Você está na página 1de 14

TC DE FÍSICA – SELETIVA

Professor: Edney Melo

ALUNO(A): _____________________________________________________________________________ Nº ___________


TURMA: ________________________ TURNO:______________________________ DATA: _______ /_________/_________
COLÉGIO: ______________________________________________________________________________________________
OSG 0034/18

DIELÉTRICOS
1. INTRODUÇÃO

Quase todos os capacitores possuem entre suas placas condutoras um material isolante, ou dielétrico. Um tipo comum de capacitor
usa como placas longas tiras metálicas, enroladas e separadas por tiras de um plástico, como o Mylar®. Um “sanduíche” feito com esses
materiais é enrolado, formando uma unidade que pode fornecer uma capacitância de diversos microfarads em uma embalagem compacta.

Colocar um dielétrico sólido entre as placas de um capacitor possui três objetivos. Em primeiro lugar, resolve o problema mecânico
de manter duas grandes placas metálicas separadas por uma distância muito pequena, sem que ocorra contato entre elas.
Em segundo lugar, usando um dielétrico torna-se possível aumentar a diferença de potencial máxima entre as placas. Sabemos que
qualquer material isolante, quando submetido a um campo elétrico suficientemente elevado, sofre uma ruptura dielétrica, uma ionização
parcial que permite a condução através dele. Muitos materiais dielétricos conseguem suportar campos elétricos mais elevados que o do ar,
sem que ocorra ruptura do isolamento. Portanto, o uso de um dielétrico permite a sustentação de uma diferença de potencial mais elevada
V e, assim, o capacitor pode acumular maiores quantidades de carga e de energia.
Em terceiro lugar, a capacitância de um capacitor com dimensões fixas, quando existe um dielétrico entre as placas, é maior que a
capacitância do mesmo capacitor quando há vácuo entre as placas. Podemos verificar esse efeito usando um eletrômetro sensível, um
dispositivo que permite a medida da diferença de potencial entre dois condutores, sem que haja fluxo de carga apreciável de um condutor
para o outro. A figura (a) a seguir mostra um eletrômetro conectado às placas de um capacitor carregado, sendo Q o módulo da carga de
cada placa e V0 a diferença de potencial. Quando inserimos entre as placas um dielétrico descarregado, como vidro, parafina ou poliestireno,
o experimento mostra que a diferença de potencial diminui para um valor menor V (figura b). Quando removemos o dielétrico, a diferença
de potencial retorna a seu valor original V0, o que mostra que as cargas originais do capacitor não se alteram.
TC DE FÍSICA -SELETIVA

A capacitância original C0 é dada por C0 = Q/V0, e a capacitância quando o dielétrico está presente é dada por C = Q/V. A carga Q é
a mesma nos dois casos e, como V é menor que V0, concluímos que a capacitância C com o dielétrico é maior que C0. Quando o espaço entre
as placas se encontra completamente preenchido com o dielétrico, a razão C sobre C0 (que é igual à razão entre V0 e V) denomina-se constante
dielétrica K do material:
𝐶
𝐾= (𝑑𝑒𝑓𝑖𝑛𝑖çã𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑖𝑒𝑙é𝑡𝑟𝑖𝑐𝑎)
𝐶0

Quando a carga é constante, Q = C0V0 = CV e C/C0 = V0/V. Nesse caso,

𝑉0
𝑉= (𝑞𝑢𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑄 é 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒)
𝐾

Quando o dielétrico está presente, a diferença de potencial para uma carga fixa Q é reduzida por um fator igual a K.
A constante dielétrica K é um número puro. Como C é sempre maior que C0, K é sempre maior que 1. Alguns valores de K são
fornecidos na tabela a seguir. Para o vácuo, K = 1, por definição. Para o ar em temperatura e pressão comuns, K é aproximadamente igual a
1,0006; esse valor é tão próximo de 1 que, para aplicações práticas, um capacitor no ar é equivalente a um capacitor no vácuo. Note que,
embora a água possua um valor de K elevado, ela não é um dielétrico prático para ser usado em capacitores. A razão é que, embora a água
pura seja um condutor pobre, ela também é um excelente solvente iônico. Qualquer íon dissolvido na água produz um fluxo de cargas entre
as placas, de modo que o capacitor se descarrega.

Nenhum dielétrico real é um isolante perfeito. Portanto, há sempre uma corrente de fuga entre as placas carregadas de um
capacitor com um dielétrico.

2. CARGA INDUZIDA E POLARIZAÇÃO

Quando um material dielétrico é inserido entre as placas enquanto a carga é mantida constante, a diferença de potencial entre as
placas diminui por um fator K. Portanto, o campo elétrico entre as placas deve diminuir pelo mesmo fator. Sendo E0 o valor no vácuo, quando
o dielétrico está presente o valor é igual a E, então

𝐸0
𝐸= (𝑞𝑢𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑄 é 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒)
𝐾

Visto que o módulo do campo elétrico é menor quando o dielétrico está presente, a densidade de cargas superficial (que produz o
campo) também deve ser menor. A carga superficial sobre as placas condutoras não varia, porém surge uma carga induzida com um sinal
oposto ao da carga da placa em cada superfície do material dielétrico (figura a seguir). O dielétrico estava inicialmente neutro e deve
permanecer eletricamente neutro; as cargas induzidas na superfície surgem em consequência de uma redistribuição das cargas positivas e
negativas no interior do material dielétrico, um fenômeno denominado polarização. Vamos supor que a carga superficial induzida seja
diretamente proporcional ao módulo E do campo elétrico no material; isso é o que efetivamente ocorre com muitos dielétricos comuns.

OSG 0034/18
2
TC DE FÍSICA -SELETIVA

Podemos deduzir uma relação entre essa carga superficial induzida e a carga sobre as placas. Vamos designar o módulo da carga
induzida por unidade de área da superfície do dielétrico (a densidade superficial de carga induzida) pelo símbolo σi. O módulo da densidade
superficial de carga sobre as placas do capacitor é designado por σ, como de costume. Então a densidade superficial de carga total em cada
lado do capacitor é igual a (σ = σi), conforme indica a figiura (b) acima.
Sabemos que o campo entre as placas está relacionado à densidade superficial de carga líquida por 𝐸 = 𝜎𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 /𝜀0 . Com e sem o
dielétrico, respectivamente, temos:
𝜎 𝜎 − 𝜎𝑖
𝐸0 = 𝑒 𝐸=
𝜀0 𝜀0

𝐸0
Usando essas expressões na equação 𝐸 = e reagrupando o resultado, encontramos
𝐾

1
𝜎𝑖 = 𝜎 (1 − ) (𝑑𝑒𝑛𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑖𝑛𝑑𝑢𝑧𝑖𝑑𝑎)
𝑘

Essa equação mostra que, quando K é muito grande, σi é aproximadamente igual a σ. Nesse caso, σi praticamente cancela σ, e o
campo e a diferença de potencial são muito menores que seus respectivos valores no vácuo.
O produto Kε0 denomina-se permissividade do dielétrico, designado por ε:

𝜀 = 𝐾. 𝜀0 (𝑑𝑒𝑓𝑖𝑛𝑖çã𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑒𝑟𝑚𝑖𝑠𝑠𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒)

Em função de ε, podemos expressar o campo elétrico dentro do dielétrico por meio da relação

𝜎
𝐸=
𝜀
Logo,

Podemos também afirmar que, para a densidade de energia u em um campo elétrico para o caso no qual exista um dielétrico entre
as placas, temos:

Note que que capacitâncias extremamente altas podem ser obtidas com placas que possuem uma grande área de superfície A, e
estão separadas por uma pequena distância d por um dielétrico com um grande valor de K.

OSG 0034/18
3
TC DE FÍSICA -SELETIVA

3. MODELO MOLECULAR DA CARGA INDUZIDA

Anteriormente, discutimos as cargas superficiais induzidas em um dielétrico no interior de um campo elétrico. Vamos agora
examinar como surgem essas cargas superficiais. Se o material fosse um condutor, a resposta seria simples. Os condutores possuem cargas
que podem se mover livremente e, quando um campo elétrico está presente, algumas cargas se redistribuem ao longo da superfície do
material, de modo que, no interior do material, o campo elétrico é igual a zero. Contudo, em um dielétrico ideal não existe nenhuma carga
livre capaz de se mover; então, como pode surgir uma carga distribuída na superfície?
Para entendermos isso, devemos estudar novamente a redistribuição das cargas em nível molecular. Algumas moléculas, como
H2O e N2O, possuem quantidades iguais de cargas positivas e negativas, porém a distribuição não apresenta simetria esférica, com um
excesso de cargas positivas concentrado em um lado da molécula e um excesso de cargas negativas concentrado no outro lado. Omo
sabemos, esse arranjo denomina-se dipolo elétrico e a molécula chama-se molécula polar. Quando não existe nenhum campo elétrico em
um líquido ou gás com moléculas polares, as moléculas são orientadas ao acaso (figura a). Contudo, quando colocadas em um campo elétrico,
elas tendem a se orientar como na figura (b), em virtude dos torques produzidos pelas forças elétricas. Em razão da agitação térmica, o
alinhamento das moléculas na direção do campo elétrico não é perfeito.

Mesmo no caso de uma molécula que não é polar, ela pode se tornar um dipolo quando submetida a um campo elétrico, pois o
campo atrai as cargas positivas no sentido do campo e empurra as cargas negativas no sentido oposto. Isso produz uma redistribuição das
cargas no interior da molécula (figura a seguir). Esses dipolos denominam-se dipolos induzidos.

Tanto no caso de moléculas polares quanto no de apolares, a redistribuição das cargas produzida pelo campo dá origem a uma
camada de carga sobre a superfície de cada lado do material dielétrico (figura a seguir). Essas camadas são as cargas superficiais descritas na
seção anterior; a densidade de cargas superficiais é designada por si. Essas cargas não se movem livre e indefinidamente, como no caso de
um condutor, porque cada carga está ligada a uma molécula. Elas, de fato, são chamadas de cargas ligadas, em oposição às cargas livres, que
são fornecidas para as placas do capacitor ou removidas delas. Na parte maciça do material, a carga líquida por unidade de volume
permanece igual a zero. Conforme vimos, essa redistribuição de cargas denomina-se polarização e dizemos que o material ficou polarizado.

OSG 0034/18
4
TC DE FÍSICA -SELETIVA

As quatro partes da figura abaixo mostram o comportamento de um dielétrico quando ele é inserido no campo existente entre as
placas de um capacitor com cargas opostas. A figura (a) mostra o campo original. A figura (b) indica o momento em que o dielétrico é inserido,
porém antes do reagrupamento das cargas. A figura (c) ilustra, por meio de setas finas, o campo adicional criado no dielétrico por suas cargas
superficiais induzidas. Esse campo é oposto ao campo original, mas não é suficientemente forte para cancelá-lo completamente, pois as
cargas do dielétrico não se movem de forma livre e indefinida. O campo elétrico resultante no dielétrico, indicado na figura (d), possui módulo
menor. Na representação com linhas de força, algumas linhas de campo que deixam as cargas da placa positiva atravessam o dielétrico,
enquanto outras terminam nas cargas induzidas sobre as faces do dielétrico.

Sabemos que a polarização também explica como um corpo carregado, como um bastão de plástico, pode exercer uma força sobre
um corpo descarregado, como fragmentos de papel ou uma bolinha de cortiça. A figura a seguir mostra uma esfera dielétrica descarregada
B na presença de um campo radial de um corpo A com carga positiva. As cargas induzidas sobre B sofrem uma força orientada para a direita,
enquanto as forças sobre as cargas induzidas negativas estão mais próximas de A que as positivas e, portanto, estão em um campo mais
forte. A força resultante para a esquerda é mais intensa que a força resultante para a direita, portanto o corpo A atrai B, embora a carga
líquida seja igual a zero. Ocorrerá sempre atração tanto no caso de a carga de A ser positiva quanto no caso de ela ser negativa. Além disso,
esse efeito não é limitado aos dielétricos: um corpo condutor descarregado seria atraído do mesmo modo.

4. LEI DE GAUSS EM DIELÉTRICOS

Podemos estender a análise da seção 2 para reformular a lei de Gauss, de modo que ela seja particularmente útil para dielétricos.
No alto da figura a seguir, vemos uma ampliação da placa esquerda do capacitor e da superfície esquerda do dielétrico indicado nessa seção.
Vamos aplicar a lei de Gauss usando a caixa retangular mostrada na figura; A indica a área da superfície do lado direito e do lado esquerdo
da caixa. O lado esquerdo está imerso no condutor que constitui a placa esquerda do capacitor e, portanto, o campo elétrico em todas as
partes dessa superfície é igual a zero. O lado direito está imerso no dielétrico no qual o campo elétrico possui módulo E, e notamos que
Eꓕ = 0 em todas as partes das quatro faces restantes da caixa. A carga total no interior da caixa, incluindo as cargas da placa e as cargas
induzidas sobre a superfície do dielétrico, é dada por Qint = ( σ - σi).A, de modo que a lei de Gauss fornece

𝜎 − 𝜎𝑖
𝐸. 𝐴 =
𝜀0

OSG 0034/18
5
TC DE FÍSICA -SELETIVA

Essa equação escrita dessa forma não esclarece muito, porque contém duas grandezas incógnitas: E no interior do dielétrico e a
1
densidade de carga superficial induzida σi. Mas agora podemos usar a equação 𝜎𝑖 = 𝜎 (1 − ), desenvolvida para essa mesma situação, a
𝑘
fim de simplificar a equação, eliminando σi. Desse modo:
𝜎
𝜎 − 𝜎𝑖 =
𝐾

𝜎−𝜎𝑖
Desse modo, combinando com a e equação 𝐸. 𝐴 = , temos que:
𝜀0

𝜎𝐴 𝜎𝐴
𝐸. 𝐴 = → 𝐾𝐸. 𝐴 =
𝐾𝜀0 𝜀0

Essa equação mostra que o fluxo de 𝐾. 𝐸⃗ , e não o fluxo de 𝐸⃗ , através da superfície gaussiana, traçada na figura acima, é igual à
carga livre σ no interior da superfície A dividida por ε0. Verifica-se que, para qualquer superfície gaussiana, desde que a carga induzida seja
proporcional ao campo elétrico no material, é possível reescrever a lei de Gauss na forma

em que Qinte-livre é a carga livre (ou seja, a carga não ligada) existente no interior da superfície gaussiana. A vantagem desse resultado é que
o lado direito contém somente a carga livre sobre o condutor, e não a carga ligada (induzida). De fato, embora não tenhamos demonstrado,
essa equação permanece válida mesmo quando diferentes partes da superfície gaussiana estão imersas em dielétricos com diferentes valores
de K, desde que o valor de K em cada dielétrico seja independente do campo elétrico (o que geralmente é o caso quando os campos elétricos
não são muito fortes) e que adotemos o valor apropriado de K para cada ponto da superfície gaussiana.

5. TRÊS VETORES ELÉTRICOS

𝜎
Vamos reescrever a equação 𝜎 − 𝜎𝑖 = , de modo que tenhamos a seguinte relação:
𝐾

𝑄 𝑄′ 𝑄
− =
𝐴 𝐴 𝐾. 𝐴

𝑄 𝑄 𝑄′
= +
𝐴 𝐾. 𝐴 𝐴

OSG 0034/18
6
TC DE FÍSICA -SELETIVA

𝑄 𝑄′
onde o termo é simplesmente a intensidade E do campo elétrico no interior do dielétrico, enquanto que o termo é a densidade
𝐾.𝐴 𝐴
superficial das cargas induzidas. Chamaremos este termo de polarização dielétrica P, ou seja:

𝑄′
𝑃=
𝐴

Esse nome vem do fato da carga superficial induzida Q’ (também chamada de carga de polarização) aparecer somente quando o
dielétrico está polarizado.
Uma forma equivalente de definir a polarização elétrica P é obtida multiplicando-se o numerador e o denominador da equação
acima pela espessura d da placa dielétrica. Desse modo:
𝑄′. 𝑑
𝑃=
𝐴. 𝑑

O numerador Q’d é o produto do módulo das cargas de polarização (de mesmo módulo e sinais opostos) pela separação das
mesmas. Trata-se, portanto, do momento de dipolo induzido na placa dielétrica. Como o denominador Ad é o volume total do dielétrico,
vemos que a polarização pode ser definida como sendo o momento de dipolo elétrico induzido por unidade de volume do dielétrico. Esta
definição, mostra que, como o momento de dipolo é um vetor, o mesmo deve ser verdade para a polarização. O vetor P, de módulo P, é,
como qualquer momento de dipolo, orientado da carga induzida negativa para a positiva. Na figura a seguir, onde temos um capacitor com
metade do espaço entre as placas preenchido por um dielétrico, o vetor P aponta de cima para baixo.

𝑄 𝑄 𝑄′
Podemos reescrever a equação = + da seguinte forma:
𝐴 𝐾.𝐴 𝐴

𝑄
= 𝜀0 . 𝐸 + 𝑃
𝐴

A grandeza que está presente no primeiro membro da equação ocorre tantas vezes que lhe é dado um nome especial (que tem
apenas um sentido histórico): deslocamento elétrico D. Temos então:

𝐷 = 𝜀0 . 𝐸 + 𝑃
onde
𝑄
𝐷=
𝐴

OSG 0034/18
7
TC DE FÍSICA -SELETIVA

Como 𝐸⃗ e 𝑃⃗ são vetores, 𝐷


⃗ também será um vetor, de modo que num caso mais geral, teremos:

⃗ = 𝜀0 𝐸⃗ + 𝑃⃗
𝐷

Em um caso particular como o da figura acima, onde os três vetores têm módulo constante e apontam para baixo em todos os
pontos do dielétrico (como também em todos os pontos do espaço vazio) a natureza vetorial da equação acima não é muito importante.
Entretanto, em problemas mais complicados, 𝐸⃗ , 𝑃⃗ e 𝐷
⃗ podem variar em módulo e direção de um ponto do espaço para outro.
Da definição dos vetores, podemos observar que:

⃗ está relacionado apenas com a carga livre. Podemos representar o campo vetorial de 𝐷
- O vetor 𝐷 ⃗ através de linhas de 𝐷
⃗ , da
mesma maneira que representamos o campo elétrico 𝐸⃗ por linhas de força. A figura a seguir mostra que essas linhas de 𝐷
⃗ começam e acabam
sempre nas cargas livres.
- O vetor 𝑃⃗ está relacionado somente com as cargas de polarização. Também é possível representar o seu campo vetorial por meio
de linhas de 𝑃⃗. A figura acima também mostra as linhas de 𝑃⃗ começam e acabam sempre nas cargas de polarização.
- O vetor 𝐸⃗ está relacionado com todas as cargas presentes, tanto as livres quanto as de polarização. As linhas de 𝐸⃗ (linhas de força)
refletem a presença dos dois tipos de cargas, como se pode ver também na figura. As unidades de 𝑃⃗ e 𝐷
⃗ (C/m2) diferem da de 𝐸⃗ (N/C).

Destes três vetores, o campo elétrico 𝐸⃗ , que determina a força que atua numa carga de prova convenientemente localizada,
permanece como alvo de interesse fundamental. Os vetores 𝑃⃗ e 𝐷
⃗ são úteis como grandezas auxiliares que participam da solução de
problemas mais complicados que o da figura mostrada anteriomente.
Os vetores 𝑃⃗ e 𝐷
⃗ podem ser expressos somente em função de 𝐸⃗ . Realmente, vamos partir da identidade

𝑄 𝑄
= 𝐾𝜀0 . ( )
𝐴 𝐾𝜀0 𝐴

𝑄 𝑄
Comparando este resultado com a equação 𝐸 = e com a equação 𝐷 = , vemos que ele pode ser escrito, generalizado para
𝐾𝜀0 𝐴 𝐴
uma forma vetorial, como:
⃗ = 𝐾𝜀0 𝐸⃗
𝐷

𝑄′ 1
A polarização, pelas equações 𝑃 = e 𝑄 ′ = 𝑄 (1 − ), também pode ser escrita na forma:
𝐴 𝐾

𝑄′ 𝑄 1
𝑃= = (1 − )
𝐴 𝐴 𝐾

Como Q/A = D, podemos reescrever a equação acima na seguinte forma vetorial:

𝑃⃗ = 𝜀0 (𝐾 − 1)𝐸⃗

Este resultado mostra claramente que, no vácuo (K = 1), o vetor polarização 𝑃⃗ é igual a zero.
⃗ = 𝐾𝜀0 𝐸⃗ e 𝑃⃗ = 𝜀0 (𝐾 − 1)𝐸⃗ mostram que, para materiais isotrópicos, isto é, para os quais podemos associar uma
As equações 𝐷
única constante dielétrica, tanto 𝑃⃗ como 𝐷
⃗ são paralelos a 𝐸⃗ , qualquer que seja o ponto considerado.
⃗ , dada pela equação 𝐷
A definição de 𝐷 ⃗ = 𝐾𝜀0 𝐸⃗, nos permite escrever a quação 𝜀0 ∮ 𝐾𝐸⃗ . 𝑑𝐴 = 𝑄 da seguinte forma:

⃗ . 𝑑𝐴 = 𝑄
∮𝐷

onde,como antes, Q representa apenas a carga livre, excluindo a carga superficial induzida.

OSG 0034/18
8
TC DE FÍSICA -SELETIVA

A solução de problemas que envolvam dielétricos requer uma conhecimento de como os vetores 𝐸⃗ , 𝑃⃗ e 𝐷
⃗ variam na interface
entre dois dielétricos diferentes. Vamos considerar uma porção pequena de uma interface entre materiais com constantes dielétricas K1 e
K2, respectivamente, como mostrado na figura a seguir. Na interface, haverá uma densidade de carga induzida σi se os dielétricos forem
⃗ sobre a trajetória retangular
polarizados, e também (possivelmente) uma densidade de carga livre σ. Vamos considerar a integral de 𝐸⃗ . 𝑑ℓ
consistindo os lados ab, bc, cd e da, como mostra a figura a.

Esta integral deve se anular em eletrostática, como consequência do caráter conservativo do campo. As contribuições bc e da
desaparecem porque são escolhidas distâncias infinitesimalmente pequenas. Assim, com ℓ = cd = ab, achamos

⃗ = 0 → (𝐸1 . 𝑐𝑜𝑠𝜃1 ). ℓ − (𝐸2 . 𝑐𝑜𝑠𝜃2 ). ℓ = 0


∮ 𝐸⃗ . 𝑑ℓ

𝐸1𝑝 = 𝐸2𝑝

onde o subíndice p denota a componente de um vetor paralela à interface. Essa equação, portanto, estabelece que a componente paralela
do campo elétrico é contínua através da superfície.
⃗ que se encontra na aplicação da lei de Gauss na forma ∮ 𝐷
Considere agora a condiçao do vetor deslocamento elétrico 𝐷 ⃗ . 𝑑𝐴 = 𝑄.
A gaussiana traçada na figura (b) consiste de faces retangulares de áreas iguais a A, paralelas à superfície, além de outras quatro faces, cada
⃗ vem apenas das faces paralelas à superfície. Desse modo, temos:
uma de área infinitesimal. O fluxo do vetor 𝐷

⃗ . 𝑑𝐴 = (𝐷1𝑛 − 𝐷2𝑛 ). 𝐴
∮𝐷

onde 𝐷1𝑛 𝑒 𝐷2𝑛 são, respectivamente, as componentes normais do vetor deslocamento elétrico nos dois meios. De acordo com a equação
⃗ . 𝑑𝐴 = 𝑄, e que a carga livre dentro da gaussiana vale Q = σ.A, obtemos:
∮𝐷

𝐷1𝑛 − 𝐷2𝑛 = 𝜎

⃗ quando há carga livre na interface. Na ausência de carga livre, a


o que implica uma descontinuidade da componente normal de 𝐷
⃗ é contínua através da interface, embora possam estar presentes lá cargas de polarização.
componente normal de 𝐷
Para um dielétrico isotrópico linear, as equações 𝐸1𝑝 = 𝐸2𝑝 e 𝐷1𝑛 − 𝐷2𝑛 = 𝜎 são suficientes para determinar as condições de
contorno na componente normal de 𝐸⃗ , na componente (tangencial) paralela de 𝐷
⃗ e também nas componentes de 𝑃⃗.
Da equação 𝑃⃗ = 𝜀0 (𝐾 − 1)𝐸⃗ , podemos definir a suscetibilidade elétrica do dielétrico (χ):

𝜒 = 𝐾−1
Logo:
𝑃⃗ = 𝜒𝜀0 𝐸⃗ e ⃗ = (1 + 𝜒)𝜀0 𝐸⃗ = 𝐾𝜀0 𝐸⃗ = 𝜀𝐸⃗
𝐷

A continuidade da componente paralela de 𝐸⃗ implica, portanto que:

𝑃1𝑝 𝑃2𝑝 𝐷1𝑝 𝐷2𝑝


= e =
𝜒1 𝜒2 𝐾1 𝐾2

OSG 0034/18
9
TC DE FÍSICA -SELETIVA

PROBLEMAS RESOLVIDOS

01. Uma pequena esfera com uma carga qL em seu centro está inserida em um meio homogêneo cuja constante dielétrica vale K. Calcule a
intensidade do campo elétrico e da polarização à distância r do centro da esfera, fora desta.

Solução:
Aplicando-se a Lei de Gauss para dieléricos à superfície esférica de raio r concêntrica com a carga qL, obtém-se

𝑞𝐿 𝑞𝐿
𝜀0 𝐾𝐸 = 2
→𝐸=
4𝜋𝑟 4𝜋𝐾𝜀0 𝑟 2

Considerando a equação 𝑃⃗ = 𝜀0 (𝐾 − 1)𝐸⃗ , calculamos a polarização elétrica:

𝐾 − 1 𝑞𝐿
𝑃= .
𝐾 4𝜋𝑟 2

Pela forma obtida para o campo elétrico, vemos que a carga total q, dentro de uma esfera qualquer centrada na carga é

𝑞𝐿
𝑞=
𝐾

Portanto, a carga livre é parcialmente blindada pelas cargas de polarização, como mostra a figura a cima. Para valores altos da constante
dielétrica, a carga vestida, como frequentemente se denomina a carga total q, é uma fração muito pequena da carga nua qL. Deve-se observar
que o mesmo tipo de análise vale para uma esfera metálica, com carga qL em sua superfície.

02. A densidade superficial de carga em um condutor imerso em um meio dielétrico é uma função σL da posição. Calcule o campo elétrico
em pontos próximos à superfície.

Solução:

Adotaremos um procedimento análogo ao utilizado para o cálculo do campo elétrico na vizinhança de um condutor carregado. Um elemento
de área muito pequeno do condutor pode ser aproximado por um plano. Consideremos a superfície gaussiana mostrada na figura acima. Tal
superfície é uma pastilha fina cujas faces maiores têm área A. No interior do condutor, o campo elétrico é nulo. Na vizinhança externa do
condutor é perpendicular a superfície. Pela lei de Gauss, calculamos

𝜎𝐿
𝐾𝜀0 𝐴𝐸 = 𝐴𝜎𝐿 → 𝐸 =
𝐾𝜀0

Nota-se que este valor do campo é idêntico ao obtido para o campo elétrico de um capacitor de placas planas preenchido por um dielétrico.

OSG 0034/18
10
TC DE FÍSICA -SELETIVA

03. Uma pastilha composta de dois dielétricos com constantes K1 e K2 está imersa em uma região na qual há uma campo elétrico uniforme
E, como mostra a figura a seguir. As linhas de força do campo elétrico em todas as regiões são mostradas na figura.

a) Qual a razão entre as constantes K1 e K2?


b) Encontre as densidades de carga de polarização σ1P, σ2P e σ3P nas três interfaces indicadas na figura?

Solução:

a) Pela variação da densidade das linhas de campo, uma vez que essas são proporcionais ao campo elétrico, note que que o campo elétrico
E1 no dielétrico da esquerda é o dobro do campo elétrico E2 no dielétrico da esquerda. Uma vez que E1 = E/K1 e E2 = E/K2, temos que:

𝐸1 . 𝐾1 = 𝐸2 . 𝐾2

𝐾1 1
2𝐸2 . 𝐾1 = 𝐸2 . 𝐾2 → =
𝐾2 2

b) Para determinar as densidades de cargas de polarização, palicamos a Lei de Gauss para o campo E, às gaussianas S1, S2 e S3,
respecitvamente:

𝑆1 :
𝜀0 (𝐸1 . 𝐴 − 𝐸. 𝐴) = 𝜎1𝑃 . 𝐴

𝐸 1
𝜎1𝑃 = 𝜀0 (𝐸1 − 𝐸) = 𝜀0 ( − 𝐸) = 𝜀0 . 𝐸. ( − 1)
𝐾1 𝐾1

𝑆2 :
𝜀0 (𝐸. 𝐴 − 𝐸2 . 𝐴) = 𝜎2𝑃 . 𝐴

𝐸 1
𝜎2𝑃 = 𝜀0 (𝐸 − 𝐸2 ) = 𝜀0 (𝐸 − ) = 𝜀0 . 𝐸. (1 − )
𝐾2 𝐾2

𝑆3 :
𝜀0 (𝐸2 . 𝐴 − 𝐸1 . 𝐴) = 𝜎3𝑃 . 𝐴

𝐸 𝐸 1 1
𝜎3𝑃 = 𝜀0 (𝐸2 − 𝐸1 ) = 𝜀0 ( − ) = 𝜀0 . 𝐸. ( − )
𝐾2 𝐾1 𝐾2 𝐾1

OSG 0034/18
11
TC DE FÍSICA -SELETIVA

04. Considere a interface entre dois isolantes eletricamente neutros de constantes dielétricas K 1 e K2 e suponha que haja um deslocamento
⃗ perpendicular a ela. Mostre que o valor do deslocamento elétrico na interface é contínuo. Calcule a densidade de carga de
elétrico 𝐷
polarização na interface.

Solução:

Considere a superfície de Gauss mostrada na figura cima, ou seja, uma pastilha com faces de área A paralelas à interface. Não havendo carga
livre na interface, o fluxo do vetor deslocamento na superfície é nulo. Portanto:

𝐷2 . 𝐴 − 𝐷1 . 𝐴 = 0 → 𝐷2 = 𝐷1 = 𝐷

Para calcular a densidade de carga de polarização na interface, aplica-se a lei de Gauss para o campo elétrico:

𝐸2 . 𝐴 − 𝐸1 . 𝐴 = 𝜎𝑃 . 𝐴 → 𝐸2 − 𝐸1 = 𝜎𝑃

Da definição de vetor deslocamento, temos que:


𝐷 𝐷
− = 𝜎𝑃
𝐾2 𝜀0 𝐾1 𝜀0

Observe que σP pode ser positiva ou negativa, dependendo de se ter K2 > K1 ou K2 < K1, respectivamente.

PROBLEMAS PROPOSTOS

01. Um pedaço de quartzo que possui uma constante dielétrica igual a 3,8 é colocado na presença de um campo elétrico de 20 000 V/m,
como mostra a figura a seguir. O vetor campo elétrico faz um ângulo de 45o com o topo e com a base, e seu plano é paralelo as faces dianteira
e traseira. Obtenha a densidade de carga em cada uma das faces.

02. Um capacitor cilíndrico consiste de uma primeira casca cilíndrica longa e condutora, de modo que que o raio interno da mesma vale 2 cm
e o raio externo vale 3 cm, e uma segunda casca cilíndrica, também longa e condutora, de raio interno 5 cm e raio externo 6 cm. As duas
cascas cilíndricas são concêntricas. As regiões r < 2 cm e 3 cm < r < 5 cm comtém um dielétrico com K = 3. A região r > 6 cm é ar. O capacitor
é carregado com uma diferença de potencial de 300 volts. Determine:

a) a capacitância por unidade de comprimento;


b) o vetor deslocamento elétrico em cada região;
c) o vetor polarização de cada região;
d) a densidade de carga polarizada em cada interface;
e) a energia armazenada por unidade de comprimento.

OSG 0034/18
12
TC DE FÍSICA -SELETIVA

03. Uma interface entre o vidro e o ar não contém carga livre mas pode conter alguma carga ligada (carga polarizada). O campo elétrico num
ponto P fora do vidro é de 20 000 V/m e faz um ângulo de 30 o com a normal à superfície, como mostra a figura a seguir. Ache o módulo, a
direção e o sentido do campo elétrico dentro do vidro. Suponha que a constante dielétrica do vidro seja K = 4,0.

04. A constante dielétrica do capacitor visto na figura a seguir varia linearmente com a coordenada y, de acordo com a expressão
𝐾 = 1 + (𝐾𝑑 − 1)𝑦/𝑑. Calcule E(y) e P(y) dentro do dielétrico.

05. Considerando o valor de E(y) calculado no problema anterior, determine a capacitância do capacitor.

06. O campo elétrico no interior de um emio cuja susceptiblidade elétrica varia na forma χ = ax, onde a é constante, tem valor 𝐸⃗ = 𝐸𝑖̂,
Calcule:

a) a expressão para a polarização elétrica 𝑃⃗ (𝑥) dentro do meio;


⃗ (𝑥) dentro do meio;
b) a expressão para o deslocamento elétrico 𝐷

07. A figura a seguir mostra uma esfera composta de hemisférios de materiais dielétricos distintos. O campo elétrico do lado do hemisfério
𝑘𝑉
esquerdo é constante, dado por 𝐸⃗ = 1,0 (𝑖̂ + 𝑗̂). Qual é o campo elétrico no hemisfério direito?
𝑚𝑚

08. Calcule o valor da polarização elétrica à distância r = 10 cm do centro de uma pequena esfera metálica que possui carga elétrica de
1,00.10-12 C, imersa em um meio homogêneo de constante dielétrica K = 2,00.

OSG 0034/18
13
TC DE FÍSICA -SELETIVA

GABARITO

01. Zero na frente e atrás; -3,50 . 10-7 C/m2 nas outras.


02. a) 3,26.10-4 µF/m
b)
r < 2 cm → D = 0
2cm < r < 3 cm → D = 0
𝜆
3cm < r < 5 cm → D = , onde λ = 1,08.10-7 C/m.
2𝜋𝑟
5 cm < r < 6 cm → D = 0
R > 6 cm → D = 0
c)
r < 2 cm → P = 0
2cm < r < 3 cm → P = 0
𝜆
3cm < r < 5 cm → P = , onde λ = 1,08.10-7 C/m.
3𝜋𝑟
5 cm < r < 6 cm → P = 0
R > 6 cm → P = 0

d) σ(3cm) = 1,26.10-7 C/m2


σ(5cm) = 2,29.10-7 C/m2
e) 1,47.10-5 J/m

03. 10897 V/m, 66,6o em relação à normal.

𝑄 𝑑
04. 𝐸 = .
𝜀0 𝐴 𝑑+(𝐾𝑑 −1)𝑦
𝑄 (𝐾𝑑 −1)𝑑
𝑃= .
𝐴 𝑑+(𝐾𝑑 −1)𝑦

𝜀0 𝐴 𝐾𝑑 −1
05. 𝐶 = .
𝑑 ln (𝐾𝑑 )

06. a) 𝑃⃗ = 𝑎𝑥𝜀0 𝐸𝑖̂


⃗ = (𝑎𝑥 + 1)𝜀0 𝐸𝑖̂
b) 𝐷

𝑘𝑉
07. 𝐸⃗ = 0,50 (𝑖̂ + 2𝑗̂)
𝑚𝑚

08. 4,0 pC/m2

OSG 0034/18
14

Você também pode gostar