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Dia da Consciência Negra. Viva Zumbi!

“A questão que se coloca em torno das celebrações do dia da consciência negra é: a que se
deve tal data, uma vez que a escravidão foi abolida, o racismo superado e que hoje somos uma
grande família miscigenada e marcada pela multirracialidade? Basta um olhar detido e atento
sobre os fatos históricos e verificar-se-á que a realidade se divorcia do discurso posto pelos
amigos da fraternidade racial.

Com efeito, a ideia de igualdade entre os homens motivada pela dinâmica capitalista que se
imprimia, baseada na troca, na compra e venda de força de trabalho, foi fator fundamental
para a falência do sistema escravagista. Liberto, o negro se lança no mercado a fim de vender
sua força de trabalho e tenta se adequar ao novo sistema sócio-produtivo. Neste momento é que
o racismo assume o papel de protagonista, impedindo ao recém liberto a sua integração à nova
dinâmica produtiva e a sociedade de classes. É no outono do sistema escravista e no momento
histórico de euforia com a ideia de igualdade entre os homens que surgem as teorias racistas
que colocaram o negro em último lugar na escala de evolução da humanidade e, por conta
disso, a ele fora reservado na sociedade burguesa o papel de cidadão de segunda classe.

Hoje, 125 após a abolição da escravidão, a realidade não se alterou substantivamente. Não
obstante, os avanços científicos e os esforços no sentido de extinção do mito da raça, este
persiste claramente como um mecanismo de dominação de classe. A teoria eugenista e
lombrosiana estão mais presentes do que nunca no imaginário social, de modo que é possível
ainda os negros serem comparados a macacos (vide as torcidas europeias), bem como serem
assimilados como delinquentes em potencial. É inegável que a estética do criminoso está ligada
ao negro e as verificações deste fato se dão com os olhares de desdém numa despretensiosa
tarde de compras ou num corriqueiro assassinato na periferia. Tudo isso em nome da
manutenção da ordem e da paz social.

O racismo persiste no nosso convívio porque é necessária a manutenção da exploração do


homem pelo homem e de certos privilégios adquiridos com ela. Se no passado provou-se
cientificamente a incapacidade do negro, a delinquência do negro, a vadiagem do negro, para
que mudar? Se aos negros está reservada a marginalização, que se mantenham os estereótipos,
que se mantenha a opressão.

A data de 20 de novembro deve ser celebrada sim, posto que representa a luta de uma parcela
da população a qual foi roubada a humanidade durante 400 anos e, quando posta
convenientemente em liberdade, é roubada a cidadania, a voz e os direitos.
Se não existe racismo no Brasil miscigenado, que se miscigenem também os direitos, os
acessos, o tratamento digno que merece a pessoa humana.

No Brasil, por exemplo, país que jamais adotou leis racistas ou sistemas separatistas de ordem
racial é perfeitamente possível a verificação de bairros segregados, escolas segregadas,
universidades segregadas. É inadmissível a adoção da exceção pela regra. A população negra,
em massa, vive massacrada em favelas, sem acesso à educação de qualidade e às
Universidades. Nesse sentido, a celebração do dia da consciência negra representa uma luta
contra o que está posto, contra a liberdade ficta que nos foi concedida e que nos cerca por
todos os lados, por todos os nãos. Essa luta se estende às mulheres, aos gays, aos pobres,
marginalizados, estereotipados e vítimas da igualdade formal, da democracia excluidora e do
Estado Democrático assassino.

Se hoje 20 de novembro representa uma história de luta e um chamado a luta, que um dia ele
represente a conquista da verdadeira igualdade e da verdadeira liberdade.”

Fonte: https://brechodocarioca.wordpress.com/tag/consciencia-negra/

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