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Cesário Verde

Características realistas:

1. Supremacia do mundo externo, da materialidade dos objetos, impõe o


real concreto à sua poesia;

2. Predomínio do cenário urbano;

3. Situa espaço-temporalmente as cenas apresentadas;

4. Atenção ao pormenor, ao detalhe:

5. A seleção temática: a dureza do trabalho (“cristalizações”, num bairro moderno,


a doença e a injustiça social (“contrariedades”); a imoralidade das “impuras”: a
desonestidade do “ratoneiro” e a “miséria do velho professor" (“O sentimento
dum ocidental”).

6. A presença do real histórico: a referência a Camões e o contexto sociopolítico


(“O sentimento dum ocidental”).

7. A linguagem burguesa, popular, coloquial, rica em termos concretos;

8. Poesia estimulada pelo real, que inspira o poeta, que se deixa observar pelas
formas materiais e concretas.

Características modernistas:

1. A realidade é divulgada através dos olhos do poeta, que recria,


através do concreto, uma super realidade através da
imaginação transfiguradora.
2. Abre à poesia as portas da vida e assim traz o inestético, o
vulgar, o feio, a realidade trivial e quotidiana;
3. Forte componente sinestésico, de pendor impressionista, que
valoriza a sensação em detrimento do objeto real;
4. Um certo interseccionismo entre planos diferentes, visualismo e
memória, real e imaginário, etc. (Concretizado muitas vezes em
hipálages sugestivas).
A poesia de Cesário Verde combina uma extraordinária capacidade
de observação e auto-observação, assumida pelos diferentes “eus”
representados nos seus poemas, com uma exigência técnica que
abriu novos caminhos à poesia portuguesa.

Contextualização: Impressionismo

No fim do século XIX, coexistem várias correntes estéticas e


anunciam-se outras que se inscrevem no romantismo ou no realismo,
ou se apresentam como contraditórias. O impressionismo ressalta na
arte e distancia-se do realismo ao revelar-se mais pessoal.

Cesário Verde inspira-se na captação da outra face da realidade


lisboeta.

Ao vaguear denuncia o lado oposto ao da grandeza, focando-se nos


lugares pobres e nauseabundos e nos humildes que sustentam a
cidade, Transfigurando o que vê capta as personagens intermédias e
as incertas que, tal como a cidade, tentam esconder a sua condição,

Para Cesário, ver é perceber o que se esconde e, por isso,


perceciona a cidade minuciosamente, através dos sentidos, E o “eu”
resulta daquilo que vê.

Em Cesário Verde raramente os interiores são retratados, porque o


“eu” está em movimento, numa cidade cheia de homens autênticos, e
a sua consciência acompanha essa evolução do espaço.

Linguagem e estilo:

● Poemas longos: versos longos (decassilábicos ou


dodecassilábicos), estrofes de 4 ou 5 versos (quadras ou
quintilhas);
● Vocabulário objetivo e concreto;
● Recurso a adjetivos e advérbios expressivos;
● Metáforas, sinestesia, comparação, enumeração, hipálage,
ironia.

Temáticas de Cesário Verde

Deambulação, Imaginação e transfiguração

O poeta anda por Lisboa, cidade triste, num cenário social mórbido,
nauseabundo que origina um desejo de evasão. A fuga a esse
espaço de miséria faz-se, muitas vezes, através da transfiguração do
real através da imaginação ou da evocação de um tempo passado ou
de locais longínquos.

Transfiguração do real:

Cesário Verde tem um modo espacial de ver e captar o que o cerca.


A sua visão de poeta penetrante e lúcida, permite-lhe a transfiguração
do observado, sem nunca perder a ligação ao real.

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