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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
2.ª edição
2009
© 2003-2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autoriza-
ção por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
D449s
2.ed.
ISBN 978-85-387-0265-8
A sociologia da educação...................................................... 33
Os primeiros grandes sociólogos:
a educação como tema e objeto de estudo .................................................................... 34
As teorias sociológicas e a educação ................................................................................. 43
Gabarito .....................................................................................329
Referências................................................................................343
Anotações .................................................................................349
Apresentação
O que você espera dessa disciplina? Quais são suas expectativas em relação à so-
ciologia? No que a sociologia se aproxima da educação? Essas e outras perguntas
nos acompanharão a partir daqui.
Mas, antes disso, seria interessante esclarecer algumas questões que nortearão
nosso trabalho. Inicialmente, deve-se destacar que o que se apresenta aqui é uma
síntese dos temas mais relevantes da sociologia enquanto Ciência Social, preocu-
pada em tentar explicar a vida social e as questões relacionadas à vida do homem
em sociedade, em seus múltiplos aspectos. Não se pretendeu elaborar um manual
e muito menos um compêndio que pretendesse dar conta de todos os temas e/
ou conceitos relacionados a essa ciência. Optou-se por privilegiar alguns tópicos
que são considerados básicos e depois relacioná-los com a questão da educação.
A sociologia da educação tem como objetivo pesquisar e analisar a educação em
seus aspectos sociológicos, isto é, os fenômenos sociológicos.
O objetivo maior é procurar conhecer e analisar a inter-relação entre o homem, a
sociedade e a educação, à luz de diferentes teorias sociológicas, bem como das
práticas pedagógicas ratificadoras e/ou transformadoras dos contextos cultural,
social, político, econômico e ecológico.
A proposta é despertá-lo para discussões futuras a partir do embasamento teórico
que essa ciência oferece e, sempre que possível, trazer o debate para a realidade
educacional brasileira. Para tanto, sugere-se alguns textos de apoio, bem como
atividades para autoavaliação. Indicações de leituras complementares e filmes
acompanharão o texto-base, e são importantes para aprofundar algum assunto/
tema que se considere relevante.
Vale lembrar também que nada substitui a leitura dos próprios mestres, no caso
aqui, os “fundadores” da sociologia e da sociologia da educação. Portanto, não de-
sanime em buscar na própria fonte as respostas às suas inquietações. Vá em frente!
A disciplina pretende desenvolver módulos que possibilitem a compreensão
da constituição da realidade social e sua relação com a educação, por meio do
estudo de aspectos dos processos sociais presentes na produção e configuração
do sistema educacional. Assim, o livro está estruturado em 18 unidades, em que
se propõe uma discussão sobre a relação entre a sociologia e a educação, apresen-
tando as contribuições dos autores clássicos e sua percepção acerca das questões
relacionadas à educação (A Sociologia da Educação) e contextualizando a ciência
no Brasil (A Sociologia da Educação no Brasil).
A partir daí, tem-se a discussão de alguns temas/conceitos fundamentais para
a reflexão aqui proposta. Na unidade intitulada educação e família apresenta-se
uma síntese das transformações pelas quais passou a família ao longo do tempo
e sua importância quando se discute educação. Para tanto, também se faz ne-
cessário observar como o sentimento de infância surge e se modifica a partir do
que se tem, inclusive o surgimento dos colégios e novas visões da infância e da
juventude (concepções de infância e juventude).
A discussão sobre a escola à luz de alguns conceitos sociológicos compõe as
próximas unidades: a escola como instituição social, a escola e o controle social e a
escola e o desvio social. Em seguida, são abordados outros conceitos também im-
portantes para a sociologia da educação: a mudança social, a estratificação social,
a mobilidade social, educação e movimentos sociais e a educação e o Estado.
Finalmente, são apresentados alguns temas mais amplos que dizem respeito à rea-
lidade do país (educação e desenvolvimento, educação e cotidiano no Brasil e pro-
blemas da educação no Brasil), da escola e do professor (a profissão de professor),
além de chamar a atenção para questões que exigem muita reflexão por parte do
docente, no sentido de avaliar sua prática pedagógica (perspectivas da educação
no Brasil).
Vale ressaltar, enfim, que vivemos um momento privilegiado na história, uma vez
que a presença da sociologia no currículo está intimamente ligada à democratiza-
ção do acesso ao conhecimento científico, com vistas ao incremento da discussão
consciente, racional e bem fundamentada do educador na realidade social.
Bom trabalho!
Mas por que sempre que se fala em sociologia não falta quem per-
gunte para que ela serve? Por que não acontece o mesmo com a maioria
das outras ciências? A resposta está relacionada com a própria natureza
dessa ciência, que tem o homem em interação e a sociedade como objeto
de estudo. A questão que se coloca de imediato é por que isso se tornou
necessário? O que teria mudado tanto na vida do homem ou da sociedade
como um todo que demandariam a existência de uma nova ciência para
dar conta de explicar essas transformações? Assim, está feito o convite à
reflexão sobre a relação existente entre sociedade e educação a partir da
perspectiva sociológica.
Vamos procurar perceber quais são os valores sociais que definem os obje-
tivos da educação, do ensino e seus métodos, além de tentar estabelecer as re-
ações existentes entre a sociedade e o que se privilegia ensinar, e como isso é
feito no cotidiano da escola e fora dela, por outras instituições sociais – tais como
a família, por exemplo. É fundamental entendermos que os sistemas educacio-
nais relacionam-se com as instituições sociais e com as determinantes culturais
que regem a vida em sociedade.
O que é sociologia?
Podemos começar tentando esclarecer o que é a sociologia, lembrando que
os homens diferenciam-se dos animais por sua capacidade de se relacionar de
maneiras diferentes, incluindo a própria linguagem, código que lhe possibilita
comunicar-se com outros homens e, assim, tornar-se um ser social. E qual a im-
portância disso para nós? Esse é um dado fundamental para entendermos como
o homem biológico torna-se um ser social capaz de ter e produzir cultura – que
envolve a todos e modela nossa personalidade – e quando se internalizam regras
sociais, maneiras de ser, de pensar e de agir, transmitidas através do processo de
socialização. Laraia (1989, p. 46) nos diz que “o homem é o resultado do meio
cultural em que foi socializado”.
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A sociologia e a educação
Istock photo.
O homem precisa compreender-se, compreender os outros e buscar respos-
tas para as perguntas que a vida lhe coloca, participando de forma diferente
de sua cultura. Ao fazer isso, está sempre produzindo cultura e internalizando
padrões e caracteres culturais. A cultura é dinâmica e opera de várias formas,
condicionando a visão de mundo do homem e interferindo no plano biológico.
Finalmente, é preciso destacar que a cultura é dinâmica e tem sua própria lógica
(LARAIA, 1989). Tentar captar essa lógica é o começo para se fugir do etnocen-
trismo, que ignora as diferenças e a pluralidade cultural, como sendo algo que
deveria agregar e não separar os homens.
Vimos, então, que a sociologia é uma ciência e, como tal, deve ter uma base
teórico-metodológica que serve para estudar os fenômenos sociais, tentando
explicá-los e analisando os homens em suas relações de interdependência. Utili-
za-se de estratégias e técnica de pesquisa que lhe são próprias e que lhe garante
o caráter de cientificidade. Afinal, conforme nos diz Thiollent (1987, p. 21),
[...] sem investigação concreta, a sociologia não está longe de ser um discurso filosófico ou
político arbitrário. Por outro lado, sem problemática teórica, a sociologia é considerada apenas
como enquete e degenera em vulgar pesquisa de opinião ou em pesquisa administrativa
totalmente permeada pelo empirismo e pela ideologia a curto prazo dos utilizadores da
pesquisa. O uso de questionários e entrevistas não é sinônimo de empirismo quando estas
técnicas, consideradas como meio de captação de informação, a ser criticada, e não como
fins em si, são submetidas ao controle metodológico e subordinadas a uma verdadeira
preocupação de teoria sociológica.
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Sociologia da Educação
Domínio público.
posta baseada em ideais como
liberdade, igualdade e fraternida-
de. Mesmo deixando muito a de-
sejar em relação a esses valores
revolucionários, atualmente não
se pode negar que o seu poder
transformador se concretizou
em várias regiões do mundo e re-
percutiu a ponto de mudar para
sempre a história do homem e da
sua vida em sociedade.
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A sociologia e a educação
debatiam com a alta dos preços, as más colheitas, o êxodo rural em razão do
avanço das atividades têxteis, o descaso e o abandono. As graves repercussões
sociais e econômicas desse quadro foram a base que impulsionou os revolucio-
nários. Essa revolução ultrapassou os limites da França e seus ideais se estende-
ram por toda a Europa, ameaçando hierarquias e privilégios.
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Sociologia da Educação
trabalho passa a ser visto e vivido de outra maneira, não mais como algo humi-
lhante, degradante ou “privilégio” dos escravos (tal como era visto na antiguidade)
ou dos servos (no mundo feudal). Adquire um caráter de atividade que dignifica e
qualifica o homem, podendo gerar lucro e riqueza.
Domínio público.
o trabalhador e o produto final do
seu trabalho, uma vez que o capitalis-
ta é quem passa a exercer o controle
técnico do processo de produção e a
deter os chamados meios de produção
(terra, ferramentas e instrumentos de
trabalho). O trabalhador tem “apenas” Mulheres trabalhando em indústria de whisky
sua força de trabalho e passa a vendê- em Louisville, Kentucky, EUA.
-la em troca de um salário, alienando-
-se do processo e perdendo a visão
Domínio público.
global da produção.
18
A sociologia e a educação
Do que vimos até agora, podemos concluir que o homem passa a ser o grande
objeto de estudo da nova ciência – num contexto que estava se tornando cada
vez mais racional e científico – em detrimento às análises baseadas nas explica-
ções e dogmas religiosos, filosóficos e do senso comum. Essa inquietude intelec-
tual estimulou e instigou a reflexão sobre o homem, a vida social e a sociedade
como objetos de estudo. Com nomes como Comte (“pai” da sociologia com sua
“física social”), Durkheim e Marx, a sociologia se consolida como ciência e abre
caminho para novas teorias e métodos que vão se constituindo à medida que
avançam as reflexões sobre os consensos, os conflitos e os problemas gerados
por essa sociedade capitalista e industrial – em suas múltiplas manifestações.
A sociologia da educação
e alguns conceitos básicos
E assim como existem várias culturas e várias sociedades, tem-se também mais
de uma sociologia. Dentre essas várias sociologias, a sociologia da educação – ci-
ência que investiga a escola enquanto instituição social, analisando os processos
sociais envolvidos – assim como as demais sociologias “especializadas”, têm como
base as teorias sociológicas. O que importa discutir, neste momento, é que todas
aquelas transformações vividas pela sociedade trouxeram novos temas para dis-
cussão no campo da educação – entendida aqui tal como Meksenas (2002, p. 19),
como o conjunto das várias “maneiras de transmitir e assegurar a outras pessoas
os conhecimentos de crenças, técnicas e hábitos que um grupo social já desen-
volveu a partir de suas experiências de sobrevivência”.
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Sociologia da Educação
O conceito de classe social, por sua vez, relaciona-se com mobilidade social,
diferentemente da noção de estamentos3, que se baseavam em hierarquia e/ou
códigos de honra, muitos ligados à própria condição de nascimento. De acordo
com Vieira (1996, p. 58), as classes sociais
[...] organizam-se em camadas sociais fundadas na separação entre trabalhadores e proprietários
dos meios de produção, às vezes com consciência social correspondente às suas condições de
existência [...] e admitem mobilidade entre si, abrindo-se aos movimentos sociais e revelando
também conflitos, principalmente quanto à distribuição do poder entre elas, na disputa sobre
o domínio econômico, político e intelectual na sociedade industrial.
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Sociologia da Educação
Toda essa discussão nos leva à necessidade de explicitar melhor o que vem
a ser socialização, fundamental para se entender o processo social e também o
processo educativo. A criança quando introjeta valores e regras a partir da família,
principal grupo de socialização, está se “capacitando” para a vida em sociedade,
garantindo inclusive a perpetuação do próprio grupo social (entendido como co-
letividade) e a formação da sua personalidade. A família é vista como um órgão
de controle social e agente da socialização na medida em que “regula grande
parte do comportamento de seus membros, impedindo ou procurando impedir
conduta que a sociedade considere condenável”(LENHARD, 1985, p. 115).
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A sociologia e a educação
Texto complementar
A formação da sociologia
(BRASIL ESCOLA, 2009)
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