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Jogos e Brincadeiras Musicais

Unidade 2 - O corpo na brincadeira:


a utilização das cirandas e cantigas de rodas

Professora: Mariana Barbosa Ament

Realização: Secretaria Geral de Educação a Distância da Universidade Federal de São Carlos


1. Introdução.
Caro(a) aluno(a),
Nesta unidade abordaremos a importância da utilização consciente do corpo na brincadeira,
tomando como exemplo as cirandas e cantigas de roda – herança de nossa cultura brasileira.
Vejam que o movimento é parte constituinte da expressão humana. Se entendemos a brincadeira
como uma ação de direito ao ser, a expressão é parte igualmente importante.
As manifestações coletivas, nas quais as expressões são a base da prática comunitária,
acompanham o desenvolvimento da humanidade. Encontramos cantigas de roda desde a Idade Média,
Renascença, até os tempos atuais.
No documentário “Introdução e Histórico sobre o Movimento das Danças Circulares”, de Paulino
(2009), podemos ver que o mundo se guia, se constrói e se transforma por meio do movimento. Somos
seres repletos de movimentos rítmicos dos órgãos e necessitamos expressá-los nas diversas formas de
interações que temos em sociedade, dentre elas, as canções, cantigas de roda e brincadeiras.
A tradição oral brasileira nos deu de presente centenas de canções, nas quais as formas musicais e
a poética são cheias de movimento. Afinal, eram nas festas, folguedos e bailes, durante a dança, que a
música e a brincadeira aconteciam já repletas de expressão corporal.
Enquanto educadores, temos o dever de valorizar, apresentar e experimentar com nossos alunos:
brincar de roda, ciranda, pular corda, amarelinha etc. Segundo o Referencial Nacional para a Educação
Infantil (BRASIL, 1998), essas brincadeiras são maneiras de estabelecer contato consigo próprio e com o
outro, de se sentir único e, ao mesmo tempo, parte de um grupo, e de trabalhar com as estruturas e
formas musicais que se apresentam em cada canção e em cada brinquedo (BRASIL, 1998, p. 71). Essas
ações desenvolvem a expressão e o gosto pela música.
São muitas as manifestações culturais por meio do movimento e da brincadeira. Portanto, para
este momento de aprendizado, focaremos nas cantigas de roda e cirandas por contemplarem todas as
faixas etárias.

2. Cirandas.
Embora a ciranda brasileira conserve muitas características das antigas Cirandas portuguesas, ela é
praticada em nosso país em diferentes formas e modalidades. Enquanto em Portugal ela se
consagrou como uma autêntica dança de adultos, no Brasil ela é vista ora como dança infantil ou
roda cantada, ora como dança de adultos (LOUREIRO; LIMA, 2013, p. 396).

Você sabe que a ciranda é uma dança de adultos?


Pois é! Aprecie a imagem da ciranda de roda da Associação Folclórica de Lagarto (ASFLAG):
Figura 1: Ciranda de Roda.

Fonte: ASFLAG, 2012.

De acordo com a ASFLAG (2012), a ciranda de roda se iniciou com as festas de escravos nas
fazendas. Ao redor da fogueira, brincavam com cantos e versos. A partir da autorização de coronéis, os
escravos brincavam com as fazendas vizinhas e formavam grandes cirandas, até que se espalharam e hoje
fazem parte de nossa cultura brincante.
No movimento brincante, vemos a organização do Mestre que conduz a ciranda e do
Contramestre que auxilia o mestre e, por vezes, o acompanha com um tambor. Os instrumentos de
percussão que mais se utilizam nas cirandas são: ganzá (mestre), bumbo e/ou caixa (contramestre).
Dentre os vários tipos de cirandas de adultos, podemos destacar o coco de roda, as cirandas de
embolada, cirandas das praias, em baião, ciranda de folia. Enfim, são várias denominações que variam de
acordo com os movimentos corporais pré-estabelecidos (passos coreografados), vestimentas, ritmos,
andamentos musicais e local onde ela foi/é praticada.
As similaridades entre elas são bem tênues. Perceba, por exemplo, como a ciranda de coco se
parece com o baião. Acesse aqui o vídeo de brincadeiras da Palavra Cantada com a música “Ciranda”.
As cirandinhas são misturas entre adultos e crianças. Veja aqui a cirandinha de “Ciana”, em Alagoa
Grande, Paraíba. Percebam o Mestre e o Contramestre e, também, as perguntas e respostas musicais e
ainda as interações entre crianças e adultos.
Já as cirandas infantis são brincadas por meio de cantigas de roda.
3. Cantigas de Roda
As cantigas são estritamente orais e você já deve perceber que há diversas variações de suas
letras. Por exemplo, vamos olhar a letra da cantiga “De abóbora, faz melão”1.

Letra de música Variação da letra


"De abóbora faz melão "De abóbora faz melão
De melão faz melancia De melão faz melancia
Faz doce, sinhá (2x) Faz doce, sinhá (2x)
Faz doce de cocadinha Faz doce sinhá Maria
Quem quiser aprender a dançar Quem quiser dançar
Vai na casa do Juquinha (2X) Vai na casa do Juquinha (2X)
Ele pula, ele roda (pulam, depois giram) Ele pula, ele roda (pulam, depois giram)
Ele faz requebradinha" (rebolam) Ele faz requebradinha" (rebolam)

Na letra, identificamos uma mudança pequena, mas que fará diferença na rítmica e melodia ao
ser cantada e brincada. Na Unidade 3, veremos algumas variações mais profundas advindas de diferentes
regiões do Brasil.
Você mesmo poderá ter uma terceira versão da letra dessa cantiga! Essas variações ocorrem, pois
a cultura é viva, feita por seres que estão em um processo vivo de permanente criação.
A forma musical é que prevalece nas cantigas. A saber, temos uma brincadeira de perguntas e
respostas melódicas, rítmicas e harmônicas que influenciam diretamente nos movimentos da roda (abrir e
fechar, divisão por pares ou rodopios no lugar).
Considere então, a cantiga “Samba lê lê”.

Figura 2: Partitura Samba Lê Lê

1
Letra da música “De abóbora, faz melão” disponível em: http://mapadobrincar.folha.com.br/brincadeiras/roda/599-de-
abobora-faz-melao, e a variação da letra, disponível em: http://mapadobrincar.folha.com.br/brincadeiras/roda/ .
Fonte: BRITO, 2003 p. 115.

As quadras são formadas por perguntas e respostas. Esse padrão aparece na rítmica, na melodia e
no texto literário.
Aprecie também algumas cantigas de roda populares do Vale do Jequitinhonha e tente encontrar
esses padrões discursivos.
Acesse aqui o documentário produzido pelo Projeto Infâncias, gravado no Vale do Jequitinhonha.
Para Warschauer (1993), a roda é um lugar sagrado onde as diferenças dialogam de maneira
saudável, cada uma com suas próprias histórias de vida e modos de pensar – fazendo cultura juntas!
Como dizem os brincantes: Vamos cantar a roda!

4. Considerações Finais.
Sabendo que o corpo na roda, seja ela uma ciranda de adultos ou uma cantiga de roda, se
manifesta culturalmente, expressivamente e socialmente, esperamos que você as utilize em suas práticas
musicais pedagógicas.
Na Unidade 3, poderá ter acesso às competências básicas necessárias ao educador para trabalhar
com jogos e brincadeiras musicais no ensino: adaptações e escolha de repertório.

5. Referências.
ASFLAG. Ciranda de roda. Matéria divulgada pela Associação Folclórica de Sergipe – Pernambuco, 2012.
Disponível em: <http://asflag.blogspot.com.br/2012/06/samba-de-roda-no-ano-de-1817-no-norte.html>.
Acesso em: mar. 2018.
BRASIL. Ministério da Educação. Referencial curricular nacional da educação infantil. Brasília, DF: MEC,
1998. v. 3. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf>. Acesso em: 16 jul.
2014.
BRITO, T. A música na educação infantil: propostas para a formação integral da criança. 2. ed. São Paulo:
Peirópolis, 2003.
LIRA, S. Caiana dos crioulos: ciranda e coco de roda. Publicado em 21 de maio de 2011. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=iOibdbrM378>. Acesso em: mar. 2018. Finalidade: Acadêmica.
LOUREIRO, M. A.; LIMA, S. R. A. de. As cirandas brasileiras e sua inserção no ensino fundamental e nos
cursos de formação de docentes. Todas as Musas, São Paulo, ano 04, n. 02, Jan/Jun. 2013. Disponível em:
<https://www.todasasmusas.org/08Maristela_Loureiro.pdf>. Acesso em: ago. 2018
PALAVRA CANTADA. Palavra Cantada: Ciranda de Coco. Publicado em 12 de dez de 2013. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=T18tbTP2u_o>. Acesso em: abr. 2018. Finalidade: Acadêmica.
PAULINO, L. V. Danças circulares. Vídeo de Introdução e Histórico sobre o Movimento das Danças
Circulares. Apresentado como TCC do II Curso de Tanatologia da USP - 2008. Parte I. Publicado em 14 de
out de 2009. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=q5MLKbRkQuo>. Acesso em 23 mar.
2018. Finalidade: Acadêmica.
ROMEU, G. Cantiga de roda. Projeto “Infâncias”. Publicado em 19 de maio de 2013. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=ChzTt0mm-U4>. Acesso em: mar. 2018. Finalidade: Acadêmica.
WARSCHAUER, C. A roda e o registro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.
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