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Lição 4 – O Cristão e o Relacionamento Pessoal

Texto base: Mateus 5.21-26

Texto áureo: “Como é bom e agradável que o povo de Deus viva unido como se todos fossem irmãos! ”
(Salmos 133.1 - NTLH)

Leitura diária:

Seg – Mateus 5.21-30


Ter – Efésios 4.26, 27
Qua – Salmo 53.1-4
Qui – Salmo 14.1-4
Sex – Tiago 2.20
Sáb – João 3.15
Dom – 2Pedro 2.14

Introdução

Nos versos 21-26, após revelar com clareza, que as leis morais do Antigo Testamento continuam em
vigência, o Senhor Jesus delineia o padrão do relacionamento com o próximo, colocando-o como um dos
princípios fundamentais da vida cristã. Isto porque o modo como tratamos o próximo, como veremos aqui,
é o ponto inicial na demonstração de um caráter cristão segundo o Evangelho. À luz do comentário de John
Stott em seu livro A Mensagem do Sermão do Monte – Contracultura Cristã, vamos analisar a passagem.  

1. Não matarás – As entrelinhas mandamento (vs 21, 22)

O mandamento não matarás seria melhor expresso se fosse não cometerás homicídio, pois não se
trata de uma proibição plena da supressão da vida em quaisquer circunstâncias, porém exclusivamente
contra o assassinato ou homicídio doloso. Chega-se a essa conclusão devido ao fato de que ainda no
Decálogo, em outra parte, ordena a morte, seja por guerra ou pena capital, de pagãos estrangeiros que
habitavam a terra prometida.

A verdade é que os escribas e fariseus tentavam restringir a aplicação do sexto mandamento


apenas ao ato do homicídio, isto é, derramamento de sangue humano. Se esquivando deste estatuto,
achavam que tinham obedecido ao mandamento. Isso era ensinado ao povo. Entretanto, contrariando os
doutores da lei, Jesus mostra que o mandamento não se resume à observância de um preceito apenas, mas
a proibição tem um sentido mais amplo e profundo. Segundo o Mestre, este incluía sentimentos,
pensamentos e palavras, além de atos; ira, ódio, cólera e insultos, precediam o homicídio, sendo como a
planta arquitetônica do mesmo.

1.1. A estreita visão dos fariseus

Por seis vezes, no capítulo cinco de Mateus, o Senhor usou a expressão (ou parte dela) "ouvistes
que foi dito aos antigos" ao referir-se à forma legalista como os fariseus lidavam com os preceitos da lei
mosaica. 

Eles emprestavam-lhe conotação estritamente jurídica, sem atentar necessariamente para a sua
essência, chegando ao ponto de lhe incorporarem outros preceitos que desfiguravam os propósitos da lei e
a tornava um jugo extremamente pesado, contrapondo-se ao que Jesus propusera: descanso e alívio aos
sobrecarregados (ver Mt 11.28-30).

1.2. Ira sem motivo também mata

Enquanto os fariseus viam a questão somente do ponto de vista legalista (v.21), Jesus tratou do
problema na origem, trazendo à tona as intenções do coração (v.22) para reprovar qualquer
comportamento agressivo contra o próximo (cf. Mc 7.20-23). A ira é mencionada no verso 22: “...qualquer
que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão...”. As palavras sem motivo não aparecem em todos os
Manuscritos antigos, porém, é unânime a interpretação de que foi isso que Jesus quis passar. Nem toda ira
é maligna, injusta, fruto de vaidade, ódio ou vingança, há também, ira santa, pura, justa, fruto do amor.
Prova disso é a evidência da ira de Deus, mesmo que pecadores possam, eventualmente, sentir ira justa. O
próprio reformador Lutero usou essa expressão “ira justa”. Segundo ele, este tipo de ira, era aquela que
não desejava mal a ninguém; ela é simpática à pessoa, mas hostil para com o pecado. Logo, o que Jesus
quis reprovar foi a ira maliciosa e que deseja mal. 

1.3. Um dos resultados da ira – agressão verbal

No final do verso 22 encontramos insultos oriundos da ira pecaminosa. Dois termos são usados:
raca e louco. Tanto um quanto o outro, provavelmente, equivalem à palavra aramaica que significa oco;
tolo; cabeça-oca; bob; trouxa; pateta; estúpido; inútil; cabeça-dura, etc. Trata-se de um insulto à
inteligência da pessoa. No entanto, torna-se imprescindível frisar que esses termos, na época de Jesus,
haviam ganhado um sentido religioso e moral, significando algo a mais que seu sentido literal. Alguns
mestres sugerem que tais termos podem sugerir o significado de “rebeldes”, “apóstatas” ou “renegados”.
No livro Mateus – introdução e comentário, Tesker emite um parecer: “Jesus estaria dizendo que o homem
que diz que seu irmão está condenado ao inferno, está em perigo de ir para o inferno ele mesmo!”.

Estas palavras de insultos e estes pensamentos coléricos talvez não levem nunca à consumação do
ato homicida. Mas Jesus mostrou que, diante de Deus, são equivalentes ao homicídio. E o evangelista João
entendo o ensinamento do Mestre disse: “Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino; ora, vós sabeis
que todo assassino não tem a vida eterna permanente em si” (1Jo 3.15). A cólera, fruto do ódio unido aos
insultos, são sintomas do desejo pecaminoso de ver uma pessoa longe do nosso caminho. Esse desejo
infringe o sexto mandamento e é digno de penalidades. Quem assim praticar estará sujeito ao tribunal e ao
fogo do inferno (v 22).

2. Consertando os erros cometidos (vs 23-26)

Jesus continua abordando os temas ira e insultos, mas agora usando ilustrações práticas: a
primeira, da pessoa que vai ao templo oferecer sacrifícios a Deus (vs 23, 24); a segunda, da pessoa que vai
ao tribunal responder acusações (vs 24-26). O Mestre se utiliza da cultura religiosa judaica no que diz
respeito ao templo e o sacrifício. Mas, parafraseando com palavras modernas, o que Ele quis dizer em suas
ilustrações foi:

2.1. Primeira reposta possível

“Se você estiver na igreja, no meio de um culto de adoração, e de repente se lembrar de que um
irmão tem um ressentimento contra você, saia da igreja imediatamente e vá fazer as pazes com ele. Não
espere que o culto termine. Procure seu irmão e peça-lhe perdão. Primeiro vá, depois venha. Primeiro
reconcilia-se com seu irmão, depois venha e ofereça sua adoração a Deus”.

E ainda:

2.2. Segunda resposta possível

“Se alguém fizer uma acusação contra você e levá-lo ao tribunal, entre em acordo com essa pessoa
enquanto ainda é tempo, antes de chegarem lá. Porque, depois de chegarem ao tribunal, você será
entregue ao juiz, o juiz o entregará ao carcereiro, e você será jogado na cadeia. Eu afirmo a você que isto é
verdade: você não sairá dali enquanto não pagar a multa toda”.

São ilustrações que encerram situações distintas: uma tem a ver com a igreja; outra com o tribunal.
Uma diz respeito ao irmão; outra diz respeito a um inimigo. Mas em ambos os casos, a situação básica é a
mesma, a de que alguém tem algum tipo de ressentimento contra nós, e a lição básica também é a mesma,
a necessidade de que se tome uma atitude cristã imediata e urgente.

2.3. Uma boa história para ilustrar o ensino de Jesus

Eu li uma história certa vez, não me lembro aonde – depois descobri que está em muitos sites da
internet –, que vale a pena ser reproduzida aqui. É uma história sobre o conflito entre dois irmãos:

Dois irmãos que moravam em fazendas vizinhas, separadas apenas por um riacho, entraram em conflito.
Foi a primeira grande desavença em toda uma vida de trabalho lado a lado. Mas agora tudo havia mudado. O
que começou com um pequeno mal-entendido, finalmente explodiu numa troca de palavras ríspidas, seguidas
por semanas de total silêncio.
Numa manhã, o irmão mais velho ouviu baterem à sua porta.
- Estou procurando trabalho, disse ele.Talvez você tenha algum serviço para mim.
- Sim, disse o fazendeiro. Claro! Vê aquela fazenda ali, além do riacho? É do meu vizinho.
Na realidade do meu irmão mais novo. Nós brigamos e não posso mais suportá-lo. Vê aquela pilha de madeira ali
no celeiro? Pois use para construir uma cerca bem alta.
- Acho que entendo a situação, disse o carpinteiro. Mostre-me onde estão a pá e os pregos.
O irmão mais velho entregou o material e foi para a cidade.
O homem ficou ali cortando, medindo, trabalhando o dia inteiro.
Quando o fazendeiro chegou, não acreditou no que viu: em vez de cerca, uma ponte foi construída ali,
ligando as duas margens do riacho.
Era um belo trabalho, mas o fazendeiro ficou enfurecido e falou:
- Você foi atrevido construindo essa ponte depois de tudo que lhe contei.
Mas as surpresas não pararam ai. Ao olhar novamente para a ponte viu o seu irmão se aproximando de
braços abertos.
Por um instante permaneceu imóvel do seu lado do rio.
O irmão mais novo então falou:
- Você realmente foi muito amigo construindo esta ponte mesmo depois do que eu lhe disse.
De repente, num só impulso, o irmão mais velho correu na direção do outro e abraçaram-se, chorando
no meio da ponte. O carpinteiro que fez o trabalho, partiu com sua caixa de ferramentas.
- Espere, fique conosco! Tenho outros trabalhos para você.
E o carpinteiro respondeu:
- Eu adoraria, mas tenho outras pontes a construir...
Já pensou como as coisas seriam mais fáceis se parássemos de construir cercas e muros e passássemos a
construir pontes com nossos familiares, amigos, irmãos, colegas do trabalho e principalmente nossos inimigos...

Conclusão

O que você está esperando? Que tal começar agora a construir pontes! Jesus, o carpinteiro de
Nazaré, nos trouxe a certeza de que com essa atitude, o cristão viverá um elevado padrão de
relacionamento com o próximo.

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