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TAINÁ THIES
Tainá Thies
IESDE BRASIL
2020
© 2020 – IESDE BRASIL S/A.
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detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Envato Elements
Thies, Tainá
Literatura infantil / Tainá Thies. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020.
182 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6651-3
10 Literatura Infantil
Logo, o folclore é a própria cultura feita pelo povo para explicar o mundo
a sua volta e dar cores à vida. Fazem parte do folclore as lendas, as fábulas,
os contos, os poemas, as quadrinhas, as canções e outros gêneros textuais
que versam sobre os comportamentos e os valores de uma sociedade.
12 Literatura Infantil
Assim, João e Maria passa a ser, hoje, uma história de cooperação,
de triunfo por união e de retorno feliz à casa.
Dessa forma, a literatura infantil precisou primeiro passar pelo desen- Glossário
volvimento do próprio conceito de infância para então ser pensada com es-
estética: estudo da beleza
tética, forma e conteúdo específicos. Algumas obras ou compilações são na criação artística.
vistas atualmente como iniciadoras desse processo. O que elas têm em
comum entre si é exatamente o uso de histórias capazes de moldar com-
Livro
portamentos das crianças dentro de um sistema de valores da sociedade
em que estão inseridas. Coelho (2000, p. 41, grifos do original) nos diz que:
dentre os fatores que podem ser apontados como comuns às
obras adultas que falaram (ou falam) às crianças, estão os da
popularidade e da exemplaridade. Todas as que se haviam trans-
formado em clássicos da literatura infantil nasceram no meio
popular (ou em meio culto e depois se popularizaram em adap-
tações). Portanto, antes de se perpetuarem como literatura in-
fantil, foram literatura popular. Em todas elas havia a intenção
Para conhecer um pouco
de passar determinados valores e padrões a serem respeitados sobre a evolução do
pela comunidade ou incorporados pelo indivíduo em seu com- conceito de infância, su-
portamento. Mostram as pesquisas que essa literatura inaugural gerimos a leitura do livro
História social da criança
nasceu no domínio do mito, da lenda, do maravilhoso.
e da família, de Philippe
Aries, o qual revisita a
Conforme Coelho (2000), a literatura popular, que dá origem à lite- presença da criança em
ratura infantil, nasce do domínio do “maravilhoso”, ou seja, aquilo que obras de arte para tentar
estabelecer quando ela
é gerado pela fantasia quando há presença do sobrenatural e de even- passa a ser uma figura
tos misteriosos e sem explicação possível. O elemento maravilhoso é importante na história
das famílias.
capaz de colocar em pauta uma coletividade narrativa, isto é, os fatos
ARIES, P. São Paulo: LTC, 1981.
narrados não são individuais, mas, sim, comuns a diversos povos que
compartilham mitos e lendas e, logo, valores e crenças.
Bem, até aqui você já identificou que a literatura se inicia como for-
ma de transmitir valores e comportamentos de uma sociedade por ge-
rações, bem como para preservar sua identidade.
Mas como saltamos disso para uma literatura específica para crian-
ças, já que o folclore não se destinava somente aos pequenos, mas, sim,
a todo o povo?
14 Literatura Infantil
Quando ouvimos que não havia crianças na Idade Média ou em Figura 1
outras épocas, devemos entender, na verdade, que não havia a com- Ognissanti Madonna, de
Giotto di Bondone – repre-
preensão das crianças como seres especiais, as quais eram chamadas sentação da criança.
de “adultos tolos”. Exatamente isso! Adultos que ain-
Wikimedia Commons
da não tinham a capacidade de um adulto, mas que
participavam da vida adulta como se fizessem parte
dela. Então, naquela época, as crianças assistiam às
execuções em praça pública, estavam presentes du-
rante as relações sexuais dos pais (até mesmo por-
que não havia divisão de cômodos) e trabalhavam
desde muito cedo, sem questionamento por parte
da sociedade.
senvolvem enquanto ciências, e a escola também é solicitada a formar Disponível em: https://tinyurl.
crianças e jovens de acordo com os ideais burgueses. Nesse sentido, com/yagawo5s. Acesso em: 30
mar. 2020.
eram necessários produtos específicos para serem utilizados em am-
biente escolar e familiar com intuito educacional. O livro se torna, en-
tão, um produto que se encaixa muito bem nesse novo sistema. Assim,
16 Literatura Infantil
e assim vinham ao Brasil, para aqueles que podiam pagar. No caso
do povo em geral, prevaleciam ainda os contos populares da tradição
oral, vindos em sua maioria da cultura ibérica e com temáticas de ca-
valaria ou religiosas.
Tradicionalismo Moralismo e
Nacionalismo Intelectualismo
cultural religiosidade
Maior ênfase na língua Ascensão social e econô- Cumprimento dos
Valorização de autores
falada no Brasil, diferen- mica por meio do saber preceitos cristãos de
consagrados e clássicos
ciando-se do Português proporcionado pelo caráter, honestidade e
europeus.
europeu. estudo e pelo livro. pureza.
Cultura clássica e es-
Preocupação com os trangeira a ser utilizada
símbolos da Pátria. como molde para cria-
ções nacionais.
Destaque ao amor pela
terra e pela vida no cam-
po, incompatível com a
vida urbana.
95 Coisas brasileiras, de Romão Puiggari. Sua intenção era a de trazer bom humor para
18 os livros didáticos e repensar o uso de autores e valores estrangeiros em detrimento dos
nacionais. Para ele, poemas, histórias, cenário e assuntos tratados deveriam enaltecer o
Brasil, inserindo-se, assim, no nacionalismo romântico da época.
93
18 Livros de leitura e série didática, de Felisberto de Carvalho. Essa série concorria
diretamente com a de Hilário Ribeiro e instaurava no Brasil um novo método de ensino,
com divisão por lições e exercícios de recapitulação, ditado, redação e recitação.
90
18 Série Instrutiva, de Hilário Ribeiro, foi uma coleção muito popular em diversos estados
do Brasil até a década de 1930. Era composta de quatro volumes: Cartilha nacional –
primeiro livro e silabário; Cenário infantil; Na terra, no mar e no espaço; Pátria e dever – elementos
82
18
de educação moral e cívica. Essa coleção instaura de vez o uso do método silábico para
a alfabetização nas escolas brasileiras. Conforme Coelho (2010, p. 228), “nessa Série
Instrutiva, estão bem caracterizados os valores da Sociedade-liberal-burguesa-cristã, que
alicerçam toda a produção didática e literária da época”.
77
18 O livro do nenê, de Joaquim José de Meneses Vieira, autor de vários outros livros
1
didáticos .
68
18 Método Abílio, de Abílio César Borges, Barão de Macaúba. Com base no modelo
europeu, escreveu vários livros de leitura e realizou adaptações de outros livros
europeus para que as escolas empregassem como método de alfabetização e ensino da
61
18
matemática, das ciências, das artes e da leitura.
18 Literatura Infantil
Visualizamos nessas obras a influência incontestável de um pensa- Livro
mento positivista que estava presente em todos os setores. As palavras Para trabalhar contos
em sala, nada melhor
do escritor Francisco Vianna, autor de Leituras infantis (1900), esclare-
que utilizar compilações
cem bem o sentimento que imperava nos livros de leitura do fim do com comentários e fatos
históricos. Para isso, leia
século XIX e início do século XX. De acordo com Vianna, citado por os livros de Ângela Carter
Pfromm Neto et al. (1977): e de Maria Tatar, os quais
trazem inúmeros contos
ao escrevermos tais livros, não podemos e nem devemos subor- (conhecidos ou não) para
diná-los exclusivamente ao gosto e às tendências das crianças. você se encantar.
Toda leitura, qualquer que seja, exerce uma certa reação sobre
quem a faz, pois, como demonstrou A. Comte, nada há de indi-
ferente ao sentimento. Assim sendo, convém aproveitar em tais
lições assuntos que concorram para a formação de seus senti-
mentos e de seu caráter, em suma, de seu moral. Isto só se pode
obter desenvolvendo o altruísmo e comprimindo o egoísmo.
(apud COELHO, 2010, p. 235)
CARTER, A. 103 contos de fadas. São
Logo, podemos entender por esse trecho o quão atreladas ao ensi- Paulo: Companhia das Letras, 2005.
no de valores e da aquisição da habilidade de leitura eram tais obras.
Além disso, precisamos lembrar que o crescente interesse pelos livros
didáticos ainda está ligado ao sentimento burguês que descrevemos
anteriormente. Esses valores, já estabelecidos na Europa, chegavam
até nós com o amadurecimento de uma sociedade brasileira ainda
muito jovem. Assim, a necessidade de se educar para a formação do ca-
ráter e da moral, como citado no trecho visto anteriormente, é também TATAR, M. (ed.). Contos de fadas:
edição comentada e ilustrada. Rio
uma necessidade de perpetuar valores da classe dominante, afinal, no de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
século XIX e início do século XX, quem frequentava as escolas?
20 Literatura Infantil
•• Através do Brasil (1910), de Olavo Bilac e Manuel Bonfim. Um mar-
co na nossa literatura infantil, traz uma única história de aventu-
ra (uma novela), e não vários contos e pequenas histórias como
seus antecessores. Também insere o gênero de viagem pedagó-
gica, utilizado na Europa, fazendo com que seus personagens
principais viagem pelo Brasil conhecendo suas diferenças histó-
ricas, geográficas, naturais e culturais.
•• Biblioteca infantil (1915), Arnaldo de Oliveira Barreto. Foram 25
títulos de contos, como O patinho feio, Gato de Botas, O soldadi-
nho de chumbo, entre outros, todos ilustrados pelos artistas mais
consagrados da época. Tal coletânea se perpetuou por muitos
anos e chegou até nós com melhorias gráficas e adaptações.
•• Saudade (1919), de Tales de Andrade. Nos moldes da novela de
Olavo Bilac e Manuel Bonfim, abriu caminho para uma literatu-
ra infantil com temática rural, a qual foi bastante explorada nos
anos seguintes. A vida rural se insere aqui com o reconhecimen-
to de novos ideais de paz e justiça social após uma guerra que
abalou os valores de progresso e urbanização. Saudade mescla
ficção e realidade e enaltece uma vida simples e desvalorizada
pela cidade, bem como a natureza.
Eis que então surge José Bento Renato Monteiro Lobato, figura que
inicia sua carreira no jornal O Estado de São Paulo denunciando as quei-
madas no interior do país, pois antes de ser escritor, Monteiro Lobato
era fazendeiro. Inicialmente, Lobato ficou conhecido por suas críticas
sociais na figura do Jeca, um caboclo a quem o autor via como um para-
sita, alguém preguiçoso e sem cuidado com a terra. Da mesma forma,
o escritor também criticava os governos, por estarem mais ligados à
Primeira Guerra Mundial na Europa do que às necessidades do país.
Lobato defendia que era do povo que deveria surgir a arte natu-
ralista brasileira, afirmando que o povo possuía capacidade para de-
senvolver um estilo próprio com base em suas raízes. Dessa forma,
22 Literatura Infantil
contestava a arte canônica de estilo rebuscado e inacessível à popula-
ção, arte essa que vinha do tempo do Império.
Para Lobato, portanto, a arte deveria ser popular, feita das raízes
do povo e para o povo. Assim, conforme o pesquisador Vitor Lacerda
(2008, p. 22), citando o pensamento de Lobato:
acreditando que o estilo nacional deveria estar em íntima conso-
nância com o povo, Lobato afirma que ele não poderia ser criado,
mas que deveria nascer naturalmente “por exigência do meio”.
Contudo, como essa exigência não estaria colocada no Brasil, ela
deveria ser provocada não pelos grandes mestres, mas sim pelo
“artista legião”, o artesão anônimo, capaz de moldar a “feição es-
tética duma cidade”: o marceneiro, o serralheiro, o entalhador,
o fundidor, o estofador e o ceramista. A formação desse artista
seria responsabilidade do Liceu de Artes e Ofícios, que deveria
incitá-lo a “olhar em torno de si e a tirar da natureza circunjacen-
te os assuntos das composições, o motivo dos ornatos, a matéria
prima, enfim, da sua arte”.
Importante
Assim, embora Monteiro Lobato tenha sido um divisor de águas da
Com uma visão de desenvolvi-
literatura infantil e elevado os padrões estéticos dessa arte, a necessi-
mento nacional, especialmente
dade de pensar a literatura para crianças enquanto formadora ainda ligado aos meios de extração,
permaneceu, porém com maior liberdade criadora e sem os preceitos como poços de petróleo e
latifúndios, Lobato acreditava
moralizantes das obras anteriores. Sua obra foi um marco, pois ultra- que as crianças seriam o futuro
passa o didatismo e a questão educacional e pedagógica para incentivar do Brasil e, assim, precisavam
uma ação leitora de liberdade criadora. Seus livros infantis permitiram ser formadas com a cultura
brasileira, e não estrangeira.
a criatividade, a curiosidade e a descoberta do mundo. Também entendia que a literatu-
ra para crianças não deveria ser
Com esse desejo, o de levar conhecimento e gosto pelo saber,
moralizante e nem rebuscada,
Lobato se colocou a favor de um novo modelo de educação, publican- porém, para ele, o processo de
do seu primeiro livro infantil, A menina do narizinho arrebitado (1920). escrita deveria ser empregado
com um fim de transmissão de
Com fins escolares, Lobato apresenta, nessa obra, um pensamento que
uma mensagem, e não apenas
mais tarde se aproxima do movimento da Escola Nova, aproximação como forma entretenimento.
dada tanto por sua afinidade com um novo projeto educacional quanto
Reinações de
Caçadas de
Narizinho (inclui A
Pedrinho e
menina do narizinho
História do
As Aventuras arrebitado e outras
mundo para as
de Hans histórias da década
O saci crianças
Staden de 1920)
1921 1927 1931 1933
24 Literatura Infantil
Saiba mais
Entre 1952 a 1964, o programa O sítio do Pica-pau Amarelo, exibido pela TV Tupi, foi um grande sucesso tele-
visivo. A série, adaptada por Tatiana Belinky e dirigida por Júlio Gouveia, teve 360 episódios. A segunda versão
da série para a televisão foi realizada pela Rede Globo entre os anos de 1977 e 1986, com roteiros de Benedito
Ruy Barbosa, Marcos Rey, Silvan Paezzo e Wilson Rocha, e dirigida, em sua maioria, por Geraldo Casé. Em 2001,
a TV Globo realizou uma nova versão de O sítio do Pica-pau Amarelo, com inúmeros roteiristas e diretores e
trazendo uma criança para interpretar o papel de Emília. Para saber mais sobre as adaptações desse clássico da
nossa literatura infantil, visite o site disponível em: https://tinyurl.com/ybam2p6h. Acesso em 5 abr. 2020.
Atividade 2
Monteiro Lobato não é imune a críticas, em especial quando avançamos no sistema de valores vigentes. Há alguns
anos, começaram discussões a respeito do racismo presente em suas obras. Enquanto escritor, não se retira seu
peso da história da literatura infantil, mas com certeza não se pode deixar de lado tal discussão. Leia a matéria es-
crita por Adilson Miguel para a Revista Emília e reflita sobre suas impressões acerca da obra de Lobato e sua relação
com o racismo. Disponível em: https://revistaemilia.com.br/lobato-e-o-racismo/. Acesso em: 7 maio 2020.
Aritmética Serões de
da Emília; Dona Benta;
Geografia de O poço do Os doze
Dona Benta; Visconde; trabalhos de
História das Histórias de A reforma Hércules (dois
invenções Tia Nastácia da natureza volumes)
26 Literatura Infantil
quadrinhos, especialmente com traduções de HQs americanas de su-
per-heróis, como Batman, Superman, entre outros títulos, e a entrada
do gênero policial, em especial com Sherlock Holmes.
Na prosa:
•• Clarice Lispector – O mistério do coelho pensante (1967) e A
mulher que matou os peixes (1968).
•• Lygia Bojunga – A bolsa amarela (1976).
•• Ana Maria Machado – suas obras mais famosos são Bisa Bia, Bisa
Bel (uma novela de 1981) e Menina bonita do laço de fita (2000).
•• Ruth Rocha – escreveu histórias inéditas, como Marcelo, mar-
melo, martelo (1976), e adaptações como, Romeu e Julieta e A
arca de Noé.
•• Rachel de Queiroz – O menino-mágico (1969) e Cafute e
Pena-de-prata (1986).
•• Pedro Bandeira – obras como A marca de uma lágrima (1985)
e É proibido miar (1983).
•• Tatiana Belinky – Limeriques (1987).
28 Literatura Infantil
No teatro:
•• Pedro Bandeira – O fantástico mistério da Feiurinha (1985).
•• Ana Maria Machado – O rapto das cebolinhas (1954); Pluft, o
fantasminha (1955); A menina e o vento (1963); entre muitas
outras obras.
Na poesia:
•• Marina Colasanti – A centopeia.
•• Mário Quintana – Poeminha do contra.
•• Sérgio Capparelli – Canção para ninar dromedário.
•• Cecília Meireles – Ou isto ou aquilo (1964); A canção dos
tamanquinhos.
•• José Paulo Paes – Convite.
•• Vinícius de Moraes – As borboletas.
Assim, com tantas obras que trazem à tona uma reflexão sobre a
realidade do leitor, adentramos o novo século. Mas não sem desafios
para a literatura infantil. Reinventar-se é preciso, então vamos desco-
brir essas reinvenções do século XXI.
30 Literatura Infantil
Várias editoras aumentaram seus faturamentos com a publicação
Atividade 4
de livros infantis, especialmente em decorrência de programas gover-
Relate como você percebe as
namentais para a aquisição de tais obras, destinadas à escola pública, diferenças entre a literatura atual
e de novas legislações iniciadas já na década de 1990. Com uma nova e a literatura do início do século
legislação educacional, outras formas de pensar literatura e educação XX no Brasil.
32 Literatura Infantil
As editoras de materiais didáticos são as que mais investem atual- Vídeo
mente no formato de livro digital. Ao iniciar a leitura, uma criança (ou
Veja como fazer
seu mediador) poderá decidir se continua de modo linear, conforme dedoches no vídeo
Superfácil: Aprenda a fazer
seguem as páginas, ou se clica em vídeos, áudios e jogos atrelados à
dedoches, publicado pelo
narrativa e ocultos sob links. canal da revista Crescer.
Entre as atrações, a realidade aumentada tem sido uma febre, tanto Disponível em: https://tinyurl.com/
y7glcyme. Acesso em: 5 abr. 2020.
para a literatura quanto para conteúdos didáticos. Para essa tecnolo-
gia, as editoras utilizam o livro impresso com imagens que podem “ga-
nhar vida” em 3D ou acionar um jogo com o uso do celular ou tablet. Vídeo
Aliás, atualmente jogos também são formas literárias, pois muitos Acesse o vídeo Qual é a
diferença entre Realidade
baseiam seus mundos e personagens em uma narrativa bem formula- Virtual e Realidade Au-
da. Logo, mentada, publicado pelo
canal GCFAprendeLivre,
analisando a natureza dessa literatura, neste limiar do século para saber mais sobre
XXI, conclui-se que hoje não há um ideal absoluto de Literatura as diferenças entre rea-
lidade virtual e realidade
Infantil/Juvenil (nem de nenhuma outra espécie literária). Será aumentada.
“ideal” aquela que corresponder a uma certa necessidade do
Disponível em: https://tinyurl.com/
tipo de leitor a que ela se destina, em consonância com a época yd9yd4sp. Acesso em: 5 abr. 2020.
em que ele está vivendo... Vista em conjunto, a atual produção
de Literatura destinada a crianças e jovens, entre nós, apresen-
ta uma crescente diversidade de opções temáticas e estilísticas,
sintonizadas com a multiplicidade de visões de mundo que se Livro Eletrônico
superpõem no emaranhado da “aldeia global” em que vivemos.
O aplicativo “O rapto da vaca
(COELHO, 2010, 289) sagrada”, do Centro de Educação
e Cultura, é gratuito e foi
A próxima etapa com certeza será explorar o uso de óculos de rea- desenvolvido para ser um livro
lidade virtual para interagir com o mundo criado pelas obras infantis, interativo com atividades educa-
inserindo o leitor como um participante que construirá a história den- tivas. Baixe-o sem custo algum
pelo Google Play e navegue pela
tro do cenário. Agora é aguardar pelos próximos capítulos! E você, já história.
pensou em como será a literatura infantil do futuro?
Artigo
https://tinyurl.com/yblcqs8j
REFERÊNCIAS
ARIÈS, P. História social da criança e da família. São Paulo: LTC, 1981.
COELHO, N. N. Literatura infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Moderna, 2000.
COELHO, N. N. Panorama histórico da literatura infantil/juvenil: das origens indo-europeias
ao Brasil contemporâneo. Barueri: Manole, 2010.
LACERDA, V. A. Um mergulho na Hélade: mitologia e civilização grega na literatura infantil
de Monteiro Lobato. Belo Horizonte, 2008. Dissertação (Mestrado em Estudos Literários) –
Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais.
LAJOLO, M.; ZILBERMAN, R. Literatura Infantil brasileira: história e histórias. São Paulo:
Ática, 2007.
LOBATO, M. Histórias de Tia Nastácia. Rio de Janeiro: Editora Globo, 2009.
MICHAELIS. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. 2015. Disponível em: https://
michaelis.uol.com.br/. Acesso em: 16 abr. 2020.
NUNES, C. Novos estudos sobre Monteiro Lobato. Brasília: UNB, 1998.
TATAR, M. (ed.). Contos de fadas: edição comentada e ilustrada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2004.
GABARITO
1. Embora existissem crianças, não havia um entendimento delas enquanto sujeitos com
características próprias e com necessidades de cuidados específicos. As crianças eram
vistas como adultos em miniatura, pessoas ainda sem toda a capacidade intelectual
de um adulto formado. Assim, não houve literatura ou práticas pensadas para esse
público antes de ocorrer uma reflexão sobre a própria infância e suas necessidades.
2. A atividade pede uma resposta pessoal, mas deve trazer elementos que demonstrem
a compreensão da obra de Monteiro Lobato enquanto um marco na literatura infantil
brasileira ao mesmo tempo em que, mesmo assim, ela pode conter diversos elemen-
34 Literatura Infantil
tos racistas como forma de representação tanto da realidade vigente quanto do posi-
cionamento do autor. Outro ponto relevante trazido pela matéria e que é possível de
ser incorporado na resposta é que, mesmo que houvesse um cenário racista, muitos
outros escritores e artistas já questionavam as representações do negro na arte, e
talvez Lobato não tenha refletido sobre isso e continuado com práticas enraizadas em
sua construção enquanto um homem branco e da elite agrária.
3. Embora seja uma resposta de cunho pessoal, deve discorrer sobre os valores tradicio-
nais ainda vigentes na nossa sociedade, mas que encontram um cenário que cada vez
mais compreende a necessidade de desenvolvimento de novas relações de gênero
para todas as crianças. Além disso, deve demonstrar compreensão da necessidade
de se questionar os papéis impostos a meninos e meninas, pois eles engessam o ser
humano e não permitem sua plena expressão. Assim, é necessário que a literatura
proponha essas discussões para auxiliar as crianças a verem que não existem apenas
as possibilidades de papéis aceitas até aqui, mas que podem construir outras relações
emocionais e sociais.
4. A literatura do início do século XX era voltada quase que exclusivamente para o dida-
tismo da alfabetização e dos valores morais das classes dominantes que produziam
e consumiam tais obras. No Brasil, além dessas características, o ruralismo, o intelec-
tualismo, o tradicionalismo cultural e a religiosidade também estavam presentes. Já
no século XXI, estão em cena obras que privilegiam a estética literária, a diversidade
de estilos e temas, as múltiplas visões de mundo, a criatividade, a imaginação e o
questionamento da realidade.
36 Literatura Infantil
2.1 O papel da literatura na formação do leitor
Vídeo Quando éramos crianças, mal podíamos nos conter diante da possi-
bilidade de ouvir histórias, especialmente aquelas que se iniciam com a
expressão Era uma vez… Tínhamos (e ainda temos) a necessidade de nos
maravilhar, de usar a linguagem em favor de uma estrutura cognitiva
infantil que necessita da fantasia para simbolizar o
real em seu cérebro ainda em desenvolvimento. Desafio
Como você se sente quando
Já adentramos, então, em um dos papéis mais
uma história se inicia com
importantes da literatura na formação do leitor: “Era uma vez…”? Faça um
propiciar a simbolização do real. Na psicologia teste: procure um conto ou
livro infantil que comece com
histórico-cultural de Lev Vygotsky, a linguagem essa estrutura e, antes de con-
(pela qual se dá a comunicação) é o que nos possi- tinuar a história, pergunte-se o
bilita a existência enquanto seres humanos. Pela que essa frase lhe proporciona
– ansiedade, maravilhamento,
linguagem, somos capazes de dar significado ao curiosidade, entre tantas
mundo ao redor, à realidade. outras possibilidades.
Desafio
Que tal compreender melhor a narrativa de sua própria vida? Para realizar essa atividade, vamos nos basear
em um modelo para a reconstrução de memórias e do significado dado à trajetória pessoal. Você precisará
de algumas pedras, sendo que o tamanho delas fica a seu critério, e de algumas flores. Além disso, também
precisará de barbante, papel e caneta. Pensando na narrativa da sua história, crie uma linha com o barbante,
indicando os eventos ruins/difíceis com pedras e os momentos bons/felizes com flores. Lembre-se de que os
momentos bons não são necessariamente eventos grandiosos, podendo ser aqueles em que você se sentiu feliz
consigo mesmo ou em alguma situação, como ao conseguir um trabalho ou ao tomar um banho de chuva. Aos
poucos, crie a sua linha identificando cada elemento com um pedaço de papel que descreva o evento da pedra
ou da flor. No fim, olhe para a sua linha e perceba que tanto os eventos ruins quanto os bons fazem parte da sua
história, de quem você é. Pergunte-se o que aprendeu com os momentos ruins e como pode multiplicar os bons
para continuar a escrever a sua narrativa!
38 Literatura Infantil
Para entender melhor isso, vamos utilizar um conceito descrito por
Carl Gustav Jung, fundador da psicologia analítica. Jung acreditava na
existência de um “inconsciente coletivo”, o qual guardaria traços de
uma história da humanidade e seria povoado pelos “arquétipos”, isto
é, uma “forma universal de pensamento (ideia) que contém um grande
elemento de emoção” (HALL; LINDZEY; CAMPBELL, 2000, p. 89). Filme
Logo, arquétipos seriam todas as experiências da humanidade à dis- Assista ao filme Os
Croods, uma animação da
posição da formação dos indivíduos, e esses arquétipos chegariam até
Disney, lançada em 2013,
nós por meio dos mitos, das fábulas e das lendas, perpetuando ideias que conta a história de
uma família pré-histórica
gerais sobre o que é ser humano, pai, mãe, filho etc. Não nos aprofun-
na luta pela sobrevivên-
daremos aqui em relação à sua teoria, nem iremos reelaborar as cren- cia. Preste atenção nos
momentos em que a
ças de Jung a respeito de um inconsciente coletivo que fosse biológico.
família se reúne ao longo
Mas, para a compreensão da literatura infantil, seu conceito de arquéti- do filme para compar-
tilhar histórias e tente
po cabe perfeitamente, enquanto categoria cultural que transmite atra-
depreender o significado
vés dos séculos todo o pensamento existencial do ser humano. simbólico delas para
a construção de cada
Assim, imagens que muitas vezes consideramos enraizadas em nos- personagem. Também
perceba o significado da
so instinto nada mais são do que a experiência humana contada por
construção da história
meio da cultura, isto é, o papel da mãe e do pai, o papel da natureza, contada por Guy, um jo-
vem nômade que auxilia
da criança, e assim por diante, todos inseridos nas narrativas funda-
a família.
mentais perpetuadas pela história da humanidade.
Direção: Chris Sanders; Kirk DeMicco.
A construção de uma identidade passa pela capacidade de sim- EUA: DreamWorks Animation, 2013.
40 Literatura Infantil
Livro
Três belos livros infantis que não podem faltar na sua prateleira
O Pato, a morte e a tulipa traz a história de um pato e seu relaciona-
mento com a morte, interligando seu ciclo de vida com os ciclos da
natureza de maneira muito poética. Além do livro, você pode conferir
uma adaptação para animação disponível no seguinte link: https://
tinyurl.com/ya6qame8. Acesso em: 15 abr. 2020.
VILAS BOAS, R.; PIZAIA, C.; AWADA, R. Curitiba: Editora do Brasil, 2018.
Assim, a literatura acaba por ter uma função formadora, porém não
devemos confundir formadora com pedagógica. Ela é formadora por
trazer assuntos que tratam da condição humana, de sua existência,
seus desafios e suas conquistas, auxiliando na construção da própria
identidade do indivíduo.
42 Literatura Infantil
Figura 1
Funções da leitura de acordo com Richard Bamberger
Vyacheslavikus/ MF production/AVIcon/Shutterstock
LEITURA LEITURA LEITURA LEITURA
INFORMATIVA ESCAPISTA LITERÁRIA COGNITIVA
Informações Busca de um Simbolização Função de
que dão mais prazer que não do real para conhecer e
credibilidade está na realidade construção de compreender o
quando lidas. objetiva. significados ser humano e o
internos. mundo.
Quadro 1
Funções da leitura
Relação
Abrangência Objetivos da formação de leitores
autor/mensagem/leitor
Momento de encontro
entre leitor e livro. Infundir valores e com-
Para crianças pe- Comunicar informa- experiências portamentos diversos
individual informar
quenas, é o primeiro ções com clareza. pessoais que construirão a
contato físico e visual identidade.
com o livro.
(Continua)
Acesse a matéria do blog da leitor em sua totalidade, e não apenas em sua dimensão de aprendiz,
Leiturinha e saiba mais sobre a deve partir do pressuposto de que é, primeiramente, uma arte (a arte
influência da literatura na forma- da palavra), a qual constrói novas realidades, próximas ou não do leitor.
ção das crianças. Disponível em:
https://tinyurl.com/y7wtesoq. Até aqui temos falado muito sobre a literatura em si. Mas e o leitor
Acesso em: 11 abr. 2020.
a quem ela se destina? Quem é esse leitor de literatura infantil? Vamos
descobrir!
Livro
44 Literatura Infantil
2.2 Pequenos leitores
Vídeo Temos falado até aqui sobre obras que constituem uma literatura
infantil e o seu papel na formação de sujeitos leitores. Porém, quem
são tais leitores? Do que gostam? Que mundos habitam? Por que leem?
Quadro 2
Perspectivas das teorias do desenvolvimento
Pavlov/Skinner –
O ambiente é responsável por
Aprendizagem behaviorismo (com- Não Passivo
controlar o comportamento.
portamentalismo)
O desenvolvimento é desenca-
Piaget – teoria dos
deado de maneira ativa pelas Sim Ativo
estágios cognitivos
crianças.
Cognitiva
O desenvolvimento da cog-
Vygotsky – teoria nição se dá pela interação
Não Ativo e passivo
sociocultural social e por processamento de
símbolos.
46 Literatura Infantil
Para discorrermos sobre o papel do leitor literário, iremos nos ater
às teorias que estabelecem estágios, mais especificamente na de Pia-
get. Porém, antes, vamos contextualizar um pouco melhor cada uma
das teorias vistas no Quadro 2 para compreender sua ligação com tudo
o que temos discutido até o momento.
Sigmund Freud fundou a psicanálise, linha teórica da psicologia que
compreende o desenvolvimento como sendo “moldado por forças in-
conscientes que motivam o comportamento humano” (PAPALIA; OLDS;
FELDMAN, 2010, p. 32).
Para ele, nascemos todos com impulsos biológicos que precisam ser
readequados para podermos viver na sociedade. Assim, por meio de
um conflito entre os impulsos internos (desejos, necessidades) e o que
a sociedade espera é que acontece o desenvolvimento do indivíduo e
de sua personalidade. Freud descreve, então, cinco fases de desenvol-
vimento, em que a passagem de uma zona de gratificação para outra
ocorre com o deslocamento desses impulsos.
Em outras palavras, cada fase se fixa na gratificação de desejos rela-
cionados às zonas erógenas no corpo. Para melhor compreensão, veja
na Figura 2 as cinco fases.
Figura 2
Fases de desenvolvimento de Freud
Boris Snaev/Shutterstock
2 Fálica
3 a 6 anos
Anal A fonte de prazer se transfere para os genitais,
18 meses a 3 anos em forma de conhecimento do próprio sexo e
reconhecimento das diferenças. Momento de
A fonte do prazer está em contro-
desenvolvimento das regras e da moral.
lar os esfíncteres – treinamento de
desfralde.
1
Oral
0 a 18 meses
A fonte do prazer está
4 5
na boca – alimentar-se,
sugar, experimentar o Latência Genital
mundo pela boca.
6 anos à puberdade puberdade à vida adulta
Momento de tranquilidade no de- Impulsos sexuais inseridos em
senvolvimento, com maior sociali- uma sexualidade madura.
zação e grande salto de aprendi-
zagem.
48 Literatura Infantil
Figura 3
Sistemas contextuais que influenciam no desenvolvimento do indivíduo
Macrossistema Indivíduo
Individual, sexo, idade, personalidade,
Exossistema
habilidades.
Mesossistema
Microssistema
Casa, escola, trabalho, igreja, amigos.
Microssistema
Mesossistema
Interação entre dois sistemas – ex.: casa
Indivíduo interagindo entre si.
Exossistema
Governo, mídia, religião, sistema educacional.
Macrossistema
Crenças e ideologias que regem a sociedade.
Cronossistema
Mudanças pessoais, sociais, históricas,
culturais e ambientais ao longo da vida.
ADAPTAÇÃO
É a forma como lidamos com novas informações com base naquilo que já
sabemos. Podemos absorver nova informação e assimilá-la à estrutura
cognitiva já existente (por exemplo: portas diferentes, com uma ou duas
folhas, mas que se enquadram na categoria de objetos que servem para
abrir passagem) e acomodar novas informações ajustando as estruturas
já existentes (por exemplo: uma porta de sanfona é diferente das portas de
uma ou duas folhas, mas ainda assim tem a função de abrir passagens, logo
entra no mesmo esquema.
EQUILIBRAÇÃO
50 Literatura Infantil
vezes você já abandonou uma leitura por não ter o conhecimento intro-
Atividade 3
dutório sobre o assunto e, por isso, considerar o texto pesado demais,
A infância é um período
incompreensível!
compreendido entre 0 e 12 anos
Imagine, então, um aluno lendo algo completamente afastado de incompletos, sendo sucedida
pela adolescência. A respeito do
sua realidade, em uma linguagem que não lhe é familiar, e com temá- desenvolvimento na infância,
ticas a qual nunca teve acesso. Temos, assim, uma fórmula para minar quais perspectivas teóricas
o desejo da leitura! levam em consideração um
sujeito ativo? Qual o significado
Assim, é muito importante entendermos quem é o leitor da litera- disso para um leitor infantil?
tura infantil e conhecer os processos pelos quais ele passa em seu de-
senvolvimento. Sem levar em consideração os níveis de compreensão e
os elementos que devem fazer parte de uma literatura para diferentes
idades, corremos o risco de oferecer algo que não corresponda às ex-
pectativas e desestimule a experiência com o livro.
Figura 5
Estágios cognitivos de desenvolvimento de Piaget
Boris Snaev/Shutterstock
2 Operações concretas
7-11 anos
Problemas lógicos e presentes no ambiente po-
Pré-operacional
dem ser resolvidos (por isso há necessidade de
2-7 anos uso de materiais para o ensino de conceitos abs-
Utiliza-se de símbolos para repre- tratos), mas com dificuldade de abstração.
sentar o mundo. Linguagem e jogo
simbólico.
1
Sensório-motor
0-2 anos
Organiza seu ambiente por
4
meio de atividades sensoriais e
motoras. Sugar, pegar, morder, Operações formais
engatinhar, andar etc. 11 anos em diante
Pensamento abstrato, situações
hipotéticas e possibilidades.
Quadro 3
Correlações entre literatura e estágios do desenvolvimento
(Continua)
52 Literatura Infantil
Estágio Comportamentos Ligações com a literatura
Reações circulares terciárias – dos
12 aos 18 meses. Há grande curio-
sidade, com tentativa e erro para so- Todos os anteriores e também livros acartona-
lucionar problemas (como colocar os dos e resistentes em tamanhos variados, com
dedinhos na tomada para ver o que muitas imagens. Livros com espaços para usar a
acontece, sendo que isso faz parte coordenação, encaixar e desencaixar.
Sensório- da exploração; nós é que devemos
motor providenciar o ambiente seguro).
Combinações mentais – dos 18 aos
Os anteriores ainda valem, mas livros de banho
24 meses. Já há maior antecipação
e somente com imagens começam aos poucos
dos eventos, sem tanta necessidade
a conter algumas palavras ou letras e números.
de tentativa e erro. A ênfase é no uso
Aumenta-se a narrativa com inserção de mais
de símbolos, como a linguagem fala-
elementos.
da e os gestos.
Há uma concentração em apenas
um aspecto da situação, gerando in-
capacidade de ver a situação como
um todo. Livros com temáticas que comecem a explorar
Há dificuldades para compreender a causalidade e o processo dedutivo com ques-
que as situações podem ser reverti- tionamentos simples sobre os personagens e
das ou desfeitas. sobre o cenário. Circunstâncias em que os per-
sonagens conseguem reverter a situação, como
Pré-operacional Não há ainda raciocínio dedutivo;
voltar para casa após se perder. Sentimentos
assim, as crianças criam uma causa
e pensamentos diferentes e próximos aos da
onde não existe.
criança, mostrando que outros sentem diferen-
O egocentrismo da fase faz com que te. Utilização de objetos animados e animais
a criança ache que todos sentem e personificados.
pensam como ela.
As crianças atribuem vida a objetos
inanimados.
Os livros para crianças a partir dos 7 anos, em
fase de alfabetização ou alfabetizadas, devem
trazer, progressivamente, possibilidades para
treino do raciocínio lógico, da criatividade e da
Habilidades maiores em: reflexão sobre os fatos do livros. Uma vez que
o pensamento abstrato ainda não se formou,
• pensamento espacial;
o melhor são as histórias que contenham os
• causa e efeito; elementos em si mesmas, isto é, sem tantas re-
Operações
• categorização; ferências a outras obras ou a um conhecimento
concretas
• raciocínio dedutivo e indutivo; de mundo muito além da faixa etária. Também
são interessantes os livros com humor e piadas,
• conservação de volumes;
para desenvolver a capacidade de abstração.
• números e matemática. Além disso, toda temática que trabalhe com
causalidade é bem vinda. Assim, temas diversos
em contos policiais, obras de fantasia, biografias,
poemas etc. podem e devem ser trabalhados,
respeitando a aquisição da linguagem escrita.
54 Literatura Infantil
de dois anos e meio ou três anos com um vocabulário ainda pequeno Livro
em comparação com outras. Isso é normal, cada criança tem seu tempo!
presentes na sua língua, e por volta dos 10 meses já possui os fonemas KATO, M. 5. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1999.
restritos à sua língua materna. Por esse motivo, depois de certa idade,
temos mais dificuldade para produzir sons de línguas muito distintas
da nossa.
Leitura
É por isso que, nesse momento, o ato de contar histórias é tão im-
Por falar em sons, você conhece
portante. Ao ouvir os diferentes sons e entonações, o bebê também algumas das línguas mais dife-
estabelece uma ligação emocional com a língua, preparando-se para rentes do mundo? Leia a matéria
da revista Superinteressante,
ser um leitor de fonemas e, posteriormente, de palavras. que traz algumas dessas línguas,
A conscientização das regras fonológicas, bem como do reconheci- com seus estalos, assovios
ou pouquíssimos fonemas.
mento de unidades silábicas na constituição da língua, vai se tornando Disponível em: https://tinyurl.
mais clara a partir dos 18 meses de idade. As palavras começam a ga- com/ybgfcucx. Acesso em: 14
abr. 2020.
nhar novas formas e passam a possuir regras.
Aos poucos, o gestual vai dando lugar à língua falada, mas é uma lin-
guagem de apoio ao aprendizado da língua materna, pois materializa
no corpo algo que ainda não é dominado no nível da abstração.
Dito isso, você sabia que os bebês compreendem muito mais pala-
vras do que conseguem produzir? A aquisição da língua não deve ser
medida somente pela fala, pois pode ser que a via de produção de fala
Assim, pode ser que um bebê apenas fale uma sílaba, ma, mas
essa sílaba pode ser referir à mãe presente no ambiente, à falta da
mãe (como uma pergunta: “onde está a mamãe?”) ou a um alimen-
to, entre outros contextos. Ou seja, o bebê já sabe que existem ter-
mos específicos para cada uma das situações, mas usa uma palavra
holofrase para se comunicar. A palavra holofrase é aquela que ex-
pressa um pensamento completo, como o ma citado (PAPALIA; OLDS;
FELDMAN, 2010).
56 Literatura Infantil
ler e escrever. Crianças que aprendem a ler cedo tendem a ser
aquelas cujos pais liam para elas frequentemente quando eram
bem novas.
Até por volta dos três anos, a criança ainda não tem reconhecimen-
to de si, e então se refere a si mesma na terceira pessoa, “o nenem”.
Após maior internalização da linguagem e da experiência de atuar no
mundo, ela vai construindo esse senso de ser a primeira pessoa, o “eu”
da gramática.
58 Literatura Infantil
Além disso, como nessa fase vemos um desejo de comunicar e nar-
rar, nada mais natural do que livros que proporcionem essa interação
com descobertas e que despertem o interesse de usar a história lida
para incrementar suas próprias histórias contadas para amigos e família.
Sabemos então que cada criança terá seu ritmo, a depender de mui-
tos fatores, entre eles ambientais e biológicos (quando estão envolvidas
síndromes ou transtornos decorrentes da formação biológica). Logo,
precisamos de uma divisão que leve em consideração que nem todas
as crianças da mesma idade apresentam as mesmas características.
60 Literatura Infantil
Quadro 4
Classificação dos níveis de leitura para livros infantis
9-12 anos:
5-8/9 anos: 14-17 anos:
histórias que
2-5/6 anos: fase dos contos 12-14/15 anos: fase em que o
Richard relatem aconte-
livros com gra- de fadas e histórias de leitor se desen-
Bamburg cimentos e
vuras e versos. do realismo aventuras. volve estetica-
ambientes
mágico. mente.
diferentes.
1ª fase: o livro
deve propiciar 2ª fase: a literatura psicológica
3ª fase: identi- 4ª fase: visão
o conhecimen- auxilia na liberação dos medos
Glória Pondé ficação com os crítica de mun-
to do mundo inconscientes – contos de fadas e
personagens. do.
ao redor da folclóricos.
criança.
Fase do pensa-
Fase do mito: 3/4-7/8 anos. Fase do conhecimento da realida-
Maria Antonieta mento racional:
Lendas, mitos, fábulas e contos de: 7/8-11/12 anos.
Antunes Cunha 11/12 anos em
de fadas. Romances de aventuras possíveis.
diante.
Não indica
contos de
2-3 anos – fase 4 anos: histó- fadas antes dos
10 meses-2 5 anos – fase
do aqui e rias de animais, 7 anos por não
Terezinha anos: livros à da curiosidade
agora: histórias crianças e apresentarem
Cassanta prova de brin- sobre fenôme-
do mundo transportes/ experiências
cadeiras. nos físicos.
concreto. viagens. próximas da
realidade
infantil.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Este capítulo lançou uma reflexão sobre como uma criança se torna
um indivíduo e, ao mesmo tempo, um leitor. Também trabalhamos a re-
lação entre o desenvolvimento, a linguagem e a literatura, e acreditamos
que você tenha agora bases mais sólidas para continuarmos pelo mundo
dos livros infantis.
Esperamos que você tenha compreendido a importância do univer-
so da literatura para a experiência de se tornar sujeito, alguém capaz de
saber quem é e de refletir sobre a própria existência. Desejamos que em
sua próxima leitura literária você possa se construir um pouquinho mais,
sempre ampliando sua identidade a cada nova leitura!
REFERÊNCIAS
COSTA, M. M. Metodologia do ensino da literatura infantil. Curitiba: Intersaberes, 2013.
DEBUS, E. S. D. O que se dá a ler a quem dizem que não lê: as concepções de
leitura/leitor e os critérios na escolha de livros para as crianças de 0 a 6 anos. In:
CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL – COLE, 15., 2005, Campinas. Anais [...]. Campinas:
PUC-CAMPINAS; UNICAMP: 2005. Disponível em: http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_
anteriores/anais15/alfabetica/DebusElianeSantanaDias2.htm. Acesso em: 22 abr. 2020.
DEFINE these terms of bioecological model of development flashcards. ProProfsFlashcards,
4 mar. 2020. Disponível em: https://www.proprofs.com/flashcards/story.php?title=ecological-
62 Literatura Infantil
theory. Acesso em: 27 maio 2020.
FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo:
Cortez, 1989.
HALL, C. S.; LINDZEY, G.; CAMPBELL, J. B. Teorias da personalidade. Porto Alegre: Artmed,
2000.
HUNT, P. Crítica, teoria e literatura infantil. São Paulo: Cosac Naify, 2010.
LA TAILLE, Y.; OLIVEIRA, M. K. de; DANTAS, H. Teorias psicogenéticas em discussão. 27. ed.
São Paulo: Summus, 2016.
PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano. 10. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2012.
SAINT-EXUPÉRY, A. de. O pequeno príncipe. Rio de Janeiro: Agir, 2009.
SOARES, M. Livros para a educação infantil: a perspectiva editorial. In: PAIVA, A.; SOARES,
M. (orgs.). Literatura infantil: políticas e concepções. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
p. 21-34.
ZILBERMAN, R. A leitura e o ensino de literatura. Curitiba: Intersaberes, 2012.
GABARITO
1. A literatura tem um papel de auxiliar na simbolização do real, na aquisição de habili-
dades de criatividade, na humanização e reflexão sobre outros contextos e na cons-
trução da identidade do sujeito.
2. A resposta deve refletir que o aluno compreende que a barata da cantiga está sempre
procurando se mostrar como algo que não é, dizendo que tem coisas que na verdade
não tem. Por exemplo: “A barata diz que tem um chinelo de veludo, é mentira da
barata, ela tem o pé peludo”, entre outras coisas que diz ter. Se analisarmos a letra,
trata-se da busca da barata por ser alguém, ser reconhecida, uma busca pela sua pró-
pria identidade. Podemos até mesmo ampliar essa discussão demonstrando o quanto
a identidade tem sido construída por “ter/possuir” algo, e não por “ser alguém”.
4. Como a criança ainda está construindo sua identidade, ela não se reconhece ainda
enquanto um ser e nem possui uma condição de referência a si mesma por meio da
língua. Embora use gestos como dar batidinhas no peito para indicar que está falando
dele mesmo, o bebê não consegue representar isso pela linguagem, pois não possui
ainda um sentido de eu, tendo como referência apenas o que os outros dizem dele,
e os outros o tratam pela terceira pessoa, logo ele também irá se referir a si mesmo
dessa maneira.
Veja, como o nome já diz, é um projeto, mas um projeto que tem por
objetivo produzir algo físico, material – o livro. Um projeto editorial é, en-
tão, um documento em que constam todas as características que esse li-
vro deverá apresentar. Também auxilia todos aqueles que trabalham na
produção do livro (editor, escritor, ilustrador, revisor, diagramador, prepa-
rador, encarregados de impressão, entre outros) a se manterem dentro
de uma linha de qualidade e dentro dos objetivos planejados para a obra.
64 Literatura Infantil
ter esse fluxo, temos o editor, profissional que coordena esse trabalho
de equipe e ajuda a estabelecer as diretrizes para o projeto, garantindo
que sejam alcançados os objetivos propostos.
Figura 1
Capa de livro que antecipa a narrativa.
N.Savranska/ Shutterstock
Mas ler com amigos é melhor ainda! Ler é bom
Tainá Thies
66 Literatura Infantil
Figura 2
Exemplos de capas como elemento inicial de leitura do livro.
Agora que você já observou com cuidado, vamos lá! A primeira capa
mostra um ratinho preparado para dormir, no que parece ser um mó-
bile de nuvem. Na segunda, o ratinho pilota um avião no céu noturno.
O que você diria de cada uma das histórias ao olhar essas capas?
Quadro 1
Categorias de títulos para livros infantis, segundo Nikolajeva e Scott.
(Continua)
68 Literatura Infantil
Categoria Descrição Exemplo
Fonte: Elaborado pela autora com base em Nikolajeva; Scott, 2006, p. 242-245.
Figura 4
Exemplo de tipografia ilustrada
ann131313/ Shutterstock
Podemos brincar, então, com as formas das letras e das palavras, por
exemplo no caso dos poemas concretos, e isso não é diferente nos livros
infantis. A esse respeito, Necyk (2007, p. 91) afirma que:
de qualquer maneira, o livro infantil recupera a forma da letra
e o uso do alfabeto como elemento gráfico de valor semântico.
As formas de modelação da recepção da narrativa verbo-visual
através da aplicação tipográfica podem se dar em vários níveis.
Desde a leitura de um diálogo ou de uma rima até o desenho das
letras na forma de personagem da história, encontram-se várias
formas de aplicação. Em todas, observa-se a tendência de usar o
texto como imagem, de potencializar sua dimensão gráfica.
70 Literatura Infantil
Figura 5
Capa com onomatopeia ilustrada
72 Literatura Infantil
diretamente para os consumidores (pais e crianças) não traz lucro, exa-
tamente por ser um produto caro. É um círculo vicioso.
Figura 7
Relações envolvidas na compra governamental.
Menor
Tiragem alta
preço
(volumes
unitário
impressos)
Compra
governamental
Atividade 1
Estamos em um momento no pressões financeiras e sociais mais do que literárias, pressões que são
qual a autopublicação de um exercidas pelos compradores, os quais possuem diferentes demandas
livro de qualquer gênero é possí-
vel com um investimento baixo. para a compra de um livro infantil. Em sua maioria, demandas educa-
Ao mesmo tempo, isso permite cionais, formadoras de valores e didáticas, muitas vezes em detrimento
que muitos autores se lancem
do prazer e do entretenimento.
no mercado sem necessitar de
uma editora. Como será que fica Porém, na contramão desse movimento vemos algumas iniciati-
a qualidade das obras literárias
para crianças nesse cenário? Se vas que tentam modificar esse fluxo. Pequenas editoras que publicam
possível, busque ler algumas verdadeiras obras de arte infantis e também a autopublicação, uma
obras autopublicadas em for-
mato e-book e tire suas próprias prática em que os próprios autores publicam suas obras e colocam di-
conclusões. Tais obras podem ser retamente no mercado para venda. Na era dos e-books, não poderia
encontradas em sites de livros e
em livros eletrônicos. haver mais facilidade.
Saiba mais til é particularmente governada por forças econômicas que ditam quais
livros serão impressos e quais não possuem valor de mercado (mesmo
O Centro de alfabetização, leitura
e escrita (Ceale), da Universidade que possua um valor literário inestimável). A quem então se destina o
Federal de Minas Gerais, lançou,
livro infantil? Em última análise, aos que selecionarão os livros para as
entre os anos de 1997 e 2008,
10 obras que tratam das relações crianças, que receberão algo já filtrado por olhos adultos, que primeiro
da literatura com a educação em fizeram a crítica da obra, tirando um pouquinho da cor da espontanei-
uma coleção intitulada Literatura
e Educação. São assuntos como dade infantil.
ilustrações, formação do pro-
fessor, processo de letramento, E para retomarmos essas cores perdidas no processo, vamos às
discursos literários e políticas de ilustrações!
leitura. Confira todos os títulos
na página do programa.
Disponível em: https://tinyurl.
com/yc7dfjs2. Acesso em: 12
maio 2020.
74 Literatura Infantil
3.2 A história contada pela ilustração
Vídeo A ilustração é elemento chave em uma literatura infantil, em espe-
cial nas obras voltadas para a primeira e segunda infâncias. Aliás, você
também não sente que as ilustrações atraem o seu olhar?
Assim, uma obra com texto e imagem não serve apenas ao intuito
de facilitar a leitura para crianças, mas é uma experiência estética em si
mesma, uma forma de sentir a arte. Não podemos dissociar, então, a
ilustração de seu autor, o ilustrador, pois é ele quem vai dirigir
Figura 8 o olhar do leitor, criando imagens a partir do texto verbal, mos-
Ilustração em tons pastéis. trando diferentes caminhos para a leitura.
Saiba mais
Para visualizar as capas das diferentes versões que analisamos de Nicolau tinha uma
ideia, acesse os links a seguir e perceba as diferenças entre cada uma delas.
1ª versão: 2ª versão: 3ª versão:
76 Literatura Infantil
vas. Já quando vemos Nicolau jovem, em um estilo urbano, não temos
a mesma sensação, talvez ele seja alguém que está tirando as pessoas
da mesmice, mas não abrindo novos horizontes para a humanidade. Já
na última edição temos um personagem principal no oposto dos ante-
riores, alguém que está acima dos outros, pois sabe mais e pode com-
partilhar suas ideias.
Vídeo
Você também pode se
deleitar com uma anima-
ção em cordel do texto de
Romeu e Julieta, adaptado
por Ariano Suassuna,
Dessa maneira, ilustradores se embasam em uma tradição já esta- e publicado pelo canal
Causos de Cordel,.
belecida, como a xilogravura, para contar histórias, como no caso da
Disponível em: https://tinyurl.com/
adaptação de Romeu e Julieta para o cordel. y8lyfccr. Acesso em: 12 maio 2020.
O ilustrador, então, em posse de um estilo permeado pelo diálo-
go com tantos outros estilos, faz seu próprio relato do texto, mas em
Estrutura do livro infantil 77
formato visual. Relato que guia o texto verbal na leitura e que pode
ampliar ou não a própria narrativa.
Assim,
mesmo que a ilustração seja proveniente da ótica do ilustrador,
assim como a palavra é organizada pelo escritor, cada uma das
linguagens tem uma função na construção discursiva, tentando
estabelecer um vínculo com o leitor. Pela sua natureza de objeto
artístico e estético, palavra e ilustração atuam como provocação
de uma lacuna no processo do leitor, cuja interferência é respon-
sável pela emoção estética do texto e da produção de sentido.
(RAMOS; PANOZZO, 2015, p. 63)
Site
Como a imagem atua no espaço entre texto escrito e leitor, median-
A Plataforma do Letramento
possui um material riquíssimo do o processo de leitura, nada mais natural que o trabalho de letra-
para o trabalho de leitura de mento para as imagens. Embora olhar uma imagem e se deleitar com
imagens. Acesse o link abaixo e
perceba as relações entre texto cores e formas seja algo inato, a sua leitura reflexiva e sua relação com
e imagem em uma plataforma o texto precisam ser ensinados.
interativa.
De acordo com Ramos e Panozzo (2015), a mediação da leitura re-
Disponível em: https://tinyurl.
com/yd48qxuf. Acesso em: 12 quer a construção de autonomia do leitor e não apenas a decodificação
maio 2020. de palavras ou imagens, pois a ilustração dá vida a algo que muitas
vezes não é material, como unicórnios e duendes, pedindo do leitor o
que o escritor Umberto Eco chamou de “pacto ficcional”.
Fazer esse pacto ficcional com a obra pode ser tanto pela capaci-
dade de imaginar/pensar o que o escritor está descrevendo no texto
quanto pela de interpretar um desenho. A linguagem visual age de
forma simbólica para materializar a criação do escritor que está intei-
ramente no mundo das ideias. Por meio dela podemos ter acesso a
criações que nos são intangíveis, como as obras sacras, que represen-
tam divindades.
78 Literatura Infantil
verbal. Nesse último caso, a imagem assume a função narrativa, e a
sequência das ilustrações proporciona uma estrutura básica de enredo
que deve ser preenchida pelo leitor.
Figura 11
Relações entre texto e imagem nos livros infantis.
KittyVector/Lubenica/Shutterstock
RELAÇÃO DIRETA ENTRE RELAÇÃO PÓS-PRODUZIDA
IMAGEM E TEXTO ENTRE IMAGEM E TEXTO
+
Atividade 2
Diferencie relação direta e
relação pós-produzida entre
imagem e texto.
Wikimedia Commons
neceu algum tempo até que a zoada de um insecto a distrahiu.
(LOBATO, 1920, p. 5)
80 Literatura Infantil
FireflyPict/Shutterstock
Mas Milla preparava uma surpresa
para seus vizinhos e queria ficar
bonita! Decidiu fazer um blusão bem
tricotadinho.
Ou não?
Relação de interdependência
Ampliação Contradição
Discrepância entre expectativa
Discrepância entre expectativa
e realidade, mas que produzem
Ironia e realidade, mas que colaboram Ironia
discrepâncias também no sentido
para ampliar o sentido do texto.
do texto.
Adição de situações engraçadas à Adição de situações engraçadas
Humor história, as quais colaboram para Humor à história, as quais contradizem o
ampliar o sentido do texto. sentido do texto.
82 Literatura Infantil
Essas narrativas de estruturação, na verdade, são muito conhecidas
por nós, em especial pelas tirinhas. Na Figura 13 apresentamos uma
tirinha que fala de liberdade, independente do uso de texto verbal.
Figura 13
Tirinha como narrativa de estruturação.
sleepwalker/Shutterstock
O que Marcuschi diz é que estudar gêneros textuais tem ligação com
o estudo do discurso e da sociedade que o produz, ao mesmo tempo em
que esta é produzida e produtora de cultura e de uma língua, a qual, por
sua vez, regerá os gêneros que organizarão a comunicação no cotidiano
de seus falantes. É de fato um dilema saber quem veio antes, se é que há
um antes quando falamos em sociedade, cultura, texto e discurso, pois
provavelmente o berço de todos eles não tenha lá muita distinção.
84 Literatura Infantil
Portanto, o gênero textual acontece na interação entre os indiví-
duos, visando a uma prática social. Ou seja, são atos (falados ou escri- Atividade 3
tos) que realizamos em diferentes necessidades do uso da língua. Logo, Defina gênero textual com suas
palavras.
gêneros textuais são flexíveis e podem ser inúmeros, pois, embora re-
lativamente estáveis, são reativados e reorganizados a cada novo uso
por seus emissários e interlocutores.
Logo, a comunicação não seria possível sem gêneros textuais, pois ela
se efetiva pelo uso de estruturas para a obtenção de determinado obje-
tivo, seja ele informar, dialogar ou narrar, por exemplo. Dessa maneira,
Marcuschi levanta três conceitos importantes para o estudo do gênero:
tipo textual, gênero textual e domínio discursivo. Veja a seguir o esque-
ma com as explicações de cada um deles para compreender melhor.
Figura 14
Definições de gênero textual, tipo textual e domínio discursivo.
Teatro Carta
Formas
estáveis
Poema Outros
materializadas
no ato
comunicativo.
3.3.1 Conto
O conto é uma narração de extensão curta e com poucas personagens,
além de possuir cenário e tempo também restritos para sua estrutura nar-
rativa breve. Além disso, o conto apresenta maior unidade na linguagem e
nas técnicas empregadas, por ser breve e necessitar apresentar um estilo
mais coeso, a fim de cativar o leitor. Seu enredo também contém poucas
ações para não se perder em tão pouco espaço narrativo.
86 Literatura Infantil
Então, a velha Senhora Coelha pegou uma cesta e sua sombrinha
e foi-se pelo bosque até a padaria. Comprou um pão de centeio e
cinco bolinhos de groselha.
Flopsy, Mopsy e Rabinho de Algodão, que eram coelhinhos bon-
zinhos, desceram a alameda para colher amoras.
Mas Peter, que era muito desobediente, correu certeiro para o
jardim do Senhor McGregor, e se espremeu por baixo do portão!
POTTER, Beatrix. A história do coelhinho Peter. Recife: EX! Editora,
2016. Edição do Kindle
88 Literatura Infantil
muitos diálogos, acompanhados de balões, legendas e grande uso de
onomatopeias. O mais marcante é a presença do elemento visual que
norteia todo o enredo, tendo o texto verbal como suporte. Aqui, tanto
o tamanho de cada quadro como a tipologia empregada surtem efeito
para a narrativa, ampliando o significado do texto verbal enxuto. Hoje
temos inúmeras adaptações de obras clássicas para quadrinhos, além
daquelas pensadas especialmente para esse formato, tanto para crian-
ças quanto para adultos.
Figura 15
Exemplo de História em Quadrinhos.
Igor Zakowski/Shutterstock
- Interessante,
- Te desejo um - Uma planta!
meu aniversário é
feliz aniversá- só em agosto. Parece estranha,
rio, amigo! como será que se
cuida dela?
- Preciso
- Planta rara e exótica, … PATOS?
descobrir.
demanda muitos cuida-
dos… se alimenta de aves
aquáticas como…
90 Literatura Infantil
3.3.4 Teatro
O teatro é representado em texto pela peça teatral, texto em que se
sobressaem os diálogos, com inserções do dramaturgo (autor da obra)
para indicações de encenação, personagens e cenário. É um texto que
tem por característica a interação em formato de ação no mundo obje-
tivo. Mesmo que utilizemos a peça teatral como leitura silenciosa, sua
função primeira é voltada à encenação. Ao ler as rubricas do autor, isto
é, as indicações de como a peça deve ser conduzida, o leitor consegue
se transportar ao cenário e aos diálogos da forma mais vívida possível.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Esperamos que esse capítulo tenha sido esclarecedor quanto à tra-
jetória do planejamento e da produção de um livro infantil, com melhor
compreensão de todo o processo envolvido.
Acreditamos que há ainda muito que você pode expandir nessa área,
especialmente no estudo das relações entre imagem e texto e sobre os
gêneros textuais. Por isso, não pare por aqui. Pesquise sempre mais,
aprofundando-se naquilo que te desperta o interesse!
92 Literatura Infantil
REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, F. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997.
AGOSTO, D. One and inseparable: interdependent storytelling in picture storybooks.
Children’s Literature in Education, v. 4, n. 30, 1999, p. 267-280.
ALLEN, G. Intertextuality. London and New York: Routledge, 2000.
COLLARO, A. C. Produção gráfica: arte e técnica da mídia impressa. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2007.
HUNT, P. Crítica, teoria e literatura infantil. São Paulo: Cosac Naify, 2010.
KÖCHE, V. S.; MARINELLO, A. F. Gêneros textuais: práticas de leitura escrita e análise
linguística. Petrópolis-RJ: Vozes, 2015.
LOBATO, M. A Menina do narizinho arrebitado. São Paulo: Revista do Brasil; Monteiro
Lobato e Cia, 1920.
MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola
Editorial, 2008.
NECYK, B. Texto e imagem: um olhar sobre o livro infantil contemporâneo. Rio de Janeiro,
2007. Dissertação (Mestrado em Design) - Departamento de Artes e Design - Centro de
Teologia e Ciências Humanas, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
NIKOLAJEVA, M.; SCOTT, C. How picturebooks work. New York: Routledge, 2006.
RAMOS, F. B.; PANOZZO, N. S. P. Mergulhos de leitura: a compreensão leitora da literatura
infantil. Caxias do Sul-RS: Educs, 2015.
SOARES, M. Livros para a educação infantil; a perspectiva editorial. In: PAIVA, A.; SOARES, M.
(orgs.). Literatura Infantil: políticas e concepções. Belo Horizonte: Autêntica, 2008, p. 21-34.
SORRENTI, N. A poesia vai à escola: reflexões, comentários e dicas de atividades. Belo
Horizonte: Autêntica, 2013.
ZIRALDO. O pequeno livro de hai-kais do Menino Maluquinho. São Paulo: Editora
Melhoramentos, 2012.
GABARITO
1. Como o governo é o maior comprador de livros literários, ele faz uma avaliação que
seleciona títulos possíveis de serem adquiridos pelas escolas no Programa Nacional
Biblioteca na Escola – PNBE. Por isso, as editoras preparam seus livros para essas
avaliações, com foco na compra governamental.
2. A relação direta é aquela em que ambas as mídias, texto e imagem, atuam na constru-
ção da narrativa. Já a pós-produzida é uma relação que se constrói na leitura somente
de imagens, em que o leitor precisa criar o enredo a partir do que vê.
3. Gênero textual é uma forma relativamente estável por meio da qual se dá a comu-
nicação humana. São definidas em especial por sua função social e pelo objetivo co-
municativo. Eles são a materialidade de um discurso e se estruturam com auxílio de
tipos textuais.
94 Literatura Infantil
Como a literatura auxilia na construção da identidade e criatividade da
criança para a resolução de problemas, ela deve compreender gradativa-
mente que existem soluções que dizem respeito exclusivamente ao uni-
verso da fantasia, e outras que podem ser aplicadas em problemas reais.
96 Literatura Infantil
Pois bem, entram em cena os animais personificados (e que, de fato,
se tornam pessoas na narrativa), como os ratinhos e cães, além da aju-
da de um ser sobrenatural que possa torná-la capaz de transitar entre
dois mundos sociais: uma fada madrinha. O resto é história, como você
bem sabe.
Não são mundos distintos à • Harry Potter – J. K. Rowling (o mundo dos bruxos
fantasia dentro da realidade, está em estreita ligação com o dos trouxas, mas
Um mundo dentro
mas um mundo escondido os trouxas não conseguem ver esse outro mundo
de outro mundo
dentro da realidade, na maior ligado ao deles).
parte das vezes. • Conexão Magia – Rosana Rios e Helena Gomes.
Fonte: Adaptado pela autora com base em Boyer; Tymn; Zahorski, 1979.
98 Literatura Infantil
Secundário no qual nossa mente pode entrar. Dentro dele, o
que ele relata é “verdade”: está de acordo com as leis daque-
le mundo. Portanto, acreditamos enquanto estamos, por assim
Livro
dizer, do lado de dentro. No momento em que surge a increduli-
dade, o encanto se rompe; a magia, ou melhor a arte, fracassou.
Então estamos outra vez no Mundo Primário, olhando de fora o
pequeno Mundo Secundário Malsucedido.
sia?”, concluímos que não há nem bom, nem ruim, há apenas a literatura!
Desafio
Por diversas vezes o cinema traduziu mitos e lendas antigos para as telas. Que tal fazer a leitura
do mito de Hércules e depois compará-la com a versão cinematográfica realizada pelos estú-
dios da Disney? Disponível em: https://tinyurl.com/ybm4m5ma. Acesso em: 26 maio 2020.
HÉRCULES. Direção: Ron Clements, John Musker. Estados Unidos: Disney; Buena Vista
Pictures, 1997.
Ainda,
A façanha convencional do herói começa com alguém a quem foi
usurpada alguma coisa, ou que sente estar faltando algo entre as
experiências normais franqueadas ou permitidas aos membros
da sociedade. Essa pessoa então parte numa série de aventu-
ras que ultrapassam o usual, quer para recuperar o que tinha
sido perdido, quer para descobrir algum elixir doador da vida.
Normalmente, perfaz-se um círculo, com a partida e o retorno.
(CAMPBELL; MOYERS, 1988, p. 138)
Figura 1
Etapas da Jornada do Herói
1 PARTIDA
3 RETORNO
• A Recusa do retorno – trazer a sabedoria de volta ao reino humano.
• A fuga mágica – se houver triunfo, o herói retorna com algum elixir
necessário à sociedade fugindo dos perigos.
• O resgate com auxílio externo – auxílio do mundo para resgate do
herói.
• A passagem pelo limiar do retorno – retorno do herói ao mundo
humano.
• Senhor dos dois mundos – liberdade de ir e vir entre os mundos.
• Liberdade para viver – reconciliação entre a vontade do universo e a
consciência pessoal.
Livro
Os livros A psicanálise dos contos de fadas e Fadas no divã: psicanálise nas histórias infantis trabalham o efeito da
fantasia e dos contos de fadas na psiquê infantil com a análise de diversas histórias. São livros de cabeceira para
quem se interessa pelo assunto!
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Com este capítulo, tentamos passar as bases de como se processa a
fantasia para o desenvolvimento da psiquê humana. Também nos embre-
nhamos em reconhecer que a estrutura mitológica permeia nossa imagi-
nação e que possui uma estrutura reconhecível em diferentes narrativas.
Dessa forma, esperamos que você aprofunde seus conhecimentos com
as leituras indicadas e se aventure cada vez mais na busca por conhecer
a importância do equilíbrio entre fantasia e realidade na literatura infantil.
GABARITO
1. A literatura infantil auxilia na formação da identidade da criança e, por isso mesmo,
se apresentamos sempre a mesma imagem e os mesmos comportamentos, a criança
crescerá identificando tais imagens e comportamentos como únicas verdades. Por
isso, é preciso colocar em cena heroínas e heróis negros e indígenas, representantes
de classes sociais mais baixas, situações e culturas distintas, para que a criança com-
preenda que vivemos em um mundo diversificado.
2. O mito é constituído das narrativas mais primordiais para os seres humanos, narrati-
vas que tentam explicar a formação do mundo e da própria espécie humana. Assim,
o mito carrega em si elementos que correspondem às situações enfrentadas para o
desenvolvimento infantil e sua entrada na vida adulta. A mitologia traz histórias de
ritos de passagem e de resolução de conflitos internos do ser humano. Por isso, é uma
estrutura muito utilizada na literatura e, em especial, na literatura infantil, pois coloca
em cena passos que são característicos da espécie humana e que estão incrustados
na nossa psiquê.
As DCNs objetivam:
I – sistematizar os princípios e diretrizes gerais da Educação Bási-
ca contidos na Constituição, na LDB e demais dispositivos legais,
traduzindo-os em orientações que contribuam para assegurar a
formação básica comum nacional, tendo como foco os sujeitos
que dão vida ao currículo e à escola;
II – estimular a reflexão crítica e propositiva que deve subsidiar a
formulação, execução e avaliação do projeto político-pedagógico
da escola de Educação Básica;
III – orientar os cursos de formação inicial e continuada de profis-
sionais – docentes, técnicos, funcionários – da Educação Básica,
os sistemas educativos dos diferentes entes federados e as esco-
las que os integram, indistintamente da rede a que pertençam.
(BRASIL, 2013, p. 7)
Livro ração das linguagens artísticas, ainda voltada para o estudo de suas
formas e visando uma ampliação de repertório escolar:
Qualquer profissional que
se envolva com a educa- A escola deve adotar formas de trabalho que proporcionem maior
ção deve ter conheci-
mobilidade às crianças na sala de aula, explorar com elas mais
mento sobre a legislação
educacional. Uma ótima intensamente as diversas linguagens artísticas, a começar pela
obra para ampliar seus literatura, utilizar mais materiais que proporcionem aos alunos
conhecimentos nessa oportunidade de racionar manuseando-os, explorando as suas ca-
área é o livro Sistemas de
ensino: legislação e política
racterísticas e propriedades, ao mesmo tempo em que passa a sis-
educacional para a edu- tematizar mais os conhecimentos escolares. (BRASIL, 2013, p. 121)
cação básica. Essa obra
faz um resumo de todas Ao longo do documento, a literatura surge em relação estreita com
as políticas e legislações
o trabalho a respeito de cultura indígena e afro-brasileira, sem ainda
educacionais obrigató-
rias para compreender muita definição em relação à sua função. Entretanto, as diretrizes esta-
o sistema educacional
belecem como normas a aquisição de livros de literatura infantil pelo
brasileiro.
governo para compor acervo e possibilitar acesso a obras de qualidade.
SOARES, K. C. D. Curitiba:
Intersaberes, 2017. Assim, a LDB, juntamente à Constituição Federal de 1988, continua
sendo o documento máximo de regulação do ensino no Brasil, tendo
como auxiliares os PCNs e as DCNs na construção de currículos que
Com base na Constituição Federal e na LDB, a BNCC trabalha sobre dois grandes
pilares:
1. As competências e as diretrizes devem ser comuns a todos os alunos.
2. Os currículos podem ser diversos.
1 2 3 4 5
Tanahcon/Shutterstock
Valorizar e utilizar Exercitar a curiosidade Valorizar e fruir as Utilizar diferentes Compreender, utilizar
os conhecimentos intelectual e recorrer diversas manifestações linguagens – verbal e criar tecnologias
historicamente à abordagem própria artísticas e culturais, (oral ou visual-motora, digitais de informação
construídos sobre o das ciências, incluindo das locais às como Libras, e escrita), e comunicação
mundo físico, social, a investigação, a mundiais, e também corporal, visual, sonora de forma crítica,
cultural e digital reflexão, a análise participar de práticas e digital –, bem como significativa, reflexiva
para entender e crítica, a imaginação diversificadas da conhecimentos das e ética nas diversas
explicar a realidade, e a criatividade, para produção artístico- linguagens artística, práticas sociais
continuar aprendendo investigar causas, -cultural. matemática e científica, (incluindo as escolares)
e colaborar para elaborar e testar para se expressar e para se comunicar,
a construção de hipóteses, formular partilhar informações, acessar e disseminar
uma sociedade e resolver problemas experiências, ideias informações, produzir
justa, democrática e e criar soluções e sentimentos em conhecimentos,
inclusiva. (inclusive tecnológicas) diferentes contextos resolver problemas e
com base nos e produzir sentidos exercer protagonismo
conhecimentos das que levem ao e autoria na vida
diferentes áreas. entendimento mútuo. pessoal e coletiva.
6 7 8 9 10
Valorizar a diversidade Argumentar com base Conhecer-se, Exercitar a empatia, o Agir pessoal e
de saberes e vivências em fatos, dados e apreciar-se e cuidar diálogo, a resolução coletivamente
culturais e apropriar-se informações confiáveis, de sua saúde de conflitos e com autonomia,
de conhecimentos e para formular, negociar física e emocional, a cooperação, responsabilidade,
experiências que lhe e defender ideias, compreendendo-se na fazendo-se respeitar flexibilidade, resiliência
possibilitem entender pontos de vista e diversidade humana e promovendo o e determinação,
as relações próprias decisões comuns e reconhecendo suas respeito ao outro e tomando decisões com
do mundo do trabalho que respeitem e emoções e as dos aos direitos humanos, base em princípios
e fazer escolhas promovam os direitos outros, com autocrítica com acolhimento éticos, democráticos,
alinhadas ao exercício humanos, a consciência e capacidade para lidar e valorização da inclusivos, sustentáveis
da cidadania e ao seu socioambiental e o com elas. diversidade de e solidários.
projeto de vida, com consumo responsável indivíduos e de grupos
liberdade, autonomia, em âmbito local, sociais, seus saberes,
consciência crítica e regional e global, com identidades, culturas
responsabilidade. posicionamento ético e potencialidades,
em relação ao cuidado sem preconceitos de
de si mesmo, dos outros qualquer natureza.
e do planeta.
Desafio Portanto, a educação infantil não pode ser confundida com um tem-
O que você pensa sobre a po em que a criança será apenas cuidada/olhada por um adulto en-
importância da educação quanto os pais trabalham. Embora essa mentalidade venha mudando,
infantil no desenvolvimento
das crianças? Agora, que tal ainda é possível percebê-la tanto em pais quanto em governantes que
perguntar para pessoas que não não compreendem a necessidade dessa etapa.
sejam da área educacional e ver
o que elas pensam sobre essa A educação infantil tem grande peso no desenvolvimento da criança
etapa educacional? Para pensar e impacto nos anos escolares seguintes. Assim, como citado no trecho
o papel da etapa da educação
anterior, não é um espaço apenas de cuidado, mas de um cuidado qua-
infantil, assista ao diálogo com
a professora Maria Carmem lificado e que leva em consideração o desenvolvimento de habilidades
Barbosa. Disponível em: youtu. e competências essenciais para a criança.
be/iKD0NATbdUk. Acesso em: 1
jun. 2020.
Figura 2
Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento na educação infantil
CONHECER-SE
construindo sua
CONVIVER com outras
identidade pessoal,
pessoas, linguagens,
BRINCAR com formas, social e cultural.
culturas e consigo
espaços, tempos,
mesmo.
pessoas, imaginação,
criatividade, corpo,
emoção e cognição. EXPRESSAR
necessidades,
emoções,
PARTICIPAR de sentimentos, dúvidas,
atividades e seus descobertas e
planejamentos, opiniões.
EXPLORAR a
materiais e linguagens,
cultura e a ciência
posicionando-se.
em suas diversas
manifestações.
EDUCAÇÃO INFANTIL
Direitos de aprendizagem e
desenvolvimento
Campos de experiências
Figura 4
Cinco campos de experiência da aprendizagem
4
ESCUTA, FALA,
1 PENSAMENTO
O EU, O OUTRO E
3 E IMAGINAÇÃO
O NÓS
TRAÇOS, SONS,
CORES E FORMAS
2 5
CORPO, GESTOS E ESPAÇOS, TEMPOS,
MOVIMENTOS QUANTIDADES,
RELAÇÕES E
TRANSFORMAÇÕES
Quadro 1
Habilidades relacionadas com a literatura na etapa da educação infantil
(Continua)
(EI01EF05) Imitar as variações de (EI02EF05) Relatar experiências e (EI03EF05) Recontar histórias ou-
entonação e gestos realizados fatos acontecidos, histórias ouvi- vidas para produção de reconto
pelos adultos, ao ler histórias e ao das, filmes ou peças teatrais assis- escrito, tendo o professor como
cantar. tidos etc. escriba.
Figura 6
Competências específicas de linguagem para o ensino fundamental
Utilizar diferentes linguagens para defender pontos de vista que respeitem o outro
5
manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, inclusive aquelas
pertencentes ao patrimônio cultural da humanidade, bem como participar de
práticas diversificadas, individuais e coletivas, da produção artístico-cultural, com
respeito à diversidade de saberes, identidades e culturas.
6 forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as
escolares), para se comunicar por meio das diferentes linguagens e mídias, produzir
conhecimentos, resolver problemas e desenvolver projetos autorais e coletivos.
Quadro 2
Habilidades da BNCC que trazem o trabalho com literatura dentro dos anos iniciais do ensino
fundamental.
(Continua)
Pelo quadro, vê-se que há habilidades que precisam ser trabalhadas Livro
ao longo de todos os anos e outras que devem ser adquiridas em uma Para aprofundar seus
ou duas séries, pois essas habilidades auxiliarão nos anos seguintes. conhecimentos a
respeito da BNCC e sua
Assim, a BNCC prevê uma progressão no grau de dificuldade e na quan- ligação com os outros
tidade dos conteúdos e dos gêneros. documentos norteadores
da educação brasileira,
Se continuássemos analisando as habilidades, veríamos que vai indicamos a obra Ensino
Fundamental: da LDB
sendo dada aos poucos maior ênfase para gêneros de outros campos à BNCC. Esse livro traz
que não o artístico-literário, como forma de letramento global do alu- discussões sobre a
necessidade e as práticas
no. Contudo, esse campo estará presente durante toda a formação es- educativas em cada
colar, sendo mais predominante na fase de alfabetização. componente curricular,
articulando essa discussão
Em todo caso, a BNCC regulamenta que as habilidades deverão ser com os documentos
educacionais.
atingidas durante o processo escolar, mas não diz quais atividades de-
VEIGA, I. P. A.; SILVA, E. F. São Paulo:
verão ser feitas para atingir esses objetivos. As atividades são de escopo
Papirus, 2019.
da escola e do professor. Poderão ser desenvolvidas habilidades em sala
de aula, em projetos integradores, em atividades fora da escola e tarefas
Desafio
de casa bem como quaisquer outras atividades que se possa imaginar.
Selecione uma habilidade do
Por regulamentar as habilidades e não o modo como se atingir ensino fundamental e um texto
esses objetivos é que temos diversos materiais didáticos no mercado literário (em verso ou prosa).
Então produza uma atividade
brasileiro para o trabalho com a linguagem e com a literatura. Assim,
que consiga desenvolver essa
veremos como se materializam essas habilidades no livro didático e habilidade selecionada.
como é o processo de aprovação das obras.
Figura 7
Fluxo do programa PNLD
kaisorn/ Shutterstock
Adesão das
1 escolas ao 2 Edital 3 Inscrição das
editoras
programa
Triagem e
4 avaliação das 5 Guia do Livro 6 Escolha das
escolas
obras
Avaliação da
10 Produção dos
livros 11 qualidade física 12 Distribuição
pelos Correios
do livro pelo IPT
13 Recebimento dos
materiais na escola
Escolas Alunos
Total de Valor de
Etapa de Ensino Benefi- Beneficia-
Exemplares Aquisição
ciadas dos
Tabela 2
Aquisições de materiais didáticos no edital PNLD 2019
Escolas Alunos
Total de
Etapa de Ensino Benefi- Beneficia- Valor de Aquisição
Exemplares
ciadas dos
Figura 8
Categorias etárias e subtemas aceitos nas obras do PNLD Literário 2018.
1. Creche I: crianças de 0 – 1 a 6m
Descoberta de si; A casa e a família; O mundo natural e social; Outros temas
Figura 9
Classificações dos Gêneros Literários aceitos e seus critérios para avaliação no PNLD Literário
2018.
Ammus/ Shutterstock
LIVROS DE
CONTO, IMAGENS E
POEMA CRÔNICA, LIVROS DE LIVRO-
NOVELA, HISTÓRIAS EM -BRINQUEDO
1
ROMANCE QUADRINHOS
1
Outros gêneros que entram Coerência e Relação adequada Limites e
Exploração das
consistência; entre texto e imagem; potencialidades
nessa classificação: teatro, texto propriedades
complexidade possibilidades de das interações e
da tradição popular, memória, melódicas e
da ambientação; leituras das narrativas brincadeiras.
diário, biografia, relatos de dos aspectos
imagéticos. caracterização visuais.
experiências, obras clássicas da
multidimensional das
literatura universal etc.
personagens; cuidado
com a correção e
adequação do discurso
das personagens às
variáveis da língua.
Por fim, embora o edital traga temas amplos para que as obras se
encaixem, não são permitidos livros com cunho didático, doutrinário,
panfletário ou religioso, resguardando a literatura infantil enquanto ex-
pressão estética de apoio ao desenvolvimento global do ser humano.
2. 5. 6. 7.
1. 3. 4.
Gêneros/faixa conto, obras livros de livro-
Poe- Roman- memória,
etária ma crônica, clássi- imagens -brin-
ce diário etc.
etc. cas e HQs quedo
Creche I 0 0 0 0 0 1 0
Creche II 1 11 0 0 0 11 0
Pré-escola 17 69 0 0 0 30 0
EM 19 53 61 16 24 16 0
Artigo
Para maior reflexão sobre o papel da literatura na BNCC e, consequentemente, nos
livros didáticos, realize a leitura do artigo O papel da literatura na BNCC: ensino, leitor,
leitura e escola. A pesquisadora faz uma discussão sobre o espaço dado à literatura na
base curricular e que tipo de leitor esse currículo é capaz de formar.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Esperamos que este capítulo tenha possibilitado a você um maior co-
nhecimento de como a educação literária se dá no contexto das legisla-
ções educacionais brasileiras. Além disso, fizemos uma discussão acerca
do lugar da literatura nesses documentos e, em especial, na BNCC.
Cremos que com as informações a respeito de como é o fluxo da
produção dos livros didáticos e literários no país você possa ter maior
compreensão de todos os agentes envolvidos no processo e possa reco-
nhecer a importância da autonomia do professor na construção de ativi-
dades voltadas à literatura.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.
htm. Acesso em: 2 jun. 2020.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua
Portuguesa. Brasília, DF: MEC/SEF, 1997. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/
arquivos/pdf/livro02.pdf. Acesso em: 2 jun. 2020.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.
Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília, DF: MEC/SEF, 1998.
GABARITO
1. A LDB não vai falar sobre a literatura em si, mas podemos perceber que essa manifes-
tação artística pode ser utilizada para atingir os princípios fundamentais da educação
básica conforme dispostos na LDB. Os PCNs tentam inserir a literatura como forma
de ampliação do conhecimento sobre a realidade, mas não mais que isso. Os docu-
mentos ainda veem a literatura como ferramenta para aquisição de leitura e escrita.
É bem verdade que ensinar o gosto pela leitura não cabe apenas ao
professor, mas ele se torna figura central na mediação entre aluno e
livro literário em um país onde o livro é muito caro para ser adquirido e
o acesso a bibliotecas ainda é precário.
Esse incentivo deve se dar desde os cursos de licenciatura até os Saiba mais
de formação continuada, oferecidos pelas redes e sistemas de ensino. O Programa de Avaliação
Sem engajarmos os professores na leitura, não avançaremos nem no Internacional de Estudantes
(PISA) apontou, em seu relatório
ensino da literatura nem nos índices de compreensão leitora. de 2018, que o Brasil está muito
atrás dos países considerados
Os cursos de licenciatura precisam adequar seus currículos, a fim
de primeiro mundo em todos os
de promover o gosto pela leitura, bem como realizar discussões e ati- três quesitos: leitura, matemática
vidades práticas de como trabalhar a literatura em sala de aula. Afinal, e ciências. Veja a matéria Pisa:
alunos brasileiros ‘estacionam’
infelizmente, poucos são os cursos que dão ênfase, de fato, à maneira
em leitura, ciências e matemática
de realizar um trabalho pedagógico com o texto literário. e sofrem mais com bullying e
solidão, da BBC, que trata dos
Hoje, boa parte dos professores trabalha a literatura por meio do resultados do país na avaliação.
livro didático, fato que nos mostra a necessidade de uma avaliação cri- Disponível em: https://
teriosa dos materiais empregados. Porém, mesmo avaliando criteriosa- www.bbc.com/portuguese/
brasil-50606790. Acesso em: 18
mente, o livro didático só pode ir até certo ponto nesse trabalho, pois jun. 2020.
não consegue reproduzir na íntegra o texto todo, ou seja, traz recor-
Tudo isso são barreiras a serem vencidas, mas que não são impossí-
veis e nem tão difíceis assim. Para podermos estabelecer um trabalho
efetivo, que leve em consideração a produção e a reconstrução das
palavras e do mundo das ideias, precisamos repensar primeiro nossos
hábitos de leitura, pois, sem exemplo, não há melhorias. Em seguida,
procurar sempre a evolução do trabalho pedagógico, com o cuidado de
levar em consideração o que se espera da literatura na escola.
Quadro 1
Formas de seleção de obras literárias pelo professor
Saiba mais
Cânone Contemporâneo Plural
O poeta Sérvio Vaz é, hoje,
reconhecido como um grande
representante da literatura Herança e identidade Seleção de diversas Segue recomendações
marginal brasileira. Ele é cultural linguagens oficiais e teóricas
poeta da periferia e criador de
movimentos culturais para a
Possui essência não Quebra hierarquias
população das comunidades e Temas diversos
questionável impostas pela crítica
para as minorias. Para saber mais
sobre esse movimento, assista
ao vídeo Literatura marginal na Preconceitos e visão única Proximidade temporal Leitura como prática
década de 1970 e nos dias de da realidade entre autor e leitor democrática
hoje, produzido pela TV Cultura
e publicado pelo canal tvbrasil. Fonte: Adaptado de Cosson, 2009, p. 33-34.
Disponível em: http://youtu.
be/2_35S2kUNro. Acesso em: Em relação ao cânone, durante um longo período, nós mesmos tive-
18 jun. 2020.
mos acesso quase exclusivo somente a obras consagradas em sala de
Além disso, não deixe de conferir
o poema Novos dias, de Sérgio aula. Afinal, autores como José de Alencar e Machado de Assis guardam
Vaz, afinal, ler poemas é contar nossa identidade cultural e não os ler seria também alienar o aluno de
histórias. nosso passado literário. Porém, essa leitura precisa de criticidade, não
Disponível em: http://youtu.be/
é porque são cânones que não trazem em si preconceito e exclusão.
oEr3U3hkLR0. Acesso em: 18
jun. 2020. Se por um lado o cânone coloca a identidade literária brasileira,
por outro, ele coloca apenas uma parte dessa identidade em cena.
Dessa forma, podemos ter uma obra recém-lançada que não toca-
rá os leitores tanto quanto uma obra como 1984, escrita por George 1
1
Orwell e publicada em 1949. Esse livro relata uma sociedade distópica , Uma distopia é quando o
em que prevalecem a vigilância sempre onipresente e a manipulação universo ficcional impõe grandes
desafios aos personagens por
das informações. Na sociedade retratada, um ditador governa mani-
meio de um governo autoritário,
pulando as informações, para que não haja pensamentos negativos, e ditatorial e opressor. Há muitos
controlando os jornais, de modo a alterar a percepção dos fatos histó- filmes e livros que exploram esse
assunto, especialmente por ele
ricos, chegando a modificar, inclusive, a língua da população. Você acha não ser assim tão impossível de
que se parece com o que acontece em alguns lugares no mundo hoje? acontecer em nossa realidade.
Normalmente, são livros para
Livro jovens ou adultos, por necessitar
de maior reflexão crítica e fluidez
Obras envolvendo distopias são indicações interessantes para
a reflexão sobre a possibilidade de elas serem reproduzidas
na leitura.
no mundo real.
O livro O conto da Aia, que ganhou, inclusive, um seriado tele-
visivo, é uma das obras mais premiadas de todos os tempos.
Nele, o governo teocrático e autoritário subjuga as mulheres à
procriação em um mundo com baixas taxas de natalidade.
Logo, contar uma história envolve mais do que a mera leitura me- Atividade 2
cânica; envolve voz, corpo e atração. Então, veremos agora como criar Como você vê a atividade de
contação de histórias? Você
esse momento de experiência entre conhecimento e ludicidade.
crê que sejam necessários
Para contar uma história, você pode se basear em algumas dicas, planejamento e técnicas ou a
espontaneidade e a imprevisi-
adequando-as ao seu contexto. Veja-as a seguir. bilidade são os maiores aliados
nessa hora?
Escolhendo a obra: selecione-a de acordo com os critérios de
atualidade, diversidade e qualidade, além de levar em consideração
o seu gosto e o das crianças.
1 2 3
LEIA E RELEIA IMAGINE TREINE
Dê vida aos personagens, Crie diferentes vozes para
Para contar, é
ao cenário, aos as personagens e para o
preciso saber a
acontecimentos; sinta-se narrador. Lembre: quanto
história muito bem;
na história! Se você não menor a criança for, mais
assim; você terá
se sentir, como fará os teatralizada a contação
maior liberdade
alunos se sentirem nesse deve ser. Você pode
para criar na hora da
universo literário? treinar contando para
narração.
alguém conhecido.
4
CUIDADO
5 6
Tenha atenção com as palavras OLHE LIBERTE-SE
empregadas na hora de contar. Ao contar a história, olhe Na hora de contar, você já
Nem sempre nos lembramos nos olhos das crianças, planejou. Então, solte-se e
de todas as palavras e, às para envolvê-las. seja você, para seduzir os
vezes, falamos o conteúdo ouvintes para a leitura.
com nossa própria fala, mas é
preciso tomar cuidado com as
expressões empregadas nesse
reconto.
2. Leitura dramatizada
Nessa leitura, você poderá utilizar elementos para representar per-
sonagens ou cenas, mas não é obrigatório. O tom aqui é dado por di-
ferentes vozes e pelo uso do corpo para encenar os personagens. Você
pode conferir um exemplo no canal do blog Leiturinha, pelo link: http://
youtu.be/vsflCNe6ECM.
Ao ler este texto, por exemplo, você tem contato com informações
de outros autores da área, as quais são passadas para você pela vi-
são de quem está aqui escrevendo este livro. Não há neutralidade no
discurso, mesmo que tentemos ser o mais neutros possível. Um texto
sempre trará algumas características de quem o escreve, seja pela sele-
ção dos fatos e dos autores, seja pela forma de escrever e representar
suas ideias.
No ano de 2020, tivemos duas Apesar de o combate às fake news estar no escopo da BNCC para
grandes pandemias: uma os anos finais do ensino fundamental, acreditamos que nunca é cedo
provocada, de fato, por um
demais para promover o debate com alunos que estão cada vez mais
vírus, e outra, por uma chuva de
informações falsas. A Agência cedo ligados na tecnologia. Aliás, nós adultos tendemos a pensar que,
Pública preparou uma notícia por serem tão familiares com a tecnologia, as crianças sabem o que es-
exemplificando como muitas
notícias falsas sobre a pandemia tão fazendo. Não é verdade! Elas continuam sendo crianças e precisam
de COVID-19 influenciaram desenvolver o raciocínio crítico como em qualquer outra época.
negativamente o combate à
doença. Leia o artigo e reflita Dessa forma, a BNCC, sobre as fake news e a respeito da necessida-
sobre quais danos as fake news de de se combater os discursos de ódio, traz o seguinte:
podem causar à saúde da
população e ao sistema político e A questão da confiabilidade da informação, da proliferação de
econômico de um país. Para isso, fake news, da manipulação de fatos e opiniões tem destaque e
busque mais informações em muitas das habilidades se relacionam com a comparação e análi-
fontes confiáveis. se de notícias em diferentes fontes e mídias, com análise de sites
Disponível em: https://tinyurl. e serviços checadores de notícias e com o exercício da curado-
com/re6nqak. Acesso em: 18 ria, estando previsto o uso de ferramentas digitais de curado-
jun. 2020.
ria. A proliferação do discurso de ódio também é tematizada em
todos os anos e habilidades relativas ao trato e respeito com o
Então, não temos como não lembrar do projeto de Paulo Freire para
a formação de alunos críticos partindo da leitura. Para Yunes (2013,
p. 6), “Paulo Freire, refletindo sobre a experiência considerou que os
sujeitos se constroem no uso das linguagens que passam a dominar,
em função do contexto histórico percebido criticamente”. Desse modo,
ler – realmente ler, não apenas decodificar – significa perceber todo o
contexto sócio-histórico em que crescemos, nos desenvolvemos e for-
mamos nossas crenças e nossos valores. Isso nos permite compreen-
der exatamente que nossas crenças pertenceram a alguém, antes de
nós mesmos as tomarmos como nossas.
Para que isso aconteça em um cenário escolar com crianças que ain-
da estão desenvolvendo essa habilidade, é necessário que o professor
compreenda esse processo e possibilite práticas que promovam a par-
ticipação ativa e crítica dos alunos. Não é fornecer ao aluno todos os
significados prontos, pois aí estaremos passando somente nossa visão
a respeito das leituras; é promover um espaço de diálogo em que o
aluno se sinta confortável para se lançar na reflexão.
A psicanálise possui uma crença de que uma boa mãe deve se tor-
nar, aos poucos, desnecessária. Isso porque a criança terá aprendido
com ela como ser autônoma. Dessa forma devemos ver, também, o
Atividade 3 papel do professor, que, ao longo do tempo, deve se tornar “desne-
Explique, com suas palavras, cessário” ao aluno, entendendo ter ajudado a formar um ser humano
o que você entende sobre o
crítico que, em breve, não mais precisará da mão do tutor. E isso é bom,
papel do professor se tornar
desnecessário aos poucos. pois significa que fomos capazes de fazer um bom trabalho. Assim, par-
timos para tantos outros alunos que ainda virão.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Com este capítulo, tivemos a intenção de “sacudir a poeira” – pelo me-
nos um pouco dela – das práticas educacionais focadas apenas no papel de
um aluno passivo. Cremos que uma boa prática pedagógica é aquela capaz
de formar leitores e seres humanos críticos, capazes de refletir sobre sua
subjetividade e como ela se constrói em relação ao mundo que a cerca.
Não pare por aqui, continue buscando informações (e de fontes con-
fiáveis)! Busque sempre julgar as informações que recebe, refletindo so-
bre o lugar delas no momento social, político e econômico em que foram
produzidas. E mais: libere a criatividade, para motivar os alunos a se en-
cantarem com a literatura!
GABARITO
1. A resposta trará reflexões subjetivas, mas deve conter as três possibilidades de sele-
ção de livros e o entendimento de que a melhor forma de seleção é unir as três pos-
síveis formas, sempre levando em consideração a atualidade das obras, a progressão
dos temas e as especificidades da turma.
2. Mesmo que a espontaneidade seja fundamental para contar histórias, é preciso plane-
jamento para que esse ato possua um objetivo e não seja apenas mais um momento
desconexo do currículo. Técnicas são sempre bem-vindas, pois podem explorar mais
a fundo os elementos da narrativa e envolver os alunos de diferentes formas. A im-
previsibilidade sempre será um elemento passível de acontecer e, para isso, é preciso
um planejamento que leve em conta a participação dos alunos, o conforto e a com-
preensão da história.
Se você quiser adivinhar o mistério, Paulinho, experimente você mesmo franzir o nariz para ver se dá
certo. É capaz de você descobrir a solução, porque menino e menina entendem mais de coelho do que
pai e mãe. Quando você descobrir, você me conta. Eu é que não vou mais franzir meu nariz, porque já
estou cansada, meu bem, de só comer cenoura.
1. Coesão
3. Intencionalidade
Não quer dizer que não devemos nos perguntar a respeito das in-
tenções do texto, ao contrário, é necessário refletir sobre isso, apenas
não é preciso que fiquemos na busca eterna de recuperar a intencio-
nalidade autoral, especialmente quando não conseguiremos essa res-
posta em caso de autores já falecidos. E mais, como a pretensão é a de
leitores reflexivos que reconstruam os caminhos da produção textual
compreendendo o contexto, o leitor deve ser estimulado a encontrar
diversas intenções pelo conteúdo que lê.
4. Aceitabilidade
5. Situacionalidade
6. Intertextualidade
2. Espaço
3. Enredo
6. Poema
Os poemas merecem uma análise que lhes é toda própria e leva em
conta sua metrificação, sonoridade e o conjunto de figuras de lingua-
gem e de efeito. Segundo Moisés (2007, p. 41), “a poesia se identifica
com a expressão do ‘eu’ por meio de linguagem conotativa ou de me-
táforas polivalentes”.
Objetivos de
aprendizagem da (EI01TS01) (EI01TS03) (EI01EF03) (EI01EF04) (EI01EF05) (EI01EF07) (EI01EF08).
BNCC
Livros de pano; livros dobráveis em forma de sanfona; livros em formato de bichi-
nhos de pelúcia e livros sensoriais.
Indicações:
• USBORN PUBLISHING. Animais: meu livrinho dobra-desdobra. London: Usborne,
Materiais e recursos 2018.
• ROSIE, G. Cuidado com o monstro. São Paulo: Ciranda Cultural, 2017.
• YOYO BOOKS. livro chocalho. Portugal, 2017.
• BROOKS, S. Meu amigo lobo. Coleção animais de pano. São Paulo: Ciranda
Cultural, 2018.
1 – Atividade com bebês que ficam de bruços e seguram a cabeça (tummy time):
Há livros que vêm em formato de sanfona e que podem ser dispostos no chão
em frente ao bebê para que ele explore quando estiver com a barriga para baixo.
Você também pode produzir seu próprio livro em formato dobrável. Utilize cores
vibrantes e desenhos grandes para chamar a atenção dos bebês. Encape com
papel contact para que eles possam manusear (e colocar na boca), o que facilita a
Desenvolvimento
limpeza também.
Coloque o livro em frente ao bebê e conte a história apontando os objetos. Nesse
momento, o interessante é que eles consigam explorar cores e formas, recebendo
auditivamente uma história que em breve ele descobrirá estar ligada às formas.
A recomendação de livro para se trabalhar aqui é a Coleção Dobra e Desdobra,
indicada nos materiais.
(Continua)
Artigo
Veja o artigo do blog Tiny Love a respeito do tummy time e tire suas dúvidas sobre essa atividade tão necessá-
ria para os bebês. Disponível em: https://tinyurl.com/y73gfw9e. Acesso em: 19 jun. 2020.
https://tinyurl.com/ya2p9fgj.
(Continua)
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Chegamos ao fim desta obra, mas não ao fim de um campo muito fér-
til de estudos. Tentamos trazer exemplos e atividades práticas para que
este livro possa ser um companheiro tanto para compreender a literatura
infantil, quanto para ensiná-la. Não queremos que ele seja um livro de re-
gras a serem seguidas, e sim um ponto de partida para você buscar novas
aventuras dentro deste campo de saber.
Agradecemos sua companhia por esta jornada e esperamos que você
não pare aqui! Leia histórias infantis, todas as que puder, e vá formando
sua própria visão com base nas teorias. Somente assim é que se forma
um leitor (e um professor) literário!
Desejamos ótimos estudos e muito conhecimento!
REFERÊNCIAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2018.
Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_
versaofinal_site.pdf. Acesso em: 19 jun. 2019.
BURNETT, F. H. O jardim secreto. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
CAPARELLI, S. Canção pra ninar dromedário. Leiturinha, 28 fev. 2020. Disponível em:
https://leiturinha.com.br/blog/10-poemas-famosos-para-ler-com-as-criancas/. Acesso em:
19 jun. 2020.
COLL, C. et al. Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação escolar. Trad.
de Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2004.
COMPAGNON, A. O demônio da teoria: literatura e senso comum. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 2010.
FUNKE, C. Mundo de tinta: contos. São Paulo: Editora Seguinte.
LANE, S.; CODO, W. (Orgs.) Psicologia social: o homem em movimento. São Paulo: Brasiliense, 1984.
LIMA, G.; MASSARANI, M.; MELLO, R. Vizinho, vizinha. São Paulo: Companhia das Letrinhas,
2002.
LISPECTOR, C. Quase de verdade. São Paulo: Rocco, 2014.
MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola
Editorial, 2008.
GABARITO
1. Um texto literário pode ser analisado pelos elementos da literariedade constitutivos
da narrativa ou do poema, como espaço, tempo, personagens e versificação. Dessa
forma, conseguimos analisar a estrutura da obra como um todo. Porém, para a aná-
lise do texto em si e de suas relações, é necessário levar em conta características da
textualidade como coesão, coerência e intertextualidade. Além disso, pode-se analisar
ainda pela compreensão do receptor e pelas relações que a obra produz com o con-
texto socio-histórico e cultural do leitor.
2. A resposta é pessoal, mas deve conter elementos que apontem para a promoção da
participação coletiva na construção de sentidos e que digam respeito ao uso literário
da língua, gerando atividades engajadoras e ao mesmo tempo de compreensão da
literatura como prática social.
TAINÁ THIES