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‘Titulo: Saberes ¢ Poderes no Hospital, 4" edigio Autor: Graca Carapinheiro © Graga Carapinheiro e Edigdes Afrontamento, Lda. Edigio: Edig6es Afrontamento, Lda. / Rua de Costa Cabral, 859 / Porto ‘www.edicoesafrontamento.pUgeral @edicoesafrontamento.pt Coteegiio: Saber Imaginar 0 Social /4 N.' de edigao: 460 ISBN: 972-36-0306-3 Depésito Legal: 66913/93 mpressio e acabamento: Rainho & Neves, Lda. / Santa Matia da Feira ‘Novembro de 2005 Graga Carapinheiro SABERES E PODERES NO HOSPITAL Uma Sociologia dos Servigos Hospitalares 4 edigao Edicgdes Afrontamento Catto tt DA TEORIA E DO METODO NA CONSTRUCAO DO OBJECTO |. AS TEORIAS E AS HIPOTESES DE TRABALHO: Neste trabalho o hospital é entendido como uma organizago moderna e complexa, local de ancoragem de processos socio-hist6ricos recentes, incorporando progressiv.- ‘mente a dogo moderna de servigo pablico ¢ constituindo-se como campo fundamental ila produgao do saber médico e da pritica da medicina moderna. ‘Nesta linha de entendimento da importincia social do hospital, Turner refere que 0 “se hospital 6 nfo s6 uma insttuigéo crucial nos sistemas de sade modemos, mas sim- yoliza também © pode \6dica, representando a institucfonaliza- ho dos conhecimentos médicos especial (1987: 157). Também neste sentido, & sigerido que a extensio contemporinea da dominacio médica entretece-se na hist6ria ecente do hospital e o impacto social crescente da tecnologia médica nas sociedades. Iodernas resulta do poder social conferido a profissdio médica através dos hospitais © day s (Larson, 197). | __ Ao mesmo tempo tem-se modificado a fisionomia das elientelas hospitalares, inte "pando classes sociais com maiores exigéncias de qualidade dos actos médicos ¢ com ~_¢xpectativas do hospital como lugar de alta tecnicidade e or -/ {lbsionais que se movimentam no hospital. Por outro lado, importincia social do hospital destaca-se pelo facto de ser o lugar - p-confronto da diversidade dos quadiros de referéncia cultural dos doentes face a um ‘nodeto cultural reconhecido e,consagrado, que inclui um modelo de regulasio social ‘do que é viver a doenga no hospital, concretizado nas ideologias e nas priticas dos diver- ‘0s gcupos profissionais. Neste modelo a medicina apresenta-se simultancamente ‘vomo ideologia social, dada a posigo de influéncia que detém na imposigio da versio oficial das ideias sobre sadde e doenga, subscritas cientficamente, ¢ como instituicao tke controto social, consider: unui de docnte no hospi Actesce que, coexistindo vérias medicinas hierarquizadas © separadas atresia segregagio social também se faz no interior do hospital, aa base do modo de recruta- mento dos docnies para a sua reproducio técnica e social. En uum modelo de regulaglo dos comportamentos ¢ das formas de adaptagao do doente 2 vida hospitala ‘modermos tm erescido em tamanko © em complexidade. O erescimento do pessoal, & ultiplicagéo dos servigas e des especialidades médicas 0 desenvlvimento tecno- go da medina inom modifica impranes a ert hei, "Ora, sobre a relagiio entre 05 hospitais e a teoria da burocracia slo jé cldssicos 03 estudos que discutem 2 adequagio do hospital a0 modelo da burocr. Weber’. Embora hospital como organizacao burocritica e complexa detenha alguns {ragos que sto conformes ao tipo-ideal de Weber, estudos produzidos pela sociologia anglo-americana, no Ambito da socologia da medicina,tém vindo a demonsrar que aspectos deste tipo-ideal. Salientam cdmo um ‘ago especifico da organizaga6 Tospitalar 0 poder e a autonomia profissional que os médicos detém, apesar da existéncia de uma estrturaadiinisrativa buroctica, © ‘concluem pela existéncia de um sistema dual de autoridade» (Goss, 1963; Smith, 19707. Smith considera que @ hierarquia de autoridade no hospital inclui uma linha de autoridade que desce da administracio ao pessoal hospitalar colocado na base da piri- hierérquica, fixando-se de uma forma mais ou menos explicita a autoridade © a { responsabilidade atribufdas a cada nivel da hierarquia e os respectivos sistemas de ‘comunicagio (1970: 279). No entanto, numa andlise mais atenta e minuciosa da orga- “{_nizagéo quotidiana do hospital, emerge uma segunda linha de aut J no par caviamiaico que 6: médicos detém pelo facto de possultem 0 sabcr capaz de "0 tip ideal de bureracia acon! foi const por Weber pressopnde a emergtcia do | ado modemo, da economia capital de mereado cde um sistema de edict universal ge fomeceste as bas para uma fom eopecalizad, em suma, a emer da fxma capitalist de | racionalidade social que exgia par a sua realzgio histo, a orpnizagdo burortes modems ara Weber a burocracia apresenta-se como uma organizagio racional de posigbes hierdrquicas, caracterizada por autoridade hierérquica, divisio do trabalho com base em compettncias especia- lizadas, regres sistemsticas e impessoalidade. Constiui a base principal de uma administragio estével mais do que uma adminisragdo eficiente. Para uma andlise mais deseavolvida do tipo-ideal webe- riano de burocracia, cf. Clegg, 8. ¢ Dunkerley, D. (1987), Organization, Class and Contr, Londres, Routledge and Kegan Paul, 3" eg. * Seguindo esta linha de anlise do sistema de avtoridade hospitalar¢ a propésito de wm estido socioligico produzido sobre o sistema hospitalar franc, ef, Steudle, F. (1974), L’Hépltal en obser- vation, Pais, Armand Colin, "in tipo de autordade que um modo de rans ‘rar doengas ee salvar vidas ¢ na competéneia onion que thes permite opor & iin do con ee Weber’. Goss, por sua vez, procura ligar 0 estudo da organizagao hospitalar & an proflasdo médica vilores do corpo médico podem influenciar a organizaglo do hospital ¢ contariar as (ioss, 1963). Parte da identificacio dos varios niveis da organizagRo hospitalar ‘i que 0 Upo-ideal de buroeracia de Weber 6 manifestamente insuficiente para inte- fn a8 nocmas, os valores eos requsitos préticos da profissdo médica, * Ct, Get Mills (1946. Para Weber, a(autoridade racionl-cgal[é a forma de autora ‘nwolerstia das socedades moderns. Envolve a obaicis 3s vegas formas estabelecidas por yoetnentos legis regulars, através de wma még {yooracia, uta ordem € considerada leptin 6 6 ‘nga, de acordo am procedimentos prop joelores hioréequicos nto depended ‘ilidade das eepras que regulam os procedimentos. Caracteriza-se pela buroracia ¢ pla raciona- Hi ots pons Asin 3g. mie {4 bsiech por ain scedt no cardte einordadle do Wt au J ei carlos (carat de om Ker carn a Gig 0 confi nevivel en words al falcon, pols samen un rotunda anor ds aig gat enol. Asi, Pods equ unis dee pe ia Srvc 6x pu i ra qu 1 explo ae carter nel e uni Ra fa Tai rade ca ene ini 70d oe tartan sebando pre negra a alii nt dcplans lel send oexiema pr nu outdo pe sata. aie Weber Signpost does) =p “A pst lead cabo por Gos reese epeiomnets ogni il a mene _ © Aivisfo do trabalho entre os médicos num hospital unverstrio dos Estados Unidos. Organizoas¢ 4 longo de cinco anos, através de periodos imermitentes de obsevacio participant, complementados ‘on o langamento de umm questiondrio a 84% dos médivos (de que foram excluidos os intermos) ¢ com, undlise de documentos insincionais. oe a 20 | | | | | | Num primeiro nivel salienta que, no contexto dos papéis hierirquicos de autoridade ‘que caracterizam a burocracia hospitalar, a profissdo mé variabilidade © da flexibilidade dos padrées modetnos da estrutura e funcionamento bburocriticos e, por outro lado, da possibilidade dos actuais modelos de burocracia abrirem espaco a comportamentos profissionais orientados por cédigos normativos valorativos préprios. No que respeito 2 organizacio hospital, ‘normas profissionais dos ee No dominio da ‘aa ‘Gkiste um conjunto “Ge Telagoes Formais de autoridade que permitem que as decisbes tomadas no topo da hicrarquia sejam cumpridas ao longo da hierarquia e que se estruturam para tomnar possivel a coordenago dos esforgos de uma forma relativamente previsivel. No domi- nio do exercicio profissional dos médicos, existe um conjunto de relagdes formais de natureza predominantemente consultiva, que se coneretiza no direito de os médicos, colocados numa posiglo hierérquica de supervisio, fomecerem orientagées e aconse- Ihamentos aos médicos que the estio subordinados, os quais s4o obrigados a recebé- -los de uma forma critica, podendo seguir ou nio as orientagées recebidas. Estas A partir da determinacao deste sistema dual de autoridade{ Gos Mdiscute © modelo de burocracia ajustado a0 tipo de hospital que estudou, com base na constatagio de que nem 6 um caso «puro» de bucooracia nem & uma espécie de «companhia de ipeder 0 segundo (1963: 182). Considera que se esta perante ui tiode- 1 ofidé éoexistem a autoridade hierdrquica weberiana © a autoridade profissional e, sendo uma organizacao que é simultaneamente médica e académica, designa-a de uma semiburocracia, aproximando-a do padrio de burocracia com que na década de qua- tonta ye cardetetizava a estrucura organizational as i rigana (Wilson, 1942). ‘A pattir da andlise dos padrdes de bucooracia produzida por Gouldaer (1954)', (oys constt6i a " sobre a «punishment-centered Inieaueraey»", como modelo de burocracia que contempla a presenga dos profisio- wl nas organizacdes, embora Gouldner tenha construido este padrdo de burocracia ‘un organizagdo composta por poucos eraros profissionais. © (cago principal que caractriza a «advisory bureaucracy» nfo slo as regras, 1 cotlhecimentos técnicos especificos ¢ os principios orientadores para sistek conhiecimenios. Por outro lado, a contrapartida & imposigio das regras © a ibedidncia as repras no padrio da «representative bureaucracy» de Gouldner 6, neste ‘uno, no 0 direito de dar ordens, mas sim a obrigagGo formal da supervisio baseada iy conkecimento tecnico. A obrignsio dos que esto sob supervsi & de a aveitarem «is uma forma critica quando tomarem decisbesrelevantes, eno de cumpriem ordens Aimite-se que nto sigam as orientagbes recebidas, desde que justifiquem a dec Aoi, sem que por isso sejam penalizados na sua imagem social ena sua competen- “pl: Otago secundério que Ihe fomece a natureza burocrética € a existéncia i ‘uiguia formal de posigdes e a norma da impessoalidade. Finalmente, 0 que ‘ns cla «cepresentative bureaucracy» sio as numerosas situagdes de tensio inerentes a fio padio de burocracia, que nem sempre atingem necessariamente a dimensio de onli. Goss considera que esta organizago pode se classficada como uma semi- mas * op. ci. in Goss, 1963: 182. " Cr. Gouldner, A.W. (1954), Patterns of Induserial Bureaucracy, Nova Torque, Free Press it. i 8. € Dunkerley, D. (1987), Organization, Class and Control, Londres, Routledge and Kegan ul. 3 diego. Gouldnes constraints padres de burocracia, a partir do estudo empico da relates ie tnbalto numa mina de gesso: «mock bureaucracy, representative bureaveracy» ¢ «punishment eleed bureaucracy». Nesta consrugdo estésubjacente uma proposta de modificasto do modelo de _Inrocraci de Weber, explorando « questo da aturezaabstractae impessoal das regras burocrticas © ‘ust ds fins para as quis as eras "Os pads de burocraciaconstuides por Gouldner disinguem-se em temas de quem impo that as regas, quis os valores que as lepitimam, quai os valores ue slo stingdos no efor) ih rgras,quas as explicagdes padronizads para o desvio das regs e quis os eitos das rgeas ‘obre stan dos participates. Na eepresenaive bureaucracy» as regras so impostas pelos que cup posgbeshiertruicas superores © so obedecidas por 0s que ocupam posigées hier 1 invviores, desde que buseadas na expecaliago técnica, cajos fins, uma vez acetes pelos ta Dalldores,acarretam a acctagéo autométca da recomendaghs sobre os melos a utlizar para 105 is. * Goulneresfrgouse por demonstar que a regrasburerticas, monerteas,convencinas, indus vo puso de buocracia epunishmen-centeredenlo soto efcenes como as regas basalt zag teca e no consi, pra a ordenagio do estorgo colectivo de abalho numa iz, / ceaevizagie burocracia e 6 uma combinagio da «representative bureaucracy» de Gouldner & do padrio de burocracia identifieado como «advisory bureaucracy> (1963: 191). Presseatese no trajectoanalitico desenvolvido por Goss) dilema de como adequar A teoria clissica da burocracia dados, cuja interpretagao analitica apontava para um padrio organizacional sui generis, Mesmo quando recorre aos padres organizacio- nais de Gouldner nfo deixa de experimentar as dificuldades inerentes a uma tipologia 4que se constitu a partir de um tipo de organizaglo que nfo é fundamentalmente com- posta por profissionais, como acontece nos hospitss. E assim que, ainda nesta linha de debate te6rico, Buch ram que ¢ necessério resolver as dificuldades que se tm colocado nas andlises emp vidas nas estruturas de saide e, paticularmente, nos hospitas, de sujeitar terpretagio dos dades ao esparttho da teoria da burocracia, Em alterativa,e ainda {de uma forma incipiente, propSem.um modelo que. designam de so pratcamente Wienistenies, maximizando-se em altemativa as «orientagées>, insusceptiveis de padro- ize sempre diferencias, dé acordo com a avaliagSo de cada caso e da autononia {ovelida por cada profissional ‘Assim, concluem que 0s conceitos burveriticos de autoridade ¢ de hierarquia dle ‘\Woridade tém uma utilidade limitada e um aleance restrito para a iaterpretagio do funciornarente-das hierarquias os servigos hospitalares e propéem os conceitos de tuioiomia eléstica € «monitoring» como substiutos dos conesitos burocriticos de ‘uloridade © de supervisio (1972: 445). Nio deixam de salientar 0 facto de algun {colores de actividades do hospital funcionarem primordialmente segundo um figutiao Aipicamente burocratico. No entanto, consideram que este modelo é inadequado para xplicar os processos dios de controlo social ‘A contribuigio de Friedsoit para este debate 6 esclarecedora a virios niveis (1970: 130 ¢ ss). Num primeiro nivel, Friedson aparece como um moderador do radicalismo bipolar «pré-burocracia> © «pr6-profissionalismo». Admite, tal como Hall admitiv (1982), que 0 conceito de profissionalismo produzido pela literatura anglo-sax6nica, intogrou automaticaments:na sua construgao o conflto com 0 conecito de burocraci racional-legal de Weber. No entanto, como iremos jé ver, considera que nio 6 um onilito de racioralidade, mas sim um conflito de autoridade, nomeadamente 0 facto de, ua burocracia, a autoridade dos superiores resultar da sua posigo formal e nfo das ‘iuas qualidades pessoais nem da sua competéncia e de os profissionais apenas aceita- tem, como fonte de autoridade efectiva, a competéncia baseada no saber formal ¢ na “specializacio técnica (1986: 159). Assim, relativamente a esta discussio, considera que permanecem em aberto dots problemas. Por um lado, @ dicotomia produzida entre a autoridade administrativa Como autoridade «avbitrvia» e a autoridade com origem i& poder profssional como autoridades «funcionalmenteneutras. «naturalmente» pro- | flere svesdie, ene se et oo OES BO. rovee esr $0 dutoras de adesdes e consentimentos, escamoteia a natureza probleméties do segundo tipo de autoridade. A obtencdo de um nfvel de eficcia institucional paralelo ao da autoridade adminis- ‘tativa implica um tempo e esforgo considersvel, e nem sempre bem sucedido, de per- suasdo sobre a necessidade e legitimidade das \ tiwtituigo totalitéria como iio Hospital. Os hospitais dispoem sempre de diversas areas de interaccio e trabalho, ‘yon sempre visfvets, e organizadas segundo nommas € regras que caem fora da linha slo auloricide & direcgao requerida pela administragio burocritica. Séo as Areas que ¢ Uolfman designou de «Areas a bastidor (Goffman, 1959), conceito operatério utili- sudo por Rosengren e De Vault, num estudo sociol6gico do tempo e do espago hospi liar (1963) © por Paterson, na andlise das normas que regulam o trabalho nas éreas dle orintiade um hospital (1981). wgem da efirutia informal do hospital reconduz-nos de novo ao debate sobre a adequagao & organizagao hospitalar do tipo-ideal da burocracia racional, de Weber. A descoberta da importincia da estrutura informal nas organizagGes e todo o jnbalto empirico desenvolvido sobre as TCOTOgIas, Valores © comportamentos dos inombros. das organizagdes, mostraram que © monop6lio analitico de que tinha usu fru(do o modelo da burocracia racional de Weber tinha que ser reapreciado a luz. ca ‘njergencia de novas abordagens, que tornavam significativas novas dimensBes ana Iious no estudo das organizagbes, desafiando a sua tradigao e o seu prestigio na lite= Julura sociolégica moderna iando-se no modelo de Weber, os teGricos da organizagao formal tém tradicio ‘niloente encarado a estrutura da organizagao ¢ as ideologias, valores e comportamen- los dos seus membros como duas entidades distintas, analisadas separadamente, valo- Ho dos 2 a ridade produtos. Se atentarmos nas caracterstcas da burocracia racional de Weber, este nio é 0 izagao de tarefas, hierarquias de auto © De fate, dead as exernias de Hawthorne qu strc das elas Inimanss deseo ‘eran an qudeo concept onde se fe a distnggo entre a estratra formal informal dt organ " GUE rena os conperimentos orwideradensproprindon para Lar a cabo a activa epasics equren pel organza ‘consituindo as condiggescrcundane © context iit par extado da organi informal est corresponde os valores ¢ aos padres de comporaments, independents dab reer formas «rel nes 6s relagdesinterpssoas ene os membros dos grupo da organizacso. A uma ea outa cor tespodem ‘Nope, especivameni a Togica da eficincia a pica dos sentimentos. A este propio cf. Roethlisberger ¢ Dickson (1958), Management andthe Worker ‘Cambridges Mass., Harvard University Press, op. cit. in Clegg e Dunkerley, 1987: 132. ico significado atibutdo a estutur da orguniagto, Sigificn twmbémn a mancia como.of membros da orgunizacio sfo contolads e dirigitos pra leva a cabo, de uma forma estivel, as actividades da organizigdo. Nao hi duvida que, nesta dupla igniticagio da esriara formal, reside 0 entiado implicto da natureza probe > in da reas ene estutua ecomportamentos. Clegg cheg s ensdear qe op ‘mento da imposigao (1987: 140). ~ Na mesma linha de consideracdes, que nfio na mesma linha teérica de as abordar, Blau considera que as organizagées sociais, na sua generalidade, dispdem de padres formais ¢ informais de autoridade e cultura, Face a eventualidades no previsiveis, que ocorrem nas organizacdes e que nem sempre podem ser cobertas pelo sistema de regras formais, emergem sistemas de regras informais, que permitem que 08 padrOes formais da organizacio se mantenham (1963; 1974). ~ No que diz especificamente respeito a0 hospital, considera-se que o modelo de | | burocracia de Weber tem-se mostrado inadequado ao estudo da estrutura informal de || autoridade e & cultura informal ligada a vida dos doentes no hospital, nio compativeis || com o sistema formal de autoridade (Tumer, 1987: 161). Por sua vez, Goss considera | que encarar © hospital como uma «advisory bureaucracy», significa apenas ficar ¢o nivel da estrutura formal das relagbes de supervisio entre 0s médicos, salientanda a necessidade de, neste modelo, ser recuperada a importincia da dimensio infor- tal, Para Goss, a consideracdo desta dimensio & indispensével para compreender a influgncia das relagDes interpessoais, na aceitacao do exercicio da supervisio formal entre os médicos. E igualmente indispensivel para a descoberta de modos de controle. sory bureaucracy», mesmo quando este tipo de Buroeracia se tenha constituida omo modelo altemativo ao modelo clssico da burocracia racional, demonstrando, a um segundo nivel, a inadequacio do modclo de Weber para a interpretaco da espect- fica organizacao cos hospitas. As pesquisas desenvolvidas em varios paises © em diversos tipos de hosptais tem ‘mostrado_que. estas insitugBes.organizam-se segundo miltipls sistemas de autori- dade e miltiplas formas. de poder profissional,cujo funcionamento exclui a referéncia “nica a um conjunto bem definido de objecivos ou a referéncia a uma tnica linha de direcgio. © Um dos casos que Goss apresenta como iustrago destes modos de regulagio 6 0 das sessbes 4e patologia clinica, onde so comparados 0s diagnésticos fitos nos servigos a doentes flecidos coma 0s resultados das respectivas autépsias. Nao sendo formalmenteestabelecidas como mecanisinos de controlo, estas sessdes podem servir para demonstrar as éreas de erro; ignorincia ou incerteza © {uncionsrem informalmente como controlo das compettncias pesoais dos médicos. | i coperstive goals» (objectives operaiGrios), no sentido de contrariar a visio «hiper- as da importincia das tarefas emo do desenvolvimento da organizasto de eu invencia reso a definigo Kolativamente aos objectives que subscrevem a divivio do trabalho, a hierarquia ile nutoridade, as regras e os procedimentos priticns das organizagdes, varias t&m sido conttibuiges te6ricas que salientam a distingio entee os objectivos globais da Produziu uma importante distingdo entre os «official goals» (obj “snclonalista» dos objectives das or 0 impacto dos objectivos mo Sendo 0 tatamento, a cura ou a recuperaco da doenga, sublinhando a jynizagdo das actividades das diferentes categorias profissionais, com estes objecti- "vou coexistem, quase sempre de forma ndo pacifica, 0s objectivos operatsrios préprios “Ue viva grupo, ligados 20s fins pariculares que pretendem atingir no contexto do con __jitilo dos objectivos abstractos do hospital Porrow considerou que os grupos que, em cada momento, controlam uma organi- Be 0 xin ences astra mais Siti «ean, Cnn. gu e controlo de cada grupo na organ}zacai € dificeis que desempenha num dado contextualizarmos esta perspectiva na organizagdo hospitalar portuguesa, “Iiioos ¢ administadores slo os dois grupos que detém as tarefas mais dificeise er = “eno, para além dos médicos e adminstradores, existe um tercero grupo, 0¢ «trustees», corpo de ‘inneiadores do hospital, a quem cabe, nfo s6 a angariagdo de capital para o suporte financeiro do ‘lost, mas também assepurar a legtimago das suas actividades, garantindo a defesa dos iateresss ‘iy comunidade servida pelo hospital Nees negmeronces pre obj } jectos de especializagdo médica ¢ técnica, no segundo caso através de projectos de racionalizagdo que demonstrem capacidade: de controlo e coordenagiio da gestio do hospital. O poder de cada um destes grupos depende da capacidade de realizagao dos objectivos particulares, independentemente de estes objectivos apoiarem ou subver- terem os objectivos oficiais do hospital. Estes podem exercer efeitos de constrangi- ‘mento sobre 0s objectivos particulares, mas exactamente o poder de cada um destes, ‘grupos serd tanto maior quanto menor for a sua vulnerabilidade a esses efeitos e quanto “7 mais decididamente conseguir explicitar demonstrar que os seus objectives parti- culares se ligam intimamente aos objectivos oficiais, Esta € a condicio necesséria ¢ suiciente para que a rede de interaogdes do hospital = s estratfgias, que, de uma forma simplifcada, so ‘Dor parte dos méaicos & de contolo do poder médico por parte dos adminisiradores. [NGSla perspectiva, correspondem ao exercicio da capacidade dé realizagio dos object- ‘vos particulares de cada grupo e, 6a partir da rede de interacgies padronizadas, que os Objectives particulars de cada grupo evoluem, sobrevivendo ao desaparecimento das interacgdes que Ihes deram origem. ‘Assim, na perspectiva de Perrow, os objectives ligam-se 8 estrutura de poder na orga- nizagio, Ao longo da histéria, o hospital € cantilado pelos grupos que desempenam a tarefas mais difces ecrftcas e sfo as caraceristicas destes grupos que determinam ‘as politicas hospitalares ¢ os objectivos organizacionais (Perrow, 1963: 113). Varias so as critcas a concepeao das organizages como estruturas socials funda- imentalmente consitufdas para atingirem fins especificos. Nio sendo este o lugar para fazer uma sistematizagao de todas as perspectivas criticas a esta concepeo que surgi- ram no campo da sociologia das organizagses, enunciaremos apenas os aspectos que oferecem maior fagilidade te6rica ao seu apoio, Por um lado, mesmo que 0s objectivos sejam definidos de uma forma explicita © rio ambigua, hi que equacionar o problema das interpretagbes que deles sio feitas pelos membros das organizagdes. Em qualquer organizacio, a interpretagio oficial dos < entend ddos grupos que per- Telagiio intima e exclusiva entre a estrutura formal e os objectivos explicitamente defi- nidos,entio ficam esquecidos, as vezes de uma forma inexorével, as ambiguidades & (0s contfltos que envolvem essa definigio ¢ que, apesar de tudo, nifo comprometem & cestabilidade da estrutura social. Por outro lado, em cada organizagio néo é clara a relagio entre as regras € os procedimentos estabelecidos ¢ os objectivos que os tornam necessérios. Hi sempre _algumas regras e alguns procedimentos que nfo decorrem directamente da prossecu ‘Glo dos objectives oficiais, que se criam, recriam ou se abandonam, de acordo com os interesses ¢ as necessidades dos grapos com mais poder e miais inluéncia ‘A consideragio analitica da importincia da estrutura informal nas organizages salienta juSlamente’@ limportincia das regras informais na regulagio dos comporta- ;-mentos considerados adequados para a realizagio de projectos de poder de determina 4104 grupos da organizagto, podendo ats impedir ou contrariar 0 exeretcio das regeas fomninls: Em qualquer dos casos ¢ fonginqua a sua celagéo com 68 objectivas oficiis, ‘us tlw por sso imapeditiva da sua concretizagao. das organizagses modernas realgou e enfatizou, por veves ‘oxeossivamente, a necessidade do ual sobre objectivos claramente sjuwindos, como uma condigao esse ipenhamento de tovlox os membros com as dis organizagées, reconhece-se que a evolucio iv organizacdes, determinada por factores extertids e internos, tem progressivamente ‘lspensado essa base Goiteatial, para abrir espaco as mudancas que afectam objecti- ‘04 tetividades; recursos, préticas © ideologias e para consagrar o ponto de vista de ‘jue « estrututa formal das organizagdes depende em larga medida dos vétios tipos de Nieyoriacbes que. os, seus membros estabelecem entre si, ema diferentes éreas de traba- li e de interacgao, na elaboracso ¢ reelaboracao dos compromissos indispensiveis juli manter em funcionamento as actividades didrias da organizacio. Fstamos assim colocados no centro da perspec eociada, Subjar ft perspectiva o principio de que as sociedades estfo num permanente processo de ‘oignnizagio e reorganizagio, produzido pelos individuos. Os arranjos sociais resi lunlos dos processos de interaccao so constantemente organizados, modificados, ‘eorganizados, sustentados, defendidos e desfeitos e, portanto, os membros da socieda- «de estig sempre envolvidos em processos de negociacdo, através de acordos sobre 0s ‘onportamenios miituos, rearfimando-os, revendo-os e substituindo-os a0 longo do lompo (Cutt e Payne, 1984: 138) ‘Maines‘considerou duas fases na emergéncia e desenvolvimento deste paradigma (Maines, 1982: 268). Numa primeira fase discutia-se ainda a questio da.relacio entre alrutura € processo e construfa-se um modelo das profissées nas organizagées, alter- ‘livo As teorias Wweberianas e funcionalistas entéo dominantes (Bucher e Strauss 1961; Bucher, 1962; Bucher e Stelling, 1969)". E nesta fase que se situa o primeito inbalho de apresentago da perspectiva da ordem negociada, a partir do estudo de dois Hospitais psiquistricos (Strauss et al, 1963) que, mais tarde, na segunda fase referida Retoma-se a indicago fornecida na nota 9 sobre a importincia destes estudos para a primeira. (use dn constrogio da perpectiva da ordem negociada. Bucher e Strauss (1961) anlictam 05 tvocestos de sesmentgio das rosie, produados aves de clivagens 0 longo das Kihas da liviaio do tabalho, Asim, a8 proses so cncaradar como «amlgamas {roxas de segmentos wotsioni» (196: 332), aculaos ene si de wma foo sla €Mstsane. Apessr de esr Ilene diferentes os segment pofissonascvolim c reaiclan-searvés dos sus constaies iovimentos. f através destes movimentos que Bucher ident ccc» os emédico, come os seus dois prncpas semis profissonais (1982). da quo te Bye Senge Backer (1972), tho estjam exposto, de una fora det, a tees fnarentadors da enexgncia da prspectva dh ordem negocids, no ent, propésito do estado das ‘uxer a identificagio dos tragos organizacionais que encerram oxo? por Maines, é consolidada sob a forma de um paradigma (Stenuss, 1978), estimulando: uma plétora de trabalhos de aplicacio deste paradigia a probleinas do poder, da esta tura das organizagdes, dos provessos histéricos, da utlizagdo de recursos, entre: muitos outros que alargaram o sulco teérico aberto por Strauss (Kling ¢ Gerson, 1978"; Busch, 1980"; Hall ¢ Hall, 1980"; Maurin, 1980"; O’Toole e O°Toole, 1981”) dando. crigem a um intenso debate relativamente & consideragao dos parimetros estruturais neste paradigma (Benson, 1977, Day e Day, 1977 e Maines, 1978, 1982) apresentada (Strauss eta, 1963), a ordem negociada € considerada um modelo de analise especialment tais, psiquidtricos ¢ nao psiquidtricos, sendo s ‘sugerido © alargamento da sua utilizagao a0 estudo de outras organizagves (1963: 168). A vida das organizagoes € entendida "0 wabalho de Kling, R. Gerson, E. M. (1978), «Patios of segmentation and intersection inthe ‘computing world», Symbolic Interaction, 1, abords os padtées de segmentagéo pofissional no carapo ‘da informatica através do paradigma da ordem negociada. Os autores salintam que a distribuiglo dos cconstrangimentos © dos recursos a0 longo dos vérios lugares de trabalho onde os participates esi ‘envolvidos,afectam as negociages que a so levadas a cabo. "0 trabalho de Busch, L. (1980), «Structure and negotiation inthe agricultural sciences», Rural Sociology, 45, 6 unia investigaglo sobre © desenvolvimento histérico das ciéncias agricolas nos Estados Unidos, espocificamente sobre a anslise da diversas fases da emergéncia da pesquisa agricola. ‘Considerou que a possbildade desta emergSacia rsidia nas negociagSes entre os agtios utbanos, 06 agricultors © os cintistas agrfcolss. Assim, analisou as vévis fases em que se desenrolaram os ‘diferentes processos de negociagio entre os ts grupos, através dos concstos de negociagéo, contexto ‘de negociagio e context estrutural,delimitando os condicionamentos do contexto estrutural sobre 0s ‘contextos negociatvos e sobre a natureza © 05 tipos das negociagies que al tm lugar e os efeitos cotruturadores das negociagGes sobre as condigées estruturss,alterando-as ou recriando-as, "*0 trabalho de Halle Spencer Hall (1980), «Conditions and processes of problem identification, ‘definition and resolution in two school systems: toward a grounded theory», Final Report of the ‘National institwe of Education, através da utlizacio da andlise comparaiva de duas escolas secun- dias, mostra de que manera as escolas sob investigagio podem, consttuirordens. negociadas, © ‘mostra como oo viris arranjos organizacionas tauw poukan requerer sucesivas négociagoes como fase a andlise das Condigbes que do origem ow impede as. segiagbes YEMEN os factoes que acta a posiidade da sua occ: 0 tanh da ~* 0 trabalho de Maurin, J (1981), eNegocating an innovative health cae service», in: Roth, J “et, Research in the Sociology of Health Care, Greenwich, CT TAL Press, i ‘utoomiaestratural dos méiticos pode ser afectada ou até alterada peas negoci * 0 tabalho de O'Toole, R:¢ O"Tooie, A. W. (1981), «Negocating Inierorganizational Ondersm, The Sociological Quarterly, 22, uliza o paradigma da ondem negociada para anelisar at relagSes inerorganizacionais que conduziram ao desenvolvimento de um complexo constitu por onze casas. de reabiliagto. A pesquisa organizou-se através da anélise dos rezistoe documentais produzidos 20 Tongo de 25 anos ¢ um perfodo de quatro anos de observacdo participant e entrevistas. AS relies ‘nterorganizacionais foram examinadas em termos das negociagdes expresses e técitas que ligam as organtzapbes 0: sistemas organizaconais, Paicwioxs tips processos de negociagho. resultado de uma vasta © variada yam de negosiagses, endo seleccionados fu Htons de andtise relevantes a relagto das rogras com os processos negociativos, 4 onit6rios privilegiados para o desenvolvimento destes processos os tipos ¢ as for- | Wty powslveis de participacdo dos niZo-profissionais nas negociagdes. Da descoberta _ dos inpectos temporais © padronizados que configuram os processos negociativos "Willard visio da natureza negociada da ordem social estabelecida, pnts de consent do bop como om ‘ulro elemento de base ¢ o facto de, nfo s6 a cada escaléo hierérquico correspon josh diferengas intemas relativamente ao estatuto a0 po {lp ccomo obter as coisas» (1963: 151). Por outro lado, assume-se que as regras que orientam as acgées dos vétios profis- ‘iohls esto tonge de serem clara ¢ inequivocamenie ésiabelecidas e de abiarcarem livlts as zonas de aetividade do hospital. E sempre problemdtico pereeber quais as {ogi que-exisiem, a quem se aplicam e a que sancgdes do lugar se no forem eum- piidis, Criam-se ormais para regular acgGes e situagdes no tantemente regras i -fivenchimento dos hiatos deixados pela regulacao formal, cruzando-se constantemente io quoticiano do hospital as regras formais e informais, sendo umas e outras suscep- -{ivejs de cair em desuso, de serem reiteradas ou serem substituidas, em sintonia com, i exlgncias que, em cada momento, decorrem das interacgBes e negociagdes que se _ PAlabelecem entre.os diferentes participantes na divisdo do trabalho, Strauss clari- ficoit bem que as regras so geralmente téctas, implicitas ¢ informais ¢ quando no 0 ‘ly, invariavelmente so objecto de operagées de selecgio e de extensio ou de ‘ehiourtamento da sua elasticidade, de acordo com as negociagées em jogo num dado ‘womento (Clegg e Dunkerley, 1987: 322). Ora, € na detimitagio dos territ6rios de-negociagio na divisio do trabalho dos ‘associam miltiplas identidades profissionais (entre eada grupo © ao interior de cada sTupo) €, consequ Nunca sendo este objective claramente desafiado nem nunca seado explicitamente precedido, pelo menos verbalmente, por quaisquer outros objectivos, o acordo insttu- cionalmente firmado face a ele € usado como a razio justificadora para a confronta- io € conflito de objectives particulars, que requerem miikiplos processos negociativos ara compatibilizar as diferentes ideologias, priticas profissionais ¢ as diferentes con cepgdes quanto A etiologiae a0 tratamento das doencas,contias nas razBes © nos objctivos que conduizem os inividues a participa na divish do tabalho médic, ‘Também as trnsformapées que por facoresextemos ocorrem no hospital e que, nesta medida, nfo podem ser antcipadaments contolados através de qualquer tipo de regulagio formal, ou que ocorrem por factors intemos, sab a forma de consequnctas imesperadas resultantes de poticas ou negociagéesineras, ze mulipliar as Zonas de desacordo e de conflito entre tarefas, regrase objectivos, alimentando cadcias sucessvas de processos negocaivos que permite fabricar novos aconos para ina nova ordem orgaizacinal ‘A consoidacto desta perspectiva como um paraigma do inteaecionismo sim- bélico formaliza-se mais tarde, como altemnaiiva as te6rias tradicionais da determina- ‘GGo estrutural das condutas organizacionais (Strauss, 1978). Elabora-se com base na idea central de todas as orden soiasserem, em alguns aspects, orden das. (Maines, 1982: 270), Este paradigma forj-se com tes 0 acGies © as cstalégiaslevadas& cabo pelos participates ‘«contextos, 5 de negociagdes, apontando para os. tragos relevantes dos lugares onde corre as negociagées, condicionando-as,«contexo esta, como as ctcunstn, clas mas latas que transcendem ox contxtos di (5 tragos relevantes dos contentos de negociaplo so expecificamente referidos por Strauss como propredades esteaturais que funcionam como condigées para © decurs das negociagese de cu permutareslia a varedade dos contextos de nego. ciagho (1978: 237-238), Sto o «niimero» dos negociadores, sua wexperiénia do negocicio» e quem estio a representa; 0 tipo de negocio: xiicay,erepetdan, sequencals, em série», «milla» ou sligaday; 0 relativo «equiftio de forgass exibidopelas partes envolvdas na negociago; a ntureza dos respectvossinterseeoy na negocapfo; a sua «visibldades, em termos das suas earacteristicas sercm mani. festas ou lentes; o endmero> e a ccomplexidade> dos problemas em negociagi 4 dos limites dos problemas negocios, a8 copys tonadas para evitar ou intrromper a negocaso (coer, persuasto, manipulaggo, recurso h autora, manipilago das contngtcias). Na su artelago, osconestos de neyo ciagho so mediadores dos contextosestutrais ¢ Jos processos neta se otruturas sociai _{uiadoy, diluindo. _ shiitiy» ou a recuperagdo de um novo ponto de equil “{iierprotada a partir da ~ jininivel que, potencialmente, algurnas das eonsequdncias destes processos se possam Wavhusir om mudangas dos contextos estruturais ¢ estes, por sun vez, o8 possam concli- vin Nos contextos onde se produzem, Hintabvelece-se assim a ligaczo entre as negoc © Limbém os seus efeitos este © 05 lugares onde elas ocorrem para a constituigo das ordens sociais, em que io produzidas e, simultaneamente, 0 processos sociais so estru- fivenwilo dus varias reas da vida social. Fntrotao, ste paradigma enfrenta um debate que parece ter sido jf pressentido por ‘ihuus na apresentagso original da perspectiva da ordem negociada. Assim, quando ‘ile extabelece a telagdo entre a ordem negociada corrente do hospital e, utilizando as ‘sits proprias palavras, a , preocupa-se em escla- {cor que um leitor menos informado sobre esta perspectiva colocaria o problema de “iyo 0 Hospital permanece sempre o mesmo, apesar dos constantes arranjos negociais re audangas que sfo introduzidas nas orgailzagbes, {ivondo mudar & ordem organizacional parauma nova ordem (1963: 164-165). wad va ordi no representa o reestabelecimento da ordem rio, como poderia ser cliva estitica estrutural-funcionalista, Também, esta uov0 ordem social, emergente sempre que sio introduzidas mudangas que afectam @ fielom negociada corrente, nfo dispbe de qualquer correspondéncia teérica com a ntlom social resultante da estrutura social formal das organizagées, tal como poderia ser oxplicada a partir de uma perspectiva racional-burocritica. Trata-se unicamente da ‘lito complexa esbelecida entre os proceso negoiativos dis sua reaea0 ‘Oni, 0 debate estabelece-se exactamente a partic da afirmagio de Benson de que os Ie$tieos da ordem negociada tem negligenciado os struturais e expoem Fs podee pecilva Gi de Maines cenrae na demonstragio de que os parte: iw estruturais so consistentes com a tcoria da negociacio (1978). Considera que einpte estiveram incorporados no pensamento do interaccionismo simbélico, como [piocessos de constrangimento, identificados com os tragos estruturais da organizagio ioolal que impoem limites a actividade humana, ¢ que podem ser aplicadas a entidades {iho diversas como organizagées, comunidades, nagdes e sociedades, Acrescenta que {oto de os constrangimentos estruturais inclufrem sempre qualquer forma de padroni- Zayllo & mais um elemento que prova a especifica consideragio de as negociagées niio ‘oorterem num vazio estrutural e requererem a relies Piola determinagas do impacto das negociagses nessa estrutura. Inseguro na defesa | desta tese, Maines acaba por etiquetar estas criticas como fazendo parte de uma perspectiva estrutural determinista, demarcando-a da perspectiva eestrutural» da teoria marae rifo € menos estrutural do que & que nfo esté em processo, estabele- ccendo uma dicotomia anificial e dificilmente sustentével entre duas ordens de estru- tura ¢ acabando, no fim de contas, por implicitamente reconhecer a existéncia da ordem da estrutura social que 6 independente dos constrangimentos ¢ limites que con- dicionam as negociagies, No entanto, tal como Benson reconheceu na resposta fe as consideragdes de Maines, 4 posto em causa que a teoria da ordem negociada reconhece os Constrangimentos estruturais e outros limites Contextuais as negociacées (1978). O que esti em discusslo € a sua problemética da estrutura social, que néo pode ser reduzida & problemtica dos limites que circunscrevem os processos de negociagio, condicio- nando-4s ou constraingendo-os. (Os limites estruturais slo reconhecidos como as propriedades estruturais dos con- textos das negociagdes, mas Togo abandonados ra anise, ficandosistematicamente por condivionain aS negotiacées. Se considerarmos que a estrutura social é, em larga medida, 2 TelaGAS Complexa entre os varios conjuntos de limites situacionais-contex- tuais, enti esta teoria de facto néo integra explicitamente, a no ser por mera refe- réncia aos impactos possiveis no contexto estrutural mais lato, uma abordagem espe- cifica da estrutura social, que, em resposta as consideragées criticas de Maines, niio tem que ser necessariamente abordada numa perspectva determinst, ia perspectiva dialéctica cnire estruturas © negocia- ses (1982 Faz coreponder a et cone as fea in ordens sociais; «mediagiio» para referir 0s processos dé mediaglo que transaccionam significados, imagetis e COntetidos substantivos dos objectos com os quais os indivi- para referir a ordem temporal das estruturas € processos da mesoestrutura, Sejundo Maines a perspectva eestratural da toria nogociada«.. tende a prvilegiar, embora nfo exclusivamente, outro lado da equacio estrtural —aestruura 6 determina 0 que nao scontece, ‘que acontece ¢ algo que surge através de processos interactivotn (1978; 494), Ora este conceito niio acrescenta nadia de novo & perspectiva da ordem negaciada e Inmito menos a0 debate sobre a estrutura social. O conceito ¢ artificial e pouco pro- fico, pois acaba por nao resolver 0 problema da articulago entre os nfveis «micro € umacror, que a prépria teoria da ordem negociada niio quis resolver, ¢ acaba por reco- bri dimens&es analiticas que em nada inovam as dimensées consagradas por esta teoria, (Sivauss;1563:167), Na’ sua configaragio organizatva, ‘6 Wospital apfesenacse como Aint Conjunto de varias oficinas de trabalho, eniendidas como os lugares onde varios 08 de trabalho, diferentes recursos ¢especificas divisdes de taba 6% requeridos pur Tear a cabo 0 trabalho médico, orientado, directa ou indirectameate, pafa’a {165816 dos casos clinicos dos dacntes.(Strauss, 1985:6). Esta perspectiva sobre o hospital salient, por um lado, a importincia de que se roveste 0 analisar das diferentes configuracées que toma a divisao do trabalho médico, petadas pelos efeitos conjugados das vérias formas Com que se interpenetram liaject6rias de trabalho, tipos de trabalho, competéneias especificas, tarcfas, e por ‘ulro lado a ideia de que trabalhar 6, no fim de contas, negociar. ‘A propsito deste tipo de abordagem a divisio do trabalho, & possvel aproximar a pers de Strauss, na medida em que, para Friedson, no Coniexto dos modelos Tormais que organizam e que se propem ordenar ay actividades humanas, o trabalho concreto, especifico de uma forma determinada da divisto do trabalho, possui um caricter emergente e interactivo, na medida em que 03 individuos € os grupos «.. estfo comprometidos num processo continuo de conspi- TaQo, EVasHG, negociaga6 € Conti, no” décurso da confrontagao com as variadas wituagoes & eireunstancias do seu trabalho, moldando de alguma mancira os termos, condig6es € conietidos do seu trabalho, independentemente. do. modelo formal de ogunizngio’ que justifica, contiola e. conceptwaliza as.suas actividades» Friedson, (975: 310) ‘Assim, Friedson néo deixa de relevar a natureza emergente ¢ negociativa da divi trabalho, mas nent ne no coincidem s6 com os limites estruturais dos contextos de negociagdo, tal como é considerado pela teoria da ordem negociada, mas so mais amplos. Restituem & andlise da divisio do wabalho os para- 7 metros estruturais da organizacao social, de uma forma nfo determi ente, 6 interpretado por Strauss como iia posigdo que se balanga entre extrema Tents so cena ontangincnio Grau, EDO gimento (Strauss, 1985: 269). Se considerarmos agora a questfo do extremo constrangimento envolvida pela problemética de Foucault sobre o sistema pandptico de vigilanca, entio o hospital, como outra stituigdes modertas, constitui um das elementos de wm aparetho de Controto, de disciplina e de regulacio, que assegura a ordew no através da Vigilancia, mas através de uma micropolitica de disciplina, onde as pessoas so moralmente mformidade (Turner, 1987). Lado a lado com outras instituigdes, 0 “de desenvolvimento da m licina cieniifica € tecnol6gica constitu: “uma expresso da «Sociedade disciplinar» (O'Neill, 1985, [986% strow, a evolugdo do hospital liga-se intimamente & participagio crescente dos médicos no seu funcionamento, através da sua constituicio str como lard apendnagem ¢ exerinenaeio de novos sabres mes © No penisamento dé Foucault, a genealogia do individuo modemo prende-se com a tecnologia do exercicio do poder disciplinar (forma de poder dominante nas socie- dades actunis, g67Ada pelo desenvalvimento das cigncias humanas) consstindo numa série de priticas generalzada qe prouram dade para © exarer, comperando um conunto de ‘ae aE ecnicas, de pro~ cedimentos, de niveis de aplicagio, de alvos; € uma sfisica» ou uma «anatomia» do poder, uma tecnologia» (Foucault, 1975: 217). Entre as insituigdes que podem tomar * CE. O'Neill, J. (1985), Five bodies. The human shape of modern medicine Whaca ¢ Londres, ‘Comet! University Press. Na introdusso, o autor propde a consideragio de dois corpos nos seres Ihumanos, © wcoepo fisiea» e 0 carpe comunicativo». Nesta perspectiva, 0 autor considera que as escrigdes sociol6gicas das institigSes falhamn por serem inemediavelinente abstracts, visto que ot agentes sociais so sistematicamente «desincorporados», ou seja, separados do seu corpo © das Imerrogagoes que 0s seus corpos thes colocam. sts gunjacente a esta citcn a idea de que na vida ‘quotidiana os individuos transportam a sociedade nos seus ossos ¢ de que © trabalho das insttugses é filtrado pela consti fisca, mental, nervosa € moral dos individuos. A prética generalizada das cincias sociais,aticulada 2s estratépiasadministativas das sociedades modemnas, tem incorporado ‘um desvio organizativo em desfavor dos corpos morais. Trata-se do que o autor designa por a ‘endencia para uima sociedade «mecano-mérfica, na qual a inteligéncia ea sensibilidade das pessoas so tomadas passivas © déceis. Cf. O'Neill, J. (1986), «The distiplinary society: from Weber to Foucault», The British Journal of Sociology, vol. 37, n® 1. O autor analisa a dominagio legal ‘envolvida pela racionalidade administativa na burocracia de: Weber. Considera que os tragos anaiticos formais da disciplina burocrética slo evidentes aos estudos produzidos por Weber sobre 0 exércto, a igreja, a universidade e os partidos politicos. Por outro lado, os estudos de Foucault sobre ‘© hospital, a pris foe a escola fundamentam a andlise de Weber, no campo da histxia das véraswenicas socins da diseiplina corporal, de attades © comportaments, ita 6, da sociedade dsciplinar, Portanto, ‘06 estudos de Foucault s80 consderados como uma extensfo do conecito da discplinaracional-legal de Weber, raves da anise dis prticas dzcursivas que constroem a «fisiologia do poder saber». 4 cmgo esta wenologia especitica do poder fiyurn 0 hospital, que a utiliza como um Instrumento para. s. Nesta porypectiva, disciplina € uma tecnologia ‘Ne funciona no hospital para investir, colonizar e ligar as formas de poder dominante, ‘eilondendo a sua influéncia e aumentando a sua eficacia. ‘Assim, 0 hospital pode ser encarado como uma ilustrago do conceito de «pandp- iplinar. Nao € a prépria {satin do poder, as & um exerploperticlarneats claro de como o per se exere (084: 270), e € para Foucault «uma maneira de defi mens», «0 diagrama de um mecanismo de poder elevado ima figura de tecnologia politica, que pode ser destacada de todos os sos especificos» e «polivalente nas suas aplicagées», Ora, uma das a ols 6 cuidar dos doentes no hospital, através da fixasao dos corpos num espao, da ‘xyanizagko hierdrquica dos individuos, da disposigfo dos centros e canais de poder © tn deinigao dos seus instrumentos e modos de interveng0 (Foucault, 1975: 207). Assim, séo integrados numa mesma tecnologia de disciplina (a tecnologia pandp- ton de controls) 0 poder, o saber, o controlo dos corpos¢ 0 ordenamento do espigo, 0 ilizado_ como méio do exercicio do poder © ao seu controlo liga se 700 dos corpos, como mecanismo dé expansio © produtividade ‘lo poder. Assim, a teénologia pandpiica acompanha-se de wna certa forma de ‘ncionalidade, «uma racionalidade auténoma, nio teérica, uma racionalidade da sflosciaprodutivay (1984: 277). © hospital constiui uma’ «isciph redes de comunicagio e as redes de poder constituem sistemas regulados e concerta hos, A organizagao do espaco, os regulamentos meticulosos que organizam o seu fun- sionamento, a organizagio das, suas diferentes actividades, as diversas personagens, ‘cad uma com uma fungéo, um lugar e wm perfil bem definidos constiuem um bloco tle actividades, coiunieagae € poderes, ajustados entre si segundo um modelo espe- oilico de ariculaglo. A discipinarizagao das sociedades liga-se ao ajustamento racio- val € eConémico mais eficaz que se faz neste blocos entre as actividades produtivas, ts redes de comunicago c o jogo das relagées de poder (Tuer, 1985)" Para Foucault, o «Panopticon> de Bentham eorresponde a un modelo exemplar de tecnologia Aisiptinar, a um aparelho perfito de poder dsciplina, O projecto de arquitectura do Panopticén fi ‘eoncebido por Bentham para a exploracio maxima das técnica de vigilincia,e o seu fancionamento arquitectural destinou-se @ garantir uma eficdcia orgtnizacional méxima, Concebido como am, ‘exquema absirato, na sua concepcio pressene-seo alcance terrvel das suas epicagdes concrets Ver a deserigdo detathada do projecto de arquitectura do Panopticon, in Foucault, M. (1975), Surveileret Purr, Paris, Gallimard, pég.201 a 206. % CE Tumer, B. (1985), «The practies of rationality: Michael Foucault, medical history and sociological theory, in: Fardon R. (ed), Power and Knowledge. Anthropological and Sociological ‘Approaches, Edimburgo, Scotish Academic Press. Apesar dos problemas tedricos ¢ empiricos que 8 Na confluéneia das diversas perspectivas tesricas de concepeo lo hospital surge, como problemética central na andlise da organizacio do hospital, a problemtica do Poder médico. Chegado W es patamar te6rico, vemos disporem-se, no Abita da ‘0 (aug, 1975) ou a eproletarizago» (Mekinlay, 1982), cessos de especiaizagio médica © tenica rotaham 0 saber: médio em diversas especialidades, desqualificando as éreastradicionaisdesse saber. Pode mest ocorre rotinizasio do trabalho méico no caso da extrema especializagdo das priicas mé as, quando assenes fundamentalmente no manuseamento de tecnologiassofisticadas. B sugerida a indeterminago do conhecimento como barreira necessria para as profissbes se protegerem da rdinizagio € desqualificacio (amous ¢ Pelolle, 1970)". A indeterminacio surge como uma titica inerente & produgo e reprodugto do conhecimento, apenas adquirda por quem tem a posse deste conhecimento,insuscep- LWel de ser especificaa erotnizada,e objecto de um permanente proceso de interpre- tagaio (Atkinson et al, 1977)", Mas, como acabamos de ver, na medicina, um dos cor- pos de conhecimento profssonalreconhecido como menos vulnerdvel &rtinizagao © A desqualificagSo,regstam-se processos intermos de evolugdo cientificae ténica, de aque podem resuliar segmentos de conkecimentos e de préticas mais permedveis & hip6tse de rotinizagto, sem que a hipStese da desqualifcacio profsso fatalmente. Mais, se consideramos os diversos segmentos profissionals que existem na profssfo médica determinados por carreiras méicas dstintas ¢ pela continua emer- séncia de novas espcialidades médicas,o seu mavimento nas hieraquias de poder © prestigio profissional promove constantes processos de desqualificagao no interior da profs. E assim que se expica que & volta de certos saberes médicosestatégicos, de que apenas alguns médicos sho 0s intépretes, se construam auténticas «foralezas» © barsicadas> para a conservagio do seu monopGlio e para a defesa das posigdes de poder © prestigio que esses saberes proporcionam aos seus possuidores. Entso, a Ct Jamous, H.© Palle, B. (1970, «Changes inthe French University Hob system, in Sackson, J A. 1), Profesion and Profssonazaion, Cambridge, Cambridge University Pes. Usitzam & rlagé ‘stndeterminagifTecnialiéade> como ima dimensio capaz de determinar 8 ratureza do conbecimentomédico. Os autores refrem por stecnicalidad o conjunt de mcos de pro so v cmt de rss, wratmenesuseepvet de codigo em tems de eras ibicesexplictas,procedimertos ou tics. Assim, numa profit etiamentecaracterzada ela ‘teciclidaden, estas regs, proceimentos ou tcnicas esotam os onhecimeatos equeior para tuna prea bem sce O nico criti para o sucess pofsionaléo compleo dominio desta técnica, Referem por sindteminayo» a variedade do conhecimento tito privado que € prop dade pessoal do proissional.F insusceptive de uma completa explicit e intduivel em reas ou presergies preisamente formals. Ao contro das «tGnica» no so transmissive através , ou seja, da existéncia de doentes com \ nigaciona recursos de saber, que nfo se limitam apenas ao seu saber profano, e a partir dos quais f estes.como os sinlcos poriadores do, contexto orga- seja possivel desenvolver alguma acco estratégica de confrontago e de resisncia \damento do conjunto de relagbes que eles constituem. face aos outros poderes-saberes. ser tanto maior quanto mais recursos dispu- Do quadro das hipéteses da pesquisa e na dependéncia do seu quadro teérico cen= _ tral, surge um quadro te6rico auxiliar onde se incluem teorias, paradigmas, modelos @ tipologias, que fornecem contributos especializados, dirigidos para o tratamento 166- Fico de expagosanaition bem defnides “thin perspectiva merainente organizacional como predominantemente funcionais _ jst produgio de euidados aos doentes, so prineipulmente relays de poder numa ~ ielypectiva estratégica. ‘Correspondem a uma estruturagio de poder entre as diferentes categorias profissio- “jbl cue protagonizam a divisdo do trabatho médico, caracterizada pela situacao ~ jilviloplada do corpo médico, pelo monopélio que detém dos saberes e competéncias “ulomis para a produgdo de cuidados. Por outro lado, € a partir desta estruturacéo do “pinoy nos servigos e da situaczo privilegiada que os médicos dispOem nesta estru- _ {ijagilo que se pode compreender a racionalidade das estratégias dominantes, nas _ poflinicades e nos constrangimentos que so fornecidos ou impostos as outras _{ilo,orias profissionais para 0 desenvolvimento das suas estratégias reciprocas. _ Ain sea estates em presenga nos servigs 96 por referénia a esta etruturayo ‘ils ow menos recursos €'d6 una maior ou menor margem de liberdade nas relagbes {iy pore depende da situagéo social global de cada actor no quadro temporal, espacial esi Expacidaden Y organizagéio que -autoridade (1977: 30h). Cofidera que esta ideia est 1976: 121-135) quando reconhece 0 fenémeno de i jectos colectivos dos homens & dos actores © que testemunham ‘g6es de poder sobre as qt sociais dos servigos (1977: 58). “Trata-se de compreender que € no contexto organizacional, nas relagdes de poder que 0 constituem € nas estratégias que estas relagbes segregam que se colhe a racic nalidade dos diferentes actores dos servigos hospitalares. Assim, encarar os servigos | ‘como construidos organizacionais permite esclarecer que a sua rede de relagées, vistas ‘progtamtica e metodol6gica, De facto, a propésito.da-micraffsica do poder posta em funcionamento pelas iologias politicas do corpo, Foucault r 1poia sobre uma concepgao de poder que encerra 1 antinomia bésica com a ideia de propriedade © dos seus efeitos de dominagto como efeitos de «apropriago», para consagrar a ideia de estratégia e 08 seus efeitos de dominagilo como manobras, tcticas, técnicas e funcionamentos. Em suma, é um poder que se exerce mais do que se possui (Foucault, 1975: 31). No entanto trata-se de uma concepgdo de poder insepargvel das modalidades de exere{cio do poder disciplinar, ¢ portanto o seu campo de validade refere-se unicamente a esta forma de poder. ‘Se neste ponto ainda impossivel avangarmos com a ideia da proximidade entre as conceptualizagdes das relagdes de poder produzidas por Crozier e Foucault, ja é ossivel fazé-lo a partir das contribuigdes que Foucault forece sobre a relago entre © sujeito e 6 poder na formulagao de uma nova economia das relagdes de poder, sobretudo a partir da estipulaco do principio da necessidade da anilise das relagbes de poder através da confrontagiio de estratégias. A partir deste princfpio, organizam-se ‘as condigGes te6ricas e epistemol6gicas que nesta investigag&o nos permite eruzar a anilise estratégica de Crozier com a analftica de poder de Foucault. Tanto Foucault como Crozier referem a questio da liberdade dos actores como condigo para a existéncia do poder e para o desenvolvimento das suas estratégias. Em Foucault os sujeitos «livres» aparecem dotados de um campo de possibilidades de condutas, reaccdes e modos de comportamento, que os constituem, simultaneamente, ‘como condigiio ¢ alvo do exercicio do poder, mas também como oposicao ¢ resistencia, ‘40s excessos resultantes do seu exercicio descontrolado (1984: 314/315). Por sua vez, Crozier refere que os actores apenas dispdem de uma liberdade restrita e, consequente- mente, de uma racionalidade limitada, marcadas pela contingencialidade inerente as condicdes maieriais, estruturais e humanas dos contextos em que se inscrevem as suas cestratégias (1977: 55). Por outro lado, para Foucault, qualquer relago de poder esté sempre articulada, hhem que seja apenas virtualmente, a uma estratégia de poder, constituindo-se recipro- ‘camente como um limite permanente. Assim, se a relago de poder constitui o limite para a producto de estratégias, as estratégias de poder, por seu lado, constituem o limite para a reproducio das relacies de poder. On soja, quer em Crozier quer om Foucault, as estratégias referem-se sempre a uma certa forma de estruturaca0 do poder, como sua origem e seu limite, Estas so as condigbes de convergéncia teGrica indispenséveis para utilizar a and lise estratégica de Crozier, Tanto o paradigma da ordem negociada de Strauss como a anilise estratégica de Crozier cobrem dimensbes centrais de anélise da orgnizacao do oder médico nos servigos. Porém, saber como € que este poder se organiza como poder dominanie no hospital ¢ nos servigos, também corresponde a analisar os pro- ccess0s de integracio l6gica e moral na construcio do mundo profissional dos médicos. A construgio deste mundo nfo finaliza com o fim dos estudos ¢ com a obtengio de ‘uma licenciatura, mas prolonga-se até a escolha da carreira e até & entrada efectiva na profissiio. E neste trajecto que se constituem os fundamentos do poder médico hospitalar. Prt o estudo dos valores na socializagito médica utilizou-se, ao Ambito da sociolo- _ tilt dhs profissdes de origem americana, os estudos elissicos sobre a educago médica Inioduzidos pote funcionalismo © pelo interaccionismo simbdlico, nas décadas de 50 ¢ {i Assitn, no contexto da perspectiva funcionalista salienta-se a contibuigdo de Par- on (1951) € de Merton (1957) na apresentacao de um modelo centrado nos estudos {ino bmento-chave de. socializacio.profissional, para a construglo da concepezo {iia aprencizagem do papel de ser médico, através da aquiigio de cultura norma- livn da profissio medica e do,cntrolo da profissio sobre os seus noves membros. Fox (1957) introduz nesié modelo a perspectiva da socializaio médica como «treino para 4 ncotteza», apresentando a ideia da existéncia de uma lgica socializadora eronolo- | ilcamenie organizada para garantir, desde © principio dos estudos até &s primeiras “ ‘sporigncias profissionais, a gestto 4k fomportamentos de certeza e incerteza e a ‘isto da atitude de «preocupagio desinteressada». Exactamente a propSsito desta Hoi, desenvotvem-se os que. interpretam como a aquisicéo de na pers 0 sent afirmar © comprovar que os estudantes de ‘ucdicina, a0 fongo dos estudos, vio per cdealismo> ¢ «humanitarismo> e, plogressivam ‘io ganhando

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