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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
São Cristóvão
Sergipe- Brasil
2019
JOSINEIDE LUCIANO ALMEIDA SANTOS
São Cristóvão
Sergipe – Brasil
2019
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL
CDU 94(813.7)
DEDICATÓRIA
Como é difícil utilizar as palavras certas para expressar a gratidão que sinto. Porém,
ouso agradecer a Deus o criador pela dádiva da vida e nos concedeu o dom da vida, um dom
inestimável, Ele é meu refúgio nas horas de angústia. Agradeço por permitir-me vencer mais
uma etapa, ultrapassar barreiras, limitações sejam eles quais forem vencer sempre e nunca
esmorecer.
Elencar pessoa que colaborou à sua maneira de forma intensa direta ou indiretamente,
com pequenos gestos de boa vontade, constitui-se tarefa árdua e injusta, diante do quantitativo
de pessoas envolvidas para que eu galgasse bom êxito desta pesquisa.
Meus agradecimentos à banca examinadora tanto da qualificação quanto na defesa ao
presidente da banca o professor doutor Claudefranklin Monteiro Santos, externo minha
gratidão e satisfação em tê-lo como meu orientador sempre atento e humano, seu auxílio,
indicações de leituras jamais serão esquecidas. Não mediu esforços para entender meus
anseios e dificuldades quando solicitado.
Muito obrigada pelas correções necessárias sem nunca me desmotivar, pois é um
homem de profundo conhecimento e não desistiu dessa mestranda, cheia de limitações, o
senhor tira o melhor de cada pessoa sem perder a ética, o respeito e a responsabilidade de uma
tarefa, minha gratidão é infinita, vai além da academia obrigada pelas orientações,
contribuições e puxões de orelhas quando foi pertinente fazê-lo quando acabei quebrando
alguns prazos estabelecidos para entrega de atividades solicitadas, saiba que tenho sua pessoa
na conta de um mano e grande amigo.
Estendo também agradecimentos ao professor Dr. Antônio Lindvaldo Sousa, por fazer
parte da banca de qualificação e defesa. Agradeço pelos esclarecimentos, empréstimos do seu
acervo pessoal e do acervo do Banco de dados do projeto Massapê.
Minha gratidão ao professor Dr. Milton Araújo Moura por ter participado também da
banca examinadora como membro externo, agradeço por seus questionamentos, que foram de
grande valia para o desenvolvimento desta pesquisa, suas inquietações foram pertinentes, pois
abriram novas expectativas e olhares. Agradeço pelas indicações de caminhos a serem
percorrido, suas palavras ecoaram como estimuladores para que pudesse terminar esse
trabalho, agradeço pela forma humana, sensata e tratável que conduziu suas palavras, sem
perder o rigor necessário para esse mundo acadêmico.
A proprietária do Engenho Oitocentas a senhora Graziela Vieira de Azevedo e a sua
irmã Gulnar Vieira de Azevedo as quais agradecemos, pois autorizou nossa ida in loco sempre
que solicitamos para fotografar e fazer levantamento de dados no acervo pessoal dos Vieira de
Azevedo. Aos grandes contribuintes deste trabalho Gulnar Vieira de Azevedo, Solange Bastos
de Azevedo, Nilza Azevedo de Brito, Luiz Ferreira Gomes, Maria Ivanice de Oliveira que me
acolheram e corresponderam as nossas indagações. Sem estes não seria possível a
concretização desta pesquisa.
Agradeço aos funcionários da biblioteca Pública Epifânio Doria nas pessoas de seu
Tito Nunes de Brito e seu Pedrinho Santos (In memoriam) e senhor Francisco dos Santos por
auxiliar na busca das fontes do acervo da biblioteca Epifânio Doria e todos os demais
funcionários, que foram sempre prestativos. Bem como aos funcionários do arquivo público
do Judiciário na pessoa de Assunção e Anderson. O arquivo Público de Sergipe nas pessoas
de Milton Barbosa, Arquivo público municipal de Rosário do Catete na pessoa de Flávio
Gomes.
Agradeço ao PROHIS (Programa de Pós-Graduação em História) nas pessoas do
professor Doutor Bruno Álvaro na época coordenador, também agradeço a atual coordenação
professora Doutora Edna Maria Antônio Matos e ao professor doutor Carlos de Oliveira
Malaquias por todas as contribuições na disciplina obrigatória de Teoria. A professora Célia
Costa e a professora Lourival Santana estiveram na banca de seleção, agradeço também a
todos que fazem o Programa de pós-graduação em História meus sinceros agradecimentos.
Aos amigos da saúde quando tudo começou grata pelas palavras de apoio quando
estava na produção do projeto para seleção do mestrado a todos Clésio, Rita, Acássia, Ana,
Dessiré, Meire, e Samarone vulgo chimarrão. Aos Padres Diogo Ávila, Padre Fabrício Santos
Lopes pela identificação dos santos do oratório da casa grande das Oitocentas. Grata à amiga
Rosineire Teles pela indicação do nome dos padres já mencionados.
Ao amigo João Vieira dos Santos por ter conseguindo o contato para chegarmos até a
proprietária Graziela Vieira de Azevedo nossos sinceros agradecimentos.
Ao meu pai Antônio Evangelista de Almeida e a Lúcia Luciano Almeida e a minha
vovó Elienal conhecida como Liá, por sempre incentivar meus sonhos. Aos meus tios Pedro
Ribeiro e Josefa Augusta Luciano Ribeiro por sempre está presente nesses momentos em
minha trajetória acadêmica, grata a todos demais tios, e a prima Joeny Ribeiro.
Agradeço a Carlos Costa companheiro, amigo, pela paciência e disponibilidade em
levar aos arquivos públicos para garimpar os acervos para adquirir fontes necessárias para a
realização desta pesquisa, aos meus manos André, Joás, Jasiel, Sheila, Joseane, Lucivania,
Elen, Sadraque, e a minha irmã do coração Ivanilde Santos pelo apoio e suporte em todos os
momentos da minha vida sempre grata amada, aos meus sobrinhos Davi, Mariane, Jonatas,
Andreza, Roseane, Joab, Pedro Lucas, Pietro, Alana, Antônio, Rodrigo, Patrick, Nice, Talita
Zeller a todos e todas da família Almeida pelas ausências, inquietudes, stress, mau humor,
minhas desculpas por tantas ausências.
Aos docentes que perpassaram a caminhada acadêmica às (aos) minhas (meus)
companheiras (os) pesquisadores do Projeto Imprensa Cristã, Tatiane jamais esquecerei seu
auxílio quando encontrava alguma fonte relacionada à minha pesquisa e encaminhava para
minha pessoa pelas palavras de incentivo e apoio de todos do Projeto Imprensa Cristã:
Suelayne, Nerita, Rosa, Gicélia, Mayra, Márcio e a todos que direta ou indiretamente
colaboraram para que esse trabalho tivesse êxito. Aos amigos de longas datas a Dora, Lúcia
Rollemberg, Maritania, Angélica Freire, Leda, Arleide, Victor, César Mandarino sempre
agradeço pela consideração estímulo em relação à trajetória acadêmica.
Aos arquitetos José Glackson Santos Júnior e Ana Lúcia Pinto do Nascimento Álvaro
por redimensionar a planta baixa da casa grande das Oitocentas facilitando a anexação nesse
trabalho.
Agradecemos a gestão municipal na pessoa do gestor Otávio Sobral por permitir,
ausentar-me do setor de trabalho nos dias solicitados para estudo e pesquisa com anuência do
secretário municipal de Educação de Itaporanga D’ Ajuda na pessoa de Ronaldo de Oliveira
Santos serei sempre grata pelo apoio quando necessitei ausentar-me para realizar as pesquisas
sendo sempre solícito. Aos demais funcionários Isis pelo incentivo e por sempre indagar sobre
o andamento da pesquisa sempre grata, aos colegas de trabalho Osvaldo, Lasaro, Rivanda,
Ana, Custódio, Márcio, Márcia, Nide, Heloisa, Carla, Analú, Flávia, Lúcia, Julice, Janaina,
Alexandre, Sandra, Marcos, Edmilson, Paulo, Tonho, José do Carmo, Bruno, Rafaela, Iris,
Luís, Rosimeiry, Bete, Valdireia e Renata por emprestarem os ouvidos para escutar sobre as
“Oitocentas” como um lugar de memória.
Não poderia deixar de agradecer a Carlos Henrique Nascimento meu sobrinho por
recuperar documentação em notebook que apresentou defeito, o que causou um grande stress
aborrecimentos, mas ao final grande alívio e satisfação após recuperação dos dados
necessários à está pesquisa.
A cada um dos mestrandos da turma com quem dividir momentos e discursões nas
aulas das disciplinas obrigatórias e optativas, com muito desempenho e determinação
chegamos ao objetivo final parabéns a todas e todos meus sinceros agradecimentos em nome
das mestrandas Andreia Rocha Santos Figueiras, Rayane Pereira de Oliveira e Amanda
Marques dos Santos.
Agradeço porque chegou o desfecho da pesquisa, sei que no amanhã, lembrarei de
todos esses momentos de investigação, sufoco e angústias, bem como dos momentos in loco
da alegria, satisfação da descoberta das histórias e memórias para realização desse trabalho.
Agradecimentos especiais a você leitor, que teve a coragem de adentrar neste mundo
de ideias que não é o de Sócrates, Aristóteles, Santo Agostinho nem o seu, e sim as minhas
ideias e meu olhar sobre esse lugar de memória chamado Oitocentas.
RESUMO
El presente trabajo busca verificar el lugar de memoria de una determinada unidad azucarera
de Sergipe, llamada ochocientas, su trayectoria y la transición a lo largo de décadas. Se trata
de un ingenio bangue, una pequeña máquina, después de un fuego de fuego muerto. Nuestro
objetivo, por lo tanto, es tratar sobre el Ocaso de la Memoria: Historia y las memorias del
Engenho Octava, partiendo del análisis y levantamiento historiográfico de las obras que
versan sobre la cultura del azúcar en Sergipe. Para ello, contamos con el uso de la
metodología de la historia oral, con testimonios de varias personas ligadas a aquel pasado de
la familia Vieira de Azevedo. Para el desarrollo de éste se considera relevante el significado
de la memoria, implicados en el acto de recordar; y en el caso de que se trate de una obra de
arte o de una obra de arte o de una obra de arte o de una obra de arte. el pasado inolvidable,
como ya las mencionamos las depoentes a la señora Gulgar Vieira de Azevedo, señora Nilza
Azevedo de Brito, Solange Bastos de Azevedo.
Tabela 01...................................................................................................................................59
Tabela 02...................................................................................................................................67
LISTA DE FIGURAS
INTRODUÇÃO........................................................................................................................16
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................114
REFERÊNCIAS....................................................................................................................122
INTRODUÇÃO
Na manhã de segunda feira, 30 de julho de 2014, tivemos nosso primeiro contato, dos
muitos que fizemos, in loco, com a casa grande do Engenho Oitocentas1. Adentramos as
portas do lugar e nos deparamos com uma realidade que até então parecia surreal, pois
tivemos dificuldades em encontrar os responsáveis por aquele lugar de memória.
Retornamos por diversas vezes neste itinerário quando foi necessário fazê-lo, para
fotografar o acervo iconográfico e toda parte interna e externa, com imagens panorâmicas e
frontais. Inicialmente, com a equipe do projeto Massapê, acompanhado do seu coordenador, o
Prof. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa, depois por fotógrafos contratados que nos acompanhou a
fim de fotografar in loco e munir a presente pesquisa de imagens e informações que compõem
parte de seu conteúdo.
Rosário do Catete se tornou terra dos senhores de engenhos, que com o passar dos
anos foram se transformando em usineiros por força das circunstâncias socioeconômicas e a
crise que cada época foi declinada em relação a acompanhamento do processo de
modernidade com máquinas a vapor, turbinas e moedas voltadas ao mundo industrial e alguns
proprietários não acompanhou as mudanças em relação à modernidade tanto no fazer como no
maquinário, pois eram onerosos compra-los e mantê-los.
1
O Engenho oitocentas pertenceu ao senhor Manoel Paes de Azevedo Sá. Após o falecimento do filho José Paes
de Azevedo Sá, atualmente pertence à Senhora Graziella Vieira de Azevedo. Está localizado as margens da BR
101, no Município de Rosário do Catete-SE, sob administração da irmã da proprietária, Gulnar Vieira Azevedo,
com auxílio de um Sobrinho o senhor Nelson Tavares Azevedo de Brito.
16
engenho de fogo morto2. Como usina permaneceu em funcionamento até o final do século
XX, restando uma casa grande que possui diversas peças mobiliárias e acervo iconográfico,
com diversas fotografias do lugar, inclusive de quando estava em pleno funcionamento.
Esse acervo pertenceu aos antigos donos: José Paes de Azevedo Sá e sua esposa,
Cecília Vieira de Melo. A casa grande encontra-se em bom estado de conservação, com
algumas casas de moradores3 e a antiga usina, que atualmente funciona um curral. Situa-se
numa baixa de terreno, quase em frente da Casa Grande, que fica em local mais elevado. Há,
também, nas proximidades um tanque de água: um pequeno rio margeia a propriedade. Esse
conjunto de construção do final século XIX possui valor histórico, memorável e afetivo, é
uma das referências do passado da sociedade açucareira sergipana e do Brasil.
2
REGO, José Lins do, 1901-1957. p.21. O exemplo do livro Fogo Morto de José Lins do Rego, que retrata a
situação dos engenhos o autor, com efeito, retoma o ciclo de açúcar, nos descreve, nos dá mesmo um exemplo
singularmente provocante, de uma sociedade que, boa ou má, estava perfeitamente assentada e sedimentada no
seu jeito de ser, em uma cultura da aristocracia açucareira.
3
DABAT, Christine Rufino. Moradores de engenho: relações de trabalho e condições de vida dos trabalhadores
rurais na zona canavieira de Pernambuco, Christine Rufino Dabat – 2. ed. Ver. – Recife: Ed. Universitária da
UFPE, 2012. Um traço relevante em relação aos moradores de engenho vem como uma forte tradição e como
uma representação da cultura regional das elites canavieira em diversos locais do Nordeste e não foi diferente em
Sergipe em Rosário do Catete que segue o modelo elabora e descrito por José Lins do Rego e Gilberto Freire
quando descreve de maneira bucólica, a vida do plantador e a vida do senhor de engenho e de seus dependentes
agregados a casa grande esse modelo foi denominada a civilização do açúcar.
4
CERTEAU, Michel de, 1925-1986. A invenção do Cotidiano:2 Morar, cozinhar/Michel de Certeau, Luce
Giard, Pierre Mayol; Tradução de Ephraim F. Alves e Lúcia Matilde Endich Ort.12. ed. Petrópolis, RJ:
Vozes,2013.
17
De certo modo, foi o interesse pessoal que nos moveu no estudo deste objeto de
pesquisa e nos despertou para estudo da microrregião da Cotinguiba Sergipe, onde se encontra
a cidade de Rosário do Catete, uma das localidades que mais produziu açúcar em Sergipe, do
final do século XVIII ao início do século XX. Parte da equipe do Projeto Massapê:
Memórias, Engenhos e Comunidades da Microrregião da Cotinguiba/Se, coordenado pelo
professor Dr. Antônio Lindvaldo Sousa, estivemos in loco, como já frisamos, para visitarmos
por diversas vezes e percebemos que existem as Casas Grandes dos engenhos Paty,
Oitocentas, Jordão em bom estado de conservação, outros em ruínas a exemplo o engenho
Santa Bárbara ou o que restou dele, bem como de outras unidades da época da cultura do
açúcar nessa região.
5
Contadora aposentada da Fazenda Federal uma das filhas do senhor José Paes de Azevedo Sá, ela quem
administra as propriedades com auxílio de um Subrinho, pois sua irmã atual proprietária encontra-se acamada.
Dona Gulnar Vieira de Azevedo nascida no engenho oitocentas é uma das memórias viva da família.
6
Odontóloga é afilha mais nova do senhor José Paes de Azevedo Sá, atualmente com 89 anos de idade e
proprietárias da rede de sapatos infantis Pimpolho, em Vitória do Espirito Santo e franquias em Portugal e outros
países da Europa.
18
o senhor Luiz Ferreira Gomes8. É importante destacar que a família vem preservando sua
história e a memória do Engenho Oitocentas. Um espaço de recordação, quem tem tido os
cuidados nos reparos necessários, para que a cultura material da casa grande e seus pertences
estejam sendo perpetuados ao longo dos anos. Este acervo está com a família há dois séculos
e meio, pois pertenceu aos seus avós paternos, Manoel Paes de Azevedo Sá e Dona Ernestina
Teles de Menezes. A proprietária mantém o Engenho Oitocentas em bom estado de
conservação e para isso faz questão de preservar o padrão e a estrutura da propriedade como
veremos mais adiante.
Alguns autores que compõem a historiografia sergipana foram importantes para nossa
pesquisa, dado que apontam para a singularidade do engenho enquanto lugar de memória e
sua relação com a cultura açucareira, tais como: Orlando Dantas10, Katia Afonso Silva
Loureiro11.
7
Hoje, com 83 anos de idade, residente e domiciliada em Belo Horizonte-MG, neta do senhor José Paes de
Azevedo Sá. Viveu também no Engenho Oitocentas e como uma das netas mais velhas, conheceu o lugar e
descreveu um pouco do cotidiano.
8
O Sr. Luiz Ferreira Gomes antigo morador da localidade, foi um dos personagens do documentário Massapê
ele relata sobre o Oitocentas e sobre a personalidade do antigo proprietário.
9
Augusto Gentil (In Memoriam) fotografou o Engenho Oitocentas em 20 de abril de 2018 e veio a óbito em 11
novembros de 2018.
10
DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,
1980. DANTAS, Orlando Vieira. O Problema Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944.
11
LOUREIRO, Kátia Afonso Silva. Sergipana do Açúcar. Aracaju/SE, 1999, P. 20.
19
Ainda como aporte referencial, fizemos um levantamento historiográfico que nos
ajudou na compreensão da construção do conhecimento da cultura do açúcar através de obras
nacionais tais como: Casa grande e Senzala, Sobrados e Mocambos e O Nordeste, de
Gilberto Freyre; Arquitetura e Engenho, de Geraldo Gomes; e da historiografia sergipana:
Sergipe: fundamentos de uma economia dependente e Uma unidade açucareira em Sergipe: o
engenho Pedras, de Maria da Gloria Santana de Almeida; Arquitetura do Açúcar, Katia
Loureiro; Memórias de Família, de Ibarê Dantas; Um Pé Calçado e outro no Chão, Sharise
Piroupo do Amaral; História de Sergipe, Felisbelo Freire; Sergipe Patriarcal e O Problema
do açucareiro em Sergipe, de Orlando Dantas; Memórias de Aurélia, Memórias de Dona
Sinhá e A carta da condessa, Samuel Albuquerque; e Doce Província, de Sura Souza Carmo.
20
Outra obra de relevância na historiografia sergipana é a de Orlando Dantas 12, de cunho
memorialista, onde se nota uma forte influência de Gilberto Freyre, no que pese a descrição
da casa grande e de todo o conjunto estrutural do engenho, a questão da miscigenação e
questão da genealogia.
Também fizemos uso de alguns impressos que consideramos significativos para nossa
pesquisa. Essas fontes possibilitaram a nossa compreensão acerca das modificações ocorridas
na propriedade Oitocentas ao logo da sua existência e as adaptações de ordem material sendo
que nesse período aconteceram fenômenos de amplas transformações como mudanças no tipo
deixou de ser engenho e passando a ser usina devido às transformações ocorridas no setor
açucareiro nos idos do século XIX e as primeiras décadas do século XX quando as oitocentas
deixa ser engenho e passa a ser usina de pequeno porte logo não tardando a ser usina
cooperada, ou seja, fazia parte de uma cooperativa que funcionava no engenho Jurema.
12
DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,
1980.
13
Esse impresso circulou por muitos anos sobre várias direções e redação, entre eles: Pedro Silvino de Andrade,
Francisco Polito, Antônio Calazans de Resende (1933) e diversos redatores sob direção de J. Eduardo e tendo
como redator o senhor Saturnino V. Dantas (1935). Contudo, segundo informações do próprio periódico, ele foi
o segundo jornal que surgiu na cidade de Rosário do Catete, pois o primeiro tinha por nome O Rosarense que
havia surgido no ano de 1893. Os Exemplares foram cedidos pela própria direção e redação do Jornal o Rosário
a pedido do Senhor Epifânio Doria que em 17 de setembro de 1933 sendo atendido pela direção do jornal,
21
que lhe empresta o nome, de cunho político, critico popular, humorístico, noticioso e
independente. Encontra-se em bom estado de conservação, são 88 edições completas
contendo quatro páginas. Estas edições datadas dos anos de 1933 a 1936 tendo como
fundador o coronel João Machado Subrinho14. Em alguns exemplares aparecem nome de
personalidades da sociedade Rosarense, principalmente os padres com as celebrações
religiosas, comerciantes da cidade e os senhores de engenhos Salústio Vieira de Melo
proprietário do engenho Santa Bárbara, José Paes de Azevedo Sá senhor das oitocentas, José
Soltero Vieira dono do engenho Sítios Novos entre outros.
concedendo todos os exemplares que já haviam sido editados até então, afirma a edição de número 8 datado de 1
de outubro do mesmo ano do Jornal o Rosário esses foram doados a Biblioteca Pública Epifânio Dória no ano de
1933. Hoje esse jornal e outros já se encontram digitalizado na biblioteca através do projeto da universidade
Federal de Sergipe. O projeto Imprensa Cristã: Escrevendo em nome da fé e das vicissitudes históricas...:
Imprensa cristã e artigos de cristãos nos jornais laicos sergipanos.
14
Ex-prefeito da cidade de Rosário do Catete e um dos editores do periódico O Rosário e seu fundador.
15
NORA, Pierre. Entre Memória e História: A problemática dos Lugares. Projeto História. São Paulo, 1993. p.9.
22
No que se refere à relação entre a história oral e a memória, Jacques Le Goff16 aponta-
nos que se apresentam ora em paralelo, ora em concordância com a própria história. A
memória estaria atuando como um documento na medida em que é capaz de reelaborar as
recordações que são vestígios mnemônicos do indivíduo sendo delimitada através do tempo e
espaço histórico específico. Essas memórias são como pistas para reafirmá-las recorrendo às
recordações dos indivíduos fazendo com que o tempo e o espaço estejam inseridos dentro de
um determinado contexto social seja individual ou coletivo.
O autor Le Goff17 afirma que: “a memória é aquela que cresce a história, que por sua
vez a alimenta, procura salvar o passado para servir ao presente e ao futuro. Devemos
trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para libertação e não para a servidão”.
16
Le Goff (apud Reis). Na introdução da monografia de Aoron Reis Sena Cerqueira: História Memória e
Sentimento na trajetória de Josefina Cardoso Braz.
17
LE Goff, Jacques, 1924-2014. História e Memória/ Jacques Le Goff: tradução Bernardo Leitão... 7º ed.
Revista- Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2013.
18
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Centauro, 2006.
19
ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: formas e transformações da memória cultural. Campinas:
Unicamp, 2011.
23
Nesse sentido podemos observar o Engenho Oitocentas como um espaço de
recordação, um lugar memorial e ao mesmo tempo em que passou por um processo de
transformação e revaloração por parte de diversas memórias, sejam coletivas ou individuais.
A questão que nos impulsionou rumo a uma delimitação do tema está relacionada à
exiguidade de trabalhos dentro do nosso período que se refiram e se detenham, de maneira
específica, em propriedades que tenham sido unidades produtoras de cana de açúcar e tendo
como produto final o açúcar isso nos idos do século XX. A presente pesquisa constitui-se de
três capítulos.
24
de suas memórias familiares, lançar novas luzes sobre a história do lugar, sem se escurar dos
elementos da chamada cultura material, como fotos e cartas.
25
I
TEMPOS DE AÇÚCAR
Em vista disso, também aqui se faz necessário, para uma melhor compreensão, um
recuo no tempo, uma verificação de como ocorreu o processo de ocupação do espaço das
unidades açucareira em Sergipe e a formação do processo econômico. Tornou-se
indispensável compreendermos as alterações ocorridas ao longo das décadas bem como as
ações desse processo histórico da economia açucareira e o processo de produção da
monocultura da cana de açúcar, sendo o meio mais viável para a Coroa Portuguesa ocupar as
terras brasileiras e sergipanas e assim facilitar o comércio e escoamento dessa produção no
período do Brasil Colônia, Brasil Império ou até mesmo nos anos da República. Cada época
com seu contexto, com seus investimentos, mudanças, problemas, dificuldades que em época
distinta levaram muitos senhores de engenho ao declínio econômico financeiro.
Nossa intenção foi a de compreender o cenário que nos permitiu fazer uma reflexão
sobre a importância e o desenvolvimento que a engenharia20 do açúcar alcançou, seja por
meio dos engenhos banguês, engenho a vapor ou usinas, e como estes vivenciaram seu
apogeu e seu declínio.
20
O sentido da palavra engenharia no texto supracitado deve ser analisado do ponto de vista da produção
açucareira, da cultura do açúcar com seus engenhos, produções e seus costumes cotidianos.
26
aponta Carlo Ginzburg: “(...) se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas – sinais,
indícios – que permitem decifrá-la21”.
Nesse sentido, estamos convictos que o fazer historiográfico requer e envolve vários
itens a serem investigados. Sabemos que no campo da história, há diversas correntes
historiográficas, com seus recortes temáticos, objetos, fontes e o diálogo com áreas afins,
sabemos que não encontramos como receitas prontas.
Para fundamentar esse capítulo trataremos de obras que não devem ser esquecidas,
ainda que não haja engenhos em funcionamento, mas, temos a demonstração de alguns que
resistiram ao tempo, tais como as casas grandes do Engenho Paty, Engenho Oitocentas,
Engenho Jordão fazem parte de um passado memorável; outros existem nas memórias de
testemunhas que estiveram in loco naqueles ambientes.
Mesmo que essas obras tenham sido escritas em contextos e séculos diferenciados são
de grande importância para a escrita da história, tais obras trazem conteúdos sobre quem eram
os proprietários, onde se localizavam e quais foram às unidades produtoras mais bem
sucedidas e opulentas na doce Cotinguiba parafraseando Sharise Piroupo24 que em seu livro
pontua no primeiro capítulo sobre o Cotinguiba.
21
GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: Mitos, emblemas, sinais: Morfologia e
História. 1ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p.177.
22
CARBONELL, Charles- Oliver. Historiografia. Lisboa: Teorema, 1981, p.6.
23
Projeto Massapê: Memórias, Engenhos e Comunidades da Microrregião da Cotinguiba/SE Do GPCIR (Grupo
de Pesquisa Identidades e Religiosidades) sob coordenação do Professor Dr. Antônio Lindvaldo Sousa.
24
AMARAL, Sharyse Piroupo do. Um pé calçado, outro no chão: Liberdade e escravidão em Sergipe.
(Cotinguiba, 1860- 1900). Aracaju: Ed. Diário Oficial, 2012.
27
Foram analisadas respectivamente: História de Sergipe (1891), de Felisbelo Freire; os
trabalhos de Maria da Glória Santana Almeida: Uma unidade açucareira em Sergipe - o
engenho Pedras (1976), Sergipe: fundamentos de uma economia dependente (1984),
Nordeste açucareiro: desafios de um processo do vir a ser capitalista (1993) e Nota prévia
sobre propriedade canavieira em Sergipe (Século XIX); Arquitetura do Açúcar (1999), de
Kátia Loureiro; Sergipe República (2004); A História de Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel:
O Patriarca do Serra Negra e a política Oitocentista em Sergipe (2009); Memórias de
Família (2013); Imprensa Operária em Sergipe (2016), todas estas de Ibarê Dantas; Um Pé
Calçado e outro no Chão (2012), de Sharise Piroupo do Amaral; Sergipe e a política (1986),
de Ariosvado Figueiredo;
28
Gilberto Freire; Arquitetura e Engenho (2013) e Antigos Engenhos (1994), de Geraldo
Gomes; Engenhos do Recôncavo Baiano (2009), de Esterzilda Berenstein de Azevedo;
Segredos Internos (1985), de Stuart Schwartz; Engenho e Memória (2002), de Luciano Trigo,
Moradores de Engenho (2012), de Christine Rufino Dabat. Após essa seleção das obras
retomaremos para as fontes da revisão historiográfica de Sergipe e quando necessário
interagimos com as da historiografia nacional.
Em História de Sergipe25, obra referencial organizada pelo intelectual sergipano
Felisbelo Freire, além de tratar de aspectos gerais do processo histórico sergipano, seu estudo
foi composto por cartas e representações, ofícios, requerimentos, muitos transcritos na íntegra,
intitulada um marco inaugural da historiografia sergipana, ainda que tenham sido publicadas
no final do século XIX, suas características teóricas reforçam os valores de seu tempo. O livro
analisa documentos inéditos bem como as cartas de sesmarias, e por isso é considerando como
uma primeira tentativa de interpretação cientifica para a escrita historiográfica. O autor,
também faz reflexões e questionamentos no campo político, cultural e social no contexto do
início do Brasil República.
Segundo Sura Souza Carmo (2017), outra questão a ser analisada de imediato foi a
“(...) exclusão de análise da obra de Felisbelo Freire, História de Sergipe, obra está
publicada em (1891), nesse período, o Freire pernambucano não havia nascido26”.
Em sua obra, Felisbelo Feire analisa a concepção de história geral, em especial a
história de Sergipe com suas características voltadas para a história política, pois era defensor
da república e buscava documentar os feitos de seu contexto.
Analisar a obra História de Sergipe de Felisbelo Freire é pensar o contexto em que foi
escrito logo percebemos questões políticas, sociais e culturas de seu contexto onde vivenciava
o início da republica onde partidos políticos se massacravam por causa de suas divergências.
A obra dele está inserida na concepção da história geral, em especial de Sergipe que é
diferenciada pela investigação documental marcando assim o término século XIX que estava
sob a influência do positivismo27.
25
FREIRE, Felisbelo. História de Sergipe. 2. Ed. Petrópoles: Vozes, 1979. Em convênio com o governo do
estado de Sergipe 1977.
26
CARMO, Sura Souza. Doce Província? O cotidiano escravo na historiografia sobre Sergipe oitocentista. / Sura
Souza Carmo – Aracaju: IHGSE, 2007. p.71.
27
GALLO, Silvio. Filosofia: experiência do pensamento. 2014.p.242-243. Positivismo – corrente filosófica
fundada por Auguste Comte.
29
Ainda para Sura Souza Carmo, (2017), “(...) no processo historiográfico de Sergipe há
um salto grande pulando do final do século XIX para a década de 1970 para o século XX28”.
Passamos a seguir à análise de uma importante pesquisadora da historiográfica em
Sergipe, Maria da Glória Santana de Almeida, que notabilizou junto à organização dos
arquivos públicos e do judiciário do Estado, mas também por sua contribuição foi sua
produção intelectual sobre a cultura do açúcar em Sergipe29. Glorinha, como carinhosamente
conhecida, com suas reflexões comprovou que houve o processo de fragmentação dos
engenhos no século XIX.
28
CARMO, Sura Souza. Op. Cit. p.110.
29
SÁ, Antônio Fernando de Araújo- Capítulos de história da historiografia sergipana/ Antônio Fernando de
Araújo Sá. – São Cristovão, Editora UFS; Aracaju, IHGSE, 2013, p.100.
30
QUEIROZ, Suely Robles Reis de. Historiografia do Nordeste. São Paulo: Arquivo do Estado de São Paulo,
1979. p.66.
31
ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Uma unidade açucareira em Sergipe – o engenho Pedras. Separata
dos Anais do VIII Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História (Aracaju – setembro de 1975).
São Paulo, 1975.
32
AMARAL, Sharyse Piroupo do. Um pé calçado, outro no chão: Liberdade e escravidão em Sergipe.
(Cotinguiba, 1860- 1900). Aracaju: Ed. Diário Oficial, 2012. Cotinguiba região de maior produção açucareira de
Sergipe de solo massapê, argilosos, escuros e pesados que retivessem bem a umidade e eram preferidos para o
cultivo da cana-de-açúcar.
33
ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Sergipe: Fundamentos de uma economia dependente; Petrópolis:
Vozes, 1984.
30
econômico com características relacionadas com a monocultura da cana de açúcar, mão de
obra escrava e dependência da Bahia para o escoamento da produção. E nos informa acerca da
importância do comércio do açúcar e do algodão com o exterior e por meio das diversas
nacionalidades e representantes europeus como os existentes nos centros comerciais 34 do Vale
do Cotinguiba.
A partir desse diálogo percebemos que há uma semelhança com a obra de Gilberto
Freire: Sobrados e Mucambos, isso em função da importância dada pelos senhores de
engenhos e comerciantes ao gosto pelo luxo, ostensão e em relação à educação dos filhos em
conduzi-los para os grandes centros educacionais urbano do país. É possível perceber a
relação com outra literatura de Gilberto Freyre: Sobrados e Mucambos. O autor faz outros
questionamentos como a transição do trabalho escravo para o livre. É notória a presença do
êxodo rural em busca pela incerteza da cidade e os deslocamentos de grupos humanos dos
campos para cidade.
Sabemos que mesmo com alguns avanços da usina, o pequeno banguê só resistiu até a
primeira metade do século XX. Entretanto, “se o pequeno bangue permitiu a distribuição de
riqueza entre muitos, a usina matará o pequeno produtor e ocasionará a concentração de terra
nas mãos de poucos e a separação definitiva do homem dos meios de produção” 36.
34
As casas comerciais estrangeiras Sharamn e Cameron Smith. DANTAS, Orlando Vieira. O Problema
Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944, p.20.
35
ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Nordeste Açucareiro: desafios num processo de vir a ser capitalista.
Aracaju: Universidade Federal de Sergipe / SEPLAN/BANESE, 1993.
36
ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Nordeste Açucareiro: desafios num processo de vir a ser capitalista.
Aracaju: Universidade Federal de Sergipe / SEPLAN/BANESE, 1993, p.308.
31
Podemos relacionar inúmeras obras que fazem parte desse universo da cultura da cana
de açúcar, que estão ligadas a temática supracitada e podemos relacionar também a obra de
Esterzilda Berenstein de Azevedo37, que versam sobre as transformações estruturais dos
engenhos no século XIX em terras das baianas.
Outra área dentro da nossa historiografia é a arquitetura sob o olhar e reflexão de Kátia
Afonso Silva Loureiro, na sua obra: Arquitetura do Açúcar. Pontua sobre as características
históricas e arquitetônicas de alguns engenhos sergipanos dos séculos XVII ao XIX. A autora
faz um mapa da arquitetura do açúcar, tendo o conjunto arquitetônico Tejupeba, antigo
Colégio dos Jesuítas, erguido na Fazenda Iolanda município de Itaporanga D’Ajuda
37
AZEVEDO, Esterzilda B. de. Engenhos do Recôncavo Baiano. Editora: IPHAN, 2009.
32
propriedade de Dona Rute Fonseca Rollemberg Mandarino, esse conjunto arquitetônico casa e
capela como sendo o mais antigo exemplar de construção antiga que ao lado do São Felix, em
Santa Luzia do Itanhy um engenho do centro sul fazem parte do século XVII. Nesta obra a
autora elenca 31 monumentos da arquitetura açucareira das áreas principais onde vicejou a
cultura da cana de açúcar entre eles os já mencionados.
Loureiro faz a citação de numerosos engenhos das diversas regiões do estado, que são
representações da arquitetura do açúcar em Sergipe, selecionou alguns engenhos para tratar
acerca dos mesmos. Outros foram citados como sugestão para pesquisadores que tenham
interesse nesta temática, a saber: Engenho Antas, Castelo, São José, Priapu, Cedro,
Vassouras, São Joaquim, Kassunguê, Boa Vista, Belém, Poços, Engenho Novo, Salobro,
Penha, Dirá, Escurial, Itaperoá, Quindongá, Retiro, Pedras, Caieira, Santa Bárbara, Jesus
Maria José, Cruzes, São Joaquim, Tuim, Engenho de Ferro, Pinheiro, Central, Cumbe, Poxim,
Unha de Gato, Maria Teles, Serra Negra, Jordão, Catete, Comandaroba, Oitocentas 38.
Caraíbas, Jurema, caldas, Cajá, Junco, Pombinha, Capim Açú, Periperi, Santo Antônio entre
outros engenhos.
Portanto, nos faz pesar nas possibilidades de escrita sobre cada uma destas unidades
açucareira, sendo assim nos despertou o interesse pelo engenho Oitocentas da família Vieira
Azevedo, este engenho um espaço de recordação, lugares de memórias e representações
culturais e quiçá religiosas que será abordado no próximo capítulo.
Outro autor que merece destaque por sua vasta produção é o historiador Ibarê Dantas
que contribui com a pesquisa historiográfica, seu preparo nos traz em sua produção intelectual
o diálogo entre a história e as ciências sociais. Os outros livros desse historiador que retrata
uma síntese da história de Sergipe sobre diferentes vertentes temáticas, entre elas a político
partidária39.
Além desses diálogos já mencionados, têm outra obra a História de Sergipe República
que nos faz compreender como foram construídos o Estado republicano e a sociedade isso
baseado nos aspectos políticos administrativo, cultural, econômico social. Este livro expressa
38
Engenho oitocentas pertenceu ao senhor Manoel Paes de Azevedo Sá após falecimento deste ao filho José
Paes de Azevedo Sá e atualmente pertence a Senhora Graziella Vieira de Azevedo, o mesmo está localizando as
margens da BR 101 no município de Rosário do Catete- SE. Limita-se com a Fazenda Sítio Novos e o Engenho
Paty.
39
DANTAS, Ibarê. A Tutela Militar em Sergipe (1964-1984). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro 1997.
33
a tentativa de sintetizar a experiência de110 anos de república procurando mostrar como os
sergipanos conviveram politicamente, como produziram, trabalharam e distribuíram suas
riquezas, enriqueceram suas culturas, acompanha o processo de modificações variadas e
abrangentes, ocorridas de âmbito nacional ou especificamente local. Ainda vai demostrar
como no início de Sergipe república os senhores do açúcar dominavam. Por fim, diferente
das demais obras de sua produção intelectual anteriores, Dantas, se debruça sobre a escrita da
biografia do senhor de engenho Leandro Ribeiro de Sequeira Maciel, importante liderança
política dos oitocentos em Sergipe, o conhecido Senhor ou patriarca do engenho Serra Negra.
Esta biografia nos possibilita a compreensão das dimensões e variedades de assuntos nela
contida tanto da parte do proprietário e dos escravos, práticas políticas exercidas por parte da
política provincial sergipana40.
Nessa obra, Ibarê Dantas utiliza a influência de Freyre em Casa Grande e Senzala, bem
como, Sobrados e Mucambos. Sendo assim, a proposta não é escrever sobre a temática da
escravidão, mas sobre o personagem Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel. Este se relaciona
com Freyre pelo fato da proximidade com a casa grande do engenho Serra Negra, ele faz uma
relação um paralelo entre essas duas obras de Gilberto Freyre.
40
DANTAS, Ibarê. Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel (1925-1909). Aracaju: Criação, 2009.
41
DANTAS, Ibarê (2013.p.77) – Memórias e Família – O percurso de quatro fazendeiros. Aracaju – SE. Criação
2013.
34
Em continuidade a produção de Ibarê Dantas, aventaremos acerca da Imprensa
Operária42 e podemos observar como o autor articular-se em relação à estrutura social de
Sergipe nos idos de 1889 a 1930 nas quatro décadas da república. Pontua a predominância as
atividades eram rurais e voltadas para a produção o comércio nacional e internacional, e entre
os produtos de maior representatividade destaca-se o açúcar que no idos de 1889 correspondia
a 76,51% do valor total das exportações.
Ainda descreve que o material trabalhado nesse livro compõe-se de cinco jornais sendo
que os quatro primeiros tiveram o nome de o Operário e o quinto a Voz do Operário. Na
análise de cada jornal afirma o autor que procurou enfocar suas contribuições para as defesa e
conquista dos direitos, e o fortalecimento da classe e suas tendências.
Partimos para a análise conjuntural da obra que nos fez perceber que se trata da temática
voltada mais para a liberdade e escravidão em Sergipe, na região da Cotinguiba. Contudo, a
autora faz uma interlocução com a obra de Gilberto Freire: Casa Grande e Senzala, a mesma
demonstra que para cogitar uma temática não se é necessária olhar apenas por um só viés,
perceber e interpretar com novos olhares e entender os sentidos políticos, econômicos e
através destes, apresentar diversas formas e fontes, aspectos culturais.
Podemos perceber uma forte influência de Gilberto Freyre na escrita de alguns autores
sergipanos, tais semelhanças se manifestam no modo como é descrita a casa grande, a senzala,
45
DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,
(1980. p.30).
46
DANTAS, Orlando Vieira. O Problema Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944. p.20.
36
e todo o conjunto estrutural do engenho. É perceptível na questão na relação das famílias
formando uma árvore genealógica das famílias dos engenhos da região do Cotinguiba e baixo
Cotinguiba e da região Vaza Barris. A vida patriarcal é uma fonte de acontecimentos e
realidades que serve até hoje para fornecer temas aos pesquisadores interessados em
desenvolver a história nessa temática.
Sendo assim, a cultura do açúcar como fonte para a escrita da historiografia é muito
significativa e abrangente todas as obras supracitadas tem seu contexto e suas peculiaridades,
contudo temos outras obras que também versam sobre o contexto das mulheres na corte do
Rio de Janeiro, a vida e as memórias do engenho Escurial, na corte, a educação das filhas do
proprietário de engenho as obras “Memória de dona Sinhá47,” “Memória de Aurélia48” e “A
Carta da Condessa49” são desdobramentos da tese de doutorado, obras de Samuel
Albuquerque versam sobre o contexto da aristocracia rural, bem como da vida privada do
cotidiano na corte do Rio de Janeiro, e a Carta da condessa versa sobre o contexto familiar,
relacionado principalmente as mulheres e sobre a educação das filhas da aristocracia
açucareira neste caso a educação das mulheres da família do Barão de Estância.
47
ALBUQUERQUE, Samuel Medeiros Barros de. Memórias de dona Sinhá. Aracaju.: Scortecci,2005.
48
ALBUQUERQUE, Samuel Medeiros Barros de. Memórias de Aurélia: Cotidiano feminino no Rio de Janeiro
do século XIX, São Cristovão/SE: Editora UFS, 2015.
49
ALBUQUERQUE, Samuel Medeiros Barros de. A carta da Condessa: família, mulheres e educação no Brasil
do século XIX. São Cristovão: Editora: UFS, 2016.
50
FREYRE, Gilberto, Casa Grande Senzala: Formação da família brasileira sob o regime da economia
patriarcal; São Paulo; Globo, 2006.
37
Temos outras características abordadas na literatura de Freyre, pois são muitas pistas
deixadas pelo autor sobre as possibilidades de estudos acerca da escravidão, economia,
cultura e temas afins que não temos como versar neste trabalho, mas sua obra mesmo sendo
um clássico também foi submetida a críticas e abordagens por diversos autores do Brasil e do
exterior e está sujeitas a outros olhares e interpretações.
Na historiografia sergipana são diversas as obras que versam sobre várias temáticas
voltadas aos tempos do açúcar. Entre elas, destacamos o trabalho de José Modesto dos Passos
Subrinho, “Reordenamento do trabalho escravo e trabalho livre no Nordeste açucareiro de
Sergipe (1850-1930),” visto que está que se constitui como um referencial pela valiosa
contribuição histórica econômica acerca de Sergipe, e nos permite uma relação com dados
mais significantes e preciso se tratando da produção canavieira do período por ele analisado
com suas possíveis mudanças estrutural.
51
PASSOS, Subrinho, Josué Modesto dos. História Econômica de Sergipe (1850-1930), São Cristovão:
Programa de Programa Editorial da UFS, 1987.
38
complexos econômicos. Em sua tese de doutorado transformada em livro Josué Modesto
Passos Subrinho analisa a crise do escravismo e a sua transição ao trabalho livre em Sergipe.
52
PASSOS, Subrinho, Josué Modesto dos. Reordenamento (do trabalho: trabalho escravo e trabalho livre no
Nordeste açucareiro, Sergipe, 1850-1930). Aracaju: FUNCAJU, 2000.
53
NUNES, Maria Thetis, Sergipe Colonial II, (1840- 1889), Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro 2006.
39
inclusive temos também informações sobre engenho Oitocentas que é o objeto no nosso
estudo.
54
SÁ, Antônio Fernando de Araújo- Capítulos de história da historiografia sergipana/ Antônio Fernando de
Araújo Sá. – São Cristovão, Editora UFS; Aracaju, IHGSE, 2013.
55
SOUSA. Antônio Lindvaldo. História e Historiografia Sergipana: notas para reflexão. São Cristóvão: CESAD,
2013. p.85.
40
com a obra Álbum de Sergipe (1920, p.), descreve sobre alguns locais que foram importantes
centros econômicos da monocultura do açúcar como Rosário do Catete, Japaratuba,
Riachuelo, Maruim, Laranjeiras conhecida por serem os centros de grande produção do
açúcar, transporte, clima, tipos de solo a fauna e a flora de cada localidade, a parte da
hidrografia importante para o escoamento da produção do açúcar, ou seja, ela faz um
panorama de cada município da microrregião do Cotinguiba.
Outro momento dessa terceira fase foi o surgimento de novos escritores a exemplo o
próprio José Calazans Brandão Silva56, De acordo com Calazans, os exemplos são muitos ao
longo desse panorama historiográfico é no terceiro momento dentro da terceira fase podemos
pontuar autores, a saber, a professora Maria Thetis Nunes57, Orlando Dantas58.
Destaque ainda para o livro da historiadora Sura Souza Carmo “Doce Província?: O
cotidiano escravo na historiografia sobre Sergipe oitocentista (2007)”, onde ela questiona
sobre o cotidiano escravo na historiografia, sobre Sergipe oitocentista a autora faz uma
revisão historiográfica de grande relevância para outros pesquisadores abordando sobre a
questão da escravidão, contudo nesta revisão surgem os temas sobre cultura do açúcar ou
relacionado e ele, de maneira que deixa pistas notas em relação à historiografia sergipana
entre uma obra que é citada temos assuntos referentes a questão da aristocracia rural em
Sergipe. Ela pontua que há um distanciamento muito grande entre as obras historiográficas.
56
CALAZANS, José. Introdução ao estudo da historiografia sergipana. In: Aracaju e outros temas sergipanos.
Aracaju: FUNDESC, 1992.
57
NUNES, Maria Thetis, Sergipe Colonial II, (1840- 1889), Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro 2006.
58
DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,
(1980).
59
PERRUCCI, Gadiel. A república das usinas: um estudo de história social e econômica do Nordeste, 1889-
1930. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
41
Todavia, essas obras sempre se relacionam, pois servem de referencial para
historiadores e pesquisadores, as mesmas, ao longo do texto vão pontuando e deixando pistas
e veredas a serem exploradas. Esta obra a mais recente da historiografia sergipana publicada
em 2017 pelo IHGSE (Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe).
60
ROCHA, Renaldo Ribeiro. O engenho sergipano na sua materialidade: Escurial, um estudo de caso (1850
1930). 2004. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal de Sergipe.
61
SANTOS, Leonice Pereira dos. O rapto da Jureminha: testemunhos e interpretações sobre um crime na
província de Sergipe (1864-2009). São Cristóvão, SE, 2017. Monografia (Graduação em História) -
Departamento de História, Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de Sergipe, São
Cristóvão, 2017.
42
Importante percebermos que somente no século XIX, foi definida a ocupação para
produção agrícola em Sergipe, isso devido a excelente ajustamento dos solos para a criação do
gado que foi direcionada para o interior e para os sertões e a faixa litorânea e zonas com os
cursos fluviais foram adequadas possibilitando a monocultura da cana de açúcar e o
surgimento dos engenhos. Conforme Maria da Glória Santana de Almeida é difícil fazer a
conta dos números de propriedades canavieiras existente na província de Sergipe, nos idos da
segunda metade do século XIX devido à ausência de registro de terras.
43
II
ROSÁRIO DO CATETE: O LUGAR DO LUGAR
A seguir, faremos uma análise possível sobre o surgimento das unidades açucareiras
em Sergipe, quando necessário num comparativo com os engenhos da Bahia. Nesse sentido,
buscou-se conhecer o lugar do lugar, onde estavam localizadas as unidades açucareiras no
baixo Cotinguiba e assim passamos a conhecer a origem do município, emancipação política e
desenvolvimento sócio político cultural de Rosário antiga freguesia e vila na província de
Sergipe e posteriormente município de Rosário do Catete/SE.
Portanto, por várias gerações deu-se progressiva concentração de terras nas mãos de
poucas famílias, responsáveis pela produção do açúcar nos séculos iniciais da colonização das
terras da colônia portuguesa desde o século XVI ao XIX, nas áreas litorâneas como Bahia, em
Pernambuco com maior eficácia, na segunda metade do século XVIII, em Sergipe nesse
mesmo século estendendo-se até século XX com o declínio das usinas.
A ocupação da região que hoje compõe o estado da Bahia ocorreu de forma gradativa,
contudo foi no Recôncavo Baiano que aconteceu a maior área de produção de cana de açúcar,
vejamos o que nos informa Antônio Carlos do Amaral Azevedo (1994). 62
62
AZEVEDO, Antônio Carlos do Amaral. Dicionário de nomes, termos e conceitos históricos, Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1990.
44
A Bahia, com solos férteis tipo massapê, com vegetação de Mata Atlântica que
margeava toda a costa e o Recôncavo, tinha condições favorável para o desenvolvimento da
produção açucareira que caracterizou a atividade econômica. As primeiras notícias sobre a
implantação de engenhos na região estão ligadas ao processo de ocupação das terras, com o
surgimento das primeiras vilas: Nossa Senhora do Porto de Cachoeira; São Francisco da Barra
do Conde, Itaparica como porto de produtos de subsistência. Durante o século XVIII, a
atividade praticada nesta região foi em escala de produção comercial dos seguintes produtos:
fumo, mandioca, além da extração de madeira e a criação de gado.
Durante os três primeiros séculos da colonização, isto é, até os idos do século XIX, a
atividade agrícola foi a maior responsável pela localização e desenvolvimento de povoações
no Recôncavo Baiano, ou seja, vinculada a produção ou ao transporte. A rede de cidade da
região se originou e sua hierarquia se estabeleceu em função da cultura canavieira.
“Nessa medida, o engenho deu lugar às usinas de açúcar, para usarmos uma
expressão corrente que nem sempre consegue apreender a natureza dessa
transformação, já que boa parte da bibliografia acaba reduzindo o problema
a discussões do tipo: formas arcaicas e pré-capitalistas de produção versus
produção capitalista. Muito pelo contrário, o que esteve em jogo nessa
transformação não foi à passagem de uma organização social do trabalho
pré-capitalista para uma organização capitalista do trabalho, mas sim o modo
63
SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550-1835. São Paulo:
Companhia das Letras, 1988, p. 83.
45
pelo qual no interior da organização social capitalista do trabalho, já no
século XIX, determinadas formas se impuseram sobre outras – a usina de
açúcar superou o engenho64.”
64
DECCA, Edgar de. O nascimento das fabricas. São Paulo: Brasiliense, 1998. Coleção Tudo é História, 88.
65
Acreditamos que esse lugar seja a atual capital Aracaju que foi projetada para ser a capital, compreendia o
presidente em exercício Inácio Barbosa a importância dessa mudança que ocorreu em 17 de março de 1855 pois
tinha uma melhor posição geográfica e também facilitou o escoamento dos produtos exportados principalmente a
produção açucareira. Medida sancionada pela resolução de número 413.
46
Sergipe era de fato, uma extensão da economia da Bahia, apesar de haver as diferenças em
relação aos engenhos que eram menores. No início do século XIX, foram arrolados 163
engenhos próximos à voz do rio Cotinguiba em Sergipe El Rey e sua produção perfaziam
25% da produção da Bahia.
Esses lugares estavam ligados no passado, pois Sergipe fazia parte da capitania da
Bahia de Todos os Santos, ai deu início à atividade econômica de produção do açúcar, e a
construção de engenhos, além da sede da capitania conhecida como Vila Velha do Pereira
contando com o auxílio do náufrago Diogo Álvares Caramuru, contudo a administração
mostrou-se incapaz de controlar os ímpetos dos colonos como afirma Stuart Schwartz 66.
66
SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550-1835. São Paulo:
Companhia das Letras, 1988, p.34.
67
Companhia de Jesus uma ordem Religiosa fundada por Inácio de Loyola. Dicionário Aurélio Buarque de
Holanda Ferreira Editora Nova Fronteira 5ª Ed. Rio de Janeiro-2004. Companhia de Jesus tornou-se um dos
principais movimentos de reforma religiosa tendo sido uma das ordens mais importantes na formulação da
resposta ao protestantismo produzido durante o Concílio de Trento.
47
Cacique Serigi. Nessas aldeias agregou-se numerosa população indígena
liderada pelos caciques Serigi, Surubi e Aperipê, este dominando as terras
entre o rio Real e o Vaza-Barris. Os padres começaram a ensinar a doutrina
cristã, e a missão de São Tomé o padre Gaspar Lourenço abriu uma escola
para as crianças, denominada São Sebastião, tendo coo professor o padre
João Salônio68.”
A luta entre as tropas do governo e os nativos causou uma baixa nas aldeias indígenas
e os sobreviventes fugiram para os sertões. Com o desenvolvimento dos maiores centros
produtores de cana de açúcar na região (salvador e Pernambuco), houve a necessidade de uma
ligação por terra entre essas regiões, mas passar por Sergipe implicava em corre todos os
riscos. O governo português nomeou Cristovão de Barros como responsável pela conquista de
Sergipe e nessa etapa que foi empreendida a guerra justa70 e a “destruição dos elementos e
indivíduos que pudessem ser inimigos ao desenvolvimento do povoamento e da conquista
definitiva do território Cristóvão de Barros levanta um forte e junto a ele deu o nome de
Cidade de São Cristovão .
As medidas por ele adotadas tinham caráter funcional e estabeleceram dessa forma os
alicerces da nova capitania a qual denominou Sergipe Del Rei, está doada ao pelo Rei Felipe
II, com recomendações que fossem criadas povoações e iniciadas a distribuição de sesmarias
68
NUNES, Maria Thetis. Sergipe Colonial I. Aracaju: Universidade Federal de Sergipe /Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro (1989 p. 21-22).
69
NUNES, Maria Thetis. Sergipe Colonial I. Aracaju: Universidade Federal de Sergipe /Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro (1989 p.22-23, 29).
70
FRANDESCO, Sacchino. História Societatis Jesú. In: Antônio Henrique Leal. Apontamentos para a História
da Companhia de Jesú. Maria Thetis Nunes. 2006. op.cit, p.26.
48
que inicialmente foram empregadas para a criação de gado, mulas, além de roça para o cultivo
do milho, arroz, feijão, legumes e aves para o consumo doméstico.
A partir do século XVIII, há uma modificação nas atividades econômicas em Sergipe
passando a cultura da monocultura da cana de açúcar ocupar mais espaços outrora destinados
aos currais como escreve Felisbelo Freire (1977): “O sergipano antes de ser agricultor foi
pastor71”. Também acrescenta que antes da região ser colonizada os fazendeiros baianos
desenvolveram a criação de gado.
Dados indicam, numa comparação entre a Bahia e Sergipe Del Rey, o aumento do
número de engenhos embora variem as estimativas de produção a tendência de expansão e
criação de novas unidades é clara tanto na região baiana como em Sergipe, uma estimativa de
1818 indicava que existiam 325 engenhos na Bahia e 156 em Sergipe Del Rey, totalizando um
71
FREIRE, Felisbelo. História de Sergipe. 2. Ed. Petrópoles: Vozes, 1979. Em convênio com o governo do
estado de Sergipe 1977.
72
ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Nordeste Açucareiro (1840.1875), Num Processo do vir a ser
capitalista, Aracaju, UFS/SEPLAN/BANESE, 1993.
49
total de 511 engenhos e em 1834 contava com 603 unidades para ambas as regiões 73. De
acordo com Stuart Schwartz (1988, p.346).
O autor fornece, ainda, uma análise minuciosa sobre o trabalho nos engenhos baianos
e estendendo também para os de Sergipe El Rey, o mesmo versa sobre a região, a história da
economia açucareira e acerca da fabricação do açúcar e seus detalhes que não iremos adentrar
nesse víeis.
Em relação aos engenhos surgidos nessa época apresentam semelhanças, quanto aos
elementos e ordem material, se comparado àqueles existentes em séculos anteriores, pois as
inovações experimentadas por este setor produtivo foram quase imperceptível, era menos
arriscado permanecer com as técnicas antigas e assim alguns proprietário de engenho
negligenciaram as novas tecnologias que começavam a apontar no cenário sergipano na
segunda metade daquele século (DANTAS, 1944)74.
Segundo Maria Lucia Marques Cruz Silva, processo de povoação de Rosário do Catete
se dá mediante a conquista do território de Sergipe (2000, p.14). Ela versa sobre a formação
histórica desse município que se concretiza com a vinda do português Cristovão de Barros75
que ao colonizar Sergipe fez doação de sesmaria, a seu filho Antônio Cardoso de Barros para
dividir com as pessoas que participaram das lutas contra os indígenas, vencidas os combates e
morto o chefe da tribo local o cacique Siriri trataram de ocupar as terras como fizeram em
toda extensão da costa brasileira, essa ocupação trouxe como consequência o desmatamento
das plantas nativas.
Observa-se que a terra será apropriada para o plantio da cana de açúcar, o que fez com
que os colonizadores importassem de imediato à mão de obra escrava para a produção do
açúcar o que viria constituir a base econômica da região.
Desse modo, as margens do rio Siriri a primeira ocupação se deu nas terras que
pertenciam ao Engenho Jordão de Propriedade naquela época do senhor Jorge Almeida
Campos, este por iniciativa dos escravos fez uma doação de uma área de terra a fim de que
fosse construída uma capela para a imagem de Nossa Senhora do Rosário. A citada imagem
73
SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550-1835. São Paulo:
Companhia das Letras, 1988.
74
DANTAS, Orlando Vieira. O Problema Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944
75
Cristóvão de Barros era filho de Antônio Cardoso, que vieram na expedição de Tome de Souza para ocupar o
cargo de provedor-mor, mas quando retornavam para Portugal, em companhia do bispo D. Pedro Fernandes
Sardinha, o navio em que estava naufragou nas costas de Alagoas, tendo sido eles devorados pelos índios Caetés.
50
fora encontrada pelos escravos naquelas proximidades, o que proporcionou o começo da
religiosidade dessas pessoas que contribuíram para o início da organização social e religiosa
dos novos habitantes.
Ainda de acordo com Maria Lucia Marques Cruz Silva 76, quando a povoação de
Rosário surgiu já existia a Vila de Santo Amaro das Brotas, está vila exerceu por muito tempo
em toda a área o domínio administrativo e político, e com grande influência nos interesses da
Província de Sergipe, isso devido à localização do Porto das Redes local por onde escoava a
grande produção de açúcar da Cotinguiba.
Para Clóvis Bomfim77, em determinado período da história, Santo Amaro das Brotas
enquanto vila constitui um aspecto bastante diversificado, o que ajudou a diferenciar-se das
demais vilas e povoações por ter uma lista de itens apreciáveis para a economia, ou seja,
produzia anualmente: “40 mil arrobas de açúcar, 20 mil canadas de mel, 5.500 canadas de
aguardente, 10 mil alqueires de farinha, 3 mil alqueires de mamona e 100 mil cocos”.
Na mesma região, outras vilas de relevância como a vila de Maruim que tinha uma
posição geográfica favorável às margens do Rio Ganhomoroba que fazia caminho para Siriry,
Rosário do Catete com seus vários engenhos Paty, Caraíbas, Cumbe, Santa Barbará, Jurema
Catete Velho, Jordão, Serra Negros e vários outros menores como Catete novo, Oitocentas
etc. Japaratuba com o Engenho Santo Clara, em Riachuelo o engenho Central, Capela o
engenho Proveito na vila de Maruim engenho Pedras, Unha de Gato, Periperi e também
existia muitas casas estrangeiras de comércio de importações e exportações.
Por dificuldades de interligação entre essas vilas com a capital da província nessa
época, São Cristovão, as vias de transportes eram precárias, o que dificultava o escoamento da
produção açucareira para exportação, apesar de sabermos que a hidrovia da região tinha
76
SILVA, Maria Lucia Marques Cruz e. Rosário do Catete / Maria Lucia Marques Cruz e Silva – Aracaju:
Prefeitura Municipal de Rosário do Catete, 2000.
77
BOMFIM, Clóvis, “Haveres do século XIX - Santo Amaro, no Obscurantismo á Luz da História, EDISE,
Aracaju, (2013, p.148).
51
vantagem logística excelente, os rios Cotinguiba e Sergipe, Japaratuba, Pomonga e
Ganhomoroba foram um dos fatores decisivos para o tráfego da produção, importação e
exportação de produtos da cultura açucareira.
Maruim era uma povoação subordinada também à vila de Santo Amaro das Brotas, no
ano de 1828, e teve sua sede administrativa transferida para Rosário, por ordem do governo
Provincial, para que os ânimos das lideranças locais se acalmassem. Em 1831 passou a
Freguesia de Nossa Senhora do Rosário, época em que foi criado o distrito municipal por
decreto de 12 de outubro de 1831.
No Álbum de Sergipe de Clodomir Silva (1920, p.266,267), nos informa que “em
meio as agitações em que se debatia a Província nos primeiros anos da sua vida, Rozário do
Catete foi elevada a freguesia e villa por acto de 3 de fevereiro de 1831, com a transferência
da sede da villa de Santo Amaro, que então se achava localizada em Maroim78”.
Rosário do Catete permaneceu freguesia por pouco tempo, pois em 8 de maio de 1833
foi deliberada pelo conselho do governo a volta da vila para Maruim. Contudo, não tardou
para que voltasse a ser vila, por força da lei em 12 de março de 1836, foi traçado seu limite.
Nasceu, assim, a vila de Rosário do Catete, por Lei provincial, como resultado da Revolta de
Santo Amaro das Brotas contra Maruim e Rosário79 como veremos na citação abaixo:
78
SILVA, Clodomir, Álbum de Sergipe (1920. P.266,267).
79
SILVA, Maria Lucia Marques Cruz e. Rosário do Catete / Maria Lucia Marques Cruz e Silva – Aracaju:
Prefeitura Municipal de Rosário do Catete, 2000.
80
SILVA, Clodomir, Álbum de Sergipe (1920. p, 267).
52
O município que foi criado pela Lei Provincial de 12/03/1836, sancionada pelo Presidente
da Província de Sergipe Dr. Bento de Melo Teixeira, elevando à categoria de vila a povoação
de Rosário, com denominação de Vila de Nossa Senhora do Rosário, desmembrada do termo
da Vila de Santo Amaro.
Sua divisão administrativa se deu em 1911 e por decreto de 12 de junho de 1932 foi
elevada à categoria de cidade. Contudo houve uma incoerência com as leis federais em
relação ao topônimo das cidades e vilas brasileiras, de modo que as disposições do Decreto-
Lei Estadual n 377, de 31 de dezembro de 1943, o município passou adotar oficialmente
o topônimo de Rosário do Catete81.
De acordo com Luiz Antônio Barreto82 (2009), faz uma análise do livro de Clodomir
Silva já mencionado nas páginas anterior onde afirma que Rosário tinha 21 mil habitantes,
distribuídos na sede do município e nos povoados, incluído os que perderiam como Carmo,
atual cidade de Carmopólis, Marcação que se tornou Município de General Maynard, perdeu
também o povoado Aguada para o município de Carmopólis.
81
Enciclopédia dos Municípios – FIBGE- Vol. XIX – Sergipe 1956.
82
BARRETO, Luiz, Antônio, com a colaboração de NASCIMENTO, Jorge Carvalho do – EDELZIO VIEIRA
DE MELO um homem público exemplar. Typografia Editorial – Ensaio Biográfico- A edição deste livro e as
demais atividades celebrativas do Centenário DE Nascimento de Edelzio Vieira de Melo. Apoio Cultural
Instituto Banese, Gov. Municipal de Capela, Prefeitura Municipal de Rosário do Catete, 2009.
83
NUNES, Verônica Maria Meneses – As Irmandades em Sergipe: A Devoção e Cor, Irmandades de
Nossa Senhora do Rosário e ou São Benedito – Práxis Pedagógica: Revista do Curso de Pedagogia,
Aracaju, Vol. 2 Nº2, Janeiro /Julho -2015. p. 06.
53
Em nossa pesquisa também utilizamos como fonte alguns jornais do acervo da
biblioteca pública Epifânio Doria84 que foram digitalizados pelo Projeto Imprensa Cristã85.
Fizemos a análise das edições do Jornal por nome “O Rosário 86 afirma em sua edição de
número 11, página 4, sobre a tradicional festa de Nossa Senhora do Rosário que é
comemorada no mês de outubro”.
Segundo o jornal O Rosário, em seu número 13, p.1, a festa era organizada e conhecida
como “festa encantadora” e celebrada com “pompa”. Além desta, menciona a de São José
que era celebrada também com “pompa” e cantada pelo Vigário Padre Edgar Britto na Igreja
do Amparo seguida de um grande cortejo Divino com as celebrações e benção do Santíssimo
Sacramento.
O jornal afirmou que os povos daquela cidade com “a boa vontade do esforçado
pároco Padre Edgar Britto” foram realizados os festejos em celebração a excelsa padroeira
Nossa Senhora do Rosário, com maior pompa do que nos outros anos, pelo programa abaixo
fornecido pelo dito pelo pároco que tudo foi observado com maior zelo. Vejamos como o
Jornal O Rosário descreve a programação da festividade:
84
Epifânio Fonseca Dória nasceu em Campos do Rio Real em (1884 e faleceu em 1976) e teve sua vida dedicada
à preservação da memória de Sergipe, organizando arquivos de Sergipe, e organizando arquivos e bibliotecas de
Estado.
85
Um projeto de digitalização de jornais: Projeto Imprensa Cristã: Escrevendo em nome da fé e das vicissitudes
históricas...: Imprensa cristã e artigos de cristãos nos jornais laicos sergipanos. Este também sob coordenação do
Professor Dr. Antônio Lindvaldo Sousa.
86
Jornal o Rosário as edições trabalhadas foram digitalizadas pelo projeto Imprensa Cristã, supracitada e as datas
de 1933 a 1936 do século XX, jornal cujo programa descreve ser crítico, noticioso, humorístico e independente
seu fundador o coronel João Machado Subrinho editado na cidade que lhe emprestar o nome. Este jornal está na
pacotilha 44 no acervo da Biblioteca Estadual Epifânio Dória. O mesmo encontra-se em bom estado de
conservação e as edições completas todos os exemplares contem quatros folhas . Está datado de 13 de outubro de
1933. Seu fundador foi o Coronel João Machado Subrinho, ao qual foi prefeito da cidade de Rosário do
Catete/SE nos idos de 1946; e 1951 a 1955. Era semanário de tamanho 43x30 e outro exemplares de 33x23. Hoje
faz parte do conjunto de 3 DVDs cujo ISBN do v. 1-978-85-7822-621-3; v.2-.978-85-7822-622-0; v.3 – 978-85-
7822-623-7.
54
da procissão falou outro orador sacro e em seguida a benção do S.S.
Sacramento87.”
87
Jornal O Rosário edição de nº11, p.4. Ano de 1933; edição nº13, p.1 ano de 1933 Esses jornais são do acervo
da biblioteca Epifânio Doria e foram digitalizados já mencionados.
88
Jornal O Rosário. Edição nº 8, p. 2, ano de 1933. Edição nº10, p.2. Anos de 1933, Edição nº11, p. 2. Ano
1933.
89
No jornal o Comércio editado em Maruim edição de nº373. p.3. Ano de 1924; edição de nº 220, p.1; edição de
nº221, p.2 edições nº423, p.2.
55
importante tinha uma tribuna de acordo com o depoimento de uma das filhas do senhor
de engenho da qual falaremos no momento próprio.
Entre as igrejas que são tidas como patrimônio material e histórico de Rosário,
destaque para capela de Nossa Senhora de Nazaré que foi construída em 1709, e demolida e
90
Luiz Ferreira Gomes um dos entrevistados e participantes do Documentário ‘Massapê Rosário do Catete
Memórias e Engenhos “Direção e produção Sérgio Borges”. O consideramos como um dos guardiões das
memórias de Rosário do Catete.
91
ASSIS, Carlos Pinna de Revista Cumbuca – Editora: Edise - Ano VI – Nº. 18 – Artigos João Gomes de Melo
(1809 -1890) O Barão de Maruim e Seu Tempo. (2018, p.60 a 70).
56
reconstruída outra, no mesmo local. No ano de 1864, fazendo parte do engenho Catete Novo
pertencente ao Barão de Maruim João Gomes de Melo.
Temos a Estação de Trem de Rosário que foi inaugurada em 1914, que está passando
pelo processo de Tombamento pelo IPHAN93 chamado de Valoração, será o 1º tombamento a
nível Nacional da cidade, alguns acontecimentos históricos marcaram a história dessa estação
férrea, entre eles em 1924 serviu de embarque de tropas dos tenentes da revolta de 24 94,
comandada por Augusto Maynard Gomes.
92
NUNES, Verônica Maria Meneses – As Irmandades em Sergipe: A Devoção e Cor, Irmandades de Nossa
Senhora do Rosário e ou São Benedito – Práxis Pedagógica: Revista do Curso de Pedagogia, Aracaju, Vol. 2
Nº2, Janeiro /Julho -2015. p. 06.
93
IPHAN (Instituto Histórico e Artístico Nacional) criado em 13 de janeiro de 1937 pela Lei nº378, no governo
de Getúlio Dornelles Vargas, o então ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, preocupado com a
preservação do patrimônio cultural brasileiro.
94
Revolta de 24 ou revolta dos Tenentes - Em 1924 os Tenentes do Brasil se revoltaram contra o regime de
republicano como eles governavam e eles tomaram São Paulo no governo de Artur Bernardes em abril de 1924 a
revolta dos tenentes não se estendeu apenas ao Rio de Janeiro e São Paulo mais também eclodiu em Aracaju sob
o comando do tenente Augusto Maynard Gomes e outros oficiais.
95
CUMBUCA, Revista- Ano V. Nº15 setembro de 2017. DIAS, Antônio Pinna de, - Foi advogado fundador do
curso de direito da USP. Estudou na Faculdade do Recife. Exerceu cargos de promotor público em Sergipe na
Comarca de Laranjeiras, (1866-1869), foi deputado provincial por três legislações.
96
CUMBUCA, Revista- Ano V. Nº15 setembro de 2017. MAYNARD, João, Desembargador, nasceu no
engenho Saco município de Rosário do Catete em 8 de janeiro de 1878. Bacharel em ciências jurídicas e sociais
pela Faculdade Livre do Rio de Janeiro exerceu cargos de Juiz em Itabaianinha, na época sede da então comarca
de Rio Real. CUMBUCA, Revista- Ano V. Nº15 setembro de 2017.
97
DANTAS, Sylvio Melo (2013, p.75), Minha Família-Árvore genealógica comentada. José Sotero, Vieira de
Melo-Desembargador, filho de Francisco Vieira de Melo proprietário do Engenho Santa Bárbara e da senhora
Maria de São José de Melo. Nasceu no Engenho Santa Bárbara, município Rosário do Catete, em 13 de maio de
1856. Pertenceu a geração de bacharéis da Faculdade de Direito do Recife e da Faculdade de Medicina da Bahia.
57
Maynard100 , Edelzio Vieira de Melo101 entre outros que Rosário do Catete presenteou Sergipe
com seus ilustres filhos em diversas áreas sociopolíticas e culturais.
Foi nomeado juiz municipal de Rosário do Catete, pelo Dr. Felisbelo Firmo de Oliveira Freire. Mas, foi o
presidente da Província, general José Calazans, que o nomeou em 26 de dezembro de 1892 para o cargo de
desembargador.
98
CUMBUCA, Revista- Ano V. Nº15 setembro de 2017. Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel proprietário do
engenho Serra Negra foi deputado no império e senador na República.
99
CUMBUCA, Revista- Ano V. Nº15 setembro de 2017. Leandro Maynard Maciel foi governador do estado de
Sergipe filho de. Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel proprietário do engenho Serra Negra.
100
BARRETO, Luiz, Antônio, com a colaboração de NASCIMENTO, Jorge Carvalho do – EDELZIO VIEIRA
DE MELO um homem público exemplar. Typografia Editorial – Ensaio Biográfico- A edição deste livro e as
demais atividades celebrativas do Centenário de Nascimento de Edelzio Vieira de Melo. Apoio Cultural Instituto
Banese, Gov. Municipal de Capela, Prefeitura Municipal de Rosário do Catete, 2009. Augusto Maynard foi
considerado um revolucionário em 1924/1926- Augusto Maynard Gomes nascido em Rosário do Catete foi
nomeado interventor no estado de Sergipe até 1935 a 1942 e retornando em 1945 demonstrou força política em
sua cidade natal. Liderou a Revolta dos tenentes os Tenentes de São Paulo e os de Sergipe liderados por Augusto
Maynard Gomes e outros oficiais e por alguns dias eles tomaram o poder em Aracaju mais depois foram
dominados e Maynard foi exilado fora do pais.
101
. Idem. - Edelzio Vieira de Melo nasceu no Engenho Catete Novo, em Rosário do Catete em 8 de setembro de
1909, seu pai o desembargador José Sotero Vieira de Melo e sua mãe Arminda Barreto de Menezes Melo,
Edelzio Vieira de melo foi médico, educador, político, administrador o mesmo teve sua iniciação político através
do já supracitado Augusto Maynard.
102
DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,
(1980, p.131).
58
Na tabela abaixo temos a relação de alguns engenhos:
Tabela 1
NOME PROPRIETÁRIO
Santa Barbara, Pati, Bom Nome, Francisco Vieira de Melo
Várzea Grande.
Oitocentas José Paes de Azevedo Sá
Saco Alfredo Franco
Serra Negra Leandro de Siqueira Maciel
Sítio Novo Gonçalo Teles de Menezes
Catete Gonçalo Vieira de Melo
Jurema Maria da Glória de Faro Jurema
Periperi Manoel d Faro Mota
Várzea Dionizio de Faro Mota
Jordão João Machado de Aguiar Menezes
Jucuruna, Caldas, Salobro Manoel Gomes da Cunha
Cajá Alexandre de Tal
Marrecas Francisco Gomes Dantas
Bom Sucesso Sem indicação de proprietário
Capim Assu e Cume Delfino de Faro Sobral
Jenipapo Manoel Pereira dos Anjos
Ilha Matias Curvelo de Mendonça
Campo Redondo Manoel José Gomes da Costa
Saco: João da Silva Maynard Júnior
Lagoa Grande Gonçalo de Faro Passos
Desta relação, dos nomes que estão em negrito existem remanescentes vivos e que
conservaram o que restou da propriedade de seus ancestrais e outras só restam à chaminé
como o Serra Negra e outras só as recordações das localidades, pois foram destruídas
totalmente, algumas vendidas e tornaram parte da cidade de Rosário como o espaço do
engenho Catete Velho que só restou a capela Nossa Senhora de Nazaré construída em (1709 )
59
e reconstruída em 1864 de acordo com o depoimento do senhor Luiz Ferreira Gomes no
documentário103.
Outro Engenho Jordão105 datado do Início século XIX pertenceu ao Sr. Jorge de
Almeida Campos. Segundo Dantas (1980) estava em funcionamento em Rosário do Catete
atualmente pertence ao herdeiro o Sr. João Machado Aguiar Menezes nos idos de 1860 a
1920. A casa grande em perfeito estado de conservação com um altar dentro da casa o
chamado quarto de santo, tipo uma oratório ou capela interna, onde segundo o proprietário os
ancestrais faziam as petições e rezas, há também fotos e algumas mobílias dos seus
antepassados, no local onde havia o engenho hoje tem um curral.
Engenho Santa Bárbara106 era um dos mais opulentos da região pertenceu ao nos
idos de 1832 ao senhor Teothônio Correia Dantas e a senhora Clara Angélica de Menezes e
posteriormente aos seus descendentes entre eles o João Gomes de Melo 107 nasceu engenho
que por sua vez a geração posterior. Já em DANTAS108 1860 consta como proprietário o
senhor Francisco Vieira de Melo e foi herdeiro por muito tempo depois passando a
propriedade a seus descendentes da mesma família, o senhor Salústio Vieira de Melo a usina
103
Documentário “Massapê Rosário do Catete Memórias e Engenhos” Direção e produção Sergio Borges
Professor Mestre em Geografia. Produtor, Diretor e roteirista e documentarista.
104
, Acervo do IPHAN - Inventário de conhecimento de Patrimônio Cultural da cana de açúcar na região do
Baixo Cotinguiba/ SE Volume VII/junho de 2010.
105
Idem
106
DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,
(1980, p.131).
107
João Gomes de Melo Barão de Maruim nasceu no Engenho Santa Bárbara, então considerado pertencente ao
município de Maruim, como aponta Armindo Guaraná no seu clássico Dicionário Bibliográfico Sergipano. Filho
de Teotônio Correia Dantas e Clara Angélica de Menezes ramo de uma tradicional família de produtores de cana
de açúcar atualmente município de Rosário do Catete. Foi uma liderança política muito importante no processo
de mudança da capital de São Cristovão para Aracaju.
108
DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,
(1980, p.131).
60
recebia cana de outras fazendas e chegava a produzir 15 mil sacas de açúcar cristal seu
funcionamento chegou até o ano de 1961, sob os cuidados do senhor Salústio Vieira de Melo.
A fazenda foi desmembrada Santa Barbara de Cima hoje pertence ao senhor Carlos,
um dos descendentes dos Vieira de Melo sendo que a Santa Barbara de Baixo109 ao senhor
Osmar Teles o que restou da propriedade que se encontra em estado lamentável em que a
erosão o clima e a falta de manutenção por parte de alguns proprietários, fizeram com que
casa grande esteja em completa destruição e apenas em ruinas, um casarão que um dia foi
uma das edificações de notabilidade na região.
109
LOUREIRO, Kátia Afonso Silva. Sergipana do Açúcar. Aracaju/SE, 1999, P.56; 57.
110
DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,
(1980, p.131).
111
DANTAS, Ibarê. Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel (1925-1909). Aracaju: Criação, 2009.
112
DANTAS, Ibarê. Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel (1925-1909). Aracaju: Criação, 2009.
61
notável e próspero para o Patriarca e as lembranças daqueles que vivenciaram experiências no
ambiente nesse contexto.
Pati engenho113 que teve como proprietário o senhor Francisco Vieira de Melo, hoje
pertence à senhora Gilsa Barreto o casarão do Pati foi restaurado pela empresa Vale da Rio
Doce por ter causado danos na casa devido as perfurações realizada nas proximidades de sorte
que é uma das poucas casa grande de engenho que está em bom estado de conservação.
Desse modo, queremos que o leitor esteja ciente que não versaremos sobre as minucias
e detalhes de cada unidade açucareira, pois não é essa nossa finalidade maior, estamos apenas
situando cada um deles e seus respectivos donos e como se encontram hoje por fazerem parte
da história de Rosário do Catete, contudo não nos deteremos neles de forma especifica, pois o
professor Doutor Antônio Lindvaldo Sousa está organizando um livro sobre esses engenhos, a
saber, Paty, Santa Bárbara, Serra Negra, Pedras, Caraíbas, Jordão, Catete onde fará as
ilustrações iconográficas e históricas do que restou de cada unidade produtora de açúcar em
Rosário da que estão inseridas no projeto Massapê, nossa maior função será melhor entender
sobre o engenho oitocentas seus proprietários e como esta última nos interessa.
Queremos também informar que todos os engenhos supracitados por Orlando Dantas
na tabela acima, foram citados também por Kátia Afonso Silva Loureiro, contudo a mesma
não faz uma abordagem de todos os 31 engenhos que catalogou mais um apanhado geral
acerca da parte histórica e arquitetônica das construções das casas grandes e estruturas gerais
dos engenhos nas regiões do Vaza Barris, Bacia do Japaratuba e bacia Cotinguiba, e cita
vários outros engenhos de várias regiões de Sergipe é importante versar que nossa intenção
não é de fazer um apanhado de todos os engenhos da Cotinguiba mais do engenho
“Oitocentas” e com os que já mencionamos como Santa Bárbara, Sítios Novos, Catete Velho
porque tinham laços parentais.
113
Idem. p.131.
62
Novos e o Engenho Paty, o engenho está na família vieira de Azevedo a mais de duzentos
anos e em bom estado de conservação.
De acordo Gulnar Vieira de Azevedo, em depoimento, a herdeira Graziela Vieira de
Azevedo, após a morte de seus genitores, com anuência dos seus irmãos tornou-se proprietária
recebendo por herança o Engenho oitocentas, com todos os bens móveis e objetos que havia
na casa grande tendo ficado na partilha para as três irmãs Lígia, Ibelza e Graziela com o
falecimento de uma a outra tornaria proprietária das partes sendo que as irmãs faleceram
ficando assim, as Oitocentas para senhora Graziela.
114
Engenho oitocentas pertenceu ao senhor Manoel Paes de Azevedo Sá após falecimento deste ao filho José
Paes de Azevedo Sá e atualmente pertence à Senhora Graziella Vieira de Azevedo, o mesmo está localizando as
margens da BR 101 no município de Rosário do Catete- SE. Limita-se com a Fazenda Sítio Novos e o Engenho
Paty.
63
No Baú encontramos um acervo iconográfico variado e em bom estado de
conservação com fotos das Oitocentas como veremos mais adiante algumas fotos do passado,
em que o engenho produzia o açúcar, fotos da casa grande, da família do senhor de engenho e
toda a sua prole onde podemos perceber que a família era numerosa, quadros nas paredes com
fotografias do seu Juca e esposa e retratos dos filhos por cima das mobílias.
Todo esse acervo da família vem como grande arquivo e fontes com seus segredos,
vestígios, rastros, pistas que utilizaremos como instrumentos para interpretar a história desse
lugar de memória, por meio de depoimentos das filhas e de conterrâneos do JUCA das
oitocentas e assim legitimar e fundamentar a história e as memórias da família vieira de
Azevedo.
Entramos em contato com alguns descendentes dessa unidade produtora, com pessoas
que trabalharam ligadas a esse passado memorável, tivemos oportunidade de colher
depoimentos de testemunhas vivas, guardiões das memórias são até hoje testemunhas de um
passado que ficou apenas nas recordações e nos remanescentes e ruinas dos espaços de
recordação desse lugar de memória que denominado oitocentas como consta na tabela da
página 131 do livro Vida Patriarcal que consta ser o proprietário o senhor José Paes de
Azevedo Sá isso segundo Orlando Dantas.
Contudo segundo depoimento de sua filha Gulnar Vieira de Azevedo seu pai nasceu
no dia 7 de maio de 1875 logo não seria possível ser o dono dessa propriedade nessa época
acredito que tem sido erro de digitação uma vez que também perguntamos se havia outra
pessoa com o mesmo nome na cidade e para fazer a diferenciação foi posto o sobrenome Sá
para diferenciar o nome do mesmo do outro senhor não o nome de seu pai mais do avô
Manoel Paes de Azevedo Sá. Apesar de as oitocentas ser uma usina de pequeno porte e fazia
64
parte de uma cooperativa. Outra observação é que todos os proprietários das Oitocentas
foram da própria família, mas de todos os indivíduos dessa geração destacamos o senhor José
Paes de Azevedo Sá.
Outros autores cometem o mesmo erro e copiam os dados de Orlando Dantas e que o
senhor José Paes de Azevedo Sá foi o proprietário das Oitocentas, contudo o como já
mencionando o mesmo nasceu em 1875 e não teria como sair nos livros que ele era o dono
das terras das Oitocentas mais sim o seu genitor o Manoel Paes de Azevedo Sá.
Aspecto interessante é que o mesmo era conhecido na região por Juca das Oitocentas
não apenas ele mais os senhores de Engenhos era conhecidos pelo nome de sua
propriedade115; façamos um passeio pelas raízes: “João Machado do Jordão; Seu Juca das
Oitocentas; Salústio da Santa Barbara; Joel Faro da Jurema” e assim sucessivamente.
Na obra de Orlando Dantas (1980) foi possível perceber que o Oitocentas estava em
funcionamento no ano de 1860, e pertenceu ao senhor José Paes de Azevedo Sá, contudo só
constatamos referencias quanto ao funcionamento e produção a partir do século XIX e o
mesmo não se encontra nos registros de mapeamento de Gannet de 1815.
115
SILVA, Maria Lucia Marques Cruz e. Rosário do Catete / Maria Lucia Marques Cruz e Silva – Aracaju:
Prefeitura Municipal de Rosário do Catete, 2000, p.73.
116
DANTAS, Orlando Vieira. O Problema Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944, p.72.
117
Acervo do IPHAN / O inventário de conhecimento de Patrimônio Cultural da Cana de açúcar na Região do
Baixo Cotinguiba/ SE. Volume VII/ junho 2010.
65
Diante dessa realidade para confirmar seu funcionamento temos a revista Brasil
Açucareiro que além de apontar o seu proprietário traz também dados relacionado com a
cotação e produção do açúcar, temos o livro o problema do açúcar de Sergipe de Orlando
Dantas que afirmam ser o oitocentas uma meia usina ligada a uma cooperativa.
118
DANTAS, Orlando Vieira. O Problema Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944. p.72.
119
Idem.
120
DANTAS, Orlando Vieira. O Problema Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944.p.72.
66
Além dessas acima citadas temos outras da região do Vaza Barris em São Cristovão e
Irapiraga atual cidade de Itaporanga D’ Ajuda e outras em Indiaroba que faziam parte da
cooperativa e estava ligada a um engenho maior na região a qual estavam localizadas.
Interessa-nos, de perto, o Engenho Oitocentas que mesmo sendo uma meia usina a
vapor pequena o engenho Oitocentas estava inscrito pelo Instituto do Açúcar e do álcool
(IAA) e estava na relação das usinas de Sergipe e consta na revista Brasil Açucareiro bem
como no anuário do (IAA) o contexto político administrativo e econômico do Sergipe,
nordeste e Brasil e alguns países do exterior por a revista era também de circulação
internacional dada a importância da produção açucareira e exportação para o exterior121.
121
Revista Brasil Açucareiro - Ano XVII – Volume XXXVII – nº1 de julho, de 1949, p. 125.
67
Vale lembrar que há relações de todos os engenhos e regiões produtoras no Brasil
aparece engenhos da região da Sergipe da microrregião da Cotinguiba e sua capacidade de
produção entre eles está o Engenho Oitocentas cujo proprietário José Paes de Azevedo Sá de
acordo com a revista Brasil açucareiro.
A Revista Brasil açucareiro trás em suas páginas uma serie de matérias acerca da vida
comercial e situações diversas sobre a história do açúcar no Brasil, bem como em outros
países que tem a produção de açúcar na economia, descreve os estatutos e legislações da
época, e faz um levantamento de seus respectivos proprietários como na tabela acima que
registra o funcionamento da Usina Oitocentas no ano de 1949.
Iniciamos a análise das fotografias que expõem a Usina Oitocentas no seu pleno
funcionamento, e deparamos com algumas características singulares dessa unidade açucareira
é de pequeno porte, e fabricava açúcar cristal.
122
Revista de Aracaju – Prefeitura Municipal de Aracaju – Ano XIX, p. 31-12-1962, nº7 -1962.
68
Aleida Assmann123 (2011) propõe quatro estágios simultâneos da escrita; a analogia
dos vestígios, a escrita iconográfica e a digital, contudo tomaremos por base a analogia e a
escrita iconográfica e assim podemos propor que o engenho Oitocentas seja um lugar do
lugar, um lugar de memória, um espaço de recordação.
Bem assim, devemos selecionar o que será armazenado e o que será descartado,
silenciado deixado para trás. Para Assmann, e relação à imagem e a escrita, sendo que as
obras iconográficas eram consideradas de natureza concreta material, já a escrita é
considerada imaterial e se situa em um tempo generativa, ou seja, fora do tempo (p.235).
123
ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: formas e transformações da memória cultural. Campinas:
Unicamp, 2011.
124
NORA, Pierre. Entre Memória e História: A problemática dos Lugares. Projeto História. São Paulo, 1993.
p.9.
69
As histórias das famílias importantes são representadas também através dos objetos de
valor cultural, afetivo, econômico, sentimental; a história de indivíduos se repetem por seus
saberes, fazeres e representações, nesses fazeres podemos abordar o guardar, preservar sua
cultura através dos objetos com valor simbólico, memorável que fazem elo entre passado e o
tempo presente, dessa forma podemos perceber que dona Graziela a atual proprietária tem
posse das memórias familiares quando adentramos o Oitocentas não tínhamos noção de quão
belíssimo em sua estrutura e em suas ricas fontes de lembranças, e recordações dissertar sua
história e as memórias que ali estão de forma visível, concreta e de maneira sinestésica, nos
faz pensar que quanto tempo esteve silenciado e poderia se perder com o passar do tempo sem
ter sido feito o registro para contribuição da historiografia assim como pra contar um pouco
mais da nossa história nos tempos do açúcar, buscando o espaço de recordações colhemos os
depoimentos das guardiães das memórias das Oitocentas.
Em fachada leste existe uma ampliação em parte posterior onde há um depósito e uma
garagem para veículos. O alpendre possui pilares de madeira entalhados que sustentam os
prolongamentos do telhado. Os guardas corpus de madeira também são belamente
trabalhados. As esquadrias de madeira dão destaque na edificação. São do tipo veneziano,
com duas folhas e bandeira fixa trabalhadas em madeira e vidro. Toda a edificação é
construída em taipa de sopapo técnica construtiva que foi preservada e mantida pela
proprietária.
71
Em cada cômodo as antigas mobílias no quarto do casal móveis detalhados, cama com
duas cabeceiras em madeira e escura, da mesma forma a mobília da sala a mesa cristaleiras e
fazendo parte das recordações e memórias um pilão. A Casa grande das Oitocentas como
pode perceber na planta baixa e nas fotografias é uma casa simples sem opulência como
gostavam de ostentar alguns senhores de Engenho da região do Cotinguiba.
125
Planta pertence ao banco de dados do projeto Massapê: Memórias, engenhos e comunidades da microrregião
da Cotinguiba. E sairá no livro que o coordenador do projeto prof. Antônio Lindvaldo Sousa está organizando.
Foi elaborada pelos arquitetos: José Glackson Santos Júnior e Ana Lúcia Pinto do Nascimento Álvaro.
72
Panorâmica: Foto Aérea do Conjunto das Edificações do Engenho Oitocentas
Imagem 6 - Casa grande; casa dos trabalhadores; Antiga Usina Oitocentas ao fundo um riacho.
Fotografia: Augusto Gentil – Data 20/04/2018
Acervo: Josineide Luciano Almeida Santos
Da antiga fábrica do engenho, hoje no lugar um curral, que se encontra na porção mais
baixa do terreno, quase em frente à casa de vivenda, que fica em uma elevação como na
maioria dos engenhos sempre estava edificado em um lugar mais alto. Ao lado da edificação,
em parte oeste, há um jardim cercado por muro em tijolo maciço que separa a casa grande das
casas dos trabalhadores.
Foi possível visualizar dois tanques que podem ser vistos na fotografia 7 em relação a
técnica construtiva foi construída em taipa de sopapo e alvenaria maciça, seu telhado em
cerâmica e duas águas.
73
De acordo com o cadastro Industrial Agrícola126, existiam em 1930 sete usinas que
fabricavam o Açúcar cristal entre elas as Oitocentas com capital social de 100.000$0000 e
com uma produção pequena de 2.177 sacos de 60 quilos cada média aproximada como já
mencionamos anteriormente de 3000 mil sacos de Açúcar. Segundo dona Gulgar Vieira de
Azevedo uma das filhas de seu Juca, em depoimento para o documentário do Massapê afirma:
‘Lá em casa apesar de ser pequeninho ele produzia açúcar cristal, tinha turbina, tinha
vácuo...“uma quantia irrisória mais ele fazia questão de fazer , de ter a produçãozinha
dele”127.
A chamada virada cultural, com suas representações é bem válida para esta pesquisa,
sobretudo a partir da forma como observamos nosso objeto, dentro da necessidade de
identificar inserido em seu contexto social cultural e de poder político sendo assim fazemos
dos conceitos de Roger Chartier para identificar esse contexto e o modo como, em diferentes
lugares e momentos, uma realidade social é construída, pensada, dada a ler (CHARTIER,
1990, p.19).
Esse espaço de recordação continuará sendo trabalhado no terceiro capitulo cujo título
O ocaso da memória; sendo que buscaremos nas entrevistas de história oral, nos livros,
documentos do acervo pessoal da família: as fotos, cartas dos filhos aos antigos proprietários
da usina Oitocentas para tratar das memórias e das recordações, discutir a relevância desse
engenho na criação dos filhos e ao mesmo tempo deixar um registro de um personagem que
estava à frente de seu tempo, por ter feito a diferença dos demais senhores de Engenho que
126
Cadastro Industrial Agrícola e informativo do Estado de Sergipe 1933, organizador; Armando Barreto.
127
Documentário “Massapê Rosário do Catete Memórias e Engenhos” Direção e produção Sergio Borges
Professor Mestre em Geografia. Produtor, Diretor e roteirista e documentarista.
74
ostentavam seus bens e riquezas moveis ele preferiu educar e formar seus filhos formando
uma família estruturada com legado para história até hoje.
75
CAPÍTULO III
O LUGAR, AS COISAS E AS PESSOAS - O OCASO DA MEMÓRIA
Neste capítulo, nossa atenção está voltada para as pessoas do Engenho Oitocentas e, a
partir da narrativa e descrição das memórias familiares quer lançar novas luzes sobre a
história do lugar, perscrutando os caminhos trilhados, no que a vida tem de mais notável: as
suscetibilidades.
128
DANTAS, Ibarê. Memórias de família: o percurso de quatro fazendeiros. Aracaju: Criação, 2013.
76
mobílias, nos quadros com foto do patriarca da família o senhor José Paes de Azevedo Sá,
conhecido como Juca das Oitocentas; dentro do baú, nos quadros das paredes da casa grande.
77
Depois que Seu Juca das Oitocentas faleceu a disposição dos móveis permaneceu do
mesmo jeito até os dias atuais, como uma forma muito comum nos interiores do Brasil de
preservar a memória de dias cheios de lembranças.
Na sala de visita um lindo conjunto de cadeiras. Essa mobília veio da Itália para o
Palácio do governo, foi feito um leilão e seu Juca arrematou o móvel que veio para as
oitocentas.
78
O engenho é desconhecido por muitos, mas consideramos um marco da história da
economia sergipana de singular importância. Em relação ao baú de memórias há muito ainda
a ser tirado, ele é como uma caixa de pandora, cheio de supressas e subjetividades, é vasto em
fotografia e imagens iconográficas, e contribuiu para compreensão de cada etapa e trajetória
dos que fizeram parte das memórias das Oitocentas.
E por fim, no terceiro quarto, nosso último objeto era um baú envernizado, que nele
estavam às cartas manuscritas, bem como as fotos que nos forneceu detalhes e subjetividades.
Ali mesmo nos debruçamos no acervo iconográfico que contou vida das famílias dos senhores
de engenhos: Caraíbas, Catete, Santa Bárbara, foto do Barão de Maruim 129; podemos registrar
fotos da família dos treze irmãos, tios, avó, primos, Sobrinhos e do próprio engenho
oitocentas, das casas dos moradores, do antigo engenho e usina oitocentas entre outros objetos
de cunho pessoal.
Daquele objeto o baú de Graziela, aparentemente sem valor algum, está à vida, as
recordações, memórias, as cartas com informações das chegadas e saídas dos irmãos, cartas
com perguntar e respostas acerca da vida da família Vieira de Azevedo, riqueza incalculável e
de grande importância do ponto de vista afetivo e histórico, pois revelam datas relevantes para
o conhecimento histórico e memorável.
Vale salientar que estes objetos, cada um individualmente, tem história na passagem
de cada filho, principalmente na vida da atual proprietária, Dona Graziela Vieira de Azevedo;
todos estes objetos fazem parte da sua vida, história e memórias.
129
João Gomes de Melo conhecido como Barão de Maruim herdeiro do engenho Santa Barbara parente da
família das oitocentas.
79
“Nas oitocentas apesar de pequenininho ele produzia açúcar Cristal, no
engenho tinha turbina e vácuo e produzia três mil sacos de açúcar. Apesar
de pequeno produzia, fazia questão de fazer à produçãozinha dele”130
Seu José Paes de Azevedo Sá conhecido em Rosário do Catete como Juca das
Oitocentas, como já salientamos, distinguiu-se pela bondade e pela firmeza de caráter,
sobretudo se levarmos em conta os depoimentos que pudemos coletar e registro impressos.
O nome desse rosarense foi motivo de orgulho para seus conterrâneos. Vejamos o que
afirma o Senhor Luiz Ferreira Gomes131, antigo morador de Rosário do Catete e
contemporâneo de Juca das Oitocentas:
130
Trecho do depoimento da Senhora Gulnar Vieira de Azevedo cedido ao Documentário do Projeto Massapê.
Massapê Rosário do Catete Memórias e Engenhos.
131
Idem, p.13
132
Documentário do Projeto Massapê. Massapê Rosário do Catete Memórias e Engenhos.
80
Com as dificuldades que enfrentavam seus pais para educar os quatro filhos nos cursos
primário e ginasial (hoje 1º grau), procurou seguir a carreira de telegrafista, fazendo curso em
Campinas, contudo exerceu a profissão por pouco tempo, pois teve que retornar a sua terra
natal devido ao falecimento do seu genitor.
É verdade que apesar de não ter formação superior, era um entusiasta de Balzac, Zola,
Victor Hugo, Shakespeare, Tolstoi, Dostoievske e inúmeros outros representantes da cultura
estrangeira.
Em relação ao Engenho Oitocentas, vale salientar que seus proprietários foram todos
da mesma família, tendo pertencido ao Senhor Manoel Paes de Azevedo e antes deste, aos
seus genitores; contudo, entre todas as gerações é relevante destacar o senhor José Paes de
Azevedo Sá.
José Paes de Azevedo Sá (Juca das Oitocentas) nasceu em Riachuelo no dia 7 de maio
de 1875, registrado como rosarense filho de Manoel Paes de Azevedo, mencionado acima e
da senhora Ernestina Teles de Menezes com quem teve quatro filhos entre eles o Juca das
Oitocentas.
81
Ele fez o curso ginasial e depois seguiu para o Estado de São Paulo, na cidade de
Campinas, iniciando o curso de telegrafista. Mais certo, dia sua mãe o chamou para retornar a
sua terra natal, pois o pai dele havia falecido.
Conforme solicitação de sua mãe Ernestina Teles de Menezes o filho José Paes de
Azevedo Sá regressou para cuidar da propriedade com afinco e dedicação, tornando-se anos
depois senhor das Oitocentas.
Imagem 12
José Paes de Azevedo Sá
(Juca das Oitocentas)
Acervo: Banco de Dados Projeto Massapê
Para Nilza Vieira de Brito, a filha caçula: “Ele procurava ser grato a todos da família,
amigos, trabalhadores. Procurava construir elos de amizades e por isso não o tinham
somente como chefe de família, senhor de engenho, mas como amigo, um homem à frente do
seu tempo bem liberal”133.
Com relação às características físicas, o Senhor José Paes de Azevedo Sá era vistoso
no aspecto físico, forte, bonito e falava muito alto. Ele deixava por onde passava uma boa
impressão entre os que o cercavam.
133
Depoimento em janeiro de 2017.
82
Ele enamorou-se de Cecília, filha do Senhor e da Senhora de engenho Sitio Novo e do
engenho Catete Velho, José Sotero Vieira de Melo e dona Maria Barreto de Menezes. Eram
seus vizinhos e primos, e casou-se com ela em 30 de junho de 1900, passando a chamar-se
Cecília Vieira de Sá, filha do senhor. O enlace matrimonial se deu numa manhã de inverno, na
cidade de Rosário do Catete, na igreja Nossa Senhora de Nazaré, propriedade dos pais de
Cecília. Foi celebrado como um grande acontecimento social, pois selava a união de duas
famílias importantes da sociedade rosarense: a junção de muitas famílias entre eles dos Vieira
de Melo com os Azevedo.
Em tudo Seu Juca pensava e via beleza, procurava dá sentido à vida. Certamente não
se descuidou da educação de seus herdeiros, os mais velhos estudaram as séries iniciais em
Maruim, depois seguiram para o Rio de Janeiro para o colégio militar em Minas Gerais na
cidade de Ouro Preto.
Seu Juca morava no Engenho Oitocentas, e viveu do cultivo da cana de açúcar, dos
produtos industrializados pelo engenho, bem como da criação de gado e dos produtos da terra.
Decorrente do seu esforço e trabalho nas Oitocentas pôde educar e criar todos os seus filhos,
uma empreitada que certamente não deve ter sido fácil, pois teve uma numerosa prole e seu
principal objetivo formar os filhos.
Segundo depoimento da filha Dona Nilza, para formar o caráter ela se espelhou em
seu pai que era uma figura trabalhadora séria que antes de assumir a fazenda da família
trabalhou como telegrafo em São Paulo.
83
Os filhos de sua mocidade receberam uma herança inapagável de seus pais: caráter
combativo, sentimentos de justiça, ética que foram transmitidos aos seus descendentes nas
várias gerações.
São os herdeiros não de bens materiais e patrimoniais, propriedades que valem pouco
e se dissipam, mas o caráter de um homem que faz parte da história com uma trajetória de
determinação e com a missão única de criar e educar seus doze filhos.
Péricles Vieira de Azevedo nasceu no dia 10 de abril do ano de 1903 e veio a falecer
prematuramente com cinquenta e sete anos em fevereiro de 1961. Primeiro dos doze filhos de
José Paes de Azevedo Sá e Cecília Vieira de Melo. Cursou as séries inicias na cidade de
Maruim e depois foi enviado por seus pais sob o cuidado de seu tio Heitor Paes de Azevedo,
irmão de seu pai, para a cidade do Rio de Janeiro, onde cursou o Colégio Militar. Após a
conclusão do ensino secundário, ingressou na Escola Militar e assim seguiu a carreira das
armas. Chegou ao posto de Tenente Coronel da Infantaria no Rio de Janeiro.
84
Imagem 14 - Tenente Coronel Péricles Vieira de Azevedo
Do Exército e Advogado
Acervo: Banco de Dados do Projeto Massapê
Foto: Data de 28/03/1942
Péricles, além da carreira militar, dedicou-se ao estudo do direito. Segundo seu primo,
Silvio de Melo Dantas136, filho de Dovalina Vieira de Melo, sua tia, irmã de dona Cecília.
134
Carta manuscrita e assinada a punho por Péricles. Teresina, 10 de novembro de 1959.
135
Trechos da carta de Péricles Vieira de Azevedo - Sua Memorias acerca do Engenho Oitocentas. Carta
manuscrita e assinada a punho por Péricles. Teresina, 10 de novembro de 1959.
136
DANTAS, Melo de Sylvio. Minha família – Árvore Genealógica Comentada. - Salvador dezembro de 2013.
85
Ele relata sobre seu primo Péricles e sobre os demais filhos de Juca de maneira breve e
em alguns trechos alguns equívocos que foram tratados, confrontados e na medida do
possível, colocados de forma clara no depoimento das próprias filhas e neta de seu Juca.
Ainda sobre Péricles, Melo de Sylvio Dantas afirma: quando o mesmo era aluno da
Escola Militar, aderiu à Revolução de 1922, e por essa razão foi expulso da escola. Foi
quando iniciou seus estudos na área do direito e segundo sua irmã Gulnar, ele exerceu a
profissão de advogado, mas que não teve muito êxito, pois naquela época, recém-formado
sendo que para viver da advocacia era difícil então advogou por pouco tempo.
Sua irmã Gulgar ratifica em seu depoimento, que era um jovem muito inteligente, de
conversa fácil e agradável, um orador primoroso. Na ocasião do falecimento do seu avô José
Sotero Vieira de Melo, ele representou a família.
Como dizia os antigos, ele não tinha papas na língua. Como se costuma dizer por não
temer as consequências. Pagou o seu preço quando em temporada aqui em Sergipe veio a ser
preso pelo presidente de Sergipe, Manoel Correia Dantas. Péricles fez uma denúncia acerca
do êxodo rural que estava acontecendo no país, particularmente em Sergipe.
Péricles casou com Zilda Bastos Azevedo, desse enlace, nasceram: Solange, Sônia e
Sérgio Bastos de Azevedo.
Solange Bastos de Azevedo é uma das netas de seu Juca, ela deu oportunidade de
conhecer mais um pouco das memórias das Oitocentas e dos seus avós em depoimento que
nos concedeu em 7 de setembro de 2018, quando em visita à suas tias, em comemoração do
aniversário de 103 anos da atual proprietária Graziela Vieira de Azevedo. Nasceu em 17 de
fevereiro de 1935 e casou-se em 17 de fevereiro de 1955, é filha de Péricles Vieira de
Azevedo e Zilda Bastos de Azevedo. Casou em primeiras núpcias com Ronaldo Bueno
Caixeta com quem teve três filhos: Roseane, Ronaldo e Alexandre de Azevedo Caixeta, cada
um deles também já constituíram suas famílias. Com o falecimento do seu esposo, Solange
contraiu novas núpcias, com Elesbão Bastos de Andrade e desta união teve mais uma filha
Denise Azevedo Bastos de Andrade. Elesbão também já faleceu e Solange, mais uma vez está
viúva, e fixou residência em Belo Horizonte.
86
Em relação aos netos137 de Juca, tivemos oportunidade de conhecer alguns deles. Os
mesmos têm por ele admirável gratidão, ao seu lado viveram temporadas de férias
inesquecíveis, dias de intensas felicidades e anos de ótimo aprendizado através de cordatos
conselhos e da história de vida de seu avô.
137
Solange, Sérgio Bastos de Azevedo, Cecília, Nelson Tavares de Brito, entre outros desta numerosa
descendência de Juca das Oitocentas. Bisneto Ronaldo Bueno Caixeta que tivemos oportunidade de conhecer
juntamente com sua mãe em 2018.
138
CERTEAU, Michel de, 1925-1986. A invenção do Cotidiano:2 Morar, cozinhar/Michel de Certeau, Luce
Giard, Pierre Mayol; Tradução de Ephraim F. Alves e Lúcia Matilde Endich Ort.12. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
2013.
139
Entrevista de Solange Bastos de Azevedo em janeiro de 2018.
87
Momentos difíceis de Sérgio140 ao perder a figura paterna, e resolve escrever para suas
tias para assim abri seu coração suas tristezas e expectativas. Registramos abaixo a carta data
de 25 de março de 1961 (Ouro Preto):
Assim foi a trajetória de Temístocles, a exemplo de seu irmão Péricles, cedo ingressou
na carreira militar e sentou praça no exército em abril de 1924, ingressou na Escola da
Infantaria, chegando a ser promovida a aspirante em janeiro de 1927, a segundo tenente em
julho do mesmo ano e a primeiro- tenente em julho de 1929. Nesse período, de julho a
outubro do ano de 1932, participou do combate à Revolução Constitucionalista141, em São
140
Carta de Sérgio Bastos de Azevedo filho de Péricles Vieira de Azevedo para as suas tias Gulnar, Gilca,
Graziela Vieira de Azevedo.
141
Revolução Constitucionalista – 1932 em São Paulo.
88
Paulo; em novembro desse mesmo ano, foi promovido a Capitão e exerceu a função de
Comandante da Força Policial de Alagoas.
142
Fontes: Jornal do Brasil de 27 de março de 1999; Mini. Guerra Almanaque de 1948 e 1958; Arquivo público
de Alagoas.
89
Heloísa nasceu em 18 de novembro do ano de 1930, casou-se com Armando Firmo de
Moura. Eles tiveram cinco filhos: Mauricio, Ricardo, Maria Cecília e Murilo Azevedo Firmo
de Moura. O esposo de Heloísa veio a óbito prematuramente e mesma herdou a difícil tarefa
de cuidar e educar dos filhos. Ela também dedicou muita atenção a seu pai, em seus últimos
dias de vida, fazendo rodizio com os irmãos. Preferia ficar uma semana completa no Rio de
Janeiro para assim cuidar da saúde do seu progenitor, que faleceu no Rio de Janeiro em 20 de
março de 1999 aos 94 anos de idade.
Enaura Vieira de Azevedo, casada com João Luiz Ziller Merege, dessa união
nasceram: Celso, César, Renato e Rogerio de Azevedo Merege.
Celso de Azevedo Merege, formado em Engenharia elétrica pela UERJ, casado com
Anna Chistina Garambone da Cruz desse enlace nasceram Juliana Garambone Merenge
formada em Engenharia Química UFRJ.
90
Alberto Vieira de Azevedo, formado arquitetura casado com Maria Selma Honório
Lisboa. Faleceu prematuramente mais dessa união nasceram Ana Clara (In Memoriam),
Alberto Luiz Lisboa de Azevedo Engenheiro de Segurança e arquiteto. Casado com Cristine e
dessa união nasceram Ygor Vidal de Azevedo, estudante Yasmin Vidal de Azevedo estudante
nascida em 2004.
Temos ainda, Newton Vieira de Azevedo, casado com Miriam Rodrigues Viana de
Azevedo. Desse enlace nasceram Christian Viana de Azevedo, formada em Direito e
professor de Inglês, agente da polícia Federal. Eduardo Viana de Azevedo, professor
universitário formado pelo UFMG. Thiago Viana de Azevedo solteiro formado pela UFMG
em geografia. Hoje reside em Belo Horizonte viúvo e reside com o filho Tiago.
143
Neta de Juca das Oitocentas - Enaura Vieira de Azevedo filha de Temístocles Vieira de Azevedo.
91
Imagem 16 - Ibelza Vieira de Azevedo
Acerco: Banco de Dados Projeto Massapê
Ibelza nasceu em 31 de julho de 1905, e veio a óbito em 25 de abril de 2004, com seus
noventa e nove anos de idade. Apesar de não ter continuado seus estudos, junto com sua irmã,
Graziela tocaram a pequena Usina Oitocentas mesmo contando com muitas dificuldades e
grande concorrência.
Agliberto sentou praça em abril de 1927, ao entrar na Escola Militar do Rio de Janeiro,
no bairro do Realengo. Nessa ocasião havia se envolvido com as ideais socialistas.
Como os seus irmãos optaram pela carreira militar, Agliberto se encaminhou para a
Aviação do Exército. Com a criação da Aviação, pelo presidente Getúlio Dorneles Vargas, no
ano de 1929, optou pela arma de aviação, sendo transferido para o Campo dos Afonsos, no
Rio de Janeiro. Ele passou a colaborar financeiramente com o jornal comunista: A Classe
Operária.
92
A linha ideológica abraçada por Agliberto, fez dele um idealista e revolucionário,
filiou-se ao Partido Comunista (PCB), que tinha por objetivo auxiliar militantes e família que
necessitassem. Em janeiro de 1930 foi declarado aspirante- a –oficial da arma da aviação.
144
Era Vargas é o período da história do Brasil entre 1930 e 1945, quando Getúlio Vargas governou o Brasil por
15 anos e de forma continua é compreendida como a Segunda República e a Terceira República.
93
O Capitão Agliberto foi preso e perdeu a patente e o posto de Capitão,145 só deixou a
prisão em 1945, pois foi beneficiado pela anistia concedida pelo presidente Getúlio Vargas
aos presos políticos.
Registramos que neste período após a soltura, passou a integrar a Comissão Nacional
de Organização, ou seja, passou a trabalhar ativamente na organização do Partido Comunista
Brasileiro, desta vez dentro da legalidade, defendendo Luís Carlos Prestes no partido e na
política nacional dessa forma Prestes o nomeou juntamente como o Agildo Barata para o
Comitê central.
No ano de 1947, o Partido Comunista entra na ilegalidade após decretação mais uma
vez na Clandestinidade. Do Rio de Janeiro o Agliberto foi transferido para Recife onde
trabalhou na organização do Comitê Regional. Mais uma vez foi preso em 1950 suspeitos de
exercer atividades partidárias nas forças armadas.
Perdeu seu posto, sua patente, mas seguia em frente com a “mesma convicção
revolucionária, mais preparado, sempre o mesmo valente e combativo”146 com sua absoluta
certeza de que seriamos um pais melhor.
De volta à liberdade, o partido Comunista o envia para o Paraná, onde passa a ser
colaborador do jornal Tribuna do Povo e mais dois outros periódicos: Novos Rumos e Terra
Livre. Saiu candidato a deputado estadual pelo Paraná no ano de 1962, mas não foi eleito.
145
Preso perdeu o posto e a patente de Capitão pelo Decreto-Lei nº558 que foi homologado em 31 de dezembro
de 1935, foi julgado pelo Tribunal de Segurança Nacional (TSN), recebendo a maior pena entre os réus
envolvidos. 27 anos e seis meses de prisão.
146
Jornal Imprensa Popular 19 de julho de 1952 p. 2.
94
Seguia os movimentos político militar pelo Brasil. No entanto, foi em março de 1964
que os direitos políticos foram casados mediante o Ato Institucional número 1 foi decretado
em 9 de abril isso depois do Presidente João Goulart se deposto. Agliberto foi detido para
interrogatório e permaneceu mais uma vez preso até 1966. Após liberto, entrou
cladestinamente na Argentina, onde em contato com o Partido Comunista da Argentina,
passou a morar com militantes ligados ao Sindicato de construção civil, onde passou a
trabalhar como operário nas construções em Buenos Aires.
Esse revolucionário viajou em 1969 para vários países após estabelecer contato com o
partido Comunista da França, e do PCB, em nome do comitê central trabalhou na organização
dos exilados políticos e em jornais comunistas. Agliberto participou de diversas reuniões de
partidos comunista da Europa. Foi enviado para no ano de 1973 para Praga onde trabalhou em
uma Revista Internacional. E nesse mesmo ano participou em Moscou das reuniões do Comitê
central do PCB, com objetivo de reorganizar e confirmar sua posição Partidária.
Enquanto isso, aqui no Brasil, em agosto de 1979 foi decretada a anistia aos presos
políticos, contudo, Agliberto só regressou ao Brasil em 1980, e em 1989 foi definitivamente
anistiado, promovido ao posto de Coronel-aviador da reserva. Com o falecimento de Luís
Carlos Prestes em março de 1990, ele afastou-se das atividades políticos partidárias.
147
O jornal correio da noite de 27 de novembro de 1935. Jornal a voz operária Rio de Janeiro, 21 de dezembro
de 1951, p.4. A voz operária Rio de Janeiro 31 de março de 1935.
95
Após anistiado, pôde viver uma vida em paz, seus últimos anos com anistia foi
devolvida não somente sua vida, sua liberdade de ir e vir mais também foram promovidos, na
inatividade, ao posto de Brigadeiro, o que resultou na melhoria de sua situação econômica.
Agliberto era casado com Maria da Glória Oliveira de Moura Castro e da união
nasceu seu único filho, a quem deu o nome de Gennysson Castro Azevedo, em homenagem
ao seu irmão que faleceu ainda muito jovem.
Seu filho Gennysson, casou com Vilma Travassos Azevedo e desse enlace, nasceu
Luiz Travassos Azevedo. Seu neto Luiz, também se casou com Vera Lucia M. Rocha Filha e
da união nasceu o Antônio Rocha Azevedo. Agliberto viveu seus últimos anos com sua
família, particularmente das suas irmãs, que nunca lhe negaram apoio em seus momentos
difíceis.
Por isso, ao receber o montepio148, considerou suas irmãs suas dependentes e assim,
as mesmas passaram a fazer jus, após o falecimento dele aos 90 anos de idade, no Rio de
Janeiro, em 14 de dezembro de 1995, a pensão por ele deixada uma vez que seu único filho já
era homem.
148
É uma espécie de pensão destinada a prover o sustento de um beneficiário.
96
A Senhora Gulnar confirmou em depoimento que seu irmão realmente era um
revolucionário e não passava de um idealista. Também declarou essas informações no o
depoimento cedido ao Documentário Massapê. “Meu pai apoiava, era muito liberal ele
apoiava as ideias do filho”.
Ele morava no Sul, teve uma vida muito atropelada, foi preso várias vezes e tudo por
causa de suas ideais em relação ao comunismo, pois foi filiado ao Partido Comunista
Brasileiro e por isso passou por todas essas situações que foram descritas.
Ela foi casada com Moacyr Mota Pereira, dessa união não teve filho, durante as
comemorações de seu aniversário, participou de todo o ritual da Santa Missa em ações de
graças seguida dos cumprimentos e almoço. Ela conversava com todos apesar de sua idade
avançada estava lucida. Segundo depoimento de sua irmã Gulnar, ela veio a óbito aos 103
anos de idade. Ainda hoje as filhas de Juca as remanescentes têm essa tradição de realizar
almoço mediante data natalícia uma das outras e reunir a família os Sobrinhos e primos e
amigos.
Dessa forma teve que retorna para cidade natal para cuidar-se, contudo a enfermidade
agravou-se de tal maneira mais não houve jeito ele veio óbito ainda prematuramente como já
mencionamos jovem de modo que não teve oportunidade de ajudar os pais na administração
da empresa.
149
Não encontramos nos registros e acervo da família nenhuma foto que o representasse.
98
Imagem 19 - Ibelza Vieira de Azevedo – Auxiliou na administração do Engenho
Lygia Vieira de Azevedo- Foi Professora
Acervo: Banco de Dados do Projeto Massapê
Essa escola recebeu o nome em homenagem ao filho Agliberto Azevedo, por ele ter
sido um sonhador, idealizador e por estar distante. Devido às lutas e ideias esteve sempre
presente nas memórias e lembranças de cada membro dessa família que o apoiou em seus
ideais. Lygia era solteira e por ter falecido prematuramente, não pode levar até o fim seus
objetivos.
Nesse caso Graziela foi a comtemplada e tornou-se proprietária, mas sendo de idade
avançada e sem poder se locomover, os cuidados, manutenção e administração encontra com
um Subrinho Nelson Tavares Azevedo de Brito filho da sua irmã Nilza. Ele auxilia a parte
burocrática, cabendo a Gulnar, irmã da proprietária e procuradora, o cuidado com a
conservação do patrimônio físico, de sorte que a casa grande apresenta bom estado de
conservação: os trabalhadores abrem a casa grande para limpar e aquecer e com esses e outros
cuidados aquele lugar de memória tem perpassado gerações.
Graziela com idade avançada passou a residir em Aracaju com as demais irmãs e
sempre que podiam iam visitar e reunia a família para aquele almoço de confraternização e
relembrar os costumes e vida nas Oitocentas mais ultimamente apenas recebe informações
sobre a propriedade por parte da irmã, da governanta e pessoa de confiança da senhora Gulnar
a senhora Ivanice Oliveira150 já está com a família a vinte e oito anos, sendo que o pai da
senhora Ivanice prestou serviços de carpintaria nas Oitocentas, também conheceu e conviveu
de perto com seu Juca.
Mais ao final do ano de 2009, Graziela chegou a ser hospitalizada e seu problema de
saúde a obrigou interna-se em hospital e ali ficou por mais de onze meses, tendo recebido alta
em 20 de agosto de 2010, vésperas do centenário de sua irmã Osvaldina que já mencionamos.
Sendo assim recebida por todos com muita alegria e por ter se restabelecido, assistindo a
Santa Missa e todos os outros atos da solenidade.
Hoje se encontra aos 103 anos de idade impossibitada de ir a sua propriedade mais
sendo bem tratada, cuidada pela sua irmã e cuidadores: enfermeiros, secretária e uma equipe
médica a contento, de forma que tem sido longeva e deixa uma história de cuidado por aquele
lugar de tantas histórias e memórias para essa grande família.
As memórias pessoais que temos de Graziela são poucas, não foi possível colher seu
depoimento, pois a mesma tem dificuldades para falar, mas o que temos é o bastante para
150
Maria Ivanice de Oliveira. Governanta da casa e secretária pessoal de dona Gulnar Vieira de Azevedo.
100
saber que aqueles locais significados afetivos e memoráveis e conseguiu resistir ao tempo
graças aos esforços e dedicação, pois sempre tiveram unidos como grande família e maior
legado sua história e memória.
É conhecido que ao longo dos anos na vida das famílias certos indivíduos se destacam
por preservar objetos, coisas simbólicas que trazem lembranças, recordações de viveu para as
Oitocentas e fez o que podia para manter o engenho em pleno funcionamento mais a crise e
com o falecimento do seu pai o engenho declinou com o passar dos anos seguintes funcionou
até 1960 conforme dados do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico)151
Memórias de Graziela sobre alguns momentos nas Oitocentas como estava se sentindo
naquele momento ao descrever a carta para o seu Subrinho Sérgio. São momentos grandiosos
ao descrever a paisagem, o campo, o engenho.
“Hoje está chovendo. Está semana é o terceiro dia que chove. Tudo está
verde, de um verde bonito, verde de tonalidades diferentes fazendo
contrastes com os bois pastando. Oitocentas apresenta uma paisagem bonita,
mais uma beleza morta sem vida. Tudo é triste como os dias de chuva e as
nossas almas.
Não adiante fazer o possível e impossível para levantar Oitocentas152 pois
falta nela a alma que é o povo. Todos fogem aqui e não sabemos o que fazer
para arranjar algumas famílias.
No momento só temos nós e a família do vaqueiro. Felizmente é grande está
é numerosa. Até Enedina alugou casa em Rosário e faz oito dias que se
mudou. Diz ela que é a precisão obrigou mais acho que deu um passo errado
alugar casa quando a vida está tão cara. Estamos esperando Ligia dia 30, esta
semana vamos arrumar a casa para recebe-la lavar, limpar os moveis e
arrumar nos seus lugares pois há dois meses que está tudo fora do lugar.
Estamos fazendo uma limpeza na casa e só ontem nos demos por
terminada”.153
151
Arquivo do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional) – O I inventário de
conhecimento de Patrimônio Cultural da cana de açúcar na Região do Baixo Cotinguiba/SE. Volume VII/junho
de 2010.
152
Nesse período Oitocentas já estava dando sinais de declínio passando pelo processo de transição deixando de
ser usina e passado a engenho de fogo morto.
153
Carta pessoal o dar-a ver de Graziela Vieira de Azevedo para seu sobrinho Sérgio.
101
Imagem 21 - Gilca Vieira de Azevedo – Funcionária Federal
Acervo: Banco de Dados Projeto Massapê
Mediante essa situação escolheu ficar com a Procuradoria Da Fazenda, onde ingressou
após concurso realizado em Salvador, e por onde veio se aposentar.
Apesar de pequena surdez ela apresenta um está de lucidez, embora fisicamente esteja
um pouco debilitada por questões de agravos em sua saúde e com a chegada de seu
centenário.
Atualmente, ela vive aos cuidados de sua irmã Gulnar juntamente com Graziela em
Aracaju na treze de julho, acompanhada de cuidados, companheirismo, laços de amor
fraternal.
De acordo com o Jornal o Rosário, edição número 55.p.3 de 1936 traz uma nota
específica. “Para o Rio de Janeiro, onde estuda, seguiu no dia 18 o jovem Walter Vieira de
Azevedo, nosso distinto colaborador e filho do Sr. José Paes de Azevedo Sá nosso ilustre
conterrâneo e ledor. Ao Walter, que se despediu do diretor155 desta folha, boa voagem e
prosperidade nos seus estudos”.
O filho Carlos da Silva Azevedo nasceu no dia 20 de janeiro de 1951. Formado como
médico Radiologista pela faculdade de Medicina de Petrópolis. Fez residência médica em Rio
de Janeiro pela Universidade do Estado do Rio. Ocupou o cargo de Coronel- médico da Força
Aérea Brasileira e está em atividade no hospital da FAB, no Galeão. Foi Casado com Maria
154
Jornal O Rosário, ano de 1933 Edição nº 12, p.3.
155
Jornal O Rosário de 1936, Edição nº55, p. 3. Diretor José Eduardo de Oliveira
103
Cristina Maioli, medica hematologista da UERJ. Desse casamento nasceram Thiago e
Verônica.
Esses acima citados são os filhos e netos de Walter Vieira de Azevedo o mesmo foi
médico e professor, mas, um trágico acidente lhe ceifasse a vida em 2 de março de 1977, após
acidente de automóvel em viagem de férias, á Guarapari- ES.
156
DANTAS, Sylvio Melo. Minha Família-Árvore genealógica comentada. 2013, p.93.
104
Depois veio estudar em Aracaju na escola Tobias Barreto. Fez o curso de
contabilidade. A mesma concluiu o curso superior e mediante concurso ingressou na Receita
Federal, por aonde veio aposentar como auditora.
A Senhora Gulnar citou com muita serenidade e clareza os nomes de seus irmãos por
ordem cronológica de nascimento e o contexto em que cada um vivenciou ao longo da
trajetória de vida, por meio desse depoimentos fizemos uma longa viagem no passado através
da leitura das cartas que tivemos oportunidade ler, para que ela confirmasse, a veracidade
157
Depoimento de Gulnar Vieira de Azevedo.
105
daquela escrita e se a assinatura em cada carta de fato era dos seus irmãos, o que muito nos
alegrou positivamente, pois estávamos diante de fontes primaria, concreta e dessa forma
comprovando a veracidade e historicidade dos fatos.
Em depoimento perguntamos o nome, idade e que falasse sobre o pai dela, um pouco
do que foi o engenho oitentas em seu olhar de filha e assim descreveu suas memórias.
“Meu nome é Gulnar filha de Juca das Oitocentas, tenho noventa e quatro
anos, eu sei que meu pai era um homem culto pra época, com a cabeça
aberta pra época era um homem avançado pra época. Ele estudou em São
Paulo depois foi trabalhar na cidade de Campinas como telegrafista, ele teve
que se atualizar, pois a cultura de Sergipe era muito diferente da cultura do
Sul. Minha Mae Cecília Vieira de Azevedo tinha uma característica singular
era retraída, paciente, seu aspecto físico era demonstrado de forma que
aparentava ter não ter uma vida muito fácil, magrinha e sempre
observadora”.
A senhora Gulnar nos descreve que após alguns anos a avó Ernestina Teles de
Menezes mandou buscar o filho, pois o meu avô Manoel Paes de Azevedo estava muito
doente e ele deveria tocar a propriedade oitocentas e como um bom filho e obediente retornou
para Sergipe para conduzir a propriedade dos pais.
Com o falecimento dos seus genitores, ele comprou as partes dos irmãos, comprou
mais terras, são as que temos até hoje, cerca de 450 hectares158 de terras, é uma pequena
propriedade se comparando com os grandes latifundiários da época.
De acordo com a senhora Gulnar seu pai era de poucos recursos, ele tinha um irmão
que era oficial do exército e encaminhou os filhos de Juca para o colégio militar, Péricles e
Temístocles seguiram no exército e Agliberto escolheu a aeronáutica.
“Meu pai ele dizia que era ateu mais não era ateu não, era como os demais
homens da época ia para a igreja as famílias tinham tribuna as mulheres na
frente rezando e os homens ficavam na porta conversando com meu pai e
outros fazendeiros da família ficavam conversando, não tinham assim essa
religiosidade não, ele também acreditava mais não era ateu, só não era de
estar rezando”.
158
O Engenho Oitocentas sempre foi pequeno suas terras tem atualmente 450 hectares, sendo que um hectare
equivalente a 10.000 000 000 mm².
106
Algo interessante que verificamos nos engenhos da região do Cotinguiba - SE, que em
alguns engenhos existia próximo a casa grande uma Capela, quando não, um quarto de Santo
ou oratório. In locos, ratificamos que no Caraíbas, Pedras, Catete Velho possuía capela, outros
existia o quarto de Santo nesse caso os Engenhos Pati, Engenho Jordão, Engenho Santa
Bárbara.
O Engenho Oitocentas havia um oratório com diversos santos inclusive até hoje existe
um oratório que antes ficava na varanda da casa grande, hoje uma réplica do oratório está no
quarto que foi dos antigos donos, pois os santos originais maiores foram doados para a igreja
de Maroim, todavia não encontramos nenhum documento comprovando o termo de doação e
os santos pequenos estão no apartamento onde residem, essas informações provenientes das
memórias da filha Gulnar.
107
houve escravos, a única que conheci, quando papai nasceu colocou-o em seus braços e foi
como uma ama de leite se chamava Loureça, era uma negra bonita, alta, a mãe preta e o
considerava papai como sinhozinho. Essa negra nasceu nos tempos da Lei do ventre Livre,
aos longos dos anos ficou na propriedade do meu avô159 auxiliando minha avó Ernestina nos
afazeres da casa e cuidando do sinhozinho Juca. A mesma nunca foi tida como escreva,
quando meus avós faleceram meu pai cuidou dela, fez uma casa dentro dos termos da
propriedade para ela.
Essa foi a única negra que conheci nos termos do engenho oitocentas, não era escrava
pois já nascera livre, quando eu nasci ela já era bem idosa, além de Lourença também
tínhamos outra pessoa que foi agregada a nossa família a Enedina Pereira160.
Havia outros trabalhadores também o carreiro mor, na época não existia carro então
eram conduzidos tanto as canas do campo para moenda na usina, como conduzia as famílias
até Rosário do Catete em tempos de festas de Nossa Senhora do Rosário. O carreiro mor
conduzia o carro de boi nas oitocentas, tínhamos o Senhor Guilhermino, e além dele outros
trabalhadores como Antônio José, e o Elói eram poucos, pois o engenho era pequeno.
Quanto aos trabalhadores eram livres e recebiam baseados na moeda corrente e nas
diárias daquele contexto, que não recordo bem se eram réis, estes faziam os serviços no
campo, usina e na lida da vida cotidiana do engenho. “Quando papai faleceu tudo mudou, foi
difícil tocar o engenho.
Graziela e Ibelza tocaram o engenho até quando puderam depois o pessoal que
residiam na propriedade foi indo embora aos poucos, para outros locais. Então a crise,
dificuldades de manter a usina e enfrentar a concorrência com os grandes produtores de
maneira que Oitocentas entrou em declínio. Em 1960, último ano de funcionamento tornando-
se assim engenho de fogo morto.
159
Manoel Paes de Azevedo
160
Enedina Pereira trabalhou auxiliando a mãe de seu Juca, dona Ernestina Teles de Menezes nos afazeres
domésticos e quando os donos da propriedade faleceram ela permaneceu trabalhando para dona Cecília aos
cuidados do seu Juca das Oitocentas.
161
Nesse período o Engenho Santa Bárbara um dos engenhos mais opulentos da região do Cotinguiba pertencia
aos parentes da família Vieira de Azevedo eram primos era do tio por parte materna seu Salústio Vieira de Melo
era irmão do Senhor José Sotero Vieira de Melo, pai de dona Cecília esposa de Juca das Oitocentas.
108
aos longos dos anos terminarem. Assim ficaram cuidando apenas da criação de gado e da
propriedade como um todo.
Hoje as terras da propriedade estão arrendadas para criação de gado, somente as terras,
a casa grande não está disponível para arrendatário, a casa está à disposição da família Vieira
de Azevedo, tem um casal de moradores que ficam em outra casa da propriedade e prestam
serviços na Casa Grande: abrir, limpar, deixar portas e janelas abertas em dias de sol, para que
a casa seja aquecida e assim com esses e outros cuidados continuar sendo preservada.
Nilza casou-se no dia 30 de junho de 1953 com José Tavares de Brito, passando a
chamar-se Nilza de Azevedo Brito. Ele era de nacionalidade Portuguesa e radicou-se no
Brasil. Quando conheceu a futura esposa era vendedor de firma. Após o casamento os dois
foram residir em Vila Velha, no Espirito Santo.
109
Como Nilza havia deixado à profissão de odontóloga e precisava aumentar a renda da
família, a fundadora começou a fazer sapatinhos artesanais para nenéns, na garagem de sua
residência. A procura pelos sapatos foi aumentando e assim resolveram contratar assistentes
para auxiliar nas demandas solicitadas.
Assim nasceu a Pimpolho162, o José Tavares de Brito deixou sua antiga profissão e
dedicou-se na administração da nova empresa, e assim galgou um grande futuro como
empresário.
A empresa cresceu bastante, rapidamente, seus produtos são vendidos em quase todos
os estados do Brasil e as vendas atingem países da América do Norte, América do Sul,
Central, África, Oriente Médio e Europa.
José e Nilza ao viajarem pelo mundo, particularmente aos países asiáticos, eles
recolhiam ideias para a fabricação de novos sapatinhos. A história da Pimpolho começou e foi
fundada em 5 de fevereiro ano de 1962, José e Nilza decidiram concretizar seu sonho. E na
garagem de sua própria casa instalou a fábrica de sapatos infantis artesanais e transformaram
o sonho em realidade.
Esse foi o primeiro passo para a concretização do que veio a ser uma das principais
indústrias de calçados no segmento infantil.
“Os quatros filhos do casal, que cresceram com a Pimpolho, passaram agora
o bastão para a terceira geração da família. Dois netos de Dona Nilza e do
Sr. José, Já falecido, com um dos filhos do casal assumem a direção das
quatro empresas do grupo’163.
162
Pimpolho: assim conta dona Nilza _ Lia muitos livros para meus filhos dormirem e um deles era a fábula
dos três porquinhos e na edição que ela possuía em casa, os três porquinhos eram chamados de pimpolhos, como
se eles fossem crianças. Então quando montamos a fábrica lembrei –me do nome Pimpolho- Depois verifiquei no
dicionário para ter a certeza e o nome Pimpolho significa - galho de Videira e criança pequena. Então assim
surgiu a ideia e quis colocar Pimpolho que é o nome até hoje – Memórias de Nilza Azevedo de Brito.
163
https://couromoda.com/noticias/ler/pimpolho-comemora-50-anos-com-homenagem-a-vovo-nilza/ acessado
em 05/02/2019 as 12; 28.
110
continuar o tratamento em São Paulo adquiriram um apartamento naquela cidade, ali passou a
residir.
O filho Antônio Tavares Azevedo de Brito, casado com Maria Emília Tanure da Silva
com quem teve dois filhos Rodrigo e Ricardo Silva Tavares de Brito.
Cecília Tavares Azevedo de Brito recebeu seu nome homenageando sua avó materna é
casada com Fernando Paixão Monteiro e desse enlace nasceram Flavia e Fernando de Brito
monteiro.
Nelson Tavares de Brito, casado com Lícia Lopes de Brito e dessa união nasceram
duas filhas Gabriela e Marina Lopes de Brito.
Os filhos e netos de Nilza têm grande gratidão, ao seu lado vivem momentos
inesquecíveis, dias de imensas felicidades e anos de próspero aprendizado, através de sábios
conselhos e de sua história de vida sem esquecer suas origens e memórias.
111
Imagem 26 - Juca das Oitocentas, Cecília sua esposa e suas filhas.
Acervo: Banco de Dados Projeto Massapê
Foto: Data de 25 de dezembro de 1951
“As Terras das Oitocentas Cobriram-se de Luto”, assim publicou o Sergipe Jornal na
segunda ferira dia 31 de dezembro de 1951:
112
Registramos que no cemitério de Rosário do Catete repousam os
restos mortais do boníssimo amigo Jose Paes de Azevedo Sá”164.
Mas na casa grande, nos lares dos trabalhadores ouviam-se soluços e lágrimas naquele
momento o sentimento que se derramava nostalgia, tristeza, pela perda do Patriarca das
Oitocentas ficou a melancolia reinante e patente sobre aquele espaço de recordação.
“O senhor José Paes de Azevedo Sá, casado com a exma. Senhora Cecília
Vieira Azevedo, o pranteado extinto que contava com 75 anos de idade,
deixa os seguintes filhos: Ttenente Coronel Péricles Vieira de Azevedo,
Ttenente Coronel Temístocles Vieira de Azevedo, Capitão Agliberto Vieira
de Azevedo, Dr. Walter Vieira de Azevedo, e as senhoritas Ibelza,
Oswaldina, Ligia, Graziela, Gilca, Gulnar e Nilza Vieira de Azevedo. O
senhor José Paes de Azevedo Sá deixa 10 netos.
A Exma. Viúva dona Cecília Vieira, de Azevedo, filhos, netos ao Sr. Heitor
Paes de Azevedo e demais parentes do saudoso cidadão José Paes de
Azevedo Sá. As sinceras condolências do Sergipe Jornal”165.
Quem esteve a sua volta poderia ficar certo que sempre que precisasse, iria receber sua
palavra de estimulo, seus preciosos conselhos, a paciência e a compreensão fizeram dele um
patrão exemplar e um pai amigo assim era José Paes de Azevedo Sá.
164
Sergipe Jornal, 31 de dezembro de 1952, p.3.
165
Sergipe Jornal, 31 de dezembro de 1952, p.3.
166
RICCEUR, Paul, 1913. A memória, a história, o esquecimento / Paul Ricceur – tradução: Alain François –
Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2017.
113
CONSIDERAÇÕES
114
a indústria do açúcar alcançou, por meio dos engenhos e das usinas a vapor, num tempo em
que a cultura do açúcar também obteve seu apogeu. Logo, fizemos a análise das referências
historiográficas acerca da temática sobre engenho, no contexto das elites rurais da aristocracia
açucareira.
Por fim, nos detemos sobre o processo das entrevistas de história oral e sobre as
depoentes, abordamos documentos do acervo pessoal da família como: fotos de cada um dos
filhos, dos objetos da casa grande, cartas escritas por familiares, estas, redigidas ao longo de
décadas, trata-se das memórias e a importância do Engenho Oitocentas na criação e formação
dos filhos do senhor José Paes de Azevedo Sá.
Nesse seio familiar do engenho oitocentas, onde estão inseridas as recordações que
demos uma ressignificação da história e memória. É importante perceber que foi feita uma
seleção das representações no meio da história. A própria história das representações torna-se
história da reconstrução de fatos e memórias isso através das práticas e costumes culturais da
família e do seu patriarca.
115
A Revista Brasil açucareiro trás em suas páginas uma série de matérias acerca da vida
comercial e situações diversas sobre a história do açúcar no Brasil, bem como em outros
países que tem a produção de açúcar na economia, descreve os estatutos e legislações da
época, e faz um levantamento de seus respectivos proprietários como na tabela acima que
registra o funcionamento da Usina Oitocentas no ano de 1949.
Em meio a todo esse acervo documental, incluindo as fotos, as cartas dos filhos aos
antigos proprietários da usina Oitocentas para tratar das memórias e das recordações,
buscamos, via de regra, discutir a relevância desse engenho na criação dos filhos e ao mesmo
tempo deixar um registro de um personagem singular que foi Seu Juca das Oitocentas,
sobretudo por ousar fazer a diferença dos demais senhores de Engenho que ostentavam seus
bens e riquezas moveis, quando ele preferiu educar e formar seus filhos, garantindo não
somente seu futuro, mas também o legado patrimonial e memorial do lugar.
116
REFERÊNCIAS
Fontes manuscritas
Carta pessoal o dar-a ver de Graziela Vieira de Azevedo - Oitocentas 23 de abril de 1961.
Carta de Sérgio Bastos de Azevedo filho de Péricles Vieira de Azevedo para as suas tias
Gulnar, Gilca, Graziela Vieira de Azevedo.
Carta manuscrita e assinada a punho por Agliberto Vieira de Azevedo. Praga, 1980.
Fontes Impressas
Fontes Visuais
Entrevista com a senhora Ivanice de Oliveira no dia 24 de outubro de 2015 as 15h00min horas
in loco nas dependências do engenho oitocentas.
Entrevista do senhor Luiz Ferreira Gomes - de outubro de 2014- Banco de dados do Projeto
Massapé.
118
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Gomes de Melo (1809 -1890) O Barão de Maruim e Seu Tempo. (2018, p.60 a 70).
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