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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília - Campus Brasília

Licenciatura em Dança
História da Dança no Brasil
Discente Mariana Francisquini Martins

Em “Profetas da Selva” é possível notar a presença de elementos da dança


Xondaro, os pés em constantes passos que vão para frente e para trás, os braços
soltos, os giros, os encontros entre duas pessoas ao centro e os movimentos que
lembram animais e confrontos. Na dança Xondaro, há o viés ritualístico xamânico, a
música marca os movimentos e se envolve com os indivíduos na roda. Na
performance, os dançarinos estão em sincronia e colocam o elemento da cabeça
que acompanha o movimento dos giros, além dos braços terem movimentos mais
alongados que giram junto ao corpo também, o que difere da dança tradicional,
onde eles não se encontram em estado de presença de cena, nem devem se
preocupar com isso. Os dançarinos parecem estabelecer um jogo entre eles, que se
torna mais intenso ao longo da apresentação, até trazerem apenas elementos da
dança contemporânea. Os dançarinos estão utilizando pintura corporal, não vista no
vídeo sobre a dança Xondaro.
Quarup é nome de um tronco de árvore em que os povos indígenas da região do
Xingu utilizam em um ritual de homenagem aos que se foram. O ritual já inicia na
procura pela árvore, ao encontrarem, utilizam gritos repetidos. Durante o ritual eles
fazem movimentos ritmados com os pés, utilizam gritos, fazem um ritual da fogueira
e uma luta, que consiste em derrubar o outro, além das pinturas corporais e
adereços. No espetáculo “Kuarup” é possível notar a presença dos gritos logo ao
início e posturas em nível médio. Eles utilizaram elementos dos passos ritmados do
movimento tradicional, porém em outra estrutura. Há a presença da luta na cena,
bem parecida com os movimentos da luta tradicional, além da música constante.
Não utilizam elementos como a pintura corporal, mas se apropriam das roupas e
adereços indígenas na metade do espetáculo.
Mesmo com a melhor das intenções, é difícil não ficar incomodada com a
comparação entre trabalhadores e indígenas em um espetáculo só. Além disso, me
pergunto sobre o laboratório que os dançarinos passaram para a realização da
cena, até mesmo se os próprios indígenas estavam cientes desta performance, o
que eles acham/achariam enquanto povo? Existem dançarinos indígenas ali? O fato
de trazer algo brasileiro para o palco é o suficiente para esquecer que a população
geral trata estes povos como “exóticos”? Apenas perguntas. Levar a referência
indígena para o palco como Kuarup o fez, deu a entender uma insensibilidade aos
povos, aos genocídios e a cultura. Não traz sensação de homenagem ou crítica,
trouxe desconforto. E é um clássico brasileiro, óbvio.

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