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CENTRO UNIVESITÁRIO SAGRADO CORAÇÃO

Enrico Ramos
Hellen Cristine Pacheco
Larissa Cristina de Oliveira
Vanessa Alves dos Santos

Resenha Crítica: “Há liras de Orfeu em todos os automóveis, as feiras


automobilísticas e as seduções do automóvel em São Paulo, nos anos 20”

BAURU
2020
Enrico Ramos
Hellen Cristine Pacheco
Larissa Cristina de Oliveira
Vanessa Alves dos Santos

RESENHA CRÍTICA: “Há liras de Orfeu em todos os automóveis, as


feiras automobilísticas e as seduções do automóvel em São Paulo, nos anos 20”

Resenha crítica apresentada ao


professor Fabio Paride Pallotta, na matéria
História, memória e patrimônio como avaliação
P1 na apuração da nota final do presente curso.

BAURU
2020

O texto de Marco Antônio nos trouxe uma discussão sobre o papel do


automóvel na criação de uma cultura elitista na cidade de São Paulo, diretamente
relacionada com o rápido desenvolvimento da economia do automóvel durante o início
do século XX.

O autor começa citando a fala de um estudioso, há algum tempo atrás, em que


o mesmo afirma que se uma inteligência alienígena observasse o nosso planeta,
poderia chegar à conclusão que ele é um mundo dominado pelos automóveis, onde
os homens seriam escravos dedicados a cuidar e zelar pela reprodução do automóvel
nessa sociedade centrada na manutenção e expansão dos veículos. Ele levanta uma
breve crítica ao mencionar que essa sociedade se tornou algo tão natural aos nossos
olhos que nem nos damos ao trabalho de questionar o motivo das máquinas ocuparem
tanto espaço nas nossas vidas, questão essa, absurda para nós, por estarmos tão
imersos nessa cultura.

O autor propõe que façamos uma reflexão acerca do papel do automóvel em


nosso mundo, para que seja possível questionar a sociedade em que vivemos, as
políticas públicas e as despesas gigantescas que são necessárias para manter essa
sociedade automotiva. Citando Sørensen, ele diz ainda que o automóvel e a sua
poderosa indústria são a espinha dorsal da nossa economia, e que sem essa indústria,
o nosso mundo e nossa forma de viver na sociedade não seriam os mesmos, tudo se
organizaria de forma diferente da que estamos acostumados atualmente, talvez a
sociedade fosse até um pouco mais democrática, enfatiza Marco.

Pela sua importância econômica, pela extensão de seu alcance e pela sua
visibilidade, o automóvel se transformou em um elemento fundamental em nossas
vidas, portanto, devemos compreender de fato do que se trata o fenômeno
“automóvel” para que possamos compreender também o nosso mundo, e no caso
específico do Brasil, o automóvel assumiu um papel gigantesco de criação de
identidade, principalmente da identidade paulista, entretanto, não assumiu como
criação de identidade coletiva, mas sim elitista.

O automóvel passou por um processo que alguns autores chamaram de


“domesticação” ao longo dos primeiros 30 anos, processo que consiste em diversas
fases de adaptação de uma determinada tecnologia, e nesse caso foi a adaptação da
tecnologia automotiva ao meio em que ela foi implementada. Esse processo envolve
o desenvolvimento de uma infro-estrutura local, de uma legislação e de uma cultura
do uso desses automóveis. A cultura é criada a partir da proliferação das ideias ligadas
ao veículo, que são representadas pelos diversos modelos que trafegam pelas ruas,
a materialidade, assim como a presença cotidiana dos carros no dia-a-dia das
pessoas.

O autor nos conta sobre as feiras automobilísticas e destaca que elas foram o
auge da “cultura automobilística” na Primeira República. As exposições
automobilísticas em São Paulo foram todas realizadas no Palácio das Indústrias,
essas exposições tiveram grande repercussão entre os praticantes de esportes
automobilísticos e entre uma boa parte da população da cidade. As três primeiras
exposições foram as de maior repercussão, as que reuniram o maior número de
pessoas nas dependências do Palácio.

A partir do grande sucesso da primeira Exposição, que antes apenas


funcionaria como extensão dos trabalhos do III Congresso de Estradas, se tornará
assim posteriormente em uma exposição anual, ganhando grande autonomia. Já de
1924 em diante, a Exposição ganharia um caráter independente e apresentaria a
população o que de mais sofisticado e moderno de matéria de automóveis estariam
por vir, envolvendo assim símbolos e empresas até mesmo mais importantes que o
primeiro evento.

A II Exposição Automobilística fora marcada de grandes oportunidades e


propagandas de empresas de automóveis, marcas como Oakland, Chevrolet,
Cadillac, Lincoln, Mercedes entre outras, foram nomes que marcaram presença em
uma prova de turismo automobilística de São Paulo a Ribeirão Preto, com sua partida
prevista para o dia 02 de outubro. Com a inscrição de mais de 40 automóveis, a prova
fora um sucesso, o que fez com que posteriormente ocorressem provas no intuito de
provar a potência dos automóveis impostos pelas empresas, estes que foram cedidos
para o evento.

No pátio interno do Palácio das Indústrias, havia uma pequena linha de


montagem construída pela Ford Motor Co., o que fizera com que despertasse grande
interesse dos aficionados em automobilismo. Esta linha de montagem, representava
o que era de mais revolucionário e moderno da época, o que para muitos que
assistiam desejavam no futuro, automóveis modernos e com tecnologias inovadoras.
O vislumbre ao ver como um automóvel era produzido, era muito grande e bem
contemplado pelos expectadores, vendo como eram colocados os motores, as rodas
nos eixos, e outras peças mais complexas.

As exposições também tiveram um forte apelo popular. Diversos movimentos


antecederam a III exposição, dentre eles o mais significativo foi a “Bandeira
Automobilística”, que saiu de São Paulo com destino ao Rio de Janeiro no intuito de
pressionar os deputados na aprovação do projeto de construção da rodovia Rio-São
Paulo. À época o então presidente da principal patrocinadora das exposições, a
Associação Permanente de Estradas de Rodagem (A.P.E.R.), Antônio Prado Jr.,
classificou o momento como “a época do motorismo”.

A exposição seguinte, realizada em 1927, foi a última das grandes exposições


de automóveis dos anos 20. Não teve o mesmo apelo publicitário que as outras, porém
manteve a adesão do público. O período posterior marcou o fim da A.P.E.R., muito
em conta de ter alcançado o seu objetivo após a eleição de Washington Luís para
presidente da República em 1926. A rodovia Rio-São Paulo foi inaugurada em 1929.

As feiras ocorridas a partir de 1920, foram extremamente necessárias para


difundir a cultura do automobilismo. O canto do Orfeu dos automóveis, atraia visitantes
de diversas partes do Brasil, fazendo que o aparato tecnológico virasse mais do
apenas uma mercadoria para consumo, mas uma identidade da elite paulistana que
queria criar uma nação motorizada.

O autor cita o livro “Coisas Vitorianas (BRIGGS, 1990)” do historiador Asa


Briggs, que analisa bem o papel das exposições, destacando que elas representavam
também toda a economia, trabalhadores, empresas, cultura e identidade de todos os
envolvidos; sendo a exposição uma forma de propagar ideias. Esse período de
emissários e universo automobilístico das elites ficou denominado pelo historiador
como “neobandeirismo”.

Esse termo surgiu como alusão a saga dos bandeirantes, que eram vistos pelas
elites como os verdadeiros construtores do Brasil. O neobandeirismo retomaria a saga
dos bandeirantes, só que dessa vez ela seria motorizada, abrindo as estradas do país
e colonizando o interior com os automóveis. Sávio ainda cita o político Washington
Luís que se elegeu com o lema de que “governar é construir estradas” e que foi uma
figura que agradou a elite com suas políticas de grandes obras e fluxos automotivos.
Por fim, o texto abrange um pouco sobre como foi o processo de domesticação
do automóvel e como ele surgiu por meio de um conjunto de ideias de uma pequena
parte da população mas que influenciou toda a nação, se tornando uma espécie de
projeto nacional que pretendia convencer o povo de que mobilizar o país seria parte
do processo de civilização e fazer das feiras um grande evento que reunia no mesmo
ambiente a sedução automotiva, agentes econômicos, forças políticas e a população.

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