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Pequenas histórias sobre alguém

Champagne Problems

Ainda me lembro de como éramos, eu e tu, jovens inconscientes numa montanha-russa.


Naquela noite, olhávamos o céu estrelado, onde os deuses comandavam pequenos pontos
brilhantes para nós, eu e tu, apontarmos. Estava tão frio, habitual de uma noite de setembro.
Conduziste-me até casa pegando na minha mão macia e pálida. Abriste a porta com tal
delicadeza, que até me surpreendi. Deparei-me com o cenário mais belo alguma vez visto:
velas iluminavam a sala-de-estar, o chão de madeira reluzia e o vento fazia as cortinas dançar.
Uma brisa voltou a abanar as minhas madeixas. Tu ajoelhaste-te, e assim como se num sopro,
a minha expressão mudou. Não podia acreditar no que estava a acontecer.

- Será necessário fazer a pergunta – e com isto abriu uma caixinha de veludo castanha e,
dentro dela, um anel de diamante, cegava as safiras que viam tudo por mim.

Solucei, pois a resposta não era a que tu esperavas. E foi assim que nós, tu e eu, escrevemos
um ponto na história do nosso amor. Para meu espanto, apareceu a tua mãe e vi uma
tempestade naquele pesadelo. Ambos disfarçámos as lágrimas que desciam pela nossa face.
Aproveitei a porta aberta para escapulir tentando prender as inúmeras lágrimas prisioneiras
que insistiam em sair. Assim que perdi a vista da tua casa caí no passeio. É estranho pensar
que num segundo éramos tu e eu, e numa leve brisa, a minha vida muda por completo, porque
de repente não existes. Era só eu.

Os meses passaram mas os comentários continuaram a pairar: She would have made such a
lovely bride, what a shame she’s fucked in the head, dizia alguém.

Foi necessário um ano para perceber que o problema não eras tu ou eu, era a altura. Tinha
tantos problemas a tratar que um casamento não seria a melhor ideia… Corri o mais rápido
que pude. Os cabelos voavam e a camisa flutuava. Assim que cheguei bati levemente na porta,
precisamente treze vezes, o meu número da sorte.

Quem abriu foi a tua mãe, com um rio a percorrer as bochechas. Não foram necessárias
grandes perguntas para saber o sucedido. Se tivesse aceite teria sido, provavelmente,
diferente. Mas eu não aguentava a responsabilidade que corria nas minhas veias. Lembro-me
de gritar em plenos pulmões, a chamar por ti nos céus. Céus que costumávamos observar em
tempos e que agora te tiraram deste mundo. Que agora te tiraram de mim.

Passaram treze anos desde que te conheci, mas as memórias perduram. Os momentos
passados, as jornadas percorridas, os tempos vividos… Quando éramos felizes, pois afinal, o
que é isso da felicidade?! Quando vim para esta cidade prometeram-na, e até agora ainda não
a encontrei. Julgava tê-la, contigo meu amor, meu amigo, meu príncipe, que agora governa os
vastos céus. Será felicidade perder alguém que amamos?! Será felicidade viver sem paixão?!
Será felicidade tomar decisões erradas a toda a hora?! Se não é isto, então o que é?! Passear o
cão ao final da tarde e brincar com bonecas com a filha?! Treze anos passaram e continuo sem
conhecer o conceito. Mas um conceito sei de certeza.

A perda.

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