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SABEDORIA DE DEUS – Revelada pelo Espírito

(2:6-16)

De fato, a salvação de Deus é sábia. Sua sabedoria, contudo, continua desconhecida pela
elite do mundo. Desde que a sabedoria de Deus não pode ser descoberta pelo raciocínio
humano, nenhum homem pode jamais chegar a entender a vontade de Deus pelo seu
próprio entendimento ou pesquisa. Ninguém pode saber o que estou pensando a menos
que eu lhe diga. Do mesmo modo, ninguém pode conhecer a mente de Deus fora da
revelação que Deus fez aos seus apóstolos através do Espírito. Deus não revelou apenas
o conteúdo geral de sua mensagem, mas deu as próprias palavras da Escritura. Assim,
podemos chegar a saber a vontade de Deus revelada pelo Espírito quando lemos o que
os apóstolos e os profetas escreveram no Novo Testamento.

A sabedoria de Deus pode ser conhecida como sendo o aspecto particular do seu
conhecimento. Em Deus o conhecimento é a causa e a sabedoria é o efeito. É evidente
que conhecimento e sabedoria não são a mesma coisa, mas andam intimamente ligados.
O primeiro é teórico e o segundo é prático. O conhecimento é o entendimento das regras
gerais, enquanto a sabedoria é o extrair conclusões de regras particulares para um
propósito definido.

1. Sabedoria que provêm de Deus (v.6-9)


Esta passagem nos apresenta uma diferença existente entre as distintas formas de
instrução cristã e uma diferença entre as distintas etapas da vida cristã. Na igreja
primitiva havia uma diferença bastante clara entre dois tipos de instrução:
(1) Havia o kerigma: Kerigma significa o anúncio do rei por boca de um
arauto; e tratava-se de um anúncio liso e plano dos atos básicos do cristianismo a
respeito dos quais não havia nenhum argumento. Obviamente tratava-se de uma
primeira etapa, anunciava-se aos homens a realidade da vida, morte e ressurreição de
Jesus e seu futuro retorno.
(2) Havia a didachê: Didachê significa ensinar; e consistia na explicação do
significado dos fatos que já tinham sido anunciados. Obviamente esta segunda etapa era
dedicada àqueles que já tinham recebido o kerigma. Paulo se está referindo a isto nesta
passagem. Até o momento falou de Jesus Cristo e de sua crucificação; era o anúncio
básico que devia fazer o cristianismo, mas, continua dizendo, não nos detemos aqui; a
instrução cristã continua ensinando não só os atos, mas também seu significado. Diz que
isto se realiza entre os que são teleioi. Em algumas versões esta palavra se traduz por
perfeitos. Este é um dos significados da palavra, mas não é o apropriado para esta
passagem. Teleios tem um sentido físico, descreve um animal ou uma pessoa que
cresceu como devia e alcançou a altura de seu desenvolvimento físico. Tem um
significado mental.

(v.6): “Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a


sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada”
“expomos sabedoria entre os experimentados”
O verbo “expor” é lale,w (laleō) está relacionado com o “anuncio ou pregação”
do evangelho com sabedoria. Essa sabedoria é para quem é Deus, para os que, aos olhos
de Paulo são verdadeiramente experimentados. O termo experimentado te,leioj (teleios)
lit. “maduro, plenamente desenvolvido”, isto é, madureza ética e espiritual – maturidade
espiritual.
“não sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época”
Paulo diz a sua pregação não é uma pregação oriunda de sabedoria humana e
nem de poderosos, mas uma “pregação” que anuncia a “sabedoria de Deus em mistério,
outrora oculta”. É a revelação e a proclamação da sabedoria divina “revelada” em Cristo
de acordo com Efésios 1.7-9, Paulo diz que é o eterno propósito a respeito de todas as
coisas revelada em Cristo, sabedoria, essa que precisa ser proclamada através da igreja.
A sabedoria de Deus é um mistério encerrado e oculto em Deus, mas, Cristo como
revelador e essa sabedoria é chamada como “as insondáveis riquezas de Cristo”.

(v.7): “mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual


Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória”.
Paulo diz que a sua pregação era a sabedoria de Deus em mistério. Ele assinala a
razão por que a doutrina do evangelho não é tida em alta estima pelos príncipes deste
mundo: é que ela está envolta em mistério e, consequentemente, oculta. Pois o
evangelho transcende muitíssimo à perspicácia do intelecto humano, de tal forma que
aqueles que são reputados como sendo de intelecto superior podem erguer sua vista ao
máximo que jamais poderão chegar a tal altitude.
“preordenou desde a eternidade para a nossa glória”
A proclamação dessa sabedoria é produto do decreto divino. O termo para
“preordenar” é proori,zw (prooridzō) lit. “predestinou, decidiu de antemão”. a sabedoria
secreta de Deus, oculta por muito tempo e ainda oculta para alguns, foi “destinada” por
Deus “para a nossa glória antes do início do tempo”. Essa é a frase que começa a
esclarecer tanto o conteúdo da “sabedoria” quanto a identidade dos “maduros” (v. 6). O
verbo “destinou” é uma forma intensiva do verbo comum traduzido por “determinar”. A
ênfase se encontra em “decidir previamente”; daí “predestinar”.
O chamado de Deus é a expressão da vontade prévia de Deus, que nesse caso é
acentuada ainda mais pela expressão “antes do início do tempo” (lit., “antes das eras”).
O que Deus determinou “antes das eras” foi executado na era presente, que está
chegando ao fim, enquanto a era gloriosa e final alvorece e aguarda consumação - “para
a nossa glória”. Tecnicamente, o que foi predestinado é a sabedoria de Deus; o contexto
mais amplo indica que Paulo tem em vista a atividade graciosa de Deus em Cristo, na
qual, por meio da crucificação, ele determinou salvação eterna para seu povo, incluindo
especialmente os crentes de Corinto.

(v.8): “sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a
tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória”
A sabedoria de Deus é algo que "nenhum dos governantes desta era compreendeu. Com
essa oração, Paulo dá mais detalhes sobre o lado negativo da frase anterior (v.6), mas
agora à luz da descrição precedente da sabedoria de Deus. A razão de eles não
compreenderem é que ela estava “oculta em Deus” e só podia ser entendida mediante
uma revelação que viesse por meio do Espírito (v.10). Os governantes desta era não
compreenderam foi a natureza da verdadeira sabedoria.
O QUE DEUS PREPAROU PARA OS QUE AMAM (9-11)
(v.9): “mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem
jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles
que o amam.”
Todos concordam que esta passagem é tomada de Isaías 64.3; e visto que à
primeira vista o significado é óbvio e fácil, os intérpretes não se dão muito ao trabalho
de explicá-la. O termo “ouvir” é o termo grego avkou,w (akouō) lit. “perceber no íntimo
da alma comunicação divina”. “jamais penetrou em coração humano”. Aqui pode ser
entendido como “entrar na mente”. Aqui nada mais é do que “discernimento espiritual”.
O “discernimento espiritual” é a sabedoria para entender o que é certo ou
errado, verdadeiro ou falso, sensato ou perigoso dentro dos padrões de Deus - na área
espiritual. A pessoa que tem discernimento espiritual sabe a diferença entre o que vem
de Deus e o que não vem. O discernimento espiritual é um dom de Deus.

“o que Deus tem preparado”.


O termo e`toima,zw (hetoimadzō) lit. “tenho pronto” - a prontidão e alacridade
que o evangelho produz. Alacridade: particularidade do que álacre: que é muito alegre,
animado (dotado de vida), vivo - qualidade do que é intenso; em que há vivacidade e
alegria - contentamento. Aquilo que Deus provê para o crente; aponta o caminho para a
ênfase central da passagem inteira, a saber, que a sabedoria de Deus pode ser conhecida
somente pelos que pertencem a Deus, porque só eles têm o Espírito. Mostra também o
contraste entre a incapacidade deles e a nossa capacidade de compreender a sabedoria
de Deus. E esta sabedoria é o próprio Cristo (1.24) “pregamos a Cristo, poder de Deus
e sabedoria de Deus”.

(v.10): “Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as
coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus.”
“Mas, Deus no-lo revelou pelo Espírito”.
O termo “revelar” é avpokalu,ptw (apokalyptō) lit. “tornar totalmente
conhecido”. Paula começa a parte principal de seu argumento, mostrando que a chave
perfeita para compreender a sabedoria de Deus é o Espírito. Só Deus é capaz de
conhecer a Deus, por isso, o Espírito de Deus se torna a ligação entre Deus e a
humanidade, a “qualidade” da parte do próprio Deus que torna possível esse
conhecimento.
Este “tornar conhecido” vem “pelo Espírito” - dia. tou/ pneu,matoj – aqui existe
uma preposição dia. (dia) usada como genitivo expressa o sentido de lugar ou meio
pessoal – instrumentalidade – onde o “genitivo” expressa “origem”. O único meio
pessoa de conhecer a Deus é por meio do Seu Espírito.

“porque o Espírito a todas as coisas perscruta”.


O termo para “perscruta” evrauna,w (eraunaō) lit. “investigar, sondar”. A ideia
de o Espírito “sondar” todas as coisas, até mesmo as profundezas de Deus, é a mais bem
compreendida à luz da explicação que o próprio Paulo apresenta em seguida (v.11).
(v.11): “Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio
espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o
Espírito de Deus.”
Paulo faz uma analogia quanto ao “saber do homem” e o “saber de Deus”. A
analogia em si é bem simples e sustenta que, assim como a única pessoa que sabe o que
se passa dentro da sua mente é ela mesma, da mesma maneira só Deus conhece as
coisas de Deus. O termo “saber” é oi=da (oida) lit. “chegar à percepção ou realização –
compreender no sentido de julgar.”
No plano humano, só eu sei o que estou pensando e ninguém mais, a menos que
eu escolha revelar meus pensamentos na forma de palavras. Então, também só Deus
conhece a Deus de fato. Portanto, o Espírito de Deus, que na condição de Deus conhece
a mente de Deus, se torna o ele para também conhecermos a Deus, conforme a frase
seguinte afirma: nós recebemos... o Espírito que vem de Deus.

DISCERNIMENTO DO ESPÍRITO (12-16)

(v.12): “Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que
vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado
gratuitamente.”

“e sim o Espírito que vem de Deus”.


Essa revelação foi dada pelo Espírito, o único que conhece os segredos íntimos
de Deus e o qual, conforme esse versículo agora, afirma, “recebemos”. Essa expressão
comum no NT para designar a dádiva do Espírito. Em Paulo, é basicamente referência à
conversão cristã.

“o que por Deus nos foi dado gratuitamente”.


Paulo e eles terem recebido o Espírito, a saber, “para que possamos compreender
aquilo que Deus nos deu gratuitamente”. O verbo que Paulo emprega aqui cari,zomai
(charidzomai) lit. “conceder um favor como resultado de cancelamento de uma dívida”,
parece ser uma alusão deliberada à “graça” (charis) de Deus, ou o “dom” (charisma) da
salvação.

(v.13): “Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria


humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com
espirituais.”
Depois de ter defendido que o dom comum que eles têm do Espírito é o que
capacita os crentes de Corinto a compreenderem a sabedoria de Deus. O Espírito é,
portanto, a chave para tudo: a pregação de Paulo, a conversão deles e, em especial, o
fato de compreenderem que o conteúdo da pregação paulina é a verdadeira sabedoria de
Deus. Sabedoria ensinada pelo Espírito que confere coisas espirituais com espirituais.
(v.14): “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque
lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem
espiritualmente.”

“homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus”. O termo “natural”


é yuciko,j (psychikos) lit. “homem que não possui o Espírito de Deus - não espiritual”.
O homem destituído de calorosa fé cristã e desejo de santidade. Esses tipos de pessoas
“não podem entendê-las” – não pode entender valendo-se da sua própria inteligência.

(v.15): “Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é
julgado por ninguém.”
Aqui podemos ver o contraste entre o “homem natural” e o “homem espiritual”.
O termo “espiritual” é pneumatiko,j (pneumatikos) lit. “o que pertence ao espírito.
Aquele que tem qualidades ou caráter do divino Espírito.” O espiritual é o homem
distinto de seus semelhantes, aquele em quem o Espírito governa. No não regenerado, o
espírito que deveria ser o instrumento do Espírito Santo (assim é no regenerado), é
substituído pela alma animal, e é inoperante, de modo que tal pessoa nunca é chamada
de “espiritual”.

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