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Valter Machado da Fonseca

Desde os meus primeiros estudos acerca do tema “sustentabilidade”, venho afirmando que se trata de um
conceito volátil, que se dissolve antes de se cristalizar. Agora, mais do que nunca, esta convicção se
fortalece. As propostas de sustentabilidade, sob o modelo econômico capitalista, não se sustentam nem
teoricamente. Aliás, esta foi a hipótese da minha tese de doutoramento. O modelo de produção capitalista
tem como motor para se auto sustentar, para se manter de pé, a mais-valia, que se mantém às custas do
aumento exponencial dos recursos da natureza, via aumento e produção de novas mercadorias.
O conceito de sustentabilidade socioambiental se embasa no pilar da conciliação do desenvolvimento
econômico com a eliminação da pobreza, além de minimizar os impactos sobre os recursos da natureza. Aí,
nos vem à mente a pergunta: por que o sistema capitalista, cuja meta central é a reprodução e expansão do
capital, por intermédio do lucro (mais valia), se apropriou, de forma tão rápida, do discurso da
sustentabilidade? Por que ele passou a fazer o marketing da sustentabilidade socioambiental, se para atingi-
la se faz necessário diminuir o ritmo de exploração dos recursos naturais, o que, por sua vez, se liga à
diminuição de seus exorbitantes lucros e auto reprodução do capital, o que para o capitalismo seria fatal?
A resposta a essas indagações se revela de forma simples. O sistema capitalista, bem como seus principais
porta vozes (as grandes empresas, os grandes grupos econômicos e as gigantescas corporações
inter/multi/transnacionais) se apropriaram do discurso da tão propalada sustentabilidade como forma de
agregar valores supostamente ecológicos aos seus produtos, por meio da dita responsabilidade
socioambiental. Haja vista, que são as empresas que mais poluem, que mais defendem a “sustentabilidade”.
Assim, agregando valores supostamente ecológicos aos seus produtos, o capital aumenta
consequentemente sua mais-valia e, ao mesmo tempo, encontra justificativas perfeitas, que lhe permitam
defender o aumento da produção de novas mercadorias e supérfluos, o que não se dá sem a exploração de
novas fontes de recursos naturais.
Neste sentido, podemos verificar que os princípios nos quais se apoiam as tais propostas de
sustentabilidade, na verdade, são totalmente incompatíveis com os fundamentos e as bases do modelo
capitalista de produção. São como água e óleo, jamais se misturarão. Nunca será possível conciliar, sob
este modelo econômico, propostas de redução da exploração dos recursos naturais com a manutenção e
expansão da mais-valia, sem a qual o sistema capitalista entraria em colapso total e definitivo, pois, sem
exploração dos recursos naturais não tem mercadorias e sem mercadorias não tem mais-valia. Simples
assim!
Então, na verdade, a “onda verde” da sustentabilidade, arduamente defendida nas grandes conferências e
reuniões ambientais mundiais, não passa de balela, de falsificação, de um discurso vazio. De fato, isto
explica o porquê de todas as conferências sempre terminarem em pizza e se transformarem em um palco,
onde se discute de tudo, menos propostas que visem a resolver os grandes e graves problemas
socioambientais do planeta. A tal sustentabilidade socioambiental foi milimetricamente planejada e forjada
pelo capital de maneira a aumentar os lucros das elites econômicas e, ao mesmo tempo, servir de desvio
eficiente da atenção dos setores bem-intencionados da população mundial dos gravíssimos problemas que
permeiam a grande crise estrutural que perpassa as engrenagens carcomidas e enferrujadas do capital.
Assim, caros (as) leitores (as), cabe-nos a árdua tarefa de mostrar aos amplos setores que trabalham as
questões ambientais acreditando, de forma honesta, nos princípios da tal sustentabilidade socioambiental,
que este conceito não passa de uma farsa, de um discurso enganoso, que visa, em última instância, legitimar
a superexploração despreocupada dos recursos naturais, bem como a perpetuar a exploração do homem
pelo próprio homem.
Cabe a nós, comprometidos com um modelo de sociedade que valorize o trabalho humano e os recursos da
natureza, utilizar este discurso no sentido da politização e mobilização dos amplos setores da sociedade,
mostrando os desmandos deste modelo econômico que, embasado no arcabouço teórico-discursivo
falacioso de uma “sustentabilidade” vazia, que visa simplesmente perpetuar a superexploração da força de
trabalho humano e dos recursos da natureza, como forma de garantir a superprodução de supérfluos e
descartáveis em detrimento das reais necessidades humanas. Sob esta orientação, a dita “Sociedade do
Conhecimento” caminha a passos largos para a barbárie generalizada, onde os seres humanos coisificados
irão aumentar as montanhas de lixos e descartáveis produzidos pela ganância, volatilidade, fluidez e
capacidade especulativa da voracidade desse modelo econômico, por meio do processo da mundialização
do capital.

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