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2. Cirandas.
Embora a ciranda brasileira conserve muitas características das antigas Cirandas portuguesas, ela é
praticada em nosso país em diferentes formas e modalidades. Enquanto em Portugal ela se
consagrou como uma autêntica dança de adultos, no Brasil ela é vista ora como dança infantil ou
roda cantada, ora como dança de adultos (LOUREIRO; LIMA, 2013, p. 396).
De acordo com a ASFLAG (2012), a ciranda de roda se iniciou com as festas de escravos nas
fazendas. Ao redor da fogueira, brincavam com cantos e versos. A partir da autorização de coronéis, os
escravos brincavam com as fazendas vizinhas e formavam grandes cirandas, até que se espalharam e hoje
fazem parte de nossa cultura brincante.
No movimento brincante, vemos a organização do Mestre que conduz a ciranda e do
Contramestre que auxilia o mestre e, por vezes, o acompanha com um tambor. Os instrumentos de
percussão que mais se utilizam nas cirandas são: ganzá (mestre), bumbo e/ou caixa (contramestre).
Dentre os vários tipos de cirandas de adultos, podemos destacar o coco de roda, as cirandas de
embolada, cirandas das praias, em baião, ciranda de folia. Enfim, são várias denominações que variam de
acordo com os movimentos corporais pré-estabelecidos (passos coreografados), vestimentas, ritmos,
andamentos musicais e local onde ela foi/é praticada.
As similaridades entre elas são bem tênues. Perceba, por exemplo, como a ciranda de coco se
parece com o baião. Acesse aqui o vídeo de brincadeiras da Palavra Cantada com a música “Ciranda”.
As cirandinhas são misturas entre adultos e crianças. Veja aqui a cirandinha de “Ciana”, em Alagoa
Grande, Paraíba. Percebam o Mestre e o Contramestre e, também, as perguntas e respostas musicais e
ainda as interações entre crianças e adultos.
Já as cirandas infantis são brincadas por meio de cantigas de roda.
3. Cantigas de Roda
As cantigas são estritamente orais e você já deve perceber que há diversas variações de suas
letras. Por exemplo, vamos olhar a letra da cantiga “De abóbora, faz melão”1.
Na letra, identificamos uma mudança pequena, mas que fará diferença na rítmica e melodia ao
ser cantada e brincada. Na Unidade 3, veremos algumas variações mais profundas advindas de diferentes
regiões do Brasil.
Você mesmo poderá ter uma terceira versão da letra dessa cantiga! Essas variações ocorrem, pois
a cultura é viva, feita por seres que estão em um processo vivo de permanente criação.
A forma musical é que prevalece nas cantigas. A saber, temos uma brincadeira de perguntas e
respostas melódicas, rítmicas e harmônicas que influenciam diretamente nos movimentos da roda (abrir e
fechar, divisão por pares ou rodopios no lugar).
Considere então, a cantiga “Samba lê lê”.
1
Letra da música “De abóbora, faz melão” disponível em: http://mapadobrincar.folha.com.br/brincadeiras/roda/599-de-
abobora-faz-melao, e a variação da letra, disponível em: http://mapadobrincar.folha.com.br/brincadeiras/roda/ .
Fonte: BRITO, 2003 p. 115.
As quadras são formadas por perguntas e respostas. Esse padrão aparece na rítmica, na melodia e
no texto literário.
Aprecie também algumas cantigas de roda populares do Vale do Jequitinhonha e tente encontrar
esses padrões discursivos.
Acesse aqui o documentário produzido pelo Projeto Infâncias, gravado no Vale do Jequitinhonha.
Para Warschauer (1993), a roda é um lugar sagrado onde as diferenças dialogam de maneira
saudável, cada uma com suas próprias histórias de vida e modos de pensar – fazendo cultura juntas!
Como dizem os brincantes: Vamos cantar a roda!
4. Considerações Finais.
Sabendo que o corpo na roda, seja ela uma ciranda de adultos ou uma cantiga de roda, se
manifesta culturalmente, expressivamente e socialmente, esperamos que você as utilize em suas práticas
musicais pedagógicas.
Na Unidade 3, poderá ter acesso às competências básicas necessárias ao educador para trabalhar
com jogos e brincadeiras musicais no ensino: adaptações e escolha de repertório.
5. Referências.
ASFLAG. Ciranda de roda. Matéria divulgada pela Associação Folclórica de Sergipe – Pernambuco, 2012.
Disponível em: <http://asflag.blogspot.com.br/2012/06/samba-de-roda-no-ano-de-1817-no-norte.html>.
Acesso em: mar. 2018.
BRASIL. Ministério da Educação. Referencial curricular nacional da educação infantil. Brasília, DF: MEC,
1998. v. 3. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf>. Acesso em: 16 jul.
2014.
BRITO, T. A música na educação infantil: propostas para a formação integral da criança. 2. ed. São Paulo:
Peirópolis, 2003.
LIRA, S. Caiana dos crioulos: ciranda e coco de roda. Publicado em 21 de maio de 2011. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=iOibdbrM378>. Acesso em: mar. 2018. Finalidade: Acadêmica.
LOUREIRO, M. A.; LIMA, S. R. A. de. As cirandas brasileiras e sua inserção no ensino fundamental e nos
cursos de formação de docentes. Todas as Musas, São Paulo, ano 04, n. 02, Jan/Jun. 2013. Disponível em:
<https://www.todasasmusas.org/08Maristela_Loureiro.pdf>. Acesso em: ago. 2018
PALAVRA CANTADA. Palavra Cantada: Ciranda de Coco. Publicado em 12 de dez de 2013. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=T18tbTP2u_o>. Acesso em: abr. 2018. Finalidade: Acadêmica.
PAULINO, L. V. Danças circulares. Vídeo de Introdução e Histórico sobre o Movimento das Danças
Circulares. Apresentado como TCC do II Curso de Tanatologia da USP - 2008. Parte I. Publicado em 14 de
out de 2009. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=q5MLKbRkQuo>. Acesso em 23 mar.
2018. Finalidade: Acadêmica.
ROMEU, G. Cantiga de roda. Projeto “Infâncias”. Publicado em 19 de maio de 2013. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=ChzTt0mm-U4>. Acesso em: mar. 2018. Finalidade: Acadêmica.
WARSCHAUER, C. A roda e o registro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.
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rodas de Mariana Barbosa Ament está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-
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