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Texto áureo: “Como é bom e agradável que o povo de Deus viva unido como se todos fossem irmãos! ”
(Salmos 133.1 - NTLH)
Leitura diária:
Introdução
Nos versos 21-26, após revelar com clareza, que as leis morais do Antigo Testamento continuam em
vigência, o Senhor Jesus delineia o padrão do relacionamento com o próximo, colocando-o como um dos
princípios fundamentais da vida cristã. Isto porque o modo como tratamos o próximo, como veremos aqui,
é o ponto inicial na demonstração de um caráter cristão segundo o Evangelho. À luz do comentário de John
Stott em seu livro A Mensagem do Sermão do Monte – Contracultura Cristã, vamos analisar a passagem.
O mandamento não matarás seria melhor expresso se fosse não cometerás homicídio, pois não se
trata de uma proibição plena da supressão da vida em quaisquer circunstâncias, porém exclusivamente
contra o assassinato ou homicídio doloso. Chega-se a essa conclusão devido ao fato de que ainda no
Decálogo, em outra parte, ordena a morte, seja por guerra ou pena capital, de pagãos estrangeiros que
habitavam a terra prometida.
Por seis vezes, no capítulo cinco de Mateus, o Senhor usou a expressão (ou parte dela) "ouvistes
que foi dito aos antigos" ao referir-se à forma legalista como os fariseus lidavam com os preceitos da lei
mosaica.
Eles emprestavam-lhe conotação estritamente jurídica, sem atentar necessariamente para a sua
essência, chegando ao ponto de lhe incorporarem outros preceitos que desfiguravam os propósitos da lei e
a tornava um jugo extremamente pesado, contrapondo-se ao que Jesus propusera: descanso e alívio aos
sobrecarregados (ver Mt 11.28-30).
Enquanto os fariseus viam a questão somente do ponto de vista legalista (v.21), Jesus tratou do
problema na origem, trazendo à tona as intenções do coração (v.22) para reprovar qualquer
comportamento agressivo contra o próximo (cf. Mc 7.20-23). A ira é mencionada no verso 22: “...qualquer
que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão...”. As palavras sem motivo não aparecem em todos os
Manuscritos antigos, porém, é unânime a interpretação de que foi isso que Jesus quis passar. Nem toda ira
é maligna, injusta, fruto de vaidade, ódio ou vingança, há também, ira santa, pura, justa, fruto do amor.
Prova disso é a evidência da ira de Deus, mesmo que pecadores possam, eventualmente, sentir ira justa. O
próprio reformador Lutero usou essa expressão “ira justa”. Segundo ele, este tipo de ira, era aquela que
não desejava mal a ninguém; ela é simpática à pessoa, mas hostil para com o pecado. Logo, o que Jesus
quis reprovar foi a ira maliciosa e que deseja mal.
No final do verso 22 encontramos insultos oriundos da ira pecaminosa. Dois termos são usados:
raca e louco. Tanto um quanto o outro, provavelmente, equivalem à palavra aramaica que significa oco;
tolo; cabeça-oca; bob; trouxa; pateta; estúpido; inútil; cabeça-dura, etc. Trata-se de um insulto à
inteligência da pessoa. No entanto, torna-se imprescindível frisar que esses termos, na época de Jesus,
haviam ganhado um sentido religioso e moral, significando algo a mais que seu sentido literal. Alguns
mestres sugerem que tais termos podem sugerir o significado de “rebeldes”, “apóstatas” ou “renegados”.
No livro Mateus – introdução e comentário, Tesker emite um parecer: “Jesus estaria dizendo que o homem
que diz que seu irmão está condenado ao inferno, está em perigo de ir para o inferno ele mesmo!”.
Estas palavras de insultos e estes pensamentos coléricos talvez não levem nunca à consumação do
ato homicida. Mas Jesus mostrou que, diante de Deus, são equivalentes ao homicídio. E o evangelista João
entendo o ensinamento do Mestre disse: “Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino; ora, vós sabeis
que todo assassino não tem a vida eterna permanente em si” (1Jo 3.15). A cólera, fruto do ódio unido aos
insultos, são sintomas do desejo pecaminoso de ver uma pessoa longe do nosso caminho. Esse desejo
infringe o sexto mandamento e é digno de penalidades. Quem assim praticar estará sujeito ao tribunal e ao
fogo do inferno (v 22).
Jesus continua abordando os temas ira e insultos, mas agora usando ilustrações práticas: a
primeira, da pessoa que vai ao templo oferecer sacrifícios a Deus (vs 23, 24); a segunda, da pessoa que vai
ao tribunal responder acusações (vs 24-26). O Mestre se utiliza da cultura religiosa judaica no que diz
respeito ao templo e o sacrifício. Mas, parafraseando com palavras modernas, o que Ele quis dizer em suas
ilustrações foi:
“Se você estiver na igreja, no meio de um culto de adoração, e de repente se lembrar de que um
irmão tem um ressentimento contra você, saia da igreja imediatamente e vá fazer as pazes com ele. Não
espere que o culto termine. Procure seu irmão e peça-lhe perdão. Primeiro vá, depois venha. Primeiro
reconcilia-se com seu irmão, depois venha e ofereça sua adoração a Deus”.
E ainda:
“Se alguém fizer uma acusação contra você e levá-lo ao tribunal, entre em acordo com essa pessoa
enquanto ainda é tempo, antes de chegarem lá. Porque, depois de chegarem ao tribunal, você será
entregue ao juiz, o juiz o entregará ao carcereiro, e você será jogado na cadeia. Eu afirmo a você que isto é
verdade: você não sairá dali enquanto não pagar a multa toda”.
São ilustrações que encerram situações distintas: uma tem a ver com a igreja; outra com o tribunal.
Uma diz respeito ao irmão; outra diz respeito a um inimigo. Mas em ambos os casos, a situação básica é a
mesma, a de que alguém tem algum tipo de ressentimento contra nós, e a lição básica também é a mesma,
a necessidade de que se tome uma atitude cristã imediata e urgente.
Eu li uma história certa vez, não me lembro aonde – depois descobri que está em muitos sites da
internet –, que vale a pena ser reproduzida aqui. É uma história sobre o conflito entre dois irmãos:
Dois irmãos que moravam em fazendas vizinhas, separadas apenas por um riacho, entraram em conflito.
Foi a primeira grande desavença em toda uma vida de trabalho lado a lado. Mas agora tudo havia mudado. O
que começou com um pequeno mal-entendido, finalmente explodiu numa troca de palavras ríspidas, seguidas
por semanas de total silêncio.
Numa manhã, o irmão mais velho ouviu baterem à sua porta.
- Estou procurando trabalho, disse ele.Talvez você tenha algum serviço para mim.
- Sim, disse o fazendeiro. Claro! Vê aquela fazenda ali, além do riacho? É do meu vizinho.
Na realidade do meu irmão mais novo. Nós brigamos e não posso mais suportá-lo. Vê aquela pilha de madeira ali
no celeiro? Pois use para construir uma cerca bem alta.
- Acho que entendo a situação, disse o carpinteiro. Mostre-me onde estão a pá e os pregos.
O irmão mais velho entregou o material e foi para a cidade.
O homem ficou ali cortando, medindo, trabalhando o dia inteiro.
Quando o fazendeiro chegou, não acreditou no que viu: em vez de cerca, uma ponte foi construída ali,
ligando as duas margens do riacho.
Era um belo trabalho, mas o fazendeiro ficou enfurecido e falou:
- Você foi atrevido construindo essa ponte depois de tudo que lhe contei.
Mas as surpresas não pararam ai. Ao olhar novamente para a ponte viu o seu irmão se aproximando de
braços abertos.
Por um instante permaneceu imóvel do seu lado do rio.
O irmão mais novo então falou:
- Você realmente foi muito amigo construindo esta ponte mesmo depois do que eu lhe disse.
De repente, num só impulso, o irmão mais velho correu na direção do outro e abraçaram-se, chorando
no meio da ponte. O carpinteiro que fez o trabalho, partiu com sua caixa de ferramentas.
- Espere, fique conosco! Tenho outros trabalhos para você.
E o carpinteiro respondeu:
- Eu adoraria, mas tenho outras pontes a construir...
Já pensou como as coisas seriam mais fáceis se parássemos de construir cercas e muros e passássemos a
construir pontes com nossos familiares, amigos, irmãos, colegas do trabalho e principalmente nossos inimigos...
Conclusão
O que você está esperando? Que tal começar agora a construir pontes! Jesus, o carpinteiro de
Nazaré, nos trouxe a certeza de que com essa atitude, o cristão viverá um elevado padrão de
relacionamento com o próximo.