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IMPACTO SONORO CAUSADO PELO NÚCLEO COMERCIAL DA FEIRINHA DO TABULEIRO E A SUA RELAÇÃO

COM A PERCEPÇÃO ACÚSTICA DOS USUÁRIOS.

INTRODUÇÃO REFERENCIAL TEÓRICO


Desde seu surgimento as feiras livres são pontos de convergência. “No Brasil, Com este embasamento teórico foi possível fundamentar a temática e
essa atividade, durante muito tempo foi o aporte do abastecimento de alimentos dos povoados, sendo alicerçar a compreensão dos principais conceitos acerca do estudo. Para isto foi realizado
assim, responsável pelo surgimento de diversos núcleos de povoamento urbano no país.” estudos a respeito do som e sua propagação; do Ruído e a Cidade; das normativas nacionais
(BARBOSA; SOUZA FILHO; SOUZA, 2011.) Destaca-se, portanto, a importância urbana desse e legislações a respeito do ruído. Além de tomar conhecimento sobre a Cidade de Maceió, a
núcleo comercial para o desenvolvimento dos espaços da cidade. poluição sonora e as feiras do município, assim como, o bairro do Tabuleiro do Martins.
Seu funcionamento possibilita a realização das mais diversas atividades
comerciais e muda o cenário sócio espacial local. Como consequência a estas transformações urbanas MATERIAIS E MÉTODOS
surgem novas problemáticas, sendo uma das principais o ruído urbano. ETAPA 01: Seleção e caracterização física da área de estudo:
Figura 01: Mapa síntese da localidade Feirinha do Tabuleiro e do recorte escolhido.
De acordo com Pereira (2014), a poluição sonora é hoje um dos principais
problemas ambientais, causando à população uma série de problemas fisiológicos, como estresse,
dores de cabeça e surdez. Dessa forma, nota-se a necessidade de realizar diagnósticos sonoros da
cidade, afim de acompanhar suas modificações e propor soluções quanto ao comportamento acústico.
Para este estudo foi escolhida a feira do Tabuleiro, atualmente, uma das maiores
feiras do Estado. Composta por 800 comerciantes, além de ambulantes instalados ao seu redor, a feira
atrai ao bairro novos comércios e intensifica fluxos de pedestres e veículos. Comportando-se assim,
como um polo gerador de ruído para a localidade.
Objetivo Geral:
Analisar o impacto sonoro causado pelo núcleo comercial da Feirinha do
Tabuleiro e a sua relação com a percepção acústica dos seus usuários.
Objetivos específicos:
• Conhecer os tipos de uso do solo das edificações existentes na circunvizinhança e sua relação com
o ruído;
• Observar o tráfego local como possível gerador de ruído;
Autora: Base cartográfica de Maceió, 2000. Adaptado pela autora, 2018
• Conhecer e verificar se as normas de conforto acústico estão sendo respeitadas; A delimitação da área de estudo utilizou um raio de 450m a partir do ponto
• Relacionar a percepção acústica dos usuários quanto o impacto sonoro causado pela Feirinha do central da Feira (Trevo) a fim de contemplar os mais diferentes cenários sem que houvesse um
Tabuleiro e sua subcentralidade. distanciamento exagerado do ponto Central (em frente a feira livre).

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS ANA CAROLINE ARAÚJO FERREIRA DA SILVA


FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO ORIENTADORA: MARIA LÚCIA G. DA ROSA OITICICA 1/4
IMPACTO SONORO CAUSADO PELO NÚCLEO COMERCIAL DA FEIRINHA DO TABULEIRO E A SUA RELAÇÃO
COM A PERCEPÇÃO ACÚSTICA DOS USUÁRIOS.

MATERIAIS E MÉTODOS ETAPA 03: ANÁLISES E DIAGNÓSTICO ACÚSTICO OBJETIVO


ETAPA 04: COMPILAÇÃO DE DADOS E MAPEAMENTO SONORO;
ETAPA 02 - PROCEDIMENTOS DE MEDIÇÃO DO 2.1 - Escolha dos pontos de medição: Os
ETAPA 05: AVALIAÇÃO SUBJETIVA.
NÍVEL DE PRESSÃO SONORA: pontos serão escolhidos levando em
Figura 02: Localização dos pontos de medição.
consideração alguns fatores: análise do RESULTADOS E DISCUSSÕES
uso do solo; observações da malha viária; ANÁLISES E DIAGNÓSTICO ACÚSTICO OBJETIVO:
fluxos de pedestres e veículos; dinâmicas • ANÁLISE PONTO A PONTO:
espaciais. Foram estabelecidos 10 pontos A análise ponto a ponto foi sintetizada em 10 fichas individuais que mostra

para medição (Figura 02). como cada ponto se comporta, como é seu entorno, quais são as suas principais características, seu
comportamento sonoro através das médias obtidas (Laeq) e o tráfego de veículos que a região
2.2 – Determinação dos dias e horários:
recebeu durante as medições da mesma. Ressalta que cada ficha foi elaborada pela autora deste
Esta escolha foi para mapear sonoramente
LEGENDA estudo. PONTO 03 – AVENIDA MACEIÓ, TREVO
cenários distintos da feirinha do  PONTO CENTRAL DA FEIRINHA DO
VISTA PANORÂMICA DO PONTO DE MEDIÇÃO

TABULEIRO;

Tabuleiro. Foram escolhidos quatro dias O ponto que 



EM FRENTE À FEIRA LIVRE;
PRESENÇA DE AÇOUGUES NA
PROXIMIDADE;
 EXISTE CAIXA DE SOM DA RÁDIO DA SEM FEIRA
Pontos de medição
da semana (Segunda – Feira; Quarta – apresentou o pior valor do nível de 
FEIRINHA NO LOCAL;
USO COMERCIAL PREDOMINANTE.
Fonte: Base cartográfica de Maceió, 2000. Adaptado pela autora, 2018. QUANTITATIVO VEICULAR POR TURNO:

Pontos de medição Feira, Sábado e Domingo) e quatro pressão sonora obtido foi o ponto 3,
COM FEIRA

MANHÃ
1 Av. Maceió 6 Rua Cel. Floriano Pimentel
horários (07:30h-9:30h; 10:00h-12:00h; localizado na Av. Maceió. Já o menor PERFIL DE USO DO SOLO - ENTORNO
2 Travessa José Carnaúba 7 Rua Santa Catarina LEGENDA
Residencial
3 Av. Maceió - Trevo 8 Rua Santa Luzia 13:00h-15:00h e 15:30h-17:30h) através impacto sonoro ficou por conta do ponto Comércio

Av. Maceió – em frente ao Cesta de Av. Maceió - atrás do Mercado Misto

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de observações no local e relatos quanto à 7, localizado na Rua Santa Catarina. Serviço
Alimentos Público Institucional

TARDE
Cruzamento Av. Maceió/ Rua Santa
10 Rua da Paz dinâmica diária da feira. O ponto 3 encontra- Área Verde
5 Vazio
Luzia
2.2 – Realização das medições sonoras: se no ponto central da localidade Feirinha
GRÁFICO DOS VALORES REGISTRADOS EM dB (A)

As medições sonoras foram realizadas com o aparelho de medição Solo 01 dB do Tabuleiro e recebe interferências

por um período de 5 min. A cada medição, todos os veiculos que circulavam no local eram ruidosas provenientes dos feirantes,

contabilizados. Ademais as diretrizes existentes na NBR 10151(ABNT, 2000) foram respeitadas: o ambulantes, “flanelinhas”, caixas de som

aparelho deve ficar a 1,2m do solo e a 2,0m de distância de qualquer barreira vertical; da rádio local, carros de som e do tráfego

Para cada ponto foi determinado um nível de pressão sonora a ser respeitado de veicular, chegando a apresentar 81,4

acordo com o uso do solo. Os valores foram estabelecidos de acordo com a NBR 10151 (ABNT, dB(A) aos domingos pela manhã.

2000). Sendo 55 dB(A) – área mista com predominância residencial e 60dB(A) – área mista com
MANHÃ TARDE

vocação comercial.

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COM A PERCEPÇÃO ACÚSTICA DOS USUÁRIOS.
PONTO 07 – RUA SANTA CATARINA Gráfico 02: Gráfico síntese dos níveis de pressão sonora obtidos em todos os dias da semana e em seus respectivos turnos
VISTA PANORÂMICA DO PONTO DE
MEDIÇÃO
Similar a o ponto 03, o
 PONTO PREDOMINANTEMENTE


RESIDENCIAL;
POUCA VITALIDADE; ponto 4 (localizado na Av. Maceió) apresenta
 RESIDENCIAS CERCADAS POR MUROS E
LARGAS CALÇADAS;
SEM FEIRA
uma escola no entorno, cujo recomendação
QUANTITATIVO VEICULAR POR TURNO:

(NBR 10152, 1987) é de 45-55 db(A) nas áreas


COM FEIRA
MANHÃ

PERFIL DE USO DO SOLO - ENTORNO


LEGENDA
de circulação e o ponto chega a obter 81dB(A).
Residencial

Comércio Dessa forma, a única barreira entre o ponto e a


Misto

Serviço escola, o muro deveria isolar 26dB(A). O que, a


TARDE

Institucional

Área Verde
partir da análise do material: Alvenaria de
Vazio

GRÁFICO DOS VALORES REGISTRADOS EM dB (A) tijolos de barro por si só não conseguiria.
No ponto 7 (ficha
descritiva ao lado) apesar dos valores estarem Fonte: A autora, 2018.
Todos os dias e turnos apresentam valores acima do permitido na NBR
um pouco acima do permitido foi possível notar
10151 (ABNT, 2000) com exceção da quarta pela manhã. Durante a semana os valores tem uma
durante as medições uma rua tranquila e
conformidade, diferentes dos fins de semana que apresentam maiores variações e senários
silenciosa. Os valores médios obtidos (Laeq)
opostos em um mesmo dia, como domingo pela manhã e pela tarde.
teve como principal justificativa o tráfego de
COMPILAÇÃO DE DADOS E MAPEAMENTO SONORO:
veículos.
MANHÃ TARDE Tabela: Tabela síntese dos valores em Laeq obtidos. • Todos os níveis de
Nível de pressão sonora Laeq em dB (A) em cada ponto e período
• ANÁLISE DIÁRIA - Os dias da semana, os turnos e as medições sonoras: DIAS/HORÁRIOS
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 pressão sonora médios
Segunda-feira (Manhã) 72 70.15 73.5 73 76.8 70.65 57.85 73.2 69.2 63.8
Gráfico 01: Quantitativo veicular por dia medido.
Segunda-feira (Tarde) 70.85 71.85 79 75.2 77 68 60.8 74.5 72.7 66.35
Quarta-feira (Manhã) 69.65 71.25 73.25 76.05 77.5 58 66.5 76.45 69.75 63.5 (Laeq) em dB (A) foram
O ruído local é originado dos Quarta-feira (Tarde) 75.05 69 77.75 73 78.5 68.95 64.75 74.6 76.05 67.55
Sábado (Manhã)
Sábado (Tarde)
73.55
72.15
73.9
71.6
78.85
79.15
80.95
73.35
78.9
76.1
64.4
71.7
61.95
67.5
74.25
73.1
74.6
71.7
62.1
69.2
compilados nas tabelas.
comércios, carros de som e pela Domingo (Manhã) 72.3 71.5 81.4 76.6 73.65 61.8 63.3 69.45 75.3 63.3
Domingo (Tarde) 69.3 67.95 72.2 69.45 73.05 66 59.4 77.15 69.2 62.9 • A cada ponto foi
pessoa física (usuários), entretanto NBR 10151 55 60 60 60 60 60 55 55 60 55

Maior valor obtido em cada ponto selecionado o maior e o


grande parte advém do tráfego de Menor valor obtido em cada ponto
Nível de pressão sonora Laeq em dB (A) em cada ponto e período
menor valor obtido a fim
veículos. Dessa forma, para uma visão DIAS/HORÁRIOS
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10
Sábado (Manhã) 73.55 73.9 78.85 80.95 78.9 64.4 61.95 74.25 74.6 62.1 de identificar o pior e o
geral do comportamento desta fonte o Sábado (Tarde)
NBR 10151
72.15
55
71.6
60
79.15
60
73.35
60
76.1
60
71.7
60
67.5
55
73.1
55
71.7
60
69.2
55
melhor cenário sonoro
gráfico 1 expões o número médio de Fonte: A autora, 2018.
para o desenvolvimento
veículos computados durante as PIOR CENÁRIO MELHOR CENÁRIO
do mapa de ruído.
medições nos pontos avaliados. SÁBADO DE MANHÃ DOMINGO TARDE

Fonte: A autora, 2018.

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• MAPEAMENTO SONORO: AVALIAÇÃO SUBJETIVA: questionários respondido pelos usuários da feira do Tabuleiro.
Figura 07: Mapa de ruído do recorte estudado nos dois cenários: mais ruidoso e menos ruidoso. Figura 08: Modelo questionário aplicado.
Foram entrevistados 30 pessoas, 15
feirantes/comerciantes e 15 usuários;
• A Feira é barulhenta?

83%: sim
17%: não = (10,2% feirantes e 6,8%
consumidores);

• Isto lhe incomoda?


70% afirma que não, 20% se sente
muito incomodado e 10% pouco
Fonte: A autora, 2018. incomodado
O resultado final dos questionários confronta os resultados técnicos e
normativos apresentados até aqui e afirma que a percepção sonora dos indivíduos recebe influência
tanto da visão individual a respeito do comportamento do espaço analisado, visto que, para muitos
o uso do espaço para vendas já pressupõe barulho quanto de suas relações econômicas ou

identitárias com o local como demonstra relatos: “Barulho? Não, se não tiver barulho não tem

venda”; “A feira não é barulhenta não, sem barulho não tem feira”.

Fonte: A autora, 2018. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Aos sábados pela manhã a feira funciona em sua totalidade, já aos domingos à Apesar dos sons serem considerados ruído diante dos parâmetros
tarde a localidade comercial fecha completamente. Em ambos os cenários o ponto central da Feira exclusivamente objetivos alcançados através de medidores sonoros, a percepção dos usuários o
do Tabuleiro (1), apresenta impacto similar, o aumento no domingo deve-se a movimentação caracteriza-os apenas como um som devido ao não incômodo dos seus usuários e correlaciona a
veicular para carga e descarga. Ao longo da Av. Maceió (2), observa-se um impacto com níveis de existência do mesmo a existência da feira. Ademais as regiões com concentração residencial não
pressão sonora menor, chegando a registrar uma variação de aproximadamente 10dB (A) durante o sofrem interferência sonora por parte das feiras em contraponto com os pontos localizados no
funcionamento e o não funcionamento da feira. A região de maior concentração residencial (4) tem centro comercial que apresentam os maiores valores sonoros obtidos. Afirma-se que o estado tem
o mesmo comportamento acústico independente da feira do Tabuleiro. Observa-se que quando a por dever garantir a qualidade de vida da população. Para uma cidade sonoramente saudável é
feira fecha os locais mais críticos são transferidos para as vias de maior tráfego, como o caso da Rua necessário fiscalização e estudos a fim de definir a melhor intervenção para solucionar o
Santa Luzia (3). Em contrapartida Travessa José Carnaúba registra quantitativos veiculares maiores problema. O desenvolvimento do mapa de ruído permite aos órgãos gestores melhor visualização
quando a feira encontra-se em funcionamento, o que ressalta a interferência do comércio no tráfego. e setorização deste ruído no espaço da cidade, sendo assim, ferramenta indispensável.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS ANA CAROLINE ARAÚJO FERREIRA DA SILVA


FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO ORIENTADORA: MARIA LÚCIA G. DA ROSA OITICICA 4/4

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