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São Carlos
2012
Compósitos baseados em PET reciclado, fibras de sisal e
plasticizantes oriundos de fontes renováveis: estudo do
processamento e propriedades destes materiais
São Carlos
2012
Ficha catalográfica preparada pela Seção de Tratamento
da Informação do Serviço de Biblioteca – EESC/USP
LISTA DE TABELAS........................................................................................................................xv
RESUMO.........................................................................................................................................xviii
ABSTRACT........................................................................................................................................xx
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................................................22
2 OBJETIVOS ..............................................................................................................................................58
4 MATERIAIS E MÉTODOS..........................................................................................................................68
5 CARACTERIZAÇÕES .................................................................................................................................83
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO.....................................................................................................................92
7 CONCLUSÕES ........................................................................................................................................142
xii
Figura 34. Micrografias das fibras de sisal: (a) e (b) superfície ampliada; (c) e (d) corte transversal
ampliado. ................................................................................................................................................................................................... 94
Figura 35. Curvas (a) DSC e (b) TG e dTG para a fibra de sisal (fluxo de N 2 de 50 mL min-1, razão de
aquecimento de 10 oC min-1). ........................................................................................................................................................... 95
Figura 36. Espectro na região do infravermelho para a fibra de sisal. .......................................................................... 97
Figura 37. Curvas (a) DSC para as amostras de PET reciclado sem tratamento térmico e pós-tratamento
térmico e (b) TG e dTG para a amostra de PET reciclado sem tratamento térmico (fluxo de N2 de 50 mL
min-1, razão de aquecimento de 10 oC min-1). ........................................................................................................................... 98
Figura 38. Espectro na região do infravermelho a) para o PET reciclado e b) ampliado na região de 1500-
1900 cm-1. .................................................................................................................................................................................................. 99
Figura 39. Curvas DSC para os plasticizantes (a) PBHL, (b) TBC, (c) OSE, (d) OM, (e) Glicerol e (f) ATBC
(fluxo de N2 de 50 mL min-1, razão de aquecimento de 10 oC min-1). .......................................................................... 102
Figura 40. Curvas TG e dTG para os plasticizantes (a) TBC, (b) PBHL, (c) OSE, (d) OM, (e) Glicerol e (f)
ATBC (fluxo de N2 de 50 mL min-1, razão de aquecimento de 10 oC min-1). ............................................................. 103
Figura 41. Espectro na região do infravermelho dos plasticizantes (a) PBHL, (b) OSE, (c) OM, (d) Glicerol,
(e) TBC e (f) ATBC. ............................................................................................................................................................................. 105
Figura 42. Fotografia ampliada da placa de compósito obtida utilizando-se o ciclo de temperaturas no 1
(Experimental). .................................................................................................................................................................................... 107
Figura 43. Fotografia ampliada da placa de PET reciclado/PBHL obtida utilizando-se o ciclo de
temperaturas no 4 (Experimental). ............................................................................................................................................. 109
Figura 44. Fotografia ampliada da placa de PET reciclado/glicerol/fibra de sisal obtida utilizando-se o
ciclo de temperaturas no 8 (Experimental). ............................................................................................................................ 110
Figura 45. Fotografia ampliada da placa de PET reciclado/glicerol/fibra de sisal (CG) obtida utilizando-se
o ciclo de temperaturas no 10 (Experimental)....................................................................................................................... 111
Figura 46. Curva de processamento da mistura PET reciclado/fibras de sisal a 260 oC. ................................... 114
Figura 47. Fotografia ampliada da placa do compósito PET reciclado/fibras de sisal obtida por
termoprensagem a 260 oC (CH).................................................................................................................................................... 115
Figura 48. Curvas de processamento das misturas PET reciclado/fibras de sisal/glicerol/OM e PET
reciclado/glicerol/OM. ..................................................................................................................................................................... 116
Figura 49. Curvas DSC da placa controle de PET reciclado (CTRPET) e dos compósitos CT, CGT, CGTM,
CGTS, CAT, CGTP, CGMP, CG e CGM obtidos por moldagem por compressão .......................................................... 119
Figura 50. Curvas DSC do PET reciclado, da placa controle de PET/glicerol/OM (CTRH) e do compósito
PET reciclado/fibras de sisal/glicerol/OM (CHGM) obtidos por reometria de torque e posterior
termoprensagem (fluxo de N2 de 50 mL min-1, razão de aquecimento de 10 oC min-1). ..................................... 121
Figura 51. Curvas dTG da placa controle de PET reciclado (CTRPET) e dos compósitos CGTP, CGMP, CG,
CGM, CT, CGT, CGTM, CGTS e CAT obtidos por moldagem por compressão ............................................................ 122
Figura 52. Curvas dTG do PET reciclado, da placa controle de PET/glicerol/OM (CTRH) e do compósito
PET reciclado/fibras de sisal/glicerol/OM (CHGM) obtidos por reometria de torque e posterior
termoprensagem (fluxo de N2 de 50 mL min-1, razão de aquecimento de 10 oC min-1). ..................................... 123
xiii
Figura 53. Resistência ao impacto Izod da placa controle de PET reciclado (CTRPET), dos compósitos CT,
CGT, CGTM, CGTS, CAT, CGTP, CGMP, CGM e CG obtidos por moldagem por compressão e do compósito
CHGM obtido por reometria de torque e posterior termoprensagem. ....................................................................... 124
Figura 54. Deformação na ruptura da placa controle de PET reciclado (CTRPET), dos compósitos CT, CGT,
CGTM, CGTS, CAT, CGTP, CGMP, CG e CGM obtidos por moldagem por compressão e do compósito CHGM
obtido por reometria de torque e posterior termoprensagem. ..................................................................................... 127
Figura 55. Módulos de flexão da placa controle de PET reciclado (CTRPET), dos compósitos CT, CGT,
CGTM, CGTS, CAT, CGTP, CGMP, CG e CGM obtidos por moldagem por compressão e do compósito CHGM
obtido por reometria de torque e posterior termoprensagem. ..................................................................................... 128
Figura 56. Resistência à flexão da placa controle de PET reciclado (CTRPET), dos compósitos CT, CGT,
CGTM, CGTS, CAT, CGTP, CGMP, CG, CGM obtidos por moldagem por compressão e do compósito CHGM
obtido por reometria de torque e posterior termoprensagem. ..................................................................................... 129
Figura 57. Módulo de armazenamento (30 oC) da placa controle de PET reciclado (CTRPET), dos
compósitos CT, CGT, CGTM, CGTS, CAT, CGTP, CGMP, CG, CGM obtidos por moldagem por compressão, e do
compósito CHGM obtido por reometria de torque e posterior termoprensagem. ................................................ 132
Figura 58. Temperatura de transição vítrea (Tg) da placa controle de PET reciclado (CTRPET), dos
compósitos CT, CGT, CGTM, CGTS, CAT, CGTP, CGMP, CG, CGM obtidos por moldagem por compressão e do
compósito CHGM obtido por reometria de torque e posterior termoprensagem. ................................................ 133
Figura 59. Micrografia da superfície fraturada da placa controle de PET reciclado (CTRPET) obtida por
moldagem por compressão. ........................................................................................................................................................... 134
Figura 60. Micrografias das superfícies de fratura dos compósitos obtidos por moldagem por compressão:
(a) PET reciclado/fibras de sisal/TBC (CT); (b) e (c) PET reciclado/fibras de sisal/glicerol/TBC (CGT); (d)
PET reciclado/fibras de sisal/glicerol/TBC/OM (CGTM); (e) PET reciclado/fibras de
sisal/glicerol/TBC/OSE (CGTS); (f) PET reciclado/fibras de sisal/ATBC (CAT).................................................... 135
Figura 61. Micrografias das superfícies de fratura dos compósitos obtidos por moldagem por compressão:
(a) PET reciclado/fibras de sisal/glicerol/TBC/PBHL (CGTP); (b) PET reciclado/fibras de
sisal/glicerol/OM/PBHL (CGMP). ............................................................................................................................................... 137
Figura 62. Micrografias das superfícies de fratura dos compósitos obtidos por moldagem por compressão:
(a) PET reciclado/fibras de sisal/glicerol (CG); (b) PET reciclado/fibras de sisal/glicerol/OM (CGM). .... 137
Figura 63. Micrografias das superfícies de fratura dos compósitos obtidos por reometria de torque e
posterior termoprensagem: (a) PET reciclado/fibras de sisal (CH); (b), (c) e (d) PET reciclado/fibras de
sisal/glicerol/OM (CHGM). ............................................................................................................................................................. 138
Figura 64. Absorção de água, após 1 h de imersão (temperatura ambiente), da placa controle de PET
reciclado (CTRPET) e dos compósitos CT, CGT, CGTM, CGTS, CAT, CGTP, CGMP, CG, CGM obtidos por
moldagem por compressão. ........................................................................................................................................................... 140
xiv
LISTA DE TABELAS
xv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
xvii
RESUMO
xix
ABSTRACT
xxi
1 Introdução
22
Resíduos Especiais), em 2010, cresceu seis vezes mais do que a população brasileira. Em
relação à reciclagem, o estudo mostra tendência de crescimento, mas em ritmo menor ao
da geração de lixo.1 Neste contexto, a produção de poli (tereftalato de etileno) (PET)
corresponde a 9% (em massa) do total de polímeros produzidos no Brasil, porém,
representa uma média de 20% (em massa) dentre os polímeros presentes no resíduo
sólido urbano (RSU). Isto se deve ao fato de polímeros como o polipropileno (PP) e poli
(cloreto de vinila) (PVC) serem utilizados como matéria-prima para a fabricação de pro-
dutos de longa vida útil pelas indústrias de bens de consumo e construção civil, contudo,
o PET é utilizado em produtos de curta vida útil, como embalagens, por exemplo
(ROMÃO; SPINACÉ; DE PAOLI, 2009).
Portanto, faz-se necessário o desenvolvimento de pesquisas que levem a
materiais preparados a partir de PET reciclado, gerando consequentemente produtos
finais com elevado valor agregado, como os compósitos.
Assim, visando à valorização das fibras lignocelulósicas e reciclagem do
PET, neste estudo, a fibra de sisal foi utilizada como agente de reforço em
compósitos de matriz polimérica de PET reciclado.
1.2 PET
1
Disponível em http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/lixo/producao-destinacao-residuos-solidos-brasil-
panorama-2010-abrelpe-625938.shtml, acesso em 23/03/12.
23
desenvolvimento tecnológico na fabricação e posterior aplicação deste polímero, para os
fins mais variados. Nos anos 60, o filme de PET biorientado (produzido por biorientação
de uma fina película do polímero em pelo menos duas etapas, em direções opostas)
(BARRY; PELLEREAU, 1993) foi utilizado, com grande aceitação, como material de
embalagem para acondicionamento de alimentos. Em 1962, a Goodyear utilizou o PET na
confecção de pneus.2
Em 1973, através dos processos de conformação de injeção e sopro com
biorientação desenvolvidos pela DuPont, o PET foi introduzido em aplicações como
garrafas, as quais começaram a ser comercializadas em 1977 nos Estados Unidos,
revolucionando o mercado de embalagens e notadamente o de bebidas carbonatadas.
Entretanto, o PET grau garrafa tornou-se disponível no Brasil apenas em 1989 (ISOLDI,
2003).
O PET é um dos materiais, sob a forma de filmes, lâminas, revestimentos e
garrafas, de maior sucesso nas últimas décadas, com crescente aplicabilidade devido às
peculiares características que possui e que lhe conferem grande versatilidade.
Pertencente à família dos poliésteres, o PET é um polímero que possui, em sua
cadeia, anéis benzênicos e grupos ésteres (R-CO-O-R’). A cadeia alifática (aberta e não
cíclica), juntamente com o oxigênio presente na cadeia principal de sua estrutura
química (Figura 1), são responsáveis por conferir flexibilidade ao PET à temperaturas
acima de sua transição vítrea. Entretanto, o grupo benzênico presente na estrutura do
PET confere rigidez, além de elevada estabilidade hidrolítica à cadeia polimérica (PAUL;
GOODMAN; KROSCHWITZ, 1985; ISOLDI, 2003; ROMÃO; SPINACÉ; DE PAOLI, 2009)
O PET possui massa molar ponderal média variável, que pode assumir valores
desde 45.000 g mol-1, quando o PET é utilizado para a confecção de garrafas, até valores
próximos a 15.000 g mol-1, quando este é destinado para a fabricação de fibras. A
densidade do PET pode assumir valores em torno de 1,38 g cm-3 (ALVES et al., 1998).
O O HO O
H2O OH
H2C + HO
O O CH2 O OH
n
25
Importante destacar que a transparência no estado não cristalino, aliada à sua
propriedade de baixa permeabilidade a gases (principalmente O2 e CO2), tornaram o PET
muito importante no desenvolvimento da indústria de embalagens, principalmente de
garrafas para refrigerantes (BILLMEYER JR., 1995)
Assim, as propriedades apresentadas pelo PET o tornaram um importante
substituto de materiais convencionais como o vidro, o PVC, as latas de aço e alumínio,
dentre outros materiais (ISOLDI, 2003). Atualmente, o PET é um dos termoplásticos
mais produzidos no mundo, alcançando em 2010, somente no Brasil, uma produção em
torno de 550 kton.3
Com relação à sua obtenção, o PET é um poliéster saturado formado pela reação
de condensação reversível entre o ácido tereftálico (TPA), ou o éster tereftalato de
dimetileno (DMT), com o etileno glicol (EG). A polimerização ocorre por aquecimento
dos reagentes na presença de um catalisador de antimônio (usualmente o trióxido de
antimônio), com remoção de água ou metanol (MANO, 1991).
Dependendo do processo escolhido, pode-se ter a esterificação direta do TPA com
EG (Figura 3-a) ou a transesterificação do DMT com EG (Figura 3-b).
28
1.2.1 Reciclagem do PET
Para que o material adquira valor comercial agregado é importante que esteja
com a menor contaminação possível, pois a presença de contaminantes como o vidro,
30
SANTOS, 2008). Na Figura 5 é mostrado um conjunto típico de lavadoras e secadoras
utilizadas na reciclagem mecânica do PET.
250
200
k tons
150
100
50
0
Ano Ano Ano Ano Ano Ano Ano
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Emb.
Resinas Alimentos e
insaturadas e Não
alquídicas Alimentos
19% 17%
Figura 7. Usos finais em 2010 para o PET reciclado.8
1.3 Compósitos
Compósitos
Compósitos Compósitos
com reforço com reforço
fibroso particulado
orientação orientação
unicamada multicamadas
aleatória preferencial
fibras fibras
laminados híbridos
contínuas descontínuas
Matrizes
termoplástica termorrígida
34
No presente trabalho, foram preparados compósitos de matriz polimérica
termoplástica, reforçados por fibras descontínuas, com distribuição aleatória.
36
os biocompósitos são geralmente chamados de “green composites” (compósitos verdes)
(MOHANTY; MISRA; DRZAL, 2005).
Neste contexto, os polímeros e as fibras naturais têm suscitado grande interesse
nos últimos anos. Estes materiais podem ser obtidos a partir de fontes renováveis, são
biodegradáveis, apresentam baixo custo, possuem baixa densidade específica, sendo,
portanto, excelentes candidatos para substituir os tradicionais polímeros e fibras
sintéticas (DONMEZ ÇAVDAR; KALAYCIOGLU; MENGELOGLU, 2011). Além disso,
devido à sua baixa densidade, as fibras naturais podem reduzir a massa do compósito,
fator importante para aplicações na indústria automobilística, construção civil, dentre
outras (CORRADINI et al., 2009).
O Brasil, país de vocação agrícola, possui um dos maiores potenciais em biomassa
do mundo, além da maior extensão territorial com possibilidade de cultivo. A exploração
sistemática destes recursos, visando o desenvolvimento sustentável e aplicações
diversificadas daquelas já consideradas atualmente, pode representar uma fonte
alternativa de emprego no setor agrícola, além de providenciar uma solução para a
poluição do meio ambiente, e encontrar novas aplicações para a matéria-prima
excedente (FROLLINI, 2002).
Estudos envolvendo fibras naturais como as de sisal, bagaço de cana de açúcar,
curauá, seda, folha de abacaxi, juta, dentre outras, em substituição às tradicionais fibras
sintéticas, como fibras de vidro e carbono, em aplicações como agentes de reforço em
matrizes poliméricas, têm crescido muito nos últimos anos (DE CASTRO, 2010; ALAM
et al., 2011; DA SILVA, 2011; DEVI; BHAGAWAN; THOMAS, 2011; LIMA; MONTEIRO;
SATYANARAYANA, 2011; NHLAPO; LUYT, 2012). Dentre a vasta gama de fibras
lignocelulósicas existente, o sisal corresponde a uma das mais utilizadas, devido às suas
excelentes propriedades (CAMPOS et al., 2011).
O sisal é uma das principais fibras duras (fibra vegetal fiável com elevada
resiliência e resistência mecânica) produzida no mundo, correspondendo a
aproximadamente 70% da produção comercial de todas as fibras desse tipo. A fibra do
sisal, beneficiada ou industrializada, rende cerca de 80 milhões de dólares em divisas
para o Brasil, além de gerar mais de meio milhão de empregos na sua cadeia de serviços,
que começa com as atividades de manutenção das lavouras, colheita, desfibramento e
beneficiamento da fibra e termina com a industrialização e a confecção de artesanato. O
Brasil é o maior produtor e exportador de fibras e manufaturados de sisal do mundo,
com 58% da produção e 70% da exportação no ano de 2010. A Bahia é responsável por
96% da produção de fibra nacional, seguida por Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do
Norte e Ceará. A produtividade média de sisal, no estado da Bahia, em 2010, após alguns
investimentos, chegou a 1.200 kg/ha, indicando um crescimento, em relação a 2009, que
alcançou 1.033 kg/ha. Os principais importadores da fibra de sisal produzida no país são
os Estados Unidos, China, México e Portugal.9
Figura 11. Imagem da fibra de sisal (a) e seus principais constituintes: (b) principais componentes
da lignina e (c) celulose.
39
análises térmicas de Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) e Termogravimetria
(TG) mostraram que quatro distintos processos térmicos ocorrem com a fibra sob
aquecimento a temperaturas de 37-490 oC. O primeiro processo ocorre na faixa de
temperaturas de 37-105 oC. Neste processo ocorre somente à desidratação da fibra, a
decomposição inicia acima de 200 oC. O segundo processo de decomposição térmica
sofrido pela fibra é a decomposição da hemicelulose, seguido da decomposição da
celulose, principal constituinte da fibra. Neste processo, a celulose sofre desidratação e
despolimerização, com a formação de produtos voláteis. Em temperaturas superiores a
380 oC ocorre a decomposição da lignina com a completa perda da estrutura nativa da
fibra (SAIKIA, 2008; DE OLIVEIRA, 2010; MARTIN et al., 2010; RAMIRES, 2010).
Visando a valorização da fibra de sisal, pois como já mencionado o país é o
maior produtor mundial, porém com cerca de 87% da produção interna
exportada, esta fibra foi usada no presente estudo.
Para que a reciclagem do PET no país atinja 100%, é considerado que é preciso
envolver todos os elos da cadeia: o consumidor, os trabalhadores na coleta seletiva e na
separação dos materiais, sistema de logística reversa (área da logística que trata,
41
genericamente, do fluxo físico de produtos, embalagens, dentre outros materiais, desde
o ponto de consumo até ao local de origem), assim como o desenvolvimento de um
parque industrial adequado. Pode-se acrescentar a estes fatores a necessidade de
desenvolvimento de pesquisas que levem a materiais, preparados a partir de PET
reciclado, com valor agregado, como podem se tornar os compósitos de PET reforçados
com fibras lignocelulósicas.11
O PET é um termoplástico de baixo custo e elevado desempenho (HUQ et al.,
2011). É amplamente utilizado como material de embalagens, fibras e garrafas devido a
características como rigidez, dureza, resistência à abrasão, resistência química a
solventes e isolamento elétrico. No entanto, possui devido a sua estrutura química
relevante sensibilidade ao entalhe, fragilidade e elevado ponto de fusão,
comparativamente a poliolefinas como o PP e o PE (BARKOULA et al., 2008; RAHMAN
et al., 2008).
O uso de fibras naturais como materiais de reforço em compósitos de matriz de
PET apresenta um grande potencial na melhora do desempenho mecânico e aplicação
tecnológica destes materiais, devido a características das fibras como baixo custo,
biodegradabilidade e elevada força específica. Huq et al. (2010) estudaram as
propriedades mecânicas de compósitos de PET reforçados por fibras de juta. Neste
estudo, os autores verificaram que compósitos de PET reforçados com 50% em massa de
fibras de juta apresentaram valores superiores de resistência à tração, impacto e flexão,
quando comparados com os valores apresentados pelo PET. Outros estudos envolvendo
fibras naturais como as de linho, bagaço de cana de açúcar e fibras de algodão também
têm sido relatados (CORRADINI et al., 2009; NIU et al., 2010; ZOU; REDDY; YANG,
2011).
45
Destaca-se o crescente uso de plasticizantes no processamento de compósitos
poliméricos reforçados com fibras lignocelulósicas tais como glicerol e uréia em
compósitos de álcool polivinílico reforçado com bagaço de laranja e maça, 3-
metacriloxipropil-trimetoxisilano em compósitos de resina de poliéster ortoftálico
insaturado reforçado com fibras de sisal, glicerol em compósitos de amido reforçado
com fibras de banana e bagaço de cana, dentre outros(CHIELLINI et al., 2001;
FONSECA et al., 2004; GUIMARÃES et al., 2010).
15 Disponível em http://www.braskem.com.br/upload/portal_braskem/pt/produtos_e_ser
vicos/boletins/Plasticizantes.pdf, acesso em 24/03/12.
16 Disponível em http//www.institutodopvc.org/publico, acesso em 24/03/12.
47
1.7.2 Plasticizantes oriundos de fontes renováveis/naturais e
que possam atuar também como compatibilizantes
fibra-matriz
18 Disponível em http://www.braskem.com.br/upload/portal_braskem/pt/produtos_e_servicos/boletins/Plasticizantes.pdf,
acesso em 24/03/12.
49
Figura 20. Fórmula estrutural do ácido peracético.
Como exemplo, tem-se o óleo de soja epoxidado (OSE) (Figura 22), que pode ser
utilizado em PVC em concentrações de até 10% em massa, com vantagens de baixo
custo, baixa toxicidade e também devido às suas características de sinergia com os
estabilizantes térmicos para o PVC, além de sua baixa migração.19
Este mesmo processo pode ser empregado para outras fontes de ácidos graxos,
por exemplo, os demais óleos vegetais insaturados e até as gorduras de origem animal.
Madaleno et al. (2009b), em seu estudo, desenvolveram a epoxidação do éster do óleo de
milho com a obtenção de um plasticizante que poderá apresentar grande interesse
comercial e técnico ao mercado do PVC. Para o desenvolvimento foi usado o óleo
extraído do germe do milho e refinado industrialmente.
O glicerol (Figura 23) é outro plasticizante de origem natural largamente
empregado no processamento de materiais poliméricos como o álcool polivinílico,
blendas de poliestireno/amido termoplástico, dentre outros (SCHLEMMER; SALES;
RESCK, 2010; MOHSIN; HOSSIN; HAIK, 2011).
HO CH2 CH CH CH2 OH
n
Figura 25. Estrutura química do PBHL.
52
De Castro, Ruvolo-Filho e Frollini (2011) estudaram o efeito da adição de PBHL e
óleo de mamona em compósitos de biopolietileno reforçados com fibras de curauá. Este
estudo teve como objetivo a redução da propagação de trincas durante o ensaio de
impacto dos compósitos. Verificou-se também a atuação como agentes de acoplamento
do PBHL e do óleo de mamona, uma vez que o PBHL e o óleo de mamona possuem
cadeias hidrocarbônicas com afinidades com o biopolietileno, e grupos hidroxilas com
afinidades com os grupos polares presentes nas fibras lignocelulósicas. Neste estudo foi
possível concluir também que a adição de PBHL e óleo de mamona levaram a uma
melhor adesão e distribuição das fibras na matriz termoplástica. Assim, houve uma
melhora nas propriedades mecânicas destes compósitos, particularmente na resistência
ao impacto (DE CASTRO; RUVOLO-FILHO; FROLLINI, 2011). A adição de PBHL a
polímeros como o PET pode ainda levar a uma ação como plasticizante.
No presente trabalho, buscou-se além da diminuição da temperatura de
fusão do PET reciclado, uma alternativa às mudanças estruturais no polímero
(como a graftização de anidrido maleico em PP), usadas para aumentar a
compatibilidade polímero-fibra lignocelulósica. Estas mudanças podem significar
um aumento nos custos do processamento, bem como às modificações químicas
na superfície da fibra, o que normalmente melhora as interações fibra-matriz,
porém, no geral, piora as propriedades mecânicas da fibra (o meio reacional pode
deteriorar a fibra). Assim, neste estudo, plasticizantes de origem natural foram
empregados como compatibilizantes fibra-matriz devido à presença de grupos
polares nestes aditivos, tornando-os capazes de estabelecer interações tanto com
as fibras de sisal quanto com a matriz de PET reciclado.
Polibutadieno hidroxilado (PBHL), óleo de mamona (OM) e óleo de soja
epoxidado (OSE) foram utilizados neste trabalho, visando ação como agentes
compatibilizantes e também como plasticizantes do PET reciclado.
Os polímeros passam por uma ou mais fases de processamento para atingir seu
formato final. Durante o processamento, estão sujeitos a variações de temperatura, ao
esforço de cisalhamento e a exposição ao oxigênio. O tempo e o grau de aplicação de
cada um destes efeitos são dependentes do método de processamento ao qual o material
53
é submetido. De modo geral, o processamento de termoplásticos é classificado como:
termoformagem, moldagem por compressão, calandragem, extrusão, extrusão e sopro,
injeção, injeção seguida de sopro e rotomoldagem (DE PAOLI, 2008).
Existe ampla variedade de equipamentos de mistura que podem ser utilizados na
preparação de compósitos celulósicos termoplásticos, tais como misturadores internos e
as extrusoras de rosca simples ou dupla (DOS SANTOS, 2006).
Durante o processamento, a umidade das fibras lignocelulósicas, devido a sua
natureza hidrofílica, é um fator crítico para o processamento dos compósitos. O elevado
teor de umidade das fibras pode afetar o processamento dos compósitos, levando a
produtos porosos e comprometendo suas propriedades mecânicas. Assim, deve-se
remover a umidade das fibras, por um processo de secagem em estufa, por exemplo
(DOS SANTOS, 2006).
A temperatura é um dos fatores mais importantes no processamento de
compósitos termoplásticos. A distribuição de calor durante o processamento pode afetar
desde a qualidade até a microestrutura do produto final. Em temperaturas acima de 160
oC e na presença de oxigênio, as fibras lignocelulósicas podem sofrer termo-oxidação
levando ao escurecimento e, em temperaturas acima de 230 oC, a decomposição das
mesmas, com consequente perda de suas propriedades (IANNACE; ALI; NICOLAIS,
2001).
Compósitos reforçados com fibras naturais podem ser processados fazendo uso
das mesmas tecnologias de processamento empregadas para os termoplásticos. Para
que se consiga uma boa dispersão da fibra na matriz, são necessários dispositivos como
rotores acoplados à câmara de mistura, dentre outros, que possibilitem uma mistura
efetiva dos mesmos. No entanto, as altas tensões de cisalhamento que ocorrem durante a
mistura em uma câmara misturadora de um reômetro de torque, por exemplo, podem
resultar na quebra das fibras (IANNACE; ALI; NICOLAIS, 2001).
58
3 Técnicas de Caracterização
59
3.1.2 Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC)
Neste tipo de análise térmica é avaliada a variação de entalpia que ocorre entre a
amostra e a referência durante o processo de aquecimento/resfriamento que os
materiais são submetidos, através de uma programação controlada de temperatura
(HEMMINGER; SARGE, 1994).
As transições que geram modificações em curvas DSC são as transições de
primeira e de segunda ordem. As transições de primeira ordem apresentam variação de
entalpia que pode ser endotérmica ou exotérmica, o que origina a formação de picos.
Como exemplo, em polímeros, pode ocorrer os eventos endotérmicos de fusão, perdas
de massa da amostra (vaporização de água, aditivos ou produtos voláteis de reação ou
decomposição), dessorção e reações de redução. Outros eventos exotérmicos que podem
ser observados nos polímeros são a cristalização, reações de polimerização, oxidação,
degradação oxidativa, adsorção, dentre outros. As transições de segunda ordem são
caracterizadas pela variação da capacidade calorífica, contudo, não há a variação de
entalpia. Estas transições não geram picos nas curvas DSC e apresentam-se como um
deslocamento da linha base em forma de “S”, como exemplo, a transição vítrea de
polímeros termoplásticos (CANEVAROLO JR., 2007).
A Calorimetria Exploratória Diferencial apresenta vantagens tais como o uso de
quantidade reduzida de amostra, rapidez, obtenção de informações necessárias para a
determinação dos parâmetros cinéticos de uma reação, por exemplo, dentre outros
benefícios (HERRMANN; ENGEL; EISENREICH, 1992).
60
começam a se decompor, acompanhar o andamento de reações de desidratação,
oxidação, decomposição, dentre outros fatores (CANEVAROLO JR., 2007).
A termogravimetria pode ser utilizada para verificação de propriedades das
fibras de sisal tais como a umidade residual, temperatura de decomposição das fibras,
dentre outras. A temperatura de início da decomposição térmica das fibras define o
intervalo de temperatura que poderá ser considerado no processamento dos
compósitos, além de definir a temperatura máxima para aplicação destes.
62
Figura 27. Esquema de movimento de um pêndulo simples utilizado nos ensaios de
resistência mecânica ao impacto (MEGIATTO, 2006).
63
Figura 28. Esquema representativo de um ensaio de flexão em três pontos (DE OLIVEIRA,
2010).
Nos ensaios de flexão em três pontos o corpo de prova é uma barra de seção
cruzada retangular que é ajustado em dois apoios fixados em uma travessa fixa. O
carregamento neste tipo de ensaio é realizado por meio de um terceiro apoio (travessa
móvel) que está posicionado a uma distância média entre os apoios fixados ao suporte
(travessa fixa) (CANEVAROLO JR., 2007).
Em geral, a distância de separação dos apoios deve ser ajustada de forma que sua
razão com a profundidade do corpo de prova (L/d) seja igual a 16 (CANEVAROLO JR.,
2007).
Nestes ensaios o corpo de prova é defletido até que ocorra sua ruptura na
superfície oposta ao carregamento, ou até o alcance da máxima deformação, que é de
5%. Assim, para um ensaio de flexão em três pontos a deflexão na qual a máxima
deformação permitida (5%) irá ocorrer pode ser calculada através da Equação 1:
(1)
Sendo:
D = deflexão no ponto médio entre os apoios
r = deformação, 0,05 mm/mm
L = distância entre os apoios
d = profundidade do corpo de prova
Para os materiais que não rompem ou não falham na superfície oposta ao
carregamento dentro de um limite máximo de 5,0% de deformação, a resistência à
flexão deve ser calculada utilizando o método de quatro pontos. Os dois métodos de
64
ensaios de flexão diferem quanto à localização do momento da carga máxima e na tensão
de tração máxima axial na superfície oposta ao carregamento. Em um ensaio de três
pontos a tensão de tração máxima axial ocorre debaixo do ponto de carregamento,
contrário do que ocorre em um ensaio de quatro pontos em que essa ocorre na área
entre os dois pontos de carregamento (CANEVAROLO JR., 2007).
Na aplicação dos ensaios de flexão em três pontos dois procedimentos podem ser
utilizados:
A é aplicado nos materiais que rompem em deflexões comparativamente
pequenas e deve ser utilizado para medidas de propriedades sob flexão, como o
módulo sob flexão.
B é aplicado para os materiais que suportam grandes deflexões durante o teste e
deve ser utilizado somente para medidas de resistência à flexão (CANEVAROLO
JR., 2007).
Normalmente, os dados obtidos em um ensaio de resistência à flexão são muitas
vezes utilizados para selecionar os materiais para o preparo de peças que irão suportar
elevadas cargas. O módulo de flexão é usado como indicativo da rigidez de um material
quando flexionado. Uma vez que as propriedades de muitos materiais (especialmente os
termoplásticos) podem variar dependendo da temperatura ambiente, faz-se necessário
realizar testes em ambientes com temperatura controlada, simulando as condições do
uso pretendido (DE CASTRO, 2010).
65
Essa técnica fornece informações a respeito do módulo elástico (E’), do módulo
de dissipação viscosa (E”) e do amortecimento mecânico ou atrito interno (tan δ = E”/E’)
de um material, quando sujeito a uma solicitação dinâmica. Através dessas variáveis,
pode-se correlacionar várias propriedades mecânicas tais como a tenacidade, resistência
ao impacto, dentre outras (CANEVAROLO JR., 2007).
Por meio da técnica de DMTA é possível a obtenção de informações sobre
transições termodinâmicas de primeira ordem, como a fusão e a cristalização em
condições de aquecimento, bem como transições termodinâmicas de pseudo segunda
ordem, como a transição vítrea e das relaxações secundárias associadas às fases
cristalina e não cristalina (MURAYAMA, 1988).
A análise de DMTA também fornece informações a respeito do comportamento
viscoelástico do sistema, que é desmembrado em duas componentes: a contribuição
elástica e a viscosa (CANEVAROLO JR., 2007).
O módulo oriundo da componente tensão resposta em fase com a deformação, E’,
é denominado módulo de armazenamento, e o módulo oriundo da componente de
tensão resposta 90o fora de fase com a deformação, E”, é chamado módulo de perda. A
razão entre os valores de módulo de perda (E”) e módulo de armazenamento (E’) define
a grandeza denominada tangente de perda, tan δ.
A tangente de perda, que também pode ser chamada de fricção interna ou
amortecimento, é definida como sendo a razão entre a energia dissipada por ciclo e a
energia potencial máxima armazenada durante o ciclo. Portanto, materiais mais rígidos
apresentarão valores de tan δ menores, e materiais mais flexíveis apresentarão valores
de tan δ maiores. Em um ensaio de DMTA, as grandezas E’, E” e tan δ são dadas em
função da temperatura ou da freqüência (LUCAS; SOARES; MONTEIRO, 2001).
Os métodos dinâmico-mecânicos são muito sensíveis às transformações que
ocorrem em nível molecular, sendo capazes de detectar movimentos discretos como as
relaxações secundárias (LUCAS; SOARES; MONTEIRO, 2001). Nos compósitos, as
interações matriz-fibra podem influir significativamente nas relaxações das cadeias
presentes na interface fibra-matriz, fato que pode ser detectado por um deslocamento
nas curvas de E” e tan δ, quando comparadas às amostras controle, sem fibras.
As transições que ocorrem nas macromoléculas podem ser divididas em
transições que ocorrem na fase cristalina e as que ocorrem na fase não cristalina. As
relaxações primárias são descritas pela letra α, assim, a transição relacionada à
66
temperatura de transição vítrea, que é a relaxação acentuada da fase não cristalina, é
representada por αa. Esta transição é resultante dos movimentos moleculares, que
envolvem os segmentos da cadeia polimérica principal (HUTCHINSON, 1997). Já a
transição relacionada à temperatura de fusão cristalina, que é a relaxação acentuada na
fase cristalina, é representada por αc. Relaxações secundárias que ocorrem abaixo de αc e
acima de αa estão relacionadas com a parte cristalina e são representadas por α’c.. As
transições que ocorrem abaixo de αa estão relacionadas com a parte não cristalina do
material e são representadas pelas letras βα, γα, δα, dentre outras, da mais alta para a
mais baixa temperatura. Estas transições são facilmente observadas pelos picos
detectados nas curvas de E” ou tan δ (LUCAS; SOARES; MONTEIRO, 2001).
67
4 Materiais e Métodos
4.1 Materiais
O PET reciclado sob a forma de flakes foi gentilmente cedido pela empresa do
Gruppo Mossi & Ghisolfi (M&G), São Paulo, SP.
As fibras de sisal utilizadas neste trabalho foram adquiridas na forma de fios da
empresa Sisal Sul Indústria e Comércio Ltda., São Paulo, SP.
Os plasticizantes TBC E ATBC , cujos nomes comerciais são SCANDINOL SP-21 e
SCANDINOL SP-22 respectivamente, foram gentilmente cedidos pela empresa Scandiflex
S/A, São Paulo, SP.
O plasticizante OSE, de nome comercial DRAPEX 6.8, foi gentilmente cedido pela
empresa INBRA Indústrias Químicas Ltda., São Paulo, SP.
O polibutadieno hidroxilado líquido (PBHL), nome comercial Liquiflex H, foi
gentilmente cedido pela empresa Petroflex Ind. Com., Rio de Janeiro, RJ.
O óleo de mamona (OM) utilizado neste trabalho foi obtido através da empresa A.
Azevedo Indústria e Comércio de Óleos Ltda., São Paulo, SP.
4.2 Métodos
68
4.2.1 Pré-tratamento das fibras de sisal
Figura 29. Molde metálico utilizado no preparo dos compósitos (RAMIRES, 2010).
69
Após, o PET reciclado foi moldado por compressão e aquecimento com o uso de
uma prensa hidráulica sob pressão constante de 38,08 Kgf cm-2, de acordo com a Figura
30.
Figura 30. Representação do sistema utilizado para a moldagem por compressão (RAMIRES, 2010).
70
4.2.2.2 Desenvolvimento do ciclo de temperaturas para moldagem
por compressão dos compósitos
71
Outro teste foi realizado utilizando o ciclo de temperaturas no 9, visando a
determinação das condições ideais para o processamento dos compósitos, na busca da
fusão do PET reciclado em temperatura inferior à temperatura em que inicia a
decomposição térmica das fibras, porém novamente não se obteve êxito.
Encontradas as condições ótimas de processamento (ciclo de temperaturas no
10), os compósitos reforçados com fibras de sisal foram preparados segundo estas
condições pré-determinadas e com a utilização de um misturador mecânico (descrito no
item 4.2.2.3) para prévia mistura das fibras de sisal com os plasticizantes.
72
Ciclo de temperaturas no 1 PET reciclado (flakes) (Tempo 3 h 20 min) (15% de FIBRA DE SISAL)
Ciclo de temperaturas no 2 PET reciclado (flakes) + 20% de PBHL (Tempo 3 h) (Sem Agente de
Reforço)
20 min 20 min
100 oC 150 oC 200 oC Não houve fusão
(40 min) (40 min) (1 h) do PET reciclado
Ciclo de temperaturas no 3 PET reciclado (flakes) + 20% de PBHL (Tempo 6 h 10 min) (Sem Agente
de Reforço)
10 min 10 min 20 min 20 min
73
Ciclo de temperaturas no 4 PET reciclado (flakes) + 20% de PBHL (Tempo 6 h 40min) (Sem Agente
de Reforço)
Fusão
100 oC 200 oC 210 oC 220 oC 230 oC 240 oC Parcial do
(20 min) (30 min) (30 min) (1 h 30 min) (1 h) (1 h) PET
reciclado
Ciclo de temperaturas no 5 PET reciclado (flakes) + 20% de PBHL (Tempo 7 h) (Sem Agente de
Reforço)
Ciclo de temperaturas no 6 PET reciclado (pó) + 20% de glicerol (Tempo 2h50 min) (Sem Agente de
Reforço)
5 min 10 min 1h
74
Ciclo de temperaturas no 7 PET reciclado (pó) + 20% de glicerol (Tempo 1 h 40 min) (Sem Agente de
Reforço)
5 min* 10 min 30 min 15 min
100 oC 180 oC 190 oC 220 oC 235 oC Fusão do
PET
(5 min) (5 min) (10 min) (10 min) (10 min) reciclado
Ciclo de temperaturas no 8 PET reciclado (pó) + 20% de glicerol (Tempo 1 h 40 min) (15% de FIBRA
DE SISAL)
5 min 10 min 30 min 15 min
100 oC 180 oC 190 oC 220 oC 235 oC Decomposição
parcial das
(5 min) (5 min) (10 min) (10 min) (10 min) fibras de sisal
Ciclo de temperaturas no 9 PET reciclado (pó) + 40% de glicerol (Tempo 4 h 15 min) (Sem Agente
de Reforço)
15 min 20 min 30 min 10 min
Fusão
100 oC 180 oC 195 oC 215 oC 225 oC parcial do
(15 min) (1 h 40 min) (20 min) (10 min) (35 min) PET
reciclado
75
Ciclo de temperaturas no 10 PET reciclado (pó) + 40% de glicerol (Tempo 5 h 55 min) (15% de
FIBRA DE SISAL)
Condição ótima de processamento: Placa homogênea, observando a fusão do PET reciclado, com boa
impregnação fibra-matriz e não decomposição térmica das fibras de sisal
76
4.2.2.3 Mistura do agente de reforço com os plasticizantes
77
Figura 31. Representação esquemática do processo de preparação dos compósitos (adaptado de
MEGIATTO (2006)).
78
PET reciclado +
Fibras de Sisal
(15%)
Figura 32. Diagrama esquemático mostrando os diferentes plasticizantes usados (na forma isolada ou combinados) na preparação dos compósitos.
79
As diversas composições dos compósitos foram preparadas a partir de uma
proporção fixa de 15% (em massa) de fibras de sisal (3 cm de comprimento) misturadas
com 85% de PET reciclado com a adição de diferentes tipos e misturas de plasticizantes.
Os compósitos CG, CT e CAT foram preparados com a adição de 40% (em massa)
dos plasticizantes glicerol, TBC e ATBC, respectivamente, com relação à massa de PET
reciclado utilizada. As porcentagens de plasticizantes informadas correspondem a
valores nominais, pois durante o processamento podem ocorrer perdas, principalmente
por volatilização, a temperaturas mais altas.
Na formulação dos compósitos CGT e CGM que continham misturas,
respectivamente, dos plasticizantes glicerol com TBC e glicerol com OM, adicionou-se
20% (em massa) de cada um dos plasticizantes também com relação à massa de PET
reciclado utilizada.
Nos compósitos CGTM e CGTS preparados a partir de misturas, respectivamente,
de glicerol, TBC e OM, e glicerol, TBC e OSE, os plasticizantes glicerol e TBC foram
adicionados cada qual na proporção de 20% (em massa) em relação à massa de PET
reciclado usada. Os plasticizantes OM e OSE foram adicionados cada qual na proporção
de 10% (em massa) em relação à massa total de PET reciclado e dos outros
plasticizantes usados.
Os compósitos CGMP e CGTP foram preparados a partir de misturas dos
plasticizantes, respectivamente, glicerol, OM e PBHL, e glicerol, TBC e PBHL. Os
plasticizantes glicerol e OM foram adicionados na formulação do compósito CGMP cada
qual na proporção de 20% (em massa) em relação à massa de PET reciclado, assim
como foram adicionados na formulação do compósito CGTP os plasticizantes glicerol e
TBC. O PBHL foi adicionado no preparo dos compósitos na proporção de 15% (em
massa) com relação à massa total de PET reciclado e dos outros plasticizantes
adicionados. Destaca-se que, no presente estudo, a quantidade elevada de plasticizantes
adicionados em comparação ao que se encontra na literatura para o preparo de
compósitos poliméricos reforçados com fibras lignocelulósicas, deve-se a perdas de
parte destes aditivos por volatilização durante o processamento dos materiais.
80
4.2.3 Preparação da mistura de PET reciclado/20%
glicerol/20% OM e dos compósitos de matriz de PET
reciclado reforçados com fibras de sisal por reometria
de torque
81
4.2.3.1 Termoprensagem
82
5 Caracterizações
Esta determinação foi realizada de acordo com a norma ABNT (NBR 9656), em
triplicata. Em pesa-filtros previamente tarados, pesou-se 1,0 g de amostra (m1). As
amostras foram secas em estufa com circulação de ar a 105 oC por 4 h. Após, as
amostras foram transferidas para um dessecador e em seguida foram pesadas até massa
constante. O teor de umidade foi calculado pela Equação 2:
midade (2)
Sendo:
m1 = massa (g) inicial da amostra
m2 = massa (g) da amostra seca
in as (3)
83
Sendo:
m1 = massa (g) de cinzas
m2 = massa (g) da amostra seca
, ( )
(g ) (4)
Sendo:
C(g L-1) = concentração em g L-1 de lignina Klason solúvel nas amostras diluídas
A215 = valor da absorbância a 215 nm
84
A280 = valor da absorbância a 280 nm
Através da soma dos resultados obtidos em 5.1.3.1 e em 5.1.3.2 quantificou-se a
concentração total de lignina das amostras.
olocelulose (5)
Sendo:
m1 = massa (g) de holocelulose seca
m2 = massa (g) de amostra
Neste processo, a lignina é totalmente eliminada e a amostra final é composta por
holocelulose, ou seja, celulose e hemicelulose (ou polioses).
85
5.1.5 Determinação do teor de α-celulose
elulose (6)
Sendo:
m1 = massa (g) de celulose seca
m2 = massa (g) de holocelulose seca
Assim, o percentual de hemicelulose (polioses) foi determinado pela diferença
entre a porcentagem de holocelulose e α-celulose da fibra.
86
cristalográficos, ângulos de Bragg (2θ). O Ic da celulose presente nas fibras
lignocelulósicas é obtido a partir dos picos característicos da celulose.
Por meio da Equação 7, descrita por Buschle-Diller e Zeronian (1992) o Ic pode
ser calculado da seguinte forma:
(7)
Sendo:
I1 = intensidade de difração mínima, referente à região não cristalina
I2 = intensidade de difração máxima, referente à região cristalina
As análises de raios X para as fibras de sisal foram feitas em um difratômetro
RIGAKU com tubo de cobre selado, radiação (kα) e comprimento de onda de 1542 Ǻ
(kα). As medidas foram realizadas a velocidade de 2o min-1, no intervalo angular de 5 a
50o (ângulo de Bragg 2θ), potencia de 40 mA e 40 kV. As amostras foram previamente
moídas e secas em estufa de circulação de ar a 105 oC.
A análise DSC foi realizada com o equipamento Shimadzu modelo DSC-50. Foram
utilizadas amostras com massa de aproximadamente 5,0 mg, colocadas em porta-
amostra de alumínio selado. As corridas foram realizadas no intervalo de 25-400 oC,
com razão de aquecimento de 10 oC min-1, em atmosfera de nitrogênio, com fluxo de
50,0 mL min-1.
87
5.1.9 Termogravimetria (TG)
88
5.2.3 Espectroscopia na região do Infravermelho (IV)
Análise descrita conforme item 5.1.10, mas com algumas modificações. Devido
ao estado líquido dos plasticizantes, não foi possível, por prensagem, o preparo de
pastilhas destes com KBr. As amostras de plasticizantes foram analisadas mediante o
uso de pastilhas de silício (Si), nas quais com o uso de uma pipeta de Pasteur uma gota
dos plasticizantes foi vertida nestas para posterior análise.
89
5.4 Caracterização dos Compósitos
Foram analisadas por MEV as superfícies fraturadas dos corpos de prova, pós-
ensaio de impacto, conforme descrito no item 5.1.7.
Sendo:
m1 = massa (g) inicial da amostra
m2 = massa (g) da amostra seca (final)
90
5.4.5 Ensaio de resistência ao impacto Izod
Foram analisados por DMTA corpos de prova nas dimensões de (63,5 x 12,7 x 3,2
mm) (c x l x e). Utilizou-se o equipamento da TA Instruments, modelo Q800 DMA,
pertencente ao Departamento de Engenharia de Materiais (DEMA) da Universidade
Federal de São Carlos – UFSCar (São Carlos, SP). O equipamento foi utilizado no modo
de flexão, com amplitude de oscilação de 20 μm, freqüência de 1 Hz, taxa de
aquecimento de 2 oC min-1, no intervalo de temperatura de 30-200oC.
91
6 Resultados e Discussão
92
variação de umidade na fibra, com consequências nas propriedades finais dos materiais
obtidos, no caso deste trabalho, os compósitos.
Os teores de umidade e cinzas (compostos inorgânicos de cálcio, sódio, potássio e
sílica aderidos às fibras sob a forma de sais) obtidos no presente trabalho também estão
próximos aos valores encontrados na literatura (6-11% de umidade e 0,6-1,1% de
cinzas) (MEGIATTO, 2006; FAVARO, 2010; AKRAM KHAN et al., 2011).
2500
2000
Intensidade
1500
1000
500
0
0 10 20 30 40 50
93
6.1.3 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
A morfologia das fibras de sisal foi analisada a partir das imagens de MEV. As
Figuras 34-a e 34-b mostram micrografias da superfície das fibras de sisal. Através
destas, pode-se observar a presença de alguns fragmentos na superfície das fibras,
provavelmente provenientes de resíduos de células parênquimas, nas quais as fibras
estavam anteriormente ligadas (MEGIATTO, 2006).
(a) (b)
(c) (d)
Figura 34. Micrografias das fibras de sisal: (a) e (b) superfície ampliada; (c) e (d) corte transversal
ampliado.
Nas micrografias das Figuras 34-c e 34-d pode-se observar o interior das fibras
de sisal, as quais são compostas por uma estrutura fibrilar formada pela união de feixes
de fibrilas, os quais, por sua vez, são constituídos por um grande número de células,
justapostas e intimamente ligadas por substâncias de origem péctica (SALAZAR; LEÃO,
2006). As fibrilas são ocas, constituídas por macromoléculas de celulose, recobertas e
aderidas umas as outras por uma matriz de lignina e hemicelulose. Cada fibrila possui
uma complexa estrutura em camadas em que uma fina casca envolve uma segunda
camada mais interna e espessa, sendo que o conjunto de fibrilas forma espirais ao longo
do eixo das fibras (DOS SANTOS, 2006). Os canais formados por esta estrutura fibrosa,
que podem ser observados nestas micrografias, são de grande importância na utilização
94
das fibras como agente de reforço em compósitos, pois podem facilitar a difusão da
resina polimérica para o interior da fibra, com consequente melhor adesão/interação
fibra-matriz (TRINDADE et al., 2005; MEGIATTO, 2006). O diâmetro médio das fibras
lignocelulósicas de sisal utilizadas no presente trabalho, avaliado a partir das imagens
de MEV (utilizando o programa ImageJ), foi de 208 ± 43 μm.
100
370 oC
8 90
0,0
370 ؛C
Fluxo de Calor (mW)
80
6
422 oC 80 oC
70
o exo
300301301
؛391C C 490 oC -0,2
Massa (%)
4 60
dTG
50
2 40
-0,4
30
0
endo
endo 20
350 oC
-0,6
80 oC
-2 10
0
0 100 200 300 400 500 0 100 200 300 400 500 600 700 800
Temperatura (oC)
o
Temperatura ( C)
(a) (b)
Figura 35. Curvas (a) DSC e (b) TG e dTG para a fibra de sisal (fluxo de N2 de 50 mL min-1, razão de
aquecimento de 10 oC min-1).
95
1). As reações de decomposição são exotérmicas, mas como paralelamente ocorre a
liberação de voláteis (evento endotérmico), os picos observados podem ser exotérmicos
ou endotérmicos, dependendo do balanceamento entre a reação de
decomposição/liberação de voláteis (RAMIRES, 2010). Na Figura 35-a todos os picos
observados foram exotérmicos.
A curva TG para a amostra de fibra de sisal (Figura 35-b) mostra que, até 105 oC,
há perda de aproximadamente 1% de massa, relacionada à perda de água relativa à
umidade absorvida (ou adsorvida) pela fibra. A prévia secagem em estufa da amostra,
previamente a análise, não eliminou totalmente a água, devido ao elevado caráter
hidrofílico do material, o qual apresenta moléculas de água ligadas às suas respectivas
estruturas. A maior parte das moléculas de água se liga às hemiceluloses que ficam nas
regiões não cristalinas da fibra (RAMIRES, 2010).
No intervalo de temperatura de 160-245 oC, a fibra de sisal apresenta perda de
massa de aproximadamente 2%, a qual pode estar relacionada com a perda de água
estrutural da fibra, ou seja, fortemente adsorvida. A partir de 245 oC, até
aproximadamente 420 oC, há elevada perda de massa (55%) decorrente da
decomposição térmica da fibra de sisal, inicialmente atribuída à decomposição da
hemicelulose, seguida da degradação da celulose (AKRAM KHAN et al., 2011; DA
SILVA, 2011). De acordo com a curva dTG, o pico intenso que caracteriza a
decomposição destes componentes da fibra possui um máximo em 350 oC, o qual
corresponde à temperatura máxima de decomposição (Tp) da fibra. Pode-se considerar
que, até 245 oC, a amostra de fibra de sisal apresenta estabilidade térmica, devido a
baixa perda de massa da amostra, que não é decorrente da decomposição térmica.
Assim, a temperatura de 245 oC pode ser considerada a temperatura máxima para a
aplicação das fibras de sisal, pois a partir desta temperatura há elevada perda de massa
com a decomposição térmica das fibras.
Acima de 450 °C pode-se observar um pico largo e pouco intenso, referente a um
novo estágio de perda de massa, atribuído à quebra de ligações da protolignina (lignina
nativa), caracterizando a decomposição térmica do componente minoritário da fibra de
sisal, no caso, a lignina (AKRAM KHAN et al., 2011; DA SILVA, 2011). A lignina possui
elevada estabilidade térmica quando comparada a outros componentes da fibra, como a
celulose, por exemplo, como consequência de sua estrutura aromática (DA SILVA,
2011).
96
Os eventos de decomposição térmica dos componentes da fibra foram
observados nas mesmas faixas de temperatura nas curvas correspondentes a TG e DSC
(Figura 35).
70
65
60
Transmitância (%)
55
50 1730 cm-1
45 1630 cm-1
40 2920 cm-1 1251 cm-1
35
30
3430 cm-1 1053 cm-1
25
97
bandas características referentes à absorção de grupos presentes na lignina, de
estrutura aromática (Figura 11-b), e na hemicelulose, caracterizando um espectro
típico de fibras lignocelulósicas (RAMIRES, 2010).
6
PET reciclado com tratamento térmico 0,04
0
PET reciclado
5 0,02
-1
0,00
187 oC
Fluxo de calor (mW)
4 -0,02
Massa (%)
-2
exo
dTG
-0,04
3
-3 -0,06
endo
180 oC 2 -0,08
-4
249 oC -0,10
-5 1 -0,12
248 oC 450 oC
-0,14
-6 0
0 50 100 150 200 250 300 350 100 200 300 400 500 600 700 800 900
(a) (b)
Figura 37. Curvas (a) DSC para as amostras de PET reciclado sem tratamento térmico e pós-
tratamento térmico e (b) TG e dTG para a amostra de PET reciclado sem tratamento térmico (fluxo
de N2 de 50 mL min-1, razão de aquecimento de 10 oC min-1).
Com relação à curva DSC do PET reciclado sem tratamento térmico (Figura 37-
a), esta apresenta um pico pouco intenso na região de 180 °C e um pico intenso na
região de 250 °C, ambos, também referentes ao evento endotérmico de fusão. A menor
temperatura de fusão, 180 °C, quando comparada à temperatura de fusão da amostra de
PET reciclado pós-tratamento térmico, 187 °C, deve-se à presença de água residual na
amostra, que pode elevar a proporção de cristais formados a partir de cadeias com
menor massa molar média (RUVOLO-FILHO; CURTI, 2007). Este fenômeno ocorre
98
devido à atuação da água como um plasticizante, aumentando a distância entre as
cadeias poliméricas e reduzindo as interações intermoleculares entre estas.
Consequentemente, há um aumento da mobilidade das cadeias e segmentos de regiões
cristalinas, diminuindo a temperatura de fusão do polímero.
Não foi possível, via análise DSC, detectar o evento térmico referente à transição
vítrea do PET reciclado, a qual ocorre em uma temperatura de aproximadamente 80 °C
(MARCONCINI; RUVOLO FILHO, 2006). Esta transição é detectada por uma mudança
na linha base da curva DSC, o que normalmente não é identificado com facilidade.
Pode-se observar, através das curvas TG e dTG (Figura 37-b), que há um único
estágio de perda de massa significante, contido no intervalo entre 367-500 oC, o qual é
associado à decomposição do PET reciclado sem tratamento térmico (com perda de
cerca de 80% de massa). A temperatura máxima de decomposição (Tp) observada é de
450 oC.
Assim, a temperatura de decomposição máxima (Tp) para a fibra de sisal (350 °C,
Figura 35-b) é menor do que a Tp do PET reciclado (450 °C). O PET reciclado apresenta
boa estabilidade térmica até 367 oC, ou seja, mais de 120 oC acima de sua temperatura
de fusão.
20
10 0
0
Transmitância (%)
Transmitância (%)
3125 cm-1
-10
1111 cm-1
3430 cm-1 1717 cm-1
-20
1670 cm-1 -10
(a) (b)
Figura 38. Espectro na região do infravermelho a) para o PET reciclado e b) ampliado na região de
1500-1900 cm-1.
99
Analisando-se o espectro ampliado na região do infravermelho, Figura 38-b,
pode-se observar a presença de uma banda desdobrada em três picos, na região de
1600-1720 cm-1. O pico na região de 1717 cm-1 pode ser atribuído ao estiramento da
ligação de -C=O de um éster conjugado, característico do PET. As bandas nas regiões de
menor número de onda podem ser atribuídas a outros compostos presentes no PET, tais
como os advindos da degradação hidrolítica do PET durante o processo de reciclagem,
como o ácido tereftálico. O ácido tereftálico possui uma banda característica na região
de 1670-1700 cm-1, correspondente ao estiramento da ligação de -C=O. Assim, a
presença do ácido tereftálico é sustentada pela presença de bandas em menores
números de onda, em torno de 1670 cm-1, características de ácidos carboxílicos
aromáticos, juntamente com uma banda larga na região de 3400 cm-1, característica do
grupo hidroxila (Figura 38-a). Entretanto, esta última banda pode também ser
atribuída à absorção dos grupos hidroxilas terminais das cadeias do PET, assim como à
presença de umidade, apesar da secagem em estufa por no mínimo 4 horas, a 160 oC da
amostra de PET reciclado, antes da análise espectroscópica (MANCINI; ZANIN, 2002).
Analisando-se o espectro, pode-se observar também a presença de um pico
intenso e bem definido na região de 1400 cm-1. Esse pico é característico da deformação
angular da ligação C-O-H presente em ácidos carboxílicos, o que vem a sustentar a
hipótese do ácido tereftálico estar presente na amostra analisada.
Observa-se a presença de banda característica na região de 3125 cm-1
correspondente à deformação axial de C-H de aromáticos, presente na estrutura do PET
(SILVERSTEIN; BASSLER; MORRIL, 1994).
Portanto, pode-se concluir, pelo espectro apresentado pela amostra de PET
reciclado, que a amostra pode conter resíduos de ácido tereftálico advindos da
degradação hidrolítica do PET durante o processo de reciclagem.
100
encontrados em trabalhos anteriores, nos quais amostras de PET reciclado também
foram analisadas (MANCINI; BEZERRA; ZANIN, 1998; TAJAN et al., 2006).
Em seu estudo, Mancini, Bezerra e Zanin (1998) verificaram a influência do tipo e
número de ciclos de reciclagem no MFI do PET. Por meio deste estudo foi possível
concluir que o MFI do PET aumenta em função do número de reciclagens, do tipo
mecânica, a que o polímero é submetido. Assim, o MFI obtido para o PET virgem foi de
aproximadamente 16 g (10 min)-1 e, conforme o aumento do número de reciclagens
(cinco no total), chegou a valores na faixa de 400 g (10 min)-1, cerca de 20 vezes maior.
O aumento do MFI é consequência de uma diminuição da viscosidade do polímero, o que
indica normalmente queda de sua massa molar média, conforme o aumento do número
de reciclagens. Este comportamento foi confirmado pelo aumento da concentração de
grupos terminais carboxílicos do PET, pois quanto maior o número de grupos terminais
-COOH, maior também é o número de cadeias menores, que apresentam facilidade para
deslizar entre as cadeias maiores, quando no estado fundido, fazendo escoar mais
material.
O PET reciclado utilizado no presente trabalho foi obtido através da reciclagem
mecânica de garrafas incolores de PET, e, devido a valor obtido de MFI, pode-se concluir
que este material sofreu degradação parcial de suas cadeias poliméricas e/ou quebra de
ligações, diminuindo assim sua viscosidade e consequentemente aumentando o MFI, em
comparação ao PET virgem.
101
-50 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450
0 (a) 380 oC
-10
0
(b)
234 oC
exo
0
(d) 389 oC endo
347 oC
-8
0
(e)
290 oC
-50
0 (f)
236 oC
-4
Temperatura (oC)
Figura 39. Curvas DSC para os plasticizantes (a) PBHL, (b) TBC, (c) OSE, (d) OM, (e) Glicerol e (f)
ATBC (fluxo de N2 de 50 mL min-1, razão de aquecimento de 10 oC min-1).
Pode-se observar que a curva DSC para a amostra de PBHL (Figura 39-a)
apresenta um pico exotérmico largo e intenso em aproximadamente 380 oC, que pode
ser atribuído à decomposição térmica da borracha.
Analisando a curva DSC da amostra de TBC (Figura 39-b), pode-se observar um
pico intenso na região de 230 oC, provavelmente referente ao evento endotérmico de
volatilização do plasticizante, já que este apresenta um ponto de ebulição de 234 oC.
Destaca-se que, não necessariamente, o evento endotérmico relacionado à volatilização
do plasticizante será detectado em temperatura igual ou próxima da temperatura de
ebulição que se encontra em tabelas, tendo em vista que as condições experimentais em
que normalmente os pontos de ebulição são determinados diferem das condições em
que as varreduras TG/DSC são feitas.
A curva DSC do plasticizante OSE (Figura 39-c) apresenta um pico intenso na
região de 385 oC, provavelmente referente ao evento exotérmico de decomposição do
material.
Podem-se observar dois picos endotérmicos presentes na curva DSC para a
amostra de OM (Figura 39-d), um pico pouco intenso na região de 347 °C e um pico
intenso na região de 389 oC. Estes picos podem ser atribuídos à
102
volatilização/decomposição dos ésteres de ácidos graxos que compõem o óleo de
mamona, sendo o principal deles o éster do ácido ricinoléico, o qual provavelmente é
responsável pelo pico intenso na região de 389 oC (CONCEIÇÃO et al., 2007).
A amostra de glicerol analisada apresenta em sua curva DSC (Figura 39-e) um
pico intenso na região de 290 oC, referente ao evento endotérmico de volatilização do
material, que apresenta ponto de ebulição de aproximadamente 290 oC.
O ATBC, em sua curva DSC (Figura 39-f), apresenta um pico intenso e largo na
região de 230 oC, provavelmente referente ao evento endotérmico de volatilização do
material, já que este apresenta ponto de ebulição de aproximadamente 174 oC.
A Figura 40 apresenta as curvas TG e dTG para as amostras de plasticizantes.
80 (c) 0
60 o
440 C
dTG
40
20 o
366 C -1
0
100
80 (d) 0
60 o
40 o 455 C
20 380 C
0
-1
100
80 (e) 0
60
40 o
20 210 C -2
0
100 0
80 (f)
60 -1
40 o
20
250 C -2
0
-3
0 100 200 300 400 500 600 700 800
Temperatura (oC)
Figura 40. Curvas TG e dTG para os plasticizantes (a) TBC, (b) PBHL, (c) OSE, (d) OM, (e) Glicerol e
(f) ATBC (fluxo de N2 de 50 mL min-1, razão de aquecimento de 10 oC min-1).
Pode-se observar através das curvas TG e dTG para o TBC (Figura 40-a) que há
um único estágio de perda de massa significante, contido no intervalo entre 126-280 oC,
associado à volatilização do TBC (com perda de cerca de 99% de massa). A temperatura
máxima de volatilização (Tp) observada é de 248 oC.
As curvas TG e dTG para o PBHL (Figura 40-b) mostram boa estabilidade
térmica até 300 oC, quando então inicia a decomposição da borracha. Este evento pode
ser observado pela presença de dois picos na curva dTG, no intervalo de 300-452 oC,
103
com máximo em 447 oC e com aproximadamente 25% de perda de massa, e no intervalo
de 452-519 oC, com máximo em 480 oC e com aproximadamente 73% de perda de
massa.
Analisando as curvas TG e dTG do OSE (Figura 40-c), pode-se observar dois
picos com intensidades diferentes, referentes à decomposição da amostra. O primeiro
pico contido no intervalo de 192-416 oC é intenso, com máximo em 366 oC e perda de
massa de aproximadamente 68%. O segundo pico observado na curva dTG da amostra
está contido no intervalo de 416-516 oC, sendo menos intenso e apresentando um
máximo em 440 oC, com aproximadamente 23% de perda de massa
O OM apresenta em sua curva dTG (Figura 40-d) dois estágios de perda de
massa, referentes à decomposição dos ésteres de ácidos graxos constituintes do
material, no qual há a predominância de ácido ricinoléico. O primeiro estágio pode ser
observado pelo pico intenso no intervalo de 200-428 oC, com máximo em 380 oC e
aproximadamente 74% de perda de massa, de acordo com sua curva TG. O segundo
estágio de perda de massa pode ser observado pela presença de um pico pouco intenso
no intervalo de 428-530 oC, com máximo em 455 oC e aproximadamente 22% de perda
de massa.
A curva dTG do glicerol (Figura 40-e) apresenta um único pico, de intensidade
elevada, no intervalo de 98-237 oC, com máximo em 210 oC, referente à volatilização do
material, a qual ocorre em temperatura mais baixa do que a apresentada pela curva DSC
(290 oC, Figura 39-e). Observa-se, pela curva TG do material, que a perda de massa
neste intervalo de temperatura é de aproximadamente 98,6%.
Para o ATBC, a curva dTG (Figura 40-f) mostra apenas um intervalo significativo
de perda de massa, que pode ser observado pela presença de um pico intenso no
intervalo de 101-280 oC, com máximo em 250 oC, referente à volatilização do material.
Pode-se observar, analisando-se a curva TG do material, que a perda de massa contida
neste intervalo de temperatura é de aproximadamente 99%.
104
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
-1 -1
100 3366 cm 700 cm
-1
50 1640 cm
(a) 2925 cm
-1
0
100 -1
1741 cm
-1
Transmitância (%)
1160 cm
0 (b) 2900 cm
-1
1463 cm
-1
-1
3430 cm
100 -1
1745 cm
0
(c) 2900 cm
-1
1460 cm
-1
100
-1
3330 cm
0 (d) 2900 cm
-1
-1 -1
3500 cm 1463 cm
100
-1
1740 cm
0
(e) 2900 cm
-1
1180 cm
-1
-1
1465 cm
100
-1
1745 cm
0
(f) 2940 cm
-1
1182 cm
-1
Figura 41. Espectro na região do infravermelho dos plasticizantes (a) PBHL, (b) OSE, (c) OM, (d)
Glicerol, (e) TBC e (f) ATBC.
105
deformação axial da ligação -O-H. A banda observada na região de 2900 cm-1 pode ser
atribuída à deformação axial da ligação -C-H. Observa-se também a presença de um pico
intenso na região de 1740 cm-1, provavelmente devido à deformação axial da ligação
-C=O. O pico pouco intenso na região de 1460 cm-1 pode ser atribuído à deformação
angular da ligação -C-H (SILVERSTEIN; BASSLER; MORRIL, 1994).
No espectro na região do infravermelho para o glicerol (Figura 41-d), pode-se
observar uma banda intensa e larga na região de 3330 cm-1, que pode ser atribuída à
deformação axial da ligação -O-H, característica de álcoois. Observa-se também uma
banda na região de 2900 cm-1, que pode ser atribuída à deformação axial da ligação -C-H
(SILVERSTEIN; BASSLER; MORRIL, 1994).
Analisando-se o espectro na região do infravermelho para o TBC (Figura 41-e),
pode-se observar uma banda pouco intensa na região de 3500 cm-1, que pode ser
atribuída à deformação axial da ligação -O-H. A presença da banda na região de 2900
cm-1 pode ser atribuída à deformação axial da ligação -C-H. Observa-se um pico intenso
na região de 1740 cm-1, que pode ser atribuído à deformação axial da ligação -C=O
presente no plasticizante. O pico pouco intenso observado na região de 1460 cm -1 pode
ser atribuído à deformação angular da ligação -C-H. Observa-se também a presença de
uma banda pouco intensa na região de 1180 cm-1, a qual pode ser atribuída à
deformação axial da ligação -C-O (SILVERSTEIN; BASSLER; MORRIL, 1994).
O espectro na região do infravermelho para o ATBC (Figura 41-f) apresenta uma
banda na região de 2940 cm-1, que pode ser atribuída à deformação axial da ligação
-C-H. Analisando o espectro deste plasticizante, pode-se observar um pico intenso na
região de 1740 cm-1, que pode ser atribuído à deformação axial da ligação -C=O. O
espectro também apresenta um pico pouco intenso na região de 1460 cm-1, que pode
ser atribuído à deformação angular da ligação -C-H. Pode-se observar também um pico
pouco definido na região de 1180 cm-1, provavelmente referente à deformação axial da
ligação -C-O (SILVERSTEIN; BASSLER; MORRIL, 1994).
106
6.4 Preparação dos compósitos de PET reciclado reforçados com
fibras de sisal por moldagem por compressão
108
Figura 43. Fotografia da placa de PET reciclado/PBHL obtida utilizando-se o ciclo de temperaturas
no 4 (Experimental).
109
Utilizando a mistura PET reciclado (pó)/glicerol um novo processamento foi
realizado nas mesmas condições dos processamentos anteriores, mas com o uso do
ciclo de temperaturas no 7 (Experimental). Com este ciclo, de duração de 1 h 40 min,
menor duração que o ciclo de temperaturas no 6, e máxima temperatura utilizada de
235 oC, ao final do processamento, houve a fusão do PET reciclado. Foi observado o
desprendimento de vapor do molde metálico durante o processamento, devido à
possível volatilização de parte do plasticizante, o que foi observado também nos outros
processamentos.
Destaca-se que as perdas de plasticizante durante o processamento de materiais
poliméricos, por volatilização, são praticamente inerentes a processos que fazem uso de
elevadas temperaturas (GRISA et al., 2011). A volatilização é um processo ativado
termicamente e as variações de temperatura durante o processamento podem afetar
não só a evaporação dos plasticizantes da superfície do polímero, como também a
difusão dos mesmos do interior para a camada superficial (LODI, 2003).
Adotando-se o ciclo de temperaturas no 7 (Experimental), com o qual foi
possível a fusão do PET reciclado, um novo processamento foi realizado. Utilizando-se
a placa de PET/glicerol preparada no teste anterior e triturada criogenicamente,
adicionou-se 15% de fibras de sisal (3 cm de comprimento) com relação à massa do
polímero utilizada. A mistura foi processada, nas mesmas condições dos
processamentos anteriores, e o ciclo utilizado foi denominado ciclo de temperaturas
no 8. Ao final do processamento, obteve-se uma placa de compósito que mostrava uma
possível decomposição parcial das fibras, e distribuição heterogênea da fibra pela
matriz, de acordo com a Figura 44.
Figura 44. Fotografia da placa de PET reciclado/glicerol/fibra de sisal obtida utilizando-se o ciclo
de temperaturas no 8 (Experimental).
110
Assim, objetivando-se uma temperatura inferior à máxima temperatura utilizada
no ciclo de temperaturas no 8, para evitar uma possível decomposição térmica das
fibras, um novo ciclo de temperaturas foi adotado. A mistura 60% PET reciclado/40%
glicerol foi processada, nas mesmas condições dos processamentos anteriores, porém
fazendo-se uso do ciclo de temperaturas no 9 (Experimental). Neste ciclo, com o dobro
da quantidade de glicerol utilizada anteriormente, foi possível o uso de máxima
temperatura de 225 oC, e duração total do ciclo de 4 h 15 min. Ao final do
processamento, observou-se que houve fusão parcial do PET reciclado.
Considerando os ciclos de temperatura anteriores, um novo ciclo foi considerado
com o objetivo de não somente diminuir a temperatura de fusão do PET reciclado,
evitando assim a decomposição térmica das fibras, como também diminuir sua
viscosidade, visando à obtenção de compósitos com uma distribuição homogênea das
fibras pela matriz. Neste contexto, adotou-se o ciclo de temperaturas no 10
(Experimental), com máxima temperatura utilizada de 225 oC (mesma temperatura
utilizada no ciclo de temperaturas no 9) e possuindo uma duração de 5 h 55 min (mais
longo em comparação com o ciclo anterior). Assim, à mistura de 60% PET reciclado
(pó)/40% glicerol foi adicionado 15% de fibras de sisal, sendo a mistura resultante
processada de acordo com as mesmas condições dos processamentos anteriores e
utilização do ciclo de temperaturas anteriormente descrito. Ao final do processamento,
observou-se que houve a fusão do polímero, sem a ocorrência de decomposição térmica
das fibras, com a obtenção de uma placa de compósito (CG) com visível distribuição
mais homogênea das fibras na matriz, comparativamente ao compósito que antecedeu a
este (Figura 45).
Figura 45. Fotografia da placa de PET reciclado/glicerol/fibra de sisal (CG) obtida utilizando-se o
ciclo de temperaturas no 10 (Experimental).
111
Portanto, adotando-se para o processamento dos compósitos o ciclo de
temperaturas no 10 (Experimental), novas misturas de 85% PET reciclado/15% fibras
de sisal com a adição de 40%, em relação à massa de polímero utilizada, de diferentes
tipos e misturas de plasticizantes foram processadas por moldagem por compressão.
A Tabela 3 descreve os compósitos preparados utilizando-se o ciclo de
temperaturas no 10, mostrando os diferentes tipos e misturas de plasticizantes usados.
Tabela 3. Compósitos preparados por moldagem por compressão, com o uso de plasticizantes e
15% de fibras de sisal – 3 cm (% em massa)
Compósitos Composição
CT PET reciclado/fibras de sisal/TBC
CGT PET reciclado/fibras de sisal/glicerol/TBC
CGTM PET reciclado/fibras de sisal/glicerol/TBC/OM
CGTS PET reciclado/fibras de sisal/glicerol/TBC/OSE
CAT PET reciclado/fibras de sisal/ATBC
CGTP PET reciclado/fibras de sisal/glicerol/TBC/PBHL
CGMP PET reciclado/fibras de sisal/glicerol/OM/PBHL
CG PET reciclado/fibras de sisal/glicerol
CGM PET reciclado/fibras de sisal/glicerol/OM
Em todos os compósitos, até o final dos processos, houve uma significativa perda
dos diferentes tipos e misturas de plasticizantes adicionados. Este fato pode ser
atribuído à volatilização dos plasticizantes e exsudação destes durante o
processamento, para a superfície do material e, ao final, consequente retenção no molde
metálico. Contudo, como os processos iniciaram com relativamente alta quantidade de
plasticizante (40%), o produto final reteve parte do plasticizante adicionado.
No entanto, destaca-se que durante o processamento o plasticizante cumpriu
com a função de diminuir a temperatura de fusão do PET, preservando desta forma a
fibra, assim como reduziu a viscosidade do material fundido, favorecendo a
molhabilidade da fibra pelo polímero. A parte dos plasticizantes que permaneceu no
produto final garante, devido às características estruturais dos mesmos, que estes
atuem também como compatibilizantes, conforme já mencionado.
Anteriormente aos testes de processamento de compósitos de PET
reciclado/fibras de sisal por moldagem por compressão, e mesmo do uso de diferentes
112
tipos e misturas de plasticizantes com o objetivo de diminuir a temperatura de fusão do
polímero, outro tipo de processamento foi testado. Utilizou-se a reometria de torque e
posterior termoprensagem para o processamento inicial de compósitos de PET
reciclado/fibras de sisal, fazendo-se uso da temperatura constante de 260 oC, próxima a
temperatura de fusão do polímero.
Devido à decomposição térmica das fibras no processamento por reometria de
torque e posterior termoprensagem dos compósitos a 260 oC, iniciou-se os testes de
moldagem por compressão, aliados ao uso de plasticizantes. Após o estabelecimento das
condições para a preparação dos compósitos, e fazendo-se uso dos plasticizantes,
novamente testou-se a reometria de torque e posterior termoprensagem no preparo
destes materiais, utilizando a máxima temperatura de 225 oC (item 6.5).
A seguir, são descritos os resultados obtidos usando-se reometria de torque.
113
40
30
Torque (N m)
20
10
0 1 2 3 4 5 6 7
Tempo (min)
Figura 46. Curva de processamento da mistura PET reciclado/fibras de sisal a 260 oC.
114
voláteis em decorrência da decomposição térmica das fibras (Figura 47). Esta placa de
compósito foi fraturada criogenicamente e analisada somente por MEV (item 6.6.5).
Figura 47. Fotografia da placa do compósito PET reciclado/fibras de sisal obtida por
termoprensagem a 260 oC (CH).
115
PET reciclado/fibras de sisal/glicerol/OM
20
PET reciclado/glicerol/OM
18
16
14
12
Torque (N m)
10
-2
0 1 2 3 4 5 6 7
Tempo (min)
Figura 48. Curvas de processamento das misturas PET reciclado/fibras de sisal/glicerol/OM e PET
reciclado/glicerol/OM.
116
D'AVILLA, 2000). Durante este processamento, pode ocorrer um desfibrilamento dos
aglomerados de fibra (DE CASTRO, 2010).
Os materiais obtidos anteriormente foram termoprensados a 225 oC por um
tempo total de 4 min. Durante a termoprensagem, para ambos os materiais, observou-se
visualmente o desprendimento de vapor do sistema, devido a possível volatilização de
parte dos plasticizantes. Ao final da termoprensagem, obteve-se uma placa da mistura
de PET reciclado/glicerol/OM (CTRH), a qual se fragmentou após sua retirada da
termoprensa, provavelmente devido à fragilidade do material, por conter a mistura dos
plasticizantes glicerol/OM sem o reforço das fibras de sisal. Desta placa, não foi possível
a obtenção de corpos de prova para posteriores ensaios mecânicos, sendo realizada
somente a análise térmica destes. Ao final de nova termoprensagem (mesmas condições
utilizadas para a obtenção de CTRH), foi possível a obtenção do compósito de PET
reciclado/fibras de sisal/glicerol/OM sob a forma de uma placa (CHGM), na qual não foi
observada a decomposição térmica das fibras. Devido à fragilidade apresentada por
CHGM, não foi possível a confecção de corpos de prova, considerando as medidas de
corte exigidas pela norma, para o ensaio de absorção de água.
Importante ressaltar que, além da mistura PET reciclado/fibras de
sisal/glicerol/OM ser processada por reometria de torque, outras misturas do polímero
e fibras contendo 40% (em massa), com relação à massa do polímero, de diferentes
tipos e misturas de plasticizantes foram também processadas utilizando-se o reômetro
de torque. No entanto, dentre os materiais obtidos pós-processamento, a mistura PET
reciclado/fibras de sisal/glicerol/OM apresentou-se mais homogênea, sendo, portanto,
escolhida para posterior termoprensagem e caracterização.
117
análise térmica, resistência ao impacto Izod, resistência à flexão, DMTA, MEV e absorção
de água.
O compósito de PET reciclado/fibras de sisal, preparado por reometria de torque
e posterior termoprensagem à temperatura de 260 oC (CH), foi somente analisado por
MEV. Os compósitos de PET reciclado/fibras de sisal/glicerol/OM (CHGM), também
preparados por reometria de torque e posterior termoprensagem à temperatura de
225 oC, foram analisados fazendo-se uso das mesmas técnicas de caracterização
empregadas para os compósitos preparados por moldagem por compressão, com
exceção da análise de absorção de água, que não foi realizada. A mistura de PET
reciclado/glicerol/OM, preparada por reometria de torque e posterior termoprensagem
também à temperatura de 225 oC (CTRH), foi somente caracterizada por análise
térmica.
A seguir, os resultados de análise térmica (DSC/TG) são descritos.
A Figura 49 apresenta as curvas DSC de CTRPET, CT, CGT, CGTM, CGTS, CAT,
CGTP, CGMP, CG e CGM, obtidos por moldagem por compressão.
118
CTRPET 2 CTRPET CTRPET CTRPET: Placa
0 CT 248oC
0 CGT 390 oC 0
CGTM 380 oC
0
controle de PET
exo 0
reciclado
0
248 oC 248 oC
-4 -4 -4 CT: PET reciclado
-3
156 o C -2 /fibra /TBC
232 oC -2 297oC
CGT: PET reciclado /
-8
260 oC -8
235 oC
-8
-6 248 oC 260 oC 260 oC fibra / glicerol / TBC
235 oC
-4 -4 CGTM: PET reciclado
0 100 200 300 400 0 100 200 300 400 0 100 200 300 400
/fibra /glicerol /TBC
CTRPET 2
CTRPET CTRPET /OM
Fluxo de calor (mW)
CGTS 0 0 0
0 370 oC CAT 387 oC 0 CGTP
0 CGTS: PET reciclado
248 oC 248 oC
/fibra /glicerol /TBC
248 oC -4 -4 -4
-2 -2 -2 /OSE
232 oC CAT: PET reciclado
320 oC -8 -4 -8 -8
235 oC 235 oC /fibra /ATBC
-4
260 oC 248 oC 260 oC
-4
260 oC CGTP: PET reciclado
-6
0 100 200 300 400 0 100 200 300 400 0 100 200 300 /fibra /glicerol /TBC
/PBHL
CTRPET CTRPET 0 0 CTRPET
0
0 CG 248 oC 0
CGMP: PET reciclado
0 CGMP CGM
/fibra /glicerol /OM
248 oC -4
-2
248 oC -4 -4 /PBHL
-5
-3 CGM: PET reciclado
-4 235 oC
370 oC /fibra /glicerol /OM
155 oC -8 -8 -8
233 oC 277 oC 233 oC 276 oC -10 CG: PET reciclado
endo -6 260 oC
-6
260 oC 260 oC /fibra /glicerol
0 100 200 300 0 100 200 300 0 100 200 300 400
Temperatura (oC)
Figura 49. Curvas DSC da placa controle de PET reciclado (CTRPET) e dos compósitos CT, CGT,
CGTM, CGTS, CAT, CGTP, CGMP, CG e CGM obtidos por moldagem por compressão
(fluxo de N2 de 50 mL min-1, razão de aquecimento de 10 oC min-1).
119
Ainda, pode-se atribuir também a esse deslocamento de temperaturas o fato de que a
amostra de PET reciclado analisada estava sob a forma de pó, e a de CTRPET, obtida a
partir do processo de trituração criogênica da placa de PET reciclado, encontrava-se sob
a forma de pequenos fragmentos. Assim, o PET reciclado sob a forma de pó apresentava
maior área de superfície, facilitando sua fusão em comparação aos fragmentos de
CTRPET, de menor área de superfície.
Com relação às curvas DSC dos compósitos obtidos por moldagem por
compressão (Figura 49), observa-se que os compósitos CGT, CGMP também
apresentaram dois picos, nas regiões de 155 oC e 235 oC, referentes ao evento
endotérmico de fusão da matriz, no caso o PET reciclado. Estes picos apresentados pelas
curvas DSC dos compósitos foram observados em regiões de temperatura inferiores as
apresentadas por CTRPET (260 oC). Para os compósitos CGT e CGMP foram observados
picos endotérmicos nas regiões de 150 oC (picos pouco intensos) e em 230 oC (picos
intensos). Estes picos ocorreram em temperaturas inferiores às apresentadas pela
amostra de PET reciclado não moldado. Os picos referentes ao evento endotérmico de
fusão de CT e CAT (232-248 oC) foram observados em regiões de temperatura
inferiores as de CTRPET (260 oC), porém na mesma região de temperatura para as
frações de PET reciclado de maior massa molar média (248 oC). Assim, pode-se concluir
que os plasticizantes TBC e ATBC, presentes nos compósitos CT e CAT, respectivamente,
atuaram de forma menos significativa na diminuição da temperatura de fusão dos
compósitos, em comparação às misturas de plasticizantes glicerol/TBC e
glicerol/OM/PBHL, presentes, respectivamente, nas composições de CGT e CGMP.
Observou-se que as curvas DSC dos demais compósitos, obtidos por moldagem
por compressão, apresentaram um único pico (intenso) referente ao evento
endotérmico de fusão. Estes picos foram observados em região de temperatura inferior
(235 oC) as de CTRPET (260 oC) e PET reciclado (248 oC).
Pode-se observar também, analisando-se as curvas DSC de CGT, CGTS, CGMP e
CG, a presença de picos pouco intensos na região de 300 oC, os quais podem ser
atribuídos ao evento endotérmico de volatilização do glicerol (ponto de ebulição de
aproximadamente 290 oC).
Observam-se nas curvas DSC de CGT, CGTM, CGTS, CAT e CGM picos na região
de 370-390 oC referentes, provavelmente, ao evento exotérmico de decomposição da
120
fibra de sisal, possivelmente de seu componente majoritário, a celulose, cujo pico de
decomposição na fibra ocorre na região de 370 oC (Figura 35-a).
Na Figura 50 são mostradas as curvas DSC para o PET reciclado não processado,
CTRH e CHGM, obtidos por reometria de torque e posterior termoprensagem.
2
PET reciclado o
CHGM 378 C
1
CTRH
0
Fluxo de calor (mW)
exo
-1 o
260 C
-2
endo
o
231 C
-3
o
246 C
-4 o
180 C
-5
o
248 C
-6
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450
Temperatura (oC)
Figura 50. Curvas DSC do PET reciclado, da placa controle de PET/glicerol/OM (CTRH) e do
compósito PET reciclado/fibras de sisal/glicerol/OM (CHGM) obtidos por reometria de torque e
posterior termoprensagem (fluxo de N2 de 50 mL min-1, razão de aquecimento de 10 oC min-1).
121
CTRPET: Placa
CTRPET CGTP CTRPET CGMP CTRPET CG
0,00 0,00 0,00 0,000
controle de PET
0,00
reciclado
-0,02 -0,005
CT: PET reciclado
-0,02 369 oC 0,00
/fibra /TBC
-0,01 -0,04
370 oC -0,010
443 oC 443 oC
369 oC 443 oC 443 oC fibra / glicerol / TBC
443 oC
-0,04
443 oC
-0,06 -0,015
-0,005
-0,002
-0,005 /fibra /glicerol /TBC
349 oC
0,0
/OSE
dTG
-0,005
I
-0,004
-0,1
366 oC
-0,010 -0,01
364 oC
-0,010
CAT: PET reciclado
443 oC
443 oC 420 oC 443 oC 443 oC /fibra /ATBC
-0,006
-0,2
-0,010
-0,015 440 oC -0,015
-0,008
CGTP: PET reciclado
200 400 600 0 200 400 600 800 0 200 400 600 800
/fibra /glicerol /TBC
CTRPET CGTM CTRPET CGTS CTRPET CAT /PBHL
0,000 0,000
0,000 0,000 0,00 0,000
CGMP: PET reciclado
-0,002
-0,002
/fibra /glicerol /OM
-0,005 -0,005
-0,004
-0,005 205 oC /PBHL
362 oC -0,004
353 oC CGM: PET reciclado
443 oC
-0,006 -0,010 -0,010
Temperatura (oC)
Figura 51. Curvas dTG da placa controle de PET reciclado (CTRPET) e dos compósitos CGTP, CGMP,
CG, CGM, CT, CGT, CGTM, CGTS e CAT obtidos por moldagem por compressão
(fluxo de N2 de 50 mL min-1, razão de aquecimento de 10 oC min-1).
122
provavelmente à decomposição do PET reciclado. Os picos de decomposição,
apresentados por CTRPET e compósitos nas regiões de aproximadamente 420-440 oC,
correspondem também à decomposição do PET reciclado. Os picos apresentados pelos
compósitos, na região de aproximadamente 350-370 oC, podem ser atribuídos à
decomposição da fibra de sisal, principalmente devido à degradação da celulose
(componente majoritário) (Figura 35-b), assim como o pico apresentando por CAT (em
aproximadamente 350 oC), o qual também pode ser atribuído à decomposição da fibra
de sisal.
Observa-se também que os compósitos apresentam menor estabilidade térmica
em comparação a CTRPET, com início de decomposição nas regiões de 240-250 oC e
340 oC, respectivamente, devido à presença das fibras de sisal nos compósitos.
A Figura 52 apresenta as curvas dTG do PET reciclado, CTRH e CHGM (obtidos
por reometria de torque e posterior termoprensagem).
CHGM
1,5 CTRH
PET reciclado
1,0
0,5
0,0
dTG
-0,5 o o
180 C 360 C
-1,0 o
o 432 C
425 C
-1,5
o
-2,0 448
Temperatura (oC)
Figura 52. Curvas dTG do PET reciclado, da placa controle de PET/glicerol/OM (CTRH) e do
compósito PET reciclado/fibras de sisal/glicerol/OM (CHGM) obtidos por reometria de torque e
posterior termoprensagem (fluxo de N2 de 50 mL min-1, razão de aquecimento de 10 oC min-1).
123
oC), para regiões de menor temperatura, aproximadamente 430 oC e 420oC,
respectivamente para CTRH e CHGM. Em CHGM, também se pode observar um “ombro”
na região de 360 oC, provavelmente ligado ao evento de decomposição térmica das
fibras de sisal (Figura 35-b).
Observa-se que CHGM apresenta menor estabilidade térmica em comparação a
CTRH e o PET reciclado. Em CHGM a decomposição inicia-se em aproximadamente
270 oC, para CTRH e o PET reciclado este evento inicia, respectivamente, em
aproximadamente 310 oC e 360 oC. Quando as fibras lignocelulósicas e os plasticizantes
fazem parte do material, as temperaturas de início de decomposição podem variar,
devido a fatores como a presença da fibra e também dependendo dos plasticizantes
utilizados, o que pode diversificar a temperatura máxima de aplicação destes materiais.
32
30
Resistência ao Impacto (J m-1)
28
CTRPET: Placa controle de PET reciclado
26 CT: PET reciclado /fibra /TBC
24 CGT: PET reciclado / fibra / glicerol / TBC
22 CGTM: PET reciclado /fibra /glicerol /TBC /OM
CGTS: PET reciclado /fibra /glicerol /TBC /OSE
20
CAT: PET reciclado /fibra /ATBC
18
CGTP: PET reciclado /fibra /glicerol /TBC /PBHL
16 CGMP: PET reciclado /fibra /glicerol /OM /PBHL
14 CGM: PET reciclado /fibra /glicerol /OM
12 CG: PET reciclado /fibra /glicerol
CHGM: PET reciclado /fibra /glicerol /OM
10
Compósitos
Figura 53. Resistência ao impacto Izod da placa controle de PET reciclado (CTRPET), dos
compósitos CT, CGT, CGTM, CGTS, CAT, CGTP, CGMP, CGM e CG obtidos por moldagem por
compressão e do compósito CHGM obtido por reometria de torque e posterior termoprensagem.
124
Os resultados obtidos demonstraram que, com exceção do compósito CGT, cuja
resistência ao impacto é de 28 J m-1, valor semelhante à resistência ao impacto de
CTRPET, todos os demais compósitos apresentaram resistência ao impacto inferior a
CTRPET. Portanto, a mistura dos plasticizantes glicerol e TBC, com relação à resistência
ao impacto, foi a melhor combinação de plasticizantes utilizada, no que diz respeito a
esta propriedade, levando a compósitos com maior adesão fibra-matriz. Pode-se
considerar que a mistura de plasticizantes atua como um agente de acoplamento,
modificando a interface fibra-matriz, interagindo com ambos os componentes e
formando uma espécie de “ponte” entre ambos, com consequente intensa adesão fibra-
matriz (ROWELL et al., 1997). Devido a esta intensa adesão fibra-matriz,
provavelmente há maior transferência da energia mecânica da matriz para a fibra
durante os ensaios, com consequente maior resistência ao impacto de CGT.
Em geral, compósitos de matriz termoplástica reforçados com fibras vegetais
podem apresentar uma queda na resistência ao impacto com relação ao polímero não
reforçado, devido à adição das fibras, o que pode ser constatado no presente trabalho. A
presença das fibras vegetais pode diminuir a energia absorvida pelos compósitos e criar
regiões de concentração de stress, com consequente menor energia para a propagação
de trincas durante os ensaios de impacto. Rowell et al. (1997), em seu estudo,
verificaram que a adição de 50% (em massa) de fibras de milho levou a compósitos de
PP com resistência ao impacto 6,5 vezes menor, em relação ao PP puro.
O teor de fibras (15%) utilizado no presente trabalho também pode ser o
responsável pelo comportamento frágil apresentado pelos compósitos. Castro (2010),
em seu estudo, verificou que um aumento do teor de fibras de curauá de 5% para 15%
em compósitos de biopolietileno, foi responsável pela redução de aproximadamente
34% na resistência ao impacto destes materiais, corroborando o observado no presente
trabalho. Além disso, com uma porcentagem maior de fibras nos compósitos, torna-se
maior a probabilidade de regiões em que haja aglomeração das fibras, sendo essas
regiões concentradoras de tensões, necessitando de menor energia para iniciar ou
propagar uma trinca, conforme mencionado anteriormente.
Pode-se observar também que os compósitos contendo em sua formulação PBHL,
CGTP e CGMP apresentaram um dos menores valores de resistência ao impacto,
respectivamente, 12 J m-1 e 11 J m-1 (Figura 53). Assim, pode-se concluir que o PBHL
diminuiu a resistência ao impacto dos compósitos, tornando-os mais frágeis em
125
comparação aos demais. Os resultados obtidos por Castro (2010) para compósitos de
biopolietileno/curauá/PBHL são contrários aos apresentados no presente trabalho.
Neste estudo, foi observado que a adição de PBHL aos compósitos aumentou a
resistência ao impacto dos mesmos, devido ao efeito de tenacificação provocado pela
adição da borracha.
Observou-se também que, assim como ocorreu com a adição de PBHL à
formulação dos compósitos, a adição de OM e OSE diminuiu a resistência ao impacto dos
compósitos CGTM, CGTS, CGMP, CGM e CHGM (Figura 53).
Os diferentes processamentos dos compósitos, moldagem por compressão,
reometria de torque e termoprensagem, não influenciaram significativamente a
resistência ao impacto dos compósitos de mesma composição, CGM e CHGM, que
possuem resistências ao impacto semelhantes (14 J m-1 e 13 J m-1 respectivamente).
Pode-se concluir também que o comprimento das fibras nos compósitos CGM e CHGM,
respectivamente de 3 cm e 5 mm, também não teve influência nos resultados obtidos.
Santos et al. (2006), em seu estudo, verificaram que houve uma diminuição de 50% da
resistência ao impacto em compósitos de matriz termoplástica de poliamida-6
reforçados por fibras de curauá, em comparação ao valor apresentado pelo polímero,
independentemente do tamanho das fibras utilizadas (0,01-100 mm de comprimento).
Pode-se observar também que os valores de resistência ao impacto obtidos no
presente trabalho para CTRPET e demais compósitos são menores que o valor de
resistência ao impacto encontrado na literatura para o PET virgem (90 J m-1)
(OLIVEIRA, 2006). Mancini, Bezerra e Zanin (1998), em seu estudo, verificaram que
com o aumento do número de reciclagens do PET, há acentuada tendência de queda nos
valores de resistência ao impacto deste polímero, podendo chegar a valores de
aproximadamente 5 J m-1.
Zou, Reddy e Yang (2011) prepararam compósitos a partir de tecidos preparados
previamente via tecelagem de fios de PET/fibras de algodão (65/35%) com a adição de
glicerol (10% em massa). Neste estudo, os autores obtiveram 99,0 ± 15,3 J m-1 de
resistência ao impacto para os compósitos preparados por moldagem por compressão, à
temperatura de 260 oC por 1 h 50 min e entalhados. Destaca-se, no entanto, que neste
estudo as fibras lignocelulósicas foram incorporadas via tecelagem à matriz de PET, o
que possibilita uma distribuição controlada da fibra de algodão, dentre outros fatores
que distinguem este estudo deste presente.
126
6.6.3 Resistência à flexão
Figura 54. Deformação na ruptura da placa controle de PET reciclado (CTRPET), dos compósitos
CT, CGT, CGTM, CGTS, CAT, CGTP, CGMP, CG e CGM obtidos por moldagem por compressão e do
compósito CHGM obtido por reometria de torque e posterior termoprensagem.
127
4
0
CTRPET CT CGT CGTM CGTS CAT CGTP CGMP CGM CG CHGM
Compósitos
Figura 55. Módulos de flexão da placa controle de PET reciclado (CTRPET), dos compósitos CT,
CGT, CGTM, CGTS, CAT, CGTP, CGMP, CG e CGM obtidos por moldagem por compressão e do
compósito CHGM obtido por reometria de torque e posterior termoprensagem.
128
25
15
10
3 5
Resistência à Flexão (MPa)
0
CTRPET
Figura 56. Resistência à flexão da placa controle de PET reciclado (CTRPET), dos compósitos CT,
CGT, CGTM, CGTS, CAT, CGTP, CGMP, CG, CGM obtidos por moldagem por compressão e do
compósito CHGM obtido por reometria de torque e posterior termoprensagem.
129
Analisando-se os resultados, observou-se também que, os compósitos de mesma
composição, CGM e CHGM, porém processados por técnicas distintas, respectivamente
moldagem por compressão e reometria de torque com posterior termoprensagem,
apresentaram valores distintos do módulo de flexão e resistência à flexão. Este
resultado é contrário ao que foi observado nos ensaios de resistência ao impacto, em
que CGM e CHGM apresentaram valores semelhantes de resistência. CGM apresentou
maior resistência à flexão do que CHGM, porém o oposto foi observado com relação ao
módulo de flexão. Provavelmente, a maior resistência à flexão apresentada por CGM,
deve-se ao reforço mais efetivo pelo uso de fibras mais longas, com 3 cm de
comprimento, em comparação a CHGM, no qual fez-se uso de fibras com 5 mm de
comprimento.
Pode-se concluir também que CGT apresentou o melhor desempenho com
relação à resistência à flexão e ao impacto, por apresentar o maior valor de resistência
ao impacto (28 J m-1) e o segundo maior valor de resistência à flexão (2,51 MPa).
Observa-se que os valores de resistência à flexão obtidos no presente trabalho
para CTRPET e demais compósitos são menores que o valor encontrado na literatura
para o PET virgem, respectivamente 65 MPa (YUAN et al., 2007). Mancini, Bezerra e
Zanin (1998), em seu estudo, observaram que com o aumento do número de reciclagens
do PET há acentuada tendência de queda em suas propriedades mecânicas, devido à
diminuição da massa molar média do polímero e aumento de sua cristalinidade, como
consequências do processo de reciclagem. Pode-se observar também que os valores
obtidos no presente trabalho para o módulo de flexão de CTRPET e CAT,
respectivamente 4,17 GPa e 2,33 GPa, são maiores que o valor encontrado na literatura
para o PET virgem (1,8 GPa) (YUAN, 2006), o que não é válido para os demais
compósitos.
Zou, Reddy e Yang (2011), para os compósitos preparados a partir de tecidos de
fios de PET/fibras de algodão (65/35%) com a adição de glicerol (10% em massa),
processados por moldagem por compressão à temperatura de 260 oC por 1 h 50 min,
obtiveram para o módulo de flexão o valor de 2,7 GPa. Com relação à resistência à
flexão, os autores obtiveram o valor de 18,7 MPa. No entanto, conforme já mencionado,
o processamento destes compósitos seguiu parâmetros consideravelmente diferentes
daqueles do presente estudo.
130
6.6.4 Análise Térmica Dinâmico-Mecânica (DMTA)
131
1200
Módulo de armazenamento (MPa)
0
CTRPET CT CGT CGTM CGTS CAT CGTP CGMP CGM CG CHGM
Compósitos
Figura 57. Módulo de armazenamento (30 oC) da placa controle de PET reciclado (CTRPET), dos
compósitos CT, CGT, CGTM, CGTS, CAT, CGTP, CGMP, CG, CGM obtidos por moldagem por
compressão, e do compósito CHGM obtido por reometria de torque e posterior termoprensagem.
132
80
70
CTRPET: Placa controle de PET reciclado
60 CT: PET reciclado /fibra /TBC
CGT: PET reciclado / fibra / glicerol / TBC
50
CGTM: PET reciclado /fibra /glicerol /TBC /OM
Tg (oC)
0
CTRPET CT CGT CGTM CGTS CAT CGTP CGMP CGM CG CHGM
Compósitos
Figura 58. Temperatura de transição vítrea (Tg) da placa controle de PET reciclado (CTRPET), dos
compósitos CT, CGT, CGTM, CGTS, CAT, CGTP, CGMP, CG, CGM obtidos por moldagem por
compressão e do compósito CHGM obtido por reometria de torque e posterior termoprensagem.
133
possivelmente interagem mais intensamente com os grupos polares presentes nos
componentes das fibras e com a matriz polimérica, o que pode levar a maior retenção
destes plasticizantes (com menor volatilização durante o processamento), garantindo
uma ação efetiva maior na redução da Tg. No entanto, a ação dos plasticizantes TBC no
compósito CT e ATBC no compósito CAT não foi tão efetiva com relação ao abaixamento
da Tg do polímero, sendo que valores no intervalo de 77-79 oC foram observados.
Portanto, pode-se concluir que houve menor interação dos plasticizantes TBC e ATBC
com a matriz polimérica, mesmo observando que a ação destes plasticizantes levou ao
abaixamento da temperatura de fusão dos compósitos (CT e CAT, 232-248 oC) em
relação a CTRPET (260 oC). Este fato é suportado ao se analisar o efeito da adição de
TBC e glicerol ao compósito (CGT), o que levou a um valor de Tg ligeiramente superior
em relação à adição apenas de glicerol (CG), o qual demonstrou, pela discussão até o
momento, uma atividade como plasticizante mais efetiva.
Figura 59. Micrografia da superfície fraturada da placa controle de PET reciclado (CTRPET) obtida
por moldagem por compressão.
134
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
Figura 60. Micrografias das superfícies de fratura dos compósitos obtidos por moldagem por
compressão: (a) PET reciclado/fibras de sisal/TBC (CT); (b) e (c) PET reciclado/fibras de
sisal/glicerol/TBC (CGT); (d) PET reciclado/fibras de sisal/glicerol/TBC/OM (CGTM); (e) PET
reciclado/fibras de sisal/glicerol/TBC/OSE (CGTS); (f) PET reciclado/fibras de sisal/ATBC (CAT).
135
matriz, facilitando a propagação de trincas pelo compósito. Observa-se nesta
micrografia a propagação de trincas, indicadas por setas vermelhas, ao redor da fibra,
evidenciando a transferência de carga, aplicada durante os ensaios de impacto, da
matriz para a fibra (MEGIATTO, 2006). Em uma situação contrária à apresentada, em
casos em que a adesão fibra-matriz em compósitos não é tão intensa, há um
descolamento da fibra mediante o “golpe”, e a energia de impacto é absorvida, podendo
levar a melhores resultados de resistência ao impacto (BRAHMAKUMAR; PAVITHRAN;
PILLAI, 2005). A Figura 60-b apresenta uma micrografia de CGT, em que novamente
observa-se boa adesão fibra-matriz, com o rompimento da fibra no mesmo plano de
fratura da matriz, indicativo de certa resistência do compósito.
Nas micrografias de CGT e CGTM, respectivamente Figuras 60-c e 60-d,
observa-se considerável recobrimento das fibras pela matriz, assim como
preenchimento das cavidades das mesmas (recobrimento das estruturas fibrilares, ocas,
pela matriz). Este fato é consequência da boa impregnação fibra-matriz, que ocorreu
durante o processamento destes compósitos, devido provavelmente a grande interação
que pode ocorrer entre os plasticizantes (glicerol, TBC e óleo de mamona) com as fibras
de sisal e a matriz polimérica, levando a um aumento das interações na interface
fibra/matriz, mostrando que estes plasticizantes agiram como bons compatibilizantes.
A Figura 60-e mostra a micrografia de CGTS, em que se observa o descolamento
parcial da fibra (debonding), indicado pela seta amarela, possivelmente um dos
principais responsáveis pela absorção da energia de impacto, conforme anteriormente
mencionado. Consequentemente, devido à melhor absorção da energia de impacto,
CGTS apresentou tendência de maior resistência ao impacto (20 J m-1) em comparação a
CT (14 J m-1).
CAT e CG apresentaram em suas micrografias, respectivamente Figuras 60-f e
62-a, aglomerados e emaranhados de fibras, indicados por elipses de cor azul,
evidenciando que não houve uma distribuição muito homogênea das fibras pela matriz,
fato que também refletiu nos baixos valores de resistência ao impacto apresentados por
estes compósitos.
Na Figura 61 são apresentadas as micrografias dos compósitos CGTP e CGMP,
ambos contendo PBHL em suas composições.
136
(a) (b)
Figura 61. Micrografias das superfícies de fratura dos compósitos obtidos por moldagem por
compressão: (a) PET reciclado/fibras de sisal/glicerol/TBC/PBHL (CGTP); (b) PET
reciclado/fibras de sisal/glicerol/OM/PBHL (CGMP).
(a) (b)
Figura 62. Micrografias das superfícies de fratura dos compósitos obtidos por moldagem por
compressão: (a) PET reciclado/fibras de sisal/glicerol (CG); (b) PET reciclado/fibras de
sisal/glicerol/OM (CGM).
137
Na Figura 63 são apresentadas as micrografias dos compósitos processados por
reometria de torque e posterior termoprensagem.
(a) (b)
(c) (d)
Figura 63. Micrografias das superfícies de fratura dos compósitos obtidos por reometria de torque
e posterior termoprensagem: (a) PET reciclado/fibras de sisal (CH); (b), (c) e (d) PET
reciclado/fibras de sisal/glicerol/OM (CHGM).
138
menos efetiva, como consequência da fragmentação das fibras em fibrilas. Na
micrografia de CHGM da Figura 63-c, pode-se observar também o mecanismo de pull-
out (indicado por setas amarelas), revelando uma mais fraca adesão fibra-matriz em
algumas regiões.
139
0,08
0,07
0,05
0,04
0,03
0,02
0,01
0,00
14 CTRPET
13
12
11
Absorção de água (%)
Figura 64. Absorção de água, após 1 h de imersão (temperatura ambiente), da placa controle de
PET reciclado (CTRPET) e dos compósitos CT, CGT, CGTM, CGTS, CAT, CGTP, CGMP, CG, CGM obtidos
por moldagem por compressão.
140
diferença encontrada na absorção de água entre CT e CAT, com um valor superior para
o primeiro compósito, deve-se, provavelmente, ao fato de CT possuir um grupo
hidroxila, o qual está acetilado em CAT, tornando o primeiro compósito mais hidrofílico.
Esta diferença vem em direção a tornar o compósito com TBC (Figura 18) mais
hidrofílico que o compósito com ATBC (Figura 17), gerando maior absorção de água na
primeira hora de teste, o que pode ser observado na Figura 64.
Pode-se observar, na Figura 64, que o compósito CGTP contendo glicerol, TBC e
PBHL (Figura 25), foi o que mais absorveu água, no período considerado. Os
componentes utilizados como plasticizantes neste compósito (glicerol, TBC e PBHL)
podem ser considerados de grande caráter hidrofílico, visto que estes apresentam
grupos hidroxilas disponíveis, aumentando a higroscopicidade do material em questão.
Neste sentido, observa-se que sem a adição de PBHL, o compósito CGT (com apenas
glicerol e TBC) apresentou a segunda maior absorção de água. Na sequência, para os
compósitos CGTM, CGTS, os quais apresentaram semelhantes valores de absorção de
água, observa-se que, a adição do óleo de mamona (Figura 24) e OSE (Figura 23),
resultou em menor absorção de água em relação aos compósitos anteriores. Estes óleos,
aqui considerados, possuem um alto caráter hidrofóbico, devido as suas extensas
cadeias hidrocarbônicas apolares, o que justifica esta diminuição no caráter
higroscópico dos compósitos. Em contrapartida, o óleo de mamona, o qual é constituído
em quase sua totalidade por ésteres de ácido ricinoléico (Figura 24), apresenta
hidroxilas em sua estrutura, garantindo maior absorção de água para CGTM em relação
à CGTS.
Observa-se que para os demais compósitos, os quais não possuem TBC em suas
composições, CG foi o que apresentou maior absorção de água, seguido de CGMP e CGM.
Nota-se que, novamente, a adição de óleo de mamona na composição dos compósitos,
levou à diminuição do caráter hidrofílico do material. Entretanto, a adição de PBHL ao
compósito, garantiu por sua vez maior caráter higroscópico a CGMP, o que pode ser
claramente conferido na Figura 64.
141
7 Conclusões
142
de plasticizantes, além de viabilizar o processamento dos compósitos, possibilitou a
obtenção de materiais, no geral, com elevada ductilidade e flexibilidade em comparação
a CTRPET, analisando-se os resultados de resistência à flexão e DMTA. O uso de
plasticizantes também aumentou a molhabilidade das fibras de sisal pelo PET reciclado,
devido à diminuição da viscosidade do polímero.
As imagens de MEV das superfícies de fratura dos compósitos corroboram o que
foi concluído anteriormente, demonstrando, no geral, uma boa adesão na interface
fibra-matriz, indício da atuação também dos plasticizantes como compatibilizantes
entre a fibra e a matriz, como foi pretendido no presente estudo.
Ainda, em relação aos diferentes tipos e misturas de plasticizantes utilizados na
composição dos compósitos, pode-se concluir que a absorção de água pelos materiais
deveu-se à natureza hidrofílica das fibras e de alguns destes aditivos. Destaca-se que em
determinadas aplicações, peças preparadas a partir de compósitos que contenham
componente hidrofílico recebem camadas de revestimentos hidrofóbicos na superfície,
viabilizando a aplicação, por exemplo, em ambientes úmidos.
Assim, em linhas gerais, pode-se concluir que os objetivos traçados para o
presente trabalho foram atingidos, visando à valorização das fibras lignocelulósicas de
sisal e a reciclagem do PET. Foi desenvolvida metodologia para o preparo de compósitos
de PET reciclado reforçados com fibras de sisal (15%), em temperaturas inferiores à de
decomposição térmica das fibras, por meio do uso de plasticizantes de origem natural.
Portanto, os resultados obtidos mostraram que compósitos de PET reciclado/fibras de
sisal podem ser preparados, gerando produtos finais com elevado valor agregado e alto
teor de matéria-prima obtida de fonte renovável. Os materiais preparados neste estudo
se adequam às aplicações em que a resistência ao impacto não corresponda a critério
para seleção de material. O aumento da resistência ao impacto em compósitos baseados
em PET reciclado exige futuras explorações no assunto.
143
8 Sugestões para trabalhos futuros
144
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