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: MARIO TESTA & 2 muitos colaboradores anénimos: i | PENSAR Porto Alegre : Artes Médicas, 1992 1 Sociologia —Satide 2 Sistema de saide 3-Tecnologia e suid 4. Medicina preventiva cu 36426 Boas Biblioteccia responstvel: MBnica Ballejo Canto — CRB Provisério 10/91 ‘Tradugio: Walkiria Maria Franke Settineri SUPERVISAO E REVISAO TECNICA DA TRADUGAO: ‘Sandra Fagundes Psiedloga Delvo Oliveira Psiquiatra PORTO ALEGRE / 1992 abrasco Para concluir, podemos afirmar que a forma particular do postulado da coerencia, em muitos pases lating amer em ino-americanos, a que se apresen sequinte gréfico. s : pe é Se. aa % % os ORGANIZAGKO =i DETERMINAGAO HisTORIA As condicées em que se d4 essa forma particular caracterizam cada tum dos componentes do postulado e seus determinantes em sogunda instancia (os: vértices exteriores do arafico), que. sintetizare! a seguir. Novamente veremos surgic, na descrigao, uma certa confusio entre 03 componentes, que nada mais faz do que revelar as dificuldades analticas de uma situago conereta. Comecomos pelo principio, isto 6, pela historia Um periodo histérico pode ser considerado como 0 processo de desenvol. vimento de um modo de produeao dominante em uma formagao economi- co-social. Em cada perfodo ha subdivisdes, que definirel como sendo de constituigao e erescimento, de estabilizacao ou maturidade ¢ de deciinio, Lasot is M2 Muito pfs América Latina se acham na imeira desea fases, de longo processo de gestagio, de enormes dificuidades em seu caminho para chegar a constituir organizagSer_polticas, econdmione culturais de um nivel aceitével de funcionamento. A isso defini como labidade do organizagio, quo talver seja 8b 0 deserito, CONDICIONAMENTO 8.2.5. Condicées 116 / Pensar em Sadde c Nostas circunstancias (fase do canstituigiio @ crescimento de um modo {ie produgio dominante), o papel do Estado buscar a consolidagiio dessa omiinagao, 0 que significa que vai acentuar suas funcées de arbitro €, ae iiwe for posstvel, de unificador de certos segmentos da burguesia, de jontrolador da organizacio do proletariado © de apoio importante no pracosso de acumulagio de capital. Isto vai se traduzir, no campo de piondsitos do governo, na enfatizac0 da legitimagao e do crescimento, Em Ininha opinido, 6 esta a segunda condig3o daquela forma assumida polo pontulado. A caracterizacio das organizages e dos propésitos do governo om hoasos paises pode ser contraditéria em ralacao a dos paises capitalistas ‘ayangados ou maduros. Esta contradicdo existe e ¢ uma das razdes das iudangas que os pafses dominantes querem introduzir nos dependentes 0, om contrapartida, dos gestos de pseudo-independencia que, as vezes, 03 pulses dependentes tm ante os paises centrais. Em ambos 0s casos, 30 fontes de dificuldades para o funcionamento do postulado. Em terceiro lugar, a teoria de governo, no subdesenvolviments (capitatismo dependente, periférico, tardio, ou como se quiser chamé-lo} 6 dbil, no sentido de que nenhuma praposi¢ao existente possui o consenso hlocessario para fazer parte do paradigma das ciéncias sociais. Esta caréncia ladrica é a terceira (também em ordem de importdncia) condi¢o do modo; ua conseqiéncia metodolégica 6 a auséncia de um metodo eficaz do tomada de decisdes, que cumpra, ao mesmo tempo, a determinacdo dos propésitos e 0 condicionamento da organizacao. Uma ltima observacio no campo da teoria: se observarmos usquema do postulado, veremos que o que é mais determinado é a organizago e, em segundo lugar, 0 método. Creio que o método deve prestar uma atengao especial a esses dois componentes, porque é através deles que se concretizam a eficdcia @ a eficiéncia das propostas. Este tiltimo s6 pode ser interpretado no sentido de que o método deve conter a capacidade de se revisar criticamente, de maneira continua {ou aqueles que © utilizam devem ter capacidade de autocritica?) ou, o que 6 a mesma coisa, ser o menos normativo possivel, apesar da aparente contradic3o que estes termos sugerem, Também implica a inversao das determinagées a partir da organizacio, incluida a bidirecionalidade em relacdo a hist6ria. 6. PODER © conceito de organizagio que utllizo abrange dois aspectos: 0 institucional, ou a consolidagao burocratica de uma organizagdo em geral, © agrupamento de pessoas com interesses comuns, os atores socials, primdrios. € nas organizagdes neste duplo sentido que esta situado o poder da sociedade’. Mario Testa | V7 A consideragio do poder de: ler deve ser feita em um corresponde aos resultados de sou oxercicio e especiticos. No primero eixo existe um poder quot como fazer as coisas; isto gera uma di 2 3 isputa (em nivel das diferentes organizagées), na qual os aliados naturals so os que compartilham wina mesma dvisio socal do trabalho, embora muitas vezes esta linha se romp F cireunstancias particulares que geram outras ali 3 circu : rr fiangas conjunturais. 0. {ue redur a transparéncia desta situaCo é nfo entonder que a disputa pela ler quotidiano ests inserida (e implica) no Poder societéi 4 der quot : : societério, a lon bra, referente ao tivo de soredade a const (roduc ou tsoden Qual 0 aliado natural é 0 aliado de classe. Esta confusio é aproveitada pela classe dominante mediante um: ela jediante uma estratégia de hegemonia institucio: duplo eixo: © qua © que diferencia tipog, iano que se refere a que 6 Porque © tipo do fazer quotidianos, jominacao pessoal que iinagdo de uma classe pela © poder quotidiano implica 0 Poder societério, sociodade a ser construida implica o que fazer e 0 como ambito onde estdo localizados mecanismos. de domin Feproduzem, na escala dos individuos, a do outa. seta ete 2% ae anise corresponde 20s tipos de poder de que cada Setor de atividade dispe. Como so tata de um problema espectico, npifcd-lo-i com seu tratamento para o setor sade q jo caso da sade, os tipos princi n 7 , 08 tipos principais de poder com os quais se lid: fis se lida {ergo denominados de téeico, admiisttvo e politico. Cada um dees 6 idade de um individuo, grupo social, instituiga oa duo, ,instituigao, que se refere, 10 primeira easo, @ informacéo, no segundo, aos recursos, e, no tereeio, grupos sociais. Poder técnico 6 a capacidade de gerar, aceder, lidar com a informacdo de caracteristicas diferent “ capacidade de se apropriar © de. ai capacidade de mobilizar grupos sociais em necessidades ou interesses. A seguir, so apresentadas + 80 apresentadas algumas caracteristicas dostes trés ti i cr stes tr8s tipo: de poder ¢ suas implicagdes e determinagdes no manejo do setor lidar ites. Poder administrative 6 a ir recursos. Poder politico 6 a demanda ou reclamaciio de suas 6.1. Poder técnica © poder técnico ocupa-se com vi : étios-aspectos & opera em Ambitos. Os aspectos se referem ao : fe Eda com a tipo de informagao que lida com forma de poder. Em principio, poderfamos idemtiticar as. soguintes: a) médica; b) sania: c)adminstratva; d) marco tesco. ; am [MeImaeio méKica é aquela com a qual habitualmente © médica ld, aco 30 pacionte e, fundamentalmente, a eliaica, (também anatomia, fisiolosia, patologia, etc). : 118 / Panser am Sade Ainformagao sanitéria corresponde- Aquola que geralmente 6 rogistrada fomo morbidade e mortalidade, ombora em um sentido mais amplo soja a Uisttibuigdo da enfermidade na populagio. A informagao administrativa ¢ aquela que ocupa a atengio das jministradores no médicos dos servicos de sadide; em geral, correspondo ow diversos indicadores de uso de recursos, tais como: medidas do jrodugao, custes, produtividade. Esta ¢ a informacao que, junto com a hanitiria, serve para tomar as decisdes habituais no setor. Por sitimo, existe um tipo particular de informagdo, que habitualmanto ‘no é mangjada, a néo ser de maneira implicita, que € 0 marco teérico m oral de como deveriam ser desenvolvidos (entendidos, relacionados) os utros tipos de conhecimentos citados. Esse marco tedrico da sade 6 conhecido pela epidemiologia como 0 problema da causa das enfermidaces Ou, ampliando a nogéo de causa, a determinagio e, melhor ainda, a jroducdo das enfermidades, em um sentido social, isto , referente a ‘prupos da populacso socialmente diferenciados e nos quais essa diferencia. (lo faz parte da definigao do social, 0 que significa que nao é social tor Inaior ou menor renda ou maior ou menor nimero de anos de educagio formal, mas sim pertencer a classes — no sentido marxista ~ diferentes. A partir destas concepgées, surge um questionamento do marco o6rico tradicional, de uma perspectiva critica, realizando-se uma tentativa {de construir um nove marco tedrico, utiizando as categorias que paregam ser mais produtivas na elaboracgo do novo paradigma. Esta discussao ientifica 6, a0 mesmo tempo, uma luta politica. O estudo do processc do trabalho, em suas relacdes com:a saiide, 6 aquele que até agora tem sido mais frutifero na tentativa de dar um contetido concreto & nova epidemiolo~ gia social. Os diferentes tipos de informagdo circular em diferentes ambitos, cuja caracterizagio 6 de grande importancia para o tracado estratégico. Em principio, podem-se considerar cinco desses ambitos, embora cada um deles deva ser considerado como uma categoria global, suscetivel de se subdividir em varias subcategorias, de acordo com as circunstancias concretas com as quais se defrontem. Os cinco ambitos principais sao a docéncia, a investigagio, os servigos, a administrago superior » a populacdo. (© ambito docente refere-se a docéncia de ciéncias relacionadas com fa satide de nivel superior, geralmente universitaria; também inclu a )6s-graduagdo, podenda abranger outros niveis, como os politécnicos, as escolas médias de enfermager ou outras disciplinas qualificadas como auniliares da medicina, os cursos de extensdo universitéria e outros, © ambito de investigago corresponde as instituigoes docentes ou do servico, onde se realiza investigagdo com referéncia 8 sadde ou a insiitui- ‘Ges especialmente destinadas a ela. Mario Testa 11119) Distinguem-se os ambitos de servigos & de admini supar porque 530 considerados importantes dferengas entre ambos, relaionadg fem particular ao dilema centralizagao-descentralizagao. No ambito d@ servicos, pode ser necesséria uma divisdo mais fina do tipo de servico} assistenciais ¢ preventivos ou servigos dirigidos a diferentes arupos i populagao (por exemplo, a trabalhadores). f 0 Ambito populacdo pode requerer identificacao de grupos social dentro dele, embora sua categorizagio deva ser ajustada a circunstanciay especificas. Sobre a base desta descri¢ao inicial, pode-se construir um quadro do dupla entrada, com o tipo de informacao por um lado e os diferentay Ambitos por outro, marcando prima facie como se apresenta a distribuigia. atual na América Latina, isto 6, indicando, em principio, que tipo da. informago é manejada em cada ambito. O quadro seria como 0 que sequés. Amarros. Docéncia | Investig. | Services | Adm. sup. | Populacae Sanitério exe x roe _|e00000¢ Administativa x x xen | xc Marco tedvieo - 2 oi zt Ao indicar a auséncia de marco tedrico em todos os grupos, refiro-me 20 tipo de marco teérico que supera as limitagdes das determinacdes biolégico-ecoldgicas, isto 6, a existéncia de um marco te6rico social. quad entteaeto correta (e pormenorzada) das earactristcas deste yuadro, em uma situagéo real, to de suma i aunt am ros ht 6 um elemento de suma importancia no Uma terceira questo importante, relativa ao poder técnik tefere as instances eprocedimentos de geacto, rocessameno uso informacao, em relacdo aos grupos sociais que lidam com cada uma dessas instéacias, 0 que pode ser denominado de aspectos 0 de informagio. ‘Na origem de certos dados, hd populagao ou pessoas que trabatham no ambito; essa populacdo ou trabalhadores podem ser o sensor mais — periférico do sistema de informacao, ou este pode se constituir & margem daqueles, com grupos especializados na tarefa de colata de dados, que sero enviados aos canais de transmisso e processamento; trata-se de uma das questées em torno do problema mais geral da participacao. is do subsistema_ 120 J Pensar em Sede 0 processamento inicial dos dados podo estar relacionado com essa oylgom ou ser articulado a sua margem, como um subsistema independente, © grupo social que maneja canal de transmissio e processamento pode sor somelhante ou diferente daquele que gera os dados. Em relacdo aos Usudrios, 6 importante conhecer 0 acesso dos mesmos as decisdes sobre fi processamento (ou transformacao dos dados em informacio), pois esta f uma fase chave quanto a possiblidade de utilizar este instrumento de odor de maneira erttica, ‘0s diversos grupos sociais que constituem o subsistema deinformagiio jyodom ser homogéneos, quando todos eles so caracterizados da mesma fnancira, segundo 0 critério social utilizado, ou heterogéneos se niio phodacerem a esse requisito. A maior homogeneidade do sistema implica fs possibilidade de uma maxima acumulacao de poder téenico em algum (fupo social. ‘A quarta caracteristica do poder técnico que mencionaremos ¢ aquela quo pode ser denominada de seu estilo, enquanto hd linguagens que ‘oultam ou, alternativamente, revelam o fundamental do pracesso sobre © ual se informa. Hé um estilo elitista, de palavras dificeis e cédigos tioeretos, cula principal fungao nao € servir de meio de comunicacao répido fntre especialistas ou técnicos, mas impedir a transmissao do conhecimen- to para amplas camadas de populacdo, como meio de reter, junto com a Jnformacdo, 0 poder por ela gerado. Isto ¢ independente da tecnologia intor- mativa utiizada em cada uma das fases do proceso (0 tragado estratégico, quanto ao poder técnico, basear-s0-6 principal- nente em proposigdes a respeito das quatro questées analisadas até o fomente: tipo de informacdo © ambito da mesma, homogeneidade do sistema e estilo. 6.2. Poder administrative 0 poder administrativo, visto da perspectiva da acumulacdo de poder no setor, 6 sintetizado quase completamente, nos pafses capitalistas, ‘através das diversas formas de financiamento, que é 0 elemento central organizador dos diversos subsetores do setor satide. Ocorre aqui algo semelhante ao que sucede com 0 poder técnico, em relagio a varfavel homogeneidade, com referencia aos grupos sociais que testdo ligados a origom dos fundos, cua canalizagio e destino que recebem. Este 6 um problema bastante analisado em seus aspectos formais, quantc aos posstveis circuitos em cada subsetor e entre eles, e menos no que se refere a suas implicagdes sociais. ( financiamento, como expresso do poder administrativo, ¢ fun damental nos deslocamentos de poder dentro do setor, sem que os reordenamentos @ ajustes periddicos que sao feitos consigam produzir Mario Testa 1125 mudangas radicais, que modifiquem a estrutura social, mas pasando muito perto dos aspectos substantivos dos conflitos de classes. Em uma primeira abordagem, podem ser identificados trés grandes subsetores no setor sade: publico, privado e intermediario ou semipibico, © primeiro, representado pela atividade oficial, com ponto de partida nd Ministério da Satide, 0 segundo, com as diversas modalidades assumidas polas prostagées de servicos privados de atencao médica, e 0 terceiro, com as caracteristicas dos seguros destinados a financiar o atendimento 205 _ trabalhadores e seus dependentes. Cada um dos subsetores possui uma forma especifica de financiamen- to, uma modalidade de prestacao de certo tipo de servicos, uma populagio 8 qual é principalmente destinada sua atividade. Mas, além disso, existem comunicagdes entre os subsotores, através das superposi¢ées entre a3 correspondentes coberturas ou os desvios de recursos, configurando assim ‘0 setor como uma rede de servicos de grande complexidade, cuja correta interpretacdo vai muito além da identificacao de componentes e relagées. As caracterfsticas descritas tém a ver com aspactos estruturais da sociedade ©, mais concretamente, com o papel do Estado. Assim, a criacdo da seguridade social para os trabathadores tem a ver com a crescento ingeréncia do Estado no terreno produtivo, ou com a identificagso correta pela classe dominante do problema que significa a reprodugao dos trabalhadores junto com o fortalecimento das organizacées sindicais. seguro social, que uma leitura ingénua pode entender como um: avanco da classe trabalhadora a0 por em suas maos alguns recursos de poder — através do manejo da canalizacao de fundos nesse subsetor — ‘também pode ser interpretado como a institucionalizacao de uma contra 40, deste modo tirando-a do terreno onde a contradicao 6 mais fértil, isto 6, da base trabalhadora, subtraindo-a assim dos contlitos interclasses*®, papel produtivo do Estado também pode significar a necessidade de diminuir os custos, chamados de sociais por serem improdutivos, o que leva apropostas de barateamento da prestacao de servicos, que podem assumir vérias formas: em geral, simplificacdes na prestacdo ou reordenamentos organizacionais. Estas propostas recebem nomes atraentes, que sio colocados em moda através de congressos, publicacées, informes, © que se generalizam, abrangendo um ambito mundial: sade para todos, sade para 0 povo, medicina comunitaria @ muitas outras denominagées, ndo conseguindo esconder, apesar de uma publicidade miliondria, a de: de que perpetuam. Se, além do papel do Estado, considerar-se 0 processo de transnacio- nalizagao das economias nacionais, com sua necesséria contrapartida, que 6 a de manter baixo 0 custo da mao de obra local, ver-se-4 que se reforga a tendencia anterior, ao coincidir as necessidades do Estado, como controlador direto do capital, com as das empresas transnacionalizadas, yualda- 122 | Pensa em Saude Junto com esta determinago, a neoessidade simultanea de realizar uoros na venda de equipamentos, matoriais ¢ drogas altamente sofis: Hicados, diferenciard ainda mais os subsetores de savde, entre os des- Unidos a serve de consumo suntuaso, para a classe dominante, « os de sigcanismo reprodutivo, para a classe trabathadora. oon ay caracteritieas mencionadss, 6 dite se alcangar modifica {yoos substantivas no terreno da organizagao setorial. No entanto, podem fur Kdentiticadas situagdes conjunturais que permitam introduzir laumas propostas de reformas menores, que impliquem um avanco politica, ou palo nenos uma melhor atengo a orupos de populagao mais desatendidos. Em oral, quando se considera invidvel modificar os subsetores, poder-se-4 Juzar, por outro lado, propasicées que corrijam os aspectos mais nocivos iin suas inter-relagdes: 0 desvio de recursos do subsetor pablico para o ,imnipablico ou para 0 privado. aioe eevnaize exvategicas devero ser orientadas principalmente para a Jhomogeneidade dos grupos socials, que intervém nas diferentes fasos do linanclamento de cada subsetor para a modalidade da apresontagio do sorvigo, para a legalidade da cobertura e para 0 controle e regulagao das oinunicagdes entre os subsetores. : orniine gnaioes Wadiionais, 0 exeme dos aspectos, adminisrativos oralmente é feito com base no enfoque de sistemas. © que é estudado é baistema de sade, isto 6, a organizacao setorial, mas tirando a énfase das tolagdes de poder, para po-la no exame dos recursos ¢ sua produtividade, iassim, a eficdcia € a eficiancia no uso dos recursos séo categorias centrais tiossa forma de andlise, Essas categorias néo séo descartadas, nesta outra mmancira de ver © problema, mas so complexificadas, 20 sor introduclda a hocao de eficécia politica, que se transforma na nova categoria central ‘est fue ae nogbes do efcdciae efcincia administratva @ efedcia & oficencia poltica, existem certas relacdes temporais importantes. Cada ocisao administrativa (uso de poder administrativa) possui uma consequen. la sobre 08 grupos sociais afetados pela decisio, conseqiéncia que se traduz no aumento ou diminuigo do apoio, que cada um desses grupos presta aos que tomam a decisdo e a todos os demais. Estas mudancas sao quelas que viabilizam outras decisées. aa saueG® pmoxo deslocamonto do poder, ante uma decislo tomada, seguide por outro que ocorre em algum momento posterior @ implemen- tagao da propasta e em relagio sua eficécia © eficiéncia oporativa. ‘sto é, hé dois momentos de eficdcia politica ante uma decisdo administrativa, assim como hé momentos técnicos e politicos que separar a deciséo da implementacdo e do momento de sua eficdcia. ‘No momento de tomar uma deciso administrativa, comegam do's tempos: 0 politico, ou tempo que demora em se produzir a reagao de apoio Gu rechaco dos grupos sociais interessados ou afetados pelo problema, ¢ Mario Testa {123 © técnico, ou tempo que a decisao leva para ser implementada até obter @ eficdcia operativa. A partir deste segundo momento, o de funcionamento eficaz da decisao implementada, volta a se iniciar um novo tempo politico, que agora 60 de resposta, ante os fatos produzidos, ou a eficdcia politica da eficdcia e eficiéncia processual. 6.3. Poder politico 4 A capacidade de desencadear uma mobilizac3o — que 6 aquilo que fol _ efinido como peder politico — vai depender basicamente de uma cert forma de conhecimento — uma visto da realidade — que é um saber gerado de maneiras diversas: como experiencia de situagdes concretas 6 ainda como sentimentos desencadeados por essas experiéncias, como reflexo sobre elas e, em particular, como conhecimento cientifico; em | geral, as diversas formas de saber sobre o poder podem ser agrupadas em duas grandes categorias: conhecimento empitico e conhecimento cientifico, Simultaneamente, essa capacidade pode ser considerada como uma pratica, cuja principal caracteristica € que impacta, de uma mancira definida, os atores sociais que fazem parte dessa pratica, tanto do lado dos mobilizadores como dos mobilizados. 4 Estes dois aspectos — 0 saber, como uma visio do mundo, ¢ a Prética, como construtora de sujeitos — 6 0 quo definimos como ideolo- gia”. : De maneira que o poder politico surge como resultado de sua Consideracdo, enquanto ideologia, nos dois vixos mencionados: saber ¢ pratica © saber emptrico, por dorivar de alguma forma de experiencia 6, em geral, a sustentagdio de um poder individual ou de grupos relativamente reduzidos em tamanho e definidos por algum interesse circunstancial. Esse interesse circunstancial responde a uma Iégica formal — pois ndo existem contradigées no grupo em relacdo a esse interesse particular — ea um enfoque funcional do objeto de seu conhecimento, pelas mesmas razées apontadas. saber cientifico decorre de uma maneira formalizada de aquisigao do conhecimento, mas essa formalizacaa nao ¢ Gnica, respandendo pelo Menos — a verso racionalista e a dialética das visdes a respeito da ciéncia, © que significa — diga-se de passagem — que a ciéncia também 6 uma ideologia, quando se consideram suas diferentes formas de pratica A légica formal do racionalismo @ a légica dialética do materialismo hhistérico nao sio independentes das formas de pratica da ideologia do poder. Essas formas de prética so a dominagio — a submis’ de subordinados a chefes, dos fracos 20s podorosos, dos dominados aos 120. Pancar nem Satie dominantos sid © a hagemonia, que do ponto de vista que estamos con: ando — 0 da ideologia camo prética — 6 a viabilizagao e realizacio de projeto, em particular de um projeto politico. A combinagdo dossas caracteristicas do poder, ordenadas em dois ds origem a quatro casos, cada um dos quais apresentado no quadro, com exemplos de algumas das circunstancias individuais, oranizacionais ou politicas assumidas por cada uma dessas formas de poder. Pour eo Kooga. —> PRATICA Dominagae Hegemonia 6 | empiice ‘Machismo Organizecies no 7 classistas a Propoténcia 0 Uderanca t Cientifico Ditadura Poder politico K Burocracia de cl Cada uma das formas adotada pelo poder politico esté apoiada por uma base formal, que the outorga legitimidade: tradigoes, valores comparti- ‘nados, leis, funcionamento dos aparethos de Estado, organizacies da populagdo, repressao; isto é, toda a gama de instituigdes que constitui a gciedade politica e a sociedade civil do Estado moderno. No setor de satide, o poder politico possui caracteristicas que 0 diferenciam dos outros dois tipos analisados, 0 administrativo e 0 técnico. [im primeiro tugar, é um poder que pode assumir, de preferencia, tres das quatro combinacdes posstveis, assinaladas no quadro anterior: empirico-he- Gjoménica as duas correspondentes ao saber cientifico, enquanto que os outros tipos — administrative ¢ técnico — participam das combinagdes nas quais intervem a pratica de dominacao mais a combinagao empirico-hege- monica. : Quer dizer que o poder politico, neste sentido (o das formas predon antes que assume), intersecta-se com os poderes de tipo técnico ¢ administrativo, nas formas de saber cientifico, com a pratica de dominacao, © de saber empirico, com a pratica hegeménica. 6.4, Poder e mudanga social ‘As maneiras como se combinam os tipos de poder e as formas assumidas apontam para a possibilidade da transformacao de uns tipos em outros @ de umas formas em outras; isto é, assinalam o caminho que se Mario Tests (128 teria.de percorrer, na constituicao de um pader politico de classe, isto , de um poder politico cientifico e hegeménico, Em segundo lugar, e como corolério da discussao anterior, torna-se evidente que o poder de tipo politico ¢ de um nivel diferente dos outros dois, de uma qualidade diferente, que 0 hierarquiza acima daqueles. Isto se manifesta no fato de que, em algum momento da dinamica do poder, os poderes administrativo e técnico ficam subsumidos no poder politico. Uma das expresses desta subsuncao € que, nas formas mais politicas do poder, aquelas que correspondem @ pratica hegeménica, nao existem teorias acabadas das formas or- ganizacionais que the correspondem, teorias que existem para as formas tipicas, teoricas @ praticas da organizagéo administrativa ¢ técnica: a burocracia. E sobre estas bases que construo minha proposta de planejamento que integrando 0 calculo tradicional (o diagnéstico e a proposta administrative) com a andlise estratégica da estrutura de poder setorial e as repercussées sobre ola das agdes propostas, procura tracar uma maneira de se aproximar da posi¢o de Habermas: criar uma estrutura comunicativa que devolva ao Povo as ferramentas cientificas necessarias para sua libertacio. NOTAS 1 — 0 auge do planejamento © do desenvolvimentisme, na América Latina, ecupou ‘proximadomente o quarto de século que vai da.45 2 70, Os testemunhos 280 muitos e foram ‘colhidos sabretudo na Revista de la CEPAL @ nas publicages originadas na CEPAL e ILPES Sua ditusio se fez através do cursos internacionais redizados pelo ILPES, dos queis surairars s0ritsrios do planejamento © centros de estudos de problemas nacionais, em quase todos os paises da regido. 2 — Esta afirmativa deve sor rlatvizeda, a partirda prépria experiéncia dos poleos eocialistas. A oxistencia de formas, que combinam a atrbuigio planejada com o mercado, assume eatétet diferente em vios patses. Veja-seo livo do Michaol Kasar e Janusz G. Zilinsky, La nueva plenificaciin econdmica en Europa orienta, Mads, Alianza Editorial, 1971, especialmente os capitulos 1 # 8. No entanto, existe uma diferenga importante entre introduzir o planejamento, sem elminar o mercado (que acontoce nos palses capitaistas)» raintraduir © mercado, uma 3 Afanasiev V. Direccién ciontfieo de lo sociedad, Moscou, Ediciones en Lenguas Extranjras, 1971 4 — Ver o atiga de Nikola Fedorenko, “El papel de los métodos econdmicos matemsticas en le planficacion « la direccién de la economia en la URSS*, em Métodos modernos de 9. Editorial de Cienciae Seciales, 1975. uo Estado modemo, em especial nos paises capitlistas dopendentes, ver os artigos compilades por Heine Sonntag e Héctor Velecllos en £1 Estado on ‘et capitalsmo contempordneo, México, Siglo XXl, 197 6 = Ver Qual ciéneta?, neste volurn. 7 — Acttiea que #0 faz no texta no dot sistemas, mas a ume eplicagéo particular ‘da mesma. A origem desta critica foi minha reflexéo em tocne do trabalho de Aquiles Lanza, *Principales problemas do la Admivistracién Guvernamental de Selud en Aménce Latina’, 126 I Pencar em Saude Dullfoado om La salud on América Latina, aspectos pricdtarios do su dmiaistracién, Méxde0, Fondo de Gules Econémicn, 1983, 1 ~ Para uma doserigho @ discussdo deste panto, ver 6 capitulo 7, do sequnde tomo do tvro 1p Bornarde Kiiksbverg, E1pensaniento orgsnizatvo: da tayloriomo a la teria do organizacién, Buanos Aives, Paidés, 1978. ; 9 ~ Baseado em um artigo do autor: Métodes y modelos, mimeogratede, Santiago, CPPS, 1970. 10 — Ver Qual eiéncia?, neste volume, 11 — Ver uma deserigle eucinta do ease cubano, no artigo de Arconio Carmona o Movie Faoalona Reguere, “El proceso investigative en la planificacién de salud", na Revista Cubana lo Adrnnistracisn de Salud, vo. 8, outubro-dezembro, 1982. 12 — Quanto & relagéo entre histéria e planejamento, pode-se consular o artigo de Lulz Poroira, Historia © Planejamento, am Ensaivs de sociologia do desenvolvimento, S30 Paulo, varia Pioneira, 1970. 12 — Croio que 02 centistas da eatide rechagariam impertincia de questionamente ‘ussinalado no texto; no entanto, & freqients que nos artigas ou livros que escrever incluam Inerpretapbes do social como expansdo do biolégico.. 14 — Fleck L., Genesis and development of a scientife fact, Edigio original, Lvov, Polonia, 934, 18 — Tomado do marco toérioo da invectigagio Estructura de poder en of sector salud, toalizada pela equipe de saide do CENDES, 1982. 16 ~ Ver Hilary 0 Stoven Rose (compiladores), Economia poltica dela cioncia, México, Nuova imagen, 1979. 17 — Var Ensiner medicina, naste volume. 18 — Estas © outras dafinigBes contidas noste trabalho so rot Esicuetura de poder on ol sector salud, citada previamente. 19 — Da novela ff gattopardo, Giovanni Tomaso di Lampedusa, 20 ~ Giordani J, Laplanificacién come proceso social, Valencia, Venezuela, Vadell Hermanos Esitotes, 1980. Ver 0 capitulo 1 21 — A discusedo assume um duplo carétar: por urn lado, trata-ee da andlisa de métodos @ ivos, 8 por outro refere-se a prablernas maia préximes da epistomologia. O primito est6 Fefletido om um texto chamado de Discusiones sobre planificacién, México, Siglo XXI, LPES, 1965. 0 segundo, na trabalho de José Medina Echeverria, La planeacién en las formas de 1 ‘racionalidad, Santiago, Cuadernoe det ILPES, 1971, ¢ nos trabsthos de Ricardo Cibotti 0 outros, onde 6 digeutida a tiplice racionalidade polities, administativa @ cientifiea (isto 6, posi¢do adotads diante dos movimentos revolucionérios, que sacudiarn ‘© continente durante o8 climes vinte anos, € indubitavel que @ evtica das armas parte do onvencimento profundo de que estao bloqueados os caminhos da mudanea social a de progresso nacional pela via democritica. 0 documento preliminar desta visdo 6 a autodotesa idol Castro, no julgementa feito sobre 9 agealto ao quertel Moneade, om Santiago dc Cuba, em 26 de julho de 1953, conhecido como La historia me absolveré. 23 ~ O termo é do poota e ensaista Ludovico Silva, 24 — Noste sontido, 6 utilizado por Juen Carlos Portantioro, om "Notas sobra la crisis y produecién do ascién hogoménica”, om Los usos de Gramsci, México, Folios, 1981. 25 — Esta posigdo tem uma longa tradigdo entre os econorristas liberals, Seu porta voz mals Conhecido na atualidade é Milton Friedman. 26 — Esta outra posiedo, sustentada no extromo politico eposto a0 do Friedman, pode 301 teneontrada am Clara Fassler, "Planificacién de salud an América Latina", am Panifcacién, salud y desarrolo, Secretatia do Ectado de Salud Pblica y Asistencia Social, Santo Domingo, 1980. Mario Testa | 127

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