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UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

CIÊNCIAS ECONÔMICAS

SINVAL JOSÉ ALVES

URBAN FARMS, O AGRONEGÓCIO SUSTENTÁVEL

A eficiência da economia circular em fazendas verticais


contribuindo para a segurança alimentar em cidades sustentáveis.

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

SINVAL JOSÉ ALVES

URBAN FARMS, O AGRONEGÓCIO SUSTENTÁVEL

A eficiência da economia circular em fazendas verticais


contribuindo para a segurança alimentar em cidades sustentáveis

2365664507

Maceió, AL
2021.2
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UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como requisito parcial para a obtenção do título
de Bacharel em Ciências Econômicas.

Orientadora: Professora Nathalia Caroline Faria

2365664507

Maceió, AL
2021.2
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Dedico este trabalho aos meus filhos, pois eles


viverão neste futuro sustentável, minha família
pelo apoio em todos os momentos de minha
vida, minha mulher amada, pelo amor,
confiança, paciência, por nunca terem desistido
de me apoiar, especialmente nos momentos
mais difíceis da vida, e porque aprenderam
acreditar que nenhum caminho é impossível
para aqueles que perseveram.

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AGRADECIMENTOS

A Professora Nathalia Caroline Faria, que me acompanhou e orientou, com carinho,


paciência, firmeza e dedicação, em todas as horas em que precisei, minha
orientadora esteve presente.

Aos professores que contribuíram com sua inestimável sabedoria e generosidade ao


compartilharem o conhecimento.

Aos colegas de cárcere, aos dirigentes do Presídio Masculino Baldomero


Cavalcante de Oliveira, Maceió, AL, por oferecerem as condições de estudo
minimizando todas as precariedades do sistema penitenciário

E, a todos aqueles que acreditam que nenhum caminho é impossível para aqueles
que perseveram.

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Nulla tenaci invia est via

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ALVES, Sinval José. URBAN FARMS, O AGRONEGÓCIO SUSTENTÁVEL - A


eficiência da economia circular em fazendas verticais contribuindo para a segurança
alimentar em cidades sustentáveis. 2021.1. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em Ciências Econômicas – 7º Período) – 102 laudas - Universidade
Anhanguera, Maceió, AL, 2021.1

RESUMO
Poucas coisas são tão essenciais e ao mesmo tempo prazerosas ao ser humano
como o ato de alimentar-se. A segurança alimentar nutricional é objeto de políticas
públicas que visam a segurança alimentar e desenvolvimento econômico, social e
ambiental, como meio de atender as demandas alimentares da população que cresce
em ritmo acelerado. Com o crescimento das cidades e o aumento das distâncias,
cada vez mais será necessário encontrar soluções eficazes para fomentar a
produção, processamento, transformação, logística, transporte, distribuição até
chegar ao consumidor, assim como equacionar o aproveitamento dos resíduos. A
cultura inerente a economia linear já não atende, diante de um mundo que está perto
do colapso ambiental, pondo em risco a existência do planeta e de todos os seres
vivos. Na busca de soluções e alternativas viáveis, além de ser preciso mudar a forma
de pensar e viver um novo estilo de vida, menos excessivo, consumista e predatório,
também é necessário encontrar alternativas para o sistema de produção, para o qual,
muitos países, universidades, empresas e a sociedade, vêem a viabilidade da
Economia Circular, como modelo de produção e de consumo, com maiores
benefícios. A partir dos conceitos de cidade inteligente e cidade sustentável, esse
estudo debruça-se sobre a análise da “urban farm”, como matriz de produção de
alimentos, através do sistema "vertical farming" especialmente hortifrutigranjeiros e
outros que integram os hábitos de consumo alimentar diário, fundado no sistema
econômico de produção circular, para a produção e consumo de alimentos nos
centros urbanos, à luz do conceito de desenvolvimento ambiental, social e econômico
sustentável.

Palavras Chave: Urban Farm; Agronegócio; Sustentabilidade;Economia circular;


Cidades Sustentáveis.
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ALVES, Sinval José. URBAN FARMS, SUSTAINABLE AGROBUSINESS – The


benefits of circular economy in the vertical farming at the sustainables cities. 2021.1.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Econômicas – 7º Período)
102 pages – Universidade Anhanguera, Maceió, AL, 2021.1

ABSTRACT

Few things are as essential and at the same time pleasurable to human beings as the
act of eating. Nutritional food security is the object of public policies aimed at food
security and economic, social and environmental development, as a means of meeting
the food demands of the rapidly growing population. With the growth of cities and the
increase in distances, it will be increasingly necessary to find effective solutions to
encourage production, processing, transformation, logistics, transport, distribution until
reaching the consumer, as well as considering the use of waste. The culture inherent
linear economy no longer serves, in the face of a world that is close to environmental
collapse, putting at risk the existence of the planet and all living beings. In the search
for viable solutions and alternatives, in addition to changing the way of thinking and
living a new, less excessive, consumerist and predatory lifestyle, it is also necessary to
find alternatives to the production system, for which many countries, universities,
companies and society see the viability of the Circular Economy as a production and
consumption model with greater benefits. Based on the concepts of smart city and
sustainable city, this study focuses on the analysis of the "urban farm", as a food
production matrix, through the "vertical farming" system, especially fruit and
vegetables and others that integrate food consumption habits daily, based on the
economic system of circular production, for the production and consumption of food in
urban centers, in light of the concept of sustainable environmental, social and
economic development.

Keywords: Urban Farm; Agrobusiness; Sustainability; Circular Economy;


Sustainables Cities

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SUMÁRIO

1. Introdução ao tema 10
1.1 Metodologia da Pesquisa 15

2. Teoria Econômica – Do Mercantilismo à Keynes 15


2.1. O pensamento mercantilista 16
2.2. Aspectos da teoria clássica e a oposição ao mercantilismo 17
2.3. Dos clássicos à Keynes 24
2.4. Tendências e avanços das teorias econômicas do século XX 27

3. Economia linear 29

4. Do Conceito de Crescimento ao Desenvolvimento Sustentável. 38

5. Economia circular 52

6. Cidades inteligentes e sustentáveis 59

7. O Direito Urbanistico como instrumento regulatório das Cidades 66


Inteligentes e Sustentáveis e a Destinação Social e Econômica da
Propriedade Urbana

8. Urban Farms – Fazendas Urbanas 70

9. Vertical Farming 85

10. Conclusão 92

10. Referências Bibliográficas 95

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho acadêmico tem como objetivo propor soluções, aplicando conceitos das
ciências econômicas, no âmbito urbano, e, com fundamento nos conceitos de
sustentabilidade, economia circular, cidade inteligente e cidade sustentável,
recomendando a análise de medidas capazes de integrar conceitos de convívio
urbano, sustentabilidade e economia circular, de modo a contribuir com idéias
capazes de impulsionar, transformar e desencadear um esforço público-privado, a
partir de um conceito global, para construir uma economia circular para a produção,
distribuição e consumo sustentável de alimentos para atender a demanda regional no
âmbito das cidades.

Poucas coisas são tão essenciais e ao mesmo tempo prazerosas ao ser humano
como o ato de alimentar-se.

O alimento nutre, sustenta a vida e ao mesmo tempo está presente em momentos de


compartilhamento de alegrias, congraçamento e de celebração de acordos entre
pares, oponentes, corporações empresariais e nações.

A segurança alimentar nutricional é objeto de políticas públicas que visam o


desenvolvimento econômico, social e ambiental, como meio de atender as demandas
alimentares da população que cresce em ritmo acelerado.

Com o crescimento das cidades e o aumento das distâncias, cada vez mais será
necessário encontrar soluções eficazes para fomentar a produção, processamento,
transformação, logística, transporte, distribuição até chegar ao consumidor, assim
como equacionar o aproveitamento dos resíduos.

A cultura consumista traduzida pelo extrai - produz – consome – descarta, inerente a


economia linear já não atende aos anseios, diante de um mundo que está perto do
colapso ambiental, pondo em risco a existência do planeta e de todos os seres vivos.

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Além de ser preciso mudar a forma de pensar e viver um novo estilo de vida, menos
excessivo, consumista e predatório, também torna-se necessário buscar novas
possibilidades, alternativas e soluções viáveis. É necessidade premente encontrar
alternativas para o sistema de produção, para o qual, muitos países, universidades,
empresas e a sociedade, vêem com bons olhos a viabilidade da Economia Circular,
como modelo de produção e de consumo que envolve a partilha, o aluguel, a
reutilização, a reparação, a renovação e a reciclagem de materiais e produtos
existentes, em que o ciclo de vida dos produtos é entendida, evitando o descarte,
desperdícios e diminuindo o quanto possível os resíduos.

A economia circular é fundada no conceito reparar – reutilizar – reciclar, com maiores


benefícios.

A partir dos conceitos de cidade inteligente e cidade sustentável, esse estudo


debruça-se sobre a análise da “urban farm”, como sistema de produção de alimentos,
especialmente hortifrutigranjeiros e outros que integram os hábitos de consumo
alimentar diário, fundado no sistema econômico de produção circular, como
alternativa para a produção e consumo de alimentos nos centros urbanos, à luz do
conceito de desenvolvimento ambiental, social e econômico sustentável, equilibrado e
vislumbrando dentre outros benefícios a redução da pressão do agronegócio sobre o
ambiente, maior segurança no provisionamento e manutenção de estoques
reguladores, aumento da produtividade, promoção da inovação, o estímulo ao
crescimento econômico e a criação de empregos no âmbito das cidades.

Trata-se de uma proposta de modelo de política de desenvolvimento urbano racional,


inteligente e equilibrada, pois, é impossível não reconhecer que poucas coisas estão
tão entrelaçadas com a existência e cultura humanas como o alimento. Seja no nível
mais básico do sustento e sobrevivência, ou como liga nas relações sociais, o ato de
alimentar-se sempre ocupa espaço central nas culturas de todo o mundo.

Logo, a produção de alimentos para consumo é um grande mercado, que sempre


será necessário para atender a necessidade de uma população crescente, cada vez
mais conectada com o desenvolvimento econômico e a urbanização.

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No entanto, ainda que se observem ganhos de produtividade o modelo de produção


fundado na economia linear, vem produzindo insuportáveis custos e não é mais visto
como adequado para atender às necessidades de longo prazo, que exigem um novo
estilo de vida, que atenda aos anseios do ser humano, porém, sem tolerar práticas
predatórias, com maior consciência de responsabilidade social e ambiental, e que
possa fomentar o desenvolvimento econômico local, inspirados em conceitos do
desenvolvimento global sustentável.

A proposta do sistema urban farm aliado aos benefícios da economia circular para
produção de alimentos dentro dos limites territoriais locais da cidade, com tecnologias
que permitam o melhor aproveitamento espacial, beneficiando área degradadas,
imóveis e terrenos abandonados, em que a produção de determinados tipos de
alimentos, de consumo habitual e diário, como por exemplo, hortifrutigranjeiros, possa
ser levada a efeito através de fazendas urbanas, uma vez que, essa tecnologia
apresenta um modelo atraente com enormes benefícios a economia, a saúde, ao
meio ambiente e a toda cadeia produtiva alimentar e para a sociedade em geral.

Não se trata de pensamento de ruptura com os conceitos da economia clássica, mas


de adequação. O conceito de economia circular não é apenas uma teoria que se opõe
aos princípios regentes da economia clássica na qual se fundamenta o conceito de
economia linear, até hoje muito praticado e entendido como bem sucedido, conforme
exposto por TAYNARA MARTINS GONÇALVES e ANA FLÁVIA DA FONSECA
BARROSO, da área de engenharia de produção, da Universidade Salgado de
Oliveira, Campus Juiz de Fora, UNIVERSO, ao discorrer sobre o tema no tratado
acadêmico sobre “A economia circular como alternativa à economia linear” 1, citando a
obra de BEATRIZ LUZ, “Economia Circular Holanda: Brasil: da teoria à prática” 2:

“Desde a revolução industrial o modo de produção e consumo é


realizado de maneira linear, ou seja, as matérias-primas
1
https://ri.ufs.br/bitstream/riufs/12561/2/EconomiaCircularAlternativa.pdf. Acesso em 10 de setembro
de 2021.

2
LUZ, Beatriz. (Org.). Economia circular Holanda: Brasil: da teoria à prática. 1ª ed. -- Rio de Janeiro:
Exchange. 4 Change Brasil, 2017.

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transformadas em produtos manufaturados eram consumidas e,


depois, descartadas como lixo. Esse modelo econômico linear
tem sido utilizado e bem-sucedido, ao longo dos anos, por
proporcionar ao consumidor produtos a preços mais acessíveis e
garantir o aumento de bens materiais a bilhões de indivíduos”
(LUZ, 2017).

Ocorre que as condições relativas à sustentabilidade econômica da atividade humana


precisam ser modificadas, sob pena de colapso e extinção das condições inerente a
própria sobrevivência, não apenas dos seres humanos, mas da conservação da
própria natureza e das demais espécies e seres vivos, regidas pelas mesmas leis
naturais e universais que sustentam a vida no planeta. Afinal o ser humano
contemporâneo não deve entender a relação com natureza como “nós versus eles”,
tal como argumenta Yuval Noah Harari (2019) segundo o qual “o Homo sapiens evolui
para achar que as pessoas se dividiam entre ‘nós’ e ‘eles'”. 3

Pretende-se demonstrar que a Urban Farm associada a economia circular é um


modelo de produção e de consumo sustentável, ampliando o ciclo de vida dos
produtos e processos, o que, na prática, implica na redução do desperdício ao
mínimo, já que o fim do ciclo não implica descarte, mas reaproveitamento, se
possível, o que permite agregar mais valor. E nesse sentido pretende-se demonstrar
que o sistema é uma possibilidade concreta de economia sustentável, gerando
emprego e renda, atendendo a produção, distribuição e consumo de alimentos,
contribuindo para desenvolver áreas degradadas ou abandonadas em cidades,
fomentando o desenvolvimento urbano sustentável.

Neste trabalho acadêmico não se prescindiu dos conceitos e dogmas clássicos e


ortodoxos dos estudos econômicos, sobre os quais respeitamos a compreensão de
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA, que ensina:

3
HARARI, Yuval Noah, Sapiens – Uma breve história da humanidade, L & PM Editores, Porto Alegre,
2019, pág. 179.

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“A Economia Política é a ciência social que estuda o


comportamento do homem no processo de produção, circulação
e distribuição de bens escassos. Sua reocupação está em saber
como se produz um excedente econômico e como essa
produção que excede o consumo de subsistência é apropriado e
dividido pelos diversos grupos sociais.

(...)

Entendemos por teoria econômica ortodoxa a teoria econômica


clássica, neoclássica e até certo ponto a teoria econômica
keynesiana. A esta teoria ortodoxa opõem-se as teorias
econômicas críticas do sistema capitalista: a marxista, a neo-
keynesiana-neo-marxista, e as diversas formas do que se
revestiu a teoria estruturalista latino-americana”.

(“Da macroeconomia clássica à macroeconomia Keynesiana”) 4

Ocorre ser preciso repensar a economia sob o ponto de vista das novas aspirações
humanas e estímulos de ordem social, política e ambiental, mais condizentes com os
novos tempos, a moral e a ética contemporânea, sem deixar de olhar para o futuro
das próximas gerações.

Não é possível conceber o pensamento econômico sem considerar,


fundamentalmente, a sustentabilidade social, econômica e ambiental.

4
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Da macroeconomia clássica à macroeconomia keynesiana. Luiz
Carlos Bresser-Pereira. Versão revisada em maio de 1976 de apostila publicada originalmente em abril
de 1968 abril, “Da microeconomia à macroeconomia keynesiana”.

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1.1. Metodologia da Pesquisa

O desenvolvimento da pesquisa possui um caráter investigativo e descritivo quanto à


compreensão do funcionamento das práticas de agricultura urbana e os métodos de
cultivo, especialmente focado no sistema vertical farming.

A pesquisa adotou os processos metodológicos adotados na prospecção e


levantamento de informações bibliográficas por meio de artigos científicos,
dissertações, livros e webgrafia para oferecer um referencial teórico na conceituação
do tema estudado.

As conclusões foram resultado da leitura e interpretação dos estudos de caso


escolhidos aplicando o entendimento à realidade existente.

2. TEORIA ECONOMICA – DO MERCANTILÍSMO AOS CLÁSSICOS E DESTES


A KEYNES

Para melhor compreensão do tema, é importante perpassar pelo pensamento


ortodoxo que abarca as teorias econômicas clássica, neoclássica e, com certa
licença, a teoria econômica keynesiana.

A esta teoria ortodoxa opõem-se as teorias econômicas críticas do sistema capitalista,


tais como as teorias marxista, neo-keynesiana, neo-marxista, e as diversas formas do
que se revestiu a teoria estruturalista da America Latina.

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2.1. O Pensamento Mercantilista

Pode-se se resumir o pensamento mercantilista como um conjunto de idéias e


práticas econômicas que prevaleceu na Europa, entre 1450 e 1750. Tais idéias,
historicamente, estão associadas à ascensão do conceito Estado-Nação no
continente europeu e às transformações geográficas que ficaram marcadas pelas
grandes navegações.

Essa ideologia culminou com o fluxo de metais preciosos que determinou duas
conseqüências importantes para o pensamento econômico. Primeira, o
desenvolvimento da idéia sobre moeda. Segundo, a possibilidade de elaboração da
concepção de acumulação de metais preciosos, base dos sistemas mercantilistas.

Tais dogmas do mercantilismo advinham da crença de que a riqueza e o poder de


uma nação estavam determinados pelos seus estoques de metais preciosos, com
necessidade de intervenção estatal para direcionar o desenvolvimento do sistema
capitalista. Os mercantilistas não se limitavam a crer que o ouro e a prata eram as
únicas riquezas, mas os consideravam-nos como os mais perfeitos instrumentos de
aquisição de riqueza.

A adesão a esse fundamento levou os países a tentar assegurar cada vez mais
excedentes de exportações, pois a concepção era ter superávit sobre as importações
para ganhar ouro e prata através do comércio exterior.

O método utilizado para assegurar esses saldos comerciais favoráveis incluía


subsídios às exportações, imposto sobre as importações e o desenvolvimento de
colônias que proporcionassem mercados para os bens de exportação.

Supunha-se que a ação do Estado fosse necessária para fazer com que o sistema
capitalista em desenvolvimento agisse de acordo com seus interesses.

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Para servir a esses objetivos o comércio exterior era cuidadosamente regulamentado


e as exportações de metais preciosos eram em muitos lugares proibidos. O emprego
das ações estatais também era defendido num âmbito mais amplo, para desenvolver
a indústria doméstica, reduzir o consumo de bens importados e desenvolver os
recursos naturais e humanos.

Para os mercantilistas a noção de riqueza estava associada à acumulação de metais


preciosos e na idéia de que os preços seriam formados na esfera das trocas sob a
influência das condições de oferta e demanda, sob um sistema de políticas que se
caracterizava pela defesa da intervenção estatal na economia como meio de geração
da riqueza das nações.

Portanto a idéia de acumulo de metais preciosos foi a essência de todo o pensamento


mercantilista, que não pode ser considerado um sistema único, mas com variações,
dentre as quais se destacam os modelos espanhol, o francês e o inglês.

2.2. Aspectos da Teoria Clássica e a oposição ao Mercantilismo

Os questionamentos ao sistema mercantilista foram crescentes à partir da crítica a


noção de riqueza baseada no nível real de reservas monetárias de metais preciosos.

A chamada escola clássica, segundo os estudos econômicos, foi inaugurada em 1776


com clássica obra A Riqueza da Nações de Adam Smith. Depois vieram Malthus e
David Ricardo, e completada, em 1848, com Stuart-Mill, em sua obra Princípios de
Economia Política.

Havia um evidente contraste com as idéias dos mercantilistas. Partindo do ponto de


vista de uma análise real, os economistas clássicos desconfiavam do governo e
enfatizavam a convergência entre os interesses individuais e nacionais.

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Salvo em casos nos quais a interferência estatal ocorresse visando a garantir a


operação competitiva dos mesmos, as regulamentações governamentais sobre os
mercados eram comportamentos estatais censurados pelos clássicos.

A Teoria da economia clássica partia da premissa de ser necessário dar ênfase a


fatores reais e a certeza da eficácia do mecanismo do livre mercado. Assim, essa
teoria desenvolveu-se com base em controvérsias sobre questões de longo prazo e
do interesse sobre os determinantes do desenvolvimento da ciência econômica.

A base teórica da Economia Política clássica, é afirmada, do ponto de vista formal, a


partir da teoria econômica apresentada por Adam Smith na obra “A Riqueza das
Nações”, “Investigação sobre sua natureza e suas causas”, versão da obra com
introdução de Edwin Cannan e apresentação de Winston Fritsch que, essencialmente
trata da teoria do crescimento econômico cujo cerne concisamente é:

“a riqueza ou o bem-estar das nações é identificado com seu


produto anual per capita que, dada sua constelação de recursos
naturais, é determinado pela produtividade do trabalho ‘útil’ ou
‘produtivo’, que pode ser entendido como aquele que produz um
excedente de valor sobre seu custo de reprodução — e pela
relação entre o número de trabalhadores empregados
produtivamente e a população total”. 5

Como ocorre em todas as áreas do conhecimento humano, também entre os


clássicos observa-se divergência ideológica. Por exemplo, aspecto que interessa ao
estudo em questão é a renda da terra.

5
SMITH, Adam. ADAM SMITH. A RIQUEZA DAS NAÇÕES. INVESTIGAÇÃO SOBRE SUA
NATUREZA E SUAS CAUSAS. Com a Introdução de Edwin Cannan. VOLUME I. Apresentação de
Winston Fritsch. Tradução de Luiz João Baraúna. Editora Nova Cultural Ltda. Copyright © desta edição
1996, Círculo do Livro Ltda. Rua Paes Leme, 524 - 10º andar CEP 05424-010 - São Paulo – SP. Título
original: An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations. Direitos exclusivos sobre a
Apresentação de autoria de Winston Fritsch, Editora Nova Cultural Ltda. Direitos exclusivos sobre a
tradução deste volume: Círculo do Livro Ltda. Impressão e acabamento: DONNELLEY COCHRANE
GRÁFICA E EDITORA BRASIL LTDA. DIVISÃO CÍRCULO - ISBN 85-351-0827-0.

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Segundo as lições de Adam Smith, sempre haverá para o proprietário a renda da


terra, e conclui que o interesse do proprietário de terra não se opõe ao do resto da
sociedade:

“renda da terra, considerada como o preço pago pelo uso da


terra, é naturalmente a maior que o arrendatário pode permitir-se
pagar, nas circunstâncias efetivas da terra.

(...)

A renda do proprietário da terra é proporcional, não àquilo que


seu dono pode auferir dela, mas àquilo que o arrendatário
consegue auferir tanto da terra como da água.

(...)

Conseqüentemente, a renda da terra, considerada como o preço


pago pelo uso da terra, é naturalmente um preço de monopólio.
De forma alguma é ela proporcional àquilo que o proprietário
pode ter investido na melhoria da terra, ou àquilo que ele pode
extrair dela; mas ela é proporcional ao que o arrendatário pode
pagar.

A terra, em quase todas as situações, produz uma quantidade


maior de alimentos do que o suficiente para manter toda a mão-
de-obra necessária para colocá-los no mercado, por mais liberal
que seja a remuneração paga à mão-de-obra.

Também o excedente é sempre mais do que suficiente para


repor o capital que deu emprego a essa mão-de-obra,
juntamente com o lucro desse capital. Por isso, sempre

19
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permanece algo para uma renda destinada ao proprietário


da terra. (...).” 6

A professora MARIA HELOIZA LENZ, do Departamento de Economia e da Pós-


Graduação em Economia da UFRGS, subscreve o artigo “A evolução do conceito de
renda da terra no pensamento econômico: Ricardo, Malthus, Adam Smith e Marx”,
desenvolve o tema na obra “A categoria econômica renda da terra” e a “Teoria da
renda da Terra: Ricardo e Malthus”, nos quais faz uma didática comparação entre os
pensamentos dos ideólogos antes referidos, trecho em excerto em que esclarece:

“O posicionamento inicial da Smith (1981), em relação ao


tratamento a ser dedicado à natureza da renda da terra é o de
que esta consiste em um excedente imerecido, não ganho com o
trabalho, que é apropriado pelo proprietário da terra através do
exercício do seu poder de monopólio. Fica claro desde logo que,
para Adam Smith, a renda da terra representa um preço pago
pela existência da propriedade privada da terra.

A sua colocação sobre essa questão aparece quando realiza


uma retrospectiva histórica do desenvolvimento da instituição da
propriedade privada da terra, afirmando: ‘Logo que toda a terra
de um país se torna propriedade privada, os seus proprietários,
que, como todos os homens, gostam de colher o que nunca
semearam, exigem uma renda, mesmo pelas suas produções
naturais’ (Smith, 1981, p.151)”.

Em relação ao tratamento dispensado por Adam Smith, (...) começa sua análise
afirmando que:

“A renda, considerada como o preço pago pela utilização da


terra, atingirá naturalmente o valor mais alto que arrendatário

6
Idem SMITH, Adam. ADAM SMITH. A RIQUEZA DAS NAÇÕES. INVESTIGAÇÃO SOBRE SUA
NATUREZA E SUAS CAUSAS, páginas 181-183.

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possa pagar, tendo em conta as características específicas da


terra em questão’ (Smith, 1981, p.305).

A sua principal afirmação (...) é, portanto, de que a renda da


terra é um preço de monopólio, não representando, de modo
algum, uma forma de juro ou lucro correspondente ao capital
empregado pelo proprietário nas respectivas benfeitorias.

(...)

Adam Smith afirma isso de uma forma categórica, dizendo que a


renda da terra: ‘Não é por qualquer forma proporcional àquilo
que o proprietário possa ter despendido na respectiva
beneficiação, ou ao valor que se lhe torna possível exigir; é-o,
sim, àquilo que o rendeiro tem possibilidade de pagar’” (Smith,
1981, p.307)” (LENS, 1985).7

Sendo assim, ela se vincula claramente com a propriedade da terra e com a


conceituação da existência de uma renda absoluta. Por isso, de acordo com
pensamento de Adam Smith, sempre existirá uma renda destinada ao proprietário da
terra.

Essa idéia é negada por David Ricardo, que diverge, a ponto de “colocar isso em
dúvida”, sustentando que existem terras que podem não gerar renda alguma ao
proprietário. Para Ricardo prevalece o conceito de renda diferencial. Sustenta David
Ricardo em sua obra An Essay on Profits (1815):

“I cannot agree with Mr Malthus in his approbation of the opinion


of Adam Smith, ‘that no equal quantity of productive labour
employed in manufactures, can ever occasion so great a re-
7
LENZ, M.aria Heloisa. A categoria econômica renda da terra. Porto Alegre/FEE. 1981; LENZ. Maria
Heloisa. A teoria da renda da terra: Ricardo e Malthus. Ensaios FEE, Porto Alegre, v.6, n.1, p.81-104.
1985.

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production as in agriculture’.

I suppose that he must have overlooked the term ever in this


passage, other wise the opinion is more consistent with the
doctrine of the Economists, than with those which He hás
maintained; as He hás stated, and I think correctly, that in the
first settling of a new country, and in every stage of its
improvement, there is a portion of its capital employed on the
land, for the profits of stock merely, and which yields no rent
what ever.

Productive labour employed on such land never does in fact


afford so great a reproduction, as the same productive labour
employed in manufactures”. 8

Em sua obra original David Ricardo elegantemente discorda dizendo não poder
concordar com MALTHUS quando este aprova a opinião de Adam Smith, pois,
Ricardo supunha que ambos devam ter se distanciado das opiniões mais consistentes
da doutrina dos Economistas, uma vez que Ricardo compreende que existe ao menos
um momento ou em cada etapa de seu aprimoramento, há uma parcela de capital
empregado na terra, apenas para os lucros do estoque, e que não rende nenhum
aluguel. Segundo Ricardo, o trabalho produtivo empregado nessas terras nunca
oferece de fato uma reprodução tão grande, como o mesmo trabalho produtivo
empregado nas manufaturas.

Para David Ricardo a noção da teoria da renda, a dele, desenvolvida à partir das
formulações de MALTHUS, constitui uma parte excedente, para o qual renda é “a

8
RICARDO, David. “An Essay on Profits”, David Ricardo, 1815, By David Ricardo, Esq.London: Printed
for John Murray, Albemarle Street, 1815 -
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/mc000314.pdf -
(https://www.google.com/url?sa=t&source=web&rct=j&url=http://livros01.livrosgratis.com.br/mc000314.p
df&ved=2ahUKEwiWudzmyan0AhWEILkGHaSVCOYQFnoECAQQAQ&usg=AOvVaw3oE0LY0g4UWP
7uPe9lkjyA).

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parte do valor do produto total que resta ao proprietário após o pagamento de todas
as despesas de qualquer espécie correspondente ao cultivo, incluindo-se nestas
despesas os lucros do capital empregado, calculados segundo a taxa usual e comum
dos lucros do capital agrícola no período de tempo considerado”.

Afirma David Ricardo:

“Whenever, then, the usual and ordinary rate of the profits of


agricultural stock, and all the outgoings belonging to the
cultivation of land, are together equal to the value of the
whole produce, there can be no rent.

And when the whole produce is only equal in value to the


outgoings necessary to cultivation, there can neither be rent
nor profit”. (RICARDO, 1815) 9

Dessa forma, se o produto total for unicamente igual ao valor das despesas
necessárias ao cultivo, não pode haver nem renda, nem lucro.

A par dessas divergências, a Teoria Clássica introduziu os preceitos e fundamentos,


que, por vezes, combinados, regem o sistema econômico contemporâneo.

Em favor da Teoria Clássica, por oposição aos monetaristas, pode-se reconhecer que
os economistas clássicos acentuavam o papel dos fatores reais, na determinação das
variáveis reais, como produção e o emprego.

9
Tradução livre: “Sempre que a taxa usual e ordinária dos lucros do estoque de produtos agrícolas e
todas as despesas relativas ao cultivo da terra, juntas, forem igual ao valor do produto, não pode haver
renda. Quando a soma do produto é igual ao valor das despesas necessárias para o cultivo, não pode
haver aluguel nem lucro” - Idem RICARDO, David. “An Essay on Profits”, David Ricardo, 1815, By
David Ricardo, Esq.London: Printed for John Murray, Albemarle Street, 1815 -
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/mc000314.pdf -
(https://www.google.com/url?sa=t&source=web&rct=j&url=http://livros01.livrosgratis.com.br/mc000314.p
df&ved=2ahUKEwiWudzmyan0AhWEILkGHaSVCOYQFnoECAQQAQ&usg=AOvVaw3oE0LY0g4UWP
7uPe9lkjyA)

23
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

A moeda na economia somente teria a função de meio de troca, e que os clássicos,


admitiam a atuação política do governo apenas para assegurar a adequação da
demanda à produção.

O modelo construído pelos economistas clássicos chega-nos com alguns desgastes,


já que os conceitos fundados no laissez-faire denotam uma certa ingenuidade, com
ferramentas de pouca eficácia e de pouca aplicação num mundo imperfeito, em que
todos buscam e nem sempre alcançam os ideais de pleno emprego, eficiência
máxima da produção, maximização da satisfação dos consumidores e dos lucros dos
produtores, e distribuição mais justa da renda entre os proprietários dos fatores de
produção. Mostra-se uma visão pouco realista.

Aliás, o evento da grande depressão dos anos trinta do século passado expôs a
ineficiência dessas teorias para a solução de diversos problemas do capitalismo.

2.3. Dos Clássicos à John Maynard Keynes

John Maynard Keynes desenvolveu um modelo teórico capaz de fazer frente ao


modelo clássico, eis que se mostrava descontente com o que considerava uma visão
idealista e alienada da economia, que ele publica no livro General Theory of
Employment, Interest and Money (1936), que revolucionaria a teoria econômica. Um
marco que dividiu a história do pensamento econômico à partir do Século XX.

Até então, os estudiosos das ciências econômicas, produziram um modelo


matematicamente rigoroso, fruto da imaginação e da inteligência de economistas
brilhantes, mas, segundo o pensamento Keynesiano não correspondia à realidade
nem fornecia instrumentos eficientes de política econômica para nela intervir sempre
que necessário fosse, uma vez que nem sempre justificaria o laissez-faire.

24
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

Keynes não era comunista, não seguia a cartilha Marxista, nem era socialista. Ele
acreditava no sistema capitalista no qual vivia. Porém, observou que o sistema
econômico capitalista estava longe de assegurar automaticamente o pleno emprego e
o desenvolvimento econômico sem crises crônicas, de duração indefinidas, como
pretendia a teoria econômica vigente.

É importante seja feita a distinção sumária entre o papel exercido por Karl Marx e o de
John Maynar Keynes, ambos, frente a Teoria Econômica Clássica.

Karl Marx, nascido na Alemanha em 1818, morrendo na Inglaterra em 1883, foi crítico
da teoria clássica vigente, no sentido de condenar e destruir os fundamentos e o
próprio sistema capitalista. Co-autor do Manifesto do Partido Comunista, obra que
convida os operários a se rebelarem contra o sistema capitalista, o qual, segundo o
autor, é sistema que explora a condição da classe trabalhadora em benefício da
burguesia. Sua obra prima foi O Capital, através da qual Marx, desenvolve
importantes conceitos, como alienação, mais-valia e materialismo histórico, além de
dar as bases para a implantação do socialismo. Suas criticas demasiadamente
severas ao sistema capitalista fez com que sua teoria nunca fosse incorporada aos
Clássicos da Economia, mas, criou uma teoria econômica paralela.

Diversamente, segundo ensina BRESSER-PEREIRA, Keynes fez sua crítica em


sentido construtivo, pois, não tinha por objetivo condenar o sistema capitalista, mas
apontar falhas, fraquezas e apresentar propostas para soluções adequadas:

“A macroeconomia clássica, (...) Era um modelo


matematicamente rigoroso, fruto da imaginação e da inteligência
de economistas brilhantes, mas não correspondia à realidade
nem fornecia instrumentos eficientes de política econômica para
nela intervir. Na verdade, era sob muitos aspectos mais uma
peça de sistema ideológico alienado e conservador de
justificativa do liberalismo econômico, do laissez-faire.

25
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

A macroeconomia clássica transportava-nos para um mundo


perfeito, em que as forças do mercado, através de seus
mecanismos automáticos de auto-ajustamento, garantiriam
pleno emprego, eficiência máxima da produção, maximização da
satisfação dos consumidores e dos lucros dos produtores (os
quais, todavia, corresponderiam apenas ao lucro normal), e
distribuição ótima da renda entre os proprietários dos fatores de
produção. O irrealismo desta visão, porém, tornava-se cada vez
mais patente. (BRESSER-PEREIRA, 1976) 10

No caso, não era o sistema capitalista que era questionado, mas, a base conceitual
do laissez-faire. 11

Keynes admitia um grau de intervenção do Estado, o que, segundo alguns críticos, a


longo prazo, poderia implicar na fragilização do sistema capitalista. Porém, Keynes foi
um economista ortodoxo, que, flexibilizava alguns pontos importantes com a teoria
econômica, especialmente, quanto ao conceito laissez-faire, cuja crítica partia da
ponderação que não seria possível deixar o sistema econômico por sua própria conta,
sob pena de crise crônica de subconsumo e de desemprego.

Nos estudos de John Maynard Keynes percebe-se a ênfase macroeconômica, e a sua


preocupação com as variáveis agregadas de consumo, poupança, renda, produção e
emprego. Keynes defendia o capitalismo com intervenção estatal para incentivar a
geração de emprego, a estabilidade e o crescimento econômico. Nada de Laissez-
faire, conforme, é observado em estudo de RAUL PREBISCH (1951), que no prefácio
da Obra “INTRODUCCIÓN A KEYNES”:

10
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Da macroeconomia clássica à macroeconomia keynesiana.
Versão revisada em maio de 1976 de apostila publicada originalmente em abril de 1968 abril, “Da
microeconomia à macroeconomia keynesiana”. Páginas: 22 a 33.

11
SWEEZY, Paulo. “John Maynard Keynes” in Teóricos e Teorias da Economia, Rio de Janeiro: Zahar,
1965: 11 e 12.

26
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“El régimen en que vivimos tiene, entre otras, uma falla


fundamental: La desocupación persistente que, acentuada em
las depresiones periódicas de La economia, entraña uma grave
perdida de fuerzas productivas, em desmedro del nível de vida
das masas. (...) Y nos ofrece, además, uma solución que, em
estos tiempos, tiene el mérito singular de ser compatible com La
iniciativa privada y la liberdad personal” 12

As idéias de Keynes sedimentaram as bases capitalistas do mundo pós Grande


Depressão e pós Segunda Guerra Mundial, especialmente na Europa, pavimentando
as políticas de estado para a implantação do “Estado de Bem-Estar Social”,
garantindo serviços públicos e condições mínimas para o consumo e o trabalho da
grande maioria da população. 13

Em síntese, na teoria keynesiana, que questiona os princípios analisados e


configurados nos clássicos, a política econômica pode ser também intervencionista.

2.4. Tendências e Avanços das Teorias Econômicas do Século XX

O século XX foi intenso para o desenvolvimento da teoria econômica. Duas guerras


mundiais deram o tom dos desafios desse período, em especial no continente
europeu. Esses eventos históricos adversos criaram naturalmente um contexto
favorável para o aparecimento de novas linhas do pensamento econômico.

12
Tradução livre: “O regime em que vivemos tem, entre outras, uma falha fundamental: o desemprego
persistente que, é acentuado durante os períodos de depressão econômica, o que provoca graves
perdas nas forças produtivas, resultando na queda da qualidade de vida das massas (...) e nos oferece
uma solução que, nestes tempos, tem o mérito singular de ser compatível com a iniciativa privada e
com a liberdade do indivíduo”. PREBISCH, Raul. Introducción a Keynes. Fondo de Cultura Economica.
Ciudad Del Mexico. Ciudad Del Buenos Aires. Primera Edición 1947. Segunda Edición 1951.

13
Teoria Keynesiana. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=9CW7d-4URUY>. Acesso em
12 de setembro de 2021.

27
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John Maynard Keynes, sobre o qual foi tratado no título anterior, foi o maior dos
expoentes, mas não o único.

Merecem destaques as escolas do Neoliberalismo e a Schumpeteriana.

Todos podem ser considerados incorporados aos Clássicos, inclusive Keynes.

A ideologia neoliberal foi edificada sobre os fundamentos do pensamento neoclássico


provocados pelos postulados de John Maynard Keynes, basicamente procurando
reabilitar os pensamentos clássicos antes rebatidos por Keynes.

Os principais expoentes dessa doutrina, apenas para enumerar, são Milton Friedman,
Jacques Rueff e Maurice Allais, Friedrich August von Hayek, Walter Eucken, Wilhelm
Röpke, Alexander Rüstow e Alfred Müller-Armack (SANDRONI, 2005). 14

Os representantes da ideologia neoliberal, sem exceções, tinham a crença de que a


vida econômica é regida por uma ordem natural, formada a partir das livres decisões
individuais, cuja mola-mestre é o mecanismo de preços.

Em síntese, e, segundo ensinamentos de HUGON (1980), KISHTAINY (2013), e


RASMUSSEN (2006) os neoliberais defendiam a disciplina da economia de mercado,
sempre que necessário para lhe garantir sobrevivência, pois, ao contrário dos antigos
liberais, duvidavam da capacidade de autodisciplina espontânea do sistema. Também
defendiam a proteção da pequena empresa e o combate aos monopólios e o
estabelecimento de condições de igualdade para a concorrência. Por outras palavras,
os neoliberais defendiam a livre atuação do mercado, o fim do intervencionismo do
Estado, a privatização de empresas estatais e até mesmo de alguns serviços
públicos, a abertura da economia e a integração global dos mercados locais. 15

14
SANDRONI, P. Dicionário de economia do século XXI. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2005.

28
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Por fim, a Escola Schumpeteriana nasce em 1907, quando Joseph Alois Schumpeter
formulou grande parte das suas ideias e iniciou sua principal obra, A Teoria do
Desenvolvimento Econômico, publicada em 1912. Para Schumpeter, o elemento
motriz da evolução capitalista são as inovações e as novas fontes de combinações
das forças produtivas realizadas pelo empresário. São essas transformações que
geram novos equilíbrios em níveis mais elevados, produzindo prosperidade
econômica por meio de novas taxas de lucro e investimentos. Esse pensamento
construiu e expôs uma nova dialética do capitalismo, cujo sucesso, se afirma na
renovação contínua do sistema pelo mecanismo das destruições criadoras
provocadas pelas inovações da grande empresa, que é o motor do progresso.

Em síntese, e, segundo ensinamentos de HUGON (1980), KISHTAINY (2013), e


RASMUSSEN (2006) o sistema Schumpeteriano provoca uma sinergia cuja base é a
competência dos empresários para buscar novos mecanismos de desenvolvimento, o
que facilitaria ainda o surgimento de novos empresários, com inovações mais
recentes, tornando crescentes as transformações. 16

3. ECONOMIA LINEAR

Por muitos anos, os diversos e sucessivos pensamentos econômicos sempre se


preocuparam com a trajetória de desenvolvimento da economia industrial, sempre
baseada em um modelo que depende intensamente da extração de recursos naturais

15
HUGON, P. História das doutrinas econômicas. 14. ed. São Paulo: Atlas, 1980; KISHTAINY, N. et al.
O livro da economia. São Paulo: Globo, 2013; RASMUSSEN, U. W. Economia para não-economistas: a
desmistificação das teorias econômicas. São Paulo: Saraiva, 2006.

16
HUGON, P. História das doutrinas econômicas. 14. ed. São Paulo: Atlas, 1980; KISHTAINY, N. et al.
O livro da economia. São Paulo: Globo, 2013; RASMUSSEN, U. W. Economia para não-economistas: a
desmistificação das teorias econômicas. São Paulo: Saraiva, 2006.

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finitos, com um alto grau de conformismo com a tolerância, aparentemente inevitável,


ao fato de resultar grandes perdas de materiais para o ambiente. Uma espécie de
pensamento Maquiavélico sempre afirmando que os fins justificam os meios.

Esse modelo linear, como abordado por alguns teóricos, tem origem em
ultrapassadas visões antropocentrista do mundo, que consideravam os recursos do
planeta tinham por finalidade prover os meios materiais para o benefício do bem estar
do ser humano, a despeito da complexidade dos ecossistemas que sustentam a vida.

Trata-se de um modelo linear que se estabeleceu e durante todo o século XX,


acompanhou a trajetória de desenvolvimento baseado em crescimento econômico
ilimitado e em uma lógica de produção e consumo intensiva em uso de materiais.

O conceito de economia linear, até hoje é muito praticado e entendido por muitos
como bem sucedido, conforme exposto por TAYNARA MARTINS GONÇALVES e
ANA FLÁVIA DA FONSECA BARROSO, da área de engenharia de produção, da
Universidade Salgado de Oliveira, Campus Juiz de Fora, UNIVERSO, ao discorrer
sobre o tema no tratado acadêmico sobre “A economia circular como alternativa à
economia linear” 17, citando a obra de BEATRIZ LUZ (LUZ, 2017):

“Desde a revolução industrial o modo de produção e consumo é


realizado de maneira linear, ou seja, as matérias-primas
transformadas em produtos manufaturados eram consumidas e,
depois, descartadas como lixo. Esse modelo econômico linear
tem sido utilizado e bem-sucedido, ao longo dos anos, por
proporcionar ao consumidor produtos a preços mais acessíveis e
garantir o aumento de bens materiais a bilhões de indivíduos”
(LUZ, Beatriz, “Economia Circular Holanda: Brasil: da teoria à
prática” )18:

17
https://ri.ufs.br/bitstream/riufs/12561/2/EconomiaCircularAlternativa.pdf. Acesso em 10 de setembro
de 2021.

18
LUZ, Beatriz. (Org.). Economia circular Holanda: Brasil: da teoria à prática. 1ª ed. -- Rio de Janeiro:
Exchange. 4 Change Brasil, 2017.
30
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

É preciso compreender o que se caracteriza como uma economia linear e, porque


esse sistema estimula uma trajetória de crescimento econômico ilimitada.

Por ser linear, se baseia intensamente na exploração de recursos naturais finitos que
são transformados nas indústrias em processos incutidos de intensas perdas
materiais e que fomentam um grande mercado de consumo de bens e serviços que
seguem padrões determinados por uma economia de consumismo e que, por fim,
resultam em grandes volumes de resíduos.

TAYNARA MARTINS GONÇALVES e ANA FLÁVIA DA FONSECA BARROSO, da


área de engenharia de produção, da Universidade Salgado de Oliveira, Campus Juiz
de Fora, UNIVERSO, ao discorrerem sobre o tema no tratado acadêmico sobre “A
economia circular como alternativa à economia linear” 19, aduzem:

“O atual modelo linear de produção – extração, transformação,


consumo e descarte – não leva em conta que os recursos
naturais e energéticos são finitos.

(...)

O estudo mostrou que a crescente escassez de matérias-primas


e a degradação do meio ambiente, tornam o modelo linear
limitado.

(...)

O atual modelo econômico linear de produção está chegando ao


seu limite, isso porque a geração de valor linear não leva em

19
GONÇALVES, Taynara Martins e BARROSO, Ana Flávia da Fonseca, ambas da área de
engenharia de produção, da Universidade Salgado de Oliveira, Campus Juiz de Fora, UNIVERSO. “A
economia circular como alternativa à economia linear”.
https://ri.ufs.br/bitstream/riufs/12561/2/EconomiaCircularAlternativa.pdf. Acesso em 10 de setembro de
2021.

31
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

consideração que os recursos materiais e energéticos são


finitos.

Além da degradação ambiental, causada também pela


destinação incorreta de resíduos, esse modelo aumenta a
competição por commodities, elevando o preço e a instabilidade
do mercado.

(...)

Esperar o esgotamento dos recursos não renováveis não é a


melhor alternativa e não apenas por questões meramente
econômicas, mas avaliando aspectos ambientais que englobam
o bem-estar social.

(...)

Como não há nenhum reaproveitamento e reutilização na


economia linear, os efeitos provocados a sociedade são grandes
e muito nocivos. Poluição, esgotamento dos recursos naturais,
redução da biodiversidade, alterações globais no clima, aumento
do preço das commodities, incerteza no mercado, entre outros
impactos ambientais e econômicos, tornam esse modelo de
produção inviável e ineficiente.”

Existe uma consciência global que se constrói, bem representada na posição


defendida pela ELLEN MACARTHUR FOUNDATION (2015), no sentido de admitir
que “o modelo linear também ocasiona perdas energéticas. Um produto eliminado em
aterro, tem toda sua energia residual perdida, ao contrário do que ocorre quando há
reutilização, processo que permite a economia significativa de energia. Ou seja,
perdas desnecessárias de recursos, resultantes de várias etapas dos ciclos de vida

32
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produtivo. Soma-se aos problemas ecológicos, o aumento do preço e da volatilidade


dos recursos naturais” 20.

A premissa da economia linear baseada em um conceito de abundância de reservas a


serem exploradas a baixos custos, se mostrou falsa. Por outro lado, a demanda
crescente de um mundo que caminhou rumo à noção de crescimento econômico
como premissa básica e à urbanização como forma majoritária de organização social,
e as necessidades ilimitadas dos seres humanos, denotam o colapso desse sistema
de produção.

Além disso, os questionamentos em torno dos limites ecológicos que começaram a


emergir nas últimas décadas do século XX, em inícios do século XXI vem sofrendo
mudanças, do cenário que tolerava a economia linear para outro em que a concepção
de um novo estilo de vida, menos supérfluo, predatório e ecologicamente correto,
exige atenção para novas demandas globais e regionais.

O modelo de produção e consumo linear atrelado a uma lógica de crescimento


econômico ilimitado ganhou escala global num ritmo de crescimento econômico
avassalador, colocando intensa pressão nos ecossistemas e instalando uma crise
ambiental.

Antes, alimentada pela idéia de que progresso e promoção de bem estar são
sinônimo de crescimento econômico, essa economia fomenta a idéia de crescimento
ilimitado, a despeito da existência de limites ecológicos e prejuízos ambientais
creditados a esse modelo.

Por décadas, os críticos a esse modelo argumentaram que ele é predatório e não
respeita os limites ecológicos do planeta, e que caminhos alternativos são
necessários para se repensar a economia.

20
ELLEN MACARTHUR FOUNDATION. Rumo à Economia Circular: O racional de negócio para
acelerar a transição. 2015. Disponível em: https://www.ellenmacarthurfoundation.org/pt/publicacoes>.
Acesso em: 12 setembro de 2021.

33
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A visão contemporânea é que o modelo adotado desde os primórdios da economia


industrial foi se mostrando insustentável, o que vem sendo amplamente comprovado,
conforme temas objeto de intensos debates na arena internacional notadamente a
partir das últimas décadas do século XX, com muito mais intensidade nos dias atuais.

Algumas características desse modelo de linearidade da economia, parte do


pressuposto que a produção e consumo funcionam como um sistema aberto, onde é
permitido a extração de materiais da natureza para a produção de bens, que incorre
em muitas perdas de materiais e de energia, se opondo ao próprio sistema natural do
planeta, que é um sistema fechado, que não realiza trocas externas de materiais –
apenas de energia solar.

Essas perdas, consideradas sob o ponto de vista da economia seriam ineficiências


desse modelo linear e resultam em degradação dos recursos naturais e da qualidade
do ambiente. Afinal, a economia linear é um modelo de “extração – transformação -
descarte”, em que empresas extraem materiais, aplicam energia para fabricar um
produto, vendem o produto a um consumidor final, que, em seguida, o descarta
quando não funciona mais ou já não serve ao propósito do usuário.

As pesquisadoras TAYNARA MARTINS GONÇALVES e ANA FLÁVIA DA FONSECA


BARROSO, da área de engenharia de produção, da Universidade Salgado de
Oliveira, Campus Juiz de Fora, UNIVERSO, nos “Anais do XI Simpósio de Engenharia
de Produção de Sergipe (2019)” 21, assim se manifestaram:

“Como não há nenhum reaproveitamento e reutilização na


economia linear, os efeitos provocados a sociedade são grandes

21
GONÇALVES, Taynara Martins e BARROSO, Ana Flávia da Fonseca, ambas da área de
engenharia de produção, da Universidade Salgado de Oliveira, Campus Juiz de Fora, UNIVERSO. “A
economia circular como alternativa à economia linear”. Anais do XI Simpósio de Engenharia de
Produção de Sergipe (2019)
https://ri.ufs.br/bitstream/riufs/12561/2/EconomiaCircularAlternativa.pdf. Acesso em 10 de setembro de
2021.

34
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e muito nocivos. Poluição, esgotamento dos recursos naturais,


redução da biodiversidade, alterações globais no clima, aumento
do preço das commodities, incerteza no mercado, entre outros
impactos ambientais e econômicos, tornam esse modelo de
produção inviável e ineficiente” (2019).

Esse pensamento também repercute em diversos estudos e abordagens da ELLEN


MACARTHUR FOUNDATION (2017), em estudo a respeito do da expansão do
consumo no Brasil:

“(...) a expansão do consumo no Brasil, nos últimos anos,


ocasionou o aumento da linearidade do setor produtivo. (...)” 22

A mesma instituição ainda adverte que o modelo linear também ocasiona perdas
energéticas. Diz:

“Um produto eliminado em aterro, tem toda sua energia residual


perdida, ao contrário do que ocorre quando há reutilização,
processo que permite a economia significativa de energia. Ou
seja, perdas desnecessárias de recursos, resultantes de várias
etapas dos ciclos de vida produtivo. Soma-se aos problemas
ecológicos, o aumento do preço e da volatilidade dos recursos
naturais”. (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2013). 23

Portanto, desse modelo resultam perdas de recursos naturais, econômicos e energia,


que podem ser observados por diversos ângulos diferentes, seja na cadeia de
produção, curta vida útil de produtos, perdas de energia incutida nos materiais e por

22
ELLEN MACARTHUR FOUNDATION. UMA ECONOMIA CIRCULAR NO BRASIL: Uma abordagem
exploratória inicial. 2017. Disponível em: https://www.ellenmacarthurfoundation.org/assets/downloads/

languages/Uma-Economia-Circular-no-Brasil_Uma-Exploracao-Inicial.pdf>. Acesso em: 18 agosto de


2021.

23
ELLEN MACARTHUR FOUNDATION. Towards the circular economy: Economic and business
rationale for an accelerated transition. 2013.

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ineficiência e perdas nos ecossistemas degradados pela atividade produtiva.

Não se coaduna mais com a visão mais moderna, as antigas estratégias das
empresas na economia linear orientadas a gerar valor através da maximização da
capacidade de produzir bens materiais, estimulando o consumo, adotando o uso do
conceito de obsolescência prematura dos produtos, gerando mais consumo e,
portanto, descarte de bens inutilizados com acumulo de lixo. O que poder ser
traduzido por valorização da era de produção em massa e consumo em massa que
permitiram o intenso crescimento econômico experimentado, as custas dos danos
ambientais hoje reconhecidos.

Não se pode negar que o modelo parecia funcionar bem enquanto havia recursos
abundantes, especialmente energia, até que advieram os primeiros sinais do
crescente esgotamento de reservas naturais e os choques de preços de recursos
naturais, provocando a necessidade de repensar o modelo que já se mostra inviável,
impondo pressões por mudanças no paradigma econômico, exigindo padrões de
produção mais refinados, conscientes, inteligentes e sustentáveis para evitar ou fazer
cessar os danos já experimentados.

Em muitas regiões do planeta o esgotamento das reservas naturais de fácil acesso,


impôs a exigência de maior avanço técnico para a exploração de reservas cada vez
mais remotas, de menor qualidade e maior custo, tais como a extração de petróleo
em águas oceânicas profundas.

Ainda nessa mesma ordem de idéias, os preços de recursos naturais básicos da


economia, as “commodities”, como metais, energia, alimentos e produtos agrícolas,
tenderam a declinar durante todo o século XX, também forçou significou uma
mudança de rumo para o modelo linear, porque todos os ganhos obtidos, até então,
com a queda de preços foram sendo anulados.

A noção de linearidade da economia vista através das características desse modelo,


notadamente, acerca do aspecto fundamental que é o da intensidade do esgotamento
de materiais no atual nível de produção e consumo, à luz dos fatos históricos, vem

36
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mostrando a inviabilidade do modelo, deflagra, a urgência de se repensar a economia


considerando a relação umbilical entre os limites ecológicos, sociais e econômicos.

Assim, a “extração – transformação - descarte”, o modelo linear que antes era o


caminho mais eficiente e vantajoso da economia, passou a ser um caminho de risco e
duvidoso, que aprofundada a idéia de inviabilidade da economia linear.

É verdade que os sinais de falência de alguns fatores exigiram celeridade na


necessidade de substituir o modelo de economia linear, ante a evidente
insustentabilidade econômica do próprio modelo.

A escassez de reservas de recursos naturais, o conseqüente aumento nos custos de


exploração, a volatilidade de preços de recursos e outros fatores, inerentes as
“commodities”, mostram-se restritivos ao crescimento econômico fundado no modelo
linear, evidenciando a necessidade de gerenciar os materiais que adentram a
economia de forma mais efetiva.

Os impactos ambientais do modelo econômico linear, externalidades negativas como


poluição do ambiente, perdas de biodiversidade e diversos danos aos ecossistemas
do planeta, são temas constantes de debates de alto nível, amplamente estudados
em diversas áreas do conhecimento e tema garantido na pauta de fóruns
internacionais.

Por outro lado, as nações cresceram economicamente, as populações migraram para


as cidades, e, essas condições estimularam o crescimento da exploração e consumo
de novos materiais retirados da natureza.

Tudo isso fez os setores econômicos pensarem que depender de novos recursos
adentrando na economia é mais custoso e cheio de incertezas do que estender a vida
daqueles recursos que já estão circulando na economia.

Por outra ordem de idéias, é preciso repensar a economia sob o ponto de vista das
novas aspirações humanas, estímulos de ordem social, econômica, política e
ambiental, mais condizentes com os novos tempos e com a moral e a ética

37
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contemporâneas, sem deixar de olhar para a sobrevivência e o futuro das próximas


gerações.

4. DO CONCEITO DE CRESCIMENTO AO DE DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL.

Nos tempos atuais, não é possível conceber o pensamento econômico sem


considerar, fundamentalmente, o equilíbrio entre a sustentabilidade social, econômica
e ambiental. Isso porque, as condições relativas à sustentabilidade econômica da
atividade humana precisam ser modificadas, sob pena de colapso e extinção das
condições inerente a própria sobrevivência, não apenas dos seres humanos, posto
que não é possível abster-se da preocupação com a conservação da natureza,
circuito fechado, do qual fazem parte as demais espécies e seres vivos, regido pelas
mesmas leis naturais e universais que sustentam a vida no planeta.

Não tem lugar no pensamento acadêmico, empresarial ou político moderno, a


concepção Homo Sapiens em sua relação com natureza, a idéia do “nós versus eles”,
tal como observa YUVAL NOAH HARARI (2019) segundo o qual “o Homo sapiens
evolui para achar que as pessoas se dividiam entre ‘nós’ e ‘eles'”. 24

ANDRÉ CANELAS, economista da UINIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE


JANEIRO – UFRJ, em sua síntese, no esforço de distinguir os conceitos crescimento
e desenvolvimento econômico, referindo-se aos primeiros ideólogos do pensamento
econômico, desde os fisiocratas do século XVIII citando François Quesnay, passando
pelos clássicos também à partir do século XVIII, à partir dos autores Adam Smith,
Thomas Malthus, David Ricardo, John Stuart Mill, percorrendo a teoria econômica

24
HARARI, Yuval Noah, Sapiens – Uma breve história da humanidade, L & PM Editores, Porto Alegre,
2019, pág. 179.

38
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neoclássica, surgida no século XIX, à partir do trabalho de autores como Leon Walras,
Alfred Marshall, Stanley Jevons e Vifredo Pareto e Hecksher-Ohlin, afirma que as
primeiras escolas de pensamento demonstravam preocupação com as interações
entre desenvolvimento econômico e os recursos naturais, observando que “esta
preocupação foi em grande parte ‘abandonada’ pela teoria econômica neoclássica,
surgida no século XIX”, e, ainda sob a inspiração e apoio nas idéias de liberalização
econômica (laisse faire ou “mão invisível”), liberdade de comércio, divisão do trabalho,
alocação ótima de recursos através de mercados competitivos, e na crença de que a
liberdade no comércio internacional levaria à especialização dos diversos países em
exportar os produtos em cuja produção estes tivessem vantagens comparativas,
conceito introduzido pelo economista clássico David Ricardo, e mais tarde reafirmado
pelo modelo neoclássico Hecksher-Ohlin, defendia a idéia de que o livre e justo
comércio internacional resolveria as desigualdades econômicas entre as nações,
eliminando o subdesenvolvimento através da especialização mundial dos países
subdesenvolvidos, pela chamada “divisão do trabalho”, através da exportação de
“commodities”, esta foi a idéia dominante sobre comércio internacional na teoria
econômica até meados do século XX. Continuando, ANDRÉ CANELAS afirma que de
acordo com esta visão, desenvolvimento era sinônimo de crescimento
econômico. 25

Não havia separação entre a idéia de mudança quantitativa, de crescimento


econômico, através da expansão do sistema sem mudar sua “forma” de divisão e
apropriação de renda e serviços públicos, e a idéia de desenvolvimento, no qual não
há apenas crescimento econômico, mas também mudança na “forma” agir, pensar e
da própria estrutura de distribuição mais equitativa dos benefícios que o crescimento
econômico traz.

25
CANELAS, André. A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E
SUAS INTERAÇÕES COM AS POLÍTICAS ECONÔMICA, ENERGÉTICA E AMBIENTAL. Copyright
2004, Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás – IBP. Trabalho Técnico Científico foi preparado para
apresentação no 3° Congresso Brasileiro de P&D em Petróleo e Gás, realizado no período de 2 a 5 de
outubro de 2005, em Salvador. Universidade Federal do Rio de Janeiro – PPE/COPPE/UFRJ. Página
2. http://www.portalabpg.org.br/PDPetro/3/trabalhos/IBP0111_05.pdf. acesso 18 de setembro de 2021.

39
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

Por outra ordem de idéias, já não satisfaz apenas a idéia do crescimento quantitativo
da economia, pois, pessoas e países, nos tempos atuais, almejam usufruir do
desenvolvimento qualitativo dos meios de produção, das liberdades e da qualidade de
vida. HERVAL KOBAYASHI FERREIRA NETO, no trabalho acadêmico
CRESCIMENTO ECONÕMICO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:
POSSIBILIDADES? valendo-se das concepções do economista JOSEPH
SCHUMPETER, em sua obra TEORIA DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO,
ensina a diferença entre crescimento e desenvolvimento. Diz HERBAL KOBAIASHI
FERREIRA NETO:

“Quando só há crescimento, a economia funciona em um


sistema de fluxo circular de equilíbrio, cujas variáveis
econômicas aumentam apenas em função da expansão
demográfica. Assim para Schumpeter, ocorre desenvolvimento
na presença de inovações tecnológicas, por obra de
empresários inovadores, financiados pelo crédito bancário. O
processo produtivo deixa de ser rotineiro e passa a existir lucro
extraordinário. No fluxo circular, não existindo inovações, não há
necessidade de crédito, nem de empresário inovador. Por
conseguinte, os lucros são normais e os preços aproximam-se
aos de concorrência perfeita”. 26

FERREIRA NETO, seguindo as lições (CHENERY, 1981), citado por MAIMON, D, em


ENSAIOS SOBRE ECONOMIA. Rio de Janeiro: APED, 1992, ainda na linha do
pensamento da Escola Schumpeteriana, destaca:

“Pode se considerar o desenvolvimento econômico é um


conjunto de transformações intimamente associadas, que se

26
FERREIRA NETO, Herbal Kobaiashi. CRESCIMENTO ECONÕMICO E DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL: POSSIBILIDADES? CESUBE- Centro de Ensino Superior de Uberaba – MG. Fonte:
http://www2.fct.unesp.br/cursos/geografia/CDROM_IXSG/Anais%20-
%20PDF/Herval%20Kobayashi%20Ferreira%20Neto.pdf. Acesso em 21 de setembro de 2021.

40
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

produzem na estrutura de uma economia, e que são necessárias


à continuidade de seu crescimento. Essas mudanças concernem
a composição da demanda, da produção e dos empregos, assim
como da estrutura do comércio exterior e dos movimentos de
capitais com o estrangeiro. Consideradas em conjunto, essas
mudanças estruturais definem a passagem de um sistema
econômico tradicional a um sistema econômico moderno.
(Chenery, 1981, p.IX)”.

Portanto, pode-se concluir, que crescimento econômico não é muito mais que a
variação quantitativa do produto interno bruto, demonstrando um aumento quantitativo
em relação aos dados anteriores relativos a mesma quantificação, enquanto o
desenvolvimento envolve mudanças qualitativas no modo de vida das pessoas, das
instituições e das estruturas produtivas. Assim desenvolvimento é caracterizado pelo
processo de transformação de uma economia arcaica em uma economia moderna,
eficiente, juntamente com a melhoria do nível de vida da população.

Partindo dessas premissas, o conceito de sustentabilidade pode ser entendido como


a capacidade de cumprir com as necessidades do presente sem comprometer a
existência das gerações futuras. O conceito de sustentabilidade tem sua origem
relacionada ao termo “desenvolvimento sustentável”, definido como aquele que
atenda às necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de suprirem suas próprias necessidades.

Ocorre que a dificuldade ainda é transformar o conceito em ações e políticas públicas,


pois existem resistências e apego a concepções históricas e conservadoras, que,
ainda consideram o crescimento econômico como valor maior tendo na
sustentabilidade apenas um óbice a esse objetivo.

O economista ANDRÉ CANELAS (2005) propõe o que entende ser um caminho da


mudança:

41
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

“De acordo com esta visão, desenvolvimento era sinônimo de


crescimento econômico.

Não havia separação entre a idéia de mudança puramente


quantitativa, de crescimento econômico via expansão do sistema
sem mudar sua “forma” de divisão e apropriação de renda e
serviços públicos, e a idéia de desenvolvimento, no qual não há
apenas crescimento econômico, mas também mudança na
“forma” da estrutura de repartição das benesses que o
crescimento econômico traz.” 27

O economista ANDRÉ CANELAS (2005) observa e destaca as dificuldades quanto a


valores morais, éticas e práticas para pavimentar o caminho do desenvolvimento
sustentável:

“Obviamente, a organização da atividade econômica em uma


base sustentável é certamente um objetivo eticamente
irretocável.

Muitos autores sustentam que a idéia de sustentabilidade segue


uma obrigação moral da geração presente para com as
gerações seguintes, o que implica que de forma alguma
devemos por em risco a chance das gerações futuras de ter as
mesmas oportunidades que nossa sociedade tem.

Entretanto, neste ponto caberia argumentar que nada garante


com absoluta certeza que as preferências das futuras gerações

27
CANELAS, André. A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E
SUAS INTERAÇÕES COM AS POLÍTICAS ECONÔMICA, ENERGÉTICA E AMBIENTAL. Copyright
2004, Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás – IBP. Trabalho Técnico Científico foi preparado para
apresentação no 3° Congresso Brasileiro de P&D em Petróleo e Gás, realizado no período de 2 a 5 de
outubro de 2005, em Salvador. Universidade Federal do Rio de Janeiro – PPE/COPPE/UFRJ. Página
2. http://www.portalabpg.org.br/PDPetro/3/trabalhos/IBP0111_05.pdf. acesso 18 de setembro de 2021.

42
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

sejam as mesmas das gerações anteriores e atual, ou que sejam


de algum modo deduzíveis com exatidão.

Todos os argumentos a favor da sustentabilidade são baseados


em princípios éticos. Argumentos a favor da sustentabilidade
não podem ser desenvolvidos apenas com base em critérios de
eficiência econômica.

Uma crítica aos modelos econômicos de criação de regras para


um desenvolvimento sustentável é que muitas vezes as
conclusões destes modelos em direção a regras
comportamentais são poderosas do ponto de vista
argumentativo, mas sem relevância prática imediata.

As conclusões de um modelo econômico são sempre


amplamente baseadas nas premissas particulares de cada
modelo. Muitas vezes tais premissas são mais baseadas em
idealizações e “exercícios” de “racionalidade mental” dos autores
do que em observações das características reais do tecido
político-social mundial e regional e de sua matriz de
produção/consumo. Condições estabelecidas para que uma
sociedade alcance um padrão de sustentabilidade são
geralmente pensadas em alto nível de abstração, não sendo
possível estabelecer se o “mundo real” destas sociedades pode
ou não cumprir tais condições.

Logo haveria uma grande falta de compreensão do significado


de modelos econômicos para sustentabilidade, se estes forem
considerados como respostas a problemas de aplicação
generalizada e prática.

43
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

Precisamente, tal fraqueza dos modelos econômicos para gerar


prescrições detalhadas para comportamento e políticas é
considerada a principal fraqueza dos modelos de
sustentabilidade”. 28

Assim, o conceito ainda deverá evoluir, também, além dos limites do ecossistema,
para efetivar os projetos humanos, venha ser utilizado de forma global incorporando
também a dimensão cultural, moral e ética da sustentabilidade.

Constatada a evidência da fragilidade humana diante dos riscos do quadro atual de


degradação e danos provocados por estilos de vida e de produção incompatíveis com
disponibilidade dos recursos naturais, a sustentabilidade passou a ser o principal
desafio para o desenvolvimento social.

Desafio de caráter político, além de técnico, pois está na base dos processos
decisórios em vários campos, como sociedade, economia e direitos.

É importante destacar também que na dimensão ambiental deste conceito qualquer


ação humana deve respeitar os ciclos naturais, o tempo de recomposição dos
recursos e os limites que os regem; conservar a integridade do ambiente; consumir
sem ultrapassar a capacidade de renovação dos recursos e respeitar a diversidade
humana que produz formas diferentes de existência.

4.1. O conceito e os pilares da sustentabilidade.

28
CANELAS, André. A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E
SUAS INTERAÇÕES COM AS POLÍTICAS ECONÔMICA, ENERGÉTICA E AMBIENTAL. Copyright
2004, Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás – IBP. Trabalho Técnico Científico foi preparado para
apresentação no 3° Congresso Brasileiro de P&D em Petróleo e Gás, realizado no período de 2 a 5 de
outubro de 2005, em Salvador. Universidade Federal do Rio de Janeiro – PPE/COPPE/UFRJ. Página
9. http://www.portalabpg.org.br/PDPetro/3/trabalhos/IBP0111_05.pdf. acesso 18 de setembro de 2021.

44
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

A concepção de sustentabilidade pressupõe uma relação equilibrada, moral, ética e


responsável com o ambiente em sua totalidade, considerando que todos os
elementos afetam e são afetados reciprocamente pela ação do ser humano, este,
visto e inserido também como parte do meio ambiente.

CARVALHO, KERSTING, ROSA, FRUET e BARCELLOS (2015) apresentam a idéia


de sustentabilidade a partir de mudanças nos valores e concepções, sendo ator
importante das mudanças o cidadão e consumidor consciente e responsável:

“Promover equilíbrio ambiental representa uma mudança ética e


moral de cada cidadão, uma reeducação nos hábitos de
consumo. A atitude de cada consumidor é que vai determinar os
novos rumos da exploração dos recursos naturais.

Exemplos como a criação do selo verde, a rastreabilidade


animal, dentre outros, para os quais foram criados controles de
qualidade necessários para atender as demandas do
consumidor informado e exigente (TENÓRIO, 2006).

Para alcançarmos o DS, a proteção do ambiente tem que ser


entendida como parte integrante do processo de
desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente; é
aqui que entra uma questão sobre a qual talvez você nunca
tenha pensado: qual a diferença entre crescimento e
desenvolvimento? A diferença é que o crescimento não conduz
automaticamente à igualdade nem à justiça sociais, pois não
leva em consideração nenhum outro aspecto da qualidade de
vida a não ser o acúmulo de riquezas, que se faz nas mãos
apenas de alguns indivíduos da população.

O desenvolvimento, por sua vez, preocupa-se com a geração de


riquezas sim, mas tem o objetivo de distribuí-las, de melhorar a
qualidade de vida de toda a população, levando em

45
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

consideração, portanto, a qualidade ambiental do planeta


(MENDES, 2008”). 29

O conceito de sustentabilidade, portanto, diz respeito às escolhas sobre as formas de


produção, consumo, habitação, comunicação, alimentação, transporte e também nos
relacionamentos entre as pessoas e delas com o ambiente, considerando os valores
éticos, solidários e democráticos.

O objetivo a ser alcançado é a existência de uma sociedade sustentável, mais justa e


igualitária, que tenha por premissas o desenvolvimento integrado à natureza, que
respeite a diversidade biológica e sociocultural, onde os indivíduos e as instituições
exerçam direitos e a cidadania de forma responsável e conseqüente, atentos a
distribuição equitativa das riquezas, de modo a equilibrar o crescimento econômico
com a preservação do meio ambiente, a distribuição das riquezas, a justiça social e a
qualidade de vida e a garantia das liberdades.

Isso significa dizer que ao se pensar em sustentabilidade, não é possível deixar de


compreender como uma equação ou relação ostensiva equilibrada com o ambiente na
sua totalidade, considerando as escolhas diárias e de longo prazo sobre as formas de
produção, consumo, habitação, comunicação, alimentação, transporte e também os
relacionamentos entre as pessoas e delas com o ambiente, considerando os valores
éticos, solidários e democráticos.

Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, a sustentabilidade é tratada


como política de estado e não apenas de governo. O artigo 225 é muito claro quanto
aos propósitos, meios e esforços que o Estado deve envidar e zelar para que todos

29
CARVALHO, Nathália Leal de, KERSTING Cristiano, ROSA Gilvan, FRUET Lumar, BARCELLOS
Afonso Lopes de. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL X DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
(SUSTAINABLE DEVELOPMENT X ECONOMIC DEVELOPMENT) - Artigo original - DOI:
105902/2236130817768 - Revista Monografias Ambientais - Santa Maria, v. 14, n. 3, Set-Dez. 2015, p.
109−117 - Revista do Centro de Ciências Naturais e Exatas – UFSM - ISSN 22361308 -
https://periodicos.ufsm.br/remoa/article/download/17768/pdf. Acesso em 21 de setembro de 2021.

46
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

cumpram as políticas voltadas para a sustentabilidade. Diz o artigo 225:

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade
o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao


poder público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e


prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio


genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa
e manipulação de material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços


territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente
através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade


potencialmente causadora de significativa degradação do meio
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de


técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a
vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

47
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de


ensino e a conscientização pública para a preservação do meio
ambiente;

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as


práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a
crueldade.

§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a


recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução
técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio


ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a
sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados.

§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra


do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são
patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei,
dentro de condições que assegurem a preservação do meio
ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos


Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos
ecossistemas naturais.

§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua


localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser
instaladas.

§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º


deste artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas

48
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais,


conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal,
registradas como bem de natureza imaterial integrante do
patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por
lei específica que assegure o bem-estar dos animais
envolvidos”. 30

MARINA CECCATO MENDES (2008), citada por CARVALHO, KERSTING, ROSA,


FRUET e BARCELLOS (2015), observa que o conceito de desenvolvimento
sustentável fundamenta-se em seis aspectos prioritários que devem ser entendidos
como metas: (1) A satisfação das necessidades básicas da população (educação,
alimentação, saúde, lazer, etc.); (2) A solidariedade para com as gerações futuras
(preservar o ambiente de modo que elas chance de viver); (3) A participação da
população envolvida (todos devem se conscientizar da necessidade de conservar o
ambiente e cada um a parte que lhe cabe para tal); (4) A preservação

dos recursos naturais (água, oxigênio, etc.); (5) A elaboração de um sistema social
garantindo emprego, segurança social e respeito a outras culturas (erradicação da
miséria, do preconceito e do massacre de populações oprimidas, como por exemplo,
os índios); (6) A efetivação dos programas educativos (MENDES, 2008). 31

Em 1972, MAURICE STRONG, era o secretário-geral da Conferência das Nações


Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, e tratou do conceito de
desenvolvimento sustentável, na Conferência de Estocolmo, designando à época
como "abordagem do ecodesenvolvimento", e posteriormente denominado de
desenvolvimento sustentável. Segundo STRONG (1972), citado por IGNACY SACHS
e referido no trabalho de HERVAL KOBAYASHI FERREIRA NETO:

30
Constituição Federal Vigente - de 05/10/1988
http://legis.senado.leg.br/norma/579494/publicacao/16434817 30/01/2020

31
MENDES, Marina Ceccato. Apud CARVALHO, KERSTING, ROSA, FRUET e BARCELLOS (2015) -
MENDES, Marina Ceccato. Desenvolvimento sustentável. Disponível em:
<http://educar.sc.usp.br/biologia/textos/m_a_txt2.html>. Acesso em: 23 de setembro de 2021.

49
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

“o desenvolvimento e o meio ambiente estão indissoluvelmente vinculados e devem


ser tratados mediante a mudança do conteúdo, das modalidades e das utilizações do
crescimento. Três critérios fundamentais devem ser obedecidos simultaneamente:
equidade social, prudência ecológica e eficiência econômica”. 32

De acordo com HERVAL KOBAYASHI FERREIRA NETO, fundado nos pensamento


de IGNACY SACHS (1993, pp. 24-27), o conceito de desenvolvimento sustentável,
assim como o próprio fenômeno, não é algo que venha a ser delimitado, pois, não é
estanque, não é um estado permanente de equilíbrio, mas sim de mudanças quanto
ao acesso aos recursos e quanto à distribuição de custos e benefícios. HERVAL
KOBAYASHI diz:

“Ignacy Sachs (1993, pp. 24-27), assim como Strong, emprega o


conceito de ecodesenvolvimento e desenvolvimento sustentável
como sinônimos, apontando cinco dimensões de
sustentabilidade, quais sejam, social, econômica, ecológica,
espacial (voltado para uma configuração rural-urbana
equilibrada) e cultural (respeito às especificidades culturais).

Assim, é possível observar que o desenvolvimento sustentável


não é um estado permanente de equilíbrio, mas sim de
mudanças quanto ao acesso aos recursos e quanto à
distribuição de custos e benefícios. Na sua essência, segundo
WCED (1991, p.49), é um processo de transformação no qual a
exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a
orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança

32
STRONG, Maurice. EXTRAÍDA DO PREFÁCIO EM SACHS, Ignacy. (1993), apud, SACHS, Ignacy.
ECODESENVOLVIMENTO, CRESCER SEM DESTRUIR. SÃO PAULO: VÉRTICE, 1986. Apud
FERREIRA NETO, Herbal Kobaiashi. CRESCIMENTO ECONÕMICO E DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL: POSSIBILIDADES? CESUBE- Centro de Ensino Superior de Uberaba – MG.

Fonte: http://www2.fct.unesp.br/cursos/geografia/CDROM_IXSG/Anais%20-
%20PDF/Herval%20Kobayashi%20Ferreira%20Neto.pdf. Acesso em 21 de setembro de 2021.

50
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e


futuro, a fim de atender às necessidades e às aspirações
humanas.

(...)

Ante todo o exposto, é possível observar que o Relatório


mostrou a possibilidade de um estilo de desenvolvimento
sustentável intrinsecamente ligado aos problemas de eliminação
da pobreza, da satisfação das necessidades básicas de
alimentação, saúde e habitação e, aliado a tudo isto, à alteração
da matriz energética, privilegiando fontes renováveis e o
processo de inovação tecnológica. 33

Esses pilares sustentam o objetivo principal que é a preservação do planeta, em si


mesmo, um circuito fechado, o uso inteligente dos recursos limitados disponíveis e o
atendimento das necessidades humanas, com o objetivo de fomentar o
desenvolvimento sustentável, isso porque envolve a interação entre as três
dimensões do desenvolvimento sustentável: econômica, social e ambiental. Assim,
um projeto de desenvolvimento deve ser economicamente viável, socialmente justo e
ambientalmente adequado.

Com todo o debate acerca dos limites ecológicos à economia e por um


desenvolvimento sustentável. A economia circular surge como uma nova alternativa
que ganhou projeção até mesmo nas esferas tradicionalmente mais conservadoras
em torno de um desenvolvimento sustentável.

Nesse sentido, o conceito de economia circular emerge como uma alternativa.

33
SACHS, Ignacy. ECODESENVOLVIMENTO, CRESCER SEM DESTRUIR. SÃO PAULO: VÉRTICE,
1986. Apud FERREIRA NETO, Herbal Kobaiashi. CRESCIMENTO ECONÕMICO E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: POSSIBILIDADES? CESUBE- Centro de Ensino Superior de
Uberaba – MG. Fonte: http://www2.fct.unesp.br/cursos/geografia/CDROM_IXSG/Anais%20-
%20PDF/Herval%20Kobayashi%20Ferreira%20Neto.pdf. Acesso em 21 de setembro de 2021.

51
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

5 ECONOMIA CIRCULAR

O conceito de economia circular não pode ser compreendido como uma teoria que se
opõe aos princípios regentes da economia clássica na qual se fundamenta o conceito
de economia linear.

O cerne da discussão sobre os fundamentos da economia circular é a estreita


correlação entre o progresso econômico e o uso dos recursos naturais do planeta e,
conseqüentemente, opor-se ao modelo linear praticado, a fim de reduzir, eliminar ou
fazer cessar os danos e impactos nos ecossistemas e na capacidade de resiliência do
planeta.

MARIANA MARTINS DE OLIVEIRA e ADRIANO LAGO, discorrendo sobre a razão da


necessidade de transição da economia linear para a economia circular afirmam:

“o conceito de cadeia produtiva definido como um conjunto de


atividades que contemplam desde a produção até o consumo
final de um produto retrata, em parte, o atual modelo linear de
produção, o qual é caracterizado por um sistema de produzir,
utilizar e descartar. Analisando as recentes preocupações em
produzir de forma sustentável, este modelo se mostra
insuficiente, pois causa impactos ambientais, muitas vezes
irreversíveis aos ecossistemas. Diante disso, surge como
proposta o modelo de economia circular que visa reincorporar os
resíduos ao sistema de produção, podendo acarretar alterações
positivas nos índices de desenvolvimento social, econômico e
ambiental. Neste contexto, o objetivo deste estudo é trazer para
discussão o conceito de cadeia produtiva como algo indo além
do consumidor final”. 34

34
DE OLIVEIRA, Mariana Martins; LAGO, Adriano. Repensando a Cadeia Produtiva: Uma abordagem
com base no conceito de economia circular. Rethinking the Productive Chain: An approach based on
52
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

O intuito é compreender os conceitos de economia linear, economia circular e cadeia


produtiva, na qual é possível agregar aspectos vinculados a geração de resíduos
dentro da cadeia de produção, a partir dos métodos, técnicas e exemplos
consolidados da economia circular.

Afinal, a economia circular tem por pressuposto a necessidade de se pensar novos


rumos à economia como forma de reconciliar o avanço nas conquistas do bem estar
do ser humano, de maneira igualitária e respeitando os limites ecológicos do planeta.
O entendimento da interconexão entre os sistemas econômicos – os fluxos de
materiais e energia na economia – e a resiliência dos ecossistemas é a base
fundamental para esse pensamento e vem provocando intensas discussões e novas
conceituações para renovar a própria economia, de modo a incluir preocupações e
soluções equilibradas com as capacidades do planeta, tendo presente a idéia de
coexistência entre todos os seres e o meio ambiente. A partir do conceito de
sustentabilidade vem sendo desenvolvido o conceito de economia circular.

O tema da economia circular está cada vez mais inserido no debate sobre a busca
por formas mais adequadas de se estabelecer as relações econômicas em um
planeta finito e permeado de relações e interconexões complexas e não lineares.

A Economia Circular é um modelo que oferece atributos restauradores e


35
regenerativos , tendo como princípios básicos os apresentados pela ELLEN
MACARTHUR FOUNDATION (2015):

the concept of circular economy. - https://www.ufrgs.br/cienagro/wp-


content/uploads/2018/10/Repensando-a-Cadeia-Produtiva-Uma-abordagem-com-base-no-conceito-de-
economia-circular_2-Mariana-Martins-de-Oliveira.pdf. - acesso em: 21 de agosto de 2021.

35
ECONOMIA CIRCULAR NAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS BRASILEIRAS (...).
https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:YibQZXjPJagJ:https://engemausp.submissa
o.com.br/22/arquivos/474.pdf+&cd=18&h… 1/16 . Acesso em: 12 de setembro de 2021.

53
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

a. Preservar e aprimorar o capital natural controlando estoques finitos e


equilibrando os fluxos de recursos renováveis;
b. Otimizar o rendimento de recursos fazendo circular produtos,
componentes e materiais no mais alto nível de utilidade o tempo todo,
tanto no ciclo técnico quanto no biológico.
c. Estimular a efetividade do sistema revelando e excluindo as
externalidades negativas desde o princípio 36.

Esse novo modelo defende uma economia fundada num pensamento sistêmico, que
tem por princípio básico a noção de que a economia deve ser regenerativa e
restaurativa ao planeta, em termos dos fluxos de materiais e energia, que são
considerados os nutrientes técnicos e biológicos que compõem a economia. Assim, o
que antes era considerado resíduo em uma indústria, propõe-se seja reaproveitado na
mesma ou outra indústria como matéria prima.

Embora, comumente, dentro do debate da sustentabilidade, por se tratar de uma


proposta que tem por objetivo promover o desenvolvimento e progresso econômico
em consonância com os limites ecológicos do planeta, tem ganhado relevância uma
visão de reestruturação econômica e novas formas de se pensar os meios de
produção e consumo, não apenas a adoção de medidas tradicionalmente
direcionadas à redução dos impactos negativos do modelo econômico industrial.

O conceito evoluiu e incorpora a concepção de um novo modelo econômico, que é


regenerativo e restaurativo ao planeta, como práticas conforme exemplificado acima.
No cerne do conceito está a noção de dissociar o progresso econômico do uso de
recursos naturais finitos.

Por exemplo, a produção de cimento tem por base:

36
ELLEN MACARTHUR FOUNDATION – EMF (2015). Rumo à Economia Circular: o racional de
negócio para acelerar a transição. Disponível em:<
https://www.ellenmacarthurfoundation.org/assets/downloads/Rumo-à-economia-

circular_Updated_08-12-15.pdf>. Acesso em: 10 de setembro de 2021.

54
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

“uma mistura de calcário moído com argila. Após misturados,


estes elementos aquecidos em fornos rotativos com temperatura
de até 1500°C, resultando em um material granulado e duro,
chamado clinquer, que é moído junto com outros materiais como
a gipsita (gesso) para a obtenção do cimento. A produção do
clinquer necessita de muita energia elétrica, térmica e é a etapa
de fabricação que mais emite poluentes. A produção de uma
tonelada de clinquer gera em torno de 900 kg de dióxido de
carbono e queima entre 60 a 130 quilos de combustível fóssil.
No cimento sustentável parte do clinquer (entre 30% a 70% em
alguns casos) é substituída pela escória granulada de alto forno,
um rejeito das indústrias siderúrgica, termelétrica, de fundição e
de carvão vegetal, reduzindo as emissões de CO2 em até 95% e
o gasto de energia em 80%”. 37

Cabe ressaltar que a economia circular, tem por objetivo eliminar ou reduzir as
externalidades negativas, e, ao mesmo tempo, aumentar, equilibrar ou compensar
com externalidades positivas.

A transição para uma economia circular requer mudanças na forma de gerir os


processos, materiais, estoques e adentram na economia em aspectos críticos para o
desenvolvimento, implicando mudanças no que se apresentou historicamente e que
se prevê, ainda haverá de ocorrer no mundo nas próximas décadas. Também
implicam mudanças de mentalidade, valores morais, éticos e na partilha justa dos
benefícios econômicos, sociais e ambientais conquistados.

Pode-se entender a prática da economia circular como um modelo de produção e de


consumo que envolve a partilha, o aluguel, a reutilização, a reparação, a renovação e
a reciclagem de materiais e produtos existentes, enquanto possível. Desta forma, o
ciclo de vida dos produtos é ampliado. Na prática, a economia circular implica a

37
https://ecotaprs.com.br/construcao/cimento-sustentavel/ - 18 de outubro de 2019 - acesso em: 27 de
novembro de 2021.

55
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redução do desperdício ou dos resíduos ao mínimo necessário. Quando um produto


chega ao fim do seu ciclo de vida, os seus materiais são mantidos dentro da
economia sempre que possível, podendo ser utilizados uma e outra vez.

A economia circular contrasta com o modelo tradicional, o modelo econômico linear


baseado no princípio “produz – utiliza - rejeita”. Este modelo, como dito acima, exige
vastas quantidades de materiais a baixo preço e de fácil acesso e muita energia.

A economia circular adota o conceito “Reparar – reutilizar – reciclar”, com maiores


benefícios. A economia circular também pode fornecer aos consumidores produtos
mais duradouros e inovadores, com vista a melhorar a qualidade de vida e permitir-
lhes poupar recursos em longo prazo.

Assim sendo, a economia circular é um modelo econômico, que propõem novas


oportunidades de negócios, trabalho colaborativo, preservação e aumento do capital
natural, além de contribuições significativas para a sustentabilidade social, econômica
e ambiental.

MONICA MONTEIRO (2018) observa que:

“A Economia Circular ultrapassa o âmbito e foco estrito das


ações de gestão de resíduos e de reciclagem, visando uma ação
mais ampla, “(...) “circulando” o mais eficientemente possível
produtos, componentes e materiais nos ciclos técnicos e/ou
biológicos” (MONTEIRO, 2018, p.3). 38

BEATRIZ LUZ (2017) pondera provoca inovações em métodos, processos, práticas e


costumes:

“A economia circular considera novas formas de transações e


relações empresariais, influenciando mudanças não somente
38
MONTEIRO, Monica (Ed.). Economia Circular. Start & Go, Lisboa, v. 1, n. 20, p.3-3, abr. 2018.

56
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nas responsabilidades dos empresários, mais também, nos seus


lucros.

Isso ocorre porque o foco muda, há uma maior preocupação


com o desempenho dos serviços e produtos oferecidos ao
consumidor, renova-se os processos de reparação, manutenção,
reutilização e renovação nas linhas produtivas, além das
mudanças nas relações, o produtor torna-se usuário por
intermédio de contratos e serviços” (LUZ, 2017) 39

Ademais, TAYNARA MARTINS GONÇALVES e ANA FLÁVIA DA FONSECA


BARROSO, ao discorrer sobre o tema no tratado acadêmico sobre “A economia
40
circular como alternativa à economia linear” , orientadas pelo pensamento de
BEATRIZ LUZ (2017):

“enfatiza que dentro da cadeia produtiva, na economia circular,


os projetos dos produtos são feitos de modo que as partes que o
compõem possam ser reutilizadas com alto valor, ou seja, os
produtos não perdem a qualidade. Além disso, as empresas
partilham despesas e receitas de forma justa, compartilhando
seu trabalho entre cadeias e setores, afim de manter e aumentar
o valor agregado dos produtos. As empresas que adotam a
economia circular aumentam a competitividade, construindo
relações de longo prazo com clientes e fornecedores; minimizam
a dependência em relação as matérias primas, que com o
passar do tempo se tornam mais escassas e caras; tornam-se
mais aptas a enfrentar as adversidades do futuro; passam uma

39
LUZ, Beatriz. (Org.). Economia circular Holanda: Brasil: da teoria à prática. 1. ed. -- Rio de Janeiro:
Exchange 4 Change Brasil, 2017.

40
https://ri.ufs.br/bitstream/riufs/12561/2/EconomiaCircularAlternativa.pdf. Acesso em 10 de setembro
de 2021.

57
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

imagem positiva a sociedade e conseguem aumentar a


qualidade e reduzir os custos de produção”.

Aliás, o aumento de qualidade dos processos e produtos e a redução dos custos de


produção já são benefícios no processo de fabricação do cimento, exemplificado,
acima, “reduzindo as emissões de CO2 em até 95% e o gasto de energia em 80%”. 41

Nesse passo, também é parte dos objetivos dessa nova perspectiva a gestão mais
eficiente, sustentável e valorizada dos recursos naturais existentes, concorrer para
atingir e manter melhores condições de saúde aos seres humanos, com benefícios
para o ambiente, para o crescimento econômico e para a população. A esperada
redução de custos e ganho de competitividade do sistema circular resulta em maior
geração de valor, o que permitirá o estímulo às novas fontes de investimento,
aumento da geração de empregos, maior eficiência operacional, crescimento
econômico, e, por fim, a conscientização da população, que fará sua parte
consumindo com mais cautela e consciência ambiental.

Assim, nessa ordem de idéias e exemplo acima expressados, o conceito de economia


circular, vai além de medidas de gestão de resíduos e de reciclagem, tendo um
escopo mais amplo que engloba desde a resignificação de processos, produtos e
modelos de negócio, até a otimização da utilização de recursos, a economia circular
pode ser compreendida como um sistema econômico que utiliza uma abordagem
sistêmica para manter o fluxo circular dos recursos, por meio da adição, retenção e
regeneração de seu valor, contribuindo para o desenvolvimento ambiental, social e
economicamente sustentável.

Para as empresas e para as cidades, trata-se de um modo inteligente de tornar a


atividade econômica mais sustentável, a economia circular torna os processos mais
lucrativos e busca restaurar os recursos físicos e regenerar as funções dos sistemas
naturais, trazendo maiores oportunidades econômicas e sociais.

41
https://ecotaprs.com.br/construcao/cimento-sustentavel/ - 18 de outubro de 2019 - acesso em: 27 de
novembro de 2021.

58
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O grande desafio da implementação da economia circular é desenvolver novos


modelos de negócio que agreguem valor ao produto/serviço. Esse processo é
possível buscando novos modelos que facilitem a transformação de produtos e
serviços em matéria-prima para outros produtos em um ciclo contínuo.

No Brasil, um dos grandes desafios ainda é que as cidades tenham um processo de


reciclagem mais eficiente e de menor custo, uma vez que todo o processo de
reciclagem acaba gerando novas tributações, atingindo um valor final mais caro do
que um produto novo. A criação de novas ações com o intuito de evoluir e propagar a
reciclagem como algo vantajoso, não somente ao meio ambiente, mas também
financeiramente, poderia ser uma solução para os desafios econômicos da reciclagem
no país.

Substituir aterros e lixões, em vez disso, o destino dos resíduos serem reciclados,
quando possível for, ou a transformação dos resíduos orgânicos em adubo. Esse é
um cenário que pode se tornar realidade com a adoção da economia circular. O
modelo, por sua vez, traz grandes oportunidades estratégicas como a volatilidade no
preço das matérias-primas e limitação dos riscos de fornecimento, novas e melhores
relações com o cliente, efetividade na competitividade da economia e a contribuição
para a conservação do capital natural e atividades sustentáveis, que gera ganho de
valor na imagem da empresa e permite melhor ocupação do solo e a recuperação de
áreas degradas nas cidades.

6 CIDADES INTELIGENTES E SUSTENTÁVEIS

Para além das óbvias e centrais especificidades históricas, geográficas, sociais e


políticas, o mundo contemporâneo é cada vez mais um mundo de cidades, com
particularidades, mas também elementos e processos comuns.

59
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

Por isso é fundamental o conhecimento sobre o fenômeno das cidades inteligentes e


sustentáveis. A tecnologia é apenas um meio auxiliar para que um objetivo maior seja
alcançado e não a finalidade principal da discussão em comunidades inteligentes e
sustentáveis. As cidades inteligentes e sustentáveis devem ser comunidades que não
se limite tratarem os seus cidadãos apenas como beneficiários de serviços ou mesmo
como clientes, mas, indo além, elevá-los a condição de agentes ativos e co-criadores
dos mecanismos para melhoria da qualidade de vida naquela comunidade. Ou seja,
envolve a governança de uma cidade inteligente humana, que dever ser participativa,
o que é facilitado pelas limitações geográficas de uma cidade.

Aliás, o inciso XIII, do artigo 29 da Constituição Federal da República Federativa do


Brasil, citada aqui como exemplo, contempla a possibilidade de iniciativa popular de
projetos de lei de interesse específico do Município, da cidade ou de bairros, através
de manifestação de, pelo menos, cinco por cento do eleitorado.

É importante dizer que, do ponto de vista político e jurídico, o Brasil, tem formalizada
a política de desenvolvimento urbano, executada pelo poder público municipal,
conforme diretrizes gerais fixadas em lei – estatuto das cidades, plano diretor e outras
da competência legislativa dos municípios, tendo por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes (Artigo 182 da CF/88). O Plano Diretor é de fundamental importância,
conforme expressa disposição do parágrafo segundo do artigo 182 da carta magna,
pois, é a partir de suas definições que “a propriedade urbana cumpre sua função
social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade”.

Também é na Constituição Federal que se encontra o fundamento o Poder de Polícia


da cidade que lhe permite exigir do proprietário “não edificado, subutilizado ou não
utilizado que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de
parcelamento ou edificação compulsórios, imposto sobre a propriedade predial e
territorial urbana progressivo no tempo, e, desapropriação com pagamento mediante
títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com
prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas,

60
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

assegurados o valor real da indenização e os juros legais” (Incisos I, II e III do § 4º do


Artigo 182 da CF/88).

Por outra ordem de idéias, a política e o direito admitem o uso de analogia, para dar
tratamento equivalente em situações semelhantes. Nesse sentido, é politicamente
defensável do ponto de vista político, jurídico e de governança em benefício do
desenvolvimento sustentável, adoção adaptada dos princípios e valores
contemplados na constituição federal para a Política Agrícola e Fundiária e da
Reforma Agrária (Artigos 184 a 187), assim como as mesmas garantias legais para
assegurar tratamento especial à propriedade produtiva e fixará normas para o
cumprimento dos requisitos relativos a sua função social, eis que a constituição (artigo
186) já afirma que “a função social é cumprida quando a propriedade rural
atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos
em lei, aos seguintes requisitos do aproveitamento racional e adequado,
utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
ambiente, observância das disposições que regulam as relações de trabalho, e,
a exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores”.

Essa idéia de política regulatória voltada para a prática da agricultura, como atividade
econômica desenvolvida nas cidades inteligentes e sustentáveis, tem parâmetros no
artigo 187 da Carta Constitucional, que, aplicado por analogia, afirma que:

“a política agrícola será planejada e executada na forma da lei,


com a participação efetiva do setor de produção, envolvendo
produtores e trabalhadores rurais, bem como dos setores de
comercialização, de armazenamento e de transportes, levando
em conta, especialmente os instrumentos creditícios e fiscais, os
preços compatíveis com os custos de produção e a garantia de
comercialização, o incentivo à pesquisa e à tecnologia, a
assistência técnica e extensão, o seguro agrícola, o

61
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cooperativismo, a eletrificação rural e irrigação e a habitação


para o trabalhador rural”. 42

Existem atos normativos legais já estabelecidos, que versam sobre cidades


inteligentes. Exemplo é o Decreto federal n° 9.612/2018, que dispõe sobre políticas
públicas de telecomunicações, que orienta a migração de um programa cidades
digitais para um novo com foco na implantação de infraestrutura para cidades
inteligentes, conforme excerto de texto a seguir:

“Art. 6º O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e


Comunicações promoverá a implantação de infraestrutura e de
serviços baseados em TIC destinadas ao desenvolvimento de
cidades digitais e inteligentes, por meio das seguintes
iniciativas:

I - implantação da infraestrutura e dos serviços baseados em


TIC prioritariamente em cidades com inexistência de redes de
acesso de alta capacidade, com vistas à promoção da melhoria
da qualidade, à oferta de novos serviços aos cidadãos e ao
aumento da eficiência dos serviços públicos;

(...)

§ 1º A implantação de infraestrutura para cidades


inteligentes sucederá o programa de Cidades Digitais, do
Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.”

Com igual destaque há o Decreto Federal n° 9.854/2019, que institui o Plano


Nacional de Internet das Coisas e dispõe sobre a Câmara de Gestão e
Acompanhamento do Desenvolvimento de Sistemas de Comunicação Máquina a
Máquina e Internet das Coisas, define que as cidades estão dentre as prioridades de
investimentos das soluções de internet das coisas, conforme trecho a seguir:

42
Artigo 187 da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em outubro de 1988.

62
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

“Art. 4º Ato do Ministro de Estado da Ciência, Tecnologia,


Inovações e Comunicações indicará os ambientes priorizados
para aplicações de soluções de IoT e incluirá, no mínimo, os
ambientes de saúde, de cidades, de indústrias e rural”.

Do ponto de vista institucional, o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR)


iniciou em 2019 a elaboração da Carta Brasileira para Cidades Inteligentes, cujo
objetivo da iniciativa:

“é consolidar uma visão nacional sobre o tema, por meio da


Carta, numa perspectiva convergente de uso responsável e
inovador da transformação digital para um desenvolvimento
urbano sustentável e inclusivo.

O documento também orientará políticas públicas, linhas de


financiamento e ações estratégicas nas diferentes escalas de
governo, oferecendo oportunidades para que os entes federados
desenvolvam projetos alinhados às políticas setoriais e a essa
visão comum.

A carta oferecerá recomendações aos municípios sobre como


usar a transformação digital para promover um
desenvolvimento urbano mais sustentável”.

Sem deixar de lado os conceitos universais, é importante compreender os objetivos


da cidade inteligente e sustentável em face das múltiplas realidades regionais do
Brasil. Sob essa ótica, muitos aspectos relevantes dos estudos urbanos nacionais,
sem prejuízo dos benefícios da tecnologia, mesmo nas cidades das regiões mais
desenvolvidas, envolvem as questões do espaço urbano, habitação, mobilidade,
formas de produção, trabalho, inclusive em áreas de precariedade, regiões onde se
agrega o problema e requer soluções sobre a violência urbana, tudo isso associado
aos usos da cidade, a cultura, costumes e regionalismos, são temas críticos para o
funcionamento de uma cidade brasileira, essencial para que pessoas, especialmente

63
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

as de mais baixa renda possam ter uma melhor qualidade de vida, partilha das
benesses resultantes do desenvolvimento social, ambiental e econômico, além
políticas eficientes para estimular formas eficazes de aproximação entre governantes
e governados, participação democrática e responsabilidade social.

Além desses aspectos peculiares as cidades brasileiras, fatores que acometem as


grandes cidades do mundo também ocorrem no Brasil, como a aglomeração e
adensamento populacional que as caracterizam, a produção e o combate a diversas
formas de poluição atmosférica e hídrica, diversos riscos e vulnerabilidades físicas,
como inundações e deslizamentos, por exemplo, que tendem a acometer as cidades
de forma mais intensa. Todos esses aspectos interessam aos estudos de cidades
inteligentes e sustentáveis.

Por outra ordem de idéias, a racionalização e a justiça social na ocupação do espaço


urbano, a transparência e a governança das cidades, além dos avanços tecnológicos,
transporte, mobilidade, distribuição de redes de energia, internet e dados, e, água e
esgoto, que se apresentam como meios idôneos para a construção de cidades
sustentáveis, e que integram um conjunto de elementos positivos que devem ser
estimulados para o desenvolvimento de espaços urbanos que contribuam para a
elevação constante do nível de qualidade de vida e saúde.

As cidades inteligentes e sustentáveis devem considerar como política de estado, a


solução para os resíduos, o fomento de empreendimentos, a ampliação da oferta de
empregos, a cultura e lazer, a criação, preservação, reparação e recuperação de
áreas verdes urbanas, pouco importando que sejam de pequeno porte ou na escala
de florestas urbanas, como por exemplo, os parques do Ibirapuera, Vila Lobos e do
Tietê, na cidade de São Paulo, a Floresta da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro, o
Central Park e o Briant Park em Nova York, o Hyde Park e o Kensington Gardens em
Londres, ou, o Tiergarten, em Berlin, pontos de encontro da população daquelas
cidades, que cumprem a finalidade de área para lazer e de atividades físicas, e,
pulmão da cidade.

64
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

As cidades devem ser vistas como entidades dinâmicas e que evoluem, para as quais
– e sua população – não se esperam soluções estanques e definitivas, sempre
estarão exigindo atenção, estudos, novas soluções ou aperfeiçoamento de modelos
para atenderem as novas demandas da população. Em conclusão, as cidades
inteligentes e sustentáveis devem ser vistas como um organismo vivo e dinâmico.
Esse conceito de cidade não é para assegurar a sustentabilidade no presente, deve
se mostrar sustentável por muitas décadas de evolução, crescimento,
desenvolvimento e contínuo investimento, para preservarem-se assim também para
as gerações futuras, que deverão ser educadas para, continua e sucessivamente,
aprenderem, serem sábias, aperfeiçoarem e transmitirem o legado para as próximas
gerações. Por isso, fundamentalmente, sempre haverá um ingrediente moral, ético,
cultural e político no conceito de cidade inteligente e sustentável nos níveis social,
econômico e ambiental.

Por outra ordem de idéias, à luz do pensamento econômico, sem perder de vista que
na Escola de BRESSER-PEREIRA (1976) a Ciência Econômica “(...) é a ciência
social que estuda o comportamento do homem no processo de produção, circulação e
distribuição de bens escassos”. 43

Por isso, as concepções de “cidade inteligente” e “cidade sustentável” devem ser


entendidas como algo mais abrangente do que a aplicação inteligente de tecnologia
nas áreas urbanas. A adoção de tecnologia deve tornar as cidades mais sustentáveis,
melhorando a qualidade de vida de sua população e sua relação com o meio
ambiente. Assim, sob esse prisma as discussões sobre cidades inteligentes e
sustentáveis devem levar em consideração aspectos como uso do espaço urbano e
impactos sobre o bem–estar coletivo, mudanças climáticas, os objetivos sociais,
ambientais e também econômicos do desenvolvimento sustentável, e da economia
circular.

43
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Da macroeconomia clássica à macroeconomia keynesiana.
Versão revisada em maio de 1976 de apostila publicada originalmente em abril de 1968 abril, “Da
microeconomia à macroeconomia keynesiana”. Páginas: 22 a 33.

65
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A tecnologia deverá ser utilizada para potencializar a participação política, serviços


aos cidadãos e o funcionamento da administração. O aproveitamento dos recursos
tecnológicos disponíveis, aliada a coleta de dados de diversos serviços oferecidos na
cidade, a fim de estabelecer as principais áreas de ação em planejamento urbano e
planejamento de infraestrutura urbana, para promover a transparência, fornecer
informações aos usuários e planejadores, permitindo a reformulação dos padrões de
mobilidade urbana, aprimorando o modal através da integração de diferentes meios
de transporte. Uma cidade inteligente permite e impõe que o cidadão participe como
ator atuante, não apenas como usuário, mas com criatividade e produtor de idéias,
para que as iniciativas possam ter sucesso. A educação deve ser elevada ao nível de
alta prioridade estratégica, e ser considerada como um fator fundamental para elevar
o nível de compreensão e de participação, bem como para produzir iniciativas e para
privilegiar a eclosão de perfis de criativos. Uma economia urbana é “smart” quando
reúne inovação e produtividade para adaptar mercado e trabalhadores e desenvolver
novos modelos de negócios resilientes capazes de competir local e globalmente, e,
por fim, promover o convívio inteligente, que compreende vários aspectos da
qualidade de vida como cultura, saúde, segurança, habitação entre outros, além de
gerenciamento inteligente de instalações, espaços públicos e serviços usando
tecnologias.

Afinal, o objetivo do ser humano é viver, conviver, construir e produzir em cidades


sustentáveis, em harmonia com os demais seres vivos e o meio ambiente, usufruindo
das vantagens oferecidas pela economia circular, para o efetivo desenvolvimento de
espaços urbanos e para atingir a melhor qualidade de vida e saúde.

7. O DIREITO URBANISTICO COMO INSTRUMENTO REGULATÓRIO DAS


CIDADES INTELIGENTES E SUSTENTÁVEIS E A DESTINAÇÃO SOCIAL E
ECONÔMICA DA PROPRIEDADE URBANA

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Para atender aos objetivos das ciências econômicas, é preciso conhecer o resultado
do processo político e legislativo, que oferecem as ferramentas jurídicas que
permitem concretizar os conceitos de cidades inteligentes e sustentáveis através dos
chamados “direito de propriedade”, "direito de construir" equilibrando-o em face do
"interesse público".

A Ciência do Direito oferece instrumentos normativos que legitimam o exercício do


direito a propriedade urbana e o direito a renda, a posse, ao uso, e as regras que
conferem e legitimam ao Poder Público o exercício do “poder de polícia”, através do
qual o governo municipal estabelece limites e condicionantes ao exercício do direito
de propriedade, sempre com o objetivo de que se cumpra sua função social, em
conformidade com o parcelamento e zoneamento do solo urbano, e, não seja utilizada
como mero instrumento de especulação imobiliária.

De acordo com os princípios e conceitos econômicos, dos clássicos à MARX a


propriedade imobiliária “é passível de ser monopolizada e apropriada
individualmente, (...) por aqueles que detêm ou monopolizam a sua propriedade
da terra”. 44

Segundo normatizado pelo Código Civil Brasileiro, o fundamento da propriedade com


esteio no monopólio da terra, confere ao proprietário a faculdade de usar, gozar e
dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente
a possua ou detenha. (NCCB – ART. 1.228).

Todavia, a amplitude desse direito tem limites na supremacia do interesse público


sobre o privado, do bem estar comum, da justiça social, da sustentabilidade social,
econômica e ambiental. Por isso, “o direito de propriedade deve ser exercido em
consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que
sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a

44
ARAÚJO JÚNIOR, Edmar Augusto Santos de. Debate sobre a teoria da renda da terra no contexto
agrícola, urbano e atual no Brasil. Debate on the theory of land rent in the agricultural, urban and
current context in Brazil. Cad. Metrop., São Paulo, v. 22, n. 49, pp. 705-728, set/dez 2020

67
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio


histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas”. (NCCB –
ART. 1.228 - § 1º.)

Ainda no plano político-legislativo-jurídico, são defesos ao proprietário a prática de


atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam
animados pela intenção de prejudicar outrem. O proprietário pode ser privado da
coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou
interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente. O
proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em
extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de
considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou
separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e
econômico relevante. (NCCB – ART. 1.228 - §§ 2º, 3º e 4º)

A lei municipal, à propósito do exercício dos direitos de propriedade e de construir,


define o conceito de “zoneamento”, como “repartição do território municipal à vista
da destinação da terra, do uso do solo ou das características arquitetônicas”,
não-indenizáveis, baseados no peculiar interesse do município na disciplina do uso e
ocupação do solo urbano (art. 30, VIII, da Constituição Federal).

O direito urbanístico e o zoneamento são instrumentos de planejamento urbanístico,


destinado a fixar os usos adequados para as diversas áreas do solo municipal,
ajustando-as a "função social”.

Por sua vez, a função social da propriedade urbana será cumprida quando esta
atende adequadamente a ocupação das cidades, conforme as exigências
fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor, em perfeita
harmonia com os objetivos propostos pela Constituição Federal de 1988, a qual o
artigo 182 aparece como componente dotado de eloqüente conteúdo:

"art. 182 – A política de desenvolvimento urbano, executada


pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais

68
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno


desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o
bem-estar de seus habitantes."

O direito urbanístico é o reflexo, no mundo jurídico, dos desafios e problemas


derivados da urbanização moderna (concentração populacional, escassez de espaço,
poluição) e das idéias da ciência do urbanismo (como a de plano urbanístico,
consagrada a partir da década de 30).

Nesse contexto a "função social da propriedade", insere-se no arcabouço que cuida


das "funções sociais da cidade". Tudo a sinalizar um plus que transcende o caráter
individual da função social da propriedade e submete-a a um plano de maior
complexidade e extensão e, por isso, faz imprescindível uma interpretação atomizada
e isolada, nos limites das abordagens do direito privado capaz de viabilizar os
objetivos da cidade inteligente e sustentável.

Essa tendência holística foi recepcionada pelos estudos jurídico-urbanísticos, daí


porque foi talhada a expressão "função social da propriedade" que deve ser
entendida, para os fins aqui pretendidos, em toda sua extensão exegética,
consentânea com as "funções sociais da cidade".

Fazendo analogia entre o direito agrário e o direito urbanístico, é possível enxergar


que, problemas já conhecidos no primeiro ramo do direito também existem no campo
do direito urbano.

O direito de propriedade urbana, também pode ser altamente concentrado,


desmedido e desproporcional, levando a existência de latifúndios, tal como ocorrem,
enquanto objeto de estudos no direito agrário, no âmbito das cidades, gerando os
grandes espaços urbanos, as vezes significando vazios territoriais, áreas degradadas
ou apenas mantendo a propriedade improdutiva para fins para especulação
imobiliária, em busca de preço futuro, sem qualquer função social que justifica pela
sua "propriedade", no sentido de adequação a uma determinada finalidade, apenas
criando obstáculo à extensão do direito de morar ou produzir para todos (função

69
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

social).

A idéia de produzir produtos do agronegócio, especialmente, hortifrutigranjeiros, no


âmbito das cidades é viável, como será demonstrado a seguir.

8. URBAN FARMS – FAZENDAS URBANAS

A necessidade de garantir a segurança alimentar para uma crescente população, faz


com que a agricultura esteja destinada a um grande desafio: alimentar e vestir os 9,7
bilhões de pessoas que a ONU prevê que irão habitar o planeta até 2050. Para isso,
até lá será preciso aumentar em 70% a produção agrícola, segundo a FAO
(Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), apesar de uma
disponibilidade limitada de terras agricultáveis e água e de uma crescente pressão
ambiental. Além disso, temos cada vez menos pessoas dispostas a ficar nas zonas
rurais. Pela primeira vez na história, a maior parte da população mundial já vive em
áreas urbanas. Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico), a classe média mundial vai mais do que dobrar, de 2
bilhões de pessoas atualmente para 4,9 bilhões em 2030 45,conforme o gráfico abaixo
(Gráfico 1) pode demonstrar. 46

45
Fonte: A importância da agricultura: Frente a frente com uma grande meta. Disponível em:
https://www.slcagricola.com.br/nosso-desafio/

46
Fonte: Banco Mundial e Fraser Mackenzie. Disponível em: < https://www.slcagricola.com.br/nosso-
desafio/>

70
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

Fator importante nos tempos atuais é converter todos os discursos teóricos em


práticas que possam produzir concretos resultados sociais, econômicos e ambientais
sustentáveis.

Nesse sentido as cidades podem desencadear uma mudança para um melhor


sistema alimentar. As cidades oferecem oportunidade única de desencadear uma
transformação em direção a uma economia circular para alimentos, uma vez que, com
a população urbana aumentando, grande parte dos alimentos deverão ser
consumidos nas cidades.

Cidades podem ser definidas como áreas urbanas e a combinação de todas as


empresas, órgãos públicos, organizações, instituições, comunidades e cidadãos
localizados dentro delas, unidos por um sentimento de pertencimento ao local. É na
cidade que seus habitantes querem experimentar e usufruir dos benefícios do
desenvolvimento econômico.

O desenvolvimento econômico, a partir dos princípios da economia circular, permite


que as cidades potencializem um rearranjo das relações entre esses atores,
infraestrutura técnica, fornecimento e demanda, bem como aos padrões
organizacionais. “Esse tipo de desenvolvimento acontece de forma coletiva, a partir

71
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

de redes pré-existente e aperfeiçoadas para esses novos fins. Essas redes são
compostas pelas empresas públicas e privadas, instituições governamentais,
entidades de apoio empresarial ou profissional, agências de fomento, centros de
pesquisa e desenvolvimento tecnológico, e, entidades da sociedade civil. Nesse
aspecto bastará ocorrer a mudança da lógica individualista para uma dinâmica de
integração em rede, assentada na economia circular, com a participação de agentes
de conexão, responsáveis pelo estímulo à cooperação, interação e troca de
experiências entre os demais atores” (COMINI; TEODÓSIO, 2012). 47

É preciso levar em conta a capacidade dos atores da alimentação urbana provocarem


essa mudança, que representa uma nova postura ética e moral de cada sujeito,
implica na reeducação nos hábitos de consumo. A atitude e a capacidade de
conciliação de interesses é que vai determinar os novos rumos da exploração do que
poderá ser chamado um dia de agronegócios urbanos.

Não são poucos os que já acreditam na capacidade do agronegócio urbano, com o


auxílio da economia circular, como empreendimento capaz de produzir de forma
sustentável, agregando mais valor aos alimentos e influenciando substancialmente
quais alimentos serão produzidos para atender a crescente população urbana.

Segundo foi observado, ainda não há uma definição precisa para o que é agricultura
urbana, sendo o conceito relacionado a práticas de produção agrícola dentro de
cidades ou em seu entorno, que contribuem efetivamente com a oferta e ao acesso
de alimentos.

A maioria das definições se refere à fase produtiva da agricultura, enquanto as


definições mais recentes incluem também o processamento e a comercialização,

47
COMINI, G. M.; TEODÓSIO, A. S. S. Inclusive business and pov erty: Prospects in the Brazilian
context. RAUSP: Revista de Administração da Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 3, n. 47, p.
410-421, jun/set 2012, apud Costa-Nascimento, Daniela Viegas da; Lobo, Daniele Daria; Macedo,
Roberta de Cássia; Costa, Danilo de Melo. DESENVOLVE: Fazenda urbana como prática da economia
criativa: uma experiência inovadora no contexto da cidade - Revista de Gestão do Unilasalle
(ISSN2316-5537) - http://revistas.unilasalle.edu.br/index.php/desenvolve- Canoas, v. 10, n. 2, 2021 -
http://dx.doi.org/10.18316/desenv.v10i2.7438.

72
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

além das interações entre todas essas fases.

Segundo MOUGEOT (1998) ao tratar da URBAN FARM - agricultura dentro e na


periferia das cidades ensina que “na agricultura urbana, todas as fases, desde a
produção, processamento e venda, tendem a estar mais inter-relacionadas no
tempo e no espaço do que em produções rurais, em conseqüência da
proximidade geográfica e ao fluxo mais rápido das mercadorias”. 48

Outro aspecto a ser destacado é o próprio conceito de segurança alimentar.


Segundo BELIK (2003), Este conceito leva em conta três aspectos principais:
quantidade, qualidade e regularidade no acesso aos alimentos.49

Para KEPPLE (2010), a quantidade é a “disponibilidade de alimento, é também a


oferta de alimentos para toda a população, fator que depende da produção,
importação, armazenamento e distribuição. O acesso é a capacidade de obter
alimentos de qualidade em quantidade suficiente, tendo também uma relação com a
política de preços e da renda familiar”. 50

Além da disponibilidade, do acesso e da utilização - ainda no âmbito da segurança


alimentar - devem ser levadas em conta as condições de produção e preparo do
alimento, a situação sanitária nas quais as pessoas vivem, assim como a estabilidade
nas relações econômicas, que envolve a sustentabilidade social, econômica e
ambiental. Tudo isso será objeto de continuas demandas e planejamento de ações
pelo poder público e pelos demais atores do sistema alimentar, sempre prontos para
enfrentarem eventuais problemas que podem ser crônicos, sazonais ou passageiros.

48
MOUGEOT L. 1998. Farming inside and around cities. Urban Age: 18-21.

49
BELIK, Walter. Perspectivas para segurança alimentar e nutricional no Brasil. 2003.

50
KEPPLE, A. Relatório do produto 01: documento técnico contendo análise reflexiva sobre o conjunto
dos principais resultados dos estudos realizados pela SAGI a respeito dos programas de Segurança
Alimentar e Nutricional – PAA e Cisternas. Brasília, DF: Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome - MDS, Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação - SAGI, 2010.

73
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

Entretanto, tudo concorre para que as cidades tenham uma grande oportunidade de
transformar essas demandas em oportunidades, independentemente de suas
características físicas, demográficas e perfis socioeconômicos. Ao adotar a economia
circular para a produção urbana de alimentos, as cidades podem ajudar a concretizar
benefícios sociais, ambientais, econômicos e de saúde significativos dentro e além de
suas fronteiras.

Nesse sentido o modelo baseado na Urban Farm como alternativa adequada a


solução de diversos aspectos relacionados desenvolvimento sustentável, no ambiente
urbano, aplicando-se todo o conhecimento e experiências adquiridas na implantação
de cidades inteligentes, agregando-se as experiências do agronegócio rural, e, com
as vantagens da economia circular.

Na agricultura urbana, tem, em princípio, algumas das mesmas preocupações que se


tem na agricultura em geral. Ademais, em ambas, tem-se um conceito amplo que
inclui a agricultura de subsistência, a agricultura orgânica e o agronegócio de larga
escala de produção. Do mesmo modo, a agricultura urbana pode ser de subsistência,
em hortas comunitárias, e incluir práticas orgânicas de cultivo. Mas ela também pode
incluir cultivos verticais (vertical farming) altamente intensivos e agrupamentos
(clusters). Também é preciso compreender que toda atividade econômica,
virtualmente podem gerar externalidades positivas e negativas.

A analogia também pode ser estendida aos fundamentos jurídicos da titularidade da


propriedade e o direito a renda que o proprietário desta tem direito de auferir.

Até mesmo o suposto conflito de interesses entre o proprietário do imóvel urbano e o


empreendedor que irá exercer a atividade econômica agrícola sobre a propriedade
poderá ser observado, e que, poderá ser perfeitamente equacionado, através do uso
de instrumentos jurídicos atuais, tais como o contrato de parceria ou contrato de
arrendamento, o que evita, conflitos agro-fundiários urbanos, processos de
desapropriação, custos com indenizações, conflitos de classes sociais e de interesses
divergentes.

74
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

Na verdade esse eventual conflito não poderá ser atribuído a existência de URBAN
FARM, eis que já existem conflitos sobre a renda da terra em alugueis, na
especulação imobiliária, etc.

A empresa de comunicação alemã Deutsch Welle – DW, em reportagem de


30/01/2020, dá noticia, que a cidade de que a Assembléia Legislativa de Berlin, afim
de coibir a especulação imobiliária e conter a explosão dos preços de alugueis e dos
imóveis, aprovou legislação inédita que “estabelece um teto para o valor cobrado por
proprietários de imóveis na cidade”. A legislação estabelece também um teto que varia entre
3,92 euros (18,44 reais) e 9,80 euros (46,09 reais) por metro quadrado, dependendo do ano
de construção do prédio e de algumas facilidades como elevador, cozinha mobiliada, entre
outros. 51

A medida foi criticada pela oposição ao governo local e pelo setor imobiliário. Críticos da lei
afirmam que a medida afastará investidores interessados em construir na cidade, que
enfrenta uma escassez de moradias, e impedirá reformas para modernizar imóveis.

Sobre a teoria da RENDA DA PROPRIEDADE, parafraseando LEFEBVRE, ainda há muito


para se desenvolver: “A questão da renda fundiária parecia fora de moda; porém,
ela conserva sua importância. ela se amplia mesmo, pois os terrenos
disponíveis para a construção da cidade industrial, seus preços, a especulação
que se apossa deles, são do domínio dessa teoria, aparentemente marginal em
relação à do lucro e do salário” (LEFEBVRE, 2001a, p. 162).52

Ainda LEFEBVRE (1999), citado por ALMEIDA e MONT-MOR 53 (2017):

51
Berlim aprova teto para o valor de aluguéis – DW – 30/01/2020
https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:RzgzBiioeWwJ:https://www.dw.com/pt-
br/berlim-aprova-teto-para-o-valor-de-alugu%2… 3/7

52
LEFEBVRE, h.(2001a) O Direito à Cidade. 5. ed. são Paulo: centauro.

53
ALMEIDA, Renan Pereira e MONTE-MÓR, Roberto Luís de Melo. Renda da terra e o espaço urbano
capitalista contemporâneo. Land rent and the urban space in contemporary capitalism. Brazilian Journal
of Political Economy 37 (2), 2017 • pp. 417-436. -
https://centrodeeconomiapolitica.org/repojs/index.php/journal/article/download/140/129,

75
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

“Assim, a renda fundiária pode ser entendida como um conceito


capaz de superar algumas das limitações expostas
anteriormente em relação a outras correntes do pensamento
econômico. Essa renda não necessita de ser mais elevada no
centro das cidades, desde que suas componentes (diferencial,
absoluta e de monopólio, apresentadas a seguir) sigam outra
configuração.

Além disso, o conceito de renda da terra é elaborado


simultaneamente com uma discussão referente à distribuição do
excedente entre grupos sociais distintos, e considera fatores
como a instituição da propriedade privada da terra e o status
entre as diversas áreas no espaço.

Dessa maneira, a renda da terra é capaz mitigar as questões da


descontinuidade do espaço urbano e da diversidade de agentes
e classes existentes. A partir dessas motivações, apresentam-se
então aportes à teoria da renda da terra, categoria de análise e
instrumento heurístico relegado pela tradição neoclássica”.

EDMAR AUGUSTO SANTOS DE ARAUJO JÚNIOR, em seu “Debate sobre a teoria


da renda da terra no contexto agrícola, urbano e atual no Brasil”, faz as seguintes
colocações:

“O aporte teórico oferecido por Jaramillo (2009) concilia alguns


pressupostos (neo)clássicos e (neo)marxistas, reformulando a
Teoria Geral da Renda da Terra (TGRT) para explicar a
origem e as modalidades de renda posteriormente

citando em APUD LEFEBVRE, h. (1999) A Revolução Urbana. belo horizonte: editora UFMG; e,
LEFEBVRE, h. (2001b) A Cidade do Capital. 2. ed. rio de Janeiro: dP&A.

76
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

associadas à terra urbana. A existência social da propriedade


territorial no capitalismo, como uma representação não
espontânea desse fenômeno, manifestando-se primeiramente no
caso da terra agrícola, é o ponto de partida para a formulação de
uma Teoria da Renda do Solo Urbano (TRSU), que dialoga com
Singer (1982), Topalov (1981), Almeida e Monte-Mór (2017),
dentre outros.

A renda recebida pelos proprietários de terra é uma


manifestação da natureza da propriedade privada do solo,
ancorada sob o marco da produção na moderna agricultura
capitalista e de sua complementaridade à produção
industrial.

(...)

A renda da terra é entendida, então, como uma parte do


excedente social, da mais-valia extraída pelos capitalistas,
que, ao invés de se tornar lucro, vai parar nas mãos dos
proprietários, como condição da autorização do acesso à
terra para a produção. A terra é irreprodutível, ela é objeto e
meio de produção ao mesmo tempo e está fora do controle dos
capitalistas. Mesmo não podendo ser reproduzida, ela é
passível de ser monopolizada e apropriada individualmente,
exercendo uma condição de acumulação externa ao capital.

A terra torna-se uma mercadoria que tem um preço


comercializável no mercado, mas sem representar, em seu
valor, uma porção direta do trabalho social. Esse é o para-
doxo da mercantilização da terra apontado pela tradição
marxista, na medida em que ela adquire um preço no
mercado, em função da existência da renda da terra. Isto é, o

77
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

preço do solo torna-se um mecanismo de capitalização da


renda, sendo possível investigar sua natureza e suas causas.

A formação da renda da terra na agricultura e a sua


manifestação no contexto urbano revelam como pode
adquirir uma apropriação de valor por aqueles que detêm ou
monopolizam a sua propriedade da terra.

(...)

O preço do solo é fixado pela capacidade que tem o proprietário


de receber uma quantidade de valor periodicamente, através de
uma quantia de dinheiro, que não se diferencia daquela auferida
pelos juros recebidos pelo proprietário de um capital real”. 54

ARAÙJO JÚNIOR (2020), faz uma perfeita analogia entre a expectativa do dono da
terra auferir renda fundada no direito de propriedade ou posse da terra com aquele
que é titular do capital do qual resulta o direito a auferir uma soma à título de juros:

“Ante a existência de uma taxa de juros, o proprietário associa


sua posse de terra à posse de capital, que lhe daria a soma
em juros o que ele recebe em renda.

A propriedade privada da terra funciona tal como um título


de crédito no mercado financeiro, que permite, ao seu
proprietário, auferir renda periódica, podendo o bem ser
transacionado por um preço proporcional àquela renda,

54
ARAÚJO JÚNIOR, Edmar Augusto Santos de. Debate sobre a teoria da renda da terra no contexto
agrícola, urbano e atual no Brasil. Debate on the theory of land rent in the agricultural, urban and
current context in Brazil. Cad. Metrop., São Paulo, v. 22, n. 49, pp. 705-728, set/dez 2020

78
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

através de um fator de proporcionalidade dado pelas taxas


de juros vigentes no mercado de crédito.

O preço do solo configura uma renda, que a propriedade propor-


ciona, capitalizada por determinada taxa de juros para a
remuneração de um determinado capital.

O uso do solo é regulado pelo mercado imobiliário, e a formação


do preço corresponde ao acesso, mediante compra do título ou
pagamento periódico de aluguel, para a utilização do espaço
(Singer, 1982)”.55

Não se cogita aqui, falar em expropriação do imóvel urbano, que até então
abandonado, em áreas degradas, ou, virtualmente sem utilização visando apenas a
especulação imobiliária, não cumpria a sua função social, nem contribuía para a
função social da cidade. Evidente que o proprietário de um determinado imóvel bem
localizado, em área nobre da cidade, tem o direito, respeitada a lei de zoneamento do
solo urbano, de instalar uma fazenda urbana em um prédio que até então cumpria a
função social da propriedade sendo alugado para escritórios. Isso é exercício do
direito de propriedade. Soluções que possam equilibrar-se entre o direito de
propriedade e o de explorar a terra, certamente podem evitar conflitos de interesses
de classes e conduzem a esperada paz social.

Também não é relevante, diante das novas tecnologias, considerar apenas a


fertilidade do solo, tendo em vista as alternativas como o sistema hidropônico e
outros.

Além disso, a terra é considerada um ativo financeiro, propriedade hoje equivale a um


título de crédito, como ensinado acima por ARAÚJO JÚNIOR (2020) e SINGER

55
ARAÚJO JÚNIOR, Edmar Augusto Santos de. Debate sobre a teoria da renda da terra no contexto
agrícola, urbano e atual no Brasil. Debate on the theory of land rent in the agricultural, urban and
current context in Brazil. Cad. Metrop., São Paulo, v. 22, n. 49, pp. 705-728, set/dez 2020

79
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

(1982). Fatores como infra estrutura, localização e logística também podem


determinar o valor da renda da terra. Nesse sentido:

“Apesar da elevação dos preços das terras para compra e


arrendamento, as cotações no Brasil ainda são menores
comparadas às de outros países em áreas semelhantes. Nas
contas de Pavinato, dependendo da região, um hectare para o
cultivo de grãos varia entre US$ 5 mil e US$ 10 mil aqui. Na
Argentina, esse preço gira em torno de US$ 15 mil e nos
Estados Unidos, oscila entre US$ 20 mil e US$ 25 mil.

Entre os motivos apontados pelo executivo para que a terra


brasileira, mesmo com preços em alta, continue barata em
relação a outros países, estão a maior disponibilidade do
ativo e as deficiências nas em infraestrutura e logística
existentes no interior do País”. 56

Existem instrumentos jurídicos adequados para regulamentar a geração de receitas,


cujos efeitos econômicos podem atender aos interesses do estado, proprietários e
empreendedores. A criação de renda da propriedade, através da própria atividade
econômica circular, por meio dos instrumentos jurídicos como contratos de parceria e
de arrendamento.

Adam Smith e David Ricardo, como foi exposto em capítulo anterior, e, nas lições de
57
AMANO e ALMEIDA (2020) oferecem fundamentos teóricos para a questão da

56
MÁRCIA DE CHIARA - Preço de aluguel da terra teve alta de 72% nas principais regiões agrícolas
do País nos 12 meses encerrados em dezembro de 2020 -
https://www.terra.com.br/economia/arrendamento-de-terras-acompanha-tendencia-e-ve-alta-de-
valores,af9d9fa2e9c0a9f74bb14a9a975c70d3imfyqt18.html. 11 de julho de 2021, 13h01. Acesso 2 de
dezembro de 2021 03:40:21 GMT.

57
AMANO, Fábio Henrique Florindo e ALMEIDA, Renan Pereira. Renda Fundiária Urbana e
Urbanização: notas a um resgate necessário. Urban Land Rent and Urbanization: notes on a
necessary revival. Renta de La Tierra Urbana y Urbanización: notas sobre un rescate necesario
https://revista.ivc.br/index.php/revistafoz/article/download/193/88. 2020 - São Mateus, ES.

80
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

renda da terra, fundados em premissas e princípios distintos, mas, que, de toda a


sorte, pode ser adaptados e dar base aos instrumentos legais e jurídicos para
assegurar renda ao proprietário fundada no título de propriedade (arrendamento) ou
participação nos resultados da venda da produção (parceria).

Por outra ordem de idéias, considerando a geografia da cidades, esse tipo de


atividade agrícola pode ser praticada em diversos cenários diferentes. Podem ser
áreas individuais ou coletivas ou ainda áreas públicas dentro das áreas mais centrais
e entre os contornos das cidades, incluindo as vias públicas, praças, parques e áreas
degradadas ou ociosas como lotes e terrenos baldios, a exemplo da produção
comunitária de uvas e vinhos em um terreno no bairro de Montmartre, em Paris,
França.

As possibilidades elencadas acima podem proporcionar o aproveitando dos recursos


e insumos locais (solo, água, resíduos, mão-de-obra, conhecimento, etc.) e o destino
da produção será decisão de competência dos operadores de cada espaço utilizado,
eis que, por exemplo, pode ser voltada para o consumo próprio, comercialização,
doação, dentre outros. Assim como poderá ser desenvolvida em caráter individual,
familiar, comunitário ou comercial, sempre considerando a agricultura urbana, sob os
fundamentos da economia circular, como uma medida para a promoção do
desenvolvimento sustentável.

A agricultura urbana, é o agronegócio adaptado e praticado dentro ou na periferia dos


centros urbanos, onde cultiva, produz, cria, processa e distribui uma variedade de
produtos alimentícios e não alimentícios.

Esse sistema utiliza recursos humanos, materiais, produtos e serviços encontrados


dentro e em torno da mesma área urbana, importantes para o incremento da região,
tendo em vista que essa atividade, em si mesma, constitui possível solução para
amenizar os problemas socioeconômicos da população menos favorecida, bem como
para proporcionar o acesso a alimentos necessários ao desenvolvimento humano
(segurança alimentar) e o equilíbrio do ecossistema urbano.

81
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

As aplicabilidades das fazendas urbanas aparecem desde as formas mais simples,


tais como a produção doméstica de temperos até os mais complexos, envolvendo
tecnologias avançadas - ambiente adequado para uma produção específica, ou
resultar numa produção em escala maior, para a comercialização, fazendas verticais,
ajustando-se os tipos de agricultura urbana de acordo com a localização e o grau de
tecnologia ou controle de processo aplicado

Por outro lado, em meios acadêmicos e empíricos práticos, têm sido discutidas novas
formas de por em prática a agricultura urbana, como exemplo, as fazendas urbanas
verticais. Localizadas em meio à cidade, as “urban vertical farms” podem economizar
em logística e transporte de alimentos, tornando sua produção ainda mais
sustentável.

.É evidente, que ainda não se tem um conceito universal adotado sobre “urban farm”,
o que não impede perceber que todos os estudos convergem sobre a importância de
se desenvolver projetos sustentáveis de fazendas urbanas, em face dos reconhecidos
benefícios das mesmas para a sociedade, dentre os quais podem ser destacados:
produção e distribuição de alimentos frescos com menores custos; aproveitamento
dos espaços urbanos, tornando-os produtivos; Melhoria da qualidade de vida urbana;
e, geração de empregos, dentre outros.

Quando se discute a agricultura urbana, todos os estudos convergem para a


segurança alimentar da sociedade (oferta, acesso e saudável), embasada nos
conceitos sociais e econômicos de economia circular, para produzir muito mais do
que alimentos com alta qualidade e menor custo como também estreitar a integração
da produção de alimentos com as sociedades urbanas, melhorando a condição dos
espaços urbanos (ar e água melhores, reaproveitamento de resíduos, etc), trata-se de
processo cuja tendência é ser considerado um negócio estratégico em todas as
etapas do agronegócio (antes, dentro e depois da porteira) porteira).

Por isso mesmo, na implantação de URBAN FARM e à luz dos fundamentos da


economia circular, não se pode perder de vista a preocupação com a
responsabilidade quanto a sustentabilidade social, econômica e ambiental.

82
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

A sustentabilidade ambiental deverá estar correlacionada com políticas públicas de


fomento à economia das cidades, para fortalecer dois interesses superiores do
Estado: (a) a proteção ao meio ambiente na formação do desenvolvimento econômico
e a (b) implementação de uma política pública que incremente a economia, por meio
do incentivo fiscal; isto é, estimular o produtor, por meio da renúncia fiscal, a proteger
o meio ambiente, fazendo a roda da riqueza circular, especialmente e particular
atenção em regiões mais carentes do país.

Com base nas informações do gráfico deste capítulo (gráfico 1) não seriam poucos
aqueles que profetizam um futuro suscetível a presságios catastróficos e difundem
toda a sorte de teorias conspiratórias sobre a inevitável escassez de toda natureza,
especialmente de alimentos.

Outros, mais otimistas, que muitos acredita ser mais realistas, como ALEXANDRE
COUTINHO PAGLIARINI e FLÁVIO ADRIANO REBELO BRANDÃO SANTOS (2018),
que, citando DIAMANDIS e KOTLER (2012, p.27) tem posição contrária a essas
teses, sob a antítese de entender que o processo de desenvolvimento humano esteja
atrelado à tecnologia, cujos processos poderão desencadear melhores práticas
capazes de solucionar ou minimizar tais problemas. 58

Esses autores alegam que a sociedade não está em processo colapso acelerado,
mas, ao contrário está em fase de discreta, mas, crescente prosperidade através de
práticas e tecnologias inovadoras que poderão mudar sensivelmente a forma da
sociedade conduzir seus desígnios.

59
JOSEPH ALOIS SCHUMPETER (1907) , já sustentava ser a inovação o elemento
motriz da evolução, assim como a renovação contínua do sistema é o motor do
58
DIAMANDIS, Peter; KOTLER, Steven. Abundância:o futuro é melhor do que você imagina. São
Paulo: HSM Editora, 2012. Apud A UTILIZAÇÃO DA FAZENDA URBANA VERTICAL COMO MEIO DE
FOMENTAR A SUSTENTABILIDADE REVISTA DO INSTITUTO DE DIREITO CONSTITUCIONAL E
CIDADANIA, Londrina, v. 3, n. 1, p. 209-225, jan/jun. 2018. Alexandre Coutinho Pagliarini e Flávio
Adriano Rebelo Brandão Santos.

59
SCHUMPETER, Joseph Alois. A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO (1912).

83
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

progresso, capaz de gerar novos equilíbrios em níveis mais elevados, produzindo


prosperidade econômica. Logo, na esteira desse pensamento afirmam ALEXANDRE
COUTINHO PAGLIARINI e FLÁVIO ADRIANO REBELO BRANDÃO SANTOS (2018),
que, inspirados por DIAMANDIS e KOTLER (2012, p.27), afirmam:

“(...) a tecnologia poderá permitir viver-se em abundância, na


perspectiva de uma vida que promova preencher as
necessidades básicas das pessoas. A propósito, DIAMANDIS e
KOTLER (2012, p.27) traçam uma pirâmide de abundâncias
divididas em três níveis, sendo a base formada por comida,
água, abrigo e outras preocupações de sobrevivência básica; o
meio dedicado aos catalisadores de mais crescimento, como
energia abundante, oportunidades educacionais e acesso a
informação global, enquanto o pícaro da pirâmide ficaria
reservado à liberdade e a saúde”. (PAGLIARINI e SANTOS,
2018, pag. 211-212)

À luz das novas realidades e cenários diversos, em suas infinitas possibilidade de


combinações, que exsurgiram após a eclosão da pandemia COVID 19, além dos
problemas já existentes, como o expressivo aumento da população mundial,
especialmente nas grandes cidades, inegavelmente, desencadeia a preocupação
quanto ao ser humano ser capaz de criar aparatos suficientes para produzi alimentos
em altíssima escala para atender aos objetivos da segurança alimentar para todos.

Atualmente, em virtude do aquecimento global, a inclinação em se produzir cada vez


mais commodities, o que estimula a monocultura, as plantações sofrem com
condições climáticas hostis, a escassez exponencial da água, além da utilização
agressiva de pesticidas ou agentes biológicos para combater pragas que
naturalmente se formam para se alimentar das plantações, as URBAN FARMS devem
ser vistas como um negócio objeto de estudo da economia e que produz efeitos
econômicos. Onde tem lugar para a sustentabilidade e o empreendedorismo, e
necessitam de incentivos governamentais, de estratégias mercadológicas, inovação,
estratégias competitivas, e outras com conotação de business.
84
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

Exemplo de negócios viáveis, em maior escala de produção urbana, são os modelos


de fazendas verticais (vertical farming) que se mostram economicamente, social e
ambientalmente sustentáveis, com ganhos sociais e ambientais em longo prazo, com
a adoção e execução de princípios de negócios sustentáveis, com a economia
circular, possibilitando obter ganhos através de soluções ambientais e sociais
ofertados para as cidades e seus moradores, objetivando a sustentabilidade e
segurança alimentar nutricional, sem perder de vista o ato de empreender, de forma a
gerar vantagens competitivas ou comparativas, nos termos das doutrinas econômicas
ortodoxas, devidamente adaptadas aos tempos atuais.

Sob essas percepções, a fazenda vertical aparece como uma excelente alternativa
para estabelecer o desenvolvimento sustentável na área urbana com instrumentos
cujo norte firme à proteção ao meio ambiente, ao desenvolvimento humano com a
difusão do emprego e a adoção da função social urbana no intuito que terrenos e
construções abandonadas tenham recuperadas as suas funções sociais da
propriedade e das cidades, gerando emprego, renda e tributos.

9. VERTICAL FARMING.

Antes de tratar do objeto central, que é a definição da VERTICAL FARMING é preciso


chamar atenção a um aspecto subjetivo. É preciso que os atores sociais acreditem na
possibilidade de estabelecer novas formas de zoneamento urbano, com ênfase a fixar
atividade socioeconômica através da difusão das fazendas verticais (vertical farming)
no perímetro das cidades.

Nesse arranjo caberia ao Município promover políticas públicas, inclusive por


intermédio de políticas fiscais, com o objetivo de incentivar sua ocorrência, justificada,
pois se trata de uma técnica que além de estabelecer um meio ambiente
ecologicamente equilibrado, permite realizar o desenvolvimento humano, como é bem

85
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

observado por ALEXANDRE COUTINHO PAGLIARINI e FLÁVIO ADRIANO REBELO


BRANDÃO SANTOS 60

Os autores propõem a adoção de política pública de incentivo fiscal, fundamentada na


extrafiscalidade, que é a capacidade do ente político detentor da competência
constitucional tributária fazer uso da tributação como instrumento de políticas de
fomento e incentivo a atividade econômica. Isso permite aos Municípios atrair
empresas que tenham especialidade e domínio neste tipo de prática, cultivando
hortifrutigranjeiros: verduras, legumes e outras atividades agrícolas, por meio da
técnica da plantação vertical Por outro lado, as empresas, em contrapartida, serão
obrigadas a inserir no seu insumo produtivo pessoas de baixa renda. De acordo com
o artigo 170, da CF a função precípua do Estado, no que pertine a ordem econômica,
é estabelecer um desenvolvimento da economia enfatizando a valorização do trabalho
humano e na livre iniciativa, com a finalidade de assegurar uma coexistência digna e
harmônica entre direitos individuais, a justiça social, a proteção ambiental em
consonância com políticas públicas de impulso a economia. 61

Isso quer dizer que, no Brasil, os substratos da clássica teoria econômica, atualizada
e modernizada, ganharam corpo normativo e estrutura jurídica de grau elevado, tanto
no patamar superior das normas constitucionais, quanto no campo das normas
ordinárias regulamentares. Por exemplo, o arrendamento de um imóvel pode ser

60
PAGLIARINI, Alexandre Coutinho e SANTOS, Flávio Adriano Rebelo Brandão. UTILIZAÇÃO DA
FAZENDA URBANA VERTICAL COMO MEIO DE FOMENTAR A SUSTENTABILIDADE REVISTA DO
INSTITUTO DE DIREITO CONSTITUCIONAL E CIDADANIA, Londrina, v. 3, n. 1, p. 209-225, jan/jun.
2018.

61
Dos Princípios Gerais da Atividade Econômica - Art. 170. A ordem econômica, fundada na
valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II -
propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do
consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o
impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII -
redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento
favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua
sede e administração no País. Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer
atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos
em lei. Fonte: Constituição Federal Vigente - 0 de 05/10/1988 Page 78 of 100
http://legis.senado.leg.br/norma/579494/publicacao/16434817 30/01/2020

86
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

relacionado ao gênero locação de coisas, regido pelo Código Civil Brasileiro, LEI N°
10.406, de 10 de JANEIRO de 2002, nos artigos 565 a 578.

Em suma síntese jurídica, o contrato de ARRENDAMENTO tem por fundamento o


exercício da propriedade, não implica para o proprietário compartilhamento do risco
do negócio empreendido no imóvel, e recebe do arrendatário a renda da terra é
fundado na premissa de possuir o título de dono, legítimo possuidor ou proprietário do
imóvel rural. Esses mesmos fundamentos se aplicam, basicamente, ao direito a renda
da terrra urbana ao respectivo proprietário do imóvel urbano.

Por sua vez, o CONTRATO DE PARCERIA, igualmente empregado nas relações


contratuais agrícolas, parte da premissa de que a terra é uma mercadoria que tem um
preço comercializável no mercado, mas, representa em seu valor uma porção direta
do trabalho social, e, diferente do instituto anterior, implica para o proprietário
compartilhamento do risco do negócio empreendido no imóvel.

Na hipótese de arrendamento, tributa-se a renda auferida; na segunda hipótese,


equipara-se a lucros e dividendos, isentos de tributação nos termos da legislação do
imposto de renda atual.

Do ponto de vista técnico e econômico, dentro dos conceitos da agricultura urbana,


com as técnicas da economia circular, a Vertical Farming mostra-se um sistema de
produção adequado, com benefícios econômicos evidentes e capaz de incentivar os
agentes econômicos no sentido de difundir práticas que impeçam ou diminuam a
degradação ambiental, ao passo estimular a ampliação de alimentos no ambiente
urbano como uma forma saudável de melhor aproveitamento do espaço.

62
PAGLIARINI e SANTOS (2018 - página 212) lecionam que “a técnica das plantações
verticais começou na Segunda Guerra Mundial quando as tropas das Forças Armadas norte-

62
PAGLIARINI, Alexandre Coutinho e SANTOS, Flávio Adriano Rebelo Brandão. UTILIZAÇÃO DA
FAZENDA URBANA VERTICAL COMO MEIO DE FOMENTAR A SUSTENTABILIDADE REVISTA DO
INSTITUTO DE DIREITO CONSTITUCIONAL E CIDADANIA, Londrina, v. 3, n. 1, p. 209-225, jan/jun.
2018.

87
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

americanas começaram a fazer experimentos hidropônicos em larga escala na Ilha Ascenção


no Atlântico Sul e posteriormente em Iwo Jima e no Japão”.

DIAMANDIS e KOTLER (2012, p.135) anotam que em 1983, RICHARD STONER


descobriu ser possível plantar acima do solo, alimentando os componentes através de
uma névoa rica em nutrientes. Surgia um novo processo de cultura que espanca o
método tradicional, denominando-a de: AEROPONIA ou HIDROPONIA. 63

O mérito do visionário DESPOMMIER (2010, p.p. 164-169) foi defender a adoção


dessa técnica que poderia revolucionar agricultura tradicional. Para esse autor, o
sistema convencional de agricultura consome 70 % (setenta por cento) da água do
planeta, ao passo que não é capaz de firmar um índice de eficácia no tocante a
produção, ao contrário da técnica da aeroponia ou hidroponia que, ao invés de
consumir 70 % (setenta por cento) de água, consome apenas 6 % (seis por cento)
com eficácia de 100 % (cem por cento) na produção. 64

Em defesa dessa tecnologia, no que se percebe presente espírito dos fundamentos


da ESCOLA SCHUMPETERIANA antes referida, as matrizes da economia circular e a
sustentabilidade, é um aspecto de extremo senso prático e decisivo, a técnica
hidropônica no sistema vertical farming pode ser implantado em qualquer local.

Qualquer espaço pode ser utilizado para aplicação dessa técnica. Assim, a escassez
ou abundância da luz solar passa a ser insignificante, haja vista que as plantações
verticais deverão ser projetadas para captar o máximo de luminosidade; da mesma
forma, solos inférteis não serão empecilhos para sedimentação desta tecnologia.
Quaisquer outros fatores climáticos também não oferecerão problemas. Por isso, foi
levado em consideração esse aspecto no discurso sobre a formação da renda da
propriedade urbana com produção agrícola.

63
DIAMANDIS, Peter; KOTLER, Steven. Abundância: o futuro é melhor do que você imagina. São
Paulo: HSM Editora, 2012.

64
DESPOMMIER, Dickson, The Vertical Farm: Feeding the World in the 21st Century. Chicago: ST
Martins Press, 2010.

88
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

Do pondo de vista conceitual, pode-se sustentar que a agricultura vertical,


corresponde “a prática de cultivar produtos verticalmente ou em camadas
empilhadas verticalmente”. 65

Essa tecnologia de produção atualmente tem merecido maior atenção dos meios
acadêmicos e está sendo mais bem estudada. Devido aos avanços tecnológicos em
andamento, com o auxílio do aspecto favorável do crescimento da eficiência elétrica,
houve um aumento no empreendimento de fazendas verticais globalmente.

A mesma evolução tecnológica que motivou a pesquisa em agricultura vertical, como


uma oportunidade de investimento, exploração de seu estado atual, taxas de
produção e potencial, também tem por objeto o estudo da segurança alimentar. Por
exemplo, professores e acadêmicos da mesma FGV EAESP, desenvolvem estudos e
pesquisas voltados a análise de mercado sobre uma potencial implementação de uma
moderna estrutura agrícola hidropônica vertical na cidade de São Paulo, fazendo uma
análise de custo de produção de diferentes hortaliças em comparação com a mesma
estrutura, já rentável, nos EUA.

Essa pesquisa tem como objetivo responder à questão: um sistema agrícola vertical
pode ter um custo economicamente viável na cidade de São Paulo? Sim, a resposta é
afirmativa. Esses resultados ajudam a demonstrar se a população de São Paulo
poderia usufruir de produtos produzidos localmente com esse método alternativo de
agricultura e se os agricultores podem se interessar em investir em fazendas verticais
no presente ou futuro próximo. 66

Outros estudos, também objetivando conhecer sobre a viabilidade desse modo de


produção, pesquisa nichos populacionais nas grandes cidades, onde os Municípios

65
FGV EAESP - MPGI: Dissertações, Mestrado Profissional em Gestão Internacional -
http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/28986. https://hdl.handle.net/10438/28986 - consulta:
20 de setembro de 2021.

66
https://hdl.handle.net/10438/28986 - FGV EAESP - MPGI: Dissertações, Mestrado Profissional em
Gestão Internacional - http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/28986.

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

poderiam criar políticas públicas no sentido de impulsionar esta técnica, atraindo


investidores que possam difundi-las sob a condição de treinar e contratar pessoas de
baixa renda gerando empregos, renda e arrecadação de tributos. Sob esse prisma,
caberia ao Poder Público em um mesmo processo político: reorganizaria áreas
urbanas abandonadas como preconiza o artigo 182 da CF, fazendo um levantamento
e cadastramento de imóveis abandonados, áreas degradadas consoante dispõe a Lei
nº 13.465/2017, por meio do artigo 64, § 1º, conforme o procedimento definido no
artigo 64, §§ 2º e 3º. É o Poder de Polícia Municipal fundado na competência
constitucional e exercido nos termos da Lei, 67 a qual permite ao Município reutilizar o

67
CF/88: Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal,
conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das
funções sociais da cidade e garantir o bem estar de seus habitantes. (BRASIL, 1988)

2 Lei n° 13.465/2017: Art. 64. Os imóveis urbanos privados abandonados cujos proprietários não
possuam a intenção de conservá-los em seu patrimônio ficam sujeitos à arrecadação pelo Município ou
pelo Distrito Federal na condição de bem vago.

§ 1º A intenção referida no caput deste artigo será presumida quando o proprietário, cessados os atos
de posse sobre o imóvel, não adimplir os ônus fiscais instituídos sobre a propriedade predial e territorial
urbana, por cinco anos.

§ 2º O procedimento de arrecadação de imóveis urbanos abandonados obedecerá ao disposto em ato


do Poder Executivo municipal ou distrital e observará, no mínimo:

I - abertura de processo administrativo para tratar da arrecadação;

II - comprovação do tempo de abandono e de inadimplência fiscal;

III - notificação ao titular do domínio para, querendo, apresentar impugnação no prazo de trinta dias,
contado da data de recebimento da notificação.

§ 3º A ausência de manifestação do titular do domínio será interpretada como concordância com a


arrecadação.

§ 4º Respeitado o procedimento de arrecadação, o Município poderá realizar, diretamente ou por meio


de terceiros, os investimentos necessários para que o imóvel urbano arrecadado atinja prontamente os
objetivos sociais a que se destina.

Art. 65. Os imóveis arrecadados pelos Municípios ou pelo Distrito Federal poderão ser destinados aos
programas habitacionais, à prestação de serviços públicos, ao fomento da Reurb-S ou serão objeto de
concessão de direito real de uso a entidades civis que comprovadamente tenham fins filantrópicos,
assistenciais, educativos, esportivos ou outros, no interesse do Município ou do Distrito Federal.
(BRASIL, 2017)

90
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

imóvel arrecadado em prol da coletividade nos moldes dos artigos 64, §4º e 65 da
referida legislação. 68

Em contrapartida o empreendedor produziria verduras e legumes sem a adição de


agrotóxicos ou modificação genética, gerando nas divisas urbanas uma nova forma
de incrementar a economia sem o processo agressivo da industrialização.

Aliás, a propósito da viabilidade econômica dessa empreitada, DIAMANDIS e


KOTLER (2012, p.137) afirmam que um quarteirão urbano dessa técnica é capaz de
produzir alimentos suficientes para abastecer 50 mil pessoas ao ano. 69

Logo, é possível afirmar, com base num simples raciocínio lógico e aritmético, que a
construção de duzentas unidades seriam social, ambiental e economicamente
sustentáveis para abastecer de alimentos metrópoles do porte de São Paulo, Nova
Iorque, Londres e Tókio, por exemplo

Outra vantagem é que a adoção da fazenda vertical reduziria os custos de transporte


e logística, dado que suas instalações estariam localizadas na vizinhança imediata
dos consumidores.

Para CRISTIANE DE ÁVILA AMARAL, "’Vertical Farms’ (Fazendas verticais), é um


conceito construído por meio de estudos científicos em microbiologia e segurança
alimentar no final da década de 1990, são representadas pelo cultivo intenso e
protegido de hortaliças, árvores frutíferas e piscicultura”. 70

68
PAGLIARINI, Alexandre Coutinho e SANTOS, Flávio Adriano Rebelo Brandão. UTILIZAÇÃO DA
FAZENDA URBANA VERTICAL COMO MEIO DE FOMENTAR A SUSTENTABILIDADE REVISTA DO
INSTITUTO DE DIREITO CONSTITUCIONAL E CIDADANIA, Londrina, v. 3, n. 1, p. 209-225, jan/jun.
2018.

69
DIAMANDIS, Peter; KOTLER, Steven. Abundância: o futuro é melhor do que você imagina. São
Paulo: HSM Editora, 2012.

70
Amaral, Cristiane de Avila. 10.11606/D.3.2018.tde-09042018-151952 - Catálogo USP
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3153/tde-09042018-151952/pt-br.php. Consulta: 22 de
setembro de 2021.

91
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

A pesquisadora reconhece que o “tema abandona a abordagem experimental/ teórica


e, em 2010, passa a repercutir com a implantação desse novo modelo de produção
agrícola urbana pelo mundo, este estudo identifica a oportunidade de implementação
da tecnologia no país e aproxima o mercado imobiliário da produção agrícola. A
motivação deste estudo foi de fomentar o mercado de fazendas urbanas verticais,
visando à melhoria do abastecimento de hortaliças e o controle das externalidades
negativas ambientais do atual meio de produção agrícola, monocultura em larga
escala e distribuição em longos trajetos, praticado para abastecimento metropolitano”.
71

10. CONCLUSÃO

Todos os argumentos a favor da sustentabilidade são baseados em princípios éticos e


valores morais.

Argumentos a favor da sustentabilidade não podem ser desenvolvidos apenas com


base em critérios de eficiência econômica.

Por isso jamais pode-se distanciar do objetivo de se alcançar a sustentabilidade


social, ambiental e econômica.

Para que a transição entre a linearidade e a economia circular no sistema produtivo


ocorra de modo efetivo, é fundamental a integração entre empresas, governo e
sociedade.

71
Idem: Amaral, Cristiane de Avila.

92
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

A racionalização e a justiça social na ocupação do espaço urbano, a transparência e a


governança das cidades, além dos avanços tecnológicos, transporte, mobilidade,
distribuição de redes de energia, internet e dados, e, água e esgoto, que se
apresentam como meios idôneos para a construção de cidades sustentáveis, e que
integram um conjunto de elementos positivos que devem ser estimulados para o
desenvolvimento de espaços urbanos que contribuam para a elevação constante do
nível de qualidade de vida e saúde.

As cidades inteligentes e sustentáveis devem considerar como política de estado, a


solução para os resíduos, o fomento de empreendimentos, a ampliação da oferta de
empregos, a cultura e lazer, a criação, preservação, reparação e recuperação de
áreas verdes urbanas, pouco importando que sejam de pequeno porte ou na escala
de florestas urbanas.

As cidades devem ser vistas como entidades dinâmicas e que evoluem, para as quais
não se esperam soluções estanques e definitivas, sempre estarão exigindo atenção,
estudos, novas soluções ou aperfeiçoamento de modelos para atenderem as novas
demandas da população.

As cidades inteligentes e sustentáveis devem ser vistas como um organismo vivo e


dinâmico. Esse conceito de cidade não é para assegurar a sustentabilidade apenas
no presente, deve se mostrar sustentável por muitas décadas de evolução,
crescimento, desenvolvimento e contínuo investimento, para preservarem-se assim
também para as gerações futuras, que deverão ser educadas para, continua e
sucessivamente, aprenderem, serem sábias, aperfeiçoarem e transmitirem o legado
para as próximas gerações. Por isso, fundamentalmente, sempre haverá um
ingrediente moral, ético, cultural e político no conceito de cidade inteligente e
sustentável nos níveis social, econômico e ambiental.

Por isso, as concepções devem ser entendidas como algo mais abrangente do que a
aplicação inteligente de tecnologia nas áreas urbanas. A adoção de tecnologia deve
tornar as cidades mais sustentáveis, melhorando a qualidade de vida de sua
população e sua relação com o meio ambiente. Assim, sob esse prisma as

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

discussões sobre cidades inteligentes e sustentáveis devem levar em consideração


aspectos como uso do espaço urbano e impactos sobre o bem–estar coletivo,
mudanças climáticas, os objetivos sociais, ambientais e também econômicos do
desenvolvimento sustentável, e da economia circular.

A tecnologia deverá ser utilizada para potencializar a participação política, serviços


aos cidadãos e o funcionamento da administração Afinal, o objetivo do ser humano é
viver, conviver, construir e produzir em cidades sustentáveis, em harmonia com os
demais seres vivos e o meio ambiente, usufruindo das vantagens oferecidas pela
economia circular, para o efetivo desenvolvimento de espaços urbanos e para atingir
a melhor qualidade de vida e saúde.

Do ponto de vista econômico, o conceito Urban Farms deverá ser visto sempre como
modelo de negócio. Seja à partir de uma horta caseira ou comunitária, um jardim ou
uma tecnológica fazenda vertical, sendo importante reconhecer que são
empreendimentos, e estes devem ser planificados a médio e longo prazo, de maneira
a angariar e assentar bases econômicas de sustentação, tornando a agricultura
urbana sustentável (econômico, social e ambiental) e perene, concernente com as
premissas do empreendedorismo, como gerador de riqueza e competitividade.

Esse modelo de agronegócio, certamente não concorrerá com os modelos de


agronegócio da produção de commodities em larga escala. As Urban Farms são
modelos alternativos de produção rural, em meio aos centros urbanos, não menos
eficientes, inclusive, capaz de produzir produtos com mais alto valor agregado.

Repita-se, não se sobreporão aos tradicionais meios de produção agropecuária, e


sim, devem ser compreendidos como um paradigma complementar, provendo a oferta
de alimentos de maneira continua por todo o ano, por exemplo, voltada para a
produção de hortifrutigranjeiros.

Endossando, estes sistemas alternativos de produção agrícola podem servir, também,


como um eficiente mecanismo ao poder público e privado em relação à questão da
segurança alimentar nutricional, ou ao menos, como instrumento de auxílio a uma

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

oferta constante de alimentos: baixo custo de produção, fácil acesso, menores índices
de agrotóxicos e quando possível, de maneira cooperada.

E mais, podem ostentar uma nova estética para as cidades e contribuir com o bem-
estar da população urbana.

Do ponto de vista técnico e econômico, qualquer espaço pode ser utilizado para
aplicação dessa técnica. Assim, a escassez ou abundância da luz solar passa a ser
insignificante. Quaisquer outros fatores climáticos também não oferecerão problemas.

Ainda dentro dos conceitos da agricultura urbana, com as técnicas da economia


circular, a Vertical Farming mostra-se um sistema de produção que gera
oportunidades, renda, lucro e benefícios econômicos evidentes, de modo a de
incentivar os agentes econômicos investirem nessa atividade, prestigiando práticas
que impeçam ou diminuam a degradação ambiental, salvaguardando a segurança
alimentar, a partir da produção urbana como uma forma saudável de melhor
aproveitamento do espaço, gerar empregos, renda e a melhoria da qualidade de vida
dos cidadãos.

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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524 - 10º andar CEP 05424-010 - São Paulo – SP. Título original: An Inquiry into the
Nature and Causes of the Wealth of Nations. Direitos exclusivos sobre a
Apresentação de autoria de Winston Fritsch, Editora Nova Cultural Ltda. Direitos
exclusivos sobre a tradução deste volume: Círculo do Livro Ltda. Impressão e
acabamento: DONNELLEY COCHRANE GRÁFICA E EDITORA BRASIL LTDA.
DIVISÃO CÍRCULO - ISBN 85-351-0827-0.

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