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Processo Penal 1

1.CONCEITO DE PROCESSO PENAL


Conjunto de princípios e normas que disciplinam a composição das lides
penais, por meio da aplicação do Direito Penal objetivo.
O Direito Processual Penal é o corpo de normas jurídicas com a finalidade de
regular o modo, os meios e os órgãos encarregados de punir do Estado,
realizando-se por intermédio do Poder Judiciário, constitucionalmente
incumbido de aplicar a lei ao caso concreto
Cometida a infração penal, nasce para o Estado o direito-dever de punir
(pretensão punitiva), consubstanciado na legislação material, com alicerce no
direito fundamental (princípio da legalidade): não há crime sem prévia lei que o
defina, nem pena sem prévia lei que a comine.
Somente se realiza, no Estado Democrático de Direito, por meio de regras
previamente estabelecidas, com o fim de cercear os eventuais abusos
cometidos pelo Estado.
Processo Penal democrático: cuida-se da visualização do processo penal a
partir das normas da Constituição Federal, no contexto dos direitos e garantias
humanas fundamentais.
Finalidade imediata ou direta:
→ Fazer valer o direito de punir do estado
Finalidade mediata ou indireta:
→ Proteção da sociedade e paz social
Características e posição enciclopédica do direito processual penal
▪ Autonomia
▪ Instrumentalidade
▪ Normatividade

2. O PROCESSO PENAL E O DIREITO DE PUNIR


O Estado, única entidade dotada de poder soberano, é o titular exclusivo do
direito de punir (para alguns, poder-dever de punir).
Mesmo no caso da ação penal exclusivamente privada, o Estado somente
delega ao ofendido a legitimidade para dar início ao processo.
Esse direito de punir (ou poder-dever de punir), titularizado pelo Estado, é
genérico e impessoal porque destina-se à coletividade como um todo.
No momento em que é cometida uma infração, esse poder, até então genérico,
concretiza-se, transformando-se em uma pretensão individualizada, dirigida
especificamente contra o transgressor.
O Estado, que tinha um poder abstrato, genérico e impessoal, passa a ter uma
pretensão concreta de punir determinada pessoa.
O Estado, substituindo as partes em litígio, através de seus órgãos
jurisdicionais, põe fim ao conflito de interesses, declarando a vontade do
ordenamento jurídico ao caso concreto.
É imprescindível a prestação jurisdicional para a solução do conflito de
interesses na órbita penal, não se admitindo a aplicação de pena por meio da
via administrativa.
Trata-se de jurisdição necessária.

3. CONTEÚDO DO PROCESSO PENAL


Para a consecução de seus fins, o processo compreende:
(i) a relação jurídica processual - se forma entre os sujeitos do processo (juiz
e partes), pela qual estes titularizam inúmeras posições jurídicas, expressáveis
em direitos, obrigações, faculdades, ônus e sujeições processuais.
(ii) o procedimento - consistente em uma sequência ordenada de atos
interdependentes, direcionados à preparação de um provimento final; é o modo
pelo qual são ordenados os atos do processo, até a sentença.
De acordo com o art. 394 do CPP, o procedimento será comum ou especial.
Procedimento comum divide-se em:
• ordinário: crime cuja sanção máxima cominada for igual ou superior a
quatro anos de pena privativa de liberdade, salvo se não se submeter a
procedimento especial;
• sumário: crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a quatro
anos de pena privativa de liberdade, salvo se não se submeter a
procedimento especial;
• sumaríssimo: infrações penais de menor potencial ofensivo, na forma
da Lei n. 9.099/95, ainda que haja previsão de procedimento especial.
Contravenções penais e os crimes cuja pena máxima não exceda a dois
anos, cumulada ou não com multa (art. 61 da Lei n. 9.099/95).
Na relação processual aplicam-se os princípios constitucionais do processo,
garantindo às partes direitos como o contraditório, a publicidade, o de ser
julgado pelo juiz natural da causa, a ampla defesa (no caso do acusado) etc.

4. PROCESSO
O Estado detém o monopólio da administração da justiça.
O ordenamento jurídico considera crime fazer justiça com as próprias mãos
(CP, art. 345). - Autotutela
O processo é o meio pelo qual o Estado procede à composição da lide,
aplicando o direito ao caso concreto e dirimindo os conflitos de interesse.
A jurisdição é a função; o processo, o instrumento de sua atuação.
4.1. Elementos identificadores da relação processual
Os elementos que identificam a relação processual, diferenciando-a da relação
de direito material, são:
4.1.1. Sujeitos processuais
• Estado-Juiz
• autor
• réu
• o juiz não é propriamente um sujeito do processo, mas apenas órgão,
por cujo intermédio o Estado-Juiz exerce o seu dever-poder, que é a
função jurisdicional
4.1.2. Objeto da relação processual
No plano material- é o próprio bem da vida, sobre o qual versa o conflito de
interesses.
Quanto à relação processual, o objeto que lhe é peculiar é o próprio provimento
jurisdicional pedido ao Estado.
4.1.3. Pressupostos processuais
• Subjetivos (respeitantes aos sujeitos principais da relação processual):
o quanto ao juiz:
▪ investidura;
▪ competência (CPP, art. 95, II);
▪ imparcialidade (CPP, arts. 95, I, e 112).
o quanto às partes:
▪ capacidade de ser parte;
▪ capacidade processual;
▪ capacidade postulatória (CPP, arts. 44 e 257, I).

• Objetivos:
o extrínsecos: inexistência de fatos impeditivos - litispendência, coisa
julgada (CPP, art. 95, III e V) etc.;
o intrínsecos: regularidade procedimental (CPP, art. 24).

4.2. Formas do procedimento


As formas dos atos processuais podem ser de três ordens: de lugar, de tempo
e de modo.
▪ Lugar - Em regra, os atos processuais têm lugar na sede do juízo,
excluídos os casos em que a lei ou a sua própria natureza exigirem a
prática em local diverso.
▪ Tempo - De maneira geral, o transcurso do prazo enseja a perda da
possibilidade de praticar determinado ato processual, denominada
preclusão temporal.

5. PRINCÍPIOS INFORMADORES DO PROCESSO PENAL


5.1. Princípios Regentes: Dignidade Da Pessoa Humana E Devido
Processo Legal
Há integração entre os princípios constitucionais penais e os processuais
penais
Os mais relevantes para a garantia dos direitos humanos fundamentais: a
dignidade da pessoa humana e o devido processo legal.

Princípio da presunção de inocência


Princípio do estado de inocência (ou da não culpabilidade).
Significa que todo acusado é presumido inocente, até que seja declarado
culpado por sentença condenatória, com trânsito em julgado. Encontra-se
previsto no art. 5.º, LVII, da Constituição.
Tem por objetivo garantir, primordialmente, que o ônus da prova cabe à
acusação e não à defesa.
As pessoas nascem inocentes, sendo esse o seu estado natural, razão pela
qual, para quebrar tal regra, torna-se indispensável ao Estado-acusação
evidenciar, com provas suficientes, ao Estado-juiz, a culpa do réu.
a) O ônus da prova cabe sempre à acusação
b) A restrição de direitos do réu, a liberdade, deve ser a exceção e não a
regra.
CF- art. 5, LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado
de sentença penal condenatória;
A imunidade à autoacusação significa que ninguém está obrigado a produzir
prova contra si mesmo (nemo tenetur se detegere).
Trata-se de decorrência natural da conjugação dos princípios constitucionais da
presunção de inocência (art. 5.º, LVII) e da ampla defesa (art. 5.º, LV) com o
direito humano fundamental de poder o réu manter-se calado diante de
qualquer acusação (art. 5.º, LXIII).
Prevalência do interesse do réu (in dubio pro reo, favor rei, favor
inocentiae, favor libertatis)
Em caso de dúvida, deve sempre prevalecer o estado de inocência,
absolvendo-se o acusado.
Na relação processual, em caso de conflito entre a inocência do réu – e sua
liberdade – e o poder-dever do Estado de punir, havendo dúvida razoável, deve
o juiz decidir em favor do acusado.
Quando dispositivos processuais penais forem interpretados, apresentando
dúvida razoável quanto ao seu real alcance e sentido, deve-se optar pela
versão mais favorável ao acusado.
CPP - Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte
dispositiva, desde que reconheça:
I – estar provada a inexistência do fato;
II – não haver prova da existência do fato;
III – não constituir o fato infração penal;
IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal;
V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal;
VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena
(arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1.º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo
se houver fundada dúvida sobre sua existência;
VII – não existir prova suficiente para a condenação.

Princípio da ampla defesa


Ao réu é concedido o direito de se valer de amplos e extensos métodos para se
defender da imputação feita pela acusação. Encontra fundamento
constitucional no art. 5.º, LV.
Implica o dever de o Estado proporcionar a todo acusado a mais completa
defesa, seja pessoal (autodefesa), seja técnica (efetuada por defensor), e o de
prestar assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados (CF, art. 5º,
LXXIV).
o Estado é sempre mais forte, agindo por órgãos constituídos e preparados,
valendo-se de informações e dados de todas as fontes às quais tem acesso,
merece o réu um tratamento diferenciado e justo, razão pela qual a ampla
possibilidade de defesa se lhe afigura a compensação devida pela força
estatal.
CF- art. 5, LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes;
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos;
Princípio da não autoincriminação”
(“nemo tenetur se detegere)
Consiste em dizer que qualquer pessoa acusada da prática de um ilícito penal
tem os direitos ao silêncio e a não produzir provas em seu desfavor.
Se o indivíduo é inocente, até que seja provada sua culpa, possuindo o direito
de produzir amplamente prova em seu favor, bem como se pode permanecer
em silêncio sem qualquer tipo de prejuízo à sua situação processual, é mais do
que óbvio não estar obrigado, em hipótese alguma, a produzir prova contra si
mesmo.
É decorrente dos seguintes princípios:
▪ Presunção de inocência (art. 5º, LVII, CF);
▪ Ampla defesa (art. 5º, LV, CF) e
▪ Direito ao silêncio (art. 5º, LXIII, CF)

Princípio da plenitude de defesa


No Tribunal do Júri, busca-se garantir ao réu não somente uma defesa ampla,
mas plena, completa, a mais próxima possível da perfeição profissional
No Tribunal do Júri, onde as decisões são tomadas pela íntima convicção dos
jurados, sem qualquer fundamentação, onde prevalece a oralidade dos atos e a
concentração da produção de provas, bem como a identidade física do juiz,
torna-se indispensável que a defesa atue de modo completo e perfeito.
CF - art. 5.º, XXXVIII, a, XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a
organização que lhe der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;

Princípio do contraditório
Toda alegação fática ou apresentação de prova, feita no processo por uma das
partes, tem o adversário o direito de se manifestar, havendo um perfeito
equilíbrio na relação estabelecida entre a pretensão punitiva do Estado e o
direito à liberdade e à manutenção do estado de inocência do acusado.
CF - art. 5.º, LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes;
Princípio da Lealdade Processual – impõe deveres de moralidade e
probidade a todos que participam do processo.
O desrespeito ao dever de lealdade processual é considerado ilícito
processual, que pode ser punido nas sanções processuais de ato atentatório à
dignidade da justiça ou litigância de má-fé.
Princípio do juiz natural e imparcial
O Estado, na persecução penal, deve assegurar às partes, para julgar a causa,
a escolha de um juiz previamente designado por lei e de acordo com as
normas constitucionais.
Evita-se, com isso, o juízo ou tribunal de exceção (art. 5.º, XXXVII, CF).
A preocupação maior desse princípio é assegurar a imparcialidade do juiz.
Pacto de São José da Costa Rica - art. 8.º, item 1: “Toda pessoa tem o direito
de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um
juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido
anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada
contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza
civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza” (destaque nosso).
Para não perder a sua imparcialidade, não pode o juiz agir de ofício para dar
início à ação penal.
Art. 5.º, LIII, CF: “Ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente”.
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;

Princípio da publicidade
Os atos processuais devem ser realizados publicamente, à vista de quem
queira acompanhá-los, sem segredos e sem sigilo.
É o que permite o controle social dos atos e decisões do Poder Judiciário.
Em algumas situações excepcionais, a Constituição ressalva a possibilidade de
se restringir a publicidade.
Quando houver interesse social ou a intimidade o exigir, o juiz pode limitar o
acesso à prática dos atos processuais, ou mesmo aos autos do processo,
apenas às partes envolvidas (art. 5.º, LX, CF)
CF - art. 5.º, XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos
informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que
serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;
LX, - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a
defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem.

Princípio da vedação das provas ilícitas


CF - art. 5.º, LVI: “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos”.
o ilícito envolve o ilegalmente colhido (captação da prova ofendendo o direito
material, v.g., a escuta telefônica não autorizada) e o ilegitimamente produzido
(fornecimento indevido de prova no processo, v.g., a prova da morte da vítima
através de simples confissão do réu).
Conceito de ilícito: “são inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do
processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas
constitucionais ou legais” (art. 157, caput, CPP).
CPP - Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo,
as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas
constitucionais ou legais.
§ 1.º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando
não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as
derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras.
§ 2.º Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os
trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria
capaz de conduzir ao fato objeto da prova.
§ 3.º Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada
inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes
acompanhar o incidente.
§ 4.º (Vetado.)
§ 5.º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não
poderá proferir a sentença ou acórdão.

Princípio da economia processual


É incumbência do Estado procurar desenvolver todos os atos processuais no
menor tempo possível, dando resposta imediata à ação criminosa e poupando
tempo e recursos das partes.
Procura da máxima eficiência na aplicação do direito, com o menor dispêndio
Celeridade processual
CF - art. 5.º LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são
assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a
celeridade de sua tramitação.
Deve assegurar:
(i) os meios pelos quais se possa garantir a celeridade;
(ii) a razoabilidade da duração do processo.

Princípio do duplo grau de jurisdição


Tem a parte o direito de buscar o reexame da causa por órgão jurisdicional
superior.
Possibilidade de revisão, por via de recurso, das causas já julgadas pelo juiz de
primeiro grau.

Princípio do promotor natural e imparcial - Significa que o indivíduo deve


ser acusado por órgão imparcial do Estado, previamente designado por lei,
vedada a indicação de acusador para atuar em casos específicos.
Princípio da inamovibilidade funcional dos membros do ministério público - o
promotor não pode ser removido sem haver interesse público. Não pode haver
indicação casuísticas
Princípio da independência funcional dos membros do ministério público (art.
127, § 1º, CF)
CF - art. 128, § 5º, Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa
é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização,
as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas,
relativamente a seus membros:
I - as seguintes garantias:
a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo
senão por sentença judicial transitada em julgado;
b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, mediante decisão
do órgão colegiado competente do Ministério Público, pelo voto da
maioria absoluta de seus membros, assegurada ampla defesa;
c) irredutibilidade de subsídio.

Princípio Da Obrigatoriedade Da Ação Penal Pública


Significa que o órgão acusatório não tem, nem tampouco o encarregado da
investigação, a faculdade de investigar e buscar a punição do autor da infração
penal, mas o dever de fazê-lo.
Ocorrida a infração penal, ensejadora de ação pública incondicionada, deve a
autoridade policial investigá-la e, em seguida, havendo elementos (prova da
materialidade e indícios suficientes de autoria), é obrigatório que o
representante do Ministério Público apresente denúncia.

Princípio Da Indisponibilidade Da Ação Penal


A autoridade policial não pode determinar o arquivamento do inquérito policial
(CPP, art. 17)
O Ministério Público não pode desistir da ação penal pública, nem do recurso
interposto (CPP, arts. 42 e 576).
CPP - Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de
inquérito.
Art. 42. O Ministério Público não poderá desistir da ação penal.
Art. 576. O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja
interposto.

Princípio da oficialidade
Expressa ser a persecução penal uma função primordial e obrigatória do
Estado. As tarefas de investigar, processar e punir o agente do crime cabem
aos órgãos constituídos do Estado, através da polícia judiciária, do Ministério
Público e do Poder Judiciário.
A Constituição Federal assenta as funções de cada uma das instituições
encarregadas de verificar a infração penal, possibilitando a aplicação da
sanção cabível.
▪ Polícia judiciária - cumpre investigar (art. 144, § 1.º, I, II, IV, e § 4.º);
▪ Ministério Público - cabe ingressar com a ação penal e provocar a
atuação da polícia, requisitando diligências investigatórias e a
instauração de inquérito policial, fiscalizando-a (art. 129, I e VIII);
▪ Poder Judiciário - cumpre a tarefa de aplicar o direito ao caso concreto
(art. 92 e ss.).
Não há possibilidade de se entregar ao particular a tarefa de exercer qualquer
tipo de atividade no campo penal punitivo.

Oficiosidade
As autoridades públicas incumbidas da persecução penal devem agir de ofício,
à exceção dos limites legais que lhe são impostos, sem necessidade de
provocação ou de assentimento de outrem.
Princípio da intranscendência
Assegura que a ação penal não deve transcender da pessoa a quem foi
imputada a conduta criminosa.
É decorrência natural do princípio penal de que a responsabilidade é pessoal e
individualizada, não podendo dar-se sem dolo e sem culpa (princípio penal da
culpabilidade, ou seja, não pode haver crime sem dolo e sem culpa), motivo
pelo qual a imputação da prática de um delito não pode ultrapassar a pessoa
do agente, envolvendo terceiros, ainda que possam ser consideradas
civilmente responsáveis pelo delinquente.

Princípio da vedação do duplo processo pelo mesmo fato


Não se pode processar alguém duas vezes com base no mesmo fato,
impingindo-lhe dupla punição (ne bis in idem).

Princípio da busca da verdade real


No processo penal, deve-se buscar reconstruir historicamente um fato e todas
as suas circunstâncias, com o objetivo de que a instrução probatória se
aproxime o máximo possível da forma como esse fato ocorreu.

Princípio da oralidade
A palavra oral deve prevalecer, em algumas fases do processo.
Os princípios que decorrem da oralidade são os seguintes:
▪ concentração - toda a colheita da prova e o julgamento devem dar-se
em uma única audiência ou no menor número delas;
▪ imediatidade - o magistrado deve ter contato direto com a prova
produzida, formando mais facilmente sua convicção;
▪ identidade física do juiz - o magistrado que preside a instrução, colhendo
as provas, deve ser o que julgará o feito, vinculando-se à causa.
Princípio da indivisibilidade da ação penal privada
Significa que não pode o ofendido, ao valer-se da queixa-crime, eleger contra
qual dos seus agressores – se houver mais de um – ingressará com ação
penal.
Esta é indivisível.
CPP - Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao
processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade.

Princípio da comunhão da prova


Significa que a prova, ainda que produzida por iniciativa de uma das partes,
pertence ao processo e pode ser utilizada por todos os participantes da relação
processual, destinando-se a apurar a verdade dos fatos alegados e
contribuindo para o correto deslinde da causa pelo juiz.

Princípio do impulso oficial


Uma vez iniciada a ação penal, por iniciativa do Ministério Público ou do
ofendido, deve o juiz movimentá-la até o final, conforme o procedimento
previsto em lei, proferindo decisão.
CPP - Art. 251. Ao juiz incumbirá prover à regularidade do processo3-3-A e
manter a ordem no curso dos respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar
a força pública.
A regra não impede a provocação dos órgãos públicos por qualquer do povo,
conforme o CPP, art. 27.
CPP - Art. 27. Qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciativa do
Ministério Público, nos casos em que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por
escrito, informações sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e os
elementos de convicção.

Princípio da persuasão racional


Significa que o juiz forma o seu convencimento de maneira livre, embora deva
apresentá-lo de modo fundamentado ao tomar decisões no processo.
CF - art. 93, IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade...”,
grifamos
CPP art. 155, caput - O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da
prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua
decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.
CPP - Art. 381, III (“a sentença conterá: (...) III – a indicação dos motivos de
fato e de direito em que se fundar a decisão”) do Código de Processo Penal.

Princípio da colegialidade
Cuida-se de decorrência lógica do princípio constitucional implícito do duplo
grau de jurisdição, significando que a parte tem o direito de, recorrendo a uma
instância superior ao primeiro grau de jurisdição, obter um julgamento proferido
por órgão colegiado.
A ideia é promover a reavaliação por um grupo de magistrados, não mais se
entregando a causa a um juiz único.

6. SISTEMAS DE PROCESSO PENAL


Sistema Inquisitivo
▪ concentração de poder nas mãos do julgador, que exerce, também, a
função de acusador;
▪ a confissão do réu é considerada a rainha das provas;
▪ não há debates orais, predominando procedimentos exclusivamente
escritos;
▪ os julgadores não estão sujeitos à recusa;
▪ o procedimento é sigiloso;
▪ ausência de contraditório e a defesa é meramente decorativa.
Sistema Acusatório
▪ nítida separação entre o órgão acusador e o julgador;
▪ há liberdade de acusação, reconhecido o direito ao ofendido e a
qualquer cidadão;
▪ predomina a liberdade de defesa e a isonomia entre as partes no
processo;
▪ vigora a publicidade do procedimento;
▪ o contraditório está presente;
▪ existe a possibilidade de recusa do julgador;
▪ há livre sistema de produção de provas;
▪ predomina maior participação popular na justiça penal
▪ liberdade do réu é a regra.
Sistema Misto
▪ início da investigação contando com os princípios regentes do sistema
inquisitivo;
▪ processo-crime instruído pelos princípios condutores do sistema
acusatório;
▪ predomínio da linguagem oral.
Opção do Sistema Processual Brasileiro – Sistema Acusatório
CPP - Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a
iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória
do órgão de acusação.

7. FONTES DO PROCESSO PENAL


Fontes Materiais
O Direito Processual Penal possui âmbito nacional.
Cabe à União legislar e criar normas de processo
art. 22, CF: “Compete privativamente à União legislar sobre: I – direito civil,
comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial
e do trabalho”, grifamos).

Fonte Formal Ou De Cognição


→ Fontes Primárias ou Imediatas ou Diretas: Lei – Tratados – Convenções
Internacionais
→ Fontes Secundárias ou Mediatas ou Indiretas ou Supletivas: Costumes –
Princípios Gerais do Direito – Analogia

Interpretação Da Lei Processual Penal


Em processo penal, qualquer forma de interpretação é válida:
▪ literal - espelha-se no exato significado das palavras constantes do texto
legal
▪ restritiva - restringe-se o alcance dos termos utilizados na lei para atingir
seu real significado
▪ extensiva - alarga-se o sentido dos termos legais para dar eficiência à
norma
▪ Analogia - é um processo de suprimento de lacuna, valendo-se o
intérprete de situação similar, em que há previsão legal; desse modo,
utiliza-se a lei vigente para o caso semelhante no julgamento de
situação lacunosa análoga.
▪ teleológica-sistemática - busca-se compor o sentido de determinada
norma em comparação com as demais que compõem o sistema jurídico
no qual está inserida.

CPP - Art. 3o A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e


aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.
(logo, as demais formas, menos expansivas, estão naturalmente franqueadas),
bem como a analogia (processo de integração da norma, suprindo lacunas).

8. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO


Princípio Da Territorialidade
CPP - Art. 1.º O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por
este Código, ressalvados:
I – os tratados, as convenções e regras de direito internacional;
II – as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros
de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos
ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade
(Constituição, arts. 86, 89, § 2.º, e 100);
III – os processos da competência da Justiça Militar;
IV – os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122,
n. 17);
V – os processos por crimes de imprensa.
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos
nos ns. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de
modo diverso.
Princípio da territorialidade: significa que se aplica a lei processual penal
brasileira a todo delito ocorrido em território nacional, da mesma forma que o
mesmo princípio é utilizado em Direito Penal (art. 5.º, CP).
É regra que assegura a soberania nacional.
Aplicação da lex fori ou locus regit actum - segundo a qual, aos processos e
julgamentos realizados no território brasileiro, aplica-se a lei processual penal
nacional.
Exceção À Regra Da Territorialidade: Caso o Brasil firme um tratado, uma
convenção ou participe de uma organização mundial qualquer, cujas regras
internacionais a norteiem, deve a lei processual penal pátria ser afastada para
que outra, proveniente dessas fontes, em seu lugar, seja aplicada.
É o que ocorre com os diplomatas, que possuem imunidade em território
nacional, quando estiverem a serviço de seu país de origem.
Conflito entre tratado e direito interno: segundo jurisprudência atual do
Supremo Tribunal Federal, o tratado situa-se acima das leis e abaixo da
Constituição Federal, razão pela qual, no conflito entre ambos, deve prevalecer
o tratado sobre as leis e a Constituição sobre o tratado.
9. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO
CPP - Art. 2.º A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da
validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.
Aregra é que seja ela aplicada tão logo entre em vigor, e usualmente, quando é
editada.
Não possui vacatio legis - justamente por ser norma que não implica a
criminalização de condutas, inexigindo período de conhecimento da sociedade.
Passa a valer imediatamente (tempus regit actum), afetando processos em
pleno desenvolvimento, embora não afete atos já realizados sob a vigência de
lei anterior.
Exceção existe quanto ao transcurso de prazo já iniciado, que corre, como
regra, pela lei anterior.

Normas Processuais Penais Materiais


São aquelas que, apesar de estarem no contexto do processo penal, regendo
atos praticados pelas partes durante a investigação policial ou durante o trâmite
processual, têm forte conteúdo de Direito Penal.
São normas que mesmo tratando de direito processual, repercutem no direito
de liberdade do agente.
Uma vez que as regras sejam modificadas, quanto a um deles, podem existir
reflexos no campo do Direito Penal.
Caso o querelado seja beneficiado pela norma processual penal recém-criada.
Ela deve ser retroativa para o fim de extinguir a punibilidade do acusado, pois é
nítido o seu efeito no direito material (art. 107, IV, CP).
O art. 2.º da Lei de Introdução ao Código de Processo Penal determina a
aplicação dos dispositivos mais favoráveis ao réu, no concernente à prisão
preventiva e à fiança, quando houver a edição de lei nova que colha situação
processual em desenvolvimento.

10. SUJEITOS DO PROCESSO


Partes parciais – demandante e demandado
Demandante é aquele que deduz em juízo uma pretensão, ao passo que
demandado é aquele em face de quem a pretensão é deduzida.
Parte imparcial – o juiz
Os sujeitos processuais subdividem-se em principais e acessórios (ou
colaterais).
• principais entendem-se aqueles cuja ausência torna impossível a
existência ou a complementação da relação jurídica processual;
O juiz, o autor (que pode ser o Ministério Público ou o ofendido) e o
acusado.
• acessórios, são aqueles que, não sendo indispensáveis à existência da
relação processual, nela intervêm de alguma forma.
Os acessórios ou colaterais são o assistente, os auxiliares da justiça e
os terceiros, interessados ou não, que atuam no processo.

10.1. Juiz
Desempenha a função de aplicar o direito ao caso concreto, provido que é do
poder jurisdicional, razão pela qual, na relação processual, é sujeito, mas não
parte.
Atua como órgão imparcial, à parte do binômio acusação versus defesa.
No âmbito da capacidade processual do juiz, outras qualidades são exigidas
para legitimar o exercício de sua função judicante: investidura, capacidade e
imparcialidade.
Incompatibilidade do juiz (art. 112, CPP) – são situações que não se incluem
nas hipóteses de impedimento ou suspeição, mas que possam interferir na
imparcialidade do julgador
CPP - Art. 112. O juiz, o órgão do Ministério Público, os serventuários ou
funcionários de justiça e os peritos ou intérpretes abster-se-ão de servir no
processo, quando houver incompatibilidade ou impedimento legal, que
declararão nos autos. Se não se der a abstenção, a incompatibilidade ou
impedimento poderá ser argüido pelas partes, seguindo-se o processo
estabelecido para a exceção de suspeição.

O juiz exerce a jurisdição, o poder de julgar, nos limites de sua competência.


Sua função básica, como representante do poder judiciário, é decidir a preten-
são punitiva e de liberdade posta em juízo.
CPP -Art. 251. Ao juiz incumbirá prover à regularidade do processo e manter a
ordem no curso dos respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a força
pública.
O legislador atribui ao juiz, na qualidade de director litis, a obri-gação legal de
prover a regularidade do processo, ou seja, fazer com que os atos do
procedimento sejam levados a efeito não só na ordem prevista pelo rito, mas
também quanto às formalidades juridicamente exigidas (forma dat est rei), pro-
curando evitar que haja nulidade e corrigindo aquelas cujos defeitos podem ser
sanados (as relativas).
A promoção da regularidade do processo pelo juiz é feita com dupla ação:
• positiva, ao determinar o que há de ser feito;
• negativa, ao desfazer o mal feito por seus auxiliares, pelas partes ou por
terceiros que intervenham no processo.
Incumbe, ainda, ao juiz, a função de polícia no âmbito da relação jurídico-
processual, disciplinando as atividades das partes, de seus auxiliares e de
pessoas que participem, direta ou indiretamente, na realização dos atos que
compõem o procedimento
O juiz poderá requisitar o concurso da polícia, para que a ordem quanto à
consecução dos atos processuais seja mantida.

Impedimento
Considera-se impedido de atuar o juiz que é parcial, situação presumida pela
lei, em casos específicos.
Logo, as hipóteses previstas no art. 252 do CPP, de caráter objetivo, indicam a
impossibilidade de exercício jurisdicional em determinado processo.
A sua infração implica inexistência dos atos praticados
CPP - Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:
I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, em linha
reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado,
órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;
• o impedimento acontece com pais, filhos, avôs, bisavôs, sogros, genros,
irmãos, padrastos, enteados, tios, sobrinhos e cunhados durante o
cunhadio.
II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido
como testemunha;
III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou
de direito, sobre a questão;
• O impedimento somente ocorrerá quando o magistrado tiver, nesta
qualidade, funcionado em outra instância inferior ou superior e não
quando tiver sido exercida no mesmo juízo em que se encontra.
• A incompatibilidade será quando o magistrado houver praticado ato
decisório, incidente sobre questão fática ou de Direito
• Não tem incidência do impedimento “quando proferir apenas despachos
ordinatórios relativos à marcha ou andamento do processo, de maneira
a não ter emitido seu pensamento decisório sobre alguma questão.
• a rejeição da denúncia pelo magistrado, por entender não ter havido a
prática de crime, não é causa geradora de seu impedimento para
funcionar no processo em outra instância.
IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim em linha reta
ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado
no feito.
▪ As hipóteses de impedimento contidas no preceito examinado são
taxativas
▪ “Impedido está o juiz que tem relação com o objeto da causa.
▪ presume-se, de forma absoluta, a parcialidade do juiz
▪ ato eivado de nulidade absoluta
▪ Impedimento apurado após decretação da preventiva: não afasta a
validade da prisão cautelar.

O impedimento priva o juiz da jurisdictio e torna inexistentes os atos por ele
praticados
CPP - Art. 253. Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo
os juízes que forem entre si parentes, consangüíneos ou afins, em linha reta ou
colateral até o terceiro grau, inclusive.

Suspeição do juiz
A suspeição é causa de parcialidade do juiz, viciando o processo, caso haja
sua atuação.
Ofende, primordialmente, o princípio constitucional do juiz natural e imparcial.
O rol é exemplificativo
CPP - Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser
recusado por qualquer das partes:
I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;
• “a amizade íntima, em particular, traduz-se pela convivência frequente,
pela familiaridade no tratamento, prestação reiterada de favores e outras
manifestações exteriores de acentuada estima.
• Inimigo capital - significa ódio, rancor ou desejo de vingança nutrido pelo
magistrado a uma das partes.2
II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a
processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;
III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau,
inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser
julgado por qualquer das partes;
IV - se tiver aconselhado qualquer das partes;
• se o magistrado, de forma direta ou indireta, indicou a parte como
deveria ser seu procedimento em determinado processo; qual a forma
de melhor direcioná-lo; o que deveria ser feito para o resguardo de seu
interesse.
• A suspeição ocorre quando o juiz age como consultor ou como
conselheiro da parte, emitindo sua opinião julgadora
V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;
• o vínculo obrigacional entre juiz, autor ou réu gera, também, a
suspeição, quer tenha o magistrado o direito de receber algum crédito
de uma das partes, quer tenha ele o dever de satisfazer algum débito
em relação a elas.
• situação de verdadeira dependência entre o juiz e as partes, cujo
comprometimento não lhe permite ter absoluta isenção de ânimo quanto
ao julgamento da lide.
Vl - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no
processo.
• a suspeição decorre do relacionamento comercial entre o juiz e uma
empresa comercial, a título de sócio, acionista ou administrador, desde
que tal sociedade tenha interesse na decisão da lide.
Deve ter capacidade subjetiva para que, efetivamente, possa exercer a
jurisdição com equilíbrio.
Presunção relativa de parcialidade do juiz (juris tantum)
Necessidade de comprovação das causas de suspeição
mas de mero interesse entre o julgador e a matéria em debate.
Um juiz suspeito na condução da causa é nulidade relativa.
Cabe à parte interessada reclamar a tempo o afastamento do magistrado,
ingressando com a exceção de suspeição.
Se não o fizer, mantém-se o juiz na causa.
Momento para arguir a suspeição do juiz: assim que a parte tomar
conhecimento do motivo que o torna suspeito para julgar a causa. Passando
esse instante processual, já não se poderá reclamar do magistrado, pelo
advento da preclusão.
Vício externo, decorrente de vínculo estabelecido entre o juiz e a parte ou entre
o juiz e a matéria discutida
As causas de impedimento ou de suspeição dos juízes togados são aplicáveis
aos jurados, juízes leigos, que igualmente decidem “de fato”, nas deliberações
do Júri
Suspeição por motivo de foro íntimo - A hipótese não se encontra disciplinada
pelo Código de Processo Penal. O Código de Processo Civil a contempla em
seu art. 135, parágrafo único, in verbis: “Poderá ainda o juiz declarar-se
suspeito por motivo íntimo.”
Motivo íntimo significa que o magistrado pode afastar-se do processo sem
necessidade de revelar a razão. Basta a ele alegar motivo de foro íntimo.
CPP- Art. 255. O impedimento ou suspeição decorrente de parentesco por
afinidade cessará pela dissolução do casamento que Ihe tiver dado causa,
salvo sobrevindo descendentes; mas, ainda que dissolvido o casamento sem
descendentes, não funcionará como juiz o sogro, o padrasto, o cunhado, o
genro ou enteado de quem for parte no processo.
CPP - Art. 256. A suspeição não poderá ser declarada nem reconhecida,
quando a parte injuriar o juiz ou de propósito der motivo para criá-la.
Os poderes instrutórios do juiz somente podem ser exercidos após a atuação
das partes na produção da prova
CPP - Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém,
facultado ao juiz de ofício:
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de
provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade,
adequação e proporcionalidade da medida;
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a
realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.

Garantias dos magistrados - (art. 95, caput, CF)


• ingresso na carreira mediante concurso público de provas e títulos,
exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade
jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação
(CF, art. 93, I);
• promoção para entrância superior, alternadamente, por antiguidade e
merecimento (CF, art. 93, II);
• vitaliciedade (CF, art. 95, I): adquirida após dois anos de exercício do
cargo, significa que a perda deste só lhe pode ser imposta por sentença
judicial, proferida em ação própria, transitada em julgado;
• inamovibilidade (CF, art. 95, II): confere ao magistrado estabilidade no
cargo do qual é titular, só podendo ser compulsoriamente removido por
razões de interesse público, na forma do art. 93, VIII.
• irredutibilidade de vencimentos (CF, art. 95, III)

Vedações aos magistrados (art. 95, Parágrafo único, CF)

Aos juízes é vedado:


I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de
magistério;
II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;
III - dedicar-se à atividade político-partidária.
IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas
físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em
lei;
V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de
decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou
exoneração.

10.2. Ministério Público


CF - Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
§ 1º - São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a
indivisibilidade e a independência funcional.
§ 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e administrativa,
podendo, observado o disposto no art. 169, propor ao Poder Legislativo a
criação e extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por
concurso público de provas ou de provas e títulos, a política remuneratória e os
planos de carreira; a lei disporá sobre sua organização e funcionamento. (....)
I - as seguintes garantias:
a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo
senão por sentença judicial transitada em julgado;
b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, mediante decisão do
órgão colegiado competente do Ministério Público, pelo voto da maioria
absoluta de seus membros, assegurada ampla defesa;
c) irredutibilidade de subsídio (...)
II - as seguintes vedações:
a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens
ou custas processuais;
b) exercer a advocacia;
c) participar de sociedade comercial, na forma da lei;
d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo
uma de magistério;
e) exercer atividade político-partidária;
f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas
físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em
lei.
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
(...)
VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial,
indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;
A Constituição Federal atribui ao MP no art. 129, I, com exclusividade, a função
de propor a ação penal pública, seja ela condicionada ou incondicionada.
A caráter excepcional o ofendido, ou quem o possa representar (CADI), pode
entrar com um ação penal privada subsidiária da pública, em caso de desídia,
inércia, do MP, conferindo ao ofendido a titularidade da ação penal.
Mesmo nesse caso o MP não perde a titularidade da ação penal, devendo ser
chamado como fiscal da lei
CF - art. 5º, LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se
esta não for intentada no prazo legal;
Ministério Público = Parquet
O Ministério Público é o dominus litis, é o titular da ação penal pública
incondicionada ou condicionada.
o Ministério Público é órgão de fiscalização da lei.
Assim, na qualidade de custos legis, cumpre a ele velar pela exata aplicação
da lei, podendo, nessa qualidade:
• pedir o arquivamento do inquérito ou de outras peças de informação;
• pedir a absolvição do réu;
• impetrar habeas corpus ou mandado de segurança em matéria penal;
• fiscalizar a ação penal privada;
• fiscalizar a execução da pena; e assim por diante.
O Ministério Público tem a titularidade exclusiva para o exercício da ação penal
pública.
O Ministério Público age como parte em sentido formal.
O Ministério Público é parte sui generis, pois age no interesse do Estado por
um fim de direito público.
Sua atuação como fiscal da lei não anula sua condição de parte.
“Como fiscal da aplicação da lei, entretanto, o Ministério Público deve agir
imparcialmente e reclamar inclusive o que puder ser favorável ao réu.
CPP - Art. 257. Ao Ministério Público cabe:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma estabelecida neste
Código;
II - fiscalizar a execução da lei.
CPP Art. 258. Os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos processos
em que o juiz ou qualquer das partes for seu cônjuge, ou parente,
consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive,
e a eles se estendem, no que Ihes for aplicável, as prescrições relativas à
suspeição e aos impedimentos dos juízes.
Súmula 234-STJ: A participação de membro do Ministério Público na fase
investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o
oferecimento da denúncia.

Procedimentos de Investigação Criminal - PIC


O procedimento investigatório criminal é instaurado pelo Ministério Público.
Tem como finalidade apurar a ocorrência de infrações penais de natureza
pública, servindo como preparação e embasamento para o juízo de
propositura, ou não, da respectiva ação penal.
De natureza administrativa e inquisitorial
O Ministério Público (MP) dispõe de competência para promover, por
autoridade própria e por prazo razoável, investigação de natureza penal, desde
que respeitados os limites dos direitos e garantias individuais que assistem a
qualquer suspeito, indiciado ou não, sob investigação do Estado.
O Ministério Público pode realizar diretamente a investigação de crimes? SIM.
O MP pode promover, por autoridade própria, investigações de natureza penal.
A CF/88 não fala isso de forma expressa. Adota-se aqui a teoria dos poderes
implícitos.
Se a Constituição outorga determinada atividade-fim a um órgão, significa dizer
que também concede todos os meios necessários para a realização dessa
atribuição.
A CF/88 confere ao MP as funções de promover a ação penal pública (art. 129)
Logo, ela atribui ao Parquet também todos os meios necessários para o
exercício da denúncia, dentre eles a possibilidade de reunir provas para que
fundamentem a acusação.
A investigação deverá respeitar os parâmetros a seguir listados:
Devem ser respeitados os direitos e garantias fundamentais dos investigados;
• Os atos investigatórios devem ser necessariamente documentados e
praticados por membros do MP;
• Devem ser observadas as hipóteses de reserva constitucional de
jurisdição, ou seja, determinadas diligências somente podem ser
autorizadas pelo Poder Judiciário nos casos em que a CF/88 assim
exigir (ex: interceptação telefônica, quebra de sigilo bancário etc);
• Devem ser respeitadas as prerrogativas profissionais asseguradas por
lei aos advogados;
• Deve ser assegurada a garantia prevista na Súmula vinculante 14 do
STF (“É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso
amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento
investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária,
digam respeito ao exercício do direito de defesa”);
• A investigação deve ser realizada dentro de prazo razoável;
• Os atos de investigação conduzidos pelo MP estão sujeitos ao
permanente controle do Poder Judiciário.

10.3. ACUSADO
É a pessoa a quem se imputa a ação penal.
É o sujeito passivo da relação processual.
Pode ser tanto a pessoa física, desde que maior de dezoito anos, quanto a
pessoa jurídica.
Há a previsão expressa no art. 3.º da Lei 9.605/98, permitindo que figure como
autora de crimes contra o meio ambiente a pessoa jurídica, o que é
expressamente autorizado pela Constituição Federal (art. 225, § 3.º).
“só estão legitimados a ser acusados os que puderem ser sujeitos passivos de
uma pretensão punitiva.
Para ser sujeito passivo é necessário que a pessoa a quem se imputa a prática
de um crime preencha alguns requisitos
• como capacidade para ser parte, que toda pessoa adquire pelo simples
fato de ser sujeito de direitos e obrigações (excluem-se, portanto, os
animais e os mortos)
• capacidade processual, ou capacidade para estar em juízo em nome
próprio (legitimatio ad processum), que no processo penal advém com a
idade de 18 anos.
• Até mesmo o deficiente mental, pois a ele poderá ser imposta, ao final
do processo, medida de segurança (CP, art. 97; CPP, art. 386, parágrafo
único, III).
Não podem ser acusadas as pessoas que gozam de imunidade parlamentar ou
diplomática.
Enquanto transcorre a investigação, deve-se denominá-lo de indiciado, se,
formalmente, apontado como suspeito pelo Estado.
No momento do oferecimento da denúncia, o correto é chamá-lo de
denunciado ou imputado.
Após o recebimento da denúncia, torna-se acusado ou réu.
Princípio da intranscendência - art. 5o, XLV (“nenhuma pena passará da
pessoa do condenado [...]”),
Princípio da individualização - art. 5o XLVI - (“a lei regulará a individualização
da pena [...]”).
Identificação - É a individualização do acusado perante as demais pessoas,
ditada pela necessidade em se certificar que aquela submetida ao processo é a
mesma à qual se imputam os fatos.
A ação penal somente pode ser promovida contra pessoa individualizada e
devidamente identificada, conforme preceituado no art. 41 do Código de
Processo Penal.
São dados individualizantes da pessoa: o nome, o prenome, o estado civil, a
profissão, a filiação, o apelido, a residência e a idade.
Não sendo possível identificar o acusado por esses elementos, o Código de
Processo Penal permite ao Ministério Público e ao querelante fazerem-no por
meio de outras características.
Na ação penal privada promovida por intermédio de queixa-crime ou querela, é
ele denominado querelado.
Proteção contra a autoincriminação - Em juízo, como forma de manifestação da
autodefesa, o réu pode optar por calar-se, tal como lhe faculta o art. 5º, LXIII,
da Constituição Federal, sem que do exercício dessa prerrogativa fundamental
se possa extrair qualquer presunção em seu desfavor.
CPP - Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor
da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o
interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de não responder
perguntas que lhe forem formuladas.
Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser
interpretado em prejuízo da defesa.

CPP - Art. 259. A impossibilidade de identificação do acusado com o seu


verdadeiro nome ou outros qualificativos não retardará a ação penal, quando
certa a identidade física.
A qualquer tempo, no curso do processo, do julgamento ou da execução da
sentença, se for descoberta a sua qualificação, far-se-á a retificação, por termo,
nos autos, sem prejuízo da validade dos atos precedentes.
A ação penal pode ser exercitada mesmo que não se tenha o nome do
acusado, mas desde que se consiga estabelecer a identidade física do
indivíduo, destacando-o de outras pessoas
Eventual erro quanto à identificação nominal, desde que certa a identidade
física do acusado, isto é, desde que não haja dúvida de que a pessoa
submetida ao processo é aquela à qual se atribui o ilícito, não impede a
propositura nem o desenvolvimento da ação penal.
Não haverá, pois, equívoco no tocante ao autor da infração penal, ainda que se
tenha dúvida quanto à sua qualificação.
“levando em conta que o acusado é a parte fraca, contra a qual se pede a
aplicação da lei, as normas procuram cercá-lo de todas as garantias”
Garantias - Art. 5º da CF
• Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes
• LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir
a liberdade provisória, com ou sem fiança;
• LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua
prisão ou por seu interrogatório policial;
• LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação
criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;
• LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória;
• LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes
• XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
• LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
advogado;
• direito de ser punido com pena adequada - XLVI - a lei regulará a
individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes (...)
CPP Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório,
reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a
autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença.
Parágrafo único. O mandado conterá, além da ordem de condução, os
requisitos mencionados no art. 352, no que lhe for aplicável.
O plenário do STF decidiu que a condução coercitiva do acusado para
interrogatório prevista no art. 260, caput, do cpp, não foi recepcionada pela
constituição federal de 1988, por violação ao direito ao silêncio, liberdade de
locomoção, não autoincriminação e presunção de inocência.

10.4. DEFENSOR
Defensor: deve ser sempre advogado, que, segundo o disposto no art. 133 da
Constituição Federal, é “indispensável à administração da justiça”
O defensor não deve agir com a mesma imparcialidade exigida do
representante do Ministério Público, pois está vinculado ao interesse do
acusado.
Deve pleitear, invariavelmente, em seu benefício, embora possa até pedir a
condenação, quando uma alternativa viável e técnica não lhe resta (em caso de
réu confesso, por exemplo), mas visando à atenuação de sua pena ou algum
benefício legal para o cumprimento da sanção penal (como penas alternativas
ou sursis).
Seus desvios, na atuação defensiva, podem tornar-se infrações penais ou
funcionais.
Para ser assegurada a liberdade, a igualdade das partes, faz-se imprescindível
que, durante todo o transcorrer do processo, sejam assistidos e/ou
representados por um defensor, dotado de conhecimento técnico
especializado, que lhe propicie o estabelecimento ou o restabelecimento do
equilíbrio do contraditório.
Trata-se de efetiva paridade de armas entre as partes.
O advogado tem por função primária promover a defesa técnica do acusado,
cumprindo, dessa forma, diretrizes de ordem constitucional: ampla defesa com
os meios e recursos a ela inerentes (art. 5o, LV, da CF).
A indisponibilidade do direito de defesa é uma decorrência da indisponibilidade
do direito à liberdade.
O réu, ainda que não queira, terá nomeado um defensor, habilitado para a
função, para o patrocínio de sua defesa.
Torna-se fundamental que o magistrado zele pela qualidade da defesa técnica,
declarando, se for preciso, indefeso o acusado e nomeando outro advogado
para desempenhar a função.
Mesmo o defensor constituído pelo réu está sujeito a esse controle de
eficiência.
Não correspondendo ao mínimo aguardado para uma efetiva ampla defesa,
pode o juiz desconstitui-lo, nomeando um substituto dativo, dando prazo ao
acusado para a indicação de outro profissional de sua confiança.
Súmula 523 STF- No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade
absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para
o réu.
Súmula 708 STF - É nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação
nos autos da renúncia do único defensor, o réu não foi previamente intimado
para constituir outro.
Ainda que atue com firmeza e determinação em nome do réu, não pode
requerer diligências protelatórias com a finalidade exclusiva de provocar
excesso de prazo, fundamentador do pedido de relaxamento ou revogação da
prisão cautelar. Súmula 64 do Superior Tribunal de Justiça: “Não constitui
constrangimento ilegal o excesso de prazo na instrução, provocado pela
defesa”.
Presença do acusado na audiência: é um direito constitucional a ampla defesa,
subdividida em defesa técnica e autodefesa.
O direito à audiência faz parte da autodefesa, mas não é inafastável, vale dizer,
caso o réu não compareça à audiência, estando preso, cuida-se de nulidade
relativa, dependente da prova do prejuízo.
Se não comparecer à audiência, estando solto, é uma decisão livre sua.
CPP - Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será
processado ou julgado sem defensor.
Parágrafo único. A defesa técnica, quando realizada por defensor público ou
dativo, será sempre exercida através de manifestação fundamentada.
CPP - Art. 263. Se o acusado não o tiver, ser-lhe-á nomeado defensor pelo juiz,
ressalvado o seu direito de, a todo tempo, nomear outro de sua confiança, ou a
si mesmo defender-se, caso tenha habilitação.
Parágrafo único. O acusado, que não for pobre, será obrigado a pagar os
honorários do defensor dativo, arbitrados pelo juiz.
Nomeação do defensor como ato exclusivo do magistrado: é da livre escolha
do juiz o defensor apto a promover a defesa do acusado.
O processo penal é regido pelo princípio da prevalência do interesse do réu,
bem como pelo devido processo legal, que envolve a ampla defesa como seu
corolário obrigatório.
Por isso, o juiz deve zelar pelo fiel exercício da ampla e eficaz defesa, cuidando
de garantir ao acusado todos os meios possíveis e legítimos para tanto.
Escolha de defensor de sua confiança: é direito inafastável do acusado,
fazendo parte da ampla defesa.
Não possuindo defensor, a princípio, cumprindo-se o estabelecido no art. 261,
deve o juiz nomear-lhe um, o que não impede, a qualquer tempo, o ingresso no
feito de advogado escolhido pelo próprio réu. isso não quer dizer que o
acusado possa selecionar, a seu bel-prazer, o defensor dativo nomeado pelo
magistrado.
Autodefesa técnica: além da possibilidade que todo réu possui de apresentar
ao juiz sua autodefesa, devendo ser ouvido e ter seus argumentos comentados
na sentença, existe, ainda, a oportunidade de o réu prescindir da defesa
técnica, caso seja ele advogado.
O réu somente está autorizado a atuar sem advogado, excepcionalmente:
- advocacia em causa própria, quando for advogado;
- Interposição de RECURSO (art. 577, caput, CPP);
- Impetração de HABEAS CORPUS (art. 654, caput, CPP
Custeio da defesa: dispõe a Constituição Federal que “o Estado prestará
assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de
recursos” (art. 5.º, LXXIV)
Réus pobres têm o direito fundamental de obter defesa técnica gratuita nos
processos criminais, mas aqueles que, favorecidos economicamente, não
desejando contratar advogado, por razões variadas, obrigarem o juiz a nomear
um defensor dativo ou mesmo um membro da Defensoria Pública, devem ser
responsabilizados pelos honorários do profissional.
Defensoria pública - “é instituição essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos
necessitados, na forma do art. 5o, LXXIV” (art. 134 da CF).
CPP Art.264. Salvo motivo relevante, os advogados e solicitadores serão
obrigados, sob pena de multa de cem a quinhentos mil-réis, a prestar seu
patrocínio aos acusados, quando nomeados pelo juiz.
Advogado ou defensor dativo - Advogado dativo é aquele nomeado pelo juiz
para atuar na defesa de pessoas hipossuficientes quando não há um membro
da defensoria pública na comarca.
“O advogado, quando indicado para patrocinar causa de juridicamente
necessitado, no caso de impossibilidade da Defensoria Pública no local da
prestação de serviço, tem direito aos honorários fixados pelo juiz, segundo
tabela organizada pelo Conselho Seccional da OAB, e pagos pelo Estado.”
O advogado pode não aceitar a nomeação do magistrado quando houver
motivo relevante.
Inexistência da multa: não mais subsiste a possibilidade de aplicar multa, pois
o valor é inexistente como moeda corrente na atualidade. Deveria ter sido
atualizado por força de lei, o que não ocorreu.
CPP Art.265. O defensor não poderá abandonar o processo senão por motivo
imperioso, comunicado previamente o juiz, sob pena de multa de 10 (dez) a
100 (cem) salários mínimos, sem prejuízo das demais sanções cabíveis.
§ 1.º A audiência poderá ser adiada se, por motivo justificado, o defensor não
puder comparecer.
§ 2.º Incumbe ao defensor provar o impedimento até a abertura da audiência.
Não o fazendo, o juiz não determinará o adiamento de ato algum do processo,
devendo nomear defensor substituto, ainda que provisoriamente ou só para o
efeito do ato.
Desistência da causa: significa que o defensor já não se entende com seu
patrocinado, por qualquer razão, tendo o direito de sair do processo, pelos
meios legais. Não representa abandono do processo.
“O advogado que renunciar ao mandato continuará, durante os dez dias
seguintes à notificação da renúncia, a representar o mandante, salvo se for
substituído antes do término desse prazo”.
O defensor dativo também pode se recusar a continuar na causa, desde que
comunique tal fato ao juiz e aguarde a nomeação de outro defensor.
Abandono indireto: o causídico pode abandonar a causa por meio indireto,
vale dizer, sem expressa menção a respeito, mas deixando de cumprir atos
indispensáveis da sua alçada.
Pode o magistrado nomear substituto e aplicar a multa prevista no art. 265,
caput. Essa decisão tem caráter administrativo, pois não se relaciona ao feito
em julgamento.
Nomeação de defensor ad hoc: a ausência do defensor, constituído ou
dativo, regularmente intimado para o ato processual, especialmente audiências
de instrução, não impedirá a realização dele, desde que inexista motivo
imperioso para a falta ou não tenha sido feita a comunicação até a abertura da
audiência. Nesse caso, nomeia-se, para funcionar na ocasião, um defensor,
denominado ad hoc (“para o ato”).
Persistindo a falta em julgamento posterior, pode o magistrado declarar o
acusado indefeso, nomeando-lhe substituto, após dar-lhe prazo para escolher
outro profissional para defendê-lo.
Quando o advogado não puder comparecer à audiência por motivo relevante
devidamente comprovado (v.g.: doença, internação hospitalar, viagem
inadiável, falecimento de parente), o magistradodeve adiar a realização da
audiência, salvo se houver motivo imperioso, que não lhe permite essa
transferência, por exemplo, extinção da punibilidade e réu preso.
CPP Art.266. A constituição de defensor independerá de instrumento de
mandato, se o acusado o indicar por ocasião do interrogatório.
Em sede de processo penal, a constituição de advogado não fica na
dependência da outorga de mandato judicial, pois a indicação de defensor
poderá ser feita no ato do interrogatório.
Essa forma de constituição é denominada apud acta.
A representação postulatória pode ser feita por indicação do próprio acusado
em seu interrogatório judicial, devendo constar, em seu termo, o nome de seu
defensor.
CPP Art. 267. Nos termos do art. 252, não funcionarão como defensores os
parentes do juiz.
10.5. DOS ASSISTENTES
ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO
CPP Art. 268. Em todos os termos da ação pública, poderá intervir, como
assistente do Ministério Público, o ofendido ou seu representante legal, ou, na
falta, qualquer das pessoas mencionadas no art. 31.
Assistente - pessoa do ofendido; o que foi vítima da prática delitiva; o que é
titular do bem jurídico lesado pelo delito ou seu representante legal ou, no caso
do morto ou ausente, as pessoas enumeradas no art. 31 do CPP.
Trata-se, ao mesmo tempo, de sujeito e parte secundária na relação
processual.
O principal legitimado à assistência é o ofendido, que, se incapaz, será
representado por um dos pais, por guardião, tutor ou curador.
No caso de morte do ofendido, seus sucessores são legitimados a exercer a
assistência, de acordo com a ordem prevista no art. 31 do Código de Processo
Penal (cônjuge, ascendente, descendente ou irmão), o comparecimento de um
dos sucessores exclui a possibilidade de intervenção dos demais que não
ocupem o mesmo patamar de precedência.
CPP Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por
decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao
cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. (CADI)
A enumeração do art. 31 do CPP é ela taxativa.
A assistência conjunta será possível apenas quando se tratar de sucessores
que não tenham precedência um sobre o outro: o pai e a mãe do ofendido
morto poderão habilitar-se conjuntamente, ainda que por intermédio de
advogados diferentes.
Embora o direito de punir seja unicamente do Estado e legitimado, para a ação
penal, seja o Ministério Público, como seu representante, nos casos de ação
pública, é cabível a formação de litisconsórcio ativo, integrando o polo ativo a
vítima do crime.
O assistente atua para tutelar, ao lado da reparação do dano sofrido, seu
interesse moral em ver o autor da infração punido, por sua vez, conduz à
admissão de que pode recorrer também da sentença condenatória, com vistas
ao agravamento da pena.
O Supremo Tribunal Federal já reconheceu essa possibilidade: “Apelação
criminal. O assistente do Ministério Público tem legítimo interesse para
recorrer, visando o aumento da pena aplicada ao réu” .
A assistência tem lugar, exclusivamente, na ação pública, uma vez que, em se
tratando de ação privada, exclusiva ou subsidiária da pública, o ofendido atuará
na qualidade de querelante, ou seja, como parte necessária.
Em regra, a Administração Pública não pode ser aceita como assistente, pois o
Ministério Público é o órgão estatal incumbido da persecução penal, mas há
previsão legal de intervenção de pessoas jurídicas de direito público em
algumas hipóteses especiais:
a) órgãos federais, estaduais ou municipais interessados, nos casos de crime
de responsabilidade de Prefeito;
b) a Ordem dos Advogados do Brasil — OAB, nos processos em que advogado
figure como acusado ou ofendido;
c) a Comissão de Valores Mobiliários — CVM e o Banco Central do Brasil, nas
hipóteses de crime contra o Sistema Financeiro Nacional praticado em
decorrência de atividade sujeita à fiscalização por aqueles órgãos;.
CPP Art.269. O assistente será admitido enquanto não passar em julgado a
sentença e receberá a causa no estado em que se achar.
O assistente pode ser admitido em qualquer momento do processo: desde o
recebimento da denúncia até o trânsito em julgado a sentença.
Não é cabível a assistência, portanto, na fase do inquérito ou da execução da
pena.
Recebimento da causa no estado em que estiver: é a regra do ingresso do
assistente de acusação, evitando-se tumultos indevidos e a propositura de
novas provas ou outras diligências,
Julgamento pelo Júri - o assistente somente será admitido se tiver requerido
sua habilitação até 5 dias antes da data da sessão na qual pretenda atuar (art.
430 do CPP).
Cabe, exclusivamente, à vítima e seus parentes, na forma prevista pelo art. 31
do CPP, requerer o ingresso em juízo, no polo ativo, para atuar contra o
acusado. NÃO pode ser feita de ofício pelo juiz.
CPP Art.270. O corréu no mesmo processo não poderá intervir como assistente
do Ministério Público.
Não tem o menor cabimento o corréu pretender a condenação de quem agiu
juntamente com ele para a prática da infração penal.
O espírito poderia ser de pura emulação ou vingança.
Recurso de corréu contra a absolvição de outro: é admissível, desde que o
Ministério Público não tenha recorrido.
CPP Art.271. Ao assistente será permitido propor meios de prova, requerer
perguntas às testemunhas, aditar o libelo e os articulados, participar do debate
oral e arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público, ou por ele
próprio, nos casos dos arts. 584, § 1.º, e 598.
§ 1.º O juiz, ouvido o Ministério Público, decidirá acerca da realização das
provas propostas pelo assistente.
§ 2.º O processo prosseguirá independentemente de nova intimação do
assistente, quando este, intimado, deixar de comparecer a qualquer dos atos
da instrução ou do julgamento, sem motivo de força maior devidamente
comprovado.
Pode o assistente de acusação arrolar testemunhas.
Rol taxativo: é taxativo o rol do art. 271, não podendo o assistente de acusação
ir além dessas hipóteses.
O direito da vítima de interpor recurso sob qualquer aspecto do processo;
afinal, o intuito da pessoa ofendida não é mais a obtenção de simples
indenização civil, mas atingir o seu ideal de justiça.
O Supremo Tribunal Federal já reconheceu essa possibilidade: O assistente do
Ministério Público tem legítimo interesse para recorrer, visando o aumento da
pena aplicada ao réu” .
Direito de reperguntar: tem o assistente o direito de propor às testemunhas, e
às pessoas que forem ouvidas como simples declarantes.
O assistente pode completar o número legal das testemunhas quando o
Ministério Público não atingir o máximo de cinco.
Direito de aditar os articulados: é o direito que possui de apresentar o seu
próprio articulado, entendido esse como as alegações finais, produzidas pela
acusação.
Direito de debater oralmente: quando a parte for convocada a manifestar-se
oralmente perante o juiz, o assistente de acusação tem o direito de fazê-lo,
como ocorre, por exemplo, no procedimento comum.
E, no Tribunal do Júri, deve dividir o tempo com o promotor.
Direito de arrazoar os recursos do Ministério Público: como auxiliar da
acusação, pode manifestar-se em todos os recursos interpostos pelo
representante do Ministério Público.
Direito de recorrer autonomamente: para poder recorrer, autonomamente,
apenas nos casos expressos neste dispositivo:
a) decisão de impronúncia (art. 584, § 1.º);
b) julgamento de extinção da punibilidade (art. 584, § 1.º);
c) sentença absolutória (art. 598);
d) sentença condenatória visando ao aumento de pena
Tanto o ofendido que atua na qualidade de assistente como o ofendido que não
se habilitou previamente podem recorrer nessas situações.
Direito de propor provas: tem o direito de propor a realização de qualquer
meio de prova pertinente – perícias, juntada ou requisição de documentos,
testemunhas, entre outros.
Ouve-se o Ministério Público, antes da decisão.
Intimação para os atos processuais: uma vez admitido no processo, deve o
assistente, através do seu advogado, ser intimado para todos os atos que
devam se realizar no feito.
Se deixar de comparecer a qualquer deles, para os quais tenha sido
regularmente cientificado, sem fornecer a devida justificativa, não mais será
intimado.
CPP Art.272. O Ministério Público será ouvido previamente sobre a admissão
do assistente.
Oposição do Ministério Público: somente deve dar-se em caso de falta de
legitimação.
CPP Art.273. Do despacho que admitir, ou não, o assistente, não caberá
recurso, devendo, entretanto, constar dos autos o pedido e a decisão.
Cabe de mandado de segurança.

DOS FUNCIONÁRIOS DA JUSTIÇA


Os auxiliares da justiça não são, propriamente, sujeitos processuais, já que não
participam da relação processual, mas apenas auxiliam o juiz.
a) permanentes — os órgãos que atuam em todos os processos em trâmite
pelo juízo (escrivão, oficial de justiça, distribuidor etc.);
b) eventuais — que intervêm somente em alguns processos, nos quais
realizarão tarefas especiais (intérpretes, peritos etc.).
O escrivão - auxiliar do juízo, encarregado de chefiar o cartório, de
documentar os atos processuais (inclusive participando de audiências ou
designando escreventes para tal fim), de redigir ofícios, mandados e cartas
precatórias, de guardar os autos etc. Sob a responsabilidade do escrivão
oficiam os escreventes e auxiliares.
Oficiais de justiça – praticam os atos externos, ou seja, fora da sede do juízo.
a quem incumbe cumprir as ordens do juiz, procedendo às intimações e
notificações, citações, prisões, avaliações, além de buscas e apreensões.
Têm fé pública, isto é, gozam de presunção relativa de veracidade, os escritos
e certidões firmados por esses órgãos auxiliares.
CPP Art.274. As prescrições sobre suspeição dos juízes estendem-se aos
serventuários e funcionários da justiça, no que lhes for aplicável
Peritos e intérpretes
Perito: é o especialista em determinada matéria, encarregado de servir como
auxiliar da justiça, esclarecendo pontos específicos distantes do conhecimento
jurídico do magistrado.
A perícia pode ser realizada por perito oficial ou pessoas idôneas, portadoras
de diploma de curso superior preferentemente na área específica a ser
examinada (art. 159, § 1o, do CPP).
O perito ou as pessoas idôneas estão obrigados a atender às determinações
do juízo, no sentido de fornecer todos os esclarecimentos por ele exigidos, não
só ex officio, mas também por provocação das partes.
CPP Art.275. O perito, ainda quando não oficial, estará sujeito à disciplina
judiciária.
Disciplina judiciária: obrigação que possui o perito, seja ele oficial
(funcionário público) ou não oficial, de cumprir fielmente seu encargo.
O perito responderá pela falta de exação no desempenho de seu encargo,
ficando sujeito às penas pelo crime de falsa perícia, tipificado no art. 342 do
Código Penal, quando fizer afirmação falsa ou calar a verdade.
CPP Art.276. As partes não intervirão na nomeação do perito.
CPP Art.277. O perito nomeado pela autoridade será obrigado a aceitar o
encargo, sob pena de multa de cem a quinhentos mil-réis, salvo escusa
atendível.4
Parágrafo único. Incorrerá na mesma multa5 o perito que, sem justa causa,
provada imediatamente:
a) deixar de acudir à intimação ou ao chamado da autoridade;
b) não comparecer no dia e local designados para o exame;
c) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja feita, nos prazos
estabelecidos
A multa prevista neste artigo, por não ter sido atualizado, é inaplicável.
A aplicabilidade do preceito incide mais na nomeação de pessoas idôneas.
CPP Art.278. No caso de não comparecimento do perito, sem justa causa, a
autoridade poderá determinar a sua condução.
CPP Art.279. Não poderão ser peritos:
I – os que estiverem sujeitos à interdição de direito mencionada nos ns. I e IV
do art. 69 do Código Penal;7
II – os que tiverem prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente
sobre o objeto da perícia;8
III – os analfabetos e os menores de 21 (vinte e um) anos.
Trata-se de impedimento.
Além das hipóteses de suspeição relativas aos juízes, que lhe são extensivas
(art. 280 do CPP), não poderá funcionar como perito a pessoa que:
a) estiver sujeita à interdição de direitos — isto é, encontrar-se proibida de
exercer a atividade ou ofício em virtude de pena restritiva de direitos;
b) tiver prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente sobre o
objeto da perícia;
c) for analfabeta ou menor de 21 anos.
CPP Art.280. É extensivo aos peritos, no que lhes for aplicável, o disposto
sobre suspeição dos juízes.
CPP Art.281. Os intérpretes são, para todos os efeitos, equiparados aos
peritos.
Intérprete: é a pessoa conhecedora de determinados idiomas estrangeiros ou
linguagens específicas, que serve de intermediário entre pessoa a ser ouvida
em juízo e o magistrado e as partes.
Atua como perito, devidamente compromissado a bem desempenhar a sua
função.
Nos Juizados Especiais Criminais, existe a figura do conciliador (art. 60 da Lei
n. 9.099/95), que, sob a orientação dos juízes, deve atuar na audiência
preliminar com o objetivo de conduzir as partes a uma composição.

11. INVESTIGAÇÃO CRIMINAL


Persecução criminal
O procedimento criminal brasileiro engloba duas fases: a investigação
criminal e o processo penal.
Investigação criminal - é um procedimento preliminar, de caráter
administrativo, que busca reunir provas capazes de formar o juízo do
representante ministerial acerca da existência de justa causa para o início da
ação penal.
Ação penal - é o procedimento principal, de caráter jurisdicional, que termina
com um procedimento judicial que resolve se o cidadão acusado deverá ser
condenado ou absolvido.
Ao conjunto dessas duas fases, dá-se o nome de persecução criminal.
12. INQUÉRITO POLICIAL
Conceito
É o conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária para a apuração de
uma infração penal e de sua autoria, a fim de que o titular da ação penal tenha
condições de ingressar em juízo dispondo de elementos informativos (CPP, art.
4º).
Trata-se de procedimento persecutório de caráter administrativo instaurado
pela autoridade policial.
“O inquérito policial consiste em todas as diligências necessárias para o
descobrimento dos fatos criminosos, de suas circunstâncias e de seus
autores e cúmplices, e deve ser reduzido a instrumento escrito”.
Finalidade do inquérito: “a apuração das circunstâncias, da materialidade e
da autoria das infrações penais”.
O objetivo precípuo é servir de lastro à formação da convicção do MP (opinio
delicti), mas também colher provas urgentes, que podem desaparecer, após o
cometimento do crime.
O inquérito também serve como composição das provas pré-constituídas que
servem de base à vítima, em determinados casos, para a propositura da ação
penal privada.
Tem como destinatários imediatos:
• Na ação penal pública – o Ministério Público, titular exclusivo da ação
penal (CF, art. 129, I),
• Na ação penal privada - ofendido (CPP, art. 30);
• Destinatário mediato - tem o juiz, que se utilizará dos elementos de
informação nele constantes, para o recebimento da peça inicial e para a
formação do seu convencimento quanto à necessidade de decretação
de medidas cautelares.

POLÍCIA JUDICIÁRIA
A polícia judiciária é uma função dos órgãos de segurança do Estado que tem
como principal atividade apurar as infrações penais e sua autoria por meio da
investigação policial, instrumentalizado pelo Inquérito Policial, que é um
procedimento administrativo com característica inquisitiva, servindo, em regra,
de base à pretensão punitiva do Estado formulada pelo Ministério Público titular
da ação penal de iniciativa pública.
Const. F - Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e
da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
VI - polícias penais federal, estaduais e distrital.
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e
mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de
bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e
empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha
repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo
se dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros
órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.
(...)
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira,
incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.
§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem
pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em
lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.
§ 5º-A. Às polícias penais, vinculadas ao órgão administrador do sistema penal
da unidade federativa a que pertencem, cabe a segurança dos
estabelecimentos penais.
CPP - Art. 4o A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no
território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das
infrações penais e da sua autoria
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de
autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.]
Cabe aos órgãos constituídos das polícias federal e civil conduzir as
investigações necessárias, colhendo provas pré-constituídas para formar o
inquérito, que servirá de base de sustentação a uma futura ação penal.
O nome polícia judiciária tem sentido na medida em que não se cuida de uma
atividade policial ostensiva (típica da Polícia Militar para a garantia da
segurança nas ruas), mas investigatória, cuja função se volta a colher provas
para o órgão acusatório e, na essência, para o Judiciário avaliar no futuro.
A presidência do inquérito cabe à autoridade policial.
Atribuída no âmbito estadual às polícias civis, dirigidas por delegados de
polícia de carreira, sem prejuízo de outras autoridades (CF, art. 144, § 4º); na
esfera federal, as atividades de polícia judiciária cabem, com
exclusividade, à polícia federal (CF, art. 144, § 1º, IV).
Classificação das infrações penais: deve a autoridade policial, justamente
porque lhe compete a apuração da materialidade das infrações penais e da sua
autoria, proceder à classificação dos crimes e contravenções que lhe chegarem
ao conhecimento.
Investigação preliminar ao inquérito: Caso a autoridade tenha dúvida acerca
da existência de alguma infração penal ou mesmo da autoria, poderá, no
máximo, verificar direta, pessoal e informalmente se há viabilidade para a
instauração do inquérito.
Nulidade em inquérito ou outra investigação: não é passível de
reconhecimento, pois se cuida de contexto de colheita de provas para o fim de
informar a ação penal.
Essas provas não têm conteúdo definitivo, razão pela qual inexiste razão para
anular qualquer ato. Se houver alguma falha, basta desprezar a prova, como
regra.
Conferir: STJ: “O inquérito policial é peça meramente informativa, na qual não
imperam os princípios do contraditório e da ampla defesa, motivo pelo qual
eventuais vícios ou irregularidades ocorridos no seu curso não têm o condão
de macular a ação penal.
Investigação produzida pela Polícia Militar: como regra, não é função da
Polícia Militar investigar e solucionar crimes, pois a sua atividade
constitucionalmente prevista se liga à polícia ostensiva. Entretanto, há
situações excepcionais, que contam com a participação do serviço de
inteligência da PM, utilizado, muitas vezes, para controlar a própria atuação de
seus membros. Dessas investigações internas, podem emergir elementos
probatórios relativos a civis.
Acesso do advogado à investigação criminal do Ministério Público:
STF: “O sistema normativo brasileiro assegura, ao Advogado regularmente
constituído pelo indiciado (ou por aquele submetido a atos de persecução
estatal), o direito de pleno acesso aos autos de persecução penal, mesmo que
sujeita, em juízo ou fora dele, a regime de sigilo (necessariamente
excepcional), limitando-se, no entanto, tal prerrogativa jurídica, às provas já
produzidas e formalmente incorporadas ao procedimento investigatório,
excluídas, consequentemente, as informações e providências investigatórias
ainda em curso de execução e, por isso mesmo, não documentadas no próprio
inquérito ou processo judicial.
Guarda municipal: não tem função constitucional, nem legal, de produzir
investigações criminais, razão pela qual não pode instaurar, nem presidir
inquéritos policiais.

COMPETÊNCIA DO INQUÉRITO
Salvo algumas exceções, a atribuição para presidir o inquérito policial é
outorgada aos delegados de polícia de carreira (CF, art. 144, §§ 1º e 4º),
conforme as normas de organização policial dos Estados.
Essa atribuição pode ser fixada quer pelo lugar da consumação da infração
(ratione loci), quer pela natureza desta (ratione materiae).
sobre a competência das autoridades policiais, tem-se entendido que a falta de
atribuição destas não invalida os seus atos, ainda que se trate de prisão em
flagrante, pois, não exercendo a Polícia atividade jurisdicional, não se submete
ela à competência jurisdicional ratione loci.
LEI Nº 12.830, de 20 de junho de 2013
Art. 2º As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais
exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e
exclusivas de Estado. (grifamos)
§ 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a
condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro
procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das
circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais.
§ 2º Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição
de perícia, informações, documentos e dados que interessem à apuração dos
fatos.

Inquéritos extrapoliciais
• Inquérito Policial Militar (IPM) - inquérito realizado pelas autoridades
militares para a apuração de infrações de competência da justiça militar
• CPI - Comissões Parlamentares de Inquérito - terão poderes de
investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos
nos regimentos das respectivas Casas, e serão criadas pela Câmara
dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente,
mediante requerimento de 1/3 de seus membros, para a apuração de
fato determinado, com duração limitada no tempo (CF, art. 58, § 3º)
• o inquérito civil público, instaurado pelo Ministério Público para a
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros
interesses difusos e coletivos (CF, art. 129, III).
• o inquérito instaurado pela Câmara dos Deputados ou Senado Federal,
em caso de crime cometido nas suas dependências, hipótese em que,
de acordo com o que dispuser o respectivo regimento interno, caberão à
Casa a prisão em flagrante e a realização do inquérito (Súmula 397 do
STF)
• Inquérito por crime praticado por Juiz ou Promotor de Justiça: presidido
pelo Tribunal de Justiça ou Procuradoria de Justiça
• Investigação de autoridades com Foro de Prerrogativa de Função

FINALIDADE DO INQUÉRITO
A finalidade do inquérito policial é a apuração de fato que configure infração
penal e a respectiva autoria para servir de base à ação penal ou às
providências cautelares.

CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO
Procedimento escrito
Todas as peças do inquérito policial serão, num só processo, reduzidas a
escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade (CPP, art.
9º).
CPP - Art. 9.º Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado,
reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.
O inquérito policial um procedimento formal, completamente burocratizado, pois
exige peças escritas ou datilografadas, todas rubricadas pela autoridade
competente.

Sigiloso
A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato
ou exigido pelo interesse da sociedade (CPP, art. 20).
Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário94-94-A à
elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.
Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a
autoridade policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes a
instauração de inquérito contra os requerentes.
Sigilo das investigações: o inquérito policial, por ser peça de natureza
administrativa, inquisitiva e preliminar à ação penal, deve ser sigiloso, não
submetido, pois, à publicidade que rege o processo.
Posição do advogado: ao advogado não se pode negar acesso ao inquérito,
pois o Estatuto da Advocacia é claro nesse sentido: Lei 8.906/94, art. 7.º: “São
direitos do advogado: (..) XIV – examinar, em qualquer instituição responsável
por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de
investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que
conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio
físico ou digital.
Súmula Vinculante 14 do STF: “É direito do defensor, no interesse do
representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados
em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de
polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”. Embora no
inquérito não prevaleçam o contraditório e a ampla defesa, visto não ser
processo, mas mera investigação, é evidente o interesse do indiciado, por meio
de seu advogado, em se resguardar, na medida do possível.
O sigilo não se estende ao representante do Ministério Público, nem à
autoridade judiciária.
o direito do indiciado “tem por objeto as informações já introduzidas nos autos
do inquérito, não as relativas à decretação e às vicissitudes da execução de
diligências em curso (cf. Lei n. 9.296, atinente às interceptações telefônicas, de
possível extensão a outras diligências).
Participação do advogado durante a produção de prova no inquérito:
Pode, pois, acompanhar a instrução, quando tenha sido constituído pelo
indiciado, que tem direito de tomar conhecimento das provas levantadas contra
sua pessoa, corolário natural do princípio constitucional da ampla defesa
O sigilo no inquérito policial deverá ser observado como forma de garantia da
intimidade do investigado, resguardando-se, assim, seu estado de inocência.
Lei nº 12.850/2013 – Lei de organização criminosa

Art. 23. O sigilo da investigação poderá ser decretado pela autoridade judicial
competente, para garantia da celeridade e da eficácia das diligências
investigatórias, assegurando-se ao defensor, no interesse do representado,
amplo acesso aos elementos de prova que digam respeito ao exercício do
direito de defesa, devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados
os referentes às diligências em andamento.
Parágrafo único. Determinado o depoimento do investigado, seu defensor terá
assegurada a prévia vista dos autos, ainda que classificados como sigilosos, no
prazo mínimo de 3 (três) dias que antecedem ao ato, podendo ser ampliado, a
critério da autoridade responsável pela investigação

Oficialidade
O inquérito policial é uma atividade investigatória feita por órgãos oficiais, não
podendo ficar a cargo do particular, ainda que a titularidade da ação penal seja
atribuída ao ofendido.
Oficiosidade
Princípio da legalidade (ou obrigatoriedade) da ação penal pública.
Significa que a atividade das autoridades policiais independe de qualquer
espécie de provocação, sendo a instauração do inquérito obrigatória
diante da notícia de uma infração penal (CPP, art. 5º, I), ressalvados os casos
de ação penal pública condicionada e de ação penal privada (CPP, art. 5º, §§
4º e 5º).

Autoritariedade
Exigência expressa do Texto Constitucional (CF, art. 144, § 4º); o inquérito é
presidido por uma autoridade pública, no caso, a autoridade policial (delegado
de polícia de carreira).
Art. 3º, da Lei nº 12.830/13 - “O cargo de Delegado de Polícia é privativo de
Bacharel em Direito, devendo-lhe ser dispensado o mesmo tratamento
protocolar que recebem os magistrados, os membros da Defensoria Pública e
do Ministério Público e os advogados”

Indisponibilidade
É indisponível.
Após sua instauração não pode ser arquivado pela autoridade policial (CPP,
art. 17).
Não é atribuição da polícia judiciária dar por findo o seu trabalho, nem do juiz.
CPP - Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de
inquérito.
Arquivamento do inquérito: somente o Ministério Público, titular da ação
penal, órgão para o qual se destina o inquérito policial, pode pedir o seu
arquivamento, dando por encerradas as possibilidades de investigação.
Impossibilidade de ser arquivado inquérito sem requerimento do
Ministério Público: nem mesmo a autoridade judiciária pode determinar o
arquivamento de inquérito policial se não houver o expresso assentimento do
titular da ação penal, que é o Ministério Público.
Trancamento do inquérito policial: admite-se que, por intermédio do habeas
corpus, a pessoa eleita pela autoridade policial como suspeita possa recorrer
ao Judiciário para fazer cessar o constrangimento a que está exposto, pela
mera instauração de investigação infundada.

Inquisitivo
Caracteriza-se como inquisitivo o procedimento em que as atividades
persecutórias se concentram nas mãos de uma única autoridade, a qual, por
isso, prescinde, para a sua atuação, da provocação de quem quer que seja,
podendo e devendo agir de ofício, empreendendo, com discricionariedade, as
atividades necessárias ao esclarecimento do crime e da sua autoria.
É característica oriunda dos princípios da obrigatoriedade e da oficialidade da
ação penal.
É secreto e escrito, e não se aplicam os princípios do contraditório e da ampla
defesa, pois, se não há acusação, não se fala em defesa.
O único inquérito que admite o contraditório é o instaurado pela polícia federal,
a pedido do Ministro da Justiça, visando à expulsão de estrangeiro, regulado
pela Lei n. 13.445 (Lei de Migração), em seu art. 54 e seguintes.

Dispensável
O inquérito policial não é fase obrigatória da persecução penal, podendo ser
dispensado caso o Ministério Público ou o ofendido já disponha de suficientes
elementos para a propositura da ação penal (CPP, arts. 12, 27, 39, § 5º, e 46, §
1º).

Incomunicabilidade
Destina-se a impedir que a comunicação do preso com terceiros venha a
prejudicar a apuração dos fatos, podendo ser imposta quando o interesse da
sociedade ou a conveniência da investigação o exigir.
O art. 21 do Código de Processo Penal prevê que a incomunicabilidade do
preso não excederá de três dias e será decretada por despacho fundamentado
do juiz, a requerimento da autoridade policial ou do órgão do Ministério Público,
respeitadas as prerrogativas do advogado.

VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO


O inquérito policial tem conteúdo informativo, tendo por finalidade fornecer ao
Ministério Público ou ao ofendido, conforme a natureza da infração, os
elementos necessários para a propositura da ação penal.
Tem valor probatório relativo, haja vista que os elementos de informação não
são colhidos sob a égide do contraditório e da ampla defesa, nem tampouco na
presença do juiz de direito.

VÍCIOS

.
NOTITIA CRIMINIS
Dá-se o nome de notitia criminis (notícia do crime), quando a autoridade policial
toma conhecimento, espontâneo ou provocado, de um fato aparentemente
criminoso.
É com base nesse conhecimento que a autoridade dá início às investigações.
• Notitia criminis de cognição direta ou imediata ou notitia criminis
espontânea, ou inqualificada - ocorre quando a autoridade policial
toma conhecimento direto do fato infringente da norma por meio de suas
atividades rotineiras, de jornais, da investigação feita pela própria polícia
judiciária, por comunicação feita pela polícia preventiva ostensiva, pela
descoberta ocasional do corpo do delito, por meio de denúncia anônima
A delação apócrifa (anônima) é também chamada de notícia
inqualificada.
• Notitia criminis de cognição indireta ou mediata: notitia criminis
provocada ou qualificada - ocorre quando a autoridade policial toma
conhecimento por meio de algum ato jurídico de comunicação formal do
delito.
Exemplo, a delatio criminis – delação (CPP, art. 5º, II, e §§ 1º, 3º e 5º), a
requisição da autoridade judiciária, do Ministério Público (CPP, art. 5º, II)
ou do Ministro da Justiça (CP, arts. 7º, § 3º, b, e 141, I, c/c o parágrafo
único do art. 145), e a representação do ofendido (CPP, art. 5º, § 4º).
• Notitia criminis de cognição coercitiva: ocorre no caso de prisão em
flagrante, em que a notícia do crime se dá com a apresentação do autor
(cf. CPP, art. 302 e incisos).
É modo de instauração comum a qualquer espécie de infração, seja de
ação pública condicionada ou incondicionada, seja de ação penal
reservada à iniciativa privada.

INÍCIO DO INQUÉRITO POLICIAL


CPP - Art. 5.º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:
I – de ofício;
II – mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público,
ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para
representá-lo.
§ 1.º O requerimento a que se refere o n. II conterá sempre que possível:
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de
convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de
impossibilidade de o fazer;
c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência.
§ 2.º Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá
recurso para o chefe de Polícia.
§ 3.º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de
infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito,
comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das
informações, mandará instaurar inquérito.
§ 4.º O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de
representação, não poderá sem ela ser iniciado.
§ 5.º Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá
proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para
intentá-la.
Pode ter início ainda, pela lavratura do auto de prisão em flagrante
Art.301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes
deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito.3-5-A

I – de ofício;
Significa que o inquérito é iniciado por ato voluntário da autoridade policial, sem
que tenha havido pedido expresso de qualquer pessoa nesse sentido.
A lei determina que a autoridade é obrigada a instaurar o inquérito sempre que
tomar conhecimento da ocorrência de crime de ação pública em sua área de
atuação.
Assim, quando o delegado de polícia fica sabendo da prática de um delito deve
baixar a chamada portaria, que é a peça que dá início ao procedimento
inquisitorial.
Na portaria a autoridade declara instaurado o inquérito e determina as
providências iniciais a serem tomadas.
Notitia criminis: é a ciência da autoridade policial da ocorrência de um fato
criminoso, podendo ser:
a) direta, quando o próprio delegado, investigando, por qualquer meio,
descobre o acontecimento;
b) indireta, quando a vítima provoca a sua atuação, comunicando-lhe a
ocorrência, bem como quando o promotor ou o juiz requisitar a sua atuação.
Nesta última hipótese (indireta), cremos estar inserida a prisão em flagrante.
Delatio criminis: É a denominação dada à comunicação feita por qualquer
pessoa do povo à autoridade policial (ou a membro do Ministério Público ou
juiz) acerca da ocorrência de infração penal em que caiba ação penal pública
incondicionada (art. 5.º, § 3.º, CPP).
Pode ser feita oralmente ou por escrito. Caso a autoridade policial verifique a
procedência da informação, mandará instaurar inquérito para apurar
oficialmente o acontecimento.
O inquérito policial não pode ser instaurado de imediato quando a autoridade
policial recebe notícia anônima da prática de um crime, desacompanhada de
qualquer elemento de prova.
Segundo o STF, a autoridade deverá realizar diligências preliminares ao
receber a notícia anônima e, apenas se confirmar a possibilidade de o crime
realmente ter ocorrido, é que poderá baixar a portaria dando início formal à
investigação.
Investigação policial contra Prefeito Municipal: pode ser iniciada pela
polícia ou pelo Ministério Público, comunicando-se, de pronto, o órgão
competente para o processo, ou seja, o Tribunal de Justiça (crimes estaduais)
ou o Tribunal Regional Federal (crimes federais).

II – mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público,


ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para
representá-lo.
Ação pública: é aquela cuja iniciativa cabe ao Ministério Público, dividindo-se
em incondicionada e condicionada.
• Ação Pública Incondicionada – não exige a participação da vítima,
solicitando expressamente a atuação do Estado,
• Ação Pública Condicionada – precisa de representação, que é a
manifestação do ofendido para ver apurado o fato criminoso e punido
seu autor.
Logo, não haverá instauração de ofício, nem por requisição do promotor
ou do juiz, desprovida da iniciativa da vítima.
A regra no processo penal é a seguinte:
• se a ação é pública incondicionada - o Ministério Público pode agir sem
qualquer tipo de autorização e sempre que houver prova suficiente da
ocorrência de uma infração penal
O tipo penal incriminador, previsto no Código Penal, nada menciona a
respeito.
• Se a ação é pública condicionada, estará expresso: “somente se
procede mediante representação” ou “mediante requisição”.
• Se é ação privada, estará mencionado: “somente se procede mediante
queixa”.
Ação pública condicionada e de ação privada - o inquérito somente pode
iniciar-se se houver provocação do ofendido
• representação para a ação pública condicionada;
• requerimento para a ação privada ou do Ministro da Justiça (requisição).

§ 3.º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de


infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por
escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência
das informações, mandará instaurar inquérito
Além do ofendido, qualquer do povo, ao tomar conhecimento da prática de
alguma infração penal em que caiba ação pública incondicionada, poderá
comunicá-la, verbalmente ou por escrito, à autoridade policial, e esta,
verificando a procedência das informações, mandará instaurar o inquérito
(CPP, art. 5º, § 3º).
A delação anônima (notitia criminis inqualificada) não deve ser repelida de
plano, a autoridade policial deverá investigar a verossimilhança das
informações.
Em regra, trata-se de mera faculdade conferida ao cidadão de colaborar com a
atividade repressiva do Estado.
Há algumas pessoas que, em razão do seu cargo ou da sua função, estão
obrigadas a noticiar às autoridades a ocorrência de crimes de que tenham
notícia no desempenho de suas atividades: LCP, art. 66, I e II; Lei n. 6.538/78,
art. 45; Lei n. 11.101/2005 (Lei de Falências e de Recuperação de Empresas),
art. 186 c/c o inciso III do caput do art. 22.

§ 4.º O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de


representação, não poderá sem ela ser iniciado.
Se o crime for de ação pública, mas condicionada à representação do ofendido
ou do seu representante legal (CPP, art. 24), o inquérito não poderá ser
instaurado senão com o oferecimento desta.
CPP - Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia
do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do
Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver
qualidade para representá-lo.
A autoridade judiciária e o Ministério Público só poderão requisitar a
instauração do inquérito se fizerem encaminhar, junto com o ofício requisitório,
a representação.
Trata a representação de simples manifestação de vontade da vítima, ou de
quem legalmente a representa no sentido de autorizar a persecução penal.
Conforme o Código Civil, temos as seguintes situações sobre a representação:
• quando menor de 18 anos, só o representante legal pode ofertar a
representação;
• se maior de 18, só o ofendido poderá fazê-lo, uma vez que plenamente
capaz;
• se, apesar de maior de 18, for deficiente mental, caberá ao representante
legal autorizar o início da persecução penal.
A representação poderá ser apresentada à autoridade policial, à autoridade
judiciária ou ao representante do Ministério Público.
Após o oferecimento da denúncia, a representação se torna irretratável.
CPP Art. 25. A representação será irretratável, depois de oferecida a denúncia.

§ 5o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá


proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para
intentá-la.
Tratando-se de crime de iniciativa privada, a instauração do inquérito policial
pela autoridade pública depende de requerimento escrito ou verbal, reduzido a
termo neste último caso, do ofendido ou de seu representante legal, isto é, da
pessoa que detenha a titularidade da respectiva ação penal (CPP, arts. 30 e
31).
Art. 30. Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para representá-lo caberá
intentar a ação privada.
Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por
decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao
cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

Mediante requisição do ministro da justiça


• No caso de crime cometido por estrangeiro contra brasileiro, fora do Brasil;
• no caso de crimes contra a honra, pouco importando se cometidos
publicamente ou não, contra chefe de governo estrangeiro;
• no caso de crime contra a honra em que o ofendido for o presidente da
República;
• em algumas hipóteses previstas no Código Penal Militar etc.
A requisição deve ser encaminhada ao chefe do Ministério Público, o qual
poderá, desde logo, oferecer a denúncia ou requisitar diligências à polícia.
Nem sequer o Ministério Público ou a autoridade judiciária poderão requisitar a
instauração da investigação.
Encerrado o inquérito policial, os autos serão remetidos ao juízo competente,
onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal (CPP,
art. 19).
Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito
serão remetidos ao juízo competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido
ou de seu representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o pedir,
mediante traslado.
O inquérito policial deve ser instaurado em um prazo que permita a sua
conclusão e o oferecimento da queixa antes do prazo decadencial do art. 38 do
CPP.
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal,
decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do
prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do
crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o
oferecimento da denúncia.
Auto de prisão em flagrante: Pode ter início pela lavratura do auto de prisão
em flagrante.
Quando uma pessoa é presa em flagrante, deve ser encaminhada à Delegacia
de Polícia.
Nesta é lavrado o auto de prisão, que é um documento no qual ficam
constando as circunstâncias do delito e da prisão.
Lavrado o auto, o inquérito está instaurado.

Requisição, Requerimento E Representação


• Requisição é a exigência para a realização de algo, fundamentada em
lei.
Requisitar a instauração do inquérito significa um requerimento lastreado
em lei, fazendo com que a autoridade policial cumpra a norma e não a
vontade particular do promotor ou do magistrado.
• Requerimento é uma solicitação, passível de indeferimento, razão pela
qual não tem a mesma força de uma requisição
• Representação é a exposição de um fato ou ocorrência, sugerindo ou
solicitando providências, conforme o caso.
Não precisa ser formal, vale dizer, concretizada por termo escrito e
expresso nos autos do inquérito ou do flagrante.
A jurisprudência tem aceitado, com razão, a representação informal, que
é a manifestação da vontade do ofendido de ver investigado e
processado o seu agressor sem que tenha manifestado por termo o seu
intento. Como em um depoimento, por exemplo,
Difere a representação do requerimento pelo fato de que este é apresentado
pela parte interessada, enquanto aquela é oferecida por autoridade ou pessoa
desinteressada no deslinde da causa (investigação ou processo).
Negativa de cumprimento à requisição - é possível que a autoridade policial
refute a instauração de inquérito requisitado por membro do Ministério Público
ou por Juiz de Direito, desde que se trate de exigência manifestamente ilegal.
Conteúdo Da Requisição, Do Requerimento E Da Representação
Requisições dirigidas à autoridade policial, exigindo a instauração de inquérito
contra determinada pessoa, ainda que aponte o crime, em tese, necessitam
conter dados suficientes que possibilitem ao delegado tomar providências e ter
um rumo a seguir.
Não é cabível um ofício genérico.
Requerimentos devem conter, sempre que possível, “a narração do fato, com
todas as circunstâncias”, “a individualização do indiciado ou seus sinais
característicos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da
infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer” e “a nomeação das
testemunhas, com indicação de sua profissão e residência” (art. 5.º, § 1.º).
PEÇAS INAUGURAIS DO INQUÉRITO POLICIAL
(i) Portaria: quando instaurado ex officio (ação penal pública incondicionada);
(ii) Auto de prisão em flagrante (qualquer espécie de infração penal), exceto
infrações de menor potencial ofensivo, nos termos do art. 61 da Lei n.
9.099/95);
(iii) Requerimento do ofendido ou de seu representante (ação penal privada e
ação penal pública incondicionada.
Quando se tratar de ação penal pública condicionada à representação, o
inquérito não começará por requerimento do ofendido, pois tal requerimento
será recebido como representação);
(iv) Requisição do Ministério Público ou da autoridade judiciária (ação penal
pública condicionada – quando acompanhada da representação – e
incondicionada);
(v) Representação do ofendido ou de seu representante legal, ou requisição do
ministro da justiça (ação penal pública condicionada).
LOCAL POR ONDE DEVE TRAMITAR O INQUÉRITO
O local onde deve ser instaurado e de tramitação do inquérito é o mesmo onde
deve ser instaurada a ação penal, de acordo com as regras de competência
dos arts. 69 e seguintes do Código de Processo Penal. Assim, se um roubo for
cometido em Campos do Jordão, o inquérito deve tramitar nesta Comarca.

PROCEDIMENTO DA AUTORIDADE POLICIAL


Providências
O art. 6º do Código de Processo Penal indica algumas providências que, de
regra, deverão ser tomadas pela autoridade policial para a elucidação do crime
e da sua autoria.
CPP - Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a
autoridade policial deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e
conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais;
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados
pelos peritos criminais;
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas
circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no
Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado
por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a
quaisquer outras perícias;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se
possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual,
familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes
e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que
contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.
X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se
possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável
pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa
Presença no local dos fatos: a preservação do local onde ocorreu a infração
penal deverá ser mantida até a chegada dos peritos criminais para procederem
aos exames periciais.
Terminada a inspeção e coletados os elementos básicos para a formação do
laudo pertinente (fotografias, desenho, impressões digitais, materiais para
exame) é que o local será liberado.
Tem aplicabilidade exclusiva nos chamados crimes materiais, naqueles em que
a prática delitiva deixa vestígios (delicta factis permanen-tis).
A regra tem correspondência no art. 169 do CPP, que prescreve: “Para o efeito
de exame do local onde houver sido praticada a infração, a autoridade
providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a
chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias,
desenhos ou esquemas elucidativos.
Parágrafo único: Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das
coisas e discutirão, no relatório, as consequências dessas alterações na
dinâmica dos fatos”.
Não podendo ir pessoalmente, deve, ao menos em delitos graves e violentos,
enviar policiais que possam preservar o lugar até a chegada da equipe técnica.
Objetos relacionados com o fato (apreensão de celular): são todos aqueles
que sejam úteis à busca da verdade real, que, no caso concreto, podem
contribuir para a formação da convicção dos peritos.
Em primeiro lugar, destinam-se tais objetos à perícia, passando, em seguida, à
esfera de guarda da autoridade policial, até que sejam liberados ao seu
legítimo proprietário.
Algumas coisas ficam apreendidas até o final do processo e podem até ser
confiscadas pelo Estado, como ocorre com os objetos de uso, fabrico,
alienação, porte ou detenção proibidos (art. 91, II, a, CP).
Se houver prisão em flagrante ou cumprimento de mandado de busca e
apreensão, cremos perfeitamente possível a apreensão de aparelho celular,
visualizando o seu conteúdo.
Colheita de provas: a investigação diretamente no lugar dos fatos, feita pela
autoridade policial, propicia-lhe arrolar testemunhas, determinar a colheita de
material para exame (sangue, urina, fios de cabelo, sêmen, documentos etc.) e
outros elementos que auxiliem à formação de sua convicção acerca do autor
da infração penal, bem como da própria existência desta.
Deve também a autoridade policial apreender os instrumentos e todos os
objetos que tiverem relação com o fato, “após liberados pelos peritos criminais”,
conforme art. 6º, II, do CPP, fazendo-os acompanhar os autos do inquérito
(CPP, art. 11), e colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do
fato e suas circunstâncias.
CPP Art. 11. Os instrumentos do crime, bem como os objetos que
interessarem à prova, acompanharão os autos do inquérito.
Todo esse procedimento deve seguir rigorosamente a cadeia de custódia da
prova, conforme é determinado pelos arts. 158-A e 158-B do CPP.
CPP Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os
procedimentos utilizados para manter e documentar a história cronológica do
vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e
manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte.
§ 1º O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de crime
ou com procedimentos policiais ou periciais nos quais seja detectada a
existência de vestígio.
§ 2º O agente público que reconhecer um elemento como de potencial
interesse para a produção da prova pericial fica responsável por sua
preservação.
§ 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou
recolhido, que se relaciona à infração penal.
Ouvida da vítima: Ela pode fornecer dados preciosos para a descoberta da
autoria e mesmo para a formação da materialidade.
Reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações
O reconhecimento de pessoa visa apontar o autor do crime.
Deve ser feito pela vítima e por testemunhas que tenham presenciado a
infração penal.
Quando o resultado é positivo, tem grande valor probatório
Existe, também, o reconhecimento de objetos, em geral dos instrumentos
utilizados no crime ou do próprio objeto material da infração (ex.: vítima de furto
chamada a reconhecer objetos encontrados em poder do suposto furtador para
que diga se os objetos são os que lhe foram subtraídos).
Acareação é o confronto entre duas pessoas que prestaram depoimentos
divergentes em aspectos considerados relevantes pela autoridade. Assim,
essas pessoas devem ser colocadas frente a frente e questionadas a respeito
da divergência.
A busca e a apreensão, de que fala o art. 6º, II, do Código de Processo Penal,
poderão ser efetuadas:
• no local do crime;
• em domicílio;
• na própria pessoa.
A busca domiciliar, por força do art. 5º, XI, da Constituição Federal, só poderá
ser feita se observados os seguintes pressupostos:
• Durante o dia:
o nos casos acima;
o por ordem judicial.
• No período noturno:
o com assentimento do morador;
o em flagrante delito;
o no caso de desastre;
o para prestar socorro;
Assim, não se verificando qualquer das hipóteses em que a Constituição
permite a busca domiciliar durante a noite, esta será sempre precedida de
mandado judicial, salvo se a autoridade judiciária (e somente esta) acompanhar
a diligência.
O Código Penal, no art. 150, define como crime a invasão de domicílio fora dos
permissivos legais.
A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou havendo
fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de
instrumentos que guardem relação com o crime, ou quando efetuada por
ocasião da busca domiciliar (CPP, art. 244).
As buscas podem ser realizadas até em domingos e feriados (CPP, art. 797),
atentando-se, no caso de ser feita em domicílio, para as restrições acima
mencionadas.
Determinar exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias;
O exame de corpo de delito, nos termos do art. 158, é indispensável para a
prova da materialidade dos delitos que deixam vestígios.
A sua ausência é causa de nulidade da ação (art. 564, III, b).
São perícias necessárias, exemplificativamente
o a autópsia nos crimes de homicídio
o o exame documentoscópico para aferir a falsidade documental,
o os exames nos instrumentos em pregados na prática do crime (art. 175
do CPP)
Ordenar a identificação do indiciado
art. 5º, LVIII, estabelece que a pessoa civilmente identificada não será
submetida a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei.
Essa norma constitucional proíbe, portanto, a identificação datiloscópica e
fotográfica na hipótese de o indiciado apresentar documentação válida que o
identifique eficazmente.
documentos se prestam à identificação civil (art. 2º):
a) carteira de identidade;
b) carteira de trabalho;
c) carteira profissional;
d) passaporte;
e) carteira de identificação funcional;
f) outro documento público que permita a identificação do indiciado
Averiguar a vida pregressa do indiciado
Tem importância para que o juiz tenha elementos para fixar adequadamente a
pena--base do réu (em caso de condenação), uma vez que o art. 59 do Código
Penal dispõe que esta deve ser aplicada de acordo com fatores como a
conduta social, a personalidade, os antecedentes do agente, as circunstâncias
do crime etc.
INDICIAMENTO
Indiciado é a pessoa eleita pelo Estado-investigação, dentro da sua convicção,
como autora da infração penal.
Ser indiciado, isto é, apontado como autor do crime pelos indícios colhidos no
inquérito policial
O indiciamento não é um ato discricionário da autoridade policial, devendo
basear-se em provas suficientes para isso.
É cabível o habeas corpus, caso alguém se sinta injustamente convocado à
delegacia para ser indiciado.
“o indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato
fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a
autoria, materialidade e suas circunstâncias”.
O indiciamento é um juízo de valor da autoridade policial durante o decorrer
das investigações e, por isso, não vincula o Ministério Público, que poderá,
posterior-mente, promover o arquivamento do inquérito.
Com o indiciamento, a autoridade policial deverá classificar o crime a que está
incurso o investigado.
Requisição de indiciamento pelo magistrado após o recebimento denúncia é
incompatível com o sistema acusatório imposto pela constituição de 1988.

Motivação do indiciamento
A Lei 12.830/2013 (art. 2.º, § 6.º) passa a exigir que a autoridade policial, ao
indiciar o suspeito, esclareça, nos autos do inquérito, as razões que a levaram
àquela eleição.
Como o indiciamento é ato constrangedor, deve tratar-se de ato motivado,
permitindo à parte prejudicada (indiciado) questioná-lo, impetrando habeas
corpus.
Desindiciamento - pode ser decidido pelo próprio delegado de polícia, durante
o inquérito policial ou no próprio relatório final, se concluir que a pessoa
indicada não está vinculada ao fato.
Quando estiverem ausentes os elementos capazes de comprovar a
fundamentação do delegado, nascerá ao investigado a possibilidade de pleitear
o desindiciamento ao Juiz competente.
A jurisprudência admite o desindiciamento desde que comprovada a ausência
dos elementos.
Pode sei pleiteada por meio de habeas corpus.
Regras do Interrogatório
Vale-se o delegado dos mesmos critérios do juiz de direito, conforme previsão
feita nos arts. 185 a 196 do Código de Processo Penal, com as adaptações
naturais, uma vez que o indiciado não é ainda réu em ação penal.
Deve respeitar e aplicar o direito ao silêncio, constitucionalmente assegurado
ao investigado (art. 5.º, LXIII, CF).
Não é obrigatória a presença de defensor no interrogatório feito na polícia (art.
185, CPP), nem tampouco há o direito de interferência, a fim de obter
esclarecimentos (art. 188, CPP), pois tais disposições dizem respeito ao direito
à ampla defesa, que não vigora na fase inquisitiva do inquérito.
A autoridade policial não está obrigada a providenciar para o indiciado
advogado legalmente habilitado com o fim de acompanhar o seu interrogatório,
pois o que a Constituição Federal quis, em seu art. 5º, LXIII, foi simplesmente
abrir a possibilidade para que ele, querendo, entre em contato com seu
advogado.
Do mesmo modo, o delegado de polícia não é obrigado a intimar o defensor
técnico para assistir ao ato, inexistindo qualquer vício no interrogatório
realizado sem a sua presença.
Na hipótese de prisão em flagrante, é garantida a assistência de defensor
habilitado, pois a autoridade policial está obrigada, no prazo de 24 horas após
a prisão, a encaminhar cópia integral do auto de prisão em flagrante para a
Defensoria Pública, se o autuado não tiver advogado (art. 306, § 1º, 2ª parte).
O termo de interrogatório deverá ser assinado pela autoridade policial, pelo
escrivão, pelo interrogado e por duas testemunhas que tenham presenciado a
leitura (CPP, art. 6º, V) (note-se que elas não precisarão estar presentes ao
interrogatório, mas só à leitura).
Se o suspeito da prática da infração penal for um membro do Ministério
Público, a autoridade policial não poderá indiciá-lo. Deverá, sob pena de
responsabilidade, encaminhar imediatamente os autos do inquérito ao
Procurador-Geral de Justiça, a quem caberá prosseguir nas investigações (Lei
n. 8.625/93, art. 41, II e parágrafo único).
Se o suspeito for membro integrante do Ministério Público da União, os autos
do inquérito deverão ser enviados ao Procurador-Geral da República (art. 18,
parágrafo único, da LC n. 75/93)

Identificação Criminal: Dactiloscópica E Fotográfica


A identificação criminal é a individualização física do indiciado, para que não se
confunda com outra pessoa, por meio da colheita das impressões digitais, da
fotografia e da captação de material biológico para exame de DNA.
A Constituição Federal, no art. 5.º, LVIII, preceituou que “o civilmente
identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses
previstas em lei”.
A identificação criminal poderá incluir a coleta de material biológico para a
obtenção do perfil genético (cf. art. 5º, parágrafo único). Nessa hipótese, os
dados relacionados à coleta do perfil genético deverão ser armazenados em
banco de dados de perfis genéticos, gerenciado por unidade oficial de perícia
criminal. Tais informações terão caráter sigiloso,
Dentre providências a serem tomadas pela autoridade policial quando do
indiciamento, deverá, ainda, ser juntada aos autos a sua folha de
antecedentes, averiguada a sua vida pregressa e, se a autoridade julgar
conveniente, procedida a identificação mediante tomada fotográfica, pois, como
já assinalado, a identificação criminal compreende a datiloscópica (impressões
digitais) e a fotográfica

Reconstituição do crime
CPP - Art. 7o Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada
de determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução
simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem
pública.
Pode serimportante fonte de prova, até mesmo para aclarar ao juiz (e aos
jurados, no Tribunal do Júri) como se deu a prática da infração penal (art. 7.º,
CPP).
A simulação é feita utilizando o réu, a vítima e outras pessoas convidadas a
participar, apresentando-se, em fotos e esquemas, a versão oferecida pelo
acusado e a ofertada pelo ofendido ou outras testemunhas.
Visualizando o sítio dos acontecimentos, a autoridade judiciária, o
representante do Ministério Público e o defensor poderão formar, com maior
eficácia, suas convicções.
O réu não está obrigado a participar da reconstituição do crime, pois ninguém é
obrigado a produzir prova contra si.
Somente o fará se houver interesse da defesa.
Veda-se a reconstituição do crime que ofenda a moralidade (regras éticas de
conduta, espelhando o pudor social) e a ordem pública (segurança e paz
sociais).
A realização da reprodução simulada dos autos pode ser indeferida pelo Juiz
se esse não achar relevante para dirimir dúvidas.

Outras Funções Da Autoridade Policial Durante O Inquérito


O delegado de polícia possui outras funções durante o tramitar do inquérito:
CPP Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial:
I — fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução
e julgamento dos processos;
II — realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público;
III — cumprir os mandados de prisão expedidos pelo juiz;
IV — representar acerca da prisão preventiva.

CONCLUSÃO DO INQUÉRITO
CPP - Art. 10 - O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado
tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o
prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou
no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.
§ 1o A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará
autos ao juiz competente.
§ 2o No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem
sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas.
§ 3o Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a
autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores
diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.
Ao considerar encerradas as diligências, a autoridade policial deve elaborar um
relatório descrevendo as providências tomadas durante as investigações.
Esse relatório é a peça final do inquérito, que será então remetido ao juízo sem
expender opiniões, julgamentos ou qualquer juízo de valor, devendo, ainda,
indicar as testemunhas que não foram ouvidas (art. 10, § 2º), bem como as
diligências não realizadas.
Deverá, ainda, a autoridade justificar, em despacho fundamentado, as razões
que a levaram à classificação legal do fato, mencionando, concretamente, as
circunstâncias, sem prejuízo de posterior alteração pelo Ministério Público.
Encerrado o inquérito e feito o relatório, os autos serão remetidos ao juiz
competente, acompanhados dos instrumentos do crime dos objetos que
interessarem à prova.
O art. 11 do Código de Processo Penal dispõe que os instrumentos do crime,
bem como os objetos que interessarem à prova, acompanharão os autos do
inquérito policial quando encaminhados ao juízo.

CPP Art. 11. Os instrumentos do crime, bem como os objetos que


interessarem à prova, acompanharão os autos do inquérito.
CPP Art.12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre
que servir de base a uma ou outra.

Findo o inquérito, o Ministério Público pode devolver os autos para novas


diligências, que entender imprescindíveis (CPP, art. 16); a regra deve ser
aplicada por analogia, ao ofendido, sempre que se tratar de ação de sua
iniciativa.
CPP Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a devolução do inquérito à
autoridade policial, senão para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da
denúncia.

Não há qualquer motivo para que o juiz indefira o pedido de retorno dos autos à
Delegacia de origem para novas diligências, quando a solicitação for feita pelo
ofendido
Mesmo após ter sido efetivado o arquivamento do inquérito por falta de base
para a denúncia, a autoridade policial pode realizar novas diligências a fim de
obter provas novas, se da existência delas tiver notícia.
Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito
CPP Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade
judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá
proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia
Caso efetivamente sejam obtidas provas novas relevantes, a ação penal
poderá ser proposta com fundamento nelas, desarquivando-se o inquérito
policial.
Súmula n. 524 do Supremo Tribunal Federal: “ar­quivado o inquérito policial,
por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação
penal ser iniciada sem novas provas”.
Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito
serão remetidos ao juízo competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido
ou de seu representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o pedir,
mediante traslado.
CPP Art. 23. Ao fazer a remessa dos autos do inquérito ao juiz competente, a
autoridade policial oficiará ao Instituto de Identificação e Estatística, ou repartição
congênere, mencionando o juízo a que tiverem sido distribuídos, e os dados relativos à
infração penal e à pessoa do indiciado.

Prazos para conclusão


Dependem de estar o indiciado solto ou preso.
o Indiciado solto
Prazo é de 30 dias.
Tal prazo poderá ser prorrogado quando o fato for de difícil elucidação.
O pedido de dilação de prazo deve ser encaminhado pela autoridade
policial ao Ministério Público, pois este órgão poderá discordar do pedido
de prazo e, de imediato, oferecer denúncia ou promover o arquivamento
do inquérito.
Se houver concordância por parte do Ministério Público, será deferido
novo prazo, que será por ele próprio fixado.
O pedido de dilação de prazo pode ser repetido quantas vezes se
mostre necessário.

o Indiciado preso em flagrante ou por prisão preventiva


O prazo para a conclusão é de 10 dias.
▪ No caso de prisão em flagrante, só deverá ser obedecido referido
prazo se o juiz, ao receber a cópia do flagrante (em 24 horas a
contar da prisão), convertê-la em prisão preventiva (conforme
determina o art. 310, II, do CPP), hipótese em que se conta o prazo
a partir do ato da prisão em flagrante.
Assim, se entre esta e sua conversão em preventiva passarem-se 2
dias, o inquérito terá apenas mais 8 dias para ser finalizado.
▪ Se ao receber a cópia do flagrante o juiz conceder liberdade
provisória, o prazo para a conclusão do inquérito será de 30 dias.
▪ Se o indiciado estava solto ao ser decretada sua prisão preventiva, o
prazo de 10 dias conta-se da data do cumprimento do mandado, e
não da decretação.
▪ Na contagem do prazo, inclui-se o primeiro dia, ainda que a prisão
tenha se dado poucos minutos antes da meia-noite.
Prisão temporária
A prisão temporária, prevista na Lei n. 7.960/89, é uma modalidade de prisão
cautelar cabível somente na fase inquisitorial e, nos termos da lei, possui prazo
máximo de duração de 5 dias, prorrogáveis por mais 5, em caso de extrema e
comprovada necessidade nos crimes comuns, e de 30 dias, prorrogáveis por
igual período, nos crimes definidos como hediondos, tráfico de drogas,
terrorismo e tortura.
Tais prazos, entretanto, referem-se à duração da prisão, e não da investigação.
Encerrado o prazo sem que a autoridade tenha conseguido as provas que
buscava, poderá, após soltar o investigado, continuar com as diligências.
Se for decretada prisão temporária em crime hediondo ou equiparado, o
indiciado pode permanecer preso por até 60 dias, sem que seja necessária a
conclusão do inquérito.
Prazos em leis especiais
Exceções em legislações especiais:
a) O art. 51, caput, da Lei n. 11.343/2006 (Lei Antidrogas) estipula que, para os
crimes de tráfico, o prazo será de 30 dias, se o indiciado estiver preso, e de 90
dias, se estiver solto.
Tais prazos, ademais, poderão ser duplicados pelo juiz mediante pedido
justificado da autoridade policial, ouvido o Ministério Público (art. 51, parágrafo
único).
b) Nos crimes de competência da Justiça Federal, o prazo é de 15 dias,
prorrogáveis por mais 15 (art. 66 da Lei n. 5.010/66).
O que o tráfico internacional de entorpecentes, apesar de competir à Justiça
Federal, segue o prazo mencionado no tópico anterior, uma vez que a Lei de
Drogas é especial e posterior

Contagem do prazo
No Processo Penal, continua-se contando os prazos processuais em dias
corridos, excluindo-se o dia inicial e incluindo o de vencimento.
“Art. 798. Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e
peremptórios, não se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado.
No caso da prisão provisória, a restrição à liberdade não se dá em virtude de
um aumento da pretensão punitiva, mas de mera conveniência ou necessidade
para o processo, daí aplicarem-se as regras do art. 798, § 1º, do CPP.

Direito de defesa dos agentes da segurança pública e das forças armadas


em investigação criminal
CPP Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às instituições
dispostas no art. 144 da Constituição Federal figurarem como investigados em
inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e demais procedimentos
extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de fatos relacionados ao uso da
força letal praticados no exercício profissional, de forma consumada ou
tentada, incluindo as situações dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de
7 de dezembro de 1940 (Código Penal), o indiciado poderá constituir defensor
§ 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá ser
citado da instauração do procedimento investigatório, podendo constituir
defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito) horas a contar do recebimento da
citação.
§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com ausência de
nomeação de defensor pelo investigado, a autoridade responsável pela
investigação deverá intimar a instituição a que estava vinculado o investigado à
época da ocorrência dos fatos, para que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito)
horas, indique defensor para a representação do investigado.

Controle de arquivamento do inquérito policial e de peças de informação


CPP Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer
elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público
comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial e encaminhará os
autos para a instância de revisão ministerial para fins de homologação, na
forma da lei.
§ 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o
arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do
recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão da instância
competente do órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica.
§ 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimento da União,
Estados e Municípios, a revisão do arquivamento do inquérito policial poderá
ser provocada pela chefia do órgão a quem couber a sua representação
judicial.

Competência no inquérito policial


CPP Art. 22. No Distrito Federal e nas comarcas em que houver mais de uma
circunscrição policial, a autoridade com exercício em uma delas poderá, nos
inquéritos a que esteja procedendo, ordenar diligências em circunscrição de
outra, independentemente de precatórias ou requisições, e bem assim
providenciará, até que compareça a autoridade competente, sobre qualquer
fato que ocorra em sua presença, noutra circunscrição.

13. PRISÃO
CONCEITO
É a privação da liberdade, tolhendo-se o direito de ir e vir, através do
recolhimento da pessoa humana ao cárcere.
FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL DA PRISÃO
CF – art. 5 - XI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão
comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à
pessoa por ele indicada;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer
calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado
LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou
por seu interrogatório policial;
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;
A regra é que a prisão, no Brasil, deve basear-se em decisão de magistrado
competente, devidamente motivada e reduzida a escrito, ou necessita decorrer
de flagrante delito, neste caso cabendo a qualquer do povo a sua
concretização.

ESPÉCIES DE PRISÃO
Em matéria criminal existem duas modalidades de prisão.
Prisão Pena
• Refere-se ao cumprimento de pena por parte de pessoa definitivamente
condenada a quem foi imposta pena privativa de liberdade na sentença.
• É regulamentada na Parte Geral do Código Penal (arts. 32 a 42) e
também pela Lei de Execuções Penais (Lei n. 7.210/84).
• Seu cumprimento se dá em regime fechado, semiaberto ou aberto,
podendo o réu progredir de regime mais severo para os mais brandos
após o cumprimento de parte da pena e desde que tenha demonstrado
méritos para a progressão.
Prisão processual, provisória ou cautelar
• É decretada quando existe a necessidade de segregação cautelar do
autor do delito durante as investigações ou o tramitar da ação penal por
razões que a própria legislação processual elenca.
• Esta modalidade de prisão, também chamada de provisória ou cautelar,
é regulamentada pelos arts. 282 a 318 do Código de Processo Penal,
bem como pela Lei n. 7.960/89.
O princípio constitucional da presunção de inocência, segundo o qual ninguém
será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória (art. 5º, LVII, da CF), não impede a decretação da prisão
processual, uma vez que a própria Constituição, em seu art. 5º, LXI, prevê a
possibilidade de prisão em flagrante ou por ordem escrita e fundamentada do
juiz competente.
A prisão processual é medida excepcional, que só deve ser decretada ou
mantida quando houver efetiva necessidade (alta periculosidade do réu,
evidência de que irá fugir do país para não ter que cumprir pena etc.).
O tempo que o indiciado ou réu permanecer cautelarmente na prisão será
descontado de sua pena em caso de futura condenação (detração penal).
São previstas duas formas de prisão processual (ou cautelar):
• Prisão em flagrante
• Prisão preventiva
Após a Lei n. 12.403/2011, a prisão decorrente do flagrante passou a ter
brevíssima duração, pois o delegado enviará ao juiz cópia do auto em até 24
horas após a prisão, e este, imediatamente, deverá convertê-la em preventiva
ou conceder liberdade provisória.
A terceira modalidade de prisão cautelar é a prisão temporária, regulamentada
em lei especial — Lei n. 7.960/89.
Constitui crime de abuso de autoridade, descrito no art. 9º, caput, da Lei n.
13.869/2019, “decretar medida de privação da liberdade em manifesta
desconformidade com as hipóteses legais”.
A pena é de detenção, de 1 a 4 anos, e multa.
Lei nº 13.869/2019 - Art. 9º, parágrafo único, inciso I - Toda prisão deverá ser
devidamente comunicada ao juiz processante, que deverá relaxá-la, se ilegal,
sob pena de cometimento do crime de abuso de autoridade

FORMALIDADES DA PRISÃO
CPP Art.282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser
aplicadas observando-se a:
I – necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução
criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de
infrações penais;
II – adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e
condições pessoais do indiciado ou acusado.
§ 1.º As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou
cumulativamente.
§ 2.º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das
partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da
autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público.
§ 3.º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida,
o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da
parte contrária, para se manifestar no prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de
cópia do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos em
juízo, e os casos de urgência ou de perigo deverão ser justificados e
fundamentados em decisão que contenha elementos do caso concreto que
justifiquem essa medida excepcional.
§ 4.º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz,
mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do
querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em
último caso, decretar a prisão preventiva, nos termos do parágrafo único do art.
312 deste Código.
§ 5.º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a medida cautelar
ou substituí-la quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem como
voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.17
§ 6.º A prisão preventiva somente será determinada quando não for cabível a
sua substituição por outra medida cautelar, observado o art. 319 deste Código,
e o não cabimento da substituição por outra medida cautelar deverá ser
justificado de forma fundamentada nos elementos presentes do caso concreto,
de forma individualizada.
CPP Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por
ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em
decorrência de prisão cautelar ou em virtude de condenação criminal transitada
em julgado.
§ 1o As medidas cautelares previstas neste Título não se aplicam à infração a
que não for isolada, cumulativa ou alternativamente cominada pena privativa de
liberdade.
§ 2o A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qualquer hora,
respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do domicílio.
Cumprimento do mandado de prisão

Respeito ao domicílio
O §2º do art. 283 do CPP, diz que a prisão poderá ser efetuada em qualquer
dia e a qualquer hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do
domicílio, previstas no artigo 5º, XI, da CF:
CF Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (...)
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou
para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;
O cumprimento de um mandado de prisão ou mandado decorrente de uma
sentença penal condenatória transitado em julgado só pode ser realizado
durante o dia, salvo se houver consentimento do morador para ingresso no
imóvel.
Nos casos de flagrante delito, é possível a entrada no imóvel em qualquer
momento.
Se for durante o dia: O morador será intimado acerca da ordem de prisão, e
ao recursar-se a abrir a porta ou entregar-se o executor do mandado convocará
duas testemunhas e entrará à força, arrombando as portas, se preciso for.
Se for durante a noite: O morador será intimado acerca da ordem de prisão, e
ao recursar-se a abrir a porta ou entregar-se o executor do mandado deve
aguardar do lado de fora da casa, cercando todas as saídas, tornando a casa
incomunicável e, logo que amanhecer, proceder à efetivação da prisão.
Flagrante delito, desastre ou para fins de socorro: Qualquer hora do dia ou
da noite, autorizando o ingresso do domicílio mesmo sem o consentimento do
morador.
CPP Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com segurança, que o réu
entrou ou se encontra em alguma casa, o morador será intimado a entregá-lo,
à vista da ordem de prisão. Se não for obedecido imediatamente, o executor
convocará duas testemunhas e, sendo dia, entrará à força na casa,
arrombando as portas, se preciso; sendo noite, o executor, depois da intimação
ao morador, se não for atendido, fará guardar todas as saídas, tornando a casa
incomunicável, e, logo que amanheça, arrombará as portas e efetuará a prisão.
Parágrafo único. O morador que se recusar a entregar o réu oculto em sua
casa será levado à presença da autoridade, para que se proceda contra ele
como for de direito.
Parte da doutrina entende que o mandado de prisão por si só não autoriza o
ingresso no domicílio, sendo também necessário que o juiz expeça um
mandado de busca e apreensão.
No caso de prisão em flagrante, observa-se o disposto no artigo 293 do CPP
apenas naquilo em que for aplicável. Pode-se adentrar na residência até
mesmo no período noturno, como dito anteriormente.
Proibição do uso da força
CPP Art. 284. Não será permitido o emprego de força, salvo a indispensável
no caso de resistência ou de tentativa de fuga do preso.
CPP Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à prisão
em flagrante ou à determinada por autoridade competente, o executor e as
pessoas que o auxiliarem poderão usar dos meios necessários para defender-
se ou para vencer a resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também
por duas testemunhas.
Parágrafo único. É vedado o uso de algemas em mulheres grávidas durante os
atos médico-hospitalares preparatórios para a realização do parto e durante o
trabalho de parto, bem como em mulheres durante o período de puerpério
imediato.
Súmula Vinculante n° 11 do STF - Esta súmula dispõe sobre o uso de algemas.
Só é lícito o uso de algemas em casos de:
• Resistência e de fundado receio de fuga
• Perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de
terceiros
• O uso é excepcional e esta excepcionalidade deve ser justificada em
cada caso por escrito.
• Caso não haja justificativa da excepcionalidade, há pena de:
o Responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da
autoridade
o Nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere
Mudança de território
Em caso de perseguição, o artigo 290 do CPP, prevê a possibilidade de o
executor efetuar a prisão no território em que o condenado se encontra e
apresentar o indivíduo à autoridade daquele local:
Art. 290. Se o réu, sendo perseguido, passar ao território de outro município ou
comarca, o executor poderá efetuar-lhe a prisão no lugar onde o alcançar,
apresentando-o imediatamente à autoridade local, que, depois de lavrado, se
for o caso, o auto de flagrante, providenciará para a remoção do preso.
§ 1o - Entender-se-á que o executor vai em perseguição do réu, quando:
a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem interrupção, embora depois o tenha
perdido de vista;
b) sabendo, por indícios ou informações fidedignas, que o réu tenha passado,
há pouco tempo, em tal ou qual direção, pelo lugar em que o procure, for no
seu encalço.
§ 2o Quando as autoridades locais tiverem fundadas razões para duvidar da
legitimidade da pessoa do executor ou da legalidade do mandado que
apresentar, poderão pôr em custódia o réu, até que fique esclarecida a dúvida.
Art. 285. A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o respectivo
mandado.
Parágrafo único. O mandado de prisão:
a) será lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade;
b) designará a pessoa, que tiver de ser presa, por seu nome, alcunha ou sinais
característicos;
c) mencionará a infração penal que motivar a prisão;
d) declarará o valor da fiança arbitrada, quando afiançável a infração;
e) será dirigido a quem tiver qualidade para dar-lhe execução
Art. 286. O mandado será passado em duplicata, e o executor entregará ao
preso, logo depois da prisão, um dos exemplares com declaração do dia, hora
e lugar da diligência. Da entrega deverá o preso passar recibo no outro
exemplar; se recusar, não souber ou não puder escrever, o fato será
mencionado em declaração, assinada por duas testemunhas.
Art. 287. Se a infração for inafiançável, a falta de exibição do mandado não
obstará a prisão, e o preso, em tal caso, será imediatamente apresentado ao
juiz que tiver expedido o mandado, para a realização de audiência de custódia.
O art. 287 coloca uma exceção para a obrigatoriedade de apresentação do
mandado.
Art. 288. Ninguém será recolhido à prisão, sem que seja exibido o mandado ao
respectivo diretor ou carcereiro, a quem será entregue cópia assinada pelo
executor ou apresentada a guia expedida pela autoridade competente,
devendo ser passado recibo da entrega do preso, com declaração de dia e
hora.
Parágrafo único. O recibo poderá ser passado no próprio exemplar do
mandado, se este for o documento exibido.
Art. 291. A prisão em virtude de mandado entender-se-á feita desde que o
executor, fazendo-se conhecer do réu, Ihe apresente o mandado e o intime a
acompanhá-lo.
Prisão especial
Previsto no artigo 295 do CPP.
É a prisão que se dá antes da condenação definitiva (com trânsito em julgado)
para determinadas pessoas (“presos especiais”).
Nos casos de prisão cautelar, prisão em flagrante, prisão preventiva ou prisão
temporária, as pessoas previstas no referido artigo gozarão de prisão especial.
São elas:
• Ministros de Estado
• Governadores ou interventores de Estados ou Territórios
• Prefeito do Distrito Federal e seus respectivos secretários
• Prefeitos municipais, vereadores e chefes de Polícia
• Membros do Parlamento Nacional, do Conselho de Economia Nacional e
das Assembleias Legislativas dos Estados
• Cidadãos inscritos no "Livro de Mérito"
• Oficiais das Forças Armadas e militares dos Estados, do Distrito Federal
e dos Territórios
• Magistrados
• Diplomados por faculdades superiores da República
• Ministros de confissão religiosa
• Ministros do Tribunal de Contas
• Cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a função de jurado (salvo
quando excluídos da lista por motivo de incapacidade para o exercício
daquela função)
• Delegados de polícia e guardas-civis dos Estados e Territórios (ativos e
inativos)
Os presos especiais não são transportados junto com presos comuns e devem
ser recolhidos a locais distintos da prisão comum (quartéis ou a prisões
especiais), à disposição da autoridade competente.
Eles poderão ser recolhidos nos mesmos estabelecimentos prisionais que os
demais presos apenas quando não houver um estabelecimento específico.
Nestes casos, devem permanecer em em cela distinta (que pode ser em
alojamento coletivo desde que atenda a requisitos de salubridade).
Prisão provisória
Art. 300. As pessoas presas provisoriamente ficarão separadas das que já
estiverem definitivamente condenadas, nos termos da lei de execução penal.
Parágrafo único. O militar preso em flagrante delito, após a lavratura dos
procedimentos legais, será recolhido a quartel da instituição a que pertencer,
onde ficará preso à disposição das autoridades competentes.

PRISÃO EM FLAGRANTE
Modalidade de prisão processual expressamente prevista no art. 5º, LXI, da
Constituição Federal, e regulamentada nos arts. 301 a 310 do Código de
Processo Penal.
A palavra “flagrante” indica que o autor do delito foi visto pratican-do ato
executório da infração penal e, por isso, acabou preso por quem o flagrou e
levado até a autoridade policial.
Insere-se no rol das prisões de natureza provisória.
Tem cunho processual.
Busca na qualidade de medida cautelar, assegurar o efetivo cumprimento da
pena in concreto a ser imposta ao sujeito ativo do delito-tipo.
CF – Art. 5, LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos
de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
CPP - Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus
agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito.
Para maior alcance ao conceito de flagrância, estabeleceu, no art. 302 do
Código de Processo Penal, quatro hipóteses em que referido tipo de prisão é
possível, sendo que, em algumas delas, o criminoso até já deixou o local do
crime.

HIPÓTESES DE PRISÃO EM FLAGRANTE


Flagrante próprio ou real
Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:
I - está cometendo a infração penal;
II - acaba de cometê-la; (...)
Inciso I — Considera--se em flagrante delito quem está cometendo a infração
penal.
• situação em que o sujeito é visto durante a realização dos atos
executórios da infração penal ou colaborando para sua concretização.
• O fato de ser preso em flagrante o autor do crime não possibilita a prisão
de partícipes que não estejam em situação flagrancial.
• Em certos crimes a realização de ato executório dispensa a presença do
agente no local.
Ex.: policiais entram na casa de João da Silva e lá encontram três quilos
de cocaína. João está no clube, e não na própria casa, porém pode ser
preso em flagrante naquele local, já que a conduta típica “guardar”
constitui crime permanente.
Inciso II — Considera--se em flagrante delito quem acaba de cometer a
infração.
• Hipótese em que o sujeito é encontrado ainda no local dos fatos,
imediatamente após encerrar os atos de execução do delito.
• É o que ocorre quando vizinhos acionam a polícia por ouvir disparos
dentro de uma residência e os policiais, lá chegando, encontram a vítima
morta e o homicida ao lado.

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