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Quando a Bíblia fala na obra da salvação aplicada ao pecador, ela revela que há um processo
da salvação. Esse processo da salvação possui tanto aspectos imediatos quando progressivos.
Isso significa que a salvação em Cristo Jesus não acontece num único ato em que Deus
concede ao pecador a plenitude da salvação. Existe também um processo que perdura toda a
vida do redimido e encontra sua plenitude na vida vindoura. A salvação é pela graça mediante
a fé, e o processo da salvação deve ser visto como sendo os modos com que essa graça é
manifestada e cumprida no homem.
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Ordo salutis ("ordem de salvação") é o nome latino que se dá àquela organização lógica e mais
ou menos cronológica das diversas ações divinas, agenciadas pela Terceira Pessoa, ligadas à
economia da salvação para o indivíduo. E essa representação esquematizada posiciona-se
como um ponto de cisão entre as diversas tradições legítimas do cristianismo [1]: católicos a
concebem de uma maneira, luteranos de outra, arminianos de outra. A ordo salutis reformada,
entretanto, apresenta-se como a que mais precisamente faz jus ao ensino bíblico acerca da
salvação, considerando esta doutrina pelo prisma do tota scriptura, valendo-se de uma lógica
pressuposicionalista e empregando de forma adequada os assentos da depravação total do ser
humano e da perfeita liberdade e soberania de Deus.
Em seu esqueleto mais conciso, a ordem de salvação dos reformados é organizada como se
segue:
(I) eleição;
(II) regeneração;
(III) chamado;
(IV) conversão;
(V) santificação;
(VI) glorificação.
Portanto, a concatenação lógica destes mistérios do Espírito deve ser, para que se materialize
segundo a Escritura, exatamente como foi expressa. Ela deve postular essas operações na
ordem em que a Bíblia nô-las apresenta e a qual os reformados honram com sua teologia.
Embora a eleição não seja uma aplicação dos méritos de Cristo ao pecador individual -
conforme normalmente propõe a definição de ordo salutis - , é prudente considerarmos esta
doutrina no approach em questão pelo simples fato de que, em última instância, tudo o que
ocorre com o pecador na ordem de redimí-lo é decorrência de uma vontade soberana de Deus.
Assim, em primeiro lugar, a eleição é o ponto de partida para tudo pois ela é nada menos do
que a dimensão soteriológica da doutrina dos decretos de Deus.
A Escritura afirma:
"[...] anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não
sucederam; [...] O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade." (Isa 46:10)
Tudo o que acontece é resultado direto de um decreto eterno de Deus. Deus decretou todas
as coisas (todas!), desde a eternidade. A salvação, desse modo, está incluída nos decretos de
Deus.
Em segundo lugar, Deus implanta nos seus escolhidos o princípio da nova vida, batizando-os
no Santo Espírito. Desde que os outros "momentos" da salvação de um pecador pressupõem o
seu estado de vida (uma pessoa não pode ter fé nem santificar-se se está morta em pecados -
Ef 2.1,2), e desde que o homem morto em seus pecados não pode fazer absolutamente nada
nem por si, nem por outros, é lógico que, antes sequer que ele possa dar-se conta de sua
salvação, ele precisa estar "salvo", ele precisa estar REGENERADO.
"Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que
crêem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da
vontade do homem, mas de Deus." (João 1:12-13)
Este verso, fazendo eco ao ensino geral das Escrituras, mostra que os filhos de Deus são os que
crêem Nele, e diz que estes mesmos que crêem nasceram da vontade única de Deus! A lição é
clara: se uma pessoa crê em Deus é porque ela já foi nascida de Deus, já foi regenerada. Do
contrário, como diz Paulo, "a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à
lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser." (Rom 8:7)
Em terceiro, os que Deus regenerou são chamados para a vida com Deus e só podem obedecer
ao chamado porque foram regenerados. E este chamado divino, que não pode ser resistido
visto que parte de um decreto eterno (eis o motivo pelo qual a eleição deve ser lembrada na
análise da ordo salutis), dá-se por instrumentalidade da palavra de Deus:
"Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de
Deus, viva, e que permanece para sempre. Porque Toda a carne é como a erva, E toda a glória
do homem como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor; Mas a palavra do Senhor
permanece para sempre. E esta é a palavra que entre vós foi evangelizada." (1Pe 1:23-25)
A palavra de Deus, tornada eficaz pela poderosa ação do Espírito, opera como meio
instrumental de conversão. E, novamente, há uma lógica aqui. Se a conversão pode ser
resumida como arrependimento e fé, se arrependimento e fé só podem ser articulados em
função de um conteúdo objetivo de informações, e se este conteúdo consta exclusivamente na
palavra de Deus, então é evidente que apenas pela palavra de Deus uma pessoa regenerada
pode ser chamada à conversão.
Em quarto, portanto, o pecador que já recebeu a semente da vida incorruptível e que foi
chamado pela "palavra que permanece para sempre", é convertido mediante ação do mesmo
Espírito. Neste ponto, há uma observação a ser fixada: pode haver um hiato de tempo entre a
regeneração e a conversão. Louis Berkhof acentua:
"[Regeneração] é uma mudança que ocorre na vida subconsciente. É uma secreta e
inescrutável obra de Deus que o homem nunca percebe diretamente. A mudança pode ter
lugar sem que o homem esteja cônscio dela momentaneamente, se bem que não é o que se dá
quando a regeneração e a conversão coincidem". [2]
"E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a
quem enviaste." (João 17:3)
Em quinto lugar, os que foram convertidos são iniciados, agora, em sua santificação.
Conquanto um não-regenerado não possa obedecer a Deus, o que qualifica um pecador
convertido é precisamente aquela sua vontade de servir a Deus, amá-lo e obedecê-lo.
"Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são
segundo o Espírito para as coisas do Espírito. … Porque todos os que são guiados pelo Espírito
de Deus, esses são filhos de Deus. … E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também,
herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que
também com ele sejamos glorificados." (Rom 8:5,14,17)
Outrossim, com o mesmo poder onipotente com que Deus constrange seus eleitos à
conversão, eles são santificados de forma irresistível. Se Deus decretou a salvação dos que
escolheu, e se a glorificação deles depende também de seu engajamento na santificação, é
mister que Deus os garantirá nesta etapa da ordo. Os salvos, como atesta a Escritura, podem
cair em graves pecados e por algum tempo continuar neles; incorrer assim no desagrado de
Deus, entristecer o seu Santo Espírito e de algum modo vir a ser privados das suas graças e
confortos; e ter os seus corações endurecidos e as suas consciências feridas; prejudicando e
escandalizado os outros e atraindo sobre si juízos temporais [3]. Contudo, Deus os restaurará à
obediência no caminho santo.
Por fim, em sexto e último lugar, os mesmos que foram eleitos na eternidade serão
glorificados no final. Não há opção quanto a isso e não há evento contingente que se
interponha como barreira à ação e aos decretos de Deus.
A Bíblia diz:
"Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora. E
não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós
mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo. … Porque os que dantes
conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que
ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e
aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou."
(Rom 8:22-23,29-30)
A glorificação dos santos é certa primeiramente porque ela é um componente sine qua non do
decreto salvífico de Deus: o Senhor não apenas predestinou "os que conheceu de antemão",
mas os predestinou para serem conformes a imagem de Jesus Cristo. A existência de um final
pressupõe o sucesso e a concreção dos meios. Ademais, aos que Deus predestinou, ele
também chamou e, por fim, glorificou. Ou seja, os mesmos que foram chamados serão
glorificados. Os mesmos! E, mais do que isso, sua glorificação é tão certa que a Escritura a
posiciona como um evento passado, ao lado do chamado e da justificação. Para Deus, tudo
está tão certo que essas obras são consideradas fatos consumados.
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Introdução
A ordo salutis é o entendimento padrão Reformado de como Deus aplica a redenção em Seu
povo. Quando se diz que uma pessoa particular foi ou é “salva”, o termo é frequentemente
usado sem a profundidade da Escritura ou sem uma apreciação da graça de Deus. A Bíblia é
muito clara de que os crentes são salvos pela graça, e estas doutrinas especificam os modos
nos quais esta graça é manifesta em e através do crente. A Escritura define vários diferentes
aspectos ou passos da salvação de uma pessoa, desde o primeiro ouvir do Evangelho até o
caminho para a eternidade no céu. Cada um desses aspectos se coincide, visto que todos eles
são partes da salvação de uma pessoa, mas eles também mantêm suas características
distintivas nas Escrituras e no plano redentor. Deus aplica esta redenção no tempo àqueles
que Ele escolheu desde toda a eternidade.
O Chamado do Evangelho
O Pai determinou que o caminho normativo da salvação deveria ser através de Sua Palavra. A
Bíblia coloca uma ênfase muito grande sobre a leitura e pregação de Sua Palavra, assim como
sobre a transmissão deste Evangelho a todas as pessoas. Este chamado geral do Evangelho
contém a supremacia de Deus, Sua ira contra o pecado, a promessa de salvação através de Seu
Filho e exorta o homem caído a se arrepender de seus pecados e crer na redenção de Cristo
Jesus.
(veja Isaías 55.7, Mateus 28.19-20, Romanos 10.14,17, 2 Timóteo 1.9-10, 3.15; CFW 10)
A Regeneração
O chamado geral do Evangelho é eficaz quando o Espírito Santo faz com que a Palavra de Deus
seja entendida, apreciada e crida no coração de um indivíduo. Por causa da natureza caída e
pecaminosa do homem, ele está em inimizade contra Deus e recusa reconhecer a veracidade
do Evangelho. Deus envia Seu Espírito aos Seus eleitos para mudar esta rebelião espiritual,
regenerando, renovando e transformando a condição interna de depravado para uma de amor
pelo Senhor. Na realidade, estes corações e naturezas foram nascidos de novo, e seus olhos e
ouvidos foram abertos para ver as gloriosas verdades da salvação de Deus.
A Conversão
O coração regenerado que ouve o Evangelho é confrontado com a culpa de sua condição
pecaminosa e a certeza de um justo julgamento contra ele. Desesperando-se por causa de seu
estado, ele vê sua única esperança de escape através de Cristo e confia na promessa de
salvação como também se arrepende de seus pecados. Pela fé, ele reconhece a si mesmo
como um pecador necessitado da graça, e implora a Deus por Seu poder e amor para salvá-lo
através do sangue e da justiça de Cristo. Através do arrependimento, ele odeia sua
pecaminosidade e se volta para Deus como a única fonte de justiça e bondade, esforçando-se
para viver obedientemente para Ele. Aqueles que se arrependem e creem são convertidos de
seguidores de Satanás para seguidores de Deus.
(veja Isaías 55.11, Oseias 14.2,4, Atos 17.30-31, 20.21, Romanos 1.17, Efésios. 1.17-18, 2.8:
CFW 14, 15)
A Justificação
A promessa no Evangelho é que aqueles que confiam no Senhor serão salvos. O perdão para os
pecados do povo de Deus, e a justiça que permite ao pecador estar na presença de um Deus
santo, vêm da perfeita obediência e do sacrifício expiatório de Cristo. Como um substituto
para o eleito, duas coisas acontecem:
Cristo obtém sua salvação e o seu estar diante de Deus, por cumprir a lei de Deus e o pacto no
lugar dele.
Ele carrega o castigo pelos seus pecados. Como Cristo cumpriu essa tarefa, Deus promete que
aqueles que confiam nEle terão a justiça de Cristo imputada (ou dada) a eles, assim como os
seus pecados serão imputados a Cristo.
Assim, como um santo Juiz, Deus legalmente declara que o Seu povo é “justo” ou “sem culpa”.
O pecador é justificado diante do Senhor quando, em fé, Ele descansa não sobre sua própria
bondade e/ou boas obras (as quais ele não tem nenhuma), mas sobre a magnificente obra do
Filho de Deus.
(veja Jeremias 23.6, Romanos 3.24-26, 4.5-8, 5.17-19, Gálatas 2.16; CFW 11)
A Adoção
A graça de Deus converte pecadores de servos de Satanás a servos de Cristo; todavia, Deus
promete mais do que isso. Ele manifesta Seu amor paternal para com os pecadores perdidos,
adotando-os como Seus próprios filhos. Através da adoção, Ele lhes dá todos os direitos,
privilégios e proteção, como pertencendo a Sua família e tendo Seu nome. Eles se tornam
filhos e filhos adotivos do Pai, irmãos, irmãs, e co-herdeiros com Cristo.
(veja Salmos 103.13, João 1.12, Romanos 8.15-17, Gálatas 4.5-7, Efésios 1.5; CFW 12)
A Santificação
O próximo passo neste processo de salvação é a obra purificadora do Espírito Santo no andar
diário do crente. Não somente os eleitos são apresentados como inocentes através da
imputação da justiça de Cristo, mas eles também se desenvolvem espiritualmente na justiça
pela Palavra e pelo Espírito. Como o Espírito habita no crente, Ele opera neles o crescer na
graça e no conhecimento, e produz neles fruto e boas obras espirituais. Os crentes são
especialmente santificados quando envolvidos numa igreja onde a Bíblia é ensinada e os
sacramentos são ministrados. Embora ninguém possa se tornar perfeito nesta vida, e embora
esta santificação pode ser uma obra muito longa e demorada, os eleitos são fortalecidos
eficazmente para que eles perseverem na santidade.
(veja 2 Coríntios 7.1, Efésios 2.10, 5.26, 2 Tessalonicenses 2.13, Hebreus 13.20-21; CFW 13, 16)
A Glorificação
Quando um crente morre, sua alma vai para a presença de Deus, enquanto espera pela
ressurreição e redenção do seu corpo físico, e ali é confortado e contempla a glória de Deus. A
realização final da salvação acontecerá quando Cristo retornar, reunir Seu povo e glorificá-los
junto dEle. Quando a Nova Jerusalém for estabelecida, que é comumente uma referência ao
céu, a Bíblia promete que a maldição do pecado não mais existirá e que os eleitos habitarão no
céu com o Senhor eternamente, em perfeita paz, amor e alegria.
(veja Eclesiastes 12.7, João 5.28-29, Atos 24.15, Romanos 8.30, 1 Coríntios 15, 2 Coríntios
5.1,6,8, Filipenses 1.23; CFW 32, 33)