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O Uber, Ifood, Rappi e outras empresas utilizam uma lógica para estabelecer
critérios, regras e maneiras de vigilância para com o trabalhador e o trabalho por ele
prestado e de isentar-se de responsabilidades e obrigações que se configuram como um
vínculo empregatício. Além disso, a avaliação dos serviços prestados pelos trabalhadores
fica a critério de uma multidão de consumidores, de modo que, o consumidor se torna
uma espécie de supervisor (ou mais precisamente, um gerente) para com o trabalhador e
desta maneira eles torna-se apenas mais um número em um software, um perfil virtual.
Nas últimas décadas ficou claro que também era possível transferir o
gerenciamento do trabalho para o próprio trabalhador – é óbvio que um gerenciamento
subordinado, costurado pelas ameaças da concorrência e do desemprego, hoje a jornada
de oito horas parece uma lembrança distante para trabalhadores das mais diversas
qualificações e remunerações.
A uberização complementa-se com as terceirizações ao mesmo tempo que
concorre com elas. Complementa-se na medida em que é mais um passo na transferência
de custos e responsabilidades sobre a produção. Mas é também uma forma de eliminação
de empresas terceirizadas que não conseguirão bancar a concorrência com as empresas-
aplicativo. É o que vemos no segmento dos motoboys, hoje legalmente reconhecidos
como motofretistas. Nos anos 1980, o motoboy era diretamente contratado pela empresa,
até mesmo a moto era de propriedade da contratante e não do trabalhador. A partir dos
anos 1990 empresas terceirizadas de entregas alastra-se pelo mercado. Hoje são mais de
900 mil motoboys no Brasil.
Trabalhar por conta própria requer abrir mão de direitos (caso o motoqueiro seja
formalizado) e enfrentar a relação permanente entre concorrência e rendimentos: quanto
mais trabalhadores aderirem aos aplicativos, menor será a possibilidade de ganho e
provavelmente maior será o tempo de trabalho.