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2017-09-16 Didlogos entre o Direito do Consumidor e 0 Novo CPC - Edigao 2017 PARTE I- DIALOGO DAS FONTES, O NOVO CPC E A PROTECAO DOS VULNERAVEIS 1, NOVO CODIGO DE PROCESSO CIVIL E 0 DIALOGO DAS FONTES PARA A PROTEGAO DO CONSUMIDOR 1. Novo Cédigo de Processo Civil e o didlogo das fontes para a protegao do consumidor Claudia Lima Marques Bruno Miragem Introduséo Todo o pensamento sistematico de teoria do direito tem por base a filosofia, em seu inicio, e a politica, em seu fim. F assim que 0 método do dislogo das fontes, criado por Erik Jayme, em seu curso de Haia de 19957 tem sua base no fenémeno comum das sociedades de consumo, na pés-modernidade, do crescente pluralismo de leis, gerais especiais, para enfrentar a complexidade dos casos de nossa vida atual’ e como fim, restabelecer a coeréncia e a unidade de valores e finalidades (constitucionalmente sinalizados)* do ordenamento juridico.> A entrada em vigor de uma nova lei, como a Lei 13.105, de 16.03.2015, 0 novo Cédigo de Processo Civil sempre provoca apreensdes e chividas, sobre qual lei se aplica e sobre como o sistema juridico reagird, se acontecerao revogacdes, antonimias e mesmo obrigacdes das normas anteriores, daf a importancia da teoria do didlogo das fontes, muito utilizada em matéria de processo civil pelo E. Superior Tribunal de Justica.” Superando a ideia de conflito entre normas, esta teoria de Erik Jayme traz & luz a ideia de unidade do ordenamento e restauragdo da coeréncia entre as varias normas e microsistemas, especiais e gerais, ao mesmo tempo, se observados os seus campos de aplicagdo material e subjetivos.’ Assim, por exemplo, o novo Cédigo de Processo Civil ¢ lei geral em matéria de processo, enquanto 0 Cédigo de Defesa do Consumidor é lei especial subjetivamente em relacdo as relagdes de consumo, mas para a efetiva defesa do consumidor, seja no que pertine o acesso a justica (individual e coletivo), quanto a facilitagao de sua defesa, as duas fontes devem atuar conjuntamente, sob 0 mandamento constitucional de acesso & justica (Art 5* da CF/1988) e defesa do consumidor (art. 5%, XXXII da CF/1988). © Didlogo entre o Cédigo de Defesa do Consumidor (CDC) e 0 novo Cédigo de Proceso Civil € 0 nosso tema. 0 NCPC aplica-se nas agdes de consumo, mas tem apenas uma tinica meno ao consumidor, que esté no capitulo sobre os limites da jurisdigéo nacional e competéncia da autoridade judiciéria brasileira. No art. 22 do NCPC ha regra expressa sobre a competéncia (internacional) do juiz brasileiro para casos envolvendo consumidor domiciliado ou residente no Brasil, seja ele réu ou autor. Supera-se assim qualquer divida sobre a aplicagao do Art, 101 do CDC para casos de consumo internacional, Trata-se de saudavel e feliz novidade. © CDG, porém, possui também uma parte processual (art. 81 a 104: da defesa do consumidor em juizo), que apresenta disciplina relativa ao processo civil coletivo (em resumo, define direitos difusos, coletivos e individuais homogéneos, trata da legitimidade para o ajuizamento das agdes coletivas, da competéncia, limites subjetivo e objetivo da coisa julgada destas).’ O CDC, que mais focado na defesa coletiva dos consumidores (tema no tratado pelo NCPC),"° autoriza ao consumidor todas as ages possiveis e nao deixa de trazer garantias processuais extras, como a inversdo do énus da prova (Art. 6°, VIII do CDC),"* a execucdo especifica das obrigacdes de fazer (art. 84 do CDC) e a proibi¢ao da denunciagao a lide (art. 101 do CDC). Trata inclusive da relagdo entre a agao coletiva e individual (arts. 103 e 104 do CDC). Mesmo assim, as novas normas processuais que tem aplicagao imediata aos casos em curso, especialmente os individuais,” e representam um didlogo necessario entre estas fontes. Com uma vacacio legis de um ano (art. 1.045), 0 novo Cédigo de Processo Civil entrou em vigor em 2016, quando o CDC completava seus 25 anos de uma jurisprudéncia muito consolidada, trazendo impactos e novidades que gostariamos de destacar neste texto. Certo é que 0 mandamento constitucional continua forte, de um lado, assegurando acesso a justica, e de outro a protegio do consumidor (art. 5°, XXXII da CF/1988), principios consolidados também nas Diretrizes da ONU sobre protecao do consumidor revisadas em 2015, que assegura o acesso do consumidor a Justica, de forma individual (CPC) e coletiva (CDC), em um didlogo sistematico de coeréncia."* Como j4 escrevemos, foi o Supremo Tribunal Federal, na famosa ADIN dos Bancos, ADIN 2591, o primeiro tribunal superior a aceitar o diélogo das fontes, em 2006. A expressao “didlogo das fontes”, aceita também pelo Superior Tribunal de Justica (REsp 1037759/R]) & hoje utilizada fortemente pelos Tribunais superiores, estaduais e nos Juizados Especiais para indicar a aplicacao simultanea do CDC com mais de uma lei geral ou especial, de forma ordenada e coerente com o valor constitucional de protecao do consumidor.**Realmente, “as demandas judiciais que envolvem relagdes de consumo respondem por significativo contingente dos processos em curso no pais. As razdes para isso se pode identificar em varias frentes. Nao falta quem se refira a certa facilidade de litigar no Brasil. Em termos de direito comparado, isso nao é falso, Entretanto, é evidente que a realidade de demandantes contumazes - no direito do consumidor identificados por conhecidos fornecedores habitués do foro - faz com que a pouca efetividade das decisdes, ou a demora na solugao dos casos, sejam ponderadas na estratégia empresarial, como alternativa esptria & devida elevacdo dos padres de qualidade e atendimento oferecidos, evitando a necessidade de recurso ao Poder Judicidrio.”"® Consideramos que é momento de examinar em detalhes as repercussdes do novo Cédigo de Processo Civil sobre o direito do consumidor.”” 1. Convergéncia e complementariedade: Didlogos sistemdticos de coeréncia e complementariedade entre 0 NCPC e 0 CDC Como outrora escrevemos"*, o proceso civil observa, nas witimas décadas, sensiveis tansformacées valorativas. Tradicionalmente, a separagao dos planos do direito material e do processo teve por propésito assegurar as partes o acesso aos meios de defesa de seus interesses independentemente da razao que Ihes assistia no plano do direito material. 0 valor em destaque era o da absoluta imparcialidade do juiz, restringindo, por isso, o poder de iniciativa. Cabia as partes instruir 0 proceso, sob supervisdo passiva do julgador. A decisdo resultava dai, fortemente associada 4 melhor habilidade na demonstracao dos fatos para conhecimento judicial. Gradualmente, contudo, o sistema processual classico foi demonstrando suas dificuldades em relagao as transformagées de ordem social, politica e econémica, e as novas exigéncias ao seu sistema de justica, reclamando celeridade ¢ efetividade das decisdes judiciais. Estas caracteristicas, que transparecem no Cédigo de Processo Civil de 2015, véo repercutir na decisio das demandas que envolvam relagdes de consumo. As regras sobre a tutela coletiva de direitos ndo foram objeto de disciplina pelo CPC/2015, razao pela qual se preserva o sistema que associa as normas do CDC e da Lei da Acao Civil Publica. No mais, a Tenovacdo tedrica e dogmética provocada pelo NCPC, em parte, converge com os valores assentados pelo CDC,"* sob a luz guia da Constituigao Federal, como o préprio art. 1° do CPC de 2015 esclarece.”” Algumas regras essenciais do NCPC evidenciam sua convergéncia com 0 disposto no édigo de Defesa do Consumidor, guiadas pelo principio da cooperacao (art. 6° do CPC). Assim, por exemplo, o art. 7° do CPC, ao assegurar as partes a paridade de tratamento (ou paridade de armas)" visa assegurar a igualdade material no processo, zelando pelo contraditorio, e assegurando ao juiz poderes para flexibilizar o procedimento no tocante, entre outros aspectos, a dilagdo de prazos, distribuicdo do onus da prova e determiné-las de oficio (art. 370). Quanto a paridade de tratamento, nao se trata aqui de isonomia absoluta entre as partes, pois ha de se reconhecer a desigualdade decorrente da estrutura social ou da posicdo que ocupa o consumidor como litigante ‘desigual’ e esporddico.”? Esta diretriz do CPC/2015 associa-se aos direitos assegurados ao consumidor no processo, de modo a promover o acesso efetivo a justiga como acesso a tutela satisfativa do seu direito, Porém, em relacdo a alguns institutos processuais especificos ha de se ter aten¢do para que sua eficécia nao contraste com a diretriz de efetividade dos direitos do consumidor, em conformidade com o direito fundamental que o assegura (art. 5°, XXXII, da Constituigao da Republica).* Um importante exemplo ¢ a regra do art. 459 caput, de que as perguntas serdo formuladas as testemunhas diretamente pelas partes, pois, em casos envolvendo consumidores, 0 juiz nao pode abrir mao de sua fungdo de bem ordenar 0 processo ¢ colaborar com as partes, especialmente as mais vulnerveis. Vejamos alguns casos desta convergéncia de valores entre o NCPC e o CDC, a provura de uma coeréncia restaurada do ordenamento juridico brasileiro. 1.1, Dois exemplos de didlogos de coeréncia entre as normas do Novo CPC e 0 CDC. Em uma visao do didlogo sistemético de coeréncia, o NCPC elaboradao em 2015 ja entra no ordenamento juridico brasileiro respeitando e complementando 0 CDC, naquilo que for necessario. Assim dois casos podem ser destacados. O primeiro é o respeito do NCPC as regras sobre acdes coletivas previstas no CDC, a destacarem-se inclusive os vetos realizados pela Presidéncia da Replica e, o segundo, é a tinica mengao ao consumidor, realizada na parte internacional do NCPC. Vejamos. 1.1.1. Valorizagao do CDC para acées coletivas e os poderes do juiz de promover a autocomposicaéo Hugo Mazzili ensina que uma das primeiras decisdes da comissiia que elaborou o NCPC e que iniciou seus trabalhos em 30.11.2009 foi a de excluir o processo coletivo, que continua regulado por leis especiais, inclusive pelo CDC. Mas algumas novidades devem ser destacadas, e algumas outras foram vetadas. Dentre as normas processuais interessantes no que se refere as ages coletivas, esta também foi o veto presidencial ao art. 333 e inciso XII do art. 1015, com a seguinte mensagem (Mensagem 56, de 16 de margo de 2015): “Art, 333 Atendidos os pressupostos da relevancia social e da dificuldade de formagao do litisconsércio, o juiz, a requerimento do Ministério Publico ou da Defensoria Publica, ouvido o autor, poder converter em coletiva a ago individual que veicule pedido que: I~tenha alcance coletivo, em razao da tutela de bem juridico difuso ou coletivo, assim. entendidos aqueles definidos pelo art. 81, pardgrafo tinico, incisos I Il, da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Cédigo de Defesa do Consumidor), e cuja ofensa afete, a um s6 tempo, as esferas juridicas do individuo e da coletividade; IL -tenha por objetivo a solugao de conflito de interesse relativo a uma mesma relagio juridica plurilateral, cuja solucdo, por sua natureza ou por disposigdo de lei, deva ser necessariamente uniforme, assegurando-se tratamento isondmico para todos os membros do grupo. § 1° Além do Ministério Piblico e da Defensoria Publica, podem requerer a converstio os legitimados referidos no art. 5° da Lei 7.347, de 24 de julho de 1985, e no art. 82 da Lei 8,078, de 11 de setembro de 1990 (Cédigo de Defesa do Consumidor), § 2° A conversdo nao pode implicar a formagao de processo coletivo para a tutela de direitos individuais homogéneos § 3° Nao se admite a conversdo, ainda, se: 1-6 iniciada, no proceso individual, a audiéncia de instrugao e julgamento; ou I—houver processo coletivo pendente com 0 mesmo objeto; ou. III -0 juizo nao tiver competéncia para o processo coletivo que seria formado. § 4° Determinada a conversao, 0 juiz intimara o autor do requerimento para que, no prazo fixado, adite ou emende a petigto inicial, para adapté-la a tutela coletiva. § 5° Havendo aditamento ou emenda da peticao inicial, o juiz determinaré a intimacao do réu para, querendo, manifestar-se no prazo de 15 (quinze) dias. § 6° O autor originario da acao individual atuara na condigao de litisconsorte unitario do legitimado para condugao do processo coletivo. § 7° O autor originario nao é responsével por nenhuma despesa processual decorrente da conversao do processo individual em coletivo. § 8° Apés a conversdo, observar-se-do as regras do processo coletivo, § 9° A conversio poderd ocorrer mesmo que o autor tenha cumulado pedido de natureza estritamente individual, hipétese em que o processamento desse pedido dar-se-4 em autos apartados. § 10. 0 Ministério Puiblico deverd ser ouvido sobre o requerimento previsto no caput, salvo quando ele proprio o houver formulado.” “Inciso XII do art. 1.015 Xil-conversdo da ago individual em agio coletiva;” Razdes dos vetos: Da forma como foi redigido, o dispositivo poderia levar & conversao de aco individual em agao coletiva de maneira pouco criteriosa, inclusive em detrimento do interesse das partes. O tema exige disciplina propria para garantir a plena eficdcia do instituto. Além. disso, 0 novo Cédigo ja contempla mecanismos para tratar demandas repetitivas. No sentido do veto manifestou-se também a Ordem dos Advogados do Brasil - OAB. Pelas préprias razdes do veto, entende-se uma preferéncia do sistema pelos recursos repetitivos’® em relacao as agdes coletivas. O CDC, na sua versao atual, continua dando prioridade as ages civis publica, isto é, as agdes coletivas. O PLS 282, 2012 da atualizagao do CDC, que tratava da matéria” ndo avancou, sendo assim a sinalizagéo do NCPC parece ser a tinica existente no ordenamento juridico brasileiro, o que é uma pena, pois os repetitivos - por sua propria estrutura — nao beneficiam os consumidores. Em matéria de consumo, para proteger os mais fracos é necessério partir do caso... com clama e com alma... e nao da tese, que ndo beneficia um olhar humanista para 0 caso.”* Se as agdes coletivas continuam sendo reguladas pelo CDC e leis especiais, note-se que 0 art. 138 menciona expressamente o art. 82 do CDC. Assim, dentre os paderes do juiz esta expressamente 0 de promover a autocomposicao através da conciliagao e mediagao” dilatar prazos processuais e alterar a ordem de produgdo de provas, assim como de oficiar para 0 Ministério PUblico e a Defensoria Publica e os demais legitimados pelo CDC para proporem a acdo coletiva respectiva. A nova norma do CPC é a seguinte: “Aart, 139. 0 juiz dirigiré 0 processo conforme as disposigdes deste Cédigo, incumbindo- Ihe: V- promover, a qualquer tempo, a autocomposicao, preferencialmente com auxilio de conciliadores e mediadores judiciais; VI dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de producao dos meios de prova, adequando-os as necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade a tutela do direito; X - quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar 0 Ministério Pablico, a Defensoria Publica e, na medida do possivel, outros legitimados a que se referem o art, 5° da Lei 7.347, de 24 de julho de 1985, e o art, 82 da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990, para, se for o caso, promover a propositura da ago coletiva respectiva.” Em resumo, toda nova legislacdo processual é vocacionada a racionalizagao das situagdes de conflito. 0 novo Cédigo de Proceso Civil orienta-se para além, confessando um projeto também para evité-los. Daf a atencao aos instrumentos de conciliagdo ou mediagdo, e mesmo os instrumentos de resolugdo de demandas repetitivas. Também assim a pretensdo de oferecer seguranca e previsibilidade sobre 0 modo como serao tomadas as decisies. Como é préprio de legislagio original, j4 agora se multiplicam as criticas ao texto normative. Algumas jé bastante divulgadas, como no caso da previstio de ponderagio prevista no art. 489, § 2%, do NCPC. Outras s40 mais adverténcias para o intérprete, que precisard determinar suas possibilidades ¢ limites como é o caso do exato significado que se pretenda dar a ideia de colaboragdo processual (art. 6°, ou ainda sobre o onipresente principio da boa-fé (art. 5° e 489, § 3°), agora também nos dominios do processo. 1.1.2. Consumo internacional: privilégio de foro e a abusividade da clausula de eleicao do foro em contrato internacional de consumo No capitulo nove sobre os limites da jurisdigdo e da competéncia nacional, o art. 22 expressamente menciona 0 consumidor assegurando a este um privilégio de foro, em caso de consumo internacional.” 0 art. 22 do NCPC é oriundo de manifestacdo dos professores de Direito Internacional Privado, liderados pelas Professoras Carmem Tibiircio e Nadia de Aratijo, e enviado ao F. Presidente da Comissao de Juristas do Senado Federal, Min. Luiz Fux, que foi aceita pela E. Relatora-Geral do CPC naquela Comissao, Profa. Dra. Teresa ‘Wambier, e que apresenta como redacao final a seguinte: “art. 22. Compete, ainda, a autoridade judiciéria brasileira processar e julgar as ages: | = de alimentos, quando: a) o credor tiver domicilio ou residéncia no Brasil; b) o réu mantiver vinculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtencdo de beneficios econémicos; Il — decorrentes de relagdes de consumo, quando 0 consumidor tiver domicilio ou residéncia no Brasil; Il - em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem a jurisdigdo naciona Trata-se da tendéncia hoje universal” de assegurar ao consumidor o privilégio do forum actoris (art. 101 do CDC). Se este artigo é extremamente positivo no que se refere a superar as diividas sobre a aplicaco do art. 101 do CDC e seu privilégio de foro a contratos internacionais,”? nao esté ainda claro se é capaz de superar o disposto no art, 25 do NCPC. Com o NCPC, reabrem-se as discussdes sobre a possibilidade de eleicao do foro pelo fornecedor internacional, mesmo em casos de consumo, pois ha um artigo permitindo a cldusula de elei¢ao do foro em contratos internacionais, a saber o art. 25 do NCPC: “art. 25. Nao compete a autoridade judicidria brasileira o processamento e 0 julgamento da ago quando houver cléusula de eleigdo de foro exclusive estrangeiro em contrato internacional, arguida pelo réu na contestacao. § 1° Nao se aplica o disposto no caput as hipéteses de competéncia internacional exclusiva previstas neste Capitulo. § 2° Aplica-se a hipstese do caput o art. 63, §§ 1° a 4°.” Efetivamente, o art. 25 ¢ seus paragrafos nao excluem as relagdes de consumo, 0 que poderia criar uma duivida, e menciona apenas o art. 63..° Dois especialistas em direito internacional privado, j4 se manifestaram sobre o tema. Nadia de Araijo concluiu pela nao aplicagao do art. 25 do CPC para casos internacionais de consumo, em interpretagao do conjunto do ordenamento juridico, e André Ramos,™ considerou que o art, 25 do CPC 6 é aplicdvel a contratos com consumidores que nao sejam de adesao, ficando proibida a cléusula de elei¢ao em contratos internacionais de consumo de adesdo. Concorde-se com os especialistas, que ¢ um contrassenso assegurar a competéncia Gurisdigao internacional) em um inciso II do art. 22 e o excluir em outro em contratos internacionais, cada vez mais comuns no Brasil. Se o art. 25 do CPC s6 se aplica em casos internacionais, permitindo a eleigéo da lei, mesmo nestes deve ser interpretado em didlogo com o art. 6%, Vill do CDC, nao representando uma dificuldade para 0 acesso do vulnerdvel.° 0 consumidor a justiga, pois o proprio art. 25 remete ao art. 63 e seus paragrafos do CPC, que afirmam que esta eleigao de foro ndo deve ser tal a prejudicar os mais vulnerdveis, permitindo a sua declaracao de abusividade ex oficcio pelo juiz. © novo Cédigo Civil e Comercial da Argentina resolveu o problema, considerando abusiva a cldusula incluida em contratos de consumo internacionais, e proibiu a cléusula de eleigdo do foro frente a estes consumidores. 0 PLS 281, 2012 de atualizagéo do CDC também anda nesta diregéo, proibindo a cldusula de eleigdo de foro frente a consumidores. Parece-me que em uma visio de conjunto do NCPC e seus principios poderiamos chegar ao mesmo resultado, da proibigdo da cléusula de eleigao do foro frente a consumidores (art. 22, IT do CPC, art. 25 c/c art. 63 do CPC). 0 CPC de 1973, no pardgrafo Xinico do art. 102 conectava na qualidade de contrato de adesdo para permitir a declaragao ex officio da abusividade da cléusula, 0 NCPC traz autorizacéo mais geral, sempre que a cléusula de eleicdo do foro causar qualquer prejuizo para o réu, no caso, o consumidor. A. regra do NCPC &: “Aart. 63. As partes podem modificar a competéncia em razao do valor e do territério, elegendo foro onde seré proposta acao oriunda de direitos e obrigacoes. § 1° A clei¢do de foro s6 produz efeito quando constar de instrumento escrito e aludir expressamente a determinado negécio juridico. § 2° 0 foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes. § 3° Antes da citagdo, a cléusula de eleigao de foro, se abusiva, pode ser reputada ineficaz de oficio pelo juiz, que determinard a remessa dos autos ao juizo do foro de domicilio do réu, § 4° Citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cléusula de eleigéo de foro na contestaco, sob pena de preclusao.” Mencione-se também o art. 62 do NCPC apesar de tratar de tema diferente da jurisdigao, nacional e internacional (competéncia), pode ajudar a solucionar o problema, pois afirma que se a competéncia é determinada em razo da pessoa, esta competéncia — justamente para proteger as pessoas vulnerdveis — é inderrogavel pelas partes." O texto do art. 62 do NCPC “art. 62. A competéncia determinada em raztio da matéria, da pessoa ou da fungio é inderrogavel por convencdo das partes.” Certo € que o CPC distingue entre competéncia e jurisdigao, mas a ratio da mengéo pessoal é a mesma: proteger o vulnerdvel no sentido constitucional (art. 5°, XXXII da CF/1988) e seu acesso ao Judicidrio, Assim, nesta interpretacao de conjunto do CPC, o art. 63 do CPC seria decisivo, pois se esté no setor sobre competéncia nacional, em verdade & referido no art. 25 do CDC e a cldusula de eleicao do foro. Auxilia ao ponderar requisitos de fundo ou de justia processual para a eleigo do foro nacional e internacional, superando em minha opiniao a protecao que dispunha o art. 102, paragrafo tinico do CPC antigo, pois segundo a nova regra pode o juiz ex offcio e antes da citacdo reputar ineficaz as clausulas de eleigdo do foro... inclusive contra consumidores (art. 22, Il c/c art. 62 e art. 63 do NCPC). E se a citagdo ocorrer, cabe ao consumidor e seu advogado alegarem a sua ineficécia em todos os casos e nao somente em casos de adesao (art. 22, Il c/e art. 63 do CPC). Em minha opiniao, os arts 22, 25, 62 e 63 formam um bloco interpretativo, que deve assegurar a protegao dos consumidores na facilitagao de seu acesso ao Judicidrio (art. 6°, VII e VIII do CDO), conforme o mandamento Constitucional (art. 5°, XXXII da CF/1988). ‘Teresa Wambier, em seus comentérios, ao art. 25 considera que a eleigo de foro em contratos com consumidores sera possivel somente em casos internacionais, em casos nacionais o art. 63 se aplica; e, mesmo em casos internacionais, 0 art. 25 deve ser aplicado em didlogo com o art. 6%, VIII do CDC. *” Resumindo, para casos nacionais de elei¢ao de foro frente a consumidores aplicavel é o art. 63 do CPC, bastante protetivo e mais eficiente que o antigo pardgrafo tinico do Art. 102, ¢ em casos internacionais, art. 6°, VIII do CDC nao permite que se prejudique o consumidor com a eleicdo do foro, presumindo-se este prejuizo em casos internacionais; logo, como afirmam os experts, devemos excluir a aplicagao do art, 25 do NCPC aos casos de consumo internacionais. Em resumo, apesar das dtividas da jurisprudéncia brasileira atual, a cldusula de eleigdo do foro é sempre abusiva frente a consumidores pessoas fisicas (art. 51, IV e XV do CDO), e geralmente é abusiva frente a consumidores pessoas juridicas, pois o que os caracteriza é justamente a vulnerabilidade frente ao outro cocontratante, sendo presumivel que a mudanga de foro do domicilio do consumidor para outro, prejudique o consumidor, mesmo se pessoa juridica vulnerdvel.°® Aqui o valor maximo é a procura de coeréncia entre os valores protetivos impostos pela Constituigao Federal e consolidados no CDC (ADIN 2591) e as novas regras processuais. 1.2, Dois exemplos de complementariedade entre as regras do NCPC e do CDC Como mencionamos,** o direito do consumidor, desde a origem, foi construfdo a partir de uma proximidade muito grande entre o direito material e as normas processuais. A efetividade do direito pari passu com a efetividade do processo, foi concebida originalmente, e depois desenvolvida pela jurisprudéncia, de modo a assegurar 0 cumprimento espontaneo ou coativo das regras estabelecidas pelo Cédigo de Defesa do Consumidor, Alids, muitas das alteracdes depois incorporadas pelas reformas do direito processual civil foram introduzidas no sistema juridico brasileiro pelo Cédigo de Defesa do Consumidor. Assim, por exemplo, a tutela especifica da obrigacio e a flexibilizacao do dnus da prova, sem prejuizo da verdadeira construcdo de um sistema de tutela coletiva de direitos, a partir da associacdo das regras do CDC e da Lei da Agao Civil Publica. Dois temas podem também exemplificar esta convergéncia complementar do NCPC e do CDC. Tratam-se de dois temas em que nao hd ainda norma especffica no CDC, seja 0 do superendividamento do consumidor pessoa fisica, em que hé projeto de lei especifico em tramite (PL 3515/2015) consolidando a conciliagao coletiva e global de todos os credores com um consumidor e mesmo um procedimento judicial para elaboracao do plano (coletivo e vinculante para todos os credores do consumidor superendividado) de pagamento, seja 0 amicus curiae, tema de grande importancia para a defesa coletiva dos consumidores, seja pelas associacdes, seja pela Defensoria Publica dos Estados e da Unido e demais interessados. 1.2.1. 0 tratamento da insolvéncia e do superendividamento do consumidor pessoa fisica © PLS 283/2012 de atualizacao do CDC, aprovado por unanimidade no Senado Federal (hoje PL 3515/2015, em exame na Camara de Deputados) traz um proceso novo de declaracdo de superendividamento, superando a insolvéncia civil.%® A insolvéncia civil nao é muito usada no Brasil, mas vinha regulada pelo CPC de 1973." © NCPC nao regula mais a insolvéncia, mas indica que as normas do CPC de 1973 continuardo a regular 0 tema até que lei especial entre em vigor, respeitando assim o projeto de lei - agora - PL3515/2015 que tramita na Camara de Deputados. A norma do NCPC é a seguinte “Aart, 1.052, Até a edigdo de lei especifica, as execugdes contra devedor insolvente, em curso ou que verham a ser propostas, permanecem reguladas pelo Livro I, Titulo IV, da Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973.” Como o projeto de lei de atualizagao do CDC tem como campo de aplicagao subjetivo limitado, somente para 0 consumidor pessoa fisica, a pergunta que fica é quando uma lei residual ser elaborada, o que valoriza o art. 1.052 do CPC. 1.2.2. Amicus Curiae Importante novidade é o capitulo dedicado a saudavel participagdo do amicus curiae, inclusive em temas de consumo. O texto traz a possibilidadedo recurso de embargos de declaracao e a possibilidade de recorrer da decisao que julgar o incidente de resolucao de demanadas repetitivas. O novo texto é o seguinte: “Capitulo V - do Amicus Curiae Art. 138, 0 juiz ou o relator, considerando a relevancia da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ow a repercussdo social da controvérsia, poderd, por decisiio irrecorrivel, de oficio ou a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participagao de pessoa natural ou jurfdica, érgdo ou entidade especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimagao. § 1° A intervencao de que trata o caput ndo implica alteragao de competéncia nem autoriza a interposicao de recursos, ressalvadas a oposicdo de embargos de declaracdo e a hipstese do § 3°. § 2° Caberd ao juiz ow ao relator, na decisdo que solicitar ou admitir a intervencao, definir os poderes do amicus curiae. § 3° O amicus curiae pode recorrer da deciséo que julgar o incidente de resolugdo de demandas repetitivas. Estas novidades podem ser muito positivas para as associages de defesa do consumidor, se lembramos da ADIN 2591, Adin dos bancos, os embargos de declaragio foram muito importantes e o Brasilcon nao teve reconhecida sua legitimidade hé época. Na segunda parte deste artigo queremos examinar justamente os instrumentos do NCPC que podem ajudar e complementar a tutela coletiva dos consumidores, além da que aqui mencionada regulamentacao do amicus curiae, Vejamos. 2. Instrumentos do novo Cédigo de Processo complementam a tutela coletiva do consumidor: didlogos de complementariedade sistemdtica 0 novo Cédigo de Processo Civil foi editado no marco da aproximagao do Proceso Civil e da Constituicao, dai a importdncia de ser usado como um dos instrumentos de uma mais efetiva tutela processual dos consumidores (art. 5°, XXXII da CF/1988). No CDC ha uma dimensdo processual dos direitos basicos do consumidor (art. 6%, VII e VII do CDC), que assegura acesso a Justica e facilitagdo da defesa do consumidor. Porém, no didlogo sistemético de complementariedade alguns incidentes previstos no NCPC complementam a tutela coletiva do consumidor. Interessante que ha norma do CDC especifica, seja quanto a desconsideragdo da personalidade da pessoa juridica (art. 28 do CDC), seja quanto aos efeitos ‘exemplares’ da coisa julgada a favor dos consumidores, que hoje pode ser comparado aos efeitos ‘repetitivos’ dos novos instrumentos criados ou consolidados pelo NCPC. Neste sentido, ambas as fontes terdo que ser aplicadas conjunta e simultaneamente para assegurar a efetiva protecao do consumidor, valor e mandamento constitucional. Vejamos. 2.1, Incidente de desconsideragao da personalidade juridica Um dos temas mais controvertidos no plano da responsabilidade patrimonial diz respeito & extenso dos efeitos das obrigagdes da pessoa juridica a seus sécios ou administradores. A desconsideracao da personalidade juridica foi recebida pelo direito brasileiro por intermédio da doutrina especializada, com posterior consagracao legislativa (art. 50 do Cédigo Civil). Recebeu, entretanto, do direito do consumidor, disciplina especifica, tornando mais abrangente as hipéteses que a autorizam, conforme previsto no art. 28 do CDC. Atencao merece também o §5° do art. 28 do CDC, que dispde: “Também poderd ser desconsiderada a pessoa juridica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstdculo ao ressarcimento de prejuizos causados aos consumidores”. Parece-nos que o art, 28 do CDC fica valorizado pelo fato do NCPC permitir o incidente de desconsideragao da personalidade da pessoa juridica também nos juizados de pequenas causas ou juizados especiais, segundo se depreende do art. 1062 do CPC: “Art, 1.062. © incidente de desconsideragao da personalidade juridica aplica-se ao processo de competéncia dos juizados especiais.” As discussdes sobre a aplicagao da norma do CDC sempre tiveram presente o reclamo por maior previsibilidade quanto ao deferimento da desconsideragdo e extensao dos efeitos das obrigacdes sobre o patriménio dos sdcios ou administradores. A definicao de um procedimento especifico para a desconsideracao da personalidade juridica, como faz CPC/2015, a rigor esta de acordo com a diretriz de protecao da confianca das partes (nao surpresa), prevista nos seus arts. 9° e 10 da nova lei processual. A doutrina destaca como positivas as novas regras, que evitam que a desconsideragdo soja levada ex officio." O art. 133 do CPC/2015 refere: “O incidente de desconsideragaio da personalidade juridica sera instaurado a pedido da parte ou do Ministério Publico, quando Ihe couber intervir no proceso. De sua interpretagio resulta que néo poderd ser decretada de oficio pelo juiz. Segundo esta visio, apenas quando houver pedido da parte interessada ou do Ministério Publico, podera ser deferida a desconsiderago, 0 que também se aplica & desconsideracao inversa, pela qual a pessoa juridica possa vir a responder por obrigagdes contraidas pelos sécios (art. 133, § 2°). Registre-se, contudo, que é dispensada a instauragdo do incidente se houver pedido com este fim jé na peticdo inicial, hipétese em que o sécio ou a pessoa juridica serao citados para participar da agdo (art. 134, § 28, CPC/2015). Nas causas que tenham por objeto relacdo de consumo, pode, eventualmente, se estabelecer controvérsia sobre a aplicagao do art. 133 do CPC/2015, no ponto em que ele impede a decretacao ex officio da desconsideragdo da personalidade juridica’’, em especial, com o fundamento da ordem publica constitucional de que se reveste 0 CDC." ‘Tenha-se em conta, no entanto, que o propésito da norma é o de assegurar 0 direito ao contraditério e a ampla defesa de quem possa vir a responder com seu patriménio pelas obrigagées contraidas por outrem. A locugao “o juiz podera”, definida no art, 28 do CDC, milita em favor da possibilidade da decretacao de oficio. Contudo, por mais discutivel que seja a solucao processual, o fato 6 que, ao definir, a norma processual, dado procedimento, este deverd ser observado na aplicago do direito material. De qualquer sorte, note-se que mesmo se admitindo a decretagao de oficio da desconsideragdo, isso ndo elimina o dever de assegurar a manifestagao prévia & decisdo, das partes que venham a sofrer seus efeitos. Eo que resulta do art. 10 do CPC/2015 (“O juiz néo pode decidir, em grau algum de jurisdigdo, com base em fundamento a respeito do qual nao se tenha dado as partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de oficio”) 0 efeito da instauracao do incidente serd a suspenso do proceso e citacao do sécio ou. da pessoa juridica para manifestar-se e requerer provas. Conclufda a instrugdo do incidente, seré proferida decisdo interlocutéria, da qual cabe recurso (art. 136 CPC/2015). Acolhido o pedido de desconsideracao, define o art. 137 do CPC/2015 que “a alienacao ou a oneracao de bens, havida em fraude de execucao, seré ineficaz em relagao ao requerente”. 2.2, Instrumentos de resolucdo de demandas repetitivas (ou coletivamente exemplares) Como destacou Antonio Herman Benjamin, se 0 NCPC nao regula as acdes civis, publicas nao “deixa de influenciar decisivamente o processamento das acdes coletivas”.** Sao essencialmente dois os instrumentos previstos pelo NCPC para a resolugdo de demandas repetitivas: 0 incidente de resolugdo de demandas repetitivas (art. 976 do CPC) €.a disciplina dos recursos especial e extraordinario repetitivos (art. 1.036 do CPC). Ambos tém larga repercussdo_nas demandas relativas a0 direito do consumidor e vém sistematizados pelo NCPC, que também valoriza os precedentes judicais (art. 926 do cpc).!” 0 incidente de resolugao de demandas repetitivas, com notada inspiragao em solugao do direito alemao (Musterverfahren), mas também presente em outros sistemas (como a Inglaterra), caracteriza-se pela cisdo da competéncia sobre a causa, de modo que 0 ‘Tribunal em que instaurado o incidente decide a tese prevalente. Pressupoe a existéncia de repetigao de processos em curso, com risco de ofensa a isonomia em face de decisdes contraditérias. E, deste modo, oferece aos tribunais em geral (Tribunais de Justica dos Estados e Tribunais Regionais Federais, entre outros) a possibilidade de uniformizar seu entendimento sobre causas controvertidas, permitindo maior estabilidade e eficiéncia na solugao das demandas que Ihe sao submetidas.*® Estabelece o art. 976 do Cédigo de Processo Civil de 2015: “Art. 976. £ cabivel a instauragdo do incidente de resolugao de demandas repetitivas quando houver, simultaneamente: I - efetiva repeti¢ao de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questo unicamente de direito; II - risco de ofensa a isonomia e a seguranca juridica”. Exige-se que haja processos repetitivos com uma mesma questao de direito controvertida.*® Ou seja, ndo se trata de eventual expectativa quanto a multiplicacao de demandas ou de atuacao preventiva.”° Por outro lado, nao cabe o incidente de resolucao de demandas repetitivas quando jé houver sido afetado, por um dos tribunais superiores, recurso para definicdo da tese sobre mesma questao de direito repetitiva, caso do recurso especial e do recurso extraordindrio repetitivos (art. 976, § 4°). A admissao do incidente determina a suspensdo, pelo relator, dos processos pendentes que tramitem no Ambito de competéncia do tribunal que o instaurar. Admite a intervengio de amicus curiae e de assistente simples (art, 983), devendo se manifestar também 0 Ministério Puiblico, e deverd ser julgado no prazo de um ano, apés o qual deixam de estar suspensos 0s processos relacionados (art, 980). No caso de demandas envolvendo direitos do consumidor, associagdes civis de defesa e/ou promogio do direito do consumidor, e érgaos de defesa do consumidor, podem atuar como tais.** Como efeito do julgamento do incidente de recursos repetitivos, a tese juridica a qual se refira sera aplicada “a todos os processos individuais ou coletivos que versem sobre idéntica questo de direito e que tramitem na area de jurisdicao do respectivo tribunal, inclusive aqueles que tramitem nos juizados especiais do respectivo Estado ow regio”; ¢ “aos casos futuros que versem idéntica questo de direito e que venham a tramitar no territério de competéncia do tribunal” (art. 985).°? A decisio, contudo, poder ser revista, de oficio ou mediante requerimento do Ministério Publico ou da Defensoria Publica (art. 986). Note-se que o precedente que resulta da decisdo torna-se obrigatério, inclusive para os drgaos do proprio tribunal que prolatou a decisdo (vinculacao horizontal), Da decisdo do incidente, cabe recurso especial e extraordinario, 0 qual teré efeito suspensivo, e cuja decisdo pelo ST] ou pelo STF, seré aplicada a todos os processos individuais e coletivos que tenham por objeto a mesma questdo de direito (art. 987). O recurso extraordinério, de sua vez, tera presumida a repercussao geral da questao constitucional discutida (art. 987, § 2°). Jé em relagdo aos recursos especiais e extraordinarios repetitivos, 0 CPC/2015 unifica 0 procedimento para afetagdo e julgamento, realizados sob a égide do CPC revogado, a partir do que estabeleciam os arts. $43-B e 543-C, e detalhado por resolugdes dos respectivos tribunais. As preocupagies ja existentes no sistema do Cédigo revogado se renovam.® A principal diz respeito a escolha do recurso a ser afetado e sua capacidade de demonstrar todos os aspectos que envolvem o objeto da discussdo. H4 também preocupacdo com a prépria qualidade da representagdo das partes. Quando se trata de relagdes de consumo, muitas vezes esto envolvidos fornecedores litigantes habituais,® assistido por experts na controvérsia em questao, e de outro lado, centenas ou milhares de consumidores, em causas das quais apenas um recurso sera selecionado e afetado para decisao. Isso pode prejudicar sensivelmente a paridade de armas (art. 7° CPC/2015), considerando que a defesa do contingente de consumidores estard confiada, no caso, a0 advogado do consumidor no recurso selecionado e aos amicus curiae, que apenas trataro dos aspectos controvertidos indicados pela Corte. Estas normas podem prejudicar a defesa do consumidor e a chamada ‘paridade de armas’*° um dos principios defendidos pelo proprio CPC, da a importancia de sua aplicagao em didlogo com os prineipios e valores do cpe. © art. 1.037 do CPC/2015 define que o relator, na decisdo que afetar o recurso, dentre outras providéncias “identificara com preciso a questao a ser submetida a julgamento” e “determinaré a suspensdo do processamento de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a questéo e tramitem no territério nacional”. A preocupacao do legislador ao determinar que a decisao de afetacao deva identificar com precisdo a questao submetida a julgamento, veda ao érgao jurisdicional, deliberar sobre questao nao delimitada nesta decisao (art. 1.037, § 2°, CPC/2015). Ha na regra o sentido de protecao da confianca em relagao a estabilidade da jurisprudéncia, evitando surpreender aquele que - confiando na decisao de afetagdo - deixa de mobilizar-se na defesa de seu interesse, sendo surpreendido pelo tribunal. £ 0 que fundamenta, em parte, as criticas eloquentes em relagdo a decisdo do REsp 1061530/RS, que deu origem a Siimula 381 do STj, definidoque “nos contratos bancérios, é vedado ao julgador conhecer, de oficio, da abusividade das cléusulas”.®” Tal Siimula esté sendo revista. O proprio egrégio Superior Tribunal de Justica esté revendo este posicionamento, face a entrada em vigor do novo Codigo de Processo Civil em marco de 2016 no Brasil, e, no REsp 1.465.832/RS (rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino), estuda mudar a redagdo da Simula 381 A redacao passaria para: "Na declaracao de nulidade de cléusula abusiva, prevista no art. 51 do CDC, deverdo ser respeitados o contraditério e a ampla defesa, néo podendo ser reconhecida de oficio em segundo grau de jurisdigdo”.® Esta redagdo € muito mais feliz. e de acordo com o didlogo de coeréncia entre o CDC, CC/2002 e CPC/2015. Realmente, tanto face & nulidade absoluta prevista no art. 51 do CDC, quanto as regras do Codigo Civil de 2002 e do Cédigo de Processo Civil de 2015, a nulidade das cléusulas abusivas em qualquer contrato, seja de adesdo ou seja bancério, deve ser declarada ex officio pelo julgador de primeiro grau, pois ¢ insanavel pela manifestacao das partes ou indisponivel as partes. © NCPC ainda traz fortes normas sobre a uniformizacao da jurisprudéncia (art. 926 do CPC), que tem forte efeito na defesa do consumidor como coletividade.*® 3. Observacées finais, A exata dimensio das normas do NCPC nao decorreré exclusivamente do seu texto, sendo da interpretagio e aplicagaio que se fizer dele, dai a necessidade de aplicarmos 0 NCPC em didlogo com o CDC. Em especial, tendo em conta a convergéncia de suas regras, e 0s justos reclamos de previsibilidade e seguranga das decisdes judiciais, com a necessaria efetividade dos direitos do consumidor, conforme assegurado pela Constituigio da Repubblica, este é 0 carninho metodolégico a ser seguido. Como oe, Superior Tribunal de Justiga j4 identificou desde 2008,°° em matéria processual, a nova lei renova a interpretacao e a aplicacdo conjunta das leis especiais,"> trata-se de caminho ‘inovador’,®? que pode ser muito titil para se evitar a antinomia entre normas e restaurar a coeréncia do ordenamento juridico, sua unidade e seu sistema, orientados pelos valores (e mandamentos de protecdo dos vulnerdveis!™) impostos pela Constituigao Federal de 1988. © microssistema do CDC, ao dispor sobre a tutela judicial do consumidor, empregou grande énfase 4 busca da efetividade desta protegdo de origem constitucional. 0 NCPC aproxima-se tanto filoséfica, teleologicamente, como politicamente do CDC. Trata-se de ‘uma nova compreensdo do processo civil, a considerar que sua realizagio nao se confina a0 interesse das partes, mas promogao do interesse puiblico, ao assegurar a realizagao dos direitos, especialmente dos vulnerdveis, como os consumidores.” Deste modo, ha evidente espaco para a aplicagdo conjunta e coordenada pelos valores constitucionais do CPC e do CDC e das demais fontes deste ordenamento juridico, que se quer coerente e efetivo, como a sociedade brasileira merece. 4. Referéncias BESSA, Leonardo Roscoe. In: BENJAMIN, Antonio Herman. MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de Direito do Consumidor. 7. ed. $40 Paulo: Ed. RT, 2016. BENJAMIN, Antonio Herman. Art. 81. Jn: MARQUES, Claudia Lima; BENJAMIN, Antonio Herman; MIRAGEM, Bruno. Comentarios ao Cédigo de Defesa do Consumidor, Sao Paulo: Ed. RY, 2016. CAMARA, Alexandre Freitas. Comentério ao art. 134. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; DIDIER JR., Fredie; TALAMINI, Eduardo; DANTAS, Bruno. Breves comentérios ao novo Cédigo de Processo Civil. Sao Paulo: RT, 2015. CABRAL, Ant6nio Passo. A escolha da causa-piloto nos incidentes de resolugdo de demandas repetitivas. RePro 231/2014, p. 201 e ss. CAMBI, Eduardo; VARGAS FOGAGA, Mateus. Incidente de resolugio de demandas repetitivas no novo Cédigo de Processo Civil. RePro 243/2015, p. 333-362. CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. Comentarios ao art. 1°. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; DIDIER JR. Fredie. TALAMINI, Eduardo. DANTAS, Bruno, Breves comentérios ao novo Cédigo de Processo Civil, $40 Paulo: Ed. RT, 2015, CORREA DE SOUZA, Victor Roberto, © novo Cédigo de Processo Civil brasileiro e a audiéncia de conciliagdo ou mediacao como fase inicial do procedimento. RePro 243/201, . 583-603. DINAMARCO, Candido Rangel. Instituigdes de processo civil. So Paulo: Malheiros, 2003. v. 1. FERNANDEZ ARROYO, Diego P. Compétence exclusive et compétence exorbitante dans le relations privées internationales. Recueil des Cours de I’ Haye, t. 323. 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Mauro Campbell Marques, a ementa conclui pela utilidade ‘politica’ da teria do didlogo das fontes: “Muito embora por fundamentos variados - ora fazendo uso da interpretagdo sistematica da LEF e do CPC/1973, ora trilhando 0 inovador caminho da teoria do "Didilogo das Fontes’, ora utilizando-se de interpretacdo histérica dos dispositivos (o que se faz agora) - essa conclusao tem sido a alcangada pela jurisprudéncia predominante.... 4 ‘Veja bom exemplo no caso decidido pelo F. ST] como recurso repetitivo em matéria processual, no REsp 1184765/PA, 1* Seco, j. 24.11.2010, Rel. Min. Luiz Fux, cuja ementa destaca a utilidade ‘filoséfica’ da teoria do didlogo das fontes, ao afastar a antinomia e resdescobrir a coeréncia constitucional da aplicago conjunta das duas normas, afirmando; “9. A antinomia aparente entre 0 art, 185-A, do CTN (que cuida da decretagao de indisponibilidade de bens e direitos do devedor executado) e 0s arts. 655 e 655-A, do CPC (penhora de dinheiro em depésito ou aplicacao financeira) é superada com a aplicagéo da Teoria pés-moderna do Dialégo das Fontes, idealizada pelo alemdo Erik Jayme e aplicada, no Brasil, pela primeira vez, por Claudia Lima Marques, a fim de preservar a coexisténcia entre 0 Cédigo de Defesa do Consumidor e 0 novo Cédigo Civil. 10, Com efeito, consoante a Teoria do Didlogo das Fontes, as normas gerais mais benéficas supervenientes preferem a norma especial (concebida para conferir tratamento privilegiado a determinada categoria), a fim de preservar a coeréncia do sistema normative.” ‘Veja sobre 0 método do didlogo das fontes, o livro MARQUES, Claudia Lima (org). Didlogo das {fontes. Sao Paulo: Ed, RT, 2012. p.9e ss. Destaque-se o primeiro leading case do E. ST], que cita a teoria do didlogo das fontes em virtude de mudangas na legislagio processual incluindo o prinefpio da cooperago, conforme decidiu a 2* Turma desta E. Corte, no Resp. 1024128/PR,* Dj 19.12.2008, rel. Min. Herman Benjamin: “A novel legislagao 6 mais uma etapa da denominada ‘reforma do CPC, conjunto de medidas que vém modemnizando o ordenamento juridico para tornar mais célere e eficaz 0 processo como técnica de composicdo de lides. Sob esse enfoque, a atribuicao de efeito suspensivo aos embargos do devedor deixou de ser decorréncia automética de seu simples ajuizamento. Em homenagem aos principios da boa-fé e da lealdade processual, exige-se que o executado demonstre efetiva vontade de colaborar para a répida e justa solugao do litigio e comprove que o seu direito é bom. ‘Trata-se de nova concepsio aplicada & teoria geral do processo de execuso, que, por essa ratio, reflete-se na legislago processual esparsa que disciplina microssistemas de execugo, desde que as normas do CPC possam ser subsidiariamente utilizadas para o preenchimento de lacunas. Aplicago, no Ambito processual, da teoria do didlogo das fontes. ‘Veja minha introducao, MARQUES, Claudia Lima, in: MARQUES, Claudia Lima; BENJAMIN, Ant6nio H. , MIRAGEM, Bruno. Comentérios ao Cédigo de Defesa do Consumidor. 5. ed. Sa0 Paulo: Ed, RT, 2016, p. 39.75. Veja sobre acesso & justica (Art. 6°, VII do CDC) e o novo Cédigo de Processo Civil, MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 6. ed, Sio Paulo: Ed. RT, 2016. p. 707 es. BESSA, Leonardo Roscoe. In: BENJAMIN, Antonio Herman, MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de Direito do Consumidor. 7 ed. Sao Paulo: Ed, RT, 2016. p. 515. Hugo Mazzili ensina que uma das primeiras decisbes da comissao que elaborou o NCPC e que iniciou seus trabalhos em 30.11.2009 foi a de excluir o processo coletivo, que continua regulado por leis especiais, inclusive pelo CDC, veja MAZZILLI, Hugo Negro. O processo coletivo e 0 Cédigo de Processo Civil de 2015. Revista dos Tribunais, 958/2015, p. 331-362 Aproveito a nota para destacar que o NCPC e o seu principio da cooperagaio podem ser usados, para em casos de consumo, e em didlogo com o CDC inverter a linha jurisprudencial do E. STJ no sentido que a inverso do énus da prova a favor do consumidor ndo possui “a forga de obrigar a parte contréria a arcar com as custas da prova requerida pelo consumidor” (AgRg no AREsp 246375/PR, 4", j. 4.12.2012, rel. Min. Luis Felipe Salorndo). 2 BESSA, Leonardo Roscoe. In: BENJAMIN, Antonio Herman, MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de Direito do Consumidor. 7 ed. $a0 Paulo: Ed. RT, 2016. p. 542-543. Veja MACUSO, Rodolfo de Carnargo. Manual do consumidor em juizo. Saraiva: Sao Paulo, 2007. p. T4ess. ‘Assim MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 6. ed. Sao Paulo: Ed. RT, 2016. p. 699. MARQUES, Claudia Lima, In: MARQUES, Claudia Lima; BENJAMIN, Antonio H., MIRAGEM, Bruno. Comentarios ao Cédigo de Defesa do Consumidor. 5. ed, $40 Paulo: Ed, RT, 2016. p. 73. Assim escreveu MIRAGEM, Bruno. Reflexos do novo Cédigo de Processo Civil no direito do consumidor - 2" parte. CONJUR. Artigo veiculado em 13.04.2016. Disponivel em: [www.conjur.com.br/2016-abr-13/garantias-consumo-reflexos-cpe-direito-consumidar-parte]. ‘Acesso em: 21.01. 2017. Veja os dois comentarios de Bruno Miragem no conjur sobre o tema e a nota de Claudia Lima Marques, na Revista de Direito do Consumidor, que dao embasamento para 0 texto a seguir. ‘Trecho de MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 6. ed. $40 Paulo: Ed. RT, 2016. p. 702- 703, MIRAGEM, Bruno, Curso de direito do consumidor. 6. ed. Sao Paulo: Ed, RT, 2016. p. 704 e ss A influéncia da Constituig&o encontra-se jé no Art. 1° do CPC 2015, que dispde: “O processo civil serd ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentals estabelecidos na Constituigo da Republica Federativa do Brasil, observando-se as disposicdes deste Codigo.” ‘Veja-se DINAMARCO, Candido Rangel. Instituigdes de processo civil. S40 Paulo: Malheiros, 2003. v. 1, p.80. CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. Comentarios ao art. 1°. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; DIDIER JR. Fredie. TALAMINI, Eduardo. DANTAS, Bruno. Breves comentérios ao novo Cédigo de Processo Civil. S4o Paulo: Ed. RT, 2015. p. 73, a MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 6. ed. Sao Paulo: Ed. RT, 2016. p. 705-706. Assim MIRAGEM, Bruno, Curso de direito do consumidor. 6, ed, So Paulo: Ed. RT, 2016, p. 706. 25 MAZZILLI, Hugo Negro. 0 processo coletivo ¢ 0 Cédigo de Processo Civil de 2015. Revista dos ‘Tribunais 958/2015, p. 331-362. Veja sobre o tema no CPC, CAMBI, Eduardo; VARGAS FOGACA, Mateus. Incidente de resolugo de demandas repetitivas no novo Cédigo de Processo Civil. Revista de Processo 243/2015, p. 333-362 n Veja MARQUES, Claudia Lima; MIRAGEM, Bruno. Anteprojetos de lei de atualizagao do Cédigo de Defesa do Consumidor. Revista de Direito do Consumidor. $0 Paulo: Fd. RT, v. 82, p. 331 e ss. abril-junho/2012. Veja sobre a igualdade dos desiguais, nosso livro MARQUES nove Direito Privado e a Protegdo dos Vulnerdveis. 2. ed. Sao Paulo: Ed. RT, 2» ‘Veja sobre a audiéncia de conciliagéo, CORREA DE SOUZA, Victor Roberto. 0 novo Cédigo de Proceso Civil brasileiro e a audiéncia de conciliagao ou mediagéo como fase inicial do procedimento. Revista de Pracesso 243/2015, p. 583-603. Veja detalhes in: GAIO JUNIOR, Anténio Pereira e GOUVEA FREITAS, F jurisdigio nacional e a cooperagio internacional no plano do novo Cédigo de Processo Civil brasileiro. Revista de Processo 243/2015, p. 337-551 imundo. Os limites da Assim ensina FERNANDEZ ARROYO, Diego P. Compétence exclusive et compétence exorbitante dans le relations privées internationales. Recueil des Cours de I’ Haye, tome 323, Leiden: Nijhott Publ, 2006. p. 144. Assim sobre este artigo, WAMBIER, Teresa Arruda Alvi; DIDIER Jiinior, Fredie; TALIMINI, Eduardo e DANTAS, Bruno. Breves Comentarios ao novo Cédigo de Processo Civil, S80 Paulo: Ed RT, 2015. p. 107. 2 Veja sobre o art. 63, WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; DIDIER Jinior, Fredie; TALIMINI, Eduardo e DANTAS, Bruno. Breves Comentérios ao novo Cédigo de Processo Civil. Sio Paulo: Ed, RT, 2015, 234, RAMOS, André de Carvalho, Jurisdigao internacional sobre relagdes de consumo no novo Cédigo de Processo Civil: avangos e desafios. Revista de Direito do Consumidor100/2015: “Assim, entendo que o art. 25 do CPC (derrogagao da jurisdigao internacional relativa ou concorrente) sé se aplica aos contratos internacionais de consumo que ndo sejam de adesao. Outra interpretagao levaria ao seguinte paradoxo: 0 NCPC, na busca da protegao de direitos humanos e da parte vulneravel, estendeu a jurisdicao internacional brasileira para abarcar as acOes propostas pelos consumidores domiciliados ou residentes no Brasil, mas, ao mesmo tempo, teria tornado tal extenso inécua, pois a esmagadora maioria de contratos internacionais de consumo sio de adesio e suas clusulas impdem a jurisdigo do Estado do fornecedor ou outra que The seja ainda mais favorvel.” Veja a preocupagto com o vulnerdvel, in: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Civil Procedure in time of Crisis. Revista de Processo244/2015, p. 381-389. 38 Neste sentido veja sobre este artigo, WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; DIDIER Jiinior, Fredie; TALIMINI, Eduardo; DANTAS, Bruno. Breves Comentérios ao novo Cédigo de Processo Civil. SA0 Paulo: Ed. RT, 2015. p. 234. ‘Assim WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; DIDIER Jiinior, Fredie; TALIMINI, Eduardo; DANTAS, Bruno. Breves Comentarios ao novo Cédigo de Processo Civil. Séo Paulo: Ed. RI, 2015. p. 111. 2» MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 6. ed. $a0 Paulo: Ed. RT, 2016. p. 710. Veja comentarios no Conjur de Bruno Miragem, © ‘Veja mais detalhes em nosso artigo, MARQUES, Cléudia Lima; MIRAGEM, Bruno. Anteprojetos de lei de atualizacdo do Cédigo de Nefesa do Consumidor. Revista de Direito do Consumidor. v. 82, ‘So Paulo: Ed. RT, abrilsjunhoj2012. p. 331 ess. Veja LOPES, José Reinaldo Lima. Crédito ao consumidor e superendividamento - Uma problematica geral. Revista de Direito do Consumidor. 17/1996. p. 57 e ss. 2 BENJAMIN, Antonio Herman, Art. 81, In: MARQUES, Claudia Lima; BENJAMIN, Antonio Herman; MIRAGEM, Bruno. Comentarios ao Cédigo de Defesa do Consumidor, Sa0 Paulo: Ed. RT, 2016. p. 1753. SILVA, Blecaute Oliveira. Desconsideragio da personalidade jurfdica no NCPC. In: EHRHARDT, Marcos (coord). Impactos do NCPC e do EDP no Direito Civil Brasileiro. Belo Horizonte: Férum, 2016. p. 34. “ CAMARA, Alexandre Freitas. Comentario ao art, 134, n: WAMBIER, Teresa Arruda Alvin; DIDIER JR, Fredie; TALAMINI, Eduardo; DANTAS, Bruno. Breves comentrios ao novo Cédigo de Processo Civil, Sa0 Paulo: Fa. RT, 2015. p. 426-427. Da mesma forma: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; CONCEIGAO, Maria Liicia Lins; RIBEIRO, Leonardo Ferres da Silva; MELLO, Rogério Licastro ‘Torres. Primeiros comentérios ao Cédigo de Processo Civil. Sao Paulo: Ea. RT, 2015. p. 252. MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 5. ed. So Paulo: Ed. RT, 2014. 6 BENJAMIN, Antonio Herman. Art. 81. In: MARQUES, Claudia Lima; BENJAMIN, Antonio Herman; MIRAGEM, Bruno. Comentarios ao Cédigo de Defesa do Consumidor. Sa0 Paulo: Ed. RT, 2016. p. 1753, BENJAMIN, p. 1753. ° ‘Veja mais detalhaes in: MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 6. ed. Sao Paulo: Ed. RT, 2016. p. 775 es. Veja-se: MARINONI, Luiz Guilherme. Uma nova realidade diante do projeto do CPC: a ratio decidendi ou os fundamentos determinantes da decisdo. In: DIDIER JR, Fredie; FREIRE, Alexandre; DANTAS, Bruno; NUNES, Dierle; MEDINA, José Miguel Garcia; Fux, Luiz; CAMARGO, Luiz Henrique Volpe; OLIVEIRA, Pedro Miranda de (orgs.). Novas tendéncias do processo civil. Estudos sobre o projeto do novo Cédigo de Processo Civil. Salvador: JusPodivm, 2013. p. 809-871. so Assim MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 6. ed. Sto Paulo: Ed. RT, 2016. p. 776. ‘Assim MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 6. ed. Sao Paulo: Ed. RY, 2016. p. 777. 2 Sobre os riscos dos repetitivos para a defesa dos consumidores, veja MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 6. ed. S40 Paulo: Ed. RT, 2016. p. 772. ss. Veja sobre os riscos deste modelo, MIRAGEM, Bruno, Curso de direito do consumidor. 6. ed. Sio Paulo: Ed. RT, 2016. p. 777. ‘Veja detalhes in: MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 6. ed. S4o Paulo: Ed. RT, 2016. p. 778-780. 56 A doutrina especializada ja alertava para o risco que os litigantes habituais ‘escolham’ os casos ‘teste’, veja CABRAL, AntOnio Passo. A escolha da causa-piloto nos incidentes de reslougao de demandas repetitivas. RePro, ol 231/2014, p. 201 ess Sobre os riscos para os consumidores veja MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 6. ed, Sdo Paulo: Ed. RT, 2016. p. 774. STJ, 2" Sega, j. 22.04.2009, Dfe 05.05.2009. se ST], Documento: 51882822 ~ Despacho/Decisao - Site certificado ~ Dje: 15.09.2015. 0 Assim BENJAMIN, Antonio Herman. Art, 81. In: MARQUES, Claudia Lima; BENJAMIN, Antonio Herman; MIRAGEM, Bruno. Comentérios ao Cédigo de Defesa do Consumidor. Sao Paulo: Ed. RT, 2016. p. 1754, Resp. 1024128/PR, DJ. 19.12.2008, rel. Min. Herman Benjamin. a Assim a ementa: “Com efeito, apés a entrada em vigor da Lei 11.382/2006, a norma aplicavel as execugdes fiscais ndo é mais 0 art, 11 da Lei 6.830/1980, e sim o art. 655 do CPC, com a redacao dada pela nova lei, em atengao ao que a doutrina chama de “didlogo das fontes”. (STJ, REsp 1241063/RJ, 2*T,,j. 06.12.2011, Min. Mauro Campbell Marques) Assim ementa do repetitivo, REsp 1272827/PE, 1* Segdo, j. 22.05.2013, rel. Min. Mauro Campbell Marques. ® Sobre o tema veja também nosso livro, MARQUES, Claudia Lima e MIRAGEM, Bruno. 0 nove direito privado e a protecao dos vulnerdveis. 2, ed. $40 Paulo: Ed. RT, 2014. Assim MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 6. ed, Sto Paulo: Ed, RT, 2016, p. 706. © desta edigdo [2017]

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