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Transformações de tensão e deformação 7.9.

Tensões em vasos de pressão de paredes finas


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Os vasos de pressão de paredes finas consistem em uma importante apli-
cação de análise do estado plano de tensão. Como suas paredes oferecem
pouca resistência à flexão, pode-se supor que os esforços internos que atuam
em determiando parte da parede sejam tangentes à superfície do vaso (Fig.
7.48). As tensões resultantes em um elemento da parede estarão contidas em
um plano tangente à superfície do vaso.
Nossa análise de tensões em vasos de pressão de paredes finas será li-
mitada aos dois tipos de vasos encontrados com maior frequência: vasos de
Fig. 7.48
pressão cilíndricos e vasos de pressão esféricos (Figs. 7.49 e 7.50).

Fig. 7.49
Fig. 7.50

1
t
2 Considere um vaso cilíndrico de raio interno r e espessura de parede t que
2
1 r contém um fluido sob pressão (Fig. 7.51). Propomos determinar as tensões
z que atuam em um pequeno elemento de parede com lados respectivamente
x paralelos e perpendiculares ao eixo do cilindro. Em razão da axissimetria do
vaso e seu conteúdo, está claro que a tensão de cisalhamento não está atuando
Fig. 7.51 no elemento. As tensões normais s1 e s2 mostradas na Fig. 7.51 são, portanto,
tensões principais. A tensão s1 é conhecida como tensão tangencial ou cir-
y cunferencial e a tensão s2 é chamada de tensão longitudinal.
Para determinarmos a tensão tangencial s1, destacamos uma parte do
x
vaso e seu conteúdo limitado pelo plano xy e por dois planos paralelos ao
1 dA t
plano yz a uma distância Dx um do outro (Fig. 7.52). As forças paralelas ao
eixo z que atuam no corpo livre consistem em forças elementares internas s1 dA
r que atuam nas seções da parede, e de forças elementares de pressão p dA que
p dA x atuam na parte do fluido incluído no corpo livre. Note que p representa a
z r
pressão manométrica do fluido, isto é, o excesso da pressão interna sobre a
1 dA pressão atmosférica externa. A resultante das forças internas s1 dA é igual
t
ao produto de s1 pela área da seção transversal 2t Dx da parede, enquanto a
Fig. 7.52 resultante das forças de pressão p dA é igual ao produto de p pela área 2r Dx.
Escrevendo a equação de equilíbrio ©Fz  0, temos 7.9. Tensões em vasos de pressão
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de paredes finas

©Fz 0: s1 12t ¢x2 p12r ¢x2 0

e, resolvendo para a tensão tangencial s1,

pr
s1 (7.30)
t

Para determinarmos a tensão longitudinal s2, cortamos agora o vaso per-


pendicularmente ao eixo x e consideramos o corpo livre como parte do vaso
e de seu conteúdo localizado à esquerda da seção (Fig. 7.53). As forças que

2 dA
t

z x

p dA

Fig. 7.53

atuam nesse corpo livre são as forças internas elementares s2 dA na seção da


parede e as forças elementares de pressão p dA que atuam na parte do fluido
incluído no corpo livre. Observando que a área da seção de fluido é pr2 e que
a área da seção de parede pode ser obtida multiplicando-se o comprimento da
circunferência 2pr do cilindro pela sua espessura de parede t, escrevemos a
equação de equilíbrio†

Fx 0: s2 12prt2 p1pr 2 2 0

e, resolvendo para a tensão longitudinal s2,

pr
s2 (7.31)
2t

Observamos nas Equações (7.30) e (7.31) que a tensão tangencial s1 é o do-


bro da tensão longitudinal s2

s1 2s2 (7.32)

†Usando o raio médio da seção de parede rm r 12 t no cálculo da resultante das forças naquela
seção, obteríamos um valor mais preciso da tensão longitudinal, ou seja

17.31¿ 2
pr 1
s2
2t t
1
2r

No entanto, para um vaso de pressão de paredes finas, o termo t 2r é suficientemente pequeno, pos-
sibilitando o uso da Equação (7.31) para projeto de engenharia e análise. Se um vaso de pressão não
é do tipo de paredes finas (isto é, se t 2r não é pequeno), as tensões s1 e s2 variam na parede e de-
vem ser determinadas pelos métodos da teoria da elasticidade.
Transformações de tensão e deformação Traçando o círculo de Mohr entre pontos A e B que correspondem, res-
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pectivamente, às tensões principais s1 e s2 (Fig. 7.54), e lembrando que a
tensão de cisalhamento máxima no plano da tensão é igual ao raio desse
 círculo, temos
D'

1 pr
D máx  2 tmáx 1no plano2 2 s2 (7.33)
1
4t
2 2


Essa tensão corresponde aos pontos D e E e atua em um elemento obtido pela
O B A
rotação do elemento original da Fig. 7.51 em 45° dentro do plano tangente à
superfície do vaso. No entanto, a tensão de cisalhamento máxima é maior na
E parede do vaso. Ela é igual ao raio do círculo de diâmetro OA e corresponde
E' a uma rotação de 45° em torno do eixo longitudinal e fora do plano das ten-
2 2 sões.† Temos
 1  2 2 pr
tmáx s2 (7.34)
2t
Fig. 7.54

1 Consideramos agora um vaso esférico de raio interno r e parede com


2
espessura t, que contém um fluido sob uma pressão manométrica p. Por razões
2  1
de simetria, as tensões que atuam nas quatro faces de um pequeno elemento
1 de parede devem ser iguais (Fig. 7.55). Temos

s1 s2 (7.35)
Fig. 7.55 Para determinarmos o valor da tensão, cortamos o vaso por uma seção através
do centro C do vaso e consideramos o corpo livre que consiste na parte do
vaso e seu conteúdo localizado à esquerda da seção (Fig. 7.56). A equação de
2 dA
equilíbrio para esse corpo livre é a mesma do corpo livre da Fig. 7.53. Con-
t cluímos então que, para um vaso esférico,
r
C pr
x s1 s2 (7.36)
2t

p dA Como as tensões principais s1 e s2 são iguais, o círculo de Mohr para


as transformações de tensão dentro do plano tangente à superfície do vaso
Fig. 7.56
se reduz a um ponto (Fig. 7.57); concluímos que a tensão normal no plano
das tensões é constante e que a tensão de cisalhamento máxima no plano das
 tensões é zero. No entanto, a tensão de cisalhamento máxima na parede do
vaso não é zero; ela é igual ao raio do círculo de diâmetro OA e corresponde
D' a uma rotação de 45° fora do plano das tensões. Temos

máx 
1
1 1 pr
2 tmáx 2 s1 (7.37)
4t
O B A 

†Deve-se observar que, enquanto a terceira tensão principal é zero na superfície externa do
vaso, ela é igual a p na superfície interna, e é representada por um ponto C( p, 0) no diagrama
do círculo de Mohr. Assim, próximo à superfície interna do vaso, a tensão de cisalhamento máxima
 1  2 é igual ao raio do círculo de diâmetro CA, e, então, temos

1s a1 b
1 pr t
tmáx p2
Fig. 7.57 2 1 2t r

No entanto, para um vaso de paredes finas, o termo t r é pequeno, e podemos desprezar a variação
de tmáx através da seção de parede. Essa observação também se aplica a vasos de pressão esféricos.
PROBLEMA RESOLVIDO 7.5
Um tanque de ar comprimido está apoiado em dois berços como mostra a figura;
2,4 m um dos berços foi projetado de modo que não exerça nenhuma força longitudinal no
tanque. O corpo cilíndrico do tanque tem um diâmetro externo de 762 mm e é fabri-
cado a partir de uma placa de aço de 9,5 mm de espessura por soldagem de topo ao
762 mm longo de uma hélice que forma um ângulo de 25° com o plano transversal. As tampas
das extremidades são esféricas e têm uma espessura de parede uniforme de 8,0 mm.
Para uma pressão manométrica interna de 1,2 MPa, determine (a) a tensão normal e
25 a tensão de cisalhamento máxima nas tampas esféricas e (b) as tensões em direções
perpendiculares e paralelas à soldagem helicoidal.

SOLUÇÃO
a
a. Tampa esférica. Usando a Equação (7.36), escrevemos
1
p 1,2 MPa, t 8,0 mm, r 381 8 373 mm
pr 11,2 MPa21373 mm2
s1 s2 s 28 MPa
2t 218,0 mm2
2
 0
b
Notamos que para tensões em um plano tangente à tampa, o círculo de Mohr se reduz
a um ponto (A, B) no eixo horizontal e que todas as tensões de cisalhamento no plano
das tensões são zero. Na superfície da tampa a terceira tensão principal é zero e cor-
responde ao ponto O. Em um círculo de Mohr de diâmetro AO, o ponto D9 representa
a tensão de cisalhamento máxima; ela ocorre em planos a 45° em relação ao plano
     28 MPa tangente à tampa.
1 2

128 MPa2
D' 1
tmáx 2 tmáx 14 MPa
máx
O 
C A, B b. Corpo cilíndrico do tanque. Primeiro determinamos a tensão tangencial s1
e a tensão longitudinal s2. Usando as Equações (7.30) e (7.32), escrevemos

p 1,2 MPa, t 9,5 mm, r 381 9,5 371,5 mm


pr 11,2 MPa21371,5 mm2
s1 47 MPa s2 12s1 23,5 MPa
t 9,5 mm
sméd 12 1s1 s2 2 35,25 MPa R 12 1s1 s2 2 11,75 MPa
a

 1  47 MPa Tensões na solda. Considerando que tanto a tensão tangencial quanto a tensão lon-
gitudinal são tensões principais, traçamos o círculo de Mohr conforme está mostrado.
2 Um elemento com uma face paralela à solda é obtido rodando-se a face per-
O b
 2  23,5 MPa pendicular ao eixo Ob no sentido anti-horário em 25°. Portanto, no círculo de Mohr
localizamos o ponto X9 correspondente aos componentes de tensão na solda rodando
o raio CB no sentido anti-horário por meio de 2u  50°.
1

sw sméd R cos 50° 35,25 11,75 cos 50° sw 27,7 MPa


t tw R sen 50° 11,75 sen 50° tw 9 MPa
s 1 5 47 MPa
sméd5 35,25 MPa
Como X9 está abaixo do eixo horizontal, tw tende a girar o elemento no sentido anti-
-horário.
s 2 5 23,5 MPa
x'
O B C A
s
2u 5 50º tw 27,7 MPa
R
X' 9 MPa
sw R 5 11,75 MPa
Solda

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