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Fichamentos Módulo 5
Fichamentos Módulo 5
TURMA 2
FICHAMENTOS
MÓDULO 5
TUTELAS DO CDC - ADMINISTRATIVA E
PENAL
S
QUESTÕES:
execução da Política Nacional das Relações de Consumo, com os objetivos de: (i)
(Plandec). [https://www.gov.br/mj/pt-br/acesso-a-informacao/perguntas-frequentes/consumidor/sistema-nacional-de-defesa-do-
consumidor] acesso em 26/10/2022]
Com isso, espera-se que o consumidor que ajuizou uma ação seja apresentado a uma
alternativa mais célere. Após a distribuição do processo, seria possível negociar
diretamente com a empresa e o acordo seria homologado judicialmente. Lançada em
2019, a integração é testada em projeto piloto no Tribunal de Justiça do Distrito Federal
e no TRF1.
Uma das críticas que a plataforma recebe e que a afasta como opção ao Judiciário é que
há dificuldade em ter acompanhamento de um advogado, o que alguns consumidores
podem considerar essencial para a tomada de decisão. “O regulamento possibilita a
representação por um advogado, mas a ferramenta não conta com esse campo ou acesso.
Mesmo em questões mais complexas não é possível que o advogado participe
diretamente”, afirma Laís Bergstein, membro da Comissão Especial de Defesa dos
Consumidores do Conselho Federal da OAB, que demandou mudanças à Senacon.
Atualmente, há 1,1 mil empresas e 3,1 milhões de usuários cadastrados, com cerca de 4
milhões de reclamações dadas com resolvidas. Um dos primeiros sinais das limitações
do alcance do sistema em resolver as situações nacionalmente aparece já nesses
indicadores: quase a metade (48%) do total de queixas estão concentradas no Sudeste,
ante uma minoria (3,8%) em estados do Norte.
Inclusive, não restringir a busca por solução ao ambiente digital é uma das
recomendações da União Europeia para a aplicação de alternativas extrajudiciais, que
predominam na região. Analisando um caso de consumo, em 2010, a Corte de Justiça da
União Europeia sistematizou as condições que as plataformas deveriam garantir. Além
de pontos como gratuidade e celeridade, ela traz recomendações que poderiam servir
para o nosso Online Dispute Resolution (ODR) local, o consumidor.gov.br.
Entre os principais problemas apresentados pelos consumidores na plataforma no ano
passado, lideraram demandas referentes a cobranças ou contestações por pagamentos –
42% das questões tinham esse perfil. Em segundo lugar, aparecem questões
relacionadas a contratos e ofertas, com 18% dos casos. Na terceira posição, com 15% do
total, estão as queixas sobre atendimento e Serviço de Atendimento ao Consumidor
(SAC). Esse dado acende um alerta sobre a atenção dada pelas empresas a este serviço.
Outros levantamentos ajudam a entender a opinião geral sobre os canais. Entre 8 mil
consumidores consultados, menos de um terço se disse satisfeito com as experiências
com SACs, segundo constatou o Instituto Ibero-Brasileiro de Relacionamento com o
Cliente (IBRC) e o Instituto de Pesquisas e Estudos da Sociedade e Consumo (IPS
Consumo) em levantamento de abril.
Também seria preciso que os SACs evoluíssem adotando ferramentas multicanais para
se relacionar com consumidores, fazendo uso de tecnologia para resolver problemas.
Por fim, caberia a avaliação e vigilância sobre a efetividade dos serviços. Com base no
estudo, a Senacon pediu sugestões de mudança da regulamentação do SAC ao Conselho
Nacional de Defesa do Consumidor (CNDC), entidade que congrega organizações civis
de defesa do consumidor, associações empresariais, representantes de governo e
agências reguladoras.
Em abril deste ano, o CNDC aprovou texto provisório para substituir o Decreto
6.523/2008, que regulamenta o SAC das empresas reguladas (como telecomunicações,
sistema financeiro e saúde suplementar). Nessa versão, algumas das propostas seriam
fomentar o uso de diferentes canais de atendimento ao consumidor; criar ferramenta
para avaliar a efetividade do SAC; exigir que um contato estivesse disponível sem
interrupções.
O texto foi encaminhado à Senacon, que já teria finalizado a proposta, hoje discutida
interministerialmente. Atualmente, o órgão é liderado por Juliana Domingues. Uma das
alterações em potencial é a obrigatoriedade de ser oferecido atendimento telefônico
conduzido por uma pessoa. Considerando o comportamento do consumidor, há razão de
ser na proposta.
A maioria entra em contato com o SAC para reclamar e, quando o faz, prefere usar o
telefone como meio de contato, segundo o levantamento do IBRC e IPS Consumo. Isso
também é percebido entre os mais jovens: na faixa de 30 anos, 66% dá prioridade a esse
canal. Assim, atendimentos feitos apenas online tenderiam a ser vistos com
desconfiança.
“É preciso que se esteja disponível para ter escuta ativa, ainda que não seja possível
entrar em acordo. Muitas vezes, o consumidor está frustrado e o atendimento amplia a
insatisfação, em vez de prevenir processos”, aponta Fernanda Guerra, advogada
especializada em acordos integrativos e soluções extrajudiciais.
Ainda tratando-se dos órgãos constituem o SNDC os mesmos garantem a não exclusão
pelo Código de Defesa do Consumidor de outros direitos decorrentes de tratados ou
convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, como ventilado pelo
artigo 7º do CDC.
Esse papel adotado pela Senacon acabou por reforçar a importância diretiva do órgão
para uniformização de entendimentos sobre direito do consumidor.
Dessa forma, tem-se que a Senacon possui atribuições específicas, como a competência
para elaborar notas técnicas para subsidiar o SNDC em temas de sua competência e para
direcionar os entendimentos a serem adotados por todos os órgãos que compõem
SNDC.
Não é demais lembrar que a pandemia ocasionou um cenário jamais visto, em que se fez
necessário o fechamento de estabelecimentos físicos de serviços considerados não
essenciais e a implantação do distanciamento social em todo o país, a fim de evitar a
propagação do coronavírus. Isso, por sua vez, fez com que fornecedores fossem
obrigados a readequar totalmente seus métodos de prestação de serviços e de
comercialização de produtos.
Por óbvio, essas medidas afetaram os consumidores e os fornecedores em proporções
também jamais vistas, razão pela qual a Senacon executou papel fundamental, ao
expedir orientações e recomendações aos diversos órgãos de proteção às normas
consumeristas, com o objetivo de uniformizar as condutas permitidas pelos
fornecedores e as normas que deveriam ser flexibilizadas em tempo de pandemia —
evitando-se, assim, ainda mais discussões, inclusive em âmbito judicial, quanto à
atuação dos órgãos de defesa do consumidor espalhados pelo país.
Observado esse cenário, e à luz das determinações expedidas, vê-se que não foram
poucos os temas debatidos pela Senacon [1] ao longo do período de pandemia — e até o
momento da publicação deste artigo —, em diferentes setores econômicos, que exercem
papel significativo no direcionamento das relações de consumo.
A Nota Técnica nº 8/2020 foi apresentada como um “guia orientativo para exame de
abusividade na elevação dos preços dos diversos produtos e serviços que podem ser
afetados em virtude da pandemia do coronavírus”, sugerindo a análise de determinados
critérios que alteram o equilíbrio do mercado.
A Senacon destacou, em tal nota técnica, que momentos de crise podem ocasionar o
aumento da demanda, considerado o temor pela ausência de abastecimento, bem como a
diminuição da oferta de produtos, o que justificaria o aumento de preços. A nota técnica
destacou, ainda, que o mercado brasileiro é regido pela Lei da Liberdade Econômica
(Lei nº 13.874/2019), mas que o Estado deve intervir para manter o equilíbrio com as
normas consumeristas. Apenas depois de efetuada a análise do caso específico, caso
reste comprovado que houve o aumento do preço sem “justa causa”, a empresa infratora
estaria sujeita ao pagamento de multa administrativa.
Ainda, a Nota Técnica nº 14/2020 abordou os contratos com instituições de ensino que
tiveram aulas presenciais suspensas em razão da pandemia. A Senacon concluiu que,
diante da discussão sobre a concessão de descontos ou suspensão de contratos em
decorrência da ausência de aulas presenciais, a melhor alternativa seria a prestação
alternativa do serviço com qualidade equivalente ou semelhante à contratada: I)
postergando aulas presenciais, com a modificação do calendário letivo e de férias; e II)
oferecendo-se aulas à distância, respeitadas as cargas horárias mínimas e cumprimento
do conteúdo estabelecido pelo Ministério da Educação. Nessas hipóteses, a orientação
da Senacon foi no sentido de não haver justificativa para a redução de mensalidades,
postergação do pagamento ou cancelamento do negócio jurídico.
A Nota Técnica nº 26/2020, por sua vez, trouxe atualizações sobre o tema, considerando
imprescindível que os órgãos de proteção ao consumidor realizem articulações para
definição de padrões mínimos de qualidade de ensino conforme a legislação vigente,
bem como orientando que as instituições de ensino estabeleçam um canal de
comunicação permanente e direto com pais, responsáveis e alunos. Em contrapartida, a
nota técnica expressou o entendimento de que não há obrigatoriedade de concessão de
descontos, e que eventuais concessões devem ser analisadas de acordo com o caso
concreto.
No que tange ao setor aéreo, um dos segmentos mais atingidos pela pandemia, a
Senacon celebrou termo de ajustamento de conduta (TAC) com o Ministério Público
Federal, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, a Associação Brasileira
das Empresas Aéreas e com as companhias aéreas atuantes em território brasileiro,
visando a equilibrar os direitos dos consumidores com as dificuldades da manutenção da
atividade econômica das companhias aéreas neste período.
Por fim, cabe destacar que, no dia 8 do mês passado, foi publicado o Decreto nº
10.417/2020, por meio do qual foi criado o Conselho Nacional do Consumidor, que tem
como finalidade assessorar o Ministério da Justiça e Segurança Pública no
gerenciamento de políticas nacionais de defesa do consumidor, bem como propor aos
órgãos do SNDC recomendações e interpretações da legislação consumerista que
garantam segurança jurídica e previsibilidade.
Fato é que, diante da relevância dos temas tratados pelo SNDC, é evidente a relevância
do papel de coordenação da Senacon, em especial por meio da edição de recomendações
sobre a legislação consumerista em decorrência da pandemia do Covid-19. A partir da
observância de tais orientações, é possível cogitar-se de alguma segurança jurídica aos
fornecedores e evitar, assim, processos sancionatórios originados de entendimentos
contraditórios entre os órgãos do SNDC”.[:] [https://www.soutocorrea.com.br/artigos/senacon-
ajuda-a-unificar-entendimentos-sobre-direito-do-consumidor-na-covid-19-2/ acesso em 26/06/22]
4. O Decreto nº 10.051, de 09/10/2019, que está em vigor desde a sua publicação
no DOU de 10/10/2019, instituiu o Colégio de Ouvidores do Sistema Nacional
de Defesa do Consumidor com competências normativas para propor diretrizes
para o “controle social das atividades desempenhadas pelos órgãos e pelas
entidades que compõem o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor”.
Conferir o texto do decreto e as críticas da OAB (nota técnica), cabendo ao
aluno descrever sua posição sobre o assunto.
[artigo]“O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) foi uma das entidades
que assinaram um ofício enviado ao ao ministro da Justiça e da Segurança Pública,
Sérgio Moro, solicitando a revogação ou revisão do decreto que criou o Colégio de
Ouvidores do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC), que é composto por
órgãos municipais, estaduais, federais e entidades civis de defesa do consumidor.
O documento explica que “os inúmeros órgãos públicos componentes do SNDC, com
origem nas diversas unidades federativas, já possuem, não apenas ouvidorias próprias,
senão sistemas complexos de controle interno e externo”, especialmente com relação às
multas aplicadas aos fornecedores, por exemplo.
O Decreto, no seu art. 5º, VIII, atribui a competência ao Colégio de Ouvidores para
“propor a criação de instrumentos para aprimorar a fiscalização e o acompanhamento de
práticas de atos ilegais ou arbitrários cometidos por operadores de proteção e defesa do
consumidor”. Além dos órgãos integrantes do Sistema Nacional do Consumidor
(Procons, Ordem dos Advogados do Brasil, Associações Civis, Ministério Público e
Defensorias Públicas) serem um modelo de atuação em todo o Brasil, possíveis desvios
e abusos já são hoje objeto de controle judicial, político e administrativo.
O fomento da atividade empresarial não ocorrerá com a mitigação dos direitos dos
consumidores, porque são estes, na verdade, aqueles que fomentam a economia
nacional. Enfraquecer o Sistema Nacional do Consumidor só contribuirá para prejudicar
a economia nacional. [https://www.oabsp.org.br/noticias/2019/10/nota-publica-2013-
decreto-ndeg-10-051-que-institui-o-colegio-de-ouvidores-do-sistema-nacional-de-
defesa-do-consumidor.13255 - OAB] acesso em 26/10/2022]
Palestra: 11/10/2022
Seminário: 13/10/2022
QUESTÕES:
Palestra: 18/10/2022
Seminário: 20/10/2022
QUESTÕES:
Mister se faz, então que o Estado, concedido como Estado de Direito Democrático e
Social, passe a tutelar penalmente o consumidor - protegendo o bem jurídico em apreço
– a fim de assegurar-lhe, enquanto pessoa, existência digna, segundo os ditames da
justiça social, em cumprimento ao mandamento constitucional.[3]
Deve-se entender que o bem jurídico protegido não é o consumidor, mas a relação de
consumo. Essas relações dar-se-ão por meio do liame estabelecido entre fornecedor e
consumidor, trazendo-lhe garantias fundamentais e segurança no que tange a relação de
consumo, para isso a penalidade deve existir ser aplicada e reconhecida como forma de
responsabilizar o fornecedor para manter a ordem econômica.
Estes bens jurídicos expressam certa relevância social, na medida em que não atinge o
individuo de forma isolada, mas a universalidade deste. Portanto, em razão desta
proteção difusa ou meta individual que se exige a proteção integral do consumidor.
No ordenamento jurídico pátrio, não apenas o Código de Defesa do Consumidor, como
também em legislação esparsa é possível verificar a proteção do consumidor no que diz
respeito à infração. O Código de Defesa do Consumidor, por exemplo, significou um
indiscutível avanço, colocando o Brasil num lugar de destaque entre os países que
legislaram sobre a matéria, sendo o primeiro país no mundo a aprovar o Código de
Defesa do Consumidor, [4] estabelecendo maior proteção ao cidadão, vítima de abusos
decorrentes da relação do consumo.
Os crimes definidos no artigo 7º, inciso II, o seu objeto material é a mercadoria; no
inciso III trata os gêneros e mercadorias; o inciso IV, b e c, tratam o bem ou o serviço; o
inciso VII trata o usuário; os incisos VIII e IX estabelecem a matéria prima ou
mercadoria.
Nota-se que o objeto material posto lesado é o que está à disposição, direta ou
indiretamente, ao consumidor. Sendo o sujeito ativo do crime o fornecedor,
comerciante, revendedor, distribuidor e fabricante. Todos de alguma forma serão
responsabilizados na medida de sua culpabilidade. Já o sujeito passivo é a coletividade
de consumidores.
As sanções penais para os crimes contra as relações de consumo definidos em seus nove
incisos, prevê alternativamente pena de detenção de 2 a 5 anos, ou multa. Para a forma
culposa prevê apenas para os crimes de que tratam os incisos II, III e IX, tendo a pena
reduzida de um terço ou a de metade a quinta parte.
Pois, comparando-se aos delitos tutelados no Código Penal há poucos crimes que tem
penas de detenção superior a um ano. E os crimes definidos no Código de Defesa do
Consumidor, possuem penas máximas iguais ou inferiores a dois anos de detenção.
Verificando-se assim uma desproporcionalidade no que tange a penalidade aplicada na
relação de consumo na Lei 8.137/90.
Existem circunstâncias praticadas nos crimes titulados nos incisos do artigo 7º que
podem agravar de 1/3 até a metade as penas. Isto posta quando ocasionar grave dano à
coletividade; ser o crime cometido por servidor público no exercício de suas funções;
ser o crime praticado em relação à prestação de serviços ou ao comércio de bens à vida
ou à saúde.
Evidente que as normas incriminadoras concederam uma maior qualidade aos produtos
e serviços hoje oferecidos no mercado. A gravidade do erro ocasionado pela ausência de
requisitos exigidos em lei coloca o fabricante-fornecedor em um patamar de risco,
ficando visivelmente comprometido com seus resultados atingidos, tanto civis, como
penais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
[1] PRADO, Luiz Regis. Crimes contra o ambiente. 2º ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2001, p. 27.
Referências
· CUNHA, Rogério Sanches; Direito Penal Parte Especial; 3ª Edição; São Paulo – SP;
Editora Revista dos Tribunais Ltda.; 2011.
[ https://mauriciopiresadvogado.jusbrasil.com.br/artigos/167710287/responsabilidades-e-efeitos-penais-
dos-crimes-nas-relacoes-de-consumo#:~:text=A%20maioria%20dos%20crimes%20previstos,de
%20consumidores%20na%20situa%C3%A7%C3%A3o%20difusa.] acesso em 26/10/2022]
O direito privado clássico – e também o direito público – como se sabe, por não estar
preparado para regrar relações de produção e consumo de massa, dava ao consumidor
um mero esboço de proteção contra os abusos praticados no mercado. Em decorrência
dessa inadequação, particularmente do direito civil, ao consumidor que desejasse se
proteger das condutas dos fornecedores restava, freqüentemente, apenas o recurso ao
direito penal tradicional, igualmente moldado para reger relações pessoais e não
relações de massa.
Art. 61. Constituem crimes contra as relações de consumo previstas neste Código, sem
prejuízo do disposto no Código Penal e leis especiais, as condutas tipificadas nos artigos
seguintes.
Esses delitos têm as relações de consumo como objeto principal (imediato). O direito à
vida, à saúde, ao patrimônio, etc., compõe o a sua objetividade jurídica secundária
(mediata), isto é, são tutelados por eles de forma indireta ou reflexa. Têm, ainda, como
elemento subjetivo o dolo de perigo (vontade livremente dirigida no sentido de expor o
objeto jurídico a perigo de dano). É admitido o direto e o eventual.
Quase todos os crimes do CDC são de perigo abstrato – 63, §1º, 64, 65, 73 – nos quais
se presume iure et de iure o perigo para o bem jurídico, que emerge da simples
realização da conduta. Com esse entendimento se afina o abalizado Antonio Herman V.
Benjamin, um dos autores do CDC: "As infrações de perigo abstrato – a regra absoluta
nos crimes de consumo próprios – só mediatamente visam resguardar bens jurídicos
individuais e materiais como a vida, o patrimônio e a liberdade, pois, não há dúvida,
protegendo o supra-individual tutelam o individual. A abstração justifica-se, em tais
casos, porque a exigência sistemática de um dano efetivo, ou mesmo de um perigo
concreto, corresponderia, na prática, à impunidade generalizada e à perda da eficácia
preventiva. Ressalte-se, por derradeiro, que o que é abstrato à vista dos bens jurídicos
pessoais é concreto em relação a bens jurídicos coletivos. No direito penal econômico, o
que, dirigido ao patrimônio individual, é perigo abstrato, pode atingir, efetivamente, o
funcionamento do sistema social. Essa maneira de ver as coisas, ampliando o sentido do
bem jurídico protegido, permite classificar os delitos contra as relações de consumo
como de perigo concreto ou de dano, relativamente à própria integridade da relação de
consumo. Dissertando sobre "crime de perigo", registra o renomado prof. Walter
Coelho: "O Direito Penal moderno é avesso a presunções absolutas, que implicariam em
abusivas criminalizações, a juízo arbitrário do legislador, em prejuízo da seriedade do
direito repressivo. Em verdade, ou o perigo é efetivo e concreto, e, como tal, precisa ser
demonstrado, ou é em abstrato, decorrendo sempre de uma presunção relativa, mas
nunca absoluta. A questão vincula-se com a essência do próprio crime, ou seja, sua
ilicitude substancialmente material e não meramente formal. Assim sendo, o dano
potencial, ainda que decorrente de perigo abstrato ou presumido, ensejará sempre o
eventual questionamento, no caso concreto, de sua efetiva ocorrência, pois a presunção,
em tal matéria, só é justa e aceitável como juris tantum."
Por isso, nos crimes contra o consumidor, o perigo parece abstrato somente se é referido
a interesses patrimoniais individuais, enquanto que, se se tomam em consideração os
aspectos supra-individuais do bem jurídico, estes são lesionados (e não simplesmente
postos em perigo) pelo delito.
§ 2º - Se o crime é culposo:
Tem como elementos subjetivos o dolo e a culpa, nos tipos previstos no "caput" do
artigo e no § 1º.
Parágrafo único – Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de retirar do mercado,
imediatamente quando determinado pela autoridade competente, os produtos nocivos ou
perigosos, na forma deste artigo.
Trata-se de crime omissivo puro, uma vez que a conduta é o "não fazer", desatendendo
ao comando da previsão normativa.
A tentativa é inadmissível.
Parágrafo único – As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes
à lesão corporal e à morte.
A lição do prof. Paulo José da Costa Jr.: "A única maneira de não atentar contra o
preceito constitucional da certeza do direito é entender como dotado de "alto grau de
periculosidade", "aquele serviço cuja execução contrarie ordem expressa de autoridade
competente." O prof. Alberto Zacharias Toron, a seu turno, aponta a ambigüidade: "Pelo
teor do preceito não se sabe se o referido "alto grau de periculosidade" está ligado à
proteção da pessoa que executa o serviço, à do transeunte que passa pela via, ou à do
futuro adquirente do serviço ou produto entregue." E acrescenta: "Mais grave, porém, é
que pela sua redação cria-se a possibilidade de se desrespeitar a determinação legal. É
que se reprova unicamente a contrariedade à determinação da autoridade competente.
Paradoxalmente, pode-se o mais (desrespeitar a determinação legal) e não o menos
(desrespeitar o comando da autoridade).
O elemento subjetivo é o dolo, não tendo sido a forma culposa prevista pelo legislador
Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a
natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade,
preço ou garantia de produtos ou serviços:
§ 2º - Se o crime é culposo:
Em confronto com os artigos subseqüentes (69 "usque" 69), o artigo de que se trata é
residual, na afirmação do prof. Benjamin "tudo que não for
considerado marketing publicitário encaixa-se no art. 66". No que respeita ao crime
comissivo (fazer afirmação falsa ou enganosa), registre-se o reparo do prof. Manoel
Pedro: é de caráter formal, exigindo para a adequação o dolo. Conseqüentemente, a essa
modalidade de conduta inaplicável o § 2º (forma culposa). Essa posição está em
desacordo com a doutrina dominante no direito comparado, segundo A. H. V. Benjamin,
e também o magistério de Eduardo Arruda Alvim não vislumbra incoveniência na
aceitação do binômio dolo-culpa.
Vale salientar, por oportuno, que a responsabilidade criminal "in casu", atinge também o
dono do jornal, da rádio ou da emissora de televisão, posto que o CDC, no seu art. 75,
dispõe que, quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes nele referidos, incide
nas penas a esses cominadas na medida de sua culpabilidade, bem como o diretor,
administrador ou gerente da pessoa jurídica que promover, permitir ou por qualquer
modo aprovar o fornecimento, oferta, exposição à venda ou manutenção em depósito de
produtos ou oferta e prestação de serviços nas condições legalmente proibidas.
Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou
abusiva:
Pena – Detenção de três meses a um ano e multa.
É crime formal, que se consuma com a mera conduta típica, prescindindo de resultado –
é suficiente a "efetiva exposição dos consumidores á mensagem publicitária" (A. H. V.
Benjamin). A publicidade enganosa constitui crime de perigo abstrato, tem-se em vista
uma universalidade indeterminada de consumidores exposta a práticas desleais de
anúncio de produtos e serviços, donde ser despiciendo indagar-se se houve ou não
prejuízo concreto para algum ou alguns deles.
"O ato de publicidade tem três sujeitos: o anunciante, a agência e o veículo, este último
também chamado de meio de suporte. O responsável principal, embora não exclusivo, é
o anunciante, já que a aprovação final do anúncio é sua. O direito cria, em relação ao
anunciante, uma obrigação de vigilância, cabendo-lhe controlar, ‘antes de sua difusão,
todo o conteúdo da publicidade, na medida em que é ele o melhor posicionado para
fazê-lo." (A. H. V. Benjamin);
A tentativa é admissível.
Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz de induzir o
consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança:
Trata-se de tipo especial – crime de publicidade abusiva, atado ao preceito do art. 37, §
2º, tendo em vista a tutela da saúde e segurança do consumidor, que resulta em
cominação de pena mais severa. O agente faz (executa) ou promove (faz por outrem). O
art. 68 ocupa-se da publicidade apta a induzir o consumidor a um comportamento de
forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. O art. 67, já examinado,
concerne a toda publicidade abusiva, excluída, naturalmente, a de que cuida o tipo
especial (o presente art. 68).
Art. 69. Deixar de organizar dados fáticos, técnicos e científicos que dão base à
publicidade:
De acordo com Antonio H. V. Benjamin, "o dispositivo não protege a liberdade psíquica
e física da pessoa na sua conotação de liberdade de autodeterminação (crime de
constrangimento ilegal, a liberdade individual (crime de ameaça) ou a tranqüilidade das
pessoas (contravenção de perturbação da tranqüilidade0. A tutela é conferida em relação
a um bem jurídico outro, abstrato e autônomo, que é a relação de consumo."
A tentativa é admissível, exceto no caso de conduta que não pode ser fracionada
(unissubsistente), como na ameaça não escrita.
Art. 72. Impedir ou dificultar o acesso do consumidor às informações que sobre ele
constem em cadastros, banco de dados, fichas e registros:
O sujeito ativo, neste crime, diferentemente dos crimes anteriormente examinados, não
é o fornecedor, mas qualquer pessoa que exerça o controle das informações (arquivos).
A tentativa é inadmissível.
Aqui, o sujeito ativo é a pessoa a quem incumbe (dever jurídico) realizar a correção –
usualmente, o arquivista.
A tentativa é inadmissível.
Para a consumação deste crime, basta a não correção das informações, de acordo com a
previsão legal.
A tentativa é inadmissível.
Art. 76. São circunstâncias agravantes dos crimes tipificados neste Código:
12. Se houver a falsificação de selo ou sinal público (art. 296, § 1.º, inciso II,
do Código Penal) de titularidade de órgão da União, sendo ela usada
para dar a produtos falsificados aparência de regularidade e enganar o
consumidor, a competência para processar a ação penal será da Justiça
Estadual ou da Justiça Federal? (justificar).
A Constituição Federal, em seu artigo 109, inciso IV, delimita a competência da Justiça
federal, afirmando que compete a esta processar e julgar infrações penais que afete
bens, serviços ou interesses da União, de suas entidades autárquicas ou empresas
públicas.
O artigo 4 da lei 5966/73 afirma que o INMETRO é uma autarquia federal. Em razão
dessa definição, quando há uma infração penal que lese bens, serviços ou interesses do
INMETRO, a competência será da Justiça Federal.
A falsificação de selo ou sinal público, previsto no artigo 296 do CP, tem por finalidade
tutelar o bem jurídico fé pública, existente nos selos e sinais de autenticação.
No artigo 296, inciso I do CP, temos a descrição da falsificação de selo ou sinal público
destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Município, que é o caso
do selo do Inmetro, que têm por finalidade a identificação dos produtos, dos processos e
dos serviços avaliados e atestados no que concerne à fiel observância de requisitos e
especificações contidas em normas e em regulamentos técnicos, de acordo com artigo 6º
da Portaria 274, de 13 de junho de 2014.
Em caso de falsificação, fabricação ou alteração do selo do Inmetro, o agente estará
sujeito as penas do artigo 296 do CP. Poderá também incorrer o agente que fizer uso do
selo.
Caso o agente que fez uso seja o mesmo que falsificou, incorrerá somente neste delito,
pois o uso constitui post factum impunível, e por essa razão resta absorvido,
solucionando-se o conflito aparente de normas com o princípio da consunção[1].
A princípio, vemos que compete a Justiça Federal a falsificação de selo do Inmetro, pois
temos uma falsificação de um selo público destinado a autenticar atos da União,
representada pela autarquia federal. Sendo uma autarquia federal, caberia, a priori, a
Justiça Federal processar e julgar.
Mas realmente há lesão a interesses da Autarquia Federal?
Estamos tratando, portanto, de interesse dos consumidores em geral, que em nada tem
relação com os interesses da União ou de suas autarquias. Não obstante a falsificação
ocorrer com selos de uma autarquia federal, o interesse atingido não é da autarquia e
sim do consumidor, que acreditou estar adquirindo mercadoria com aparência legal, mas
que, na verdade, em virtude da falsificação, não está nos padrões exigidos por lei. Caso
o objetivo fosse enganar o Inmetro, falsificando com o fim de mostrar ao Inmetro que a
mercadoria já foi verificada, a competência será da Justiça Federal.
Assim, quando se tratar de uma falsificação de selo pertencente a administração pública,
com fim de dar aparência de legalidade, cujo o objetivo é de enganar particular, não
chegando a lesionar interesses, bens ou serviços da União ou de suas autarquias, a
competência será da Justiça Estadual[2].
[1] MASSON, Cleber. (02/2014). Código Penal Comentado, 2ª edição [VitalSource
Bookshelf version].
[2] AGRAVO REGIMENTAL EM CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL.
INQUÉRITO POLICIAL. CRIMES DE ESTELIONATO, FORMAÇÃO DE
QUADRILHA, FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO E USO DE
DOCUMENTO FALSO. FRAUDE CONTRA PARTICULARES. AUSÊNCIA DE
OFENSA A BENS, SERVIÇOS E INTERESSES DA UNIÃO OU DA AUTARQUIA
PREVIDENCIÁRIA (INSS). COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.
1 A competência da Justiça Federal estabelecida no artigo 109, IV, da Constituição
Federal pressupõe a existência de prejuízo a bens, serviços ou interesses da
União, de suas entidades autárquicas ou empresas públicas. Precedentes da
Terceira Seção.
2 Hipótese em que foi instaurado inquérito policial para apurar a suposta prática
dos crimes de estelionato, formação de quadrilha, falsificação de documento
público e uso de documento falso, todos relacionados à obtenção de empréstimos
fraudulentos em instituições financeiras privadas.
3 Considerando-se que os eventuais delitos não foram cometidos em detrimento de
bens, serviços e interesses da União ou sua entidade autárquica, mas apenas
contra particulares (aposentados e instituições financeiras privadas), não há falar
em competência da Justiça Federal para conhecer do feito.
4 Agravo regimental improvido.
(AgRg no CC 119.079/PE, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 23/05/2012, DJe 01/06/2012) [
David Metzker [https://www.metzkeradvocacia.com/direito-penal/compete-a-justica-estadual-processar-e-
julgar-crime-de-falsificacao-de-selo-do-inmetro-quando-implicar-prejuizo-ao-consumidor/] acesso em
26/10/2022
13. Narrativa do caso a ser examinado: “Do exame dos autos, constata-se
que o réu Ivan foi denunciado pela suposta prática do delito tipificado nos
arts. 7º, VII, da Lei n. 8.137/1990 (por cinco vezes, em continuidade
delitiva) e 288 do Código Penal (em concurso material) por ter, nos
meses de fevereiro a março de 2007, se associado a Carlos e outras
pessoas não identificadas para, mediante afirmações e publicidade
enganosa, induzir a erro consumidores interessados em financiamento
de moradia própria e prometer empréstimo que nunca tencionou efetivar,
tendo recebido de 5 vítimas valores a título de depósito prévio de suposto
contrato de financiamento para a casa própria. O réu Ivan não foi
encontrado, motivo pelo qual foi citado por edital, mas não compareceu
nem constituiu defesa, tendo o processo e a prescrição sido suspensos
nos termos do art. 366 do CPP. Diante da condenação do corréu, o
Ministério Público requereu a decretação da prisão preventiva daquele
réu Ivan.” Esse pedido deve ser deferido? (justificar).
[artigo] “A partir da lei 12.403/11, passou a enxergar com mais clareza a utilização
como ultima ratio da prisão preventiva. A modalidade mais gravosa que o Estado possui
com intuito de garantir a efetividade processual é a prisão preventiva. Em razão de ser
mais gravosa, deve ser utilizada com muita cautela.
Importante registrar que os casos acima se tratam de situações em que o réu evadiu-se,
ou seja, ciente de uma situação ameaçadora, escapou furtivamente, tentando evitar um
novo chamamento ao inquérito ou processo. Há uma intenção de não ser localizado, de
evadir-se de uma investigação ou processo. O único intuito da pessoa é fugir e não ser
encontrada, evitando ser processada ou investigada.
Todavia, estamos a tratar da pessoa que não é localizada sem esse objetivo, ou seja,
simplesmente não foi localizado, não havendo provas nos autos que o objetivo em não
ser localizado era, ou é, fugir da persecução penal.
São duas situações distintas. Em uma temos a intenção em escapar das iras que um
processo penal poderá trazer, e, em outra, uma situação sem a finalidade de fugir da
investigação ou processo.
Havendo a demonstração com provas nos autos que o investigado, ou réu, utilizou da
situação de se encontrar em localização incerta e não sabida para atrapalhar a
efetividade processual, poderá ser utilizada a prisão preventiva, se realmente a medida
for necessária, não sendo, portanto, as medidas alternativas do artigo 319 e 320 do CPP
suficientes para garantir que o processo penal chegará ao seu fim imaculado.
Não havendo provas dessa intenção do agente, não há que se falar em prisão preventiva.
O fato do agente estar em local incerto e não sabido e, com isso, a sua citação ter que
ser realizada por edital, não tem o condão de demonstrar que o agente se furta a
comparecer ao processo ou inquérito.
Vislumbra-se, portanto, que temos o fato do agente ter tomado ciência da persecução
penal e saído do seu local indicado e o fato dele não ter aparecido em nenhum ato da
fase em que se encontra, investigatória ou processual.
No último caso, por óbvio, não tem a demonstração que o objetivo do agente é fugir de
uma aplicação penal. Se a pessoa sequer apareceu no inquérito ou processo, não há que
se falar em intenção de atrapalhar a efetividade processual.
De qualquer modo, não se pode confundir evasão com local incerto e não sabido1.
Quando há tentativa de citação e não encontrando o réu, expede-se a citação por edital.
O não comparecimento não deve presumir a fuga do réu.
O ponto crucial está nessa presunção2. Não se deve decretar prisão preventiva
simplesmente por presumir fuga em razão da não localização do agente, sem
demonstrar, através de elementos probatórios, que o fato de não ter sido localizado foi
em razão de querer se evadir.
Cumpre salientar que, caso seja comprovado risco concreto de evasão do agente, o
fundamento a ser utilizado para decretar a prisão preventiva é a segurança da aplicação
da lei penal e não conveniência da instrução criminal.
A conveniência da instrução criminal, como muito bem ensina o Professor Aury Lopes
Junior3, é conceituada dessa forma:
"A prisão preventiva decretada para conveniência da instrução criminal é aquela que
visa a impedir que o agente, em liberdade, alicie testemunhas, forje provas, destrua ou
oculte elementos que possam servir de base à futura condenação."
Vejamos que a utilização desse fundamento não presta para o tema em voga, pois não se
admite tal fundamento com objetivo de trazer o agente para o processo, para que seja
produzido prova.
Por outro lado, o fundamento da segurança da aplicação penal, como muito bem
explicitado pelo já citado Professor Norberto Avena (Avena 2014), é definido assim:
"É motivo da prisão preventiva que se fundamenta no receio justificado de que o agente
se afaste do distrito da culpa, impedindo a execução da pena imposta em eventual
sentença condenatória.
Veja-se que a prisão preventiva é medida excepcional e deve ser decretada apenas
quando devidamente amparada pelos requisitos legais, em observância ao princípio
constitucional da presunção de inocência ou da não culpabilidade, sob pena de antecipar
a reprimenda a ser cumprida quando da condenação. Neste contexto, se motivada na
garantia de aplicação da lei penal, não pode ser resultado de ilações abstratas no sentido
de uma possível fuga do imputado, sendo necessária a demonstração da sua real
intenção de se furtar à persecução criminal do Estado, obstaculizando, assim, a
aplicação da lei penal."
Portanto, caso a prisão preventiva venha a ser aplicada por entender que é a medida
necessária em caso de risco de fuga, deve ser utilizado o fundamento da segurança da
aplicação da lei penal.
__________________________________
3 LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 12ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
[artigo] O CDC possui como regra geral a responsabilidade civil objetiva, que
obriga o
anunciante a cumprir o que prometeu e indenizar todos os danos que o consumidor
tenha
sofrido, sendo desnecessária a culpabilidade do mesmo. Além de descrever também
a
responsabilidade administrativa em seus arts. 56, XII, e 57 C.C. o art. 60, caput e
§1º e a penal
em seus arts. 66 a 69, e inciso VII do art. 7º da Lei 8.137/90.
Por seu poder de alcance massificado e por seu potencial nefasto para a coletividade
nos deteremos na responsabilidade penal que a publicidade suscita. Sobre a
publicidade ilícita
traduzidas como enganosa e abusiva o legislador declarou ser crime punível:
Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou
abusiva: Pena - Detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa.
Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz de
induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde
ou
segurança: Pena - Detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.
Através desses dois artigos o legislador “prevê pena criminal para quem faz ou
promove a publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz de induzir o consumidor
a se
comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança87”.
Já o Art.19 do Dec-lei 2.181/97 penaliza com multa a publicidade enganosa e
abusiva,
e também aquela veiculada de forma que o consumidor seja induzido ao erro, por
não
identificá-la como publicidade, prevalecendo sempre o princípio da identificação da
publicidade.
As estruturas mais simples se concentram apenas na busca por novas adesões sem
vincular a venda de um produto ou serviço para mascarar a pirâmide. Nesses casos, os
investidores são atraídos pela simples promessa de que, ao pagar uma determinada
quantia e aderir ao esquema, poderão recrutar novos membros e receber porcentagens
dos recursos investidos por estas. (…)
O lucro do MMN reside na atribuição de valores além do preço pelo cliente, com a
informação direta sobre a qualidade e a utilização do produto, por intermédio do
fornecedor, também chamado de distribuidor independente. (…)
O objetivo primordial dos empreendimentos é vender produtos e serviços. Para que isto
ocorra, as empresas se valem de diversos canais de vendas: lojas físicas, sites, redes
sociais, vendas diretas com ou sem o uso de marketing multinível, entre outros.
Num esquema de pirâmide financeira, o maior esforço dos integrantes da rede não é na
entrega de produtos ou serviços, mas na captação de novas pessoas que adquiram
licenças, paguem taxas de adesão, valores diversos, prestações e investimentos sem que
isto corresponda a nenhuma aquisição de um bem real.
(...) IX - vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma,
entregar matéria-prima ou mercadoria, em condições impróprias ao consumo;
Como se vê, trata-se de uma norma penal em branco, ou seja: para verificar quando o
crime de fato está configurado é preciso procurar a complementação em outro diploma,
e no caso em tela, devemos consultar o Código de Defesa do Consumidor (art. 18, § 6º,
inciso I):
O primeiro deles é por conta do caráter subsidiário do Direito Penal, pois este só pode e
deve ser acionado quando outros ramos do Direito, que também exercem a função de
controle social (ex.: Direito Civil, Direito Administrativo, etc), falham.
A proteção de bens jurídicos não se realiza só mediante o Direito Penal, senão que nessa
missão cooperam todo o instrumental do ordenamento jurídico. O Direito penal é,
inclusive, a última dentre todas as medidas protetoras que devem ser consideradas,
quer dizer que somente se pode intervir quando falhem outros meios de solução
social do problema – como a ação civil, os regulamentos de polícia, as sanções não
penais etc. Por isso se denomina a pena como a ‘ultima ratio da política social’ e se
define sua missão como proteção subsidiária de bens jurídicos. (ROXIN, Claus.
Derecho penal, t. I, p. 65. - g.n.).
14. Decisão proferida pelo ministro Joel Ilan Paciornik nos autos do RHC n.º
91.502/SP:
Com efeito, esta relatoria não ignora que a jurisprudência do STJ oscilou acerca do
tema, todavia tem se firmado no sentido de que o delito de expor à venda produtos
impróprios para o consumo deixa vestígios, razão pela qual a perícia é indispensável
para a demonstração da materialidade delitiva, nos termos do art. 158 do CPP. Assim,
a ausência de perícia autoriza o trancamento da ação penal por falta de justa
causa. (...) Como se vê, o Superior Tribunal de Justiça firmou jurisprudência no sentido
de que para a configuração do delito descrito no art.7ºº, IX, da Lei n.8.1377/1990 é
indispensável a realização de perícia que demonstre a impropriedade dos alimentos
para consumo, sob pena de configuração de responsabilidade objetiva. Nessa esteira,
carece de justa causa a ação penal proposta pelo Ministério Público sem exame
pericial, circunstância que autoriza o trancamento da ação penal. (...) Ante o exposto,
voto pelo provimento do recurso ordinário em habeas corpus para determinar o
trancamento da Ação Penal. (RHC n.º 91.502/SP, STJ, rel. min. Joel Ilan Paciornik,
DJe 01/02/2018).
5 Decisão proferida pelo ministro Rogério Schietti Cruz nos autos do RHC n.º
69.692/SC:
Na espécie, o laudo pericial que serviria à aferição da possibilidade de lesão (ou risco
de lesão) à saúde humana, dos gêneros alimentícios apreendidos no estabelecimento
comercial administrado pelo recorrente nem sequer foi produzido. Inexistente, portanto,
prova direta, necessária, in casu, à conformação dos fatos ao elemento objetivo do tipo
– produto "impróprio para o consumo" –, reserva-se apenas ao Direito Administrativo
ou Civil eventual responsabilização e punição pelo descumprimento de normas
relativas à conservação e exposição, para venda, de gêneros alimentícios. Afinal, o
violador da proteção devida ao consumidor poderá não sair ileso nessas esferas,
porque ali pode ser responsabilizado objetivamente por eventuais danos ao consumidor
e, ainda, multado administrativamente, o que se mostra eficaz e, o mais importante,
mais consentâneo com o sistema jurídico pátrio. (...) Portanto, in casu, concluo pela
existência de constrangimento ilegal, consubstanciado na ausência de prova da
materialidade delitiva, uma vez que sequer produzido laudo pericial para atestar a
impropriedade dos alimentos. É insuficiente a ilação de que os produtos apreendidos
são impróprios para o consumo humano com esteio em características sensoriais
comuns ou, exclusivamente, em virtude da ausência de informações obrigatórias de
rotulagem (como denominação do produto, prazo de validade, data de
fabricação/fracionamento), e não, como exigido, por aferição técnica, direta, acerca
da impropriedade da mercadoria para o consumo.” (RHC n.º 69.692/SC, STJ, rel. min.
Rogerio Schietti Cruz, DJe 13/06/2017).
Portanto, ainda que o crime em debate seja formal - não depende da ocorrência de
efetivo prejuízo ao consumidor -, é necessário averiguar, por meio de laudo pericial, a
impropriedade da mercadoria, pois só assim será possível verificar a materialidade do
delito. Ações penais iniciadas em desacordo com o entendimento citado estão
enraizadas na famigerada responsabilidade objetiva, ou seja, são ilegais! Gustavo dos
Santos Gasparoto [https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/620844324/produtos-
vencidos-expostos-a-venda-por-si-so-configuram-crime-contra-as-relacoes-de-consumo] 26/10/2022
[artigo] O ministro Sebastião Reis Junior, do STJ, entendeu que a ausência de laudo
pericial implica a inexistência de materialidade delitiva, em ação penal em que o
paciente foi denunciado por vender, ter em depósito ou expor à venda mercadoria
imprópria para o consumo.
A defesa sustentou que o exame pericial "não foi capaz de comprovar que a mercadoria
apreendida era efetivamente imprópria para consumo, uma vez que se limitou a fornecer
uma resposta padrão, que poderia ter servido a qualquer apreensão de alimentos
supostamente impróprios para consumo."
EMENTA
AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PENAL. LEI N. 8.137/1990. CRIMES
CONTRA A RELACAO DE CONSUMO. MERCADORIA IMPROPRIA PARA
CONSUMO. EXAME PERICIAL. NECESSIDADE. ACORDAO A QUO
EM ::DESTAQUE::PAGINA:: CONSONANCIA COM A JURISPRUDENCIA
DESTE TRIBUNAL. INCIDENCIA DA SUMULA 83/STJ. Agravo de instrumento nao
provido.
DECISÃO
Trata-se de agravo de instrumento interposto contra denegacao de seguimento do
recurso especial interposto pelo Ministerio Publico do Rio de Janeiro, com fundamento
no art. 105, III, a e c, da Constituicao Federal, contra acordao do Tribunal de origem
que, ao considerar a pericia cientifica - a qual afastou o risco concreto a saude -,
extinguiu a acao penal proposta contra o ora agravado, nos seguintes termos (fl. 209):
[...] A analise cientifica (direta e indireta) dos produtos apreendidos nao demonstrou o
risco concreto a saude, e, portanto, nao esta comprovada a materialidade do crime
previsto no art. 7, IX, da Lei n. 8.137/1990. O simples fato de estar o prazo de validade
vencido e a inexistencia de identificacao de procedencia ou validade dos produtos
caracteriza tao apenas infracao administrativa. [...]
Art. 7 - Constitui crime contra as relacoes de consumo: [...] IX - vender, ter em deposito
para vender ou expor a venda ou, de qualquer forma, entregar materia-prima ou
mercadoria, em condicoes improprias ao consumo; Pena - detencao, de 2 (dois) a 5
(cinco) anos, ou multa. Paragrafo unico. Nas hipoteses dos incisos II, III e IX pune-se a
modalidade culposa, reduzindo-se a pena e a detencao de 1/3 (um terco) ou a de multa a
quinta parte. Fixada essa premissa, o Superior Tribunal de Justica entende que, para
caracterizar o crime previsto no artigo acima, e imprescindivel a realizacao de pericia a
fim de atestar se as mercadorias apreendidas estavam em condicoes improprias para o
consumo.
No mesmo sentido:
Por conseguinte, a ausencia de uma das condicoes aludidas - no caso, o laudo pericial
afastou a impropriedade para o consumo - implica a inexistencia de materialidade
delitiva, consoante o acordao de origem adequadamente concluiu (fls. 207/215).
Excerto de julgado, da Sexta Turma, que corrobora o presente entendimento:
e ::DESTAQUE::PAGINA:: imprescindivel a demonstracao da impropriedade da
mercadoria para consumo, por meio de pericia que ateste essa condicao (AgRg no REsp
1101147/RS, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe
17/11/2011 - nossos grifos).
Pelo exposto, com fundamento no art. 34, XVIII, do RISTJ, nego provimento ao agravo
de instrumento.
juridrudência
RHC 24516 / RO
RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS
2008/0206810-2
RELATOR
Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA (1128)
ÓRGÃO JULGADOR
T5 - QUINTA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
06/04/2010
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 03/05/2010
EMENTA
PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.
ARTS. 7º, IX, DA LEI 8.137/90 E 68 DA LEI 8.078/90. AUSÊNCIA DE
JUSTA CAUSA. AUTORIA. SÓCIOS-PROPRIETÁRIOS. MATERIALIDADE
DELITIVA. PERÍCIA TÉCNICA. CRIME MATERIAL. TRANCAMENTO DA
AÇÃO PENAL. EXCEPCIONALIDADE. INEXISTÊNCIA DE ELEMENTOS
IDÔNEOS DA MATERIALIDADE DELITIVA QUE AUTORIZAM A
PERSECUÇÃO PENAL. AUSÊNCIA DE PERÍCIA TÉCNICA. RECURSO
PROVIDO.
1. Nos denominados crimes de autoria coletiva ou societários,
admite-se o recebimento da denúncia sem que haja uma descrição
pormenorizada da conduta de cada agente, desde que esteja
demonstrado vínculo entre o denunciado e a conduta a ele imputada.
2. A mera constatação de que os produtos se mostram impróprios
para o consumo não é suficiente para a configuração do delito
previsto no art. 7º, IX, da Lei 8.137/80, sendo necessário laudo
pericial para sua comprovação.
3. Recurso provido para trancar a Ação Penal 00220060128630, em
curso na 2ª Vara Criminal de Ariquemes/RO.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima
indicadas, acordam os Ministros da QUINTA TURMA do Superior
Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar provimento ao recurso, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Napoleão
Nunes Maia Filho, Jorge Mussi e Laurita Vaz votaram com o Sr.
Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Felix Fischer.
[artigo] “As necessidades do consumidor podem ter origem estranha, frívola e até
imoral, e, no entanto, pode-se defender otimamente uma sociedade que procura
satisfazê-las. Mas a defesa perde todo o sentido se é o processo de satisfazer
necessidades que as cria”.
c) Sujeito ativo: é aquele que tenha, dentro da cadeia empresarial, o efetivo poder de
proferir a decisão final a respeito da colocação de um produto no mercado de
consumo. Pode ser a pessoa que ocupa o cargo de diretor da empresa, de presidente,
de
gerente de produto, ou qualquer outro, independente da denominação, mas que
possua
a capacidade de tomada de decisão em última instância. Há de se observar que esta
função pode ser exercida apenas por uma pessoa, por mais de uma ou, ainda, por um
órgão colegiado.
e) Consumação: o crime é consumado com a oferta, como quer que ela ocorra.
Admite-se tentativa.