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Jogos Educativos

e Brinquedos
Núcleo de Educação a Distância
www.unigranrio.com.br
Rua Prof. José de Souza Herdy, 1.160
25 de Agosto – Duque de Caxias - RJ

Reitor
Arody Cordeiro Herdy

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Pró-Reitoria de Graduação


(PROPEP) (PROGRAD)
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(PROAC) (PROPEX)
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Núcleo de Educação a Distância


(NEAD)
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Produção: Fábrica de Soluções Unigranrio Desenvolvimento do material: Valéria Monção Vasconcellos

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CATALOGAÇÃO NA FONTE
NÚCLEO DE COORDENAÇÃO DE BIBLIOTECAS – UNIGRANRIO

V331j Vasconcellos, Valéria Monção.

Jogos Educativos e Brinquedos / Valéria Monção Vasconcellos. – Duque de


Caxias, RJ: UNIGRANRIO, 2019.
157 p.: il.; 23 cm.

Inclui bibliografia

1. Jogos Educativos. 2. Brincadeiras. 3.Jogos em grupo. I. Título.

CDD – 371.397
Sumário
Jogos na Educação
Objetivo ............................................................................................. 07
Introdução .......................................................................................... 09
1. Evolução Histórica .................................................................. 11
1.1 O Jogo na Educação ............................................................... 11
1.2 Considerações Históricas ......................................................... 13
1.2.1 Recapitulando o Conceito de Jogo ........................................... 13
1.3 Tipos e Funções dos Jogos ...................................................... 16
Síntese .............................................................................................. 19
Referências ......................................................................................... 21

Jogos nos Espaços Escolares


Objetivos ............................................................................................ 25
Introdução .......................................................................................... 27
1. Jogos na Educação Infantil ...................................................... 29
2. Jogos no Espaço Escolar ......................................................... 37
Síntese .............................................................................................. 41
Referências ........................................................................................ 43
Brinquedo na Educação
Objetivos ............................................................................................ 47
Introdução .......................................................................................... 49
1. Considerações Históricas ......................................................... 51
1.1 Brinquedo na Educação .......................................................... 51
1.2 Um Pouco da História do Brinquedo ......................................... 51
2. Função Lúdica e Função Educativa ........................................... 54
2.1 Brinquedo na Educação .......................................................... 55
2.2 A Brincadeira Desenvolvendo a Função Lúdica e a Função Educativa .... 56
Síntese ............................................................................................. 61
Referências ......................................................................................... 63

Brincar: Momento do Faz de Conta


Objetivos ............................................................................................ 67
Introdução .......................................................................................... 69
1. O Jogo como Representação Simbólica ..................................... 71
2. Utilização do Brinquedo .......................................................... 74
3. Brinquedos e Diferentes Faixas Etárias ...................................... 75
Síntese .............................................................................................. 79
Referências ......................................................................................... 81

Construção de Brinquedos
Objetivos ............................................................................................ 83
Introdução .......................................................................................... 85
1. Construção de Brinquedos ....................................................... 87
1.1 Brincadeiras Livre, Espontânea e Criativa ................................... 91
2. Brinquedo de Sucata .............................................................. 93
3. Brinquedos e Diferentes Faixas Etárias ...................................... 94
Síntese .............................................................................................. 97
Referências ........................................................................................ 99

Brinquedo Cantado
Objetivos ............................................................................................ 103
Introdução .......................................................................................... 105
1. Brinquedo Cantado ................................................................ 107
Síntese .............................................................................................. 117
Referências ......................................................................................... 119

Brinquedos e Mídias
Objetivos ............................................................................................ 123
Introdução .......................................................................................... 125
1. Brinquedos na Sociedade Atual ................................................ 127
2. Cyber-infância e Jogos Eletrônicos ............................................ 128
Síntese .............................................................................................. 133
Referências ......................................................................................... 135

Múltiplas Linguagens e Brinquedos


Objetivos ............................................................................................ 139
Introdução .......................................................................................... 141
1. Múltiplas Linguagens e Brinquedos ........................................... 143
Síntese .............................................................................................. 153
Referências ........................................................................................ 155
Jogos na Educação
Objetivo
Ao final desta unidade de aprendizagem, você será capaz de reconhecer
o contexto histórico do surgimento dos jogos e a importância destes no
desenvolvimento individual e entre pares.

Jogos Educativos e Brinquedos 7


Introdução
Seja bem-vindo ao conteúdo “Jogos na Educação – Considerações
Históricas – Tipos e Funções”.

Este estudo visa a mostrar como os jogos e as brincadeiras estão


presentes em todos os momentos da vida, tornando-a mais prazerosa e criativa.

Sabe-se que o jogo é reconhecido como meio de fornecer ao indivíduo


um ambiente agradável, motivador, planejado e enriquecido, que possibilita
a aprendizagem de várias habilidades, trabalhando, também, o desempenho
dentro e fora dos espaços e tempos escolares e não escolares.

Para que o jogo venha contribuir com a aprendizagem, o pedagogo


precisa compreender a função lúdica como contempladora de uma
aprendizagem contextualizada e significativa, que promove a integração do
grupo e a descoberta pelo conhecimento.

Existe uma diferença do brinquedo para o material pedagógico, baseado


na natureza dos objetivos da ação educativa, apresentando, assim, seu
interesse sobre o jogo pedagógico. O jogo na escola, ou na empresa, é
um recurso que leva o indivíduo a um desenvolvimento completo do
corpo e da mente por inteiro. (KISHIMOTO, 2001, p.83)

O jogo é um instrumento desafiador que vai provocar no indivíduo


estratégias de mudanças em suas ações, evitando, assim, a repetição de
respostas prontas e descontextualizadas.

Jogos Educativos e Brinquedos 9


1. Evolução Histórica
Partindo do princípio de que, cronologicamente, o mundo é composto
de história, apontamos as seguintes questões: Como tudo começou? A partir
de que momento o homem desenvolveu e formulou a ideia de jogar?

É preciso pesquisar, conhecer e praticar para compreendermos


todo processo.

1.1 O Jogo na Educação


Todos, provavelmente, já se divertiram com amigos e familiares
jogando, mas você já ouviu falar sobre a utilização do jogo de maneira
educativa, ou, ainda, sobre suas possibilidades e contribuições pedagógicas?

Quando é atribuído um significado à palavra “jogo”, dentro de uma


proposta integradora, na qual se contempla ludicidade e aprendizagem, o termo
ganha uma caracterização de instrumento para apropriação de conhecimento,
em qualquer disciplina.

É o jogo que vem organizar e motivar o desenvolvimento do


pensamento, por meio de regras não somente obrigatórias, mas, sobretudo,
combinadas, preestabelecidas. Isso porque, em muitas brincadeiras e jogos, as
regras são combinadas ou sugeridas pelas crianças, em um processo criativo
e, muitas vezes, inovador.

O jogo provoca interação e conflito, levando o indivíduo a compreender


o seu lugar no aspecto cultural e social.

Vygotsky tem como um de seus pressupostos básicos a ideia de


que o ser humano constitui-se enquanto tal na sua relação com
o outro social. A cultura torna-se parte da natureza humana num
processo histórico que, ao longo do desenvolvimento da espécie
e do indivíduo, molda o funcionamento psicológico do homem.
(TAILLE, 1992)

Jogos Educativos e Brinquedos 11


Vygotsky aponta que o desenvolvimento do indivíduo com a interação
social é provocado pelo ato de jogar.

É preciso ficar claro que o jogo deve representar uma ação que
comungue com a aprendizagem, complementando-a.

Nas atividades realizadas com o jogo, o que se destaca é o resultado,


e não apenas o produto em si, que virá reforçar a competição. O destaque
será da ação propriamente dita, a maneira como o indivíduo vive esse jogo
e suas possibilidades, revelando sentimentos e emoções que, muitas vezes,
ficam contidos em um comportamento mais formalizado.

O jogo é visto como um recurso prazeroso, pois, a partir de hipóteses,


não existe a formalidade de o resultado se antecipar ao experimento, ou seja,
o jogo é lançado, mas não apresenta um resultado definitivo.

Mesmo sabendo que o jogo provoca o conhecimento, o indivíduo


não tem a preocupação com um resultado, pois, para ele, o jogo é diversão.
Diante dessa observação, o professor precisa ter uma preocupação de não
transformar o instrumento lúdico num trabalho.

O jogo é considerado uma ação espontânea, na qual não existe uma


obrigatoriedade na ação. A atividade proposta como lúdica é utilizada nos
campos cognitivo e afetivo. Vale ressaltar que o lúdico desperta a imaginação.

A prática do jogo pode, portanto, estimular a construção de


esquemas cada vez mais complexos, possibilitando, também, a
construção de competências que permitam articular tais esquemas
com os próprios desafios do jogo e do cotidiano dos jogadores.
(FIOROT; ORTEGA, 2009, p.446)

É por todos esses motivos que a ludicidade é vista como uma


necessidade do ser humano em qualquer idade, sem demanda específica
definida pela cronologia, e não pode ser vista apenas como diversão, mas
como um aprendizado.

A atividade lúdica harmoniza e se associa aos fatores sociais e culturais,


além de contribuir para a saúde física e mental, promovendo o processo de

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socialização, comunicação, construção de conhecimento. Também proporciona
o desenvolvimento pleno e integral dos indivíduos envolvidos no processo de
ensino-aprendizagem, de acordo com Friedmann (1998).

Conforme Huizinga (2007, p.8):

O jogo constitui uma das principais bases da civilização. Isso coloca


o jogo, que é um eixo norteador da ludicidade, numa condição
relevante de discussão no tocante a seriedade do lúdico, passa esse
então a representar um dos elementos constituintes de produção do
conhecimento e da cultura produzidos pelo homem, o que abarca a
civilização no seu desenvolvimento ao longo de sua história.

1.2 Considerações Históricas

Há tempos tenta-se descobrir a história do jogo, a ideia de como surgiu


e como era utilizado esse material que provoca a diversão e a competição.
Para isso, foi preciso mergulhar em uma viagem no tempo que nos levará à
compreensão do que é o jogo.

1.2.1 Recapitulando o Conceito de Jogo


Antes de qualquer discussão sobre como o jogo surgiu, é preciso
conhecer seu conceito.

Antunes (1937) afirma que o jogo representa movimento, uma ação


que está diretamente relacionada com a vida. O homem utiliza o jogo, desde
os primórdios, como objeto de significação e cultura. De acordo com o lugar
e o período na história da civilização, o jogo se fez presente.

Segundo Brougère:

Etimologicamente, o termo jogo advém do latim ludus, ludere, que


corresponde a movimentos rápidos, e, também, à representação
cênica, aos ritos de iniciação e aos jogos de azar.

Jogos Educativos e Brinquedos 13


Saiba Mais
Para saber mais sobre as etapas do jogo e como elas acontecem
quando inseridas no processo educativo, acesse o vídeo, no qual Lino
Macedo fala sobre a importância dos jogos.
Assista agora

De acordo com o senso comum, percebe-se que o jogo teve início


muito antes da pedra lascada, apesar da falta de clareza nas informações. Essa
ideia é atribuída ao fato de que os desenhos realizados nas paredes das cavernas
pelos primitivos já simbolizava o ato de jogar.

É a partir de hipóteses que vai se construindo uma breve linha de


tempo sobre o jogo em seu contexto histórico.

Quando surgiu, o jogo era visto como atividade de relaxamento, pois


o indivíduo jogava para evitar o estresse e se recompor com seu descanso. Foi
na Grécia onde aconteceram os primeiros Jogos Olímpicos, período em que
história e mitologia (explicação de um mito, por meio da qual um conjunto de
lendas e histórias passam a fazer parte da cultura de um povo) se misturaram.

Apesar da ideia de jogo ser evidenciada na Grécia e em Roma, atribuiu-


se a prática de tais atividades aos jesuítas, quando utilizavam os jogos para
ensinar a gramática nas escolas da época.

No mesmo período, o Cristianismo entendia o jogo como uma


atividade de azar, na qual o homem atribuía o fato de ganhar ou perder
ao pecado.

Com o fim da Idade Média, o jogo tornou-se um desafio muito em


voga. É nesse período que surgem jogos como cabra-cega, esconde-esconde,
berlinda, dentre tantos outros.

Com a chegada do Modernismo, o jogo passou a ser visto como


objeto de cultura, cada vez mais central na experiência formativa do
indivíduo. Todo processo se dá a partir de pensadores muito importantes
para o estudo da pedagogia:
▪▪ Johann Heinrich Pestalozzi (1746/1827): Pedagogo e educador
suíço, pioneiro da reforma educacional.

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▪▪ Johann Friedrich Herbart (1776/1841): Filósofo, psicólogo e
pedagogo alemão, fundador da pedagogia como disciplina acadêmica.
▪▪ Friedrich Wilhelm August Fröbel (1782/1852): Pedagogo alemão
com raízes na escola Pestalozzi. Foi o fundador do primeiro jardim
de infância, Kindergarten.

Importante
Somente a partir do século XVIII, os chamados jogos didáticos passam a existir e a atividade
lúdica é vista como recurso educativo, principalmente nas disciplinas de cálculos e leitura. No
século XX, baseando-se nas teorias de Lev Vygotsky é reiterada a ideia de que o jogo propicia
um ambiente mais prazeroso para o ensino e a aprendizagem.

Kishimoto (1993, p.15), afirma que os jogos são transmitidos de


geração para geração, quando:

A tradicionalidade e universalidade dos jogos assenta-se no fato


de que povos distintos e antigos como os da Grécia e Oriente
brincaram de amarelinha, de empinar papagaios, jogar pedrinhas
e até hoje as crianças o fazem quase da mesma forma. Esses
jogos foram transmitidos de geração em geração por meio de
conhecimentos empíricos e permanecem na memória infantil.

Nos dias atuais, os jogos são utilizados de variadas formas, avançando,


inclusive, no mundo tecnológico. Dentro dos espaços escolares ou não
escolares, ele vem contribuir para uma educação mais vivenciada e criativa,
permeada de desafios e descobertas.

Saiba Mais
O jogo passou por variados momentos até ser inserido no campo da
educação, viabilizando uma aprendizagem mais significativa. Todo
processo histórico vem demonstrar a evolução do homem ao longo do
tempo. Acesse o site Portal Educação e leia a matéria que aborda a
origem dessas atividades lúdicas. Leia mais

Jogos Educativos e Brinquedos 15


1.3 Tipos e Funções dos Jogos
Existe uma infinidade de jogos voltados para o universo da pedagogia.
Apresentaremos alguns que se destacam no contexto educacional.

Os jogos podem ter características similares ou diferentes entre si e


sua forma de jogar pode ser individual ou coletiva.

Além disso, podemos classificar os jogos da seguinte forma:

▪▪ Cognitivo: Pauta a aprendizagem em liberdades e limites, envolvem


memória visual, desenvolvimento intelectual, aquisição da leitura e
da escrita, sequência lógica e ampliação do vocabulário.
Exemplo: Bingo dos Nomes, utilizado na classe de alfabetização,
tem origem na Itália, no final da Idade Média. Este jogo pode ser
feito com nomes próprios, nome de objetos ou números.

▪▪ Sensorial: Destaca as percepções visual, auditiva, olfativa e


tátil por meio de movimentos e atividades que favorecem o
desenvolvimento motor. Este tipo de jogo é muito utilizado nas
aulas de psicomotricidade.
Exemplo: Jogo da Amarelinha, trazido ao Brasil pelos portugueses
e seu nome se modifica de acordo com a região.

▪▪ Simbólico: Possibilita a constituição dos sujeitos participantes na


condução de suas vidas e na construção da sociedade na qual estão
inseridos. Esse tipo de jogo é também conhecido como Jogo do Faz
de Conta, uma atividade de caráter lúdico, que também propicia
o desenvolvimento do grupo cujas possibilidades emergem em
espaço e tempo propícios à ressignificação de papéis e aos embates
e conflitos. É na brincadeira de faz-de-conta, como aponta Walter
Benjamin (2005), que percebemos emergir um campo fértil
de experiência da semelhança. É um jogo que comunga com a
autonomia, com a construção do imaginário e contribui para a
formação social do indivíduo.
Exemplo: Imagem em Ação, que surgiu nos Estados Unidos,
em 1996.

16 Jogos Educativos e Brinquedos


▪▪ Jogo de Regras: Caracteriza-se por sua estratégia e regras
estipuladas. Esse movimento instiga a competição e exige uma
participação de outros jogadores.
Exemplo: Xadrez, que surgiu na Índia, no século VI, com o nome
Chaturanga (quatro armas), pois, inicialmente, era jogado por
quatro pessoas. O jogo chegou à Europa no século X, com a invasão
dos árabes, passando a ser jogado somente por duas pessoas.

Podemos destacar que o jogo apresenta duas funções, sendo uma


educativa e a outra lúdica, com ambas contribuindo para uma aprendizagem
significativa e para uma compreensão do mundo. O xadrez não tem apenas
caráter educativo, do conhecimento, ele contribui para a aquisição do prazer,
por meio do lúdico.

Para Kishimoto (2009, p.37), pode-se definir as funções lúdica e


educativa como apresentado a seguir:

Função lúdica: o brinquedo propicia diversão, prazer e até desprazer,


quando escolhido voluntariamente.

Função educativa: o brinquedo ensina qualquer coisa que complete


o indivíduo em seu saber, seus conhecimentos e sua apreensão
do mundo.

Importante
Depois dessas informações, fica registrado que o jogo vem acompanhado de etapas a serem
cumpridas. São elas:
▪▪ As peças que fazem parte desse jogo (É um jogo que utiliza dado? É um jogo de informação?);
▪▪ As regras (Como se joga?);
▪▪ As mecânicas (O conjunto de regras e objetivos);
▪▪ A estratégia (Como vencer o jogo? Que caminhos devo percorrer?);
▪▪ A representação simbólica (É um jogo de ação ou de suspense?);
▪▪ A experiência coletiva (É um jogo para quantos participantes?).
Essas etapas integradas transformam qualquer atividade lúdica em uma grande aquisição
de conhecimento.

Jogos Educativos e Brinquedos 17


É necessário registrar que o indivíduo deve ter como referencial, no
ato do jogo, a sintonia entre o prazer e o aprender. O mais importante é o fato
de que a aprendizagem só vai se fortalecer mediante a confiança estabelecida
entre o experimento e o conhecimento. Todo processo se dará a partir das
funções lúdica e educativa.

De forma geral, a partir de Vygotsky (2003), entendemos os jogos como


um processo construído sócio-historicamente pelo sujeito, que se modifica
em função do meio cultural e da época em que ele vive, possibilitando-lhe
adquirir elementos imprescindíveis para a compreensão da realidade da
qual faz parte.

Saiba Mais
Já imaginou uma escola onde o indivíduo possa concretizar sua
aprendizagem de forma lúdica? Em uma escola da cidade de Curitiba,
o jogo tem seu espaço. Acesse a Revista Brasileira de Ciência do
Esporte para conhecer essa experiência. Leia mais

18 Jogos Educativos e Brinquedos


Síntese
Neste material, pudemos compreender a função do jogo dentro e fora
dos espaços e tempos escolares e não escolares, propiciando uma aprendizagem
mais significativa e envolvente.

Sob essa perspectiva, vimos que o jogo é entendido como uma


atividade na qual o homem reconstrói as relações sociais e, nesse processo,
formam-se novas funções.

Desse modo, o jogo protagonizado surge como uma forma peculiar e


específica da atividade humana da qual as crianças se apropriam da experiência
social da humanidade e se desenvolvem como protagonistas nesse contexto.
Na organização do ensino, o educador não deve apenas utilizar o jogo como
instrumento, mas ter por objetivo revelar as relações humanas presentes, para
que os indivíduos possam delas se apropriar.

Jogos Educativos e Brinquedos 19


Referências
ANTUNES, C. Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências: os
jogos e os Parâmetros Curriculares Nacionais. Campinas: Papirus, 2005.

BROUGÈRE, G. Jogo e educação. Porto Alegre: Artmed, 2003.

FIOROT, M. A.; ORTEGA, A. C. Modos de aprender e de ensinar de


professoras em situação com o jogo Traverse. In: MACEDO, L. de. (Org.).
Jogos, psicologia e educação: teoria e pesquisas. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2009. p.97-124.

FRIEDMANN, A. et al. O direito de brincar: a brinquedoteca. 4 ed. São


Paulo: Edições Sociais: Abrinq, 1998.

HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5 ed.


São Paulo: Perspectiva, 2007.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida (Org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a


educação. 5 ed. São Paulo: Cortez & Moraes, 2001.

MACEDO, Lino; PETTY, Ana Lúcia; PASSOS, Norimar. Os jogos e o


lúdico na aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artmed, 2007 (Minha
Biblioteca Virtual).

NOVA ESCOLA. Educação: a importância dos jogos. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?reload=9&v=KhV0def45fs>. Acesso em:
25 jun. 2018.

Jogos Educativos e Brinquedos 21


PORTAL EDUCAÇÃO. Origem dos jogos e brincadeiras. Disponível em:
<https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/pedagogia/origem-
dos-jogos-e-brincadeiras/32269>. Acesso: 20 jun. 2018.

RECHIA, Simone. O jogo do espaço e o espaço do jogo em escolas da cidade


de Curitiba. Revista brasileira de ciências do esporte, Campinas, v. 27, n. 2,
p. 91-104, jan. 2006. Disponível em: <http://revista.cbce.org.br/index.php/
RBCE/article/view/93>. Acesso em: 20 jun. 2018.

TAILLE, Y. de la. O lugar da interação social na concepção de Jean Piaget.


In: Taille, Yves de la. et al. Teorias psicogenéticas em discussão. 13 ed. São
Paulo: Summus, 1992, p.11-22.

VYGOTSKY,L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins


Fontes, 2003.

22 Jogos Educativos e Brinquedos


Jogos nos Espaços Escolares
Objetivos
Ao final desta unidade de aprendizagem, você será capaz de:

▪▪ Selecionar jogos adequados às diferentes faixas etárias de crianças


da Educação Infantil;
▪▪ Valorizar a função lúdica e educativa dos jogos.

Jogos Educativos e Brinquedos 25


Introdução
Nesta unidade de aprendizagem, falaremos sobre o jogo no espaço
escolar. Mas, o que seria um jogo dentro de um espaço, que é pensado em
termos de aprendizagem?

Ao longo do conteúdo, veremos que o jogo é um recurso interativo


que vai estimular e integrar o fazer e o saber, sendo uma consideração de
perspectiva positiva para o indivíduo, sobretudo, porque o que é lúdico faz
mais sentido na prática, e a teoria, por sua vez, se consolida.

Numa escola viva, contextualizada e moderna, o lúdico faz parte do


sistema de ensino-aprendizagem, pois oferece uma motivação externa e
envolvente. Por isso, é necessário reconhecer que este espaço educativo precisa
ser prazeroso e desafiador, elevando a satisfação do indivíduo.

Destacaremos, ainda, que na ludicidade do contexto escolar, a


perspectiva é simbólica, motivada por atividades que fazem sentido para quem
a pratica e o que foi praticado. Variados pontos de vista vão surgir em relação
a um mesmo conceito, tornando a educação dialética.

Jogos Educativos e Brinquedos 27


1. Jogos na Educação Infantil
Iniciamos o conteúdo desta unidade, destacando que o jogo tem feito
parte de variadas pesquisas, desde que começou a compor integralmente
os conteúdos abordados no contexto da escola, mais precisamente, da sala
de aula.

Existem diversas áreas do conhecimento que se ocupam do brincar,


de brincadeiras e de jogos, mesmo que indiretamente, como a Filosofia,
Antropologia e a Sociologia, e quando se trata do ser humano, da cultura
e dos fenômenos sociais ou da Pedagogia, quando organiza o sistema
educativo. Nesta perspectiva, o jogo integra o espaço, a partir do momento
que interfere nos campos psicológico, metodológico e do conhecimento.
Portanto, ele surge como elemento de ação, que proporciona a satisfação ao
longo da aprendizagem.

Anteriormente, o único momento que se ouvia a palavra jogo, dentro


dos espaços escolares, era no momento do recreio, em que o indivíduo buscava
a diversão para movimentar sua relação com os demais alunos.

Com a necessidade de uma escola mais interativa e construtiva, foram


realizadas pesquisas e comprovações científicas, e com isso, o jogo ganhou
seu espaço. Hoje, o jogo é composição de uma aprendizagem, em que há o
interesse de um desenvolvimento mais significativo e criativo do aluno.

Não se pode descartar a ideia de que o jogo se fez presente em todas as


civilizações, desde os primórdios, tornando-se necessário para a perpetuação
de nossa cultura. Em comprovação disso, recordamos as informações trazidas
por Ariès (1998), quando ressalta que os jogos eram comuns a adultos e
crianças, desde o século XVII, não havendo separação entre eles. Com isso,
a ideia de que os jogos se originam de comportamentos anteriores, em que
homens e crianças interagem num processo de aprendizagem, é fortalecida.

[...] no início do século XVII não existia uma separação tão rigorosa
como hoje entre as brincadeiras e os jogos reservados às crianças
e as brincadeiras e os jogos dos adultos. Os mesmos jogos eram
comuns a ambos. (ARIÈS, 1981, p.88)

Jogos Educativos e Brinquedos 29


Observe a Figura 1, em que o jogo ressaltado pelo autor é demonstrado.

Figura 1: Exemplo de atividade educativa. Fonte: Dreamstime.

Com passar do tempo, o jogo foi tomando seu espaço. A atividade


vem se reafirmando e passa a fazer parte do cenário educativo. Diante dessa
afirmativa, Araújo (1992) define a contribuição da atividade como:

Cognitiva: Quando a escola aborda, dentro desse contexto lúdico, o


conteúdo trabalhado, entre outras propostas, como: Matemática, Linguagem,
Ciências, História, Geografia, conforme os Parâmetros Curriculares.

Motora: Quando os jogos são construídos pelas próprias crianças.

Socioafetiva: Quando se trabalha as relações sociais, desenvolvendo a


cooperação, a competição e até a oposição.

Considerando as informações apresentadas, qual é a relação do jogo com a


Educação Infantil?

30 Jogos Educativos e Brinquedos


A Educação Infantil ilustrará o objetivo principal desta etapa, em
que o indivíduo constrói sua autonomia e se torna protagonista de sua
própria história.

Esta fase faz parte do início da Educação Básica, pois, envolve


crianças de 0 a 5 anos, buscando o desenvolvimento cognitivo, emocional
e físico deste indivíduo. Neste processo, a escola passa a ser o campo de
desenvolvimento, em que a relação entre as crianças é essencial para que a
aprendizagem aconteça.

Importante
A relação interpessoal que acontece durante um jogo é de extrema importância para o
desenvolvimento do indivíduo, e por muitas vezes, é apresentado de maneira simplista. Tal
diversão ultrapassa a ideia do jogar, pois, nesta troca, o indivíduo desenvolve competências
que serão atribuídas à sua vivência.

Segundo Maluf (2008, p.1), “são lúdicas as atividades que propiciam


a experiência completa do momento, associando o ato, o pensamento e o
sentimento”. Por exemplo, o índio, quando criança, brinca com arco e flecha,
pois quando crescer, irá utilizar a experiência em suas caçadas. Diante disso,
podemos constatar que muitas vezes o jogo não é só diversão.

Luckesi (1998, p.2) diz que “a atividade lúdica é a ação que pode
propiciar a plenitude da experiência, por isso proporciona prazer ao
ser humano, seja como exercício, como jogo simbólico ou como jogo
de regras”. As atividades lúdicas podem ser aplicadas em qualquer faixa
etária, o que precisamos considerar é como as estratégias e movimentos
de jogo serão traçadas.

Para ilustrar, podemos pensar em uma sala de Educação Infantil,


em que o espaço do lúdico se caracteriza por cantinhos; estes ambientes
têm como função proporcionar à criança, atividades espontâneas. Estas
atividades são permeadas pela imaginação, que não surge do nada,
mas, sustenta-se na realidade vivenciada por cada criança envolvida na
brincadeira, além de permitir que ela brinque e interaja com seus pares e
objetos disponíveis.

Jogos Educativos e Brinquedos 31


Alguns benefícios do brincar precisam ser destacados, como:

Respeito de regras e limites

Figura 2: Criança brincando de amarelinha. Fonte: Dreamstime.

Aquisição de valores

Figura 3: Crianças na escola. Fonte: Dreamstime.

Desenvolvimento da aprendizagem

Figura 4: Criança em um momento de brincadeira. Fonte: Dreamstime.

32 Jogos Educativos e Brinquedos


Socialização

Figura 5: Crianças socializando durante a brincadeira. Fonte: Dreamstime.

Vejamos, agora, alguns jogos que se destacam na Educação Infantil:

Jogo da Memória: É um jogo, em forma de cartas, que trabalha com


raciocínio lógico e uma linguagem visual. Idade: 02 e 06 anos.

Figura 6: Exemplo de jogo da memória. Fonte Dreamstime.

Jogos Educativos e Brinquedos 33


Jogo Sensorial: Este jogo auxilia na percepção visual e tátil; é um
jogo que colabora com o desenvolvimento do espírito criativo. Idade: 02
a 05 anos.

Figura 7: Exemplo de jogo sensorial. Fonte Dreamstime.

Saiba Mais
Os jogos sensoriais são excelentes atividades para as crianças, que
fazem parte da primeira e segunda infâncias; é por meio do jogar,
que as crianças vão experimentar formas e texturas, aprimorando
as percepções tátil, visual, auditiva, olfato e até o paladar. Algumas
sugestões enriquecem esse estudo, desenvolvendo a autonomia e a
criatividade. Acesse o link indicado e saiba mais sobre o assunto. Leia mais

Completando com as cores: É um jogo que trabalha relacionando


cores e formas, conhecido como Jenga ou Lego. Idade: 02 e 04 anos.

Figura 8: Exemplo de jogo sensorial. Fonte Dreamstime.

34 Jogos Educativos e Brinquedos


Jogos Matemáticos: São jogos que desenvolvem o raciocínio lógico;
se apresentam de variadas formas, estimulam o pensamento e trabalham com
o desenvolvimento da organização. Idade: 02 a 05 anos. Vejamos alguns
exemplos desse tipo de jogo:

Cubo Mágico

Figura 9: Cubo Mágico. Fonte Dreamstime.

Ábaco: Um jogo antigo, utilizado até hoje, para desenvolver o


raciocínio lógico e as cores.

Figura 10: Ábaco. Fonte Dreamstime.


Jogos de Linguagem: São jogos que favorecem a linguagem, trabalham
com recurso visual e desenvolvem as linguagens oral e escrita. Idade: 2 a 5
anos. Vejamos alguns exemplos desse tipo de jogo:

Jogos Educativos e Brinquedos 35


Jogo de Letras

Figura 11: Jogo de Letras e Números. Fonte: Dreamstime.

Dramatização

Figura 12: Dramatização infantil. Fonte: Dreamstime.

Variadas são as formas de utilizar o jogo na Educação Infantil. Com


ele, o indivíduo passa a explorar suas capacidades e limitações. O espaço onde
se realiza todo processo (relação do conhecimento com o lúdico) é identificado
como um espaço escolar significativo e renovado. Santos (2001, p.53) ressalta
que “a educação pela via da ludicidade propõe uma nova postura existencial,
cujo paradigma é um novo sistema de aprender brincando inspirado numa
concepção de educação para além da instrução.”

Já Faria (2009, p.86), diz que “os espaços assim pensados são lugares
abertos, cujos limites se transformam em função das diferentes possibilidades
expressivas, sensoriais, emocionais e cognitivas da criança.”

36 Jogos Educativos e Brinquedos


2. Jogos no Espaço Escolar
Antes de discutirmos o que se refere o jogo no espaço escolar,
precisamos conceituar este ambiente. Segundo o Site Gestão Escolar:

O ambiente escolar – como um espaço público no qual grande parte


de nossas crianças e jovens passam seu tempo – é um dos lugares
que permitem exercitar tal convívio. A estrutura física da escola,
assim como sua organização, manutenção e segurança, revela muito
sobre a vida que ali se desenvolve.

Neste contexto, percebe-se que os espaços físico e pedagógico


se diferenciam, pois o local e a ação, apesar de estarem paralelamente em
consonância, possuem significação diferenciadas.

Retomando o diálogo da ideia central, vale fortalecer o pensamento


de que o jogo favorece o movimento global da aprendizagem, destacando
que a ação (jogar) envolve, portanto, o intelectual e o social do indivíduo,
perpassando também pelo campo afetivo.

É notado que, na maioria das escolas voltadas para a Educação Infantil,


falta um espaço integrado, um local em que a vivência lúdica possa colaborar
com uma aprendizagem significativa e valorosa.

Todo processo educativo vem acompanhado de regras prontas e


decisivas no ambiente educativo. Conforme ressalta Neto (1997 p.21), o
sistema educacional não percebe o quão é primordial a existência do jogar
em consonância com o aprender. “É uma excelente forma de perceber a
relação entre a ordem e a desordem, a organização e o caos, o equilíbrio e o
desequilíbrio entre os diversos sistemas biológicos e sociais”.

Nesse movimento contrário, entre teoria e prática, percebe-se que a


criança é tolhida ao escolher o que fazer e como fazer, recebendo modelos
prontos de atividades e cumprindo, formalmente, a função de aprender. O
jogar só faz parte da competência motora, dentro das aulas de Educação Física,
sendo descartadas outras funções que contemplam uma aprendizagem mais
globalizada e significativa para a criança, não permitindo a ela se apropriar da
cultura infantil. De acordo com Corsaro (1997, p.26):

Jogos Educativos e Brinquedos 37


[...] as culturas da infância, vivem do vai-vém das suas próprias
representações do mundo geradas nas interações entre os pares,
nos jogos e brincadeiras e no uso das suas próprias capacidades
expressivas (verbais, gestuais, iconográficas, plásticas), nas
condições biopsicológicas em que as crianças vivem – com a cultura
dos adultos, transmitidas através das suas instituições de veiculação
e reprodução cultural, e disseminadas, quer sob forma de produtos
culturais para a infância, quer sob forma de conteúdos culturais das
comunidades de pertença das crianças.

Comungando o pensamento do autor, vale ressaltar que as crianças


representam as cenas vividas por elas mesmas nesse cotidiano. E, é a partir
da relação de pares que se constitui a cultura, assim como no jogo; é nessa
troca de vivências que a aprendizagem se materializa e se reforça. É preciso
pensar nesta relação e nos fatores que são predominantes para que as relações
ocorram de maneira integrada, a partir do trabalho com o lúdico. Mas, que
fatores seriam esses? Pode-se denominá-los como autonomia, alteridade,
experimentação, imaginação e protagonização. Durante o jogo, a criança atua
com o imaginário, caracteriza o fazer de maneira espontânea e constrói de
maneira conjugada o conhecimento recebido.

Saiba Mais
O jogo tem um papel fundamental na construção da aprendizagem
da criança. Por meio do lúdico se reafirmam conceitos, e a prática,
na sala de aula, com jogos e brinquedos. E assim utilizam-se
a livre expressão e uma aprendizagem globalizada. A partir
dessa experiência, foi observado o quanto o momento do jogar
era satisfatório, e o interesse das crianças, diante da atividade
apresentada, tornava as experiências vividas mais significativas. Leia mais
Acesse o link indicado e saiba mais sobre o assunto.

Destacamos também, que os únicos espaços, em que as crianças


podem ressignificar suas ações, são os pátios, durante o recreio, e os
parquinhos e quadras destinados a essa prática. Algumas preferências são
notadas por brincadeiras fortalecidas pela cultura popular, como rodas, piques
ou caracterizadas por atividades fortalecidas pela mídia, como games.

38 Jogos Educativos e Brinquedos


Importante
A compreensão da prática da ludicidade, dentro do espaço escolar, evidencia tal exercício
confirmado por Freire (1997, p.119), quando diz que:
[...] num contexto de educação escolar, o jogo proposto como forma de ensinar
conteúdos às crianças aproxima-se muito do trabalho. Não se trata de um jogo
qualquer, mas sim de um jogo transformado em instrumento pedagógico, em
meio de ensino.

Portanto, se, na aplicação do jogo, pelo professor, não existir um


equilíbrio entre o que é imposto e o que é espontâneo, o jogo deixa de
ter uma dimensão lúdica e passa a ser obrigatória, perdendo seu sentido,
e tornando-se instrumento de recurso didático. Neste sentido, Kishimoto
(1999, p.3) sugere que:

[...] a utilização do jogo potencializa a exploração e a construção


do conhecimento, por contar com a motivação interna, típica do
lúdico, mas o trabalho pedagógico requer a oferta de estímulos e a
infância de parceiros bem como a sistematização de conceitos em
outras situações que não jogos.

No espaço escolar, o jogo precisa ser visto como um recurso, e tem


como objetivo principal, o favorecimento de uma aprendizagem prazerosa
e dinâmica.

Jogos Educativos e Brinquedos 39


Síntese
Nesta unidade de aprendizagem, vimos que o jogo vem fazendo parte
do contexto escolar nos últimos tempos, mesmo que, por muitas vezes, essa
atividade tenha se tornado equivocada neste espaço.

Ressaltamos, ainda, que a ludicidade está conquistando seu espaço


neste ambiente, e tem colaborado para a garantia de um resultado satisfatório,
pois leva o indivíduo a encontrar respostas para suas indagações, por meio da
interação com o outro.

Por fim, destacamos que a escola ainda se encontra embasada em


conteúdos que se fortalecem no sentido de informação, preocupando-se com
a atividade lúdica, no que se refere à diversão. Por isso, é preciso que o
conhecimento seja mais esclarecedor, para que todo processo se fortaleça.
Assim, o objetivo principal do processo será mais facilmente atingido, tendo
o aluno uma aprendizagem mais satisfatória e significativa.

Jogos Educativos e Brinquedos 41


Referências
ARAÚJO, Vânia Carvalho de. O jogo no contexto da educação psicomotora.
São Paulo: Cortez, 1992.

ARIÈS, Philippe. História social da infância e da família. Tradução: D.


Flaksman. Rio de Janeiro: LCT, 1998.

______. Por uma história da vida privada. Tradução de Hildegard Feist. São
Paulo: Companhia das Letras, 1981.

BRASIL ESCOLA. Jogos e brincadeiras na construção das aprendizagens


de crianças da educação infantil. Disponível em:
<https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/pedagogia/jogos-brincadeiras-
na-construcao-das-aprendizagens-crianca.htm>. Acesso em: 23 ago.2018.

CORSARO, W. The sociology of childhood. Califórnia: Pine Forge, 1997.

FARIA, Mariângela Almeida de. Brincadeira de Faz de Conta: ressignificação


de papéis entre o real e o imaginário. Dissertação de Mestrado. Programa de
Pós Graduação em Educação, UFF/Universidade Federal Fluminense. Rio de
Janeiro, 2009.

FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro: Teoria e prática da


educação física. São Paulo: Scipione, 1997.

GESTÃO ESCOLAR. O espaço físico da escola é um espaço pedagógico.


Disponível em: <https://gestaoescolar.org.br/conteudo/476/o-espaco-fisico-
da-escola-e-um-espaco-pedagogico>. Acesso em: 23 ago. 2018.

Jogos Educativos e Brinquedos 43


KISHIMOTO, Tizuco (org). Jogo, brinquedo, brincadeira e educação. São
Paulo: Cortez, 1999.

LUCKESI, Cipriano. Avaliação da aprendizagem escolar. 7 ed. São Paulo:


Cortez, 1998.

LUNETAS. 10 brincadeiras sensoriais para crianças maiores de 2 anos.


Disponível em: <https://lunetas.com.br/10-brincadeiras-sensoriais-para-
criancas-maiores-de-2-anos/>. Acesso em: 23 ago.2018.

MALUF, A. C. M. Atividades recreativas para divertir e ensinar. 4 ed.


Petrópolis: Vozes, 2008.

NETO. C. Jogo & desenvolvimento da criança. Cruz Quebrada. Lisboa:


Faculdade de Motricidade Humana. Serviço de Edições, 1997.

SANTOS, Santa Marli Pires. A ludicidade como ciência. Petrópolis:


Vozes, 2001.

44 Jogos Educativos e Brinquedos


Brinquedo na Educação
Objetivos
Ao final desta unidade de aprendizagem, você será capaz de:

▪▪ Reconhecer o contexto histórico do surgimento do brinquedo e a


importância deste no desenvolvimento infantil;
▪▪ Valorizar a função lúdica e educativa do brinquedo para o
desenvolvimento infantil.

Jogos Educativos e Brinquedos 47


Introdução
Brincar significa divertir-se com os objetos que proporcionam prazer e
alegria. Esta unidade vai abordar a utilização do brinquedo como instrumento
de aprendizagem e ludicidade.

O brincar proporciona à criança o desenvolvimento de habilidades e


competências, no que se refere a potencialidades e limitações; englobando as
questões físicas, sociais e afetivas e, também, trabalhando o desenvolvimento
cognitivo e motor.

O brinquedo é um objeto que vem complementar o brincar. Eles são


grandes aliados no processo da aprendizagem como um todo, fazendo parte
de um período designado como infância e valorizando o universo criativo
da criança.

É na brincadeira, usando o brinquedo, que a criança vai viver emoções


e sensações que lhe impulsionam a experimentar sentimentos de prazer
e desprazer.

O brinquedo e a brincadeira são históricos e remetem a um período


que marcará o desenvolvimento infantil.

Jogos Educativos e Brinquedos 49


1. Considerações Históricas
Para compreender a história do brinquedo, é necessário perpassar
por sua trajetória nos caminhos da brincadeira e, em uma comparação mais
detalhada, descobrir sua evolução em relação ao mundo e às suas descobertas.
Com o avançar do tempo, os brinquedos ganham outra roupagem, e seus
objetivos se modificam dentro e fora do espaço escolar.

1.1 Brinquedo na Educação


Vamos compreender a ideia de brinquedo e o quanto é satisfatória
a sua utilização no processo de ensino e aprendizagem. O brinquedo
surge nos primórdios da humanidade e é com esse instrumento, nesse
período, que a criança vive a fantasia e realiza descobertas a partir de
suas experiências.

Falar de brinquedo é bastante satisfatório e nos remete à infância,


tempo em que se vive fantasias e descobertas e em que os dias parecem não
ter fim. Para iniciar esse tema, é necessário conceituar o brinquedo.

De acordo com a autora Kishimoto (1994, p.8), “o brinquedo é


representado como um objeto suporte da brincadeira”.

Diante de tais conceitos, podemos confirmar o quanto de sensações


diversas esses objetos definidos como brinquedos proporcionam à criança,
promovendo a diversão e o encantamento no ato da brincadeira. De acordo
com Winnicott (1975, p.12), “é no brincar, e somente no brincar, que o
indivíduo, criança ou o adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade
integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu”.

1.2 Um Pouco da História do Brinquedo


Os brinquedos são caracterizados, assim como os jogos, por períodos.
A história do brinquedo é muito antiga, sendo passada de geração a geração.

Jogos Educativos e Brinquedos 51


Os brinquedos foram aperfeiçoados ao longo do tempo, o que antes era
construído de maneira artesanal, hoje é construído por máquinas, com
movimentos e efeitos surpreendentes.

Os primeiros brinquedos a surgirem no mundo foram as bolas e


as bonecas.

As bonecas eram feitas de barro, comparadas à deusas, e eram usadas


em rituais de objetos de adoração. Passaram a servir como brinquedo há
mais ou menos 5.000 anos, no Egito. Passaram por modificações e, em 1413,
surgiu na Alemanha a primeira fábrica de bonecas.

Em 1913, foi criada a boneca Barbie, que é famosa no mundo até os


dias atuais.

Figura 1: Bonecas. Fonte: Dreamstime.


A bola é bem mais antiga que a boneca. Alguns apontam o surgimento
do objeto na China, há mais de 6.000 anos. Especula-se que o brinquedo
tenha se originado a partir de uma pedra.

Figura 2: Bolas. Fonte: Dreamstime.

52 Jogos Educativos e Brinquedos


Outro brinquedo bem antigo é o urso de pelúcia, conhecido por Teddy
Bear, criado nos Estados Unidos no século XIX.

Figura 3: Urso de pelúcia. Fonte: Dreamstime.

Muitos outros brinquedos foram surgindo, como: ioiô, chocalho,


pião, carrinho, dentre tantos outros que fazem parte do universo infantil.

Sabemos que a brincadeira fica bem mais divertida quando vem


acompanhada de materiais que estimulam e complementam o ato de brincar,
neste caso, o brinquedo. É manuseando, montando e desmontando que a
criança vai aprender e dar vida às suas ideias. A brincadeira é estímulo para
descobertas e indagações.

Os brinquedos têm ganhado formas e estruturas que instigam as


crianças, pois são eles cópias de uma história real: bonecas mamam e falam,
carrinhos circulam, casinhas, cozinhas, escritórios e carrinhos que ajudam a
ilustrar um cenário do momento. Conforme ressalta Kishimoto (2007, p.18),
as brincadeiras confirmam uma representação da vida cotidiana.

O brinquedo coloca a criança na presença de reproduções: tudo o


que existe no cotidiano, a natureza e as construções humanas. Pode-
se dizer que o objetivo do brinquedo é dar à criança um substituto
dos objetos reais, para que possa manipulá-los.

O brinquedo deve ser visto de maneira construtiva, ser propício à


idade e reforçar um comportamento positivo. Para a brincadeira acontecer,
basta ter a criança algum objeto que ela transforme em brinquedo. Alguns
autores reforçam que a criança, quando bem pequenina, utiliza utensílios

Jogos Educativos e Brinquedos 53


como panelas e tampas para brincar, ou seja, neste momento, ela está usando
a imaginação para experimentar sensações de prazer no campo da ludicidade.

Soltar pipa Bicho de pelúcia


Carrinho de lomba

Esconde-esconde Skate
Vôlei
Bolinha de gude

BRINCADEIRAS E
De antigamente BRINQUEDOS De atualmente

Videogame Boneca Boneca Videogame

Bicicleta Futebol Futebol Bicicleta

Coincidem,
independentemente da época

Figura 4: Mapa Conceitual. Fonte: Adaptado de Fiorini (2014).

Saiba Mais
Uma proposta realizada pelo município de Pato Branco contempla
esse estudo, trazendo a história do brinquedo e desse processo tão
significativo para a infância de maneira detalhada e ilustrativa.
Leia mais

E o brinquedo usado como um instrumento de aprendizagem,


como acontece?

2. Função Lúdica e Função Educativa


Na brincadeira, temos duas funções que se destacam: a lúdica e a
educativa. Essas funções vêm nortear a utilização do brinquedo e a forma

54 Jogos Educativos e Brinquedos


como ocorre cada brincadeira. A partir da experiência, da estrutura, da
socialização e da diversão, a criança vivencia essas funções.

2.1 Brinquedo na Educação


Antigamente os brinquedos
eram feitos de retalhos, palha de milho, Saiba Mais
pedaços de madeira, dentre outros
materiais. As mães confeccionavam Para ficar por dentro do
bonecas para as filhas, existia um assunto, leia mais sobre a
processo entre o pensar, construir e vida e obra de Rubem Alves.
brincar. Atualmente, os brinquedos
são fabricados, possuem movimentos
Leia mais
variados, possuem um valor caro,
mas não contemplam a ideia de criar.

Veja, a seguir, um trecho da obra É brincando que se aprende…, de


Rubem Alves:

No meu tempo parte da alegria de brincar estava na alegria de


construir o brinquedo. Fiz caminhõezinhos, carros de rolimã,
caleidoscópios, periscópios, aviões, canhões de bambu, corrupios,
arcos e flechas, cataventos, instrumentos musicais, um telégrafo,
telefones, um projetor de cinema com caixa de sapato e lente feita
com lâmpada cheia d’água, pernas de pau, balanços, gangorras,
matracas de caixas de fósforo, papagaios, artefatos detonadores de
cabeças de pau de fósforo, estilingues (...)

Como disse Rubem Alves em sua crônica, para brincar, muitas vezes,
a criança precisa criar o brinquedo e a ideia da brincadeira. É assim que
ela vai experimentar variadas sensações. A brincadeira é fundamental para o
desenvolvimento integral da criança.

Dentro do espaço escolar, a brincadeira acontece no recreio.


Geralmente, as crianças aproveitam os intervalos das aulas para correr, pular,
jogar e se divertir de maneira geral. Mas a brincadeira vai além de recrear: ela

Jogos Educativos e Brinquedos 55


é uma atividade que leva a criança a experimentar o exercício da imaginação,
do faz de conta, da socialização, do lazer e da cognição, diferentemente dos
jogos, que propiciam a cooperação, a liderança e, também, a cognição de
forma proposital.

Nessa perspectiva, percebe-se que a utilização do brinquedo e da


brincadeira no espaço escolar vem acrescentar a possibilidade de um trabalho
mais criativo e integrador, valorizando ações espontâneas da criança e
estimulando um aprendizado mais concreto.

2.2 A Brincadeira Desenvolvendo a Função Lúdica e a Função Educativa


Kishimoto (2008, p.134) ressalta que, na ação lúdica da criança, quatro
aspectos precisam ser observados durante a brincadeira. São eles:

Brincadeiras Educativas: Têm a função de desenvolver a atividade a


partir de uma ação pedagógica, envolvem o fazer e o aprender.

Brincadeiras Tradicionais: Têm a função de abordar, de maneira


espontânea, a cultura popular.
Brincadeiras de Faz de Conta: Tem a função de explorar as relações
socioafetivas, nas quais as crianças vão reproduzir, no ato da brincadeira, suas
experiências do cotidiano.

Brincadeiras de Construção: Têm a função de associar blocos para


montar cenários, casas, dentre outros. É uma brincadeira que desenvolve a
representação mental, trabalhando com o cognitivo.

Um outro tipo de brincadeira que devemos ressaltar nesse momento


é a Brincadeira Livre, em que a criança usa a espontaneidade para criar a
brincadeira e, na interação com os demais, expressa suas emoções. Percebe-se
que neste contexto existe uma desvalorização por parte do professor, em que o
momento de brincar é desconsiderado. Durante esse tipo de atividade, falta o
acompanhamento mais próximo do profissional, valorizando o ato do brincar e
compreendendo o processo lúdico, quando a imaginação e o real se difundem.

56 Jogos Educativos e Brinquedos


Segundo afirma Vygotsky (1984, p.117):

É na brincadeira que a criança se comporta além do desempenho


habitual de sua idade, além de seu comportamento diário. A criança
vivencia uma experiência no brinquedo como se ela fosse maior
do que é na realidade. Para o pesquisador, o brinquedo fornece a
estrutura básica para mudança das necessidades e da consciência
da criança. A ação infantil na esfera imaginativa, em uma situação
imaginária, a criação das intenções voluntárias e a formação dos
planos de vida real e motivações volitivas aparecem no brinquedo,
que se constitui no mais alto nível de desenvolvimento pré-escolar.

Importante
É na infância que a criança vai constituir a sua imaginação. Por meio da brincadeira, o
indivíduo viverá experiências que levam-no a pensar e a agir, passando pelo campo das
emoções. É nessa fase que a realidade passa a fazer parte de suas brincadeiras e se mistura
com a fantasia.

Vejamos, na Figura 5, uma informação que favorece essas funções:

Função Educativa
Função Lúdica
Quando a brincadeira
Quando a brincadeira provoca
leva o indivíduo a uma
a satisfação, o prazer.
aprendizagem significativa.

Figura 5: Função Lúdica e Função Educativa. Fonte: Do autor.

Seria muito interessante que todas as escolas tivessem uma


brinquedoteca.

Jogos Educativos e Brinquedos 57


Debora Silva define brinquedoteca como:

[...] espaço onde a criança encontra uma variedade de brinquedos e


que, além de brincar, pode recorrer ao empréstimo destes. Algumas
pesquisas informam que a primeira brinquedoteca surgiu em 1934,
em Los Angeles, quando o dono de uma loja de brinquedos, ao
lado de uma escola, percebeu que, quando as crianças saiam da
instituição entravam, em sua loja e furtavam os brinquedos. Diante
do fato, o dono da loja procurou o diretor e relatou o ocorrido.
Juntos, resolveram, então, que alguns brinquedos, precisando de
reparos, seriam colocados em uma caixa em frente à loja. Esses
brinquedos seriam emprestados às crianças, que poderiam brincar
sem precisar levá-los escondido.

Algumas escolas não contam


com esse espaço específico para
Saiba Mais
brinquedos e brincadeiras, mas isso
não impede de utilizar a brincadeira A partir de projetos, o
como um instrumento de aquisição de professor pode contextualizar
aprendizagem, basta que incluam em a sala de aula, priorizando
sua proposta pedagógica o brinquedo espaço e agregando valores
como um recurso. Comumente, as às suas aulas. Observe este
projeto do Instituto C&A. Leia mais
escolas se apropriam de materiais mais
simples e constroem seus cantinhos.

O importante é a criança encontrar na escola um espaço onde possa


vivenciar, a partir do lúdico, uma aprendizagem mais prazerosa.

O brinquedo faz parte da práxis educativa. Brincar requer a utilização


de brinquedos, pois eles irão proporcionar a liberdade de expressão da
criança. A partir dessa vivência, o brinquedo será manipulado, explorado e
contextualizado.

É importante que a formação de docentes invista na informação


e confecção de brinquedos a partir de materiais como sucata, tampinhas,
garrafas plásticas, papelão, dentre outros. Isso vai favorecer uma abordagem
lúdica no ensino.

58 Jogos Educativos e Brinquedos


Veja, a seguir, algumas sugestões de brinquedos que podem ser
construídos para compor esses cantinhos.

Figura 6: Bonecas. Fonte: Do autor.

Figura 10: Vai-e-Vem. Fonte: Do autor.

Figura 7: Ursinhos. Fonte: Do autor.

Figura 11: Palhacinho Mexe-Mexe. Fonte: Do autor.

Figura 8: Boliche. Fonte: Do autor.

Figura 9: Cai não Cai. Fonte: Do autor. Figura 12: Carrinho. Fonte: Do autor.

Jogos Educativos e Brinquedos 59


O professor, no momento da construção de um planejamento em
que agrega ludicidade à sua prática, vislumbra um ensinar e um aprender
mais significativos, em que a criança possa ser a autora da construção
desse conhecimento.

Para finalizar esse diálogo, vale comungar com Fernandez (2001, p.37)
quando define o brincar e o aprender de forma envolvente:

Aprender é apropriar-se da linguagem, é historiar-se, recordar o


passado para despertar-se ao futuro; é deixar-se surpreender pelo
já conhecido. Aprender é reconhecer-se, admitir-se. Crer e criar.
Arriscar-se a fazer dos sonhos textos visíveis e possíveis. Só será
possível que as professoras e professores possam gerar espaços de
brincar-aprender para seus alunos quando eles simultaneamente
construírem para si mesmos.

A partir do brinquedo, do brincar e da brincadeira, a criança exerce a


função lúdica e educativa, desenvolvendo uma aprendizagem global.

Importante
O professor será o mediador nesta brincadeira, um facilitador no que se refere à construção
de espaços e ao oferecimento de brinquedos. Esta mediação se dará de maneira indireta, não
devendo o professor interferir e ditar as normas da brincadeira.

60 Jogos Educativos e Brinquedos


Síntese
Nesta unidade, exploramos a ideia do brincar e do brinquedo. A
história dos brinquedos, a importância da sua construção no espaço escolar
e não escolar. Compreendemos a ideia dos brinquedos indicados dentro da
Função Lúdica e da Função Educativa. Percebemos o quanto, para a criança,
o objeto e a ação da brincadeira vão influenciar no seu desenvolvimento
cognitivo, motor e intensificarão a sua criatividade.

Nessa relação da criança com a brincadeira, verificamos, ainda, que a


criança subverte o real ao imaginário e que, por meio da atividade de brincar,
ela, provavelmente, de maneira não intencional, alcança aspectos relevantes
que contribuem tanto para o seu desenvolvimento individual quanto social.
Portanto, ficou claro que a criança vai aprender a conviver com sensações de
frustrações, insatisfações, medos, surpresas e vitórias. Comungamos com a
ideia dos autores e concluímos que é brincando que se aprende.

Jogos Educativos e Brinquedos 61


Referências
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magiadamatematica.com/uss/pedagogia/06-brincando.pdf>. Acesso em: 15
ago. 2018.

DIA A DIA EDUCAÇÃO. Os desafios da escola pública paranaense na


perspectiva do professor. PDE – Produções Didático-Pedagógicas. Cadernos
PDE. Vol. II. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/
portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2013/2013_unicentro_hist_
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FERNÁNDEZ, A. O saber em jogo: a psicopedagogia propiciando autorias


de pensamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.

FIORINI, G. Mapa conceitual final. Disponível em: <brincandonatecnologia.


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2018.

KISHIMOTO, T. M. (Org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 5


ed. São Paulo: Cortez & Moraes, 2001.

MARIA, T. Conheça a vida e a obra de Rubem Alves. Disponível em:


<https://blog.estantevirtual.com.br/2017/07/19/conheca-a-vida-e-obra-de-
rubem-alves/>. Acesso em: 26 ago. 2018.

PROJETO PARALÁPARACÁ. Cantos de atividades diversificadas: educação


infantil. Disponível em: <http://paralapraca.org.br/wp-content/uploads/
Cantos-de-atividades-diversificadas-Educacao-Infantil-05_05_2014.pdf>.
Acesso em: 26 ago. 2018.

Jogos Educativos e Brinquedos 63


SILVA, D. Brinquedoteca. Disponível em <https://www.estudopratico.
com.br/primeira-brinquedoteca-do-mundo-surgiu-ha-mais-de-80-anos/>.
Acesso em: 26 ago. 2018.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,


1984.

WIKIPÉDIA. Brinquedo. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/


Brinquedo>. Acesso em: 26 ago. 2018.

WINNICOTT, D. W. O brincar & a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

64 Jogos Educativos e Brinquedos


Brincar: Momento
do Faz de Conta
Objetivos
▪▪ Reconhecer a importância dos jogos e brincadeiras como
representação simbólica;
▪▪ Analisar adequação do brinquedo no enriquecimento das atividades
pedagógicas com diferentes faixas etárias;
▪▪ Criar espaços e momentos que favoreçam vivências lúdicas, éticas,
estéticas, biopsicossociais, individuais e/ou coletivas.

Jogos Educativos e Brinquedos 67


Introdução
O brincar de faz-de-conta está atrelado à imaginação e à construção
de conceitos com base nas fantasias criadas ou em uma ideia relacionada a um
brinquedo ou objeto.

É por meio da brincadeira simbólica que a criança ressignifica


a sua realidade, envolvendo suas emoções e sensações. Nesse contexto,
ela faz imitações dos adultos, constrói histórias, cria cenários e reproduz
seus sentimentos.

Ao assumir a brincadeira de faz-de-conta, a criança perpassa pela


aquisição da autonomia e da liberdade de expressão. Nesse processo, ela cria
suas próprias brincadeiras e ressignifica os personagens que quiser para ilustrar
sua história. Para estimular a criança nessa construção, devemos oferecer a ela
materiais diversificados, sucatas e objetos variados.

Jogos Educativos e Brinquedos 69


1. O Jogo como Representação Simbólica
“Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você além das outras três
Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava o rock para as matinês”
(Chico Buarque, 1977)

Para muitos teóricos, nos jogos dramáticos, as crianças são “fazedores”


da situação imaginária, todos são “atores”.

É na brincadeira de faz-de-conta que a criança instaura uma nova


realidade, rompendo com o real, e é nesse contexto que ela tem a permissão
de produzir um repertório inusitado. Para Vasconcellos (2008b, p.110),
“Não é o real, mas dialoga com o real e o faz partir de uma gama ampliada
de conduta”.

O que podemos chamar de Primeira Infância?

A Primeira Infância é o momento inicial da vida da criança, compondo


o período que vai do seu nascimento aos cinco anos de idade. É importante
que, nesse período, a criança cresça e desenvolva suas aptidões, pois, nele, são
desenvolvidos o cognitivo e as relações sociais.

A criança começa a entrar no mundo do faz de conta por volta dos


dois a três anos, quando começa a criar, a partir de objetos, uma extensão
do seu mundo imaginário. Todas as vezes que a criança vive uma história
como personagem, ela está construindo seu mundo imaginário. O que varia
também é a flexibilidade de papéis que essa assume, vivendo da mãe à rainha,
do mais rico ao mais pobre e, muitas das vezes, se transformando até em
bichinhos, como um doce gatinho ou um cãozinho feroz.

O jogo do faz-de-conta, segundo Kishimoto (2001), recebe variadas


denominações, como jogo imaginativo, jogo de papéis e jogo sociodramático.

Jogos Educativos e Brinquedos 71


Em grande parte das escolas, o jogo se dá na brincadeira livre, em que a
criança pode expor seu pensamento e fazer uso da sua imaginação. A partir
do faz de conta, as crianças ressignificam histórias do seu cotidiano e revelam
sentimentos diferenciados que são vivenciados nas experiências coletivas e
práticas sociais compartilhadas na experiência do homem com o mundo
externo. O faz-de-conta conduz a criança ao aprendizado, implicando, por
consequência, o seu desenvolvimento.

Para cada autor, o processo imaginativo passa por variados momentos.


Piaget (2003) ressalta que a criança vive o mundo da maneira que o vê porque
ela não tem, nesse momento, nenhum compromisso com a realidade. O autor
conceitua esse jogo como simbólico, em que a criança constrói representações
a partir de objetos. A brincadeira é caracterizada como simbólica em função da
representação de papéis pertinentes à realidade na qual a criança está inserida,
ressignificando com vários papéis seu mundo real.

É fácil dar-se conta de que estes jogos simbólicos constituem uma


atividade real do pensamento, embora essencialmente egocêntrica,
ou melhor, duplamente egocêntrica. Sua função consiste em
satisfazer o eu por meio de uma transformação do real em função
dos desejos: a criança que brinca de boneca refaz sua própria vida,
corrigindo-a à sua maneira, e revive todos os prazeres ou conflitos,
resolvendo-os, compensando-os, ou seja, completando a realidade
através da ficção. (PIAGET, 2003, p.28-29)

Saiba Mais
Piaget define, ainda, que existem pontos básicos que vão influenciar
todo o desenvolvimento de interação do indivíduo com o meio. Para
conhecer esses pontos, realize a leitura indicada.
Leia mais

Já Vygotsky (1991) define que brincar é uma ação imaginária


construída pela criança. O autor acredita que uma criança muito pequena,
com menos de três anos, não tem condições de se envolver em uma
brincadeira que envolve o processo concreto e abstrato. Só por intermédio
da maturidade é que o indivíduo percebe que o objeto pode ter outras

72 Jogos Educativos e Brinquedos


representações. É no jogo que a criança vai transformar, com sua imaginação,
os objetos que estão no seu contexto social.

É na atividade de jogo que a criança desenvolve o seu conhecimento


do mundo adulto e é também nela que surgem os primeiros sinais de
uma capacidade especificamente humana, a capacidade de imaginar (…).
Brincando, a criança cria situações fictícias, transformando com algumas
ações o significado de alguns objetos. (VYGOTSKY, 1991, p.122)

Importante
Entre Piaget e Vygotsky existe uma divergência no que se refere ao jogo de faz de conta.
Para Piaget, o jogo está atrelado ao desenvolvimento da inteligência e, para Vygotsky, a
brincadeira está relacionada à vivência do indivíduo no seu cotidiano, em que a criança utiliza
a própria ação de brincar para sua resolução de conflitos.

Em suas brincadeiras, as crianças vivem suas fantasias e realizam seus


desejos. Dessa forma, a criança age, pensa, conhece e exerce conhecimentos
sobre si mesma, sobre o mundo e sobre o que está ao seu redor, e fortalece
a ideia de que possui o poder dos super-heróis, em que se constrói a ideia e
caracterização do jogo de papéis e/ou sociodramático.

Para Bomtempo (2011 apud KISHIMOTO, 2001), a criança, ao


brincar, vivencia o passado, o presente e o futuro. Quando brinca de boneca,
por exemplo, ela pode retratar maus tratos que vivenciou, pressões emocionais
que vive e, ainda, poderá idealizar fatos e acontecimentos que viverá nos
próximos anos, as pressões emocionais que vive e a possível maternidade que
estará vivendo nos próximos anos.

Quando vemos uma criança brincando de faz-de-conta, sentimo-nos


atraídos pelas representações que ela desenvolve. A primeira
impressão que nos causa é que as cenas se desenrolam de maneira a
não deixar dúvida do significado que os objetos assumem dentro de
um contexto. Assim, os papéis são desempenhados com clareza: a
menina torna-se mãe, tia, irmã, professora; o menino torna-se pai,
índio, polícia, ladrão sem script e sem diretor. “Sentimo-nos como
diante de um miniteatro, em que papéis e objetos são improvisados”
(VIEIRA, 1978). Esse tipo de jogo recebe várias denominações:

Jogos Educativos e Brinquedos 73


jogo imaginativo, jogo de faz-de-conta, jogo de papéis ou jogo
sociodramático. A ênfase é dada à “simulação” ou faz-de-conta, cuja
importância é ressaltada por pesquisas que mostram sua eficácia
para promover o desenvolvimento cognitivo e afetivo-social da
criança. (BOMTEMPO, 2011 apud KISHIMOTO, 2001, p.57-58)

A brincadeira do faz-de-conta dentro do espaço escolar se dará a partir


do momento em que o comportamento espontâneo seja valorizado como um
aprendizado significativo, em que a criança tenha o professor como mediador
que incentive e apoie essas fantasias.

2. Utilização do Brinquedo
No mundo do faz de conta, tanto os brinquedos estruturados como
os não estruturados compõem esse cenário da brincadeira no estímulo da
criança. É por meio do brincar que a criança desenvolve diversas habilidades.
Mas como podemos definir o que é brinquedo estruturado e não estruturado?

▪▪ Estruturado: Brinquedo previamente definido em sua ação. Um


brinquedo que não necessita da imaginação já induz a criança na
sua condução. A brincadeira é pré-fabricada.
▪▪ Não estruturado: Um brinquedo criativo, em que a criança
inventa a sua brincadeira a partir dele. O material é estimulante e
significativo, servindo de recurso para a motivação da brincadeira.

Com a utilização do brinquedo, a criança vai construir e descobrir


variados caminhos para atingir uma aprendizagem mais significativa. Conforme
ressalta Brougère (2001, p.831), “O brinquedo é mais que um instrumento de
brincadeira. Ele traz para a criança não só um meio de brincar, mas também
imagens, representações, universos imaginários. Ele estrutura o conteúdo da
brincadeira sem, no entanto, limitar a criança”.

Por meio da brincadeira, a criança terá um contato mais direto com o


mundo adulto e começará a imitar a todos que o cercam, criando referências
e, diante dessa representação, aprender a lidar com seus anseios, desejos e
imaginação. Através de variadas situações e objetos, a criança constrói seu

74 Jogos Educativos e Brinquedos


brinquedo, planeja e executa a sua própria brincadeira. Todo planejamento
se dá a partir da sedução do objeto – no caso, o brinquedo –, que convida a
criança a brincar, levando-a a criar situações relevantes que favorecem não só
a imaginação, mas também a aprendizagem.

Saiba Mais
Por meio da construção de brincadeiras significativas, as crianças
desenvolvem uma autonomia, tornando-se protagonistas de sua
própria história. Leia um pouco mais sobre esse comportamento no
artigo indicado.
Leia mais

3. Brinquedos e Diferentes Faixas Etárias


Sabemos que a criança, desde pequena, demonstra preferências por
determinados brinquedos e brincadeiras; entretanto, é importante saber quais
brinquedos devem ser oferecidos de acordo com a faixa etária e os riscos que
eles podem causar.

Segundo Almeida (2005, p.10), alguns quesitos são básicos para


escolha desses brinquedos:

A – Importância: É necessário levar em consideração que um bom


brinquedo não é o mais lindo e nem o mais caro [...], sendo assim
um bom brinquedo é o que convida a criança a brincar, é o que
desafia seu pensamento, é o que mobiliza sua percepção, é o que
proporciona experiências e descobertas e o que traz a alegria e a
satisfação de estar com o mesmo e além disso faz desenvolver o
seu imaginário.
B – Faixa Etária: O brinquedo deve ser adequado à criança,
considerando a sua idade e o seu desenvolvimento, [...].
C – Faz de Conta: O brinquedo deve estimular a criatividade e
a imaginação. [...] O mais importante é que, muitas vezes, isso
pode ser feito com pequenos objetos, como um pregador que se
transforma em um avião, ou um pedaço de pau que vira uma espada.
D – Versatilidade: O brinquedo que pode ser utilizado de várias
maneiras é um convite à exploração e a criatividade.

Jogos Educativos e Brinquedos 75


Saiba Mais
Para a inspeção dos brinquedos, existe um órgão chamado Inmetro,
que valida as condições do brinquedo e a qualidade deste, de acordo
com a faixa etária. O Regulamento Técnico da Qualidade (RTQ) para
brinquedos (Anexo I da Portaria Inmetro nº 563/2016) determina
alguns requisitos gerais a serem atendidos pelos brinquedos. Para Leia mais
conhecê-los, acesse o site do Inmetro.

Além desses quesitos para escolha do brinquedo, merece destaque sua


segurança. Algumas ressalvas são importantes:

▪▪ Sabe-se que a criança muito pequena ainda está rompendo com


a fase oral, aquele momento em que coloca tudo que encontra na
boca; daí surge a preocupação com a ingestão das peças pequenas
dos brinquedos;
▪▪ Outro quesito que deve se levar em conta nesse momento é o
barulho ocasionado pelos brinquedos musicais. Em alguns objetos,
o som é muito alto e não agrega nenhum valor sonoro na vida do
indivíduo, ou seja, o que seria para desenvolver a música e o ritmo,
vai danificar a audição;
▪▪ Os brinquedos devem respeitar a faixa etária. Quando um
objeto é apresentado à criança e não tem relação com seu
interesse, este passa a ser monótono e a não estimular o
crescimento do indivíduo, além de causar riscos, por não
ser utilizado de maneira correta, contendo peças pequenas
e quebradiças;
▪▪ Para que haja o desenvolvimento do raciocínio, a criatividade e o
interesse, o brinquedo não pode ser mecânico; ele precisa oferecer
recursos que estimulem uma aprendizagem global;
▪▪ O brinquedo não deve ser sugestionável para fatores que interferem
enquanto sexo, etnia ou opção religiosa;
▪▪ É importante a valorização da qualidade do brinquedo, evitando
que a criança exercite funções errôneas no âmbito da aprendizagem
e ainda temas que não condizem com a idade apresentada
na embalagem.

76 Jogos Educativos e Brinquedos


Diante de toda atenção, algumas empresas ainda fabricam brinquedos
inseguros que causam preocupações quanto à sua qualidade, sem certificação
do produto.

Saiba Mais
Para entender o processo de qualidade e segurança dos brinquedos,
sugerimos a leitura deste artigo, que irá enriquecer toda ideia e
teoria sobre fatores essenciais na escolha do brinquedo referente a
cada idade. Leia mais

De acordo com a idade da criança, os interesses mudam e surge a


necessidade por brinquedos diversificados. Observe:

Interesses
em brinquedos
De 0 a 5 meses:
Os brinquedos mais interessantes são os chocalhos, móbiles, livros de pano e
plástico, bolas coloridas e bichinhos (pelúcia) antialérgicos e macios.

De 6 a 12 meses:
Os brinquedos são flutuantes, de encaixe, de empurrar, de socar, de sons diversos,
alguns que reforçam a autoimagem (como espelho) e brinquedos de empilhar.

De 01 a 02 anos:
Nesta fase, os brinquedos são de textura, de empurrar, montar e a criança começa a
criar uma fantasia em torno dos objetos.

De 02 a 03 anos:
Os brinquedos indicados são bolas, carrinhos, bonecas, brinquedos de equilíbrio, de
montar e desmontar. Também existe a preferência por utensílios domésticos.

De 03 a 04 anos:
Os brinquedos são triciclos, infláveis, cabana, fantasias, máscaras, fantoches, instrumentos musicais,
quebra-cabeças simples, lápis de cor e papéis.

De 04 a 06 anos:
Todos os brinquedos que favorecem ao faz-de-conta: boneca, panelinha, máquina registradora, dinheiro de papel,
telefones de brinquedos, fantasias, perucas, jogos diversos e carrinhos.

Figura 1: Interesses em brinquedos, de acordo com a idade da criança. Fonte: Do autor.

Jogos Educativos e Brinquedos 77


Os brinquedos surgem a cada dia, vão e voltam no tempo, sendo
excelentes objetos de cultura do povo. Com as representações simbólicas a
partir desses objetos a criança vai construindo sua história e avançando no
mundo como um sujeito histórico e social.

Importante
Na idade de 0 a 12 meses, os brinquedos precisam ser laváveis, macios e criativos, mas
resistentes no que se refere à montagem e com materiais não tóxicos, pois as crianças o
levam à boca com facilidade.

78 Jogos Educativos e Brinquedos


Síntese
Você já viu uma criança brincando de casinha? Ela geralmente se
veste do personagem escolhido e, a partir daquele momento, sua imaginação
ganha espaço, implementando todo diálogo e movimento à sua volta. É
uma brincadeira que tem um significado próprio, podendo a criança brincar
sozinha ou em grupo.

Nesse contexto, percebemos, como mediadores que somos, que as


crianças subvertem o real ao imaginário, ou seja, que o simbólico se privilegia
e permite às crianças desenvolverem o senso criativo e imaginativo. Você já
parou para pensar quanta aprendizagem está inserida nessa atividade?

No campo da observação, o profissional deve acompanhar todo o


desenrolar da brincadeira, oferecendo um espaço de alternativas. Com todo
esse envolvimento e possibilidades, acontecerá uma explosão de significados
e emoções que contextualizam esse brincar, propiciando às crianças uma
aprendizagem constante.

Jogos Educativos e Brinquedos 79


Referências
ALMEIDA, Marcos T. P. O brincar na educação Infantil. Revista Virtual EF
Artigos. Natal/RN. Vol. 03. Número 01. Maio, 2005. Disponível em: <http://
efartigos.atspace.org/efescolar/artigo39.html>. Acesso em: 25 jun. 2018.

BROUGÉRE, Gilles. Brinquedo e cultura. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2001.

FONSECA, Ofélia. Jogos simbólicos... Faz de conta que... Disponível


em: <https://educacao.estadao.com.br/blogs/colegio-ofelia-fonseca/jogos-
simbolicos-faz-de-conta-que/>. Acesso em: 25 jun. 2018.

INMETRO. Requisitos para brinquedos. Disponível em: <www.inmetro.


gov.br/brinquedo/>. Acesso em: 25 jun. 2018.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida (Org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a


educação. 5 ed. São Paulo: Cortez & Moraes, 2001.

SILVA, Denise da Silva et al. A importância do brinquedo como ferramenta


de ensino na Educação Básica. Disponível em: https://www.inesul.edu.br/
revista/arquivos/arq-idvol__1380818468.pdf>. Acesso em: 25 jun. 2018.
TERRA, Márcia Regina. O desenvolvimento humano na teoria de piaget.
Disponível em: <https://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/
textos/d00005.htm>. Acesso em: 25 jun. 2018.

VASCONCELLOS, Tânia de. (org.) Reflexões sobre infância e cultura.


Niterói: EdUFF, 2008b.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos


processos psicológicos superiores. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

Jogos Educativos e Brinquedos 81


Construção de Brinquedos
Objetivos
▪▪ Construir brinquedos e jogos adequados às características das
diferentes faixas etárias;
▪▪ Confeccionar brinquedos de sucatas adequados às características
das diferentes faixas etárias;
▪▪ Avaliar as interferências (positiva/negativa) no uso das mídias na
substituição ou complementação dos brinquedos/brincadeiras
na escola.

Jogos Educativos e Brinquedos 83


Introdução
Nesta unidade de aprendizagem, abordaremos a construção de
brinquedos, sua importância e interferência no processo criativo do indivíduo
e as relações da criança com o mundo em que vivem. Sabemos o quanto
a mídia interfere na escolha dos brinquedos e do brincar. Os brinquedos
passaram por evoluções que ganharam valor à medida em que a ideia deles se
propagaram dentro da sociedade, sendo estimulados por meio do sistema de
comunicação de massa.

O mundo evoluiu e o brinquedo também, assim, a construção do


brinquedo artesanal deixou de ser valorizado e abriu-se uma frente à produção
do brinquedo industrial. Com isso, a brincadeira tornou-se objeto de consumo,
impossibilitando para as crianças um processo maior de criatividade, cujo
pensar, pesquisar, construir e brincar seriam, na verdade, um fator crucial do
seu desenvolvimento.

Para cada idade, existe um tipo de interesse no brincar, e os brinquedos


interferem nessa construção. Como mediador de tal atividade lúdica, o
professor deve incentivar a criação desse brinquedo, permitindo que a criança
construa, a partir da sua necessidade, o objeto que lhe trará mais sentido,
naquilo que está dentro e fora de seu mundo.

Jogos Educativos e Brinquedos 85


1. Construção de Brinquedos
Os brinquedos fazem parte da vida da criança desde o seu nascimento.
No período da Educação Infantil, essa brincadeira passa a ocupar o espaço
da infância, garantindo, para a criança, a construção da sua cidadania e uma
aprendizagem mais significativa.

A brincadeira e o brinquedo fazem parte da rotina da criança.


Na Educação Infantil e na relação com o outro, ela aprende a adquirir a
autonomia, interage com os amigos de classe e se identifica com o brinquedo
e a brincadeira, utilizando a linguagem para se expressar, criando, recriando,
montando e desmontando objetos, experimentando hipóteses e desenvolvendo
o afetivo e cognitivo. Nesse processo, o brinquedo colabora de maneira
expressiva para o desenvolvimento da criança.

Figura 1: Criança brincando com avião de papelão. Fonte: Dreamstime.

A Educação Infantil deve priorizar o brincar em suas atividades. Sobre


esse assunto, Kishimoto (2010) afirma:

Todo o período da educação infantil é importante para a introdução


das brincadeiras. Pela diversidade de formas de conceber o brincar,
alguns tendem a focalizá-lo como característico dos processos
imitativos da criança, dando maior destaque apenas ao período
posterior aos dois anos de idade. O período anterior é visto como

Jogos Educativos e Brinquedos 87


preparatório para o aparecimento do lúdico. No entanto, temos
clareza de que a opção pelo brincar desde o início da educação
infantil é o que garante a cidadania da criança e ações pedagógicas
de maior qualidade. (KISHIMOTO, 2010, p.1)

Todo desenvolvimento se dá no período da Educação Infantil, quando o


trabalho realizado precisa ser contextualizado, significativo e dinâmico. Como
instrumentos de enriquecimento para esse trabalho, são utilizados brinquedos
que variam entre cores, formas e texturas, podendo ser construídos por
alunos e professores. Podem ser usados variados materiais para a construção
de brinquedos, como tecidos, lãs de diversas cores, lixas, garrafas plásticas,
dentre outros materiais.

No oferecimento do brinquedo e da brincadeira, deve-se priorizar a


qualidade e a utilidade do brinquedo dado à criança. Por isso, é importante
que o brinquedo seja categorizado por faixa etária. O Inmetro (Instituto
Nacional de Metrologia) fornece informações que favorecem a qualidade dos
critérios com esses objetos. Esse órgão orienta o que usar e onde oferecer esse
brinquedo.

A seleção de brinquedos tem aspectos variados, como: boa durabilidade,


resistência, não soltar tinta, ser de cunho construtivo, dentre outros aspectos.

Figura 2: Exemplo de brinquedo seguro. Fonte: Dreamstime.

88 Jogos Educativos e Brinquedos


Brincar com brinquedos criativos e intuitivos vai proporcionar à
criança um conhecimento maior de si, do outro e do mundo que o cerca,
colaborando com a subjetividade a ser conquistada no período da infância.

Saiba Mais
As informações que o Inmetro fornece norteia a usabilidade do
brinquedo. Consulte o documento indicado para conhecer os cuidados
antes de oferecer o brinquedo a criança.
Leia mais

Os brinquedos retratam o tempo e a cultura de uma civilização. Outrora,


o homem construía sua própria diversão, utilizava paus, pedras, barro, dentre
outros materiais para construir seu brinquedo. Além da ludicidade, usavam a
criatividade a partir de tal experimento, eram artesanais, construídos de pais
para filhos, a família se reunia em prol da construção.
A montagem do brinquedo representava uma reunião nas famílias
que planejavam todo o processo - tamanha era a satisfação em criar tal
produto. No mundo atual, o homem não constrói mais suas engenhocas,
bonecas ou carrinhos; todo esse material vem da indústria, sendo propagado
no século XVIII, a partir da Revolução Industrial, ganhando espaço e
conquistando o mundo. Todos os brinquedos passaram a ser fabricados em
grandes quantidades, sendo vendidos nas lojas, muitas vezes, servindo apenas
de objetos de ostentação e decoração nas mãos das crianças e nos quartos
infantis. Para Brougère (1997, p.63):
[O brinquedo é a] materialização de um projeto adulto destinado
às crianças (portanto, vetor cultural e social) e que tais objetos
são reconhecidos como propriedade da criança, oferecendo-lhe a
possibilidade de usá-los conforme a sua vontade, no âmbito de um
controle adulto limitado.

Saiba Mais
No Brasil, até 1930, as meninas brincavam com bonecas de palha
ou de pano, e os meninos, com carrinhos de madeira. A partir da
Revolução Industrial, surgiram fábricas famosas, e o brinquedo
artesanal deixou de ser popular. Veja mais sobre esse assunto fazendo
a leitura indicada. Leia mais

Jogos Educativos e Brinquedos 89


Vamos abrir um parêntese para ressaltar o quanto a industrialização
do brinquedo tem colaborado para o consumo infantil. A propaganda na
televisão e as lojas de brinquedo incentivam tudo isso.

Figura 3: Diversos brinquedos infantis. Fonte: Dreamstime.

Em um espaço de Educação Infantil, a construção do brinquedo precisa


proporcionar, além da satisfação, o caminho da montagem, da pesquisa e
da constatação.

Uma sala rica em ludicidade é aquela que possui sucatas, como


embalagens, tampas, latas, retalhos, papéis coloridos, garrafas pet, fitas,
barbantes e tudo o que pode contribuir para construção dos brinquedos.
Esses objetos suscitam a alegria de não só brincar com os brinquedos, mas de
criá-los. É uma atividade feita no passo a passo, levando a criança a pensar e
planejar a brincadeira desde o início. As sucatas são excelentes recursos para a
elaboração de materiais, elas não possuem custo, além de proporcionarem na
criança a ideia de que a reciclagem acontece, tornando o que denominamos
como descartável e poluente num objeto rico e prazeroso para a aprendizagem.
De acordo com Machado (1995, p.45):

O brinquedo-sucata permite a quem brinca com ele, desvendá-lo,


ressignificá-lo, pois é um objeto que possui inúmeros significados
que não são óbvios, nem estão evidentes. Surgem, assim, novas
e inusitadas relações que podem ser absurdas, incongruentes,
desregradas.

A escola deve ter um espaço, chamado sucatoteca, onde ficam


armazenados os objetos que serão utilizados pela turma, para construção

90 Jogos Educativos e Brinquedos


de brinquedos artesanais. O material armazenado nesse local deve ser
higienizado e organizado de maneira que não cause nenhum dano para
aqueles que o utilizam.

Saiba Mais
Despertando o interesse pelo brincar e objetivando uma aprendizagem
mais criativa, o uso da sucata no espaço escolar contempla o lúdico
e ainda o que denominamos “consciência ecológica”. Leia o artigo
indicado e compreenda melhor esse assunto. Leia mais

1.1 Brincadeiras Livre, Espontânea e Criativa


A criança é um ser histórico e produtor de cultura, com o direito de
brincar. Nessa perspectiva, a escola deve ser um espaço rico em alternativas
e atividades que estimulem todo seu desenvolvimento. É nesse momento e
com todas as possibilidades de criarem, que o brincar ganha sua importância
objetivando o lúdico no contexto escolar.

Observa-se que, além da ideia de os brinquedos serem pré-fabricados,


outro aspecto preocupante é o fato de que a brincadeira perdeu seu espaço
para o uso das mídias, descaracterizando toda ação física para a virtual.

Contudo, não podemos descartar as mídias. Assim como elas têm as


suas desvantagens, possuem vantagens.

Figura 4: Criança com aparelho tecnológico. Fonte: Dreamstime.

Jogos Educativos e Brinquedos 91


São consideradas desvantagens:

▪▪ O uso contínuo de eletrônicos nos quais a criança não precisa de


nenhum esforço para brincar;
▪▪ O sedentarismo, a partir do momento em que a criança não precisa
de movimento para praticar suas ações;
▪▪ O individualismo, quando a criança não brinca com ninguém,
mas interage com o aparelho, afasta-se da ideia de coletivo e
da possibilidade de se constituir enquanto processo criativo de
socialização do ser humano.

É considerada uma vantagem o fato de que o jogo ou a brincadeira


que contribui para a formação da criança, a partir das experiências, com erros
e acertos.

As mídias trazem para bem perto das crianças narrativas e outras


descobertas, conforme ressalta Moran (2007, p.162-166):

A criança também é educada pela mídia, principalmente pela


televisão. Aprende a informar-se, a conhecer - os outros, o
mundo, a si mesmo - a sentir, a fantasiar, a relaxar, vendo,
ouvindo, “tocando” as pessoas na tela, que lhe mostram como
viver, ser feliz e infeliz, amar e odiar. A relação com a mídia
eletrônica é prazerosa - ninguém obriga - é feita através da
sedução, da emoção, da exploração sensorial, da narrativa -
aprendemos vendo as estórias dos outros e as estórias que os
outros nos contam.

A infância é o tempo bastante precioso e significativo na vida do


ser humano. A televisão instiga, motiva e provoca no indivíduo um saber
diferenciado, criativo e imaginativo, por meio de programas infantis e
desenhos animados.

92 Jogos Educativos e Brinquedos


Figura 5: Os meios de comunicação na relação com as crianças. Fonte: Dreamstime.

Esse tipo de conhecimento não é obrigatório, mas sim desejoso e


sedutor, proporcionando à criança um interesse na sua ação.

2. Brinquedo de Sucata
É importante enfatizar que tanto a brincadeira, em tempo real, como a
brincadeira virtual, se forem significadas, bem aproveitadas e contextualizadas,
irão atingir o seu objetivo. É brincando que a criança aprende a criar, explorar,
montar e desmontar.

▪▪ A criação é pensar no brinquedo a ser construído;


▪▪ A exploração na construção do brinquedo é o momento que a
criança escolhe os objetos que vai utilizar para confeccionar o
objeto lúdico;

Jogos Educativos e Brinquedos 93


▪▪ A montagem é a construção do objeto lúdico, ou seja, juntar todo
o material selecionado para compor o brinquedo;
▪▪ A desmontagem é o reparo, o que precisa melhorar para o
brinquedo ficar bom.

Vale lembrar que o valor de um brinquedo não deve estar relacionado


ao seu custo, mas sim à criatividade, ao estímulo e ao objetivo a ser atingido.
Mesmo sendo de sucata, a apresentação do material para confecção do
brinquedo precisa ser selecionado e classificado de acordo com a faixa etária da
criança que fará uso desse objeto. O material explorado deve ser selecionado
e não é qualquer material que serve para construir o brinquedo.

3. Brinquedos e Diferentes Faixas Etárias


Para crianças de 2 a 4 anos, caixas de papelão, latas de leite em pó,
garrafas pet, rolos de papelão, caixas de ovos e todo tipo de material que não
seja cortante e nem possa ser ingerido; já para crianças de 5 anos em diante, o
material pode ser mais diversificado, pois já não existe mais tanta preocupação
de a criança levar o objeto à boca.

Saiba Mais
O texto indicado apresenta algumas ideias para construir diversos
brinquedos a partir de sucatas.

Leia mais

A utilização da sucata como brinquedo proporciona uma experiência


na qual criança constrói uma ponte entre a fantasia e a realidade, conforme
reforça Machado (1995, p.27):
[...] enquanto usa, manipula, pesquisa e descobre um objeto, a
criança chega às próprias conclusões sobre o mundo em que vive.
Quando puxa, empilha, amassa, desamassa e dá nova forma, a
criança transforma, brincando e criando ao mesmo tempo. Poder
transformar, dar novas formas a materiais como quiser, propicia à

94 Jogos Educativos e Brinquedos


criança instrumentos para o crescimento saudável, que a estimulam
a explorar o mundo de dentro e o mundo de fora, dando a eles nova
forma, no presente e no futuro, a partir de sua experiência.

Além do brincar, a riqueza de materiais oferecidos para criança na sua


rotina propicia o seu desenvolvimento de maneira globalizada, expandindo
sua criatividade e expressando suas emoções.

Vale ressaltar que não é qualquer objeto descartado que pode ser
considerado sucata, o material relevante para construção de brinquedos é aquele
que vai desafiar a criança, que é atrativo e serve para seu reaproveitamento.

Saiba Mais
A construção do brinquedo de sucata favorece as relações. Veja como
a confecção do brinquedo contribui para o desenvolvimento das aulas,
tornando a aprendizagem mais significativa.
Assista agora

Brincar é fundamental no período da infância e ainda mais rico


será quando a criança constróis o seu próprio brinquedo. Nesse processo
exploratório e criativo, se dá a aprendizagem, por meio da qual a criança vai
protagonizar a sua história, explorar o ambiente em que vive e compartilhar
experiências com quem está a sua volta.

Jogos Educativos e Brinquedos 95


Síntese
Nesta unidade de aprendizagem, estudamos sobre a construção de
brinquedos e o quanto é essencial criar engenhocas até atingirmos o objeto
que será denominado brinquedo. Com o tempo, o brinquedo perdeu a
característica de ser um objeto confeccionado pelas mãos para ser construído
pelas máquinas e virou alvo de consumismo e ostentação, deixou de ser artifício
para brincadeira e se tornou objeto de exibição pelas crianças. O consumo de
brinquedos se expandiu, e a criança só sabe se relacionar com o objeto que
exige dela um pensar mais individual. Quando as brincadeiras acontecem, são
isoladas, induzem um pensamento limitado e perdem o sentido da diversão.
Vimos, então, que a construção do brinquedo com sucatas contribui para o
senso criativo e dinamismo da criança.

Jogos Educativos e Brinquedos 97


Referências
BRASIL ESCOLA. Brinquedos de sucata na sala de aula. Disponível em:
<https://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/brinquedos-
sucata-na-sala-aula.htm>. Acesso em: 09 ago. 2018.

BROUGÈRE, G. Brinquedo e cultura. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1997.

FOLHA ON-LINE. Antes das fábricas de brinquedos. Disponível em:


<https://www1.folha.uol.com.br/folhinha/dicas/di02100408.htm>. Acesso
em em: 09 ago. 2018.

FREIRE, Juliana. Construir brinquedos de sucata para as crianças!


Disponível em: <http://www.justrealmoms.com.br/construir-brinquedos-
de-sucata-para-as-criancas/>. Acesso em: 08 ago. 2018.

INMETRO. Brinquedos. Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/


imprensa/releases/brinquedos.asp>. Acesso em: 09 ago. 2018.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação.


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brincar, atividades e materiais. 2 ed. São Paulo: Loyola, 1995.

MACHADO, P.A.L. Direito ambiental brasileiro. 5 ed. São Paulo: Malheiros


Editores, 1995.

MORAN, J. As mídias na educação. In: MORAN, J. Desafios na comunicação


pessoal. 3 ed. São Paulo: Paulinas, 2007. Disponível em: <http://www.

Jogos Educativos e Brinquedos 99


lapeade.educacao.ufrj.br/files/Eixo%203_Tecnologias%20e%20linguagens_
pag%20124.pdf>. Acesso em: 09 ago. 2018.

SIMONE RODRIGUES ALCÂNTARA. Brinquedos e jogos feitos com


material reciclável. Professora Simone Rodrigues Alcântara. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=3I2eMXr6OxY&pbjreload=10>.
Acesso em: 12 ago. 2018.

100 Jogos Educativos e Brinquedos


Brinquedo Cantado
Objetivos
▪▪ Reconhecer o contexto histórico do surgimento do Brinquedo
Cantado e a influência deste na aprendizagem;
▪▪ Valorizar o uso do Brinquedo Cantado na socialização e dinamização
dos movimentos.

Jogos Educativos e Brinquedos 103


Introdução
Nesta unidade de aprendizagem, estudaremos o Brinquedo Cantado,
que consiste na possibilidade de ilustrar a brincadeira com música e dança.
Perceberemos que o ato de cantar e bailar é cultural, e esse brincar vai se
propagando através das gerações.

Perceberemos, também, que o Brinquedo Cantado surgiu há muito


tempo, e durante anos, foi praticado de forma espontânea, por meio da
Brincadeira de Roda, que se refere ao movimento, ao raciocínio lógico,
à memorização e emoção que, por sua vez, está atrelada ao corpo em sua
totalidade. É cantando e dançando que vamos desenvolvendo a criatividade,
estimulando as relações pessoais, envolvendo a linguagem e trabalhando com
a organização espaçotemporal.

Em todo processo educativo, a brincadeira envolve a dança e a


música, estimulando a aprendizagem e valorizando a liberdade de expressão,
tornando-a fundamental. Essa atividade é grande aliada da atividade
psicomotora e colabora como elemento importante dentro da Educação
Infantil. Sendo uma tarefa dinâmica, ela vem carregada de muito movimento,
valorizando corpo e mente em um aspecto global. Em um diálogo com
autores e com músicas apropriadas para esta atividade, vamos compreender
o sentido do Brinquedo Cantado.

Jogos Educativos e Brinquedos 105


1. Brinquedo Cantado
A criança, ao brincar de roda, canta e movimenta-se de forma livre
com ritmos variados, construindo o que chamamos de Brinquedo Cantado.
Esta brincadeira divertida e cheia de movimentos, na maioria das vezes, resgata
cantigas anônimas de origem popular. Portanto, na infância, a brincadeira de
roda é espontânea, e, sobretudo, cultural, porque enriquece a aprendizagem
como um todo.

A brincadeira cantada consta como originária da cultura portuguesa,


assim como das culturas africana e indígena. Em Portugal, as crianças eram
ninadas ao som das cantigas de roda, e foram os portugueses que trouxeram
essa grande influência para o Brasil. Da África, herdamos os ritmos e as
danças que foram trazidas por escravos e, dos indígenas, as danças usadas
em rituais.

Saiba Mais
O Brinquedo Cantado, também considerado movimento integrante do
nosso folclore, vem enriquecer a nossa história e se faz de variadas
formas: por meio da poesia, da música, das parlendas, das danças e de
todos os ritmos presentes em nossas memórias infantis. Conheça mais
sobre o Brinquedo Cantado, por meio do artigo indicado. Leia mais

O Brinquedo Cantado, na maioria das vezes, é apresentado em roda


nas classes populares, em que as crianças cantam e dançam nos mais variados
ritmos. É uma atividade que favorece o desenvolvimento psicomotor e social,
sendo, portanto, uma brincadeira relacionada às múltiplas linguagens. Para
Gaspar (2010, p.12):

As cantigas de roda são: Canções populares, que estão diretamente


relacionadas com a brincadeira de roda. Essas brincadeiras são
feitas, formando grupos de crianças, geralmente de mãos dadas, que
cantam as letras da canção que tem suas próprias características,
geralmente ligadas à cultura daquele local. Também são conhecidas
como cirandas, e representam os costumes, as crenças, o cotidiano
das pessoas, a fauna, a flora, culinária, dentre outros aspectos de

Jogos Educativos e Brinquedos 107


um lugar. As cantigas possuem uma letra fácil de memorizar, sendo
formada por rimas e repetições que prendem a atenção das crianças,
de modo que estimula a imaginação e a memória da criança.

Com o advento dos brinquedos sofisticados, produzidos na


contemporaneidade, as danças que, anteriormente, faziam parte da recreação
das crianças, foram perdendo sua influência nas brincadeiras, sendo
praticadas apenas em momentos especiais, o que não podemos afirmar
como ocorrência constante.

É muito difícil conversar sobre cantigas de roda nos dias de hoje,


visto que tudo é voltado para o mundo virtual em que estas
manifestações da cultura popular espontânea estão com o seu
espaço tão diminuído. Nas ruas, nas praças e nos quintais está mais
raro de se ver ou ouvir das bocas infantis aquelas canções que, na
simplicidade das suas melodias ritmos e palavras, guardam anos e
mais anos de sabedoria. (CASCUDO, 2001, p. 32)

Outro aspecto interessante é o quanto a individualidade provocada


pelos jogos eletrônicos não favorece tal ação. Percebe-se que a timidez não
permite que a criança possa se aproximar do outro, dando-lhe a mão para
cantar e dançar. Desta forma, nas escolas, o Brinquedo Cantado só se faz
presente para comemorar o folclore brasileiro ou na semana em que se
comemora o dia da criança. Segundo Kishimoto (1992, p.26), “educar e
desenvolver a criança significa introduzir brincadeiras mediadas pela ação do
adulto, sem omitir a cultura, o repertório de imagens sociais e culturais que
enriquece o imaginário infantil.”

O professor será um incentivador. Ele vai observar o seu aluno,


sua história e cultura, e a partir daí, criar uma aprendizagem por meio de
experiências e significados.

À medida que as crianças sentem estas canções como suas e


compreendem a beleza que encerram mais fortes são os elos que se
encontram entre elas e os elementos formadores de sua nacionalidade,
principalmente os laços familiares, quando aprendem músicas que
seus pais e avós cantavam quando crianças. (PAIVA, 2000, p. 70)

108 Jogos Educativos e Brinquedos


Saiba Mais
O ato de brincar, cantar e dançar é uma ferramenta fundamental no
processo ensino-aprendizagem. A partir da dramatização dos ritmos,
a criança experiencia emoções diversas e interage mais com o mundo
que a cerca. Saiba mais sobre o assunto por meio do artigo indicado. Leia mais

O Brinquedo Cantado não se dá somente no espaço escolar; ele


também é, por vezes, praticado na família, tornando-se uma atividade de
fortalecimento nas relações, comungando com bem-estar, aperfeiçoando as
relações e perpetuando a história de gerações.

Figura 1: Brincando de roda. Fonte: Dreamstime.

Saiba Mais
Apesar das músicas de roda parecerem comuns entre as pessoas,
algumas vezes, elas se modificam de acordo com as regiões, assim
como os ritmos também podem oscilar, do rápido ao mais lento, do
mesmo modo como nas brincadeiras cantadas. Veja, neste mapa
interativo do Brasil, como ocorrem essas brincadeiras. Leia mais

Jogos Educativos e Brinquedos 109


As cantigas de roda mais praticadas na infância são:

ATIREI O PAU NO GATO

ATIREI O PAU NO GATO TO


MAS O GATO TO
NÃO MORREU REU REU
DONA CHICA CA
ADMIROU-SE SE
DO MIAU, DO MIAU
QUE O GATO DEU
MIAU!
(Música e ritmo de domínio popular)

Esta música sofreu algumas influências regionais que modificaram,


inclusive, a letra da música. Precisamos nos atentar para a ideia de que a
brincadeira cantada não pode ter cunho moral e religioso, pois faz parte do
folclore brasileiro, além de ter sido criada do povo para o povo. Apesar de
ser dramatizada com uma coreografia muito semelhante nas regiões que se
apresentam, os movimentos da cantiga não são permanentes; eles variam de
acordo com a criação e participação das crianças.

A cantiga de roda mais antiga é a Ciranda Cirandinha, que surgiu em


1553. Há quem diga que ela é de origem portuguesa; outros supõem que ela
foi criada por pescadores, no momento que observavam as ondas do mar. A
letra da música diz:

CIRANDA CIRANDINHA

CIRANDA, CIRANDINHA,
VAMOS TODOS CIRANDAR,
VAMOS DAR A MEIA VOLTA,
VOLTA E MEIA VAMOS DAR.
O ANEL QUE TU ME DESTE,
ERA VIDRO E SE QUEBROU,
O AMOR QUE TU ME TINHAS,
ERA POUCO E SE ACABOU.
(Música e ritmo de domínio popular)

110 Jogos Educativos e Brinquedos


A música tem a roda como coreografia, girando para o lado inverso
toda vez que se diz: “Vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar”.

Figura 2: Dança de roda. Fonte: Dreamstime.

Uma cantiga que reforça o comentário anterior, pois tem duas versões,
é a Escravos de Jó. Observe:

ESCRAVOS DE JÓ

ESCRAVOS DE JÓ
JOGAVAM CAXANGÁ
TIRA, PÕE, DEIXA FICAR
GUERREIROS COM GUERREIROS
FAZEM ZIGUE, ZIGUE, ZÁ

OUTRA VERSÃO:

ESCRAVOS DE JÓ, JOGAVAM CAXANGÁ


TIRA, BOTA, DEIXA O ZÉ PEREIRA FICAR…
GUERREIROS COM GUERREIROS FAZEM ZIGUE ZIGUE ZÁ
GUERREIROS COM GUERREIROS FAZEM ZIGUE ZIGUE ZÁ.
(Música e ritmo de domínio popular)

Algumas cantigas de roda são exploradas e representadas apenas nas


festas de escolas ou em culminâncias de atividades, e uma delas é O Cravo
Brigou com a Rosa.

Jogos Educativos e Brinquedos 111


O CRAVO BRIGOU COM A ROSA

O CRAVO BRIGOU COM A ROSA


DEBAIXO DE UMA SACADA
O CRAVO SAIU FERIDO
E A ROSA, DESPEDAÇADA.
O CRAVO FICOU DOENTE
A ROSA FOI VISITAR
O CRAVO TEVE UM DESMAIO
A ROSA PÔS-SE A CHORAR....
(Música e ritmo de domínio popular)

Entre as cantigas populares, existe uma, conhecida como Fui no


Itororó, que retrata um período da história no momento da sua criação. Veja:

FUI NO ITORORÓ

FUI AO TORORÓ
BEBER ÁGUA E NÃO ACHEI
ACHEI BELA MORENA
QUE NO TORORÓ DEIXEI.
APROVEITA MINHA GENTE
QUE UMA NOITE NÃO É NADA
QUEM NÃO DORMIR AGORA
DORMIRÁ DE MADRUGADA.
Ó DONA MARIA
Ó MARIAZINHA
ENTRARÁS NA RODA
OU FICARÁS SOZINHA.
SOZINHA EU NÃO FICO
NEM HEI DE FICAR
PORQUE TENHO O PAULINHO
PARA SER MEU PAR.
DEITA AQUI NO MEU COLINHO
DEITA AQUI NO COLO MEU
E DEPOIS NÃO VÁ DIZER
QUE VOCÊ SE ARREPENDEU.
EU PASSEI POR UMA PORTA
SEU CACHORRO ME MORDEU

112 Jogos Educativos e Brinquedos


NÃO FOI NADA, NÃO FOI NADA,
QUEM SENTIU A DOR FUI EU.
(Música e ritmo de domínio popular)

Importante
Apesar da denominação ser “cantiga de roda”, é sabido que, no Brinquedo Cantado, existem
algumas coreografias que podem ou não serem dinamizadas em rodas.

Há outras cantigas de roda bastante populares e, entre elas, temos a


música de Pai Francisco. Existe uma suposição de que sua letra retrata um
momento da ditadura. Observe:

PAI FRANCISCO

PAI FRANCISCO ENTROU NA RODA


TOCANDO SEU VIOLÃO
(BALALAN, BAN, BAN, BAN, BAN)
VEM DE LÁ SEU DELEGADO
E O PAI FRANCISCO FOI PRA PRISÃO
COMO ELE VEM TODO REQUEBRADO
PARECE UM BONECO DESENGONÇADO
(Música de domínio popular)

Figura 3: Dança de Pai Francisco. Fonte: Dreamstime.

Jogos Educativos e Brinquedos 113


Saiba Mais
Nem sempre as cantigas de roda ou de ninar retratam somente o que
está politicamente correto. O que vai importar é a interferência da
brincadeira, da música e da dança como instrumento de socialização,
trabalho com a rima e o movimento. Conheça mais a respeito das
músicas politicamente corretas, por meio do artigo indicado. Leia mais

Essas canções vêm sendo perpetuadas por gerações e adentram nas


escolas, por meio de propostas motivadas pela LDB 9394/96, pelo ECA
8069/90 e pelos Parâmetros Curriculares, reforçando tal importância de sua
utilização, como objeto de cultura. Segundo o art. 58 do ECA 8069/90, “no
processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos
próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes
a liberdade de criação e acesso às fontes de cultura”.

Saiba Mais
Diversas são as atividades desenvolvidas na escola que ainda
constroem uma parceria com a arte, compartilhando e desenvolvendo a
aprendizagem na brincadeira, por meio da música e da dança. Conheça
mais sobre as brincadeiras de roda, por meio do artigo indicado. Leia mais

Sobre a importância do Brinquedo Cantado praticado na escola, o que


nos parece evidente, em sua prática, é a preocupação do professor em utilizá-
lo nas datas comemorativas, não lhe dando o devido valor, no que se refere
ao aprimoramento da oralidade, o uso de variadas linguagens, o movimento
corporal, o desenvolvimento da autonomia e a relação espaço-tempo,
afinal, brincar, cantar e dançar são situações que precisam ser legitimadas e
incorporadas às práticas diárias de uma educação viva. Nicolau e Dias (2003,
p.78) ressaltam que:

As brincadeiras de roda assumem grande importância por levar a


formação do círculo, situação em que o grupo pode-se comunicar frente
a frente. Dando as mãos, as crianças formam um todo. Cantam, dançam
ou tocam juntas; criam e seguem regras, exercitam textos e movimentos de

114 Jogos Educativos e Brinquedos


forma coletiva, desenvolvendo a socialização e praticando democracia com
valores de respeito mútuo, cooperação e unidade de grupo.

Na alfabetização, as cantigas de roda são muito utilizadas como uma


forma de aprimorar a leitura e escrita, por meio da rima, da repetição de
estrofes e das narrativas. Desta forma, é na brincadeira que a leitura ganha
vida e enriquece a aprendizagem, contextualizando seu uso na prática.
Portanto, o Brinquedo Cantado, dentro do espaço escolar, entrelaça a cultura
e a subjetividade, de maneira lúdica e criativa.

Jogos Educativos e Brinquedos 115


Síntese
Nesta unidade de aprendizagem, vimos o Brinquedo Cantado como
uma atividade enriquecedora, no contexto infantil, por meio das várias
brincadeiras musicais. Canto e dança são brincadeiras que surgiram há muito
tempo, e durante anos, elas foram praticadas de forma espontânea. Essas
brincadeiras têm como elemento principal a música, que vem sendo cantada
em roda e retrata momentos históricos, que evidenciaram a história e memória
de um povo. Essa brincadeira favorece uma aprendizagem global, por meio do
canto e dança.

Neste aspecto, utilizamos ritmos e movimentos para contextualizar


os conteúdos propostos, reforçando o processo educativo da brincadeira.
Ressaltamos a ideia de que é fundamental, na Educação Infantil, atividades
que estão relacionadas ao corpo e mente, favorecendo a atividade psicomotora,
e por fim, constatamos que esta brincadeira é dinâmica e estimulante.

Jogos Educativos e Brinquedos 117


Referências
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berçário, maternal e pré-escolar. Rio de Janeiro: Wak, 2011.

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______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei 9394 de 20 de


dezembro de 1996. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/
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______. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação


Fundamental. Referencial curricular para a educação infantil. Brasília:
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Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.

CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. ​10 ed. São


Paulo: Global, 2001.

EDUCAÇÃO PÚBLICA. As maravilhosas músicas politicamente


incorretas da infância. Disponível em: <http://www.educacaopublica.rj.gov.
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FOLHA DE SÃO PAULO. Mapa do Brincar. Disponível em: <http://


mapadobrincar.folha.com.br/brincadeiras/cantadas/regioes.shtml>. Acesso
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Jogos Educativos e Brinquedos 119


GASPAR, Lúcia. Brincadeiras de roda. Pesquisa Escolar Online. Recife:
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GUERRA, Denise. Corpo: som e movimento. Revista África e Africanidades.


2009. Disponível em: <http://www.africaeafricanidades.com.br/documentos/
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KISHIMOTO, Tizuko Morchida (Org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a


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MEMÓRIA SANTISTA. Itororó, fonte de águas límpidas e de inspirações


do imaginário santista. Disponível em: <http://memoriasantista.com.
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NICOLAU, Marieta Lúcia Machado; DIAS, Marina Célia Morais (orgs.).


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na-escola.htm>. Acesso em: 10 ago. 2018.

120 Jogos Educativos e Brinquedos


Brinquedos e Mídias
Objetivos
▪▪ Planejar atividades com a utilização de brinquedo digital;
▪▪ Contextualizar o surgimento e os efeitos da cyber-infância na
educação escolar.

Jogos Educativos e Brinquedos 123


Introdução
Nesta unidade de aprendizagem, abordaremos a interferência da
mídia na infância e o mundo atual com a criança neste contexto. As crianças
contemporâneas são envolvidas pelo consumismo acelerado; a todo momento
surgem novos produtos tecnológicos. O construir o brinquedo e a brincadeira
se resumem a apenas um apertar de um botão. A cultura dessa nova geração
passou a ser midiática e raramente você percebe uma criança se divertindo
com brincadeiras mais livres e que não exigem objetos cibernéticos.

Vamos entender os efeitos da cyber-infância e do espaço que, no lugar


dos brinquedos, ganhou equipamentos tecnológicos. A discussão irá mais
uma vez nos reportar a essa sociedade infantil composta de transformações
e escolhas totalmente individuais. Para compreender tudo isso, novamente
vamos caminhar pela história da criança, percebendo a trajetória da infância
vista social e culturalmente, e ainda neste contexto, conhecer um pouco
mais dos brinquedos apresentados por computadores, games, celulares,
entre outros.

Jogos Educativos e Brinquedos 125


1. Brinquedos na Sociedade Atual
As crianças, atualmente, fazem parte de um mundo, em que prática
e discurso ganharam outra linguagem. O mundo evoluiu e as crianças que
vivem nele começaram a se relacionar com brincadeiras mais tecnológicas,
que não exigem muita criatividade, estimulando uma posição em que elas se
preocupam somente consigo mesmas. O que anteriormente era considerado no
jogo, como desenvolvimento coletivo, passa, exclusivamente, a ser individual.
As crianças e adultos fazem parte de uma modernidade líquida, conforme nos
explica Bauman (2001, p.10):

São esses padrões, códigos e regras a que podíamos nos conformar,


que podíamos selecionar como pontos estáveis de orientação e pelos
quais podíamos nos deixar depois guiar, que estão cada vez mais
em falta. Isso não quer dizer que nossos contemporâneos sejam
livres para construir seu modo de vida a partir do zero e segundo
sua vontade, ou que não sejam mais dependentes da sociedade
para obter as plantas e os materiais de construção. Mas quer
dizer que estamos passando de uma era de ‘grupos de referência’
predeterminados a uma outra de ‘comparação universal’, em que
o destino dos trabalhos de autoconstrução individual (…) não está
dado de antemão, e tende a sofrer numerosa e profundas mudanças
antes que esses trabalhos alcancem seu único fim genuíno: o fim da
vida do indivíduo.

O que se pode perceber, no conceito de liquidez, é a declaração


contundente de que o tempo se sobrepôs ao espaço, e que as incertezas e
mudanças que se vivenciaram ao longo do tempo seriam responsáveis por
emergir a elevação do eu.

Saiba Mais
Diante dessa modernidade em que tudo se modifica com um piscar
de olhos, a criança convive com incertezas e se torna refém de um
consumismo, perdendo a cultura da infância em sua essência. No artigo
indicado, a crítica do sociólogo nos leva a refletir sobre a atual situação
Leia mais
em que vive a sociedade.

Jogos Educativos e Brinquedos 127


Há de se afirmar que a infância é subjetivada pela sociedade atual, e
tudo que ocorre a sua volta, automaticamente irá influenciar diretamente a
criança. O mundo tem se apresentado cheio de incertezas e inseguranças; com
esses acontecimentos, o perfil da humanidade vai se modificando. Apesar de a
infância permanecer como um período de mudanças, ainda se tenta preservar a
sua ingenuidade e proteção. Para Kishimoto (2008, p.148-149), fica reforçada
a ideia da brincadeira.

O brincar também contribui para a aprendizagem da linguagem. A


utilização combinatória da linguagem funciona como instrumento
de pensamento e ação. Para ser capaz de falar sobre o mundo, a criança
precisa saber brincar com o mundo com a mesma desenvoltura que
caracteriza a ação lúdica. [...] As crianças que brincam geralmente
não estão sós. A escola não deve cultivar apenas a espontaneidade,
já que os seres humanos necessitam de diálogo, do grupo.

Estudos apontam que as crianças que chegaram às escolas, a partir de


2002, demonstraram um comportamento diferente dos citados pela autora;
estes eram indivíduos da era das TDIC (Tecnologias Digitais de Informação
e Comunicação), conjunto de diferentes mídias que levaram as crianças a
simular o seu próprio conhecimento.

Saiba Mais
As tecnologias digitais da informação e comunicação foram pensadas
na intenção de levar a criança a construir seu próprio conhecimento,
apostando em uma escola inovadora e que estimula o cognitivo,
conforme é ressaltado no artigo indicado. Leia mais

2. Cyber-infância e Jogos Eletrônicos


As crianças da era digital se relacionam o tempo todo com o mundo,
por meio de um contato virtual e são denominados cyber-infantes. Com
apenas um apertar de botão, eles se socializam (criando redes de contato),
e por meio de seus interesses, buscam os jogos, programas e brincadeiras
que mais lhe agradam. A nova geração está diante da cibercultura, que é

128 Jogos Educativos e Brinquedos


definida por Lévy (1999, p.17) como: “o conjunto de técnicas (materiais e
intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores,
que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço.”

Importante
Ser professor para estes cyber-infantes não é tarefa simples, pelo contrário, é uma atribuição
muito séria e complexa, tendo em vista que os professores, em sua maioria, ainda são
“imigrantes digitais”, que falam uma linguagem antiga – da “era pré-digital” –, e que
estão lutando para ensinar uma população que fala uma linguagem completamente nova,
marcadamente midiática.

A cibercultura também pode ser conhecida como Cultura Digital.


A partir dela, acontece a modificação no comportamento do indivíduo, com
o uso das novas tecnologias. Para essa nova geração, existe um contato mais
direto com o mundo participativo, que, apesar do individualismo provocado
por atividades isoladas, a criança encontra meios de sobrevivência diante
dessa globalização.

Saiba Mais
A cibercultura teve início em 1988, quando a internet chegou ao Brasil;
nascia, então, o contato imediato entre pessoas de diversos lugares
do mundo, constatando a cultura de redes. Acesse o artigo indicado e
saiba mais sobre o assunto. Leia mais

É nítido que a tecnologia provoca respostas mais imediatas, e é


fascinante no que se refere à rapidez da informação, porém, a infância é o
tempo da experiência mais vivenciada, com mais divertimentos e emoções.
Tem-se na modernidade, uma infância globalizada, de comportamento
imediato e em modo on-line, sendo caracterizada como cyber-infância; é
o momento da era digital, da infância multimídia e da infância tecnológica.
No entanto, a grande preocupação para o desenvolvimento de nossas crianças
diz respeito ao modo como este indivíduo viverá no futuro, visto que ele não
saberá viver mais longe destes artefatos, como computadores, celulares, entre
outros. Segundo Dornelles (2005, p.84-85):

Jogos Educativos e Brinquedos 129


Estas novas tecnologias culturais infantis exigem que se invista em
pesquisas sobre os cyber-infantes e sobre as tecnologias e estratégias
criadas para se produzir o sujeito infantil da contemporaneidade.
É preciso que se possa pensar problematizando as relações entre
a infância e o mundo atual digitalizado ao qual os cyber-infantes
têm acesso desde que nascem. Precisa-se aprender sobre o modo
como as crianças e os adolescentes lidam com estes equipamentos
eletrônicos; sobre as formas de enclausuramento dos infantis na
atualidade que não mais usam outros espaços da casa ou da rua
para suas atividades, mas sim os dos shoppings, o de seus quartos/
informatizados, as suas lan houses [...]

Sabe-se que, ao mesmo tempo que as crianças descobrem o mundo


de maneira rápida, elas esbarram, também, no perigo desta modernidade,
em que o consumo se tornou prioritário no estilo de vida, descortinando o
consumo infantil. A criança atual escolhe tudo o que quer, desde a comida, o
vestuário e o lugar em que deseja ir.

Tão logo aprendem a ler, ou talvez bem antes, a “dependência


das compras” se estabelece nas crianças. Não há estratégias de
treinamento distintas para meninos e meninas – o papel de
consumidor, diferentemente do de produtor, não tem especificidade
de gênero. Numa sociedade de consumidores, todo mundo precisa
ser, deve ser e tem que ser um consumidor por vocação (ou seja, ver
e tratar o consumo como vocação). (BAUMAN, 2001, p. 73)

Diante do momento, independente da condição social, os desejos e


comportamentos de um mundo de posses se fazem presentes no cotidiano
infantil, pois a ostentação do ter se sobrepõe ao ser e, nesse contexto, muitas
crianças perdem o contato com o mundo imaginativo; tudo é muito prático
e mais rápido, e comprar, por exemplo, se torna mais fácil que construir.
Outrossim, o consumismo, ao ser impactado pela mídia, tomou o espaço da
infância atual. Apesar da cyber-infância e de toda era tecnológica, ainda é a
televisão o principal meio de divulgação de produtos de propaganda, onde as
crianças têm acesso às informações e fazem suas escolhas.

130 Jogos Educativos e Brinquedos


Saiba Mais
O que antes era adquirido por necessidade, no mundo contemporâneo
passa a ser ostentação. A criança, desde cedo, passa a ter a sua
escolha e a fazer parte da estatística de um mundo mais consumista e
individualista. O texto indicado mostra que o consumismo e a infância Leia mais
passam a ser um problema de todos.

O mercado consumidor brasileiro movimenta quantias altas na


produção de brinquedos nacionais e importados. Segundo a Fundação
ABRINQ (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos), esses
brinquedos, que antes tinham um valor fundamental para as crianças, hoje
são substituídos por diversões tecnológicas; uma geração conhecida por
viver em um mundo virtual, onde os brinquedos são cheios de luz, sons e
permitem às crianças uma experiência em tempo real. É a geração da cultura
participativa, em que a internet auxilia um contato mais direto com o mundo,
pois a criança do Brasil pode jogar com a criança do Japão. Apesar disso,
ela não pode ser pensada como uma estratégia fantástica, afinal, a maioria
de indivíduos esbarra na impossibilidade de não ter este tipo de brinquedo,
frustrando-se, muitas vezes, e se tornando mais ansioso. São caracterizados
brinquedos tecnológicos:

Robôs

É produzido de lata ou plástico, e muitas vezes, faz movimentos


semelhantes aos de uma figura humana.

Computador

Se torna um brinquedo quando permite a utilização de software de


jogos e brincadeiras, além de ser o grande aliado da formação de redes.

Tablet

É uma espécie de computador, que permite o jogo e a interação com


pessoas, por meio de redes.

Jogos Educativos e Brinquedos 131


Videogames

O videogame foi inventado em 1961, quando a internet ainda não


existia, porém, até os dias atuais, ainda faz parte do mundo eletrônico,
adquirindo ao longo do tempo, diversas caracterizações.

Brinquedo Realidade Virtual

Um objeto que teletransporta o indivíduo para um outro lugar, por


meio do visual.

Saiba Mais
Variadas são as formas de brinquedos eletrônicos e tecnológicos. No
site indicado, você verá diversos jogos e brinquedos que satisfazem as
crianças em suas variadas idades.
Leia mais

Vale ressaltar que é papel do professor e da família orientar a criança


quanto ao uso desses equipamentos, jogos eletrônicos e tecnológicos. Não
se pode prever o futuro dessa geração, mas, pode-se orientar e acompanhar
esses desafios.

132 Jogos Educativos e Brinquedos


Síntese
Nesta unidade de aprendizagem, vimos que as crianças sofrem
a interferência da mídia na infância e identificamos, no contexto atual,
como muitas delas se desenvolvem e se articulam, diante do consumismo
exacerbado em nossa sociedade. Observamos, também, que o brinquedo
deu lugar ao objeto tecnológico; no passado, a brincadeira movimentava o
corpo, e atualmente, o brincar se resume a apenas um apertar de um botão.
Conhecemos a cultura dessa nova geração que exige, para sua diversão, objetos
cibernéticos que chamamos de geração midiática. Por fim, percebemos que a
sociedade infantil está cada vez mais individual e que esta condição parece ser
um dos mais fortes efeitos da cyber-infância.

Jogos Educativos e Brinquedos 133


Referências
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2001.

CRIANÇA E CONSUMO. Consumismo infantil - um problema de todos.


Disponível em: <http://criancaeconsumo.org.br/consumismo-infantil/>.
Acesso em: 11 out. 2018.

DORNELLES, Leni. Infâncias que nos escapam: da criança na rua à criança


cyber. Coleção Infância e Educação. Petrópolis: Vozes, 2005.

FALCÃO, Patrícia Mirella de Paulo; MILL, Daniel. Infância


e tecnologias digitais na escola: sobre criatividade e mediação
nos processos de ensinar e aprender. Congresso Internacional
de Educação e Tecnologias. UFSCar, 2018. Disponível em:
<http://cietenped.ufscar.br/submissao/index.php/2018/article/
download/518/45/>. Acesso em: 11 out. 2018.

FERREIRA, Mônica Patrícia. O surgimento e a onipresença da cibercultura.


Disponível em: <https://mplitteraty.wordpress.com/arquivos/o-surgimento-
e-a-onipresenca-da-cibercultura/>. Acesso em: 11 out. 2018.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida (Org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a


educação. 5 ed. São Paulo: Cortez & Moraes, 2008.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Unesp, 1999.

Jogos Educativos e Brinquedos 135


OBVIOUS. A crítica de Zygmunt Bauman à pós-modernidade. Disponível
em: <http://obviousmag.org/archives/2014/01/a_critica_de_zygmunt_
bauman_a_pos-modernidade.html>. Acesso em: 11 out. 2018.

TECMUNDO. Os 19 brinquedos tecnológicos mais irados para crianças.


Disponível em: <https://www.tecmundo.com.br/brinquedos/14166-os-19-
brinquedos-tecnologicos-mais-irados-para-criancas.htm>. Acesso em: 11
out. 2018.

136 Jogos Educativos e Brinquedos


Múltiplas Linguagens
e Brinquedos
Objetivos
▪▪ Utilizar a música, a dança, o teatro e o desenho como elementos de
integração e criatividade no processo ensino-aprendizagem;
▪▪ Valorizar as contribuições das crianças na criação e utilização de
jogos e brincadeiras na educação.

Jogos Educativos e Brinquedos 139


Introdução
Esta unidade de aprendizagem perpassa pela linguagem das mais
variadas formas, contribuindo para o desenvolvimento da criança de maneira
globalizada. A partir da dança, da música, do teatro e do desenho, a brincadeira
ganha forma e vai ilustrar a infância de maneira essencial. Por meio do diálogo
com o texto, você perceberá que, no seu cotidiano e dentro do espaço escolar,
a criança pode compartilhar ideias, por meio brincadeiras musicalizadas,
representadas e movimentadas.

Mais uma vez, esse cenário faz parte do jogo simbólico e, quando a
literatura, como brinquedo, é envolvida por uma trilha sonora e um conjunto
de cenas que juntos passam a constituir a dramatização, transportam a criança
para o mundo da fantasia, apresentando a história.

Sabe-se que a criança contemporânea vive na era tecnológica, contudo,


ela permanece dentro da formação simbólica, vivendo cercada de múltiplas
linguagens que irão favorecer o seu desenvolvimento. Como será esse brincar
e suas possibilidades nesse contexto lúdico? A partir de uma interação
entre a brincadeira e as múltiplas linguagens próprias para a infância, essas
possibilidades serão apresentadas no desenrolar deste conteúdo.

Jogos Educativos e Brinquedos 141


1. Múltiplas Linguagens e Brinquedos
Iniciaremos este conteúdo destacando seus pontos principais: as
múltiplas linguagens e a sua importância na infância. A comunicação entre
o pensamento e as pessoas acontece a partir de representações de ideias, do
corpo e seu movimento. As múltiplas linguagens abrangem a música, a dança,
o teatro e o desenho.

É muito comum, na infância, brincar de cantar, dançar, representar e


desenhar; isso é primordial para o crescimento cognitivo e motor. Conforme
cita Kraemer (2010, p.10), “a atividade lúdica educativa deve ser somente uma
brincadeira quando o objetivo maior é a aprendizagem”.

Em 1997, surgiram os PCNs - Parâmetros Curriculares Nacionais,


que propõem quatro modalidades artísticas:

▪▪ Artes Visuais;
▪▪ Música;
▪▪ Teatro;
▪▪ Dança.

A linguagem é o elemento mais comum dentro da escola. As crianças


bem pequenas se comunicam por meio de gestos e, à medida que vão se
desenvolvendo, lançam mão de outros tipos de expressão, representadas no
jogo simbólico. Para Piaget (1990, p.97), as características desse simbolismo
são “a liberdade de regras; o desenvolvimento da imaginação e da fantasia; a
ausência de objetivo explícito ou consciente para a criança; a lógica própria
com a realidade; e a assimilação da realidade ao ‘eu’”.

Retomando a ideia das múltiplas linguagens, é importante enfatizar que


a escola deve ser o espaço de encontros individuais e coletivos, onde a música,
a dança, o teatro e o desenho sejam elementos de integração e criatividade
no processo ensino-aprendizagem, a partir do lúdico. Para Kishimoto (1999,
p.18), “o brincar tem a prioridade das crianças que possuem flexibilidade para
ensaiar novas combinações de ideias e de comportamentos”.

Jogos Educativos e Brinquedos 143


Particularizando cada linguagem, vale destacar a música como
brinquedo. Para entendermos melhor esse ponto, nos basearemos em Lydia
Hortélio, grande referencial que se dedica a utilizar a música como brinquedo
desde 1970, ressaltando a escola como um espaço de expressão e cultura.

A infância é algo precioso [...] a cultura popular é uma segunda


infância. Um alemão extraordinário, Friedrich Schiller, diz que o
homem só é inteiro quando brinca, e é somente quando brinca que
ele existe na completa acepção da palavra homem. O brincar é algo
espiritual. Eu sinto que [...] os brinquedos são a manifestação, a
configuração dessas necessidades. Por isso é que é preocupante as
crianças não estarem brincando. (HORTÉLIO, 2008, p.24)

Para a autora, a escola deve abrir espaço para a cultura do brincar,


dando prioridade ao lúdico, fazendo do ritmo o instrumento de criatividade
e liberdade.

Outro autor que discursa sobre o assunto é Brito (2003, p.31), quando
afirma que:

(...) música é jogo, e relaciona a atividade lúdica infantil proposta


por Jean Piaget a três dimensões presentes na música: (1) jogo
sensório-motor, que é vinculado à exploração do som e do gesto; (2)
jogo simbólico, que é vinculado ao valor expressivo e à significação
mesmo do discurso musical; e (3) jogo com regras, que é vinculado
à organização e estruturação da linguagem musical.

Dialogando com autores, observou-se a importância de preservar a


música como brinquedo expressivo dentro da Educação Infantil, valorizando
a exploração do som e da linguagem musical. A partir do trabalho com a
música, o professor desenvolve atividades prazerosas, envolvendo o ritmo
à brincadeira.

Para Kishimoto (1999, p.6):

Brincar de bandinha rítmica apropriada a crianças pequenas


possibilita experimentar diferentes instrumentos. O brincar de fazer
som inclui o movimento do corpo. Um papel amassado ou o bater

144 Jogos Educativos e Brinquedos


palmas expressam a sonoridade que se cria com as mãos. Soprar uma
pena ou bater na água mostra o poder de fazer coisas: a pena que voa
e a água que espirra. O poder expressivo da brincadeira faz a criança
compreender como ela cria tais situações ao agir sobre os objetos.
Assim, ela vai conhecendo o mundo, pela sua ação e pelos sentidos:
o som de um jornal amassado, a textura macia de um bichinho
de pelúcia, o cheiro de uma fruta, uma bolinha de sabão que voa
longe ou se espatifa no chão. Cantar e dançar, construir estruturas
tridimensionais com madeiras, caixas de papelão, colchões, blocos
são formas de expressão muito apreciadas pelas crianças.

Figura 1: Instrumentos musicais/música. Fonte: Dreamstime.

A bandinha rítmica é um grande incentivo para o estímulo da música


na Educação Infantil; inclusive, os instrumentos podem ser construídos a
partir de materiais reciclados e diversificados.

Saiba Mais
A inserção da música no espaço educativo proporciona uma
aprendizagem mais prazerosa, estimulando a criatividade e levando as
crianças a conviverem mais de perto com a diversidade de sons. Para
saber mais sobre o assunto, leia o artigo. Leia mais

Jogos Educativos e Brinquedos 145


Outra linguagem que vem contribuir para o processo criativo é a
dança. Variados são os ritmos que estimulam coreografias que desenvolvem
a emoção e o pensamento. A escola pouco utiliza a dança de maneira livre e
integrada às suas aulas, e o movimento maior com a dança ocorre em datas
especiais, com coreografias específicas e limitadas.

A dança livre leva a criança ao reconhecimento do próprio corpo, no


que envolve o benefício emocional, social e cultural. É o movimento que
explora o tempo-espaço, desenvolve o alinhamento postural, além de ser um
brinquedo significativo no que se refere ao aspecto motor.

Kishimoto mais uma vez enfatiza a importante relação da brincadeira


com a linguagem da dança, quando nos diz que:

Toda criança aprende a falar primeiro por gestos, olhares e,


depois, usa a palavra para se comunicar. Nas brincadeiras, a criança
relaciona os nomes dos objetos e situações do seu cotidiano e, pela
imitação, a linguagem se desenvolve. A dança é também uma forma
de expressão por gestos e comunica significados. (KISHIMOTO,
1999, p.5)

E, ainda, Garanhani (2004, p.40) reforça que:

A criança transforma em símbolos aquilo que pode experimentar


corporalmente e o pensamento se constrói, primeiramente, sob a forma
de ação. Ela precisa agir para compreender e expressar significados
presentes no contexto histórico-cultural em que se encontra.

Figura 2: Criança dançando. Fonte: Dreamstime.

146 Jogos Educativos e Brinquedos


A criança, quando dança, exprime seus sentimentos, a partir de
movimentos desordenados e livres; baila de forma individual e/ou coletiva,
integrando-se ao meio em que vive.

Saiba Mais
A dança é identificada como elemento de cultura presente no início das
civilizações, sendo uma representação histórico-social. Para saber mais
sobre o assunto, leia o artigo indicado.
Leia mais

O teatro, de origem grega, surgiu no Brasil no século XVI, sendo


uma linguagem que promove a socialização de uma arte que comunga do
desenvolvimento cultural, social e emocional. Nas escolas, o teatro, por muitas
vezes, é realizado de maneira equivocada, somente com foco de apresentação
nas festas. Para Barbosa, uma grande incentivadora da Arte Educação, o teatro
é um grande aliado no desenvolvimento individual, pois, nele, a arte acontece
como processo criativo.

A Arte na educação como expressão pessoal e como cultura é


um importante instrumento para a identificação cultural e o
desenvolvimento individual. Por meio da arte, é possível desenvolver
a percepção e a imaginação, apreender a realidade do meio ambiente,
desenvolver a capacidade crítica, permitindo ao indivíduo analisar a
realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar
a realidade que foi analisada. (BARBOSA, 2003, p.18)

Na escola, o teatro acontece como a brincadeira da dramatização,


sem a obrigação de um espetáculo. Durante a brincadeira, a criança deve ser
respeitada em sua apresentação. Um dos elementos principais para que ocorra
a espontaneidade é a permissão de atividades mais livres de uma apresentação
sem cunho profissional, conforme afirma Amaral:

O teatro não deve ser realizado no formato de espetáculos [...] já


que esse tipo de atividade gera uma expectativa por parte desses
espectadores sobre o aluno. Pais, professores e colegas acabam
esperando um desempenho profissional e na escola não há atores,
há alunos desempenhando função lúdica, proposta como atividade
didática. (AMARAL et al., 2012, p.04)

Jogos Educativos e Brinquedos 147


No momento em que o teatro é realizado sob a condição de espetáculo,
a criança fixa na ideia de acertar todo discurso e se afasta do que consideramos
liberdade de expressão. Muitas vezes, a criança é inibida e o simples fato de
ter que repetir toda fala (decorada) faz com que um bloqueio seja causado,
afastando-a da atividade. Para Vygotsky (1989, p.126), “através do teatro, a
criança interage com o meio”, afirmando, ainda, que “O crescimento intelectual
da criança depende de seu domínio dos meios sociais do pensamento, isto é,
da linguagem” (VYGOTSKY, 2005, p.63).

O jogo do faz de conta é conhecido como jogo de dramatização,


podendo ser considerado jogo simbólico, em que a ressignificação e a imitação
se fazem presentes. A dinâmica da atividade tem uma grande relação com a
ideia de brincar e de representar, estimulando a linguagem, o desenvolvimento
da expressividade gestual e o processo criativo.

Santos (2002, p.84) ressalta que “[...]os jogos simbólicos surgem


por volta dos dois anos de idade e principiam com condutas individuais que
denunciam a função semiótica”.

Figura 3: O teatro. Fonte: Dreamstime.

É por intermédio do teatro que a criança exterioriza suas emoções e


seus sentimentos, adquire autonomia e se torna autora de sua própria história,
constituindo-se enquanto ser histórico-social.

148 Jogos Educativos e Brinquedos


Saiba Mais
Como promover o teatro na escola? Que relação existe entre o brincar
de faz de conta e o teatro? O teatro é um importante recurso didático
para ser desenvolvido durante as aulas. O texto indicado demonstra
possibilidades de atividades no contexto escolar. Leia mais

No que se refere à linguagem visual, destaca-se o desenho e a pintura.


É a partir dos riscos e rabiscos que a criança representa as formas expressivas.
O desenho é um conjunto de traçados que estão diretamente ligados à
imaginação. Freire (2001, p.25) também reforça nessa teoria quando afirma
que, “quando uma criança brinca, joga ou desenha, ela está desenvolvendo a
capacidade de representar, de simbolizar. É construindo suas representações
que as crianças se aproximam da realidade”.

A criança, quando desenha ou pinta, brinca, principalmente quando


está podendo expressar suas ideias sem a formalidade do trabalho. Em algumas
escolas, o desenho e a pintura são pouco desenvolvidos, tendo a função de
desenho ou pintura livre, porém, por vezes, sendo direcionados. Por meio do
desenho ou da pintura, a criança deixa a sua marca, cria e conta suas histórias;
assim, podemos dizer que o desenho é a representação da linguagem como
primeira escrita. O processo de escrita tem início com as garatujas e, com o
tempo, vai ganhando formas mais definidas.

(...) quem inventou a escrita foi a leitura: um dia, numa caverna,


o homem começou a desenhar e encheu as paredes com figuras,
representando, animais, pessoas, objetos e cenas do cotidiano.
Certo dia recebeu a visita de alguns amigos que moravam próximo
e foi interrogado a respeito dos desenhos. Queriam saber o que
representavam aquelas figuras e por que ele as tinha pintado nas
paredes. Naquele momento, o artista começou a explicar os nomes
das figuras e a relatar os fatos que os desenhos representavam.
Depois, à noite, ficou pensando no que tinha acontecido e acabou
descobrindo que podia “ler” os desenhos que tinha feito. Ou seja,
os desenhos, além de representar objetos da vida real, podiam servir
também para representar palavras que, por sua vez, se referiam a
esses mesmos objetos e fatos na linguagem oral. A humanidade

Jogos Educativos e Brinquedos 149


descobria assim que, quando uma forma gráfica representa o mundo,
é apenas um desenho; mas, quando representa uma palavra, passa a
ser uma forma de escrita. (CAGLIARI, 1996, p.13-14)

É nessa relação da criança com o desenho que os símbolos vão


ganhando forma e começam a fazer parte do mundo que a cerca. Quando a
criança desenha sozinha, sem a intervenção do professor, a construção começa
a fazer sentido para a sua expressão.

Conforme complementa Pillar (1996, p.37):

A criança não nasce sabendo desenhar, mas constrói o seu


conhecimento acerca do desenho através da sua atividade com este
objeto de conhecimento. Assim, a criança não desenha o que vê
nos objetos, mas o que suas estruturas mentais lhe possibilitam
que veja e mais, em lugar de encontrar o mundo diretamente, a
criança a interpreta. Dessa forma, o conhecimento não resulta da
relação direta da criança com os objetos, mas da sua interpretação
e representação.

O desenho é visto como brincadeira, a partir do momento que provoca


na criança a sensação de prazer, com o desenho, a criança dá vida às suas
ideias, tem a liberdade de colorir e usa a narrativa para contar o que desenhou.

Figura 4: Criança desenhando. Fonte: Dreamstime.

150 Jogos Educativos e Brinquedos


Saiba Mais
Com a proposta de mostrar o desenvolvimento das crianças a partir
do desenho, a revista Nova Escola publicou uma matéria que retrata a
importância dos registros de escrita vindos a partir dos desenhos.
Leia mais

Vale ressaltar o quanto as múltiplas linguagens, a partir do lúdico, vão


possibilitar uma aprendizagem mais vivenciada, construindo no indivíduo um
desenvolvimento pleno.

Jogos Educativos e Brinquedos 151


Síntese
Durante a leitura deste conteúdo, percebemos a linguagem nas mais
variadas formas e a sua contribuição para o desenvolvimento da criança de
maneira integral. Também identificamos a dança, a música, o teatro e o
desenho como elementos fundamentais à brincadeira. Percebemos que, no
seu cotidiano e dentro do espaço escolar, a criança compartilha ideias e usa a
imaginação, por meio de brincadeiras que envolvem a música e a dramatização.

Voltamos a dialogar sobre o jogo simbólico e observamos a literatura


como brinquedo; percebemos que a criança contemporânea tem uma forte
relação com a tecnologia. Vimos o quanto as múltiplas linguagens favorecem
o desenvolvimento infantil no que se refere ao processo criativo.

Por fim, percebemos que o processo lúdico enriquece o processo


educativo e constrói linguagens próprias para a infância.

Jogos Educativos e Brinquedos 153


Referências
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Elementary School through HCI Concepts. In: HCI INTERNATIONAL
2015. Session: Women in DUXU, Los Angeles, Lecture Notes in Computer
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CAGLIARI, L. C. Alfabetização sem o Bá-Bé-Bi-Bó-Bu. São Paulo:


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KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e educação. São Paulo:


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LIMA, S. S. C. et al. O ensino da dança na educação infantil. Disponível


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VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos


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156 Jogos Educativos e Brinquedos

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