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Solos

CALAGEM E GESSAGEM

Prof. Fabrício R. Andrade


SOLOS TROPICAIS
Boas propriedades físicas; elevada acidez; altos teores de
alumínio trocável; deficiência em nutrientes (Ca, Mg e P)
BENEFÍCIOS DA CALAGEM
1. Reduz toxidez de H+, Al3+ e Mn2+;

2. Aumenta mineralização da matéria orgânica e


a disponibilidade de N, P, S e B;

3. Aumenta disponibilidade de Ca e Mg por


adição direta ao solo;

4. Aumenta disponibilidade de P e Mo, presentes


em formas fixadas menos disponíveis nos
solos ácidos;

5. Aumenta da FBN e atividade microbiana;

6. Aumenta da CTCefetiva do solo, reduzindo


problemas de salinidade e lixiviação de
cátions;

7. Aumenta eficiência dos fertilizantes;

8. Aumenta da produtividade por área,


reduzindo a pressão pela abertura de novas
áreas.

Sucesso da prática depende: características do


corretivo utilizado, da dose adequada, da
forma e época de aplicação do corretivo
Produção de grãos de soja (var. UFV-1), em
Efeito do pH na disponibilidade de
função de doses de P em diferentes níveis de
nutrientes calcário (efeito residual, adubação com P e
calcário feita em maio de 1977), em LE
argiloso. (Souza, 1984)
CORREÇÃO DA ACIDEZ DO
SOLO
REAÇÃO DE NEUTRALIZAÇÃO
2+
CaCO 3 + H2 O  Ca + CO 2-
3

CO 23- + H2 O  HCO -3 + OH -

OH - + H+  H2 O

HCO -3 + H+  CO 2 + H2 O

CO32- + 2H +  CO2 + H 2O
Como o calcário reduz a acidez do solo?

_ H+ _
_ K+ _ Ca2+
Argila + CaCO3 Argila + H2CO3
_ (Calcário) _
H+ K+

H2CO3 H2O + CO2


CORREÇÃO DA ACIDEZ DO SOLO

Determinação da Necessidade de Calagem

Necessidade de calagem (NC) “quantidade de


corretivo de acidez necessária para neutralizar a acidez
do solo, de uma condição inicial de alta acidez até um
nível desejado”.
a) Método da Curva de Incubação com CaCO3

1. Amostras de solo são incubadas com doses


crescentes de carbonato de cálcio (CaCO3);
2. Umidade mantida na capacidade de campo (CC)
ou 80% da CC;
3. Leitura do pH após o período de incubação (45 a
90 dias);
4. Construção das curvas de calibração.
CORREÇÃO DA ACIDEZ DO SOLO
b) Método da Solução-Tampão SMP
Este método basea-se na medida de decréscimo do pH de
uma solução-tampão de acetato de amônio 1 molL-1 pH
7,0 em contato com a solução do solo.
Tabela 1. Necessidade de calagem de solos de acordo com o pHSMP
(relação 10:10:5, solo, água, solução-tampão).
NC para pHH2O
pHSMP 5,5 6,0 6,5
t ha-1 CaCO3
4,5 12,5 17,3 24,0
5,0 6,6 9,9 13,3
5,5 3,7 6,1 8,6
6,0 1,6 3,2 4,9
6,5 0,4 1,1 2,1
Rio Grande do Sul e Santa Catarina
CORREÇÃO DA ACIDEZ DO SOLO
c) Elevação do Ca2+ + Mg2+ e neutralização
do Al3+ trocável

Neste método, a calagem deve ser suficiente para


neutralizar o Al trocável e assegurar teores adequados de
Ca e Mg no solo, sendo o valor de pH de interesse
secundário. 3+
 (
NC = Y x Al + X − Ca + Mg2+ 2+
)
t.ha -1

Onde: Y (1 a 3) = variável com a textura do solo;


X (1 a 3) = variável com a exigência da cultura.
Y = 1, para solos arenosos (<15% de argila);
Y = 2, para solos de textura média (15 a 35% de argila);
Y = 3, para solos argilosos (>35% de argila);
X = 1, para eucalipto;
X = 2, para a maioria das culturas;
X = 3, para cafeeiro e outras culturas exigentes em Ca e Mg.
c) Elevação do Ca2+ + Mg2+ e neutralização
do Al3+ trocável

Região dos Cerrados (Embrapa...)

a) Se:
o teor de argila > 15%
o teor de Ca + Mg < 2,0 cmolc dm-3
NC = 2 x Al 3+
 ( 2+
+ 2 − Ca + Mg 2+
) t.ha-1

b) Se:
teor de argila > 15%
teor de Ca + Mg > 2,0 cmolc dm-3

NC = 2 x Al 3+ t.ha-1
c) Elevação do Ca2+ + Mg2+ e neutralização
do Al3+ trocável

Região dos Cerrados (Embrapa...)

c) Se:
Solos com teor de argila < 15

NC = 2 x Al 3+ t.ha-1

OU

 (
NC = 2 − Ca 2+ + Mg 2+ ) t.ha -1

Utiliza-se o que der maior valor


CORREÇÃO DA ACIDEZ DO SOLO

d) Elevação da saturação por bases (V)

Baseado na relação entre o pH e a saturação por bases


(V).

NC (t ha-1) = T (V2 – V1) / 100

T – CTCpH 7,0 (cmolc dm-3)


V2 – Saturação por bases esperada (%)
V1 – Saturação por bases atual (%)
Ex.: Determinar a necessidade de calagem do solo, cuja
análise revelou os seguintes resultados:

pH = 4,5; K= 0,1; Ca2+= 0,9; Mg2+= 0,3; Al3+= 1,3; H+Al3+=


2,5 cmolc dm-3

• Determinações:
• Soma de Bases (SB)
SB= Ca2++ Mg2++ K+ + Na => SB = 0,9 + 0,3 + 0,1 +0,0
SB= 1,3 cmolc dm-3
Obs.: K em mg/dm-3 realizar a transformação para cmolc dm-
3. K em cmol dm-3 = Valor na amostra/391
c
• CTC efetiva (t)
t = SB + Al³+=> t = 1,3 + 1,3 => t = 2,6 cmolc dm-3
• CTCpH 7,0
CTCpH 7,0 = SB + (H+Al) = 1,3 + 2,5 = 3,8 cmolc dm-3
• Percentagem de saturação por Alumínio (m%)
m (%) = (100 x Al³) / t => m (%) = 50
• Saturação por bases (V%)
V(%) = SB/CTC x 100 = 1,3/3,8 x 100 =
34%

• Elevar a saturação por bases a 60%.

• Necessidade de Calagem
NC (t ha-1) = CTC (V2 – V1)/100
NC (t ha-1) = 3,8 x (60 – 34)/100
NC (t ha-1) ~ 1,0 t ha-1

• Quantidade de calcário aplicado


PRNT = 85%
QC = NC x (100 / PRNT) => QC = 1,0 x
(100/85) => QC = 1,17 t ha-1
Ex.: Determinar a necessidade de calagem do solo,
cuja análise revelou os seguintes resultados:

• pH = 4,5; K = 0,2; Ca = 1,2; Mg = 0,4; Al = 1,0; H+Al = 2,5


cmolc dm-3
• Argila = 22 %

• Soma de Bases (SB)


SB = 0,2 + 1,2 + 0,4 = 1,8 cmolc dm-3
• CTC efetiva (t)
t= SB + Al => t = 1,8 + 1,0 = 2,8 cmolc dm-3
• CTCpH 7,0
CTCpH 7,0 = SB + (H+Al) = 1,0 + 2,5 = 3,5 cmolc dm-3
• Percentagem de saturação por Alumínio (m%)
m (%) = (100 x Al) / t => m (%) = (100 x 1,0)/2,8 = 35,71%
• Saturação por bases (V%)
V(%) = SB/CTC x 100 = 1,8/3,5 x 100 = 51%
• NC (t ha-1)= (2 x Al) + [2 – (Ca + Mg)]
• NC (t ha-1) = (2 x 1,0) + [2 – (1,6)]
• NC (t ha-1) = 2,0 + 0,4
• NC (t ha-1) ~ 2,4 t ha-1

• Quantidade de calcário aplicado:


PRNT= 75%
QC = NC x (100 / PRNT) => QC = 2,4 x
(100 / 75) => QC = 3,2 t ha-1
CLASSIFICAÇÃO DOS CORRETIVOS DE ACIDEZ DO
SOLO

- Natureza química:
Óxidos, hidróxidos, carbonatos ou silicatos
de cálcio e/ou magnésio

a) Calcário
Ca(Mg)CO3 + H2O  Ca2+(Mg2+)sol. + CO32-sol.
CO32- + H2O  HCO3-sol + OH-sol
HCO3- + H2O  H2CO3 + OH-sol
H+sol + OH-sol  H2O
Classificação dos calcários: teores de MgO

 Calcário calcítico (< 5% de MgO)


 Calcário magnesiano (5 e 12% de MgO)
 Calcário dolomítico (> 12% de MgO )
CLASSIFICAÇÃO DOS CORRETIVOS DE ACIDEZ DO
SOLO
1) Natureza química:
b) Óxidos: a cal virgem agrícola
Ca(Mg)CO3 Ca(Mg)O + CO2↑
Calcário Calor Óxido

Reação de neutralização:
Ca(Mg)O + 2H2O Ca2+(Mg2+)sol. + 2OH-sol. + calor

c) Hidróxidos: a cal hidratada ou cal extinta


Ca(Mg)O + H2O Ca(Mg)(OH)2 + calor

Reação de neutralização:
Ca(Mg)(OH)2 + H2O Ca2+(Mg2+)sol. + 2OH-sol.

d) Escórias siderurgia: sub-produtos da indústria do aço contendo


silicatos e óxidos de cálcio e/ou magnésio.
CLASSIFICAÇÃO DOS CORRETIVOS DE ACIDEZ DO
SOLO
2) Poder de Neutralização (PN)
Capacidade potencial total de bases neutralizantes contidos em corretivo de acidez, expresso
em equivalente de Carbonato de Cálcio puro (% E CaCO3).

PN das principais espécies químicas presentes em corretivos de


acidez do solo.
Espécie Química % ECaCO3 ou PN
CaCO3 100
MgCO3 119
CaO 179
MgO 248
Ca(OH)2 135
Mg(OH)2 172
CaSiO3 86
MgSiO3 100
PN = %ECaCO3 = (% CaO x 1,79) + (% MgO x 2,48)
CLASSIFICAÇÃO DOS CORRETIVOS DE ACIDEZ DO
SOLO
3) Reatividade das Partículas (ER):
Valor que expressa o percentual (%) do corretivo que reage no solo no prazo
de 3 (três) meses.
Taxas de reatividade ou ER das diferentes frações granulométricas dos
corretivos, segundo legislação brasileira

Fração Granulométrica Eficiência


Peneira N° (ABNT) Dimensão da partícula (mm) Relativa (%)
10 >2 0
10-20 2 a 0,84 20
20-50 0,84 a 0,30 60
50 < 0,30 100

ER (%) = (A x 0,2) + (B x 0,6) + (C x 1,0) onde:


A = percentual de partículas: 0,84 a 2 mm;
B = percentual de partículas: 0,3 a 0,84 mm;
C = percentual de partículas: < 0,3 mm.
CLASSIFICAÇÃO DOS CORRETIVOS DE ACIDEZ DO
SOLO
4) Poder relativo de neutralização total - PRNT
Conteúdo de neutralizantes contidos em corretivo de acidez, expresso em
equivalente de Carbonato de Cálcio puro (% E CaCO3), que reagirá com o
solo no prazo de 3 (três) meses.
PRNT = PN * ER/100
Classificação: Grupo A = (45 – 60%), B (60,1 – 75%), C (75,1 – 90%), D ( > 90%).
Interpretação do PRNT em calcários
PN RE PRNT Ação do PN
Calcários
(%ECaCO3) (%) (%) 3 meses Posterior
A 100 70 70 70 30
B 80 87 70 70 10
C 70 100 70 70 0

Porcentagem mínima de PRNT exigido pela legislação brasileira: 45%.


PRNT: IMPORTANTE NA DEFINIFIÇÃO DA QC A APLICAR
Efeito residual da calagem: até onde vai os
benefícios
Importante no manejo da calagem: depende dos vários fatores de
acidificação do solo, do poder tampão e da granulometria do calcário

Será tanto menor quanto maior for:


 Uso de fertilizantes nitrogenados amoniacais (sulfato de amônio);
 Remoção de bases pelas colheitas sucessivas;
 Precipitação elevada;
 Chuva ácida;
 Cultivo de plantas acidificadoras da rizosfera;
 Cultivo de solo com baixo poder tampão;
 Uso de corretivos de elevada reatividade;
 Uso de doses de corretivos abaixo da dose recomendada.
ÉPOCA E FREQÜÊNCIA DE APLICAÇÃO
 Calcário: 3 - 6 meses antes semeadura (solos muito ácidos);

 Calcário calcinado e do tipo “filler”: até um mês antes da semeadura;

 Cal virgem e cal extinta: devido a natureza cáustica dos mesmos cerca de
um mês antes da semeadura;

 Rotação gramíneas – leguminosas: aplicar o calcário antes plantio da


gramínea (leguminosas são mais sensíveis a acidez);

 Culturas perenes instaladas: bem antes adubações de produção.

Importante considerar que...

 Parcelar o calcário em 2 ou mais anos não é vantajoso, a não ser se for


aplicar grandes quantidades;

 Em SPD e solos < poder tampão, pode-se fazer anualmente com pequena
dose para correção da camada de 0- 5 cm, de preferência com calcário de
alta reatividade;
Relação entre época de aplicação do calcário e mudança
do pH do solo
FORMA DE APLICAÇÃO DOS CORRETIVOS

a) Distribuição dos corretivos:


 Implantação de lavouras: a lanço
Áreas pequenas: manualmente;
Áreas grandes: mecanizada.

Em linhas de plantio: somente


em solo pouco ácido para suprir
Ca e Mg (usar calcário finamente
moído: 150 a 300 kg ha).

 Lavouras perenes instaladas: a


lanço, em área total ou faixa de
projeção da copa).
FORMA DE APLICAÇÃO DOS CORRETIVOS
b) Incorporação dos corretivos
SEQUÊNCIA DE INCORPORAÇÃO DO CALCÁRIO
GRADAGEM ARAÇÃO GRADAGEM

SEQUÊNCIA DE INCORPORAÇÃO (+ que 4 t/ha)

GRADAGEM ARAÇÃO GRADAGEM


½ da dose ½ da dose
recomendada recomendada

• Antes da implantação do PD: pode-se fazer calagem com doses mais


elevadas e incorporação mais profunda;

• Culturas estabelecidas e PD: pode-se aplicar a lanço e em cobertura


sem incorporação (dose: 25 a 50% da quantidade calculada);

• Incorporação: mais profunda possível, de preferência > que 20 cm.


Incorporação do calcário e a produtividade
ASPECTOS ECONÔMICOS DA CALAGEM

Uso de maquinário apropriado, custo de aplicação,


incorporação e transporte pode elevar os custos

Custo médio solos cerrados: 12 – 15% do custo total


envolvido no manejo da fertilidade do solo

Portanto...

 Áreas novas e Plantio convencional: < 1,0 t ha (questionável);

 Áreas estabelecidas e Plantio Direto: 0,5 t ha no mínimo.


CORREÇÃO DA ACIDEZ DO SOLO EM PROFUNDIDADE

a) Incorporação profunda do Calcário

❖ Redução da saturação por Al em maior volume de solo;

❖ Favorece o maior crescimento radicular (água e


nutrientes);

❖ Com o tempo m% vai diminuindo pela lixiviação de Ca,


Mg e K.
Gessagem

Melhoria do ambiente radicular, abaixo da camada


corrigida pela calagem usual, principalmente em solos
com baixa atividade de argila.

2CaSO4.2H2O Ca2+ + SO42- + CaSO04 + 2H2O

Al3+ + CaSO04 Ca2+ + AlSO+4


Gessagem
ORIGEM DO GESSO AGRÍCOLA

H2O S O2
Ca(H2PO4) +
CaSO4.2H2O
ROCHA - P + H2SO4 Superfosfato simples

CaSO4.2H2O
(Gesso)
H3PO4
ROCHA - P NH3

Ca(H2PO4)2 NH4H2PO4 (MAP)


Super triplo (NH4)2HPO4 (DAP)
Gessagem
GESSO vs SISTEMA RADICULAR DO MILHO ESTAÇÃO
SECA 1983 – “CERRADO” OXISOL

(A)
cm
0 0 t/ha 6 t/ha
53% 34%
15
27 25
30
10 12
45
8 19
60
2 10
75
Fonte: Sousa & Ritchey, 1986.
Gessagem
DISTRIBUIÇÃO DE RAÍZES DE ALGODÃO EM
PROFUNDIDADE NA AUSÊNCIA E PRESENÇA DE
GESSO, CADA QUADRÍCULA 15 cm x 15 cm.
Produção: 1,8 t/ha Produção: 2,6 t/ha

56%
de
aumento
na
absorção
de
nutrientes

Sem gesso Com 3 t/ha de gesso


Gessagem

Recomendação do Gesso Agrícola

❖ Amostragem do solo na profundidade 20-40 e 40-60 para


culturas anuais e 60-80 para culturas perenes;

❖ Determinar o teor de argila;

❖ m% for maior que 20% ou teor de Ca for menor que 0,5


cmolc.kg-1.
Recomendação do Gesso Agrícola

❖ Base na textura do solo


Tabela 1. Necessidade de gesso de acordo com o teor de argila (NG-
arg.) para uma camada subsuperficial de 20 cm de espessura.
Argila NG-arg

% t ha-1
< 2,00 0,0 a 0,40

16 a 34 0,41 a 0,79

35 a 60 0,80 a 1,20

> 60 1,21 a 1,60


Recomendação do Gesso Agrícola

❖ Base na textura do solo

NG = f x argila

NG = ton. ha-1
Argila = %
f = 0,050 culturas anuais
f = 0,075 culturas perenes
Forma e Época de Aplicação

❖ Aplicado a lanço depois da calagem ou imediatamente


antes;

❖ O gesso será dissolvido em água e ao infiltrar-se para


camadas 60 ou 80 cm;

❖ Fonte de S.

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