Cascavel, 1 de agosto de 2021. Prezado senhor editor, Segundo o epicurismo — uma corrente filosófica helenística —, a comida era considerada um prazer natural e necessário. Nesse sentido, parece-me que a relação hodierna das pessoas com os alimentos tornou-se ainda mais complexa, envolvendo, por exemplo, a obesidade. Isso posto, prezado editor, interessei-me pelo texto "Obesidade: um problema individual ou social?", de Marta Jaramillo Cardona, publicado no site "latinoamérica21.com", visto que discute a responsabilização — subjetiva ou coletiva — dessa condição, a qual, a meu ver, deve-se a ambos os agentes. Inicialmente, a autora problematiza a valorização do famigerado "indivíduo autônomo e autorregulado" e de certos discursos midiáticos similares, responsáveis por culpabilizar inteiramente o sujeito pela obesidade — o qual, na minha visão, possui apenas parcela da culpa. Dessa forma, caro editor, entendo que embora não seja possível dissociar as escolhas individuais de tal excesso de peso, é fundamental ampliar e sensibilizar o olhar para essa questão. Afinal, para além dos fatores genéticos, reconheço que a dieta e o sedentarismo atrelados à obesidade, por vezes, decorrem de problemas de acessibilidade, uma vez que produtos industrializados são, em geral, mais baratos em detrimento aos orgânicos — bem como a outros gastos para praticar exercícios físicos. Ainda em relação ao texto, o termo "globesidade" é citado para conferir o caráter mundial — e, por conseguinte, coletivo — de obesidade. Nessa ótica, vale acrescentar que o desenvolvimento capitalista da sociedade de consumo, para mim, pode ser relacionado ao excesso de peso, já que conforme o sociólogo de Frankfurt, Theodor Adorno, tudo pode ser convertido em mercadoria — inclusive a comida. Como resultado, prezado senhor, a publicidade e o status de certas marcas e alimentos influenciam os hábitos alimentares populacionais — positiva ou negativamente — evidenciando, na minha opinião, tendências artificiais de comportamentos exteriormente produzidos. Como última análise, considero imperativo compreender a obesidade como resultado conjunto de fatores internos e externos ao indivíduo. Portanto, senhor editor, concordo com Cardona ao atribuir importância à "institucionalização da obesidade, como um problema de saúde pública", de modo a aperfeiçoar o tratamento — médico e social — destinado às pessoas com obesidade. Assim, os direitos à alimentação e à saúde — previstos pela Constituição Federal de 1988 — poderão ser melhor conciliados. Atenciosamente, Maria