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o contrário do autor, que com cuidado avisa sobre o con-
teúdo nefasto de seu primeiro livro de contos, para que
nenhum leitor desavisado se afete, esta leitora toma a
liberdade de recomendar fortemente um mergulho
profundo nas narrativas que o compõem. O apelo se deve a
uma forte convicção: a arte é capaz de fazer-nos enxergar os
disparates do mundo, também os nossos. Como obra de arte
que é, o livro de Nélio Silzantov nos apresenta uma visão crua
e reflexiva sobre nossa realidade histórica, enformada por um
trabalho de linguagem primoroso e singular. Podemos obser-
var nos contos, que aliás enveredam pelo melhor da tradição
C literária fantástica, distópica e do teatro do absurdo, imagens
M e situações de um caos generalizado que, não por acaso, pare-
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ce passar despercebido pela maioria das personagens. No en-
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tanto, o tom que predomina no livro, principalmente nas
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vozes narrativas, é de inconformismo e revolta. A literatura
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de Silzantov encarna o espírito do tempo com argúcia e preci-
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são: estamos vivendo a barbárie, o presente histórico é mais
assustador do que as estórias de terror mais bizarras que pos-
samos conhecer porque é real, porque nos afeta, porque nos
Nélio Silzantov encaminha cada vez mais para o horror. Que esta literatura
é natural de Vitória da Conquista, Bahia. seja lida, inclusive pelos mais sensíveis, e nos faça despertar.
Professor de filosofia, escritor e crítico lite-
Suzel Domini
rário. Adora umbuzada, andu e festa juni-
na. Voltar para o Nordeste está no topo de
Autora, graduada em Letras e doutora em Estudos Literários.
suas metas, embora seja mais provável
que outros objetivos furem a fila, como
ajudar o seu dog, Chico, a lidar com a en-
tomofobia. Em 2020 estreou no Romance
com a obra Desumanizados, lançado pela
Editora Penalux.
Decadência, distopia, destruição, dor, so-
nhos, absurdo, apocalipse (que está apenas
no começo). Invenções de mundos para evi-
denciar o terror da terra em que vivemos, em
especial a porção verde e amarela. Mas a
outra face de BR2466 é a diversão com uma
mistura de temas inusitados, como a ideia de
um regionalismo puro sangue, a dedicação
de Deus para criar um Rei do Brega e o com-
portamentalismo que envolve cabras e polu-
ções noturnas. Para encaixar tudo, alguma
violência é necessária. Na densidade de con-
tos curtos, algo sempre pode explodir, inespe-
radamente... feito um peido, pois nesta obra
há muito humor, acidez, escracho, soando
NÉLIO SILZANTOV como o canto hilário e doloroso de uma de-
moníaca vuvuzela. Assim Nélio Silzantov
conduz suas narrativas em seu novo livro,
brincando com a curiosidade de seus leitores,
reconduzindo-os à reflexão via metalingua-
gem, com personagens que entram e saem
de modismos, que penetram o contemporâ-
neo em direção ao futuro (e além), que ultra-
passam normas (cultas, morais), optando em
alguns momentos pelo abandono – no silên-
cio, nas reticências, nos lugares inesperados
do texto, abismos que podem aparecer em
menos de uma linha escrita, desvios abruptos
que podem causar náuseas. Aqui, Nietzsche
Ou a pátria poderá ter razão, mas isso não será necessa-
riamente algo bom para nós, nem para ele.
que os pariu Uma risada inocente pode se tornar amarga e
corrompida em menos de um segundo e essa
sujeira na boca pode não ter reparo, uma vez
que demônios não têm plano odontológico.
Leonardo Araújo Oliveira
Autor e professor no Dept. de Cienc. Humanas,
Educação e Linguagem (UESB).