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Método Paulo Freire

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● Paulo Freire, conforme seus relatos, idealizou o
método que levou seu nome porque:
1) não havia material adequado à alfabetização de
adultos na sua época. Basta lembrar que a EJA
no Brasil, de forma institucionalizada, é recente
e nasce de forma mais significativa com as
práticas de P. Freire, embora a constituição de
1934 já houvesse estabelecido a criação de um
Plano Nacional de Educação, que indicava pela
primeira vez a educação de adultos como dever
do Estado, incluindo em suas normas a oferta do
ensino primário integral, gratuito e de frequência
obrigatória, extensiva para adultos.
2) Busca de um jeito mais humano de ensinar-
aprender a ler-e-escrever. As cartilhas da época – a
própria ideia de cartilha – foram muito criticadas por
Paulo Freire. Segundo Brandão (2005, p. 22), “é uma
roupa de tamanho único que serve para todo mundo e
para ninguém”.
Imagine o operário chegando, depois de uma dura
jornada de trabalho, na sala de aula e tendo que
repetir no meio da noite:
“Eva viu a uva.”
“A ave é do Ivo.”
“Ivo vai na roça.”
Essência do Método PF

● O método idealizado por Paulo Freire é descrito


como “vivo”, que “se faz e refaz enquanto se
usa” (BRANDÃO, 2005, p. 14). Ele é, portanto,
criado a cada vez que se usa.
● Esse método é, na verdade, um processo.
● Não há roteiros nem questionários
predeterminados, nem um caminho único para
“formatação” da atuação do educador nesse
método.
O método Paulo Freire
● O primeiro passo desse método é uma pesquisa
simples, sem rigor científico, que Paulo Freire chama
de vários nomes: “levantamento do universo
vocabular”, “descoberta do universo vocabular”,
“pesquisa do universo vocabular”, “investigação do
universo temático”.
● A ideia aqui é entrar em contato com o universo da fala
da gente do lugar. Com um caderno de campo, olhos e
ouvidos atentos, as pessoas do programa (ou
educadores interessados) misturam-se com as da
comunidade.
O método Paulo Freire

● Debate: algumas situações são apresentadas ao


sujeitos em fase de alfabetização com o auxílio
de um coordenador de debate. O debate “será
tanto mais dinâmico quanto mais a informação
corresponda à realidade existencial dos grupos”
(FREIRE, 1991, p. 71).
● O debate deve ser crítico e motivador. “O
analfabeto apreende criticamente a necessidade
de aprender a ler e a escrever. Prepara-se para
ser o agente dessa aprendizagem” (FREIRE,
1991, p. 72).
“[...] a alfabetização é mais que o simples
domínio de técnicas para escrever e ler.
Com efeito, ela é o domínio dessas técnicas
em termos conscientes. É entender o que se
lê e escrever o que se entende. É
comunicar-se graficamente. É uma
incorporação. […]. Implica uma
autoformação da qual pode resultar um
postura atuante do homem sobre seu
contexto” (FREIRE, 1991, p. 72).
Contrário às cartilhas como algo pronto, Freire
busca, por outro lado, um processo de
alfabetização pela conscientização. Para
isso, ele encontra na “redução” das palavras
geradoras fundamentos para a aprendizagem
de uma língua silábica como a nossa. Não há
necessidade de 50, 80 ou mais palavras. 15 ou
18 parecem ser suficientes para esse
processo.
Palavras geradoras: São aquelas que,
decompostas em seus elementos silábicos,
proporciona pela combinação desses
elementos o nascimento de novas palavras.
● As palavras geradoras são selecionadas das
inúmeras frases produzidas pela comunidade
e observadas pelos pesquisadores. Ou, em
uma situação de sala de aula, da fala dos
educandos podem emergir essas palavras.
● As palavras geradoras são o núcleo o
Método Paulo Freire (BRANDÃO, 2005, p.
30).
● Elas devem ser carregadas de carga afetiva
e memória crítica.
Seleção de palavras geradoras
Com o material recolhido na pesquisa, chega-se à
fase de seleção de palavras geradoras, que é feita
com os critérios:
● De riqueza fonética;
● De dificuldades fonéticas (gradativamente de
dificuldades menores a dificuldades maiores);
● Do aspecto pragmático da palavra, que implica
um maior entrosamento da palavra numa
determinada realidade, social, cultural e política.
Palavras geradoras em comunidades
● Exemplo: palavras geradoras escolhidas
em uma favela do RJ: favela, chuva,
arado, terreno, comida, batuque, poço,
bicicleta, trabalho, salário, profissão,
governo, mangue, engenho, enxada, tijolo,
riqueza.
● Em uma comunidade em Cajueiro Seco,
Recife: tijolo, voto, siri, palha, biscate,
cinza, doença, chafariz, máquina,
emprego, engenho, mangue, terra,
enxada, classe.
● Selecionadas as palavras geradoras,
criam-se situações (desenhadas, pintadas
ou fotografadas) nas quais são colocadas
as palavras geradoras em ordem
crescente de dificuldade. Essas situações
funcionam como elementos desafiadores
dos grupos.
● Esse debate torna possível que os
educandos se apropriem das situações,
conscientizando-se delas.
http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfqmwAB/que-metodo-paulo-freire?part=4
Fichas de descoberta
● O exercício seguinte é visualização, e não
memorização, de uma palavra geradora.
● Associa-se na cartela a palavra à situação
representada. Em seguida, aparece a palavra
escrita sem a imagem.
● Apresenta-se a palavra separada em “pedaços” e
as famílias fonéticas que compõem a palavra.
● O momento mais importante é a apresentação das
famílias juntas e, depois da leitura horizontal e
vertical, em que se descobrem os sons, o grupo
começa a síntese oral e a combinação das sílabas
à disposição.
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● Exemplo 1: Exemplo 2:
POVO → PO – VO FAVELA →

PA PE PI PO PU

VA VE VI VO VU

PIPA, VOVO...
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No dia seguinte...
● Terminados os exercícios orais, os
educandos passam a escrever.
● No dia seguinte, trazem de casa, como
tarefa, tantos vocábulos quanto puderam
criar com as sílabas aprendidas.
● Descobre-se o mecanismo de combinações
fonéticas; que a nossa língua é silábica.
● A revisão dos vocábulos deve ser feita
conjuntamente, pelo grupo com auxílio do
educador.
● Gradativamente, pode trabalhar com
frases e textos, acompanhando a
evolução do grupo. Uma ideia dada por
Brandão (2005) é a criação pelos
educandos de histórias ou uma sequência
de “causos” da região, com nomes
comuns na comunidade.
● Na fase de pós-alfabetização, Paulo Freire
projetou a exploração de temas geradores.
Pode-se trabalhar também palavras e temas
geradores conjuntamente.
Exemplos de temas geradores (da pesquisa):
1) A natureza e o homem: o ambiente;
2) O processo produtivo: o trabalho como questão;
3) Relações de trabalho (operário ou camponês);
4) Formas de expropriação: relações de poder;
5) Formas populares de resistência e luta.
“As palavras geradoras são instrumentos
que, durante o trabalho de alfabetização,
conduzem os debates que cada uma delas
sugere e à compreensão de mundo a ser
aberta e aprofundada com os diálogos dos
educandos em torno de temas geradores,
instrumentos de debate de uma fase
posterior do trabalho do grupo.” (BRANDÃO,
2005, p. 39-40).
Capacitação de coordenadores
● A dificuldade maior, segundo Paulo Freire,
está na criação de uma nova atitude, ao
mesmo tempo tão velha no educador: o
diálogo.
● Essa atitude permite que não se faça
domesticação, e sim educação.
● “Entre um mês e meio a dois meses, com
círculos de cultura funcionando de
segunda a sexta (cerca de uma hora e
meia) deixávamos grupos de 25 a 30
homens lendo e escrevendo”.
● Os coordenadores ajudaram na expansão
da companha do Programa Nacional de
Alfabetização de Adultos em quase todas
as capitais brasileiras.
● É preciso frisar que não é suficiente o
conhecimento do método Paulo Freire
para se alfabetizar. É necessário ter uma
boa formação em língua portuguesa, ser
um educador reflexivo para o ensino da
língua.
http://images.comunidades.net/pro/profemarli/paulo_freire.jpg
http://www.colegiomariaester.com.br/images/Filosofia.jpg
https://melgrosscartoons.files.wordpress.com/2013/03/331.jpg
http://www.dinet.tv/img/fotos/mensagem%20de%20motivacao%204.jpg
Referências

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é o método Paulo


Freire. São Paulo: Brasiliense, 2005.

FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 18ª. ed. Rio de


Janeiro: Paz e Terra, 1991.
Slides "Método Paulo Freire", de autoria de
Daniervelin Pereira, membro do projeto
REALPTL, estão licenciado com uma Licença
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