bem


distintos: o clássico (produto do ideário do iluminismo, dos Reformadores e do Direito Penal
Clássico) e o empírico, que realizavam diversas investigações sobre o crime por especialistas das
mais diversas procedências, de forma fragmentada (fisionomistas, frenólogos, antropólogos,
psiquiatras, etc).

A fisionomia pretendia conhecer o caráter do homem pelo exame minucioso de seus


traços fisionômicos. Constituía o estudo da aparência externa do indivíduo (relação entre o somático
e o psíquico). Comparava a beleza do indivíduo com a sua culpabilidade. Na dúvida, condenava-se
o mais feio (MOLINA, 2003). Marquês de Moscardi, juiz napolitano utilizava a beleza do
condenado para aferir o julgamento. A frenologia, a seu modo, buscava captar o caráter do homem
pelo estudo de seus traços fisionômicos e configuração de seu crânio e cabeça (MOLINA, 2003).

Por sua vez, a Escola Cartográfica ou Estatística Moral, fundada por GARRY
(advogado) e QUÉTELET (matemático), defendia que o crime era um fenômeno concreto e deveria
ser estudado pelas estatísticas, em oposição ao pensamento abstrato da Escola Clássica. A partir
desse momento se passou a utilizar o método empírico (análise, observação, indução) ao invés do
método lógico (dedutivo). É responsável pelo estudo e elaboração de mapas geográficos da

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criminalidade, uma espécie de mapeamento do crime. Criou-se a curva agregada da idade, para
verificar o apogeu da criminalidade (por volta dos 23 anos).

A etapa científica: Escola positiva (Lombroso, Garofalo e Ferri).

A Escola positiva inaugura o período científico da criminologia, com início entre os


séculos XIX e XX até os dias atuais. Ou seja, a consolidação da criminologia como disciplina
empírica, científica, se deu pari passu com o positivismo criminológico, particularmente com a
Scuola Positiva italiana, que surge em meados do século XIX (FERRI, 2009). A bem da verdade, o
surgimento da Escola positiva foi uma contrarreação à Escola Clássica, influenciada pelos avanços
científicos surgidos durante o século XIX, como as teorias de Darwin e Lamarck e pelo pai da
sociologia, Auguste Comte.

Ao contrário dos clássicos, que usavam o método dedutivo, seus estudos baseavam-se
no método empírico, ou seja, na análise, observação e indução dos fatos. A Escola Positiva
considerava o crime como fato humano e social (SHECAIRA, 2008).

Logo, a pena deveria ter por finalidade a defesa social e não a tutela jurídica. Os
positivistas rechaçaram totalmente a noção clássica de um homem racional capaz de exercer o livre
arbítrio. Os pensadores positivistas sustentavam que o delinquente se revelava automaticamente nas
suas ações e que estava impulsionado por forças que ele mesmo não tinha consciência. Para eles, o
criminoso era escravo de sua carga hereditária (determinismo). Como expoentes de maior
relevância desta escola temos: Cesar Lombroso, Enrico Ferri e Raffaele Garófalo (FERRI, 2009).

A característica diferencial do positivismo criminológico reside no método, o método


positivo empírico, que trata de submeter constantemente a imaginação à observação e os fenômenos
sociais à lei férrea da natureza (FERRI, 2009). A cosmogonia da ordem e progresso, a fé cega na
onipotência do método científico e na inevitabilidade do progresso.

A teoria do contrato social e da função preventiva da pena não era suficiente para
fundamentar positivamente a nova ordem social burguesa e industrial, assim, do ponto de vista
histórico-político, o positivismo contribuiu à consolidação e defesa da nova ordem social que
adveio (MOLINA, 2003).

LOMBROSO representa a orientação antropobiológica da Escola Positiva (FERRI,


2009). Sua teoria da criminalidade acentua a relevância dos fatores biológicos individuais e o
caráter atávico-regressivo do delito. Para o autor, determinados estigmas degenerativos, de
transmissão hereditária, permitem identificar o delinquente (nato) como um genus homo
delinquens. A obra de LOMBROSO tem uma temática muito ampla, que abarca as seguintes áreas:
médica, histórica, antropológica, psicológica, psiquiátrica, demográfica, política, criminológica, etc.

A ideia do atavismo aparece intimamente relacionada à figura do delinquente nato.

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Segundo LOMBROSO, criminosos e não criminosos se distinguem entre si por conta de uma rica
gama de anomalias e estigmas de origem atávica ou degenerativa. O delinquente seria um ser
atávico, produto da regressão a estados humanos primitivos, um sub-homem, ou espécie distinta e
inferior ao homo sapiens, como consequência de um “salto para trás” hereditário (MOLINA, 2003).

Esta concepção de delito como fenômeno natural e do delinquente como indivíduo


atávico ou degenerado demonstrava qual era o clima intelectual europeu em que estava inserido
LOMBROSO e a Escola Positiva. LOMBROSO não esgota a sua abordagem na tipologia do
delinquente nato, mas também do “louco moral”, o “delinquente epiléptico”, o “delinquente louco”,
o “delinquente passional”, o “delinquente ocasional”, a “mulher delinquente” e o “delinquente
político”. Assim, a teoria lombrosiana sobre a criminalidade trata de integrar atavismo, morbidade e
epilepsia.

FERRI simboliza a diretriz sociológica do positivismo criminológico. Não obstante, ele


também leva em consideração os fatores antropológicos e físicos ao fundamentar a gênese da
criminalidade. Sua abordagem principal se dá mais no âmbito político-criminal do que na
criminologia. É um dos grandes críticos do Direito Penal clássico. Sua obra deu sustentação ao
surgimento da sociologia criminal.

A negação do livre arbítrio constitui o ponto de partida do pensamento de FERRI. Para


ele, estava demonstrado que o livre arbítrio era uma mera ilusão subjetiva, que não encontrava
fundamento algum. Em sua compreensão, o homem responde por seus atos porque vive em
sociedade, sendo desnecessário o livre arbítrio como fundamento da responsabilidade. Concebe-a,
portanto, como uma responsabilidade legal ou social, não moral.

Para ele, a finalidade da pena não é o castigo do delinquente (pena-castigo) senão a


defesa da sociedade (pena-defesa), em conformidade com o grau de periculosidade do autor e da
reprovabilidade de sua motivação.

FERRI crê que o delito é produto de uma anomalia biológica, física e social. A tipologia
criminal de FERRI, conta com seis membros: delinquente nato, delinquente louco ou alienado,
delinquente passional, delinquente ocasional, delinquente habitual e pseudodelinquente ou
delinquente involuntário (MOLINA, 2003).

Por sua vez, GARÓFALO foi responsável por sistematizar e divulgar o pensamento
positivista, suavizando extremismos doutrinários da época (MOLINA, 2003). Cabe destacar que ele
discrepa do pensamento ortodoxo de seus companheiros de escola, tanto a nível filosófico, no
político, no político-criminal e no criminológico. Dedicou sua capacidade de síntese e comunicação
a converter os postulados teóricos do positivismo em módulos normativos que inspirassem as leis e
transformassem a realidade por meio da prática diária dos magistrados.

GARÓFALO contrapõe e critica as tipologias criminais de seus companheiros. Ele

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entende contraditória a ideia do atavismo, de fundo epiléptico, como explicação teórica do


delinquente nato do antropologismo lombrosiano. Ao contrário, considera delinquente somente
aquele que demonstra a falta de alguns destes sentimentos: sentimento de piedade; ou do sentimento
de probidade (MOLINA, 2003).

Na teoria criminológica de GARÓFALO, o conceito de anomalia psíquica ou moral


desempenha um papel decisivo, significa dizer, a carência no delinquente de um adequado
desenvolvimento da sensibilidade moral, de vivências altruístas. Os fatores sociais e ambientais
teriam um valor secundário na explicação e na prevenção do crime. A sua tipologia criminal rompe
com o modelo positivo convencional. Distingue quatro classes de delinquentes: assassinos,
delinquentes violentos, ladrões e criminosos lascivos (MOLINA, 2003). Os restantes seriam
delinquentes “menores”. Como todo positivista, GARÓFALO rechaçou a ideia de responsabilidade
moral, professando o determinismo, ainda que menos radical que FERRI.

Escolas Intermediárias e teorias ambientais

A Escola Francesa de Lyon era integrada fundamentalmente por médicos – não juristas
ou sociólogos -, com prestigiados autores como J. LAMARCK, E. GEOFFROY ST. HILAIRE e L.
PASTEUR. Era o mais aberto contraponto às teses da Escola positiva e, particularmente, às ideias
lombrosianas. A Escola Francesa ficou conhecida por LACASSAGNE, no Congresso Internacional
de Antropologia Criminal celebrado em Roma, em 1885 (MOLINA, 2003).

A teoria criminológica de LACASSAGNE distingue, na etiologia do delito, fatores de


duas ordens: os individuais e os sociais. Os individuais têm uma relevância muito limitada, pois, se
assim o fosse, não se trataria de um fenômeno criminal, mas de patologia. Para o autor, o
determinante seriam os fatores sociais. Estes desencadeiam os atos delitivos, fazendo germinar as
tendências e inclinações individuais que, por si só, não poderiam gerar aquele (MOLINA, 2003).

LACASSAGNE reconhece que o homem delinquente tem mais anomalias corporais e


anímicas que o homem não delinquente, mas compreende que estas são produto do meio social e,
em todo caso, não explicam o crime em si sem que se compreenda adequadamente o contexto. Em
sua compreensão, não são estas anomalias que fazem o delinquente, senão a relação de troca entre o
sistema nervoso central do indivíduo e o meio social que se traduz em imagens mais ou menos
equilibradas do cérebro (MOLINA, 2003).

Cabe advertir, entretanto, que a importância conferida pela Escola de Lyon ao meio
social não se confunde com a teoria situacional da criminalidade que professava a Escola Clássica
(MOLINA, 2003). Quer dizer, para os clássicos, não haveria diferença qualitativa entre o homem
delinquente e o não delinquente (princípio da igualdade). O crime seria produto de um ato supremo
de liberdade individual e a opção concreta ao delito, explicáveis por fatores estritamente
situacionais (a ocasião).

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A Escola de Lyon, entretanto, reconhece um fundo patológico ou estado mórbido


individual no homem delinquente, embora compreenda um ranço patológico mais secundário em
comparação com a relevância do meio social.

G. TARDE, também expoente da Escola de Lyon, compreendia que a criminalidade não


era um fenômeno antropológico, mas sim social, governado pela imitação como todos os fatos
sociais. Segundo ele, a imitação é essencial e inerente à vida social: um grupo social é um conjunto
de seres que se imitam uns aos outros. A sociedade seria um grupo de gente que se imita e, por
consequência, o crime não está alheio a esta realidade da imitação (MOLINA, 2003).

O criminoso se manifesta, muitas vezes, como um imitador, menos original do que se


espera. Além de ter delineado as leis da imitação para explicar os modelos repetitivos do
comportamento criminal, TARDE professou a teoria psicossocial da criminalidade. Para ele, a
pedagogia social era, desde um ponto de vista etiológico, muito mais importante que o clima,
hereditariedade, doença ou a epilepsia, na explicação do crime, por isso discrepava abertamente
sobre a tese antropológica do delinquente nato. E este é o sentido de sua famosa frase “Todo o
mundo é culpável exceto o criminoso”.

As Escolas Ecléticas, ou também denominadas Intermediárias, buscaram equilibrar os


postulados clássicos e positivistas nos diversos âmbitos (metodológico, filosófico, penal,
criminológico, político-criminal, etc.). Dentre elas, podemos citar:

a) A Terza Scuola italiana ou Positivismo crítico – esta Escola teve como mais
importantes expoentes ALIMENA, CARNEVALE e IMPALLOMENI. Para CARNEVALE, a
responsabilidade criminal do delinquente se baseia em sua saúde, embora reconheça a necessidade
de aplicar medidas de segurança ao inimputável (FERRI, 2009). Proclama a reforma social como
primeiro dever do Estado na luta contra a criminalidade, embora rejeite a concepção lombrosiana
sobre o criminoso nato. Por ser um positivista crítico, nega a possibilidade do Direito Penal de ser
absorvido pela Sociologia (como gostaria FERRI, da Escola Positivista), e reconhece a
conveniência sobre a complementação do exame dogmático do delito pela Sociologia, a Estatística,
a Antropologia e a Psicologia. Para esta Escola, a finalidade da pena não se esgota com o castigo do
culpado, mas requer também a sua correção e a sua readaptação social (MOLINA, 2003).

b) A Escola de Marburgo ou Jovem Escola de Política Criminal – A Escola de


Marburgo era também conhecida como Escola Sociológica Alemã. PRINS, VAN HAMEL e VON
LISZT fundaram a Associação Internacional de Criminalística (1888). Em 1910, PRINS expôs a
sua teoria do “estado perigoso”, tendo sido o primeiro a formular uma teoria autônoma da “defesa
social” (MOLINA, 2003). VON LISZT, entretanto, foi a figura mais destacada, tendo adotado uma
postura equidistante dos postulados clássicos e positivistas. Ele sugere uma compreensão
pluridimensional do crime, que deve levar em conta, como fatores criminógenos, a predisposição

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individual e o meio/entorno em que está inserido o delinquente. Em sua compreensão, o delito é o


resultado da idiossincrasia do infrator no momento do ato e das circunstâncias externas que lhe
rodeiam naquele instante. Enfim, seriam três as causas da criminalidade: 1. os defeitos da
personalidade; 2. os déficits no processo de socialização e; 3. a bancarrota da justiça penal.

c) Para VON LISZT, o Direito Penal tem uma função de garantia do indivíduo e de
limite de todo o programa social. Embora assuma o pensamento determinista do positivismo
(negando, assim, o livre arbítrio), ele sugere a necessidade de uma pena finalista, que não seja mero
castigo e que se ajuste melhor à fase atual de evolução biológica da espécie humana (influenciado,
neste ponto, pelas concepções evolucionistas).

d) A Escola da Defesa Social ou Movimento da Defesa Social – É bem verdade que a


ideia de “defesa social” já surge com a Ilustração, mas somente no positivismo alcança um
considerado auge (FERRI indicava a necessidade de defesa social frente aos atos contrários às
condições de existência individual e coletiva). Por “defesa social” em sentido estrito deve-se
compreender um movimento de política criminal cuja primeira elaboração se deve a PRINS (1910),
consolidado posteriormente por F. GRAMATICA e M. ANCEL. Preocupava-se em articular uma
forma eficaz de proteção da sociedade através da devida atuação da Criminologia, da Ciência
Penitenciária e do Direito Penal. Para F. GRAMÁTICA, fundador do Centro Internacional de
Estudos da Defesa Social (1945), a defesa social representava um sistema jurídico substitutivo do
sistema penal convencional. Em seu entendimento, o que se requer não é a imposição de pena em
função do delito cometido, mas sim aplicar medidas de defesa social, preventivas, educativas e
curativas de acordo com a personalidade do delinquente. M. ANCEL, em sua obra “La Defensa
Social nueva, un movimiento de política criminal humanista” (1954), refere-se a este movimento de
política criminal como preocupado não com o castigo ao delinquente, mas a proteção eficaz da
comunidade, tendo proposto, inclusive, a “desjurisdicização” de certa parcela da Ciência Penal com
a finalidade de conferir eficácia à política criminal (FERRI, 2009). O tratamento ressocializador do
delinquente era baseado em uma completa investigação biológica, psicológica e situacional do
criminoso cientificamente dirigida.

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