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MOVIMENTOS SOCIAIS E
EDUCAÇÃO DO CAMPO
AUTORES
Marcos Botton Piccin
Janaina Betto
EDUCAÇÃO DO CAMPO
EDUCAÇÃO POPULAR,
MOVIMENTOS SOCIAIS E
EDUCAÇÃO DO CAMPO
1ª Edição
UAB/NTE/UFSM
Santa Maria | RS
2018
©Núcleo de Tecnologia Educacional – NTE.
Este caderno foi elaborado pelo Núcleo de Tecnologia Educacional da
Universidade Federal de Santa Maria para os cursos da UAB.
MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Mendonça Filho
PRESIDENTE DA CAPES
Abilio A. Baeta Neves
VICE-REITOR
Luciano Schuch
PRÓ-REITOR DE PLANEJAMENTO
Frank Leonardo Casado
PRÓ-REITOR DE GRADUAÇÃO
Martha Bohrer Adaime
COORDENADOR UAB
Reisoli Bender Filho
APOIO PEDAGÓGICO
Carmen Eloísa Berlote Brenner
Caroline da Silva dos Santos
Keila de Oliveira Urrutia
EQUIPE DE DESIGN
Carlo Pozzobon de Moraes
Juliana Facco Segalla – Diagramação
Matheus Tanuri Pascotini – Capa e Ilustrações
Raquel Bottino Pivetta
PROJETO GRÁFICO
Ana Letícia Oliveira do Amaral
CDU 37.018.51
37.035
Ministério da
Educação
APRESENTAÇÃO
P
rezado/a estudante!
É com muita satisfação que apresentamos o material didático da disciplina
Educação Popular, Movimentos Sociais e Educação do Campo, organizado
em quatro unidades, com suas respectivas subunidades. O material foi elaborado
e pensado de acordo com o previsto na estrutura do curso de Licenciatura em
Educação do Campo e com o intuito de proporcionar a todos e todas a identifi-
cação das principais referências teórico-práticas da Educação Popular no Brasil,
bem como contato com experiências de organização, escolarização e produção
de vida das classes populares, sobretudo as que residem no campo. Além disso, o
material se propõe a contribuir para situações de pesquisa, estudo, análise e pro-
blematização de experiências educacionais de educação popular e do campo que
fortaleçam esses sujeitos.
No momento de elaboração dos conteúdos e do material priorizamos referen-
ciais teóricos e práticos que contribuíssem para entender a história da Educação
Popular, sua existência na atualidade e a sua relação com a própria Educação do
Campo. Por isso, na primeira unidade será estudada a trajetória da Educação Po-
pular no Brasil e as diversas concepções existentes. Já na unidade 2, o material
proporciona o contato com experiências práticas de Educação Popular, formais
e não-formais, realizadas no Brasil ao longo das últimas décadas, tanto no setor
educacional público, bem como em iniciativas privadas ou de organizações da
sociedade civil. Para exercer um diálogo entre o estudo da Educação Popular e a
questão específica da Educação do Campo, na unidade 3 se propôs o estudo da
constituição histórica da Educação do Campo enquanto prática e categoria teórica
a partir da compreensão da realidade de vida das populações do campo. Além
disso, uma última unidade (unidade 4) foi construída com o objetivo de colocar
à luz as questões atuais que tem se destacado dentro da Educação do Campo,
principalmente no âmbito do direito à educação.
Assim, gostaríamos de dizer que este material didático foi construído para expor,
analisar e proporcionar reflexões acerca da interface entre a Educação Popular e a
Educação do Campo e da forma como os movimentos sociais do campo se inserem
nessa dinâmica e contribuem na construção de experiências.
Por fim, desejamos grandes aprendizados com esse material didático e com os
materiais complementares que serão sugeridos ao longo das unidades e das aulas,
pois o objetivo maior de existência deste material é contribuir para a formação
acadêmica de vocês na Licenciatura em Educação do Campo! Bons estudos!
Introdução ·11
1.1 Uma retrospectiva histórico-política da Educação Popular ·12
Introdução ·42
2.1 O caráter público, privado e híbrido da Educação ·44
Introdução ·79
3.1 Heterogeneidade e características sociais, políticas, econômicas e
culturais das populações do campo ·81
▷ REFERÊNCIAS ·109
Figura 1 – Educação Popular: quem fala deve falar a partir de todos e para todos
A citação acima foi extraída do livro “Educação Popular” de Carlos Rodrigues Bran-
dão e nos ajuda a compreender o motivo de ser da Educação Popular: reconectar
a educação com o mundo, o contexto social e cultural onde os sujeitos concreta-
mente existem. Assim, é possível entender que estudar a Educação Popular envolve
o desafio de transformar nossa própria visão do ato de educar e ser educado(a).
Por isso, para início deste processo, nosso estudo passará pelo reconhecimento
da trajetória da Educação Popular no Brasil. Para tanto, iremos falar sobre os per-
cursos apreendidos pela Educação Popular, bem como os avanços e retrocessos
de cada período, com a finalidade de se compreender como ela se reinventa no
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tempo e espaço diante dos acontecimentos históricos da sociedade brasileira,
principalmente em termos de experiências com populações rurais.
Falar sobre Educação Popular é falar, sem dúvidas, de uma educação que surge
fora da escola e da universidade, pois emerge a partir de iniciativas das organizações
populares. Porém, as suas práticas e modo de ensinar tiveram tamanha repercussão
que passaram a fazer parte de diversos espaços de nossa sociedade, como escolas,
universidades e grupos de pesquisa.
Assim ao olhar para a história da Educação Popular e tentar reconstruir sua
trajetória, é possível perceber que se trata de uma tarefa bastante complexa, pois
a mobilização em favor da educação do povo brasileiro, ao longo da história de
nosso país, faz parte e se ajusta à história das mudanças no cenário político, eco-
nômico e das estruturas sociais.
É possível perceber que junto à ideia de educação rural existia uma visão higienista
e sanitarista sobre a população rural. Assim, as ações apreendidas tinham um
cunho assistencialista e carregavam a visão de que a partir da assistência ofertada
3
saiba mais: Jeca Tatu e o processo civilizador da família
rural brasileira:
http://www.uel.br/grupo-estudo/processoscivilizadores/
portugues/sitesanais/anas8/artigos/CarlosRenatoCarola.pdf
Conforme apontado por Paiva (2003, p. 339), nesse período ocorreram grandes
campanhas de alfabetização de massa, entre elas: Campanha de Educação de Ado-
lescentes e Adultos (CEAA) e a Campanha Nacional de Educação Rural (CNER), as
quais fracassaram, pois pouco contribuíram para a erradicação do analfabetismo,
o que mostrou que campanhas de alfabetização de massas eram falhas.
Ao mesmo tempo, conforme Fonseca (1985, p. 54-67), quando da implantação
dos serviços de Extensão Rural no Brasil, a partir do ano de 1948, para a população
pobre rural era prevista assistência técnica através da criação de programas que
visavam melhorias no padrão de vida, de saúde e de educação da população rural,
através da elevação do nível de vida pelo aumento da produção e da produtividade
agropecuária. Nesse sentido, é possível afirmar que os serviços de extensão rural
atuaram enquanto projeto educativo com o objetivo de “treinar” os trabalhadores
rurais para a permanência no campo com mais produtividade agrícola. Nesse mesmo
período, foi criada a Comissão Brasileiro-Americana de Educação das Populações
Rurais (CBAR), e em parceria com a UNESCO, foi criada a Campanha Nacional de
Educação Rural, a qual considerava que o suposto atraso das áreas rurais era devido
à escassa preparação e conhecimento da população do campo, o que poderia ser
superado através da Extensão Rural.
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O início do contraponto à “educação do povo brasileiro” e a emergência da
Educação Popular
Figura 2 - Frase “Pra que(m) serve o teu conhecimento?” em parede da Universidade Federal de
Santa Maria.
Fonte: Autores.
16 ·
Quadro 1 - Características da Relação Educador/Educando na Educação Bancária.
Segundo Teixeira (2012), pesquisas apontam que no início dos anos 60, cerca de
40% da população brasileira com mais de 15 anos era analfabeta. Nesse período o
analfabeto não tinha direito a voto, o que significa que quase metade da população
brasileira era impedida de participar das escolhas políticas. Com isso, a alfabetização
popular se tornou um instrumento de luta política e de busca de direitos, tendo
como ferramenta uma popularização da cultura do próprio povo, através do qual
surgem diversos movimentos favoráveis à educação popular.
Assim, foi no início da década de 1960 que ocorreu uma intensa movimentação
de educadores, intelectuais, líderes comunitários, estudantes, de norte a sul, a favor
da cultura, principalmente a partir do incentivo à criação de centros de cultura.
Mas de que cultura se falava? Não da cultura na forma convencional e tradicional,
em que se faz uso de elementos da cultura do povo para dominá-lo e aliená-lo. A
seguir, iremos usar uma citação de Pierre Bourdieu, sociólogo francês, que contribui
para se compreender o que significa falar em uma cultura que ajuda a reproduzir
a existência de dominados e dominantes:
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recursos necessários à sobrevivência das classes subalternas [...]
É o controle deste recurso estratégico que confere autoridade,
prestígio e honra a seu detentor [...] O reconhecimento da le-
gitimidade deste poder simbólico do proprietário de terras por
parte dos subordinados tem o efeito de apagar as assimetrias
de poder e instaurar trocas sob a aparência de um cálculo de-
sinteressado entre o doador e aquele que recebe, assim como
quando este retribui. (PICCIN, 2012, p. 252)
Entre peões que trabalham em estâncias, é comum terem uma visão positiva de seus
patrões, como pessoas caridosas, prestativas, que “ajudam o próximo”, que doam
comida, emprestam cavalo, mesmo tendo como contrapartida toda esta caridade
a negação de um pedaço próprio de terra rentável, de uma casa própria ou do di-
reito a carteira assinada para acessar outros direitos sociais e trabalhistas: ou seja,
a contrapartida é a dependência, a dominação. Assim, percebe-se que quando os
elementos da cultura do povo são determinados e formulados por pessoas que não
pertencem à classe subalterna, ou seja, são formulados conforme a visão de quem
está do lado dominante da história, tende-se a se reproduzir no próprio povo essa
visão dos dominantes:
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Quadro 3 - Propriedades da Cultura
Então, já sabendo mais sobre cultura, o que significa dizer que uma cultura é popular?
Podemos entender melhor essa adjetivação a partir de Osmar Fávero (1983):
Fonte: NTE.
Assim, a partir dessa intensa movimentação que ocorre na década de 60, emerge
fortemente a ideia de cultura popular, pela valorização e promoção de uma cultura
produzida pelo próprio povo e não uma cultura que tem por objetivo perpetuar a
dominação do povo. Ou seja, se fortalece a visão de que todos e todas produzem
cultura, principalmente na interação um com o outro, no diálogo, aprendendo
coletivamente. Assim, se pretendia que as classes populares tanto produzissem
como também tivessem acesso à cultura, mas sem ser através de uma cultura
que reproduz a visão externa que fortalece a sua situação social de dominação
e desigualdade.
Vamos citar duas experiências que nascem na década de 1960 e que podem
contribuir para entender o que representou esse período em termos de educação
e cultura popular: a criação do Centro Popular de Cultura (CPC) da União Na-
cional dos Estudantes (UNE) e experiência prática de alfabetização desenvolvida
por Paulo Freire nos canaviais na região Nordeste do Brasil. Ambos os casos serão
melhores apresentados na unidade 2. Para Fávero:
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música, literatura, televisão... sindicatos, ligas... com/para/
sobre o povo. (FÁVERO, 1983, p. 9).
2 interatividade:
Centro Popular de Cultura/CPC:
https://www.youtube.com/watch?v=jS0Svi_Q9N
Fonte: Autores.
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do regime. Isso porque os militares acreditavam que tais programas poderiam
contribuir para diminuir o controle político por parte dos tradicionais detentores
do poder e provocar uma reação popular contrária. Todo esse temor em relação
aos programas de educação de massa é comprovado pela intensa repressão pela
qual as iniciativas passaram. Muitas desapareceram. Das poucas iniciativas que
sobrevivem, uma delas é o Movimento de Educação de Base – MEB, vinculado à
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB (PAIVA, 2003, p. 288).
Além disso, como exemplo do contraponto às iniciativas populares de edu-
cação, citamos o surgimento de um movimento denominado Cruzada da Ação
Básica Cristã – Cruzada ABC, na região Nordeste. Surge a partir de um grupo de
professores do Colégio Evangélico Agnes Erskine de Pernambuco (PAIVA, 2003, p.
296), enquanto movimento que idealizava um trabalho de educação de adultos
com sentido apostólico e que, na realidade, refletia um fundo de preconceito e
utilitarismo com os analfabetos, pois seu intuito maior era alfabetizar o anal-
fabeto para contribuir no desenvolvimento socioeconômico, para atender aos
interesses dos dominantes e do governo, principalmente as populações rurais.
Isso porque as populações rurais pobres eram vistas como “atrasadas”, que
não consumiam bens materiais produzidos no processo de industrialização do
país e que não contribuíam como mão-de-obra para o “progresso” do desenvolvi-
mento industrial que estava se incentivando. Ou seja, o objetivo maior não estava
centrado no processo de alfabetização e melhoria de vida dessas populações a
partir de sua própria realidade, mas sim na busca de um ajustamento social,
desses sujeitos desfavorecidos, com os projetos de desenvolvimento do governo.
Essa movimentação sobreviveu e se expandiu, sobretudo por recursos financei-
ros adquiridos junto ao governo brasileiro, diante do acordo entre o Ministério
da Educação – MEC e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento
Internacional – USAID, entre outros.
2
interatividade: SUGESTÃO DE LEITURA:
FONSECA, M. T. L. Da. A extensão rural no Brasil: um projeto
educativo para o capital. Ed. Loyola, 1985.
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É indiscutível que o meio rural necessite de um trabalho de Comunicação, no sen-
tido de comunhão de ideias dado por Freire, no qual extensionistas, respeitando (e
valorizando) a cultura do trabalhador rural, junto com ele (no seu grupo) problema-
tizam a situação (com suas injustiças e contradições), buscando (sempre juntos e
comprometidos integralmente) soluções alternativas aos problemas evidenciados.
(MUSSOI, 1985, p. s/n).
Para diversos intelectuais e educadores, adeptos da Educação Popular, havia o
entendimento de que a extensão rural estava sendo um instrumento para transferir
ao campo tecnologias e objetivos do governo, de uma forma que carregava muitos
preconceitos para com os agricultores e agricultoras de nosso país e com uma con-
cepção de educação bastante “violenta”, pois invadia modos de vida dessas popula-
ções, desconsiderava seus conhecimentos e persuadia-os para se adequar à lógica de
mercado. Para os adeptos da educação popular, mais do que conceber e julgar modos
de vida e de produção como atrasados, é preciso compreender, junto à população
rural, como as relações sociais e estruturais condicionam situações de pobreza
no meio rural e pensar conjuntamente maneiras de transformar essa realidade.
3
saiba mais: fREIRE. P. Extensão ou Comunicação?
Disponível em: <http://www.emater.tche.br/site/arquivos_
pdf/teses/Livro_P_Freire_Extensao_ou_Comunicacao.pdf>.
Mas... Essa realidade de retrocessos muda? Sim! Mesmo diante de toda essa repressão
e do desaparecimento de inúmeros grupos de educação/cultura popular, algumas
iniciativas persistiram e outras emergiram e resistiram durante o regime autoritário
da ditadura militar brasileira. Ou seja, as próprias tentativas de articulação dos grupos
que resistiram e novas que surgiram, foram se tornando uma forma de resistência
à realidade imposta. Além disso, foi através dessas experiências que muitos setores
da sociedade passaram a se articular para contrapor-se ao regime militar.
Assim, ao longo desse período a Educação Popular se fortaleceu dentro de
espaços menos perseguidos pelo regime, como os intermediados pela Igreja, atra-
vés das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), grupos pastorais, sindicatos e por
Organizações Não-Governamentais que surgem no período. Conforme citado an-
teriormente, dentro do espaço da Igreja Católica houve resistência das iniciativas,
principalmente as relacionadas ao Movimento de Educação de Base (MEB). Em
diálogo com esses fatos cabe destacar as iniciativas relacionadas às Comunidades
Eclesiais de Base (CEBs), que foram muito importantes para o surgimento dos
Movimentos Sociais do Campo e de centros de formação que seguem os preceitos
da Educação Popular.
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Assim, é possível perceber que o enfraquecimento da ditadura militar coincide com
a ascensão de diversos movimentos sociais em nosso país, tendo como exemplo o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, o Movimento dos Atingidos
pelas Barragens - MAB, o Movimento de Mulheres Camponesas – MMC e o Movi-
mento de Oposição Sindical. Sobre o surgimento de movimentos e sindicatos na
zona rural, o trabalho da Igreja, sobretudo desenvolvido através das CEBs, foi crucial.
Para melhor entendermos, esse processo de ascensão dos movimentos, vamos
dar atenção ao caso do surgimento do antigo Movimento de Mulheres Agricultoras
(atual MMC) no estado de Santa Catarina. Isso é percebido no estudo realizado por
Betto (2016), onde se aponta que as mulheres passam a repensar sua posição su-
balterna a partir de um olhar “mais pastoral” das leituras bíblicas, ao relacioná-las
com a vida e experiências de ser mulher.
Assim, segundo Betto (2016) a chave da mobilização das mulheres agricultoras
no período se deve, em grande medida, à influência de setores da Igreja Católica
que, por meio de encontros para leituras de textos bíblicos, conseguiam dotar de
significado elementos da realidade de vida e cultura das populações rurais. As-
sim, o espaço da capela, da igreja, da comunidade, os grupos de reflexão, que são
espaços ligados à igreja católica, tornam-se espaços educativos onde as pessoas
refletiam sobre a própria realidade. Além disso, no caso das mulheres, a igreja era
um dos poucos espaços de maior circulação e onde elas tinham maior liberdade
para manifestar-se. Desta forma, demonstra-se nitidamente uma forma popular
de organização e estudos, pois ocorre dentro da realidade de vida das pessoas, a
partir de suas experiências e possibilidades reais.
Com a ascensão dos movimentos sociais na década de 1980 novas formas de
movimentação popular se fortalecem como, por exemplo, a grande adesão e parti-
cipação popular que ocorreu em torno do processo constituinte que deu origem à
Nova Constituição de 1988, a partir da qual os brasileiros analfabetos passam a ter
direito a voto e as agricultoras passam a ter direito à aposentadoria, como exemplos.
Essas conquistas se devem justamente a grande pressão popular no período. Outra
movimentação popular com grandes resultados foi o movimento “Diretas Já” que
contribuiu para que os brasileiros escolhessem o primeiro presidente brasileiro
através do voto. Nas décadas de 1980 e 1990 a movimentação popular levou os
brasileiros às ruas e manifestações (Figuras 5 e 6).
Figuras 5 e 6 - Manifestações populares
Fonte: Autores.
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é o mercado e que, diante disso, o estudo seria um meio de acesso ao mercado e o
caminho para o sucesso, para se ter mais e mais.
Para Paulo Freire (2013), essa visão leva a um estado de comportamento “pres-
crito”, esperado, pois se torna comum que os oprimidos incorporarem as pautas
dos opressores e a ideia de que a única saída para seu sucesso é o esforço individual
e, assim, almejam estar no lugar dos “dominantes” e buscar sempre ter mais. No
entanto, para Freire (2014), o ser humano tem uma vocação para o ser mais, e não
simplesmente para ter mais como a educação no sentido neoliberal prega o Prefácio
do livro “Pedagogia da Autonomia” de Paulo Freire (Figura 8).
Fonte: Autores
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Figura 8 - Capa do Livro Pedagogia do Oprimido
É com base nos princípios da educação dialógica de Paulo Freire que a Educação
Popular se coloca no mundo, valorizando a relação entre educandos e entre edu-
candos e educadores, reconhecendo que o ser humano é um ser histórico, esti-
mulando a criatividade e também construindo uma visão crítica do conhecimento,
pois entende que ele está submetido a questões histórico-sociais. É assim que a
Educação Popular se coloca como educação que acredita no ser humano, em sua
capacidade de reflexão, criação e de transformar o mundo, criando novas formas
de troca a partir da realidade de cada momento histórico.
Então, concluímos:
4
termo do glossário: Significa dizer que o ser humano deve
ser compreendido como parte de um conjunto de relações
sociais e conforme determinado período da história, não
apenas a partir de sua individualidade.
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Quadro 5 - Os 4 sentidos da Educação Popular
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Os Clubes 4S representam um modelo de clube de jovens rurais que foi bastante
comum no meio rural. Eles surgiram entre as décadas de 1940 e 1950 e seguem o mo-
delo original desenvolvido nos Estados Unidos. Em nosso país, o surgimento desses
clubes tem estreita relação com o debate sobre educação para o desenvolvimento,
visando levar o desenvolvimento e a modernização às áreas consideradas atrasadas,
subdesenvolvidas, ao “Terceiro Mundo”, através de ações educativas. Nesse sentido,
através dos clubes de jovens se imaginava ser mais fácil convencer os agricultores a
adotarem novas tecnologias. Ou seja, através de processos educativos com jovens
rurais, as agências de mediação, empresas e governo buscavam introduzir uma
concepção externa de agricultura moderna.
É justamente como contraponto a um modelo educativo, que busca estender às
classes populares uma educação pensada e gestada externamente às suas realida-
des de vida, que surge um terceiro sentido de Educação Popular. Assim, o terceiro
sentido da Educação Popular remete ao momento em que surge um sentido que
rompe com a ideia de educação dirigida para o povo, para os menos favorecidos,
com caráter compensatório. É o sentido que nega essa concepção e avança rumo a
uma nova proposta, onde educação popular representa educação a partir da ótica
e ponto de vista do próprio povo e não de agentes externos.
Como forma de exemplificar, podemos falar que é um sentido que nega a
necessidade de um educador que estenda um projeto, um programa ou uma pro-
posta de ação para uma comunidade rural. Assim, em contraposição, esse sentido
de educação popular afirma a figura de um educador como modo de presença
assessora que provoca reflexões, troca de experiências, sistematizações, para que
então, em conjunto com a comunidade rural, se construa um projeto, um progra-
ma ou uma proposta de ação com base na reflexão coletiva de quem irá viver as
consequências disso.
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ATIVIDADES – UNIDADE 1
Atividade 1 – Faça uma linha do tempo (escrita em texto e representada em dese-
nho) da história da “educação do povo” no Brasil. Abordar os principais períodos
até a atualidade, descrevendo os aspectos-chave de cada um. Postar no Fórum
“Atividade 1 – Unidade 1” no Moodle.
42 ·
O objetivo principal da Unidade 2 é que você, educando e educanda do Curso de
Licenciatura em Educação do Campo, tome conhecimento das diversas experi-
ências brasileiras que envolvem princípios e formas de ser da Educação Popular.
Desta forma, desejo que todos e todas possam compreender o que a Educação
Popular, em suas mais variadas formas, representa para a educação na contempo-
raneidade. Diante desse desafio, convido o conjunto de educandos e educandas a
conhecerem as seguintes experiências brasileiras da Educação Popular:
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ducação Popular, Movimentos Sociais e Cidadania na Universidade de Universidade
E
Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI) e na Universidade
Federal do Ceará, a linha de pesquisa Paulo Freire, Educação e a Cultura Popular
(UFC). Aqui na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) temos o grupo “Dialo-
gus: educação, formação e humanização com Paulo Freire”.
De maneira geral, as experiências em Educação Popular, especialmente as aqui
referenciadas, seguem princípios em comum: servir aos interesses das classes
populares; atender os setores subalternos e dominados da sociedade; respeitar a
cultura local de cada espaço social; valorizar os conhecimentos, as experiências
de vida e as visões de mundo das classes populares como ponto de partida para a
promoção de uma reflexão crítica da própria realidade. Como resultados, também
em comum, carregam ideais alicerçados na busca da igualdade, solidariedade,
participação e liberdade.
Além disso, as experiências representam um ganho qualitativo em relação ao
processo de combate ao analfabetismo no Brasil, principalmente por se diferenciarem
de ações anteriores devido ao compromisso assumido em favor das classes menos
favorecidas, tanto no meio urbano como também no rural. É o que veremos a seguir.
Fonte: NTE
2
interatividade:
http://www.youtube.com/watch?v=C7uBYIFuWKc
2
interatividade:
http://forumeja.org.br/df/sites/forumeja.org.br.df/files/
lermcp.pdf
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Figura 13 - capa do material didático “Livro de Leitura para Adultos”.
Por ter diversos artistas envolvidos em sua criação, o MCP atuou revitalizando festas
folclóricas, criando clubes de leitura e promovendo peças de teatro, veja exemplo
de divulgação na figura 15:
Figura 15 - Material de divulgação do Teatro de Cultura Popular e da peça “Histórias do Mato”.
Figura 16- Material de divulgação do 1º Festival de Teatro do Recife, promovido pelo mCP.
Já no ano de 1963 iniciou uma movimentação para ampliação do mCP para além
de Recife, no entanto, logo após a mudança de governo em 1964, suas atividades
foram suspensas e o mCP foi dissolvido.
48 ·
MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE - MEB
Fonte: NTE.
O Movimento de Educação de Base – MEB foi criado no ano de 1961, por iniciativa
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, vinculada à Igreja Católica, em
parceria com o governo federal. Inicialmente, tinha como proposta um programa
de alfabetização e de educação de base por meio de emissoras de rádio católicas, ou
seja, a alfabetização por escolas radiofônicas. Para tanto, foi feito um convênio entre
a CNBB e o governo federal, especialmente através do MEC para financiamento do
programa, cessão de funcionários e colaboração nos trabalhos do MEB, sobretudo
em termos de treinamento de pessoas e elaboração dos programas radiofônicos
(FAVERO, 2006).
2
interatividade:
Acesse o vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=yuNBk-Zqep8
50 ·
Entre os principais materiais didáticos produzidos pelo MEB esteve o conjunto
“Viver é Lutar” (Figura 19) para recém-alfabetizados. Para conhecer o material na
íntegra e aumentar seu entendimento sobre o assunto ele está disponível:
2
interatividade:
Você pode acessar o material completo em:
http://forumeja.org.br/files/viver.pdf
52 ·
Na 9ª e na 10ª lição do conjunto didático é problematizada a realidade de vida e de
trabalho da população rural por meio de reflexões sobre a relação com a terra, as
condições de trabalho, reconhecimento e importância da participação da mulher
no meio rural. Desta forma, possibilita aos que acessam o material a geração de
reflexões que permitem novas formas de enxergar essas questões, as quais dizem
respeito ao próprio cotidiano. Além disso, no decorrer do material é demonstrado
o processo de conscientização que vai ocorrendo, a perceber na Figura 23:
Figura 23 - 17ª e 26ª Lição do conjunto didático “Viver é lutar” do MEB
Para Fávero (2006), pela confiança que desfrutava entre a população rural, por ser
ligado à Igreja, o questionamento que se fazia das injustiças e da exploração, através
das lições, tinha força de denúncias.
Sabemos que o MEB foi o movimento que mais resistiu à ditadura militar! Diante
do conteúdo veiculado aos seus materiais didáticos, como isso foi possível? Para
tanto, houve uma intensa reestruturação do movimento e mudança no conteúdo
dos materiais utilizados. Segundo Alves (2014), a sobrevivência do MEB se deve,
diante da nova conjuntura política, à impossibilidade de continuação do movimento
nos moldes a que se propunha. Assim, bispos conservadores da CNBB propuseram
a sua reformulação principalmente por meio da descentralização do movimento
nas dioceses locais, de maneira a diminuir a articulação nacional dos grupos que o
dirigiam e amenizar o conteúdo dos materiais. Com essa reformulação a parceria
com o Ministério da Educação, principal fonte orçamentária, teve continuidade.
Assim, após o início do regime militar, o material Viver é Lutar foi apreendido,
o que colaborou para o movimento reformular seus materiais didáticos a partir da
criação de um novo conjunto designado Mutirão, o qual teve como foco as atividades
presentes no trabalho agrícola, sua operacionalização e planejamento, como, por
exemplo, a importância do entendimento da matemática para o trabalho agrícola.
2
interatividade: Para conhecer o material na íntegra e
melhor leitura e compreensão de seu conteúdo:
http://forumeja.org.br/files/mutiraolivro1.pdf
54 ·
Figura 25 - Material didático “Mutirão” do MEB
Esse novo formato de material recebeu diversas críticas, devido ao fato de ter subs-
tituído o conceito de conscientização pelo de cooperação, traduzido na palavra
mutirão. Isso demonstra a censura que o conteúdo anterior dos materiais sofreu,
sobretudo pela conscientização ter sido fortemente utilizada pelos movimentos de
educação e cultura popular. Para Alves (2014):
2
interatividade:
http://forumeja.org.br/files/apmeb.pdf
Segundo Favero (2006), o conceito de educação de base foi sendo substituído pelo
de animação popular e as escolas radiofônicas passaram a ser instrumentos da
animação popular. Ou seja, a partir das mudanças e perseguições sofridas esse
contato direto com as bases através do trabalho de animação popular foi visto
como uma saída para manter os objetivos de existir do MEB. Veja no quadro 6 o
que o Animador Popular deveria fazer e o que deveria evitar:
É uma renovação de seus instrumentos de trabalho para seguir a serviço das classes
populares. Nesse sentido, a animação popular passa a ser uma intervenção a serviço
da organização das comunidades para a ação, o que deveria ser, progressivamente,
assumida pelos seus próprios membros:
Para Favero (2006), nesse momento, como movimento educativo, o MEB passa a
participar da estruturação organizativa das comunidades, na qual incentiva que a
comunidade tome consciência de seus problemas, formar lideranças e organizar
grupos de ação, ao passo que o processo de realização dos projetos concretos ficava
como responsabilidade da comunidade.
Cabe ressaltar que o MEB foi o único movimento de educação popular que
continuou suas atividades durante o regime militar, justamente por ser ligado à
Igreja Católica, sendo por isso menos perseguido do que os demais pelo regime.
No entanto, conforme exposto, para isso ser possível precisou abrir mão de parte
da radicalidade de seus materiais, readaptando o seu modo de atuação, os seus
conteúdos e suas aulas e com muitos de seus monitores e educadores sofrendo
perseguição política.
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CENTRO POPULAR DE CULTURA DA UNE – CPC
Antes de ser um artista, o artista é um homem existindo em meio aos seus seme-
lhantes e participando, como um a mais, das limitações e dos ideais comuns, das
responsabilidades e dos esforços comuns, das derrotas e das conquistas comuns [...]
A declaração dos princípios artísticos do CPC poderia ser resumida na enunciação
de um único princípio: a qualidade essencial do artista brasileiro, em nosso tem-
po, é a de tomar consciência da necessidade e da urgência da revolução brasileira.
(Anteprojeto do Manifesto do CPC, 1962, p. s/n).
O Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes – CPC da UNE
foi criado no ano de 1961, por um grupo de intelectuais ligados à União Nacional
dos Estudantes - UNE. Para entender sua criação é preciso reconhecer nesse período
um cenário de grande mobilização estudantil e consequente participação política,
sobretudo por intermédio da UNE.
2
iNTErATividAdE: Centro Popular de Cultura/CPC
Parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=jS0Svi_Q9N4
Parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=lEh3Inka96E
2
interatividade:
https://www.youtube.com/watch?v=JE3T_R-eQhM
58 ·
Figura 28 - pôster do filme “Cabra marcado para morrer”
2 interatividade:
PARTE I: https://www.youtube.com/watch?time_
continue=3&v=8SU6VkZYsRE
PARTE II:
https://www.youtube.com/watch?v=TWaCl6o2wTc
Figura 30- Capa do livro “Cadernos do Povo Brasileiro: por que os ricos não fazem greve?”.
Em 1964, o CPC da UNE firmou um acordo com o MEC para uma campanha nacional
de alfabetização de adultos. No entanto, já nos primeiros dias após instauração do
regime militar, ainda em 1964, a sede da UNE foi incendiada e todos os seus CPCs
foram fechados.
60 ·
Os instrumentos de trabalho de Cultura Popular
“Pé no Chão foi uma guerrilha de alfabetização e cultura contra o poderoso Império
da ignorância” Djalma Maranhão - 1999
Fonte: NTE.
A cidade de Natal – Rio Grande do Norte foi berço de uma das mais exitosas expe-
riências de Educação Popular desenvolvidas no Brasil: a Campanha De Pé no Chão
Também se Aprende a Ler. Tratou-se de uma política educacional municipal que se
voltou à educação de crianças, jovens e adultos de camadas populares.
A Campanha de educação popular De Pé no Chão Também se Aprende a Ler
foi criada em Natal – Rio Grande do Norte, em 1961 e até o ano de 1964, no qual foi
interrompida, já tinha alfabetizado cerca de vinte e cinco mil crianças, somente
em Natal. A campanha é construída a partir do reconhecimento da necessidade de
avanços na educação, cultura e combate ao analfabetismo, através de convenções
de bairros que ocorriam na cidade de Natal (GOES, 2004). A partir dessas reivindica-
ções, foi criado o Grupo de Trabalho de Educação Popular, via Secretaria Municipal
de Educação. Problemas financeiros para viabilização de uma ação concreta para
atender essas demandas surgiram, no entanto, criativamente foram contornados.
Nas palavras de Goes (2004):
62 ·
[...] em meio à discussão um participante pede a palavra e propõe:
se não pode construir escolas de alvenaria faça escolas cobertas
de palha de coqueiro, mas faça a escola. De todas as discussões
políticas eu participei na minha vida - e não foram poucas – esta
foi uma oportunidade inesquecível pela criatividade da proposta
e novas sugestões de desdobramentos. (GOES, 2004, p. 221).
2
interatividade:
De Pé no Chão Também se Aprende a Ler
https://www.youtube.com/watch?v=Bg-ZZZskFfU
https://www.youtube.com/watch?v=Rm0SD-QH4AI
Nesse sentido, o autor destaca que a Campanha se diferencia dos demais movi-
mentos de educação e cultura popular do período, pois foi o único movimento de
educação popular que fluiu, principalmente, através de uma secretaria pública.
Ao longo de sua existência, a Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a
Ler passou por diversas mudanças, o que permite dividi-la em oito fases distintas,
descritas a seguir e a partir da síntese elaborada por Maranhão (2011).
A primeira fase da Campanha é caracterizada pela instalação de cerca de tre-
zentas “escolinhas”, as quais eram fundadas em locais pertencentes a sindicados,
clubes, cinemas, igrejas, casas particulares, entre outros, que cediam espaços para
que a campanha acontecesse.
A segunda fase tem como principal mudança a fundação das escolas “ecológicas”,
a partir das quais as aulas deixam de acontecer nos espaços já citados e passam a
acontecer em escolas sem paredes, as quais eram cobertas de palha de coqueiro
e de piso de barro batido (Figuras 30, 31 e 32). Nessa fase, passa a se caracterizar
enquanto experiência de alfabetização em grande escala.
Já em 1962 inicia a terceira fase da campanha: alfabetização, de casa em casa,
para abranger os adultos resistentes a irem à escola. Nessa fase, equipes de edu-
cadores voluntários se deslocavam de casa em casa, em cada comunidade, para
alfabetizar os adultos. É nessa fase que passam a serem vistas nas ruas das comu-
nidades faixas dizendo “Nesta rua não existe nenhum analfabeto”, ou seja, fase em
que a campanha contribuiu no engajamento da própria comunidade no combate
ao analfabetismo, pois não existir mais analfabetos na rua passou a ser considerado
motivo de orgulho comunitário.
Em uma quarta fase, que iniciou no final de 1962, ocorreu a criação do Centro
de Formação de Professores, que ofertava cursos para a preparação de jovens que
atendessem a demanda crescente de educadores para a campanha.
No próximo ano (1963) iniciou a quinta fase da campanha: De Pé no Chão
Também se Aprende uma Profissão. Nessa fase, foram ofertados diversos cursos
para especialização profissional aos trabalhadores alfabetizados pela campanha,
como exemplo cursos como corte de costura, marcenaria, alfaiataria, barbearia,
corte de cabelo.
Na sexta fase, também desenvolvida no ano de 1963, foi criada a Cartilha de
Alfabetização de Adultos, através da qual cerca de cinco mil adultos passam a
64 ·
Figura 33 - Vista externa de galpão sala de aula.
Para Goes (2004), a campanha venceu quatro desafios comuns à escola brasileira: a)
não confundiu escola com prédio escolar; b) qualificou com seus próprios recursos
humanos e municipalizou o ensino normal de formação de professores; c) produziu
seus próprios textos educativos face à alienação das cartilhas então existentes do
mercado; d) o acompanhamento técnico-pedagógico se fez na proporção de um
servidor para vinte professores. Como consequência do enfrentamento destes de-
safios, o autor aponta que a campanha chamou a atenção para a recriação da escola
As 40 horas de Angicos
Fonte: NTE.
Segundo Gadotti (2013), ainda na década de 1950 Paulo Freire havia percebido que
os métodos utilizados nas diversas campanhas de alfabetização de adultos eram os
mesmos utilizados na alfabetização de crianças. Diante disso a partir de algumas
experiências iniciais, Freire percebeu que essa reprodução de método com os adul-
tos era pedagogicamente inadequada. As bases teóricas de seu novo método para
66 ·
alfabetização de adultos foram apresentadas durante o II Congresso Nacional
de Educação de Adultos em 1958.
Segundo Paiva (2003), ao conhecer o método de alfabetização do Sistema
Paulo Freire, o então governador do estado do Rio Grande do Norte enviou um
convite a Paulo Freire, a fim de discutir as possibilidades de realização de uma
experiência. Assim, em 1962, Paulo Freire foi convidado para executar o Pro-
grama de Alfabetização de Angicos, como parceria entre o Serviço Cooperativo
de Educação do Rio Grande do Norte (SECERN) e Serviço de Extensão Cultural
da Universidade do Recife (SEC) coordenado por Freire.
Segundo Gadotti (2013), as atividades do programa iniciaram no mesmo
ano através do levantamento do número de analfabetos de Angicos-RN e com
uma pesquisa para levantar o “universo vocabular” destes, o qual diz respeito a
palavras e temas geradores que seriam utilizados no Método de Alfabetização
proposto. Desta forma, os materiais didáticos e o conteúdo do Programa foram
elaborados com base nesse levantamento prévio, o qual também serviu como
meio de divulgação prévia do Programa (SILVA; SAMPAIO, 2015).
Assim nasce a experiência 40 Horas de Angicos, em uma cidade onde a taxa
de analfabetismo era de aproximadamente 75% da população (LOBO, 1963).
A pequena cidade de Angicos foi palco onde, pela primeira vez, foi posto em
prática o método de alfabetização de adultos proposto por Paulo Freire. Se-
gundo Germano (1997), fazer com que os participantes aprendessem a ler e a
escrever e, ainda por cima, viessem a se politizar em 40 horas eram os objetivos
fundamentais a experiência.
2
interatividade: Alfabetização em Angicos – a Pedagogia
de Paulo Freire – Sala de notícias Canal Futura
https://www.youtube.com/watch?v=ENks3CJeJ5E
3
saiba mais: Documentário: 40 Horas na Memória:
www.youtube.com/watch?v=ENks3CJeJ5E
www.youtube.com/watch?v=PkN97kOriJc
3
saiba mais: http://forumeja.org.br/sites/forumeja.org.br/
files/t8clyra.pdf
h t t p : / / g 1 . g l o b o. c o m / r n / r i o - g r a n d e - d o - n o r t e /
noticia/2013/04/1-turma-do-metodo-paulo-freire-se-
emociona-ao-lembrar-das-aulas.html
4
termo do glossário: Belota = borla; bolota; enfeite de
rede ou dos utensílios dos vaqueiro; chibata; chicote; muito
comum na região de Angicos.
Em Lyra (1996) percebe-se que o uso da expressão belota como palavra geradora era
devido ao fato de ser uma situação corriqueira e local, pois era típico em Angicos
estar montado em um burro com uma chibata na mão, as quais tinham belotas em
cores bem vivas. Assim, a primeira hora de aula propôs discussões relacionadas à
realidade e à cultura local. Conforme Silva e Sampaio (2015), a em 28 de janeiro de
1963 foi apresentada, em cada círculo de cultura, a primeira palavra geradora – belota
– iniciando assim o processo de conhecimento e entendimento do sistema alfabético.
Segundo relato de Paulo Freire presente na obra de Lyra (1996) a experiência 40
Horas de Angicos quebrou uma série de tabus metodológicos ao inovar superando
a ideia de Escola por Círculos de Cultura (Figura 35), a de Aluno por Participante
de Debates, a Aula pelo Diálogo, o Programa Acadêmico por Situações Sociológicas
desafiadoras e buscando, nos próprios grupos presentes, a sabedoria necessária.
68 ·
Os Círculos de Cultura eram instalados nas casas dos alunos e até mesmo no presídio,
pois os presos também podiam ser alfabetizados. No início, muitos dos próprios
alfabetizandos e alfabetizandas não acreditam ser possível que aprendessem a ler e
escrever, tampouco que fosse em apenas 40 horas. Conforme Silva e Sampaio (2015)
se dizia que era tão difícil quanto “tirar leite de pedra”, no entanto, no decorrer do
processo mudavam a visão, principalmente ao perceberem que se tratava mais de
um diálogo entre pessoas e não um monólogo fechado.
Assim, o contato direto e horizontal entre os educadores e os alfabetizandos
contribuiu para o encontro de homens e mulheres com sua própria história social,
principalmente porque, no geral, os educandos se sentiam muito a vontade nos
círculos de cultura em que eram alfabetizados e politizados (SILVA; SAMPAIO, 2015).
Além do mais, cabe ressaltar que os temas utilizados no processo de alfabetização
tinham como base palavras e temas geradores do universo vocabular local, o qual
representava questões do cotidiano dos educandos. É justamente essa relação
dialógica no processo de ensino-aprendizagem que caracteriza as propostas me-
todológicas da Educação de Paulo Freire e a própria Educação Popular.
Em Lyra (1996) é possível visualizar a divisão do processo de alfabetização entre
as 40 horas programadas, vejamos alguns exemplos no quadro 8. Além das aulas pro-
priamente ditas, todos os dias os coordenadores dos Círculos de Cultura se reuniam
para discutir as aulas, avaliando os avanços e desafios das 40 horas, o que permitia
sempre readequar ou repensar algumas práticas para a melhora do Programa.
70 ·
de Angicos passou a ser reproduzida em outras cidades brasileiras, como Brasília,
Aracaju, Porto Alegre, enquanto projeto-piloto do futuro Programa Nacional de
Alfabetização (PNA). Além disso, Paulo Freire percorreu o país buscando a estru-
turação do programa em nível nacional (GADOTTI, 2013).
Segundo Paiva (2003), a partir da organização da Comissão Nacional de Alfabe-
tização (out/1963 – mar/1964) passou a ser elaborado o Plano. Assim, no início de
1964 o então presidente do Brasil, através do Decreto 53.465/64 criou oficialmente
o Plano Nacional de Alfabetização pelo “Sistema Paulo Freire para alfabetizar em
tempo rápido”, que previa parcerias com associações, entidades, organizações, das
mais diversas naturezas, para sua viabilização.
Nesse período de início de sua implementação, o Plano já contava com 2 pla-
nos pilotos (região Sul e região Nordeste) que serviriam de base para estender a
programação conforme as áreas do país de maior interesse. Cabe salientar que,
mesmo sendo fruto de parceria entre governo e movimentos sociais, a execução
do Plano era responsabilidade do Ministério da Educação e previa a alfabetização
de 5 milhões de adultos no prazo de 2 anos.
Fonte: NTE.
72 ·
Queriam evitar qualquer identificação do programa que estava
sendo criado com uma “campanha”, como as antigas campanhas
de alfabetização. Uma campanha é uma intervenção pontual e,
portanto, sem compromisso com a continuidade dos estudos
dos educandos [...] Por isso, decidiu-se pelo nome de “movi-
mento”, pois daria o sentido de mobilização e engajamento de
setores organizados da sociedade, de apoio aos grupos que já
desenvolviam educação de jovens e adultos [...]O analfabeto
deixa de ser visto como o “coitado”, e passa a ser uma “pessoa
constitutiva e construtora da sociedade e produtora de conhe-
cimento”. (SANTOS, 2007, p. 58-60)
• Coordenação Estadual;
• Coordenação Regional;
• Animadores/as Populares de Alfabetização – Mediadores e divulgadores do
MOVA-RS, conhecedores dos espaços organizados da sua cidade. Sua função é
chamar as pessoas a participarem do movimento e formar novos convênios;
• Apoiadores/as Pedagógicos Populares – São os responsáveis diretos pela for-
mação pedagógica dos Educadores Populares, sendo um Apoiador Pedagógico para
cada seis turmas, com o papel de acompanha-las na sala de aula e realizar reuniões
semanais com os/as educadores/as. Exigência de ensino médio completo;
• Educadores/as Populares - São indicados pela entidade que está conveniando.
Preferencialmente deve ser da comunidade em que a turma está inserida, por serem
conhecedores da realidade local, das pessoas e dos problemas da comunidade.
Tem acompanhamento sistemático através de visitas e reuniões com o Apoiador
Pedagógico;
• Alfabetizandos/as – são pessoas que, acima dos quinze anos, não sabem ler e
escrever ou sabem muito pouco.
Além disso, o MOVA-RS era composto por diferentes instâncias de formação po-
lítico-pedagógica, pois prezava pela valorização das questões pedagógicas e pela
construção coletiva dos conhecimentos, com base nos princípios da Educação
Popular. Com base em Barreto (2005), as instâncias eram:
• Seminários por segmento: Animadores Populares, Apoiadores pedagógicos,
entidades, etc;
• Seminário de avaliação do MOVA-RS;
74 ·
• Congresso Estadual de Alfabetizandos do MOVA-RS;
• Encontros Nacionais de MOVA’s;
• Formação dos Dirigentes do MOVA-RS;
• Cursos de Formação Inicial;
• Formação Mensal de Apoiadores e Animadores;
• Encontrão Regional do MOVA-RS;
• Reuniões Semanais entre Apoiadores e Educadores;
• Encontrão Municipal do MOVA-RS.
Atividade 4 – Imagine que você tenha que realizar uma atividade em sala de aula
com seus alunos, sendo eles jovens rurais de sua cidade natal (ou que da cidade
na qual você tenha mais contato com a população rural). Dessa forma, solicitamos
que você elenque algumas palavras geradoras que você escolheria para facilitar o
processo de aprendizagem desses alunos em sala de aula. Postar no fórum “Ativi-
dade 4 – Unidade 2” no ambiente virtual.
76 ·
3
CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA
DA EDUCAÇÃO DO CAMPO
COMO PRÁTICA SOCIAL E
CATEGORIA TEÓRICA
78 ·
INTRODUÇÃO
E
ducandos e Educandas!
Vocês já pararam para pensar em como é o acesso à educação para as
crianças e jovens do meio rural do município onde cada um de vocês vive?
Já buscaram entender o que acontece quando eles atingem a idade para cursar
o Ensino Médio? Vocês sabem se eles necessitam se deslocar do espaço de vida
deles (meio rural) para conseguir concluir os estudos na Educação Básica? E quais
as distâncias médias que eles necessitam percorrer para encontrar um local onde
seja possível acessar um curso no ensino superior?
Além disso: você já se questionou por que o jovem da cidade não é mandado para
estudar na escola no meio rural, mas, o jovem que vive no meio rural é mandado
para estudar na escola no meio urbano? Apenas essas poucas perguntas já nos le-
vam a inúmeras reflexões e a se deparar com contextos que possuem semelhanças
e diferenças, não é mesmo?
Se você já se fez esses questionamentos apostamos que tem uma ótima refle-
xão para compartilhar com os colegas (e seria importante que compartilhasse em
nossos fóruns). Caso não tenha feito, acreditamos que agora tem a oportunidade
de fazê-lo junto com os demais, no decorrer da presente disciplina e também no
decorrer do curso. De todo modo, pensamos que esses questionamentos básicos
permitem compreender de forma especial a dinâmica educacional brasileira e o
projeto educativo para as pessoas que vivem no meio rural brasileiro.
Arroyo (2012) chama atenção à visão hegemônica que existiu na história do
pensamento político e educacional ao longo do século 20, em relação à população
do campo: a escola rural apenas das primeiras letras, milhões de camponeses con-
denados ao analfabetismo, a educação básica ignorada/marginalizada, inclusive
no âmbito de pesquisas, reflexões pedagógicas, propostas curriculares e leis.
Foi com perguntas como as anteriores e questionando essa visão hegemônica
que os movimentos sociais do campo se movimentaram na luta pela exigência de
uma nova educação para o campo brasileiro. A partir desses questionamentos se
construíram concepções e principalmente experiências próprias para que fosse
possível chegar a propostas consolidadas de educação para quem vive no meio rural.
Cresce a visão de que a ausência do direito e da possibilidade de uma Educação
do Campo e o deslocamento das escolas do campo para a cidade representavam a
negação de um direito e a retirada do sujeito de sua própria história.
Com isso, para início de conversa, para ser possível pensar práticas, concepções
e a própria educação do campo, principalmente a partir dos preceitos da educação
popular, os movimentos sociais do campo, educadores populares, pesquisadores
e setores governamentais precisaram reconhecer a grande diversidade de sujeitos
e de modos de vida que é possível encontrar no meio rural brasileiro.
Foi preciso que se reconhecesse a presença de homens, mulheres, jovens, crian-
ças, idosos, negros, quilombolas, ribeirinhos, ou seja, uma diversidade de gente!
Diversidade de pessoas que se veem de formas diferentes, que possuem diferentes
relações com o espaço urbano, além de relações particulares com a terra, com a
80 ·
3.1
HETEROGENEIDADE E
CARACTERÍSTICAS SOCIAIS, POLÍ-
TICAS, ECONÔMICAS E CULTURAIS
DAS POPULAÇÕES DO CAMPO
A construção do debate sobre Educação nos Movimentos Sociais do Campo
Fonte: Jornal dos Trabalhadores SEM TERRA n 01 Mai 1981\n 48 Out e Nov 1985 (2) -Hemeroteca Luta
pela Terra.
Fonte: Jornal dos Trabalhadores SEM TERRA n 01 Mai 1981 (2)- Hemeroteca da Luta pela Terra.
Fonte: Jornal dos Trabalhadores SEM TERRA n 01 Mai 1981\n 48 Out e Nov 1985 (2)
82 ·
Inicialmente, dentro do MST o formato Escola Itinerante ganhou destaque e se
sobressaia em todo o país. Cabe salientar que no Rio Grande do Sul, em 2009, o Mi-
nistério Público cancelou o convênio entre governo e MST que permitia a existência
de Escolas Itinerantes, de maneira a impor o fechamento das escolas (Figura 43).
2
interatividade:
Disponível em: http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.
aspx?bib=HEMEROLT&PagFis=3443&Pesq=itinerante
Procurar por: Jornal dos Trabalhadores SEM TERRA n 01 Mai
1981\n 169 Jun 1997 (1)
3
saiba mais:
Disponível em: http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.
aspx?bib=HEMEROLT&PagFis=3443&Pesq=itinerante
Procurar por: Jornal dos Trabalhadores SEM TERRA n 01 Mai
1981\n 291 Abr 2009 (1)
Fonte: Jornal dos Trabalhadores SEM TERRA n 01 Mai 1981\n 11 Abr 2009 (1)- Hemeroteca Luta pela
Terra.
A Escola Itinerante criada no âmbito do MST tinha por objetivo garantir o direito
à educação das crianças, jovens e adultos em situação de itinerância, ou seja:
acampados. Entre os objetivos da escola itinerante estavam: ensinar fazendo,
construir o novo, preparar para o trabalho manual e intelectual, ensinar a realidade,
gestar sujeitos da história e preocupar-se com a pessoa integral.
Para tanto, a prática educativa seguia alguns princípios: trabalho e organização
coletiva como valores fundamentais, integração da escola no assentamento, forma-
ção integral e sadia das crianças, valorização da prática da democracia no processo
educativo. Desta forma, a educação deveria construir um projeto alternativo de vida.
2
interatividade:
Revista SEM TERRA n 1 Jul Ago Set 1997\n 2 Out Nov Dez 1997 (1).
Disponível em: http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.
aspx?bib=HEMEROLT&PagFis=3443&Pesq=itinerante
Fonte: Revista SEM TERRA n 1 Jul Ago Set 1997\n 2 Out Nov Dez 1997 (1)- Hemeroteca da Luta pela Terra.
84 ·
Agrária – PRONERA. Após, em 1998, ocorreu a I Conferência Nacional por uma
Educação Básica do Campo e em 2004 ocorreu a II Conferência Nacional por uma
Educação do Campo. Todos esses eventos foram essenciais para a consolidação de
uma política pública de Educação do Campo.
Figura 45 - I ENERA.
Fonte: Jornal dos Trabalhadores SEM TERRA n 01 Mai 1981\n 170 Jul 1997 (1)- Hemeroteca da Luta
pela Terra.
Caldart (2002) evidencia que uma das principais características desse movimento
que surgem em prol de uma educação do campo está no fato da defesa, por parte
da população do campo, de políticas públicas que garantam o direito à educação
que seja no e a partir do campo. Para a autora:
No, o povo tem direito a ser educado no lugar onde vive. Do, o povo tem direito
a uma educação pensada desde seu lugar e com a sua participação, vinculada à sua
cultura e as suas necessidades humanas e sociais. (CALDART, 2002, p. 26).
86 ·
Quadro 11 - Momentos da História da Educação Escolar no MST
Caldart (2012a) chama atenção à afirmação de que o MST “ocupou a escola”, enquanto
processo que tem três grandes significados a serem apreendidos: o primeiro diz
respeito ao processo de mobilização das famílias pelo direito à escola, mas uma
escola que tivesse realmente sentido na vida presente e futura. Nesse processo, as
primeiras a se mobilizarem foram as mães e as professoras. O segundo significado
remete ao MST ter assumido a tarefa de organizar e articular a mobilização pela
educação escolar, produzindo proposta pedagógica específica para as suas escolas
conquistadas e formando professores para trabalhar nessa perspectiva particular.
Foi nesse momento que surgiu dentro do MST o Setor de Educação. O terceiro
grande significado foi a incorporação, por parte do MST, da escola em sua dinâmica,
o que significa dizer que a escola passou a fazer parte do cotidiano e da preocupa-
ção das famílias sem-terra/assentadas e que a escola passou a ser vista também
como uma questão política, ou seja, como parte estratégica da luta pela reforma
agrária. Cabe destacar que o maior desdobramento, fruto do terceiro momento,
foi o processo desencadeado em torno da discussão Por uma Educação Básica do
Campo (Caldart, 2012a).
Nesse sentido, é importante recordar as diferenças entre Educação Rural e Edu-
cação do Campo. Para Fernandes e Molina (2005), enquanto a educação do campo
carrega essa característica particular, de ser pensada e criada pelas populações do
campo, a Educação Rural foi historicamente parte de um projeto de educação para
a população do campo, sem sua participação e com um viés bastante urbano que
enxerga o campo como local de produção e não local de vida. Além disso, essa visão
que por tanto tempo persistiu (e ainda persiste para muitos) nos demonstra como
os horizontes políticos e educacionais se encurtam quando a educação básica é
pensada apenas como transmissão de saberes e habilidades demandados pela
produção e pelo mercado (ARROYO, 2012). Souza (2016) oferece uma comparação
onde aponta as diferenças básicas entre características da Educação do Campo e
da Educação Rural, a perceber no quadro 12.
88 ·
Segundo o Dicionário da Educação do Campo (CALDART, 2012b):
• Combina luta pela educação com luta pela terra, pela Re-
forma Agrária, pelo direito ao trabalho, à cultura, à soberania
alimentar, ao território. Por isso, sua relação de origem com os
movimentos sociais de trabalhadores. Na lógica de seus sujeitos
e suas relações, uma política de Educação do Campo nunca será
somente de educação em si mesma nem de educação escolar,
embora se organize em torno dela.
3
saiba mais:
CALDART, R. Pedagogia do Movimento Sem Terra. Ed Expressão
Popular. São Paulo, 2012a.
90 ·
Quadro 13 - Referências que constituem concepção teórica de Educação do Campo do MST
92 ·
ambições do Programa. A construção de novos processos de
produção de conhecimento se daria à medida que os estudantes
universitários integrados ao Residência e os docentes que dele
participassem, assumissem a dimensão metodológica proposta,
cujo fundamento seria a compreensão de que a ação cotidiana
dos camponeses é portadora de saberes e conhecimentos e que
também deveriam orientar a prática da Assistência Técnica.
(MOLINA, 2009, p. 26).
2
INTERATIVIDADE:
Acesso à coletânea “Residência Agrária em Debate:
movimentos sociais e universidades públicas na construção
de territórios camponeses no Brasil” com resultados de
pesquisas do Programa Residência Agrária:
https://we.tl/2E5eybmp7R
Fonte: Autores.
94 ·
ATIVIDADES - UNIDADE 3
Atividade 1 – Faça uma lista elencando, na forma de tópicos, os principais apren-
dizados que você adquiriu na leitura e discussão da Unidade 3. A lista deve ser
compartilhada no ambiente virtual no tópico “Atividade 1 – Unidade 3”.
Atividade 2 – Construa uma tabela, a partir de pesquisa sua na internet e/ou li-
vros, sobre as experiências em Educação do Campo no âmbito do PRONERA, de
maneira a apontar: principais características, importância da experiência, demais
informações relevantes acessadas. A tabela deve ser disponibilizada no ambiente
virtual no tópico “Atividade 2 – Unidade 3”.
98 ·
4.1
DIREITO A EDUCAÇÃO: IGUALDADE
E DIVERSIDADE
Marcos Normativos da Educação do Campo
100 ·
Fonte: Adaptado de Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do
Ministério da Educação (SECADI, 2012).
102 ·
c olaboração entre União, Estados, Distrito Federal e os Municípios, a formação inicial
e continuada dos profissionais do magistério para as redes públicas de educação
básica. Além disso, disciplina a atuação da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior – CAPES no fomento a programas de formação inicial e
continuada. Recentemente, o decreto foi revogado através do Decreto 8.752/2016,
que dispõe sobre a Política Nacional de Formação dos Profissionais da Educação
Básica, no qual em seu artigo 12, sem muitos detalhes, é feita menção à especifi-
cidade da Educação do Campo:
3
saiba mais:
http://pronacampo.mec.gov.br/
104 ·
de pós-graduação vinculados ao Residência Agrária? É possível perceber uma fra-
gilidade da educação brasileira frente à ameaça conservadora que vem crescendo
em nosso país, que sofrerá os impactos do congelamento de investimentos no
setor da educação.
Como fica a Educação do Campo nesse contexto? Inicialmente já se sabe da
ocorrência de cortes no orçamento do Programa Nacional de Educação na Reforma
Agrária (PRONERA), o que infelizmente nos leva a acreditar na grande possibilidade
de aumento da precarização das escolas do campo e no fechamento de diversos
cursos, como as especializações do Residência Agrária.
Além disso, a Medida Provisória 746, da Reforma do Ensino Médio, faz exigências
que ferem o direito fundamental à formação humana integral, que impossibilitam
a compreensão do mundo do trabalho e suas contradições, além de desrespeitar a
diversidade e a pluralidade. A medida aumenta a carga horária e muda o currículo
de forma a não ser compatível com os preceitos da Educação do Campo, além de
restringir as áreas de conhecimento fundamentais para uma formação humana
integral. Além disso, a Educação do Campo rejeita os conceitos de formação apenas
por competência e por habilidades, por serem muito limitadores frente a grande
complexidade de questões envoltas nos processos de aprendizagem e de formação.
A concepção de formação por área, presente na Educação do Campo, prevê
um Núcleo Básico de conhecimentos nas áreas de Ciências Humanas e Sociais,
Ciências da Natureza e de diversas linguagens humanas, como por exemplo a Arte.
Esse Núcleo Básico é entendido como condição essencial para a formação básica e
integral. Indo contra essa ideia, a reforma do ensino médio desrespeita a concepção
da Educação do Campo.
É por isso que as escolas do campo não podem dar conta de atender as exigên-
cias da Reforma do Ensino Médio, porque as novas medidas vão contra a própria
forma de ser da Educação do Campo e contra os seus objetivos. Podemos inclusive
afirmar que a reforma carrega concepções urbanas de educação, o que reflete uma
contradição que já abordamos nas outras unidades: uma educação para o meio
rural pensada a partir de olhares urbanos. Pelo que já estudamos, sabemos que
esse não é o melhor caminho para a população do campo.
Diante disso, sabemos que as novas medidas previstas com essa reforma po-
derão vir a contribuir com o fechamento de escolas do campo porque, além das
condições precárias que essas escolas já enfrentam devido à falta de investimentos
públicos, agora irão se deparar com um conjunto de exigências que contradizem
os preceitos da Educação do Campo.
É com isso que afirmamos que a Educação do Campo possui muitos desafios
pela frente e que a mudança do cenário atual em relação à educação é fundamental.
Sabemos que com garantia de investimentos públicos podemos avançar muito,
pois atualmente a Educação do Campo – em suas mais variadas modalidades -
possui inúmeras experiências consolidadas e com ótimos resultados que poderão
servir de exemplo para futuras e novas experiências no Brasil. Por isso chamamos
a atenção: o caminho para avanços na Educação do Campo passa pela garantia de
investimentos públicos e não pelo corte de, por isso demanda que os profissionais
da área estudem, debatam, elaborem sobre a Educação do Campo, se organizando
para defender as experiências em voga. Educação do Campo é direito!
106 ·
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No início de nossa disciplina (unidade 1) os educandos e as educandas tiveram
a oportunidade de familiarizarem-se com o conceito de Educação Popular. Para
tanto, foi realizada uma retrospectiva histórico-política da Educação Popular para
que todos e todas compreendessem a história da Educação Popular desde seu sur-
gimento, os seus primeiros passos e os percursos das experiências e as formulações
teóricas apreendidas no Brasil.
A possibilidade de se apropriarem dessa história foi essencial para que o(a) fu-
turo(a) educador(a) pense sobre sua prática pedagógica, de maneira a relacionar o
aprendido na unidade 1 com aspectos dos espaços educacionais de seu cotidiano.
Assim, através das reflexões relacionadas à unidade 1 se buscou contribuir para
que educandos e educandas construam reflexões que signifiquem e deem forma
às suas experiências educacionais com a educação do campo.
Na Unidade 2 foram apresentadas aos educandos e às educandas do curso de
Licenciatura em Educação do Campo algumas das principais experiências em
Educação Popular, realizadas ao longo da história do Brasil, com destaque às que
contribuíram para mudanças significativas no contexto local e nacional. Desta forma,
foram destacadas experiências no âmbito de organizações não-governamentais,
movimentos sociais, sindicatos, grupos de cultura, como também no espaço formal
da educação pública. Também como parte do desenvolvimento da Unidade 2 os
educandos e as educandas tiveram contato com alguns instrumentos de trabalho
de Cultura Popular.
Com as reflexões da unidade 2 todos e todas tomaram conhecimento das diversas
experiências brasileiras que envolveram princípios e formas de ser da Educação
Popular, sendo elas: Movimento de Cultura Popular de Pernambuco (MCP); Cam-
panha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler; Experiência 40 Horas de Angicos;
Movimento de Educação de Base (MEB); Centros de Cultura Popular da UNE (CPC);
Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA). Ao tomar conhecimen-
to dessas experiências populares, formais e não formais de ensino, educandos e
educandas podem pensar na construção de possibilidades e estratégias dentro de
suas próprias experiências futuras de ensino na Educação do Campo!
A partir da unidade 3 do material didático os educandos e as educandas estu-
daram como os movimentos sociais do campo se apropriaram do debate sobre
educação e de que forma construíram alternativas particulares, a partir de experi-
ências e de debates que foram base para a construção, do que hoje nós entendemos
como uma Educação do Campo no contexto brasileiro. Desta forma, ao longo da
unidade 3, se destacaram assuntos referentes ao início do debate sobre a educação
dentro dos movimentos sociais do campo, olhares que emergem a partir disso em
relação à Educação do Campo, às concepções existentes na atualidade e também
sobre os desdobramentos da experiência do PRONERA, que se consolidou a partir de
iniciativas coletivas dos movimentos sociais no âmbito da Educação do Campo no
Brasil. Assim, foi possível construir aprendizados sobre a relação entre Movimentos
Sociais do Campo, Educação do Campo e diversidade.
108 ·
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BRASIL. Lei 12.695, de 25 de julho de 2012. Dispõe sobre o apoio técnico ou finan-
ceiro da União no âmbito do Plano de Ações Articuladas; altera a Lei no 11.947,
de 16 de junho de 2009, para incluir os polos presenciais do sistema Universidade
Aberta do Brasil na assistência financeira do Programa Dinheiro Direto na Escola;
altera a Lei no 11.494, de 20 de junho de 2007, para contemplar com recursos do
FUNDEB as instituições comunitárias que atuam na educação do campo; altera a
Lei no 10.880, de 9 de junho de 2004, para dispor sobre a assistência financeira da
União no âmbito do Programa de Apoio aos Sistemas de Ensino para Atendimento
110 ·
à Educação de Jovens e Adultos; altera a Lei no 8.405, de 9 de janeiro de 1992; e
dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
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UNIVERSIDADE TECNOLOGICA FEDERAL DO PARANÁ. Arcaz. Disponível em: <http://
arcaz.dainf.ct.utfpr.edu.br/rea/items/show/13>. Acesso em: 12 ago 2017.
Meu nome é Marcos Botton Piccin e junto com a Janaína Betto construímos
este material didático. Atualmente sou professor no Departamento de Educação
Agrícola e Extensão Rural da UFSM. Apesar de minha formação inicial ter sido
em Medicina Veterinária, fiz meu mestrado e doutorado em Ciências Sociais. O
mestrado eu o conclui em 2008 no curso de Pós-Graduação em Ciências Sociais,
Sociedade e Agricultura, CPDA, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
e, nessa ocasião, estudei os assentamentos rurais e os desafios enfrentados pelos
agricultores na construção de suas iniciativas de produção. Já o doutorado eu fiz
no Programa de Doutorado em Ciências Sociais, DCS, da Universidade Estadual
de Campinas, em São Paulo, no qual defendi em 2012 uma tese que analisa as es-
tratégias de reprodução social dos chamados estancieiros, grandes proprietários
de terras no Rio Grande do Sul. Por ocasião da tese realizei um estágio doutoral
na École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris que me ajudou a preparar
teórica e metodologicamente a pesquisa de campo.
Como docente da UFSM, em 2014, celebramos com o Programa Nacional de
Educação na Reforma Agrária, PRONERA, do Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária, INCRA, o projeto intitulado “Diálogos entre a pesquisa científica
e os assentamentos rurais: os cursos do residência agrária em questão”, sob minha
coordenação. Esse projeto construiu várias ações, dentre elas um Congresso Na-
cional dos 34 Cursos de Residência Agrária e a publicação da coletânea formada
por três livros intitulada “Residência Agrária em Debate: movimentos sociais e
universidades públicas na construção de territórios camponeses no Brasil”. Atu-
almente desenvolvo pesquisas relacionadas às temáticas das relações sociais no
campo brasileiro e os processos de concorrência internacional entre os agentes do
que chamamos de sistema agroalimentar.
Desse modo, tenho uma trajetória construída a partir da reflexão sobre as te-
máticas rurais, dentre as quais os processos de educação, a agricultura familiar,
os assentamentos rurais e os movimentos sociais ocupam um lugar especial. Para
mim foi um grande prazer ter contribuído com este material didático, que espero
seja importante para você. Para mim, também foi um grande aprendizado, ao qual
sou imensamente grato.
118 ·
Olá!
Meu nome é Janaina Betto e eu também sou autora do material didático. Minha
formação inicial é Engenharia Florestal, concluída em 2014 pela Universidade Federal
de Santa Maria. Posteriormente eu fiz mestrado em Extensão Rural e Formação de
Professores, ambos pela Universidade Federal de Santa Maria. Atualmente estou
no início do doutorado em Extensão Rural, pela mesma instituição.
Na graduação participei de projetos de pesquisa e de extensão envolvendo a
temática de Movimentos Sociais do Campo e participei do Estágio Interdisciplinar
de Vivência em Assentamentos da Reforma Agrária na Região Central do Rio Grande
do Sul. Recentemente (2016) conclui o mestrado na área de Extensão Rural, tam-
bém pela Universidade Federal de Santa Maria, através do qual realizei pesquisa
científica sobre as temáticas de Movimentos Sociais do Campo, Movimento de
Mulheres, gênero e geração em contextos rurais e durante a graduação de Formação
de Professores realizei estudos sobre a educação em contextos rurais. Nesse período
também participei do projeto de pesquisa “Diálogos entre a pesquisa científica e os
assentamentos rurais: os cursos de residência agrária em questão”, através do qual
contribui na organização do Volume I – Educação do Campo, Práticas Pedagógicas
e Questão Agrária da Coleção “Residência Agrária em Debate: movimentos sociais
e universidades públicas na construção de territórios camponeses no Brasil”. Atu-
almente, estou na fase inicial do Doutorado em Extensão Rural, através do qual
pretendo estudar relações de gênero no meio rural da Região da Campanha do
Rio Grande do Sul.
Então, como podem observar, a minha trajetória está ligada aos estudos de con-
textos rurais e a diversas experiências que se aproximam da questão dos movimentos
sociais do campo e, direta e indiretamente, da própria Educação do Campo. Espero
ter contribuído para a aprendizagem dos educandos e das educandas do curso de
Educação do Campo e agradeço a oportunidade de ter ampliado meus horizontes
através da construção desse material didático.
Janaina Betto