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Furno JulianedaCosta M
Furno JulianedaCosta M
CAMPINAS
2016
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE ECONOMIA
CAMPINAS
2016
Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): Não se aplica.
Título em outro idioma: The long abolition in Brazil : recents changes in domestic work
Palavras-chave em inglês:
Domestic workers
Labor market
Sexual division of labor
Área de concentração: Economia Social e do Trabalho
Titulação: Mestra em Desenvolvimento Econômico
Banca examinadora:
Marcio Pochmann [Orientador]
José Dari Krein
Angela Maria Carneiro Araujo
Data de defesa: 24-02-2016
Programa de Pós-Graduação: Desenvolvimento Econômico
DEDICATÓRIA
Ao Lucas Barbosa Pelissari. Essa dissertação tem muito de você, do início ao fim.
Obrigada por estar comigo desde a formulação do problema de pesquisa.
Obrigada Elisabeth, Bruna Koerich, Acácio Simôes e Pedro Gebrim pelas revisões
e correções no meu texto.
(Darcy Ribeiro).
“Há momentos na vida dos povos em que a falta mais grave dos membros da
intelligentsia é a omissão.”
"Ou os estudantes se identificam com o destino de seu povo, como ele sofrendo a
mesma luta, ou se dissociam do seu povo e, nesse caso, serão aliados daqueles que exploram
o povo".
(Florestan Fernandes).
RESUMO
O trabalho doméstico no Brasil carrega heranças profundas da história colonial e
escravagista brasileira. Seu desenvolvimento ao longo dos anos e dos ciclos econômicos
ocorre com a marca de precariedade, da informalidade, da ausência de regulamentação dos
baixos rendimentos e – sobretudo – com expressiva participação no total das ocupações e
majoritária presença de mulheres e negras. O trabalho doméstico assalariado reflete de forma
acentuada as contradições do mercado de trabalho brasileiro, marcado pelo
subdesenvolvimento político e econômico sob o qual estamos imersos. A heterogeneidade
estrutural, a marginalidade, o excedente de mão de obra e a informalidade são traços
estruturais da nossa formação social e permanecem ao longo do tempo. Além disso, o trabalho
doméstico tem a particularidade de correlacionar-se positivamente com a desigualdade social,
a concentração de renda e os momentos de crise e recessão econômica. Dessa forma, nos anos
90 – período no qual a economia brasileira apresentou baixo dinamismo econômico e forte
desestruturação do mercado de trabalho pelas opções políticas neoliberais – o emprego
doméstico cresceu de forma absoluta e proporcional no total das ocupações, sendo o principal
receptor de mão de obra feminina no mercado de trabalho. Os dados e variáveis escolhidas
para ilustrar esse trabalho de pesquisa compreenderam o período de 1995 a 2014, com
especial atenção entre os anos de 2003 e 2014, na busca de identificar e interpretar as
transformações pelas quais passou a categoria das trabalhadoras domésticas nesse período de
retomada do crescimento. Analisamos, dessa forma, o impacto que a retomada do
desenvolvimento com crescimento e inclusão social nos anos 2000 teve sobre essa categoria,
com a marca do histórico alijamento dos ganhos econômicos e das políticas públicas. A partir
da articulação entre as variáveis gênero, classe e raça nos propusemos a compreender de
forma integrada quem são as trabalhadoras domésticas, atentando para a natureza distinta do
seu trabalho na produção capitalista, na qual sua remuneração está ligada à desigualdade de
renda, e não a estimativa de um ganho excedente futuro. De forma geral os anos 2000
configuram um cenário de mudanças importantes, medido através do avanço da escolarização,
na queda do seu percentual no total das atividades econômicas, nos ganhos associados à
renda, na contribuição previdenciária e na regulamentação da jornada de trabalho. No entanto,
a baixa presença de formalização - 31% apenas – o alto número de trabalhadoras ainda
ocupadas no emprego doméstico, à ausência de equiparação de direitos com os demais
trabalhadores formais e sua permanente desvalorização social e monetária são sinais de que o
caminho para a melhora das condições de trabalho ainda exige passos largos, os quais não
raras vezes esbarram em nossos limites estruturais. Construir um mercado de trabalho mais
regulado e homogêneo vai exigir, dessa forma, ousadia política e políticas públicas com
recorte de gênero e raça, buscando superar a histórica e permanente ausência de olhar atento
para esse setor tão importante do mercado de trabalho brasileiro.
Domestic work in Brazil carries profound legacies of Brazilian's colonial history and
slavery. Its development over the years and economic cycles, brings precariousness marks
like the informality, the absence of regulation, low incomes and - above all - a significant
participation and presence of women and black women in the total of the occupations. Waged
housework reflects sharply the Brazilian labour market contradictions, marked by political
and economic underdevelopment in which we are immersed. The structural heterogeneity,
marginality, the excess of work force and informality, are structural traces of our social
formation. In addition, household work has the particularity to correlate positively with social
inequality, concentration of income and many moments of crisis and economic recession.
Thus, in the 90s - a period in which the Brazilian economy had low economic dynamism and
strong disruption of the labour market by neoliberal policy options - domestic employment
increased absolutely and proportionally in total occupations, being the main receiver of
female labour force in the labour market. The data and variables chosen to illustrate this
research comprised the period between 1995 and 2014, with special attention between the
years of 2003 and 2014, in order to identify and interpret the changes suffered by the category
of female houseworkers in this period of growth recovery. We analyzed, then, the impact that
the resumption of growth and development with social inclusion in 2000, had on that
category, highlighting the historic separation of the economic gains and public policies. From
the connection between the variables gender, class and race we set out to understand who are
domestic workers, noting the distinct nature of their work in capitalist production, in which
their income is linked to income inequality, and not to the estimated future excess gain. In
general, the 2000s constitute a major change of scenario, measured through the advancement
of education, the drop in its percentage of total economic activity, the associated income gains
in social security contributions and regulating working hours. However, the low presence of
formalization - 31% only - the high number of workers still employed in domestic
employment, the lack of equal rights compared with the other formal workers and their
permanent social and monetary devaluation, are signs that the road to improvement of
working conditions still requires large steps, which not, infrequently, run into our structural
limits. Build a more regulated and homogeneous labour market will require, thus daring
political and public policies with a gender and race approach, seeking to overcome the
historical and permanent absence of a "closer look" at a sector so important to the Brazilian
labour market.
Gráfico 1Variação anual da taxa de crescimento do PIB entre os anos 1995 e 2014 .... 16
Gráfico 2: Financiamentos do BNDES em bilhões entre os anos de 1995 e 2013 ........ 19
Gráfico 3: Taxa de pobreza – percentual da população em extrema pobreza e pobreza, entre os
anos 1992 e 2013 ............................................................................................................ 23
Gráfico 4: Trajetória do Gasto Social Federal em porcentagem do PIB entre os anos de 1995
e 2013 ............................................................................................................................. 25
Gráfico 5 : Evolução do número total de empregos com vínculo formal em milhões no
período de 1995 a 2012 .................................................................................................. 28
Gráfico 6 : Evolução do Salário Mínimo Nacional real entre os anos de 1994 e 2014 .. 29
Gráfico 7:Diferenciais de rendimentos de homens e mulheres com e sem carteira na renda
média total e na dos trabalhadores domésticos no período de 2003 e 2014 ................... 48
Gráfico 8 Proporção de trabalhadoras domésticas por faixa etária nos anos de 2003 e 2013
........................................................................................................................................ 51
Gráfico 9:Percentual de mulheres nas ocupações em 2003 e 2014 ................................ 71
Gráfico 10: Percentual de Trabalhadoras Domésticas que trabalham em mais de um domicílio
nos períodos de 1995 a 2013 .......................................................................................... 79
Gráfico 11: Percentual de trabalhadoras domésticas que sabem ler por período analisado por
cor ................................................................................................................................... 81
Gráfico 12: Média de anos de estudo de trabalhadoras domésticas segundo cor entre 1995 e
2013 ................................................................................................................................ 82
Gráfico 13: Evolução do salario médio real das trabalhadoras domésticas por cor nos anos de
2003, 2009 e 2014 .......................................................................................................... 83
Gráfico 14: Média de anos de estudos das trabalhadoras domésticas nos períodos de 1995 à
2014 ................................................................................................................................ 88
Gráfico 15: Evolução do trabalho doméstico com e sem carteira de trabalho para anos
distintos........................................................................................................................... 94
Gráfico 16: Percentual de domésticas que contribuem para a Previdência Social nos anos de
2003 e 2014 por registro em carteira de trabalho ........................................................... 95
Gráfico 17: Renda média do trabalho doméstico segundo registro em carteira entre 1995 e
2013 ................................................................................................................................ 96
Gráfico 18: Percentual de horas trabalhadas por registro em carteira de trabalhos no ano de
2003 ................................................................................................................................ 98
Gráfico 19:Percentual de horas trabalhadas por registro em carteira de trabalhos no ano de
2014 ................................................................................................................................ 98
Gráfico 20: Percentual de trabalhadoras domésticas por faixa etária e por registro em carteira
de trabalho nos anos de 2003 e 2014 ............................................................................ 100
Gráfico 21: Total de trabalhadoras domésticas com e sem carteira sindicalizadas nos períodos
de 1995, 2003 e 2014 .................................................................................................... 104
LISTA DE TABELAS
Tabela2: Percentual de pessoas com 16 anos ou mais ocupadas segundo sexo. ............ 37
Tabela 5: Renda média real das trabalhadoras domésticas por região e cor nos anos de 1995,
2003 e 2013 .................................................................................................................... 46
Tabela 6:Proporção da renda média nominal do trabalho doméstico em relação a renda média
nacional brasileira dos ocupados nos anos de 2003 e 2014. ........................................... 47
Tabela 8:População feminina ocupada no trabalho doméstico segundo faixa etária nos
períodos de 1995, 2003 e 2013 ....................................................................................... 51
Tabela 9: Número absoluto e taxa de participação dos jovens de até 29 anos no trabalho
doméstico nos anos de 2003 e 2013 ............................................................................... 52
Tabela 10: Distribuição percentual dos domicílios que são chefiados por trabalhadoras
domésticas segundo situação de pobreza nos períodos de 1995, 2003 e 2013 ............... 59
Tabela 13: Mulheres ocupadas por setor de atividade em 2003 e 2014 ......................... 69
Tabela 14: Renda média nominal de homens e mulheres ocupados no trabalho doméstico por
registro em carteira no ano de 2014................................................................................ 74
Tabela 15: Trabalhadores domésticos por sexo e raça nos anos de 2003 e 2014 ........... 75
Tabela 17: Total de horas trabalhadas das trabalhadoras domésticas por registro em carteira e
cor no ano de 2014 ......................................................................................................... 78
Tabela 18: Rendimento médio das mulheres ocupadas no trabalho doméstico por cor e
registro em carteira de trabalho no ano de 2014 ............................................................. 84
Tabela 19: Trabalhadoras domésticas por curso que frequenta no momento da coleta dos
dados por cor nos anos de 2003 e 2014 .......................................................................... 87
Tabela 20: Quantidade média de anos no atual emprego das trabalhadoras domésticas nos
períodos de 2003 e 2014 ................................................................................................. 89
Tabela 23: Jornada de trabalho doméstico segundo faixas de tempo nos anos de 2003 e 2014
por registro em carteira ................................................................................................... 97
Tabela 24: Quantidade absoluta de sindicalizados por cor, registro em carteira e para os anos
de 1995, 2003 e 2014 .................................................................................................... 103
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 1
CAPÍTULO 1: OS ANOS 2000: TRAJETÓRIA DE CRESCIMENTO, INCLUSÃO E
MELHORIAS DO MERCADO DE TRABALHO. ............................................................... 6
1. Introdução: ..................................................................................................................... 6
1.1. O neoliberalismo e o aprofundamento das desigualdades ......................................... 9
1.2. A inflexão dos anos 2000: crescimento econômico e políticas sociais ..................... 14
1.2.1. Caracterizando os governos nos anos 2000 ............................................................ 17
1.2.2. Determinantes do crescimento ................................................................................ 20
1.2.3. Impactos do crescimento sobre o mercado de trabalho ........................................ 27
1.2.4. As mulheres e o mercado de trabalho nos anos 2000 ............................................ 34
CAPÍTULO 2: AS TRABALHADORAS DOMÉSTICAS: QUEM SÃO E QUAL A
NATUREZA DO TRABALHO. ............................................................................................ 39
1. Introdução: ................................................................................................................... 39
2.1. Revisão da produção existente .................................................................................... 39
2.2. Quem são as trabalhadoras domésticas? .................................................................. 42
2.3. A dimensão de classe.................................................................................................... 52
2.4. As trabalhadoras Domésticas tem Gênero ................................................................ 61
2.5. A cor do trabalhador doméstico ................................................................................. 75
2.6. Natureza do Trabalho doméstico ............................................................................... 90
2.7. A longa abolição no Brasil......................................................................................... 105
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 112
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 118
1
INTRODUÇÃO
Utilizo o termo formal como a que está “em cumprimento das normas legais que organizam a atividade
1
Pochmann, “parte significativa das atividades desenvolvidas nos lares brasileiros carrega
ainda hoje traços semelhantes observados no passado serviçal e escravista” (POCHMANN,
2012, p. 49).
O objetivo geral dessa dissertação é, então, analisar o trabalho doméstico a luz dos
anos 2000 – período no qual houve uma retomada do desenvolvimento econômico e
ampliação das políticas sociais – buscando analisar as transformações que a categoria tem
sofrido no que tange aos elementos centrais do mercado de trabalho. Empreender tal tarefa
exigirá retomar a trajetória da economia brasileira nos anos 2000, bem como voltar ao
passado para compreender as especificidades da construção da categoria das empregadas
domésticas, uma vez que sai atualidade guarda relações profundas com o nosso passado.
Diversas são as justificativas que estão subjacentes a essa obra. As que residem na
esfera acadêmica e política serão trazidas no decorrer do texto. Sem querer correr o risco da
lógica binária e dual, algumas justificativas residem no âmbito pessoal – embora não sejam
dissociadas das motivações políticas e acadêmicas. Como mulher tenho uma indagação
especial por compreender essa categoria majoritariamente feminina, e – por isso – associada a
execução de tarefas naturalmente relegadas ás mulheres e passível de grande desvalorização
social, e – quando remunerada – monetária também. Como militante de esquerda também me
motiva produzir conhecimento e sistematizar dados que desnudem a realidade da classe
4
Entendo mercado de trabalho aqui como aquele que abrange os setores formais e informais da economia, no
qual há a existência de trabalhadores dispostos a vender sua mão-de-obra. Além disso, o mercado de trabalho
também é composto por trabalhadores por “conta própria”, informais e em situação de precariedade, como
vendedores ambulantes. Esse conceito de interpretação do trabalho formal e informal no mercado de vendas e
trocas pode ser melhor compreendido em Paulo Renato de Souza (1980).
3
O objetivo dessa dissertação também é contribuir com a retomada dos estudos que
articulam distintas dimensões sociais, e nesse caso será através da junção da perspectiva
sociológica com a análise econômica, buscando construir um conhecimento menos parcelar e
fragmentado, e para fugir ao risco das análises de tipo “economicistas”, que desprezam as
opções política nas decisões econômicas. Segundo Piketty, (2014, p. 599)
Para tentarem ser úteis, os economistas deveriam acima de tudo aprender a ser mais
pragmáticos em suas escolhas metodológicas, a fazer uso de todo material
disponível e a se aproximar de outras disciplinas das ciências sociais. Por outro lado
os outros pesquisadores das ciências sociais não deveriam deixar aos economistas o
estudo dos fatores econômicos e deveriam parar de fugir em pânico no momento em
que um número aparecesse.
Os resultados dessa dissertação são produtos – entre outros elementos – dos dados
extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – PNAD, na qual é possível
identificar as trabalhadoras domésticas não formalizadas, 70% da categoria. O recorte da
nossa pesquisa é para o Brasil inteiro, não sendo possível abrir pelas regiões da Unidade
federativa. Nesse sentido, fica como um desafio à análise sua aplicação para as distintas
regiões do país. Além disso, sendo o recorte as trabalhadoras domésticas mensalistas, também
não foi possível aprofundar nas trabalhadoras que exercem atividades remuneradas em mais
de um domicilio, postos os interesses da pesquisa e o tempo para a realização da dissertação,
permanecendo como mais um desafio.
prover centralidade ao trabalho parte por compreendê-lo de múltiplas formas. Para nós
trabalho é aquele que pode ser mercantilizado no mercado, e – portanto – monetarizado, mas
é, também, o trabalho de reprodução social, não pago que tem por função reproduzir a
principal mercadoria do capitalismo, a força de trabalho. A centralidade do trabalho ainda está
para aqueles setores sociais que estão excluídos deles, uma vez que sua ausência advém de
uma percepção mais geral do funcionamento da sociedade. Dessa forma o trabalho é aquilo
que dá sentido à vida das pessoas, as socializam nas suas interações e – para as mulheres –
representa a busca por autonomia que não é somente econômica. É, portanto, condição para a
emancipação, que é individual mas, sobretudo, coletiva. Portanto, segundo Daniele Kergoat
(2014) “o trabalho muda, mas para compreender a evolução das relações sociais de sexo,
permanece a necessidade de postular sua centralidade”. (p. 14).
analiso e interpreto os dados que justificam a década de 2000 como um momento singular de
avanços, embora não sendo suficientes para transpor problemas estruturais da categoria.
Nesse capítulo traço uma caracterização de quem são as trabalhadoras domésticas, qual a
natureza específica do trabalho doméstico dentro do capitalismo e exploro algumas reflexões
e desafios para o trabalho decente a luz da recente aprovação da “PEC das domésticas.”
Por fim, encerro esse trabalho de pesquisa com as Considerações Finais, nas quais
retomamos as discussões presentes nos dois capítulos antecessores concluindo que o período
analisado – principalmente na comparação com seu predecessor nos 90 – é de mudanças
significativas. Algumas delas vão moldando um novo perfil de trabalhadores nessa ocupação,
caracterizadas pela menor presença de jovens, pelo aumento da escolaridade média e –
sobretudo – pelos ganhos de rendimentos que caracterizaram esse período. Outras
transformações também apontam para um novo cenário, como o aumento das contribuições
previdenciárias para as trabalhadoras sem registro em carteira, a menor rotatividade no
emprego e a sindicalização. No entanto, todas essas positivas mudanças ainda esbarram em
limites estruturais, ou seja, a não existência de políticas públicas com recorte de gênero e de
raça, e a ainda tardia regulamentação e equiparação do trabalho doméstico aos demais
trabalhadores formais brasileiros, demonstram que as políticas universais para o mercado de
trabalho e o crescimento econômico têm um impacto importante, porém limitado para a
construção da igualdade
6
1. Introdução:
O presente capítulo tratará dos anos 2000, especialmente sob três dimensões. A
primeira delas é a retomada – ainda que tímida – do crescimento econômico, que havia sido
pífio nos anos 1990. A segunda dimensão refere-se ao diferencial da década de conjugar o
crescimento da economia com políticas públicas e sociais de inclusão. A terceira e principal
dimensão analisada no presente capítulo refere-se aos impactos do crescimento e da inclusão
social sobre o mercado de trabalho – foco desse estudo. O objetivo desse capítulo é situar as
trabalhadoras domésticas em um contexto específico, para tanto, é necessário compreende-lo
nas dimensões mais gerais. Não somente isso, a parte do objetivo da análise do objeto a luz
dos anos 2000, essa dissertação tem como pano de fundo reconhecer o trabalho doméstico
dentro de um determinado capitalismo, que é periférico, dependente e subdesenvolvimento.
Além disso, a histórica brasileira e a dinâmica econômica do país agravam as nossas
principais mazelas históricas, tais como a desigualdade, a pobreza e a concentração de renda.
Por isso, justificamos esse capítulo o entendendo-o como o cimento necessário para entender
as particularidades e as transformações pelas quais passou e passa o trabalho doméstico no
Brasil.
A maneira pela qual foi constituído o mercado de trabalho no Brasil, com extensa
oferta de mão-de-obra e heterogeneidade estrutural5, contribuiu para pressionar os salários
para baixo em função da grande quantidade de trabalhadores engrossando o chamado
“exército industrial de reserva6”. Além disso, a ausência de algumas reformas necessárias,
como a reforma urbana e agrária, produziram um território geograficamente disperso e
desigual contribuindo para a concentração dos pobres nas grandes periferias urbanas sem
acesso aos centros de produção de cultura e arte, além de reforçar as desigualdades regionais.
As trabalhadoras domésticas inserem-se no que Marx denominou de superpopulação relativa,
especialmente na sua caracterização de população “estagnada”7, sendo aquela que se insere
em condições degradantes no mercado, e tem como consequência a sua reprodução em
condições anormais, na qual o seu preço, não raras vezes, não remunera o valor da força de
trabalho. O mercado de trabalho que se constitui no Brasil guarda outras relações profundas
5
Por heterogeneidade estrutural entende-se construção de um tipo de desenvolvimento especializado em setores
de baixo valor agregado e para exportação, e pela existência de diferenças muito acentuadas entre os tipos de
emprego e níveis de produtividade e rendimento.
6
Uso esse conceito na perspectiva marxista. Significa o contingente de trabalhadores que excede às necessidades
da produção capitalista e têm serventia para o processo de desenvolvimento do capitalista, pressionando os
salários e os trabalhadores empregados.
7
Esse conceito de superpopulação relativa de Marx compreende 3 grupos. A estagnada, já explicada no texto, a
Latente (aquela que está na informalidade, na migração campo-cidade) e a flutuante (aquela que entra e sai do
mercado de trabalho com muita rapidez).
8
8
Ou seja, embora no Brasil as condições para a contratação de trabalhadores a domicílio sejam muito mais
acessíveis, isso não quer dizer que o trabalho doméstico tende a desaparecer nas nações desenvolvidas ou com
uma estrutura mais homogênea no mercado de trabalho. O capitalismo é um sistema que persiste pela
desigualdade e exploração do trabalho. Para maiores informações ver Davi Antunes (2011).
9
A análise do período compreendido pelos “Anos 2000” não poderia ser realizada
sem alguns apontamentos que dizem respeito às mudanças no mercado de trabalho, na política
fiscal e no desenvolvimento nacional vivenciados na década de 90. Segundo Armando Boito
Jr (1996), os anos 90 foram de uma verdadeira hegemonia neoliberal, “[...] no sentido
gramsciano: a conversão de uma ideologia e de uma plataforma política de classe em
“cimento” de um novo bloco histórico.” (BOITO JR, 1996, p. 81). É nesse sentido que os
valores do mercado, da ineficiência do Estado e do desperdício de dinheiro público ganham
coro inclusive nas classes populares, o que é fator determinante para a vitória eleitoral de
Fernando Henrique Cardoso em 1994. O candidato Tucano fez promessas de inserir o Brasil
no “primeiro mundo”, “[...] transformando-o numa economia adaptada ao figurino da
globalização neoliberal”. (POCHMANN & BORGES, 2002, p. 10).
9
Para o autor, a existência de uma massa de pessoas com salários muito baixos e vivendo de atividades
ocasionais ao lado de uma minoria com rendas muito elevadas cria uma divisão na sociedade entre aqueles que
podem ter acesso a maneira permanente a bens e serviços oferecidos e aqueles que não podem satisfazer suas
necessidades. “Isso cria ao mesmo tempo diferenças quantitativas e qualitativas de consumo. Essas diferenças
são a causa e o efeito da existência, ou seja, da criação ou da manutenção nessas cidades, de dois circuitos de
produção, distribuição e consumo de bens e serviços” (SANTOS, 1978, p. 29).
10
[...] abrir novas áreas de acumulação para o capital privado (previdência, educação,
saúde, transporte, etc), reduzir os investimentos em política social – “muito custosa
e ineficiente” – e diminuir os impostos que incidem sobre as empresas – a palavra de
ordem hoje é eliminar o denominado “Custo Brasil”.
10
Utilizo aqui essa expressão para contraposição com o próprio preceito neoliberal de Estado Mínimo. Na
verdade o neoliberalismo no Brasil não prescindiu de um Estado mínimo. No campo das políticas sociais ele foi
menos presente do que para as políticas pró mercado, mas deve-se considerar, por exemplo, o aumento
expressivo do Gasto Social, vinculado a DRU, embora ele ainda permanecesse pequeno
11
Dessa forma, os primeiros anos do governo Lula são marcados pela busca de
estabilidade macroeconômica, capaz de retomar o controle monetário e fiscal do país. Além
disso, para controlar a inflação alta de 2002 o Banco Central operou uma forte elevação da
taxa básica de juros da economia. No que tange ao aspecto fiscal o governo não só manteve
mas aumentou a meta de resultados primários do setor público, mais uma vez sinalizando aos
agentes financeiros o comprometimento do governo com o equilíbrio fiscal (BARBOSA &
11
No mesmo período histórico diversos países como Peru, Argentina, Uruguai, Bolívia e Equador transitam de
experiências neoliberais stricto sensu para governos de caráter mais progressistas.
15
SOUZA, 2010). Para garantir essa meta de resultados primários o governo teve que operar
cortes em importantes áreas sociais.
Gráfico 1Variação anual da taxa de crescimento do PIB entre os anos 1995 e 2014
0,08
0,076
0,07
0,05
0,05
0,042 0,044
0,04 0,039
0,04
0,034
0,031 0,031
0,03 0,027
0,022
0,02 0,018
0,013 0,012
0,01
0,004 0,005
-0,002 0,001
0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
-0,01
Fonte: IBGE/ Elaboração própria.
Segundo Singer (2011), esse período que se inicia no ano de 2006 marca a
passagem da transição do Reformismo Forte, representado pelo programa democrático e
popular da fundação do PT para um Reformismo Fraco; ou seja, as reformas passam a ocupar
a agenda de governo, porém são pontuais, não incidem nas estruturas e são feitas sem rupturas
com os interesses das classes dominantes. A partir das eleições de 2006 é possível verificar
que esse modelo petista de governo conduziu a um realinhamento eleitoral, na leitura de
Singer (2011), permitindo a entrada em cena de um novo ator com condições de influir na
decisão eleitoral, que é o que ele denomina de “subproletariado”. Surge a partir do que ele
17
conceitua como “lulismo”, um Estado capaz de auxiliar os mais pobres sem confrontar a
ordem e sem polarizar interesses de classes. Portanto, os governos do PT teriam representado
o que o autor chama de síntese das duas almas, que seria o beneficiamento dos interesses do
capital ao mesmo tempo em que promove a inclusão dos mais pobres.
A hipótese aqui apresentada é que essas experiências dos anos 2000, ainda que
com muitas ressalvas, lograram a construção de uma política de desenvolvimento que
conjugou elementos divorciados da trajetória brasileira, a saber: a conquista de direitos civis,
sociais e políticos. Segundo o historiador José Murilo de Carvalho (2001) houve um divórcio
na construção desses distintos direitos de cidadania. Até o início do século XX o país não
convivia com a plenitude dos direitos civis. Foi somente a partir da Revolução de 1930 que os
direitos sociais passam a vigorar no cenário brasileiro, mediante a construção de Ministérios,
da criação da Escola Pública e da consolidação das Leis referentes aos direitos do trabalho
(CLT). Entretanto, tais avanços nas estruturas social e trabalhistas brasileira, paradoxalmente,
só puderam ser conquistados na supressão dos direitos políticos, uma vez que a sua aprovação
deveu-se a governança da ditadura do “Estado Novo”. Os direitos civis passam a se consolidar
na sequência dos direitos sociais e os direitos políticos permaneceram instáveis, alternando
períodos de ditadura com períodos democracia. Em 500 anos de história, 50 foram na
vigência de um regime democrático, e sua ameaça ainda permanece uma constância. É com
base na história brasileira de fragilidade democrática que manter esse período de ganhos
sociais e participação popular não é tarefa desprezível. Nossa história também foi a da
permanência durante muitos anos de um padrão de “cidadania regulada” (SANTOS, 1998), no
qual nas décadas de 30 e 40 só era cidadão para o Estado aqueles trabalhadores que detinham
registro em carteira de trabalho.
retomar a taxa de lucro do grande capital e tendo na ausência do Estado como entidade
propositora e reguladora do mercado e da sociedade seu principal expoente.
120 121,4
100 96,6
80 81,8
60 60,2
49
40 38 35,2 38,4
26,8 25,2
20 7,5 10,5 19 17,9 18,7
0
12
Esse termo serve para diferenciar a burguesia que tem capital nacional de uma suposta burguesia nacional ou
brasileira, com características de portadora de interesses nacionais e anti-imperialistas.
20
Esse é, ao meu ver, umas das grandes polêmicas que envolvem a análise dos
determinantes do crescimento da economia na primeira década dos anos 200014. De primeira
mão nossa análise é que os governos petistas não lograram a construção de um “projeto de
13
É importante atentar que o autor diferencia “frente” de “aliança” de classe. Para ele aliança pressupõem um
programa mínimo e uma atuação mínima conjunta. A frente, ao contrário, é uma participação tácita, os grupos
não “aderem” e têm dentro dela inúmeras contradições. O que os unifica é a recusa da volta do modelo
neoliberal ortodoxo e os ganhos auferidos pelo neodesenvolvimentismo.
14
Essa é uma das polêmicas atuais dentro das ciências econômicas. Aqui farei uma análise dos determinantes do
crescimento do ponto de visto econômico, não atentando tanto para a correlação de forças na esfera da política, o
que fica, porém, explicitado no texto.
21
15
Para mais informações ver Carlos Lessa (2015) http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/540671-crise-politica-e-
economica-o-resultado-da-falta-de-um-projeto-nacional-entrevista-especial-com-carlos-lessa-
22
50
40
30 31,4 31,3
24,5 24,2 24,6 24,7
20 23,9 23,3 24,3 24,6
22,3 21
16,9 16,1
14,1
10 13,6 13,6
13 11
8,9 8,8
9,3 10,2 9,8 9,2 9,4 9,9 8,9 9 7,6 7 5,7 5,7 4,8 4,6 4,4 3,6 4
0 0 0
*Linha de extrema pobreza do Plano Brasil sem Miséria. Notas de 1994, 2000 e 2010 não foram
publicadas
Nos anos 2000, segundo Mattoso (2013) a pobreza diminuiu de 26,7% em 2002
para 12,8% em 2012. O Bolsa Família é um programa social com grandes impactos sob a
redução da pobreza. Embora ele não seja o modelo ideal de política social, uma vez que é
focalizado, atende a um contingente importante da sociedade brasileira. O Bolsa Família,
apesar de ser uma política concebida pelo Banco Mundial e defendida por parte dos
24
Para Fagnani (2011), a partir de 2006 o governo federal esboçou aplicar o pilar
inconcluso do projeto de reforma daqueles que lutavam contra a ditadura militar. Esse projeto
era apoiado em três núcleos centrais: a) a restauração do estado democrático e de direito; b) a
construção de um sistema de proteção social; c) concepção de uma nova estratégia
macroeconômica direcionada para o crescimento com distribuição de renda.
Embora com muitos limites, a construção desses três pilares segue edificando uma
perspectiva de desenvolvimento única no Brasil, articulando democracia, políticas sociais e
crescimento econômico. Os anos 2000 parecem ter desafiado a máxima na economia de que
primeiro é preciso crescer o bolo para depois dividi-lo, mostrando que é possível empregar
uma lógica menos dicotômica.
16
O bolsa família é uma política social focalizada, que resume a política social ao combate à pobreza e focaliza
em determinados grupos. Esse não é o ideal de política social daqueles que almejam uma sociedade amparada
em um conjunto de serviços públicos e utilizados de forma universal, como a Saúde, a Educação e a Previdência.
Além disso, o programa Bolsa Família é uma recomendação de organismos como o Banco Mundial para países
do “Terceiro Mundo”.
25
Fonte: Centro de Altos Estudos Brasil Século XXI com base nos dados de 1995 a 2000 (SIAFI/SIDOR e
IPEADATA) e de 2001 a 2013 (Plano Brasil Maior PPA 2012/2013) Elaboração Própria.
transferências e assistências sociais 40,5 milhões de pessoas estariam recebendo até 25% do
salário mínimo nacional. Além disso, o gasto social ao mesmo tempo em que contribuiu para
dirimir o fosso histórico das desigualdades sociais, ainda tem um efeito multiplicador da
incorporação pelo mercado de consumo. “Distribuir para ampliar os horizontes da economia e
fazer crescer mais rapidamente a renda para redistribuí-la menos desigualmente configuram a
singular experiência de liderança mundial, sobretudo após a crise internacional de 2008.”
(POCHMANN, 2013, p. 155).
Em que pesem esses significativos avanços, os anos 2000 não foram sem
contradições expressivas. Segundo Belluzzo (2013) a política monetária seguiu sendo uma
anomalia nos governos petistas. O legado do período neoliberal já deveria ter sido suficiente
17
Já desenvolvemos esse tema quando tratamos da burguesia interna.
27
60
50
48,9
47,5
40 44 46,3
41
37,6 39,4
30 35,2
33
31,4
27 28,7 29,5
20 24 24 25,0 26,2
23,6 23,8 23,8
10
0
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Fonte: Elaboração própria. MTE-RAIS/ Centro de Altos Estudos Brasil Século XXI.
Ainda com relação à valorização do salário mínimo, ela contribui para jogar por
terra os argumentos dos economistas ortodoxos-liberais de que a elevação dos salários teria
impactos profundos sob a economia, gerando uma alta da inflação. Além disso, os impactos
também seriam sentidos no interior do próprio mercado de trabalho, com aumento do
desemprego e da informalidade. Isso tudo pela crença na impossibilidade de crescimento
econômico sem geração de inflação e da queda na taxa de desemprego com ausência de
precarização.
Informalidade no
Brasil
1995 57%
1996 57%
1997 58%
1998 58%
1999 59%
2001 58%
2002 58%
2003 57%
2004 56%
2005 55%
2006 54%
2007 53%
2008 51%
2009 50%
2011 47%
2012 47%
2013 46%
Fonte: IPEADATA/IBGE Elaboração Própria
31
18
Que tem rendimentos capazes unicamente de reproduzir a força de trabalho, para que o trabalhador possa
“sobreviver”, no entanto, sem condições de acessar saúde, educação e lazer de qualidade.
32
pessoas ocupadas no Brasil segue não contando com um emprego formal, inserido no
conjunto dos direitos trabalhistas (BALTAR et al 2010; ARAUJO, 2012). Além disso, o
mercado de trabalho, em que pese a crescente formalização, segue reproduzindo as
características da nossa construção subdesenvolvida, tais como a existência do trabalho por
conta própria, a informalidade, a marginalidade, o trabalho para autoconsumo e o excedente
de mão de obra. Segundo Singer (2011) a grande maioria dos empregos gerados no governo
Lula oferecia baixa remuneração (90% dos novos empregos formais nos últimos anos pagam
até três salários mínimos), o que também se coloca como um limite à construção de uma
sociedade menos desigual, embora seja notadamente um avanço importante.
Para finalizar esse debate é preciso ter clareza para apontar os limites desse
processo. Estar imerso na realidade que nos desafiamos a estudar – se por um lado contribui
para pensar a realidade concreta, por outro, pode nos “cegar” e mistificar o real sentido e
impactos dessas transformações. Os anos 2000 foram de significativas e importantes
melhoras, mas principalmente sob o olhar da década de 90 e do aprofundamento do
neoliberalismo ortodoxo19. Em verdade os anos 2000 não podem ser vistos na perspectiva de
um “bloco homogêneo”, assim como se divide o primeiro mandato de Lula, o final da
primeira década também já trás indícios de um processo de queda na taxa de crescimento e
retorno à alguns indicadores de piora do mercado de trabalho e estancamento da queda da
desigualdade social. O que é possível constatar é que embora a taxa de investimento tenha se
ampliado nesse último período, ela ainda é pífia em relação ao nosso passado de
desenvolvimento, chegando somente aos 17% do PIB. Uma estratégia de crescimento que
vise superar as “décadas perdidas” precisa ousar na condução de outra política econômica,
que enfrente os interesses do rentismo e amplie as possibilidades para alargar nossa estrutura
produtiva, retomando o vigor dos empregos industriais e do dinamismo econômico. Somente
essa estratégia – e não a de ampliação do consumo – pode permitir um desenvolvimento a
longo prazo e sustentável da economia brasileira.
Essa é, por fim, a caracterização mais geral dos anos 2000, sob diversas
perspectivas mais, principalmente, ancorada na análise das transformações no mercado de
trabalho e seu caminho de reestruturação. É com base nesse cenário de retomada do
crescimento, de uma agenda mais “desenvolvimentistas”, de construção de políticas sociais e
de reestruturação do mercado de trabalho que analisaremos nosso objeto de pesquisa, com
vistas a identificar sua dinâmica desse período, atentando para quando as melhorias da
categoria superam as da média nacional, bem como aquelas elementos que não acompanham
o cenário de melhora, como é notadamente o caso da formalização.
19
Conceito cunhado por Armando Boito (2012) para classificar o PSDB.
34
A PEA relativa ao trabalho por conta própria teve crescimento negativo nos anos
2000, e foi mais significativo entre as mulheres, com -8,12%. No entanto, ainda 7,2% das
mulheres trabalham por conta própria, contra apenas 3,9% dos homens. Dessa forma, atesta-
se que os anos 2000 apresentaram impactos positivos importantes para as mulheres, no
entanto, persistem desigualdades estruturais. Além disso, ainda são significativas as
desvantagens femininas na absorção da PEA, uma vez que na contagem estatística se
invisibilizam elementos como o trabalho da mulher na agricultura, a alta proporção do
trabalho doméstico remunerado, e grandes disparidades de remuneração (LEONE, 2015).
2013). O aumento do emprego formal em estabelecimento foi superior no caso das mulheres e
a maior formalização também ocorreu para elas, inclusive contabilizando o aumento do
emprego doméstico formal. Ainda segundo Leone (2015), o crescimento econômico com
inclusão social permitiu as mulheres seguir dando continuidade ao processo de consolidação
da sua participação na atividade econômica – condição se não única pelo menos necessária
para sua emancipação.
20
Entendo patriarcado como uma construção ideológica do capitalismo enquanto um sistema de dominação dos
homens sobre as mulheres. Essa acepção permite compreender a dominação na somente na esfera da família, se
não nas demais relações, como as trabalhistas e políticas. O patriarcado orienta uma dinâmica das relações
sociais que se perpetua mediante sua naturalização na vida social, sendo reproduzido até mesmo de forma
inconsciente, porém internacionalizada para manter uma estrutura desigual de gênero. Para maiores informações
37
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013
Administração
HOMENS Pública 5,6 5,5 5,4 5,5 5,4 5,3 5,5 5,7 5,6 5,9
Agrícola 22,8 23,5 22,7 21,7 20,7 20 19,9 18,2 17,3 17,1
Comércio 18,9 18,3 18,9 18,6 18,9 18,1 18,3 17,9 18 18
Indústria 16 16,5 16,7 16,7 17,3 17,1 16,4 15,1 15,6 15,1
Construção Civil 11,2 10,9 11,2 11,3 11,5 12,7 12,8 14,3 14,8 15,7
Serviços Auxiliares 10,3 10,1 10,1 10,2 10,4 10,7 10,4 12,2 12,1 12
Serviços Sociais 4,4 4,4 4,4 4,5 4,5 4,5 4,9 4,7 4,8 5,1
Outras Atividades 10,9 10,9 10,8 11,5 11,2 11,6 11,7 11,8 11,7 11,2
Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
Administração
MULHERES Pública 4,5 4,5 4,5 4,5 4,6 4,5 4,8 5,3 5,4 5,2
Agrícola 15,5 15,6 15,5 14,7 13,6 12,9 12,1 10,9 9,8 9,9
Comércio 15,8 15,8 16,2 16 16,5 16,2 16,7 17,6 17,4 17,4
Indústria 12,5 12,6 12,9 12,6 12,7 13 12,7 11,3 11,9 11,3
Construção Civil 0,4 0,4 0,4 0,5 0,5 0,6 0,5 0,5 0,6 0,7
Serviços Auxiliares 5,6 5,6 5,8 6 6 6,5 6,4 7,9 8 7,9
Serviços Sociais 34,3 33,6 33,4 33,3 33,5 32,7 33,8 32,6 32,3 33,2
Outras Atividades 11,3 12 11,3 12,4 12,5 13,6 13 13,9 14,5 14,4
Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
Fonte: IPEADATA.PNAD/IBGE. Elaboração Própria/
ver em SAFFIOTI, Heleieth. A mulher na sociedade de classes. Mito e realidade. Expressão Popular. São Paulo,
2013.
38
Ainda no que tange as contradições estruturais de gênero, tem-se que nos anos
2000 as mulheres apresentaram ligeira melhora nos indicadores de escolaridade, mostrando-se
as mais escolarizadas em todos os níveis e com vantagem – ainda que pequena – com relação
aos homens em todos os anos que marcam a trajetória da década.
1. Introdução:
21
O conceito será debatido a seguir
40
Congresso Nacional e na sociedade brasileira com relação a PEC 478/2010 – conhecida como
“PEC das Domésticas” – contribuiu para a necessidade de produção de conhecimento e
análises descritivas sobre esse setor específico.
Por fim, as ciências econômicas têm carecido de trabalhos acadêmicos nessa área
do conhecimento. Embora tenham avançado os estudos sobre trabalho doméstico não
remunerado, dentro da problemática da Economia Feminista, entre as quais se destacam
Marilane Teixeira, com o texto “Desigualdades Salariais entre homens e mulheres a partir de
uma abordagem das economistas feministas (2008); Renata Moreno com a dissertação “Além
do que se vê; uma leitura das contribuições do feminismo para a economia” (2013), Cristina
Carrasco com o texto “ La Economía feminista: uma apuesta por outra economia.”(2006); e
Antonella Picchio com o texto “Economía feminista y economía del cuidado Aportes
conceptuales para el estudio de la desigualdade”. A dimensão do emprego doméstico
assalariado, no entanto, tem passado um pouco à margem da produção acadêmica nas
Faculdades de Economia, embora autoras como Hildete Pereira Melo sejam figuras de renome
e história nesse debate. O IPEA e o Dieese tem sido importantes instrumentos de visibilidade
econômica e estatística do emprego doméstico, contribuindo para problematizar seus impactos
no mercado de trabalho e no emprego formal. No entanto, segundo Saffioti (1979), análises
somente descritivas não adentram as particularidades de um tipo de ocupação da força de
trabalho que além das características próprias, está situado em uma determinada formação
sócio histórica, marcada pela dependência e por relações não-capitalistas.
O trabalho doméstico segue sendo um objeto pertinente de estudos uma vez que o
mesmo continua absorvendo demasiado contingente de mão de obra – especialmente a
feminina. Segundo dados do Censo de 1960, 82% das mulheres eram ocupadas de forma
remunerada no emprego doméstico. Embora esse percentual venha diminuindo, por uma série
de fatores que serão melhor explorados no decorrer dessa análise, dados da PNAD de 2014
ainda demonstram um número significativo de mulheres ocupadas nesse tipo de serviço à
domicílio, e 97% desses empregos são remunerados com até dois salários mínimos, e 69%
não estão sob o amparo da carteira de trabalho. Segundo Melo (1998), e Antunes (2011),
diversos estudiosos apontavam que o avanço da industrialização tenderia a eliminar os
empregos domésticos, no entanto, no século XX, em diversos países Europeus e latino-
45
americanos – o número absoluto de mulheres ocupadas nesse trabalho não somente não
regrediu substancialmente como aumentou em determinados momentos.
Nesse número total, embora chame de “trabalhadoras”, estão inseridos o total de homens também.
22
23
Todas as tabelas a seguir são para pessoas com mais de 10 anos de idade
46
emprego doméstico. De 2003 a 2008 o crescimento foi de apenas 7,82%. Já entre os anos de
2009 e 2014 verifica-se uma queda expressiva, representada pelo valor de -11,26%.
Na análise das PNAD´s de 2003 e 2014 podemos observar, por um lado, que
houve aumento expressivo da renda das trabalhadoras domésticas, mas – por outro – a
histórica precarização e a continuidade dos baixos rendimentos desse trabalho, embora eles
tenham aumentado. Selecionando as trabalhadoras domésticas “pessoa de referência da
família”, ou seja, aquelas domésticas cuja renda constitui o rendimentos principal de uma
família, temos que a média em 2003 era de 287,03 reais, e mantinha em torno de 3,8
componentes da família. No ano de 2014, a média do rendimento da trabalhadora doméstica
que é chefe de família sobe para 972,00 reais, e o número de membros que são mantidos por
ela cai para 3,0. Deflacionando as rendas, temos que o aumento real é de 77% mostrando o
forte impacto da política de valorização do salário sobre uma categoria que têm seus
rendimentos diretamente vinculados a ele.
Tabela 5: Renda média real das trabalhadoras domésticas por região e cor nos anos de
1995, 2003 e 201324
de aumento com relação à década de 90, representada pelo período do ano de 2003. Já para as
brancas o aumento também foi expressivo, de 65% em 2013 com relação ao ano de 2003.
2003 2014
Total na renda nacional 39% Total na renda nacional 44%
Com carteira 56% Com carteira 60%
Sem carteira 33% Sem carteira 37%
Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração Própria
2014
Homem Mulher
Trabalhador doméstico
com carteira de trabalho 64% 72%
assinada
Trabalhador doméstico
sem carteira de trabalho 43% 45%
assinada
Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração Própria
48
2000
1800
1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
Desde 1980, o trabalho doméstico remunerado foi a ocupação que mais cresceu
no Brasil, segundo Pochmann (2003). O aumento médio anual no número de trabalhadores
domésticos entre 1980 e 2000 foi de 4,0% ante a variação média anual de 2,1% no total da
ocupação no País para o mesmo período de tempo (POCHMANN, 2003). Afim de melhor
compreender quem são as trabalhadoras domésticas - questão que dá título ao capítulo –
26
utilizaremos a conceito de “Nó Frouxo” (SAFFIOTI 2009, p. 21), o qual é conceituado
como
26
A opção por esse conceito é feita por algumas ressalvas com relação a outras duas formulações que visam a
articulação entre gênero, classe e raça. A primeira delas, a “Interseccionalidade”, não nos parece apropriado para
esse trabalho por algumas limitações. Segundo HIRATA (2014) esse conceito advém dos anos 1970 por
influência do “Feminismo Negro” e embora insira a dimensão de raça (outrora ausente dos estudos feministas),
ele tende a negligenciar a dimensão de classe. Além disso, o conceito de interseccionalidade tende a tratar as
opressões nas esferas da identidade e do reconhecimento, e não do ponto de vista material. Dessa forma, embora
a tríade classe, gênero e raça seja fundamental, esse conceito abre espaço para pensar as opressões de idade,
localidade, estilos de classe, enfim, uma multiplicidade de variáveis que podem dispersar o universo das
opressões e dissipa-las no conjunto de outras questões. Quanto ao conceito de Consubstancialidade (KERGOAT,
2010), traz um importante avanço que é a crítica da interseccionalidade no sentido de identificar as opressões
operando de forma geométrica (segundo a terminologia do conceito). Nesse sentido, Kergoat critica a
identificação da imbricação de opressões por noções geométricas, como adição e multiposicionalidade. Kergoat
ainda recoloca a necessidade de pensar as relações classe/gênero e raça menos como categorias de análise e mais
na perspectiva de relações sociais. No entanto, o conceito de consubstancialidade, etimologicamente, quer dizer
“algo da mesma substância e com a mesma essência.” Dessa forma, nos parece que classe, gênero e raça (embora
imbricados) têm essências distintas, e movimentam-se na estrutura social assumindo qualidades distintas.
50
Tal noção parece-nos apropriado para tratar das trabalhadoras domésticas, pois
problematiza a perspectiva de classe, a incidência do gênero e a opressão racial, uma vez que
majoritariamente essas mulheres são negras. Dessa forma, compreender essa categoria de
forma não parcelar exige situá-las nessa tripla dimensão de exploração, dominação e
opressão. Essas três dimensões, acima de tudo, devem ser entendidas como “relações sociais”
(KERGOAT 2010), ou seja, não de forma estanque, mas sim como relações, as quais se
movimentam dialeticamente na estrutura que move a sociedade. É preciso atentar-se para a
historicidade do conceito, entendendo-os menos com “categorias” e mais como “relações
sociais”.
Há uma estrutura de poder que unifica as três ordens – de gênero, de raça e de classe
social – embora as análises tendam a separá-las. Aliás, o prejuízo científico e
político não advém da separação para fins analíticos, mas sim, da ausência do
caminho inverso: a síntese. [...] a análise das relações de gênero não pode, assim,
prescindir, de um lado, da análise das demais contradições e, de outro, da
recomposição da totalidade de acordo com a posição que, nesta nova realidade,
ocupam as três contradições sociais básicas.
Outro dado que atesta as diferenças mensuráveis dos anos 1990 para os anos 2000
– representada através dos anos de 2003 e 2014 – tem a ver com o perfil geracional da
categoria.
51
Tabela 8:População feminina ocupada no trabalho doméstico segundo faixa etária nos
períodos de 1995, 2003 e 2013
Gráfico 8: Proporção de trabalhadoras domésticas por faixa etária nos anos de 2003 e
2013
120%
100%
80%
49%
63%
60% 82%
40%
51%
20% 37%
18%
0%
1995 2003 2013
A década de 2000 apresenta uma forte inflexão nas faixas etárias selecionadas.
Positivamente identifica-se um envelhecimento constante da categoria. Na faixa dos 29 anos
ou mais, o percentual supera em muito os demais. Já as faixas etárias que correspondem ao
trabalho infantil e ao período correspondente a juventude, até 29 anos de idade, cai
expressivamente. De forma geral, os jovens têm entrado de forma mais tardia no mercado de
trabalho, por conta da melhora da renda familiar e das oportunidades de permanência nos
estudos. No entanto, para o trabalho doméstico esse percentual é especialmente relevante. Isso
porque o trabalho doméstico tem como uma das suas marcas a entrada prematura no trabalho
assalariado, como uma das formas de inserção das jovens no mercado de trabalho. Por ser
uma ocupação composta majoritariamente por mulheres pobres, sua maior expressão nos anos
2000 nas faixas etárias mais adiantadas demonstra um importante elemento de melhoria, na
medida em que sinalizada para a hipótese das mulheres jovens estarem se deslocando para
empregos melhor qualificados e com mais possibilidade de formalização, além da valorização
social que as demais categorias têm no imaginário coletivo.
Tabela 9: Número absoluto e taxa de participação dos jovens de até 29 anos no trabalho
doméstico nos anos de 2003 e 2013
2003 2013 Tx de
Tx de Tx de crescimento Variação
Trabalho doméstico Absoluto Absoluto
participação participação anual
2.250.074 7,60% 1.131.546 4,10% -7,40% -50%
Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração própria
Ainda sobre os jovens, a tabela acima mostra que na taxa de participação de todos
os jovens empregados no Brasil no ano de 2003, 7,6% concentravam-se no trabalho
doméstico, em 2013 o percentual cai quase pela metade. Dessa forma há uma taxa negativa de
crescimento anual, e na variação do setor nos 10 anos temos a marca positiva de -50%.
27
Essa é uma concepção de desenvolvimento do capitalismo a partir da acepção marxista. Ou seja, para haver
capitalismo é necessário ter algumas condições, dentre elas trabalhadores sem meios de produção que submetem-
se – em troca de salários – a vender sua força de trabalho. Existem, no entanto, outras concepções de classe
sociais, não ligadas diretamente à produção econômica. É o caso de Max Weber (1982) e Pierre Bourdieu (1989)
e outros autores que atribuem à identidade, a estilos de vida e a consciência de classe fatores determinantes para
caracteriza-las.
54
Essa é uma definição econômica das classes sociais, e pressupõem um “tipo ideal” weberiano de sistema
28
capitalista. No entanto, a forma como o capitalismo se insere na periferia mundial toma alguns contornos
distintos. Segundo Chico de Oliveira (2009), entre o que chamamos de classe trabalhadora estão compreendidos
os trabalhadores que vivem do trabalho, e não necessariamente aqueles que são assalariados. Dessa forma, na
classe trabalhadora estão os ambulantes, pequenos comerciantes, trabalhadores autônomos e por conta própria.
Ou seja, mesmo que eles não “vedam” sua força de trabalho no mercado para um capitalista, os consideramos na
análise como proletariados e componentes da classe trabalhadora.
55
reivindicativas. Sobre esse contingente de trabalhadores Karl Marx refere-se como “Exército
Industrial de Reserva”. Para o autor (1975, Tomo I, p. 535)
Por fim, existe uma dimensão da classe social – mais especificamente – da classe
trabalhadora que se faz essencial para a compreensão do sistema capitalista, a saber: a
exploração do trabalho. O trabalhador ao atuar nos meios de produção do “burguês”, recebe
somente uma parte do valor do seu trabalho. Saffioti (2013 p. 57) explicita essa questão
29
Muitos autores estudaram a classe trabalhadora com distintos conceitos para tratar de suas frações de classe.
Lucio Kowarick (1975) e José Nun (1978) trataram da problemática marxista da marginalidade, quando referido
à dinâmica da classe trabalhadora, a partir de uma vertente histórico-estrutural. André Singer (2012) cunhou a
expressão “Subproletariado” para tratar de uma fração de classe, no entanto, sua análise está mais centrada nos
setores da pobreza extrema, que não estão – ou não momentaneamente – participando do trabalho produtivo e
são receptores dos programas sociais do governo federal. Esse setor social teria sido parte de um realinhamento
eleitoral pós 2002, colocando-se como base de apoio aos governos do PT, e aderindo a um projeto de algumas
conquistas materiais sem necessidade de conflitos e rupturas mais significativas. Há ainda o conceito de
“Batalhadores” de Jessé Souza (2010), que não trata classe necessariamente com um recorte no modo de
produção, e agrega nessa análise também parte dos micro empresários e trabalhadores profissionais. Por fim, há
56
Brasil na qual esta inserida as trabalhadoras domésticas. Segundo Darcy Ribeiro (2006), o
povo brasileiro é composto por uma classe trabalhadora que não é um bloco monolítico e
homogêneo. Queremos tratar aqui de um estrato da classe trabalhadora que além da
exploração do trabalho sofre com a precariedade, a pobreza e a marginalização. Para Ribeiro
(2006, p. 192).
Abaixo desses bolsões, formando a linha mais ampla do losângolo das classes
brasileiras, fica a grande massa das classes oprimidas dos chamados marginais,
principalmente negros e mulatos, moradores das favelas e periferias da cidade. São
os enxadeiros, os boias-frias, os empregados da limpeza, as empregadas domésticas.
o conceito de “Precariado” de Ruy Braga (2012). Tal conceito trata de um setor muito precarizado dentro da
classe trabalhadora, e como exemplo o autor toma os trabalhadores de telemarketing. O conceito é extremamente
atual e válido. No entanto, “marginalidade”; “subproletariado”; e “precariado” embora sejam conceitos válidos,
não dão conta de tratar das trabalhadoras domésticas. Ou seja, elas são trabalhadoras por uma condição de classe
diretamente vinculada à estrutura capitalista, por isso o conceito de “Batalhadores” apresentam limites. Além
disso, elas estão no emprego produtivo, e por isso não estamos lidando com um setor que está fora do sistema de
produção, como é majoritariamente “subproletariado” e na sua grande maioria não tem os direitos formais do
trabalho, como requer o conceito de “Precariado”.
57
sociais que possibilitassem aos brasileiros identificarem-se como tal. Dessa forma foi
construído um “mito” da identidade nacional que reúne elementos que servem, de um lado,
aos interesses políticos e econômicos conservadores, e, de outro, a manutenção de um status
quo social que fosse capaz de reproduzir as desigualdades sociais não somente pela
perspectiva do emprego da violência física, mas pela forma do consenso, no qual seria
possível às classes subalternas e trabalhadoras aceitarem e reproduzirem sua condição
subordinada e submissa na sociedade de classe, incorporando uma visão de mundo
naturalizada pela classe dominante.30 Entender a construção dessa “brasilidade” é essencial
para a compreensão da maneira com a qual se reproduzem estruturas desiguais e excludentes.
Para Souza, (2009, p. 38).
30
Essa noção identifica-se com o conceito de Hegemonia de Gramsci que apresenta uma perspectiva para pensar
as relações sociais. O conceito de hegemonia para o autor busca problematizar a determinação estrita da estrutura
sobre a superestrutura, mostrando que nas sociedades modernas a superestrutura tem um papel importante. Dessa
forma a hegemonia se constroem para não somente a partir da força, mas como parte do consenso criado a partir
da atuação da sociedade civil e dos aparatos ideológicos do Estado.
31
Denis Marraci Gimenez (2008) em sua tese de doutorado mostrou que embora existisse uma intelectualidade
progressista, almejando reformas no capitalismo, a perspectiva da meritocracia, da desigualdade e o
encaminhamento da “questão social”, passaram à margem da agenda política e econômica do país.
58
poucos e excluiu muitos. Para o autor isso só é possível por que as causas do sucesso e do
fracasso são silenciadas, é o “esquecimento” da dimensão social na vida individual que
permite a celebração do mérito e a legitimação dos privilégios.
Nos seus mais de 5 séculos o Brasil explicitou como poucos a sua inegável
capacidade de produzir e reproduzir uma sociedade profundamente iníqua. Houve
apenas uma incorporação seletiva, parcial e gradual dos intocáveis. Construímos um
padrão de cidadania regulado, marcado por profundas diferenças.
Tabela 10: Distribuição percentual dos domicílios que são chefiados por trabalhadoras
domésticas segundo situação de pobreza nos períodos de 1995, 2003 e 2013
32
Segundo Pochmann (2007) os indicadores tradicionais de medição da pobreza levam em conta o conceito de
pobreza “absoluta”, que tende a ser identificado apenas em termos monetários e das carências materiais de
reprodução da vida humana. Dessa forma desconsideram as questões distributivas.
61
33
O Conflito Capital/Trabalho não é aquele encontrado na literatura clássica marxista que é atribuído a
apropriação privado do excedente econômico.Ver mais em Salário e mão-de-obra excedente de Paulo Renato de
Souza (1980).
62
2014
Homens Mulheres Homens Mulheres
Trabalhadoras Domésticas 514.644 5.939.240 8% 92%
Total 6.453.884
Fonte / PNAD-IBGE. Elaboração Própria
34
Historicamente, o patriarcado, entendido como um sistema de dominação masculina, predominou nas
estruturas estatais mantendo intactas as formas de divisão sexual do trabalho e perpetuando a violência cotidiana
contra as mulheres (PARADIS, 2014).
35
A divisão sexual do trabalho não nasce com a divisão das sociedades em classe. O trabalho historicamente foi
dividido entre homens e mulheres. No entanto, não havia uma diferença de valoração entre os usos do trabalho,
no que tange ao valor de uso e ao valor de troca de trabalho e mercadorias. É com a apropriação privada dos
63
trabalho seja anterior à hegemonia do modo de produção capitalista, foi com o seu advento
que a variável sexo passou a ser utilizada para exploração/dominação da mulher, “assim é que
o sexo, fator de há muito selecionado como fonte de inferiorização social da mulher, passa a
interferir de modo positivo na atualização da sociedade competitiva, na constituição das
classes sociais”. (SAFFIOTI, 2013, p.66).
A Divisão Sexual do Trabalho, segundo Kergoat e Hirata (2007) é guiada por dois
princípios fundamentais. O primeiro deles é o princípio da “separação” (existem trabalhos de
homens e de mulheres), e o segundo princípio é o da “hierarquização” (o trabalho dos homens
vale mais do que o das mulheres). Para as autoras (2007, p. 599).
A divisão sexual do trabalho, portanto, não é neutra (NOGUEIRA 2006), ela tem
uma dimensão intencional que serve para que a discriminação de sexo possa ser melhor
explorada no ambiente doméstico e do trabalho remunerado. Para Kergoat (2003, p. 26).
Essa partição dos sexos na produção e na reprodução traduz, então uma divisão
sexual, que estrutura assim as relações entre os sexos sobre uma base tanto política
quanto econômica. Com efeito, a designação prioritária das mulheres para a
reprodução sempre foi acompanhada de sua exclusão do campo sociopolítico.
meios de produção e com o advento do capitalismo e sua perspectiva maximizadora de lucro, que o gênero e o
trabalho da mulher passam a ter menor valor social.
36
O conceito de Divisão Sexual do Trabalho é anterior as autoras supracitadas. No entanto, na acepção utilizada
de separação e hierarquização do trabalho, as duas autoras são as pioneiras.
64
“Por conseguinte, como fruto desse duplo processo que engendra, ao mesmo
tempo, o processo de trabalho do capital e o processo de trabalho doméstico, a economia
política só retratará o estrito espaço do valor, e rejeitará o resto.” (HAKIKI-TALAHITE, 1986
p. 97). Dessa forma, a teoria neoclássica do valor só identifica aquele trabalho destinado à
65
questionada sua importância. Participar dos espaços do mercado é romper com uma lógica
estritamente privada de contato com outras pessoas. O elemento da socialização, da atividade
produtiva37 e o contato com o conjunto de reivindicações da dinâmica do trabalho é condição
necessária – embora não única – de construção de novas relações de gênero e emancipação
das mulheres. Além disso, somente encarando a contradição entre exercer uma tarefa
produtiva acumulando com o trabalho doméstico gratuito, pode ensejar uma mudança na
consciência e uma percepção da desigualdade.
Além de atuar como força de trabalho barata para o capital, as mulheres logram se
inserir nas atividades mais precarizadas, ou quando uma determinada tarefa passa a ser
desempenhada majoritariamente por mulheres, a mesma passa a ser ressignificada e perde
valor social, “a questão está no fato de que o sexo daqueles(as) que realizam as tarefas, mais
do que o conteúdo da tarefa, concorre para identificar tarefas qualificadas ou não
qualificadas” (SOUZA-LOBO, 1991, p. 151). Algumas atividades, como professores do
ensino primário, na medida em que foram ocupadas por mulheres perderam prestígio e
valorização monetária.
37
Quando utilizo a expressão “produtiva” quero me referir à aquelas atividades ligadas à estrutura de produção,
ou seja, aquelas tarefas ligadas ao mercado de trabalho ou a obtenção de rendimentos do trabalho. Compreendo
que as tarefas das mulheres exercidas de forma gratuita nos lares não são menos “produtivas”, porém, elas são de
outra natureza, e embora seja de extrema importância e tenha um valor econômica, não são dessas que estamos
tratando quando estabelecemos essa relação, e sim das ligadas às atividades remuneradas extra domésticas.
67
trabalhadora. Por outro lado, a outra forma com que historicamente as mulheres pobres têm se
inserido no emprego assalariado é mediante a ocupação dos postos de trabalho mais
precarizados e mal remunerados, os quais - não coincidentemente - são os mesmos que fazem
alusão às características femininas de “cuidado”, “sensibilidade”, “habilidades manuais” entre
outros. “Observa-se que, nesse setor, a entrada das mulheres ocorre, muitas vezes, na forma
de inserção excluída, ou seja, em funções menos qualificadas e com menor oportunidade de
mobilidade ocupacional.” (NEVES, 2013, p.415). Nogueira (2004) reitera essa constatação
afirmando que “paradoxalmente, apesar de ocorrer um aumento da inserção da mulher
trabalhadora, tanto no espaço formal e informal do mercado de trabalho, ele traduz
majoritariamente nas áreas onde predominam os empregos precários e vulneráveis” (p. 39).
Estas constatações estão incluídas também em textos de organismos internacionais, que
contribuem para explicitar a desigualdade das mulheres internacionalmente. Segundo dados
da OIT (2005, p. 42).
Embora o ano de 2003 apresente um número absoluto menor que dos anos da
década de 2000 referente à quantidade absoluta de ocupados no emprego doméstico, como
demonstrado na tabela acima, sua análise percentual nos indica que do total de mulheres
ocupadas – em 2003 – 19% trabalham no serviço doméstico, e esse percentual representava
68
8% do total dos trabalhadores ocupados no mesmo ano. Percentual como esse apenas foi
verificado no ano de 2009, o qual teve fortes reflexos da crise econômica internacional.
30%
8%
25% 8%
7%
7%
7% 7%
20%
Proporção de
18% 19% domésticas por total de
18%
15% 17% ocupados
16%
15% Proporção de
10% domésticas por total de
mulheres ocupadas
5%
0%
1995 2003 2008 2009 2013 2014
Fonte: / PNAD-IBGE. Elaboração Própria
Dessa forma, embora sua presença absoluta tenha sido menor, a década de 90 teve
grande influência na concentração de mulheres no emprego doméstico, principalmente com
referência ao ano de 2014, no qual 15% de mulheres dedicavam-se a esse setor, isso
representa uma diferença de 4 pontos percentuais em relação ao ano de 2003. Segundo
Mirian Nobre, “O crescimento do emprego doméstico surge como resposta à crise da
acumulação e como resultado da diminuição de postos de trabalho nos setores outrora
dinâmicos da economia. (NOBRE, 2004, p. 65). Além dessa constatação, outro fator que
chama a atenção na análise é outra vez o peso constante do trabalho doméstico no total da
ocupação. Visto sob o ponto de vista percentual a análise fica ainda mais nítida, variando
apenas 1 ponto percentual dos anos de recessão (década de 90) ou crise (ano de 2009), para
momentos de crescimento mais acentuado da economia, como na primeira década dos anos
XXI.
69
SETOR DE
ATIVIDADE 2003 2014 Variação absoluta Variação %
ECONOMICA
Total Total
Agrícola 5.397.068 416.5953 -1231115 -22.8%
Outras atividades
88.102 93.323 5221 5.9%
industriais
Indústria de
4.062.578 4.555.364 492786 12.1%
transformação
Construção 123.065 281.896 158831 129.1%
Comércio e
5.327.716 7.169.313 1841597 34.6%
reparação
Alojamento e
1.445.204 2.549.465 1104261 76.4%
alimentação
Transporte,
armazenagem e 425.506 693.019 267513 62.9%
comunicação
Administração
1.482.304 2.142.200 659896 44.5%
pública
Educação, saúde e
5.590.022 7.584.622 1994600 35.7%
serviços sociais
Serviços domésticos 5.795.930 5.997.091 201161 3.5%
Outros serviços
coletivos, sociais e 1.711.640 2.405.096 693456 40.5%
pessoais
Outras atividades 2.004.099 3.466.099 1462000 73.0%
Total 33.453.234 41.103.441 7650207 22.9%
visível e positivo o aumento do número absoluto de mulheres que exercem atividades extra
domésticas assalariadas, passando dos 33 milhões para 41 milhões em 2014. O peso do
emprego doméstico no montante da mão de obra feminina também sofre uma regressão
significativa. Passa da primeira ocupação na absorção de força de trabalho para o terceiro
lugar, ficando atrás de “Educação, saúde e serviços sociais”, com 18,5% e “comércio e
reparações” com 17,4%.Das 7.650.207 "novas" mulheres ocupadas, 2003-2014, apenas
201.161 mulheres entraram no setor de serviços domésticos. Pode-se dizer que de cada 100
novas mulheres ocupadas, menos de 3 entraram neste setor.
Embora esse seja um percentual ainda muito alto, sua queda aponta para algumas
mudanças importantes, principalmente como causa das melhoras nos indicadores no mercado
de trabalho e do desempenho da economia nos anos 2000 e na melhor inserção das mulheres
em outras atividades produtivas, demonstrando alguma mobilidade social entre os mais
pobres, que são os majoritários ocupantes dessa categoria. Uma análise completa mereceria
averiguar para quais empregos migraram essas mulheres que deixaram de serem trabalhadoras
domésticas, o que – não entanto - não foi possível nessa pesquisa dado das dificuldades de
obtenção desses dados. Nossa hipótese é que essas mulheres seguem inserindo-se de forma
precária na estrutura produtiva, tendo sido absorvida por outros empregos tradicionais
femininos, como manicures, telemarketing entre outros. Embora do ponto de vista da
remuneração não haja tanta diferença, da perspectiva social e da proteção trabalhistas esse é
sim um fator que aponta alguma mobilidade social.
Outras atividades
Outros serviços coletivos, sociais e pessoais
Serviços domésticos
Educação, saúde e serviços sociais
Administração pública
Transporte, armazenagem e comunicação
Alojamento e alimentação
Comércio e reparação
Construção
Indústria de transformação
Outras atividades industriais
Agrícola
38
Chamo “relativa” por que embora não tenha mudado estruturalmente, a forte presença de mulheres no
mercado de trabalho modificou parte da estrutura ocupacional. Destaques especiais são feitos à perda de
importância relativa do trabalho doméstico no total do trabalho das mulheres, assim como a perda expressiva de
participação no trabalho agrícola, no qual os rendimentos são baixos e a autonomia feminina é menor, além de
grande parte da produção feita pela mulher não entrar na conta do “trabalho”. Esses dados atestam importantes
inflexões positivas na década.
72
Homem Mulher
A conclusão dessa caracterização é que existe uma forte relação entre escravismo,
capitalismo e patriarcado39, que atuam utilizando as diferenças sociais como forma de
maximizar a exploração do trabalho e a extração de mais-valia. Somente entendendo como
essa tripla articulação recaí sob uma categoria específica – as trabalhadoras domésticas - que é
possível ir além de uma análise superficial, descritiva e “economicista” e, concretamente,
compreender os mecanismos que ainda atuam no imaginário social coletivo da população
brasileira, e que mantém a condições para que essa categoria siga na informalidade e na
invisibilidade social. “Assim, a desvalorização do trabalho doméstico tem a ver não somente
com seu caráter reprodutivo, mas com a codificação cultural que o vê como um trabalho
simples, braçal, racializado e feminilizado.” (GUTIERREZ-RODRIGUEZ, 2010).
39
O Patriarcado é uma relação de dominação política, ideológica, social e cultural de homens sobre mulheres.
Um sistema que se casa perfeitamente com o capitalismo. Subordina as mulheres à uma lógica de dominação dos
homens e sua inferiorização com relação a eles.
75
Neste subitem nos propomos a realizar uma breve reflexão a cerca da opressão
racial e do racismo como constituintes e estruturantes do processo de acumulação capitalista
no Brasil, e de que forma persiste uma “divisão racial do trabalho” que impacta – de inúmeras
maneiras – a sociedade brasileira. Para tanto, nos deteremos nos seus impactos no mercado de
trabalho doméstico, foco desse trabalho de pesquisa.
Tabela 15: Trabalhadores domésticos por sexo e raça nos anos de 2003 e 2014
2003 2014
Trabalhadoras
Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres
Domésticas
Brancas 167.654 2.447.029 41% 42% 199.323 2.081.133 39% 35%
Negras 237.788 3.329.596 59% 58% 315.321 3.858.107 61% 65%
Total 405442 5776625 100% 100% 514644 5939240 100% 100%
Fonte: PNAD-IBGE/ Elaboração Própria/
40
Em algumas análises, porém, os dados precisarão ser desmembrados, quando o número não for absoluto e a
junção não puder ser objeto de uma soma simples, é o exemplo de categorias como média de estudos, renda
dentre outras.
76
contrário, se dilui a negritude em uma vasta escala de gradações, que quebra a solidariedade,
reduz a combatividade, insinuando a ideia de que a ordem social é uma ordem natural, se não
sagrada”. (RIBEIRO, 2006, p. 209).
Tabela 17: Total de horas trabalhadas das trabalhadoras domésticas por registro em
carteira e cor no ano de 2014
2014
Branca
Horas Trabalhadas na semana
Até 14 15 a 39 40 a 44 45 a 48 49 horas ou
horas horas horas horas mais
Domestica com
carteira 24.283 149.326 445.930 119.801 109.887
Domestica sem
carteira 236.573 644.496 377.940 132.925 112.263
Total 260.856 793.822 823.870 252.726 222.150
Negras
Horas Trabalhadas na semana
Até 14 15 a 39 40 a 44 45 a 48 49 horas ou
horas horas horas horas mais
Domestica com
carteira 20.233 182.471 696.317 213.031 139.394
Domestica sem
carteira 457.415 1.327.852 652.063 241.985 242.667
Total 477.648 1.510.323 1.348.380 455.016 382.061
Fonte:PNAD-IBGE/ Elaboração Própria/
Aqui visualiza-se outros importantes avanços dos anos 2000. De forma geral a
participação do total das trabalhadoras cresce expressivamente nas jornadas de “até 14 horas”,
entretanto, esse pode ser um indício não de uma jornada contratual com tempo reduzido, se
não do aumento substancial das trabalhadoras diaristas, com uma composição dispersa e
heterogênea da jornada semanal de trabalho. Para ambos os anos – 2003 e 2014 – e para
negras e brancas, aumenta a quantidade de pessoas que realizam a jornada regular de trabalho,
estabelecida em Lei, referenciada no grupo “40 a 44 horas” semanais.
horas”. Para as brancas, em 2014, a jornada regular legal de trabalho tornou-se a principal
faixa de referência para as trabalhadoras, atestando sua maior formalização e respeito à
legislação trabalhistas. Para as negras o percentual de trabalhadoras na jornada regular de
trabalho ainda fica atrás da categoria “15 a 39 horas”.
35,5
10,5
5,5
1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013
Fonte: IPEADATA. PNAD/IBGE. Elaboração própria
Com a PEC das domésticas, sancionada em 2015 pela Presidenta Dilma, a jornada
de trabalho passa, enfim, a ser regulamentada, em um importante movimento que visa o
combate as excessivas jornadas de trabalho e concede cada vez mais profissionalismo a esse
exercício não raras vezes tido como “pessoal”. A nova lei equipara os trabalhadores
domésticos aos demais trabalhadores no que tange à regulamentação da jornada, nesse sentido
são assegurados:
participação da mulher negra no trabalho doméstico com relação à mulher branca no ano de
2014, enquanto no ano de 2003 – embora elas ainda fossem maioria – esse diferencial era
mais equilibrado. Isso pode ser resultado da saída de mulheres brancas do emprego doméstico
face às novas possibilidades de melhores empregos fora dos domicílios. O segundo elemento
tem a ver ainda com a “divisão racial social do trabalho”. Dessa forma, as mulheres brancas
têm no trabalho doméstico uma possibilidade de emprego sem que necessite qualquer
escolarização. Parece-nos que com um pouco a mais de escolaridade, torna-se mais fácil às
mulheres brancas rumarem para outros empregos melhor remunerados ou socialmente mais
valorizados. Em contraposição às mulheres negras são reservadas poucas possibilidades de
ascensão social. Nesse sentido, embora com maior escolaridade ou crescendo no percentual
das que estão se qualificando, o emprego doméstico segue sendo uma das poucas
possibilidades para esse contingente social.
Gráfico 14: Média de anos de estudo de trabalhadoras domésticas segundo cor entre
1995 e 2013
14
6,68 6,82
6,39 6,43
12 6,01 6,11
5,9
5,66
10 5,52
8 4,17
brancas
6,12 6,29 6,44
6 5,7 5,85 5,96 Negras
5,44 5,64
5,12
4 3,76
0
1995 2003 2004 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013
Fonte: IPEADATA. PNAD/IBGE. Elaboração própria
Gráfico 15: Evolução do salário médio real das trabalhadoras domésticas por cor nos
anos de 2003, 2009 e 2014
800
700 685
600 592
529,9
500
459
400 414,8 brancas
345,2 negras
300
200
100
0
2003 2009 2014
Fonte: PNAD-IBGE/ Elaboração Própria. Deflator INPC
Tabela 18: Rendimento médio das mulheres ocupadas no trabalho doméstico por cor e
registro em carteira de trabalho no ano de 2014
2014
Mulher branca Mulher negra
Trabalhadora
doméstica com
958,81 902,94
carteira de trabalho
assinada
Trabalhadora
doméstica sem
668,88 533,47
carteira de trabalho
assinada
Fonte: PNAD/IBGE/ Elaboração Própria
(...) a raça, como traço fenotípico historicamente elaborado, é um dos critérios mais
relevantes que regulam os mecanismos de recrutamento para ocupar posições na
estrutura de classes e no sistema de estratificação social. Apesar de suas diferentes
formas (através do tempo e espaço), o racismo caracteriza todas as sociedades
capitalistas multi-raciais contemporâneas. Como ideologia e como conjunto de
práticas cuja eficácia estrutural manifesta-se numa divisão racial do trabalho, o
racismo é mais do que um reflexo epifenomênico da estrutura econômica ou um
86
Em que pesem essas diferenças, mais uma vez reafirma-se que a década dos anos
2000 obteve maiores avanços em termos educacionais, possibilitando uma variação anual
expressiva no montante de trabalhadoras que saíram do analfabetismo. Para tanto, são
reforçadas as existências de programas sociais, como o Bolsa Família e o Bolsa Escola, além
da maior possibilidade das trabalhadoras domésticas inserirem-se no emprego assalariado
depois de completado ao menos o ensino básico.
87
Tabela 19: Trabalhadoras domésticas por curso que frequenta no momento da coleta
dos dados por cor nos anos de 2003 e 2014
2003
Regular de 1o Regular de 2o Supletivo de 1o Supletivo de 2o Alfabetização de
Superior
grau grau grau grau adultos
Trabalhadoras
Domésticas
Brancas 107.311 118.762 35.137 30.449 3.715 22.328
Pretas 44.560 32.232 10.632 4.772 725 7.852
Pardas 151.871 150.994 45.769 35.221 4.440 30.180
Total de negras 196.431 183.226 56.401 39.993 5.165 38.032
Total. 303.742 301.988 91.538 70.442 8.880 60.360
2014
Regular de 1o Regular de 2o Supletivo de 1o Supletivo de 2o Alfabetização de
Superior
grau grau grau grau adultos
Trabalhadoras
Domésticas
Brancas 24.103 36.735 12.903 9.475 17.748 3.665
Pretas 10.152 18.476 11.160 8.574 5.132 4.511
Pardas 65.518 87.946 36.987 16.784 16.296 12.600
Total de negras 75.670 106.422 48.147 25.358 21.428 17.111
Total. 99.773 143.157 61.050 34.833 39.176 20.776
Fonte:PNAD-IBGE/ Elaboração Própria
“Alfabetização” ainda demonstra que o analfabetismo não tem sido mais a marca absoluta
desse contingente.
Gráfico 16: Média de anos de estudos das trabalhadoras domésticas nos de 1995 a 2013.
6,58
6 6,24 6,43
6,12
5,75 5,82 5,95
5,62
5,53
5
4,93 5,13 5,29
4,7
4,46
4 4,2 4,27
3,94
3
Anos de Estudo
1
1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013
Fonte: IPEADATAPNAD/IBGE/Elaboração própria.
Esse outro gráfico nos apresenta a série histórica, feita desde o ano de 1995.
Embora se perceba a evolução o patamar ainda extremamente baixo.
Tabela 20: Quantidade média de anos no atual emprego das trabalhadoras domésticas
nos períodos de 2003 e 2014
41
Em sentido marxista, não acrescenta valor ao processo produtivo.
91
bens/serviços não circulam no mercado e não se mobiliza capital para a realização dessas
tarefas, o que se desprende são rendas.
Entretanto, nos parece que a maior especificidade da natureza desse trabalho é que
“salário remunera salário”. Ou seja, não é o excedente econômico que o remunera, nem
tampouco sua atividade gera mais-valia e lucro para quem o emprega. Sua particularidade
reside no fato de haver uma concentração tão alta de renda e uma desigualdade
suficientemente grande para que o salário ou a renda auferido por uma família consiga ser a
fonte de sustento de tantas outras. Ou seja, “o trabalho para famílias possui outra
determinação. Sua existência encontra-se relacionada mais à combinação entre a concentração
da renda e riqueza e a parcela da força de trabalho sobrante das atividades dos setores público
e privado”. (POCHMANN 2012)
1995 17,78%
1996 20,91%
1997 21,56%
1998 23,47%
1999 23,75%
2001 24,98%
2002 24,71%
2003 26,11%
2004 24,70%
2005 25,17%
2006 26,20%
2007 26,35%
2008 25,82%
2009 26,46%
2011 29,38%
2012 27,99%
2013 31,83%
2014 31,70%
Fonte: PNAD-IBGE. Elaboração Própria/
Com base nesses dados podemos inferir alguns elementos importantes. O primeiro
deles é que em uma primeira e rápida verificação, poderíamos cair no risco de analisar
superficialmente a evolução da formalização no tempo, atentando para sua sequencial e
contínua formalização nos anos 2000. No entanto, nota-se que o período em que
proporcionalmente mais cresceu a formalização do emprego doméstico foi justamente entre os
anos de 1995 e 2003, período no qual predominou uma desestruturação do mercado de
trabalho e aumento expressivo do desemprego. De forma geral o crescimento nesse período
foi de 5,8%, um aumento muito mais expressivo do que de 2003 em diante, no qual a
evolução ficou em torno nos 2.2% ao ano. O elemento importante é que embora caminhando a
passos lentos, sobretudo nessa ultima década, o crescimento da formalização permanece
constante, não apresentando quedas bruscas nem um período de inflexão contrária. No
entanto, caso se deixe às “livres” forças de ajustes dos mercados, teremos que esperar mais
muitas décadas até que ceteribus paribus, alcemos uma condição de formalização do
emprego. São a partir dessas constatações que torna-se necessária a construção de políticas
93
Gráfico 17: Evolução do trabalho doméstico com e sem carteira de trabalho para anos
distintos
6000000
5000000
4000000
3000000
2000000
1000000
0
1995 2003 2008 2009 2013 2014
Contribuição previdenciária
2003 2014
Trabalhadoras Domésticas contribui não contribui contribui não contribui
Com carteira de trabalho 1.672.293 0 2.047.840 0
Sem carteira de trabalho 146.097 4.363.677 605.663 3.800.381
Total 1.818.390 4.363.677 2.653.503 3.800.381
Fonte: PNAD-IBGE/ Elaboração Própria
96
Gráfico 19: Renda média do trabalho doméstico segundo registro em carteira entre 1995
e 2013
900 856,5
837,2
800 754,1
714,1
700 668,8
636,7 659,5
588,6
600 572,9 558,9
543,6 550,2 565 560,1 543,9 546,9
501,5 518,5
500 508,4
462,7
403,9 Sim
400 381,2 372,5 365,2 376,4 387,3
352 345,3 339,2 335,2
358,3 Não
357,5 314,9 322,7
300
200
100
0
1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013
Essa é mais uma das discrepâncias entre o trabalho doméstico registrado e o sem
registro. A renda do trabalho doméstico cresce expressivamente após 2003 para as
trabalhadoras domésticas com registro em carteira, acompanhando o movimento mais geral de
melhoras nas condições dos rendimentos dos trabalhadores formais, associados à valorização
do salário mínimo. Já entre as sem carteira, embora a renda siga crescendo, o valor total é
quase a metade e cresceu mais intensamente apenas após 2010. Parte importante desse hiato
salarial deve-se ao trabalho doméstico da diarista, que tem uma renda dispersa.
Tabela 23: Jornada de trabalho doméstico segundo faixas de tempo nos anos de 2003 e
2014 por registro em carteira
2003
Até 14 15 a 39 40 a 44 45 a 48 49 horas ou
horas horas horas horas mais
Domestica com carteira 2003 23.864 237.117 563.602 441.817 405.516
Domestica sem carteira 2003 542.978 1.576.638 855.575 658.164 874.988
Total 566.842 1.813.755 1.419.177 1.099.981 1.280.504
2014
Até 14 15 a 39 40 a 44 45 a 48 49 horas ou
horas horas horas horas mais
Domestica com carteira 2014 44.516 331.797 1.142.247 332.832 249.281
Domestica sem carteira 2014 693.988 1.972.348 1.030.003 374.910 354.930
Total 738.504 2.304.145 2.172.250 707.742 604.211
Fonte: PNAD-IBGE/ Elaboração Própria/
Esses dados demonstram a evolução da jornada de trabalho por ano e também por
registro em carteira de trabalho, já havíamos analisado a jornada por cor, e agora a
interpretamos por registro em carteira de trabalho. Assim como demonstrado para as
diferenças em relação às mulheres brancas e negras, interpretações importantes surgem da
análise da jornada a partir do diferencial da existência de formalização. De forma geral
invertem-se as pontas da tabela. Em números absolutos, nos anos de 2003 havia apenas
566.842 mulheres trabalhando na menor jornada de trabalho – até 14 horas semanais – esse
era o menor contingente de trabalhadoras. E a categoria do outro extremo da jornada – 49
horas ou mais semanal – tinha atuando 1.280,504 trabalhadoras. Desse último o dobro era de
trabalhadoras sem registro em carteira.
100
Gráfico 22: Distribuição das trabalhadoras domésticas por faixa etária e registro em
carteira de trabalho nos anos de 2003 e 2014
49 horas ou mais
45 a 48 horas
40 a 44 horas
15 a 39 horas
Até 14 horas
sem carteira 2014 com carteira 2014 sem carteira 2003 com carteira 2003
Europeus. Dessa forma, a demasiada quantidade de serviçais que contou e conta a classe
média brasileira só é comparável aos muito ricos na Europa. Para Pochmann (2011)
Tabela 24: Quantidade absoluta de sindicalizados por cor, registro em carteira e para os
anos de 1995, 2003 e 2014
Sindicalizados 1995
Branca Preta Parda
Sim Não Sim Não Sim Não
Doméstica com carteira 7.401 475.746 1.480 128.522 2.792 362.268
Doméstica sem carteira 13.571 1.776.861 1.735 399.034 10.580 1.940.130
Total 20.972 2.252.607 3.215 527.556 13.372 2.302.398
Total de sindicalizados 1995 37.559
Sindicalizados 2003
Branca Preta Parda
Sim Não Sim Não Sim Não
Doméstica com carteira 15.656 796.655 7.272 196.506 12.649 643.555
Doméstica sem carteira 20.625 1.781.747 6.439 442.130 37.028 2.221.805
Total 36.281 2.578.402 13.711 638.636 49.677 2.865.360
Total de sindicalizados 2003 99.669
Sindicalizados 2014
Branca Preta Parda
Sim Não Sim Não Sim Não
Doméstica com carteira 22.653 773.741 5.827 293.734 20.983 930.902
Doméstica sem carteira 36.641 1.447.421 18.174 589.361 81.763 2.232.684
Total 59.294 2.221.162 24.001 883.095 102.746 3.163.586
Total de sindicalizados 2014 186.041
Fonte: PNAD-IBGE/ Elaboração Própria/
Gráfico 23: Total de trabalhadoras domésticas com e sem carteira sindicalizadas nos
períodos de 1995, 2003 e 2014
200000
136.578
180000
160000
140000
120000
100000 64.092
domésti
80000 cas sem
carteira
60000
51.477
40000 25.886 domésti
35.577
cas com
20000 carteira
11.673
0
1995 2003 2014
Fonte: PNAD-IBGE/ Elaboração Própria/
Todo membro deverá, no que diz respeito aos trabalhadores domésticos, adotar
medidas previstas na presente Convenção para respeitar, promover e tornar realidade
os princípios e direitos fundamentais no trabalho, a saber: (a) a liberdade de
associação e a liberdade sindical e o reconhecimento efetivo do direito à negociação
coletiva; (b) a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou obrigatório; (c)
a erradicação efetiva do trabalho infantil; e (d) a eliminação da discriminação em
matéria de emprego e ocupação.
O trabalho doméstico remunerado no Brasil foi exercido, até a década de 40, sem
que houvesse nenhuma legislação e sem que nenhum instrumento legal fosse criado em
âmbito nacional no qual o trabalho doméstico fosse objeto de interesse e atuação. Em 1941,
entretanto, foi dado o primeiro passo visando o reconhecimento do trabalho doméstico e a
busca de regulamentação do mesmo. Através de um decreto Lei no governo Getúlio Vargas,
os trabalhadores domésticos passaram a ser aqueles que “de qualquer profissão ou mister,
mediante remuneração, prestem serviços em residências particulares ou em benefício desses”
(art. 1º). Este decreto lei instituiu o direito a carteira assinada, o aviso prévio e demais direitos
107
dos empregadores e dos empregados, porém, sua verdadeira efetivação dependida da sua
regulamentação, como previa o artigo 15, e isso jamais aconteceu.
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), elaborada também no governo
Getúlio Vargas, em 1943, delimitou e regulamentou as relações individuais e coletivas de
trabalho. No entanto, como previsto em seu artigo 7º, as normas presentes na Consolidação
não se aplicam: aos empregados domésticos, aos trabalhadores rurais, aos funcionários
públicos e aos servidores de autarquias paraestatais. Com exceção dos dois últimos grupos de
trabalhadores, que já gozavam de proteção por parte do aparato estatal, os empregados
domésticos e os trabalhadores rurais permaneceram sem proteção e nem regulação trabalhista,
ficando refém das negociações tácitas entre empregadores e empregados.
Em 1972 foi o segundo momento no qual se concretizaram mudanças na relação
do trabalho doméstico com os demais empregos assalariados. Ainda sob o governo militar foi
promulgada a Lei 5.859 que alterou a classificação de trabalhador doméstico como aquele que
“presta serviço de natureza contínua e finalidade não lucrativa à pessoa ou à família no âmbito
residencial dessas”. Segundo Fazzio (2014, p. 14)
A Lei implica em uma conquista de Direitos, por um lado, ao estender algumas
garantias à categoria (vedação do desconto no salário por fornecimento de
alimentação, vestuário, higiene ou moradia; férias anuais remuneradas e acesso aos
benefícios e serviços da Lei Orgânica da Previdência Social na qualidade de
segurados obrigatório). Por outro lado, institui que o acesso a tais direitos apenas é
dado ao empregado doméstico que preste seu serviço de forma contínua, e estando
registrado mediante a assinatura pelo empregador de sua Carteira de Trabalho.
Observa-se, dessa forma, que a primeira regulação federal que de fato incide sob
os direitos trabalhistas das trabalhadoras domésticas só foi ratificado em 1972. Nessa ocasião,
os avanços foram a elevação à condição de sujeito previdenciários e assegurado o registro em
carteira No entanto, em que pese à importância desse Decreto, parte substantiva das ocupadas
nesse setor não conta (nem contavam) com o registro em Carteira de Trabalho, permanecendo
essas trabalhadoras à margem do conjunto dos direitos do trabalho. O artigo 1º dessa lei
definiu o empregado doméstico como “o que presta serviços de natureza contínua e de
finalidade não lucrativa à pessoa ou à família, no âmbito residencial dessas”. (BIAVASCHI,
2014)
As limitações ao exercício da profissão com o registro na carteira não foram os
únicos empecilhos ao avanço da equidade. Em 1984, o então presidente militar João
Figueiredo vetou a aplicação do direito de férias remuneradas por 30 dias, sob a seguinte
alegação (Apud Fazzio, 2014, p. 15).
108
pode ser vista como ampliação de direitos da categoria, posto que beneficia o empregador, ao
invés da trabalhadora doméstica.
704,63) e de 12% nos rendimentos mensais das trabalhadoras (ou quase R$ 66, indo de R$
568,65 para R$ 634,52). Ou seja, o pagamento do conjunto dos direitos recentemente
estendidos às trabalhadoras domésticas não justificaria um aumento tão substancial dos custos
do empregador.
As alíquotas são fixas em 8% para INSS e FGTS, e a multa por rescisão contratual
por demissão sem justa causa fica em até 25, 55 reais para o salário de acordo com o mínimo
federal. Em síntese, para o empregador que já assina a carteira de trabalho do emprego
doméstico o custo com a nova regulamentação altera-se de forma pouco expressiva.
112
CONSIDERAÇÕES FINAIS
econômica nos anos 2000. Por isso nosso trabalho pretende encontrar uma “terceira via” que
busque analisar criticamente nossa situação histórica e conjuntural sem, contanto, ser “míope”
com relação ao cenário de transformações importantes no trabalho doméstico assistidos nos
anos 2000.
O trabalho doméstico no Brasil teve como sua marca a informalidade, a ausência
de proteção legal e de direitos do trabalho. As mudanças sistemáticas dos anos 2000,
culminando com a aprovação da PEC que equipara os direitos das trabalhadoras domésticas
aos demais trabalhadores formais, são passos firmes na construção de novas condições para a
regulação pública desse emprego. De forma geral os anos 2000 foram de ganhos para os
trabalhadores (embora tenha sido para os muito ricos também). O fortalecimento das políticas
sociais, desde as focalizadas até as universais, é de fundamental importância para a
estruturação da vida dos trabalhadores, que dependem de transferências de renda e da
utilização dos equipamentos públicos sociais. A melhora econômica de forma geral também é
condição necessária – embora não suficiente – de melhoria para os trabalhadores. Por isso a
estratégia de crescimento econômico ancorada no mercado interno e principalmente de
consumo de massas, teve um efeito importante sob a dinâmica cíclica da economia,
contribuindo para o aumento do gasto dos trabalhadores ao mesmo tempo em que crescia a
sua renda. Mas não só isso. Um cenário de melhora econômica e no mercado de trabalho
torna o ambiente mais favoráveis as lutas sociais. Os anos 2000 foram palco da retomada do
movimento sindical, da eclosão de muitas greves e do florescimento de novas demandas
sociais, ligadas sobretudo as pautas de gênero e raça. Nesse bojo também reascende as lutas e
reivindicações políticas das trabalhadoras domésticas, que foram agentes centrais da luta
histórica pela equiparação dos direitos trabalhistas. As trabalhadoras domésticas foram um
dos setores mais atingidos positivamente pela política de valorização real do salário mínimo,
que chegou ao aumento real de 77% nesse período. Aumento real somado com crescimento
econômico e queda da inflação manteve e aumentou o poder de compra dos trabalhadores.
Ainda do ponto de vista dos rendimentos, os dados apresentados nesse trabalho corroboraram
nossa hipótese do período adverso para os trabalhadores – principalmente para as domésticas
– nos anos 90, com queda real dos rendimentos médios em relação à década de 80, e
mostrando que os anos 2000 o rendimento dessas trabalhadoras cresceu fortemente,
aproximando-se da média dos rendimentos dos brasileiros.
Os anos 2000 ainda foram cenário para uma inversão na pirâmide ocupacional do
perfil etário da categoria, perdendo participação entre as jovens até 35 anos e crescendo entre
as trabalhadoras mais velhas. Esse foi mais um elemento indicativo da melhora do período,
115
anos 2000 – logradas especialmente pelo aumento das receitas fruto do crescimento
econômico – tem “vida-curta” e sua sustentação está permanente ameaçada, seja pela
dinâmica internacional, como a da crise financeira que iniciou em 2008 e que segue
impedindo a taxa de crescimento global, seja pelas crises políticas e pelo avanço conservador,
como ocorre atualmente. A instabilidade econômica seja por fatores externos ou internos, já
está revertendo esse quadro de conquistas, com o aumento do número de trabalhadoras
domésticas, a queda na renda e o aumento da informalidade. Dessa forma, conquistar esses
avanços no longo prazo vai exigir um nova política econômica, não só que abandone o
receituário liberal do ajuste fiscal, mas que faça do Estado o motor do desenvolvimento
econômico, e que o mesmo caminhe para transformar o Brasil em uma nação autônoma e auto
sustentada.
Dentro da perspectiva de gênero a melhora no mercado de trabalho possibilitou à
muitas mulheres migrarem para empregos melhor remunerados e de maiores garantias
trabalhistas, especialmente as mulheres brancas. No ano de 2003 o trabalho doméstico era o
principal receptor de mão de obra feminina. Em 2014, no entanto, ele cai para o terceiro,
ficando atrás de outras ocupações como no setor de educação e no comércio. No tange às
mulheres negras essa década foi de algumas contradições, uma vez que aumentou o
contingente dessas no total das empregadas, explicitando a forte correlação existente entre o
emprego doméstico e a questão racial, herança do nosso passado colonial. No entanto,
elementos positivos marcam a trajetória de melhoria para as trabalhadoras negras também,
passo importante para suprir nossos resquícios escravocratas e nossa discriminação secular.
Essa dissertação concluiu, portanto, que esse foi um período importante e de
fortes impactos da vida nos mais pobres, nos quais se destacam as trabalhadoras domésticas.
Sua permanência no tempo, no entanto, não é algo assegurado, posto à movimentação
necessariamente cíclica de um modelo baseado na dinâmica do comercio externo. Ou seja,
ainda é preciso pensar alternativas de crescimento e desenvolvimento que sejam sustentáveis
no longo prazo, privilegiando o investimento autônomo e o retorno à uma política de
industrialização nacional. Concluímos, também, que somente as políticas “universais” para o
mercado de trabalho não são suficientes para a melhora das condições de emprego desse setor.
Dessa forma, é preciso desenvolver a ampliar o PLANCITE - doméstica, Plano Nacional de
combate à informalidade das trabalhadoras domésticas, revendo para cima suas metas e
construindo mecanismos mais eficazes de fiscalização, assim como é preciso aprofundar
políticas públicas com recorte de gênero e raça, que visem – sobretudo – incentivos ao
117
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