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CEO
Sem Regras
Aretha V. Guedes
Sem Alternativa
C. Caraciolo
Sem Volta
Carol Moura
Ficha técnica
Copyright 2018 Aretha V. Guedes, Carol Moura e C. Caraciolo — Botando
Banca! & Editora Livros Prontos
SEM REGRAS
Aretha V. Guedes
Sinopse
Teste do sofá.
Já ouviu falar? É uma expressão usada para definir aquelas pessoas que
trocam sexo por benefícios. Se Teste do Sofá fosse um termo presente no
dicionário, haveria uma foto minha ao lado da definição.
Aos vinte e nove anos, herdei a beleza de minha mãe e a sagacidade para
os negócios do meu pai. De ambos, fiquei com a promiscuidade e o dinheiro.
Naquele momento, meu corpo nu balançava para cima e para baixo.
Joguei meus longos cabelos negros para trás e deslizei a mão pelo pescoço, colo
e seios, apertando meus mamilos e arfando em excitação. O homem loiro e de
corpo escultural embaixo de mim se inclinou e abocanhou o seio esquerdo. Sua
língua brincalhona me enlouquecia de prazer.
Eu era capaz de imaginar o que se passava na cabeça do rapaz, ele
provavelmente não acreditava na sorte que tinha. Afinal, uma ex-miss quis
transar com ele.
Eu quis transar com ele.
Meus seios fartos balançavam enquanto eu gemia e cavalgava. Mas logo
em seguida, Bernardo me colocou de quatro no sofá de veludo vermelho e,
segurando meus cabelos com força, me penetrou por trás.
Uma. Duas. Três vezes.
Eu rebolava e pedia por mais. Bernardo atendia. Meu desejo era uma
ordem. Quando gozei, mordendo a almofada que custava mais caro do que um
salário mínimo, o jovem rapaz logo me seguiu. Enquanto Bernardo ainda tentava
recuperar o fôlego, me levantei e fui até a toalete, onde me arrumei e vesti um
terno de alta costura. Aproveitei para retocar a maquiagem e ajeitar os cabelos,
trazendo de volta a aparência de antes do prazer.
No reflexo do espelho de moldura dourada, eu me vi impecável depois de
uma foda nota oito. Ótimo. Não seria bom para os negócios se a CEO da maior
agência do país fosse flagrada em um teste do sofá com um candidato a modelo,
por isso, precisava estar impecável como antes.
Voltei para o escritório e encontrei o rapaz ainda descartando a camisinha
no cesto de lixo ao lado da minha mesa. Minha vontade era de revirar os olhos,
afinal um modelo que demorava mais de cinco minutos para colocar uma roupa
não serviria para a passarela.
Suspirando, sentei em minha imponente cadeira preta e cruzei as pernas
por baixo da antiga mesa de mogno do meu pai. Voltei a folhear o portfólio do
candidato: bonito, alto, fotogênico, boa educação e sabia inglês básico. Sexo
razoável que culminou em um sorriso presunçoso e uma demora eterna para se
vestir. Hum... Ele iria para a lista de espera.
— Seu portfólio foi impressionante. Você será o primeiro da minha lista,
assim que surgir uma vaga — menti com um sorriso convincente no rosto.
— Muito obrigado, senhorita Grimaldi — ele se aproximou para me
beijar, porém desistiu quando percebeu minha expressão séria. Bernardo
estendeu o braço para um aperto de mãos e foi enfático: — E não se preocupe,
nossa pequena aventura ficará só entre nós.
Levantei-me, ficando mais alta que ele graças aos meus saltos, e avisei
calmamente, sem nenhum traço de humor:
— Claro que não, senhor Fontes. Porque se uma palavra sobre o nosso
pequeno interlúdio sair dessas quatro paredes, você nunca mais conseguirá um
emprego nesta cidade — inclinei-me, espalmando as mãos na mesa. — E eu não
estou me referindo apenas à carreira de modelo.
Assustado, o homem saiu da sala, e eu retornei à minha cadeira com um
sorriso de vitória no rosto. Aquilo foi mais divertido do que o orgasmo.
Eu definitivamente adorava testes do sofá.
Capítulo 1 — Leandro
Como não havia nenhum compromisso até mais tarde, me vesti e andei
pelas ruas de Cannes, revisitando os cafés que gostava e arriscando colocar o pé
na água fria. Não entendia como algumas pessoas conseguiam tomar banho
daquele jeito! Uma garotinha saiu do mar com os lábios arroxeados e tremendo,
correndo para o braço reconfortante da mãe e da toalha que a aguardava.
Eu adorava o frio, mas preferia o calor do Brasil.
Conversei com os moradores, tirando a ferrugem do meu francês. Um
simpático vendedor de flores de meia-idade e meio barrigudinho me convenceu
a comprar uma muda de íris, uma flor branca com pétalas manchadas de lilás e
amarela em seu centro.
Era tão agradável conversar com ele, parecia um vovô desses de filme.
Além de treinar o idioma do país, treinei também minhas habilidades de botânica
— que eram quase nulas — ao aprender o jeito certo de cuidar da planta, qual
tipo de vaso e a quantidade de sol adequada para ela. Ele estava tão feliz em
imaginar sua flor visitando terras estrangeiras, que não tive coragem de avisar a
verdade: a alfândega provavelmente barraria o seu produto.
Mesmo assim, voltei ao hotel com a muda nas mãos, pensando em como
havia algo sobre a calmaria de Cannes que me deixava nostálgica. Com uma
vontade de sentar e relaxar, apreciar a vista e as pessoas. O que era
completamente sem sentido, a vida calma nunca pertenceu a mim!
Como poderia sentir falta de algo que jamais tive?
Ao retornar, mal saí do elevador, e Alê, a modelo de longos cabelos
ruivos e pernas quase infindas, me arrastou até um dos quartos, uma penthouse
como a de Dimitri. Ela trancou a porta com a chave antes de falar qualquer
coisa.
— Como você chega, some e não me avisa nada? — Alessandra ralhou.
Observei ao redor, vendo a mesma disposição do quarto ocupado por
mim, mas com vestidos e sapatos de Alessandra espalhados pelos móveis. Pelo
jeito, os anos não mudaram a sua mania de nunca decidir qual roupa usar até que
seja o último minuto do evento.
Analisei um vestido dourado muito brilhoso e o joguei na pilha de
descarte, que sempre ficava em cima de sua mala. Ela não deveria ir a uma
premiação vestida como a própria estatueta.
— E desde quando eu preciso de autorização para andar na rua? — tentei
manter a expressão séria de CEO em reunião de negócios, mas comecei a rir ao
sentar na cama, onde o vestido dourado estivera um segundo antes. Alê se
encontrava no mesmo patamar de Lúcia, uma das poucas pessoas que entraram
no meu círculo de amizades e nunca saíram. — Estava só espairecendo, não fiz
nada imperdível.
— Deixe-me adivinhar, Dimitri te irritou em dois segundos? — balancei
a cabeça concordando, e Alessandra sorriu. — Não se preocupe, é a
especialidade dele. Vamos nos arrumar, devemos arrasar hoje. As atrizes de
Hollywood não serão páreo para nós.
Ela caminhou em toda sua exuberância de modelo até o celular, e uma
música começou a soar de uma caixinha de som perdida no meio de tantos
tecidos finos. A voz de Valesca Popozuda soou alto e claro, enchendo o hotel
refinado com o ritmo brasileiro.
Não consegui evitar: joguei a cabeça para trás e ri de sua escolha
musical. Era mais do que apropriada para nós duas. Cada uma pegou uma escova
e fez de microfone:
“O meu brilho, você quer
Meu perfume, você quer
Mas você não leva jeito
Pra ter sucesso, amor, tem que fazer direito”
Neste ritmo, entre brincadeiras e piadas, começamos a nos arrumar.
Enquanto Alê tomava banho, corri até a minha cobertura e peguei a mala. Não
havia sinal de Dimitri ou Dante. Coloquei a pequena muda na cabeceira da
cama, torcendo para que nenhuma camareira desavisada a jogasse fora.
E que nenhum ator arrogante ousasse fazê-lo.
Achei melhor deixar um bilhete, avisando para não tocar na minha
planta.
Retornei quando Alessandra já estava enrolada na toalha, penteando os
cabelos. Era a minha vez de usar o chuveiro. A música, ainda no modo “repetir”,
tocava.
Sentia-me bem naquele clima descontraído e mal me lembrava que não
queria estar ali, inicialmente. Alê — que já me vira nua nas diversas viagens à
trabalho e nas provas de roupa — entrou no banheiro de braços levantados,
segurando um pincel de blush na mão e me instigando a cantar o refrão em voz
alta. Sem escova à disposição, foi a vez do sabonete virar microfone:
“Eu já falei que eu sou top
Que eu sou poderosa
Veja o que eu vou te falar
Eu sou a diva que você quer copiar”
A música acabou e Alessandra correu para o quarto, em seguida começou
a tocar um rap da Karol Conká, Tombei. Não pude deixar de notar como as
escolhas eram tendenciosas. Eu tinha uma veia narcisista e sabia disso, mas a
Alê... Nossa! Ela era Narciso renascido.
E eu a adorava do jeitinho dela, sem mudar nada, porque Alessandra
possuía um brilho próprio, era realmente cativante. Enrolei-me na toalha, vendo-
a se maquiar em frente a um espelho de corpo inteiro, escondido perto do closet.
“Se quiser conferir, vem cá, pra ver se aguenta
Miro muito bem, enquanto você tenta
Enquanto mamacita fala, vagabundo senta
Mamacita fala, vagabundo senta”
De calcinha e sutiã, preparei a pele sem parar de me mover. Eu tinha feito
diversos cursos de maquiagem durante a carreira de modelo para aprender a me
arrumar sozinha, gostava de como o resultado era sempre do jeito que eu queria.
Mais tarde, um hair stylist viria para ajeitar o penteado. O som continuava a
tocar:
“Faça o que eu falo
E se tiver tão complicado
É porque não tá preparado
Se retire, pode ir”
Alessandra me puxou pela mão e nós duas cantamos juntas: “Já que é pra
tombar, tombei”. Eu me senti com vinte anos de novo. Ficava tão presa ao
mundo dos negócios, que esquecia de aproveitar a vida. Decidi relaxar um
pouco, como mamãe tinha sugerido. Eu gostava de minhas regras, mas talvez
pudesse adaptá-las.
“Já falei que é no meu tempo
As minhas regras vão te causar um efeito
É quando eu quero, se conforma, é desse jeito
Se quer falar comigo então fala direito”
Quando terminei de me arrumar, senti-me poderosa em um Valentino
preto, longo, com decote profundo e que se aderia ao corpo como uma segunda
pele.
No rosto, o destaque da maquiagem era o batom matte vermelho,
marcando a boca desenhada. O salto alto e o colar com uma gota de diamante
completavam o visual. O cabelo foi arrumado em suaves e naturais ondas que
caíam pelo ombro.
Pietro — o cabelereiro mais divertido da França — nos arrumou no
quarto. Ele não entendia uma palavra do que a música dizia, mas tentava cantar
imitando o português, fazendo uma língua que só Deus era capaz de
compreender. Despedimo-nos dele com dois beijinhos e ouvimos uma promessa
de visita ao Brasil.
— Ei, vamos para Paris amanhã? — perguntei enquanto colocava meus
itens mais essenciais dentro da bolsa preta de alta costura. — Estou em férias
forçadas por uma semana, pensei em ir até lá e depois a Londres, topa?
Ela borrifou seu perfume francês favorito, Channel Nº5, e me olhou com
o cenho franzido, sabendo da minha leve tendência de ser viciada em trabalho.
— Você? Férias forçadas?
O ceticismo em sua voz deixava claro sua dúvida sobre eu fazer algo
forçado. E era verdade. Vim a Cannes por causa do contrato milionário e decidi
tirar férias porque mamãe me convenceu que eu precisava. A viagem para Paris,
entretanto, tinha propósitos maiores do que ver a torre Eiffel. Eu queria
encontrar uma das editoras da Vogue francesa, Anne-Marie Blanchard.
— Sim — dei de ombros. — Eu deixei tudo bem detalhado para a
mamãe.
— E para a Lúcia? — questionou enquanto eu largava minha mala de
volta na cobertura, com a echarpe que eu havia desistido de usar. Enquanto
caminhávamos para o elevador, segurei o riso. Era meio óbvio que eu tinha
instruído minha gerente com milhares de recomendações. Alê virou-se para
mim, ajeitando a alça do meu vestido. — Não posso, combinei com os rapazes
de ir a um cruzeiro pela costa europeia. Quer ir?
Ela se desculpou com o olhar, sabendo que eu não entraria em um barco
por livre e espontânea vontade. Balancei a cabeça negando, e o elevador apitou,
abrindo a porta.
O saguão estava lotado com pessoas indo e vindo em roupas elegantes.
Não foi apenas a comitiva de Pendleton que se hospedara ali, o hotel era uma
concentração de celebridades. Estava acostumada a ver homens lindos, porém
perdi a fala ao ver a dupla dinâmica — ou DD, como Alê costumava chamar
Dante e Dimitri — de smoking. Junto com eles, Pendleton, de braços dados com
uma jovem loira, nos cumprimentou com um sorriso amistoso demais para a
cobra por baixo da pele de empresário:
— Espero que tenha feito uma boa viagem.
Retribui o sorriso, estendendo a mão em cumprimento, ele a pegou e
beijou o dorso.
— A viagem foi maravilhosa — disse. — Não havia como ser diferente,
se estava na primeira classe.
— Para você, eu sempre ofereceria o melhor.
Senti seu polegar fazer círculos na parte central da palma da minha mão,
ainda presa na dele.
Puxei o braço de volta, a minha resistência em ir a Cannes não era
somente pelo trabalho ou por não querer servir de babá de marmanjo. Era ele:
Pendleton. Não conseguia me sentir à vontade em sua presença. Apesar do frio
que percorreu minha coluna, mantive as aparências:
— Obrigada, não esperava menos do senhor.
Fiquei de frente para a dupla de atores, a beleza do saguão do hotel, com
seu piso de mármore, lustre do mais delicado cristal e perfumadas flores típicas
da França, era ofuscada pela presença daqueles homens.
O sorriso luminoso de Dante era tão tentador quanto o ar soturno de
Dimitri, cujo cabelo um pouco mais comprido estava bem preso. A barba cheia
parecia mais curta, ele provavelmente cuidara dela durante a tarde. Os olhos
verdes permaneciam os mesmos, claro, repletos de promessas obscuras.
Ele colocou a mão na base da minha coluna.
— Não precisava fugir — sua voz rouca, tão próxima da minha orelha,
arrepiou a minha pele. — Eu não mordo, a menos que você me peça, é claro.
Respirei fundo, perguntando-me por que precisava resistir à tentação. Eu
gostava de manter o controle, sabia com quem poderia transar sem consequência
alguma. O ator bad boy era uma incógnita, e este era o grande problema. Ele
poderia ser o perfeito caso de uma noite, mas também poderia render uma
matéria escandalosa em jornais de fofoca.
Entrei na suntuosa limusine ainda ponderando minhas opções. Resistir à
tentação era muito mais chato do que ceder completamente.
Quanto antes aquela noite terminasse, melhor.
Capítulo 7 — Festival
Dimitri fazia mais do que sexo, ele venerava o corpo da mulher. Suas
mãos tocavam cada centímetro da minha pele, e ele beijou e chupou tudo que
encostava. Eu me contorcia nos lençóis de cetim antes mesmo de ser penetrada.
Sua boca parecia feita para dar prazer, e eu retribuía chupando-o com o mesmo
vigor.
— Fique de quatro — ele ordenou.
Dimitri me virou de costas, e logo senti um tapa na bunda. Ele agarrou
meus cabelos e puxou a cabeça para trás enquanto segurava minha garganta com
a outra mão. O leve aperto no pescoço roubou meu fôlego e me excitou ainda
mais.
Quanto mais excitado, mais ele ia rápido e dizia palavras que não
compreendia e que eu nem me dava ao trabalho de entender. Apenas apreciava o
tom sexy e urgente em seu sotaque sedutor.
Sua mão desceu do pescoço e passeou por todo meu corpo até alcançar
minha bunda, onde desferiu outro tapa.
— Você é gostosa pra caralho — ele me puxou para mais perto,
desferindo outro golpe e mais outro. A cada um, eu gemia de prazer.
Ele me penetrou forte, sem aviso. Sabia que não teria problemas, pois
estava completamente molhada. A cada investida, ele ia mais fundo e mais
rápido, levando-me aos limites do prazer.
O silêncio do quarto era preenchido pelo barulho dos nossos corpos se
chocando, pelos meus gemidos enlouquecidos e, de repente, por um grito:
— Porra, Dimitri, você tem que estar de brincadeira comigo. Eu ainda
fiquei preocupado, achando que tinha passado mal de verdade! Caralho, como
caí nessa?
Nós paramos no ato e viramos para enfrentar um irado Dante. Ele jogou
um troféu na cama.
— Parabéns, idiota, você venceu como melhor ator, e nem estava lá para
receber o prêmio. O filme também ganhou a Palma de Ouro, caso isso seja do
seu interesse.
Dimitri levantou-se e colocou o troféu em cima da mesa de cabeceira, ao
lado da esquecida muda de planta. Eu me escondi embaixo do lençol e observei
estupefata como ele andou com tranquilidade até o minibar e pegou uma garrafa
de champanhe.
— Ótimo, junte-se a nós e vamos comemorar! — ele estendeu a garrafa
para o amigo.
— O quê? — pulei da cama, enrolada em cetim. — Você está louco?
Dante olhou de esguelha para a garrafa, mas logo sorriu e aceitou. Seus
olhos, que antes eram tão gentis, pareciam mais predatórios. A tensão sexual no
quarto era palpável, e eu lambi os lábios quando Dante levou a garrafa à boca e
bebeu um gole direto do gargalo.
Dimitri passou a mão pela echarpe preta de renda que eu havia
abandonado no quarto, se aproximou sorrateiro e me beijou, envolvendo meu
corpo em seus braços, sua língua invadindo minha boca. Dante não se moveu,
era uma presença sólida em minhas costas. A minha indignação foi substituída
por desejo, com apenas um segundo de dúvida entre eles. Eu nunca tinha tentado
algo como aquilo que estava sendo sugerido.
Seria uma novidade e tanto.
— O que acontece em Cannes, fica em Cannes — Dante disse,
aproximando-se de mim.
— Isso vale para Vegas, não? — perguntei, desconfiada.
Dimitri me abraçou por trás e puxou o lençol, deixando-me nua na frente
dos dois.
— E quem se importa?
Diante dos olhos famintos daqueles homens viris, com certeza eu não me
importaria com nada.
Dimitri derramou champanhe no meu ombro e lambeu. Dante me beijou,
tomando meus lábios com ardor. Eu me virei, ficando de frente para Dante, com
o corpo grudado ao dele. Assustei-me com um tecido escuro sendo colocado
contra os meus olhos. Dimitri me vendou com a echarpe preta que ele estivera
observando antes e puxou minha cabeça para trás.
Prensada entre os dois e com a visão comprometida, apesar de ainda ser
capaz de enxergar um pouco através da renda, eu era incapaz de raciocinar. Em
um momento, estava em pé, no segundo seguinte, me encontrava deitada
encarando dois homens lindos, um loiro e outro moreno, ambos parecendo feitos
para o pecado.
Mais bebida foi derramada em meu corpo, duas línguas, quatro mãos,
vinte dedos. Todos em mim. Sentindo. Apertando. Beijando. Acariciando. Meus
sentidos estavam sobrecarregados e o prazer dominava meu corpo.
Naquele momento, eu era deles.
Dante colocou uma camisinha e cobriu meu corpo com o seu, gemi
quando ele me penetrou. Dentro e fora. Dentro e fora. Dimitri se ajoelhou na
altura da minha cabeça e me segurou pelo lenço quando eu voltei a chupá-lo.
— Será que você aguenta mais? — Dante desafiou, e Dimitri me olhou
em dúvida.
Meu coração que estava acelerado, retumbou no peito.
— Quanto é mais?
Minha pergunta era mais carregada de curiosidade do que receio. Dimitri
abriu uma gaveta na mesinha de cabeceira, tirando um tubo vermelho e outra
camisinha de lá.
— De joelhos — foi tudo que ele falou.
Os dois inverteram a posição, e agora era o Dante que eu saboreava.
Senti algo viscoso entre minhas nádegas, e eu sabia o que viria, não seria a
minha primeira vez ali. Um dedo começou a brincar com minha bunda e logo em
seguida outro. A dor era pequena e ainda capaz de administrar, até que algo
muito maior substituiu os dois dedos, e eu prendi o fôlego.
— Respire e relaxe. — Dante falou em meu ouvido e me beijou com
ardor. Fiz o que ele pediu, e logo Dimitri me penetrou por completo. Respirei
várias vezes, tentando me acostumar com a sensação. — Isso, gostosa.
Dante continuou a beijar, e Dimitri esticou o braço para esfregar o meu
clitóris. Eles me acariciaram em sincronia, o prazer voltou a dominar meu corpo.
Dimitri parecia se segurar a cada vez que chegava perto de gozar, até que deve
ter ido perto demais e saiu de mim para não terminar a diversão antes do tempo e
trocar a camisinha por uma nova.
Dante deitou-se na cama e pediu que eu montasse nele, o que fiz com
muito prazer. Meus seios balançavam enquanto eu cavalgava com vontade, meus
gemidos poderiam ser ouvidos por toda Cannes, que não me importaria. Eu
estava tão perto...
Senti as mãos de Dimitri em minhas costas, empurrando-me para baixo,
deitada contra o peito de Dante. Eu não era inocente a ponto de não saber qual
era a intenção dos dois. Sempre foi algo que quis testar, saber se conseguiria, se
seria capaz de suportar, e estava doida para descobrir.
Tentei relaxar novamente, porém desta vez, todo meu fôlego foi roubado.
Estava preenchida como nunca estivera antes. Os dois começaram a se mover de
forma alternada e rítmica. Meu corpo queimava em chamas, ardendo em
labaredas de pura luxúria. O prazer misturado com a pontada de dor. Eu me
sentia completa e na beira de um precipício.
— Grite! — Dimitri puxou meus cabelos para trás e me penetrou mais
forte. Dante abocanhou meu seio e segurou meus quadris, dando mais impulso
ao movimento. Nenhum de nós três demorou muito antes do prazer dominar
nossos corpos e sobrepujar nossos sentidos.
Estava exausta, o suor pingava de meu corpo e parecia que não
recuperaria o fôlego tão cedo. Os dois homens se encontravam em uma situação
melhor. Talvez devesse mudar o meu personal trainer, as aulas de pilates não
estavam me preparando apropriadamente para pequenas orgias como aquela.
— Que tal um banho e pizza? — Dante sugeriu e levantou-se para
acionar a água quente da banheira.
— Eu não consigo me mexer... — reclamei e me perguntei como eles
tinham força para qualquer coisa que não fosse desmaiar e dormir.
— Não seja por isto! — Dimitri me pegou no colo e levou-me até o
banheiro. — Não há nada que um bom banho não resolva.
Nós três terminamos a noite na banheira, depois na cama e depois na
banheira de novo.
Algumas horas sem regras era o sinônimo do prazer.
Capítulo 9 — Outro dia
— Pensei que você estava sexy ontem — Dimitri disse quando baixei a
tela do notebook e me levantei para guardar na mala. — Mas te ver no comando
e gritando ordens é muito mais quente. Você se importa de verdade com a
empresa, não é?
— É óbvio, a empresa é minha vida.
Cruzei os braços, observando-o. Dimitri havia tomado banho, e a única
coisa que cobria seu corpo nu era a toalha branca do hotel enrolada em seu
quadril. Na luz da manhã, ele era tão tentador quanto estivera na noite anterior.
Ele encarou o teto, seu corpo estranhamente tenso, apesar de tentar parecer
relaxado.
— O que você esperava?
Sua voz parecia distante quando falou:
— Não sei, uma garota mimada brincando de ser chefe.
Sua afirmação me chateava, porém não me surpreendia. Eu geralmente
era subestimada por aqueles que não me conheciam.
Logo eles percebiam o engano.
Quando eu precisava falar sobre a empresa ou manter relações sociais,
sempre era uma mulher muito eloquente. Porém, conversar banalidades com um
cara depois de transar estava além da minha alçada.
— O que você quer? — optei pela sinceridade. — Estou muito irritada
para fazer sexo agora.
Dimitri se levantou, dando de ombros e deixando que a toalha fosse ao
chão. Eu pensava que era à vontade com meu corpo, mas ele alcançava outro
patamar. Contudo, por mais lindo que Dimitri fosse, homens sem roupa não
abalavam tanto minha tranquilidade exterior, apesar de me aquecer por dentro.
— Tem certeza? Sexo sempre me ajuda depois de um dia estressante —
ele deu a volta na cama, passando por mim antes de entrar no closet. — Vamos
sair para almoçar, então?
— Eu deveria bancar a babá, não o contrário — falei, lembrando-o do
meu propósito ali, porém já me dirigindo ao banheiro. Ainda estava de biquíni.
Quando entrei no chuveiro, não tranquei a porta. Queria ver até onde ia a
ousadia do ator. E, como esperado, minutos depois, Dimitri, em jeans e jaqueta
preta, entrou no cômodo e sentou na borda da banheira, observando-me através
do vidro transparente do box.
Se ele queria olhar, eu daria um show.
Enchi minhas mãos com a espuma do caro sabonete disponibilizado pelo
hotel — o quarto mais caro tinha os melhores produtos. Esfreguei os seios,
beliscando a ponta dos mamilos com a unha. Pelo vidro salpicado com gotículas
de água, vi sua boca se entreabrir em um “o” perfeito.
Levei uma mão à minha boca e suguei meu indicador, lembrando da
noite anterior, quando era Dimitri o que eu tinha entre os lábios. A mão que
ainda estava nos seios viajou mais para baixo, pela barriga e entre as pernas. Eu
me apoiei na parede, meu próprio dedo me penetrando, sendo seguido por outro.
Para dentro e para fora.
Preguiçoso e rápido.
Eu brincava comigo, tendo um homem divino como espectador.
Minha intenção inicial era provocá-lo, mostrar que dois poderiam jogar
aquele jogo de sedução. Agora eu começava a repensar a minha decisão de não
usar o sexo para relaxar. O chuveiro ainda aberto jorrava água morna em minha
pele, acariciando-a. Fechei os olhos, entregando-me ao prazer que eu me
proporcionava.
Mãos quentes seguraram minhas coxas, forçando-as a separar. Dimitri
estava ajoelhado em frente a mim, completamente vestido e sem se importar
com a água escorrendo pelas suas roupas.
Abri as pernas como ele silenciosamente pedia, passando uma delas pelo
seu ombro. Era uma dança estranha a que fazíamos, e eu precisava me equilibrar
para não sucumbir ante o ataque de sua habilidosa língua.
Foi a vez dele de acrescentar dedos à brincadeira, porém os dele eram
maiores, entravam e saiam sem parar, não dando espaço aos meus. Não era uma
provocação, era uma ordem para me fazer gozar. E eu o fiz, puxando seus
cabelos e gritando seu nome.
— Vire-se para a parede e se apoie com as mãos — ele comandou e eu
obedeci.
Logo Dimitri estava me penetrando por trás, puxando minha cabeça de
encontro ao seu peito pelo meu pescoço, beijando-me com os resquícios do meu
sabor em seus lábios.
Dimitri era o tipo de cara com quem eu não me importava de repetir a
dose.
Foi preciso quase uma hora para que conseguíssemos sair do quarto.
Dante e Alê nos aguardavam no saguão. Ele com sorriso conhecedor, ela com a
expressão parecida com a minha: de quem tinha acabado de transar e estava bem
satisfeita.
— Cinthia, é sempre um prazer revê-la — Dante segurou a minha mão e
beijou, seus lábios demorando um segundo a mais do que o necessário.
— Você me conheceu ontem — disse em tom condescendente. — Não
teve a oportunidade de me rever tantas vezes assim.
Ele piscou um olho e ficou perto a ponto de seu hálito quente encostar na
curvatura do meu pescoço:
— Foi, no entanto, bastante prazeroso nas duas vezes.
Meu sorriso em resposta foi pouco amistoso. Se fosse agenciado por
mim, seria rejeitado da agência só pela piadinha. Um cara que não consegue
manter a boca fechada não é um bom amante ou contratado.
Diminuí o espaço entre nós, envolvendo os braços ao redor de seus
ombros, como um abraço cordial entre amigos que se encontravam no saguão
principal do hotel.
— Se eu fosse você, teria muito cuidado com as brincadeiras e com a
língua — sussurrei em seu ouvido com um tom ameaçador. — Não esqueça que
eu detenho os direitos de negociação para todas as suas propagandas e eventos.
Ele mordiscou o lábio inferior e me deu um olhar sujo, sua voz era baixa,
o suficiente apenas para que eu e as duas pessoas ao redor ouvissem:
— O tesão que eu tinha por você acabou de triplicar, mas não se
preocupe, minha boca é um túmulo, senhorita Grimaldi.
Revirei os olhos. O carisma de Dante o levava a ser eloquente demais,
quase canastrão. Talvez devesse aprender com Dimitri a mais observar do que
falar.
— Vamos comer? — Alessandra enlaçou seu braço com o meu,
quebrando a tensão e a resposta que eu pretendia dar. — Estou com fome e não
quero passar o dia trancada no hotel.
Os rapazes haviam alugado um carro e fomos ao restaurante à beira-mar
L’Alba, um lugar pitoresco, com uma sacada em madeira que se estendia em
direção à areia. Mais além, o mar mediterrâneo cortado por um píer repleto de
turistas era emoldurado por extensas serras.
Pedimos uma seleção de frutos do mar e salada de entrada. Antes que
qualquer um pudesse começar uma conversa enquanto aguardávamos a refeição,
Alessandra me chamou à toalete. Eu imediatamente a segui, sabendo que a
curiosidade deveria estar enlouquecendo-a. Ela verificou as cabines do luxuoso
banheiro decorado em tons claros, como o resto do restaurante. Não tinha mais
ninguém ali.
— Você transou com o Dante? — ela sentou no balcão de mármore da
pia, suas longas pernas quase tocavam o chão, mas Alessandra ainda conseguia
balançá-las como uma criança feliz em manhã de natal. — Achei que o Dimitri
não estava doente de verdade e vocês tinham mentido para escapar...
Sentei-me no pequeno sofá bege, preparando-me para o pulo que ela
daria quando soubesse de tudo.
— Sim e sim — respondi, evasiva.
Alê franziu a testa, sem compreender.
— Sim e sim o quê? — seus olhos se arregalaram. — Você transou com
um e depois com o outro? Sua cachorra! E aí, o Dimitri é bem-dotado também?
— Não exatamente... — permaneci esquivando de respostas diretas.
Afinal, não era todo dia que eu podia me gabar de ter feito um ménage com dois
homens gostosos.
Pensando bem... Eu poderia, se quisesse.
O sorriso nos lábios de Alê murcharam, sendo substituído por uma
expressão de decepção.
— Poxa, Dimitri é pinto de seringa? — ela parecia verdadeiramente
chateada, como se eu tivesse acabado de esmagar suas fantasias eróticas.
Eu, por outro lado, não conseguia parar de gargalhar, imaginando uma
seringa de um milímetro entre as pernas de Dimitri. Mesmo a de dez seria
pequena perto dele.
— Eu quis dizer que não fiquei com um e depois o outro — enfatizei a
palavra, esperando que ela entendesse.
Seu cenho voltou a franzir enquanto Alessandra parecia processar a
informação. Podia ver a compreensão em sua feição chocada, com a boca
escancarada. Como esperado, ela pulou do balcão para sentar ao meu lado.
— Conte-me cada detalhe.
Falei sobre a saída do evento, transar com Dimitri — que estava longe de
ser seringa, para o alívio de Alessandra —, a chegada inesperada de Dante e o
que aconteceu depois. Uma mulher entrou no banheiro, mas como falávamos em
português, não interrompi minha história, ela não entenderia nada mesmo.
— Foi uma decisão sóbria, não estava bêbada — pensei bem, lembrando
das sensações da noite passada. — Porém me encontrava inebriada de desejo.
Alessandra me olhava como se eu fosse algum ser místico ou a inventora
da roda em tempos primordiais.
— Qual foi a sensação? — ela questionou.
Apoiei minha cabeça no encosto.
— Por um segundo, é assustador, como se você não pudesse dar conta
deles. Depois, qualquer raciocínio lógico lhe escapa da mente. Eles te preenchem
por completo, estando em todo lugar ao mesmo tempo — suspirei. — É como se
cada terminação nervosa sua fosse ativada.
— Meu Deus! Eu quero fazer também! — Alessandra bateu palmas com
animação, como se estivéssemos falando sobre um passeio no parque, e não
sobre transar com dois homens de uma vez só. — E eu achando que minha noite
tinha sido espetacular com o Leo Grant!
Ela me contou sobre o experiente ator com mais de quarenta anos que
encantava as mulheres do mundo todo. Lindo e cobiçado, era um selvagem na
cama, segundo Alê. Ela o conheceu no after party, a festa depois do evento. Eu
senti um pouco por ter perdido a festa, mas ainda preferia a minha
comemoração.
— Vamos almoçar antes que eles mandem nos procurar no banheiro,
provavelmente estamos trancadas aqui há meia hora — puxei-a para fora,
caminhando entre risadas e fofocas com minha amiga.
De volta à mesa, os rapazes não estavam preocupados com nossa
demora, na verdade, pareciam bem orgulhosos de si. Provavelmente chegaram à
correta conclusão de que eu estava contando para ela sobre nossa aventura.
A comida tinha um sabor divino, como sempre. Conversávamos sobre o
Brasil, nossas carreiras e Pendleton. Nada como um almoço com seus clientes
para descobrir um pouco mais do ambicioso empresário. Alguns sorrisos doces
meus e de Alê, e os rapazes já estavam contando tudo que sabiam.
Eu, obviamente, fazia uma nota mental a cada detalhe importante.
Dante lambeu a colher da sobremesa olhando para mim, sua língua
passando pelo metal, lembrando-me de onde ela estivera antes. E de como me
deu prazer.
— Eu tive uma ideia... — ele falou. — Nós quatro somos uma boa
equipe, deveríamos voltar para o hotel todos juntos.
Ninguém era idiota a ponto de não entender qual era a sua sugestão. Que
Dimitri aceitaria, eu não tinha dúvidas. Já a Alê... Ela me encarava com uma
sobrancelha levantada. Estávamos prontas para ultrapassar esta linha em nossa
amizade de anos?
Capítulo 11 — Despedida
Capítulo 12 — Paris
O rio Sena brilhava sob as luzes da lua e da cidade, havia chovido mais
cedo e o frio penetrava pelo meu casaco. Esfreguei uma mão na outra para
aquecer os dedos congelados, apesar das luvas de lã.
Notre-Dame e suas imponentes gárgulas se agigantavam diante de mim à
medida que caminhava em sua direção. Eu gostava de andar pelas ruas da Île de
la Cité, uma das duas pequenas ilhas no coração de Paris, me sentia em um filme
romântico antigo. Por isso sempre ficava no hotel D’Aubusson, onde eu poderia
ir a pé para admirar a catedral.
Nos jardins de Notre-Dame, pisei na estrela gravada no chão, o Marco
Zero, onde tudo começou. Olhei para cima, desejando estar no campanário entre
as gárgulas de pedra.
— Nunca imaginei que você fosse do tipo religiosa — Dimitri me
abraçou por trás, aquecendo-me um pouco com o calor do seu corpo. — Pensei
que seria mais do tipo Torre Eiffel.
Eu virei a cabeça de lado e beijei seus lábios antes de voltarmos a
caminhar entre os jardins.
— Você quer dizer o falo gigante de ferro? — dei de ombros. — Eu
gosto, sou muito a favor de falos gigantes — olhei para ele de forma sugestiva, e
Dimitri sorriu. — Mas prefiro o clima medieval daqui. A gente pode ver o local
onde o último grão-mestre dos templários foi queimado em praça pública ou
então a igreja onde mantiveram Maria Antonieta presa antes de ser decapitada e
tantas outras coisas legais.
Dimitri franziu o cenho e me olhou como se eu tivesse criado duas
cabeças.
— Você conseguiu extinguir todo o romantismo de Paris!
Dei uma cotovelada em sua barriga, mas ele provavelmente nem deve ter
sentido, considerando o sobretudo enorme que usava por cima de duas blusas de
lã.
Aqueles que eu havia mencionado eram grandes líderes, e outras pessoas
tiraram não apenas o seu poder, mas também suas vidas. Não importa quão alto
estejamos, ninguém é inalcançável. Esta era a razão para me isolar e não deixar
outros se aproximarem. Eu sempre me sentia sozinha em meio a uma multidão.
Olhei para a catedral mais uma vez, pensando em como responder a
Dimitri.
— Me faz lembrar que qualquer um pode cair — apontei para as antigas
gárgulas no alto das torres de Notre-Dame. — Porém, se você tiver uma visão
mais ampla, enxergar mais longe e for feroz, ninguém te derrubará.
Aquela era a minha segunda estratégia: o ataque era a melhor defesa.
Ele seguiu a direção apontada pelo meu dedo e digeriu a analogia
enquanto observava as estátuas.
— Então você quer ser como elas? — Dimitri voltou o olhar para mim.
— Fria, de pedra e inalcançável?
Em outro momento, eu teria concordado sem pestanejar. Queria ser
distante e estar acima de todos, onde ninguém pudesse tocar em mim ou em
minha empresa. No entanto, com seus verdes olhos perfurando a minha alma, eu
começava a me ver presa naquela esmeralda sem fim, sem saber como escapar
do desejo daquela presença.
Nem ao menos tinha certeza se pretendia escapar dele.
Diante do meu silêncio, Dimitri me beijou. Seus lábios provocantes nos
meus, a exigente língua pedindo passagem. E sob o vigilante olhar das
centenárias gárgulas, eu me derreti em seus braços.
Era estranho como os planos poderiam mudar. Eu tinha acabado de
rejeitar sexo a quatro em Cannes e pensava que viajaria sozinha para Paris. De
repente, me vi na cama com Dimitri decidindo que uma viagem para a capital
francesa parecia mais interessante do que um cruzeiro pela costa europeia.
Não sabia ao certo como Dimitri havia me convencido a trocar minha
reserva no hotel de uma pessoa para duas. Provavelmente, tinha algo a ver com
ele dizendo que não estava saciado de mim.
Dimitri perdeu sua passagem para o cruzeiro e nós partimos em um avião
para Paris. Mais cedo, depois da curtíssima viagem, fomos direto ao hotel e não
saímos do quarto. Nosso tempo foi gasto entre lençóis de algodão egípcio, até a
fome nos obrigar a dar uma volta pela cidade.
— A gente podia ter pedido comida no quarto, sabe? — ele mordeu
minha orelha.
Inclinei a cabeça, dando acesso livre ao meu pescoço, onde ele salpicou
beijos antes de lembrar que estávamos em público. Dimitri segurou minha mão,
conduzindo-me de volta às margens do rio Sena. Um navio iluminado estava
ancorado e casais subiam nele, animados com o passeio.
— Não... precisamos andar um pouco, ou ficaremos enjoado um do outro
muito rápido — pisquei um olho para ele. — E aí você terá perdido seu cruzeiro
por nada.
— A gente pode jantar ali, assim você me compensa pelo passeio perdido
— ele apontou para a embarcação que eu observava segundos antes.
Estaquei de forma tão abrupta, que Dimitri, ao continuar andando, foi
puxado para trás por nossas mãos conectadas. Inicialmente, ele riu da minha
reação, mas quando me olhou de perto, aproximou-se, preocupado.
— Ei, o que eu falei de errado? — ele tocou em minha pele. — Você está
mais fria e pálida, vamos sentar.
Eu odiava me sentir fraca, principalmente em público, mas era assim que
eu ficava quando estava tão perto de um barco e me imaginava subindo nele. O
medo era algo irracional e debilitante. Incontrolável.
Respirei fundo umas três vezes para acalmar meu coração acelerado,
engolindo o pavor antes que ele tivesse condições de realmente se manifestar.
Dimitri me indicou um dos bancos nos jardins da catedral, e sentamos um ao
lado do outro em silêncio. Encarei os meus pés, buscando as palavras certas.
— Desculpa, tive um trauma com barcos na infância e às vezes ele volta
para me assombrar — ele abriu a boca para falar, mas eu o interrompi. — Antes
que você me encha de perguntas, já fiz terapia e me ajudou bastante, consigo
entrar em piscina e até adoro entrar no mar. São os barcos que me deixam assim.
Ele se recostou no banco de madeira e olhou na direção do rio, onde o
navio ainda devia estar ancorado. Sua atenção se voltou para mim.
— Ia te convidar para tomar um vinho, não pretendia “encher de
perguntas”.
— Seria o primeiro — falei mais para mim do que para ele.
Entretanto, Dimitri ouviu.
Imitei sua posição, recostando-me no banco e aproveitei para apoiar
minha cabeça no encosto. O céu de Paris brilhava com milhares de estrelas para
mim. Fechei os olhos, sentindo a leve brisa contra o suor frio que se apoderara
de mim.
Um delicado beijo em cada uma das minhas pálpebras fechadas me fez
encarar o homem ao meu lado, meio que pairando sobre mim.
— Eu gostei.
Levantei uma sobrancelha, sem entender direito:
— Você gostou de me ver ter um pequeno ataque?
— Sim — ele ergueu levemente os ombros e explicou: — Te deixou mais
humana, como todos nós, reles mortais.
Com aquilo, sentei-me ereta e segurei a gargalhada que queria escapar da
boca.
— Ah, sim! Falou o reles mortal que é um ator vindo da Rússia, com
quase dois metros de altura, lindo, gostoso, desejado, vencedor de duas
estatuetas no festival de Cannes!
— Sabe, você é até legal quando não é uma megera metida — ele disse,
puxando-me para perto, seu nariz contra a curvatura do meu pescoço e a barba
de dois dias arranhando minha pele.
Coloquei a mão em seu rosto, sentindo o queixo quadrado sob minha
palma, e Dimitri inclinou levemente a cabeça, em direção ao meu toque. Deslizei
meu polegar pela maciez de seus lábios. Os olhos verdes, agora escuros por
causa da pouca iluminação, me encaravam com intensidade.
— Você até que é legal quando não é um bad boy arrogante.
Ficamos ali, conversando bobagens às margens do rio Sena. A presença
reconfortante de Dimitri até me fez esquecer do navio zarpando com seus
passageiros para um dos mais românticos passeios de Paris.
Um que eu nunca iria ver, mas não me importava nenhum pouco.
Jantar em terra firme com Dimitri era uma opção muito melhor.
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Não fui a Londres.
Os dias seguintes passaram voando, divididos entre passeios por Paris e
horas na cama. Visitamos a sede parisiense da Vogue e além de uma conversa
animada com a Anne-Marie, terminamos concedendo uma entrevista à famosa
revista. Pelo menos, compensaria Pendleton por Dimitri não ter ficado o evento
inteiro em Cannes.
Era o quinto dia em Paris e sétimo em que eu estava fora do Brasil,
minhas férias chegavam ao fim. Não haveria mais passeios às margens do Sena,
visitas ao campanário de Notre-Dame ou jantares no segundo andar da torre
Eiffel.
Também não haveria mais Dimitri...
Ele iria para a Rússia, visitar a família. Apoiei a cabeça no travesseiro e o
observei dormindo. Ele parecia tão pacífico e relaxado, com os cabelos caindo
pelo rosto.
Nos últimos dias, conheci um Dimitri diferente daquele apresentado na
televisão. Era intenso, lindo e charmoso, mas havia várias camadas por trás:
cuidado, gentileza, senso de humor. Sentia como se Dimitri atuasse o tempo
todo, como se o ator grosseiro e problemático não passasse de mais um dos seus
papéis. Segundo ele, o bad boy rude vendia mais do que o bom moço.
Descobrir essas coisas era curioso para mim. Eu tinha amigos e
conhecidos, colegas de trabalho, homens e mulheres, contudo era raro eu manter
um laço e até uma conversa normal com uma pessoa depois de transar com ela.
Quando eram os rapazes do “teste do sofá”, nossa interação se restringia
a sexo e negócios. Nenhum jamais havia sentado comigo para tomar um café,
desperdiçando uma tarde de sexo selvagem a três com uma top model em terras
francesas ou desistido de um cruzeiro para viajar ao meu lado.
Verifiquei a hora no celular, constatando que a soneca após o primeiro
sexo da tarde precisava acabar. Sentei na cama, tirar férias tinha me deixado
mole: eu nem tinha partido, e já havia um sentimento de nostalgia por Paris em
meu peito.
Era só uma cidade.
Eram só cinco dias.
Era apenas um homem.
Antes que eu pudesse levantar, um braço forte me segurou pela cintura e
me puxou de encontro ao colchão. Dimitri montou em cima de mim, seu
semblante sonolento desaparecera, sendo substituído por uma expressão
indecifrável. Ele acariciou meu rosto e encostou minha testa na sua.
— Sentirei sua falta — disse entre beijos salpicados em minha face,
terminando com um na boca que me impedia de responder.
Eu sentiria falta dele também.
Suas mãos se prenderam nas alças de minha camisola, descendo-a até
expor meus seios. A boca atrevida deixou um rastro de beijos pelo meu pescoço,
indo em direção ao mamilo intumescido. Dimitri me adorou com lábios, mãos e
dentes antes de me penetrar com força, fazendo-me esquecer de qualquer coisa
que não fosse aquele homem e o que ele me fazia sentir.
Capítulo 13 — Descoberta
Não compreendia como nos sete dias em que estive ausente, minha mãe
conseguiu atrasar quase dois meses de trabalho. Ela autorizou serviços e
propagandas demais na mesma semana do Fashion Week, desorganizou o
esquema de rodízio de modelos que eu havia preparado e fez alguns contratos
abaixo do nosso padrão. Minha sorte era Lúcia, sempre ao meu lado e me
ajudando — contanto que eu não parasse de contar e recontar sobre o ocorrido
em Cannes e em Paris.
Nas últimas cinco semanas, trabalhei sem descanso. Minha boca se abriu
em um enorme bocejo, tirar férias me deixou mesmo mole, nunca senti tanta
sonolência na vida!
— Senhorita Grimaldi — Júlia me chamou pelo intercomunicador. — O
senhor Rodrigues está aqui.
Imediatamente, observei o homem pelo monitor da câmera de segurança
e autorizei sua entrada. Por volta de cinquenta anos, mas com rosto de setenta,
ele entrou em meu escritório em seus jeans surrados, tênis Converse mais velhos
do que a maioria dos meus modelos contratados e uma camiseta comum, de loja
de departamento.
José parecia um tiozinho querendo ser jovem. Ele passou a mão pelos
cabelos escorridos e meio oleosos e empurrou os óculos quadrados — muito
grandes para o seu rosto — contra a ponte do nariz.
Não havia nada de extraordinário em José Rodrigues. Um homem
comum, meio franzino e que poderia se perder facilmente em meio à multidão.
Este era o seu objetivo: não ser notado.
Rodrigues, sempre astuto, mantinha a aparente fragilidade apenas como
um disfarce, uma casca para esconder seu verdadeiro cerne, seu interior, de olhos
curiosos. Um dos melhores detetives particulares que a cidade tinha a oferecer.
Sabia disso porque mais de vinte anos antes, meus pais o contrataram
para vigiar um ao outro. Os dois estavam traindo e nenhum queria ser traído.
Seria engraçado, se não fosse tão hipócrita.
Resultou em um natal bem peculiar na mansão Grimaldi. Eu era jovem e
depois de presenciar meus pais se acusando, com provas em mãos de como o
casamento deles era pura fachada para as capas de revista, percebi que o prazer
do sexo sempre seria mais importante do que o amor.
Desde aquele dia, pautei a vida nos três elementos importantes para a
minha família: sexo, dinheiro e poder. Anos depois, eu havia me tornado uma
Grimaldi exemplar e costumava usar os serviços do senhor Rodrigues com
frequência.
Afinal, conhecimento era poder.
— Conseguiu as informações solicitadas? — questionei, apesar de saber
a resposta. Se ele tinha vindo até mim, era porque já o serviço estava finalizado.
Acostumada com sua agilidade, me surpreendi ao segurar a pasta com
cada detalhe pedido, quase um mês depois de ter sido solicitado.
— Foi difícil. As redes sociais geralmente fazem metade do meu
trabalho, porém, neste caso, me atrapalharam. Encontrar a verdade oculta atrás
de tantas mentiras foi um desafio maravilhoso, quase me sinto mal por cobrar —
ele falou em tom de piada, e o canto de sua boca se levantou em um sorrisinho.
Seus olhos astutos, entretanto, mostravam que não tinha humor algum
ali. Eu conhecia o caso de um empresário que tentou enrolá-lo e teve todos os
seus podres vazados na internet. O caloteiro perdeu a empresa, a esposa e a
reputação.
Sem pestanejar ou verificar o conteúdo do envelope, abri a gaveta e de lá
tirei um maço grosso de notas de cem embrulhadas no que parecia ser um pacote
de padaria. Tinha certeza que padaria nenhuma entregava aquele tipo de pão...
— Obrigada pelo serviço — agradeci, dispensando-o.
Esperei Rodrigues sair e o observei se afastar pelo monitor de segurança.
Eu me sentia culpada por usar subterfúgios para invadir a privacidade de
Dimitri, ainda que aquela sensação tenha sido inédita. Eu não era do tipo que
tinha uma consciência para sentir pesar. Se um dia tive um “Grilo Falante” em
meu ombro, ajudando-me a discernir o certo do errado, ele desaparecera ainda na
infância.
Soltei o envelope e pressionei as têmporas com as pontas dos dedos,
fazendo pequenos círculos. Uma dor de cabeça começava a se formar, somando-
se ao sono quase incontrolável.
Antes de partir, Dimitri e eu trocamos o número de nossos telefones. E,
desde então, tínhamos conversado por mensagem quase todos os dias, quando eu
chegava em casa cansada demais para pensar em festas ou outras formas de
socializar.
Apesar de todos os momentos que passamos juntos, fiquei impressionada
em como ele era bem mais eloquente na palavra escrita do que na falada.
Provavelmente porque pessoalmente, sua boca estava ocupada demais
saboreando meu corpo para se preocupar em formular frases.
Fechei mais as pernas, sentindo a excitação crescer. No final das contas,
eu estava fazendo a abstinência prometida em Cannes forçadamente em prol da
empresa.
Foi quando notei que ainda segurava o envelope entre os dedos,
provavelmente com mais força do que deveria.
Era tarde demais para voltar atrás, havia acabado de pagar uma soma alta
por aquelas informações e deveria verificar seu conteúdo. Abri o grande relatório
com o coração acelerado e, ao contrário do esperado, havia quatro pastas dentro.
Espalhei-as em cima da mesa.
Incrédula, encarei os nomes.
— Júlia — chamei no intercomunicador. — Não passe nenhuma
chamada nem libere visitas, eu não quero ser interrompida pelas próximas horas,
ok?
Podia sentir a hesitação dela através da linha:
— E se for urgente?
— Resolva, eu confio em você — disse e desliguei em seguida.
Comecei pela pasta de Pendleton, os maiores podres deveriam estar ali.
Eu não sabia se ficava surpresa ou não com o que lia: o empresário não estava
tão bem como queria aparentar. Dois processos de assédio finalizados
rapidamente e em sigilo, antes que pudessem alcançar a mídia. Quebra de
contratos e dívidas com agiotas, ele tinha uma queda por jogos de azar.
Marcos, o motorista bonitinho e educado de nariz extravagante, era na
verdade membro de uma gangue. Ele estava ali supostamente para garantir que
Pendleton não fugisse para terras estrangeiras sem pagar a dívida. O empresário
informara aos chefes do rapaz que havia feito um grande investimento em
Cannes, porém Rodrigues não conseguiu descobrir qual.
Aquilo não fazia o menor sentido!
Talvez ele quisesse leiloar as estatuetas de ouro?
Passei para a pasta de Dante e fiquei ainda mais chocada. O bom moço
carismático e garoto de ouro, de bom, não tinha nada. Sexo, droga, bebidas e
destruição de quartos de hotel coloriam o currículo do rapaz. Pendleton
provavelmente gastara uma grana para manter aquilo em sigilo, os casos
mostrados nas revistas não cobriam um quinto da verdade.
Mas se ele fez isso pelo Dante, por que não fez por Dimitri?
O papel dizia que Dante fizera reabilitação no início do ano, mas
Pendleton falou que tinha sido Dimitri! Talvez Rodrigues tenha trocado os
nomes... Abri a pasta do russo, lendo que ele participou da destruição do quarto
de hotel e teve um leve problema com álcool, mas não precisou de reabilitação.
Quando Dimitri me ofereceu vinho na primeira noite em Paris, eu
perguntei sobre a reabilitação. Ele disse que estava bem, uma taça não tinha
problema. Mesmo assim, insisti em bebermos suco. Naquela noite, Dimitri não
mentiu, pelo visto: ele não tinha problemas com álcool.
Peguei meu celular e, no terceiro toque, Rodrigues atendeu.
— Tem certeza que as pastas de Dimitri e Dante estão corretas? —
questionei sem dar um cumprimento sequer.
— Está duvidando do meu trabalho, senhorita Grimaldi? — seu tom era
duro, descrente. — Sim, tenho certeza. Não saberia dizer o motivo, mas Dimitri
encobriu o amigo. Era o nome dele na papelada da clínica de reabilitação, porém
eu hackeei o sistema e vi uma filmagem da câmera de segurança. Dante esteve
lá, o ator russo nunca pisou na clínica.
Desculpei-me pelo questionamento. “Bad boy vende mais”, uma vez
Dimitri dissera. Movida pela curiosidade e desconfiança, continuei a ler a pasta
de ambos. Uma cópia do contrato deles com Pendleton estava lá e era uma
merda, o empresário detinha a vida profissional dos dois e sugava tudo o que
podia deles.
Já tinha visto contratos como aqueles, geralmente feito por agentes sem
escrúpulos e assinados por artistas novos, deslumbrados por terem sido notados e
tão desesperados em conseguir uma oportunidade, que aceitavam qualquer coisa.
Eu podia ter todos os defeitos do mundo, porém não era uma exploradora de
sonhos alheios, meus contratos eram vantajosos para ambos os lados.
Pendleton detinha todos os direitos dos atores, e eles eram dois dos
poucos clientes que ainda não tinham o processado ou conseguido se livrar de
suas garras. Devia tanto dinheiro, que mesmo Dimitri e Dante fazendo sucesso,
não era o suficiente para pagar a dívida. O que impedia Pendleton de desmoronar
provavelmente era sua bem estruturada rede de contatos e parcerias.
E onde eu entrava nisso tudo, por que se dar ao trabalho de me levar lá
com um contrato milionário? Ele ganhava muito mais chamando uma pessoa
qualquer e comandando as propagandas por conta própria!
Senti um embrulho no estômago e fechei os olhos ao pegar a quarta
pasta. A resposta estava ali, podia sentir isso. Tinha medo do seu conteúdo, pois
sabia que uma vez quebrada a minha confiança, ela nunca mais ficaria inteira
novamente, e eu teria que fazer aquela pessoa sofrer as consequências.
Capítulo 14 — Realidade
Um dos maiores medos de todo CEO era descobrir que havia ratos em
sua empresa.
Após alguns dias processando aquele golpe, decidi que era hora de
montar uma armadilha. A temporada de caça aos ratos estava aberta!
Se eu quisesse retomar o controle, precisaria fingir ignorância e continuar
a agir normalmente. Mesmo que uma tormenta estivesse se formando dentro de
mim, usava uma máscara que mostrava estar tudo bem.
Lúcia e eu conversávamos tranquilamente no meu escritório enquanto
fazíamos a escolha dos modelos do Fashion Week. Ela pedia que eu falasse de
novo sobre os meus últimos momentos com o galã russo.
— Você já sabe de tudo, até demais — enfatizei o final com um sorriso,
pois, na empolgação, tinha contado sobre Alê e Dante se agarrando no carro,
mesmo não sendo muito fã de fofocas.
O intercomunicador emitiu um bip, e antes de atender ao chamado da
secretária, olhei o monitor. Uma ruiva de pernas longas e um vestido curto
acinturado de alta-costura se encontrava parada em frente à Júlia, em pé e
aguardando sua vez de entrar.
Falando no diabo...
— Mande Alessandra entrar, Júlia — avisei pelo aparelho. — E obrigada.
Alessandra entrou no escritório em toda sua exuberância, como se
estivesse andando em uma passarela. Ela levantou uma sobrancelha para a
quantidade de fotos espalhadas em cima da mesa.
Lúcia apontou para a cadeira ao lado dela.
— Sinta-se à vontade para ajudar.
— Você foi selecionada para três desfiles e uma propaganda — mostrei a
foto do portfólio dela, com um post-it em cima. — Por enquanto.
Ela sentou no lugar indicado, analisando os desfiles para os quais a
agência fora contratada.
— Então — Lúcia lançou um olhar sugestivo para a amiga. — As férias
foram boas, hein?
Alessandra olhou dela para mim e entreabriu a boca, com as mãos na
cintura.
— Sua cachorrona! Já contou tudo? — ela me acusou corretamente.
— Tudo não — eu me defendi. Com o aporte de trabalho e as últimas
descobertas, eu não havia conseguido falar com ela ainda. — Não sei como foi
com vocês depois que eu parti de Cannes — completei com um sorriso nos
lábios e um amargor na boca.
— Quer dizer depois que você interrompeu o nosso pequeno ménage? —
ela me olhou de esguelha.
— Ué, como assim? — ouvi Lúcia perguntar e voltei a me concentrar nas
garotas.
Virei-me para Alessandra:
— Eu não interrompi nada.
— Dimitri pulou fora do ménage logo no início! — Alessandra olhou
exasperada para a gente. — Nós três entramos no quarto, Dante não parava de
me beijar. Eu mandei os dois sentarem no sofá enquanto eu fazia um pequeno
show de strip. Eles pareciam apreciar, e quando sentei no colo de Dimitri e o
beijei, ele retribuiu por um segundo. Porém, de repente, se levantou e me
colocou em pé, dizendo que eu e Dante deveríamos nos divertir sem ele.
Isso aconteceu porque ele foi para o quarto se despedir de mim. Pela
primeira vez, transamos sem nada de inusitado: apenas um homem e uma
mulher, até ambos gozarem de prazer. Apenas com o detalhe da echarpe de
renda amarrando meus pulsos. Todos sabiam o que tinha acontecido depois,
Dimitri me acompanhou até Paris, abandonando Dante, Alessandra e o cruzeiro
que eles fariam juntos.
Sorri para esconder a carranca que queria se formar. Eu pensei que
Dimitri era um cara legal e fingia ser bad boy para as câmeras, mas era o oposto.
Caí como idiota em sua atuação de bom moço.
— E vocês se divertiram no cruzeiro? — Lúcia perguntou com os olhos
brilhando de curiosidade.
— Claro, e eu terminei fazendo o ménage com um carinha lindo do navio
— ela se abanou de forma dramática e nos olhou com um ar sugestivo. — Dante
está no Brasil, a gente poderia marcar alguma coisa com ele...
— A gente quem? — Lúcia arregalou os olhos. — Nós três e ele?
Alessandra balançou a cabeça, confirmando.
Hum, aquilo poderia ser exatamente o que eu precisava. Bati as unhas
contra a mesa, um plano se formando em minha mente.
— Dimitri estará lá também? — perguntei.
Imediatamente, me senti uma idiota pelo estúpido acelerar do coração.
Precisava me lembrar: o Dimitri que conheci, fiz sexo e andei ao lado
pelas ruas de Paris não era verdadeiro. Ele esteve me manipulando o tempo todo,
e eu, alguém que acreditava não ser tola, caí na dele.
— Você vai dividi-lo? — Alessandra questionou, e as duas estavam
ansiosas pela minha resposta. Em relação a homens, nunca fui do tipo
possessiva. Afinal, jamais me importei muito com nenhum.
Devolvi sua pergunta:
— E você, vai dividir o Dante?
— Claro — ela deu de ombros. — Como te falei, ele não passa de um
amigo muito íntimo.
Se minha intuição estivesse certa, veríamos isso em breve.
— Por mim, pode marcar — disse com voz decidida.
Lúcia, boquiaberta, não conseguia esconder o espanto. Compreendia seu
choque: desde que Pendleton entrara naquela sala com uma proposta suspeita, eu
havia entrado em um universo paralelo também. Sua cabeça loira se virou para
cada canto do escritório.
— Isso é alguma pegadinha? Só eu estou achando surreal a tranquilidade
de vocês? — ela se levantou, ultrajada. — Sei que pode ser natural para as duas,
mas eu não me sinto à vontade com isso! — Lúcia colocou a mão na cintura e
bateu o pé, ou melhor, o stiletto no chão. — Então eu posso só assistir? Sempre
quis tentar o lance voyeur. Se eu cansar de observar, entro na brincadeira.
Era a vez de Alessandra e eu ficarmos boquiabertas, observando Lúcia
sentar com toda sua classe, como se não tivesse dito nada e nos presentear com
um doce sorriso inocente.
Gargalhei e não era parte da minha atuação, por um momento acreditei
que a gerente estava realmente indignada.
— Pode marcar para a próxima semana, no sábado — disse para a top
model. — Será um grande dia.
Alessandra levantou-se e se despediu, partindo do escritório quase
saltitante. Esperei que ela saísse do prédio, mudando a câmera de segurança
ativa no monitor para acompanhar cada passo seu. Quando a vi pisar na calçada,
voltei minha atenção para Lúcia, que continuava selecionando portfólios.
Depois de me tornar CEO da ML, eu me mantive fria e distante de outras
pessoas, principalmente desconhecidos. Minha intenção era me proteger de
possíveis aproveitadores, mas não foi o suficiente.
— Preciso do contrato de propaganda do Dante e do Dimitri — falei para
Lúcia. — E peça para Júlia chamar o Rodrigues de volta, tenho mais um serviço
para ele.
Estava prestes a ultrapassar um limite que nunca cheguei perto de atingir
antes, porém, para eliminar a ameaça que Pendleton representava, eu precisaria
jogar tão sujo quanto ele.
Pretendia fazer isso sem descer do meu belíssimo salto alto.
Com o controle remoto em mãos, fui mudando a imagem do monitor,
passando por cada câmera de segurança espalhada pelo prédio: os sets de
filmagem, o setor gráfico, os camarins, o laboratório de revelação, a sala de
reuniões, o palco com passarela para testes e pequenos desfiles, o saguão, o
porteiro, a cozinha e tantos outros setores da empresa.
Todos os funcionários ali presentes foram escolhidos pessoalmente por
mim, após terem sido aprovados pelo RH. Eu sabia um pouco da vida deles,
como a do faxineiro que varria o chão para pagar o tratamento da filha e recebia
um bônus para a compra de remédios ou a recepcionista que lutava contra a
bulimia.
Cada um tinha sua história, e o emprego deles estava em minhas mãos,
dependia exclusivamente de mim. Porque a ML Agência e Produções não era
apenas uma empresa, era a minha vida e família. Eu faria de tudo para protegê-
los.
O celular tocou, e o número de Dimitri piscou na tela. Pensei em rejeitar
a ligação ou talvez só xingá-lo de todos os nomes possíveis, mas o jogo não
tinha acabado ainda e eu continuaria fingindo até a cartada final.
— Você concordou em um encontro com Dante? — ele perguntou à
guisa de cumprimento.
Encostei-me na poltrona e a girei, observando a imensidão da cidade e
seus prédios de concreto através da parede de vidro.
— Por quê? — questionei com a voz tranquila e controlada. — Quer
participar também?
Eu o ouvi bufar do outro lado da linha. Dias antes, talvez eu ficasse feliz
em vê-lo demonstrar um resquício de ciúmes, como se me dividir com outro
homem não parecesse tão simples como antes.
Cheguei a imaginar que eu pudesse representar algo a mais além de sexo
para ele.
— Não vá, por favor — ele suplicou, e eu o odiei.
Lágrimas se formavam no canto dos meus olhos. Odiei Dimitri e sua
maravilhosa atuação, o odiei por ter me manipulado, por ter atravessado a
muralha de aço e concreto em volta do meu coração e por ter me feito sentir e
sonhar com coisas que nunca pensei antes.
E eu me odiei também por ter baixado a guarda perto dele.
Podia ver meu reflexo no vidro, com o rosto avermelhado e as lágrimas
que começavam a deslizar pela face. Eu nunca chorava normalmente. Contudo,
minhas emoções pareciam sempre à flor da pele desde a viagem para Paris.
Sentia-me mal por não permanecer sempre firme e fria diante daquela
situação, como sempre fiquei diante de tantos outros obstáculos. Pensando bem,
eu nunca tinha sido traída daquela forma, e não me referia apenas a Dimitri.
Eu ainda precisava respondê-lo. O tom saiu firme, apesar da tormenta em
mim:
— Eu vou.
— Porra! — ele desligou o telefone.
Com o cenho franzido, encarei o aparelho. Aquela tinha sido uma ligação
estranha! Levantei-me e encostei a testa no vidro, vendo as pessoas na calçada
como formiguinhas. O chão, lá embaixo, pareceu subir e descer, e minha visão
turvou com uma vertigem que se apoderava de mim.
Virei-me, ficando com as costas contra o vidro, e escorreguei até o piso,
onde apoiei minha testa nos joelhos dobrados. E ali, sentada no chão, no topo de
um prédio do centro da cidade, eu, uma CEO de sucesso, se permitiu chorar por
uma traição vinda de dentro do pequeno grupo de pessoas que participavam da
minha vida. Aquilo me partia por dentro.
Derramar lágrimas, entretanto, não resolveria meu problema. Eu tinha
uma semana para fazer o plano infalível e ser mais esperta do que meus
inimigos.
E o tempo estava passando.
Capítulo 15 — O plano
Eu não costumava ser uma pessoa ansiosa, porém aquela semana tinha
sido um teste de paciência. Entre reuniões, advogados, contratos e acordos, eu
me sentia exausta. Minhas forças foram drenadas, e o cansaço fazia meus ossos
pesarem. Nem me alimentar direito eu conseguia e, por causa disso, tonturas
continuavam a anuviar minha mente.
Dimitri me ligou mais uma vez, tentando me persuadir a não participar
do encontro com Dante. Porém, ele não me deu um bom motivo para tal e,
mesmo que desse, eu tinha meus planos.
No sábado, eu e Lúcia fomos a um spa. Queria estar perfumada, relaxada
e perfeita para a minha noite de glória. Por volta das dez horas da noite, paramos
o carro em frente à casa de Dante. Ela ficava em um condomínio de porte médio
dentro de um bairro luxuoso.
De dois andares e branca com janelões fumê, a casa se agigantava contra
o céu noturno e os terrenos vizinhos, sem nenhuma casa construída ainda no
entorno. Dei uma última olhada para Lúcia, que observava a casa sem ficar
muito impressionada, assim como eu. Ela abraçou sua enorme bolsa retangular
de couro branco e me encarou de volta:
— Tem certeza que quer fazer isto?
Não tinha, mas era preciso.
— Sim.
Respirei fundo antes de sair, checando mais uma vez o banco detrás do
carro.
Dante, em jeans e uma camisa de botão azul, dobrada na manga, me
recebeu na porta com um sorriso fácil no rosto. De todas as coisas que passei
naquela semana, abraçá-lo e dar um beijo em sua bochecha foi uma das mais
difíceis de fazer.
Alessandra, em um provocante vestido preto com um decote profundo
que chegava até o meio de sua barriga, estava sentada com uma taça de vinho na
mão. Os cabelos avermelhados caindo pelo ombro combinavam perfeitamente
com a pele alva e os lábios de rubi.
Ela dobrou as pernas, e notei o delicado tecido aberto em uma fenda na
altura de suas coxas, que deixava pouco para a imaginação. Afinal, eu conseguia
ver que Alê tinha se depilado recentemente, e não estava me referindo às pernas.
Praticamente nua, Alessandra pousou a mão no joelho do homem sentado
ao seu lado. Ele era uma variável que eu não tinha contado em meus planos.
Todo vestido em preto e com uma barba mais espessa do que a última vez que o
vira no aeroporto de Paris, mais de um mês antes, Dimitri me encarou com olhos
sombrios.
Havia algo nele que me atraía como uma mariposa à luz, e assim como o
infortuno inseto, eu me queimaria se ousasse encostar em Dimitri. Cumprimentei
a todos com voz sedutora e cara de quem quer dar, como as que usava nas
minhas antigas propagandas de lingerie.
Lúcia estava nervosa e não conseguia esconder o sentimento, que
escorria por suas feições e trejeitos. Entretanto, os presentes na casa
provavelmente pensavam que era ansiedade pelo sexo louco prestes a acontecer.
Seria normal o seu nervosismo.
Um vinho foi posto em minha mão, mas não me atrevi a beber. Precisava
me manter sóbria e não queria me arriscar com a bebida, ela poderia ter sido
adulterada.
— Não sabia que você estava no Brasil — eu me aproximei de Dimitri,
que permanecia sentado em seu modo taciturno. Inclinei-me em sua direção,
apoiando minhas mãos no encosto do sofá, uma de cada lado de seus ombros. —
Senti sua falta.
Eu o beijei por dois motivos: eu já tinha assumido meu lado tola e
realmente sentia falta dele e porque era a última vez que poderia fazê-lo. Não
havia motivos melhores. Seus lábios traidores continuavam deliciosos. Ele
demorou um segundo para retribuir o beijo, mas logo suas mãos foram para a
minha cintura e eu sentei em seu colo em seguida.
Rápido demais, mas eu não conseguia parar! As bocas tinham vida
própria e mostravam uma urgência em se unir em um duelo de línguas. Um
barulho de rolha estourando soou ao meu lado, Lúcia agradeceu a bebida
oferecida por Dante. Alessandra disse algo, e eles riram.
Dimitri interrompeu o beijo para seguir mordiscando minha mandíbula e
orelha, onde sussurrou muito baixo, só para eu ouvir:
— Fuja.
Não desviei do esmeralda profundo de seus olhos, ele me implorava em
silêncio para seguir seu conselho. Passei o polegar pelo seu lábio inferior, e
Dimitri beijou a ponta do meu dedo. Encostei minha testa à sua, sabendo que o
deixaria de fora do meu esquema de vingança.
Para ser sincera, eu não o tinha colocado nela.
E estava cansada de tanta farsa e ardis, pretendia dar um fim de vez
naquilo.
— Onde está a câmera? — fui direto ao ponto. Diante do silêncio de
Dimitri, levantei-me para enfrentar Dante. — Sei que tem pelo menos uma
câmera escondida aqui, onde ela está?
Alessandra e Dante pareciam estupefatos, bocas entreabertas e olhos
arregalados. Minha amiga foi a primeira a se recuperar:
— Câmera? Ninguém aqui é doido de compartilhar algo seu sem
autorização!
— E quem falou em compartilhar? — Lúcia interviu, deixando a timidez
de lado, agora as cartas seriam postas na mesa e não precisaria fingir mais nada.
Aquela era uma das grandes qualidades de Lúcia, agia sempre como uma leoa,
pronta para defender aqueles que amava. — Aliás, já que entramos neste assunto,
quanto você ganhou para vender a foto do aniversário da sua amiga para o
jornal?
Eu tinha colocado Rodrigues para descobrir isso também, Alessandra me
traía há muito tempo, e eu, inocente, nunca desconfiei.
— Já que entramos no assunto, não consegui descobrir o que você ganha
me vendendo assim para o Pendleton — falei com uma tranquilidade letal.
Ao revelar a verdade, o clima na sala mudou completamente. O rosto
sorridente de Dante se fechou, revelando uma carranca nada carismática,
Alessandra colocou a mão no peito e titubeou, em uma vã tentativa de se
justificar.
— Pendleton me convenceu que não era justo eu ser a top model e ainda
ficar à sua sombra, ele disse que eu podia me tornar uma artista de Hollywood
e...
Levantei a mão, interrompendo-a, não precisava ouvir mais nada. Antes
que eu pudesse falar, entretanto, Dimitri, ainda sentado na mesma pose, foi o
primeiro dos rapazes a encontrar a voz:
— Como você soube?
Ele parecia bem tranquilo para alguém que estava prestes a ser acusado
de tentativa de chantagem.
— Eu tive um café da manhã interessante com o Stuart Allen — afastei
alguns passos para longe do sofá, assim poderia ficar de frente para todos. — O
diretor tem uma língua solta ao acordar, dentre muitas coisas, comentou como
vocês dois ficavam tensos quando Pendleton estava por perto. Achei suspeito e
mandei investigar.
Alessandra, desistindo de tentar se justificar, me olhou com frieza:
— Diga a verdade, você os investigaria de qualquer forma.
— Sim — dei de ombros. — Meu erro foi não ter feito isso antes de
viajar para a França. Agora me corrijam se eu estiver errada: Pendleton deve
dinheiro e convenceu vocês dois a participarem de um pequeno esquema, em
troca, ele conseguiria alavancar as suas carreiras ainda mais.
A campainha tocou, me assustando um pouco com o sino alto. Olhei para
Lúcia, ela balançou a cabeça para os lados discretamente, negando. Não era o
momento de nenhuma entrada triunfal.
Ainda.
Dante abriu a porta, e Marcos — o segurança/capanga de bandido —
entrou arrastando um suado Pendleton pelo colarinho de seu terno chique,
apertado demais para o corpo ligeiramente roliço. Levantei a sobrancelha diante
da cena.
— Meu patrão está cansado desse esquema sem fim de vocês — ele
empurrou o empresário para o meio da sala, fazendo-o se estatelar no chão. —
Vim resolver de uma vez e encontrei esse rato fugindo pela janela.
Ele colocou uma mão na cintura, afastando um pouco o terno para
revelar de propósito um brilhante revólver bem ao alcance de seus dedos.
— O que seu patrão quer? — eu fui a única com coragem para falar algo.
Os dedos dele roçaram na arma.
— Saber por que não foi pago ainda.
— A culpa foi minha — Dimitri se levantou, ficando na minha frente e
quase me impedindo de ver o homem armado. — Em uma festa idiota,
Alessandra bebeu demais e contou sobre a fortuna da família de Cinthia.
Pendleton teve a ideia de chantageá-la, e Alê deu todas as informações que ele
precisava para fazer isso. O plano era bem simples: atraí-la para a nossa
armadilha e filmar você transando com a gente. Pendleton te chantagearia: ou
você dava dinheiro, ou o vídeo de sexo vazaria na internet. Nós supostamente
estaríamos em um cruzeiro logo pela manhã, uma viagem que você nunca faria,
deixando-a sozinha em Cannes.
Tudo foi fingimento desde o começo, a arrogância de Dimitri, a
facilidade com que Pendleton aceitou a ausência dele no Festival de cinema, a
revolta de Dante ao nos encontrar na cama e a forma como Alê disse que eram
apenas amigos, ficando tranquila depois de eu ter transado com alguém que ela
claramente tinha interesse.
— Você não explicou como foi culpa sua — Marcos perguntou.
Dimitri olhou por cima do ombro para mim e voltou a encarar o capanga.
— Eu destruí a filmagem. Acordei quando você estava no chuveiro e
permaneci de olhos fechados. À luz do dia, eu não conseguia te encarar. Depois
que você saiu, me levantei e vi uma muda de flores na cabeceira da cama com as
instruções rabiscadas em um papel timbrado da sua empresa. E te vi como
pessoa, não a “megera fria e calculista que merecia isso e muito mais” como
Alessandra havia dito.
Olhei para minha ex-amiga, e ela deu de ombros. Estiquei o dedo do
meio em um gesto bastante imaturo, mas eu não queria interromper o discurso de
Dimitri a xingando.
— Peguei o cartão de memória extra e o troquei pelo que estava dentro
da câmera escondida, com a gravação. Fingi que houve um problema na
filmagem, Dante tentou te convencer a fazer de novo, mas você não quis. Então
eu fui para Paris, prometendo filmar lá.
A viagem para Paris, os momentos que passamos lá... Tudo maculado.
Estragado, manchado, jogado na lama…
Talvez existisse algum equilíbrio cósmico e uma pessoa bem-sucedida
nos negócios não poderia ter sorte no amor também.
— Já ouvi o bastante! — eu o interrompi e olhei para Marcos por cima
do ombro de Dimitri. — O que o seu patrão acha de tudo isso?
Marcos me encarou com um sorriso que parecia ser reconfortante, porém
era sinistro. Ele deveria ser ator, foi tão convincente como o gentil motorista no
aeroporto. Sua expressão amedrontadora aumentou quando ele respondeu:
— Me diga você, chefe.
O último trabalho de Rodrigues foi entrar em contato com o agiota.
Juntos, fizemos um acordo. Alessandra tinha razão ao falar sobre a minha
fortuna, mas ela esqueceu que eu seria capaz de tudo para proteger minha
empresa.
O dinheiro era capaz de mover o mundo, até “alugar” um capanga para
aquela noite. Eu o trouxera escondido no banco traseiro do meu carro.
Pendleton se levantou, olhando de mim para Marcos com assombro.
Expressão espelhada na feição de quase todos. Lúcia abriu a bolsa enorme em
seu colo, retirando a pasta com a papelada.
— Teve um detalhe que Alessandra esqueceu de avisar: não se deve
brincar comigo — aceitei os documentos de Lúcia. — Pendleton, estou sob
proteção e você não vai me chantagear. Aliás — virei-me para todos — qualquer
um de vocês, se pensarem em fazer qualquer mal a mim ou a alguém ligado a
mim e à minha empresa, vai lidar com Marcos.
Alessandra se escondeu atrás de Dante, segurando em seu braço com
medo. O ator se afastou do seu toque. Pendleton cruzou os braços:
— E o que vocês pretendem fazer comigo? Me matar?
Eu ri. Queria estar sentada em um banco alto na penumbra de um bar,
com um Martini na mão e um vestido vermelho, parecendo uma mafiosa, não em
pé em uma sala bem iluminada, com dois sofás e uma tela plana de sessenta
polegadas ligada em um ridículo vídeo de lareira crepitante.
— Sou uma mulher de negócios, Pendleton, e quero expandir. Preciso
dos seus clientes, contatos e parcerias. Como estou me sentindo caridosa, apesar
de tudo que tentou fazer a mim, eu pago sua dívida — estendi para ele o contrato
detalhado que os meus advogados prepararam com muito cuidado e atenção. —
Se você se aposentar e nunca mais se aproximar de mim ou da minha família,
principalmente da minha mãe.
Ele não tocou no papel, olhando-me com a sobrancelha levantada e com
resquícios de soberba.
— Ou? — foi tudo que disse.
Marcos se adiantou, colocando a mão na coronha da arma.
— Ou... — eu respondi. — Marcos te levará para um passeio muito
interessante, porém nada agradável, e você terá que lidar com o patrão
verdadeiro dele. Sem minha ajuda.
Pendleton pegou os papéis com ódio e se sentou no outro sofá. Eu não
sentia nenhum pingo de pena dele. Além de armar para mim, estava aqui hoje,
provavelmente para assistir escondido o desenrolar da quente noite de sexo e
garantir que a filmagem fosse feita.
— E quanto a nós? — Dante perguntou com raiva contida. — Planejou
algo especial também?
Eu o presenteei com o meu melhor sorriso lupino.
— Na verdade, sim. Eu pensei em várias alternativas para os três, uma
forma de puni-los, talvez até negociar seus contratos para uma agência pequena
e estagnada. Porém, eu estaria punindo a mim ao abrir mão de três artistas no
auge de suas carreiras — Lúcia me admirava com certo ar de orgulho. Eu me
sentia assim também. — Vocês vão trabalhar dobrado para recuperar o meu
dinheiro investido hoje. Dimitri e Dante, seus péssimos contratos serão mantidos
daquele jeito. Alessandra, o seu foi revisto, estava muito vantajoso,
desproporcional aos outros.
Segui um dos ditados favoritos do meu pai: “mantenha os amigos perto e
os inimigos mais perto ainda. De preferência, em coleiras bem apertadas”. Esse
último era um acréscimo que ele gostava de fazer.
Dimitri permaneceu calado, Dante e Alê gritaram um não de indignação,
exigindo serem liberados. Podiam fazer a birra que quisessem, eu tinha a
assinatura deles no papel, testemunhas sobre os seus esquemas, além das provas
conseguidas por Rodrigues.
A vantagem era minha.
— Assim como Pendleton, vocês têm uma escolha, mas podem ter
certeza que a alternativa será muito pior — deixei a ameaça pairando no ar.
Dante se aproximou de mim, gritando:
— Isso não ficará assim!
Marcos se adiantou, mas ele estava longe. Dimitri foi mais rápido,
puxando Dante pela camisa.
— Não se aproxime dela, seu idiota! — ele empurrou o colega.
Dante o encarou, seus olhos estreitos em raiva.
— Agora é o defensor dela, não é? — ele bateu palmas com escárnio. —
Parabéns, muito esperto. Sempre te achei um paspalho, mas vejo que te
subestimei. Ficou do lado vencedor, se fingindo de herói e provavelmente
conseguirá fodê-la até cansar.
O soco certeiro em seu nariz era tanto devido quanto esperado. Dante
caiu no chão, aos pés de Dimitri, com sangue escorrendo de suas narinas.
Alessandra correu para ajudá-lo.
— Vocês são uns monstros! — ela esbravejou.
— Monstros? — Lúcia interviu e apontou para mim. — Conheço essa
mulher há mais de uma década, eu não tinha um centavo no bolso e comecei a
trabalhar como modelo para ajudar em casa. O que ela fez? Me ensinou todos os
truques que sabia, como andar e posar direito. Por causa dela, minha família saiu
da lama e eu pude fazer até uma faculdade!
Alessandra a encarou com certo desprezo, a top model havia nascido em
berço de ouro, ainda que de pais somente ricos, não milionários como os meus.
Ao contrário de Lúcia, ela tivera condições de fazer diversos cursos antes de
entrar na carreira de modelo. Tornamo-nos amiga porque Alê era a alma da festa,
impulsiva e divertida, não tinha como não ficar alegre ao lado dela.
Até ela crescer e virar aquela outra pessoa que eu não reconhecia.
— E aí — Alessandra falou com desprezo. — Você largou sua carreira
para segui-la como um cachorrinho.
Lúcia balançou a cabeça para os lados, ainda descrente com a face
verdadeira da garota que fora nossa companheira por tantos anos.
— A beleza não dura para sempre, Alessandra — ela disse, e a outra
retrucou:
— Para isso existe plástica e casar com homem rico.
— Chega! — Pendleton se levantou e empurrou o contrato em minhas
mãos. — Eu sou amigo de sua mãe desde que você era uma menina, não fica
com peso na consciência por me jogar na sarjeta?
Peso na consciência por ele? Não ficava. Ele usou a influência da minha
mãe todos esses anos em favor próprio, além de tentar me chantagear, apesar da
amizade com a família. Além disso, Pendleton tinha dois ou três imóveis,
poderia vender e montar outro negócio.
Aliás, esta teria sido a minha primeira opção, vender meus bens para
quitar a dívida em vez de fazer armadilhas e chantagens.
Retirei uma nota de cem reais deixada no bolso traseiro da calça jeans de
propósito:
— Aqui, para você não achar que eu sou ruim. É o troco que sobrou
depois de pagar sua dívida.
Ele olhou para a nota com asco. Ódio fervilhava em seu rosto, deixando-
o mais enrugado do que era. De braços esticados para baixo e punhos cerrados
rente ao corpo, ele queria explodir, porém a presença sólida de Marcos ainda
com a mão na coronha da arma, ao meu lado, o impediu de dizer algum
impropério.
— Verei todos vocês no inferno — ele falou e saiu a passos duros,
batendo a porta.
Entreguei os documentos para Lúcia, que verificou a assinatura e
também assinou como testemunha. Dante, já em pé, estancava o sangramento do
seu nariz com a camisa. Alessandra ficava rondando ele como uma cadelinha
pedindo atenção, enquanto Dimitri permanecia entre nós dois, com a expressão
séria e os braços cruzados.
— Saiam da minha casa, agora — Dante ordenou sem necessidade, eu já
tinha cumprido o meu propósito ali. Quando começamos a sair e Alessandra
permaneceu ao seu lado, ele se afastou dela e apontou para a porta, aos berros:
— Você também, porra!
Antes de passar pela porta, olhei para trás a tempo de ver a mágoa nos
olhos chorosos de Alessandra e senti pena. Ela não foi movida apenas pela
ambição. Entretanto, saí sem falar nada. Um amor não-correspondido não era
uma desculpa plausível para trair uma amizade de anos.
Na calçada, destravei o carro para Lúcia e Marcos entrarem. Antes que
eu pudesse fazer o mesmo, Dimitri se colocou no meu caminho.
— Não fale nada — eu o alertei. — Não preciso de suas explicações ou
motivos.
Ainda não me sentia preparada para confrontar Dimitri, principalmente
depois de ter certeza de que ele foi a razão para não terem conseguido me
chantagear.
Porém, deveria ter me alertado, passamos cinco dias em Paris e ele nunca
disse nada. Se não fosse pelo Rodrigues, eu continuaria na ignorância e
terminaria caindo em alguma armadilha.
Ele selou os lábios, se segurando para não falar o que tanto queria dizer.
— Outro dia, então — Dimitri disse, saindo do meu caminho.
E da minha vida.
Capítulo 16 — Discursos
SEM ALTERNATIVA
C. Caraciolo
Dedicatória
Sinopse
Assim que se deu conta do que acabara de fazer com seu próprio chefe,
foi como se um balde de água gelada caísse sobre a cabeça de Melanie. Deitada,
ainda nua, por cima de Charles, sentindo as batidas intensas de seu coração sob
pele suada, a jovem administradora levantou a cabeça e viu o rosto atraente do
homem agora totalmente relaxado.
Levantando-se abruptamente, Mel tratou de pegar a primeira roupa que
encontrou no chão para cobrir a súbita vergonha que sentiu. Charles abriu os
olhos e não entendeu a cena que se passava à sua frente: sua mais nova amante
tentando se vestir, como se estivesse desesperada para ir embora.
— Melanie? O que houve? — perguntou, esticando o braço para pegar
suas roupas e as vestindo enquanto via a mulher ajeitando o sutiã com pressa.
— Isso… isso foi um erro, Charles. Você… — ela estava ofegante, tanto
pelo esforço de vestir as roupas, quanto pela atividade física intensa de
momentos antes. — Você é meu chefe…! Ai, meu Deus…!
Charles terminou de vestir a calça e foi até ela, a impedindo de continuar
com aquela loucura, segurando gentilmente seu braço e puxando seu queixo para
que ela o olhasse.
— Nem esfriamos ainda, e você já se arrependeu? — brincou, e ela
imediatamente respondeu:
— Mas é claro! Isso não poderia ter acontecido!
— Por que, eu sou tão ruim de cama assim? Ah, já sei, é porque foi no
sofá, não é? Garanto que minhas habilidades são incríveis em uma cama de
verdade. Sabe como é, apoio para os joelhos, mais aderência, essas coisas.
Mesmo a contragosto, ela riu da piada, mas logo ficou séria e tentou
rebater. Charles logo a silenciou com um beijo calmo, diferente daquele urgente
de outrora, que resultara naquele ato impensado de momentos antes.
Melanie, indo contra as suas expectativas, não recusou o beijo, pelo
contrário. Se entregou como se fosse o primeiro que trocavam, abraçando
Charles com força, como se quisesse fundir os corpos em um só.
Quando finalmente interromperam o beijo, Mel continuou de olhos
fechados e ouviu a frase que mais queria escutar naquela noite:
— Vamos tentar não pensar em mais nada essa noite. É seu aniversário.
E voltou a beijá-la ardentemente.
Mel não fez nenhuma objeção à sugestão, pelo contrário.
Naquela noite, só comemoraria de todas as formas possíveis.
Capítulo 9
considerava os melhores games de toda a geração atual. Achou curioso que Mel
gostasse dos mesmos jogos que ele, até que lembrou de uma série de games
muito famosa que envolvia... unicórnios.
Incrivelmente, o quarto de Mel era moderno, iluminado e realmente
parecia habitado por alguém doce, porém forte, tal e qual a figura mitológica.
— Por que a casa inteira parece vazia, enquanto seu quarto é a única
parte que parece ser... ocupada?
Ela ergueu os ombros rapidamente, como se aquilo não fosse nada.
— Como eu disse, a gente tem que fazer o que a gente tem que fazer,
Charles.
— Sei... E o que “a gente tem que fazer” significa vender tudo que havia
aqui dentro para pagar as burradas do seu pai?
Ela estalou dois dedos na frente do rosto.
— Bingo, senhor CEO.
Charles sabia que era aquilo, mas ficou estupefato ao ouvir a
confirmação. Não era possível que Fernando tenha feito tanta besteira àquele
ponto!
— A maior parte das coisas dessa casa eram de meu pai. Compradas por
ele, quero dizer. Eu vendi tudo que dava para vender, doei o que encalhou e
fiquei somente com o que me interessava ou o que pertencia à minha mãe.
Mesmo com essa explicação, não fazia sentido para ele.
— Mas mesmo sofás e móveis básicos?
Novamente ela ergueu os ombros.
— Eu não sei quando vou precisar sair daqui. Achei mais fácil vender
tudo, quitar o que precisava ser quitado e guardar o restante para quando for
embora.
Agora fez sentido, ele pensou e se aproximou de Melanie, botando as
mãos em seus braços, esfregando a pele fria e a abraçando por um momento.
— Você não tinha algo guardado, um fundo de reserva? Precisou tanto
assim se livrar de tudo?
Ela acenou com a cabeça e hesitou antes de responder:
— Ainda tenho, mas não quero tocar nele. Não sei o que me aguarda
daqui a alguns meses, se vou trocar de emprego, se vou sair daqui... Fiz o que
precisava fazer: me livrar de tudo do meu pai, assim como ele fez com tudo que
ele e minha mãe suaram tanto para construir.
Charles abraçou Mel com mais força, sentindo o ódio consumi-lo. Era
nítido o quanto viver naquela casa imensa e vazia era dolorido para Melanie, e
aquilo o incomodava demais, principalmente por saber que nada era culpa dela.
Logo Melanie tratou de animar Charles, garantindo que estava tudo bem
e que tudo ia se ajeitar algum dia. Mas ele não acreditou e fez outra nota mental:
conversar com seu advogado e ver se suas teorias sobre uma possível alternativa
para ela realmente estavam corretas.
O pedido de namoro ficaria para depois. Não havia mais clima para algo
tão especial assim. Porém, ele jurou que não demoraria muito a resolver as
coisas entre eles.
E Charles, ao contrário de Fernando, era um homem de palavra.
Capítulo 12
Uma hora depois, Charles apareceu na fábrica, bem mais atrasado do que
deveria, pois precisou resolver alguns problemas no escritório. Entrou na casa
correndo, ofegante, e parou na cozinha, botando as mãos nos joelhos enquanto
recuperava o fôlego.
Assim que o notaram, todos gritaram comemorações. A ausência de Mel
nem foi percebida, de tão animados que todos estavam com o suposto
casamento. O CEO teve trabalho para explicar que, não, não era um pedido de
casamento, mas sim o anúncio de que Melanie fora efetivada na empresa,
deixando de ser contratada para virar administradora oficial da Família Miguez.
Como não teve opção, acabou contando a novidade sem a presença de
Mel, que estava enfiada em sua saletinha, tentando não agir como uma mulher
ciumenta e bolar conclusões absurdas em sua mente.
Porém, era difícil não pensar besteiras! Lili? Que intimidade aquela
beldade, obviamente milionária e elegante, tinha com Charles! Era natural que
ela pensasse várias coisas, ainda mais depois que ele conhecera sua casa, que
não era bem motivo de vergonha, mas seria suficiente para espantar muitas
pessoas.
Era isso então? Ele não gostara de sua situação, daí voltara para amantes
mais... qualificadas que uma ex-CEO cuja empresa falira debaixo de seu nariz?
— Mel? — Charles bateu na porta do escritório antes de abrir e entrar. —
Por que está aqui, e não na cozinha? Ah, eu me atrasei e você veio adiantar o
trabalho, certo? Desculpa, eu tive...
— Não, tudo bem, não se preocupe — ela disse, tentando soar calma e
profissional. — Está tudo certo. Estou cuidando de uma papelada aqui, preciso
enviar os pedidos dos fornecedores novos. Ah, uma moça alta e loira passou aqui
tem meia hora, quarenta minutos. Pediu para te avisar que ia voltar em breve, só
foi comprar remédio para enjoo.
Charles arregalou os olhos, parecendo assustado. Para Mel, aquela
expressão dizia que fora pego no flagra, e aquilo arrasou a administradora.
— Loira e alta? Tem certeza? Enjoo? O que Nana veio fazer aqui? — ele
se perguntou, parecendo subitamente ansioso, e saiu da sala sem dizer mais nada,
rumando para o seu escritório particular, no segundo andar da casa.
Melanie, que já estava insegura, ficou ainda mais com a pulga atrás da
orelha. Ou se sentindo uma pulga, na verdade, tal e qual a música...
Decidiu se afundar no trabalho para tirar a cabeça dos ciúmes que
borbulhavam em seu peito. Mais tarde ela poderia perguntar, como adulta, quem
era aquela modelo de passarela e o que ela era para Charles.
Capítulo 13
Carol Moura
Sinopse
Quando as coisas ficaram difíceis para Linda Hatman, a única coisa que
sua mente perturbada pensou em fazer foi fugir para Vegas e realizar os 10 itens
de uma lista rebelde. Dona de uma rede de hotéis avaliada em alguns milhões de
dólares, Linda foi preparada desde cedo para tocar os negócios da família e
jamais meter os pés pelas mão. Porém, quando ela pede para um sedutor barman
em um hotel cassino lhe ajudar com os itens de sua lista de merda, como ela
costuma chamar, a sorte é lançada. No lixo, na opinião da mulher.
Na manhã seguinte da sua noite de aventura, com uma ressaca infernal,
ela não somente descobre que alguns itens da lista foram realizados, como
também os dois últimos foram completos e muito bem consumados. Linda casou
e transou com um estranho. Agora ela só precisa cancelar o casamento, certo?
Errado.
É dia dos namorados e esse é o único dia em que nenhum cartório tem
autorização para tal procedimento. Uma lei implantada pelo governador
romântico do Estado de Nevada.
Linda então precisa passar mais um dia com o seu parceiro de crime para
conseguir cancelar a burrada que fizeram e cada um seguir o seu caminho.
Certo?
Talvez sim! Talvez não!
Para todos os leitores do Botando Banca.
Vocês são maravilhosos!
Prólogo
A lista
Seu olhar mortificado só me deixava mais revoltada.
Ele não tinha o direito de estar se sentindo mal. Era ele quem estava
fazendo aquilo comigo. Em seus olhos, eu podia ver que ele não se sentia bem
com a situação, mas pouco me importava. A culpa era dele, afinal de contas.
Como se atrevia a me olhar com tanta... compaixão?
Olhei para os papéis espalhados pela mesa e me senti ainda mais
indignada, revoltada para ser mais precisa. Não havia espaço para qualquer outro
sentimento dentro de mim naquele momento. E eu seguraria a indignação e
revolta o quanto pudesse, pois, no momento em que eu deixasse a mágoa tomar
conta de mim, tudo desabaria. Tudo.
O que eu fiz para merecer aquilo? Por que ele não se importou mais
cedo?
Quando questionei, ele desdenhou de minhas preocupações. Disse que
não era nada. E então tirou todo meu chão.
Desgraçado!
— Linda, querida, por favor, sente-se, vamos conversar com calma sobre
os... Linda! Linda! Espere!
Sequer fiquei para ouvir o que ele tinha para me dizer. Dei as costas e o
deixei gritando enquanto eu saía do local que me sufocava.
Desci os andares do prédio pelas escadas — esperar o elevador não era
uma opção — e quando cheguei ao térreo, abri a porta corta-incêndio com força
e me joguei para o hall do grande complexo de salas. Puxei uma grande
quantidade de ar quando finalmente cheguei do lado de fora do prédio.
Jenny estava me aguardando ao lado do carro e prontamente andou até a
porta e a abriu para mim.
— Senhorita Hatman — cumprimentou assim que entrei no carro.
Ela era minha motorista havia dois anos, nos falávamos pouco, mas ela
era observadora e sabia fazer as perguntas certas nos momentos precisos. Então,
no instante em que ela contornou o carro e entrou no lugar do motorista para
começar a dirigir, simplesmente se manteve concentrada na direção enquanto me
perguntava suavemente se estava tudo bem comigo.
— Tudo bem, Jenny. Me leve para casa, por favor — solicitei enquanto
pegava meu telefone na bolsa.
Quando não ouvi a sua afirmativa, levantei os olhos para ver o motivo do
silêncio. Ela me olhava através do espelho retrovisor com o cenho franzido,
como se estivesse tentando entender o motivo pelo qual eu estava querendo ir
para casa no meio da tarde de uma terça-feira, quando tudo o que fazia, mesmo
aos finais de semana, era trabalhar.
— Algum problema? — indaguei, levantando a sobrancelha para ela, que
imediatamente desviou o olhar e prestou atenção na estrada.
— Não, senhorita.
— Bom, me leve para casa, por favor.
Voltei minha atenção para o telefone que, como eu esperava, tinha muitas
chamadas não atendidas e outros muitos e-mails para serem respondidos.
— Como quiser.
Procurei me concentrar no trabalho por um momento, mas pela primeira
vez em muito tempo, não consegui pensar na rede de hotéis que eu presidia
desde a morte do meu pai, Nicholas Hatman.
Fui criada para tomar conta do império que havia sido criado com a
Hatman Hotéis desde muito cedo. Aos dezesseis, já me esforçava por um G.P.A.
impecável. Aos dezoito, já estava na faculdade cursando Negócios. Aos vinte e
[3]
homem.
Olhei para Knox e percebi que ele me analisava com algo no olhar. Não
pude identificar o que era, mas parecia... hum... sexy. Mantive os olhos nos dele,
desafiando-o. Eu não queria desviar meu olhar primeiro.
— Italiano, mas não Napolitano — os olhos de Antonio brilharam, eu
sabia que Napolitanos amavam muito o seu lugar. Nápoles é uma região do Sul
da Itália um pouco ignorada e também separatista em relação ao restante do país.
Tudo que conhecia era fruto de uma das poucas viagens que fiz. Era bela, porém
parecia que os italianos falavam outra língua.
— Gosto dela, Knoxville, eu gosto dela — Antonio sorriu
agradavelmente para mim.
— Sim, sim, tire os olhos. É minha! — Knox brincou batendo no ombro
do chef. — Antonio, queremos saber se podemos almoçar naquela mesa —
Knox pediu. — E se eu posso preparar para ela aquele espaguete.
— Hum... romântico! — Antonio brincou. — Claro, sigam! Sigam!
O homem nos direcionou até a tal mesa misteriosa. Nós atravessamos a
cozinha, e para mostrar um pouco de consideração à equipe, levei as mãos em
meus cabelos e os segurei tentando mostrar ao menos a minha intenção de evitar
que algum fio caísse na cozinha.
Andando pelas cozinhas dos hotéis, eu tinha total noção dos aparatos que
deveria usar para poder visitá-las. Quando finalmente chegamos em frente à
outra porta, Knox a abriu e me levou para dentro. O local era simplesmente
lindo. A vista da varanda dava para toda Las Vegas.
— A noite é muito mais bonito, mas temos outros planos para a noite —
respirei fundo e senti o vento mais gelado que batia em mim enquanto
novamente analisava toda a vista. Mais uma vez fiquei admirada com tudo
aquilo. Quanto tempo fazia que eu não parava para olhar o visual da minha
cidade? L.A era linda. Eu tinha parado em algum momento para olhar pela janela
do hotel em Paris quando fui visitar alguns investidores? Não, eu nem tinha
aberto as cortinas.
— Aqui é lindo, Knox! — suspirei e o fitei em seguida. — Obrigada.
— Não me agradeça ainda — puxou a cadeira e fez sinal para que eu me
sentasse. — Aproveite esse tempo para contemplar e pensar se quiser. Eu volto
logo.
Antes de partir, ele me deu um beijo no rosto, fazendo com que nós dois
nos olhássemos tentando entender o que estava acontecendo.
Enquanto Knox estava na cozinha, olhei a bela vista enquanto alisava
meu rosto, exatamente no local onde ele havia beijado.
**
Não demorou muito para ele retornar com os nossos pratos em uma
grande bandeja. Ele serviu tudo na mesa e se sentou à minha frente. Logo um
dos rapazes da cozinha estava nos servindo vinho tinto e nos desejando um bom
apetite. Olhei para o prato de espaguete na minha frente e admirei a apresentação
do prato. O macarrão estava cuidadosamente enrolado, com uma quantidade
generosa de molho por cima e um ramo de manjericão enfeitando.
— Então você cozinha! — afirmei, pegando o garfo e a colher para
comer.
— Às vezes... — ele disse, dando de ombros e pegando seus próprios
talheres. — No entanto, eu sei fazer o espaguete mais assassino do mundo, e foi
Antonio quem me ensinou. Achei que seria legal fazermos coisas diferentes
hoje. Como eu disse, gostaria que você se lembrasse de mim quando partir. E eu
aceitei o desafio de fazer esse momento inesquecível, caso não se recorde.
Um nó se fez em minha garganta. De repente, uma vontade de chorar me
invadiu. Por quê? Por que eu estava agindo daquela forma? Por que aqueles
sentimentos conflituosos brincavam dentro de mim?
O que aconteceu obviamente tinha mexido comigo ao ponto de me fazer
beber demais e tomar as decisões que havia tomado e, claro, me feito conhecer
Ryan. Mas estar com ele daquela forma, daquele jeito, contando os segundos
para me livrar da situação que havíamos nos metido e ao mesmo tempo sofrendo
por estar com as horas contadas pelo prazo de validade, era confuso.
— Obrigada, Knox. É gentil da sua parte — agradeci delicadamente e me
forcei a comer. A bola angustiante ainda estava alojada na garganta. Tomei um
longo gole do vinho e saboreei a bebida tentando me concentrar em mandar
todos aqueles sentimentos embora.
Aos poucos, o sabor da refeição foi me fazendo relaxar, e a conversa com
Knox foi limpando a nuvem desconfortável que se fez por um momento. Ele
falou de como foi parar na cozinha de Antonio e que lavava pratos enquanto
cantava. Rapidamente conquistou a confiança do chef e com isso, em pouco
tempo, estava preparando pequenos pratos. Mais uma vez fiquei encantada com
o espírito livre de Knox. De como sua vida não tinha rumo, o que o deixava livre
para ser aquilo que desejasse e fazer o que bem entendesse.
Quarenta e oito horas antes eu teria achado aquilo um absurdo.
Enquanto falávamos e ríamos, eu não fiz quaisquer perguntas com medo
que ele fizesse questionamentos a mim também, porém uma pergunta ficava
dançando na ponta da minha língua. Finalmente, quando não consegui segurar,
perguntei:
— Knox, por que você me apresentou como sua esposa? — ele comia a
sua massa e parou de mastigar por um momento quando ouviu minha pergunta.
Largou os talheres com as pontas apoiadas no prato e pegou a taça de vinho.
Assim que ele engoliu a comida, levou a taça aos lábios e bebeu um gole.
Quando finalmente largou a taça, olhou para mim, diretamente em meus olhos, e
respondeu:
— Você é a minha esposa... Por enquanto — revirei os olhos para ele. —
Eu só queria saber qual é a sensação de apresentar uma mulher tão bela como
minha.
Argh! Por que esse homem tinha que ser tão charmoso? Por que sua voz,
postura, a porra do seu olhar tinha que preencher o ambiente daquela forma?
Percebendo que fiquei envergonhada com aquelas palavras, ele tratou de
mudar o assunto.
— Pronta para a sobremesa? — disparou, se levantando. Assenti,
animada, mas minha empolgação mudou minutos depois, quando ele trouxe
Tiramisù.
Eu sorri em agradecimento, mas de alguma forma ele percebeu que eu
não estava empolgada com a sobremesa.
— Você não gosta de Tiramisù — ele afirmou.
— Não é o meu favorito, mas eu como... — antes que eu pudesse
terminar a sentença, ele recolheu a sobremesa e voltou para a cozinha. Quando
retornou, colocou uma taça na minha frente, me fazendo sorrir.
— Gelado de limão com espumante demi-sec — anunciou. Bati palmas
para a taça e peguei a colher louca para provar. Eu conhecia a sobremesa, era
italiana também, mas muito mais servida na América do Sul, mais precisamente
na Argentina. — Pela sua cara, você aprova — Ryan sentou na minha frente e
começou a provar o seu Tiramisù.
— Eu amo sobremesas cítricas!
Nós apreciamos nossos doces, e quando finalmente terminamos, Knox
levantou e estendeu a mão para mim.
— Pronta para o cassino? — dei a mão para ele e levantei.
— Knox, eu realmente não estou vestida para o cassino — justifiquei
enquanto ele me levava ao longo da sacada onde estávamos.
— Você está perfeitamente bem vestida para o cassino que vamos —
paramos em frente a uma porta e um burburinho animado saía dela. Uma placa
na porta dizia: Apenas funcionários.
Quando a porta foi aberta, avistei um grupo de pelo menos oito pessoas
em torno de mesas, alguns jogando poker, outros jogando na roleta. E todos com
os rostos desenhados com riscos vermelhos.
— Knox! — alguns gritaram em boas-vindas.
Ryan olhou para mim e disse:
— Pronta para se divertir?
**
No cassino da cozinha não rolava dinheiro. Apenas um batom vermelho
de marca vagabunda como recompensa. Aquele que ganhava a partida tinha
autorização para desenhar o que quisesse no rosto dos perdedores. Achei
barulhento, o local era abafado e tinha até um cheiro desagradável de gordura
misturado com suor. Entretanto eu posso afirmar: nunca me diverti tanto em toda
a minha vida.
Escolhemos a mesa de dados para jogar.
Era antiga, alguns números já estavam apagados na mesa — imagino que
tenha sido trocada por uma nova no cassino, e os funcionários recolheram a
antiga.
— Sua vez, baby! — Knox disse empolgado, me entregando os dados.
Eu praticamente saltitava. Peguei os dados e os chacoalhei na mão, mas antes de
jogá-los na mesa, estendi minha mão fechada para ele, bem na frente do seu
rosto.
— Assopra para dar sorte! — pedi.
Knox pegou a minha mão com delicadeza e olhou para mim antes de
puxar meu punho fechado para seus lábios e beijar. Senti meu rosto esquentar
com aquela atitude. Quando ele soltou a minha mão, sacodi os dados uma última
vez e soltei. O resultado foi exatamente o número que eu havia apostado. Vibrei
e joguei minhas mãos para cima em comemoração. Senti as mãos de Knox em
minha cintura, me fazendo parar de pular. Ele se postou bem atrás de mim e,
ainda com suas mãos em torno do meu corpo, disse próximo ao meu ouvido:
— Acho que te dou sorte, bonita — brincou, com a voz rouca, fazendo
meu corpo todo reagir a ele.
Mal sabia que ele me trazia muito mais.
Capítulo 5
Marcada na pele
— Próxima parada... Tatuagem! — Ryan informou quando saímos do
cassino. Eu ainda passava um lenço demaquilante, que consegui emprestado de
uma das funcionárias que estava no cassino da cozinha em seu horário de
descanso.
— Eu não sei, Knox! Eu nunca fiz uma — estava com medo de sentir
dor, porém também excitada. A vontade de fazer uma tatuagem era grande.
— Mais um motivo para fazer. Alguma ideia do que quer? — andamos
lado a lado de volta para a Strip.
— Não, talvez algo para lembrar esse momento? — disse como se
pedisse aprovação para a minha ideia.
— Legal, vou posar para o tatuador. Você prefere nu? — brincou, e eu o
empurrei com o ombro e comecei a andar mais rápido. — Não, não! — ele disse
e pegou na minha mão. — Você não vai fugir — Knox me parou, fazendo olhar
para ele. — A menos que realmente não queira — emendou com preocupação.
— Eu quero! Só estou com medo de sentir dor.
Dor.
Eu não queria senti-la. Nenhuma delas, nem a da cabeça, nem a do
coração e muito menos a da alma.
— Vamos escolher um local que não machuque tanto — disse, tentando
me encorajar. Durante todo o caminho mantivemos nossas mãos dadas. Foi
confortável, normal.
Foi bem-vindo.
**
Escolhi dadinhos.
Queria algo que simbolizasse a minha aventura em Vegas, mas também
algo que me lembrasse Knox. Enquanto folheava cada uma das páginas cobertas
de desenhos, tentava encontrar o símbolo perfeito para colocar em meu corpo.
Foi então que o brilho do anel dele, que estava em meu polegar, chamou minha
atenção. Quando eu disse ao tatuador o que queria, fiquei aliviada por Knox não
comentar nada a respeito da minha escolha.
Ao me sentar na cadeira, apontei para o tatuador o local no qual ele
deveria fazer a tatuagem. Seria pequena e delicada e ficaria no meu ombro.
O tatuador começou, e só o barulho da máquina já me fez apavorada.
Knox pegou a minha mão e fez um grande trabalho tentando não rir de mim.
Quando finalmente o tatuador começou o desenho na minha pele, me senti
relaxar, doía, mas era suportável. As sobrancelhas de Knox levantaram em
expectativa quando me perguntou:
— Não está doendo?
— Um pouco. Está queimando, mas você tinha razão, escolher o local
certo faz toda a diferença — disse, aliviada e mais animada com o desenho.
Ryan tinha apontado o local exato em minha clavícula para que não sentisse
tanta dor, já que aquele local era um dos mais sensíveis. Apertei a mão de Knox
delicadamente para dar ênfase às palavras seguintes: — Obrigada. Está
realmente sendo muito divertido, Knox.
O homem pareceu ter o rosto todo transformado em euforia. Como se ele
realmente estivesse preocupado com a minha diversão, com a minha felicidade.
De fato ele estava dizendo o tempo inteiro que se importava em me dar
momentos inesquecíveis, mas na vida todos nós falamos muito e prometemos
ainda mais. E quase sempre são promessas vazias.
Prometemos dieta na segunda-feira;
Prometemos o “na alegria e na tristeza” para o padre;
Dizemos que será a última vez que vamos dirigir acima do limite de
velocidade;
Juramos que é a última vez que machucamos alguém...
Mas quando realmente fazemos isso? As pessoas sempre falham em
alguma promessa, seja para si ou para outra pessoa. Então acho que nos
acostumamos a não levar muito a sério as palavras. Muito menos as promessas.
Knox parecia diferente. Não que eu tivesse muito contato com pessoas
fora do ambiente de trabalho, mas pelo o que eu conhecia do mundo, os seres
humanos estavam esquecendo a força da palavra. Parecia que promessas e
acordos não valiam de nada se não fossem gravados ou colocados em um pedaço
de papel, que exigia a sua assinatura e cláusulas que te prejudiquem caso não
cumpra a sua parte no acordo.
Com Ryan Knoxville as palavras valiam. Pelo menos era o que ele estava
me mostrando. E por Deus, tudo em mim gritava para acreditar nele, para querer
confiar nele. Eu me sentia protegida e livre ao lado daquele homem. Eu me
sentia completamente imprudente de estar com ele daquela forma, e ainda assim
nunca me senti tão bem.
— Ficou linda! — anunciei, animada, depois de olhar por um longo
tempo no espelho.
— Quero ver! — Knox se aproximou e olhou para o pequeno desenho
em meu ombro através do reflexo do espelho. Enquanto ele admirava minha
tatuagem, eu admirava seu olhar para mim. Com um sorriso satisfeito, ele
dedicou sua atenção para mim e disse para o tatuador:
— Quero uma igual a dela. Embaixo do braço e um pouco maior —
exigiu.
— Só se for agora, amigo — o homem pegou um novo par de luvas
pretas e sentou em sua cadeira pronto para começar.
— Knox...? — maneei a cabeça e pisquei, tentando entender o que ele
estava fazendo.
— Pare com isso, você está parecendo a garota de Crepúsculo agora —
debochou, indo em direção à cadeira.
— Garota de Crepúsculo? — do que ele estava falando?
— É, a que se apaixonada pelo vampiro. Ela está sempre se piscando
toda e balançando a cabeça, parece um tique nervoso.
— Não tenho ideia do que está falando — caminhei até onde o tatuador
estava e sentei no local que era ocupado por Knox anteriormente.
— É um filme. Crepúsculo, filme de livro — explicou. Filme de livro, foi
exatamente isso que me fez voar para Las Vegas. Um filme baseado em um
livro.
— Odeio esse filme — o tatuador resmungou, fazendo Knox bufar. —
Vampiros que brilham. Péssimo.
— Pode crer! — meu marido concordou. — O que fez nos últimos anos,
Linda? Não conhecer Crepúsculo é como viver em outro mundo.
Trabalhando, escondida do mundo real.
Fingindo viver.
— Ei! — Knox chamou, me puxando para fora dos meus pensamentos.
— Lembro de ter segurado a sua mão, devolva o favor e segure a minha também
— sua palma estava virada para cima aguardando o toque da minha. Ergui minha
mão e bati na dele antes de apertá-la com força, e nos mantermos conectados até
que ele tivesse os seus próprios dados.
LISTA DE MERDAS PARA FAZER EM LAS VEGAS!
1. Ir para Las Vegas;
2. Gastar uma pequena fortuna em um cassino;
3. Experimentar drinques exóticos enquanto reclama da vida para o
Barman;
4. Ver um show de go-go boy;
5. Dançar em frente ao Bellagio;
6. Andar em uma limousine com a cabeça para fora do teto solar
enquanto canto a música tema de Titanic;
7. Fazer uma tatuagem;
8. Assistir a um show cover da Tina Turner;
9. Casar com um estranho na capela do Elvis;
10. Transar com o marido estranho.
**
Ao sairmos da loja de tatuagem, me sentia destemida e pronta para a
próxima aventura. Knox provavelmente percebeu, pois ele parecia ainda mais
alegre. Seu objetivo estava sendo alcançado a cada minuto. Nós andamos pela
Strip, e embora estivesse uma temperatura agradável, o sol não estava tímido e
nos presenteava com a sua presença assim como o azul incrivelmente belo do
céu.
Quando foi que percebi o céu?
— Nossa próxima aventura só começa daqui a uma hora, o que acha de
fazermos algo? Você pode escolher.
Eu travei. Tinha que escolher algo para divertir e passar o tempo, mas o
quê?
— Não tenho ideia — respondi, frustrada. — Não sei, Ryan.
O rosto de Knox iluminou.
— Você me chamou de Ryan — franzi o cenho sem entender.
— Já chamei você de Ryan antes, Ryan.
— Foi diferente — disse, simplesmente dando de ombros e dispensando
o comentário.
Diferente como? Queria saber, mas ele parecia ter encerrado o assunto.
Então também deixei para lá. Tentando pensar no que eu gostaria de fazer para
passar o tempo, olhei em volta de onde estávamos e então dei de cara com uma
Ross Dress for Less ao lado do Hard Rock Café. A Ross era uma loja de
departamentos enorme, então pensei que já que estava fazendo turismo e me
divertindo, poderia muito bem fazer algumas compras.
— Acho que quero fazer compras — anunciei, já andando em direção à
loja.
— Compras? — o tom de voz mudou de relaxado para tenso, quase
esganiçado. Olhei para trás e vi que ele me seguia. — Linda, veja bem... eu... —
ele parou antes que entrássemos na loja.
— O que foi? — olhei para a loja mais uma vez e voltei minha atenção
para ele.
— Eu sei que prometi uma grande farra hoje, mas eu hum... Sou um
barman — justificou com o rosto mortificado. Parecia tão envergonhado. Então
percebi, em nossas aventuras até o momento, ele não havia pago. O café da
manhã com Yvone, o almoço no Antonio... Tudo bem, eles eram amigos.
Merda! A tatuagem. Tudo bem, o tatuador parecia conhecer Ryan, mas
não o vi pagando.
— Como pagou pela tatuagem? — questionei, voltando a me aproximar
dele.
— Não se preocupe com isso, Luke é meu conhecido — explicou como
se não fosse grande coisa.
— Isso eu percebi — coloquei as mãos na cintura e perguntei novamente:
— Como pagou pelas tatuagens?
— Troquei por bebidas no bar em que trabalho. Na próxima semana, ele
irá se divertir por minha conta — cruzando os braços, olhou para o outro lado da
rua, estava envergonhado.
Eu nunca me preocupava com dinheiro. Nunca ao ponto de sequer abrir a
carteira. Onde eu fosse em L.A sabiam quem eu era. As faturas apenas
chegavam. Quando eu viajava, geralmente era a negócios. Quando queria algo,
pegava e o assessor que estivesse comigo se preocupava com o pagamento. Meu
cartão de crédito foi usado por mim poucas vezes.
— Desculpe, Knox. Eu devia ter me preocupado mais com isso — eu me
sentia horrível. O cara estava perdendo um dia de trabalho e precisava se
preocupar com o dinheiro gasto.
— Não, não, Linda... Eu... — Deus, ele estava tão envergonhado...
Puxei a minha bolsa para frente e dei uma batidinha nela com a mão.
— Não se preocupe, baby... — usei seu artifício contra ele. — Eu
também posso fazer minhas mágicas. A farra econômica é por minha conta.
— Eu não posso aceitar, Linda. Não — Ryan meneou a cabeça em
negação, dando ênfase às suas palavras.
— Acabo de colocar em minha lista de desejos, Knoxville —
comuniquei. — Bem abaixo do café da manhã com a Yvone, do almoço do
Antonio e do melhor jogo de dados da minha vida — pisquei antes de enganchar
meu braço no dele. — Décimo primeiro item na LISTA DE MERDAS PARA
FAZER EM LAS VEGAS: gastar dinheiro com Knox na Ross Dress for Less.
Ele foi arrastado para dentro da loja e ficou emburrado por algum tempo,
mas acredito que era apenas orgulho. Quanto a mim, lógico que já havia entrado
em lojas de departamento. Macy’s, JC Penney, Marchalls... Eu havia conhecido
na faculdade. Mas uma frequentadora? Não. Essa foi mais uma coisa que vi com
outros olhos.
Peguei um dos cestos com rodinhas que eles ofereciam e comecei a andar
pela loja enquanto analisava os artigos. O que eu compraria? Eu tinha tudo... E
ainda sentia que não tinha nada. Ou, ao menos, nada que me agradasse. Knox
andou atrás de mim como se fosse um segurança em silêncio, até que parei em
frente a um vestido preto. Ele era justo, ficaria colado no corpo, e suas mangas
eram abaixo dos ombros. Nada de especial, mas realmente tinha gostado daquele
vestido simples.
— Tem um vestido para usar hoje à noite?
— Eu tenho aquele que mostrei mais cedo. Não coloquei nada muito
elaborado na mala. Faremos algo especial? — tirei os olhos do vestido e
coloquei minha atenção naquele belo homem. Levantando a sobrancelha como
se a pergunta fosse óbvia demais para ser respondida, Ryan se manteve calado.
— Acha que devo levar?
— Acho que você deve fazer o que quiser — informou de forma
irreverente.
Não diga isso, Knox. Se eu fizer o que eu quiser, nunca mais sairei daqui.
Ficarei com você.
Meu pensamento me assustou. Minha vontade de deixar tudo o que me
aguardava em Los Angeles aumentava a cada segundo.
Peguei o vestido, e continuamos passeando pela loja, quando uma
pergunta surgiu na cabeça.
— Knox? — chamei e me aproximei de onde ele estava, perto de uma
ilha de mostruário de relógios. Ele tinha um dos relógios em sua mão, era
praticamente todo negro, mesmo os ponteiros eram pretos, e pequenos pontinhos
sinalizavam os números. — É bonito — apontei para a peça.
— Sim, é — ele devolveu o relógio e se virou para mim. — Você queria
me dizer algo?
— Uma pergunta, na verdade — iniciei. — Quando assinamos o livro de
registro de casamento... Viu qual era o meu nome?
— Devo ter visto, Linda, mas não pergunte se me lembro. Porque eu
não... — sua face se transformou, passou de uma expressão relaxada para
intrigada. — Por quê?
— É Hatman — respondi com a certeza de que ele reconheceria.
— Sim? — instigou. — O que tem?
— Então, Senhor Knoxville, gostou do relógio? — a vendedora
simpática interrompeu a nossa conversa, e Knox deu atenção para ela.
— Sim, é lindo. Mas não levarei. Obrigado — seu telefone acabou
tocando, e ele sorriu antes de atender. — Me dê uma boa notícia, Elton — pediu,
se afastando de mim e da vendedora. Olhei para o relógio que ele estava
verificando.
— Separe-o para presente — solicitei sem perguntar o valor.
— Sim, senhora — a vendedora prontamente pegou a peça e começou a
trabalhar para fazer a sua venda.
Capítulo 6
Irônico
— Eu não vou entrar sozinha aí! — disse pela terceira vez.
— Bem, eu não estou pessoalmente animado para ver o elenco menos
bonito de Magic Mike.
— Magic Mike?
— Deus, o que você faz da vida? — perguntou assim que me mostrei
confusa sobre o tal Magic Mike. Passada a nossa quase conversa, decidi que
seria melhor não dizer quem eu era uma vez que ele não percebeu a dimensão
daquele sobrenome.
— Não vou entrar num clube de mulheres sozinha, Knox — voltei ao
assunto rapidamente.
— Eu não posso entrar em um clube de mulheres com você, Linda. Não
sei você lembra sobre ontem à noite, mas eu sou um menino.
— Então vamos cancelar.
— Não! Você vai, e eu vou organizar os itens que faltam da lista.
— Knox... — choraminguei.
— Sem Knox, vá se divertir e peça uma dança na cadeira — ele piscou,
enfiou alguns dólares em meu bolso, tirou as sacolas de compras das minhas
mãos e me deixou onde eu estava.
Entrei no ambiente escuro e sofisticado me sentindo completamente
patética. Não estava vestida para um clube de mulheres, nem estava preparada
psicologicamente também. O mais próximo que estivesse de saber como
funcionava um lugar desses foi quando acompanhei o noticiário sobre Orange
Kiss, um clube de elite para mulheres em San Diego que estava envolvido em
um esquema mafioso de lavagem de dinheiro. Tirando isso? Nada.
Não havia nenhum show, e comecei a pensar que talvez, naquele horário,
não tivesse mesmo shows. Fui até o bar e levantei a mão, pedindo para o barman
se aproximar.
— Um gin tônica, mais gin do que tônica — solicitei, e o homem
imediatamente começou a preparar. De repente, franzi o cenho e olhei em volta
novamente. — Mas que... — o bar estava vazio, exceto, o garçom e eu. — Não
tem show hoje?
— Os shows iniciam após as nove horas, senhora Knoxville — levantei a
sobrancelha para o garçom.
— Knox está metido nisso — afirmei. Claro que estava, o garçom tinha
feito questão de me chamar pelo nome de casada. — Mais um de seus favores.
— Pode apostar que sim. Ele pediu para a senhora ir até o palco e
aguardar. Meu nome é Elton.
Elton? O cara do telefone?
— Prazer, Elton, sou Linda, mas isso você já sabia.
— Pode apostar que sim — ele entregou o gin e apontou para que eu
fosse para o palco.
Assim que me sentei, uma música, que era impossível não reconhecer,
mesmo para mim, uma alienada no quesito viver a vida, começou a tocar.
Era MMMBop, do Hanson.
— Puta que pariu! — exclamei assim que vi Knox com uma peruca loira
e longa fingindo tocar teclado quando as cortinas se abriram.
QUE. MERDA. ERA. AQUELA?
Ele fez todos os tipos de danças ridículas já inventadas pelo homem
enquanto eu tentava não fazer xixi de tanto rir. Arrancando a peruca da cabeça e
jogando em mim, Ryan virou de costas e rebolou, me fazendo quase relinchar
como um cavalo louco. As lágrimas praticamente me cegavam.
Quando ele se aproximou de mim, esticou a mão para que eu pegasse.
Ainda rindo, fiz o que ele pediu e subi no palco. Ele me fez dançar na forma
mais ridícula possível junto com ele. E o pior, pulamos amarelinha imaginária.
Deus! Eu nunca ri tanto na vida!
Tirei as notas de dólar do meu bolso e comecei a enfiar no cós da sua
calça, enquanto ele fazia uns movimentos exagerados.
— Veja, esse é o passo de dança lombriga epilética — gargalhei, ouvindo
o que ele dizia. Em seguida, pegou minhas mãos e esfregou em seu peito e
barriga enquanto continuava com o movimento.
A música acabou, mas minha risada continuava ecoando pelo clube.
**
LISTA DE MERDAS PARA FAZER EM LAS VEGAS!
1. Ir para Las Vegas;
2. Gastar uma pequena fortuna em um cassino;
3. Experimentar drinques exóticos enquanto reclama da vida para o
Barman;
4. Ver um show do go-go boy;
5. Dançar em frente ao Bellagio;
6. Andar em uma limousine com a cabeça para fora do teto solar
enquanto canto a música tema de Titanic;
7. Fazer uma tatuagem;
8. Assistir a um show cover da Tina Turner;
9. Casar com um estranho na capela do Elvis;
10. Transar com o marido estranho.
Sentados na cabine, de frente para o palco, compartilhando o meu gin,
Knox e eu continuávamos sorrindo feito duas crianças.
— Você é a pessoa mais maluca que já conheci.
— Obrigado — agradeceu com uma pequena reverência. — Acredite,
maluco é bom.
— Não, sou eu quem deve agradecer, Knox — sussurrei. Peguei sua mão
e mantive minha atenção na minha mão sobre a dele. — Você queria que fosse
inesquecível. Já é, Knox, já é — dito aquilo, me levantei e fui em direção ao bar.
Pedi mais um gin para mim e solicitei que Elton levasse o que Knox quisesse
beber.
Perguntei onde ficava o banheiro e, assim que me apontaram a direção
correta, caminhei diretamente para ele. Entrei e fechei a porta, me encostando
nela e fechando os olhos. Eu já não tinha mais certeza de que sairia ilesa daquele
dia. Começava a pensar que ter ido para Vegas fora uma imprudência, mas topar
passar o dia com Ryan foi a maior das loucuras. Senti uma leve pontada na
cabeça e fui até a pia molhar o rosto.
Devia ter trazido os analgésicos que Oswald receitou.
Talvez eu deva dispensar o gin.
Pensei sobre o assunto. Meu rosto corado, os olhos brilhantes e um
pequeno vislumbre em minha tatuagem foram suficientes para me fazer pensar
que eu estava linda. Normal.
Eu parecia uma garota normal. Uma jovem mulher vivendo a vida,
aproveitando um feriado com o namorado.
Interessante.
Knox e eu mal nos conhecíamos, e já éramos casados. Por um momento,
me permiti pensar em como seria namorar com ele. Sempre seria divertido? Ele
se esforçaria para me surpreender da mesma forma?
Eu teria ciúmes dele, ou ele teria de mim?
Sozinha, naquele banheiro, me permiti sonhar e querer aquilo, mesmo
que não fosse possível. Éramos de mundos completamente diferentes, e quando
ele soubesse a verdade, provavelmente nunca mais olharia para mim. Era melhor
que terminasse daquela forma, assim ele teria uma bela lembrança minha para
sempre, assim como eu teria dele.
**
Saímos do clube, nos despedimos de Elton e seguimos pela Strip.
Procurei admirar a estrutura do local como uma turista, deixando de lado a
empresária do setor hoteleiro. Foi interessante me focar nas cores, na beleza e
arquitetura dos prédios que replicavam as principais maravilhas do mundo, e não
ficar analisando como eram seus amenities — o que os leigos conheciam por
xampuzinhos ao lado da pia do banheiro —, ou qual era o ticket médio de um
hotel daqueles. Eu apenas apreciei.
— Como é a sua família, Linda? — Ryan perguntou enquanto
passeávamos, e meu corpo todo ficou tenso. Provavelmente ele percebeu, me
analisou enquanto eu tentava procurar as palavras.
— Meus pais eram divorciados e meu pai morreu. Mamãe é casada com
um médico, e não tenho irmãos — dei de ombros.
Fui superficial, eu sabia, mas ele pareceu entender que eu não queria
falar mais, então passou a falar de si:
— Meus pais ainda estão vivos. Moram em Sacramento, não tenho
irmão, embora Noel, já conversamos sobre ele, o filho de Yvone... — explicou,
relembrando a conversa durante o café da manhã. — Ele foi como um irmão. Os
rapazes do Antonio, Elton e Philip, você não o conheceu, mas irá em breve, são
como família para mim.
— Sente falta dos seus pais? — murmurei a pergunta. Ele provavelmente
devolveria o questionamento para mim, mas minha curiosidade tinha falado mais
alto. Queria saber mais dos sentimentos daquele homem peculiar.
— Eu sinto, falo com eles toda a semana — respondeu com uma pitada
de nostalgia.
— Imagino... — murmurei. Consegui sentir aquelas palavras e acabei por
sentir falta dos meus pais também. Inclusive das coisas que nunca tivemos a
oportunidade de fazer e compartilhar como uma família. Bem, ao menos nos
moldes que eu considerava serem de uma família. — Estou ficando com fome...
— comentei e procurei mudar o tom da conversa.
— Quero levar você para jantar em um lugar especial, não queria que
comesse agora.
— Outra refeição especial? — indaguei, curiosa. — Você está me
mimando, marido.
— Você merece — informou, dando uma piscada, mas novamente um
clima se instalou entre nós. Seu belo rosto sorriu por inteiro, inclusive os olhos,
com as pequenas rugas que eu tanto gostava. — Espere aqui — ele me devolveu
as sacolas, atravessou a rua correndo e entrou em uma pequena loja de doces do
outro lado.
Quando retornou, me entregou uma garrafa d’água e um pacote de
biscoitos. Quando os abri, olhei para o formato de unicórnios graciosos e dei de
ombros antes de morder o primeiro. Fechei meus olhos e gemi. Eram deliciosos.
— Bom, não é? — ele incentivou.
— Muito. Tão... — ofereci o pacote para ele poder pegar um também.
— Sublime — completou. — É de uma empresa brasileira — informou.
— Sério? Legal! Não conheço o Brasil — contei em meio às minhas
mastigadas.
— Eu também não, mas conheço muitos brasileiros. São pessoas legais.
Eu me perguntei se para Ryan todo mundo era legal e amigo. Ele parecia
ser leal e simpático em um nível que nunca havia conhecido em minha vida,
mesmo que eu não tenha conhecido muita gente para servir de comparação.
— Olha, os músicos estão começando a montar a estrutura — meu
marido apontou. Uma moça já estava com tudo montado em frente ao Circus
Circus, um grande Cassino na Strip. Ela afinava o violão e cantarolava enquanto
dedilhava o instrumento. A caixa do seu violão estava aberta, aguardando por
trocados, e uma placa estava colada na base levantada do case de transporte. A
placa dizia:
Canto qualquer coisa.
P.S.: Menos Elvis
P.P.S.: Peça Alanis Morissette
— Alguém não gosta de Elvis e ama Alanis — ri enquanto lia. Knox
tirou uma nota de dólar do bolso e jogou no case da cantora.
— Toque Ironic, por favor — solicitou para a garota, que sorriu e
imediatamente começou a tocar a música de Alanis.
Procurei não me deixar abalar pela letra da música, que falava sobre
basicamente tudo o que a vida nos traz nos momentos errados, ou quando não
temos as armas certas para lutar. Sobre chover no dia do seu casamento, ganhar
na loteria aos noventa e oito anos.
A forma como tudo dá errado quando você pensa que está dando certo,
ou quando está tudo dando errado, e a vida trata de te dar uma ajuda para
consertar sem que você espere.
Era impossível não perceber a ironia da música. O nó na garganta se
formou novamente. Maior do que quando estávamos almoçando atrás da cozinha
do Antonio.
Knox apareceu no momento errado.
Por que eu não podia conhecê-lo em outro momento da vida? Talvez na
faculdade, quando eu ainda tinha como voltar atrás e não enterrar a minha
cabeça no trabalho.
Knox olhou para mim com empolgação, e eu procurei colocar minha
melhor máscara e sorri para que ele soubesse que eu estava apreciando o show.
Ele cantava baixinho junto com a cantora que se esforçava para fazer sua voz
parecer a da cantora original. Precisei chamar a razão para não dar meu coração
a ele.
O que estava acontecendo comigo, porra?
Capítulo 7
O poder do Titanic
— Vamos jogar um jogo — Ryan sugeriu enquanto sentávamos em um
banco próximo ao local em que a cantora que amava Alanis Morissette estava.
— Que jogo? — perguntei em meio a um gemido. Estávamos andando o
dia inteiro praticamente, meus pés, mesmo acostumados com salto doze
centímetros, estavam latejando de dor, isso sem falar na dor de cabeça que
começava a querer aparecer. Pequenas fisgadas que eu odiava. Geralmente era o
anúncio de uma dor descomunal logo em seguida Eu precisava de um remédio.
— Diga para mim três coisas que você odeia — ele ordenou.
Odeio sentir dor! Especialmente quando eu não quero senti-la.
Com a tatuagem, por exemplo, foi uma dor que eu procurei, tinha a
obrigação de sentir e aguentar. Contudo, há dores que eu nunca quis sentir. Dores
que me assustavam.
Mas escondi aquele fato para não interrompermos nossa aventura.
— Hum... — tentei pensar em algo. Tinha coisas que eu odiava,
especialmente o que eu havia descoberto no dia anterior, mas isso eu não diria a
ele. — Odeio acordar cedo. É algo que acontece sem que eu queira, mesmo no
final de semana eu acordo cedo. Eu quero me forçar a voltar a dormir, mas não
consigo. Meu cérebro começa a trabalhar assim que meus olhos se abrem e já
era.
— Isso explica o porquê de você saltar da cama cedo hoje... — seu tom
de voz era carregado de malícia.
— Pulei da cama porque seu ronco me assustou — provoquei.
— Eu não ronco! — disse, solenemente. — Tudo bem, mais duas coisas
que você odeia.
— Eu odeio perder — continuei. — Nada, nunca. Sou péssima
perdedora.
Isso estava mudando. Eu perderia em breve, muito. Especialmente o que
eu havia construído com aquele homem que já nem era mais estranho para mim.
— E o que mais? — instigou.
— Eu não gosto de beber água — dei de ombros, tentando deixar minhas
respostas superficiais. — E você?
— Eu não gosto de fazer drinques com frutas. As frutas sempre fazem
meus dedos arderem, especialmente quando me corto — iniciou.
— Mas você gosta de ser um barman — interrompi, recebendo um olhar
de reprovação.
— Isso é para as três coisas que mais gostamos, espere a vez, mulher —
ralhou, me fazendo levantar as mãos em rendição. — Eu não gosto de cigarros,
aliás, odeio e... Não tenho problemas em perder — seus olhos eram como duas
adagas perfurando os meus. Como se ele quisesse que eu absorvesse cada sílaba
das suas próximas palavras. — Mas eu realmente odeio desistir, Linda. Eu odeio.
O que eu deveria responder?
O que ele queria que eu respondesse?
Aquilo era para mim? Sobre desistir?
Tudo bem, talvez eu estivesse desistindo, mas ele não tinha ideia do que
estava acontecendo. Ele mal sabia quem eu era. Por que se importava tanto?
Optei por ignorar aquela indireta e partir para a próxima questão.
— Tudo bem, coisas que você gosta — joguei rapidamente.
— Você primeiro — Knox empurrou a questão para mim.
— Eu fui primeiro antes, agora você — devolvi.
— Tudo bem... — ele se rendeu, se ajeitou no banco e logo voltou a falar.
— Gosto de tomar café da manhã na Yvone, me faz lembrar dos meus pais —
iniciou. — Gosto de ser um barman e gosto de você.
— Não faça isso, Knox... — quase implorei. Minha voz traiu meus
sentimentos ao tremer quando solicitei a ele que parasse.
— Sua vez — respondeu como se eu não tivesse falado a minha última
sentença.
— Eu gosto...
Do que eu gostava?
Parecia que tudo o que eu costumava gostar havia mudado em pouco
mais de vinte e quatro horas. Era ridículo eu dizer que gostava de cálculo, ou de
macchiato no café da manhã ou de pintar minhas unhas de vermelho.
— Eu não sei do que eu gosto... — declarei magoada, e pela primeira vez
vi tristeza nos olhos sempre sorridentes de Knox.
**
Quando a noite começou a cair, Ryan voltou a falar ao telefone. Depois
da brincadeira ter ficado tensa, resolvemos voltar a andar. Enquanto
continuávamos passeando pela Strip, o dia lentamente ia dando espaço à noite. O
dia dos namorados estava chegando ao fim, e a minha lista também. Três itens
ainda precisavam ser riscados.
E Knox estava pronto para riscar o próximo item. Mesmo com a
movimentação e a poluição sonora que começava a se instalar na rua mais
movimentada de Las Vegas, foi impossível não ver o grande carro laranja se
aproximando ao som da música tema de Titanic, My Heart Will Go On, de
Celine Dion.
— Knox! — exclamei, horrorizada. — Isso não é uma limousine, é um
parque de diversões ambulante — eu estava chocada, o carro parecia não ter fim,
era quase do comprimento de um ônibus.
— Vamos, baby, vamos riscar o item número seis da lista — ele pegou a
minha mão e me arrastou para aquela imensa abóbora.
A música estava a todo volume dentro do carro.
— Você sabe... — ele iniciou enquanto nos acomodávamos. — Foi
proibido esse passeio que você quer dar, com o corpo para fora do teto solar.
— Foi?
— Sim, é perigoso e muito barulhento — ele revirou os olhos quando
disse aquelas palavras. — Então o governador entrou com esse decreto.
— O governador adora fazer decretos inconvenientes, não? — acusei,
frustrada e praticamente gritando por cima da música.
Knox pareceu não gostar do que eu disse, mas não respondeu. No lugar,
ele continuou a falar:
— Mas o Xander ali — apontou para o motorista que dava a partida no
carro imenso — vai para a rua lateral, para que você possa realizar o item
número seis. Foi o máximo que consegui.
Ele estava se desculpando? Oh, Knox!
O homem tinha sido maravilhoso comigo o dia inteiro.
— Está perfeito, é perfeito! — assegurei.
— E nós temos apenas quinze minutos. É apenas um favor então... —
deu de ombros um pouco envergonhado.
— É o suficiente.
Assim que fomos liberados para subir no teto solar, me senti
envergonhada. Por que diabos eu escolhi cantar a música tema de Titanic no teto
solar de uma limousine? Peguei um cachecol de plumas verde limão que estava
disponível dentro da limousine e enrosquei em meu pescoço, decidida a não me
deixar abalar pela minha própria loucura e aproveitar aquela gafe homérica. Mas
não sem Knox.
— Você vem comigo! — ordenei, o puxando para cima.
Ele se posicionou atrás de mim, e juntos começamos a cantar a música
com Celine Dion.
Knox pegou minhas mãos e fez com que eu abrisse os braços.
— Você está voando — brincou, fazendo referência a cena icônica de
Rose e Jack na proa do navio.
— Eu estou voando — repeti, sabendo que ele não entenderia a
profundidade do que estávamos dizendo naquele momento, ele realmente estava
me fazendo voar.
Movi meus dedos, os abrindo um pouco, e os entrelacei entre os de
Knox. Sua mão era enorme em volta da minha e me fazia sentir segura. Meu
coração parecia querer pular para fora do peito enquanto o vento batia em meu
rosto e cabelos e minhas costas ficavam cada vez mais coladas no peito dele. A
música foi esquecida, e Celine Dion gritando foi ignorada por mim e por Ryan.
Eu sabia, sentia em seu corpo que, assim como eu, ele já não se importava, com
a música, onde estávamos, ou quem nos via. Apenas queríamos um ao outro.
Virando o meu rosto em sua direção, olhei em seus olhos, de perto.
— Ryan — chamei seu nome, tentando obter sua atenção — eu menti —
disse um pouco mais alto. Meus olhos fugiram para os seus lábios, e ele
percebeu, já que sua boca se contraiu em um pequeno sorriso. Seu cenho parecia
franzido quando voltei meu foco aos seus olhos, como se estivesse confuso com
o que eu havia dito.
Sem qualquer cuidado com o que poderia vir depois, sem pensar nas
consequências e, principalmente, sem levar os problemas que me aguardavam ao
chegar em casa, simplesmente soltei:
— Eu menti quando disse que não sabia do que gostava — nós
permanecemos com nossos braços abertos, e eu descansei a cabeça em seu peito
e continuei olhando para ele. — Eu gosto do café da manhã na Yvone, gosto dos
Hanson, gosto de tatuagens e Alanis Morissette... E, definitivamente, gosto do
dia dos namorados.
Pronto! Tudo o que precisava ser falado foi gritado contra o vento e por
cima da música.
Foi como se meu peito estivesse cheio de algo pesado e eu tivesse jogado
tudo para fora. Ficou tão leve, que doeu. Meu coração estava tão disparado, que
meu peito doía. Ryan me fitou fixamente antes de finalmente agir. Seus braços
fecharam, ainda grudados aos meus, e me abraçaram com firmeza.
— Posso te beijar? Por favor? — eu quase não pude ouvir o que ele disse
com a música brega tocando tão alto. Assenti, maravilhada que ele ainda
estivesse preocupado com o que eu queria e que se desse ao trabalho de me
perguntar até onde poderia ir comigo.
Seus lábios caíram sobre os meus de forma firme e apaixonada. Seus
lábios eram macios, como na noite anterior, e também exigentes, exatamente
como no momento em que estávamos rolando na cama. Sua língua logo pediu
passagem, e suas mãos apertaram as minhas, que ainda estavam descansadas em
torno da minha barriga.
Seu corpo se colou ainda mais ao meu, era todo firme, duro e quente.
Deus, eu podia sentir o calor daquele corpo através das roupas. Lembrei de como
eu adorei sentir a sua pele na minha na noite anterior, em como o corpo de Knox
se esfregando, invadindo o meu, me deixou em êxtase, completamente entregue
a ele.
O vento batia com força e fazia meus cabelos chicotearem nossos rostos,
mas nenhum de nós se importou, estávamos mais preocupados em fundir nossos
corpos ali mesmo.
Como podia? Como em um dia aquele homem conseguiu estar sob a
minha pele em apenas um dia?
Deus! Como eu sairia daquilo?
De onde eu tiraria forças para sair daquilo? Onde encontraria forças para
virar as costas para aquele belo homem de sorriso fácil, brilho nos olhos e pura
gentileza em seus atos?
Suas mãos subiram e emolduraram o meu rosto, o empurrando ainda
mais contra o seu. Sua língua se aprofundou, degustando a minha e
aprofundando mais o beijo. Quando nos separamos, estávamos sem ar, não
escutávamos nossas respirações sobre a música, mas nossos peitos subiam e
desciam quase teatralmente. Nossos lábios, entreabertos e nossos olhares
estavam famintos um para o outro.
Knox saiu do aperto da abertura do teto solar e desceu para dentro da
limousine. Em seguida, suas mãos foram para a minha cintura e me puxaram
para baixo também, me colocando em seu colo e voltando a me beijar. Nossas
bocas eram tão boas juntas, que eu questionava todos os outros beijos que eu
havia dado em minha vida. As mãos de Knox passearam pela lateral do meu
corpo até que chegaram em minhas coxas, e ali apertaram a carne por cima do
jeans. Mordi seu lábio inferior com delicadeza e o chupei uma última vez antes
de voltar a beijá-lo profundamente. Minhas mãos se divertiam com os seus
cabelos rebeldes, e meu corpo todo se divertia com as sensações que sua boca na
minha provocava.
Mas então a limousine parou.
Nosso tempo esgotou.
E a magia se desfez.
Capítulo 8
A magia acabou
Assim que entramos na minha suíte de hotel, Knox foi diretamente para a
sua mochila. De lá tirou uma muda de roupa da mochila e apontou em direção ao
banheiro, pedindo permissão para tomar um banho. Eu assenti rapidamente,
pronta para tentar melhorar o clima entre nós depois do que aconteceu na
limousine. Quando a porta fechou, eu fui até minha bolsinha e peguei um
analgésico para a dor que começava a crescer em minha cabeça.
Assim que o motorista parou o carro e desligou a música, nos separamos
e tudo havia acabado. Descemos da limousine rapidamente, e Knox agradeceu e
se despediu do seu amigo. Quando voltou para perto de mim, parecia cauteloso.
Eu me fiz de desentendida e puxei um assunto qualquer para tentar quebrar o
gelo.
Ele parecia magoado, mas novamente respeitou a minha vontade. Nós
voltamos para o hotel cassino em que eu estava hospedada e fomos direto para a
minha suíte. Faltavam ainda dois itens para terminar a lista, e eu simplesmente
não sabia como terminar a noite sem ser nos braços de Ryan Knoxville.
Qualquer outra pessoa pensaria: está na chuva? Então, se molha!
O problema era que pegar aquela chuva me deixaria muito molhada e
provavelmente esturricada com um raio caindo bem no meio do meu rabo
egoísta.
Como aguentaria me machucar ainda mais?
**
Ryan saiu do banheiro já vestido e falando no telefone. Vestia uma
camisa branca simples, um jeans escuro, e o cabelo ainda estava molhado. Deus,
como ele era lindo. Seu cheiro másculo e limpo flutuou até mim fazendo coisas
completamente estúpidas com o meu corpo.
— Porra, que droga! — exclamou, chateado. — Não, tudo bem, cara. Sei
que fez o seu melhor. Fique tranquilo — resmungou antes de finalizar a ligação.
Assim que ele abaixou o telefone, se virou para mim.
— Algo errado? — logo questionei, enquanto colocava uma mecha do
cabelo atrás da orelha e aguardava por sua resposta antes de ir para o banheiro.
— O show cover da Tina Turner... Eu estava tentando um show de
verdade... — colocou a mão atrás da cabeça e coçou a nuca como se estivesse
envergonhado. — Mas meu amigo, um que trabalha na produção da casa de
show, não conseguiu... Só pagando mesmo, e bem... — ele parecia mortificado.
— Eu sou duro, Linda. Um duro.
— Você fala como se fosse um problema, Knox. Está tudo bem — e
realmente estava, o cara tinha se esforçado o dia inteiro para realmente fazer o
meu dia ficar melhor.
— Linda, eu não sou um idiota — respondeu, frustrado, abrindo os
braços. — Olha esse quarto, você certamente é uma garota com dinheiro — meu
corpo todo reagiu às suas palavras. — Não precisa ser muito esperto para
perceber isso. Como se leva uma garota rica para se divertir?
— Knox...
— Eu não dou a mínima se você é herdeira de um poço de petróleo, eu
apenas queria que você se divertisse, mas aí não há shows cover da Tina Turner,
só existe um concerto com a verdadeira Tina, e eu pensei: não custa nada...
— Knox...
— Mas é claro que algo teria que dar errado e...
— Knox! — chamei mais alto para que ele parasse. Sua voz morreu, e
ele olhou para mim esperando que eu finalmente falasse, mas eu apenas levantei
um dedo pedindo que ele esperasse um segundo e peguei o telefone na cabeceira
da cama. Disquei 9, como instruído, e logo a recepção atendeu. — Aqui é Linda
Hatman, por favor, consiga dois convites para o concerto da Tina Turner na casa
de shows... — olhei para Knox esperando que ele dissesse o nome para mim.
Piscando rapidamente, ele se embaralhou por uns segundos, mas finalmente
murmurou:
— Divas.
— Divas — respondi para o recepcionista.
— Sim, senhorita. Posso incluir na sua conta?
— Absolutamente — respondi e desliguei em seguida. Olhei para Knox e
sorri dando de ombros.
— Você é tipo a Paris Hilton? — ele perguntou, ainda um tanto
impressionado.
Não, eu trabalho. Sou mais uma Ivanka Trump, querido.
Pensei, mas nada disse. Deveria estar assustada, já que ele revelara ter
percebido que eu tinha dinheiro. E eu poderia estar muito errada sobre o meu
julgamento, mas não acreditava que Knox faria alguma coisa contra mim. Muito
menos se negar a cancelar o casamento.
Peguei o vestido que havia comprado naquela tarde e comecei a juntar
minhas coisas para o banheiro, mas Knox me parou.
— Eu vou descer e pegar uma bebida... — ele parecia completamente
perdido enquanto olhava em volta. — Respirar um pouco de ar fresco...
Lá estava, ele ficou intimidado. Era sempre assim! Merda!
— Knox! — chamei assim que ele abriu a porta. Ele olhou para trás e
sorriu como se soubesse pelo meu tom que eu estava preocupada.
— Estarei lá embaixo, baby — uma piscadinha rápida, e a porta foi
fechada.
Jesus amado! Me ajuda. Estou seriamente em apuros.
Eu me deixei cair de cara na cama e dei um grito abafado contra os
lençóis.
Fui para o banheiro e me despi para um longo e quente banho. Tentei não
imaginar como seria o dia seguinte, o dia em que cancelaríamos o casamento.
Para ser honesta, me machucava pensar em como tudo aconteceria.
Sequei meus cabelos com o potente secador do hotel e tentei modelá-lo
com os itens que tinha em minha bolsa. Eu não fiz um trabalho muito bom
quando fiz minha mala estando bêbada, então os cabelos não ficaram
satisfatórios, me fazendo prendê-los na nuca e mais soltos na frente. Por sorte, a
bolsa de maquiagem nunca se separava de mim, então ao menos na maquiagem
eu poderia caprichar. Optei por um batom vermelho e olhos bem marcados.
Meus olhos... brilhavam como nunca antes.
Eu estava completamente fodida.
O vestido de ombros caídos mostrava a tatuagem e me fez sorrir, o local
estava levemente vermelho, mas os pequenos dados eram realmente delicados e
bonitos. Eu me lembraria de Ryan para sempre.
Mas então, mesmo sem uma tatuagem, acho que nunca esqueceria dele.
Nunca!
**
Ao sair do elevador, carregava apenas minha carteira e a caixa com o
relógio que havia comprado para Knox. Fui até a recepção para pegar meus
convites para o show da Tina Turner e sorri ao tê-los em mãos. Conhecia as
músicas e gostava da cantora, mas quando fiz a lista não estava pensando muito
em qualquer um dos itens, eu apenas coloquei nela o que eu, bêbada, achava que
seria divertido. Mas Knox fez de cada número algo especial. Por isso não tinha
dúvidas de que o show seria igualmente inesquecível.
Quando me aproximei do bar, logo o identifiquei. Ele estava de costas
para a entrada, mas eu conseguia saber que o belo e imponente homem sentado,
com a cabeça apoiada nas mãos, era ele. Toquei seu ombro e fiquei ao seu lado.
— Estou pronta — Knox prontamente levantou a cabeça e deu atenção
para mim. Seu rosto era impagável quando me viu.
— Nossa, Linda! Você está maravilhosa — revelou com admiração.
Seus olhos me analisavam com um misto de vários sentimentos. Ia de
ternura à luxúria em segundos, como se ele simplesmente quisesse me colocar
em seu ombro e me levar dali, mas também quisesse me abraçar e adorar. A
sensação de ser analisada daquela forma era sem igual. De repente, eu mal podia
respirar, meu corpo todo ficou quente e arrepiado, e eu só queria que ele voltasse
a me beijar como fizera antes. Que me colocasse em seus braços e fizesse o que
quisesse comigo.
Lentamente levantei a caixa do relógio e coloquei na frente dele.
— Feliz dia dos namorados, Knox — eu não sei motivo de dizer aquilo.
Ok, eu sabia. Eu disse porque quis, mas não entendia por que estava fazendo
aquilo conosco. Comigo. Desde aquela tarde, cada minuto que eu passava com
aquele homem era mais um prego que eu martelava em meu peito.
Knox olhou para a caixa preta, com a marca do relógio brilhando na parte
de cima.
— Você não devia ter feito isso, Linda — ele engoliu em seco sem tirar
os olhos do presente.
— Eu queria. Você gostou dele e fez tantas coisas maravilhosas comigo
hoje, Knox. Eu nunca podia agradecer o suficiente. Por favor, aceite — abri a
caixa e tirei a bela peça negra de dentro. — Me deixa colocar em você — pedi,
esticando as mãos em direção ao seu pulso direito. Sem dizer uma palavra, ele
aproximou seu braço, dando o aval que eu precisava para colocar o relógio em
seu pulso.
— Eu não lhe dei nada... — começou a dizer assim que terminei de
colocar o objeto nele, mas o interrompi.
— Você provavelmente nunca vai saber, Ryan Knoxville, mas você me
deu em vinte e quatro horas muito mais do que eu tive em uma vida inteira.
Sua mão foi colocada em meu rosto, e daquela vez eu simplesmente não
desviei o olhar, queria que ele tivesse certeza de que eu falava a verdade para
ele. Ao menos aquela verdade. Ele aproximou o rosto do meu e beijou minha
bochecha por mais tempo do que geralmente um beijo na bochecha costumava
levar. Eu suspirei, levemente desapontada por seus lábios tocarem o meu rosto, e
não os meus lábios. Mas talvez ele finalmente tivesse entendido. Nosso prazo
estava esgotando, e continuar nos afogando não seria bom para qualquer um de
nós.
— Vamos? Tina Turner nos aguarda — convidei, dando um passo para
trás e estendendo minha mão para que ele a pegasse.
Capítulo 9
Sempre em minha mente
— Deus, que vergonha! Eu não conhecia quase nenhuma música do
repertório da mulher — reclamei de mim enquanto andávamos em direção à
última tarefa restante da minha lista maluca. Dançar em frente ao Bellagio.
Antes disso, disse a Knox que o levaria para jantar em um dos restaurantes mais
famosos de Las Vegas, mas ele apenas declinou, dizendo que queria muito
terminar a última tarefa.
— Mas você pareceu gostar muito do show, mesmo não conhecendo a
música.
— Como não gostar, Knox? A mulher tem quantos anos? Setenta? Deus!
Ela tem mais vitalidade do que eu. E quando ela cantou a música do filme do
Mel Gibson... — estalei os dedos tentando puxar da memória o nome do filme.
— Mad Max! — Knox ajudou. — A música se chama We Don’t Need
Another Hero.
— Obrigada! Sim, essa música, foi uma loucura. E quando ela cantou
Simply The Best? — perguntei animadamente, o fazendo rir da minha atitude. Eu
sorria, me sentindo leve e animada.
Um arrepio de frio passou pelo meu corpo e me abracei, tentando conter
o frio. Devia ter levado um casaco, estávamos no deserto, porra! Era frio à noite.
— Eu não tenho um casaco, mas tenho meus braços, então vem aqui —
Knox me puxou para junto dele, e relaxei dentro do seu abraço. Nós
continuamos a caminhar vagarosamente pela rua, e quando percebemos,
estávamos em frente ao lindíssimo Bellagio. O show das águas tinha começado,
e a minha ideia não era a mais inovadora: inúmeros casais faziam o mesmo que
nós pretendíamos.
Dançavam em frente ao show aquático e colorido. Homens em seus
ternos embalavam suas esposas ainda em seus vestidos de noiva. Eles sorriam
apaixonadamente um para o outro, e por vezes até trocavam beijos delicados e
amorosos. Olhei para Knox sem saber o que veria. Ele tinha um grande sorriso
nos lábios enquanto analisava os casais fazendo seus rituais.
— Você sabe o nome da música que está tocando? — ele me perguntou,
sem tirar a sua atenção dos dançarinos apaixonados.
Claro que eu sabia. Mesmo eu, uma alienada social, conhecia aquela
música.
— Always On My Mind, Elvis Presley — disse, vidrada no rosto dele.
— É a música mais ouvida do Elvis, no mundo inteiro. Chega a ser
piegas, de tão ouvida. Mas, sabe...? — ele finalmente me olhou. — Acho que
não poderíamos dançar uma música mais bela. Realmente, Linda, você sempre
estará em minha mente. Foi tudo diferente desde ontem.
Ele me puxou e fomos até onde estavam os outros casais. Knox nos
embalou de um lado ao outro vagarosamente enquanto nos olhávamos no fundo
dos olhos um do outro.
— Eu não posso dizer que tenho experiência com muitos homens... —
iniciei sem desviar minha atenção dele. — Mas eu posso dizer que você também
sempre ficará em minha mente, Knox. E talvez... — minha voz embargou com
emoção. — Talvez você tenha estragado qualquer chance de eu querer outra
pessoa novamente como eu quero você.
Foi o que bastou para ele me beijar. Um beijo lento, lânguido,
apaixonado e que me preenchia de todas as formas. Eu podia sentir o calor do
seu corpo no meu, suas mãos firmes em minha pele.
— Knox? — chamei, entre nosso beijo, sem parar a nossa dança.
— Hum? — ele não parecia muito interessado em minhas palavras, assim
não deixou de movimentar seus lábios nos meus.
— Vamos para o hotel — pedi, me separando dele.
— Você... — percebi que ele parecia decepcionado com as minhas
palavras, havia entendido errado, com certeza, mas eu não o culparia.
— Eu quero uma última noite com você — esclareci, com firmeza. Ryan
não pareceu espantado com a minha declaração, mas certamente parecia em
dúvida também.
— Por que, Linda? — sussurrou enquanto me analisava.
— Eu... eu só quero — respondi, começando a sentir uma angústia.
Talvez ele tivesse desistido de mim depois que eu ignorara suas investidas
durante o dia. Talvez depois de eu finalmente ceder, a brincadeira tivesse perdido
a graça... — Vo...você não... ugh, me quer?
— Acredite em mim, baby, eu quero você, quero de uma forma que
talvez você nunca vá saber. Eu só não quero que se arrependa como nesta
manhã, quando você acordou.
Ele parecia tão triste, eu realmente tinha sido uma biscate mais cedo...
Deus! Tudo havia acontecido pela manhã e parecia que estava há dias
com Knox. Era como se nos conhecêssemos há muito mais tempo.
— Eu fui uma cadela, Knox — minhas mãos foram para o seu belo rosto
e acariciaram sua pele com delicadeza. — Me desculpe. Mas eu estou sóbria
agora, sei exatamente o que estou fazendo, e eu quero mais um momento com
você, Ryan — minhas palavras eram calmas, sussurradas e firmes. — Quero ter
um pedaço seu e deixar um meu com você.
Fechando seus olhos com força, bem apertados, Knox respirou fundo.
Acho que estava colocando os pensamentos no lugar. Aguardei, sem tirar meu
foco dele, e quando seus olhos se abriram, havia um brilho determinado ali.
Pegando minha mão com firmeza, ele me puxou e saiu andando, se afastando do
Bellagio e de todos aqueles casais apaixonados.
**
Nada foi dito ou feito durante todo o trajeto até o hotel. Knox continuava
calado, e eu estava com medo de apenas ser deixada lá e ele sumir até o dia
seguinte, quando tudo estaria acabado. No momento em que entramos no quarto
de hotel e fui colocar o cartão-chave para ativar as luzes, Knox deteve a minha
mão e pegou o cartão dela, o colocando na mesa e não permitindo que as luzes
se acendessem. Sem uma palavra, me virei para ele e esperei.
Suas mãos estavam um pouco errantes, uma novidade, vindo daquele
homem que tinha se mostrado tão seguro comigo. Ele acariciou meus ombros e
delicadamente passou o polegar em minha tatuagem. O contato ardeu um pouco,
mas não tive qualquer reação negativa, meu corpo todo estava preparado para o
prazer que ele estava prestes a me dar.
Seus dedos subiram pelo meu pescoço, causando arrepios, e foram até
onde meus cabelos estavam presos, os soltando em seguida. Quando suas mãos
voltaram, começaram a tirar o meu vestido, que deslizou pelo corpo até estar
amontoado ao meus pés. Ryan voltou a me acariciar, mas adicionou sua boca a
equação.
Começou pelo meu pescoço, beijando delicadamente, esfregando seus
lábios, indo e voltando na curva, enquanto suas mãos acariciavam meus braços e
começavam a adentrar a área dos meus seios. Quando suas palmas finalmente
cobriram meus peitos minha cabeça pendeu para trás, e um leve gemido fugiu
dos meus lábios.
— Knox... — murmurei, mas ele não respondeu. Seus lábios finalmente
estavam ocupando o lugar uma das mãos, tomando meu mamilo em sua boca, a
enchendo com o meu seio. Ela o chupava com firmeza e delicadeza ao mesmo
tempo, sem me machucar. A carícia erótica me fez buscar seus cabelos e apertá-
los entre meus dedos enquanto começava a sentir meus joelhos falharem.
Soltando meu peito, ele se ergueu e finalmente me deu sua boca,
beijando-me com força e paixão. Sua língua invadiu a minha boca rapidamente,
exigindo ser aceita pela minha boca. Minhas mãos começaram a desabotoar sua
camisa enquanto nosso beijo devorava pedaços das nossas almas. Quando a
camisa de Knox estava fora de seu corpo, minhas mãos foram avidamente para
seu jeans. Seus pés trabalharam, tirando os sapatos, e aproveitei a deixa para
fazer o mesmo com os meus. Eu não era uma mulher baixa, mas assim que desci
dos saltos, sorri entre nossos beijos, eu tinha ficado muito menor do que ele.
Abri o botão do seu jeans e brinquei com o cós de sua roupa intima,
tirando dele um grunhido quase selvagem com a minha brincadeira. Sem
vergonha, espalmei minha mão em sua ereção e apertei com cuidado, enchendo a
minha mão com o seu pau duro e quente, que esperava por mim. Não sabia que
era possível ter água na boca durante o sexo, mas tive, minha boca salivou para
ter o seu membro dentro dela. E foi o que fiz.
Parei de beijá-lo nos lábios e tracei um longo caminho de beijos,
lambidas e mordidas até o seu membro. Quando me ajoelhei no chão e abaixei
sua boxer, Knox se afastou e me puxou para ele.
— Não, deixe-me...
— Não é momento para isso. Deixe que eu adore você e seu corpo,
Linda.
— Mas e você?
— Eu sou feliz fazendo você feliz, baby — ele me ergueu em seus braços
e puxou uma perna para circular em sua cintura. A outra, eu circulei por conta
própria. Logo estava em seus braços.
Suas mãos vieram para a minha bunda e apertaram minhas nádegas com
um pouco de força. Em seguida, ele andou até a cama e me colocou deitada, para
logo voltar a explorar o meu corpo com delicadeza. O erotismo estava em seus
lábios, dedos e ponta da língua, que fazia meu corpo se contorcer e arrepiar.
Nossas mãos ficaram frenéticas um no outro, ao passo que nossas respirações
aumentavam e preenchiam a grande suíte de hotel.
Se eu pudesse escolher uma música para embalar nossa transa, escolheria
a mesma canção que dançamos em frente ao Bellagio, Always On My Mind, do
Elvis Presley. Quem sabe seguiria de Ironic, da Alanis Morissette...
Em vinte e quatro horas, Knox e eu tínhamos até trilha sonora. Deus!
Como seria a minha vida sem ele depois do cancelamento?
Não me permiti pensar sobre aquilo, apenas voltei minha mente para
aproveitar o que ele estava me proporcionando naquele momento.
Ele voltou a chupar meus seios e desceu beijando minha barriga
enquanto sua mão começou a brincar com o meu sexo molhado e completamente
necessitado dele. Sua mão colocou minha calcinha para o lado, e sem qualquer
cerimônia, dois de seus dedos me invadiram, arrancando um gemido alto de
mim. Seus lábios desceram mais e beijaram uma de minhas coxas, como se
fossem meus lábios. A medida que sua língua brincava com a carne trêmula da
minha perna, seus dedos entravam e saiam de dentro de mim.
Quando Knox parou, se ajoelhou na cama e tirou minha calcinha. Eu
não podia ver seu rosto, mal conseguia vê-lo na penumbra do quarto, mas podia
imaginar seus olhos queimando, ardendo no meu corpo, me fazendo sentir linda.
Ele saiu da cama, eu sabia que estava em busca de um preservativo. Ouvi o
barulho da embalagem da camisinha sendo rompido e não muito tempo depois
Ryan estava em cima de mim, despejando beijos aleatórios em meus seios,
pescoço e lábios.
Senti ele esfregar seu membro para cima e para baixo em minha entrada
e gemi abrindo mais as pernas. Queria tudo dele, queria que ele me invadisse por
completo, que nossos corpos se fundissem de maneira que eu pudesse sentir
aquilo novamente cada vez que ele invadisse meus pensamentos quando
estivesse longe. Queria que Knox me marcasse, para sempre, como uma
tatuagem.
Quando ele entrou em mim, meus lábios se contraíram em um sorriso
satisfeito, e minha cabeça tombou para trás. Foi quase como se eu não
conseguisse conter a satisfação de finalmente tê-lo comigo. Por inteiro,
completo.
— Porra!
Ouvi ele dizer, sua voz era apertada e rouca de prazer enquanto seus
quadris se movimentavam para frente e para trás. Enrosquei minhas pernas ao
seu redor e movimentei meus quadris para que o atrito necessário nos ajudasse a
chegar no clímax juntos. E quando ele veio, Knox e eu gritamos nossos nomes e
gememos tão alto quanto podíamos. Extravasamos toda a tensão que havia sido
construída desde o início do dia.
Não queria que ele parasse de se movimentar pelo único motivo de não
querer que aquilo tivesse fim. Ryan me beijou apaixonadamente mais uma vez
antes de sair de cima de mim e pular para fora da cama.
Escutei ele se movendo até a porta e depois ouvi o barulho conhecido, os
eletrônicos do quarto apitando e uma pequena luz se acendendo no abajur ao
lado da porta. Knox havia posto o cartão chave na porta e habilitado a luz. Ele
estava de costas para mim, seu belo corpo e bunda à mostra me fizeram querer
chamá-lo de volta para a cama, mas não precisei. Ele foi rapidamente até o
banheiro e em seguida voltou, sem o preservativo. Deitando-se ao meu lado, ele
me puxou para os seus braços e me fez suspirar. Acariciei seu peito enquanto ele
alisava meu braço e beijava o topo da minha cabeça.
Ficamos um longo tempo daquela forma, apenas aproveitando a
companhia um do outro, mas logo o feitiço foi quebrado.
— Eu estava pensando... — começou com cuidado. — Talvez
pudéssemos trocar nossos números de telefone e manter contato...
Imediatamente me senti tensa e me separei dele como se seu corpo
estivesse pegando fogo.
— Não, Knox — disse categoricamente. Peguei tudo o que podia do
lençol e me enrolei nele ficando em pé imediatamente.
— Ei, espere! Eu não pedi você em casamento... — ele riu da ironia
daquelas palavras. — Apenas pensei, já que somos tão bons juntos, poderíamos
sei lá...
— Não, Knox! — exclamei novamente e andei até o banheiro, me
fechando dentro dele.
Que merda!
Por que de todos os caras que querem sempre foder e ir embora, Ryan
Knoxville tinha que ser aquele que gostaria de ficar?
Knox não parecia satisfeito com a minha resposta também, as batidas na
porta soaram quase ao mesmo tempo em que a fechei.
— Linda! Vamos conversar! Por favor! — ele pediu.
— Não quero falar.
— Qual é o problema? Eu apenas gostaria de manter contato... — de
repente ele ficou em silêncio. — Como sou estúpido! Você é casada! —
exclamou, alto, do outro lado. — Por isso todo o desespero. Jesus! Como sou
burro.
Fiquei enfurecida com o que ele disse, então abri a porta do banheiro em
um rompante e fui para cima dele. O encarei com fúria e mágoa.
— Acha mesmo que eu seria capaz disso? — não podia acreditar que ele
tivesse dito aquilo.
— Bem, se não é isso é o quê? Porque, honestamente, Linda, você
parecia muito inclinada a continuar o que estávamos tendo há poucos minutos.
Durante todo o dia eu vi você lutar contra o que estava rolando entre a gente,
mas depois que nos beijamos na limousine, eu pensei que poderíamos ter uma
chance... Eu certamente gostaria que tivéssemos, mas então você age como se
tudo tivesse sido um erro. Só posso pensar que você já tem alguém e bem... Que
você o traiu.
— Eu não tenho ninguém — aquelas palavras não poderiam ser mais
verdadeiras e dolorosas. Eu não tinha ninguém. Não tinha. Estava sozinha.
— Bem, então o que é?
— Não, Knox! Deixa isso para lá! — pedi, fugindo do seu olhar. Tentei
contorná-lo e ir até minhas roupas para me vestir, mas ele segurou meus braços.
— Se tudo o que aconteceu conosco não foi suficiente para fazer você
me dar uma resposta plausível, então tenha ao menos um pouco de compaixão e
diga mesmo assim. Tenha alguma consideração comigo, por favor, porque é
loucura, mas eu estou...
— Não diga! — implorei, baixinho, cansada.
— O que há de errado, Linda? Por que não podemos explorar o que
temos? Sei que você mora em Los Angeles e que tem a sua vida lá, mas se
realmente quisermos, podemos trabalhar nisso — sua voz trazia um tom
dolorido, como se ele estivesse implorando por uma chance.
— Não... — continuei dizendo, tentando evitar que as lágrimas caíssem.
Quando eu voltasse, tudo estaria acabado. Eu precisaria enfrentar tudo, e Knox
não poderia estar perto.
— Por que não, porra? Por que você está negando o que está acontecendo
entre a gente? Não é possível que você não enxergue! — ele gritou. Arregalei os
olhos, assustada com ferocidade de suas palavras. No momento seguinte, perdi o
foco do seu rosto, graças às lágrimas gordas que se acumulavam e que eu tentava
evitar a todo custo que rolassem. Quando voltou a falar, a voz dele era mais
contida: — Você disse que não tem ninguém e não é como se você fosse morrer
amanhã, então... — no momento em que ele disse a palavra morrer, o soluço
dolorido saltou para fora da minha boca e minhas pernas cederam. — Ei, Linda!
Knox chamou, me pegando em seus braços, e caminhou para cama. Em
seguida, sentou e me manteve em seu colo enquanto eu chorava sem parar.
— Fale comigo! Linda, por favor! Fale comigo! — eu podia ouvir o
desespero em sua voz enquanto ele tentava saber o que estava acontecendo
comigo.
Eu apenas me segurei a ele e chorei. Chorei por tudo o que estava
acontecendo. Pelos anos de vida que perdi me dedicando aos negócios da
família; por não ter o apoio emocional e psicológico da minha mãe, por sequer
ter o interesse dela em me fazer prestar mais atenção à minha saúde. Eu não tive
ninguém para dizer: pare! Vá ao médico! Procure saber o que são estas dores de
cabeça.
Senti os lábios de Knox em minha cabeça e desejei que ele pudesse me
curar com seus beijos. Desejei que pudéssemos ter nos encontrado em outras
circunstâncias. Desejei não ser eu.
Capítulo 10
Sem Volta
Pareceu uma eternidade até que eu pudesse me controlar e falar. Knox
ainda me mantinha em seus braços, protegida. Alguns longos suspiros depois,
consegui começar a falar.
— Meu pai morreu, vítima de um aneurisma. Ele se rompeu, e quando
meu pai chegou ao hospital, já era tarde demais — iniciei. — Nós sempre fomos
uma família focada em tudo, menos em ser uma família. Então, assim que ele
morreu, conselheiros, acionistas e advogados estavam em cima de mim —
aguardei Knox perguntar quem eu era, ou quanto dinheiro eu tinha, mas ele
continuou mudo. — Eu logo assumi os negócios da família, já trabalhava em
nossa empresa, e o passo seguinte era muito simples e certeiro. Se meu pai
faltasse, eu assumiria — engoli em seco.
“Eu apenas fiz o que estava nas cartas para mim. Abaixei a cabeça e
trabalhei. Mas então eu comecei a ter algumas vertigens e dores de cabeça. Nas
primeiras vezes, eu ignorei, mas então as dores começaram a ficar mais fortes
quando tinha alguma crise. Assim, resolvi chamar meu padrasto.”
“Ele é neurocirurgião, e pensei que poderia me ajudar. Ele disse que
provavelmente era estresse, mas que marcaria alguns exames para mim. Depois
me deu algumas pílulas, mas acho que caiu no esquecimento para ele. Fiquei
tranquila, se caíra no esquecimento, provavelmente não era importante. Ele era o
médico, de qualquer forma, e marido da minha mãe, pensei que podia confiar
nele. Só que eu tive uma vertigem muito forte e acabei caindo, apaguei...”
Respirei fundo e olhei para Knox. Eu estava deitada em seu ombro, então
apenas estiquei meu pescoço para ver a sua reação, mas ele não me passava
nada. Seus olhos estavam fora de foco. Talvez percebendo o que eu diria a
seguir.
— Os médicos solicitaram uma bateria de exames, mas eu não quis ficar
para o resultado. Assim que me senti melhor, exigi alta do hospital e voltei para
casa. Mas no dia seguinte... Ontem pela manhã, Oswald me chamou em seu
consultório para dizer que eu tinha um aneurisma sacular. Não lembro do
tamanho, mas lembro dele dizer que é grave — Ryan endureceu neste momento.
Eu estava me sentindo um pouco mais corajosa, então me desvencilhei dele e
fiquei em pé. — É necessário operar, ele pode estourar a qualquer momento,
segundo ele, está comprimindo a irrigação de sangue em certas regiões.
— Vo... você deveria estar aqui? Viajar assim? — ele finalmente falou,
sua voz mostrava que estava alarmado. Neguei com a cabeça. — Deus! Linda!
— Não faz diferença, Knox, eu poderia morrer em casa, dormindo —
expliquei.
— E poderia morrer dentro de um avião também... Mas resolveu morrer
em Las Vegas? — seu tom de voz correu rapidamente de tenso para furioso. —
O que diabos você estava pensando? — gritou, bravo.
— Em viver! — gritei de volta. — Eu nunca saltei de paraquedas, nunca
dirigi embriagada, nunca usei drogas, fumei ou bebi em excesso, e olha para
mim: uma bomba-relógio na merda da minha cabeça, Ryan!
— E você decidiu ficar revoltada e vir para Las Vegas?
— Sim!
— Você é louca! — acusou, se levantando. Apertei o lençol firmemente
contra o corpo. — Devia ter ficado, ido se tratar. Precisa operar isso.
— Eu posso morrer na mesa de operação, Knox — murmurei, tentando
engolir a próxima leva de soluços. — Se eu for, talvez não volte.
Ryan ficou quieto por um momento, branco, o sangue parecia todo ter
fugido do seu belo rosto.
— Eu bebi demais na manhã anterior, cheguei em minha suíte e comecei
a beber.
— Suíte? Você estava em um hotel?
— Moro em um hotel, Knox. Sou dona da rede Hatman de hotéis — os
olhos dele ficaram enormes com a revelação. — Sim, bem, acho que não
entendo nada sobre ter um lar, afinal de contas. E não entendia nada sobre viver,
me aventurar. Knox, eu tenho trinta anos e não sabia o que era diversão. É
surreal. Mas a verdade é que fui treinada desde que tive idade suficiente para
assumir os negócios da família. Fui convencida que teria tempo no futuro para
aproveitar o que eu estava deixando para trás. Bem, desculpe se eu pirei um
pouco e fiz a primeira coisa que passou pela a minha cabeça — novamente as
lágrimas começaram a escapar. Funguei e limpei o nariz com o pedaço de lençol
que tinha firmemente segurado em meu punho.
Naquele dia, Ryan tinha me olhado com simpatia, animação, curiosidade,
desejo e mesmo paixão. Mas naquele momento ele estava me olhando com
piedade. E eu odiei aquilo.
— Não faça isso, Ryan. Não me olhe desse jeito — pedi, me afastando.
— Estou preocupado com você — justificou, como se fosse óbvio.
— Por quê?
— Que pergunta estúpida é essa, Linda? — disse com irritação na voz.
— Não é idiota, Ryan! Nos conhecemos há vinte e quatro horas. Nós
brincamos e fodemos por aí.
— Foi isso para você? Brincadeira e foda? Fazer imprudência para ver se
você morria sem ser esquecida? — suas palavras não poderiam ser mais
verdadeiras e dolorosas.
— Talvez! — retruquei, brava, ferida. Ver a decepção nos olhos dele me
doía mais do que a iminência da maldita morte.
— E você encontrou o primeiro babaca disponível para a sua despedida
mórbida? Muito obrigado! — ele abriu os braços e começou a olhar em volta.
Quando focou em sua calça, andou até a peça e a pegou, voltando a procurar
pelas outras peças. Ele encontrou sua boxer e começou a se vestir.
— O que está fazendo? — perguntei, nervosa.
— Eu preciso respirar, não posso ficar aqui agora.
— Mas o cancela...
— Não se preocupe, vou assinar o cancelamento — e com isso ele
terminou de se vestir e saiu pela porta, a batendo atrás de si.
Não sei por quanto tempo olhei para a porta enquanto as lágrimas grossas
desciam copiosamente pelo rosto. Não lembro de quanto tempo demorei para me
mover. Quando o fiz, fui para o banheiro e tomei um longo e quente banho. Senti
uma fisgada na cabeça e tentei identificar se era realmente dor ou minha mente
estava me pregando uma peça. Assim que estava de banho tomado, lembrei do
momento em que recebi a bomba do médico, também conhecido como meu
padrasto.
Infelizmente, as notícias não são boas, Linda...
Precisamos dizer à sua mãe...
Recomendo uma cirurgia imediatamente...
Há riscos que precisamos levar em consideração...
Deveria ter solicitado um exame logo, mas você é tão jovem e não estava
nas estatísticas de pré-disposição, sem problemas de hipertensão como seu pai...
Deveria ter dado mais atenção a você quando veio a mim...
Suas palavras vieram em ondas, e eu não conseguira filtrar nem metade
delas. Era como se eu estivesse ficando surda, tudo estava abafado. Quando
finalmente consegui respirar e voltar a mim, estava completamente transtornada.
Naquele momento, olhei para os papéis espalhados pela mesa e me senti
ainda mais indignada, revoltada. Não havia espaço para qualquer outro
sentimento dentro de mim naquele momento. E eu seguraria a indignação e
revolta o quanto eu pudesse, pois, no momento em que eu deixasse a mágoa
tomar conta, tudo desabaria. Tudo.
O que eu fiz para merecer aquilo? Por que ele não se importou mais
cedo?
Quando o questionei, ele desdenhou de minhas preocupações. Disse que
não era nada. E então tirou todo o chão de mim.
Desgraçado! Ele simplesmente me negligenciou!
— Linda, querida, por favor, sente-se, vamos conversar com calma sobre
os... Linda! Linda! Espere! — sequer fiquei para ouvir o que ele tinha para me
dizer. Dando as costas, o deixei gritando quando saí do local que me sufocava.
Desci os andares do prédio pelas escadas, esperar o elevador não era uma
opção. Quando cheguei ao térreo, abri a porta corta fogo com força e me joguei
para o hall do grande complexo de salas. Puxei uma grande quantidade de ar
quando finalmente cheguei do lado de fora.
Então, para me torturar um pouco mais, lembrei do dia perfeito que tive
com Ryan. Deitei na cama e me mantive acordada, olhando para a porta na
esperança de que ele entrasse. E como em todo o dia que passamos juntos, ele
não me decepcionou.
Depois de um tempo imensurável, Ryan bateu na porta. Apressadamente,
fui até a porta e abri, seus olhos estavam vidrados nos meus. No momento em
que nos olhamos, ele deu um passo para frente, depois outro, até ficar cara a cara
comigo. Sua testa descansou na minha, e tudo o que podia ouvir eram nossas
respirações. Ryan beijou a ponta do meu nariz e fechou a porta atrás de si antes
de andar, me empurrando em direção à cama. Quando ele finalmente estava em
cima de mim, seus lábios tomaram os meus vagarosamente.
Nós fizemos amor por um longo período, e quando terminamos, ele me
deixou chorar contra o seu peito até dormir.
**
Pela manhã, eu acordei primeiro que Knox, tomei um novo banho, vesti
roupas confortáveis e fiz as malas sem que ele despertasse. Pedi serviço de
quarto para que tomássemos café da manhã antes de fazer o check-out e me
sentei na varanda, em posse do meu telefone e da certidão de casamento. Pulei
novamente todas as minhas mensagens e escrevi para minha mãe e meu
padrasto, avisando que estava voltando para casa à tarde. Também liguei para
Stacy, precisava que ela fizesse algo para mim.
— Senhorita Hatman! Graças a Deus! — seu tom era histérico e aliviado
ao mesmo tempo. — Preciso falar com a senhora...
— Eu não tenho tempo agora, Stacy...
— Você vai me escutar agora, Linda! — ela gritou ao telefone. — Você
vai ouvir o que tenho a dizer e depois eu mesma peço demissão, mas eu não vou
deixar de falar!
Fiquei imóvel e calada na linha por um momento enquanto ouvia a
respiração furiosa da minha assistente do outro lado.
— Tudo bem, Stacy, estou ouvido — disse, por fim.
— Oh! Graças a Deus! — exclamou, aliviada. — Seu padrasto, o doutor
Carly, proibiu você de voltar para casa de avião, Linda, aparentemente você
poderia ter morrido quando foi para Las Vegas. É muito perigoso para os
pacientes com o seu caso.
— Oh? — foi o que consegui dizer. Knox estava certo, eu estava louca!
Quanta imprudência. Mas eu nada sabia sobre a minha situação e não esperei por
explicações.
— Sim! Oh! — Stacy parecia cansada, ela devia estar apagando inúmeros
incêndios com a minha ausência. — É verdade, senhorita Hatman? Que a
senhorita está...
— Sim, é verdade — sussurrei de volta para ela. Meu peito se apertou ao
admitir para ela, mas também me senti confortada por sua preocupação. Stacy
era tratada como uma colega de trabalho, não amiga. Eu conversava com ela,
ríamos de algumas coisas, mas nunca procurei explorar qualquer relação além de
profissional com ela. Eu me senti mal, seria mais uma coisa a qual poderia
perder.
— Sinto muito, senhorita.
— Está tudo bem, eu preciso de um favor — solicitei, mudando o rumo
da conversa. — Descubra o número de seguro social de Ryan James Knoxville e
de sua conta bancária e deposite... — quanto eu depositaria para ele? Nenhum
dinheiro no mundo pagaria o que ele fez para mim. — Apenas me entregue as
informações quando eu chegar... E já que estou voltando para L.A de carro, por
favor, contrate um transporte e peça para me buscar em uma hora no endereço
que vou passar por mensagem, sim?
— Sim, senhorita.
— E, Stacy?
— Pois não?
— Você não precisa se demitir, obrigada.
Desliguei o telefone e fiquei olhando para a nossa certidão de casamento.
Linda Knoxville.
Era um bonito nome.
— Oi — ouvi baixinho da porta da varanda. Olhei para cima e tentei
sorrir. Ele era tão lindo... Os olhos inchados de sono e os cabelos bagunçados o
deixavam mais sexy ainda.
— Bom dia, o café da manhã está chegando a qualquer momento —
informei e sinalizei para que ele sentasse ao meu lado. Ficamos em silêncio
enquanto comíamos. Queria que ele dissesse algo, mas parecia longe, muito
longe dali.
Estava chateado comigo?
Ansioso para que tudo terminasse, agora que sabia da minha condição?
Eu não sabia. Mas à medida que Ryan se distanciava, mais aumentava a
minha vontade de terminar com tudo aquilo. Ainda que fosse me matar por
dentro, era melhor do que vê-lo tão distante.
Pedi um motorista particular e tive a ajuda de Knox para carregar minha
bagagem.
— Não é necessário — tentei dissuadi-lo, mas ele apenas sorriu sem
graça e dispensou a minha preocupação, colocando sua pequena mochila nas
costas e carregando a minha mala para fora do hotel.
Durante o trajeto até o cartório, olhei a Strip e tentei me despedir de cada
local que eu havia passado. Especialmente do Bellagio. Foi naquele momento
que eu percebi o que nunca poderia dizer para Ryan.
Que eu estava apaixonada por ele.
Era loucura se apaixonar tão rapidamente...
Talvez fosse a iminência da morte...
Ou talvez fosse amor mesmo, à primeira vista, ao primeiro contato, amor
ao primeiro beijo, paixão ao primeiro sorriso. Fascinação ao primeiro olá...
Mas a vida precisava continuar, e Knox não estava em meu futuro.
O que estava em meu futuro?
Eu ia morrer sozinha?
Ia sobreviver com sequelas?
Para quem eu deixaria o império que tinha herdado?
As perguntas rodavam em minha cabeça, me deixando cada vez mais
triste.
Quando chegamos ao cartório, pedi ao motorista que aguardasse e subi os
degraus lado a lado com Knox. Então parei e puxei sua mão para que ele parasse
também.
— Ryan, eu apenas queria agradecer por tudo — senti uma lágrima
escapar e rapidamente a limpei. — Você provavelmente nunca entenderá, mas o
que disse antes é verdade: você me deu muito. E eu espero que você seja feliz —
meu queixo tremeu quando disse as últimas palavras. — Você merece.
Ryan se aproximou e beijou meus lábios com delicadeza. Sem dizer uma
palavra, soltou minha mão, voltou a subir os degraus e entrou no cartório. Meu
peito doeu. Aquele tinha sido nosso último beijo?
Se fosse, aquilo me atormentaria enquanto eu vivesse. Não era suficiente,
não foi o suficiente o que tivemos até aquele momento. Mas era tudo o que eu
tinha.
E estava acabado.
**
— Knoxville! — ouvimos nossos nomes serem chamados e nos
levantamos lentamente na sala de espera. Knox bateu com as palmas das mãos
nas pernas e nada disse. Eu respirei fundo e me ergui, tirando forças sabe-se lá
de onde para seguir em frente.
Nós passamos pelo corredor extenso até que chegarmos em frente a uma
mesa. Um homem engravatado estava olhando por cima dos seus óculos para o
documento em sua mesa. Após alguns segundos, empurrou os papéis para nós e
disse de forma entediada:
— Favor conferir os dados e assinar.
Era isso?
Simplesmente seria daquela forma que acabaria?
Fechei os olhos e tentei me lembrar do momento em que Knox e eu nos
casamos.
Estávamos bêbados, obviamente. Mas foi divertido.
Muito.
— Eu prometo que eu descobrirei como te amar, respeitar e apoiar...
Agora podemos transar?
Sorri com a lembrança, mas meu sorriso caiu no momento em que Ryan
pegou a caneta e assinou na parte assinalada do documento. Ele se virou para
mim e entregou a caneta, piscando rapidamente. Tentando afugentar as lágrimas
que queriam aparecer, peguei a caneta e me abaixei para assinar o meu nome.
Peça-me para parar.
Minha mente gritou e finalmente uma lágrima escapuliu.
Então, esperando mais um momento, eu finalmente tomei coragem e
assinei o maldito papel.
— Ótimo! — Knox exclamou, pegando meu braço e me virando de
frente para ele com rapidez e firmeza. Olhei um pouco assustada para o seu ato,
mas não tive muito tempo para raciocinar. — Agora posso levá-la para um
encontro, pedir para namorar comigo e fazermos as coisas na ordem certa —
declarou antes de me beijar ferozmente em frente a todos na sala.
Sua língua foi implacável, exigindo passagem, dançando dentro da minha
boca e arrancando gemidos de dentro de mim. Minhas mãos envolveram o seu
pescoço e meu corpo se colou ao seu com tamanha necessidade, que não queria
mais soltá-lo.
Um pigarro foi solto e finalmente nos separamos. Knox me olhava com
determinação.
— Os senhores já podem sair... — o homem começou a falar com o
mesmo tom entediado, e Ryan levantou a mão para que ele se calasse. Sua
atenção nunca saiu de mim.
— Eu não vou desistir de você, Linda Hatman.
— Knox, isso é loucura. Moramos longe... — comecei a argumentar.
— Eu vou para Los Angeles, não me importo — resolveu rapidamente.
— Somos de mundos diferentes... — eu não queria dizer o verdadeiro
motivo, mas ele parecia saber exatamente o que estava passando em minha
mente.
— Linda, não tenha medo — pediu, segurando meu rosto.
— Eu posso morrer, Ryan — as palavras saíram com dor, e logo as
lágrimas jorravam para fora dos meus olhos. — Eu posso ficar na mesa de
operação.
— Eu serei o motivo para você voltar, Linda. E você vai voltar para mim.
Você é minha, e eu sou seu.
Aquele homem...
Deus! Como eu poderia olhar em seus olhos e mandá-lo embora? Era
impossível não ter sentimentos por ele, impossível não querer ele comigo para
sempre. Meu corpo estava completamente tomado pela emoção, de excitação ao
ouvir as palavras de Ryan para mim. Ele me queria. Independentemente da
minha doença, independentemente do meu dinheiro.
— Ryan... Eu estou apaixonada por você — as palavras saíram junto com
um sorriso nervoso.
— Eu sei, baby. Eu sinto o mesmo. É como se eu estivesse me vendo em
você.
— Com licença? — o homem entediado resmungou novamente, fazendo
com que eu e Knox olhássemos para ele. — Devo rasgar o cancelamento? —
perguntou com uma carranca e a sobrancelha esquerda erguida.
— Não! — Knox disse.
— Sim! — respondi ao mesmo tempo. Nós nos olhamos rapidamente.
— Quero fazer a coisa certa com você, baby. — justificou a sua negativa.
— Você já fez, Ryan, quando você disse: eu prometo que eu descobrirei
como te amar, respeitar e apoiar... Agora podemos transar? Bem, menos a
última parte — brinquei.
— Com a última parte.
— Obrigada! — agradeci novamente. — Por me dar aquele drinque.
— Obrigado por aparecer na minha vida — deu um beijo delicado em
meus lábios.
— Obrigada por estar na minha.
— E eu agradeço se me derem uma resposta: posso rasgar a anulação? —
o homem ranzinza perguntou novamente.
— SIM!
Respondemos juntos.
Juntos.
Nós estávamos juntos.
Epílogo
Três anos depois
LISTA DE MERDAS DAS MELHORES COISAS PARA FAZER EM
LAS VEGAS!
1. Ir para Las Vegas; Eu fui!
2. Gastar uma pequena fortuna em um cassino; Gastei em batom
também.
3. Experimentar drinques exóticos enquanto reclama da vida para o
Barman; Ganhei um drinque com o meu nome.
4. Ver um show de go-go boy; Novo conceito de go-go boy inventado
com sucesso!
5. Dançar em frente ao Bellagio; Deus! Foi lá que descobri que o amor te
pega rápido, basta conhecer a pessoa certa.
6. Andar em uma limousine com a cabeça para fora do teto solar
enquanto canto a música tema de Titanic; Nunca diga na minha cara que Titanic
é brega! Eu mato você!
7. Fazer uma tatuagem; Estou na terceira e contando...
8. Assistir a um show cover da Tina Turner; Dei de presente de natal o
DVD remasterizado de Mad Max para Knox.
9. Casar com um estranho na capela do Elvis; Três anos, três
casamentos... E contando.
10. Transar com o marido estranho. Todos os dias! Sempre que possível...
Era nosso aniversário de três anos de casamento/namoro/dia que nos
conhecemos. Nós estaríamos de partida para Vegas na semana seguinte, para
comemorar, mas eu sabia que Ryan estava preparando alguma surpresa para
mim, ele sempre fazia isso.
Entrei em nossa casa e tudo estava silencioso e escuro. Assim que cruzei
o batente da porta, pulei para fora dos meus saltos e larguei minha bolsa em cima
do aparador do hall de entrada. Mantive apenas as flores que havia comprado e a
caixinha com o presente. Era nosso aniversário.
— Ryan? — chamei, tentando descobrir onde ele estava. Nenhuma
resposta.
Por um momento, pensei que ele tinha esquecido do nosso dia, mas era
impossível. Ele tinha uma bela vantagem. Nosso aniversário era um dia antes do
dia dos namorados, e a cidade toda estava preparada para aquele dia. E se eu
fosse honesta? Ele nunca se esqueceria. Ryan Knoxville era o homem mais
perfeito que havia conhecido. E, por sinal, era meu.
Naquele mesmo dia em que desistimos da anulação do nosso casamento,
voltamos para o apartamento de Ryan. Ele fez uma boa mala para a viagem,
organizou tudo o que pode e fechou as portas. Eu tentei dizer que poderíamos ir
devagar, que ele poderia ficar, mas o homem estava decidido em voltar comigo e
me fazer entrar no primeiro hospital para arrancar o aneurisma da minha cabeça.
Palavras dele, não minhas.
Eu estava morrendo de medo. Quando me dei conta do que realmente
estava acontecendo, a raiva e a revolta deram lugar ao puro medo. Mas Ryan
nunca me abandonou. Nós voltamos para Los Angeles de carro, minha mãe e
padrasto já aguardavam por mim, assim como Stacy. Todos ficaram assustados
quando apresentei Knox como meu marido, mas a preocupação sobre a minha
saúde acabou ofuscando a notícia do casamento.
Na semana seguinte, Ryan e eu estávamos nos despedindo.
— Adeus! — disse, tentando me despedir corretamente dele. Deitada na
maca e preparada para a cirurgia, os médicos apenas aguardavam eu me
despedir para poder ir para o centro cirúrgico e ser sedada.
— Adeus? De jeito nenhum, estarei te esperando bem aqui quando você
voltar. — ele respondeu firmemente.
— Knox, é sério — iniciei a conversa. Ele tinha que entender que eu
poderia não voltar. — Eu deixei tudo preparado para você. Está tudo com Stacy.
— Eu já disse que não quero o seu dinheiro, não me casei e nem me
mantive casado com você por isso...
— Eu sei, Ryan. Eu sei! Mas isso não faz de você menos merecedor. Eu
quero que fique bem... — seus olhos pareciam desesperados quando fui
interrompida.
— Eu vou ficar bem, com você. Entendeu, Linda? — pela primeira vez eu
vi o meu amor desesperado. Tudo nele gritava terror. Estava aterrorizado com
aquela situação, mas só estava demonstrando naquele momento. Oh, Knox! —
Eu não tive tempo o suficiente, não tive o bastante de você, baby. Eu... eu te
amo. Eu te amo e não quero ficar sem você, então não me diga adeus.
— Tudo bem — assenti junto com a resposta, sentindo meu coração
apertar.
— E quando você voltar, vamos nos casar novamente. E no próximo ano
também, e em todos os anos...
Ele sorriu, e seus olhos brilharam, verdadeiras piscinas de lágrimas se
formaram dentro deles. Piscando rapidamente, ele se aproximou e me beijou.
Um beijo perfeito, doce e cheio de coragem. Um beijo que me dizia para voltar e
pegar tudo mais que ele tinha a me oferecer.
E assim eu fiz.
Eu voltei.
Voltei para ele.
Foram oito horas de cirurgia, mas eu voltei. Perdi 40% dos movimentos
do braço esquerdo, mas, ao acordar, ele estava lá. Bem, todos estavam lá. Minha
mãe, meu padrasto, Stacy, alguns conselheiros da empresa... Mas,
principalmente, Ryan. Meu marido estava lá, com um sorriso cansado, aliviado e
radiante ao mesmo tempo. Estava aguardando para me dar tudo o que ele tinha,
todas as novas aventuras que teríamos em nosso futuro.
Eu estava tão feliz em estar viva, que não me importei em perder parte
dos movimentos, eu simplesmente foquei em meu futuro. Com o tempo, fiz
fisioterapia e recuperei um pouco mais dos movimentos, minha mão não abria e
fechava com rapidez e nem abria completamente, meus dedos não esticavam
completamente. Mas para ser honesta, se eu não tivesse nenhum movimento,
estaria feliz também. Com Ryan, tudo na vida sempre tinha um sentido diferente.
Quando estava fora de perigo, minha mãe foi implacável sobre o meu
casamento. Engraçado perceber Judy Carly, uma mulher que basicamente só se
importava com ela mesma, tirar um tempo para se preocupar com a filha. Mas
depois que eu disse que não era da conta dela com quem eu casava e deixei claro
que o dinheiro da Hatman Hotéis era meu, ela sossegou. Então começou a ser
implacável para que eu tivesse um casamento de verdade.
Mal sabia ela que tive o melhor casamento de todos, porém, por outro
lado, seria bom estar sóbria em uma cerimônia. Então, após seis meses, nos
casamos novamente, em uma cerimônia discreta em um dos nossos hotéis em
Beverly Hills.
Foi um belo casamento, mas em seguida tivemos nossa primeira
discussão. Ryan se negava a assumir um cargo alto na Hatman Hotéis. Ele
alegava que não era honrado. E depois de semanas discutindo sobre o assunto,
coloquei a situação de maneira invertida para ele.
— E se fosse o contrário? E se você fosse o dono de tudo? Ia me querer
como uma garçonete em um dos hotéis? — perguntei, alterada, já estava cansada
daquilo tudo.
— Eu... não sei... Eu só não sei se tenho vocação para ficar atrás de uma
mesa, Linda — respondeu, um tanto frustrado.
Então chegamos a um acordo, nem tão alto, e nem tão baixo. Knox
estudaria e seria gerente de alimentos e bebidas de um de nossos complexos. Ele
ficou satisfeito, eu nem tanto, mas o amava, queria ele confortável e feliz.
Tudo continuava escuro e sem nenhum sinal dele. Nunca havíamos
comemorado em casa, então eu não sabia muito bem o que esperar.
Ninguém na cozinha;
Ninguém na sala;
Ninguém no escritório;
Ninguém nos quartos extras, que em breve desejávamos preencher.
Faltava o nosso quarto, então caminhei até lá e entrei. Lá estava: a claridade era
mínima e vinha do banheiro. Eram velas, as chamas brincavam fazendo sombras
na parede, e o aroma era inconfundível. Andei até o banheiro da nossa suíte,
curiosa para saber o que meu marido havia aprontado.
Não era a primeira vez que ele preparava um banho de banheira para
mim, e definitivamente não era a primeira vez que ele preparava um banho de
banheira com ele nu, envolvido na equação. Ainda assim, estava excitada e
ansiosa para vê-lo. Ansiosa para dar-lhe o meu presente também.
Segurei a caixa e as flores firmemente e empurrei um pouco mais a porta,
entrando no banheiro. É claro que ele estava lá, dentro da nossa grande
hidromassagem, coberto de espuma e pétalas bregas de rosa, mas ainda assim,
tão romântico... Ironic, de Alanis Morissette, estava tocando, e as velas
iluminavam o belo conjunto de ser humano que era o meu marido. Seus braços
estavam abertos e apoiados na banheira. De onde estava, eu podia ver sua
tatuagem, aquela que combinava com a minha e que nos lembraria, mesmo sem
necessidade, da melhor loucura que fizemos um dia.
— As flores são para mim? — perguntou com o semblante que eu mais
amava: completamente feliz, de um modo que seus olhos conseguiam sorrir mais
do que a boca.
— Sim, e o presente também — informei, deixando ambos em cima do
pequeno deque que tínhamos na hidromassagem. — Não toque, quero dar a você
— apontei, fazendo ele levantar as mãos em sinal de rendição. Comecei a me
despir para me juntar a ele, quando ouvi:
— Devagar! — pediu, assim que comecei a desabotoar a blusa.
— Você quer um strip? — levantei a sobrancelha para ele em
questionamento, o homem era sempre ansioso demais para colocar as mãos em
mim. Nossas brincadeiras dificilmente iam até o final, não demorava muito, ele
pulava em mim.
— Estou ansioso demais para assistir um strip-tease agora, baby. Só tira
devagar e depois vem para mim — eu sabia! Ele era sempre assim.
Fiz o que ele me pediu. Tirei minhas roupas vagarosamente e prendi
meus cabelos no alto da cabeça antes de entrar na banheira. A essa altura, a
música que tocava já era outra, Always On My Mind. Sentei de frente para ele,
encaixando minhas pernas em volta da sua cintura e sentindo a dureza do seu
membro em meu centro.
Beijei seus lábios delicadamente e depois espalhei beijos por todo o seu
rosto e ombros, até que estávamos encaixados e nos movimentando juntos. Será
que um dia cairíamos na rotina? Perderíamos a chama? Esperava que não, queria
amar e desejar meu marido até o fim dos meus dias e tinha certeza absoluta que
ele desejava o mesmo. Vagarosamente, Ryan se esforçava para entrar mais fundo
em mim enquanto meus lábios soltavam gemidos de prazer, de puro êxtase.
— Eu te amo! — disse fervorosamente enquanto a velocidade de suas
investidas ganhava velocidade. Rebolei e acompanhei seu ritmo, até que juntos
estávamos obtendo o nosso ápice e gemendo alto de satisfação.
**
— Feliz aniversário — sussurrou, acariciando meus braços. Deitei em
seu peito e me permiti relaxar na água quente e borbulhante.
— Feliz aniversário. Esse foi calmo — descansando a cabeça em seu
ombro, olhei para cima. — Gostei assim, pensei que você ia aprontar algo para
relembrarmos Vegas antes de ir para lá.
— Você esperava me encontrar com uma peruca loira dançando
MMMBop?
Gargalhei, me lembrando do quão ridículo ele estava.
— Ainda não consigo entender como você foi capaz de uma besteira
daquelas.
— Eu já estava caído por você, baby, faria qualquer coisa para que você
não encostasse em nenhum homem...
— Mentira! — bati em seu ombro. — Não havia go-go boys naquele
horário, e você sabia...
— Tudo bem, tudo bem! — admitiu. — Eu só queria que você se
lembrasse de todos os momentos, mesmo dos ridículos. Você era a pessoa mais
linda que eu tinha colocado os olhos. Mas também a mais triste.
Seu rosto suavizou com a lembrança, e eu estiquei o pescoço e o beijei.
— Eu nunca me esqueceria, amor. Nunca. Você trouxe motivos para
sorrir e viver a vida. Serei eternamente grata.
— Temos história. Três anos, Linda. Três anos que encontrei a mulher da
minha vida.
— Nossa história é a melhor. E quando tivermos nossos netos,
poderemos contar para eles como foi que nos conhecemos, nos apaixonamos e
nos casamos em vinte e quatro horas.
— Soa louco quando falamos assim, mas aquelas vinte e quatro horas
pareceram durar semanas, meses — brincou. — E sobre contar para nossos,
bem, temos que ter bebês primeiro.
Ryan queria filhos após um ano de casamento. Eu queria esperar mais.
Ainda tinha medo de que pudesse ter algum problema na contenção do meu
aneurisma, mesmo os médicos descartando veemente a possibilidade. Mas eu
não poderia evitar, passar por aquela agonia, por aquele medo. Tudo tinha ficado
em mim por muito tempo. Foi necessário terapia naquele ano para que eu
pudesse seguir em frente.
Diminui o ritmo de trabalho também, eu queria viver mais a vida e queria
aproveitar nosso amor antes de adicionar filhos. Quando finalmente decidimos
comumente que teríamos um filho, estávamos mais do que empolgados em
praticar, para que nossos herdeiros viessem ao mundo. Combinamos três.
Queríamos uma família grande e estávamos prontos e consciente para aquilo.
Então...
— Sim, temos que ter filhos antes de termos netos, concordo — eu me
virei, ficando de joelhos, e beijei seus lábios antes de pegar a caixinha de
presente. — Sobre isso...
Ele pegou a caixa com facilidade, mas não desviou seu olhar do meu.
— Feliz aniversário, baby — sorri largamente e senti meu coração
disparar enquanto ele abria a caixa.
Aconchegado em um papel dobrado estava o primeiro teste de gravidez
que havia feito naquela manhã. O papel dobrado era o exame de sangue que fiz
de urgência no minuto em que o exame de farmácia tinha me dado o resultado
positivo.
— Linda! — Knox exclamou, sorrindo, suas mãos tremiam de emoção
quando ele largou a caixa no deque e me puxou para ele. — Eu te amo, estou tão
feliz.
Nós nos beijamos por um longo momento, e quando nos soltamos,
repetimos o diálogo que tínhamos desde que assumimos o nosso amor em Las
Vegas.
— O que acontece em Vegas nem sempre fica em Vegas — sussurrei,
vendo as lágrimas de emoção nos seus belos olhos sempre sorridentes.
— Ainda bem! Ainda bem! — respondeu, extasiado.
— Viva Las Vegas! — exclamei, baixinho, mas feliz. Muito feliz.
— Viva Las Vegas! — Ryan, o amor da minha vida, espelhou a minha
comemoração.
Pensei que estava em um caminho sem volta quando descobri o
aneurisma, entrei em pânico ao saber que morreria sozinha e sem grandes feitos.
Ir para Vegas me fez perceber um novo caminho, e aquele também era sem volta,
é claro. Ter me apaixonado pelo homem que batizou um drinque com o meu
nome foi completamente involuntário, mas eu nunca voltaria atrás. Dei meu
coração para Ryan sem perceber.
E então, percebendo que eu era dele, eu daria meu coração todos os dias.
Sem arrependimentos.
FIM
Agradecimentos
Agradeço aos meus parceiros do Botando Banca! Esse projeto me enche
tanto de alegria quanto ter vocês na minha vida, Aretha, Clara e Raphael.
Um obrigada especialíssimo à LP (Livros Prontos e Lion) por
acreditarem neste projeto, apoiar e engrandecê-lo ainda mais!
E um super agradecimento a Wilka Andrade: obrigada, Kika, pelo
carinho e atenção de sempre pelas minhas obras. Você sempre estará em meu
coração.
Sobre a autora
Carol Moura é gaúcha, mas mora em Brasília com seu marido e filho.
Turismóloga de formação, apaixonada por literatura, séries e filmes,
escrevia em suas horas livres como hobby, até que em 2015 resolveu se
aventurar publicando seu primeiro original em plataforma digital.
Em 2017 optou por se dedicar integralmente à escrita, deixando a
estabilidade do seu emprego para se arriscar fazendo o que realmente ama:
escrever romances.
Tornou-se destaque no Wattpad com o livro Orange Kiss, posteriormente
a obra foi sucesso na Amazon juntamente com outros livros da autora, como a
trilogia Adeus, Groupie, Para Roxanne, Com Amor, entre outros títulos.
Com O Destino do CEO, a autora alcançou o topo de vendas, com mais
de 3 milhões de leituras em apenas quarenta dias, liderando o ranking de e-books
mais vendidos na plataforma digital.
Sem Volta é seu segundo livro no selo Botando Banca, uma parceria
idealizada entre ela e as autoras Aretha V. Guedes (Sem Regras) e C. Caraciolo
(Sem Alternativa), que visa reacender o gosto pela leitura de romances de banca
de jornal.
[1]
Chief Operating Officer, braço direito do Chief Executive Officer, o CEO.
[2]
Nota da autora: a Colt Company pertence a Dashier Colt, protagonista do livro O Destino do CEO, de
Carol Moura, minha amiga e colega de Botando Banca! =]
[3]
Grade point average: média das notas do aluno para ingressar em universidades nos Estados Unidos.
[4]
Fala italiano, ainda. Melhor ainda!
Table of Contents
Botando Banca
SEM REGRAS
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1 — Leandro
Capítulo 2 — Senhor Pendleton
Capítulo 3 — Proposta
Capítulo 4 — Dante
Capítulo 5 — Dimitri
Capítulo 6 — Croissette
Capítulo 7 — Festival
Capítulo 8 — Sem regras
Capítulo 9 — Outro dia
Capítulo 10 — Entre amigos
Capítulo 11 — Despedida
Capítulo 12 — Paris
Capítulo 13 — Descoberta
Capítulo 14 — Realidade
Capítulo 15 — O plano
Capítulo 16 — Discursos
Capítulo 17 — Surpresas
Epílogo
Sobre a autora
SEM ALTERNATIVA
Dedicatória
Sinopse
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
SEM VOLTA
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora