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Betão Armado

FUNDAÇÕES
SUPERFICIAIS

N N

a1 a1

a ≤ 2Η
1

Argila Areia
Sapatas Rígidas Deformação do solo
Tensão média
N N

a1 a1

a > 2Η
1

Argila
Areia
Sapatas Flexíveis

série ESTRUTURAS

joão guerra martins 1.ª edição / 2003


Prefácio

Este texto resulta do trabalho de aplicação realizado pelos alunos de sucessivos cursos de
Engenharia Civil da Universidade Fernando Pessoa, vindo a ser gradualmente melhorado e
actualizado.

A sua fonte assenta em sebentas das cadeiras congéneres de diversas Escolas e Faculdade de
Engenharia (Universidade do Porto, Instituto Superior Técnico de Lisboa, Universidade de
Coimbra e outras), bem como outros documentos de entidades de reconhecida idoneidade
(caso do L.N.E.C.), além dos tratados clássicos desta área e outra bibliografia mais recente,
cuja referência se encontra no final deste trabalho.

Contributo decisivo teve, igualmente, o Eng.º Manuel Miranda da Silva e Fernando de Bastos
Coutinho, sendo parte importante do texto apresentado conteúdo revisto da monografia de
licenciatura por si elaborada.

Apresenta-se, deste modo, aquilo que se poderá designar de um texto bastante compacto,
completo e claro, entendido não só como suficiente para a aprendizagem elementar do aluno
de engenharia civil, quer para a prática do projecto de estruturas correntes.

Certo é ainda que pretende o seu teor evoluir permanentemente, no sentido de responder quer
à especificidade dos cursos da UFP, como contrair-se ao que se julga pertinente e alargar-se
ao que se pensa omitido.

Para tanto conta-se não só com uma crítica atenta, como com todos os contributos técnicos
que possam ser endereçados. Ambos se aceitam e agradecem.

João Guerra Martins


Estruturas Betão Armado

Cap. I - Introdução

1.1. Apresentação

O projecto duma fundação superficial deve prever que esta reuna as características básicas
no que respeita à segurança, fiabilidade e utilidade funcional, do modo mais económico
possível. As mais importantes dessas características referem-se à profundidade adequada,
aos assentamentos aceitáveis e à segurança em relação à ruptura (quer do solo, quer da
própria fundação).

É fundamental o conhecimento geológico ou observação e ensaio dos solos, nesta área da


engenharia, a par da experiência que permitirá a aplicação dos métodos empíricos, para a
resolução dos problemas que diariamente se colocam a quem tem que intervir neste
domínio. Esta atitude de pesquisa e/ou verificação deve existir na fase do projecto de
execução e na fiscalização da construção. Casos há em que os dados sobre o solo
superficial não permitem garantir a segurança e estabilidade estrutural e, assim, terá que se
avançar para outras soluções com base em fundações profundas.

Muito embora não esteja no âmbito deste trabalho a abordagem do estudo geotécnico dos
terrenos, quando a estrutura do projecto que se pretende fundar o necessitar ou justificar,
deverá fazer-se o reconhecimento e as sondagens necessárias que visem seleccionar o tipo
de fundações a realizar. Apenas se faz uma referência aos tipos de reconhecimento de solos
que comportam, em regra, sondagens de percussão.
Só para solos muito duros, já na transição para rocha, é que haverá necessidade de recorrer
a sondagens de rotação. Excepciona-se o caso da necessidade de uma amostragem
indeformada de solos, para o que interessa uma sondagem de rotação, com o objectivo de
obter uma boa amostra.

A fundação deve ter em conta a sua profundidade, as estruturas adjacentes já existentes ou


previstas, para minimizar a possibilidade de mútuo prejuízo resultante das operações de
construção ou da transmissão de cargas adicionais aos terrenos de suporte.

Fundações Superficiais / Introdução Capítulo I / 1


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Se o projecto deve atender aos aspectos referidos, caberá à execução verificar da sua
conformidade e detectar eventuais divergências entre o projecto e a realidade, alertando e
prevenindo para as consequentes adaptações.

A segurança à ruptura deve ser assegurada tanto no que diz respeito à ruptura do terreno,
como da estrutura sapata-pilar, admitindo-se o conjunto adequadamente dimensionado e
executado para condições adequadas de funcionamento e de reacção do terreno. São
condições essenciais a tensão de segurança do terreno, a dimensão da sapata (em planta e
altura), a armadura e a sua pormenorização, a qualidade do betão e sua colocação, etc..

A motivação do trabalho em causa prende-se, pois, com a problemática da execução das


fundações superficiais cujo tema, sempre actual, envolve um conhecimento teórico e
prático, cujo contributo aqui deixado não será muito mais que a recolha de temas
pertinentes em bibliografia diversa da especialidade. Assim, foi feita uma pesquisa ao nível
de várias publicações e textos soltos, o que permitiu compilar alguns conceitos teóricos e
conhecimentos práticos dos tipos de fundações superficiais.

1.2. Tipos usuais de fundações

1.2.1. Generalidades

É habitual encontrar na literatura da especialidade diversas classificações por tipos,


tendentes a sistematizar a descrição e a categorizar as fundações. Encontram-se
classificações de acordo com a profundidade: superficiais e profundas; de acordo com o
método construtivo: métodos correntes e especiais; de acordo com o material de
construção: de betão, de alvenaria, metálicas.

Efectuando uma escolha entre as diversas classificações usuais, opta-se nesta exposição
pela primeira - superficiais e profundas - por se afigurar mais bem ajustada à principal
problemática envolvida, a geotécnica. Também é usual, dentro da mesma classificação,
usar outra terminologia - fundações directas e indirectas - querendo com estes termos
designar o mesmo que se pretende com os termos ´´superficial´´ e ´´profundo´´.

Fundações Superficiais / Introdução Capítulo I / 2


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Nesta conformidade, por fundação superficial entende-se aquela em que basicamente, as


solicitações são transmitidas aos solos pela face inferior do elemento de fundação. Embora
as fundações nunca assentem rigorosamente à superfície do solo, pois á sempre
necessidade de as enterrar, nem que seja um mínimo requerido por razões obvias de
protecção estética a contribuição do terreno que existe lateralmente é desprezado,
normalmente. ~
Como se intui, facilmente, estas fundações transmitem as cargas da estrutura que suportam
directamente às camadas superficiais do terreno: daí a designação de directas ou
superficiais.

Numa fundação profunda, como se deduz por simples lógica, as solicitações transmitidas
são absorvidas em parte pela face inferior ou extremo do elemento, e outra parte por
aderência das faces laterais do elemento–fuste–ao solo lateralmente adjacente. É verdade
que num elemento de fundação que atravesse formações muito moles e vá atingir uma
formação que contraste fortemente em resistência com as camadas suprajacentes, esta
segunda parcela é usualmente desprezada.
Trata-se, porém, de negligenciar uma grandeza por ela ser pequena em comparação com a
outra parcela a que se adiciona, mas que formalmente poderia ser considerada, dentro da
metodologia de cálculo adoptada.
Por outro lado, é também habitual que este tipo de fundações tenha cotas de base bastante
mais profundas que as anteriores, bem como se tenha que interpor um elemento intermédio
entre a estrutura e as mesmas (caso dos maciços de encabeçamento): daí a designação de
profundas ou indirectas.
Numa fundação superficial, pelo contrário, os métodos de calculo são formulados em
termos de não contar com aderência lateral do terreno ás paredes dos elementos de
fundação.

1.2.2. Reconhecimento do solo de fundação e capacidade de carga

O problema da determinação da capacidade de carga dos solos é dos mais importantes para
o engenheiro civil que projecta ou executa fundações.

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A escolha do tipo de fundação depende de vários aspectos relacionados, quer com o tipo de
estrutura do edifício, quer especialmente com as características geotécnicas do solo de
fundação. É este ultimo aspecto que se vai abordar.

Os métodos de prospecção geotécnica e geológica existentes são muitos e a escolha do


mais apropriado dependerá, entre outros factores, da dimensão e importância da obra e do
conhecimento prévio eventualmente existente do terreno de fundação.

Seguidamente referem-se os principais métodos de prospecção habitualmente utilizados no


reconhecimento dos solos e que devem ser escolhidos de acordo com as características da
obra e da zona de implantação.

Assim, para uma caracterização de grandes áreas e para permitir uma avaliação em termos
globais, a possibilidade de realizar, numa primeira fase uma prospecção sísmica ou
eléctrica.

Para uma avaliação mais localizada dos terrenos pode recorrer-se aos seguintes métodos de
prospecção. (Camara, J. Noronha e Correia, A. Gomes. Notas Sobre Fundações de Edifícios. Instituto
[]
Superior Técnico). 1

- Poços e valas quando se prevê a fundação próxima da superfície;


- Ensaios de penetração estática (CPT) e de penetração dinâmica, como o do
penetrometro dinâmico ligeiro (LNEC), este último para pequenas
profundidades;
- Sondagens de percursão a utilizar em solos ou rocha branda com realização de
ensaios SPT com recolha de amostras;
- Sondagens de rotação a utilizar em rochas com eventual extracção de
amostragem;
- Ensaio de molinete para caracterização da coesão não drenada de solos
argilosos;
- Ensaios de placa;
- Ensaios de pressiometro;

Fundações Superficiais / Introdução Capítulo I / 4


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- Ensaios de Lefranc (solos) e Lugeon (rochas) para caracterização de


permeabilidade.

As amostras retiradas através dos métodos directos de prospecção poderão ser ensaiadas
em laboratório para o que se dispõe entre outros dos seguintes ensaios:

- Granulometria e limites de consistência (identificação do solo);


- Compressão simples;
- Corte directo;
- Compressão triaxial;
- Ensaio edométrico.

Na utilização de ensaios “in situ”, diversos métodos podem ser usados para determinar a
capacidade de carga e a deformabilidade dos solos. Destes, uns servem para determinar “in
situ” e não em laboratório, as características geotécnicas que intervêm nas formulas
clássicas. São utilizados de preferência nos casos de materiais onde seja difícil a recolha de
amostras com qualidade satisfatória, bem como a sua análise laboratorial. De facto, a
utilização destes ensaios não modifica em nada os métodos de cálculo da resistência do
solo (caso da utilização do ensaio SPT).

Inversamente, outros métodos permitem obter, mais ou menos directamente, o valor da


capacidade de carga, enquanto outros podem ainda ser utilizados das duas maneiras (como
os ensaios de penetração).

Convém assinalar que todos estes métodos, que são somente resultados aproximados,
exigem bom conhecimento da estrutura geológica do terreno e experiência comprovada de
quem os utiliza. (Coelho, Silvério, Tecnologia de Fundações, Edições E.P.G.E.). [3]

Quando uma carga proveniente de uma fundação é aplicada ao solo, este deforma-se e a
fundação assenta, como se sabe para um mesmo solo e igual área de influência. Quanto
maior a carga, maiores os assentamentos. Como indicado na fig. I.1, para pequenas cargas
os assentamentos são aproximadamente proporcionais.

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Das duas curvas pressões-assentamentos mostradas, observa-se que uma delas apresenta
uma bem definida pressão de ruptura pr, que, atingida, os assentamentos tornam-se
incessantes. Este caso, designado por ruptura generalizada, corresponde aos solos pouco
compressíveis (compactos ou rijos).

P'r Pr
p
C

A
r'

B
r

Fig. I.1 – Pressões - assentamentos

A outra curva mostra que os assentamentos continuam crescendo com o aumento das
pressões, porém não evidência, como anteriormente, uma pressão de ruptura; esta será
então arbitrada (pr´) em função de um assentamento máximo (r´) especificado. Neste caso,
denominado ruptura localizada, enquadram-se os solos muito compressíveis (muito
deformáveis).

Atingida a ruptura, o terreno desloca-se arrastando consigo a fundação, como mostrado na


fig. I.1. O solo passa, então, do estado “elástico” ao estado “plástico”. O deslizamento ao
longo da superfície ABC é devido à ocorrência de tensões de cisalhamento maiores que a
resistência ao cisalhamento do solo.

Não são muito comuns os acidentes de fundação devidos a ruptura do terreno, o que
demonstra os cuidados que normalmente implica.

A pressão de ruptura ou capacidade de carga de um solo é, assim, a pressão (ou tensão) pr,
que aplicada ao solo causa a sua ruptura. Afectando-a de um adequado coeficiente de
segurança, da ordem de 2 a 3, obtém-se a pressão (ou tensão) admissível, a qual deverá ser
“admissível” não só à ruptura como às deformações excessivas do solo.
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O cálculo da capacidade de carga do solo pode ser feito por diferentes métodos e
processos, embora nenhum deles seja matematicamente exacto.

No que respeita a coeficiente de segurança não é simples a escolha do adequado, nos


cálculos de Mecânica de Solos. Na literatura técnica encontram-se numerosas regras
particulares atendendo à natureza de cada obra. Vejam-se os “critérios” de Brinch Hansen,
como mencionado pelo Prof. Dirceu de Alencar Velloso em sua conferência. [2 ]

Por outro lado, podem dar origem a deformações excessivas ou rotura das fundações
algumas das causas que se listam a seguir:

- aplicação de cargas e sobrecargas estruturais;


- abaixamento do nível freático;
- contracção do solo por secagem;
- expansão ou colapso da estrutura do solo por humidificação;
- nos solos argilosos, contracção devida ao crescimento rápido de árvores ou
expansão depois da remoção destas;
- colapso, ou assentamento, devido à vizinhança de caves, minas, galerias ou
poços (mal revestidos ou mal entivados);
- vibrações em terrenos brandos, especialmente areias soltas;
- variações sazonais do teor de humidade do solo;
- efeitos do gelo;
- ataque químico (corrosão do aço, presença de sulfatos junto ao betão, etc.), em
geral, e especialmente na vizinhança de instalações fabris.

O valor do assentamento admissível depende do tipo de estrutura a fundar (e da sua


utilização). É essencial manter controlo sobre os assentamentos diferenciais para evitar
dificuldades na utilização da estrutura bem como esforços secundários insuportáveis.

Os assentamentos totais também devem ser limitados, não só por poderem dar origem aos
assentamentos diferenciais, mesmo em condições de aparente homogeneidade do terreno
de fundação, mas também por criarem alterações nas cotas de acesso aos edifícios e roturas
ou avarias nas ligações de águas, esgotos, canalizações de gás, etc.

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A titulo de exemplo e considerando a distância L entre dois pilares consecutivos, os


assentamentos diferenciais não devem ultrapassar os seguintes valores: (Coelho, Silvério,
Tecnologia de Fundações, Edições E.P.G.E.). 3 []

- L/300 para os edifícios habituais;


- L/500 se se prevêm muitas máquinas e não se pretende correr riscos nestes
assentamentos;
- L/1000 ou menos para certos equipamentos especialmente exigentes (devem
ser referidos no Projecto/Caderno de Encargos);
- B/250 para torres ou chaminés de largura de base B;
- L/100 para grandes armazéns de mercadorias não exigentes;
- L/750 se esses armazéns forem equipados com sensíveis equipamentos
automáticos modernos;
- L/300 para grandes reservatórios metálicos, ao longo da coroa periférica,
embora entre o centro e a periferia desses reservatórios possam ocorrer, às
vezes, assentamentos diferenciais de alguns decímetros.

A fundação superficial não pode suportar tracção e, por isso, procura-se que a
excentricidade não ultrapasse o terço central. No caso contrário é a excentricidade que
define a largura activa da sapata (distribuição da tensão de contacto triangular em vez de
trapezoidal – no caso de análise plana).

1.2.3. Fundações superficiais - principais tipos

Sapatas isoladas são elementos de fundação de planta quadrada ou rectangular pouco


alongada, com uma menor dimensão horizontal que em regra excede o dobro ou o triplo da
altura ou, excepcionalmente serão circulares. Podem ser construídas de alvenaria
(actualmente é uma solução pouco usada), de betão armado ou de betão simples, tomando
então a conformação de blocos prismáticos, sendo, talvez, esta última a forma construtiva
mais recomendável, por expedita e económica.
Embora às vezes se negligencie este pormenor construtivo, devem as sapatas isoladas ser
ligadas por lintéis de travamento, peças de dimensões arbitradas, podendo não ser incluídas
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na substância do cálculo estrutural e contribuindo portanto com efeitos de solidarização


não quantificados, mas que a prática tem mostrado serem muito benéficos para um
conveniente comportamento de conjunto.
Refira-se que nos tempos correntes estes lintéis de fundação não tem qualquer dificuldade
de ser simulados em cálculo automático, com as grandes vantagens de poderem absorver
de forma directa parte dos momentos instalados nos pilares, sendo a grandeza das tensões
no solo da base de fundação atenuada, por diminuição do valor desses momento na base do
pilar.
Acresce ainda, como será visto, que a própria excentricidade do centro de gravidade do
pilar face ao centro de gravidade da viga, no caso de sapatas excêntricas (limite de
propriedade, por exemplo), pode também ser imediatamente considerada;

Fig. I.2 – Sapata isolada

Fig. I.3 – Sapata corrida

Sapatas corridas são elementos de fundação de planta alongada que acompanham


elementos super-estruturais de uma estrutura resistente em painéis, como por exemplo as

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clássicas edificações de paredes resistentes, muros de suporte, ou as modernas estruturas de


painéis pré-fabricados, bem como um conjunto de pilares;

Fig. I.4 – Sapatas corridas travadas por linteis de fundação.

Ensoleiramentos são em particular peças de fundação de grande desenvolvimento em


planta e pequena espessura, lajes de fundação portanto, constituindo “jangada” sobre a qual
repousa toda a edificação. Podem ser de espessura constante ou nervuradas.
Embora conceptualmente não tenha de haver nenhuma correspondência obrigatória entre a
localização das colunas, ou outros elementos transmissores das cargas verticais da super-
estrutura, muitas vezes procura-se que haja coincidência das zonas mais carregadas com a
nervuração.
Na concepção de um edifício com ensoleiramento há que garantir que a resultante das
cargas verticais se situe próximo do centro de gravidade da laje de fundo e, com uma
adequada margem de segurança, dentro do núcleo central. Desta forma garante-se uma
distribuição de tensões relativamente uniforme e limita-se eventuais inclinações do
edifício.
Se a arquitectura prevista para o edifício não for compatível com aquele requisito há que
subdividi-lo em blocos de ensoleiramentos para os quais se verifique essa condição. A
distribuição de tensões no solo de fundação é particularmente difícil de avaliar com rigor.
E isto porque a distribuição de tensões depende da rigidez relativa do solo e da laje de
fundo, que, como se sabe, nem é a mesma para diferentes níveis de carga. Também se
podem adoptar pequenos ensoleiramentos quando um conjunto de peças verticais vê a
implantação das suas sapatas sobreporem-se.

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Fig. I.5 – Sapata corrida sob muro.

Fig. I.6 – Sapata corrida sob pilares.

Fig. I.7 - Ensoleiramento

1.2.4. Fundações profundas - principais tipos

Há duas subdivisões principais a considerar: estacas e pegões. Será prudente referir, muito
embora, que os pegões podem apresentar geometria e colocação passível de caírem, de
certa forma, perto do campo de definição das fundações directas. Distinguem-se pelos
métodos construtivos e pela esbelteza (relação comprimento / dimensão transversal).
Contudo, porque actualmente certos métodos construtivos que se têm desenvolvido se
adaptam bem á construção de elementos, quer com a configuração geométrica tradicional
dos pegões, quer com a geometria habitual de estacas, resulta que será sobretudo a
dimensão e configuração da secção transversal e a esbelteza, que deverão servir de critério
distintivo entre estacas e pegões.

A adopção de fundações profundas surge, em regra, porque em certos casos é impossível


realizar fundações superficiais. Isto acontece quando se está na presença de camadas de

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terreno de capacidade portante muito pequena, sujeitas a grandes assentamentos, ou


passíveis de arrastamento ou fácil erosão (fundações de pontes, por exemplo).

As fundações profundas podem ser:

a) Estacas - são peças longas de fraca secção transversal que servem de veículo de
transmissão de cargas entre a base da estrutura e a camada firme de fundação (no caso de
secções circulares, de diâmetro pouco excedendo 1 m, muito frequentemente com secções
ainda menores) e com esbeltez maior do que 6 ou 7.

Há que distinguir dois tipos fundamentais: estacas cravadas e estacas moldadas no terreno.

As estacas cravadas podem ser de aço, comportando uma gama muito variada de perfis,
(perfil I, tubulares, perfis compósitos) e como é obvio, para ter bom aproveitamento da alta
resistência do aço, exibem sempre elevada esbeltez. São também muito frequentes estacas
cravadas de betão armado, sendo modernamente quase sempre pré-esforçadas, para as
robustecer em relação à operação de içamento e suspensão. De facto, muitas vezes, para
estacas longas, as operações de transporte e preparação da cravação são a solicitação
determinante do dimensionamento. São também usadas estacas de madeira, hoje pouco
frequentemente e em regra só para obras provisórias.

b) Pegões (Poços) - os pegões não são senão estacas do tipo moldado, mas de grande
secção transversal, nunca inferior a 1m2, mesmo habitualmente com secção bastante
maior. São frequentes as secções circulares, mas também são muito comuns secções
quadrangulares, normalmente executados em betão simples ou armado. Têm um âmbito
mais limitado de aplicação.

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Maciço

Estacas Solo Mau

Solo Bom

Fig. I.8 – Estacas

Maciço

Poços Solo Mau

Solo Bom

Fig. I.9 – Pegões (Poços)

No caso de fundações próprias de estruturas metálicas do tipo naves industriais, os pegões


assentam sobre o solo superficial, sendo as suas dimensões, sobretudo a vertical,
necessárias não só para se mobilizar o impulso passivo lateral do terreno, como para
servirem de lastro (peso suplementar) face à solicitação ascendente da acção do vento.

c) Caixões - são normalmente caixas ocas, de betão que são descidas no terreno por
“havage” (escavação pelo interior), ou levados a flutuar na água para o local de
implantação e então afundados.

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Uma variante interessante de escavação associada a uma descida por “havage”, é a que se
realiza ao abrigo de uma câmara de ar comprimido, a seco, já que a água exterior é
impedida de entrar na câmara pela pressão do ar. O alcance destas obras é limitado e exige
uma boa capacidade portante ao nível do extracto interessado.

Caixão

Havage

Fig. I.10 – Caixões “havage”

1.2.4.1. Estacas

O emprego de estacas é geralmente indicado nos seguintes tipos de situações:

a) Para transmitir as cargas através da água ou de solos moles até camadas de


capacidade portante adequada, por meio de estacas resistentes pela ponta;
b) Para transmitir as cargas a uma camada espessa de solo relativamente pouco
consistente, por atrito lateral ao longo do fuste das estacas (estacaria flutuante);
c) Para ancorar as obras sujeitas ao sobreelevamento na sequência de pressões
hidrostáticas, ou de um momento derrubador;
d) Para fornecer a ancoragem necessária, permitindo resistir a tracções horizontais
devidas a uma cortina de estacas – pranchas;
e) Para resistir a forças horizontais ou inclinadas importantes;
f) Como órgão de protecção (quebra-ondas) de obras marítimas, ou elementos de
amarração de embarcação.

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As estacas podem ser classificadas segundo a sua natureza (madeira, aço, betão, etc.), o seu
tipo de execução (cravadas ou moldadas), ou ainda segundo as suas funções (estacas de
tracção, estacas de atrito lateral, ou estacas de compactarão). Todavia, a classificação mais
importante e aquela que vamos reter é a que se baseia no processo de execução - Estacas
Cravadas ou Moldadas.

1.2.4.2. Pegões

Designa-se por pegões um elemento de fundação profunda com elevada secção transversal,
nunca inferior a 1m2 e mesmo habitualmente com secção bastante superior. A esbelteza
costuma andar entre 5 a 8, são frequentes as secções circulares, mas também são muito
comuns secções quadrangulares. Os pegões de secção muito elevada, da ordem da dezena
de m2, são mais frequentemente de secção quadrangular e comportam septos,
subdividindo-os em células. Obviamente que os septos aumentam a rigidez da secção e
permitem trabalhar em escavação separadamente em cada célula, o que pode trazer
substanciais vantagens de ordem construtiva.

Em linguagem de estaleiro, as designações de Poços, Caixões ou Tubulões, referem-se a


Pegões.

- O afundamento

Em pegões do tipo caixão, até á profundidade desejada, costuma fazer-se pelo processo
que é habitual designar por ´´havage´´ escavação do solo do interior do pegão usando uma
qualquer escavadora, verificando-se o auto afundamento do pegão conforme escavação
progride. Foi muito usado, mas encontra-se actualmente em franca regressão pelo seu
elevado custo. O uso de ar comprimido para, abaixo do nível hidrostático, manter o interior
do pegão a seco permitindo, assim, o acesso de homens para escavação manual de solos
que as escavadoras têm dificuldade em remover, contudo, foi um processo bastante usado.
O elevado custo da mão de obra no trabalho a ar comprimido faz com que, nas condições
actuais, outras soluções sejam em geral adoptadas.

Em pegões circulares de secção não muito elevada faz-se, por vezes, o alargamento da sua
base escavando com equipamento adequado uma secção troncocónica. Este processo não é
muito usado em Portugal, mas tem larga difusão geral.

Fundações Superficiais / Introdução Capítulo I / 15


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O grande desenvolvimento que recentemente tem sido a técnica que entre nós é conhecida
pela designação de ´´paredes moldadas´´, veio abrir novas perspectivas á construção de
fundações profundas. Como é sabido, consiste fundamentalmente esta técnica em tirar
partido do efeito estabilizador que sobre as paredes de poços profundos, desde que não
muito extensos, têm as suspensões de bentonite. Pode-se assim abrir um poço dispensando
entivação, contando que a sua escavação seja feita simultaneamente com o seu
preenchimento com suspensão de bentonite. Uma parede moldada é construída lançando
betão, por tremonha, no fundo da escavação preenchida pela calda de bentonite. A
bentonite é expulsa (e recuperada) ficando betão em seu lugar a preencher a escavação. Se
se introduzir, antes da betonagem, uma armadura no poço, obter-se-á uma parede de betão
armado.

É fácil visualizar a extrema variedade de soluções de fundações profundas que com esta
técnica se podem conseguir: estacas de grande diâmetro, elementos alongados (´´barrettes´´
na terminologia francesa), associações de diversas ´´barrettes´´ formando secções em T ou
em U ou ainda recintos fechados, equivalentes a autênticos pegões. Poder-se-á dizer que,
com poucas limitações associadas a terrenos particularmente difíceis, é a mais promissora
das técnicas de que actualmente se dispõe para fundações de alta capacidade de carga. Para
cargas moderadas continuam as estacas convencionais a ser a solução mais adequada.

1.3. Critérios gerais de verificação da segurança do solo de fundação

1.3.1. Capacidade de carga

A carga limite última vertical Q de uma fundação pode ser avaliada analiticamente. Para
tal deverão ser consideradas situações a curto e longo prazo, particularmente em solos
finos, onde a variação das pressões intersticiais ao longo do tempo pode conduzir a
variações da resistência do solo.

Em terrenos suficientemente homogéneos a carga limite última do solo de fundações pode


ser avaliada com recurso às equações baseadas na teoria da plasticidade, as quais têm em

Fundações Superficiais / Introdução Capítulo I / 16


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consideração, por um lado, a forma e a profundidade da fundação e, por outro lado, a


inclinação e excentricidade da carga.
A deformação do solo de fundação tem três componentes, o assentamento imediato (areias
e comportamento não drenado das argilas), hidrodinâmico (consolidação primária,
importante em argilas de consistência mole a média) e secular (consolidação secundária,
significativa em solos orgânicos e argilas muito sensíveis). Para a sua avaliação há que
recorrer à bibliografia clássica da mecânica dos solos. A interacção solo-estrutura pode ser
considerada no modelo de cálculo desde que a rigidez do solo de fundação seja
devidamente quantificada.

Como forma de controlo aproximada da deformação total em solos arenosos a um valor de


2.5cm e que pode ser de grande utilidade na fase de pré-dimensionamento das fundações,
indica-se seguidamente a tensão admissível função do valor SPT. (Peck, Hansen e Thornburn.
[ ]
1974). 12

N (SPT) 5 10 20 30 40 50

sadm (kN/m2) 60 100 210 320 430 520

Quadro I.1 – Correlação entre o número de pancadas do SPT e a tensão admissível do solo

A verificação da segurança das fundações deve ser estabelecida na mesma base do que
qualquer outro elemento estrutural. Assim, os princípios gerais da segurança deverão
obedecer ás disposições internacionalmente aceites e definidas na regulamentação
Portuguesa sobre acções (R.S.A.). No entanto, a aplicação ás fundações desses princípios
levanta algumas dificuldades. O EUROCODE 7 virá certamente ajudar a enquadrar
regulamentarmente a verificação da segurança de fundações. Este regulamento define os
estados limites para as fundações que a seguir se apresentam:

1.3.2. Estados limites últimos

Os Estados Limites Últimos a considerar são, genericamente (Instituto Superior Técnico.


[]
Associação dos estudantes. Betão armado II. Notas sobre fundações de edifícios). 6

Fundações Superficiais / Introdução Capítulo I / 17


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1. Perda de equilíbrio da estrutura ou alguma parte dela, considerada como um corpo


rígido;
2. Colapso por deformação excessiva, rotura, ou perda de estabilidade da estrutura ou
alguma parte dela, incluindo suportes ou fundações. As verificações aos estados limites
últimos contemplam a análise da estabilidade global (inclui as fundações junto a
taludes naturais ou aterros, escavações, rios, canais, reservatórios ou trabalhos
subterrâneos), da rotura por falta de resistência do solo de fundação, da rotura ao
deslizamento (principalmente quando a carga não é normal á fundação) e da rotura das
estruturas devido a movimentos no solo de fundação (também designados de
assentamentos de apoio);

3. Rotura por corte ou punçoamento do solo. De acordo com Terzaghi [16] a tensão de
rotura por corte ou punçoamento do solo, pq, é função de vários parâmetros dos quais
se destacam:

- coesão (c);
- atrito (φ);
- peso específico (γ);
- profundidade (t);
- dimensão do elemento (b).

A verificação da segurança consiste assim em satisfazer a relação Nsd ≤ Pq . A´, em


que A´ representa a área activa da fundação. Alternativamente esta verificação pode ser
realizada com base no critério de tensões de segurança.

A tensão de segurança a utilizar é definida por:

gp
σseg = com γs ≥ 3.0
γs

e a verificação da segurança expressa por:

N
σ (N, M) = ≤ σseg
Autil
Embora dependendo do critério usado, os esforços N e M não são normalmente
majorados, sendo os coeficientes de segurança aplicados na passagem da tensão de

Fundações Superficiais / Introdução Capítulo I / 18


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rotura do terreno da a admissível, sendo os esforços (M e N) retirados de valores de


serviço para combinações raras de acções.

N
M

N+M N'
e

N'

A'

σ (N,M)

Fig. I.11 – Diagrama de tensões uniformes

A tensão de segurança a utilizar é definida por:

gp
σseg = com γs ≥ 3.0
γs

e a verificação da segurança expressa por:

N
σ (N, M) = ≤ σseg
Autil

Embora dependendo do critério usado, os esforços N e M não são normalmente


majorados, sendo os coeficientes de segurança aplicados na passagem da tensão de
rotura do terreno da a admissível, sendo os esforços (M e N) retirados de valores de
serviço para combinações raras de acções.

4. Escorregamento, que materializa a possibilidade da sapata deslizar sobre o solo de

fundação.

N .tg .∂
≥ γs com γs ≥ 1.5
H

Fundações Superficiais / Introdução Capítulo I / 19


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5. Derrubamento, que estuda com que a fundação pode ser derrubada rodando sobre um

ponto do terreno.

Mest .
≥ γs com γs ≥ 1.5
Mder.

6. Critérios de dimensionamento. Os critérios de dimensionamento do material orgânico


da fundação são os normais para peças estruturais, entre os quais no caso se destacam
os seguintes:
- Momento Flector;
- Esforço Transverso;
- Punçoamento;
- Aderência.

N
M

Fig. I.12 – Solicitações fundamentais a que uma sapata está sujeita

1.3.3. Estados limites de utilização

Nestes destacam-se as deformações ou movimentos que afectam a aparência, a


funcionalidade da estrutura ou ainda causem danificações em elementos não estruturais
(desde fissuração excessiva de paredes, empeno de caixilharias, até o mau funcionamento
de máquinas).
A verificação do estado limite de utilização é feito analisando os assentamentos e as
vibrações.

Fundações Superficiais / Introdução Capítulo I / 20


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Na prática a experiência permite, em geral, definir qual o estado limite condicionante


podendo ser omitidos os outros ou feitas verificações simplistas destes.

Se para a avaliação da capacidade resistente de uma fundação existem modelos de cálculo


com uma certa divulgação e fiabilidade, os métodos de avaliação de deslocamentos não
permitem, em geral, um grande rigor de cálculo. Assim, as verificações dos estados limites
que envolvem o cálculo de deslocamentos com excepção de casos particulares, são em
geral simplificadas, podendo ser encaradas de uma forma indirecta.
No entanto, a avaliação cuidada dos deslocamentos é importante, em particular em
fundações sobre solos argilosos devido á deformação diferida no tempo por acção das
cargas permanentes e que pode causar danos nos elementos estruturais e não estruturais
dos edifícios.

O controle de assentamentos deverá ser feito tendo em atenção as duas parcelas :

- deformações instantâneas;
- deformações lentas (diferidas),

devendo ser feito para as acções quase permanentes e analisar-se quais os seus efeitos na
superestrutura.
De salientar, uma vez mais, que danos severos em estruturas surgem devidos a
assentamentos diferenciais.

1.3.4. Tensões de segurança

1.3.4.1. Considerações gerais

Designa-se por «tensão adicional» a tensão que uma construção (incluindo aterros e
escavações) induz em qualquer ponto do terreno; é, pois, a diferença entre a tensão que se
verificará após a construção completa e carregada e a tensão inicialmente existente.

A tensão adicional deve manter-se sempre inferior à que provoca a rotura do terreno. Esta
condição serve para fixar o limite superior da tensão que uma dada fundação pode
transmitir ao terreno: «tensão de rotura».

Fundações Superficiais / Introdução Capítulo I / 21


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Para que haja uma certa margem de segurança, há que reduzir a tensão de rotura por
aplicação dum coeficiente de segurança, obtendo-se a «tensão de segurança à rotura», que
é o valor limite da tensão sem entrar em consideração com possíveis assentamentos por
consolidação. Como as características dos terrenos variam ao longo das épocas do ano, o
valor da tensão de segurança à rotura a adoptar deve ser o correspondente à época mais
desfavorável.
Em muitos casos, é ainda necessário limitar os assentamentos para atender à sensibilidade
da estrutura e à finalidade da construção, pelo que nesses casos poderá ser necessário
adoptar um valor inferior à tensão de segurança à rotura. Esse valor da tensão admissível
designa-se simplesmente por «tensão de segurança».

Seguidamente, apresentam-se elementos que permitem, nos casos correntes, a atribuição


do valor da tensão de segurança à rotura; estabelece-se uma tabela para os diversos tipos de
terreno e certas condições de fundação, e dão-se indicações para extrapolar os valores
tabelados para condições diferentes das admitidas. Finalmente, fazem-se algumas
considerações sobre a influência dos assentamentos na fixação da tensão de segurança.

1.3.4.2. Tensão de segurança à rotura

1.3.4.2.1. Tabelas

A tensão de segurança à rotura depende, no caso geral, da forma, dimensões e


profundidade do elemento de fundação.
Apresentam-se, para os diferentes tipos de terreno de fundação, os valores da tensão de
segurança à rotura estabelecidos para fundações horizontais a 0,5 m de profundidade e sob
cargas estáticas verticais. Esses valores supõem a existência das seguintes condições:

- no local da construção e zonas adjacentes o terreno é sensivelmente horizontal;


- as camadas do terreno de fundação são sensivelmente horizontais;
- não existem formações mais moles abaixo da formação;
- o local não sofrerá alterações que possam conduzir a diminuição da resistência do
terreno de fundação.

Fundações Superficiais / Introdução Capítulo I / 22


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«Solo seco» significa que o nível freático se encontra a uma profundidade, abaixo do nível
da fundação, superior à largura da sapata b. Os valores indicados para solos incoerentes
referem-se a larguras da sapata b igual a 1 m. Nos casos em que não estão indicados
valores, estes só podem ser atribuídos após exame ou estudo dos terrenos.
Aos valores indicados na tabela corresponde um coeficiente de segurança de cerca de 2
em relação à capacidade de carga por corte do terreno de fundação. As tensões de
segurança indicadas no quadro destinam-se a ser usadas quando não tiverem sido
realizados ensaios para determinação das características mecânicas do terreno e quando se
esteja seguro de que o terreno em causa corresponde correctamente ao tipo ali indicado.

Deve, no entanto, notar-se que a realização de ensaios conduzirá em regra a soluções mais
económicas.
Quadro I.2 – Tensões de Segurança à Rotura

(Profundidade de fundação igual a 0,5 m)


Grupo Tipo de terreno Tensão de segurança à
rotura (Mpa)
Rochas Rochas duras e sãs 10
Rochas pouco duras ou mediamente alteradas 3
Rochas brandas ou muito alteradas 1
Solos Solo seco Solo submerso

incoerentes Areias e misturas areia-seixo, bem graduadas e


compactas 0.4 - 0.6 0.2 - 0.3

Areias e misturas areia-seixo, bem graduadas mas


soltas 0.2 - 0.4 0.1 - 0.2

Areias uniformes compactas 0.2 - 0.4 0.1 - 0.2

Areias uniformes soltas 0.1 - 0.2 0.05 - 0.1

Solos Solos coerentes rijos 0.4 - 0.6


coerentes Solos coerentes muitos duros 0.2 - 0.4
Solos coerentes duros 0.1 - 0.2
Solos coerentes de consistência média 0.05 - 0.1
Solos coerentes moles 
Solos coerentes muito moles (incluíndo lodos) 
Turfas e depósitos turfosos 
Aterros e entulhos 

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Estruturas Betão Armado

- «Solo seco» significa que o nível freático se encontra a uma profundidade, abaixo do nível da
fundação, superior à largura da sapata b.
- Os valores indicados para solos incoerentes referem-se a larguras da sapata b igual a 1 m.
- Nos casos em que não estão indicados valores, estes só podem ser atribuídos após exame ou estudo
dos terrenos.

1.4. Escolha do tipo de fundação

Face ás características de resistência do solo de fundação obtidas na prospecção geológica,


á existência ou não de nível freático, ou tipo de estrutura do edifício (nº. de pisos,
modelação de pilares, etc.) é então possível definir o tipo de fundação mais conveniente.

Assim, e de uma forma simplificada:

a) Se o solo superficial apresenta boas características de resistência (sem que


existam camadas de pouca resistência a níveis inferiores pouco profundos) e o edifício a
construir é de pequeno ou médio porte, a adopção de fundações directas, por sapatas é a
solução natural.

b) Se o edifício é de porte elevado e as características resistentes do solo são tais


que a área das sapatas seria Asp > 0,5 Atotal do edifício, o recurso a um ensoleiramento
geral é uma solução adequada. No caso do nível freático se encontrar acima do nível de
fundação esta solução é particularmente aconselhável.

c) Se as camadas superficiais de terreno são pouco consistentes e a modelação de


vãos da estrutura é grande (cargas por pilar elevadas) o recurso a fundações indirectas por
estacas ou barretas é a solução mais indicada se for possível atingir uma camada
particularmente resistente. Esta solução é também favorável do ponto de vista da limitação
de assentamentos. No caso de não ser possível atingir uma camada de solo consistente a
uma profundidade razoável é possível o recurso a estacas flutuantes.

Em termos de custos é conhecido e óbvio que as fundações indirectas são mais caras. O
custo de fundações por sapatas corresponde aproximadamente a 2 a 6% do custo total do
edifício, ao passo que as fundações indirectas podem atingir percentagens de 10 a 20%.

Fundações Superficiais / Introdução Capítulo I / 24


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1.5. Recomendações e observações sobre fundações

A base das fundações superficiais, em geral, deverá ser realizada a uma distância da
superfície superior ou igual a um metro.

Deverão ser analisados, para além da capacidade resistente do solo, os seguintes aspectos:

- Possibilidade de erosão da zona circundante;


- Possibilidade de realização de futuras construções junto às fundações em estudo;
- Analisar o ambiente que rodeia as fundações (vibrações transmitidas, ...);
- Analisar a localização média do nível freático;
- Inspeccionar a existência de singularidades (falhas, locas, ...).

Se há assentamentos diferenciais, a junta deve cortar a sapata para permitir esses mesmos
assentamentos, caso contrário não há interesse em cortar a sapata na junta de
dilatação/retracção. De salientar, muito embora, que a estas sapatas devem ser munidas da
armadura necessária para absorver as forças induzidas por estas deformações impostas,
nomeadamente nas suas faces superiores.

Fig. I.13 – Junta de dilatação/retracção pilares/sapata

Em sapatas não se devem utilizar varões finos por causa da corrosão, nem valores muito
altos por causa da aderência.

Recomenda-se que o dimensionamento deve ser tal que não haja necessidade de colocar
armaduras de esforço transverso nem de punçoamento.

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Estruturas Betão Armado

O betão a utilizar deverá ser considerado de razoável ou elevado desempenho, conforme o


tipo de obra. Antes de mais há que saber as razões e finalidades em questão, ou seja,
definir o que se pretende desse betão, pois disso dependem as opções a tomar sobre os
materiais e técnicas a utilizar.

Será de equacionar:

- Elevada resistência mecânica?


- Elevada resistência à agressividade química? Quais os agentes agressivos?
- Elevada compacidade?
- Que seja leve ou que seja pesado?
- Outras características?

Em primeiro lugar há que afirmar que as diversas características de um determinado tipo


de betão não são totalmente independentes umas das outras. Significa isto que ao pretender
obter-se uma melhoria numa das características é normal obter-se uma idêntica melhoria
noutras características desse mesmo betão. Por exemplo, é expectável que a obtenção de
uma melhoria da resistência mecânica implique melhoria da resistência à agressividade
química e maior compacidade.

Por outro lado deve ter-se em atenção que no fabrico do betão cada matéria prima tem
limites de eficácia na melhoria do desempenho desse betão: existem dosagens óptimas
acima das quais o uso pode tornar-se desperdício porque não permite atingir o efeito
desejado.

Como produzir um betão de elevado desempenho? Sem se ser exaustivo, pode indicar-se o
seguinte método:

- Escolhendo o cimento adequado e a dosificação necessária e suficiente;


- Escolhendo os agregados adequados às características do betão pretendido;
- Estudando, através de ensaio, a dosagem de agregados que permite maior
compacidade;

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- Usando aditivos e adjuvantes comprovadamente eficazes, nas dosagens


aconselhadas;
- Utilizando técnicas apropriadas de colocação do betão:
- Vibração de alta frequência;
- Centrifugação;
- Compressão;
- Duas das referidas, em simultâneo;
- Três das referidas, em simultâneo.

Podem, ainda, serem utilizados betões de tecnologia autocompactável (BAC), que é um


novo conceito de betão que oferece como vantagens imediatas a muito fácil colocação do
betão e supressão da fase obrigatória de vibração. Com este betão obtêm-se altas
resistências a curto prazo, baixa relação água/cimento, alta impermeabilização e mais
durabilidade.\

Fundações Superficiais / Introdução Capítulo I / 27

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