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A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NO ESPAÇO ESCOLAR

Destarte, todos os encaminhamentos dados às pesquisas apontam para o fato de que não falamos
mais do computador na escola e, sim, de uma tecnologia que permite ao aluno trafegar em um
mundo virtual, em meio a milhões de informações, conteúdos e materiais. Esses dados adentram
o espaço escolar modificando a cultura escolar por meio das novas relações estabelecidas den-
tro e fora da escola, por redes sociais tão presentes no cotidiano de alunos, professores, equipe
pedagógica, gestores e pais. Portanto, a questão da integração das tecnologias no contexto esco-
lar ultrapassa os limites da sala de aula. Se antes precisávamos de um professor que integrasse o
computador ao seu trabalho pedagógico, hoje necessitamos de um maestro que harmonize todos
os sons e ritmos que se misturam no espaço escolar, emitidos por aqueles que desejam inserir-
-se e aqueles que já estão inseridos nesse mundo virtualizado. Dessa forma, o espaço escolar que
por princípio deveria ser um espaço de inclusão social, pode se tornar um espaço de inclusão ou
exclusão digital, no cenário das desigualdades que vivemos em nosso país.

Para que a inclusão digital prevaleça e que seja utilizada em prol da melhoria da qualidade da
educação, o apelo para a colaboração e a participação ativa não pode mais se restringir aos
alunos. As diversas tecnologias – entre elas a Internet com seus infinitos recursos – oferecem
meios para que a colaboração e as aprendizagens decorrentes delas ultrapassem os limites da
sala de aula, que alunos participem de redes de aprendizagem com outros alunos de sua esco-
la, de outras escolas de seu bairro, de sua cidade, do mundo, e possam participar de transforma-
ções que vivem para a construção de um mundo melhor e mais justo. O que, segundo Moersch
(2002), corresponderia ao mais alto nível de integração das tecnologias no contexto escolar.

Para que a tecnologia possa ultrapassar os limites do laboratório de informática, bem como o
espaço da sala de aula, podemos antever que a questão da integração curricular das tecno-
logias ultrapassará a ação do professor. Portanto, se realmente queremos que as tecnologias
representem benefícios na aprendizagem e na vida dos alunos, temos de começar a enxergar a
escola como um todo, analisar as possibilidades, os limites e os entraves para a escola se tor-
nar realmente um espaço de inclusão social e digital, levando de fato nossas crianças e jovens
a aprender mais e melhor.

Nessa perspectiva, em 2010, o Centro de Estudos sobre Tecnologia de Informação e


Comunicação (Cetic.br) realizou a primeira pesquisa brasileira que buscou um olhar holístico
sobre a escola no que se refere ao uso das tecnologias. Para tanto, foram ouvidos alunos, pro-
fessores, coordenadores pedagógicos e diretores.

Os resultados (CGI.br, 2011) apontam que ainda há muito trabalho a ser feito para que a tec-
nologia possa representar um instrumento catalisador do processo de inovação na escola. “O
desafio se divide em duas vertentes: garantir que a comunidade escolar tenha acesso a infra-
estrutura tecnológica de boa qualidade e desenvolver o uso pedagógico dessas ferramentas”
(CGI.br, 2011). Para isso, é necessário considerar o “ambiente escolar como um todo”, além
disso, “[...] a liderança da escola é fundamental para a integração das tecnologias na educa-
ção” (p. 131). No contexto americano, Cuban (1986), na década de 1980, já alertava que a
integração das tecnologias nas escolas corresponde a um processo de inovação, portanto, seu
sucesso depende de todos os atores do contexto escolar.

Essas constatações estão presentes também no modelo de avaliação da integração das TIC no
contexto escolar (Figura 1), apresentado por Vosgerau e Pasinato (2012), após a análise de oito
modelos internacionais. Segundo essas autoras, o modelo é apresentado de forma circular, pois
não há um único ponto de partida para a integração das tecnologias no contexto escolar. Ela pode
começar a partir das exigências e iniciativas de uma comunidade escolar ativa e participante, a
partir do incentivo da equipe gestora (pedagogos e diretores), a partir da instalação de compu-
tadores e disponibilização de acesso à Internet, a partir de atividades desenvolvidas pelos alu-
nos que tenham acesso à tecnologia em suas casas, a partir da reestruturação do projeto político-
-pedagógico da escola, enfim, a partir das atividades pedagógicas desenvolvidas pelo professor.

FIGURA 1. CATEGORIAS DOS INDICADORES DE AVALIAÇÃO DE INTEGRAÇÃO DAS TIC NO CONTEXTO ESCOLAR

PROFESSOR
COMUNIDADE
ALUNO
ESCOLAR

INTEGRAÇÃO
DAS TECNOLOGIAS

DOCUMENTOS
RECURSOS
NORMATIVOS
TECNOLÓGICOS
DA ESCOLA EQUIPE
GESTORA

FONTE: VOSGERAU E PASINATO (2012, P. 7)

Contudo, em cada uma das categorias apresentadas, a integração passa por seis estágios
(Quadro 1). E, para que o processo ocorra mais rapidamente e de forma mais duradoura, as
autoras sugerem que o desenvolvimento das categorias seja estimulado na mesma intensida-
de, para que todos os participantes do contexto escolar se apoiem mutuamente no processo.
QUADRO 1. PROPOSTA DE INDICADORES DE INTEGRAÇÃO DAS TIC

DOCUMENTOS
RECURSOS EQUIPE COMUNIDADE
ESTÁGIO PROFESSOR ALUNO NORMATIVOS
TECNOLÓGICOS GESTORA ESCOLAR
DA ESCOLA

0. NÃO UTILIZAÇÃO O professor não faz uso da O aluno não utiliza a Embora haja na escola A equipe gestora Não faz menção ao uso Não se informa a
tecnologia em suas aulas. tecnologia para sua material para ser não utiliza recursos das tecnologias. comunidade sobre
aprendizagem. utilizado ele permanece tecnológicos. o uso da tecnologia
inativo. pela escola.

1. FAMILIARIZAÇÃO O professor começa Os alunos podem Uso de vídeos em sala O gestor começa a Apenas menciona Promove eventos
a ter contato com as ter algum contato de aula. ter contato com as que os recursos que apresentam à
tecnologias, porém não com a tecnologia: tecnologias, utilizando- tecnológicos podem comunidade o uso
possui experiência e não se computador, TV, etc. as para tarefas ser utilizados das tecnologias
interessa em utilizá-las em administrativas. no processo de pelos alunos.
aula. ensino-aprendizagem.

2. CONSCIENTIZAÇÃO Ocorre a conscientização Alunos interagem Uso de processador de Ocorre a conscientização Orienta para o uso Usa os recursos da
da importância do uso das mais com a textos e da importância do uso dos recursos Internet (sites, blogs,
tecnologias. O professor tecnologia, utilizam apresentações com das tecnologias.O gestor tecnológicos como etc.) para aproximar
passa a ter noção do uso o computador e meios tecnológicos pelo passa a estimular a parte integrante a comunidade da
do computador e de alguns algumas formas de professor somente em equipe de professores do processo de escola.
conjuntos de software software. sala de aula. a utilizar e a buscar ensino-aprendizagem
e passa a usá-los para formação para o uso dos ou indica a necessidade
complementar a aula. recursos tecnológicos. de formação para tal.

3. IMPLEMENTAÇÃO O professor passa a pensar Alunos passam Uso de processador de O gestor faz uso das Estabelece horários Promove oficinas de
na aprendizagem utilizando a elaborar seus textos, de planilhas e da tecnologias no seu para o uso dos inclusão digital para
um meio tecnológico. Sabe trabalhos no Internet no laboratório dia a dia utilizando laboratórios de a comunidade.
utilizar a tecnologia e auxilia computador. Utilizam de informática. processador de textos e informática para que
os colegas e alunos. a Internet para já consegue opinar nos os professores possam
procurar e comparar planos de aula de modo utilizá-las de maneira
informações, quando a orientar para o uso das periódica em suas
recebem indicações tecnologias. aulas.
do professor para tal.

continua >
QUADRO 1. PROPOSTA DE INDICADORES DE INTEGRAÇÃO DAS TIC (continuação)

DOCUMENTOS
RECURSOS EQUIPE COMUNIDADE
ESTÁGIO PROFESSOR ALUNO NORMATIVOS
TECNOLÓGICOS GESTORA ESCOLAR
DA ESCOLA

4. INTEGRAÇÃO O professor utiliza a O aluno integra a Uso de processador de O gestor já utiliza Descreve algumas Estimula a
tecnologia e a integra tecnologia no seu textos, de planilhas, da confortavelmente os maneiras de se participação da
curricularmente, uma vez cotidiano, sabendo Internet, de conjuntos de recursos tecnológicos, integrar a tecnologia comunidade (pais
que ela se faz necessária reconhecer locais de softwares educativos e elabora relatórios e curricularmente, mas e colaboradores)
para seu processo de ensino busca de informação da lousa digital em sala monta planilhas a partir não aprofunda o a participar de
e para a aprendizagem do e pesquisa ou de aula e no laboratório de grupos de softwares assunto. atividades que
aluno. utilização do melhor de informática de específicos e consegue envolvam o uso de
No seu plano de ensino está recurso para a maneira corriqueira e sugerir atividades para tecnologia (feiras e
previsto que nos momentos tarefa solicitada pelo contínua. que seus professores manutenção de site
em que o aluno tem acesso professor. integrem as TIC à prática informativo).
ao computador será para pedagógica.
dar continuidade ao trabalho
realizado em sala de aula.

5. TRANSFORMAÇÃO A tecnologia já se encontra O ensino centrado Todas as salas da escola A tecnologia faz parte Relata como a A comunidade
plenamente integrada ao no aluno faz com são equipadas com da ação gestora que integração das é envolvida
planejamento de ensino do que ele se torne um recursos tecnológicos promove cursos de tecnologias pode nas atividades
professor, que consegue, pesquisador e agente e com wi-fi. Cada formação continuada ocorrer curricularmente, pedagógicas
de forma interdisciplinar, reflexivo da produção aluno possui um em serviço para descrevendo o seu uso tendo a tecnologia
articular os conteúdos do seu conhecimento. computador para uso que todos na escola em cada disciplina como apoio ao
curriculares ao contexto A aprendizagem pessoal. As salas e utilizem as tecnologias ensinada e como ela processo de ensino-
social do aluno, utilizando extrapola a sala a escola possuem constantemente. Ele afeta na aprendizagem aprendizagem,
a tecnologia como um de aula e atinge a uma organização informa o andamento do aluno. visando a melhoria
recurso para a produção do comunidade. física própria que das atividades da escola da qualidade de
conhecimento. estimula o processo de periodicamente de forma vida da própria
aprendizagem centrado digital e utiliza as TIC de comunidade.
no aluno. forma transparente.

FONTE: VOSGERAU E PASINATO (2012)

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