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Direito Processual Penal 1 PROV
Direito Processual Penal 1 PROV
4. PROCESSO
O Estado detém o monopólio da administração da justiça.
O ordenamento jurídico considera crime fazer justiça com as próprias mãos
(CP, art. 345). - Autotutela
O processo é o meio pelo qual o Estado procede à composição da lide,
aplicando o direito ao caso concreto e dirimindo os conflitos de interesse.
A jurisdição é a função; o processo, o instrumento de sua atuação.
4.1. Elementos identificadores da relação processual
Os elementos que identificam a relação processual, diferenciando-a da relação
de direito material, são:
4.1.1. Sujeitos processuais
• Estado-Juiz
• autor
• réu
• o juiz não é propriamente um sujeito do processo, mas apenas órgão,
por cujo intermédio o Estado-Juiz exerce o seu dever-poder, que é a
função jurisdicional
4.1.2. Objeto da relação processual
No plano material- é o próprio bem da vida, sobre o qual versa o conflito de
interesses.
Quanto à relação processual, o objeto que lhe é peculiar é o próprio provimento
jurisdicional pedido ao Estado.
4.1.3. Pressupostos processuais
• Subjetivos (respeitantes aos sujeitos principais da relação processual):
o quanto ao juiz:
▪ investidura;
▪ competência (CPP, art. 95, II);
▪ imparcialidade (CPP, arts. 95, I, e 112).
o quanto às partes:
▪ capacidade de ser parte;
▪ capacidade processual;
▪ capacidade postulatória (CPP, arts. 44 e 257, I).
• Objetivos:
o extrínsecos: inexistência de fatos impeditivos - litispendência, coisa
julgada (CPP, art. 95, III e V) etc.;
o intrínsecos: regularidade procedimental (CPP, art. 24).
Princípio do contraditório
Toda alegação fática ou apresentação de prova, feita no processo por uma das
partes, tem o adversário o direito de se manifestar, havendo um perfeito
equilíbrio na relação estabelecida entre a pretensão punitiva do Estado e o
direito à liberdade e à manutenção do estado de inocência do acusado.
CF - art. 5.º, LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes;
Princípio da Lealdade Processual – impõe deveres de moralidade e
probidade a todos que participam do processo.
O desrespeito ao dever de lealdade processual é considerado ilícito
processual, que pode ser punido nas sanções processuais de ato atentatório à
dignidade da justiça ou litigância de má-fé.
Princípio do juiz natural e imparcial
O Estado, na persecução penal, deve assegurar às partes, para julgar a causa,
a escolha de um juiz previamente designado por lei e de acordo com as
normas constitucionais.
Evita-se, com isso, o juízo ou tribunal de exceção (art. 5.º, XXXVII, CF).
A preocupação maior desse princípio é assegurar a imparcialidade do juiz.
Pacto de São José da Costa Rica - art. 8.º, item 1: “Toda pessoa tem o direito
de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um
juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido
anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada
contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza
civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza” (destaque nosso).
Para não perder a sua imparcialidade, não pode o juiz agir de ofício para dar
início à ação penal.
Art. 5.º, LIII, CF: “Ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente”.
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
Princípio da publicidade
Os atos processuais devem ser realizados publicamente, à vista de quem
queira acompanhá-los, sem segredos e sem sigilo.
É o que permite o controle social dos atos e decisões do Poder Judiciário.
Em algumas situações excepcionais, a Constituição ressalva a possibilidade de
se restringir a publicidade.
Quando houver interesse social ou a intimidade o exigir, o juiz pode limitar o
acesso à prática dos atos processuais, ou mesmo aos autos do processo,
apenas às partes envolvidas (art. 5.º, LX, CF)
CF - art. 5.º, XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos
informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que
serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;
LX, - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a
defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem.
Princípio da oficialidade
Expressa ser a persecução penal uma função primordial e obrigatória do
Estado. As tarefas de investigar, processar e punir o agente do crime cabem
aos órgãos constituídos do Estado, através da polícia judiciária, do Ministério
Público e do Poder Judiciário.
A Constituição Federal assenta as funções de cada uma das instituições
encarregadas de verificar a infração penal, possibilitando a aplicação da
sanção cabível.
▪ Polícia judiciária - cumpre investigar (art. 144, § 1.º, I, II, IV, e § 4.º);
▪ Ministério Público - cabe ingressar com a ação penal e provocar a
atuação da polícia, requisitando diligências investigatórias e a
instauração de inquérito policial, fiscalizando-a (art. 129, I e VIII);
▪ Poder Judiciário - cumpre a tarefa de aplicar o direito ao caso concreto
(art. 92 e ss.).
Não há possibilidade de se entregar ao particular a tarefa de exercer qualquer
tipo de atividade no campo penal punitivo.
Oficiosidade
As autoridades públicas incumbidas da persecução penal devem agir de ofício,
à exceção dos limites legais que lhe são impostos, sem necessidade de
provocação ou de assentimento de outrem.
Princípio da intranscendência
Assegura que a ação penal não deve transcender da pessoa a quem foi
imputada a conduta criminosa.
É decorrência natural do princípio penal de que a responsabilidade é pessoal e
individualizada, não podendo dar-se sem dolo e sem culpa (princípio penal da
culpabilidade, ou seja, não pode haver crime sem dolo e sem culpa), motivo
pelo qual a imputação da prática de um delito não pode ultrapassar a pessoa
do agente, envolvendo terceiros, ainda que possam ser consideradas
civilmente responsáveis pelo delinquente.
Princípio da oralidade
A palavra oral deve prevalecer, em algumas fases do processo.
Os princípios que decorrem da oralidade são os seguintes:
▪ concentração - toda a colheita da prova e o julgamento devem dar-se
em uma única audiência ou no menor número delas;
▪ imediatidade - o magistrado deve ter contato direto com a prova
produzida, formando mais facilmente sua convicção;
▪ identidade física do juiz - o magistrado que preside a instrução, colhendo
as provas, deve ser o que julgará o feito, vinculando-se à causa.
Princípio da indivisibilidade da ação penal privada
Significa que não pode o ofendido, ao valer-se da queixa-crime, eleger contra
qual dos seus agressores – se houver mais de um – ingressará com ação
penal.
Esta é indivisível.
CPP - Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao
processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade.
Princípio da colegialidade
Cuida-se de decorrência lógica do princípio constitucional implícito do duplo
grau de jurisdição, significando que a parte tem o direito de, recorrendo a uma
instância superior ao primeiro grau de jurisdição, obter um julgamento proferido
por órgão colegiado.
A ideia é promover a reavaliação por um grupo de magistrados, não mais se
entregando a causa a um juiz único.
10.1. Juiz
Desempenha a função de aplicar o direito ao caso concreto, provido que é do
poder jurisdicional, razão pela qual, na relação processual, é sujeito, mas não
parte.
Atua como órgão imparcial, à parte do binômio acusação versus defesa.
No âmbito da capacidade processual do juiz, outras qualidades são exigidas
para legitimar o exercício de sua função judicante: investidura, capacidade e
imparcialidade.
Incompatibilidade do juiz (art. 112, CPP) – são situações que não se incluem
nas hipóteses de impedimento ou suspeição, mas que possam interferir na
imparcialidade do julgador
CPP - Art. 112. O juiz, o órgão do Ministério Público, os serventuários ou
funcionários de justiça e os peritos ou intérpretes abster-se-ão de servir no
processo, quando houver incompatibilidade ou impedimento legal, que
declararão nos autos. Se não se der a abstenção, a incompatibilidade ou
impedimento poderá ser argüido pelas partes, seguindo-se o processo
estabelecido para a exceção de suspeição.
Impedimento
Considera-se impedido de atuar o juiz que é parcial, situação presumida pela
lei, em casos específicos.
Logo, as hipóteses previstas no art. 252 do CPP, de caráter objetivo, indicam a
impossibilidade de exercício jurisdicional em determinado processo.
A sua infração implica inexistência dos atos praticados
CPP - Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:
I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, em linha
reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado,
órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;
• o impedimento acontece com pais, filhos, avôs, bisavôs, sogros, genros,
irmãos, padrastos, enteados, tios, sobrinhos e cunhados durante o
cunhadio.
II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido
como testemunha;
III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou
de direito, sobre a questão;
• O impedimento somente ocorrerá quando o magistrado tiver, nesta
qualidade, funcionado em outra instância inferior ou superior e não
quando tiver sido exercida no mesmo juízo em que se encontra.
• A incompatibilidade será quando o magistrado houver praticado ato
decisório, incidente sobre questão fática ou de Direito
• Não tem incidência do impedimento “quando proferir apenas despachos
ordinatórios relativos à marcha ou andamento do processo, de maneira
a não ter emitido seu pensamento decisório sobre alguma questão.
• a rejeição da denúncia pelo magistrado, por entender não ter havido a
prática de crime, não é causa geradora de seu impedimento para
funcionar no processo em outra instância.
IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim em linha reta
ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado
no feito.
▪ As hipóteses de impedimento contidas no preceito examinado são
taxativas
▪ “Impedido está o juiz que tem relação com o objeto da causa.
▪ presume-se, de forma absoluta, a parcialidade do juiz
▪ ato eivado de nulidade absoluta
▪ Impedimento apurado após decretação da preventiva: não afasta a
validade da prisão cautelar.
▪
O impedimento priva o juiz da jurisdictio e torna inexistentes os atos por ele
praticados
CPP - Art. 253. Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo
os juízes que forem entre si parentes, consangüíneos ou afins, em linha reta ou
colateral até o terceiro grau, inclusive.
Suspeição do juiz
A suspeição é causa de parcialidade do juiz, viciando o processo, caso haja
sua atuação.
Ofende, primordialmente, o princípio constitucional do juiz natural e imparcial.
O rol é exemplificativo
CPP - Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser
recusado por qualquer das partes:
I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;
• “a amizade íntima, em particular, traduz-se pela convivência frequente,
pela familiaridade no tratamento, prestação reiterada de favores e outras
manifestações exteriores de acentuada estima.
• Inimigo capital - significa ódio, rancor ou desejo de vingança nutrido pelo
magistrado a uma das partes.2
II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a
processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;
III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau,
inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser
julgado por qualquer das partes;
IV - se tiver aconselhado qualquer das partes;
• se o magistrado, de forma direta ou indireta, indicou a parte como
deveria ser seu procedimento em determinado processo; qual a forma
de melhor direcioná-lo; o que deveria ser feito para o resguardo de seu
interesse.
• A suspeição ocorre quando o juiz age como consultor ou como
conselheiro da parte, emitindo sua opinião julgadora
V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;
• o vínculo obrigacional entre juiz, autor ou réu gera, também, a
suspeição, quer tenha o magistrado o direito de receber algum crédito
de uma das partes, quer tenha ele o dever de satisfazer algum débito
em relação a elas.
• situação de verdadeira dependência entre o juiz e as partes, cujo
comprometimento não lhe permite ter absoluta isenção de ânimo quanto
ao julgamento da lide.
Vl - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no
processo.
• a suspeição decorre do relacionamento comercial entre o juiz e uma
empresa comercial, a título de sócio, acionista ou administrador, desde
que tal sociedade tenha interesse na decisão da lide.
Deve ter capacidade subjetiva para que, efetivamente, possa exercer a
jurisdição com equilíbrio.
Presunção relativa de parcialidade do juiz (juris tantum)
Necessidade de comprovação das causas de suspeição
mas de mero interesse entre o julgador e a matéria em debate.
Um juiz suspeito na condução da causa é nulidade relativa.
Cabe à parte interessada reclamar a tempo o afastamento do magistrado,
ingressando com a exceção de suspeição.
Se não o fizer, mantém-se o juiz na causa.
Momento para arguir a suspeição do juiz: assim que a parte tomar
conhecimento do motivo que o torna suspeito para julgar a causa. Passando
esse instante processual, já não se poderá reclamar do magistrado, pelo
advento da preclusão.
Vício externo, decorrente de vínculo estabelecido entre o juiz e a parte ou entre
o juiz e a matéria discutida
As causas de impedimento ou de suspeição dos juízes togados são aplicáveis
aos jurados, juízes leigos, que igualmente decidem “de fato”, nas deliberações
do Júri
Suspeição por motivo de foro íntimo - A hipótese não se encontra disciplinada
pelo Código de Processo Penal. O Código de Processo Civil a contempla em
seu art. 135, parágrafo único, in verbis: “Poderá ainda o juiz declarar-se
suspeito por motivo íntimo.”
Motivo íntimo significa que o magistrado pode afastar-se do processo sem
necessidade de revelar a razão. Basta a ele alegar motivo de foro íntimo.
CPP- Art. 255. O impedimento ou suspeição decorrente de parentesco por
afinidade cessará pela dissolução do casamento que Ihe tiver dado causa,
salvo sobrevindo descendentes; mas, ainda que dissolvido o casamento sem
descendentes, não funcionará como juiz o sogro, o padrasto, o cunhado, o
genro ou enteado de quem for parte no processo.
CPP - Art. 256. A suspeição não poderá ser declarada nem reconhecida,
quando a parte injuriar o juiz ou de propósito der motivo para criá-la.
Os poderes instrutórios do juiz somente podem ser exercidos após a atuação
das partes na produção da prova
CPP - Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém,
facultado ao juiz de ofício:
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de
provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade,
adequação e proporcionalidade da medida;
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a
realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.
10.3. ACUSADO
É a pessoa a quem se imputa a ação penal.
É o sujeito passivo da relação processual.
Pode ser tanto a pessoa física, desde que maior de dezoito anos, quanto a
pessoa jurídica.
Há a previsão expressa no art. 3.º da Lei 9.605/98, permitindo que figure como
autora de crimes contra o meio ambiente a pessoa jurídica, o que é
expressamente autorizado pela Constituição Federal (art. 225, § 3.º).
“só estão legitimados a ser acusados os que puderem ser sujeitos passivos de
uma pretensão punitiva.
Para ser sujeito passivo é necessário que a pessoa a quem se imputa a prática
de um crime preencha alguns requisitos
• como capacidade para ser parte, que toda pessoa adquire pelo simples
fato de ser sujeito de direitos e obrigações (excluem-se, portanto, os
animais e os mortos)
• capacidade processual, ou capacidade para estar em juízo em nome
próprio (legitimatio ad processum), que no processo penal advém com a
idade de 18 anos.
• Até mesmo o deficiente mental, pois a ele poderá ser imposta, ao final
do processo, medida de segurança (CP, art. 97; CPP, art. 386, parágrafo
único, III).
Não podem ser acusadas as pessoas que gozam de imunidade parlamentar ou
diplomática.
Enquanto transcorre a investigação, deve-se denominá-lo de indiciado, se,
formalmente, apontado como suspeito pelo Estado.
No momento do oferecimento da denúncia, o correto é chamá-lo de
denunciado ou imputado.
Após o recebimento da denúncia, torna-se acusado ou réu.
Princípio da intranscendência - art. 5o, XLV (“nenhuma pena passará da
pessoa do condenado [...]”),
Princípio da individualização - art. 5o XLVI - (“a lei regulará a individualização
da pena [...]”).
Identificação - É a individualização do acusado perante as demais pessoas,
ditada pela necessidade em se certificar que aquela submetida ao processo é a
mesma à qual se imputam os fatos.
A ação penal somente pode ser promovida contra pessoa individualizada e
devidamente identificada, conforme preceituado no art. 41 do Código de
Processo Penal.
São dados individualizantes da pessoa: o nome, o prenome, o estado civil, a
profissão, a filiação, o apelido, a residência e a idade.
Não sendo possível identificar o acusado por esses elementos, o Código de
Processo Penal permite ao Ministério Público e ao querelante fazerem-no por
meio de outras características.
Na ação penal privada promovida por intermédio de queixa-crime ou querela, é
ele denominado querelado.
Proteção contra a autoincriminação - Em juízo, como forma de manifestação da
autodefesa, o réu pode optar por calar-se, tal como lhe faculta o art. 5º, LXIII,
da Constituição Federal, sem que do exercício dessa prerrogativa fundamental
se possa extrair qualquer presunção em seu desfavor.
CPP - Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor
da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o
interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de não responder
perguntas que lhe forem formuladas.
Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser
interpretado em prejuízo da defesa.
10.4. DEFENSOR
Defensor: deve ser sempre advogado, que, segundo o disposto no art. 133 da
Constituição Federal, é “indispensável à administração da justiça”
O defensor não deve agir com a mesma imparcialidade exigida do
representante do Ministério Público, pois está vinculado ao interesse do
acusado.
Deve pleitear, invariavelmente, em seu benefício, embora possa até pedir a
condenação, quando uma alternativa viável e técnica não lhe resta (em caso de
réu confesso, por exemplo), mas visando à atenuação de sua pena ou algum
benefício legal para o cumprimento da sanção penal (como penas alternativas
ou sursis).
Seus desvios, na atuação defensiva, podem tornar-se infrações penais ou
funcionais.
Para ser assegurada a liberdade, a igualdade das partes, faz-se imprescindível
que, durante todo o transcorrer do processo, sejam assistidos e/ou
representados por um defensor, dotado de conhecimento técnico
especializado, que lhe propicie o estabelecimento ou o restabelecimento do
equilíbrio do contraditório.
Trata-se de efetiva paridade de armas entre as partes.
O advogado tem por função primária promover a defesa técnica do acusado,
cumprindo, dessa forma, diretrizes de ordem constitucional: ampla defesa com
os meios e recursos a ela inerentes (art. 5o, LV, da CF).
A indisponibilidade do direito de defesa é uma decorrência da indisponibilidade
do direito à liberdade.
O réu, ainda que não queira, terá nomeado um defensor, habilitado para a
função, para o patrocínio de sua defesa.
Torna-se fundamental que o magistrado zele pela qualidade da defesa técnica,
declarando, se for preciso, indefeso o acusado e nomeando outro advogado
para desempenhar a função.
Mesmo o defensor constituído pelo réu está sujeito a esse controle de
eficiência.
Não correspondendo ao mínimo aguardado para uma efetiva ampla defesa,
pode o juiz desconstitui-lo, nomeando um substituto dativo, dando prazo ao
acusado para a indicação de outro profissional de sua confiança.
Súmula 523 STF- No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade
absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para
o réu.
Súmula 708 STF - É nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação
nos autos da renúncia do único defensor, o réu não foi previamente intimado
para constituir outro.
Ainda que atue com firmeza e determinação em nome do réu, não pode
requerer diligências protelatórias com a finalidade exclusiva de provocar
excesso de prazo, fundamentador do pedido de relaxamento ou revogação da
prisão cautelar. Súmula 64 do Superior Tribunal de Justiça: “Não constitui
constrangimento ilegal o excesso de prazo na instrução, provocado pela
defesa”.
Presença do acusado na audiência: é um direito constitucional a ampla defesa,
subdividida em defesa técnica e autodefesa.
O direito à audiência faz parte da autodefesa, mas não é inafastável, vale dizer,
caso o réu não compareça à audiência, estando preso, cuida-se de nulidade
relativa, dependente da prova do prejuízo.
Se não comparecer à audiência, estando solto, é uma decisão livre sua.
CPP - Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será
processado ou julgado sem defensor.
Parágrafo único. A defesa técnica, quando realizada por defensor público ou
dativo, será sempre exercida através de manifestação fundamentada.
CPP - Art. 263. Se o acusado não o tiver, ser-lhe-á nomeado defensor pelo juiz,
ressalvado o seu direito de, a todo tempo, nomear outro de sua confiança, ou a
si mesmo defender-se, caso tenha habilitação.
Parágrafo único. O acusado, que não for pobre, será obrigado a pagar os
honorários do defensor dativo, arbitrados pelo juiz.
Nomeação do defensor como ato exclusivo do magistrado: é da livre escolha
do juiz o defensor apto a promover a defesa do acusado.
O processo penal é regido pelo princípio da prevalência do interesse do réu,
bem como pelo devido processo legal, que envolve a ampla defesa como seu
corolário obrigatório.
Por isso, o juiz deve zelar pelo fiel exercício da ampla e eficaz defesa, cuidando
de garantir ao acusado todos os meios possíveis e legítimos para tanto.
Escolha de defensor de sua confiança: é direito inafastável do acusado,
fazendo parte da ampla defesa.
Não possuindo defensor, a princípio, cumprindo-se o estabelecido no art. 261,
deve o juiz nomear-lhe um, o que não impede, a qualquer tempo, o ingresso no
feito de advogado escolhido pelo próprio réu. isso não quer dizer que o
acusado possa selecionar, a seu bel-prazer, o defensor dativo nomeado pelo
magistrado.
Autodefesa técnica: além da possibilidade que todo réu possui de apresentar
ao juiz sua autodefesa, devendo ser ouvido e ter seus argumentos comentados
na sentença, existe, ainda, a oportunidade de o réu prescindir da defesa
técnica, caso seja ele advogado.
O réu somente está autorizado a atuar sem advogado, excepcionalmente:
- advocacia em causa própria, quando for advogado;
- Interposição de RECURSO (art. 577, caput, CPP);
- Impetração de HABEAS CORPUS (art. 654, caput, CPP
Custeio da defesa: dispõe a Constituição Federal que “o Estado prestará
assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de
recursos” (art. 5.º, LXXIV)
Réus pobres têm o direito fundamental de obter defesa técnica gratuita nos
processos criminais, mas aqueles que, favorecidos economicamente, não
desejando contratar advogado, por razões variadas, obrigarem o juiz a nomear
um defensor dativo ou mesmo um membro da Defensoria Pública, devem ser
responsabilizados pelos honorários do profissional.
Defensoria pública - “é instituição essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos
necessitados, na forma do art. 5o, LXXIV” (art. 134 da CF).
CPP Art.264. Salvo motivo relevante, os advogados e solicitadores serão
obrigados, sob pena de multa de cem a quinhentos mil-réis, a prestar seu
patrocínio aos acusados, quando nomeados pelo juiz.
Advogado ou defensor dativo - Advogado dativo é aquele nomeado pelo juiz
para atuar na defesa de pessoas hipossuficientes quando não há um membro
da defensoria pública na comarca.
“O advogado, quando indicado para patrocinar causa de juridicamente
necessitado, no caso de impossibilidade da Defensoria Pública no local da
prestação de serviço, tem direito aos honorários fixados pelo juiz, segundo
tabela organizada pelo Conselho Seccional da OAB, e pagos pelo Estado.”
O advogado pode não aceitar a nomeação do magistrado quando houver
motivo relevante.
Inexistência da multa: não mais subsiste a possibilidade de aplicar multa, pois
o valor é inexistente como moeda corrente na atualidade. Deveria ter sido
atualizado por força de lei, o que não ocorreu.
CPP Art.265. O defensor não poderá abandonar o processo senão por motivo
imperioso, comunicado previamente o juiz, sob pena de multa de 10 (dez) a
100 (cem) salários mínimos, sem prejuízo das demais sanções cabíveis.
§ 1.º A audiência poderá ser adiada se, por motivo justificado, o defensor não
puder comparecer.
§ 2.º Incumbe ao defensor provar o impedimento até a abertura da audiência.
Não o fazendo, o juiz não determinará o adiamento de ato algum do processo,
devendo nomear defensor substituto, ainda que provisoriamente ou só para o
efeito do ato.
Desistência da causa: significa que o defensor já não se entende com seu
patrocinado, por qualquer razão, tendo o direito de sair do processo, pelos
meios legais. Não representa abandono do processo.
“O advogado que renunciar ao mandato continuará, durante os dez dias
seguintes à notificação da renúncia, a representar o mandante, salvo se for
substituído antes do término desse prazo”.
O defensor dativo também pode se recusar a continuar na causa, desde que
comunique tal fato ao juiz e aguarde a nomeação de outro defensor.
Abandono indireto: o causídico pode abandonar a causa por meio indireto,
vale dizer, sem expressa menção a respeito, mas deixando de cumprir atos
indispensáveis da sua alçada.
Pode o magistrado nomear substituto e aplicar a multa prevista no art. 265,
caput. Essa decisão tem caráter administrativo, pois não se relaciona ao feito
em julgamento.
Nomeação de defensor ad hoc: a ausência do defensor, constituído ou
dativo, regularmente intimado para o ato processual, especialmente audiências
de instrução, não impedirá a realização dele, desde que inexista motivo
imperioso para a falta ou não tenha sido feita a comunicação até a abertura da
audiência. Nesse caso, nomeia-se, para funcionar na ocasião, um defensor,
denominado ad hoc (“para o ato”).
Persistindo a falta em julgamento posterior, pode o magistrado declarar o
acusado indefeso, nomeando-lhe substituto, após dar-lhe prazo para escolher
outro profissional para defendê-lo.
Quando o advogado não puder comparecer à audiência por motivo relevante
devidamente comprovado (v.g.: doença, internação hospitalar, viagem
inadiável, falecimento de parente), o magistradodeve adiar a realização da
audiência, salvo se houver motivo imperioso, que não lhe permite essa
transferência, por exemplo, extinção da punibilidade e réu preso.
CPP Art.266. A constituição de defensor independerá de instrumento de
mandato, se o acusado o indicar por ocasião do interrogatório.
Em sede de processo penal, a constituição de advogado não fica na
dependência da outorga de mandato judicial, pois a indicação de defensor
poderá ser feita no ato do interrogatório.
Essa forma de constituição é denominada apud acta.
A representação postulatória pode ser feita por indicação do próprio acusado
em seu interrogatório judicial, devendo constar, em seu termo, o nome de seu
defensor.
CPP Art. 267. Nos termos do art. 252, não funcionarão como defensores os
parentes do juiz.
10.5. DOS ASSISTENTES
ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO
CPP Art. 268. Em todos os termos da ação pública, poderá intervir, como
assistente do Ministério Público, o ofendido ou seu representante legal, ou, na
falta, qualquer das pessoas mencionadas no art. 31.
Assistente - pessoa do ofendido; o que foi vítima da prática delitiva; o que é
titular do bem jurídico lesado pelo delito ou seu representante legal ou, no caso
do morto ou ausente, as pessoas enumeradas no art. 31 do CPP.
Trata-se, ao mesmo tempo, de sujeito e parte secundária na relação
processual.
O principal legitimado à assistência é o ofendido, que, se incapaz, será
representado por um dos pais, por guardião, tutor ou curador.
No caso de morte do ofendido, seus sucessores são legitimados a exercer a
assistência, de acordo com a ordem prevista no art. 31 do Código de Processo
Penal (cônjuge, ascendente, descendente ou irmão), o comparecimento de um
dos sucessores exclui a possibilidade de intervenção dos demais que não
ocupem o mesmo patamar de precedência.
CPP Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por
decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao
cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. (CADI)
A enumeração do art. 31 do CPP é ela taxativa.
A assistência conjunta será possível apenas quando se tratar de sucessores
que não tenham precedência um sobre o outro: o pai e a mãe do ofendido
morto poderão habilitar-se conjuntamente, ainda que por intermédio de
advogados diferentes.
Embora o direito de punir seja unicamente do Estado e legitimado, para a ação
penal, seja o Ministério Público, como seu representante, nos casos de ação
pública, é cabível a formação de litisconsórcio ativo, integrando o polo ativo a
vítima do crime.
O assistente atua para tutelar, ao lado da reparação do dano sofrido, seu
interesse moral em ver o autor da infração punido, por sua vez, conduz à
admissão de que pode recorrer também da sentença condenatória, com vistas
ao agravamento da pena.
O Supremo Tribunal Federal já reconheceu essa possibilidade: “Apelação
criminal. O assistente do Ministério Público tem legítimo interesse para
recorrer, visando o aumento da pena aplicada ao réu” .
A assistência tem lugar, exclusivamente, na ação pública, uma vez que, em se
tratando de ação privada, exclusiva ou subsidiária da pública, o ofendido atuará
na qualidade de querelante, ou seja, como parte necessária.
Em regra, a Administração Pública não pode ser aceita como assistente, pois o
Ministério Público é o órgão estatal incumbido da persecução penal, mas há
previsão legal de intervenção de pessoas jurídicas de direito público em
algumas hipóteses especiais:
a) órgãos federais, estaduais ou municipais interessados, nos casos de crime
de responsabilidade de Prefeito;
b) a Ordem dos Advogados do Brasil — OAB, nos processos em que advogado
figure como acusado ou ofendido;
c) a Comissão de Valores Mobiliários — CVM e o Banco Central do Brasil, nas
hipóteses de crime contra o Sistema Financeiro Nacional praticado em
decorrência de atividade sujeita à fiscalização por aqueles órgãos;.
CPP Art.269. O assistente será admitido enquanto não passar em julgado a
sentença e receberá a causa no estado em que se achar.
O assistente pode ser admitido em qualquer momento do processo: desde o
recebimento da denúncia até o trânsito em julgado a sentença.
Não é cabível a assistência, portanto, na fase do inquérito ou da execução da
pena.
Recebimento da causa no estado em que estiver: é a regra do ingresso do
assistente de acusação, evitando-se tumultos indevidos e a propositura de
novas provas ou outras diligências,
Julgamento pelo Júri - o assistente somente será admitido se tiver requerido
sua habilitação até 5 dias antes da data da sessão na qual pretenda atuar (art.
430 do CPP).
Cabe, exclusivamente, à vítima e seus parentes, na forma prevista pelo art. 31
do CPP, requerer o ingresso em juízo, no polo ativo, para atuar contra o
acusado. NÃO pode ser feita de ofício pelo juiz.
CPP Art.270. O corréu no mesmo processo não poderá intervir como assistente
do Ministério Público.
Não tem o menor cabimento o corréu pretender a condenação de quem agiu
juntamente com ele para a prática da infração penal.
O espírito poderia ser de pura emulação ou vingança.
Recurso de corréu contra a absolvição de outro: é admissível, desde que o
Ministério Público não tenha recorrido.
CPP Art.271. Ao assistente será permitido propor meios de prova, requerer
perguntas às testemunhas, aditar o libelo e os articulados, participar do debate
oral e arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público, ou por ele
próprio, nos casos dos arts. 584, § 1.º, e 598.
§ 1.º O juiz, ouvido o Ministério Público, decidirá acerca da realização das
provas propostas pelo assistente.
§ 2.º O processo prosseguirá independentemente de nova intimação do
assistente, quando este, intimado, deixar de comparecer a qualquer dos atos
da instrução ou do julgamento, sem motivo de força maior devidamente
comprovado.
Pode o assistente de acusação arrolar testemunhas.
Rol taxativo: é taxativo o rol do art. 271, não podendo o assistente de acusação
ir além dessas hipóteses.
O direito da vítima de interpor recurso sob qualquer aspecto do processo;
afinal, o intuito da pessoa ofendida não é mais a obtenção de simples
indenização civil, mas atingir o seu ideal de justiça.
O Supremo Tribunal Federal já reconheceu essa possibilidade: O assistente do
Ministério Público tem legítimo interesse para recorrer, visando o aumento da
pena aplicada ao réu” .
Direito de reperguntar: tem o assistente o direito de propor às testemunhas, e
às pessoas que forem ouvidas como simples declarantes.
O assistente pode completar o número legal das testemunhas quando o
Ministério Público não atingir o máximo de cinco.
Direito de aditar os articulados: é o direito que possui de apresentar o seu
próprio articulado, entendido esse como as alegações finais, produzidas pela
acusação.
Direito de debater oralmente: quando a parte for convocada a manifestar-se
oralmente perante o juiz, o assistente de acusação tem o direito de fazê-lo,
como ocorre, por exemplo, no procedimento comum.
E, no Tribunal do Júri, deve dividir o tempo com o promotor.
Direito de arrazoar os recursos do Ministério Público: como auxiliar da
acusação, pode manifestar-se em todos os recursos interpostos pelo
representante do Ministério Público.
Direito de recorrer autonomamente: para poder recorrer, autonomamente,
apenas nos casos expressos neste dispositivo:
a) decisão de impronúncia (art. 584, § 1.º);
b) julgamento de extinção da punibilidade (art. 584, § 1.º);
c) sentença absolutória (art. 598);
d) sentença condenatória visando ao aumento de pena
Tanto o ofendido que atua na qualidade de assistente como o ofendido que não
se habilitou previamente podem recorrer nessas situações.
Direito de propor provas: tem o direito de propor a realização de qualquer
meio de prova pertinente – perícias, juntada ou requisição de documentos,
testemunhas, entre outros.
Ouve-se o Ministério Público, antes da decisão.
Intimação para os atos processuais: uma vez admitido no processo, deve o
assistente, através do seu advogado, ser intimado para todos os atos que
devam se realizar no feito.
Se deixar de comparecer a qualquer deles, para os quais tenha sido
regularmente cientificado, sem fornecer a devida justificativa, não mais será
intimado.
CPP Art.272. O Ministério Público será ouvido previamente sobre a admissão
do assistente.
Oposição do Ministério Público: somente deve dar-se em caso de falta de
legitimação.
CPP Art.273. Do despacho que admitir, ou não, o assistente, não caberá
recurso, devendo, entretanto, constar dos autos o pedido e a decisão.
Cabe de mandado de segurança.
POLÍCIA JUDICIÁRIA
A polícia judiciária é uma função dos órgãos de segurança do Estado que tem
como principal atividade apurar as infrações penais e sua autoria por meio da
investigação policial, instrumentalizado pelo Inquérito Policial, que é um
procedimento administrativo com característica inquisitiva, servindo, em regra,
de base à pretensão punitiva do Estado formulada pelo Ministério Público titular
da ação penal de iniciativa pública.
Const. F - Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e
da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
VI - polícias penais federal, estaduais e distrital.
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e
mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de
bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e
empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha
repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo
se dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros
órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.
(...)
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira,
incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.
§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem
pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em
lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.
§ 5º-A. Às polícias penais, vinculadas ao órgão administrador do sistema penal
da unidade federativa a que pertencem, cabe a segurança dos
estabelecimentos penais.
CPP - Art. 4o A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no
território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das
infrações penais e da sua autoria
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de
autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.]
Cabe aos órgãos constituídos das polícias federal e civil conduzir as
investigações necessárias, colhendo provas pré-constituídas para formar o
inquérito, que servirá de base de sustentação a uma futura ação penal.
O nome polícia judiciária tem sentido na medida em que não se cuida de uma
atividade policial ostensiva (típica da Polícia Militar para a garantia da
segurança nas ruas), mas investigatória, cuja função se volta a colher provas
para o órgão acusatório e, na essência, para o Judiciário avaliar no futuro.
A presidência do inquérito cabe à autoridade policial.
Atribuída no âmbito estadual às polícias civis, dirigidas por delegados de
polícia de carreira, sem prejuízo de outras autoridades (CF, art. 144, § 4º); na
esfera federal, as atividades de polícia judiciária cabem, com
exclusividade, à polícia federal (CF, art. 144, § 1º, IV).
Classificação das infrações penais: deve a autoridade policial, justamente
porque lhe compete a apuração da materialidade das infrações penais e da sua
autoria, proceder à classificação dos crimes e contravenções que lhe chegarem
ao conhecimento.
Investigação preliminar ao inquérito: Caso a autoridade tenha dúvida acerca
da existência de alguma infração penal ou mesmo da autoria, poderá, no
máximo, verificar direta, pessoal e informalmente se há viabilidade para a
instauração do inquérito.
Nulidade em inquérito ou outra investigação: não é passível de
reconhecimento, pois se cuida de contexto de colheita de provas para o fim de
informar a ação penal.
Essas provas não têm conteúdo definitivo, razão pela qual inexiste razão para
anular qualquer ato. Se houver alguma falha, basta desprezar a prova, como
regra.
Conferir: STJ: “O inquérito policial é peça meramente informativa, na qual não
imperam os princípios do contraditório e da ampla defesa, motivo pelo qual
eventuais vícios ou irregularidades ocorridos no seu curso não têm o condão
de macular a ação penal.
Investigação produzida pela Polícia Militar: como regra, não é função da
Polícia Militar investigar e solucionar crimes, pois a sua atividade
constitucionalmente prevista se liga à polícia ostensiva. Entretanto, há
situações excepcionais, que contam com a participação do serviço de
inteligência da PM, utilizado, muitas vezes, para controlar a própria atuação de
seus membros. Dessas investigações internas, podem emergir elementos
probatórios relativos a civis.
Acesso do advogado à investigação criminal do Ministério Público:
STF: “O sistema normativo brasileiro assegura, ao Advogado regularmente
constituído pelo indiciado (ou por aquele submetido a atos de persecução
estatal), o direito de pleno acesso aos autos de persecução penal, mesmo que
sujeita, em juízo ou fora dele, a regime de sigilo (necessariamente
excepcional), limitando-se, no entanto, tal prerrogativa jurídica, às provas já
produzidas e formalmente incorporadas ao procedimento investigatório,
excluídas, consequentemente, as informações e providências investigatórias
ainda em curso de execução e, por isso mesmo, não documentadas no próprio
inquérito ou processo judicial.
Guarda municipal: não tem função constitucional, nem legal, de produzir
investigações criminais, razão pela qual não pode instaurar, nem presidir
inquéritos policiais.
COMPETÊNCIA DO INQUÉRITO
Salvo algumas exceções, a atribuição para presidir o inquérito policial é
outorgada aos delegados de polícia de carreira (CF, art. 144, §§ 1º e 4º),
conforme as normas de organização policial dos Estados.
Essa atribuição pode ser fixada quer pelo lugar da consumação da infração
(ratione loci), quer pela natureza desta (ratione materiae).
sobre a competência das autoridades policiais, tem-se entendido que a falta de
atribuição destas não invalida os seus atos, ainda que se trate de prisão em
flagrante, pois, não exercendo a Polícia atividade jurisdicional, não se submete
ela à competência jurisdicional ratione loci.
LEI Nº 12.830, de 20 de junho de 2013
Art. 2º As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais
exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e
exclusivas de Estado. (grifamos)
§ 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a
condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro
procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das
circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais.
§ 2º Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição
de perícia, informações, documentos e dados que interessem à apuração dos
fatos.
Inquéritos extrapoliciais
• Inquérito Policial Militar (IPM) - inquérito realizado pelas autoridades
militares para a apuração de infrações de competência da justiça militar
• CPI - Comissões Parlamentares de Inquérito - terão poderes de
investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos
nos regimentos das respectivas Casas, e serão criadas pela Câmara
dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente,
mediante requerimento de 1/3 de seus membros, para a apuração de
fato determinado, com duração limitada no tempo (CF, art. 58, § 3º)
• o inquérito civil público, instaurado pelo Ministério Público para a
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros
interesses difusos e coletivos (CF, art. 129, III).
• o inquérito instaurado pela Câmara dos Deputados ou Senado Federal,
em caso de crime cometido nas suas dependências, hipótese em que,
de acordo com o que dispuser o respectivo regimento interno, caberão à
Casa a prisão em flagrante e a realização do inquérito (Súmula 397 do
STF)
• Inquérito por crime praticado por Juiz ou Promotor de Justiça: presidido
pelo Tribunal de Justiça ou Procuradoria de Justiça
• Investigação de autoridades com Foro de Prerrogativa de Função
FINALIDADE DO INQUÉRITO
A finalidade do inquérito policial é a apuração de fato que configure infração
penal e a respectiva autoria para servir de base à ação penal ou às
providências cautelares.
CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO
Procedimento escrito
Todas as peças do inquérito policial serão, num só processo, reduzidas a
escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade (CPP, art.
9º).
CPP - Art. 9.º Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado,
reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.
O inquérito policial um procedimento formal, completamente burocratizado, pois
exige peças escritas ou datilografadas, todas rubricadas pela autoridade
competente.
Sigiloso
A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato
ou exigido pelo interesse da sociedade (CPP, art. 20).
Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário94-94-A à
elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.
Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a
autoridade policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes a
instauração de inquérito contra os requerentes.
Sigilo das investigações: o inquérito policial, por ser peça de natureza
administrativa, inquisitiva e preliminar à ação penal, deve ser sigiloso, não
submetido, pois, à publicidade que rege o processo.
Posição do advogado: ao advogado não se pode negar acesso ao inquérito,
pois o Estatuto da Advocacia é claro nesse sentido: Lei 8.906/94, art. 7.º: “São
direitos do advogado: (..) XIV – examinar, em qualquer instituição responsável
por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de
investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que
conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio
físico ou digital.
Súmula Vinculante 14 do STF: “É direito do defensor, no interesse do
representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados
em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de
polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”. Embora no
inquérito não prevaleçam o contraditório e a ampla defesa, visto não ser
processo, mas mera investigação, é evidente o interesse do indiciado, por meio
de seu advogado, em se resguardar, na medida do possível.
O sigilo não se estende ao representante do Ministério Público, nem à
autoridade judiciária.
o direito do indiciado “tem por objeto as informações já introduzidas nos autos
do inquérito, não as relativas à decretação e às vicissitudes da execução de
diligências em curso (cf. Lei n. 9.296, atinente às interceptações telefônicas, de
possível extensão a outras diligências).
Participação do advogado durante a produção de prova no inquérito:
Pode, pois, acompanhar a instrução, quando tenha sido constituído pelo
indiciado, que tem direito de tomar conhecimento das provas levantadas contra
sua pessoa, corolário natural do princípio constitucional da ampla defesa
O sigilo no inquérito policial deverá ser observado como forma de garantia da
intimidade do investigado, resguardando-se, assim, seu estado de inocência.
Lei nº 12.850/2013 – Lei de organização criminosa
Art. 23. O sigilo da investigação poderá ser decretado pela autoridade judicial
competente, para garantia da celeridade e da eficácia das diligências
investigatórias, assegurando-se ao defensor, no interesse do representado,
amplo acesso aos elementos de prova que digam respeito ao exercício do
direito de defesa, devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados
os referentes às diligências em andamento.
Parágrafo único. Determinado o depoimento do investigado, seu defensor terá
assegurada a prévia vista dos autos, ainda que classificados como sigilosos, no
prazo mínimo de 3 (três) dias que antecedem ao ato, podendo ser ampliado, a
critério da autoridade responsável pela investigação
Oficialidade
O inquérito policial é uma atividade investigatória feita por órgãos oficiais, não
podendo ficar a cargo do particular, ainda que a titularidade da ação penal seja
atribuída ao ofendido.
Oficiosidade
Princípio da legalidade (ou obrigatoriedade) da ação penal pública.
Significa que a atividade das autoridades policiais independe de qualquer
espécie de provocação, sendo a instauração do inquérito obrigatória
diante da notícia de uma infração penal (CPP, art. 5º, I), ressalvados os casos
de ação penal pública condicionada e de ação penal privada (CPP, art. 5º, §§
4º e 5º).
Autoritariedade
Exigência expressa do Texto Constitucional (CF, art. 144, § 4º); o inquérito é
presidido por uma autoridade pública, no caso, a autoridade policial (delegado
de polícia de carreira).
Art. 3º, da Lei nº 12.830/13 - “O cargo de Delegado de Polícia é privativo de
Bacharel em Direito, devendo-lhe ser dispensado o mesmo tratamento
protocolar que recebem os magistrados, os membros da Defensoria Pública e
do Ministério Público e os advogados”
Indisponibilidade
É indisponível.
Após sua instauração não pode ser arquivado pela autoridade policial (CPP,
art. 17).
Não é atribuição da polícia judiciária dar por findo o seu trabalho, nem do juiz.
CPP - Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de
inquérito.
Arquivamento do inquérito: somente o Ministério Público, titular da ação
penal, órgão para o qual se destina o inquérito policial, pode pedir o seu
arquivamento, dando por encerradas as possibilidades de investigação.
Impossibilidade de ser arquivado inquérito sem requerimento do
Ministério Público: nem mesmo a autoridade judiciária pode determinar o
arquivamento de inquérito policial se não houver o expresso assentimento do
titular da ação penal, que é o Ministério Público.
Trancamento do inquérito policial: admite-se que, por intermédio do habeas
corpus, a pessoa eleita pela autoridade policial como suspeita possa recorrer
ao Judiciário para fazer cessar o constrangimento a que está exposto, pela
mera instauração de investigação infundada.
Inquisitivo
Caracteriza-se como inquisitivo o procedimento em que as atividades
persecutórias se concentram nas mãos de uma única autoridade, a qual, por
isso, prescinde, para a sua atuação, da provocação de quem quer que seja,
podendo e devendo agir de ofício, empreendendo, com discricionariedade, as
atividades necessárias ao esclarecimento do crime e da sua autoria.
É característica oriunda dos princípios da obrigatoriedade e da oficialidade da
ação penal.
É secreto e escrito, e não se aplicam os princípios do contraditório e da ampla
defesa, pois, se não há acusação, não se fala em defesa.
O único inquérito que admite o contraditório é o instaurado pela polícia federal,
a pedido do Ministro da Justiça, visando à expulsão de estrangeiro, regulado
pela Lei n. 13.445 (Lei de Migração), em seu art. 54 e seguintes.
Dispensável
O inquérito policial não é fase obrigatória da persecução penal, podendo ser
dispensado caso o Ministério Público ou o ofendido já disponha de suficientes
elementos para a propositura da ação penal (CPP, arts. 12, 27, 39, § 5º, e 46, §
1º).
Incomunicabilidade
Destina-se a impedir que a comunicação do preso com terceiros venha a
prejudicar a apuração dos fatos, podendo ser imposta quando o interesse da
sociedade ou a conveniência da investigação o exigir.
O art. 21 do Código de Processo Penal prevê que a incomunicabilidade do
preso não excederá de três dias e será decretada por despacho fundamentado
do juiz, a requerimento da autoridade policial ou do órgão do Ministério Público,
respeitadas as prerrogativas do advogado.
VÍCIOS
.
NOTITIA CRIMINIS
Dá-se o nome de notitia criminis (notícia do crime), quando a autoridade policial
toma conhecimento, espontâneo ou provocado, de um fato aparentemente
criminoso.
É com base nesse conhecimento que a autoridade dá início às investigações.
• Notitia criminis de cognição direta ou imediata ou notitia criminis
espontânea, ou inqualificada - ocorre quando a autoridade policial
toma conhecimento direto do fato infringente da norma por meio de suas
atividades rotineiras, de jornais, da investigação feita pela própria polícia
judiciária, por comunicação feita pela polícia preventiva ostensiva, pela
descoberta ocasional do corpo do delito, por meio de denúncia anônima
A delação apócrifa (anônima) é também chamada de notícia
inqualificada.
• Notitia criminis de cognição indireta ou mediata: notitia criminis
provocada ou qualificada - ocorre quando a autoridade policial toma
conhecimento por meio de algum ato jurídico de comunicação formal do
delito.
Exemplo, a delatio criminis – delação (CPP, art. 5º, II, e §§ 1º, 3º e 5º), a
requisição da autoridade judiciária, do Ministério Público (CPP, art. 5º, II)
ou do Ministro da Justiça (CP, arts. 7º, § 3º, b, e 141, I, c/c o parágrafo
único do art. 145), e a representação do ofendido (CPP, art. 5º, § 4º).
• Notitia criminis de cognição coercitiva: ocorre no caso de prisão em
flagrante, em que a notícia do crime se dá com a apresentação do autor
(cf. CPP, art. 302 e incisos).
É modo de instauração comum a qualquer espécie de infração, seja de
ação pública condicionada ou incondicionada, seja de ação penal
reservada à iniciativa privada.
I – de ofício;
Significa que o inquérito é iniciado por ato voluntário da autoridade policial, sem
que tenha havido pedido expresso de qualquer pessoa nesse sentido.
A lei determina que a autoridade é obrigada a instaurar o inquérito sempre que
tomar conhecimento da ocorrência de crime de ação pública em sua área de
atuação.
Assim, quando o delegado de polícia fica sabendo da prática de um delito deve
baixar a chamada portaria, que é a peça que dá início ao procedimento
inquisitorial.
Na portaria a autoridade declara instaurado o inquérito e determina as
providências iniciais a serem tomadas.
Notitia criminis: é a ciência da autoridade policial da ocorrência de um fato
criminoso, podendo ser:
a) direta, quando o próprio delegado, investigando, por qualquer meio,
descobre o acontecimento;
b) indireta, quando a vítima provoca a sua atuação, comunicando-lhe a
ocorrência, bem como quando o promotor ou o juiz requisitar a sua atuação.
Nesta última hipótese (indireta), cremos estar inserida a prisão em flagrante.
Delatio criminis: É a denominação dada à comunicação feita por qualquer
pessoa do povo à autoridade policial (ou a membro do Ministério Público ou
juiz) acerca da ocorrência de infração penal em que caiba ação penal pública
incondicionada (art. 5.º, § 3.º, CPP).
Pode ser feita oralmente ou por escrito. Caso a autoridade policial verifique a
procedência da informação, mandará instaurar inquérito para apurar
oficialmente o acontecimento.
O inquérito policial não pode ser instaurado de imediato quando a autoridade
policial recebe notícia anônima da prática de um crime, desacompanhada de
qualquer elemento de prova.
Segundo o STF, a autoridade deverá realizar diligências preliminares ao
receber a notícia anônima e, apenas se confirmar a possibilidade de o crime
realmente ter ocorrido, é que poderá baixar a portaria dando início formal à
investigação.
Investigação policial contra Prefeito Municipal: pode ser iniciada pela
polícia ou pelo Ministério Público, comunicando-se, de pronto, o órgão
competente para o processo, ou seja, o Tribunal de Justiça (crimes estaduais)
ou o Tribunal Regional Federal (crimes federais).
Motivação do indiciamento
A Lei 12.830/2013 (art. 2.º, § 6.º) passa a exigir que a autoridade policial, ao
indiciar o suspeito, esclareça, nos autos do inquérito, as razões que a levaram
àquela eleição.
Como o indiciamento é ato constrangedor, deve tratar-se de ato motivado,
permitindo à parte prejudicada (indiciado) questioná-lo, impetrando habeas
corpus.
Desindiciamento - pode ser decidido pelo próprio delegado de polícia, durante
o inquérito policial ou no próprio relatório final, se concluir que a pessoa
indicada não está vinculada ao fato.
Quando estiverem ausentes os elementos capazes de comprovar a
fundamentação do delegado, nascerá ao investigado a possibilidade de pleitear
o desindiciamento ao Juiz competente.
A jurisprudência admite o desindiciamento desde que comprovada a ausência
dos elementos.
Pode sei pleiteada por meio de habeas corpus.
Regras do Interrogatório
Vale-se o delegado dos mesmos critérios do juiz de direito, conforme previsão
feita nos arts. 185 a 196 do Código de Processo Penal, com as adaptações
naturais, uma vez que o indiciado não é ainda réu em ação penal.
Deve respeitar e aplicar o direito ao silêncio, constitucionalmente assegurado
ao investigado (art. 5.º, LXIII, CF).
Não é obrigatória a presença de defensor no interrogatório feito na polícia (art.
185, CPP), nem tampouco há o direito de interferência, a fim de obter
esclarecimentos (art. 188, CPP), pois tais disposições dizem respeito ao direito
à ampla defesa, que não vigora na fase inquisitiva do inquérito.
A autoridade policial não está obrigada a providenciar para o indiciado
advogado legalmente habilitado com o fim de acompanhar o seu interrogatório,
pois o que a Constituição Federal quis, em seu art. 5º, LXIII, foi simplesmente
abrir a possibilidade para que ele, querendo, entre em contato com seu
advogado.
Do mesmo modo, o delegado de polícia não é obrigado a intimar o defensor
técnico para assistir ao ato, inexistindo qualquer vício no interrogatório
realizado sem a sua presença.
Na hipótese de prisão em flagrante, é garantida a assistência de defensor
habilitado, pois a autoridade policial está obrigada, no prazo de 24 horas após
a prisão, a encaminhar cópia integral do auto de prisão em flagrante para a
Defensoria Pública, se o autuado não tiver advogado (art. 306, § 1º, 2ª parte).
O termo de interrogatório deverá ser assinado pela autoridade policial, pelo
escrivão, pelo interrogado e por duas testemunhas que tenham presenciado a
leitura (CPP, art. 6º, V) (note-se que elas não precisarão estar presentes ao
interrogatório, mas só à leitura).
Se o suspeito da prática da infração penal for um membro do Ministério
Público, a autoridade policial não poderá indiciá-lo. Deverá, sob pena de
responsabilidade, encaminhar imediatamente os autos do inquérito ao
Procurador-Geral de Justiça, a quem caberá prosseguir nas investigações (Lei
n. 8.625/93, art. 41, II e parágrafo único).
Se o suspeito for membro integrante do Ministério Público da União, os autos
do inquérito deverão ser enviados ao Procurador-Geral da República (art. 18,
parágrafo único, da LC n. 75/93)
Reconstituição do crime
CPP - Art. 7o Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada
de determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução
simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem
pública.
Pode serimportante fonte de prova, até mesmo para aclarar ao juiz (e aos
jurados, no Tribunal do Júri) como se deu a prática da infração penal (art. 7.º,
CPP).
A simulação é feita utilizando o réu, a vítima e outras pessoas convidadas a
participar, apresentando-se, em fotos e esquemas, a versão oferecida pelo
acusado e a ofertada pelo ofendido ou outras testemunhas.
Visualizando o sítio dos acontecimentos, a autoridade judiciária, o
representante do Ministério Público e o defensor poderão formar, com maior
eficácia, suas convicções.
O réu não está obrigado a participar da reconstituição do crime, pois ninguém é
obrigado a produzir prova contra si.
Somente o fará se houver interesse da defesa.
Veda-se a reconstituição do crime que ofenda a moralidade (regras éticas de
conduta, espelhando o pudor social) e a ordem pública (segurança e paz
sociais).
A realização da reprodução simulada dos autos pode ser indeferida pelo Juiz
se esse não achar relevante para dirimir dúvidas.
CONCLUSÃO DO INQUÉRITO
CPP - Art. 10 - O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado
tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o
prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou
no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.
§ 1o A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará
autos ao juiz competente.
§ 2o No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem
sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas.
§ 3o Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a
autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores
diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.
Ao considerar encerradas as diligências, a autoridade policial deve elaborar um
relatório descrevendo as providências tomadas durante as investigações.
Esse relatório é a peça final do inquérito, que será então remetido ao juízo sem
expender opiniões, julgamentos ou qualquer juízo de valor, devendo, ainda,
indicar as testemunhas que não foram ouvidas (art. 10, § 2º), bem como as
diligências não realizadas.
Deverá, ainda, a autoridade justificar, em despacho fundamentado, as razões
que a levaram à classificação legal do fato, mencionando, concretamente, as
circunstâncias, sem prejuízo de posterior alteração pelo Ministério Público.
Encerrado o inquérito e feito o relatório, os autos serão remetidos ao juiz
competente, acompanhados dos instrumentos do crime dos objetos que
interessarem à prova.
O art. 11 do Código de Processo Penal dispõe que os instrumentos do crime,
bem como os objetos que interessarem à prova, acompanharão os autos do
inquérito policial quando encaminhados ao juízo.
Não há qualquer motivo para que o juiz indefira o pedido de retorno dos autos à
Delegacia de origem para novas diligências, quando a solicitação for feita pelo
ofendido
Mesmo após ter sido efetivado o arquivamento do inquérito por falta de base
para a denúncia, a autoridade policial pode realizar novas diligências a fim de
obter provas novas, se da existência delas tiver notícia.
Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito
CPP Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade
judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá
proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia
Caso efetivamente sejam obtidas provas novas relevantes, a ação penal
poderá ser proposta com fundamento nelas, desarquivando-se o inquérito
policial.
Súmula n. 524 do Supremo Tribunal Federal: “arquivado o inquérito policial,
por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação
penal ser iniciada sem novas provas”.
Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito
serão remetidos ao juízo competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido
ou de seu representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o pedir,
mediante traslado.
CPP Art. 23. Ao fazer a remessa dos autos do inquérito ao juiz competente, a
autoridade policial oficiará ao Instituto de Identificação e Estatística, ou repartição
congênere, mencionando o juízo a que tiverem sido distribuídos, e os dados relativos à
infração penal e à pessoa do indiciado.
Contagem do prazo
No Processo Penal, continua-se contando os prazos processuais em dias
corridos, excluindo-se o dia inicial e incluindo o de vencimento.
“Art. 798. Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e
peremptórios, não se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado.
No caso da prisão provisória, a restrição à liberdade não se dá em virtude de
um aumento da pretensão punitiva, mas de mera conveniência ou necessidade
para o processo, daí aplicarem-se as regras do art. 798, § 1º, do CPP.
13. PRISÃO
CONCEITO
É a privação da liberdade, tolhendo-se o direito de ir e vir, através do
recolhimento da pessoa humana ao cárcere.
FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL DA PRISÃO
CF – art. 5 - XI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão
comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à
pessoa por ele indicada;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer
calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado
LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou
por seu interrogatório policial;
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;
A regra é que a prisão, no Brasil, deve basear-se em decisão de magistrado
competente, devidamente motivada e reduzida a escrito, ou necessita decorrer
de flagrante delito, neste caso cabendo a qualquer do povo a sua
concretização.
ESPÉCIES DE PRISÃO
Em matéria criminal existem duas modalidades de prisão.
Prisão Pena
• Refere-se ao cumprimento de pena por parte de pessoa definitivamente
condenada a quem foi imposta pena privativa de liberdade na sentença.
• É regulamentada na Parte Geral do Código Penal (arts. 32 a 42) e
também pela Lei de Execuções Penais (Lei n. 7.210/84).
• Seu cumprimento se dá em regime fechado, semiaberto ou aberto,
podendo o réu progredir de regime mais severo para os mais brandos
após o cumprimento de parte da pena e desde que tenha demonstrado
méritos para a progressão.
Prisão processual, provisória ou cautelar
• É decretada quando existe a necessidade de segregação cautelar do
autor do delito durante as investigações ou o tramitar da ação penal por
razões que a própria legislação processual elenca.
• Esta modalidade de prisão, também chamada de provisória ou cautelar,
é regulamentada pelos arts. 282 a 318 do Código de Processo Penal,
bem como pela Lei n. 7.960/89.
O princípio constitucional da presunção de inocência, segundo o qual ninguém
será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória (art. 5º, LVII, da CF), não impede a decretação da prisão
processual, uma vez que a própria Constituição, em seu art. 5º, LXI, prevê a
possibilidade de prisão em flagrante ou por ordem escrita e fundamentada do
juiz competente.
A prisão processual é medida excepcional, que só deve ser decretada ou
mantida quando houver efetiva necessidade (alta periculosidade do réu,
evidência de que irá fugir do país para não ter que cumprir pena etc.).
O tempo que o indiciado ou réu permanecer cautelarmente na prisão será
descontado de sua pena em caso de futura condenação (detração penal).
São previstas duas formas de prisão processual (ou cautelar):
• Prisão em flagrante
• Prisão preventiva
Após a Lei n. 12.403/2011, a prisão decorrente do flagrante passou a ter
brevíssima duração, pois o delegado enviará ao juiz cópia do auto em até 24
horas após a prisão, e este, imediatamente, deverá convertê-la em preventiva
ou conceder liberdade provisória.
A terceira modalidade de prisão cautelar é a prisão temporária, regulamentada
em lei especial — Lei n. 7.960/89.
Constitui crime de abuso de autoridade, descrito no art. 9º, caput, da Lei n.
13.869/2019, “decretar medida de privação da liberdade em manifesta
desconformidade com as hipóteses legais”.
A pena é de detenção, de 1 a 4 anos, e multa.
Lei nº 13.869/2019 - Art. 9º, parágrafo único, inciso I - Toda prisão deverá ser
devidamente comunicada ao juiz processante, que deverá relaxá-la, se ilegal,
sob pena de cometimento do crime de abuso de autoridade
FORMALIDADES DA PRISÃO
CPP Art.282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser
aplicadas observando-se a:
I – necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução
criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de
infrações penais;
II – adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e
condições pessoais do indiciado ou acusado.
§ 1.º As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou
cumulativamente.
§ 2.º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das
partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da
autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público.
§ 3.º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida,
o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da
parte contrária, para se manifestar no prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de
cópia do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos em
juízo, e os casos de urgência ou de perigo deverão ser justificados e
fundamentados em decisão que contenha elementos do caso concreto que
justifiquem essa medida excepcional.
§ 4.º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz,
mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do
querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em
último caso, decretar a prisão preventiva, nos termos do parágrafo único do art.
312 deste Código.
§ 5.º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a medida cautelar
ou substituí-la quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem como
voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.17
§ 6.º A prisão preventiva somente será determinada quando não for cabível a
sua substituição por outra medida cautelar, observado o art. 319 deste Código,
e o não cabimento da substituição por outra medida cautelar deverá ser
justificado de forma fundamentada nos elementos presentes do caso concreto,
de forma individualizada.
CPP Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por
ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em
decorrência de prisão cautelar ou em virtude de condenação criminal transitada
em julgado.
§ 1o As medidas cautelares previstas neste Título não se aplicam à infração a
que não for isolada, cumulativa ou alternativamente cominada pena privativa de
liberdade.
§ 2o A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qualquer hora,
respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do domicílio.
Cumprimento do mandado de prisão
Respeito ao domicílio
O §2º do art. 283 do CPP, diz que a prisão poderá ser efetuada em qualquer
dia e a qualquer hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do
domicílio, previstas no artigo 5º, XI, da CF:
CF Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (...)
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou
para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;
O cumprimento de um mandado de prisão ou mandado decorrente de uma
sentença penal condenatória transitado em julgado só pode ser realizado
durante o dia, salvo se houver consentimento do morador para ingresso no
imóvel.
Nos casos de flagrante delito, é possível a entrada no imóvel em qualquer
momento.
Se for durante o dia: O morador será intimado acerca da ordem de prisão, e
ao recursar-se a abrir a porta ou entregar-se o executor do mandado convocará
duas testemunhas e entrará à força, arrombando as portas, se preciso for.
Se for durante a noite: O morador será intimado acerca da ordem de prisão, e
ao recursar-se a abrir a porta ou entregar-se o executor do mandado deve
aguardar do lado de fora da casa, cercando todas as saídas, tornando a casa
incomunicável e, logo que amanhecer, proceder à efetivação da prisão.
Flagrante delito, desastre ou para fins de socorro: Qualquer hora do dia ou
da noite, autorizando o ingresso do domicílio mesmo sem o consentimento do
morador.
CPP Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com segurança, que o réu
entrou ou se encontra em alguma casa, o morador será intimado a entregá-lo,
à vista da ordem de prisão. Se não for obedecido imediatamente, o executor
convocará duas testemunhas e, sendo dia, entrará à força na casa,
arrombando as portas, se preciso; sendo noite, o executor, depois da intimação
ao morador, se não for atendido, fará guardar todas as saídas, tornando a casa
incomunicável, e, logo que amanheça, arrombará as portas e efetuará a prisão.
Parágrafo único. O morador que se recusar a entregar o réu oculto em sua
casa será levado à presença da autoridade, para que se proceda contra ele
como for de direito.
Parte da doutrina entende que o mandado de prisão por si só não autoriza o
ingresso no domicílio, sendo também necessário que o juiz expeça um
mandado de busca e apreensão.
No caso de prisão em flagrante, observa-se o disposto no artigo 293 do CPP
apenas naquilo em que for aplicável. Pode-se adentrar na residência até
mesmo no período noturno, como dito anteriormente.
Proibição do uso da força
CPP Art. 284. Não será permitido o emprego de força, salvo a indispensável
no caso de resistência ou de tentativa de fuga do preso.
CPP Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à prisão
em flagrante ou à determinada por autoridade competente, o executor e as
pessoas que o auxiliarem poderão usar dos meios necessários para defender-
se ou para vencer a resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também
por duas testemunhas.
Parágrafo único. É vedado o uso de algemas em mulheres grávidas durante os
atos médico-hospitalares preparatórios para a realização do parto e durante o
trabalho de parto, bem como em mulheres durante o período de puerpério
imediato.
Súmula Vinculante n° 11 do STF - Esta súmula dispõe sobre o uso de algemas.
Só é lícito o uso de algemas em casos de:
• Resistência e de fundado receio de fuga
• Perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de
terceiros
• O uso é excepcional e esta excepcionalidade deve ser justificada em
cada caso por escrito.
• Caso não haja justificativa da excepcionalidade, há pena de:
o Responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da
autoridade
o Nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere
Mudança de território
Em caso de perseguição, o artigo 290 do CPP, prevê a possibilidade de o
executor efetuar a prisão no território em que o condenado se encontra e
apresentar o indivíduo à autoridade daquele local:
Art. 290. Se o réu, sendo perseguido, passar ao território de outro município ou
comarca, o executor poderá efetuar-lhe a prisão no lugar onde o alcançar,
apresentando-o imediatamente à autoridade local, que, depois de lavrado, se
for o caso, o auto de flagrante, providenciará para a remoção do preso.
§ 1o - Entender-se-á que o executor vai em perseguição do réu, quando:
a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem interrupção, embora depois o tenha
perdido de vista;
b) sabendo, por indícios ou informações fidedignas, que o réu tenha passado,
há pouco tempo, em tal ou qual direção, pelo lugar em que o procure, for no
seu encalço.
§ 2o Quando as autoridades locais tiverem fundadas razões para duvidar da
legitimidade da pessoa do executor ou da legalidade do mandado que
apresentar, poderão pôr em custódia o réu, até que fique esclarecida a dúvida.
Art. 285. A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o respectivo
mandado.
Parágrafo único. O mandado de prisão:
a) será lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade;
b) designará a pessoa, que tiver de ser presa, por seu nome, alcunha ou sinais
característicos;
c) mencionará a infração penal que motivar a prisão;
d) declarará o valor da fiança arbitrada, quando afiançável a infração;
e) será dirigido a quem tiver qualidade para dar-lhe execução
Art. 286. O mandado será passado em duplicata, e o executor entregará ao
preso, logo depois da prisão, um dos exemplares com declaração do dia, hora
e lugar da diligência. Da entrega deverá o preso passar recibo no outro
exemplar; se recusar, não souber ou não puder escrever, o fato será
mencionado em declaração, assinada por duas testemunhas.
Art. 287. Se a infração for inafiançável, a falta de exibição do mandado não
obstará a prisão, e o preso, em tal caso, será imediatamente apresentado ao
juiz que tiver expedido o mandado, para a realização de audiência de custódia.
O art. 287 coloca uma exceção para a obrigatoriedade de apresentação do
mandado.
Art. 288. Ninguém será recolhido à prisão, sem que seja exibido o mandado ao
respectivo diretor ou carcereiro, a quem será entregue cópia assinada pelo
executor ou apresentada a guia expedida pela autoridade competente,
devendo ser passado recibo da entrega do preso, com declaração de dia e
hora.
Parágrafo único. O recibo poderá ser passado no próprio exemplar do
mandado, se este for o documento exibido.
Art. 291. A prisão em virtude de mandado entender-se-á feita desde que o
executor, fazendo-se conhecer do réu, Ihe apresente o mandado e o intime a
acompanhá-lo.
Prisão especial
Previsto no artigo 295 do CPP.
É a prisão que se dá antes da condenação definitiva (com trânsito em julgado)
para determinadas pessoas (“presos especiais”).
Nos casos de prisão cautelar, prisão em flagrante, prisão preventiva ou prisão
temporária, as pessoas previstas no referido artigo gozarão de prisão especial.
São elas:
• Ministros de Estado
• Governadores ou interventores de Estados ou Territórios
• Prefeito do Distrito Federal e seus respectivos secretários
• Prefeitos municipais, vereadores e chefes de Polícia
• Membros do Parlamento Nacional, do Conselho de Economia Nacional e
das Assembleias Legislativas dos Estados
• Cidadãos inscritos no "Livro de Mérito"
• Oficiais das Forças Armadas e militares dos Estados, do Distrito Federal
e dos Territórios
• Magistrados
• Diplomados por faculdades superiores da República
• Ministros de confissão religiosa
• Ministros do Tribunal de Contas
• Cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a função de jurado (salvo
quando excluídos da lista por motivo de incapacidade para o exercício
daquela função)
• Delegados de polícia e guardas-civis dos Estados e Territórios (ativos e
inativos)
Os presos especiais não são transportados junto com presos comuns e devem
ser recolhidos a locais distintos da prisão comum (quartéis ou a prisões
especiais), à disposição da autoridade competente.
Eles poderão ser recolhidos nos mesmos estabelecimentos prisionais que os
demais presos apenas quando não houver um estabelecimento específico.
Nestes casos, devem permanecer em em cela distinta (que pode ser em
alojamento coletivo desde que atenda a requisitos de salubridade).
Prisão provisória
Art. 300. As pessoas presas provisoriamente ficarão separadas das que já
estiverem definitivamente condenadas, nos termos da lei de execução penal.
Parágrafo único. O militar preso em flagrante delito, após a lavratura dos
procedimentos legais, será recolhido a quartel da instituição a que pertencer,
onde ficará preso à disposição das autoridades competentes.
PRISÃO EM FLAGRANTE
Modalidade de prisão processual expressamente prevista no art. 5º, LXI, da
Constituição Federal, e regulamentada nos arts. 301 a 310 do Código de
Processo Penal.
A palavra “flagrante” indica que o autor do delito foi visto pratican-do ato
executório da infração penal e, por isso, acabou preso por quem o flagrou e
levado até a autoridade policial.
Insere-se no rol das prisões de natureza provisória.
Tem cunho processual.
Busca na qualidade de medida cautelar, assegurar o efetivo cumprimento da
pena in concreto a ser imposta ao sujeito ativo do delito-tipo.
CF – Art. 5, LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos
de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
CPP - Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus
agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito.
Para maior alcance ao conceito de flagrância, estabeleceu, no art. 302 do
Código de Processo Penal, quatro hipóteses em que referido tipo de prisão é
possível, sendo que, em algumas delas, o criminoso até já deixou o local do
crime.