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[...] uma transição da “economia da fome” para a “economia da gula” nas sociedades
contemporâneas; enquanto países ricos constituem sociedades gulosas, os pobres ainda
se debatem em sociedades famintas. Expõe a diferença entre as estratégias orientais e
ocidentais de se entender e para se combater a fome: enquanto nós ocidentais matamos a
fome comento, os sábios orientais ensinariam que quanto mais se come, tanto mais
faminto se estará, pois a fome é um desejo e os desejos crescem quando são satisfeitos
(BAITELLO JUNIOR, 2010, p. 13-14).
A gula, portanto, seria a forma de devoração excessiva, que não apenas produz excesso
de excrementos, mas que passa a devorá-los igualmente, tal qual já faz com a natureza.
Torna-nos tão dependentes da devoração que já uma reversão do processo: são os
excrementos que devoram seus devoradores. Tal reversão já está presente na
antropofagia ritual, segundo a qual não somos nós comedores os agentes ou sujeitos de
uma ação, mas ao contrário, ao comermos um pedaço de carne ou um pedaço de pão,
estamos sendo devorados pelos mesmos, sucumbindo à força de sua materialidade e de
sua imaterialidade, de seu sabor e de seus saberes, diante dos quais apenas somos um
elo a alimentar uma história (BAITELLO JUNIOR, 2010, p. 38-39).