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GERGEN, Kenneth & GERGEN, Mary - Construcionismo Social - Um Convite Ao Diálogo
GERGEN, Kenneth & GERGEN, Mary - Construcionismo Social - Um Convite Ao Diálogo
Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida – em qualquer meio ou forma,
seja digital, fotocópia, gravação etc – nem apropriada ou estocada em banco de dados,
sem a autorização dos detentores dos direitos autorais.
Produção editorial
Anna Carla Ferreira
Copidesque
Leonora Corsini
Revisão
Paulo Henriques
Capa
Ilustrarte Design e Produção Editorial
Editoração eletrônica
Abreu’s System
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
G317c
Gergen, Kenneth J.
Construcionismo social: um convite ao diálogo / Kenneth J.
Gergen e Mary Gergen; tradução Gabriel Fairman. - Rio de
Janeiro: Instituto Noos, 2010.
ISBN 978-85-86132-14-8
Título.
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Construcionismo Social
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Por uma apresentação dialogada
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Por uma apresentação dialogada
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Por uma apresentação dialogada
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Por uma apresentação dialogada
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Capítulo 1
O cenário da
construção social
Uma dramática transformação vem tendo lugar no mundo das
ideias, e, por toda parte, as tradições estão sendo questionadas.
Aumenta a incerteza em relação aos padrões universais e oficiais
de verdade, objetividade, racionalidade, progresso e moralidade.
Enquanto a insegurança bate incessantemente à porta, questio-
na-se a fé em todo lugar. Entretanto, dessa situação tumultuada
emergem novos diálogos e novas vozes de esperança para a exis-
tência humana. São conversações que cruzam continentes e cul-
turas, fazendo-se acompanhar de um grande número de novas
práticas profissionais – nas organizações, na educação, na tera-
pia, na pesquisa e na assistência social, no aconselhamento, na
resolução de conflitos, no desenvolvimento da comunidade e em
muitas outras áreas.
Vários nomes já foram atribuídos a essa revolução de pensa-
mento e de práticas, sendo frequentes denominações como “pós-
-fundamentalismo”, “pós-empirismo”, “pós-iluminismo” e “pós-
-modernismo”. Entretanto, entremeada em todos os debates está
a noção da “construção social” ou seja, a criação de sentido atra-
vés de nossas atividades colaborativas. A construção social não
é de autoria de um único indivíduo ou grupo, nem tampouco
exclusiva e unificada; ela pressupõe um significativo comparti-
lhamento entre diferentes comunidades. Os contrastes, tensões e
incertezas não intimidam, uma vez que a tentativa de estabelecer
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Para um Você é
Biólogo “um mamífero”
Cabeleireiro “corte do ano passado”
Professor “alguém que tem potencial”
Homossexual “heterossexual”
Cristão fundamentalista “um pecador”
Pai/ Mãe “um sucesso surpreendente”
Artista “um excelente modelo”
Psicólogo “ligeiramente neurótico”
Físico “uma composição atômica”
Banqueiro “um futuro cliente”
Médico “um hipocondríaco”
Hindu “estado imperfeito de Atman”
Amante “uma pessoa maravilhosa”
Ifaluquiano* “cheio de liget”
Se não houvesse ninguém para identificá-lo, quem você seria nesse
caso? Será que você realmente seria algo?
* Habitante de Ifaluk, um atol de corais nas Ilhas Cardinas, pertencentes aos Estados Federados
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O cenário da construção social
Sua voz cética poderia replicar: “Quer dizer que a morte não é
real?”, ou “o corpo?”, ou “o Sol?”, ou “esta cadeira?”... A lista é infi-
nita. É preciso ter muita clareza quanto a este ponto: os constru-
cionistas sociais não dizem “não existe nada”, ou “não há realida-
de”; a questão importante é que quando as pessoas definem o que
é “realidade”, sempre falam a partir de uma tradição cultural. Sem
dúvida, alguma coisa aconteceu, mas, para descrever este fato, é
necessário que o mesmo seja representado a partir de um ponto
de vista cultural particular — numa linguagem particular ou por
intermédio de um meio visual ou oral particular.
A título de ilustração, se dissermos “o pai dele morreu”, na
maioria das vezes estaremos falando a partir de um ponto de
vista biológico. Construímos o acontecimento como a cessação
de determinada função corporal (muito embora até os médicos
possam discordar quanto à definição de morte, pois um cirur-
gião especialista em transplantes pode ter uma opinião diferente
da de um clínico geral). A partir de outras tradições, poderíamos
ainda dizer “ele foi para o céu”, “ele viverá para sempre no cora-
ção dela”, “este é o começo de um novo ciclo de reencarnação”,
“foi aliviado de seu fardo”, “viverá no legado de suas boas obras”,
“sua vida terá continuidade em seus três filhos”, ou “a compo-
sição atômica desse objeto foi alterada”. O que mais há para ser
dito fora de qualquer convenção relativa ao entendimento? Para
a pequena Julie, o acontecimento pode, de fato, não ser absolu-
tamente fora do comum. Para o construcionista, a questão não é
“nada existe”, mas sim “nada existe para nós”, ou seja: é a partir
das nossas relações que o mundo se faz preenchido com o que
nós concebemos como “árvores”, “sol”, “corpos”, “cadeiras” e as-
sim por diante.
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atribuímos uns aos outros são usados para efetuar relações. Não
são imagens do mundo, mas ações práticas no mundo.
Isto é fácil de entender no caso de expressões como “Pare!”, “Pe-
rigo!” ou “Jogue a bola!”, em que podemos ver como os nomes pró-
prios são úteis do ponto de vista social. Entretanto, já não fica tão
óbvio no caso de notícias, descrições científicas ou quando se trata
de contar a alguém como foi o seu dia; nestes casos, as palavras
parecem funcionar como imagens e podem ser verificadas quanto
à sua exatidão. Mas considere novamente: o fato de um relato pa-
recer ser “exato” ou não é algo que irá depender de uma tradição da
comunidade (lembre-se do exemplo dos vários “vocês” no início do
capítulo). Como cada tradição tem seus próprios critérios de juízo,
acreditar ou não que uma testemunha esteja falando a verdade é
algo que dependerá do fato de ela utilizar ou não a mesma forma de
linguagem que usamos. Se os incorporadores estão promovendo o
desenvolvimento e criando novos bairros ou destruindo espaços
abertos é algo que depende do que cada um entende por “desen-
volver”. Neste sentido, “falar a verdade” é falar de uma forma que
confirme a tradição de uma determinada comunidade.
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explicar; uma vez que alguém faça parte de uma convenção local,
sua liberdade de expressão fica radicalmente limitada.
Por exemplo, no caso dos diferentes “vocês”, cada grupo se baseia
em um jogo de linguagem diferente, uma vez que os biólogos se en-
contram mergulhados em jogos de linguagem diferentes dos jogos
dos físicos, dos banqueiros ou dos sacerdotes. No momento em que
precisam descrever “você”, cada um jogará fazendo uso de regras di-
ferentes, cada um criará um significado em seu jogo. Porém, é arris-
cado invadir qualquer uma dessas culturas e fazer uso das próprias
regras; dificilmente você perguntaria a um biólogo sobre a alma de
um sapo, ou pediria a um cabeleireiro a composição atômica de um
fio de cabelo, sem que sua sanidade mental fosse posta em dúvida.
Por outro lado, não estamos aqui tratando apenas das regras de
linguagem, já que as palavras se encontram normalmente incor-
poradas às nossas atividades, na forma como nos movimentamos
ou nos vestimos, ou mesmo nos objetos que carregamos e no que
fazemos com eles. No jogo de xadrez, por exemplo, falamos em
“peões”, “torres”, “xeque-mate” e assim por diante, mas ninguém
sai na rua gritando “xeque-mate!” sem que as pessoas olhem de
modo estranho. A frase só faz sentido quando as pessoas estão de-
sempenhando certas atividades específicas e fazendo uso de obje-
tos específicos. Isto também significa que as palavras que usamos
informam as pessoas sobre as ações que elas devem realizar. Se al-
guém aponta para um objeto e o chama de “cadeira”, você poderá
se sentir à vontade para se sentar ali; mas se alguém chama este
objeto de “antiguidade preciosa”, provavelmente você se sentará em
outro lugar. Para o construcionista, somos convidados a uma dupla
escuta: escuta do conteúdo, por um lado, e da importância, por
outro. Nos termos de Wittgenstein, nossos “jogos de linguagem”
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Pluralismo radical
A maioria das pessoas tende a concordar com o fato de que mui-
tas de nossas categorias são construídas socialmente. Todos sabe-
mos, por exemplo, que existem infindáveis desacordos quanto ao
significado de “justiça”, “moralidade” ou “amor”. Entretanto, muitas
pessoas resistem às ideias construcionistas quando as mesmas se re-
ferem ao mundo físico, ao mundo pré-linguístico do diretamente
observável. É verdadeira ou falsa a afirmativa “a Lua é feita de quei-
jo”? Que insensato seria responder “verdadeira”! E não é também
óbvio que o mundo é redondo e que as estações mudam na Nova
Inglaterra? Mas analise novamente: se considerarmos que o que é
real deriva de acordos entre comunidades de pessoas, as afirmações
da verdade devem se encontrar no âmbito dessas relações. Ou, mais
uma vez, a verdade só pode ser encontrada dentro da comunidade;
porque fora da comunidade há o silêncio. Neste sentido, os constru-
cionistas sociais não adotam as verdades universais, nem a Verdade
com “V” maiúsculo, às vezes chamada de Verdade Transcendental.
Naturalmente existe a verdade com um “v” minúsculo, ou
seja, a verdade decorrente dos modos de vida compartilhados
dentro de um grupo. Às vezes, esse grupo pode ser enorme, como
o grupo que comumente declara que 2 + 2 = 4. Se uma criança
disser que a resposta é 3, ela será imediatamente corrigida. Por
outro lado, os matemáticos poderiam dizer que a resposta 4 está
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Foco do capítulo
Podemos ver o construcionismo social como um permanente diálo-
go sobre as fontes daquilo que acreditamos ser o conhecimento do
real, do racional, do verdadeiro e do bom – com efeito, tudo é sig-
nificativo na vida. Talvez seja útil pensar nas ideias construcionistas
como sendo um guarda-chuva sob o qual se encontram abrigadas
todas as tradições de significado e de ação. O guarda-chuva constru-
cionista permite que nos movimentemos através das tradições para
apreciar, avaliar, absorver, amalgamar e recriar. Ao mesmo tempo,
é preciso reservar um lugar para as próprias ideias construcionistas
debaixo desse guarda-chuva. Elas também devem evitar afirmações
do tipo Verdade transcendental. Ao escrevermos estas palavras tam-
bém nos empenhamos em gerar significado junto com você, leitor. A
questão importante não é se nossas palavras são verdadeiras ou ob-
jetivas, mas sim o que acontece com nossas vidas quando iniciamos
esta forma de entendimento. Como esperamos poder demonstrar,
existem muitos novos e promissores caminhos à frente.
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Capítulo 2
Da crítica à
reconstrução
Uma das coisas mais fascinantes sobre o nosso próprio compro-
misso com as ideias construcionistas é a incessante criatividade que
elas estimulam. Aqueles que buscam a Verdade procuram reduzir o
mundo a um conjunto fixo e único de palavras. Declarar A Verda-
de é congelar profundamente as palavras, reduzindo desta forma o
reino das possibilidades para o surgimento de novos significados.
Em contraste, os construcionistas preferem o diálogo constante e
aberto, no qual há sempre lugar para outra voz, outra visão e outra
revisão, e para uma expansão adicional na esfera da relação.
Neste capítulo, apresentamos uma série de grandes desenvol-
vimentos nos diálogos construcionistas. Inicialmente, levamos a
contribuição construcionista à reflexão crítica. Essa discussão nos
prepara para considerar o grande desafio que as ideias construcio-
nistas trazem à tradição ocidental do individualismo. O construcio-
nismo privilegia, em nosso entender, a substituição do indivíduo
como fonte de significado pela relação. Finalmente, iremos explorar
algumas tentativas recentes de reconstruir o conceito de “self ”.
Desconstrução e além
À medida que as ideias construcionistas tornaram-se mais dis-
seminadas, também se disseminou a reflexão crítica sobre nossa
vida cotidiana. Por que isso aconteceu? Porque a partir do mo-
mento em que percebemos que qualquer pronunciamento sobre a
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Da crítica à reconstrução
* Queer Studies no original. A Teoria Queer defende que o gênero é uma construção social e que, por-
tanto, as identidades, papéis e orientações sexuais dos indivíduos não são uma essência, tampouco
estão relacionados a uma inscrição biológica na natureza humana; são antes formas socialmente va-
riáveis de desempenhar um ou vários papéis sexuais. De modo geral, a Teoria Queer busca ir além
das teorias feministas baseadas na dicotomia homem x mulher, dando maior atenção aos processos
sociais amplos que sexualizam a sociedade como um todo de forma a heterossexualizar ou homos-
sexualizar instituições, discursos, direitos. Neste sentido, a Teoria Queer se distingue dos estudos
gays e lésbicos, pois considera que essas culturas sexuais foram normalizadas e não apontam para
a mudança social. Daí o interesse em estudar o travestismo, a transexualidade e a intersexualidade,
bem como as culturas sexuais não-hegemônicas caracterizadas pela subversão ou pelo rompimento
com normas socialmente prescritas de comportamento sexual e/ou amoroso (N.R.).
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Da crítica à reconstrução
Do indivíduo à relação
O que pode haver de mais óbvio do que a constatação de que
nosso mundo se compõe de indivíduos separados, na maioria
das vezes dotados da capacidade de tomar decisões conscien-
tes? A partir desta constatação óbvia, favorecemos uma demo-
cracia na qual cada cidadão adulto tem direito a voto, onde há
tribunais, em que atores individuais são considerados respon-
sáveis por suas ações, onde existem escolas para avaliar o tra-
balho de cada aluno e organizações nas quais os funcionários
são submetidos individualmente a avaliações de desempenho.
É basicamente por isto que caracterizamos a cultura ocidental
como individualista.
Entretanto, para um construcionista, o fato óbvio do “indi-
víduo como um tomador de decisões consciente” não é algo tão
óbvio assim. Pelo contrário, vemos isto apenas como uma forma
de construir o mundo. Aliás, a orientação individualista com re-
lação à vida social não é tão antiga do ponto de vista histórico
(possivelmente data de três séculos), e não é compartilhada pela
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maioria das pessoas no mundo. Não que isto faça com que esta
orientação seja errada, mas nos permite dar um passo além de
nossas certezas e indagar sobre os prós e os contras desta con-
cepção. O que podemos ganhar com essa forma de construir o
mundo? O que podemos perder? Quais são as alternativas?
Certamente pode-se dizer muita coisa em favor do individua-
lismo, como, por exemplo, que a vida é significativa e importan-
te para muitas pessoas, porque elas se sentem amadas, honradas
e valorizadas pelo que são. E, para a maioria de nós, não existe
melhor alternativa à democracia. Ao mesmo tempo, o individu-
alismo tem suas desvantagens. Do ponto de vista individualista,
somos instados a ver o mundo social como se ele, basicamente,
fosse constituído de seres isolados. Aprendemos que não pode-
mos penetrar na mentes dos outros e, assim sendo, não pode-
mos conhecer ou confiar totalmente nos outros. O pressuposto
de que cada um está apenas preocupado consigo mesmo exige
um treinamento moral para que passemos a nos preocupar com
os demais. A autoavaliação transforma-se na dimensão essencial
em torno da qual vivemos nossas vidas, com medo de sermos
tratados com desdém, procurando ser sempre melhores do que
os outros. Num mundo individualista, as relações são relegadas a
um segundo plano, porque são tratadas como artifícios que, pro-
vavelmente, demandam tempo e que são essenciais apenas nos
casos em que não somos autossuficientes.
É exatamente nesse ponto que as ideias construcionistas vão
deslanchar. Se uma determinada construção do eu ou do mun-
do vai contra o nosso bem-estar, somos instados a desenvolver
alternativas. De fato, a partir da perspectiva construcionista, são
as relações, e não os indivíduos, que constituem a base da so-
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O “Eu” relacional
Como é ser um ser humano? Qual é a nossa natureza fundamen-
tal? Estas são perguntas que não nos fazemos com frequência,
porque mais ou menos pressupomos que nós, seres humanos,
somos criaturas que têm a capacidade de tomar decisões racio-
nais, sentir emoções e desejos, recordar o tempo passado, e assim
por diante. Contudo, como já mencionamos anteriormente, essas
crenças comuns só vieram a ter importância na cultura ocidental
nos últimos séculos. Foi somente no século XVII, quando Des-
cartes afirmou “Penso, logo existo”, que se tornou patente o fato de
que podíamos pensar e que o pensamento era chave para a exis-
tência de uma pessoa. Da mesma maneira, o conceito de “senti-
mento” apareceu apenas por volta do século XVIII; nesse ínterim,
outras qualidades humanas foram desaparecendo. Por exemplo,
de certa forma nos esquecemos da importância da “melancolia”,
um estado emocional que foi descrito em certo momento como
silêncio macabro e súbitos acessos de raiva. A melancolia era algo
tão óbvio no século XVII que Robert Burton escreveu um livro
de 500 páginas a respeito de suas causas e curas. A “alma” foi tida
como um fato da vida humana por anos, ao passo que hoje mui-
tos a consideram um mito. Da mesma forma, nos últimos sécu-
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Foco do capítulo
Neste capítulo tratamos com respeito e apreço os processos relacio-
nais. É a partir da relação que tudo o que consideramos real, racional,
verdadeiro e de valor emerge. As implicações da ênfase relacional são
vitais, não só porque permitem desestabilizar a tradição enraizada
do individualismo, mas também porque somos instados a reconside-
rar muitas de nossas instituições, desde os rituais do relacionamento
íntimo até nossas práticas na educação, na política e nas leis. Uma
perspectiva racional desperta o apreço por nossa vida com os ou-
tros, no lugar de uma vida separada dos outros ou contra os outros.
Centramo-nos no poder gerador da relação e do fluxo de ações co-
ordenadas. Por meio de performances junto aos outros e junto a nós
mesmos, criamos nossas realidades racionais e emocionais. Aquilo
que antes era denominado “processos mentais” foi recriado como
“processos relacionais”. O Eu Relacional passa a existir através das
relações com outros. Nos dois capítulos a seguir, iremos explorar as
práticas nas organizações, escolas, processos terapêuticos e na pes-
quisa que levam os conceitos relacionais à ação.
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Capítulo 3
Construção social e
prática profissional
Uma coisa é gerar ideias atraentes, mas a questão importante é
verificar se existe uma relação produtiva entre as palavras e nos-
sos modos de vida. Nós, autores, vivemos a maior parte de nossa
carreira profissional na academia e testemunhamos muitas ideias
interessantes que apareceram e desapareceram. Entretanto, uma
das razões pelas quais as ideias construcionistas nos atraíram de
maneira especial se deve ao fato de que elas fizeram e fazem uma
importante diferença em nossas vidas. Uma vez que a consciência
da construção se estabelece, torna-se difícil ficar quieto. Quando
nos damos conta de que tudo que aceitamos como real, racional
e bom o é tão somente em virtude de convenções, começamos a
fazer perguntas como: “Por que devemos aceitar o que a tradição
nos oferece?”, “O que estamos deixando de considerar?”, “Não se-
ria melhor se pudéssemos reconstruir?” São perguntas perturba-
doras com infinitas repercussões.
Neste capítulo, discutiremos o impacto das ideias construcio-
nistas nas práticas profissionais. Ilustraremos os desdobramentos
em profissões vinculadas a terapias, desenvolvimentos organiza-
cionais, ensino e resolução de conflitos, ou seja, nas profissões
especificamente voltadas à mudança do ser humano. Em cada
uma dessas áreas, as ideias construcionistas estimularam novas e
interessantes alternativas.
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história. O fato de você “perder” alguma coisa (um emprego, um
ente querido, o amor de alguém) significa que você leva consigo
uma história própria, onde você é o personagem principal que
enveredou por um caminho de evolução ou de realização (o final
de uma boa história), ou que sofreu um revés.
Os terapeutas narrativos têm grande apreço por essas ideias
e acreditam que, ao “reescrevermos” nossa história de vida, “os
problemas” podem ser transformados, novas histórias podem
ser criadas e, a partir delas, novos rumos poderão se abrir. Por
exemplo, algumas pessoas carregam uma história na qual foram
bastante feridas por pais abusivos e sentem-se incapazes de se-
guir em frente. No entanto, se tiverem a oportunidade de revisi-
tar sua infância, valorizando o fato de que conseguiram sobrevi-
ver corajosamente e destacando-se como heróis, talvez possam
começar a enxergar novas opções e alternativas de ação que se-
jam mais otimistas.
O trabalho inovador dos terapeutas de família, Michael White
e David Epston, focaliza especialmente os potenciais políticos do
“reescrever a sua história”. A maioria das pessoas vê seus proble-
mas como algo que mora “em suas mentes” e se sente “disfun-
cional”, incapaz como pessoa. De acordo com White e Epston,
tais narrativas ofuscam a possibilidade de entender os problemas
individuais como algo que emana de condições sociopolíticas. O
que costuma ser considerado disfunção pessoal, como a depres-
são, por exemplo, poderia ser “reescrito” de forma tal que permita
a alguém ver que está atravessando momentos políticos ou eco-
nômicos estressantes. Ao entender que o problema “não está em
nós, mas no sistema”, desaparece uma camada de dúvidas acerca
de nós mesmos, abrindo possibilidades para novas alternativas
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Concentrar-se num futuro positivo em vez de em um “velho pas-
sado ruim” transforma-se na base para passos mais proativos em
direção à mudança.
As terapias breves também são interessantes quando compara-
das às de longo prazo, tais como a psicanálise. Em contraste com
uma abordagem construcionista, as terapias psicanalíticas exigem
anos de sondagem porque constroem a pessoa como possuidora
de “problemas profundamente arraigados”. Se os problemas são
definidos como algo que está oculto em memórias inconscien-
tes da primeira infância, certamente as longas horas de análise
parecerão ser algo razoável. No entanto, também podemos cons-
truir o indivíduo de forma diferente, de uma maneira que tenha
como pressuposto a ideia de que vivemos no aqui e no agora e
que nosso bem-estar está fundamentalmente vinculado às nossas
relações atuais. Se adotarmos este posicionamento, a terapia po-
derá ser muito mais breve (e mais econômica). As repercussões
da terapia também se estruturam de modo diferente porque, em
vez de sondar um passado conturbado, a terapia se concentra em
meios que permitam relacionamentos presentes mais adequados.
Ao fazermos a reconstrução do passado para o presente e deslo-
carmos o foco dos problemas para as potencialidades, é possível
esperar mudanças mais rápidas.
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gostaria de ser capaz de expressar mais abertamente seu amor
pelos filhos. Com esta mudança na conversa, a terapia poderá
transformar-se. Ao invés de procurar compreender porque papai
é sempre tão mau, os familiares poderão encontrar formas me-
lhores para se relacionar com ele, que encontrará novas formas
de se expressar.
Passemos agora a um segundo local de prática construcionis-
ta: a organização.
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Um dos mais ricos relatos de liderança relacional pode ser en-
contrado no livro de Wilfred Drath: The Deep Blue Sea: Rethinking
the Source of Leadership (O profundo mar azul: repensando a fonte
da liderança). A liderança relacional surge quando pessoas criam,
através do diálogo, papéis e atividades de liderança. Nas palavras de
Drath, entende-se por liderança “não algo que seja propriedade do
líder, mas um aspecto da comunidade” (pg. XVI). Ao invés de um
único indivíduo estabelecer programas e objetivos, estes se confi-
guram através de diálogos entre as partes envolvidas.
Vamos pensar na maneira como funciona um grupo de ami-
gos. Na maioria dos casos, todos os participantes têm o direito
de se pronunciar quanto ao que o grupo deseja fazer. De vez em
quando os amigos poderão designar um dos membros como “lí-
der” do grupo. Diferentes amigos apresentarão diferentes habili-
dades ou recursos especiais. Assim, a contínua negociação é vital
para que a amizade perdure. A aplicação de uma perspectiva rela-
cional à liderança tem implicações revolucionárias. Por exemplo,
se abandonarmos o modelo do líder como um visionário obce-
cado, perceberemos maior participação dos demais membros do
grupo, que deixarão de simplesmente executar ordens e de espe-
rar com indiferença as horas passarem. Em vez disso, por seu en-
volvimento pessoal nas políticas e práticas de seu grupo, eles es-
tarão completamente engajados. Elogios e críticas também serão
distribuídos de maneira mais uniforme. Por exemplo, o salário
de um CEO, em média, é mais de 500 vezes maior que o salário
médio de um de seus funcionários, que recebem por hora de tra-
balho. Este é o resultado do modelo de liderança do herói indivi-
dual. Se um CEO fosse considerado como parte de um processo
relacional, os salários seriam distribuídos mais equitativamente e
o CEO seria menos culpabilizado pelos insucessos. Além disso,
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Investigação apreciativa: inspirando a mudança organizacional
No mundo das empresas são frequentes as referências a “pro-
blemas”. Ouvimos as pessoas dizerem “Temos um problema com
o Marketing”, “Nosso diretor executivo não tem imaginação”, “Os
funcionários estão insatisfeitos”, e assim por diante. Imagina-
mos que, se todos os problemas fossem resolvidos, a organização
funcionaria perfeitamente. Mas será assim mesmo? Quando nos
concentramos nos problemas individuais, perdemos de vista o
todo e nossos olhos deixam de focalizar o futuro. Começamos
a encontrar falhas uns nos outros, tornamo-nos desconfiados e
adotamos uma posição defensiva. O sonho organizacional parece
ser sempre adiado, pois os problemas que precisam ser solucio-
nados não têm fim.
Em uma perspectiva construcionista, falar de problemas é algo
opcional e somente existirão problemas se construirmos o mundo
dessa forma. Como falar de problemas frequentemente nos desvia
de nossas metas, podemos perguntar se existem outras formas de
conversa ou de diálogo que sejam mais eficazes para a organização.
Um grupo de especialistas organizacionais nos respondeu com um
vigoroso “Sim!”. Esse meio poderoso para mobilizar grupos e or-
ganizações chama-se Investigação Apreciativa – IA (“Appreciati-
ve Inquiry” – AI). Este método é uma alternativa às abordagens
da mudança organizacional focadas em problemas. Aqueles que
praticam o método da Investigação Apreciativa criam uma visão
de mundo que prefere enxergar um copo “meio cheio” ao invés
de um copo “meio vazio”. David Cooperrider, um de seus criado-
res, descreve: “A única coisa mais produtiva que um grupo pode
fazer, se estiver conscientemente buscando construir um futuro
melhor, é descobrir o ‘núcleo positivo’ de qualquer sistema para
depois transformá-lo em propriedade comum e explícita de to-
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passado; os participantes não compartilham apenas “castelos no ar”,
mas fazem uso do melhor de suas realizações passadas para gerar
possibilidades realistas e idealistas para o futuro. Durante o proces-
so, são os aspectos colaborativos e relacionais que conferem poder
ao esforço de mudança, uma vez que através do diálogo e do ato de
compartilhar, nascem no âmbito do sistema organizacional novas
realidades que possibilitam uma mudança positiva duradoura. Os
princípios fundamentais da metodologia da Investigação Apreciati-
va baseiam-se no enfoque da construção social.
Apesar de muitos projetos de Investigação Apreciativa serem rea-
lizados no ambiente corporativo, existem inúmeras outras aplicações
deste modelo em escolas, igrejas, ONGs e comunidades, bem como
na vida privada. Alguns praticantes da metodologia IA, tais como
Jane Watkins e Ralph Kelly, organizam workshops para ajudar as
pessoas a redescobrir o brilho da paixão que as levou a se casarem;
o workshop ajuda a estimular relacionamentos amorosos através da
exploração da positividade. Outros promovem workshops que aju-
dam as pessoas a desenvolverem práticas de liderança e estilos de
vida pessoais baseados em princípios apreciativos. Consulte as re-
ferências bibliográficas no final do livro para informações a respeito
de oportunidades de aprendizado e leituras adicionais sobre Investi-
gação Apreciativa. Passaremos agora a um terceiro contexto onde as
práticas construcionistas estão florescendo: a educação.
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eliminar o ensino de religião das escolas passa a ideia de uma so-
ciedade essencialmente secular. E, de modo mais sutil, favorecer
métodos experimentais para estudar o comportamento humano
significa que entendemos melhor os outros se formos desapaixo-
nados e manipuladores.
Não estamos querendo dizer que o vínculo entre a educação
e os preconceitos e juízos de valor seja perigoso ou deva ser evi-
tado. Com efeito, muitos dos vieses de nossos currículos e pro-
gramas sustenta as formas de vida preferidas pela maioria (geral-
mente, é apenas nos casos em que não sustentam a nossa forma
de vida que talvez sejam reconhecidos como vieses!). O fato de
um professor insistir para que os alunos votem não é considerado
um viés, mas se ele insistisse para que os alunos votassem pelo
Partido Democrata, aí sim seria um viés. No entanto, do ponto
de vista construcionista, podemos também atribuir valor ao fato
de adquirir uma percepção com relação a esses vieses, compreen-
dendo quem está sendo privilegiado e quem é tornado invisível
por eles. Ao fazer isto, podemos começar a enxergar alternativas.
Se prestarmos atenção em quem mais se pronuncia nas discus-
sões em classe e quem fica mais calado, podemos aprender algo a
respeito de vozes silenciosas ou ausentes e de como habilitar essas
vozes silenciosas para que se expressem.
Há muito tempo essas preocupações vêm se refletindo no
movimento pedagógico crítico, bastante inspirado pelo livro de
Paulo Freire, Pedagogia do oprimido. Freire se preocupava par-
ticularmente com a estrutura de muitos sistemas educacionais
que basicamente preparam as classes menos privilegiadas para
vidas de silenciosa servidão. Desde então, vários outros críticos
vêm se concentrando especialmente nos preconceitos de raça
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Aprendizado colaborativo
O ensino tradicional segue uma orientação individualista, pois
espera melhorar a mente de um único indivíduo: julga-se o aluno
por seu “trabalho individual” e as notas são atribuídas individual-
mente. Entretanto, as ideias construcionistas vão levantar questões
a respeito do individualismo, tanto como uma visão das pessoas
quanto uma ideologia política. Já argumentamos aqui que o que
chamamos de “pensamento” individual é de fato um subproduto da
imersão de alguém nas relações. Se não estivermos equipados com
uma linguagem de justiça ou de responsabilidade, como poderemos
pensar nessas questões? E, se considerarmos o indivíduo como a
unidade básica da sociedade, criaremos uma cultura de isolamento
e alienação. Por outro lado, se tudo que considerarmos real, lógico
e desejado, for subproduto da relação, passa a fazer todo sentido
colocar o processo relacional no centro da prática educacional.
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Na escrita colaborativa, os alunos formam pares ou peque-
nos grupos, mas sempre trabalhando juntos para produzir um
trabalho final. Como os professores vêm a descobrir, o processo
colaborativo aproveita as forças e habilidades de todos os mem-
bros do grupo. Alguns alunos podem, por exemplo, ser bons
em abstrações, enquanto outros talvez ofereçam boas histórias
que podem ser usadas para ilustrar ideias; alguns podem ter
percepções estranhas ou inusitadas, enquanto outros podem
contribuir dando entusiasmo ao grupo; cada um dá uma contri-
buição especial e única ao todo. Além de permitir que os alunos
contribuam a partir de uma posição de potência e força, os alu-
nos também aprendem uns com os outros. O aluno conceitual
aprende com o aluno entusiasmado e assim por diante. Além
disso, todos podem se beneficiar ao adquirir percepções a partir
das diversas vozes de avaliação incluídas no trabalho. Assim,
também estarão mais adequadamente preparados para atuar de
maneira colaborativa na vida futura. Vamos agora passar para
um último contexto onde as práticas construcionistas são extre-
mamente valiosas.
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que se enfatiza, onde se estão os silêncios e assim por diante. Por
exemplo, se discordamos de algo podemos provocar uma discus-
são. Mas a discussão como forma de conversa nos contrapõe ao
outro; um lado deve vencer, e o outro, perder. A discussão é, em
geral, uma “guerra por outros meios”. Então, quais seriam as alter-
nativas a uma discussão para resolver problemas?
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entusiasmaram com essas conversações de tal maneira que vol-
taram a se reunir posteriormente para continuar a conversar. Por
meio da remodelagem de uma determinada forma de conversa, o
ódio mútuo deu lugar à investigação colaborativa. A abordagem
construcionista para a resolução de conflitos entende que nenhu-
ma das partes é dona da verdade e que há vários aspectos de um
determinado problema. O diálogo conjunto pode construir novas
soluções de forma criativa.
Foco do Capítulo
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Capítulo 4
A pesquisa como
prática de construção
Muitas de nossas hipóteses tradicionais a respeito do conhecimento
e da prática de pesquisa são desafiadas pelas ideias construcionis-
tas. Neste capítulo apresentaremos inicialmente algumas das mais
importantes mudanças de entendimento promovidas pelo constru-
cionismo. Em seguida, apresentaremos algumas aplicações dessas
ideias na pesquisa em ciências sociais. Se o construcionismo oferece
uma visão alternativa do conhecimento, qual a sua repercussão nas
formas como procuramos conhecer os outros e a nós mesmos?
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Karen: a pesquisadora
“A esposa, Betty Ann, diz que Ben e
Sherry eram muito ligados. Eles con-
versavam a respeito de tudo. Ela fala-
va com ele sobre sua menstruação...”
Por outro lado, alguém poderia ser até mais ousado e perguntar:
“Por que essa ênfase na forma escrita de apresentação de um rela-
tório de pesquisa”? Há muitas formas de apresentação disponíveis
para nós, e as palavras às vezes são muito limitantes. Por que não
fazer uso de filmes, gravações, música, arte, dança, multimídia e ou-
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Narrativas do Eu
Na pesquisa tradicional, o cientista social observa e tira con-
clusões sobre os outros, seus motivos, problemas, hábitos, rela-
ções, e assim por diante. Por sua vez, o construcionista pergunta:
“Por que não permitir que as pessoas falem por si próprias? Será
que os sujeitos de nossos estudos nos autorizam a falar por eles?
Acaso sabemos se concordam com as nossas conclusões?” Ao in-
vés de escrever a respeito delas, por que não permitimos que elas
mesmas retratem suas próprias vidas?
Um importante meio para dar aos sujeitos das pesquisas o
direito a se expressar consiste nos métodos narrativos. Talvez
você se recorde de nossa discussão sobre narrativas nos capítu-
los precedentes. Neste caso, os pesquisadores possibilitam que
as pessoas contem suas próprias histórias. Podem, por exemplo,
colecionar histórias de vida, analisar autobiografias ou localizar
cartas em arquivos históricos. Assim, a pesquisa narrativa tem
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* LUG – Lesbian Until Graduation, termo utilizado para designar mulheres que vivem experiências
homossexuais enquanto estão na escola ou na faculdade, mas depois assumem uma identi-
dade heterossexual.
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Pesquisa-ação em ação
Um centro de ajuda social a meninos e jovens moradores de rua
em Ottawa, no Canadá, vinha passando por uma crise. Alguns acre-
ditavam que o centro precisava de mais infraestrutura e de mais re-
gras, enquanto outros pensavam que um maior número de orienta-
dores e de funcionários seria fundamental. Outros ainda cogitavam
que o centro deveria ser fechado a fim de dissuadir os “moleques”
de ficarem vadiando pelas redondezas. O centro era mantido por
uma agência municipal de atendimento à juventude, que decidiu
primeiro estudar o que poderia ser feito para depois iniciar a refor-
ma. Entretanto, ao invés de usar o método tradicional de estudar a
distância e anunciar os resultados, escolheu-se a pesquisa-ação. Os
pesquisadores desenvolveram um sistema de parceria com os jovens,
na expectativa de que eles participassem de forma ativa para criar
outros futuros dentro do centro. Os pesquisadores e os facilitadores
do centro auxiliaram o processo. A equipe de pesquisa consistia de
seis jovens, dois facilitadores e um pesquisador externo.
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Capítulo 5
Da crítica à
colaboração
Para muitas pessoas, as ideias construcionistas são profundamente
preocupantes, pois vão questionar realidades e valores centrais da
vida cotidiana sem oferecer uma lista precisa de alternativas. Uma
vez que as ideias construcionistas minam as reivindicações de ver-
dade, objetividade e certeza, elas acabam exercendo também um
papel central nas assim chamadas “guerras culturais”. Neste caso, os
críticos questionam a possibilidade de cada subcultura ter direito a
suas próprias verdades e valores. As ideias construcionistas também
contribuíram de maneira significativa para “a guerra das ciências”,
pois os críticos não aceitam que a verdade científica seja apenas
uma entre muitas outras. Assim, podemos verificar que o constru-
cionismo tem sido severamente criticado em vários setores.
Neste capítulo levantaremos algumas das linhas centrais des-
sas críticas, procurando oferecer respostas convincentes às mes-
mas. No entanto, precisamos estar atentos tanto à forma quan-
to ao conteúdo de nossas respostas. Se fosse o caso de estarmos
comprometidos com uma única verdade, forma de raciocínio ou
conjunto de valores, talvez tentássemos demonstrar que as críti-
cas estão simplesmente equivocadas, tendo incorrido em algum
erro fundamental. Contudo, de um ponto de vista construcionis-
ta, erros fundamentais não existem. Não precisamos entrar numa
luta para garantir que as perspectivas construcionistas prevale-
çam sobre todas as outras. Em vez disso, podemos usar a críti-
ca como convite ao diálogo e a possíveis colaborações das quais
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(Lectures on Metaphysics, I, pp. 293-94); nesse caso a palavra quer dizer fenomenismo. Em
outros casos, é empregada para indicar as atitudes dos que negam determinados valores morais
ou políticos. Nietzsche foi o único a não utilizar esse termo com intuitos polêmicos, empregando-
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Referências bibliográficas
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se inscrever no endereço www.positiveaging.net.
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Cooperrider, David; Avital, Michael (eds.). Advances in
Appreciative Inquiry: Constructive Discourse and Human Organi-
zation. Nova York: Elsevier Publishing, 2004. (Uma coletânea de
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autores que a estudaram e a praticam.)
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2001. (Entrevistas e comentários sobre mais de vinte líderes sele-
cionados por suas abordagens apreciativas em seu trabalho.)
Watkins, Jane; Mohr, Bernard. Appreciative Inquiry: Change
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2001. (Síntese da Investigação Apreciativa por dois de seus im-
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Whitney, Diana; Trosten-Bloom, Amanda. The Power of
Appreciative Inquiry: A Practical Guide to Positive Change. São
Francisco: Berrett-Koehler, 2003. (Um guia prático para a Inves-
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Amanda; Kaplin, Brian. Encyclopedia of Positive Questions.
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Inglaterra: Penguin Books, 1978. Original em português: Peda-
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Public Conversations Project: www.publicconversa-
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Nova York: Continuum, 1998. (Uma excelente fonte para teoria e
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Londres: Sage, 1998. (Oferece considerações críticas sobre as
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Mais referências sobre Kenneth e Mary Gergen podem ser en-
contradas em suas páginas pessoais:
Kenneth Gergen: http://www.swarthmore.edu/SocSci/kgergen
Mary Gergen: http://www.de.psu.edu/Faculty/gergen/gergen.html
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Este livro foi composto na tipologia Minion Pro,
em corpo 11/16, impresso em papel offset
pela Milograph em setembro de 2010.