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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

O OCASO DA MEMÓRIA: A HISTÓRIA DO ENGENHO


OITOCENTAS NO BAIXO COTINGUIBA EM SERGIPE

JOSINEIDE LUCIANO ALMEIDA SANTOS

São Cristóvão
Sergipe- Brasil
2019
JOSINEIDE LUCIANO ALMEIDA SANTOS

O OCASO DA MEMÓRIA: A HISTÓRIA DO ENGENHO


OITOCENTAS NO BAIXO CONTINGUIBA EM SERGIPE

Dissertação apresentada ao programa de Pós-


Graduação em História da Universidade
Federal de Sergipe, como requisito obrigatório
para obtenção do título de Mestre em História,
na Área de Concentração Cultura e Sociedade.

Orientador: Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro


Santos.

São Cristóvão
Sergipe – Brasil

2019
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Santos, Josineide Luciano Almeida


S237o O ocaso da memória: a história do Engenho Oitocentas no baixo
Cotinguiba em Sergipe / Josineide Luciano Almeida Santos;
orientador Claudefranklin Monteiro Santos. – São Cristóvão, SE,
2019.
123 f. : il.

Dissertação (mestrado em História) – Universidade Federal de


Sergipe, 2019.

1. História – Sergipe. 2. Engenho Oitocentas (Rosário do


Catete, SE). 3. Engenhos - Sergipe. 4. Memória. 5. Recordação
(Psicologia). I. Santos, Claudefranklin Monteiro, orient. II. Título.

CDU 94(813.7)
DEDICATÓRIA

Dedico ao senhor José Paes de Azevedo Sá (In Memoriam), Graziela


Vieira de Azevedo (In Memoriam), com gratidão pela trajetória de
vida dos Vieira de Azevedo que tive o privilégio de apreciar através
história e das memórias de suas filhas Gilca, Gulnar Vieira de
Azevedo, Nilza Vieira de Brito.
“Os grandes homens não morrem, permanecem vivos no coração e
memória dos que o amam e admiram. ”
Robedson Cerqueira
AGRADECIMENTOS

Como é difícil utilizar as palavras certas para expressar a gratidão que sinto. Porém,
ouso agradecer a Deus o criador pela dádiva da vida e nos concedeu o dom da vida, um dom
inestimável, Ele é meu refúgio nas horas de angústia. Agradeço por permitir-me vencer mais
uma etapa, ultrapassar barreiras, limitações sejam eles quais forem vencer sempre e nunca
esmorecer.
Elencar pessoa que colaborou à sua maneira de forma intensa direta ou indiretamente,
com pequenos gestos de boa vontade, constitui-se tarefa árdua e injusta, diante do quantitativo
de pessoas envolvidas para que eu galgasse bom êxito desta pesquisa.
Meus agradecimentos à banca examinadora tanto da qualificação quanto na defesa ao
presidente da banca o professor doutor Claudefranklin Monteiro Santos, externo minha
gratidão e satisfação em tê-lo como meu orientador sempre atento e humano, seu auxílio,
indicações de leituras jamais serão esquecidas. Não mediu esforços para entender meus
anseios e dificuldades quando solicitado.
Muito obrigada pelas correções necessárias sem nunca me desmotivar, pois é um
homem de profundo conhecimento e não desistiu dessa mestranda, cheia de limitações, o
senhor tira o melhor de cada pessoa sem perder a ética, o respeito e a responsabilidade de uma
tarefa, minha gratidão é infinita, vai além da academia obrigada pelas orientações,
contribuições e puxões de orelhas quando foi pertinente fazê-lo quando acabei quebrando
alguns prazos estabelecidos para entrega de atividades solicitadas, saiba que tenho sua pessoa
na conta de um mano e grande amigo.
Estendo também agradecimentos ao professor Dr. Antônio Lindvaldo Sousa, por fazer
parte da banca de qualificação e defesa. Agradeço pelos esclarecimentos, empréstimos do seu
acervo pessoal e do acervo do Banco de dados do projeto Massapê.
Minha gratidão ao professor Dr. Milton Araújo Moura por ter participado também da
banca examinadora como membro externo, agradeço por seus questionamentos, que foram de
grande valia para o desenvolvimento desta pesquisa, suas inquietações foram pertinentes, pois
abriram novas expectativas e olhares. Agradeço pelas indicações de caminhos a serem
percorrido, suas palavras ecoaram como estimuladores para que pudesse terminar esse
trabalho, agradeço pela forma humana, sensata e tratável que conduziu suas palavras, sem
perder o rigor necessário para esse mundo acadêmico.
A proprietária do Engenho Oitocentas a senhora Graziela Vieira de Azevedo e a sua
irmã Gulnar Vieira de Azevedo as quais agradecemos, pois autorizou nossa ida in loco sempre
que solicitamos para fotografar e fazer levantamento de dados no acervo pessoal dos Vieira de
Azevedo. Aos grandes contribuintes deste trabalho Gulnar Vieira de Azevedo, Solange Bastos
de Azevedo, Nilza Azevedo de Brito, Luiz Ferreira Gomes, Maria Ivanice de Oliveira que me
acolheram e corresponderam as nossas indagações. Sem estes não seria possível a
concretização desta pesquisa.
Agradeço aos funcionários da biblioteca Pública Epifânio Doria nas pessoas de seu
Tito Nunes de Brito e seu Pedrinho Santos (In memoriam) e senhor Francisco dos Santos por
auxiliar na busca das fontes do acervo da biblioteca Epifânio Doria e todos os demais
funcionários, que foram sempre prestativos. Bem como aos funcionários do arquivo público
do Judiciário na pessoa de Assunção e Anderson. O arquivo Público de Sergipe nas pessoas
de Milton Barbosa, Arquivo público municipal de Rosário do Catete na pessoa de Flávio
Gomes.
Agradeço ao PROHIS (Programa de Pós-Graduação em História) nas pessoas do
professor Doutor Bruno Álvaro na época coordenador, também agradeço a atual coordenação
professora Doutora Edna Maria Antônio Matos e ao professor doutor Carlos de Oliveira
Malaquias por todas as contribuições na disciplina obrigatória de Teoria. A professora Célia
Costa e a professora Lourival Santana estiveram na banca de seleção, agradeço também a
todos que fazem o Programa de pós-graduação em História meus sinceros agradecimentos.
Aos amigos da saúde quando tudo começou grata pelas palavras de apoio quando
estava na produção do projeto para seleção do mestrado a todos Clésio, Rita, Acássia, Ana,
Dessiré, Meire, e Samarone vulgo chimarrão. Aos Padres Diogo Ávila, Padre Fabrício Santos
Lopes pela identificação dos santos do oratório da casa grande das Oitocentas. Grata à amiga
Rosineire Teles pela indicação do nome dos padres já mencionados.
Ao amigo João Vieira dos Santos por ter conseguindo o contato para chegarmos até a
proprietária Graziela Vieira de Azevedo nossos sinceros agradecimentos.
Ao meu pai Antônio Evangelista de Almeida e a Lúcia Luciano Almeida e a minha
vovó Elienal conhecida como Liá, por sempre incentivar meus sonhos. Aos meus tios Pedro
Ribeiro e Josefa Augusta Luciano Ribeiro por sempre está presente nesses momentos em
minha trajetória acadêmica, grata a todos demais tios, e a prima Joeny Ribeiro.
Agradeço a Carlos Costa companheiro, amigo, pela paciência e disponibilidade em
levar aos arquivos públicos para garimpar os acervos para adquirir fontes necessárias para a
realização desta pesquisa, aos meus manos André, Joás, Jasiel, Sheila, Joseane, Lucivania,
Elen, Sadraque, e a minha irmã do coração Ivanilde Santos pelo apoio e suporte em todos os
momentos da minha vida sempre grata amada, aos meus sobrinhos Davi, Mariane, Jonatas,
Andreza, Roseane, Joab, Pedro Lucas, Pietro, Alana, Antônio, Rodrigo, Patrick, Nice, Talita
Zeller a todos e todas da família Almeida pelas ausências, inquietudes, stress, mau humor,
minhas desculpas por tantas ausências.
Aos docentes que perpassaram a caminhada acadêmica às (aos) minhas (meus)
companheiras (os) pesquisadores do Projeto Imprensa Cristã, Tatiane jamais esquecerei seu
auxílio quando encontrava alguma fonte relacionada à minha pesquisa e encaminhava para
minha pessoa pelas palavras de incentivo e apoio de todos do Projeto Imprensa Cristã:
Suelayne, Nerita, Rosa, Gicélia, Mayra, Márcio e a todos que direta ou indiretamente
colaboraram para que esse trabalho tivesse êxito. Aos amigos de longas datas a Dora, Lúcia
Rollemberg, Maritania, Angélica Freire, Leda, Arleide, Victor, César Mandarino sempre
agradeço pela consideração estímulo em relação à trajetória acadêmica.
Aos arquitetos José Glackson Santos Júnior e Ana Lúcia Pinto do Nascimento Álvaro
por redimensionar a planta baixa da casa grande das Oitocentas facilitando a anexação nesse
trabalho.
Agradecemos a gestão municipal na pessoa do gestor Otávio Sobral por permitir,
ausentar-me do setor de trabalho nos dias solicitados para estudo e pesquisa com anuência do
secretário municipal de Educação de Itaporanga D’ Ajuda na pessoa de Ronaldo de Oliveira
Santos serei sempre grata pelo apoio quando necessitei ausentar-me para realizar as pesquisas
sendo sempre solícito. Aos demais funcionários Isis pelo incentivo e por sempre indagar sobre
o andamento da pesquisa sempre grata, aos colegas de trabalho Osvaldo, Lasaro, Rivanda,
Ana, Custódio, Márcio, Márcia, Nide, Heloisa, Carla, Analú, Flávia, Lúcia, Julice, Janaina,
Alexandre, Sandra, Marcos, Edmilson, Paulo, Tonho, José do Carmo, Bruno, Rafaela, Iris,
Luís, Rosimeiry, Bete, Valdireia e Renata por emprestarem os ouvidos para escutar sobre as
“Oitocentas” como um lugar de memória.
Não poderia deixar de agradecer a Carlos Henrique Nascimento meu sobrinho por
recuperar documentação em notebook que apresentou defeito, o que causou um grande stress
aborrecimentos, mas ao final grande alívio e satisfação após recuperação dos dados
necessários à está pesquisa.
A cada um dos mestrandos da turma com quem dividir momentos e discursões nas
aulas das disciplinas obrigatórias e optativas, com muito desempenho e determinação
chegamos ao objetivo final parabéns a todas e todos meus sinceros agradecimentos em nome
das mestrandas Andreia Rocha Santos Figueiras, Rayane Pereira de Oliveira e Amanda
Marques dos Santos.
Agradeço porque chegou o desfecho da pesquisa, sei que no amanhã, lembrarei de
todos esses momentos de investigação, sufoco e angústias, bem como dos momentos in loco
da alegria, satisfação da descoberta das histórias e memórias para realização desse trabalho.
Agradecimentos especiais a você leitor, que teve a coragem de adentrar neste mundo
de ideias que não é o de Sócrates, Aristóteles, Santo Agostinho nem o seu, e sim as minhas
ideias e meu olhar sobre esse lugar de memória chamado Oitocentas.
RESUMO

O presente trabalho busca verificar o lugar de memória de uma determinada unidade


açucareira de Sergipe, chamada Oitocentas, sua trajetória e a transição ao longo de décadas.
Trata-se um engenho bangue, usina de pequeno porte, depois engenho de fogo morto. Nosso
objetivo, portanto, é tratar sobre O Ocaso da Memória: História e as memórias do Engenho
Oitocentas, partindo da análise e levantamento historiográfico das obras que versam sobre a
cultura do açúcar em Sergipe. Para tanto, contamos com o uso da metodologia da história
oral, com depoimentos de várias pessoas ligadas aquele passado da família Vieira de
Azevedo. Para o desenvolvimento deste considera-se relevante o significado da memória,
implicados no ato de lembrar; falar, também trabalhamos alguns conceitos de Espaço de
recordação onde utilizaremos o texto de Aleida Assmann que nos levou pensar sobre o
engenho oitocentas como um lugar de memória. Nesse ocaso da memória temos um lugar
memorável, que exporemos através das guardiãs, testemunhas vivas de um passado
inesquecível, como já as mencionamos as depoentes a senhora Gulgar Vieira de Azevedo,
senhora Nilza Azevedo de Brito, Solange Bastos de Azevedo.

Palavras-chave: Engenho Oitocentas, História e Memória, Recordação


RESUMEN

El presente trabajo busca verificar el lugar de memoria de una determinada unidad azucarera
de Sergipe, llamada ochocientas, su trayectoria y la transición a lo largo de décadas. Se trata
de un ingenio bangue, una pequeña máquina, después de un fuego de fuego muerto. Nuestro
objetivo, por lo tanto, es tratar sobre el Ocaso de la Memoria: Historia y las memorias del
Engenho Octava, partiendo del análisis y levantamiento historiográfico de las obras que
versan sobre la cultura del azúcar en Sergipe. Para ello, contamos con el uso de la
metodología de la historia oral, con testimonios de varias personas ligadas a aquel pasado de
la familia Vieira de Azevedo. Para el desarrollo de éste se considera relevante el significado
de la memoria, implicados en el acto de recordar; y en el caso de que se trate de una obra de
arte o de una obra de arte o de una obra de arte o de una obra de arte. el pasado inolvidable,
como ya las mencionamos las depoentes a la señora Gulgar Vieira de Azevedo, señora Nilza
Azevedo de Brito, Solange Bastos de Azevedo.

Palabras clave: Engenho Octavo, Historia y Memoria, Recuerdo


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

UFS - Universidade Federal de Sergipe

AGJES - Arquivo Geral do Judiciário do Estado de Sergipe

BPED - Biblioteca Pública Epifânio Dória

IHGSE - Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe

BICEN - Arquivo Biblioteca Central da UFS – SE.

IAA - Instituto do Açúcar e do álcool

BND - Acervo da biblioteca digital


LISTA DE TABELAS

Tabela 01...................................................................................................................................59

Tabela 02...................................................................................................................................67
LISTA DE FIGURAS

Imagem 1 - Baú de Graziela Vieira de Azevedo......................................................................63


Imagem 2 - Vista da casa grande, casas dos moradores e da usina Oitocentas........................68
Imagem 3 - Casa grande do Engenho Oitocentas vista frontal.................................................70
Imagem 4 - Vista da casa grande do engenho Oitocentas........................................................71
Imagem 5 – Planta Baixa do Engenho Oitocentas....................:...............................................72
Imagem 6 - Casa grande; casa dos trabalhadores; Antiga Usina Oitocentas ao fundo um
riacho.........................................................................................................................................73
Imagem - 7 - Ângulo Frontal da Casa Grande das Oitocentas..................................................77
Imagem 8 - Representação e disposição da mobília, quadros...................................................77
Imagem 9 - Cristaleira e pilão e mão de pilão..........................................................................77
Imagem 10- Conjunto de cadeira comprada em Leilão no Palácio do Governo......................78
Imagem 11 - Representação da Usina Oitocentas....................................................................80
Imagem 12 - Senhor José Paes de Azevedo Sá.........................................................................82
Imagem 13 - Alguns dos filhos de Juca das Oitocentas............................................................84
Imagem 14 - Tenente Coronel Péricles Vieira de Azevedo......................................................85
Imagem 15 - Temístocles Vieira de Azevedo...........................................................................89
Imagem 16 - Ibelza Vieira de Azevedo....................................................................................92
Imagem 17 - Capitão Agliberto Vieira de Azevedo e a esposa Maria da Glória Oliveira de
Moura Castro.............................................................................................................................96
Imagem 18 - Oswaldina Vieira de Azevedo- Enfermeira.........................................................97
Imagem 19 - Ibelza e Lygia Vieira de Azevedo......................................................................99
Imagem 20 - Graziela Vieira de Azevedo................................................................................99
Imagem 21 - Gilca Vieira de Azevedo – Funcionária Federal...............................................102
Imagem 22 - Walter Vieira de Azevedo e a esposa Creuza Dantas da Silva.........................103
Imagem 23 - Gulnar Vieira de Azevedo................................................................................105
Imagem 24 - Oratório do Engenho Oitocentas......................................................................107
Imagem 25 - Nilza Vieira de Azevedo – Odontóloga- Empresária.......................................109
Imagem 26 - Juca das Oitocentas, Cecília sua esposa e suas filhas.......................................112
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................................16

I Capítulo – Tempos de Açúcar................................................................................................26

II Capítulo – Rosário do Catete: O lugar do lugar....................................................................44

III Capítulo – O lugar, as coisas e as pessoas – o ocaso da memória.......................................76

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................114

REFERÊNCIAS....................................................................................................................122
INTRODUÇÃO

Na manhã de segunda feira, 30 de julho de 2014, tivemos nosso primeiro contato, dos
muitos que fizemos, in loco, com a casa grande do Engenho Oitocentas1. Adentramos as
portas do lugar e nos deparamos com uma realidade que até então parecia surreal, pois
tivemos dificuldades em encontrar os responsáveis por aquele lugar de memória.

Retornamos por diversas vezes neste itinerário quando foi necessário fazê-lo, para
fotografar o acervo iconográfico e toda parte interna e externa, com imagens panorâmicas e
frontais. Inicialmente, com a equipe do projeto Massapê, acompanhado do seu coordenador, o
Prof. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa, depois por fotógrafos contratados que nos acompanhou a
fim de fotografar in loco e munir a presente pesquisa de imagens e informações que compõem
parte de seu conteúdo.

Sempre que voltávamos àquele cenário e ambiente rural, ficávamos imaginando e


vislumbrando a grandeza daqueles canaviais no passado histórico, o descampado verde e
formoso rio Cotinguiba, que fertilizava as terras do Rosário e regiões circunvizinhas, lugar de
riquezas, zona do açúcar de Sergipe; terras dos engenhos, terras da cana do açúcar, e também
do rio Siriri, que servia de hidrovia para o transporte do produto final o açúcar.

Rosário do Catete se tornou terra dos senhores de engenhos, que com o passar dos
anos foram se transformando em usineiros por força das circunstâncias socioeconômicas e a
crise que cada época foi declinada em relação a acompanhamento do processo de
modernidade com máquinas a vapor, turbinas e moedas voltadas ao mundo industrial e alguns
proprietários não acompanhou as mudanças em relação à modernidade tanto no fazer como no
maquinário, pois eram onerosos compra-los e mantê-los.

O Engenho Oitocentas é um dos sobreviventes do patrimônio cultural sergipano,


notadamente rural, que foi de pequeno porte, passou por transição sendo a vapor, usina e

1
O Engenho oitocentas pertenceu ao senhor Manoel Paes de Azevedo Sá. Após o falecimento do filho José Paes
de Azevedo Sá, atualmente pertence à Senhora Graziella Vieira de Azevedo. Está localizado as margens da BR
101, no Município de Rosário do Catete-SE, sob administração da irmã da proprietária, Gulnar Vieira Azevedo,
com auxílio de um Sobrinho o senhor Nelson Tavares Azevedo de Brito.
16
engenho de fogo morto2. Como usina permaneceu em funcionamento até o final do século
XX, restando uma casa grande que possui diversas peças mobiliárias e acervo iconográfico,
com diversas fotografias do lugar, inclusive de quando estava em pleno funcionamento.

Esse acervo pertenceu aos antigos donos: José Paes de Azevedo Sá e sua esposa,
Cecília Vieira de Melo. A casa grande encontra-se em bom estado de conservação, com
algumas casas de moradores3 e a antiga usina, que atualmente funciona um curral. Situa-se
numa baixa de terreno, quase em frente da Casa Grande, que fica em local mais elevado. Há,
também, nas proximidades um tanque de água: um pequeno rio margeia a propriedade. Esse
conjunto de construção do final século XIX possui valor histórico, memorável e afetivo, é
uma das referências do passado da sociedade açucareira sergipana e do Brasil.

A casa grande do Engenho Oitocentos tornou-se referencial de lugar de memória, com


suas representações diversas, inclusive afetivas, pois faz parte do convívio dos familiares e
remanescentes. Teve valor funcional, proveito, sua utilidade como unidade produtora de
açúcar cristal, conforme depoimento da depoente Gulnar Vieira de Azevedo, de que
trataremos mais adiante. Em relação à representação de memórias cumulativas, destaque para
as lembranças, as recordações, sentimentos de alegria, melancolia sem falar nos costumes do
cotidiano como afirma Michel de Certeau4: “O cotidiano é aquilo que nos é dado cada dia ou
que nos cabe em partilha, nos pressiona dia após dia, nos oprime, pois existe uma opressão do
presente. Todo dia, pela manhã, aquilo que assumimos, ao despertar, é o peso da vida, a
dificuldade de viver, ou viver nesta ou noutra condição, com fadiga, com este desejo...o
cotidiano é aquilo que nos prende intimamente, a partir do interior. É a história a meio
caminho de nós mesmos, quase em retirada, ás vezes velada. Não se deve esquecer este
mundo memória”.

2
REGO, José Lins do, 1901-1957. p.21. O exemplo do livro Fogo Morto de José Lins do Rego, que retrata a
situação dos engenhos o autor, com efeito, retoma o ciclo de açúcar, nos descreve, nos dá mesmo um exemplo
singularmente provocante, de uma sociedade que, boa ou má, estava perfeitamente assentada e sedimentada no
seu jeito de ser, em uma cultura da aristocracia açucareira.
3
DABAT, Christine Rufino. Moradores de engenho: relações de trabalho e condições de vida dos trabalhadores
rurais na zona canavieira de Pernambuco, Christine Rufino Dabat – 2. ed. Ver. – Recife: Ed. Universitária da
UFPE, 2012. Um traço relevante em relação aos moradores de engenho vem como uma forte tradição e como
uma representação da cultura regional das elites canavieira em diversos locais do Nordeste e não foi diferente em
Sergipe em Rosário do Catete que segue o modelo elabora e descrito por José Lins do Rego e Gilberto Freire
quando descreve de maneira bucólica, a vida do plantador e a vida do senhor de engenho e de seus dependentes
agregados a casa grande esse modelo foi denominada a civilização do açúcar.
4
CERTEAU, Michel de, 1925-1986. A invenção do Cotidiano:2 Morar, cozinhar/Michel de Certeau, Luce
Giard, Pierre Mayol; Tradução de Ephraim F. Alves e Lúcia Matilde Endich Ort.12. ed. Petrópolis, RJ:
Vozes,2013.
17
De certo modo, foi o interesse pessoal que nos moveu no estudo deste objeto de
pesquisa e nos despertou para estudo da microrregião da Cotinguiba Sergipe, onde se encontra
a cidade de Rosário do Catete, uma das localidades que mais produziu açúcar em Sergipe, do
final do século XVIII ao início do século XX. Parte da equipe do Projeto Massapê:
Memórias, Engenhos e Comunidades da Microrregião da Cotinguiba/Se, coordenado pelo
professor Dr. Antônio Lindvaldo Sousa, estivemos in loco, como já frisamos, para visitarmos
por diversas vezes e percebemos que existem as Casas Grandes dos engenhos Paty,
Oitocentas, Jordão em bom estado de conservação, outros em ruínas a exemplo o engenho
Santa Bárbara ou o que restou dele, bem como de outras unidades da época da cultura do
açúcar nessa região.

Durante as atividades do referido projeto, tivemos também a oportunidade de


vislumbrar de perto o legado deixado pelos tempos da econômica canavieira como a casa de
veraneio do engenho Jordão, em bom estado de conservação, da mesma forma a casa grande
do antigo engenho Paty, que foi restaurada pela empresa Vale do Rio Doce. Quando esta
empresa veio instalar-se em Sergipe com as perfurações em busca de minerais, causou danos
a muitas casas na região de Rosário de modo que foi responsabilizada para fazer os reparos
necessários. Outro modelo, ainda que em ruínas, do que restou dos engenhos pedras, casa
grande do engenho Caraíba e de Santa Bárbara são testemunhos de um tempo de opulência e
grandeza nos tempos da aristocracia açucareira.

Tudo isto nos aguçou a necessidade de refletir sobre a importância e o


desenvolvimento que a indústria do açúcar alcançou, seja por meio dos engenhos ou das
usinas a vapor. Como também a levar adiante uma análise de referências historiográficas
acerca da temática sobre engenho, no contexto das elites rurais.

Esta pesquisa baseia-se, portanto na construção de fatos observados através da revisão


historiográfica sergipana, e do testemunho vivo das guardiãs das memórias das Oitocentas as
depoentes Gulnar Vieira de Azevedo5, Nilza de Azevedo Brito6, Solange Azevedo Bastos7, e

5
Contadora aposentada da Fazenda Federal uma das filhas do senhor José Paes de Azevedo Sá, ela quem
administra as propriedades com auxílio de um Subrinho, pois sua irmã atual proprietária encontra-se acamada.
Dona Gulnar Vieira de Azevedo nascida no engenho oitocentas é uma das memórias viva da família.
6
Odontóloga é afilha mais nova do senhor José Paes de Azevedo Sá, atualmente com 89 anos de idade e
proprietárias da rede de sapatos infantis Pimpolho, em Vitória do Espirito Santo e franquias em Portugal e outros
países da Europa.
18
o senhor Luiz Ferreira Gomes8. É importante destacar que a família vem preservando sua
história e a memória do Engenho Oitocentas. Um espaço de recordação, quem tem tido os
cuidados nos reparos necessários, para que a cultura material da casa grande e seus pertences
estejam sendo perpetuados ao longo dos anos. Este acervo está com a família há dois séculos
e meio, pois pertenceu aos seus avós paternos, Manoel Paes de Azevedo Sá e Dona Ernestina
Teles de Menezes. A proprietária mantém o Engenho Oitocentas em bom estado de
conservação e para isso faz questão de preservar o padrão e a estrutura da propriedade como
veremos mais adiante.

Metodologicamente, nos valemos do acervo da família Azevedo buscando estabelecer


relações com diversas formas de manifestação da memória, por meio de entrevistas em que
foram relatadas as memórias do lugar, a partir do convívio, do vivido no engenho, no contato
com as gerações anteriores. Para tanto, utilizamos um questionário padrão relacionado ao
engenho e aos seus proprietários e realizamos em datas diferentes e gravadas em nosso
telefone celular e depois foram feitas à transcrição.
Contamos com as fotos do banco de dados do projeto Massapê e com o auxílio do
fotógrafo Augusto Gentil9, que fez as imagens aéreas, panorâmicas e frontais do Engenho
Oitocentas, com o uso de drone; bem como algumas fotos externas e internas, feitas por José
Aquino, as quais foram utilizadas para compreender a representação do cenário e do espaço
das Oitocentas.

Alguns autores que compõem a historiografia sergipana foram importantes para nossa
pesquisa, dado que apontam para a singularidade do engenho enquanto lugar de memória e
sua relação com a cultura açucareira, tais como: Orlando Dantas10, Katia Afonso Silva
Loureiro11.

7
Hoje, com 83 anos de idade, residente e domiciliada em Belo Horizonte-MG, neta do senhor José Paes de
Azevedo Sá. Viveu também no Engenho Oitocentas e como uma das netas mais velhas, conheceu o lugar e
descreveu um pouco do cotidiano.
8
O Sr. Luiz Ferreira Gomes antigo morador da localidade, foi um dos personagens do documentário Massapê
ele relata sobre o Oitocentas e sobre a personalidade do antigo proprietário.
9
Augusto Gentil (In Memoriam) fotografou o Engenho Oitocentas em 20 de abril de 2018 e veio a óbito em 11
novembros de 2018.
10
DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,
1980. DANTAS, Orlando Vieira. O Problema Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944.
11
LOUREIRO, Kátia Afonso Silva. Sergipana do Açúcar. Aracaju/SE, 1999, P. 20.
19
Ainda como aporte referencial, fizemos um levantamento historiográfico que nos
ajudou na compreensão da construção do conhecimento da cultura do açúcar através de obras
nacionais tais como: Casa grande e Senzala, Sobrados e Mocambos e O Nordeste, de
Gilberto Freyre; Arquitetura e Engenho, de Geraldo Gomes; e da historiografia sergipana:
Sergipe: fundamentos de uma economia dependente e Uma unidade açucareira em Sergipe: o
engenho Pedras, de Maria da Gloria Santana de Almeida; Arquitetura do Açúcar, Katia
Loureiro; Memórias de Família, de Ibarê Dantas; Um Pé Calçado e outro no Chão, Sharise
Piroupo do Amaral; História de Sergipe, Felisbelo Freire; Sergipe Patriarcal e O Problema
do açucareiro em Sergipe, de Orlando Dantas; Memórias de Aurélia, Memórias de Dona
Sinhá e A carta da condessa, Samuel Albuquerque; e Doce Província, de Sura Souza Carmo.

Desse conjunto, destacamos o livro Uma unidade açucareira em Sergipe: o engenho


Pedras, de Maria da Glória Santana Almeida, 1975. A autora trata das características da
produção do açúcar, enveredando pelo viés econômico, descrevendo o funcionamento do
engenho Pedras, localizado na região do Cotinguiba.

Outra obra dessa mesma autora é Sergipe: Fundamentos de uma economia


dependente, publicada em 1984. Em trechos da obra, é visível a influencia de Gilberto Freyre,
notadamente de Sobrados e Mucambos. A autora faz discute a transição do trabalho escravo
para o livre. É notória a presença do êxodo rural em busca pela incerteza da cidade e os
deslocamentos de grupos humanos dos campos para cidade. Outra semelhança é a relação
entre comerciantes, senhores de engenhos, a busca pela ostentação, opulência e luxo
demostrada através de suas casas grandes além da importância dada á educação dos filhos nos
grandes centros urbanos do país.

A obra de Josué Modesto dos Passos Subrinho, Reordenamento do Trabalho:


Trabalho Escravo e trabalho livre no Nordeste Açucareiro. Sergipe – 1850 -1930, a nosso ver
constitui-se numa obra de referência pela eficaz reconstrução histórica econômica de Sergipe
e suas mudanças estruturais, além de apresentar dados da produção canavieira daquele
período.

20
Outra obra de relevância na historiografia sergipana é a de Orlando Dantas 12, de cunho
memorialista, onde se nota uma forte influência de Gilberto Freyre, no que pese a descrição
da casa grande e de todo o conjunto estrutural do engenho, a questão da miscigenação e
questão da genealogia.

Também fizemos uso de alguns impressos que consideramos significativos para nossa
pesquisa. Essas fontes possibilitaram a nossa compreensão acerca das modificações ocorridas
na propriedade Oitocentas ao logo da sua existência e as adaptações de ordem material sendo
que nesse período aconteceram fenômenos de amplas transformações como mudanças no tipo
deixou de ser engenho e passando a ser usina devido às transformações ocorridas no setor
açucareiro nos idos do século XIX e as primeiras décadas do século XX quando as oitocentas
deixa ser engenho e passa a ser usina de pequeno porte logo não tardando a ser usina
cooperada, ou seja, fazia parte de uma cooperativa que funcionava no engenho Jurema.

Inicialmente, da revista Brasil Açucareiro, datada de 1935 a 1943, 1949. Alguns de


seus números encontram-se no acervo da Biblioteca Pública Estadual Epifânio Doria e nos
forneceram dados acerca da cultura do açúcar, principalmente sobre a existência e
importância da economia e da exportação para toda a Europa até o surgimento do açúcar de
beterraba nas Antilhas.

A Revista Brasil açucareiro, aborda a legislação vigente da época, modificada naquele


contexto histórico de produção açucareira, controlando assim a produção das unidades
produtoras; também informa sobre a produção nacional dos engenhos mostrando as causas e
consequências de problemas nas safras repercutindo na economia das elites rurais. Nela,
pudemos encontrar dados sobre cotação e produção do açúcar do Engenho Oitocentas, sobre
seu funcionamento e de seus proprietários.

Trabalhamos, também, com os jornais O Rosário13 exemplares do acervo da


hemeroteca da Biblioteca Epifânio Doria. Trata-se de um periódico que foi editado na cidade

12
DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,
1980.
13
Esse impresso circulou por muitos anos sobre várias direções e redação, entre eles: Pedro Silvino de Andrade,
Francisco Polito, Antônio Calazans de Resende (1933) e diversos redatores sob direção de J. Eduardo e tendo
como redator o senhor Saturnino V. Dantas (1935). Contudo, segundo informações do próprio periódico, ele foi
o segundo jornal que surgiu na cidade de Rosário do Catete, pois o primeiro tinha por nome O Rosarense que
havia surgido no ano de 1893. Os Exemplares foram cedidos pela própria direção e redação do Jornal o Rosário
a pedido do Senhor Epifânio Doria que em 17 de setembro de 1933 sendo atendido pela direção do jornal,
21
que lhe empresta o nome, de cunho político, critico popular, humorístico, noticioso e
independente. Encontra-se em bom estado de conservação, são 88 edições completas
contendo quatro páginas. Estas edições datadas dos anos de 1933 a 1936 tendo como
fundador o coronel João Machado Subrinho14. Em alguns exemplares aparecem nome de
personalidades da sociedade Rosarense, principalmente os padres com as celebrações
religiosas, comerciantes da cidade e os senhores de engenhos Salústio Vieira de Melo
proprietário do engenho Santa Bárbara, José Paes de Azevedo Sá senhor das oitocentas, José
Soltero Vieira dono do engenho Sítios Novos entre outros.

Outro jornal, O Comércio que informava sobre o cotidiano da sociedade Mauriense e


das cidades circunvizinhas, a exemplo de Rosário, Santo Amaro. Traz anúncios de atividades
econômicas, dos estabelecimentos comerciais e das festividades religiosas, festival de
literaturas e rodas de leituras no gabinete de leitura de Maruim e de personalidades de cidades
vizinhas que participavam dessas atividades, além de citar os nomes de seus colaboradores
descreve sobre os filhos dos senhores de engenhos dentre eles analisamos o Rosário edição
de número 4, p. 2 datado de 1 de setembro de 1933 vejamos como se refere ao filho do Juca
das Oitocentas “ Pizou ligeiramente em seu torrão natal em dias desta semana o distinto e
competente aviador da nossa esquadra o Capitão Agliberto Paes de Azevedo estimado filho
do nosso assignante e amigo coronel José Paes de Azevedo Sá.”

A escolha por um ou mais referenciais teórico-metodológicos nem sempre é uma


tarefa das mais confortáveis numa pesquisa. Nesse sentido, nos valemos de alguns que
procuram não somente nos apontar nortes em nossas análises, mas também de aportes, tais
como questões relativas à história oral, à memória, ao lugar de memória e aos espaços de
recordação, presentes neste trabalho, com o auxílio de pesquisadores, como Pierre Nora e a
problemática dos lugares de Memória: “(...) a memória é um fenômeno sempre atual, um elo
vivido no eterno presente: a história, uma representação do passado15”.

concedendo todos os exemplares que já haviam sido editados até então, afirma a edição de número 8 datado de 1
de outubro do mesmo ano do Jornal o Rosário esses foram doados a Biblioteca Pública Epifânio Dória no ano de
1933. Hoje esse jornal e outros já se encontram digitalizado na biblioteca através do projeto da universidade
Federal de Sergipe. O projeto Imprensa Cristã: Escrevendo em nome da fé e das vicissitudes históricas...:
Imprensa cristã e artigos de cristãos nos jornais laicos sergipanos.
14
Ex-prefeito da cidade de Rosário do Catete e um dos editores do periódico O Rosário e seu fundador.
15
NORA, Pierre. Entre Memória e História: A problemática dos Lugares. Projeto História. São Paulo, 1993. p.9.
22
No que se refere à relação entre a história oral e a memória, Jacques Le Goff16 aponta-
nos que se apresentam ora em paralelo, ora em concordância com a própria história. A
memória estaria atuando como um documento na medida em que é capaz de reelaborar as
recordações que são vestígios mnemônicos do indivíduo sendo delimitada através do tempo e
espaço histórico específico. Essas memórias são como pistas para reafirmá-las recorrendo às
recordações dos indivíduos fazendo com que o tempo e o espaço estejam inseridos dentro de
um determinado contexto social seja individual ou coletivo.

Essas memórias tem a propriedade de conservar certas informações, remete-nos em


números, e liga a um conjunto de funções psíquicas, graças as quais o homem pode atualizar
impressões ou informações passadas ou que considera como passadas.

O autor Le Goff17 afirma que: “a memória é aquela que cresce a história, que por sua
vez a alimenta, procura salvar o passado para servir ao presente e ao futuro. Devemos
trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para libertação e não para a servidão”.

Já os estudos feitos por Halbwachs18 contribuíram para a compreensão dos quadros


sociais que compõe a memória. Está memória coletiva tem relevância, pois tem a finalidade
de contribuir para construir o sentimento de pertencimento a um grupo de passado comum,
vale salientar que outro aspecto da memória tem intima relação com o lugar, ou seja, tem nos
lugares uma referência para a sua construção, contudo isso não é condição para a sua
preservação.

Também utilizamos os conceitos de recordação de Aleida Assmann19 que afirma que


as recordações não podem apreender por nós mesmos nem pode ninguém. Ensina-nos que as
recordações procedem basicamente de forma reconstrutiva; sempre começa no presente e
avança inevitavelmente para um deslocamento, uma deformação, uma distorção, uma
revaloração e uma renovação do que foi lembrado até o momento da sua recuperação.

16
Le Goff (apud Reis). Na introdução da monografia de Aoron Reis Sena Cerqueira: História Memória e
Sentimento na trajetória de Josefina Cardoso Braz.
17
LE Goff, Jacques, 1924-2014. História e Memória/ Jacques Le Goff: tradução Bernardo Leitão... 7º ed.
Revista- Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2013.
18
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Centauro, 2006.
19
ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: formas e transformações da memória cultural. Campinas:
Unicamp, 2011.
23
Nesse sentido podemos observar o Engenho Oitocentas como um espaço de
recordação, um lugar memorial e ao mesmo tempo em que passou por um processo de
transformação e revaloração por parte de diversas memórias, sejam coletivas ou individuais.

O processo estende-se do presente quando acusado pela recordação para o passado,


pois não são apenas as pessoas, indivíduos que constituem uma memória, para si mesmas,
mas um local, um lugar de memória um espaço de recordação pode sim estabelecer
identidade, conquistar, confrontar e legitimar sua história e memória quando são fixadas
metas, sejam elas em relação a memórias, recordação cultural sejam através de testemunhos,
imagens iconográficas, ou escritas. No processo de transformação, as formas de cultivo do
saber são diversas e acumuladas, representadas ou mesmo silenciadas.

A questão que nos impulsionou rumo a uma delimitação do tema está relacionada à
exiguidade de trabalhos dentro do nosso período que se refiram e se detenham, de maneira
específica, em propriedades que tenham sido unidades produtoras de cana de açúcar e tendo
como produto final o açúcar isso nos idos do século XX. A presente pesquisa constitui-se de
três capítulos.

O primeiro capítulo, cujo título: Tempos do Açúcar, dedica-se á revisão da


historiografia sergipana, situando a história do açúcar em Sergipe a partir de um diálogo com
a que fora escritor a respeito. Fizemos uma retrospectiva, a nosso ver necessária, de um corpo
significativo de autores e obras que tratam sobre a cultura açucareira, seu contexto sócio,
político e econômico.

No segundo capítulo – Rosário do Catete: o lugar do lugar, fizemos um apanhado


histórico do município de Rosário do Catete, sua origem, sua emancipação política e suas
festividades religiosas, do desenvolvimento da lavoura da cana de açúcar, bem como acerca
dos bens patrimoniais móveis, e os eclesiásticos as igrejas e as capelas dos engenhos e casa
grandes, e a distribuição dos principais engenhos em seus territórios, a exemplo de: Paty,
Caraíbas, Jurema, Serra Negra, Santa Bárbara e o Engenho Oitocentas.

Por fim, no terceiro capítulo denominado Os lugares, as coisas e as pessoas - Ocaso


da memória, nossa atenção está voltada para a família Vieira de Azevedo, as pessoas do
Engenho Oitocentas, notadamente Seu Juca das Oitocentas, e, a partir da narrativa e descrição

24
de suas memórias familiares, lançar novas luzes sobre a história do lugar, sem se escurar dos
elementos da chamada cultura material, como fotos e cartas.

25
I
TEMPOS DE AÇÚCAR

A presença temática da cultura do açúcar na escrita da historiografia nacional e


sergipana é muito significativa, com seus contextos e suas peculiaridades, de sorte que para
este trabalho não temos como não fazer uma análise geral de boa parte das que tratam sobre o
assunto, por entendermos que a presente pesquisa trabalha com delimitações específicas com
engenhos que existiram no final do século XIX e XX.

Em vista disso, também aqui se faz necessário, para uma melhor compreensão, um
recuo no tempo, uma verificação de como ocorreu o processo de ocupação do espaço das
unidades açucareira em Sergipe e a formação do processo econômico. Tornou-se
indispensável compreendermos as alterações ocorridas ao longo das décadas bem como as
ações desse processo histórico da economia açucareira e o processo de produção da
monocultura da cana de açúcar, sendo o meio mais viável para a Coroa Portuguesa ocupar as
terras brasileiras e sergipanas e assim facilitar o comércio e escoamento dessa produção no
período do Brasil Colônia, Brasil Império ou até mesmo nos anos da República. Cada época
com seu contexto, com seus investimentos, mudanças, problemas, dificuldades que em época
distinta levaram muitos senhores de engenho ao declínio econômico financeiro.

Nossa intenção foi a de compreender o cenário que nos permitiu fazer uma reflexão
sobre a importância e o desenvolvimento que a engenharia20 do açúcar alcançou, seja por
meio dos engenhos banguês, engenho a vapor ou usinas, e como estes vivenciaram seu
apogeu e seu declínio.

Assim, no caminho percorrido em nossa pesquisa, utilizamos do método do paradigma


indiciário formulado para compreender o silêncio das fontes que são referências para
conceituar, legitimar a história dos nossos engenhos da aristocracia açucareira. Conforme, nos

20
O sentido da palavra engenharia no texto supracitado deve ser analisado do ponto de vista da produção
açucareira, da cultura do açúcar com seus engenhos, produções e seus costumes cotidianos.
26
aponta Carlo Ginzburg: “(...) se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas – sinais,
indícios – que permitem decifrá-la21”.

Para tratarmos sobre historiografia tomamos o conceito de Charles Oliver Coronel22,


que certifica ser o termo nada mais que a história de um discurso escrito e que se afirma como
sendo verdadeiro que os homens têm sustentado acerca do seu passado. Ele considera ser a
historiografia o melhor testemunho que podemos ter sobre as culturas desaparecidas ou que
tende a desaparecer, inclusive a nossa.

Nesse sentido, estamos convictos que o fazer historiográfico requer e envolve vários
itens a serem investigados. Sabemos que no campo da história, há diversas correntes
historiográficas, com seus recortes temáticos, objetos, fontes e o diálogo com áreas afins,
sabemos que não encontramos como receitas prontas.

Dessa maneira, entendemos ser possível enfrentar as necessidades e lacunas impostas


no âmbito da escrita da historiografia sergipana. As fontes que foram exploradas já estão
publicadas com exceção de uma que se encontra no prelo, obra organizada pelo professor Dr.
Antônio Lindvaldo Sousa, como um dos produtos do projeto Massapê23.

Para fundamentar esse capítulo trataremos de obras que não devem ser esquecidas,
ainda que não haja engenhos em funcionamento, mas, temos a demonstração de alguns que
resistiram ao tempo, tais como as casas grandes do Engenho Paty, Engenho Oitocentas,
Engenho Jordão fazem parte de um passado memorável; outros existem nas memórias de
testemunhas que estiveram in loco naqueles ambientes.

Mesmo que essas obras tenham sido escritas em contextos e séculos diferenciados são
de grande importância para a escrita da história, tais obras trazem conteúdos sobre quem eram
os proprietários, onde se localizavam e quais foram às unidades produtoras mais bem
sucedidas e opulentas na doce Cotinguiba parafraseando Sharise Piroupo24 que em seu livro
pontua no primeiro capítulo sobre o Cotinguiba.

21
GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: Mitos, emblemas, sinais: Morfologia e
História. 1ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p.177.
22
CARBONELL, Charles- Oliver. Historiografia. Lisboa: Teorema, 1981, p.6.
23
Projeto Massapê: Memórias, Engenhos e Comunidades da Microrregião da Cotinguiba/SE Do GPCIR (Grupo
de Pesquisa Identidades e Religiosidades) sob coordenação do Professor Dr. Antônio Lindvaldo Sousa.
24
AMARAL, Sharyse Piroupo do. Um pé calçado, outro no chão: Liberdade e escravidão em Sergipe.
(Cotinguiba, 1860- 1900). Aracaju: Ed. Diário Oficial, 2012.
27
Foram analisadas respectivamente: História de Sergipe (1891), de Felisbelo Freire; os
trabalhos de Maria da Glória Santana Almeida: Uma unidade açucareira em Sergipe - o
engenho Pedras (1976), Sergipe: fundamentos de uma economia dependente (1984),
Nordeste açucareiro: desafios de um processo do vir a ser capitalista (1993) e Nota prévia
sobre propriedade canavieira em Sergipe (Século XIX); Arquitetura do Açúcar (1999), de
Kátia Loureiro; Sergipe República (2004); A História de Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel:
O Patriarca do Serra Negra e a política Oitocentista em Sergipe (2009); Memórias de
Família (2013); Imprensa Operária em Sergipe (2016), todas estas de Ibarê Dantas; Um Pé
Calçado e outro no Chão (2012), de Sharise Piroupo do Amaral; Sergipe e a política (1986),
de Ariosvado Figueiredo;

Temos ainda as seguintes obras: Sergipe Patriarcal (1980), O problema açucareiro de


Sergipe (1944) de Orlando Dantas; Memórias de Aurélia (2015), Memórias de Dona Sinhá
(2005) e A Carta da Condessa (2016), uma tríade do professor Samuel Albuquerque; História
econômica de Sergipe (1987) e Trabalho escravo e trabalho livre no Nordeste açucareiro
(2000), de Josué Modesto dos Passos Subrinho; alguns trabalhos de Maria Thetis Nunes:
Sergipe Provincial I (2000) e Sergipe Provincial II (2006); Capítulos de história da
historiografia sergipana (2013), de Antônio Fernando de Araújo Sá; Álbum de Sergipe,
Clodomir Silva (1920), Revista Brasil Açucareiro (1935 a 1970). Em A república das usinas:
Um estudo da história social econômica do Nordeste, de Gadiel Perucci, Doce Província? O
cotidiano escravo na historiografia sobre Sergipe oitocentista, de Sura Souza Carmo (2007),
entre outras que citadas no corpo do texto.

O critério de seleção dessas obras foi o fato de serem elas destaquem na


historiografia sergipana nas áreas da cultura do açúcar, economia e formação das unidades
produtoras da monocultura da cana de açúcar e da sociedade aristocrata patriarcal.

Vale salientar que, concomitantemente, estaremos dialogando com as obras da


historiografia nacional inseridas no corpo do texto ao decorrer da escrita deste trabalho à
medida que for pertinente faremos o contraponto entre as obras observando as concordâncias
e críticas entre os autores. Não poderíamos deixar de dialogar quando pertinente com as
obras: Casa grande e Senzala (1987), Sobrados e Mocambos (2013), Nordeste (1937), de

28
Gilberto Freire; Arquitetura e Engenho (2013) e Antigos Engenhos (1994), de Geraldo
Gomes; Engenhos do Recôncavo Baiano (2009), de Esterzilda Berenstein de Azevedo;
Segredos Internos (1985), de Stuart Schwartz; Engenho e Memória (2002), de Luciano Trigo,
Moradores de Engenho (2012), de Christine Rufino Dabat. Após essa seleção das obras
retomaremos para as fontes da revisão historiográfica de Sergipe e quando necessário
interagimos com as da historiografia nacional.
Em História de Sergipe25, obra referencial organizada pelo intelectual sergipano
Felisbelo Freire, além de tratar de aspectos gerais do processo histórico sergipano, seu estudo
foi composto por cartas e representações, ofícios, requerimentos, muitos transcritos na íntegra,
intitulada um marco inaugural da historiografia sergipana, ainda que tenham sido publicadas
no final do século XIX, suas características teóricas reforçam os valores de seu tempo. O livro
analisa documentos inéditos bem como as cartas de sesmarias, e por isso é considerando como
uma primeira tentativa de interpretação cientifica para a escrita historiográfica. O autor,
também faz reflexões e questionamentos no campo político, cultural e social no contexto do
início do Brasil República.
Segundo Sura Souza Carmo (2017), outra questão a ser analisada de imediato foi a
“(...) exclusão de análise da obra de Felisbelo Freire, História de Sergipe, obra está
publicada em (1891), nesse período, o Freire pernambucano não havia nascido26”.
Em sua obra, Felisbelo Feire analisa a concepção de história geral, em especial a
história de Sergipe com suas características voltadas para a história política, pois era defensor
da república e buscava documentar os feitos de seu contexto.
Analisar a obra História de Sergipe de Felisbelo Freire é pensar o contexto em que foi
escrito logo percebemos questões políticas, sociais e culturas de seu contexto onde vivenciava
o início da republica onde partidos políticos se massacravam por causa de suas divergências.
A obra dele está inserida na concepção da história geral, em especial de Sergipe que é
diferenciada pela investigação documental marcando assim o término século XIX que estava
sob a influência do positivismo27.

25
FREIRE, Felisbelo. História de Sergipe. 2. Ed. Petrópoles: Vozes, 1979. Em convênio com o governo do
estado de Sergipe 1977.
26
CARMO, Sura Souza. Doce Província? O cotidiano escravo na historiografia sobre Sergipe oitocentista. / Sura
Souza Carmo – Aracaju: IHGSE, 2007. p.71.
27
GALLO, Silvio. Filosofia: experiência do pensamento. 2014.p.242-243. Positivismo – corrente filosófica
fundada por Auguste Comte.
29
Ainda para Sura Souza Carmo, (2017), “(...) no processo historiográfico de Sergipe há
um salto grande pulando do final do século XIX para a década de 1970 para o século XX28”.
Passamos a seguir à análise de uma importante pesquisadora da historiográfica em
Sergipe, Maria da Glória Santana de Almeida, que notabilizou junto à organização dos
arquivos públicos e do judiciário do Estado, mas também por sua contribuição foi sua
produção intelectual sobre a cultura do açúcar em Sergipe29. Glorinha, como carinhosamente
conhecida, com suas reflexões comprovou que houve o processo de fragmentação dos
engenhos no século XIX.

Podemos então confirmar essas concepções da historiadora sergipana, baseado


também nas reflexões de Suely Robles Reis de Queiroz, que afirma:

“Para evitar a transformação dos engenhos em simples fornecedores de cana,


utilizou-se o sistema parental mantendo assim os bens móveis como padrão
social na aristocracia rural, ou seja, os bens e a propriedade ficavam entre a
própria família30 (1979, p.66).”

Já em seu artigo Uma unidade açucareira em Sergipe: o engenho Pedras31, publicada


em 1976, ela faz a partir de fontes primárias, uma narrativa dessa unidade açucareira, tratando
acerca das características da produção enveredando pelo viés econômico, tem um valor no
âmbito da história econômica de Sergipe, onde a abordagem descreve o funcionamento do
engenho Pedras no atual município de Maruim, localizada na região do Cotinguiba 32, sendo
uma obra de relevância aos que se dedicam a esse campo de pesquisa.
Maria da Glória Santana de Almeida publicou alguns livros relevantes para a história
econômica. Entre eles, Sergipe: Fundamentos de uma economia dependente publicada em
198433. Em nossa análise, podemos perceber que a obra não tem viés culturista, mas um viés

28
CARMO, Sura Souza. Op. Cit. p.110.
29
SÁ, Antônio Fernando de Araújo- Capítulos de história da historiografia sergipana/ Antônio Fernando de
Araújo Sá. – São Cristovão, Editora UFS; Aracaju, IHGSE, 2013, p.100.
30
QUEIROZ, Suely Robles Reis de. Historiografia do Nordeste. São Paulo: Arquivo do Estado de São Paulo,
1979. p.66.
31
ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Uma unidade açucareira em Sergipe – o engenho Pedras. Separata
dos Anais do VIII Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História (Aracaju – setembro de 1975).
São Paulo, 1975.
32
AMARAL, Sharyse Piroupo do. Um pé calçado, outro no chão: Liberdade e escravidão em Sergipe.
(Cotinguiba, 1860- 1900). Aracaju: Ed. Diário Oficial, 2012. Cotinguiba região de maior produção açucareira de
Sergipe de solo massapê, argilosos, escuros e pesados que retivessem bem a umidade e eram preferidos para o
cultivo da cana-de-açúcar.
33
ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Sergipe: Fundamentos de uma economia dependente; Petrópolis:
Vozes, 1984.
30
econômico com características relacionadas com a monocultura da cana de açúcar, mão de
obra escrava e dependência da Bahia para o escoamento da produção. E nos informa acerca da
importância do comércio do açúcar e do algodão com o exterior e por meio das diversas
nacionalidades e representantes europeus como os existentes nos centros comerciais 34 do Vale
do Cotinguiba.

Maria da Glória Santana de Almeida (1993), Em Nordeste Açucareiro35, este resultado


de sua dissertação de mestrado em História, defendida na universidade de Brasília, ela faz
suas investigações no âmbito das singularidades regionais da economia açucareira sergipana
isso a partir de fontes primárias: Documentos, inventários, processos cíveis, testamentos,
jornais, livros de notas entre outras fontes. Conforme análise da autora os desafios da
modernidade e da expansão capitalista na economia açucareira, e a persistência nos engenhos
bangues, explica em parte, o atraso do sistema de transporte e a falta de investimentos do
poder público em políticas que garanta aos proprietários da cana de açúcar melhorem
condições de produção.

A partir desse diálogo percebemos que há uma semelhança com a obra de Gilberto
Freire: Sobrados e Mucambos, isso em função da importância dada pelos senhores de
engenhos e comerciantes ao gosto pelo luxo, ostensão e em relação à educação dos filhos em
conduzi-los para os grandes centros educacionais urbano do país. É possível perceber a
relação com outra literatura de Gilberto Freyre: Sobrados e Mucambos. O autor faz outros
questionamentos como a transição do trabalho escravo para o livre. É notória a presença do
êxodo rural em busca pela incerteza da cidade e os deslocamentos de grupos humanos dos
campos para cidade.

Sabemos que mesmo com alguns avanços da usina, o pequeno banguê só resistiu até a
primeira metade do século XX. Entretanto, “se o pequeno bangue permitiu a distribuição de
riqueza entre muitos, a usina matará o pequeno produtor e ocasionará a concentração de terra
nas mãos de poucos e a separação definitiva do homem dos meios de produção” 36.

34
As casas comerciais estrangeiras Sharamn e Cameron Smith. DANTAS, Orlando Vieira. O Problema
Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944, p.20.
35
ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Nordeste Açucareiro: desafios num processo de vir a ser capitalista.
Aracaju: Universidade Federal de Sergipe / SEPLAN/BANESE, 1993.
36
ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Nordeste Açucareiro: desafios num processo de vir a ser capitalista.
Aracaju: Universidade Federal de Sergipe / SEPLAN/BANESE, 1993, p.308.
31
Podemos relacionar inúmeras obras que fazem parte desse universo da cultura da cana
de açúcar, que estão ligadas a temática supracitada e podemos relacionar também a obra de
Esterzilda Berenstein de Azevedo37, que versam sobre as transformações estruturais dos
engenhos no século XIX em terras das baianas.

Em outro contexto, trata também dessas transformações estruturais nas unidades


açucareiras, onde podemos fazer uma possível comparação com a obra de Maria da Glória: A
Propriedade Rural - Nota Prévia sobre Propriedade Canavieira em Sergipe. (Século XIX).
Para finalizar as observações acercas das obras de Almeida entendemos que suas obras são
fartas de vestígios e fios condutores para serem estudados por outros pesquisadores como, por
exemplo, o estudo do cotidiano dos escravos assunto que não versaremos pois não faz parte
do nosso objetivo maior que é perceber os laços e o cotidiano sobre os engenhos e a economia
açucareira, contudo vale salientar que a autora deixa informações relevantes de como Sergipe
participou do cenário na nova atividade econômica voltada para agricultura uma vez que as
circunstancias se alternaram, no final do século XVIII, tendo assim o início a decadência da
produção açucareira no nordeste, devido a grande produção de açúcar nas colônias europeias
nas Antilhas e outras circunstancia internas foi a corrida pelo ouro o chamado ciclo do ouro
das Minas Gerais.

Os tempos do açúcar vieram a ter valor após o esgotamento dessas minas, e a


conscientização da importância da agricultura, sem dúvida podemos perceber parafraseando a
frase celebre de Felisbelo Freire quando afirma que Sergipe antes de ser agricultor foi pastor
por Sergipe não ter acompanhado a fase áurea da economia açucareira, que fez a riqueza e o
desenvolvimento do Nordeste nos séculos anteriores, nesse período, as terras da capitania de
Sergipe Del Rey as planícies férteis e os sertões eram ocupados para a criação de gado que
serviram de alimento para as zonas produtoras vizinhas Bahia e Pernambuco.

Outra área dentro da nossa historiografia é a arquitetura sob o olhar e reflexão de Kátia
Afonso Silva Loureiro, na sua obra: Arquitetura do Açúcar. Pontua sobre as características
históricas e arquitetônicas de alguns engenhos sergipanos dos séculos XVII ao XIX. A autora
faz um mapa da arquitetura do açúcar, tendo o conjunto arquitetônico Tejupeba, antigo
Colégio dos Jesuítas, erguido na Fazenda Iolanda município de Itaporanga D’Ajuda

37
AZEVEDO, Esterzilda B. de. Engenhos do Recôncavo Baiano. Editora: IPHAN, 2009.
32
propriedade de Dona Rute Fonseca Rollemberg Mandarino, esse conjunto arquitetônico casa e
capela como sendo o mais antigo exemplar de construção antiga que ao lado do São Felix, em
Santa Luzia do Itanhy um engenho do centro sul fazem parte do século XVII. Nesta obra a
autora elenca 31 monumentos da arquitetura açucareira das áreas principais onde vicejou a
cultura da cana de açúcar entre eles os já mencionados.

Loureiro faz a citação de numerosos engenhos das diversas regiões do estado, que são
representações da arquitetura do açúcar em Sergipe, selecionou alguns engenhos para tratar
acerca dos mesmos. Outros foram citados como sugestão para pesquisadores que tenham
interesse nesta temática, a saber: Engenho Antas, Castelo, São José, Priapu, Cedro,
Vassouras, São Joaquim, Kassunguê, Boa Vista, Belém, Poços, Engenho Novo, Salobro,
Penha, Dirá, Escurial, Itaperoá, Quindongá, Retiro, Pedras, Caieira, Santa Bárbara, Jesus
Maria José, Cruzes, São Joaquim, Tuim, Engenho de Ferro, Pinheiro, Central, Cumbe, Poxim,
Unha de Gato, Maria Teles, Serra Negra, Jordão, Catete, Comandaroba, Oitocentas 38.
Caraíbas, Jurema, caldas, Cajá, Junco, Pombinha, Capim Açú, Periperi, Santo Antônio entre
outros engenhos.

Portanto, nos faz pesar nas possibilidades de escrita sobre cada uma destas unidades
açucareira, sendo assim nos despertou o interesse pelo engenho Oitocentas da família Vieira
Azevedo, este engenho um espaço de recordação, lugares de memórias e representações
culturais e quiçá religiosas que será abordado no próximo capítulo.

Outro autor que merece destaque por sua vasta produção é o historiador Ibarê Dantas
que contribui com a pesquisa historiográfica, seu preparo nos traz em sua produção intelectual
o diálogo entre a história e as ciências sociais. Os outros livros desse historiador que retrata
uma síntese da história de Sergipe sobre diferentes vertentes temáticas, entre elas a político
partidária39.

Além desses diálogos já mencionados, têm outra obra a História de Sergipe República
que nos faz compreender como foram construídos o Estado republicano e a sociedade isso
baseado nos aspectos políticos administrativo, cultural, econômico social. Este livro expressa

38
Engenho oitocentas pertenceu ao senhor Manoel Paes de Azevedo Sá após falecimento deste ao filho José
Paes de Azevedo Sá e atualmente pertence a Senhora Graziella Vieira de Azevedo, o mesmo está localizando as
margens da BR 101 no município de Rosário do Catete- SE. Limita-se com a Fazenda Sítio Novos e o Engenho
Paty.
39
DANTAS, Ibarê. A Tutela Militar em Sergipe (1964-1984). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro 1997.
33
a tentativa de sintetizar a experiência de110 anos de república procurando mostrar como os
sergipanos conviveram politicamente, como produziram, trabalharam e distribuíram suas
riquezas, enriqueceram suas culturas, acompanha o processo de modificações variadas e
abrangentes, ocorridas de âmbito nacional ou especificamente local. Ainda vai demostrar
como no início de Sergipe república os senhores do açúcar dominavam. Por fim, diferente
das demais obras de sua produção intelectual anteriores, Dantas, se debruça sobre a escrita da
biografia do senhor de engenho Leandro Ribeiro de Sequeira Maciel, importante liderança
política dos oitocentos em Sergipe, o conhecido Senhor ou patriarca do engenho Serra Negra.
Esta biografia nos possibilita a compreensão das dimensões e variedades de assuntos nela
contida tanto da parte do proprietário e dos escravos, práticas políticas exercidas por parte da
política provincial sergipana40.

Nessa obra, Ibarê Dantas utiliza a influência de Freyre em Casa Grande e Senzala, bem
como, Sobrados e Mucambos. Sendo assim, a proposta não é escrever sobre a temática da
escravidão, mas sobre o personagem Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel. Este se relaciona
com Freyre pelo fato da proximidade com a casa grande do engenho Serra Negra, ele faz uma
relação um paralelo entre essas duas obras de Gilberto Freyre.

Em seguida temos do mesmo autor, Memórias de Família41, a narrativa de quatro


fazendeiros de gerações diferentes, que viveram nos século XIX e XX no engenho Boqueirão
ou Salgado, hoje no município de Riachão dos Dantas; A partir da leitura passamos a evocar
as evidências da história através dos costumes e até mesmo a representação fragmentada de
fatos, histórias e recordações da vida deles.

Esse conjunto e observações que o autor ilustra do ambiente dos fazendeiros de


gerações distintas, atuando no cenário político administrativo municipal, eles certamente
enfrentam revés da natureza, e as dificuldades de seu tempo, mas investiram, administraram
suas propriedades e tornaram eventualmente representantes do patronato rural elite local
naquela conjuntura.

40
DANTAS, Ibarê. Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel (1925-1909). Aracaju: Criação, 2009.
41
DANTAS, Ibarê (2013.p.77) – Memórias e Família – O percurso de quatro fazendeiros. Aracaju – SE. Criação
2013.
34
Em continuidade a produção de Ibarê Dantas, aventaremos acerca da Imprensa
Operária42 e podemos observar como o autor articular-se em relação à estrutura social de
Sergipe nos idos de 1889 a 1930 nas quatro décadas da república. Pontua a predominância as
atividades eram rurais e voltadas para a produção o comércio nacional e internacional, e entre
os produtos de maior representatividade destaca-se o açúcar que no idos de 1889 correspondia
a 76,51% do valor total das exportações.

Ainda descreve que o material trabalhado nesse livro compõe-se de cinco jornais sendo
que os quatro primeiros tiveram o nome de o Operário e o quinto a Voz do Operário. Na
análise de cada jornal afirma o autor que procurou enfocar suas contribuições para as defesa e
conquista dos direitos, e o fortalecimento da classe e suas tendências.

Compartilhamos também do ponto de visa da autora Sharise Piroupo do Amaral, em sua


obra Um pé calçado, o outro no chão (2012)43, após leitura, nós identificamos no primeiro
capítulo cujo título: A Doce Cotinguiba, que nos fez refletir sobre porque doce? Ela descreve
o espaço geográfico e a economia do Cotinguiba como sendo um lugar de muitos rios e
muitos engenhos e que teve uma participação intensificada no decorrer da crise do século
XIX. É perceptível analisar os processos históricos que antecederam e se desenrolavam na
região da Cotinguiba, bem como em outras partes do país, com isso a autora situa o leitor no
espaço onde se dá a sua escrita historiográfica.

Partimos para a análise conjuntural da obra que nos fez perceber que se trata da temática
voltada mais para a liberdade e escravidão em Sergipe, na região da Cotinguiba. Contudo, a
autora faz uma interlocução com a obra de Gilberto Freire: Casa Grande e Senzala, a mesma
demonstra que para cogitar uma temática não se é necessária olhar apenas por um só viés,
perceber e interpretar com novos olhares e entender os sentidos políticos, econômicos e
através destes, apresentar diversas formas e fontes, aspectos culturais.

O livro do escritor e professor Ariosvaldo Figueiredo,44 descreve diversas temáticas da


história de Sergipe, pontua sobre a política e economia as oligarquias e as dissidências
retratam que Sergipe e em vários lugares do país não pensava na indústria, mais acreditava na
agricultura retrata acerca sociedade dos agricultores, fazendeiros e a hegemonia açucareira.
42
DANTAS, Ibarê. Imprensa Operária em Sergipe (1891-1930) – Ibarê Dantas- Aracaju: Editora Criação, 2016.
43
AMARAL, Sharyse Piroupo do. Um pé calçado, outro no chão: Liberdade e escravidão em Sergipe.
(Cotinguiba, 1860- 1900). Aracaju: Ed. Diário Oficial, 2012.
44
FIGUEIREDO, Ariosvaldo - História políticas de Sergipe-(1986).
35
Contudo nos últimos anos do século XIX, vivem seus piores momentos engenhos falidos,
fazendas descapitalizadas.

Nesse percurso da revisão historiográfica buscamos a contribuição do jornalista Orlando


Dantas, por sua vez, preparou uma análise sobre as famílias dos senhores de engenho, a
relação da casa grande, do senhor e do espaço rural. Ela é uma obra memorialista onde o autor
da ênfase aos engenhos que pertenceram a sua família o Engenho Vassouras é um deles de
relevância na economia sergipana. Em vida Patriarcal Sergipana, o memorialista pretende
documentar a sua interpretação da civilização sergipana, as memórias sobre o engenho
Vassouras, bem como os troncos das principais famílias naquela época na província de
Sergipe Del Rey, da família Dantas, assim como de várias outras famílias da aristocracia
açucareira, a saber, Os Muniz Barreto, os Teles Barreto, os Cardosos, os Corrêa Dantas, os
Rollemberg, os Vieira Dantas, os Vieira de Melo, os Vieiras de Andrade, Os Gomes de Melo,
os Prados Barreto, os Faros, os Aciolys, os Meneses Barretos, os Azevedo Sá, Meneses
Sobral, Prados Trindade, a família dos barões de Itaporanga, Barão de Maruim, Barão de
Japaratuba e Barão de Estancia, entre outras45 situadas na região do Cotinguiba.
Em outra obra, O Problema Açucareiro de Sergipe 46, Orlando Dantas faz uma síntese dos
problemas açucareiros de Sergipe nos seus distintos aspectos, desde os primórdios de sua
história até a situação de declínio analisando os aspectos característicos do homem, terra, a
habitação, alimentação, o desenvolvimento dessa cultura do açúcar como era transportando e
sobre o processo da chegada da indústria, das usinas.

Em suas reflexões a lavoura era rudimentar e na indústria havia o estacionamento de


potencialidades produtivas logo os lucros eram quase nulos. Por outro lado, é importante ter
em conta que a produção açucareira é uma atividade de evidencia obvia de caráter social e a
ela cabem todas as responsabilidades sociais. Para isso podemos exemplificar as diferenças
entre a casa grande e a senzala, o senhor de engenho e o escravo logo podemos refletir que é
uma sociedade cheia de complexidades na cultura na economia e nas camadas sociopolíticos.

Podemos perceber uma forte influência de Gilberto Freyre na escrita de alguns autores
sergipanos, tais semelhanças se manifestam no modo como é descrita a casa grande, a senzala,

45
DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,
(1980. p.30).
46
DANTAS, Orlando Vieira. O Problema Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944. p.20.
36
e todo o conjunto estrutural do engenho. É perceptível na questão na relação das famílias
formando uma árvore genealógica das famílias dos engenhos da região do Cotinguiba e baixo
Cotinguiba e da região Vaza Barris. A vida patriarcal é uma fonte de acontecimentos e
realidades que serve até hoje para fornecer temas aos pesquisadores interessados em
desenvolver a história nessa temática.

Sendo assim, a cultura do açúcar como fonte para a escrita da historiografia é muito
significativa e abrangente todas as obras supracitadas tem seu contexto e suas peculiaridades,
contudo temos outras obras que também versam sobre o contexto das mulheres na corte do
Rio de Janeiro, a vida e as memórias do engenho Escurial, na corte, a educação das filhas do
proprietário de engenho as obras “Memória de dona Sinhá47,” “Memória de Aurélia48” e “A
Carta da Condessa49” são desdobramentos da tese de doutorado, obras de Samuel
Albuquerque versam sobre o contexto da aristocracia rural, bem como da vida privada do
cotidiano na corte do Rio de Janeiro, e a Carta da condessa versa sobre o contexto familiar,
relacionado principalmente as mulheres e sobre a educação das filhas da aristocracia
açucareira neste caso a educação das mulheres da família do Barão de Estância.

Outras características perceptíveis na obra de Gilberto Freyre como a questão do


cotidiano da casa grande e senzala, são os aspectos da formação da família atrelados às
modificações que retratam aspectos gerais do Brasil e indícios de particularidades regionais
que podem ser trabalhadas principalmente nas regiões de Pernambuco, Bahia e Sergipe
também são representadas nessa literatura. Um dos primeiros indícios referente à Sergipe em
Casa Grande Senzala é sobre o Engenho Caieiras na introdução da obra sobre a Capela.

“Nada mais interessante que certas igrejas no interior do Brasil com


alpendres na frente ou dos lados como qualquer casa de residência. Conheço
várias- em Pernambuco, na Paraíba, em São Paulo. Bem característica é a de
São Roque do Serinhaém. Ainda mais: a capela do Engenho, em Sergipe,
cuja fisionomia é inteiramente doméstica50.”

47
ALBUQUERQUE, Samuel Medeiros Barros de. Memórias de dona Sinhá. Aracaju.: Scortecci,2005.
48
ALBUQUERQUE, Samuel Medeiros Barros de. Memórias de Aurélia: Cotidiano feminino no Rio de Janeiro
do século XIX, São Cristovão/SE: Editora UFS, 2015.
49
ALBUQUERQUE, Samuel Medeiros Barros de. A carta da Condessa: família, mulheres e educação no Brasil
do século XIX. São Cristovão: Editora: UFS, 2016.
50
FREYRE, Gilberto, Casa Grande Senzala: Formação da família brasileira sob o regime da economia
patriarcal; São Paulo; Globo, 2006.
37
Temos outras características abordadas na literatura de Freyre, pois são muitas pistas
deixadas pelo autor sobre as possibilidades de estudos acerca da escravidão, economia,
cultura e temas afins que não temos como versar neste trabalho, mas sua obra mesmo sendo
um clássico também foi submetida a críticas e abordagens por diversos autores do Brasil e do
exterior e está sujeitas a outros olhares e interpretações.

Albuquerque faz análise do período de Sergipe Imperial, onde consulta documentos


sobre o cotidiano da aristocracia açucareira em particular da família de Dona Sinhá das
memórias escritas por Aurélia Dias Rollemberg proprietária do Engenho Escurial localizado
na região do Vaza Barris; O autor além de refletir sobre o universo feminino no contexto da
Sociedade Sergipana traz à tona as relações amorosas, politicas memorialísticas das famílias
dos dias coelho de Melo e dos Rollemberg. Albuquerque segue os passos de Gilberto Freire
como fez em Casa Grande e Senzala quando recupera a história da vida e do cotidiano das
famílias da aristocracia açucareira do Nordeste.

Na historiografia sergipana são diversas as obras que versam sobre várias temáticas
voltadas aos tempos do açúcar. Entre elas, destacamos o trabalho de José Modesto dos Passos
Subrinho, “Reordenamento do trabalho escravo e trabalho livre no Nordeste açucareiro de
Sergipe (1850-1930),” visto que está que se constitui como um referencial pela valiosa
contribuição histórica econômica acerca de Sergipe, e nos permite uma relação com dados
mais significantes e preciso se tratando da produção canavieira do período por ele analisado
com suas possíveis mudanças estrutural.

Outra obra de sua autoria tem o título de “Os classificados da escravidão” /


organizador, Josué Modesto dos Passos Subrinho. Aracaju: Instituo Histórico e Geográfico de
Sergipe, 2008. Obra está voltada para fornecer pistas sobre quem é quem entre o patronato
escravocrata, bem como suscitar outros temas relacionados sobre as famílias de escravos e as
relações senhores de engenho e escravo. Trouxe grande contribuição na área econômica foi
Josué Modesto dos Passos Subrinho51, com sua obra que preenche as lacunas da história da
economia de Sergipe legitimada com base em ampla documentação sendo assim faz com que
compreendamos a gênese das desigualdades regionais e formação e continuidade dos

51
PASSOS, Subrinho, Josué Modesto dos. História Econômica de Sergipe (1850-1930), São Cristovão:
Programa de Programa Editorial da UFS, 1987.
38
complexos econômicos. Em sua tese de doutorado transformada em livro Josué Modesto
Passos Subrinho analisa a crise do escravismo e a sua transição ao trabalho livre em Sergipe.

Ao investigar sobre o processo de reordenamento52 do trabalho, ele trouxe várias


explicações acerca das opções de trabalhos e as possíveis dificuldades dos proprietários em
atrair força de trabalho, inclusive quando os centros de produção se modernizavam e as
parcelas da população permaneciam na agricultura de subsistência.

A historiografia sergipana é muito diversificada, contudo queremos que o leitor entenda


que o nosso objetivo não é versar sobre todas as obras e respectivos autores, mas, fazer um
panorama geral das obras da nossa historiografia com temáticas especifica e relacionais com a
nossa pesquisa. Logo ainda sobre as lentes de Maria Thetis Nunes 53 obra que é exemplar no
âmbito do didatismo e no amadurecimento das reflexões teóricas metodológicas a autora teve
a oportunidade de na introdução do seu livro Sergipe Colonial II versar sobre a síntese da
história de Sergipe, desde os tempos coloniais até o século XX, analisando a visão histórica
da totalidade, sendo que a mesma tenta compreender problemas que perpassam a vida
sociopolítica sergipana até os dias atuais.

Nesta obra Nunes menciona a questão do ócio e da preguiça e da carta do arcebispo da


Bahia. Alegando que a perda de um cativo para os senhores sergipana, portanto, significava
um prejuízo expressivo de seu patrimônio. Outras fontes que foram relevantes para a nossa
pesquisa foram às revistas Brasil açucareiro (1935-1970) pertence ao acervo da biblioteca
pública Epifânio Doria, a mesma nos fornece dados acerca da cultura do açúcar,
principalmente sobre a existência e importância da economia e da exportação para toda a
Europa até o surgimento do açúcar de beterraba nas Antilhas.

Estas revistas aborda a legislação vigente, modificada naquele contexto histórico de


produção açucareira, controlando assim a produção das unidades produtoras; também informa
sobre a produção nacional dos engenhos de norte a sul, onde havia engenhos que foram
registrados pelo Instituto do Álcool e do Açúcar, nestas revistas são pontuadas às causas e
consequências de problemas nas safras como a praga da cigarrinha em Sergipe, Paraíba e em
outros estados, assim como o registro das secas repercutindo na economia das elites rurais

52
PASSOS, Subrinho, Josué Modesto dos. Reordenamento (do trabalho: trabalho escravo e trabalho livre no
Nordeste açucareiro, Sergipe, 1850-1930). Aracaju: FUNCAJU, 2000.
53
NUNES, Maria Thetis, Sergipe Colonial II, (1840- 1889), Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro 2006.
39
inclusive temos também informações sobre engenho Oitocentas que é o objeto no nosso
estudo.

Na tentativa de suprir uma lacuna em nossa história, Fernando Sá54 (2013.p.92),


afirma que os anos de 1970 foram importantes, pois marcam o início da produção dos
primeiros textos de Historiografia Sergipana, portanto, nesta pesquisa estabeleceremos um
panorama historiográfico partindo da obra: Introdução aos Estudos da Historiografia
Sergipana, de José Calazans Brandão Silva texto encomendado para a apresentação do V
Simpósio de História do Nordeste (1973) traz um cenário da produção historiográfica
Sergipana até sua época década de 70 do século XX. Ele um pesquisador que continuará
como exemplo para os futuros trabalhos.

Importante perceber que, Calazans fala a partir do lugar institucional, do Instituto


Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), ou seja, faz com que ele fale a partir da comunidade
de historiadores baianos, de acordo com Antônio Lindvaldo Sousa55. Calazans foi conhecedor
do passado sergipano, procurava uma escrita da história mais profissional, científica, buscava
as evidências do passado utilizando documentos; ele institui a historiografia sergipana até seu
tempo compreendida em quatro fases.

Ele constituiu o modelo de periodização da historiografia, vale salientar que as obras


desses períodos nem todas fazem parte da história da cultura do açúcar, estamos tratando da
obra desse autor por ser perpetuar como balizadora, contudo nortearemos nossa revisão
historiográfica nos autores que tratam sobre a temática ou contexto referente aos engenhos e
áreas afins.

Vale salientar que com o surgimento do IHGS (Instituto Histórico Geográfico de


Sergipe) em criado em 1912 dar-se a instauração da terceira fase que está subdividido em
momentos, estes tiveram característica formidável que foi a produtividade dos autores,
somando-se a isso que o IHGS era participante ativo da vida cultural da comunidade
sergipana o que agregou nessa instituição uma nova geração de estudiosos da história de
Sergipe sendo assim para essa fase podemos relacionar os seguintes autores: Clodomir Silva,

54
SÁ, Antônio Fernando de Araújo- Capítulos de história da historiografia sergipana/ Antônio Fernando de
Araújo Sá. – São Cristovão, Editora UFS; Aracaju, IHGSE, 2013.
55
SOUSA. Antônio Lindvaldo. História e Historiografia Sergipana: notas para reflexão. São Cristóvão: CESAD,
2013. p.85.
40
com a obra Álbum de Sergipe (1920, p.), descreve sobre alguns locais que foram importantes
centros econômicos da monocultura do açúcar como Rosário do Catete, Japaratuba,
Riachuelo, Maruim, Laranjeiras conhecida por serem os centros de grande produção do
açúcar, transporte, clima, tipos de solo a fauna e a flora de cada localidade, a parte da
hidrografia importante para o escoamento da produção do açúcar, ou seja, ela faz um
panorama de cada município da microrregião do Cotinguiba.

Outro momento dessa terceira fase foi o surgimento de novos escritores a exemplo o
próprio José Calazans Brandão Silva56, De acordo com Calazans, os exemplos são muitos ao
longo desse panorama historiográfico é no terceiro momento dentro da terceira fase podemos
pontuar autores, a saber, a professora Maria Thetis Nunes57, Orlando Dantas58.

A historiografia também nos aponta para a obra de Gadiel Perucci, em “A república


das usinas: Um estudo da história social econômica do nordeste59” – que trata de informes e
considerações, calcadas na reconstrução histórica, com suas vertentes para a economia, e
retratando as mudanças da aristocracia açucareira com a crise das unidades açucareira passam
de engenho a usina. E alguns não tendo capital simbólico chegam ao fechamento de seus
engenhos tornando-os de fogo morto, ou seja, plantam e repassam para outras usinas
fabricarem o açúcar.

Destaque ainda para o livro da historiadora Sura Souza Carmo “Doce Província?: O
cotidiano escravo na historiografia sobre Sergipe oitocentista (2007)”, onde ela questiona
sobre o cotidiano escravo na historiografia, sobre Sergipe oitocentista a autora faz uma
revisão historiográfica de grande relevância para outros pesquisadores abordando sobre a
questão da escravidão, contudo nesta revisão surgem os temas sobre cultura do açúcar ou
relacionado e ele, de maneira que deixa pistas notas em relação à historiografia sergipana
entre uma obra que é citada temos assuntos referentes a questão da aristocracia rural em
Sergipe. Ela pontua que há um distanciamento muito grande entre as obras historiográficas.

56
CALAZANS, José. Introdução ao estudo da historiografia sergipana. In: Aracaju e outros temas sergipanos.
Aracaju: FUNDESC, 1992.
57
NUNES, Maria Thetis, Sergipe Colonial II, (1840- 1889), Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro 2006.
58
DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,
(1980).
59
PERRUCCI, Gadiel. A república das usinas: um estudo de história social e econômica do Nordeste, 1889-
1930. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
41
Todavia, essas obras sempre se relacionam, pois servem de referencial para
historiadores e pesquisadores, as mesmas, ao longo do texto vão pontuando e deixando pistas
e veredas a serem exploradas. Esta obra a mais recente da historiografia sergipana publicada
em 2017 pelo IHGSE (Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe).

Não poderíamos deixar de observar o conjunto de monografia dos principais


historiadores de Sergipe, propondo cada metodologia de análise em que se baseia nos
conceitos e definições de obras, autor e seus contextos entre elas citamos as monografias e
dissertações de mestrado, pois também são fontes importantes na área de na história assim
podemos citar a dissertação de mestrado Renaldo Ribeiro Rocha (2004)60, nela o autor versa
sobre os engenhos sergipanos em sua materialidade, relata o processo de produtividade,
implantação e dos engenhos no século XIX, fazendo um quadro das transformações
ocorridas na produção açucareira desde o processo de fabricação até o escoamento do
produto para exportação. Sendo que para uma melhor compreensão do universo açucareiro
foi analisada a organização espaço temporal do engenho e o seu papel.

Através do contato com a monografia de Leonice Pereira dos Santos (2017)61,


analisamos o sequestro de uma filha da elite da aristocracia açucareira nessa pesquisa os
testemunhos e as narrativas produzidas sobre o rapto da jovem Joana Ladislau de Faro Jurema
(1849-?), ocorrido no ano de 1864, no engenho Massapê, termo de Laranjeiras, na província
de Sergipe. A menor contava com apenas 15 anos de idade fora raptada por Braz de Maciel,
rapaz também oriundo da elite açucareira sergipana. Após 21 dias de perseguições entre
matas, canaviais, sítios e engenhos houve o desfecho e foi fartamente noticiado pela imprensa
sergipana é fluminense.

A partir da historiografia esta pesquisa procurou analisar obras do século XIX e do


século XX, sobre os tempos do açúcar, numa busca de testemunho documental, pelo cotidiano
do engenho de açúcar e as relações comerciais e sócias da família patriarcal e assim legitimar
nossa pesquisa, pois esse campo é complexo e amplo, com fontes ainda pouco exploradas e
que podem revelar aspectos singulares do lugar de memória.

60
ROCHA, Renaldo Ribeiro. O engenho sergipano na sua materialidade: Escurial, um estudo de caso (1850
1930). 2004. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal de Sergipe.
61
SANTOS, Leonice Pereira dos. O rapto da Jureminha: testemunhos e interpretações sobre um crime na
província de Sergipe (1864-2009). São Cristóvão, SE, 2017. Monografia (Graduação em História) -
Departamento de História, Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de Sergipe, São
Cristóvão, 2017.
42
Importante percebermos que somente no século XIX, foi definida a ocupação para
produção agrícola em Sergipe, isso devido a excelente ajustamento dos solos para a criação do
gado que foi direcionada para o interior e para os sertões e a faixa litorânea e zonas com os
cursos fluviais foram adequadas possibilitando a monocultura da cana de açúcar e o
surgimento dos engenhos. Conforme Maria da Glória Santana de Almeida é difícil fazer a
conta dos números de propriedades canavieiras existente na província de Sergipe, nos idos da
segunda metade do século XIX devido à ausência de registro de terras.

Há uma delimitação das áreas para a produção canavieira e os vales da Cotinguiba,


Vasa Barris e Piauí foram ocupados pela monocultura da cana de açúcar sendo que cada uma
dessas áreas teve senhores de engenhos mais afortunados e engenhos que denotavam mais
notoriedade por serem opulentos e os seus proprietários tiveram prestígios e foram lembrados
pela historiografia, outros foram silenciados pelo tempo apesar de terem pertencido ao mesmo
contexto político, social e econômico.

43
II
ROSÁRIO DO CATETE: O LUGAR DO LUGAR

A seguir, faremos uma análise possível sobre o surgimento das unidades açucareiras
em Sergipe, quando necessário num comparativo com os engenhos da Bahia. Nesse sentido,
buscou-se conhecer o lugar do lugar, onde estavam localizadas as unidades açucareiras no
baixo Cotinguiba e assim passamos a conhecer a origem do município, emancipação política e
desenvolvimento sócio político cultural de Rosário antiga freguesia e vila na província de
Sergipe e posteriormente município de Rosário do Catete/SE.

O exemplo de distribuição de terras feito no território brasileiro foi o responsável pelo


surgimento dos grandes domínios territoriais, as famílias que se notabilizaram durante o
processo de colonização passaram a acumular-se de várias sesmarias, quer para a implantação
de engenhos ou em lugares não apropriado ao cultivo da cana de açúcar escolheram a criação
do gado extensivo.

Portanto, por várias gerações deu-se progressiva concentração de terras nas mãos de
poucas famílias, responsáveis pela produção do açúcar nos séculos iniciais da colonização das
terras da colônia portuguesa desde o século XVI ao XIX, nas áreas litorâneas como Bahia, em
Pernambuco com maior eficácia, na segunda metade do século XVIII, em Sergipe nesse
mesmo século estendendo-se até século XX com o declínio das usinas.

A ocupação da região que hoje compõe o estado da Bahia ocorreu de forma gradativa,
contudo foi no Recôncavo Baiano que aconteceu a maior área de produção de cana de açúcar,
vejamos o que nos informa Antônio Carlos do Amaral Azevedo (1994). 62

“Com uma área de aproximadamente 10.400km², formada na maioria por


terras baixas, abertas para maior baía da costa brasileira, com quase 750 km²
de águas salinas e 190 km de costa. A rede fluvial do Recôncavo é formada
pelos rios Paraguaçu, Açu, Subaé e Jaguaribe, que desaguam na baía e pelos
rios Pojuca, Jacuípe e Joanes, que desaguam diretamente no Oceano
Atlântico (p.18).”

62
AZEVEDO, Antônio Carlos do Amaral. Dicionário de nomes, termos e conceitos históricos, Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1990.
44
A Bahia, com solos férteis tipo massapê, com vegetação de Mata Atlântica que
margeava toda a costa e o Recôncavo, tinha condições favorável para o desenvolvimento da
produção açucareira que caracterizou a atividade econômica. As primeiras notícias sobre a
implantação de engenhos na região estão ligadas ao processo de ocupação das terras, com o
surgimento das primeiras vilas: Nossa Senhora do Porto de Cachoeira; São Francisco da Barra
do Conde, Itaparica como porto de produtos de subsistência. Durante o século XVIII, a
atividade praticada nesta região foi em escala de produção comercial dos seguintes produtos:
fumo, mandioca, além da extração de madeira e a criação de gado.

Durante os três primeiros séculos da colonização, isto é, até os idos do século XIX, a
atividade agrícola foi a maior responsável pela localização e desenvolvimento de povoações
no Recôncavo Baiano, ou seja, vinculada a produção ou ao transporte. A rede de cidade da
região se originou e sua hierarquia se estabeleceu em função da cultura canavieira.

Ao fazermos um comparativo dos engenhos da Bahia do século do início da


colonização com os do século do final XVIII e XIX há uma distinção acentuada, pois, as
propriedades eram menores, devido às partilhas por questões de herança, como também pelo
problema com a infertilidade das terras, causando uma menor produção. No início da
produção açucareira em algumas partes da região do Recôncavo Baiano, segundo Stuart
Schwartz, os Engenhos da Bahia praticavam a policultura63. Foram introduzidos outros
produtos além do açúcar, tais como, o arroz, gengibre, hortaliças, mandioca entre outros
produtos sendo agricultura de subsistência.

Nesse período, os proprietários de engenhos conviveram invariáveis de toda sorte.


Essa inconstância causou, no século XIX, a necessidade de buscar novas formas para
enfrentar concorrências internacionais. É nesse período que surge a introdução da máquina a
vapor como resposta as novas exigências no final daquele século.

“Nessa medida, o engenho deu lugar às usinas de açúcar, para usarmos uma
expressão corrente que nem sempre consegue apreender a natureza dessa
transformação, já que boa parte da bibliografia acaba reduzindo o problema
a discussões do tipo: formas arcaicas e pré-capitalistas de produção versus
produção capitalista. Muito pelo contrário, o que esteve em jogo nessa
transformação não foi à passagem de uma organização social do trabalho
pré-capitalista para uma organização capitalista do trabalho, mas sim o modo

63
SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550-1835. São Paulo:
Companhia das Letras, 1988, p. 83.
45
pelo qual no interior da organização social capitalista do trabalho, já no
século XIX, determinadas formas se impuseram sobre outras – a usina de
açúcar superou o engenho64.”

Grande parte do funcionamento da economia da Bahia esteve relacionada com o


comércio internacional e antes de salientarmos sobre o comércio seu apogeu e declínio
apresentaremos alguns fatores que complicaram o desenvolvimento da produção açucareira
tanto na Bahia como em Sergipe e outras áreas do Brasil. A complexidade de manter um
engenho, a variedade de serviços de mão de obra especializada e a ausência da uma indústria
doméstica de refino do produto.

Diante da complexidade e magnitude desse comércio implicavam também as grandes


exigências dos mercados consumidores e exportadores. Essa ausência total de refinaria fazia
com que os preços do açúcar se tornassem onerosa.

Em meados do século XVIII a economia açucareira baiana passou por um processo de


estagnação, apesar da insegurança e rotatividade dos preços e das vendas das propriedades
pelos senhores de engenhos, a região da Bahia, principalmente do Recôncavo, foi o lugar de
maior concentração da produção açucareira e mesmo com as baixas dos preços do açúcar o
Recôncavo conferiu a Salvador sua existência econômica e estimulou a colonização e
produção açucareira fez com que seus senhores de engenhos dominassem a vida social e
política.

Compreendemos que o funcionamento da economia açucareira brasileira e suas


regiões produtoras como a Bahia, Sergipe estiveram sempre relacionadas ao mercado
internacional e aos mutáveis padrões políticos e econômicos no mundo Atlântico.

Desde os tempos da colonização do Brasil, a Bahia tentou a conquista de Sergipe Del


Rey, mas a efetiva penetração na área, só aconteceu segundo duas décadas mais tarde. Com o
surgimento da povoação de São Cristovão e logo após a transferência para outro lugar mais
vantajoso65. A produção do açúcar e a parte da produção de Sergipe El Rey eram geralmente
calculadas como sendo parte do total da cotação de produção da Bahia, em outras palavras

64
DECCA, Edgar de. O nascimento das fabricas. São Paulo: Brasiliense, 1998. Coleção Tudo é História, 88.
65
Acreditamos que esse lugar seja a atual capital Aracaju que foi projetada para ser a capital, compreendia o
presidente em exercício Inácio Barbosa a importância dessa mudança que ocorreu em 17 de março de 1855 pois
tinha uma melhor posição geográfica e também facilitou o escoamento dos produtos exportados principalmente a
produção açucareira. Medida sancionada pela resolução de número 413.
46
Sergipe era de fato, uma extensão da economia da Bahia, apesar de haver as diferenças em
relação aos engenhos que eram menores. No início do século XIX, foram arrolados 163
engenhos próximos à voz do rio Cotinguiba em Sergipe El Rey e sua produção perfaziam
25% da produção da Bahia.

Esses lugares estavam ligados no passado, pois Sergipe fazia parte da capitania da
Bahia de Todos os Santos, ai deu início à atividade econômica de produção do açúcar, e a
construção de engenhos, além da sede da capitania conhecida como Vila Velha do Pereira
contando com o auxílio do náufrago Diogo Álvares Caramuru, contudo a administração
mostrou-se incapaz de controlar os ímpetos dos colonos como afirma Stuart Schwartz 66.

“(...) não foi capaz de controlar a cobiça e o ímpeto dos colonos. As


depredações destes últimos levaram os índios a sitiar o pequeno povoado, o
que por sua vez provocou desistências entre os portugueses. Pereira
Coutinho e seus seguidores foram forçados a refugiar-se em Porto Seguro, e
quando tentaram retornar a Baía de Todos os Santos no ano seguinte, um
náufrago levou-os á morte nas mãos dos índios da ilha de Itaparica
(SCHWARTZ, 1988, p.34). ”

A primeira tentativa de conquista do território da atual Sergipe foi propiciada entre


índios e os portugueses e teve a participação da presença da companhia de Jesus 67 que
adentraram além das terras do rio Real e em 1575, com a missão de catequizar os habitantes
indígenas tarefa confiada ao padre Gaspar Lourenço e ao irmão João Salônio, fundadores das
missões das:

“Missões de São Tomé, seis léguas distantes do rio Real (onde


possivelmente se localizava a cidade de Santa Luzia). Uma pequena igreja
de pindoba foi erguida e consagrada a Nossa Senhora da Esperança.
Surgiram-se as missões de Santo Inácio, 10 a 12 léguas para o norte ás
margens do Vaza-Barris (provavelmente no local da cidade de Itaporanga),
nas terras do cacique Surubi, e a de São Paulo, junto ao mar, região do

66
SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550-1835. São Paulo:
Companhia das Letras, 1988, p.34.
67
Companhia de Jesus uma ordem Religiosa fundada por Inácio de Loyola. Dicionário Aurélio Buarque de
Holanda Ferreira Editora Nova Fronteira 5ª Ed. Rio de Janeiro-2004. Companhia de Jesus tornou-se um dos
principais movimentos de reforma religiosa tendo sido uma das ordens mais importantes na formulação da
resposta ao protestantismo produzido durante o Concílio de Trento.
47
Cacique Serigi. Nessas aldeias agregou-se numerosa população indígena
liderada pelos caciques Serigi, Surubi e Aperipê, este dominando as terras
entre o rio Real e o Vaza-Barris. Os padres começaram a ensinar a doutrina
cristã, e a missão de São Tomé o padre Gaspar Lourenço abriu uma escola
para as crianças, denominada São Sebastião, tendo coo professor o padre
João Salônio68.”

Ainda segundo Thetis Nunes,

“(...) arruinaram-se totalmente, os trabalhos do rio Real. O governador veio


com tropas para abater os índios de Aperipê e ao aproximar-se da aldeia de
Santo Inácio fogem seus habitantes. Ele considera a fuga uma quebra de paz,
persegue-os. Surubi morre os demais se entregam. Cativa todos e os
encurrala na igreja de São Tomé como cárcere. Os soldados assolam tudo
quanto encontram e os arrastam para a Bahia de modo que o resultado de
tantas esperanças foi o cativeiro de mil duzentos transportados para a Bahia
que Deus com a morte se serviu de libertar dentro de um ano do cativeiro. A
varíola e o sarampo teriam dizimado metade deles69. ”

A luta entre as tropas do governo e os nativos causou uma baixa nas aldeias indígenas
e os sobreviventes fugiram para os sertões. Com o desenvolvimento dos maiores centros
produtores de cana de açúcar na região (salvador e Pernambuco), houve a necessidade de uma
ligação por terra entre essas regiões, mas passar por Sergipe implicava em corre todos os
riscos. O governo português nomeou Cristovão de Barros como responsável pela conquista de
Sergipe e nessa etapa que foi empreendida a guerra justa70 e a “destruição dos elementos e
indivíduos que pudessem ser inimigos ao desenvolvimento do povoamento e da conquista
definitiva do território Cristóvão de Barros levanta um forte e junto a ele deu o nome de
Cidade de São Cristovão .
As medidas por ele adotadas tinham caráter funcional e estabeleceram dessa forma os
alicerces da nova capitania a qual denominou Sergipe Del Rei, está doada ao pelo Rei Felipe
II, com recomendações que fossem criadas povoações e iniciadas a distribuição de sesmarias

68
NUNES, Maria Thetis. Sergipe Colonial I. Aracaju: Universidade Federal de Sergipe /Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro (1989 p. 21-22).
69
NUNES, Maria Thetis. Sergipe Colonial I. Aracaju: Universidade Federal de Sergipe /Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro (1989 p.22-23, 29).
70
FRANDESCO, Sacchino. História Societatis Jesú. In: Antônio Henrique Leal. Apontamentos para a História
da Companhia de Jesú. Maria Thetis Nunes. 2006. op.cit, p.26.
48
que inicialmente foram empregadas para a criação de gado, mulas, além de roça para o cultivo
do milho, arroz, feijão, legumes e aves para o consumo doméstico.
A partir do século XVIII, há uma modificação nas atividades econômicas em Sergipe
passando a cultura da monocultura da cana de açúcar ocupar mais espaços outrora destinados
aos currais como escreve Felisbelo Freire (1977): “O sergipano antes de ser agricultor foi
pastor71”. Também acrescenta que antes da região ser colonizada os fazendeiros baianos
desenvolveram a criação de gado.

Em Sergipe, houve um aumento significativo do número de unidades produtoras de


açúcar, graças a uma divisão das antigas propriedades e uma maior flexibilidade da lei que
regulamentava a distância entre os engenhos. As questões financeiras do final do século XIX,
a baixa cotação do açúcar e a concorrências dos grandes mercados consumidores na América
Central como já mencionou, e além das dificuldades locais, deficiências no transporte e os
altos custos da produção, fizeram que os comerciantes que compravam o açúcar nordestino
optassem pelo que era produzido mais próximo dos grandes centros, isso ocasionou uma
redução na produção do açúcar nordestino.

Na região de Sergipe, podemos perceber na obra de Maria da Glória Santana de


Almeida72, um aumento no cultivo da cana de açúcar a partir do século XVIII, é notório
também que no século XIX, causado pela alta do preço do açúcar no mercado internacional
este século é tido como o auge da produção do açúcar no nordeste quanto em Sergipe, sendo
testemunhado através da expansão da área de cultivo, do aumento do número de engenhos. O
predomínio do açúcar imprimiu a concentração da riqueza em mãos de quem possui terras e
escravos ditando assim a posição de cada indivíduo na sociedade.

Dados indicam, numa comparação entre a Bahia e Sergipe Del Rey, o aumento do
número de engenhos embora variem as estimativas de produção a tendência de expansão e
criação de novas unidades é clara tanto na região baiana como em Sergipe, uma estimativa de
1818 indicava que existiam 325 engenhos na Bahia e 156 em Sergipe Del Rey, totalizando um

71
FREIRE, Felisbelo. História de Sergipe. 2. Ed. Petrópoles: Vozes, 1979. Em convênio com o governo do
estado de Sergipe 1977.
72
ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Nordeste Açucareiro (1840.1875), Num Processo do vir a ser
capitalista, Aracaju, UFS/SEPLAN/BANESE, 1993.
49
total de 511 engenhos e em 1834 contava com 603 unidades para ambas as regiões 73. De
acordo com Stuart Schwartz (1988, p.346).
O autor fornece, ainda, uma análise minuciosa sobre o trabalho nos engenhos baianos
e estendendo também para os de Sergipe El Rey, o mesmo versa sobre a região, a história da
economia açucareira e acerca da fabricação do açúcar e seus detalhes que não iremos adentrar
nesse víeis.

Em relação aos engenhos surgidos nessa época apresentam semelhanças, quanto aos
elementos e ordem material, se comparado àqueles existentes em séculos anteriores, pois as
inovações experimentadas por este setor produtivo foram quase imperceptível, era menos
arriscado permanecer com as técnicas antigas e assim alguns proprietário de engenho
negligenciaram as novas tecnologias que começavam a apontar no cenário sergipano na
segunda metade daquele século (DANTAS, 1944)74.

Segundo Maria Lucia Marques Cruz Silva, processo de povoação de Rosário do Catete
se dá mediante a conquista do território de Sergipe (2000, p.14). Ela versa sobre a formação
histórica desse município que se concretiza com a vinda do português Cristovão de Barros75
que ao colonizar Sergipe fez doação de sesmaria, a seu filho Antônio Cardoso de Barros para
dividir com as pessoas que participaram das lutas contra os indígenas, vencidas os combates e
morto o chefe da tribo local o cacique Siriri trataram de ocupar as terras como fizeram em
toda extensão da costa brasileira, essa ocupação trouxe como consequência o desmatamento
das plantas nativas.

Observa-se que a terra será apropriada para o plantio da cana de açúcar, o que fez com
que os colonizadores importassem de imediato à mão de obra escrava para a produção do
açúcar o que viria constituir a base econômica da região.
Desse modo, as margens do rio Siriri a primeira ocupação se deu nas terras que
pertenciam ao Engenho Jordão de Propriedade naquela época do senhor Jorge Almeida
Campos, este por iniciativa dos escravos fez uma doação de uma área de terra a fim de que
fosse construída uma capela para a imagem de Nossa Senhora do Rosário. A citada imagem

73
SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550-1835. São Paulo:
Companhia das Letras, 1988.
74
DANTAS, Orlando Vieira. O Problema Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944
75
Cristóvão de Barros era filho de Antônio Cardoso, que vieram na expedição de Tome de Souza para ocupar o
cargo de provedor-mor, mas quando retornavam para Portugal, em companhia do bispo D. Pedro Fernandes
Sardinha, o navio em que estava naufragou nas costas de Alagoas, tendo sido eles devorados pelos índios Caetés.
50
fora encontrada pelos escravos naquelas proximidades, o que proporcionou o começo da
religiosidade dessas pessoas que contribuíram para o início da organização social e religiosa
dos novos habitantes.
Ainda de acordo com Maria Lucia Marques Cruz Silva 76, quando a povoação de
Rosário surgiu já existia a Vila de Santo Amaro das Brotas, está vila exerceu por muito tempo
em toda a área o domínio administrativo e político, e com grande influência nos interesses da
Província de Sergipe, isso devido à localização do Porto das Redes local por onde escoava a
grande produção de açúcar da Cotinguiba.
Para Clóvis Bomfim77, em determinado período da história, Santo Amaro das Brotas
enquanto vila constitui um aspecto bastante diversificado, o que ajudou a diferenciar-se das
demais vilas e povoações por ter uma lista de itens apreciáveis para a economia, ou seja,
produzia anualmente: “40 mil arrobas de açúcar, 20 mil canadas de mel, 5.500 canadas de
aguardente, 10 mil alqueires de farinha, 3 mil alqueires de mamona e 100 mil cocos”.

Nessa Região temos o lugar do lugar, o espaço de recordação e lugares de memórias


com suas testemunhas vivas de um passado próspero para a aristocracia açucareira, como
veremos os municípios que foram de grande relevância para a economia entre eles Laranjeiras
tornou-se uma das vilas importante com seus engenhos Retiro, Comandaroba, Palmeira e um
bom comércio.

Na mesma região, outras vilas de relevância como a vila de Maruim que tinha uma
posição geográfica favorável às margens do Rio Ganhomoroba que fazia caminho para Siriry,
Rosário do Catete com seus vários engenhos Paty, Caraíbas, Cumbe, Santa Barbará, Jurema
Catete Velho, Jordão, Serra Negros e vários outros menores como Catete novo, Oitocentas
etc. Japaratuba com o Engenho Santo Clara, em Riachuelo o engenho Central, Capela o
engenho Proveito na vila de Maruim engenho Pedras, Unha de Gato, Periperi e também
existia muitas casas estrangeiras de comércio de importações e exportações.

Por dificuldades de interligação entre essas vilas com a capital da província nessa
época, São Cristovão, as vias de transportes eram precárias, o que dificultava o escoamento da
produção açucareira para exportação, apesar de sabermos que a hidrovia da região tinha

76
SILVA, Maria Lucia Marques Cruz e. Rosário do Catete / Maria Lucia Marques Cruz e Silva – Aracaju:
Prefeitura Municipal de Rosário do Catete, 2000.
77
BOMFIM, Clóvis, “Haveres do século XIX - Santo Amaro, no Obscurantismo á Luz da História, EDISE,
Aracaju, (2013, p.148).
51
vantagem logística excelente, os rios Cotinguiba e Sergipe, Japaratuba, Pomonga e
Ganhomoroba foram um dos fatores decisivos para o tráfego da produção, importação e
exportação de produtos da cultura açucareira.

Maruim era uma povoação subordinada também à vila de Santo Amaro das Brotas, no
ano de 1828, e teve sua sede administrativa transferida para Rosário, por ordem do governo
Provincial, para que os ânimos das lideranças locais se acalmassem. Em 1831 passou a
Freguesia de Nossa Senhora do Rosário, época em que foi criado o distrito municipal por
decreto de 12 de outubro de 1831.
No Álbum de Sergipe de Clodomir Silva (1920, p.266,267), nos informa que “em
meio as agitações em que se debatia a Província nos primeiros anos da sua vida, Rozário do
Catete foi elevada a freguesia e villa por acto de 3 de fevereiro de 1831, com a transferência
da sede da villa de Santo Amaro, que então se achava localizada em Maroim78”.
Rosário do Catete permaneceu freguesia por pouco tempo, pois em 8 de maio de 1833
foi deliberada pelo conselho do governo a volta da vila para Maruim. Contudo, não tardou
para que voltasse a ser vila, por força da lei em 12 de março de 1836, foi traçado seu limite.
Nasceu, assim, a vila de Rosário do Catete, por Lei provincial, como resultado da Revolta de
Santo Amaro das Brotas contra Maruim e Rosário79 como veremos na citação abaixo:

“Art.1ª – Fica erecta em villa a povoação de Nossa Senhora do Rozário,


desmembrada do termo da villa de Santo Amaro, com a denominação de
Villa de Nossa Senhora do Rozário do Cattete: Seu termo dividido da
maneira seguinte: Do rio Seriry onde faz a barra no Japaratuba, por ele
acima seguira a divisão de Santo Amaro; indica no art.3 desta Lei, até o
pasto cannabrava, e dahi seguirá a estrada que vai para o engenho Tira-
vergonha, deste para estrada que vai para o engenho Canoa, ao sítio
Sambambaia, a encontrar o rio Siriry, e por este acima até o engenho
Piranhas, deste ao Araticum e deste seguirá a estrada do engenho Taquari, ao
da Palma e daqui ao do Jenipapo e salobro, donde seguirá que vai pelo sitio
Tabocas ao tanque das Lages, e pelo seu sangradouro, a meter no rio
Japaratuba-mirim, e por este abaixo até a barra do rio Siriry onde
principiou.80”

78
SILVA, Clodomir, Álbum de Sergipe (1920. P.266,267).
79
SILVA, Maria Lucia Marques Cruz e. Rosário do Catete / Maria Lucia Marques Cruz e Silva – Aracaju:
Prefeitura Municipal de Rosário do Catete, 2000.
80
SILVA, Clodomir, Álbum de Sergipe (1920. p, 267).
52
O município que foi criado pela Lei Provincial de 12/03/1836, sancionada pelo Presidente
da Província de Sergipe Dr. Bento de Melo Teixeira, elevando à categoria de vila a povoação
de Rosário, com denominação de Vila de Nossa Senhora do Rosário, desmembrada do termo
da Vila de Santo Amaro.

Sua divisão administrativa se deu em 1911 e por decreto de 12 de junho de 1932 foi
elevada à categoria de cidade. Contudo houve uma incoerência com as leis federais em
relação ao topônimo das cidades e vilas brasileiras, de modo que as disposições do Decreto-
Lei Estadual n 377, de 31 de dezembro de 1943, o município passou adotar oficialmente
o topônimo de Rosário do Catete81.

De acordo com Luiz Antônio Barreto82 (2009), faz uma análise do livro de Clodomir
Silva já mencionado nas páginas anterior onde afirma que Rosário tinha 21 mil habitantes,
distribuídos na sede do município e nos povoados, incluído os que perderiam como Carmo,
atual cidade de Carmopólis, Marcação que se tornou Município de General Maynard, perdeu
também o povoado Aguada para o município de Carmopólis.

Hoje os termos de Rosário concentram-se na sede do município e o povoado Siriri Zinho


após muitas disputas territoriais ficou limitando-se a leste do estado com Carmopólis, Capela,
Siriri, a oeste com Divina Pastora e Maruim, e a leste com General Maynard, e ao Sul com
Santo Amaro das Brotas quanto ao acesso à cidade pela BR- 235 e BR-101, num percurso de
37 km da capital. Rosário do Catete se destaca também pela sua religiosidade seu comércio e
pela sociedade patriarcal de uma monocultura açucareira com seus senhores de engenhos,
vejamos a seguir seus aspectos religiosos.

De acordo com Nunes,83 no texto “As irmandades em Sergipe: Devoção e Cor, a


irmandade de Nossa Senhora do Rosário e ou São Benedito” (NUNES, p.6.2015). Afirma que
as irmandades estavam instaladas em Estância, São Cristóvão, Laranjeiras, Vila Real (atual
Neópolis), Rosário do Catete e Aracaju.

81
Enciclopédia dos Municípios – FIBGE- Vol. XIX – Sergipe 1956.
82
BARRETO, Luiz, Antônio, com a colaboração de NASCIMENTO, Jorge Carvalho do – EDELZIO VIEIRA
DE MELO um homem público exemplar. Typografia Editorial – Ensaio Biográfico- A edição deste livro e as
demais atividades celebrativas do Centenário DE Nascimento de Edelzio Vieira de Melo. Apoio Cultural
Instituto Banese, Gov. Municipal de Capela, Prefeitura Municipal de Rosário do Catete, 2009.
83
NUNES, Verônica Maria Meneses – As Irmandades em Sergipe: A Devoção e Cor, Irmandades de
Nossa Senhora do Rosário e ou São Benedito – Práxis Pedagógica: Revista do Curso de Pedagogia,
Aracaju, Vol. 2 Nº2, Janeiro /Julho -2015. p. 06.
53
Em nossa pesquisa também utilizamos como fonte alguns jornais do acervo da
biblioteca pública Epifânio Doria84 que foram digitalizados pelo Projeto Imprensa Cristã85.
Fizemos a análise das edições do Jornal por nome “O Rosário 86 afirma em sua edição de
número 11, página 4, sobre a tradicional festa de Nossa Senhora do Rosário que é
comemorada no mês de outubro”.

Segundo o jornal O Rosário, em seu número 13, p.1, a festa era organizada e conhecida
como “festa encantadora” e celebrada com “pompa”. Além desta, menciona a de São José
que era celebrada também com “pompa” e cantada pelo Vigário Padre Edgar Britto na Igreja
do Amparo seguida de um grande cortejo Divino com as celebrações e benção do Santíssimo
Sacramento.

O jornal afirmou que os povos daquela cidade com “a boa vontade do esforçado
pároco Padre Edgar Britto” foram realizados os festejos em celebração a excelsa padroeira
Nossa Senhora do Rosário, com maior pompa do que nos outros anos, pelo programa abaixo
fornecido pelo dito pelo pároco que tudo foi observado com maior zelo. Vejamos como o
Jornal O Rosário descreve a programação da festividade:

“Às 7 da manhã foi celebrada missa de comunhão geral, cantada


pelos meninos do catecismo”. As nove e meia missa de Bthamann
cantada pelo coro do sagrado coração de Maria com sermão ao
evangelho por um grande orador sacro. A 06h30mim bênçãos do rico
estandarte do coração de Jesus e irmandade Conceição vindos
ultimamente de Pernambuco. Às 17 horas, solene procissão pelas
ruas principais da cidade, saindo às imagens de Nossa Senhora do
Rosário, Sagrado Coração de Jesus, São José, São Luiz de Gonzaga,
Santa Terezinha, Santa Ignez, São João e Santo Antônio. Ao recolher

84
Epifânio Fonseca Dória nasceu em Campos do Rio Real em (1884 e faleceu em 1976) e teve sua vida dedicada
à preservação da memória de Sergipe, organizando arquivos de Sergipe, e organizando arquivos e bibliotecas de
Estado.
85
Um projeto de digitalização de jornais: Projeto Imprensa Cristã: Escrevendo em nome da fé e das vicissitudes
históricas...: Imprensa cristã e artigos de cristãos nos jornais laicos sergipanos. Este também sob coordenação do
Professor Dr. Antônio Lindvaldo Sousa.
86
Jornal o Rosário as edições trabalhadas foram digitalizadas pelo projeto Imprensa Cristã, supracitada e as datas
de 1933 a 1936 do século XX, jornal cujo programa descreve ser crítico, noticioso, humorístico e independente
seu fundador o coronel João Machado Subrinho editado na cidade que lhe emprestar o nome. Este jornal está na
pacotilha 44 no acervo da Biblioteca Estadual Epifânio Dória. O mesmo encontra-se em bom estado de
conservação e as edições completas todos os exemplares contem quatros folhas . Está datado de 13 de outubro de
1933. Seu fundador foi o Coronel João Machado Subrinho, ao qual foi prefeito da cidade de Rosário do
Catete/SE nos idos de 1946; e 1951 a 1955. Era semanário de tamanho 43x30 e outro exemplares de 33x23. Hoje
faz parte do conjunto de 3 DVDs cujo ISBN do v. 1-978-85-7822-621-3; v.2-.978-85-7822-622-0; v.3 – 978-85-
7822-623-7.
54
da procissão falou outro orador sacro e em seguida a benção do S.S.
Sacramento87.”

Pontuamos ainda acerca das festividades de Nossa Senhora do Rosário de


acordo com esse periódico semanário, evidencia-se o envolvimento das diversas
camadas da sociedade rosarense envolvidas, nas festas religiosas como podemos
apreciar seus nomes sendo descrito as autoridades políticas, comerciantes locais bem
como proprietários de usinas de cana de açúcar, senhores de engenhos e famílias
tradicionais, além de pessoas mais simples da sociedade rosarense.

A festa foi precedida de um novenário solene patrocinado pelas famílias dos


senhores de engenhos: Vieira de Melo, Maynard, Vassouras, Machado, Vieira de Sá,
Vieira de Melo; além da Noite pela pia União Filha de Maria e apostolado da nação;
Noite das irmandades almas e do Rosário; Noite pelo grupo senador Leandro Maciel e
escolas da cidade, à noite, pelos moços, sendo encarregados os Snr. Amphilofio
Azevedo, Joaozito Felizola e Astolfo Sant Anna, á noite pelas moças, sendo
encarregadas pelas senhoras Aurora Curvelo, Noêmia Azevedo; á noite, pelos casados
sendo encarregados os srns. José Eduardo, Dr. Eduardo Porto entre outros participantes
do comércio local. 88

Outro jornal que também divulgava as festividades de Nossa Senhora do


Rosário era o jornal O Comércio89 editado e imprenso na cidade de Maruim em não
apenas as festividades mais notícias das demais cidades circunvizinhas eram
noticiadas nesse impresso.

Ao término das festividades era também motivo de notícia de como a festa


havia sido pomposa e como tinha sido tão visitada a cidade pelos devotos e fieis de
nossa Senhora do Rosário. Nessa ocasião desciam para suas residências n a cidade
todos os donos de engenhos suas casas estavam no entorno da igreja e da praça da
matriz e outro fato interessante era que na igreja cada família de senhor de engenho

87
Jornal O Rosário edição de nº11, p.4. Ano de 1933; edição nº13, p.1 ano de 1933 Esses jornais são do acervo
da biblioteca Epifânio Doria e foram digitalizados já mencionados.
88
Jornal O Rosário. Edição nº 8, p. 2, ano de 1933. Edição nº10, p.2. Anos de 1933, Edição nº11, p. 2. Ano
1933.
89
No jornal o Comércio editado em Maruim edição de nº373. p.3. Ano de 1924; edição de nº 220, p.1; edição de
nº221, p.2 edições nº423, p.2.
55
importante tinha uma tribuna de acordo com o depoimento de uma das filhas do senhor
de engenho da qual falaremos no momento próprio.

Com relação às características climáticas a Vila de Rosário do Catete tem aspectos


agradáveis, contudo as edificações eram muito primitivas, arcaicas, e depois foram surgindo
às casas grandes dos engenhos da região e as casas da cidade, cada senhor de engenho tinha a
sua casa no entorno da praça da matriz ficavam as casas dos senhores de engenhos na cidade
para os finais de semana e nas épocas das festividades seja eclesiástica ou política isso
conforme depoimento de seu Luiz Ferreira Gomes90, em relação ao seu clima de Rosário era
saudável e bom.

Conforme Carlos Pinna de Assis,91 no que se refere à parte de transporte hidroviário


havia vantagens logísticas formidáveis. Os rios Cotinguiba e Sergipe, Japaratuba e Pomonga e
Ganhomoroba foram de grande importância e decisivos para o tráfego da produção açucareira
o que nos chama atenção de acordo com o autor é que apesar de termos condição favorável
Sergipe não levou a cabo a interligação de seus rios e bacias desde o São Francisco até o Rio
Real.

Especialmente na microrregião da Cotinguiba onde havia a proximidade das bacias


era muito mais viável do ponto de vista da engenharia fluvial. Além desses fatores também
temos que considerarmos o solo massapê oriundo da decomposição do calcário foi de grande
valia para o desenvolvimento da monocultura da cana de açúcar, por ser do tipo mole, escuro,
raramente amarelado, massapê apto para o plantio sendo o solo que muito contribuiu para o
êxito da cultura da cana de açúcar.

Em relação ao patrimônio cultural e material da cidade de Rosário do Catete, podemos


pontuar as igrejas e os remanescentes dos engenhos, que traremos uma tabela logo mais
adiante, temos os sobrados, residências que fazem parte das memórias dos rosarenses.

Entre as igrejas que são tidas como patrimônio material e histórico de Rosário,
destaque para capela de Nossa Senhora de Nazaré que foi construída em 1709, e demolida e

90
Luiz Ferreira Gomes um dos entrevistados e participantes do Documentário ‘Massapê Rosário do Catete
Memórias e Engenhos “Direção e produção Sérgio Borges”. O consideramos como um dos guardiões das
memórias de Rosário do Catete.
91
ASSIS, Carlos Pinna de Revista Cumbuca – Editora: Edise - Ano VI – Nº. 18 – Artigos João Gomes de Melo
(1809 -1890) O Barão de Maruim e Seu Tempo. (2018, p.60 a 70).
56
reconstruída outra, no mesmo local. No ano de 1864, fazendo parte do engenho Catete Novo
pertencente ao Barão de Maruim João Gomes de Melo.

Outros patrimônios eclesiásticos a Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário92 –


Construída no século XVIII, iniciada com sua irmandade dos homens pretos. Igreja de Nossa
Senhora do Amparo foi construída século XIX e foi restaurada em 1946 pelo Simeão
Machado. Nesse conjunto de bens culturais temos também a Capela da fazenda Caldas onde
foram enterrados os restos mortais do general Augusto Maynard, que foi transferido para o
cemitério Santa Isabel em Aracaju, com a venda da fazenda Caldas.

Temos a Estação de Trem de Rosário que foi inaugurada em 1914, que está passando
pelo processo de Tombamento pelo IPHAN93 chamado de Valoração, será o 1º tombamento a
nível Nacional da cidade, alguns acontecimentos históricos marcaram a história dessa estação
férrea, entre eles em 1924 serviu de embarque de tropas dos tenentes da revolta de 24 94,
comandada por Augusto Maynard Gomes.

Rosário do Catete é considerada como a terra dos engenhos, da cana de açúcar e


celeiro de grandes lideranças políticas, além de berço de intelectuais com sua geração
bacharéis e médicos que revolucionaram a Faculdade de Direito do Recife e na Faculdade de
Medicina da Bahia, os sergipanos Antônio Dias de Pinna95·,João Maynard,96 José Sotero
Vieira de Melo97, Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel98, Leandro Maynard Maciel99, Augusto

92
NUNES, Verônica Maria Meneses – As Irmandades em Sergipe: A Devoção e Cor, Irmandades de Nossa
Senhora do Rosário e ou São Benedito – Práxis Pedagógica: Revista do Curso de Pedagogia, Aracaju, Vol. 2
Nº2, Janeiro /Julho -2015. p. 06.
93
IPHAN (Instituto Histórico e Artístico Nacional) criado em 13 de janeiro de 1937 pela Lei nº378, no governo
de Getúlio Dornelles Vargas, o então ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, preocupado com a
preservação do patrimônio cultural brasileiro.
94
Revolta de 24 ou revolta dos Tenentes - Em 1924 os Tenentes do Brasil se revoltaram contra o regime de
republicano como eles governavam e eles tomaram São Paulo no governo de Artur Bernardes em abril de 1924 a
revolta dos tenentes não se estendeu apenas ao Rio de Janeiro e São Paulo mais também eclodiu em Aracaju sob
o comando do tenente Augusto Maynard Gomes e outros oficiais.
95
CUMBUCA, Revista- Ano V. Nº15 setembro de 2017. DIAS, Antônio Pinna de, - Foi advogado fundador do
curso de direito da USP. Estudou na Faculdade do Recife. Exerceu cargos de promotor público em Sergipe na
Comarca de Laranjeiras, (1866-1869), foi deputado provincial por três legislações.
96
CUMBUCA, Revista- Ano V. Nº15 setembro de 2017. MAYNARD, João, Desembargador, nasceu no
engenho Saco município de Rosário do Catete em 8 de janeiro de 1878. Bacharel em ciências jurídicas e sociais
pela Faculdade Livre do Rio de Janeiro exerceu cargos de Juiz em Itabaianinha, na época sede da então comarca
de Rio Real. CUMBUCA, Revista- Ano V. Nº15 setembro de 2017.
97
DANTAS, Sylvio Melo (2013, p.75), Minha Família-Árvore genealógica comentada. José Sotero, Vieira de
Melo-Desembargador, filho de Francisco Vieira de Melo proprietário do Engenho Santa Bárbara e da senhora
Maria de São José de Melo. Nasceu no Engenho Santa Bárbara, município Rosário do Catete, em 13 de maio de
1856. Pertenceu a geração de bacharéis da Faculdade de Direito do Recife e da Faculdade de Medicina da Bahia.
57
Maynard100 , Edelzio Vieira de Melo101 entre outros que Rosário do Catete presenteou Sergipe
com seus ilustres filhos em diversas áreas sociopolíticas e culturais.

Como já aventamos anteriormente a produção econômica em Rosário desde a fixação


dos primeiros habitantes, foi à lavoura da cana e produção de açúcar pelos seus diversos
engenhos dessa microrregião que segundo Orlando Dantas102 Rosário do Catete possuía, em
1860, 27 engenhos que produzia açúcar, eis a relação com seus respectivos proprietários.

Foi nomeado juiz municipal de Rosário do Catete, pelo Dr. Felisbelo Firmo de Oliveira Freire. Mas, foi o
presidente da Província, general José Calazans, que o nomeou em 26 de dezembro de 1892 para o cargo de
desembargador.
98
CUMBUCA, Revista- Ano V. Nº15 setembro de 2017. Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel proprietário do
engenho Serra Negra foi deputado no império e senador na República.
99
CUMBUCA, Revista- Ano V. Nº15 setembro de 2017. Leandro Maynard Maciel foi governador do estado de
Sergipe filho de. Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel proprietário do engenho Serra Negra.
100
BARRETO, Luiz, Antônio, com a colaboração de NASCIMENTO, Jorge Carvalho do – EDELZIO VIEIRA
DE MELO um homem público exemplar. Typografia Editorial – Ensaio Biográfico- A edição deste livro e as
demais atividades celebrativas do Centenário de Nascimento de Edelzio Vieira de Melo. Apoio Cultural Instituto
Banese, Gov. Municipal de Capela, Prefeitura Municipal de Rosário do Catete, 2009. Augusto Maynard foi
considerado um revolucionário em 1924/1926- Augusto Maynard Gomes nascido em Rosário do Catete foi
nomeado interventor no estado de Sergipe até 1935 a 1942 e retornando em 1945 demonstrou força política em
sua cidade natal. Liderou a Revolta dos tenentes os Tenentes de São Paulo e os de Sergipe liderados por Augusto
Maynard Gomes e outros oficiais e por alguns dias eles tomaram o poder em Aracaju mais depois foram
dominados e Maynard foi exilado fora do pais.
101
. Idem. - Edelzio Vieira de Melo nasceu no Engenho Catete Novo, em Rosário do Catete em 8 de setembro de
1909, seu pai o desembargador José Sotero Vieira de Melo e sua mãe Arminda Barreto de Menezes Melo,
Edelzio Vieira de melo foi médico, educador, político, administrador o mesmo teve sua iniciação político através
do já supracitado Augusto Maynard.
102
DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,
(1980, p.131).
58
Na tabela abaixo temos a relação de alguns engenhos:
Tabela 1
NOME PROPRIETÁRIO
Santa Barbara, Pati, Bom Nome, Francisco Vieira de Melo
Várzea Grande.
Oitocentas José Paes de Azevedo Sá
Saco Alfredo Franco
Serra Negra Leandro de Siqueira Maciel
Sítio Novo Gonçalo Teles de Menezes
Catete Gonçalo Vieira de Melo
Jurema Maria da Glória de Faro Jurema
Periperi Manoel d Faro Mota
Várzea Dionizio de Faro Mota
Jordão João Machado de Aguiar Menezes
Jucuruna, Caldas, Salobro Manoel Gomes da Cunha
Cajá Alexandre de Tal
Marrecas Francisco Gomes Dantas
Bom Sucesso Sem indicação de proprietário
Capim Assu e Cume Delfino de Faro Sobral
Jenipapo Manoel Pereira dos Anjos
Ilha Matias Curvelo de Mendonça
Campo Redondo Manoel José Gomes da Costa
Saco: João da Silva Maynard Júnior
Lagoa Grande Gonçalo de Faro Passos

Desta relação, dos nomes que estão em negrito existem remanescentes vivos e que
conservaram o que restou da propriedade de seus ancestrais e outras só restam à chaminé
como o Serra Negra e outras só as recordações das localidades, pois foram destruídas
totalmente, algumas vendidas e tornaram parte da cidade de Rosário como o espaço do
engenho Catete Velho que só restou a capela Nossa Senhora de Nazaré construída em (1709 )

59
e reconstruída em 1864 de acordo com o depoimento do senhor Luiz Ferreira Gomes no
documentário103.

Da mesma maneira o engenho Cajá104 de acordo com o recenseamento de 1920 a


propriedade existia em Rosário e pertencia ao senhor Alexandre José de Menezes hoje
corresponde a um bairro residencial do município de Rosário situado as margens do rio Siriri
que corta toda a cidade o local que onde existia o engenho Cajá é urbanizado com casas
populares e a geografia possibilita que fundamentamos sua existência, pois em seu entorno
existiam o engenho saco e o engenho Catete que foi comprado pelo poder público e
construíram casas residenciais restando apenas a capela de Nossa Senhora de Nazaré.

Outro Engenho Jordão105 datado do Início século XIX pertenceu ao Sr. Jorge de
Almeida Campos. Segundo Dantas (1980) estava em funcionamento em Rosário do Catete
atualmente pertence ao herdeiro o Sr. João Machado Aguiar Menezes nos idos de 1860 a
1920. A casa grande em perfeito estado de conservação com um altar dentro da casa o
chamado quarto de santo, tipo uma oratório ou capela interna, onde segundo o proprietário os
ancestrais faziam as petições e rezas, há também fotos e algumas mobílias dos seus
antepassados, no local onde havia o engenho hoje tem um curral.

Engenho Santa Bárbara106 era um dos mais opulentos da região pertenceu ao nos
idos de 1832 ao senhor Teothônio Correia Dantas e a senhora Clara Angélica de Menezes e
posteriormente aos seus descendentes entre eles o João Gomes de Melo 107 nasceu engenho
que por sua vez a geração posterior. Já em DANTAS108 1860 consta como proprietário o
senhor Francisco Vieira de Melo e foi herdeiro por muito tempo depois passando a
propriedade a seus descendentes da mesma família, o senhor Salústio Vieira de Melo a usina

103
Documentário “Massapê Rosário do Catete Memórias e Engenhos” Direção e produção Sergio Borges
Professor Mestre em Geografia. Produtor, Diretor e roteirista e documentarista.
104
, Acervo do IPHAN - Inventário de conhecimento de Patrimônio Cultural da cana de açúcar na região do
Baixo Cotinguiba/ SE Volume VII/junho de 2010.
105
Idem
106
DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,
(1980, p.131).
107
João Gomes de Melo Barão de Maruim nasceu no Engenho Santa Bárbara, então considerado pertencente ao
município de Maruim, como aponta Armindo Guaraná no seu clássico Dicionário Bibliográfico Sergipano. Filho
de Teotônio Correia Dantas e Clara Angélica de Menezes ramo de uma tradicional família de produtores de cana
de açúcar atualmente município de Rosário do Catete. Foi uma liderança política muito importante no processo
de mudança da capital de São Cristovão para Aracaju.
108
DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,
(1980, p.131).
60
recebia cana de outras fazendas e chegava a produzir 15 mil sacas de açúcar cristal seu
funcionamento chegou até o ano de 1961, sob os cuidados do senhor Salústio Vieira de Melo.

A fazenda foi desmembrada Santa Barbara de Cima hoje pertence ao senhor Carlos,
um dos descendentes dos Vieira de Melo sendo que a Santa Barbara de Baixo109 ao senhor
Osmar Teles o que restou da propriedade que se encontra em estado lamentável em que a
erosão o clima e a falta de manutenção por parte de alguns proprietários, fizeram com que
casa grande esteja em completa destruição e apenas em ruinas, um casarão que um dia foi
uma das edificações de notabilidade na região.

Engenho Caraíbas110 da estrutura do antigo engenho ainda resta em total destruição e


abandono a casa grande com o telhado caído, uma pequena capela deteriorada em mal estado
de conservação, bem como os três galpões e a chaminé do que restou da usina.

Caraíba existia em território de Santo Amaro em 1860, pertenceu ao Senhor João


Gomes Vieira de Melo. Esse engenho foi alvo de grande revolta de escravos que se espalhou
por toda a região da Cotinguiba e atingiu diversos engenhos da região. De acordo com o censo
de 1920 a usina existia e fazia parte do território de Riachuelo e pertencia a Menezes &
Ribeiro. Há registros históricos do engenho Caraíbas estava em funcionamento e produção de
açúcar desde o século XIX, e segundo depoimentos de alguns moradores o Caraíbas na época
em que moía a cana existia cerca de cinquenta casas de moradores.

O atual proprietário é Oswaldo Franco e transformou se em engenho de fogo morto


apenas fornece a cana para a produção do açúcar é uma extensão da Usina São José do
Pinheiro. No entorno podemos ver construções como escola, posto de saúde, escritório em
pleno abandono e desuso, há também as ruinas de outras casas.

Engenho Serra Negra berço de Leandro de Siqueira Maciel111 retratado no livro de


Ibarê Dantas112 onde descreve a trajetória da família desse patriarca tecendo sua biografia,
dessa antiga unidade açucareira restou apenas à chaminé e as recordações de um passado

109
LOUREIRO, Kátia Afonso Silva. Sergipana do Açúcar. Aracaju/SE, 1999, P.56; 57.
110
DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,
(1980, p.131).
111
DANTAS, Ibarê. Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel (1925-1909). Aracaju: Criação, 2009.
112
DANTAS, Ibarê. Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel (1925-1909). Aracaju: Criação, 2009.
61
notável e próspero para o Patriarca e as lembranças daqueles que vivenciaram experiências no
ambiente nesse contexto.

Pati engenho113 que teve como proprietário o senhor Francisco Vieira de Melo, hoje
pertence à senhora Gilsa Barreto o casarão do Pati foi restaurado pela empresa Vale da Rio
Doce por ter causado danos na casa devido as perfurações realizada nas proximidades de sorte
que é uma das poucas casa grande de engenho que está em bom estado de conservação.

Desse modo, queremos que o leitor esteja ciente que não versaremos sobre as minucias
e detalhes de cada unidade açucareira, pois não é essa nossa finalidade maior, estamos apenas
situando cada um deles e seus respectivos donos e como se encontram hoje por fazerem parte
da história de Rosário do Catete, contudo não nos deteremos neles de forma especifica, pois o
professor Doutor Antônio Lindvaldo Sousa está organizando um livro sobre esses engenhos, a
saber, Paty, Santa Bárbara, Serra Negra, Pedras, Caraíbas, Jordão, Catete onde fará as
ilustrações iconográficas e históricas do que restou de cada unidade produtora de açúcar em
Rosário da que estão inseridas no projeto Massapê, nossa maior função será melhor entender
sobre o engenho oitocentas seus proprietários e como esta última nos interessa.

Queremos também informar que todos os engenhos supracitados por Orlando Dantas
na tabela acima, foram citados também por Kátia Afonso Silva Loureiro, contudo a mesma
não faz uma abordagem de todos os 31 engenhos que catalogou mais um apanhado geral
acerca da parte histórica e arquitetônica das construções das casas grandes e estruturas gerais
dos engenhos nas regiões do Vaza Barris, Bacia do Japaratuba e bacia Cotinguiba, e cita
vários outros engenhos de várias regiões de Sergipe é importante versar que nossa intenção
não é de fazer um apanhado de todos os engenhos da Cotinguiba mais do engenho
“Oitocentas” e com os que já mencionamos como Santa Bárbara, Sítios Novos, Catete Velho
porque tinham laços parentais.

Como já dissemos antes, o Engenho Oitocentas pertenceu ao senhor Manoel Paes de


Azevedo Sá e após falecimento, ao filho José Paes de Azevedo Sá. Atualmente pertence à
Senhora Graziella Vieira de Azevedo, hoje com103 anos de idade. Ele está localizado às
margens da BR 101, no município de Rosário do Catete- SE. Limita-se com a Fazenda Sítio

113
Idem. p.131.
62
Novos e o Engenho Paty, o engenho está na família vieira de Azevedo a mais de duzentos
anos e em bom estado de conservação.
De acordo Gulnar Vieira de Azevedo, em depoimento, a herdeira Graziela Vieira de
Azevedo, após a morte de seus genitores, com anuência dos seus irmãos tornou-se proprietária
recebendo por herança o Engenho oitocentas, com todos os bens móveis e objetos que havia
na casa grande tendo ficado na partilha para as três irmãs Lígia, Ibelza e Graziela com o
falecimento de uma a outra tornaria proprietária das partes sendo que as irmãs faleceram
ficando assim, as Oitocentas para senhora Graziela.

Sendo assim, consultamos o acervo da família Vieira de Azevedo e analisamos que há


uma série de fontes: iconográficas ou visuais, várias fotos do lugar, da cassa grande, dos
objetos de valor afetivo dessa numerosa família que serviram para interpretar e reconstruir
esse passado.

Nossos olhos vislumbraram, primeiramente, os documentos diversos dentro de um baú


envernizado com duas gavetas pequenas dentro dele uma pequena caixa delicada com cartas
que foram escritas para as meninas do engenho Oitocentas114 e seus pais Juca e Cecília as
cartas dos filhos que residia no Rio de Janeiro informando-os as novidades e ao mesmo tempo
querendo saber como estavam todos e o andamento no engenho.

Imagem 1 - Baú de Graziela Vieira de Azevedo


Acervo José Aquilino - 20 /04/2018

114
Engenho oitocentas pertenceu ao senhor Manoel Paes de Azevedo Sá após falecimento deste ao filho José
Paes de Azevedo Sá e atualmente pertence à Senhora Graziella Vieira de Azevedo, o mesmo está localizando as
margens da BR 101 no município de Rosário do Catete- SE. Limita-se com a Fazenda Sítio Novos e o Engenho
Paty.
63
No Baú encontramos um acervo iconográfico variado e em bom estado de
conservação com fotos das Oitocentas como veremos mais adiante algumas fotos do passado,
em que o engenho produzia o açúcar, fotos da casa grande, da família do senhor de engenho e
toda a sua prole onde podemos perceber que a família era numerosa, quadros nas paredes com
fotografias do seu Juca e esposa e retratos dos filhos por cima das mobílias.

As mobílias mesas e cadeiras, quarto completo cama, guardam roupa, guarda-noturno,


cômoda e um oratório no quarto do casal, fogão de lenha com forno e em outro quarto com
camas modelo antigo com duas cabeceiras semelhante ao do quarto de casal, mas, nele o baú
de Graziela Vieira de Azevedo já mencionado acima, todos os objetos da casa estão na mesma
disposição desde que seu Juca faleceu que a disposição dos objetos dentro do engenho tem
uma representação de uma memória afetiva.

Todo esse acervo da família vem como grande arquivo e fontes com seus segredos,
vestígios, rastros, pistas que utilizaremos como instrumentos para interpretar a história desse
lugar de memória, por meio de depoimentos das filhas e de conterrâneos do JUCA das
oitocentas e assim legitimar e fundamentar a história e as memórias da família vieira de
Azevedo.

Entramos em contato com alguns descendentes dessa unidade produtora, com pessoas
que trabalharam ligadas a esse passado memorável, tivemos oportunidade de colher
depoimentos de testemunhas vivas, guardiões das memórias são até hoje testemunhas de um
passado que ficou apenas nas recordações e nos remanescentes e ruinas dos espaços de
recordação desse lugar de memória que denominado oitocentas como consta na tabela da
página 131 do livro Vida Patriarcal que consta ser o proprietário o senhor José Paes de
Azevedo Sá isso segundo Orlando Dantas.

Contudo segundo depoimento de sua filha Gulnar Vieira de Azevedo seu pai nasceu
no dia 7 de maio de 1875 logo não seria possível ser o dono dessa propriedade nessa época
acredito que tem sido erro de digitação uma vez que também perguntamos se havia outra
pessoa com o mesmo nome na cidade e para fazer a diferenciação foi posto o sobrenome Sá
para diferenciar o nome do mesmo do outro senhor não o nome de seu pai mais do avô
Manoel Paes de Azevedo Sá. Apesar de as oitocentas ser uma usina de pequeno porte e fazia
64
parte de uma cooperativa. Outra observação é que todos os proprietários das Oitocentas
foram da própria família, mas de todos os indivíduos dessa geração destacamos o senhor José
Paes de Azevedo Sá.

Outros autores cometem o mesmo erro e copiam os dados de Orlando Dantas e que o
senhor José Paes de Azevedo Sá foi o proprietário das Oitocentas, contudo o como já
mencionando o mesmo nasceu em 1875 e não teria como sair nos livros que ele era o dono
das terras das Oitocentas mais sim o seu genitor o Manoel Paes de Azevedo Sá.

Aspecto interessante é que o mesmo era conhecido na região por Juca das Oitocentas
não apenas ele mais os senhores de Engenhos era conhecidos pelo nome de sua
propriedade115; façamos um passeio pelas raízes: “João Machado do Jordão; Seu Juca das
Oitocentas; Salústio da Santa Barbara; Joel Faro da Jurema” e assim sucessivamente.

O Engenho oitocentas conforme depoimento da filha de seu Juca no documentário do


Massapê era um engenho muito pequeno e só produzia 3000 sacos de açúcar cristal. Sabemos
que os engenhos eram de pequeno porte apenas os senhores mais abastados tinham condições
de equipar seus engenhos e acompanhar a modernidade em cada época. Seu Juca transformou
seu pequeno engenho bague em uma meia usina de pequeno porte que estava ligada a uma
cooperativa116 juntamente com outros usineiros menores.

Na obra de Orlando Dantas (1980) foi possível perceber que o Oitocentas estava em
funcionamento no ano de 1860, e pertenceu ao senhor José Paes de Azevedo Sá, contudo só
constatamos referencias quanto ao funcionamento e produção a partir do século XIX e o
mesmo não se encontra nos registros de mapeamento de Gannet de 1815.

Há também outra fonte muito importante no acervo do IPHAN117 neste Inventário é


feito um levantamento tipo catalogação sobre os engenhos da região do Cotinguiba e é citado
de acordo com o censo em 1920, que o engenho pertenceu a José Paes de Azevedo Sá a essa
época. São muitas fontes que confirmam que as Oitocentas era propriedade dele.

115
SILVA, Maria Lucia Marques Cruz e. Rosário do Catete / Maria Lucia Marques Cruz e Silva – Aracaju:
Prefeitura Municipal de Rosário do Catete, 2000, p.73.
116
DANTAS, Orlando Vieira. O Problema Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944, p.72.
117
Acervo do IPHAN / O inventário de conhecimento de Patrimônio Cultural da Cana de açúcar na Região do
Baixo Cotinguiba/ SE. Volume VII/ junho 2010.
65
Diante dessa realidade para confirmar seu funcionamento temos a revista Brasil
Açucareiro que além de apontar o seu proprietário traz também dados relacionado com a
cotação e produção do açúcar, temos o livro o problema do açúcar de Sergipe de Orlando
Dantas que afirmam ser o oitocentas uma meia usina ligada a uma cooperativa.

Outros dados é a entrevista de suas filhas que confirmaram que era um


engenho pequeno bague e que transformou em usina a vapor que fabricava o açúcar
cristal. “Açúcar de boa qualidade cristal, cristal de boa qualidade fala de dona Gulnar
Vieira de Azevedo filha de seu Juca das oitocentas”.

Segundo Dantas118, os engenhos em Rosário do Catete que se transformaram em usina


ou meia usina por enfrentarem dificuldades por iniciativa do Instituto do Açúcar e do Álcool e
do sindicato da indústria do açúcar de Sergipe tomaram a iniciativa de apresentar um plano de
organização de usinas cooperativas em Sergipe e colocaram o plano em ação sendo que a
concentração em 16 Usinas – cooperativas, as 68 usinas existentes, como também os
engenhos bangues em funcionamento.

Para o exercício desse plano deveria levar em consideração a melhor instalação, em


algumas localidades bem como verificar a facilidade de transporte a tração animal, outro fator
a questão da disponibilidade de água para o abastecimento da usina, vejamos como foram
distribuídos esse plano e sua execução:

“Capela – As usinas Proveito, palmeira, Flor o Rio, Pedras119, Recurso e S.


Francisco, Sede em Usina Proveito; Usinas São José do Junco, Santa Clara,
Topo e Soledade, Sede em Santa Clara. Japaratuba – Usina Oiteirinhos,
Timbó, São José do Jardim e Cruzes, Sede em Oiteirinhos. Rosário – As
usina Jurema, Oitocentas, Pati, Capim Assú, Santa Barbara, Serra Negra,
Várzea Grande e Cumbe, Sede Jurema. Santo Amaro – As usinas Caraíbas,
Lombadas e Nossa Senhora da Conceição, sede em Caraíbas. Maruim - As
usinas Pedras e Jordão, Sede em Pedras. Divina Pastora-As usinas
Vassouras, Mato Grosso, São Felix e Salobro, sede em Vassouras. AS usinas
Lurdes, Nazaré, Fortuna, Mata- verde e Jaguaripe, sede na propriedade Sapé.
Riachuelo - As usinas Central, Tinguí, Espírito Santo, São Paulo, Porto dos
Barcos e Santa Maria, Sede em Usina Central. Laranjeiras- As usinas São
José, São João, São Francisco e Boa Sorte, sede Usina São José de
Laranjeiras.120”

118
DANTAS, Orlando Vieira. O Problema Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944. p.72.
119
Idem.
120
DANTAS, Orlando Vieira. O Problema Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944.p.72.
66
Além dessas acima citadas temos outras da região do Vaza Barris em São Cristovão e
Irapiraga atual cidade de Itaporanga D’ Ajuda e outras em Indiaroba que faziam parte da
cooperativa e estava ligada a um engenho maior na região a qual estavam localizadas.

Interessa-nos, de perto, o Engenho Oitocentas que mesmo sendo uma meia usina a
vapor pequena o engenho Oitocentas estava inscrito pelo Instituto do Açúcar e do álcool
(IAA) e estava na relação das usinas de Sergipe e consta na revista Brasil Açucareiro bem
como no anuário do (IAA) o contexto político administrativo e econômico do Sergipe,
nordeste e Brasil e alguns países do exterior por a revista era também de circulação
internacional dada a importância da produção açucareira e exportação para o exterior121.

Na tabela abaixo podemos perceber a relação de várias usinas nos respectivos


municípios e seus e proprietário, endereço na microrregião do Cotinguiba Sergipe.

REVISTA BRASIL ACUCAREIRO 1949

Tabela 02 – Revista Brasil Açucareiro 1949, p.125.

121
Revista Brasil Açucareiro - Ano XVII – Volume XXXVII – nº1 de julho, de 1949, p. 125.
67
Vale lembrar que há relações de todos os engenhos e regiões produtoras no Brasil
aparece engenhos da região da Sergipe da microrregião da Cotinguiba e sua capacidade de
produção entre eles está o Engenho Oitocentas cujo proprietário José Paes de Azevedo Sá de
acordo com a revista Brasil açucareiro.

A Revista Brasil açucareiro trás em suas páginas uma serie de matérias acerca da vida
comercial e situações diversas sobre a história do açúcar no Brasil, bem como em outros
países que tem a produção de açúcar na economia, descreve os estatutos e legislações da
época, e faz um levantamento de seus respectivos proprietários como na tabela acima que
registra o funcionamento da Usina Oitocentas no ano de 1949.

Orlando Dantas (1980) afirma que as primeiras transformações do engenho de açúcar


bruto em meia usina de Açúcar cristal teve a iniciativa de Dr. Francisco Vieira de Andrade no
município de Capela em fins dos meados do século XIX. Vale salientar que a primeira usina
completa foi instalada no espaço de oito anos e foi a usina de Adolfo Rollemberg o
proprietário do Escurial nessa mesa data foram instaladas cerca de 55 usinas. Já em 1935
existiam cerca de 91 usinas com turbinas e vácuo além de 161 engenhos registrados no
departamento de Estatística122 em entre elas está a usina oitocentas.

Imagem 2 - Vista da casa grande, casas dos moradores e da Usina Oitocentas


Acervo: Família Azevedo / Banco de dados: Do Projeto Massapê (Antônio Lindvaldo Sousa)

Iniciamos a análise das fotografias que expõem a Usina Oitocentas no seu pleno
funcionamento, e deparamos com algumas características singulares dessa unidade açucareira
é de pequeno porte, e fabricava açúcar cristal.

122
Revista de Aracaju – Prefeitura Municipal de Aracaju – Ano XIX, p. 31-12-1962, nº7 -1962.
68
Aleida Assmann123 (2011) propõe quatro estágios simultâneos da escrita; a analogia
dos vestígios, a escrita iconográfica e a digital, contudo tomaremos por base a analogia e a
escrita iconográfica e assim podemos propor que o engenho Oitocentas seja um lugar do
lugar, um lugar de memória, um espaço de recordação.

Bem assim, devemos selecionar o que será armazenado e o que será descartado,
silenciado deixado para trás. Para Assmann, e relação à imagem e a escrita, sendo que as
obras iconográficas eram consideradas de natureza concreta material, já a escrita é
considerada imaterial e se situa em um tempo generativa, ou seja, fora do tempo (p.235).

Portanto consideramos o acervo iconográfico de grande relevância na compreensão do


passado, pois as mesmas podem servir como auxiliares na recordação de um passado familiar
em um lugar memorável. As imagens são fontes reveladoras do passado do antigo Engenho
Oitocentas que foi engenho que passou por transição, pois foi bangue, engenho a vapor, usina
de pequeno porte junto a uma cooperativa como já fora mencionado anteriormente e passo
interessante entendermos que apesar de pequeno porte resistiu ao lado de outro de maior
importância como o Santa Barbara e o Caraíbas, Jurema, Pati, Jordão. Sua singularidade
estava no pensamento do senhor e nos investimentos através dos anos para poder sobreviver
mesmo enfrentando as consequências das secas e falta de políticas públicas e investimento na
agricultura por parte do poder público causa e o aumento nos custos dificultando a produção
açucareira e a decadência de outros por falta recursos.

A fotografia abaixo da casa de vivenda do engenho oitocentas é um demonstrativo de


um lugar de memória para a família Vieira de Azevedo considerando que:

“São nos lugares onde a memória se cristaliza e se refugia se liga a


momentos ímpares e particulares da história de quem vive cada momento,
em determinado contexto, para o mesmo, ainda que haja um esfacelamento e
ruptura com o passado, contudo são nos lugares que residem o sentimento de
continuidade, pois se torna residual aos locais as lembranças, o mesmo
afirma também que “a memória é a vida, sempre carregada por grupos
vivos, e que está em constante evolução, aberta á lembranças e
esquecimentos, sendo vulnerável, a todos os usos e manipulações”. Pierre
Nora124”.

123
ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: formas e transformações da memória cultural. Campinas:
Unicamp, 2011.
124
NORA, Pierre. Entre Memória e História: A problemática dos Lugares. Projeto História. São Paulo, 1993.
p.9.
69
As histórias das famílias importantes são representadas também através dos objetos de
valor cultural, afetivo, econômico, sentimental; a história de indivíduos se repetem por seus
saberes, fazeres e representações, nesses fazeres podemos abordar o guardar, preservar sua
cultura através dos objetos com valor simbólico, memorável que fazem elo entre passado e o
tempo presente, dessa forma podemos perceber que dona Graziela a atual proprietária tem
posse das memórias familiares quando adentramos o Oitocentas não tínhamos noção de quão
belíssimo em sua estrutura e em suas ricas fontes de lembranças, e recordações dissertar sua
história e as memórias que ali estão de forma visível, concreta e de maneira sinestésica, nos
faz pensar que quanto tempo esteve silenciado e poderia se perder com o passar do tempo sem
ter sido feito o registro para contribuição da historiografia assim como pra contar um pouco
mais da nossa história nos tempos do açúcar, buscando o espaço de recordações colhemos os
depoimentos das guardiães das memórias das Oitocentas.

Imagem 3 - Casa grande do Engenho Oitocentas vista frontal


Fotografia: Augusto Gentil – data 20/04/2018
Acervo de Josineide Luciano

A foto 3 apresenta a vista frontal da casa grande do Engenho oitocentas, essa


fotografia datada do dia 20 de abril de 2018. A casa conta-se com seis janelas frontais e mais
duas janelas laterais do lado esquerdo e outra do lado direito é uma edificação retangular
70
coberta com telhado em quatro águas. Possui alpendre circundado por fachadas norte e
fachadas leste.

Em fachada leste existe uma ampliação em parte posterior onde há um depósito e uma
garagem para veículos. O alpendre possui pilares de madeira entalhados que sustentam os
prolongamentos do telhado. Os guardas corpus de madeira também são belamente
trabalhados. As esquadrias de madeira dão destaque na edificação. São do tipo veneziano,
com duas folhas e bandeira fixa trabalhadas em madeira e vidro. Toda a edificação é
construída em taipa de sopapo técnica construtiva que foi preservada e mantida pela
proprietária.

Imagem 4 - Vista da casa grande do Engenho Oitocentas (Acervo: Família Azevedo)


Banco de dados: Do Projeto Massapê (Antônio Lindvaldo Sousa)

Os compartimentos internos como veremos adiante na planta baixa são pequenos


contam seis quartos uma sala grande e outra menor sala de jantar e a grande, cozinha com um
fogão de lenha, com forno típico para cotidiano do contexto da sociedade da aristocracia
açucareira com seus costumes de família patriarcal e numerosa.

71
Em cada cômodo as antigas mobílias no quarto do casal móveis detalhados, cama com
duas cabeceiras em madeira e escura, da mesma forma a mobília da sala a mesa cristaleiras e
fazendo parte das recordações e memórias um pilão. A Casa grande das Oitocentas como
pode perceber na planta baixa e nas fotografias é uma casa simples sem opulência como
gostavam de ostentar alguns senhores de Engenho da região do Cotinguiba.

Imagem 5 - Planta Baixa125 da Casa Grande do Engenho Oitocentas

125
Planta pertence ao banco de dados do projeto Massapê: Memórias, engenhos e comunidades da microrregião
da Cotinguiba. E sairá no livro que o coordenador do projeto prof. Antônio Lindvaldo Sousa está organizando.
Foi elaborada pelos arquitetos: José Glackson Santos Júnior e Ana Lúcia Pinto do Nascimento Álvaro.

72
Panorâmica: Foto Aérea do Conjunto das Edificações do Engenho Oitocentas

Imagem 6 - Casa grande; casa dos trabalhadores; Antiga Usina Oitocentas ao fundo um riacho.
Fotografia: Augusto Gentil – Data 20/04/2018
Acervo: Josineide Luciano Almeida Santos

Vista panorâmica da foto aérea do conjunto das edificações do engenho oitocentas


cuja proprietária senhora Graziela Vieira de Azevedo faz questão de conservar o modelo e a
estrutura da propriedade nos moldes do antigo engenho oitocentas e quando necessita de
reparos são realizados no mesmo material da construção com que foram erguidas as
edificações originalmente.

Da antiga fábrica do engenho, hoje no lugar um curral, que se encontra na porção mais
baixa do terreno, quase em frente à casa de vivenda, que fica em uma elevação como na
maioria dos engenhos sempre estava edificado em um lugar mais alto. Ao lado da edificação,
em parte oeste, há um jardim cercado por muro em tijolo maciço que separa a casa grande das
casas dos trabalhadores.

Foi possível visualizar dois tanques que podem ser vistos na fotografia 7 em relação a
técnica construtiva foi construída em taipa de sopapo e alvenaria maciça, seu telhado em
cerâmica e duas águas.

73
De acordo com o cadastro Industrial Agrícola126, existiam em 1930 sete usinas que
fabricavam o Açúcar cristal entre elas as Oitocentas com capital social de 100.000$0000 e
com uma produção pequena de 2.177 sacos de 60 quilos cada média aproximada como já
mencionamos anteriormente de 3000 mil sacos de Açúcar. Segundo dona Gulgar Vieira de
Azevedo uma das filhas de seu Juca, em depoimento para o documentário do Massapê afirma:
‘Lá em casa apesar de ser pequeninho ele produzia açúcar cristal, tinha turbina, tinha
vácuo...“uma quantia irrisória mais ele fazia questão de fazer , de ter a produçãozinha
dele”127.

A chamada virada cultural, com suas representações é bem válida para esta pesquisa,
sobretudo a partir da forma como observamos nosso objeto, dentro da necessidade de
identificar inserido em seu contexto social cultural e de poder político sendo assim fazemos
dos conceitos de Roger Chartier para identificar esse contexto e o modo como, em diferentes
lugares e momentos, uma realidade social é construída, pensada, dada a ler (CHARTIER,
1990, p.19).

Desta forma podemos designar as oitocentas como um lugar de memória, espaço de


recordação para a família vieira de Azevedo para as filhas de JUCA das Oitocentas um lugar
do lugar, nos tempos do açúcar com senhor de engenho sua esposa e filhos, nessa casa
nasceram, viveram seus primeiros anos até serem encaminhados para os centros urbanos de
grande representação, tiveram oportunidade de estudar, ter boa educação, formação
profissional assim aconteceu com os filhos de José Paes de Azevedo Sá e Dona Cecília Vieira
de Melo deixaram seu torrão natal e partiram para estudar no Rio de Janeiro.

Esse espaço de recordação continuará sendo trabalhado no terceiro capitulo cujo título
O ocaso da memória; sendo que buscaremos nas entrevistas de história oral, nos livros,
documentos do acervo pessoal da família: as fotos, cartas dos filhos aos antigos proprietários
da usina Oitocentas para tratar das memórias e das recordações, discutir a relevância desse
engenho na criação dos filhos e ao mesmo tempo deixar um registro de um personagem que
estava à frente de seu tempo, por ter feito a diferença dos demais senhores de Engenho que

126
Cadastro Industrial Agrícola e informativo do Estado de Sergipe 1933, organizador; Armando Barreto.
127
Documentário “Massapê Rosário do Catete Memórias e Engenhos” Direção e produção Sergio Borges
Professor Mestre em Geografia. Produtor, Diretor e roteirista e documentarista.

74
ostentavam seus bens e riquezas moveis ele preferiu educar e formar seus filhos formando
uma família estruturada com legado para história até hoje.

75
CAPÍTULO III
O LUGAR, AS COISAS E AS PESSOAS - O OCASO DA MEMÓRIA

A tríade engenho de açúcar, usina e a casa grande tornou-se uma representação


marcante do poder econômico e social na História do Brasil. Neste cenário, destaque para a
família, o lugar das convivências fraternas, mas também da construção de outros laços que
reforçam ou não o status quo dos indivíduos.

Os lugares e as pessoas ao longo do tempo se confundem e também as coisas: os


objetos familiares, as ferramentas de produção, as fotos, os utensílios domésticos e tudo o
mais que constituía uma cultura de época, notadamente uma cultura do açúcar, vista assim em
sua faceta mais abrangente.

Neste capítulo, nossa atenção está voltada para as pessoas do Engenho Oitocentas e, a
partir da narrativa e descrição das memórias familiares quer lançar novas luzes sobre a
história do lugar, perscrutando os caminhos trilhados, no que a vida tem de mais notável: as
suscetibilidades.

A família Vieira de Azevedo não esperou os tempos de decadência da produção do


açúcar para poder pensar em algo inovador que pudesse garantir o desenvolvimento
econômico intelectual e garantir o futuro para a sua prole. Optou, assim, por investir na
educação e não utilizou em arranjos matrimoniais e casamentos afortunados para suas filhas,
por exemplo.

A guisa de encaminhamento metodológico nos valemos das assertivas de Ibarê


Dantas128, que nos apresenta a possibilidade de pesquisar documentos pessoais dos seus
ancestrais e depoimentos dos descendentes dos personagens e a partir da apreciação dessas
fontes trazer a lume a memória das pessoas e dos lugares.

As marcas das memórias das pessoas ficaram expressas em diversas representações:


na casa grande e seu estado de conservação, na mobília, nas cristaleiras (um armário escuro e
envidraçado em que se guardavam e exibem as louças, copos de vidro, de cristal, porcelanas
antigas desenhadas); no conjunto de cadeiras de palhinha; pilão e mão de pilão; em cima das

128
DANTAS, Ibarê. Memórias de família: o percurso de quatro fazendeiros. Aracaju: Criação, 2013.
76
mobílias, nos quadros com foto do patriarca da família o senhor José Paes de Azevedo Sá,
conhecido como Juca das Oitocentas; dentro do baú, nos quadros das paredes da casa grande.

Seguem abaixo, algumas fotos representativas do lugar:

Imagem 7 - Ângulo Frontal da Casa Grande das Oitocentas


Acervo de José Aquino

Imagem 8 - Representação e disposição da mobília, quadros. Imagem 9 - Cristaleira e pilão e


mão de pilão. Acervo: José Aquino
Data dos registros: 20/04/2018

77
Depois que Seu Juca das Oitocentas faleceu a disposição dos móveis permaneceu do
mesmo jeito até os dias atuais, como uma forma muito comum nos interiores do Brasil de
preservar a memória de dias cheios de lembranças.

Em cada objeto da casa de vivenda das Oitocentas, certamente para a senhora


Graziella e para cada um dos filhos do senhor Juca e Cecília, cada lembrança, memórias
individuais tem um significado especial. De acordo com os registros da senhora Gulnar
demostra subjetividade, emoção ao falar do conjunto de cadeiras que seu pai comprou em um
leilão em Aracaju no palácio do governo.

Na sala de visita um lindo conjunto de cadeiras. Essa mobília veio da Itália para o
Palácio do governo, foi feito um leilão e seu Juca arrematou o móvel que veio para as
oitocentas.

Imagem 10 - Conjunto de cadeira comprada em Leilão no Palácio do Governo


Fotografia: Augusto Gentil
Data do registro: 20/04/2018

No ambiente das Oitocentas, as memórias, as lembranças, muitas outras peças, como


camas, guardas roupas, cômodas, e cada uma delas com sua história, como verão mais adiante
no depoimento da senhora Ivanice Oliveira. A partir de seu depoimento, fizemos um
inventário dos móveis e seu histórico; registramos também, que há algumas décadas, o
Oitocentas passou por várias transições, tendo sido engenho banguê, usina de pequeno porte,
engenho de fogo morto.

78
O engenho é desconhecido por muitos, mas consideramos um marco da história da
economia sergipana de singular importância. Em relação ao baú de memórias há muito ainda
a ser tirado, ele é como uma caixa de pandora, cheio de supressas e subjetividades, é vasto em
fotografia e imagens iconográficas, e contribuiu para compreensão de cada etapa e trajetória
dos que fizeram parte das memórias das Oitocentas.

E por fim, no terceiro quarto, nosso último objeto era um baú envernizado, que nele
estavam às cartas manuscritas, bem como as fotos que nos forneceu detalhes e subjetividades.
Ali mesmo nos debruçamos no acervo iconográfico que contou vida das famílias dos senhores
de engenhos: Caraíbas, Catete, Santa Bárbara, foto do Barão de Maruim 129; podemos registrar
fotos da família dos treze irmãos, tios, avó, primos, Sobrinhos e do próprio engenho
oitocentas, das casas dos moradores, do antigo engenho e usina oitocentas entre outros objetos
de cunho pessoal.

Daquele objeto o baú de Graziela, aparentemente sem valor algum, está à vida, as
recordações, memórias, as cartas com informações das chegadas e saídas dos irmãos, cartas
com perguntar e respostas acerca da vida da família Vieira de Azevedo, riqueza incalculável e
de grande importância do ponto de vista afetivo e histórico, pois revelam datas relevantes para
o conhecimento histórico e memorável.

Vale salientar que estes objetos, cada um individualmente, tem história na passagem
de cada filho, principalmente na vida da atual proprietária, Dona Graziela Vieira de Azevedo;
todos estes objetos fazem parte da sua vida, história e memórias.

Percebemos através das fotos identificadas, que continuam servindo como


representações das memórias, memórias estas, que evidencia a existência da pequena Usina
Oitocentas ao longo dos anos que esteve em funcionamento. Como já exemplificamos essas
memórias que foram confirmadas através do testemunho vivo da filha Gulnar Vieira de
Azevedo.

129
João Gomes de Melo conhecido como Barão de Maruim herdeiro do engenho Santa Barbara parente da
família das oitocentas.
79
“Nas oitocentas apesar de pequenininho ele produzia açúcar Cristal, no
engenho tinha turbina e vácuo e produzia três mil sacos de açúcar. Apesar
de pequeno produzia, fazia questão de fazer à produçãozinha dele”130

Imagem 11 - Representação da Usina Oitocentas


Foto: Banco de Dados Projeto Massapê

Seu José Paes de Azevedo Sá conhecido em Rosário do Catete como Juca das
Oitocentas, como já salientamos, distinguiu-se pela bondade e pela firmeza de caráter,
sobretudo se levarmos em conta os depoimentos que pudemos coletar e registro impressos.

O nome desse rosarense foi motivo de orgulho para seus conterrâneos. Vejamos o que
afirma o Senhor Luiz Ferreira Gomes131, antigo morador de Rosário do Catete e
contemporâneo de Juca das Oitocentas:

“Juca das Oitocentas eu posso afirmar com firmeza porque eu conheci


muito, sou muito simpatizante porque era uma pessoa fora do comum, uma
pessoa de uma personalidade, de uma dignidade, aqui em Rosário não teve
outra pessoa igual a ele. O oitocentas era um engenho moía, eu alcancei
moendo e tudo mais, ele era um usineiro de pouco recurso, o que ele tinha
muito era uma personalidade, não tinha senhor de engenho aqui em Rosário
que teve a personalidade e dignidade que José Paes de Azevedo Sá teve132.”

130
Trecho do depoimento da Senhora Gulnar Vieira de Azevedo cedido ao Documentário do Projeto Massapê.
Massapê Rosário do Catete Memórias e Engenhos.
131
Idem, p.13
132
Documentário do Projeto Massapê. Massapê Rosário do Catete Memórias e Engenhos.

80
Com as dificuldades que enfrentavam seus pais para educar os quatro filhos nos cursos
primário e ginasial (hoje 1º grau), procurou seguir a carreira de telegrafista, fazendo curso em
Campinas, contudo exerceu a profissão por pouco tempo, pois teve que retornar a sua terra
natal devido ao falecimento do seu genitor.

Mesmo voltando a viver em um meio acanhado, num estado pequeno, não se


descuidou do aprimoramento de seus conhecimentos; era um autodidata, conseguiu por
esforço próprio um nível cultural invejável.

É verdade que apesar de não ter formação superior, era um entusiasta de Balzac, Zola,
Victor Hugo, Shakespeare, Tolstoi, Dostoievske e inúmeros outros representantes da cultura
estrangeira.

Da literatura brasileira não se cansava de apontar Machado de Assis, Castro Alves,


Tobias Barreto, Rui Barbosa, Silvio Romero, Emílio de Menezes entre outros. Cujas obras
deveriam constar nos currículos escolares, para um melhor aprofundamento. O mesmo foi
chefe político por várias décadas, tendo ocupado uma cadeira na Câmara de Vereadores da
qual foi Presidente.

Ele ocupou temporariamente o poder executivo em 1937. Também exerceu a função


de secretário da casa de Caridade de Rosário do Catete de acordo com o jornal O Rosário
datado de 13 de agosto de 1933, p.4., que anuncia a posse da nova diretoria e entre os nomes
da a comissão está do senhor José Paes de Azevedo Sá, reeleito para o cargo de secretário.

Em relação ao Engenho Oitocentas, vale salientar que seus proprietários foram todos
da mesma família, tendo pertencido ao Senhor Manoel Paes de Azevedo e antes deste, aos
seus genitores; contudo, entre todas as gerações é relevante destacar o senhor José Paes de
Azevedo Sá.

José Paes de Azevedo Sá (Juca das Oitocentas) nasceu em Riachuelo no dia 7 de maio
de 1875, registrado como rosarense filho de Manoel Paes de Azevedo, mencionado acima e
da senhora Ernestina Teles de Menezes com quem teve quatro filhos entre eles o Juca das
Oitocentas.

81
Ele fez o curso ginasial e depois seguiu para o Estado de São Paulo, na cidade de
Campinas, iniciando o curso de telegrafista. Mais certo, dia sua mãe o chamou para retornar a
sua terra natal, pois o pai dele havia falecido.

Conforme solicitação de sua mãe Ernestina Teles de Menezes o filho José Paes de
Azevedo Sá regressou para cuidar da propriedade com afinco e dedicação, tornando-se anos
depois senhor das Oitocentas.

Imagem 12
José Paes de Azevedo Sá
(Juca das Oitocentas)
Acervo: Banco de Dados Projeto Massapê

Para Nilza Vieira de Brito, a filha caçula: “Ele procurava ser grato a todos da família,
amigos, trabalhadores. Procurava construir elos de amizades e por isso não o tinham
somente como chefe de família, senhor de engenho, mas como amigo, um homem à frente do
seu tempo bem liberal”133.

Com relação às características físicas, o Senhor José Paes de Azevedo Sá era vistoso
no aspecto físico, forte, bonito e falava muito alto. Ele deixava por onde passava uma boa
impressão entre os que o cercavam.

Tinha o hábito de ir à cidade vizinha de Maruim, frequentava o gabinete de leitura,


falava com os amigos, sempre almoçava mediante rodízio, em casa de familiar.

133
Depoimento em janeiro de 2017.
82
Ele enamorou-se de Cecília, filha do Senhor e da Senhora de engenho Sitio Novo e do
engenho Catete Velho, José Sotero Vieira de Melo e dona Maria Barreto de Menezes. Eram
seus vizinhos e primos, e casou-se com ela em 30 de junho de 1900, passando a chamar-se
Cecília Vieira de Sá, filha do senhor. O enlace matrimonial se deu numa manhã de inverno, na
cidade de Rosário do Catete, na igreja Nossa Senhora de Nazaré, propriedade dos pais de
Cecília. Foi celebrado como um grande acontecimento social, pois selava a união de duas
famílias importantes da sociedade rosarense: a junção de muitas famílias entre eles dos Vieira
de Melo com os Azevedo.

Desse Consócio, surgiu a família Vieira de Azevedo. Em cinquenta anos de casados,


José Paes de Azevedo Sá e Cecília Vieira de Sá tiveram uma numerosa família de doze filhos.
Suas trajetórias serão descritas a seguir, ordem de nascimento e respectivos herdeiros. Para
além de uma descrição pura e simples, a necessidade de deslindar aspectos da história do
lugar e de suas pessoas.

Em tudo Seu Juca pensava e via beleza, procurava dá sentido à vida. Certamente não
se descuidou da educação de seus herdeiros, os mais velhos estudaram as séries iniciais em
Maruim, depois seguiram para o Rio de Janeiro para o colégio militar em Minas Gerais na
cidade de Ouro Preto.

Seu Juca morava no Engenho Oitocentas, e viveu do cultivo da cana de açúcar, dos
produtos industrializados pelo engenho, bem como da criação de gado e dos produtos da terra.
Decorrente do seu esforço e trabalho nas Oitocentas pôde educar e criar todos os seus filhos,
uma empreitada que certamente não deve ter sido fácil, pois teve uma numerosa prole e seu
principal objetivo formar os filhos.

Segundo depoimento da filha Dona Nilza, para formar o caráter ela se espelhou em
seu pai que era uma figura trabalhadora séria que antes de assumir a fazenda da família
trabalhou como telegrafo em São Paulo.

Cada indivíduo tem recordações, memórias de infância, de lugares de objetos.


Recordar ações, fatos, acontecimentos, é viver o presente, os exemplos do passado,
enriquecendo-se como pessoas.

83
Os filhos de sua mocidade receberam uma herança inapagável de seus pais: caráter
combativo, sentimentos de justiça, ética que foram transmitidos aos seus descendentes nas
várias gerações.

São os herdeiros não de bens materiais e patrimoniais, propriedades que valem pouco
e se dissipam, mas o caráter de um homem que faz parte da história com uma trajetória de
determinação e com a missão única de criar e educar seus doze filhos.

Imagem 13 – Alguns dos filhos de Juca das Oitocentas: Agliberto,


Ibelza, Osvaldina, Temístocles, Nilza, esposo José, Gilca, Graziela,
Gulnar Vieira de Azevedo.
Acervo: Josineide Luciano Almeida

Péricles Vieira de Azevedo nasceu no dia 10 de abril do ano de 1903 e veio a falecer
prematuramente com cinquenta e sete anos em fevereiro de 1961. Primeiro dos doze filhos de
José Paes de Azevedo Sá e Cecília Vieira de Melo. Cursou as séries inicias na cidade de
Maruim e depois foi enviado por seus pais sob o cuidado de seu tio Heitor Paes de Azevedo,
irmão de seu pai, para a cidade do Rio de Janeiro, onde cursou o Colégio Militar. Após a
conclusão do ensino secundário, ingressou na Escola Militar e assim seguiu a carreira das
armas. Chegou ao posto de Tenente Coronel da Infantaria no Rio de Janeiro.

84
Imagem 14 - Tenente Coronel Péricles Vieira de Azevedo
Do Exército e Advogado
Acervo: Banco de Dados do Projeto Massapê
Foto: Data de 28/03/1942

As cartas134 trocadas entre Péricles Vieira de Azevedo e Graziela Vieira de Azevedo


são fontes relevantes para o entendimento acerca do engenho oitocentas.

Vejamos o trecho abaixo:

“Quando me lembro das Oitocentas o que aconteceu todos os dias e uma


paisagem bonita, centro da nossa vida da família, símbolo da nossa unidade,
abrigo de todos nós, fonte cristalina onde não falta água da afeição, cajazeira
perfumando o ambiente dando boa sombra. Perto do encontro dos nossos
deveres maiores e das nossas alegrias mais profundas. Amo o Oitocentas
com grande transbordamento de afeto.
Amo com saudades, amo chorando quando evoco a minha infância os dias
difíceis do Oitocentas, aqueles dias que levaram anos em que se a tenacidade
do pai e a boa existência de nossa mãe tornaram possível á arvore dá frutos
tão bonitos; amo com orgulho.
Como é delicioso, confundir Graziela com Cecília, Agliberto com Juca!
Amo-a querida Graziela, adoro-a porque seu nome verdadeiro é Oitocentas e
seu sobrenome é Cecília.
Tudo que sou devo a Oitocentas. E as Oitocentas que devo a justa
compreensão que tenho da vida, e oitocentas é essa mistura de afeto.......
beijo e lágrimas.......... Junção de dificuldades e vitórias135. ”

Péricles, além da carreira militar, dedicou-se ao estudo do direito. Segundo seu primo,
Silvio de Melo Dantas136, filho de Dovalina Vieira de Melo, sua tia, irmã de dona Cecília.

134
Carta manuscrita e assinada a punho por Péricles. Teresina, 10 de novembro de 1959.
135
Trechos da carta de Péricles Vieira de Azevedo - Sua Memorias acerca do Engenho Oitocentas. Carta
manuscrita e assinada a punho por Péricles. Teresina, 10 de novembro de 1959.
136
DANTAS, Melo de Sylvio. Minha família – Árvore Genealógica Comentada. - Salvador dezembro de 2013.

85
Ele relata sobre seu primo Péricles e sobre os demais filhos de Juca de maneira breve e
em alguns trechos alguns equívocos que foram tratados, confrontados e na medida do
possível, colocados de forma clara no depoimento das próprias filhas e neta de seu Juca.

Ainda sobre Péricles, Melo de Sylvio Dantas afirma: quando o mesmo era aluno da
Escola Militar, aderiu à Revolução de 1922, e por essa razão foi expulso da escola. Foi
quando iniciou seus estudos na área do direito e segundo sua irmã Gulnar, ele exerceu a
profissão de advogado, mas que não teve muito êxito, pois naquela época, recém-formado
sendo que para viver da advocacia era difícil então advogou por pouco tempo.

Sua irmã Gulgar ratifica em seu depoimento, que era um jovem muito inteligente, de
conversa fácil e agradável, um orador primoroso. Na ocasião do falecimento do seu avô José
Sotero Vieira de Melo, ele representou a família.

Como dizia os antigos, ele não tinha papas na língua. Como se costuma dizer por não
temer as consequências. Pagou o seu preço quando em temporada aqui em Sergipe veio a ser
preso pelo presidente de Sergipe, Manoel Correia Dantas. Péricles fez uma denúncia acerca
do êxodo rural que estava acontecendo no país, particularmente em Sergipe.

Péricles casou com Zilda Bastos Azevedo, desse enlace, nasceram: Solange, Sônia e
Sérgio Bastos de Azevedo.

Solange Bastos de Azevedo é uma das netas de seu Juca, ela deu oportunidade de
conhecer mais um pouco das memórias das Oitocentas e dos seus avós em depoimento que
nos concedeu em 7 de setembro de 2018, quando em visita à suas tias, em comemoração do
aniversário de 103 anos da atual proprietária Graziela Vieira de Azevedo. Nasceu em 17 de
fevereiro de 1935 e casou-se em 17 de fevereiro de 1955, é filha de Péricles Vieira de
Azevedo e Zilda Bastos de Azevedo. Casou em primeiras núpcias com Ronaldo Bueno
Caixeta com quem teve três filhos: Roseane, Ronaldo e Alexandre de Azevedo Caixeta, cada
um deles também já constituíram suas famílias. Com o falecimento do seu esposo, Solange
contraiu novas núpcias, com Elesbão Bastos de Andrade e desta união teve mais uma filha
Denise Azevedo Bastos de Andrade. Elesbão também já faleceu e Solange, mais uma vez está
viúva, e fixou residência em Belo Horizonte.

86
Em relação aos netos137 de Juca, tivemos oportunidade de conhecer alguns deles. Os
mesmos têm por ele admirável gratidão, ao seu lado viveram temporadas de férias
inesquecíveis, dias de intensas felicidades e anos de ótimo aprendizado através de cordatos
conselhos e da história de vida de seu avô.

A senhora Solange, uma de suas primeiras netas e teve oportunidade de conhecer o


cotidiano138 na vida nas Oitocentas. Segundo a mesma, sua infância seguiu o estilo
tradicional das famílias que possuíam propriedades, terras. Seguia os banhos de rios, quando
em estada na casa da vovó Cecília e vovô Juca, lembro os passeios a cavalo, os doces que a
vovó fazia, em tempo de São João ela fazia uma fogueira para cada um dos netos que ali
estivessem.

“Comíamos milho, bolos, canjica, pamonha e tantas outras guloseimas. Tudo


isso acontecia no período das férias escolares, era nossa melhor diversão,
além de ver todo o movimento do engenho: os trabalhadores, que traziam as
canas de açúcar, aqueles que faziam todo o processo de produção industrial
do açúcar cristal. Tive oportunidade de conviver com essas invenções
cotidianas por ser neta de senhor de engenho.139”

Outro filho de Péricles é Sérgio, nascido no dia 24 de dezembro do ano de 1938.


Casado com Maria Ângela Vasconcelos, em 15 de abril de 1963 e desse matrimônio nasceram
Patrícia e Ernesto Vasconcelos Gomes de Azevedo, quando em contato com algumas cartas
trocadas por Sérgio para a tia Graziela expondo suas memórias e tristezas ao perder a figura
paterna prematuramente.

137
Solange, Sérgio Bastos de Azevedo, Cecília, Nelson Tavares de Brito, entre outros desta numerosa
descendência de Juca das Oitocentas. Bisneto Ronaldo Bueno Caixeta que tivemos oportunidade de conhecer
juntamente com sua mãe em 2018.
138
CERTEAU, Michel de, 1925-1986. A invenção do Cotidiano:2 Morar, cozinhar/Michel de Certeau, Luce
Giard, Pierre Mayol; Tradução de Ephraim F. Alves e Lúcia Matilde Endich Ort.12. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
2013.

139
Entrevista de Solange Bastos de Azevedo em janeiro de 2018.
87
Momentos difíceis de Sérgio140 ao perder a figura paterna, e resolve escrever para suas
tias para assim abri seu coração suas tristezas e expectativas. Registramos abaixo a carta data
de 25 de março de 1961 (Ouro Preto):

Carta de Sérgio Bastos de Azevedo para:

“As queridas tias,

Está é a primeira carta que lhes escrevo depois da morte de papai.


Recebemos lá em casa o telegrama que vocês nos enviaram.
Não vou falar afim, naturalmente da dor que sentimos, não vou falar ela foi
de todos nós a mesma maneira e é grande demais para se pôr em palavras.
A vida prossegue, num processo dinâmico modificando-se a cada dia....essa
é a nossa herança, esse é nosso orgulho, orgulho de não esmorecer nunca de
lutar sempre. Espero notícias de vocês, escrevam sempre. Quero saber de
vocês e de Oitocentas, que é nossa. ”

Temístocles Vieira de Azevedo nasceu nas Oitocentas, no dia 5 de abril de 1904,


segundo suas irmãs ele era bem mais rígido do que seu pai Juca. Afirmaram que deve ter sido
por causa de sua formação inteiramente militar.

Assim foi a trajetória de Temístocles, a exemplo de seu irmão Péricles, cedo ingressou
na carreira militar e sentou praça no exército em abril de 1924, ingressou na Escola da
Infantaria, chegando a ser promovida a aspirante em janeiro de 1927, a segundo tenente em
julho do mesmo ano e a primeiro- tenente em julho de 1929. Nesse período, de julho a
outubro do ano de 1932, participou do combate à Revolução Constitucionalista141, em São

140
Carta de Sérgio Bastos de Azevedo filho de Péricles Vieira de Azevedo para as suas tias Gulnar, Gilca,
Graziela Vieira de Azevedo.
141
Revolução Constitucionalista – 1932 em São Paulo.
88
Paulo; em novembro desse mesmo ano, foi promovido a Capitão e exerceu a função de
Comandante da Força Policial de Alagoas.

Imagem 15 - Temístocles Vieira de Azevedo


Acervo: Banco de Dados do Projeto Massapê

Embora sua formação fosse militar, se viu na posição de Interventor do Estado de


Alagoas, em 2 de março de 1934, por decisão direta do presidente em exercício Getúlio
Dornelles Vargas.

No ano de 1934 assumiu a interventoria interina em Alagoas, substituindo o


Interventor Osmam Loureiro de Faria, permanecendo no cargo até o dia 1º de Maio de 1934,
quando o titular regressou ao posto.142

Temístocles ainda alcançou a patente de major, em outubro de 1942, tenente-coronel,


em março 1948, e coronel em julho de 1952. Em seguida foi promovido, sua maior patente
General de Divisão da Reserva Remunerada.

Quando serviu na cidade de Maceió, como Interventor chegou a conhecer Erotildes de


Araújo Costa, nascida em 20 de março de 1912, com quem veio a contrair matrimônio em 30
de março de 1930 e passou a chamar-se Erotildes de Araújo Azevedo. Dessa união nasceram,
Heloísa, Enaura, Alberto, Nilton e Neuza Vieira de Azevedo dos quais versaremos a seguir.

142
Fontes: Jornal do Brasil de 27 de março de 1999; Mini. Guerra Almanaque de 1948 e 1958; Arquivo público
de Alagoas.
89
Heloísa nasceu em 18 de novembro do ano de 1930, casou-se com Armando Firmo de
Moura. Eles tiveram cinco filhos: Mauricio, Ricardo, Maria Cecília e Murilo Azevedo Firmo
de Moura. O esposo de Heloísa veio a óbito prematuramente e mesma herdou a difícil tarefa
de cuidar e educar dos filhos. Ela também dedicou muita atenção a seu pai, em seus últimos
dias de vida, fazendo rodizio com os irmãos. Preferia ficar uma semana completa no Rio de
Janeiro para assim cuidar da saúde do seu progenitor, que faleceu no Rio de Janeiro em 20 de
março de 1999 aos 94 anos de idade.

Registramos que a família de Temístocles também foi numerosa e todos os filhos e


filhas galgaram êxito. Esses próximos parágrafos tratam-se dos descentes de Temístocles os
filhos e netos do mesmo que passamos a descrever: Mauricio Azevedo Firmo de Moura
formado em engenharia civil pela Universidade Mackenzie, casado com Tania Faé de Moura
e tiveras três filhos. Ricardo Faé de Moura formado em Direito pela Universidade de São
Paulo, e fez também fez medicina especialidade na área da pediatria. Carlos Faé de Moura
formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing.

Adriana Faé de Moura, formada na área de arquitetura pela Universidade Mackenzie e


pós-graduação em Arquitetura ambiental pela politécnica de Milão.

Maria Cecília Azevedo Firmo de Moura, formada em pedagogia pela Universidade


Mackenzie e atualmente diretora de produção.

Murilo Azevedo Firmo de Moura é diretor de produção da Murilo A. L. Moura


Confecção Ltda. Casado com Gabriela Baumgat. Gabriela teve dois filhos do primeiro
casamento.

Enaura Vieira de Azevedo, casada com João Luiz Ziller Merege, dessa união
nasceram: Celso, César, Renato e Rogerio de Azevedo Merege.

Celso de Azevedo Merege, formado em Engenharia elétrica pela UERJ, casado com
Anna Chistina Garambone da Cruz desse enlace nasceram Juliana Garambone Merenge
formada em Engenharia Química UFRJ.

Daniel Garambone Merge, estudante secundarista. César de Azevedo Merege


formado em engenharia Civil, casado com Áudara Claudia Souza de Carvalho não tiveram
filhos.

90
Alberto Vieira de Azevedo, formado arquitetura casado com Maria Selma Honório
Lisboa. Faleceu prematuramente mais dessa união nasceram Ana Clara (In Memoriam),
Alberto Luiz Lisboa de Azevedo Engenheiro de Segurança e arquiteto. Casado com Cristine e
dessa união nasceram Ygor Vidal de Azevedo, estudante Yasmin Vidal de Azevedo estudante
nascida em 2004.

Temos ainda, Newton Vieira de Azevedo, casado com Miriam Rodrigues Viana de
Azevedo. Desse enlace nasceram Christian Viana de Azevedo, formada em Direito e
professor de Inglês, agente da polícia Federal. Eduardo Viana de Azevedo, professor
universitário formado pelo UFMG. Thiago Viana de Azevedo solteiro formado pela UFMG
em geografia. Hoje reside em Belo Horizonte viúvo e reside com o filho Tiago.

Neuza Vieira de Azevedo, irmã gêmea de Newton, funcionária pública aposentada.


Divorciada, casou-se com Jorge Haffer Filho, dessa união nasceu Marco Aurélio de Azevedo
Haffner, formado em Direito pela PUC –RJ. Especialista em Direito processual trabalhista.
Podemos confirmar que realmente a família de Temístocles é numerosa e os Azevedo dessa
terceira e quarta geração certamente não conheceu mais certamente ouviu falar do seu avô
Juca das Oitocentas.

Ibelza Vieira de Azevedo permaneceu nas oitocentas com Graziela Vieira de


Azevedo, sua irmã e administraram a propriedade juntamente com seus progenitores. Segundo
sua irmã Gulnar, Ibelza foi para o Rio de Janeiro estudar, mas não se adaptou, ficou doente e
assim retornou para seu recanto nas Oitocentas, não desejando retornar e se formar. Ibelza
ficou com os seus progenitores, administrando a pequena usina oitocentas e cuidando nos
afazeres domésticos com sua mãe, Cecília e no cuidar dos seus irmãos mais novos. A mesma
herdou por toda a sua existência, a calma da mãe e o entusiasmo de papai, sempre alegre e
disposta. Vejamos como sua sobrinha, Heloisa Vieira de Azevedo, filha de Temístocles, assim
descreveu em uma das cartas escrita para queridas tias. “Foi muito bom ter participado desse
encontro, onde tudo foi alegria junto a um grupo tão grande de pessoas queridas. Pena que
faltasse, algumas pessoas como a Enaura143 que teria ficado muito feliz de ter estado aí. Tia
Ibelza está ótima quem me dera ter a chance de chegar aos oitenta cheia de vida, com uma
cabeça boa e de bem com o mundo. ”

143
Neta de Juca das Oitocentas - Enaura Vieira de Azevedo filha de Temístocles Vieira de Azevedo.
91
Imagem 16 - Ibelza Vieira de Azevedo
Acerco: Banco de Dados Projeto Massapê

Ibelza nasceu em 31 de julho de 1905, e veio a óbito em 25 de abril de 2004, com seus
noventa e nove anos de idade. Apesar de não ter continuado seus estudos, junto com sua irmã,
Graziela tocaram a pequena Usina Oitocentas mesmo contando com muitas dificuldades e
grande concorrência.

Agliberto Vieira de Azevedo nasceu no Engenho Oitocentas de propriedade da


família, situada nas proximidades da cidade de Rosário do Catete (SE), no dia 19 de outubro
de 1906. Concluiu os estudos básicos na cidade de Maruim, indo no ano seguinte para o Rio
de Janeiro, na época Distrito Federal, onde residiam seus irmãos mais velhos: Péricles e
Temístocles o mesmo conclui o curso no ano de 1926.

Agliberto sentou praça em abril de 1927, ao entrar na Escola Militar do Rio de Janeiro,
no bairro do Realengo. Nessa ocasião havia se envolvido com as ideais socialistas.

Como os seus irmãos optaram pela carreira militar, Agliberto se encaminhou para a
Aviação do Exército. Com a criação da Aviação, pelo presidente Getúlio Dorneles Vargas, no
ano de 1929, optou pela arma de aviação, sendo transferido para o Campo dos Afonsos, no
Rio de Janeiro. Ele passou a colaborar financeiramente com o jornal comunista: A Classe
Operária.

92
A linha ideológica abraçada por Agliberto, fez dele um idealista e revolucionário,
filiou-se ao Partido Comunista (PCB), que tinha por objetivo auxiliar militantes e família que
necessitassem. Em janeiro de 1930 foi declarado aspirante- a –oficial da arma da aviação.

Foi promovido a segundo tenente em julho, em outubro aderiu ao movimento armado


pela Aliança Liberal que depôs o presidente e Washington Luís, assumindo uma postura
crítica em relação a Revolução de 1930.

Como podemos perceber, apesar de um contexto de revolta e pressões políticas e


ideológicas da “Era Vargas”144, Agliberto esteve galgando posições dentro da aeronáutica e
assim continuava sendo promovido, desta vez, a primeiro tenente. Em junho do ano de 1932,
passou a trabalhar na organização do jornal comunista Asas Vermelhas.

No seguinte ano, ingressou nas fileiras do Partido Comunista Brasileiro (PCB).


Registramos ainda, que no ano de 1934, chegou ao posto de capitão quando chefe de pista na
Escola de Aviação Militar.

Sempre se envolvendo em movimentos populares, de ideais anti-imperialistas e


antilatifundiarios. Em 1935, filiou-se à Aliança Nacional Libertadora (ANL), esse movimento
reuniu representantes de diversos segmentos da sociedade brasileira que foram identificados
como opositores do presidente Getúlio Vargas. A Aliança Nacional Libertadora foi colocada
na ilegalidade pelo governo, em julho do mesmo ano. A ANL continuou com suas ações
políticas cladestinamente, sob proteção do Partido Comunista Brasileiro (PCB), esse
movimento articulou um plano de insurreição.

Capitão Agliberto Vieira de Azevedo, juntamente com Capitão Sócrates Gonçalves da


Silva integrava o comando. Na madrugada do dia 27 de novembro iniciou o levante em
duas unidades militares do Rio de Janeiro, mas, foi prontamente dominado pelas forças
comandadas pelo General Eurico Dutra do 1ª Região Militar.

144
Era Vargas é o período da história do Brasil entre 1930 e 1945, quando Getúlio Vargas governou o Brasil por
15 anos e de forma continua é compreendida como a Segunda República e a Terceira República.
93
O Capitão Agliberto foi preso e perdeu a patente e o posto de Capitão,145 só deixou a
prisão em 1945, pois foi beneficiado pela anistia concedida pelo presidente Getúlio Vargas
aos presos políticos.

Registramos que neste período após a soltura, passou a integrar a Comissão Nacional
de Organização, ou seja, passou a trabalhar ativamente na organização do Partido Comunista
Brasileiro, desta vez dentro da legalidade, defendendo Luís Carlos Prestes no partido e na
política nacional dessa forma Prestes o nomeou juntamente como o Agildo Barata para o
Comitê central.

Na qualidade de membro do órgão de direção e do PCB, Agliberto preparou diversas


células do partido e participou da comissão de organização e finanças. A ação foi
intensificada devido à aproximação das eleições marcada para dezembro de 1945, e o Partido
Comunista Brasileiro também concorreria.

No ano de 1947, o Partido Comunista entra na ilegalidade após decretação mais uma
vez na Clandestinidade. Do Rio de Janeiro o Agliberto foi transferido para Recife onde
trabalhou na organização do Comitê Regional. Mais uma vez foi preso em 1950 suspeitos de
exercer atividades partidárias nas forças armadas.

Perdeu seu posto, sua patente, mas seguia em frente com a “mesma convicção
revolucionária, mais preparado, sempre o mesmo valente e combativo”146 com sua absoluta
certeza de que seriamos um pais melhor.

Preso e condenado pelo Conselho de Justiça da Aeronáutica, condenado a quatro anos


e quatro meses de prisão, e mesmo depois de ter cumprido a pena, continuou preso e foi
transferido para o DOPS do Rio de Janeiro e só foi libertado após impetração de Habeas-
corpus e seu processo só foi arquivado no ano de 1958.

De volta à liberdade, o partido Comunista o envia para o Paraná, onde passa a ser
colaborador do jornal Tribuna do Povo e mais dois outros periódicos: Novos Rumos e Terra
Livre. Saiu candidato a deputado estadual pelo Paraná no ano de 1962, mas não foi eleito.

145
Preso perdeu o posto e a patente de Capitão pelo Decreto-Lei nº558 que foi homologado em 31 de dezembro
de 1935, foi julgado pelo Tribunal de Segurança Nacional (TSN), recebendo a maior pena entre os réus
envolvidos. 27 anos e seis meses de prisão.
146
Jornal Imprensa Popular 19 de julho de 1952 p. 2.
94
Seguia os movimentos político militar pelo Brasil. No entanto, foi em março de 1964
que os direitos políticos foram casados mediante o Ato Institucional número 1 foi decretado
em 9 de abril isso depois do Presidente João Goulart se deposto. Agliberto foi detido para
interrogatório e permaneceu mais uma vez preso até 1966. Após liberto, entrou
cladestinamente na Argentina, onde em contato com o Partido Comunista da Argentina,
passou a morar com militantes ligados ao Sindicato de construção civil, onde passou a
trabalhar como operário nas construções em Buenos Aires.

Esse revolucionário viajou em 1969 para vários países após estabelecer contato com o
partido Comunista da França, e do PCB, em nome do comitê central trabalhou na organização
dos exilados políticos e em jornais comunistas. Agliberto participou de diversas reuniões de
partidos comunista da Europa. Foi enviado para no ano de 1973 para Praga onde trabalhou em
uma Revista Internacional. E nesse mesmo ano participou em Moscou das reuniões do Comitê
central do PCB, com objetivo de reorganizar e confirmar sua posição Partidária.

Enquanto isso, aqui no Brasil, em agosto de 1979 foi decretada a anistia aos presos
políticos, contudo, Agliberto só regressou ao Brasil em 1980, e em 1989 foi definitivamente
anistiado, promovido ao posto de Coronel-aviador da reserva. Com o falecimento de Luís
Carlos Prestes em março de 1990, ele afastou-se das atividades políticos partidárias.

Agliberto escolheu uma vida combativa, revolucionária com ideias do regime


comunista, por isso, teve uma carreira militar interrompida, prejudicada mediante as inúmeras
prisões147 a que fora submetido na clandestinidade e exilio que fora obrigado a passar.

Em carta de 2 de fevereiro de 1980, Agliberto declara o desejo de poder reencontrar


as irmãs nessa inesquecível oitocentas que vocês vêm mantendo como tradição unitária do
nosso núcleo familiar, renovando no mínimo de conforto e ampliação das possibilidades,
como unidade econômica, capaz de sobreviver enfrentando a desenfreada competição com os
grandes proprietários. Essa palavra nos dá a entender que as irmãs Ibelza, Ligia e Graziela
continuavam mesmo dom dificuldades mantendo o funcionamento da usina é uma hipótese
apesar de nos registros afirmarem que esteve em funcionamento até 1960.

147
O jornal correio da noite de 27 de novembro de 1935. Jornal a voz operária Rio de Janeiro, 21 de dezembro
de 1951, p.4. A voz operária Rio de Janeiro 31 de março de 1935.
95
Após anistiado, pôde viver uma vida em paz, seus últimos anos com anistia foi
devolvida não somente sua vida, sua liberdade de ir e vir mais também foram promovidos, na
inatividade, ao posto de Brigadeiro, o que resultou na melhoria de sua situação econômica.

Agliberto era casado com Maria da Glória Oliveira de Moura Castro e da união
nasceu seu único filho, a quem deu o nome de Gennysson Castro Azevedo, em homenagem
ao seu irmão que faleceu ainda muito jovem.

Imagem 17 - Capitão Agliberto Vieira de Azevedo –


Esposa Maria da Glória Oliveira de Moura Castro
Acervo: Banco de Dados Projeto Massapê

Seu filho Gennysson, casou com Vilma Travassos Azevedo e desse enlace, nasceu
Luiz Travassos Azevedo. Seu neto Luiz, também se casou com Vera Lucia M. Rocha Filha e
da união nasceu o Antônio Rocha Azevedo. Agliberto viveu seus últimos anos com sua
família, particularmente das suas irmãs, que nunca lhe negaram apoio em seus momentos
difíceis.

Por isso, ao receber o montepio148, considerou suas irmãs suas dependentes e assim,
as mesmas passaram a fazer jus, após o falecimento dele aos 90 anos de idade, no Rio de
Janeiro, em 14 de dezembro de 1995, a pensão por ele deixada uma vez que seu único filho já
era homem.

148
É uma espécie de pensão destinada a prover o sustento de um beneficiário.
96
A Senhora Gulnar confirmou em depoimento que seu irmão realmente era um
revolucionário e não passava de um idealista. Também declarou essas informações no o
depoimento cedido ao Documentário Massapê. “Meu pai apoiava, era muito liberal ele
apoiava as ideias do filho”.

Ele morava no Sul, teve uma vida muito atropelada, foi preso várias vezes e tudo por
causa de suas ideais em relação ao comunismo, pois foi filiado ao Partido Comunista
Brasileiro e por isso passou por todas essas situações que foram descritas.

Imagem 18 - Oswaldina Vieira de Azevedo- Enfermeira


Acervo: Banco de Dados Projeto Massapê

Oswaldina Vieira de Azevedo nasceu Osvaldina em 21 de agosto de 1910, em10 de


fevereiro do ano de 2010, comemorou sua data natalícia do seu centenário em uma linda
reunião familiar, que contou com as presenças das irmãs, Graziela, Gilca, Gulnar, Nilza e a
maioria dos seus Sobrinhos e primos e um número generoso de amigos. Até a data citada
acima, não havia ocorrido entre os Vieira de Azevedo. Décadas depois outras centenárias
também apareceram com o passar dos anos nesse caso temos a Gilca que hoje conta com 101
anos de idade e a própria Graziela com 103 anos completos.

Ainda sobre Osvaldina, formou-se em Enfermagem e exerceu sua profissão na cidade


do Rio de Janeiro. Retornou a sua terra natal ao se aposentar vindo residir com suas irmãs
97
Gulnar e Gilca em Aracaju. Como já foram mencionados os filhos e as filhas que quiseram
estudar fora dos termos de Sergipe, Osvaldina foi uma das que souberam sonhar e buscar
novos horizontes para vida.

Ela foi casada com Moacyr Mota Pereira, dessa união não teve filho, durante as
comemorações de seu aniversário, participou de todo o ritual da Santa Missa em ações de
graças seguida dos cumprimentos e almoço. Ela conversava com todos apesar de sua idade
avançada estava lucida. Segundo depoimento de sua irmã Gulnar, ela veio a óbito aos 103
anos de idade. Ainda hoje as filhas de Juca as remanescentes têm essa tradição de realizar
almoço mediante data natalícia uma das outras e reunir a família os Sobrinhos e primos e
amigos.

Genisson Vieira de Azevedo149 nasceu no dia 2 de junho de 1908 e faleceu em 7 de


abril de 1933, com vinte e quatro anos de idade. Conforme depoimento de sua Irmã Gulnar
ele saiu das Oitocentas após fazer os estudos primários e estudou na cidade de Ouro Preto em
Minas Gerais onde deu início a faculdade de engenharia que não chegou a concluir devido a
um agravo na saúde.

Dessa forma teve que retorna para cidade natal para cuidar-se, contudo a enfermidade
agravou-se de tal maneira mais não houve jeito ele veio óbito ainda prematuramente como já
mencionamos jovem de modo que não teve oportunidade de ajudar os pais na administração
da empresa.

Lygia Vieira de Azevedo nasceu em 24 de março no ano de 1912 e faleceu em 15 de


dezembro de 1964, aos cinquenta e dois anos de idade. Estudou em Maruim as primeiras
letras e depois seguiu a carreira da docência, residiu nas Oitocentas, onde além de cumprir
com as tarefas domésticas auxiliando sua mãe, também ensinava em uma escola que foi
fundada e sustentada pelo seu pai. A escola fornecia todo o material escolar e era restrita aos
filhos dos trabalhadores da propriedade.

149
Não encontramos nos registros e acervo da família nenhuma foto que o representasse.

98
Imagem 19 - Ibelza Vieira de Azevedo – Auxiliou na administração do Engenho
Lygia Vieira de Azevedo- Foi Professora
Acervo: Banco de Dados do Projeto Massapê

Essa escola recebeu o nome em homenagem ao filho Agliberto Azevedo, por ele ter
sido um sonhador, idealizador e por estar distante. Devido às lutas e ideias esteve sempre
presente nas memórias e lembranças de cada membro dessa família que o apoiou em seus
ideais. Lygia era solteira e por ter falecido prematuramente, não pode levar até o fim seus
objetivos.

Graziela Vieira de Azevedo nasceu em 7 de setembro do ano de 1915. Estudou as


primeiras letras em Maruim e depois foi para o Rio de Janeiro, mas não se adaptou e retornou
para as Oitocentas. Não deu continuidade em seus estudos como seus irmãos. Sendo assim,
passou a auxiliar seus pais na administração geral das Oitocentas com sua irmã Ibelza.

Imagem 20 - Graziela Vieira de Azevedo –


Uma das filhas que optou Administra o Oitocentas
Acervo: Banco de Dados Massapê
Foto: Data 32/06/1950
Comemoração as bodas de ouro de seus pais
99
Seus irmãos acharam por bem deixar a propriedade para as duas irmãs que sempre se
dedicaram aos pais e aquele local de memórias lutas e vitórias de maneira que quando foi
feito o inventário deixaram como herança para suas irmãs Graziela e Ibelza e com falecimento
de uma a outra tornaria proprietária.

Nesse caso Graziela foi a comtemplada e tornou-se proprietária, mas sendo de idade
avançada e sem poder se locomover, os cuidados, manutenção e administração encontra com
um Subrinho Nelson Tavares Azevedo de Brito filho da sua irmã Nilza. Ele auxilia a parte
burocrática, cabendo a Gulnar, irmã da proprietária e procuradora, o cuidado com a
conservação do patrimônio físico, de sorte que a casa grande apresenta bom estado de
conservação: os trabalhadores abrem a casa grande para limpar e aquecer e com esses e outros
cuidados aquele lugar de memória tem perpassado gerações.

Graziela com idade avançada passou a residir em Aracaju com as demais irmãs e
sempre que podiam iam visitar e reunia a família para aquele almoço de confraternização e
relembrar os costumes e vida nas Oitocentas mais ultimamente apenas recebe informações
sobre a propriedade por parte da irmã, da governanta e pessoa de confiança da senhora Gulnar
a senhora Ivanice Oliveira150 já está com a família a vinte e oito anos, sendo que o pai da
senhora Ivanice prestou serviços de carpintaria nas Oitocentas, também conheceu e conviveu
de perto com seu Juca.

Mais ao final do ano de 2009, Graziela chegou a ser hospitalizada e seu problema de
saúde a obrigou interna-se em hospital e ali ficou por mais de onze meses, tendo recebido alta
em 20 de agosto de 2010, vésperas do centenário de sua irmã Osvaldina que já mencionamos.
Sendo assim recebida por todos com muita alegria e por ter se restabelecido, assistindo a
Santa Missa e todos os outros atos da solenidade.

Hoje se encontra aos 103 anos de idade impossibitada de ir a sua propriedade mais
sendo bem tratada, cuidada pela sua irmã e cuidadores: enfermeiros, secretária e uma equipe
médica a contento, de forma que tem sido longeva e deixa uma história de cuidado por aquele
lugar de tantas histórias e memórias para essa grande família.

As memórias pessoais que temos de Graziela são poucas, não foi possível colher seu
depoimento, pois a mesma tem dificuldades para falar, mas o que temos é o bastante para

150
Maria Ivanice de Oliveira. Governanta da casa e secretária pessoal de dona Gulnar Vieira de Azevedo.
100
saber que aqueles locais significados afetivos e memoráveis e conseguiu resistir ao tempo
graças aos esforços e dedicação, pois sempre tiveram unidos como grande família e maior
legado sua história e memória.

É conhecido que ao longo dos anos na vida das famílias certos indivíduos se destacam
por preservar objetos, coisas simbólicas que trazem lembranças, recordações de viveu para as
Oitocentas e fez o que podia para manter o engenho em pleno funcionamento mais a crise e
com o falecimento do seu pai o engenho declinou com o passar dos anos seguintes funcionou
até 1960 conforme dados do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico)151

Os objetos são representativos demostram uma relação de pertencimento, memória e


identidade da família Vieira Azevedo na pessoa da senhora Graziella Vieira de Azevedo pós-
morte de seus genitores passou a ser a legitima proprietária.

Memórias de Graziela sobre alguns momentos nas Oitocentas como estava se sentindo
naquele momento ao descrever a carta para o seu Subrinho Sérgio. São momentos grandiosos
ao descrever a paisagem, o campo, o engenho.

Segue abaixo, a carta pessoal o dar-a ver de Graziela Vieira de Azevedo

Oitocentas 23 de abril de 1961.

“Hoje está chovendo. Está semana é o terceiro dia que chove. Tudo está
verde, de um verde bonito, verde de tonalidades diferentes fazendo
contrastes com os bois pastando. Oitocentas apresenta uma paisagem bonita,
mais uma beleza morta sem vida. Tudo é triste como os dias de chuva e as
nossas almas.
Não adiante fazer o possível e impossível para levantar Oitocentas152 pois
falta nela a alma que é o povo. Todos fogem aqui e não sabemos o que fazer
para arranjar algumas famílias.
No momento só temos nós e a família do vaqueiro. Felizmente é grande está
é numerosa. Até Enedina alugou casa em Rosário e faz oito dias que se
mudou. Diz ela que é a precisão obrigou mais acho que deu um passo errado
alugar casa quando a vida está tão cara. Estamos esperando Ligia dia 30, esta
semana vamos arrumar a casa para recebe-la lavar, limpar os moveis e
arrumar nos seus lugares pois há dois meses que está tudo fora do lugar.
Estamos fazendo uma limpeza na casa e só ontem nos demos por
terminada”.153

151
Arquivo do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional) – O I inventário de
conhecimento de Patrimônio Cultural da cana de açúcar na Região do Baixo Cotinguiba/SE. Volume VII/junho
de 2010.
152
Nesse período Oitocentas já estava dando sinais de declínio passando pelo processo de transição deixando de
ser usina e passado a engenho de fogo morto.
153
Carta pessoal o dar-a ver de Graziela Vieira de Azevedo para seu sobrinho Sérgio.
101
Imagem 21 - Gilca Vieira de Azevedo – Funcionária Federal
Acervo: Banco de Dados Projeto Massapê

Nasceu Gilca Vieira de Azevedo no dia 17 de setembro do ano de 1917. Estudou as


primeiras letras em Maruim e conclui no Rio de Janeiro os estudos secundários e cursos na
área administrativa o que a fez ingressar mediante concursos na Empresa de Correios e
Telégrafos - ECT e, por causa da transformação desta referida empresa em sociedade mista,
teve que optar entre ela e outro órgão federal.

Mediante essa situação escolheu ficar com a Procuradoria Da Fazenda, onde ingressou
após concurso realizado em Salvador, e por onde veio se aposentar.

Apesar de pequena surdez ela apresenta um está de lucidez, embora fisicamente esteja
um pouco debilitada por questões de agravos em sua saúde e com a chegada de seu
centenário.

Atualmente, ela vive aos cuidados de sua irmã Gulnar juntamente com Graziela em
Aracaju na treze de julho, acompanhada de cuidados, companheirismo, laços de amor
fraternal.

Walter Vieira de Azevedo nasceu em Rosário do Catete – SE, em 31 de outubro de


1920, fez o curso de Medicina pela UNI-RIO em 1945, especialização em Radiologia, tendo
sido professor desta especialidade, 4ª Cadeira de Clínica médica da Universidade Federal do
Rio de Janeiro.
102
Na edição do jornal Rosário154 é editado que o jovem Walter Vai estudar aos 13 anos
de idade em colégio no Rio de Janeiro confirmando que os filhos de Juca também tiveram
educação diferenciada.

De acordo com o Jornal o Rosário, edição número 55.p.3 de 1936 traz uma nota
específica. “Para o Rio de Janeiro, onde estuda, seguiu no dia 18 o jovem Walter Vieira de
Azevedo, nosso distinto colaborador e filho do Sr. José Paes de Azevedo Sá nosso ilustre
conterrâneo e ledor. Ao Walter, que se despediu do diretor155 desta folha, boa voagem e
prosperidade nos seus estudos”.

Walter casou-se com Creuza Dantas da Silva, em 18 de dezembro de 1948. Ela,


formada em 1948 pela universidade Federal Fluminense, estado do Rio de Janeiro como
médica pediatra. Desse enlace nasceu Carlos, Luiz, Creuza, Cecília da Silva Azevedo.

Imagem 22 - Walter Vieira de Azevedo – Médico e a esposa Creuza Dantas da Silva


Acervo: Banco de Dados do Projeto Massapê

O filho Carlos da Silva Azevedo nasceu no dia 20 de janeiro de 1951. Formado como
médico Radiologista pela faculdade de Medicina de Petrópolis. Fez residência médica em Rio
de Janeiro pela Universidade do Estado do Rio. Ocupou o cargo de Coronel- médico da Força
Aérea Brasileira e está em atividade no hospital da FAB, no Galeão. Foi Casado com Maria

154
Jornal O Rosário, ano de 1933 Edição nº 12, p.3.
155
Jornal O Rosário de 1936, Edição nº55, p. 3. Diretor José Eduardo de Oliveira

103
Cristina Maioli, medica hematologista da UERJ. Desse casamento nasceram Thiago e
Verônica.

Thiago Maioli Azevedo é engenheiro Em Desenho Industrial pela Universidade


Federal do Rio de Janeiro. Foi casado com Thaís Ronaz, também engenheira e não tiveram
filhos.

Verônica Maioli Azevedo, Bióloga formada pela Universidade do Estado do Rio de


Janeiro e doutora em Biologia.

Nasceu Luiz da Silva Azevedo no dia 22 de dezembro de 1954, engenheiro pela


UEJR, exercendo suas funções na prefeitura do Rio do Janeiro. Divorciado e sem filhos.

Creuza da Silva Azevedo nasceu em 10 de maio de 1959, Psicóloga formada pela


Universidade do Rio de Janeiro, professora da Fundação Oswaldo Cruz. Casou no primeiro
consorcio com Paulo Melo e o segundo consórcio com César Victor Duarte desta união
tiveram três filhas: Laura Azevedo Duarte estudante em Universidade do Rio de Janeiro curso
de Biofísica. Outra filha é a Luiza Azevedo Duarte estudante secundarista. Por último temos
a Paula Azevedo Duarte, formada pela universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro.

Cecília da Silva Azevedo nasceu, no dia 4 de dezembro do ano de 1960, formou-se em


história pela Universidade Federal do Rio Janeiro. Fez pós doutorando156 em relações
internacionais. É professora da Universidade Federal Fluminense. Casada com Ricardo Luz
C. Beltrão, engenheiro com quem teve dois filhos André Azevedo Beltrão, advogado e Ana
Azevedo Beltrão formada em Medicina.

Esses acima citados são os filhos e netos de Walter Vieira de Azevedo o mesmo foi
médico e professor, mas, um trágico acidente lhe ceifasse a vida em 2 de março de 1977, após
acidente de automóvel em viagem de férias, á Guarapari- ES.

Gulnar Vieira de Azevedo nasceu na fazenda oitocentas em 20 de fevereiro do ano


de 1924, estudou as primeiras letras no próprio colégio já mencionado Escola Agliberto
Azevedo nos termos do próprio Engenho Oitocentas sendo sua professora a sua irmã Lygia
Vieira de Azevedo e depois foi enviada ao internado Nossa senhora das Graças, em Propriá
onde ficou pouco tempo.

156
DANTAS, Sylvio Melo. Minha Família-Árvore genealógica comentada. 2013, p.93.

104
Depois veio estudar em Aracaju na escola Tobias Barreto. Fez o curso de
contabilidade. A mesma concluiu o curso superior e mediante concurso ingressou na Receita
Federal, por aonde veio aposentar como auditora.

Assim nos declarou ao ser questionada quanto ao passado do Engenho Oitocentas,


“vejo o Oitocentas como um lugar pleno de lembranças, lugar de memórias”157 e
acrescentamos dizendo um espaço de recordação com muitas histórias e memórias a ser
contadas.

As memórias humanas também são importantes no viés da história, auxiliando na


compreensão do passado, os acontecimentos do engenho oitocentas estão presentes nas
lembranças daqueles que viveram neste espaço de recordação.

As memórias da senhora Gulnar são importantes para compreensão sobre as


oitocentas, seus genitores José Paes de Azevedo Sá e dona Cecília Vieira de Melo, o cotidiano
da numerosa família, em seu depoimento que ocorreu no dia 16 de novembro de 2017, dia 7
de setembro de 2018 em sua residência cita Avenida Beira Mar Edifício Fenando Sampaio.

Imagem 23 - Gulnar Vieira de Azevedo


Banco de Dados do Massapê

A Senhora Gulnar citou com muita serenidade e clareza os nomes de seus irmãos por
ordem cronológica de nascimento e o contexto em que cada um vivenciou ao longo da
trajetória de vida, por meio desse depoimentos fizemos uma longa viagem no passado através
da leitura das cartas que tivemos oportunidade ler, para que ela confirmasse, a veracidade

157
Depoimento de Gulnar Vieira de Azevedo.
105
daquela escrita e se a assinatura em cada carta de fato era dos seus irmãos, o que muito nos
alegrou positivamente, pois estávamos diante de fontes primaria, concreta e dessa forma
comprovando a veracidade e historicidade dos fatos.

Em depoimento perguntamos o nome, idade e que falasse sobre o pai dela, um pouco
do que foi o engenho oitentas em seu olhar de filha e assim descreveu suas memórias.

“Meu nome é Gulnar filha de Juca das Oitocentas, tenho noventa e quatro
anos, eu sei que meu pai era um homem culto pra época, com a cabeça
aberta pra época era um homem avançado pra época. Ele estudou em São
Paulo depois foi trabalhar na cidade de Campinas como telegrafista, ele teve
que se atualizar, pois a cultura de Sergipe era muito diferente da cultura do
Sul. Minha Mae Cecília Vieira de Azevedo tinha uma característica singular
era retraída, paciente, seu aspecto físico era demonstrado de forma que
aparentava ter não ter uma vida muito fácil, magrinha e sempre
observadora”.

A senhora Gulnar nos descreve que após alguns anos a avó Ernestina Teles de
Menezes mandou buscar o filho, pois o meu avô Manoel Paes de Azevedo estava muito
doente e ele deveria tocar a propriedade oitocentas e como um bom filho e obediente retornou
para Sergipe para conduzir a propriedade dos pais.

Com o falecimento dos seus genitores, ele comprou as partes dos irmãos, comprou
mais terras, são as que temos até hoje, cerca de 450 hectares158 de terras, é uma pequena
propriedade se comparando com os grandes latifundiários da época.

De acordo com a senhora Gulnar seu pai era de poucos recursos, ele tinha um irmão
que era oficial do exército e encaminhou os filhos de Juca para o colégio militar, Péricles e
Temístocles seguiram no exército e Agliberto escolheu a aeronáutica.

Em relação à religiosidade da família a depoente expressou-se:

“Meu pai ele dizia que era ateu mais não era ateu não, era como os demais
homens da época ia para a igreja as famílias tinham tribuna as mulheres na
frente rezando e os homens ficavam na porta conversando com meu pai e
outros fazendeiros da família ficavam conversando, não tinham assim essa
religiosidade não, ele também acreditava mais não era ateu, só não era de
estar rezando”.

158
O Engenho Oitocentas sempre foi pequeno suas terras tem atualmente 450 hectares, sendo que um hectare
equivalente a 10.000 000 000 mm².
106
Algo interessante que verificamos nos engenhos da região do Cotinguiba - SE, que em
alguns engenhos existia próximo a casa grande uma Capela, quando não, um quarto de Santo
ou oratório. In locos, ratificamos que no Caraíbas, Pedras, Catete Velho possuía capela, outros
existia o quarto de Santo nesse caso os Engenhos Pati, Engenho Jordão, Engenho Santa
Bárbara.

O Engenho Oitocentas havia um oratório com diversos santos inclusive até hoje existe
um oratório que antes ficava na varanda da casa grande, hoje uma réplica do oratório está no
quarto que foi dos antigos donos, pois os santos originais maiores foram doados para a igreja
de Maroim, todavia não encontramos nenhum documento comprovando o termo de doação e
os santos pequenos estão no apartamento onde residem, essas informações provenientes das
memórias da filha Gulnar.

Imagem 24 - Oratória do Engenho Oitocentas


Fotografia: Josineide Luciano Almeida

Acima, um Oratório representando as imagens do Crucifixo de oratório, São João


Batista, Santa Luzia, Nossa Senhora do bom Parto, Imaculada Conceição, São José, Santo
Antônio, Santa Rita, Nossa Senhora do Carmo e Nossa Senhora de Lourdes. Esses oragos
foram identificados pelos padres Diogo Ávila, Padre Fabrício Santos Lopes.

Ainda conforme a depoente Gulnar, no engenho existiam muitas famílias. Os


moradores do engenho eram trabalhadores livres, na época de Juca das Oitocentas, nunca

107
houve escravos, a única que conheci, quando papai nasceu colocou-o em seus braços e foi
como uma ama de leite se chamava Loureça, era uma negra bonita, alta, a mãe preta e o
considerava papai como sinhozinho. Essa negra nasceu nos tempos da Lei do ventre Livre,
aos longos dos anos ficou na propriedade do meu avô159 auxiliando minha avó Ernestina nos
afazeres da casa e cuidando do sinhozinho Juca. A mesma nunca foi tida como escreva,
quando meus avós faleceram meu pai cuidou dela, fez uma casa dentro dos termos da
propriedade para ela.

Essa foi a única negra que conheci nos termos do engenho oitocentas, não era escrava
pois já nascera livre, quando eu nasci ela já era bem idosa, além de Lourença também
tínhamos outra pessoa que foi agregada a nossa família a Enedina Pereira160.

Havia outros trabalhadores também o carreiro mor, na época não existia carro então
eram conduzidos tanto as canas do campo para moenda na usina, como conduzia as famílias
até Rosário do Catete em tempos de festas de Nossa Senhora do Rosário. O carreiro mor
conduzia o carro de boi nas oitocentas, tínhamos o Senhor Guilhermino, e além dele outros
trabalhadores como Antônio José, e o Elói eram poucos, pois o engenho era pequeno.

Quanto aos trabalhadores eram livres e recebiam baseados na moeda corrente e nas
diárias daquele contexto, que não recordo bem se eram réis, estes faziam os serviços no
campo, usina e na lida da vida cotidiana do engenho. “Quando papai faleceu tudo mudou, foi
difícil tocar o engenho.

Graziela e Ibelza tocaram o engenho até quando puderam depois o pessoal que
residiam na propriedade foi indo embora aos poucos, para outros locais. Então a crise,
dificuldades de manter a usina e enfrentar a concorrência com os grandes produtores de
maneira que Oitocentas entrou em declínio. Em 1960, último ano de funcionamento tornando-
se assim engenho de fogo morto.

Graziela e Ibelza ficaram fornecendo a cana para os Engenhos Caraíbas e


principalmente à Santa Bárbara161, que eram parentes próximos até toda a safra e entre safra

159
Manoel Paes de Azevedo
160
Enedina Pereira trabalhou auxiliando a mãe de seu Juca, dona Ernestina Teles de Menezes nos afazeres
domésticos e quando os donos da propriedade faleceram ela permaneceu trabalhando para dona Cecília aos
cuidados do seu Juca das Oitocentas.
161
Nesse período o Engenho Santa Bárbara um dos engenhos mais opulentos da região do Cotinguiba pertencia
aos parentes da família Vieira de Azevedo eram primos era do tio por parte materna seu Salústio Vieira de Melo
era irmão do Senhor José Sotero Vieira de Melo, pai de dona Cecília esposa de Juca das Oitocentas.
108
aos longos dos anos terminarem. Assim ficaram cuidando apenas da criação de gado e da
propriedade como um todo.

Hoje as terras da propriedade estão arrendadas para criação de gado, somente as terras,
a casa grande não está disponível para arrendatário, a casa está à disposição da família Vieira
de Azevedo, tem um casal de moradores que ficam em outra casa da propriedade e prestam
serviços na Casa Grande: abrir, limpar, deixar portas e janelas abertas em dias de sol, para que
a casa seja aquecida e assim com esses e outros cuidados continuar sendo preservada.

Imagem 25 - Nilza Vieira de Azevedo – Odontóloga- Empresária


Acervo: Banco de Dados do Projeto Massapê

Nilza Vieira de Azevedo é a filha caçula da família, nasceu em Rosário do Catete


Sergipe no dia 24 de maio de 1929. Após os primeiros estudos em Sergipe, em 1947 aos
dezoitos anos, seguiu com seu irmão médico Walter Vieira de Azevedo para o Rio de Janeiro,
onde prestou vestibular e iniciou em 1948 o curso de odontologia na universidade Federal do
Rio de Janeiro. Seu irmão mais velho que era militar conseguiu um trabalho que ela pudesse
conciliar os estudos na secretaria do Cube militar.

Nilza casou-se no dia 30 de junho de 1953 com José Tavares de Brito, passando a
chamar-se Nilza de Azevedo Brito. Ele era de nacionalidade Portuguesa e radicou-se no
Brasil. Quando conheceu a futura esposa era vendedor de firma. Após o casamento os dois
foram residir em Vila Velha, no Espirito Santo.
109
Como Nilza havia deixado à profissão de odontóloga e precisava aumentar a renda da
família, a fundadora começou a fazer sapatinhos artesanais para nenéns, na garagem de sua
residência. A procura pelos sapatos foi aumentando e assim resolveram contratar assistentes
para auxiliar nas demandas solicitadas.

Assim nasceu a Pimpolho162, o José Tavares de Brito deixou sua antiga profissão e
dedicou-se na administração da nova empresa, e assim galgou um grande futuro como
empresário.

A empresa cresceu bastante, rapidamente, seus produtos são vendidos em quase todos
os estados do Brasil e as vendas atingem países da América do Norte, América do Sul,
Central, África, Oriente Médio e Europa.

José e Nilza ao viajarem pelo mundo, particularmente aos países asiáticos, eles
recolhiam ideias para a fabricação de novos sapatinhos. A história da Pimpolho começou e foi
fundada em 5 de fevereiro ano de 1962, José e Nilza decidiram concretizar seu sonho. E na
garagem de sua própria casa instalou a fábrica de sapatos infantis artesanais e transformaram
o sonho em realidade.

Esse foi o primeiro passo para a concretização do que veio a ser uma das principais
indústrias de calçados no segmento infantil.

Em relação à continuidade da empresa está sendo administrada pela terceira geração


da família vejamos:

“Os quatros filhos do casal, que cresceram com a Pimpolho, passaram agora
o bastão para a terceira geração da família. Dois netos de Dona Nilza e do
Sr. José, Já falecido, com um dos filhos do casal assumem a direção das
quatro empresas do grupo’163.

Realmente os últimos dias de José, esposo de Nilza, foram difíceis e de muito


sofrimento para a família devido ao estado de saúde dele ter se agravado. Com a finalidade de

162
Pimpolho: assim conta dona Nilza _ Lia muitos livros para meus filhos dormirem e um deles era a fábula
dos três porquinhos e na edição que ela possuía em casa, os três porquinhos eram chamados de pimpolhos, como
se eles fossem crianças. Então quando montamos a fábrica lembrei –me do nome Pimpolho- Depois verifiquei no
dicionário para ter a certeza e o nome Pimpolho significa - galho de Videira e criança pequena. Então assim
surgiu a ideia e quis colocar Pimpolho que é o nome até hoje – Memórias de Nilza Azevedo de Brito.
163
https://couromoda.com/noticias/ler/pimpolho-comemora-50-anos-com-homenagem-a-vovo-nilza/ acessado
em 05/02/2019 as 12; 28.

110
continuar o tratamento em São Paulo adquiriram um apartamento naquela cidade, ali passou a
residir.

Sua Esposa Nilza e os filhos se revezavam em fazer companhia, também prestava


assistência à empresa. José viveu seus últimos dias internando no hospital Albert Einstein, em
São Paulo onde faleceu no dia 16 de julho de 1995 aos 71 anos de idade. Nilza e seus filhos,
com êxito deram continuidade a um sonho que o casal tanto sonhara e conquistaram juntos.

O filho Antônio Tavares Azevedo de Brito, casado com Maria Emília Tanure da Silva
com quem teve dois filhos Rodrigo e Ricardo Silva Tavares de Brito.

Cecília Tavares Azevedo de Brito recebeu seu nome homenageando sua avó materna é
casada com Fernando Paixão Monteiro e desse enlace nasceram Flavia e Fernando de Brito
monteiro.

Nelson Tavares de Brito, casado com Lícia Lopes de Brito e dessa união nasceram
duas filhas Gabriela e Marina Lopes de Brito.

José Tavares Azevedo de Brito, desde pequeno é chamado de Juca em homenagem a


seu avô Juca das Oitocentas; casado com Cristina Mariani, dessa união nasceram, José
Henrique e João Victor Mariani de Brito.

Os filhos e netos de Nilza têm grande gratidão, ao seu lado vivem momentos
inesquecíveis, dias de imensas felicidades e anos de próspero aprendizado, através de sábios
conselhos e de sua história de vida sem esquecer suas origens e memórias.

Os relatos e as memórias são muitos desses herdeiros culturais de José Paes de


Azevedo Sá, carregados de emoções, alegrias e saudades. Pela quantidade dos herdeiros, é
impossível pontuar cada um e registrar todos nessas memórias.

111
Imagem 26 - Juca das Oitocentas, Cecília sua esposa e suas filhas.
Acervo: Banco de Dados Projeto Massapê
Foto: Data de 25 de dezembro de 1951

De acordo com a depoente Gulnar Vieira de Azevedo o dia 25 de dezembro de 1951


antes que seu Juca vir a óbito estava todos reunidos. A filha caçula havia chegado do Rio de
Janeiro formada em Odontologia com muitas novidades, alegrias e rodeado pelas filhas Ibelza
Ligia, Graziela, Gilca, Gulnar e Nilza Vieira de Azevedo e a da senhora Cecília Vieira de
Azevedo sua esposa. Sentado à mesa da sala pronunciou as seguintes palavras: Minha missão
está cumprida, minha filha mais nova está formada, minha missão está cumprida e faleceu
subitamente era um dia de natal.

Essas são um dos momentos mais melancólicos da trajetória da família Veira de


Azevedo e assim descreveu em depoimento senhora Gulnar com muita emoção os últimos
momentos com seu pai, foram testemunhas desses momentos tristes. Passei dias acordada sem
dormir estávamos muito abatidas. A partir de então o natal sempre é lembrado como o dia em
que perdemos o senhor das Oitocentas, chefe de família, amigo.

“As Terras das Oitocentas Cobriram-se de Luto”, assim publicou o Sergipe Jornal na
segunda ferira dia 31 de dezembro de 1951:

“Ecoou dolorosamente nesta capital, a notícia do falecimento do Sr.


José Paes de Azevedo Sá, proprietário da uzina “Oitocentas” situada
no município de Rosário do Catete.
Largamente estimado, cidadão probo e trabalhador, o Sr. José Paes de
Azevedo Sá era elemento de grande projeção da indústria açucareira
sergipana.

112
Registramos que no cemitério de Rosário do Catete repousam os
restos mortais do boníssimo amigo Jose Paes de Azevedo Sá”164.

Mas na casa grande, nos lares dos trabalhadores ouviam-se soluços e lágrimas naquele
momento o sentimento que se derramava nostalgia, tristeza, pela perda do Patriarca das
Oitocentas ficou a melancolia reinante e patente sobre aquele espaço de recordação.

“O senhor José Paes de Azevedo Sá, casado com a exma. Senhora Cecília
Vieira Azevedo, o pranteado extinto que contava com 75 anos de idade,
deixa os seguintes filhos: Ttenente Coronel Péricles Vieira de Azevedo,
Ttenente Coronel Temístocles Vieira de Azevedo, Capitão Agliberto Vieira
de Azevedo, Dr. Walter Vieira de Azevedo, e as senhoritas Ibelza,
Oswaldina, Ligia, Graziela, Gilca, Gulnar e Nilza Vieira de Azevedo. O
senhor José Paes de Azevedo Sá deixa 10 netos.
A Exma. Viúva dona Cecília Vieira, de Azevedo, filhos, netos ao Sr. Heitor
Paes de Azevedo e demais parentes do saudoso cidadão José Paes de
Azevedo Sá. As sinceras condolências do Sergipe Jornal”165.

Quem esteve a sua volta poderia ficar certo que sempre que precisasse, iria receber sua
palavra de estimulo, seus preciosos conselhos, a paciência e a compreensão fizeram dele um
patrão exemplar e um pai amigo assim era José Paes de Azevedo Sá.

As Oitocentas perpassaram gerações sobrevive nas memórias de filhos, netos, bisnetos


que até hoje lembram e cuidam desse lugar de memória, desse espaço de recordação como
representação de um passado sempre presente nos corações e mentes de quem viveu e quem
apenas ouviu sobres às histórias e as memórias das Oitocentas e da família dos Azevedo.

Portanto em uma meditação acerca do esquecimento, enquadramos a perspectiva de


interpretação da condição histórica dos seres humanos para além da memória, a história e o
esquecimento sempre andam juntos pois com o tempo podemos escolher o que lembrar o que
guardar ou até mesmo o que silenciar em relação a nossas lembranças e memórias.166

164
Sergipe Jornal, 31 de dezembro de 1952, p.3.
165
Sergipe Jornal, 31 de dezembro de 1952, p.3.
166
RICCEUR, Paul, 1913. A memória, a história, o esquecimento / Paul Ricceur – tradução: Alain François –
Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2017.

113
CONSIDERAÇÕES

As descrições e impressões aqui expostas tiveram como mote a necessidade de refletir


sobre a relação entre os lugares, as coisas e as pessoas numa perspectiva memorialística, mas
também histórica, tendo como esteio discursivo a memória familiar em torno de um lugar de
memória, notadamente o Engenho Oitocentas, em Rosário do Catete.

No texto introdutório, procuramos demarcar os limites teóricos, espaciais e


metodológicos desta pesquisa. Ao logo do desenvolvimento dividimos em três capítulos, com
os quais norteamos nosso estudo.

Ao longo dos capítulos fomos traçando o caminho da pesquisa, inicialmente, nos


propondo a fazer um apanhando da revisão da historiografia sergipana a partir de um diálogo
com esta historiografia e pontuando, retrospectivamente um corpo significativo de autores e
obras que trataram sobre a cultura açucareira, seu contexto sócio político e econômico.

Em seguida, fizemos um apanhado histórico do município de Rosário do Catete, sua


origem, emancipação política, suas festividades religiosas, além de desenvolver acerca da
distribuição dos principais engenhos em seus territórios a exemplo: Paty, Caraíbas, Jurema,
Serra Negra, Santa Bárbara e o Engenho Oitocentas. Seu passado e presente como um lugar
de memória, um espaço de recordações que foi representada com imagens panorâmicas do
conjunto do engenho a casa grande e usina.

Compreendemos o papel de comunicar as gerações contemporâneas, como as


sociedades do passado viviam, pensavam viabilizando uma ponte entre o passado e o
presente. As fontes orais são verdadeiros testemunhos dos fatos passados. Por isso, cabe-nos
refletir a formação da história e da memória a partir do lugar ou de um espaço de recordação.

Dessa maneira, permitindo-nos entender como desencadeou a sociedade açucareira, já


que perpassou fases da história sergipana. Apresenta-nos também a relação estabelecida entre
senhores patriarcal e seus familiares.

Esforçamo-nos por fazer uma minuciosa investigação documental e de revisão da


historiografia sergipana de autores clássicos aos contemporâneos, equacionando tradição e
inovação da historiografia, levando-nos refletir sobre a importância e o desenvolvimento que

114
a indústria do açúcar alcançou, por meio dos engenhos e das usinas a vapor, num tempo em
que a cultura do açúcar também obteve seu apogeu. Logo, fizemos a análise das referências
historiográficas acerca da temática sobre engenho, no contexto das elites rurais da aristocracia
açucareira.

Registramos também a análise dos documentos como as cartas manuscritas escritas


pelos filhos do antigo proprietário, do Engenho Oitocentas para suas irmãs, fotos
iconográficas, ás minúcias, vestígios, construído de fragmentos e interpretações reabrindo o
passado em novos olhares e possibilidades.

Este engenho é um dos sobreviventes do patrimônio cultural sergipano, notadamente


rural. Como usina permaneceu em funcionamento até o final do século XX, no ano de 1960,
restando uma casa grande que internamente possui diversas peças mobiliárias e acervo
iconográfico que foi utilizado como representação de um passado pleno de memórias, com
diversas fotografias do lugar, inclusive de quando estava em pleno funcionamento.

Quanto ao referencial teórico, nos pautamos por algumas discussões em torno da


história oral, da memória e do ugar de memória, dos espaços de recordação, com o auxílio de
pesquisadores como Pierre Nora e Aleida Assmann, Le Goff.

Por fim, nos detemos sobre o processo das entrevistas de história oral e sobre as
depoentes, abordamos documentos do acervo pessoal da família como: fotos de cada um dos
filhos, dos objetos da casa grande, cartas escritas por familiares, estas, redigidas ao longo de
décadas, trata-se das memórias e a importância do Engenho Oitocentas na criação e formação
dos filhos do senhor José Paes de Azevedo Sá.

Nesse seio familiar do engenho oitocentas, onde estão inseridas as recordações que
demos uma ressignificação da história e memória. É importante perceber que foi feita uma
seleção das representações no meio da história. A própria história das representações torna-se
história da reconstrução de fatos e memórias isso através das práticas e costumes culturais da
família e do seu patriarca.

Portanto, consideramos o acervo iconográfico de grande relevância na recuperação do


passado, pois as mesmas podem servir como auxiliares na recordação e lembranças de um
passado familiar em um lugar memorável e pôde ser representado através das diversas fontes
iconográficas.

115
A Revista Brasil açucareiro trás em suas páginas uma série de matérias acerca da vida
comercial e situações diversas sobre a história do açúcar no Brasil, bem como em outros
países que tem a produção de açúcar na economia, descreve os estatutos e legislações da
época, e faz um levantamento de seus respectivos proprietários como na tabela acima que
registra o funcionamento da Usina Oitocentas no ano de 1949.

Em meio a todo esse acervo documental, incluindo as fotos, as cartas dos filhos aos
antigos proprietários da usina Oitocentas para tratar das memórias e das recordações,
buscamos, via de regra, discutir a relevância desse engenho na criação dos filhos e ao mesmo
tempo deixar um registro de um personagem singular que foi Seu Juca das Oitocentas,
sobretudo por ousar fazer a diferença dos demais senhores de Engenho que ostentavam seus
bens e riquezas moveis, quando ele preferiu educar e formar seus filhos, garantindo não
somente seu futuro, mas também o legado patrimonial e memorial do lugar.

Portanto fizermos a análise do engenho a sua história e as memórias sua origem,


concepção e valor histórico e memorável tanto para a família dos Azevedo, como para a
sociedade rosarense e deixando como mais uma pesquisa para a historiografia sergipana.
Buscamos entender fazendo a confrontação da relação passado e presente que estão
intrínsecas mesmo com as modificações visíveis mais o ocaso da memória a história do
engenho oitocentas no baixo cotinguiba em Sergipe foi legitimada para as futuras gerações.

116
REFERÊNCIAS

Fontes manuscritas

Carta manuscrita e assinada a punho por Péricles. Teresina, 10 de novembro de 1959.

Carta pessoal o dar-a ver de Graziela Vieira de Azevedo - Oitocentas 23 de abril de 1961.

Carta de Sérgio Bastos de Azevedo filho de Péricles Vieira de Azevedo para as suas tias
Gulnar, Gilca, Graziela Vieira de Azevedo.

Carta manuscrita e assinada a punho por Agliberto Vieira de Azevedo. Praga, 1980.

Fontes Impressas

O inventário de conhecimento de Patrimônio Cultural da Cana de Açúcar na Região do Baixo


Cotinguiba /SE. Volume VII/ junho de 2010. Arquivo do IPHAN / (Instituto do Patrimônio
Histórico e Arquistico Nacional) –
Revista Brasil Açucareiro - Ano XVII – Volume XXXVII – nº1 de julho, de 1949, p. 125.
Revista Brasil Açucareiro (1935 a 1970)
Jornal o Rosário (1933 a 1936)
Jornal o Comércio ano 1916 --, 1926,1947.
Sergipe Jornal ano 1951;
Jornal A voz operária ano 1951;
Jornal correio da noite ano 1935.

TRAVASSOS, Antônio José da Silva. Apontamentos históricos e topográficos. Rio de


Janeiro: Instituto Tipográfico de Direito, 1875.

Fontes Visuais

Documentário do Projeto Massapê – Rosário do Catete Memórias e Engenhos.


Entrevista de Dona Gulnar Vieira de Azevedo. Aracaju

Documentário Cultura do Açúcar – Créditos institucionais- Fundação Joaquim Nabuco –


Editora Massangana –PE -2010.
117
Fontes Orais

Entrevista de Dona Gulnar Vieira de Azevedo. Aracaju, 07 de agosto de 2014- Banco de


dados do Projeto Massapé.

Entrevista de Dona Gulnar Vieira de Azevedo. Aracaju, 24 de novembro de 2016.

Entrevista com Gulnar Vieira de Azevedo, Aracaju, 18 de fevereiro de 2017.

Entrevista com Gulnar Vieira de Azevedo, Aracaju, 11 de novembro de 2017.

Entrevista com Gulnar Vieira de Azevedo, Aracaju, 7 de setembro de 2018.

Entrevista de Dona Nilza Azevedo de Brito. Aracaju, janeiro de 2017.

Entrevista de Solange Bastos de Azevedo em janeiro de 2018.

Entrevista com a senhora Ivanice de Oliveira no dia 24 de outubro de 2015 as 15h00min horas
in loco nas dependências do engenho oitocentas.

Entrevista do senhor Luiz Ferreira Gomes - de outubro de 2014- Banco de dados do Projeto
Massapé.

118
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Campinas: Unicamp, 2011.

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BARRETO, Luiz, Antônio, com a colaboração de NASCIMENTO, Jorge Carvalho do –


EDELZIO VIEIRA DE MELO um homem público exemplar. Typografia Editorial – Ensaio
Biográfico- A edição deste livro e as demais atividades celebrativas do Centenário DE
Nascimento de Edelzio Vieira de Melo. Apoio Cultural Instituto Banese, Gov. Municipal de
Capela, Prefeitura Municipal de Rosário do Catete, 2009.

BOMFIM, Clóvis, “Haveres do século XIX - Santo Amaro, no Obscurantismo á Luz da


História, EDISE, Aracaju, (2013, p.148).

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