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Nome Ano Turma N.

Teste de avaliação – 10.o Ano


Versão 1

Grupo I
Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.

PARTE A
Lê o poema de Pero de Berdia e as notas.

Jurava-mi o meu amigo


quand'el falava comigo,
que nunc'alhur1 viveria
sem mi; e nom mi queria
5 tam gram bem como dizia.

Foi2 um dia polo veer


a Santa Marta3, e maer4
u5 m'el jurou que morria
10 por mi; mais nom mi queria
tam gram bem como dizia.

Se m'el desejasse tanto


como dizia, logo ant'o6
tempo que disse verria7;
15 mais sei que mi nom queria
tam gram bem como dizia.

Pod'el tardar quanto quiser,


mais, por jurar quando veer,
já vo-lh'eu nom creeria;
20 ca8 sei que mi nom queria
tam gram bem como dizia.

Ai fals', e por que mentia


quando mi bem nom queria?

Lopes, Graça Videira; Ferreira, Manuel Pedro et al. (2011-), Cantigas Medievais Galego Portuguesas
[base de dados online]. Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA. [Consulta em 18 de
setembro de 2020] Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt>.

Notas:
1 5
alhur: algures; noutro lugar. u: onde.
2 6
Foi: fui. ant’o: antes do.
3 7
Santa Marta: Ermida de Santiago, Galiza. verria: viria.
4 8
maer: pernoitar; passar a noite. ca: porque.

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1. Explicita o lamento expresso pelo sujeito poético na primeira cobla.

2. Interpreta o valor expressivo da interrogação retórica presente no dístico final.

3. Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada espaço.

Na folha de respostas, registe apenas as letras – a), b) e c) – e, para cada uma delas, o número que
corresponde à opção selecionada em cada um dos casos.

Ao longo do poema, seguimos o raciocínio do sujeito poético e somos testemunhas do seu estado de
espírito.
Assim, nas primeiras duas coblas, a donzela a) da situação em que se encontra. Na terceira cobla, a
donzela conclui que o amigo b) . Já na quarta cobla, a donzela c) sobre o futuro da relação de ambos.

a) b) c)

1. assegura-se 1. não podia viver sem ela 1. exprime a certeza


2. regozija-se 2. lhe fez juras de amor infundadas 2. faz uma promessa
3. queixa-se 3. desejava reencontrá-la brevemente 3. manifesta uma dúvida

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PARTE B

Na cidade nom havia trigo pera vender, e se o havia, era mui pouco e tam caro que as pobres gentes
nom podiam chegar a ele; […] e começarom de comer pam de bagaço d’azeitona, e dos queijos das malvas e
raizes d’ervas, e doutras desacostumadas cousas, pouco amigas da natureza; e taes i havia que se mantiinham
em alféloa1. No logar u costumavom vender o triigo, andavom homeẽs e moços esgravatando a terra; e se
achavom alguῦs grãos de triigo, metiam-nos na boca sem teendo outro mantiimento; outros que se fartavom
d’ervas, e beviam tanta agua, que achavom mortos homeẽs e cachopos jazer inchados nas praças e em outros
5
logares. […]
Toda a cidade era dada a nojo 2, chea de mezquinhas querelas3, sem nenuῦ prazer que i houvesse: uῦs
com gram mingua do que padeciam; outros havendo doo 4 dos tribulados; e isto nom sem razom, ca se é triste e
mezquinho o coraçom cuidoso nas cousas contrairas que lhe aviinr podem, veede que fariam aqueles que as
continuadamente tam presentes tiinham? Pero com todo esto, quando repicavom, nenuῦ nom mostrava que
era faminto, mas forte e rijo contra seus ẽmigos 5. Esforçavom-se uῦs por consolar os outros, por dar remedio a
10
seu grande nojo, mas nom prestava conforto de palavras, nem podia tal door seer amansada com ne ῦas doces
razões; e assi como é natural cousa a mão ir ameúde onde see 6 a door, assi uῦs homeẽs falando com outros,
nom podiam em al departir7 senom em na mingua que cada uῦ padecia.[…]
Sabia porem isto o Meestre e os do seu Conselho, e eram-lhe doorosas d’ouvir taes novas; e veendo
estes males a que acorrer nom podiam, çarravom suas orelhas do rumor do poboo.
Como nom querees que maldissessem sa vida e desejassem morrer alguῦs homeẽs e molheres, que
15 tanta deferença há d’ouvir estas cousas aaqueles que as entom passarom 8, como há da vida aa morte? Os
padres e madres viiam estalar de fame os filhos que muito amavom, rompiam as faces e peitos sobr’eles, nom
teendo com que lhe acorrer, senom planto e espargimento de lagrimas 9; e sobre todo isto, medo grande da
cruel vingança que entendiam que el-Rei de Castela deles havia de tomar; assi que eles padeciam duas grandes
guerras, ῦa dos ẽmigos que os cercados tiinham, e outras dos mantiimentos que lhe minguavom, de guisa 10 que
eram postos em cuidado de se defender da morte per duas guisas.
20
Crónica de D. João I de Fernão Lopes, cap. 148 (1980) ed. de Teresa Amado, Lisboa, Comunicação (texto com supressões)

Notas
1
alféloa: melaço.
2
nojo: tristeza.
3
mezquinhas querelas: discussões banais.
4
doo: dó.
5
ẽmigos: inimigos.
6
see: esteja.
7
departir: conversar.
8
d’ouvir estas cousas aaqueles que as entom passarom: entre ouvir estas coisas e passá-las.
9
planto e espargimento de lagrimas: pranto e derramamento de lágrimas.
10
guisa: forma, maneira.

4. Relaciona os comportamentos evidenciados nas linhas 11 a 15 com a crescente identidade coletiva da


população.

5. Explicita os motivos pelos quais os lisboetas tinham «de se defender da morte per duas guisas», linha 24.

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6. Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada espaço.
Na folha de respostas, regista apenas as letras – a), b) e c) – e, para cada uma delas, o número que
corresponde à opção selecionada em cada um dos casos.

Neste excerto, evidenciam-se algumas características da arte narrativa de Fernão Lopes.


Duas dessas características são:
‒ a descrição dinâmica e visual, para a qual tanto contribuem os verbos de movimento, visível em a) ,
como os recursos expressivos, por exemplo, a b) , em «Os padres e madres viiam estalar de fame
os filhos» (ll. 19-20);
‒ a interpelação ao narratário durante o relato, em vários momentos, como se verifica em c) .

a) b) c)
1. «tam caro que as pobres gentes nom podiam
1. «No logar u costumavom vender o triigo», chegar a ele», ll. 1-2
1. ironia
l. 4 2. «veede que fariam aqueles que as
2. «andavom homeẽs e moços esgravatando continuadamente tam presentes tiinham?», ll. 10-
2. gradação
a terra», l. 4 11
3. «cachopos jazer inchados nas praças», l. 6 3. «e veendo estes males a que acorrer nom
3. metáfora
podiam, çarravom suas orelhas», ll. 16-17

PARTE C

7. Escreve uma breve exposição em que expliques o modo como a ideia de amor cortês está presente nas
cantigas de amor e ilustra o teu texto com referências a poemas deste género da lírica trovadoresca.

A tua exposição deve incluir:

• uma introdução ao tema;

• um desenvolvimento em que expliques o modo como os aspetos essenciais da ideia de amor cortês estão
presentes nas cantigas de amor e em que faças referências significativas a poemas deste género da lírica
trovadoresca.

• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

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Grupo II

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.


Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.

Lê o texto «Fragmentos de Sete Cantigas d’Amor de D. Dinis, Musicadas — uma Descoberta», da


autoria do professor e investigador norte-americano Harvey Sharrer:

Com emoção recordo aquela tarde do dia dois de Julho de 1990, quando no Arquivo Nacional
da Torre do Tombo, ainda no Palácio de São Bento, descobri os fragmentos de sete cantigas de amor
de D. Dinis, musicadas, na capa de um livro do Cartório Notarial de Lisboa.
Nesse mesmo dia, por sugestão do meu colega, o Prof. Arthur L. Askins, tinha iniciado a minha
pesquisa orientada para o estudo dos pergaminhos 1 que servem de capa de livros, já nos anos 40
5
localizados pelo Padre Avelino de Jesus da Costa. Pretendia mais informação para a Bibliografia de
Textos Antigos Portugueses, um catálogo de fontes primárias para o estudo da cultura e língua
vernácula em Portugal e na Galiza durante a Idade Média, que estamos a compilar. Acabara de
consultar um daqueles pergaminhos, um fragmento do século XV «Vida e Paixão dos Quarenta
Cavalheiros» de Bernardo de Brihuega. Depois de remover a cobertura solta de papel moderno do
10
livro seguinte, da mesma caixa, deparei com uma capa de pergaminho bastante mutilado. Nos dois
lados do mesmo era visível a presença de texto e de notação musical. Iniciada a leitura possível,
concluí estar na presença de poesia de amor trovadoresca.
Uma das poesias, a última do lado interior da capa, parecia-me familiar. Como tinha à mão um
computador pessoal com todos os dados recolhidos até àquela altura da Bibliografia de Textos
15 Antigas Portugueses, incluindo os incipits2 de todas as poesias dos cancioneiros galego-portugueses,
rapidamente determinei que os textos eram cantigas de amor de D. Dinis. Analisei a notação
musical3, cujas características se mostravam comuns às das Cantigas de Santa Maria 4 de Afonso X, de
Castela, e à do chamado Pergaminho Vindel5 das cantigas de amigo de Martin Codax. A letra gótica
dos textos não musicados parecia-me do século XIV.
20 Refleti sobre o que acabara de averiguar. O significado do achado era mais que evidente: o
pergaminho, apesar do seu mau estado de conservação, seria a mais antiga versão manuscrita
conhecida de poesia de D. Dinis e o único exemplo conhecido de música de cantigas de amor. Além
disso, seria a primeira manifestação documentada de música profana portuguesa; Martin Codax,
afinal, era galego. Comovido pela importância da descoberta, não podia conter as lágrimas.
Passei as horas seguintes atarefado em transcrever o texto e também a música. No dia seguinte,
25
na Biblioteca Nacional, comparei a minha transcrição preliminar dos textos com as poesias
correspondentes das edições em fac-símile 6 do Cancioneiro da Vaticana e do Cancioneiro da
Biblioteca Nacional. O confronto revelou que a ordem das sete cantigas do pergaminho era a mesma
em ambos os cancioneiro e que, em geral, a leitura do Cancioneiro da Vaticana se aproximava mais
da versão dos textos conservados no pergaminho.
30
Harvey Sharrer, in Atas do IV Congresso da Associação Hispânica de Literatura Medieval,
organização de Aires do Nascimento e Cristina Almeida Ribeiro, Lisboa, Cosmos, 1993, p. 13
(texto adaptado).

Notas
1
pergaminho: tipo de documento, muito comum na Idade Média, escrito em pele de cabra, carneiro, cordeiro ou ovelha.
2
incipits: conjunto formado pelas primeiras palavras de um texto sem título.
3
notação musical: sistema de escrita que representa as notas de uma peça musical, normalmente numa pauta.
4
Cantigas de Santa Maria: conjunto de composições de tema religioso, escritas no século XIII, em galego-português, e
reunidas pelo rei Afonso X, de Castela e Leão.

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5
Pergaminho Vindel: documento que contém as sete cantigas de amigo de Martim Codax, com notação musical.
6
fac-símile: reprodução exata de uma escrita, cópia.

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1. Uma das razões por que o pergaminho descoberto por Harvey Sharrer se revelou muito importante
residia no facto de
(A) conter cantigas de amor de D. Dinis que até então eram desconhecidas.
(B) se ter deparado com um documento com notação musical para poesias trovadorescas.
(C) ser o único documento que apresentava cantigas de amor com notação musical.
(D) representar o primeiro documento em galego-português que contém notação musical.

2. A descoberta do pergaminho foi


(A) uma surpresa, pois Sharrer não procurava aquele tipo de documentos.
(B) realizada no âmbito da investigação que Sharrer estava a desenvolver.
(C) fruto do puro acaso, por não se usarem pergaminhos como capas livros.
(D previsível, porque antes já havia contactado com aquele tipo de documentos.

3. De acordo com o segundo parágrafo, o estado em que se encontrava o pergaminho, quando foi
descoberto,
(A) tornava impossível a leitura do texto e das notas musicais.
(B) facilitava a leitura do texto, mas não das notas musicais.
(C) impossibilitava a leitura do texto, mas não das notas musicais.
(D) permitia atestar a existência de texto e de notas musicais.

4. Harvey Sharrer confirmou que os poemas do pergaminho eram da autoria de D. Dinis


(A) imediatamente, porque os conhecia de memória.
(B) pouco depois de ter descoberto o texto.
(C) após ler o Pergaminho de Vindel, de Martim Codax.
(D) por serem comuns aos das Cantigas de Santa Maria.

5. A oração iniciada por «que», na linha 17, é uma oração subordinada


(A) substantiva completiva.
(B) substantiva relativa.
(C) adjetiva relativa restritiva.
(D) adjetiva relativa explicativa.

6. Identifica as funções sintáticas desempenhadas pelos constituintes:


a) «musicadas» (linha 3).
b) «a presença de texto e de notação musical» (linha 12).

7. Considerando a cantiga da Parte A, identifica os processos fonológicos que ocorreram na evolução


de «el’» > ele e «veer» > ver.

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Grupo III

Se algumas pessoas consideram que a distância pode ter um impacto negativo no relacionamento
amoroso, outras defendem que este afastamento pode ser um fator positivo e até romântico.

Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas
e cinquenta palavras, defende uma perspetiva pessoal sobre o namoro à distância.

No teu texto:
– explicita, de forma clara e pertinente, o teu ponto de vista, fundamentando-o em dois
argumentos, cada um deles ilustrado com um exemplo significativo;
– utiliza um discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).

Observações:

1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco,
mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma
única palavra, independentemente do número de algarismos que o constituam (ex.: /2019/).

2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – entre duzentas e trezentas e cinquenta palavras ‒,
há que atender ao seguinte:
– um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto
produzido;
– um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

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