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Im presso no Brasil, Design Gráfico
agosto de 2011 Alexandre Wollner
Alexandra Viude
Titulo original: Dieu, une Janeiro/Fevereiro 2 0 1 1
invention?
Copyright e> 2007 by Les Diagramação e fi nalização
Editions de !'Atelier, Paris. Mauricio Nisi Gonçalves
Todos os direitos André Cavalcante
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/Estúdio É
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-
Fernanda Marcelino
Liliana Cruz
25 127
capitulo 1 bibliografia de
pode-se provar a René Girard
existência de Deus?
Alain Houziaux 130
bibliografia
65 selecionada sobre
capítulo 2 René Girard
o bode expiatório e
Deus 138
René Girard índice analítico
85 1 41
capitulo 3 índice onomástico
Deus inventado e
inventor
André Gounelle
um diálogo surpreendente
12 Deus: uma invenção? invenção ou criação? ou: por uma epistemologia mimética 13
digamos por economia, "realista" e "engajada'', ao mesmo devem então ser rearranjados em novas disposições. Ora,
tempo em que resiste à tentação de encerrar seu texto em alguma medida, é como se a pergunta-título - "Deus
com algum tipo de apelo de ordem emocional. 12 é uma invenção? - fosse uma pergunta-armadilha, pois,
uma vez que se estabelece a moldura do verbo inven ire,
Compreender a raiz dessa divergência auXiliará o leitor a resposta não pode senão confirmar o juízo que já se
da Biblioteca René Girard a vislumbrar os fundamentos encontrava implícito no questionamento.
de uma epistemologia mimética - ainda a ser plenamente
desenvolvida, reconheça-se de imediato. A reação polêmica de René Girard, portanto, ajuda a
entender melhor a necessidade de retornar ao problema,
Em The Grammars of Creation, George Steiner recuperou mas agora sob uma perspectiva mimética.
uma distinção fundamental para a pergunta que estru
tura este livro. Ao mesmo tempo, tal resgate esclarece a
potência do pensamento girardiano.
"Distância conceitual" e teoria
Acompanhemos, portanto, rapidamente a reconstrução mimética
do ensaísta. 13
A resposta lhana oferecida por Girard à pergunta-título
Criar, do latim creare, implica o gesto de produzir o novo deste livro é sintomática dos "olhos livres" com os quais
no próprio instante da criação, trata-se da utópica creatio construiu sua obra. 15 O método utilizado para sustentar
ex nih ilo. Inventar, pelo contrário, do latim in venire, en uma rép lica tão confiante é o mesmo que fundou os
volve um ato mais modesto, pois significa encontrar, des alicerces da teoria mimética : um método comparativo
cobrir, e, muitas vezes, fazê-lo acidentalmente.14 Portanto, de base textual.
inventar supõe a existência de elementos prévios, que
Eis o alfa do pensamento girardiano. Egresso da École
12 Curiosamente, dada a orientação racional do discurso do teólogo, ele
des Chartes, com formação de paleógrafo, e primeira in
encerrou uma de suas intervenções num tom passional: "Cristãos, não per serção profissional na área dos estudos literários, Girard é
camos a esperança! A fé é esperança, esperança apesar de tudo, a despeito
de tudo''. Ver capítulo 3, adiante, p. 108.
13 George Steiner, Grammars of Creation. New Haven, Ya le University 15"Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mu ndo. Ver com
Press, 200 1 . olhos livres''.Oswald de Andrade, A Utopia An tropofágica. 2. ed. São Pau lo,
1 • Não disponho d e espaço para tratar d o tema, mas recordo a brilhante
Globo, 1 995, p. 44, grifo do autor. A alusão ao "Manifesto da Poesia Pau
reflexão do historiador mexicano Edmundo O'Gorman que em seu clássico Brasil" (1 924) de Oswald de Andrade não é casual. Assim como no caso da
La lnvención de Am érica: E/ Universalismo de la Cultura de Decidente, pu referência à obra de O'Gorman, não poderei desenvolver o paralelo, mas
blicado em 1 958, defendia justamente pelas mesmas razões que a América anoto desde já uma série de afinidades eletivas entre a teoria mimética e a
não havia sido descoberta, mas inven tada. história cultural latino-americana.
14 Deus: uma invenção? invenção ou criação? ou: por uma epistemologia mimética 15
essencialmente um leitor agudo de textos. Porém, e mais (ou mesmo possível) supor o conhecimento de uma única
uma vez, como aliás é próprio de seu estilo intelectual, fonte textual, origem incontestável de todas as variações
ele se revela um leitor na contramão das correntes domi posteriores. Ora, a hipótese difusionista jamais alcançou
nantes, tanto na teoria da literatura quanto nas humani rea l importância precisamente pela impossibilidade de
dades em geral. Ora, a concentração girardiana na leitura demonstrar a existência do texto-origem ou da institui
minuciosa de textos não o conduziu a uma hermenêutica ção-fonte. Nesse caso, uma pergunta metodológica se
asséptica, na qual textos somente se relacionam com impõe: como entender a presença sistemática de motivos
textos, no jogo infinito de uma intertextualidade onívora comuns ou de uma estrutura recorrente?
e onipresente - autofágica, podemos dizer com lentes
bem-humoradas. A resposta-hipótese girardiana, base para a formula
ção ulterior de uma epistemologia mimética, pode ser
Pelo contrário, o apuro na leitura de textos oriundos de iluminada através de método comparativo proposto por
autores distintos, culturas díspares e épocas históricas um historiador e que cabe como uma luva no proce
distantes entre si apenas reforçou o que deve ser conside dimento girardiano. Por isso, a fi m de mostrar a con
rado como o motivo determinante do " realismo girardia sistência desse modelo interpretativo, recorro à noção
no", definidor da epistemologia mimética. Como já tratei desenvolvida por Stephen Kern. Preocupado com a
do tema em outra apresentação de volume da Biblioteca sincronia de determin ado momento cultural europeu,
René Girard,16 limito-me a uma observação sucinta, com Kern formulou "o pri ncípio ativo de distância concei
o objetivo de evidenciar a singularidade da posição do tuai". A definição do método permite uma associação
autor de Coisas Ocultas desde a Fundação do Mundo no enriquecedora com o trab alho comparativo desenvol
diálogo incluído neste livro. vido por René Girard em seus exercícios de leitura ao
longo de cinco décadas, trab alho iniciado em 1961 com
O realismo girardiano parte do princípio da existência a publicação de seu primeiro livro, Mentira Român tica
(necessária) de um referente externo ao texto. Segundo e Verdade Roma nesca:
Girard, esse elemento co nfere inteligibilidade à miríade
de textos disponíveis nas mais diversas tradições, n a Assim, há uma maior distância concei
exata proporção em que s e identifica u m motivo recor tuai entre o pensamento de um arqui
rente ou uma estrutura comum em textos de procedên teto e o de um filósofo, com respeito
cias as mais variadas e, sobretudo, sem que seja razoável a determinado assunto, do que entre o
pensamento de dois filósofos. Assumo
que uma generalização sobre o pen
16 samento de uma época é muito mais
Jim Grote e John McGeeney, Espertos como Serpen tes. Trad. Fábio Faria.
São Paulo, Editora É, 201 1 . convincente quanto maior a distância
Entre as várias concepções de Deus nas E, nesse caso, finalmente, o diálogo entre o antropólogo
sociedades arcaicas, por mais numero (aceitemos a defmição proposta por Alain Houziaux),
sas que sejam, há semelhanças demais o pastor e o teólogo transforma-se em consenso, pois,
para que a hipótese de uma pura "in recordando as palavras da introdução deste livro, o
venção" possa ter a menor chance de desenvolvimento de tal epistemologia, afinado com a
ser verdadeira. 18 radicalidade da teoria mimética, "será útil tanto para os
ateus quanto para aqueles que creem". ·
introdução 21
maneira de dizer com louvor o que o ateísmo enuncia: o
razões socioeconômicas e psicológicas, projetamos
mundo e a vida existem sem sabermos a razão e sem que
numa abstração (a Causa primeira do funcionamento do
haja qualquer justificativa. Dessa forma, a graça é uma
universo, por exemplo) a ideia de um Deus pessoal, que
outra maneira de dizer o absurdo.
tem uma relação de amor com os homens. Ele ainda diz
que não há fmitude relacionada a Deus. Sem dúvida,
O professor René Girard, antropólogo, vê nos deuses
nós nos apropriamos dele, caracterizando-o e dando-lhe
uma personalização do sagrado. Os deuses, ele expli-
uma perso nalidade, porém, como uma ilha misteriosa
ca, são identificados por um processo social e religioso
que sempre permanece uma terra incognita, Deus fica
encontrado em todas as culturas. Eles detêm o processo
infinitamente desconhecido. Ele se impõe, mas como um
de autodestruição das sociedades. De fato, todo homem
abismo de mistério de onde sempre pode surgir o des
é motivado pelo desejo do que o outro deseja (fenôme
conhecido. A rel igião é uma maneira de inventar meios
no da rivalidade mimética), o que o conduz à vingança.
para conduzir tal Mistério até nós, um pouco como
A autodestruição das sociedades seria inevitável, se os
criamos canalizações para direcionar a água das fontes
homens não se reconciliassem para linchar, através de
até as nossas casas ; entretanto, não se deve confundir
um assassinato coletivo, um bode expiatório. E é esse
a água viva de Deus com as canalizações dos rituais e
mesmo bode expiatório, considerado ao mesmo tempo
doutrinas religiosas i nventadas pelas Igrejas. Ele conclui
como muito ruim (por ser linchado) e muito bom (visto
que Deus é certamente uma invenção dos homens, mas
que reconcilia a comunidade), que é divi nizado. A espe
que também se pode dizer que ele próprio se inventa
cificidade e a verdade do cristianismo residem no fato
fazendo-se Deus dos homens, o Deus da criação, e mos
de ter reconhecido que, ao contrário do que supõem os
trando as múltiplas virtudes que possui.
mitos arcaicos, a víti ma do linchamento - Jesus Cristo -
era inocente. E foi essa vítima, a pedra desprezada pelos
Os três colaboradores discutem, em seguida, a utili-
construtores, que se tomou a pedra angular e o Deus da
dade da religião, a ideia de Deus e também a origem
nova religião (Atos 4, 11 ). Dessa forma, Cristo é Deus,
das crenças religiosas. Essa origem está no medo, na
pois, conhecendo intimamente o funcionamento da
violência, na necessidade de ser amado, na culpa? Os
mente humana, ele próprio aceita sofrer o linchamento
autores também discutem a questão da prova da exis
para revelar aos homens o que são e para extirpar a
tência de Deus : pode-se provar Deus? Sobre esse tema,
violência desse mundo.
André Gounelle insiste na necessidade de encontrar-se
uma terceira via entre a ilusão de que Deus poderia ser
O professor André Gounelle, teólogo protestante,
provado e a afirmação de que seria irracional pela pró
afasta, em primeiro lugar, a ideia de que Deus teria
pria essência. Já René Girard pensa que os progressos
sido i nventado pelo clero, que queria se aproveitar da
da evolução das espécies vivas, para formas cada vez
credulidade dos homens. Também reconhece que, por
mais complexas e intel igentes, testemunham um projeto
22 Deus: uma invenção?
introdução 23
divino. Assim, a razão pode não demonstrar Deus, mas
não deixa de mostrá-lo.
• Segunda observação. A pergunta "Deus é uma inven Mas é preciso admitir que a palavra "Deus" tem um
çao . po de ser apresentada de muitas formas, segundo 0
� 7" significado próprio não associado ao de uma noção
uso que se faz da palavra Deus. profana. Por conseguinte, mesmo quando a palavra
menos que suscitam. Aliás, os mitos cosmogônicos com fln ido como um Deus-poderoso e como um ato de poder
.
agmdo no universo e no homem.
frequência fazem surgir, simultaneamente e de forma
Deus é a causa de todas as causas. Ele é a causa primeira os teólogos tentaram provar a existência de Deus através
do mundo visível e do mundo das forças invisíveis (que de raci ocínios, às vezes, difíceis de serem seguidos.
substituíram os antigos "espíritos"). Ele é o Ser, fonte de
todos os seres, o Uno, fonte de todas as multiplicidades. E • Principiemos pela prova de Santo Ansel mo ( 1022-
é enquanto causa primeira de tudo que existe que tam 1 109). É, sem dúvida, a menos convincente. Santo An
bém é concebido como o criador do universo.ª selmo, em seu Proslogion, define Deus como sendo "tal
que nada de maior pode ser pensado" e utiliza a seguin
Deus é definido pelos teólogos como u m Ser ativo com te argumentação :
uma existência própria. Deus, dizem, existe indepen
dentemente do homem e, al iás, já existia antes da sua Se Deus, tal como o defini, não tivesse
aparição. Nessas condições, a pergunta "Deus é uma existência, eu poderia pensar algo maior
invenção?" adquire importância decisiva. Devemos do que Ele e que seria um Deus que tem
abordá-la sem rodeios: o fato de reconhecer que Deus existência. Portanto, Deus, tal como eu
tem existência própria, in dependente do homem, e de o defmi (ou seja, como sendo tal que
considerá-lo um Ser ativo por si mesmo, pode ser visto nada de maior pode ser pensado), não
como uma invenção? Os teólogos sempre quiseram seria mais algo que não me permitiria
p rovar que não era nada disso, e o fizeram tentando pensar nada de maior. Concluindo, a
definição que eu dei de Deus implica
que ele existe.
8 Dessa forma, observemos, não é a pergunta "como foi criado o universo?"
que está na origem da fé em Deus. Essa pergunta só apareceu tardiamente,
mesmo no judaísmo e no cristianismo. O relato da criação do mundo do Poderíamos dizer, com Santo Tomás,9 que essa pro
Gênesis 1 é completamente isolado no corpo bíblico, e o seu objetivo não va quer dizer que "o significado da pal avra Deus é o
é apresentar Deus como o criador do mundo, mas mostrar que esse mundo
é bom. Os primeiros cristãos confessaram muito cedo "Creio em Deus Pa i,
Todo-Poderoso", mas foi somente no século V da nossa era que se acrescen
tou "Criador do céu e da terra''. • Santo Tomás de Aquino, Suma Contra os Gen tios, livro 1 , capítulo 1 1 .
in ten ção é provar que Deus existe por cinco vias. 1 3 Ele
• A demo nstração de Descartes ( 1596-1650) é mais
também utiliza a via da prova da existência de uma cau
simples e, sem dúvida, mais convincente. Ela segue
sa a partir de seus efeitos. Porém, ao contrário de Des
uma via antropológica : comprova Deus a partir das
cartes, ele emprega provas cosmológicas e confirma Deus
características do homem. A prova de Santo Anselmo a partir das características do mundo. Citemos somente
é a noção de infmito que está na sua base. 10 Descartes a primeira e a quinta dessas provas, por serem as mais
diz : " Não teria a ideia de uma substância infi n ita, eu acessíveis e talvez as mais convincentes.
que sou um ser fi nito, se ela não tivesse sido coloca-
da em mim por alguma substância verdadeiramente • Esta é a primeira : todo efeito deve ter uma causa. Dessa
infmita". 1 1 Pl atão, traduzido por Goethe, havia dito isso manei ra, a madeira que é fria pode se tomar quente
e talvez de maneira mais simples: " Se o olho não fosse graças ao calor do fogo. Mas de onde vem esse calor do
de natureza solar, jamais poderia perceber o sol. Se n ão fogo? É preciso que ele próprio tenha uma causa. E, como
vivesse em nós a força própria de Deus, como o divino não se pode seguir infinitamente essa regressão ao infini
nos encantaria?". 1 2 Trata-se de uma prova pelos efeitos. to das causas, e das causas das causas, é preciso admitir
A causa é provada pelos efeitos. Todo efeito deve ter a existência de um motor primeiro, que é Deus. A origem
uma causa da mesma ordem, e é por isso que o fato de desse argumento remonta a Aristóteles, que extrai da
o homem ter o sentido do infinito não pode ter a sua existência do movimento a necessidade de um "extremo
causa no próprio homem, visto que ele é fi nito. Ele só que seja motor sem ser móvel, ser eterno, substância e
pode ter a sua causa em Deus, que é o infm ito. Por ato puro" (Física VIIn . E Leibniz, à sua maneira, retoma
tanto, Deus existe e é quem dá ao homem o sentido do rá também essa prova.
infinito e do próprio Deus.
Pode-se traduzir essa prova numa linguagem mais cientifi
ca e atual. À medida que o universo se desenrola no tempo,
10
Os leitores mais corajosos poderão consultar, sobre o papel dessa noção constata-se uma forma de degradação da energia, chamada
de infinito na metafísica e teologia, a nossa obra Dieu à la Limite de l'lnfini. de entropia. Dessa maneira, os astros esfriam aos poucos ao
Paris, Le Cerf, 2003.
11
René Descartes, Méditatian sur la Phi/osophie Premiére, terceira meditação.
12
Platão, Republica 7. Citado por G. van der Leeuw, La Religion dons San
Essence et Ses Manifestations, op. cit., p. 483.
13 Santo Tomás de Aquino fala de "vias", mas ele próprio usa a palavra "provas''.
Voltaire retomará esse argumento à sua maneira. Em rela As provas da existência de Deus são
ção ao funcionamento do mundo, ele escreve: "O universo convincentes?
me espanta e não posso imaginar que esse relógio exista e
que não haja um relojoeiro".15 Rousseau também voltará a Essas provas da existência de Deus parecem bem convin
centes, não é? Entretanto, é preciso insistir em três pontos.
15 Voltaire, " Les Cabales", Epitres, Satires, Contes, Épigrammes. Paris, Garnier •Primeiro ponto. Nas provas da existência de Deus dadas
Freres, 1 874. por Santo Tomás de Aquino (como já dissemos), Deus é
se pode sem dúvida chegar, no fim de um raciocínio, à Tom ás de Aquino e, em particular, a sua tradução pelo
ideia de uma "Causa primeira" para explicar a existên que se denomina hoje o argumento "antrópico " : 1 ª o sur
cia e o funcionamento do mundo, mas não é legítimo gimento da vida e o fato de que a evolução das espécies
concluir a partir daí que há um ser que sej a essa causa ten ha conduzido ao surgimento do homem seriam uma
p rimeira. Santo Tomás passa indevidamente de " Isso só sucessão de eventos altamente improváveis que, dizem,
pode se explicar por Deus" a "Deus existe". Ele passa só pôde surgir, porque foi conduzida pela mão invisível
do conceito racionalmente necessário de causa primeira de Deus. O surgimento do homem provaria a existência
à afirmação e à pretensa demonstração da existência de Deus. Pode-se contestar esse argumento : se considera
de Deus. Conferir uma existência em si a um concei- mos que o surgimento do homem constitui um milagre,
to ao qual se chega através de um processo lógico e é porque nós mesmos somos seres vivos e humanos. É
intelectual é uma i nvenção. porque estamos "no resultado'', ou somos o próprio resul
tado, que o consideramos milagroso. Em outras palavras,
Kant acrescenta um outro ponto para "demonstrar" as não é de forma alguma um milagre em si.
provas de Santo Tomás. 17 Santo Tomás demonstra a
necessidade de Deus como causa primeira em nome da Vamos dar um exemplo para explicar o que compreende
seguinte lógica : "Todo efeito supõe uma causa que supõe mos por "estar no resultado". Quando o salmista (Salmos
uma causa, etc.". Essa lógica pode, de fato, definir Deus 91 ,7) acha milagroso porque, enquanto vários milhares
como a causa de tudo que acontece no mundo. Porém, de homens morreram ao seu lado, ele permaneceu vivo,
nesse caso, em nome da mesma lógica, também é preci ele o faz porque ficou vivo. Os outros, que foram mortos,
so perguntar qual é a causa de Deus. E dizer que Deus é não o fazem ! Isso ocorre porque ele próprio é o resul
causa sui (causa de si mesmo) é uma forma de artifício tado de um acaso improvável que, então, considera um
milagre. Ele faz claramente a distinção entre a noção de
16 lmmanuel Kant, Critique de la Raison Pure, "De L' impossibilité d'une Preu
respondem a necessidades diferentes, e poderiam assim "recurso" (o Deus redentor e salvador) segundo uma via
ser "inventadas" por elas. completamente diferente: a da exploração do desejo mais
fundamental do homem. Esse desejo talvez não seja de
onipotência, mas, sobretudo, o de ver remediado o seu
" Albert Schweitzer, Les Religions Mondiales et /e Chris tianisme. Paris, sentimento de impotência. O homem vive, fundamental e
L'Âge d'Homme, 1 975.
constitutivamente, em estado de falta. De fato, ele se sen
25 A palavra "função" pode surpreender. Falamos da "função" de Deus (po
deriamos também dizer o papel de Deus) um pouco como se pode falar da te constantemente numa situação de desequilíbrio e é por
função dos mitos, ritos ou símbolos. essa razão que clama por socorro e usa recursos externos
29 Claude Geffré, Dieu, C'est Ouoi? Org. Alain Houziaux. Paris, Ed. de !'Atelier,
28
Isso é o que mostram as experiências conduzidas pelo Centro de Psicologia 2005, p. 83.
da Religião da Universidade de Louvain relatadas em Antoine Vergotte, op. 30 É o que parece mostrar uma experiência feita por um laboratório da Univer
cit., p. 1 3 6 ss. sidade de Estocolmo, na Suécia ; conforme Sciences et Vie, agosto 2005, p. 50.
3' A Bíblia não nos diz por que Deus criou o mundo nem por que ele criou o
33 Os a ntropólogos e psicólogos da religião mostraram que a fé só pode homem. Pode-se dizer que o mundo e o homem foram criados "pela glória
de Deus", o que é u ma maneira hi nológica de dizer "por nada".
se apegar ao irracional, ao incompreensível e inexplicável e somente ao
que não pode ser provado e demonstrado. E é considerando essa lição que 35 A "donne" caracteriza a ação de dar e distribuir as cartas, e também as
podemos definir Deus como o princípio do inexplicável, que permanece cartas que foram dadas a u m jogador. Diz-se "avoir une belle donne en
inexplicável. main" "ter um belo jogo na mão''.
Assim, a fé é antes de tudo uma sensibilidade a uma in Assim, esse cego carrega e serve a tocha da luz para
terpelação encarnada pela pregação de Jesus Cristo. Essa servir um projeto e uma verdade que ele não vê, e ele o
pregação anuncia uma maneira de ver os homens como faz por uma postura já definida e por vontade própria.
pecadores perdoados e pede a aplicação de um absoluto, Da mesma fo rma, trata-se para mim de servir o proje
de um ideal e de um projeto de vida e de sociedade: o to e a verdade do Reino de Deus como as parábolas de
Reino de Deus.39 Tal pregação é uma dádiva (é um fato Jesus os caracterizam.
da história, mesmo sendo em parte uma criação da Igreja
primitiva) que tenho como uma verdade, assim como, É possível que Deus seja uma invenção, mas o projeto do
por exemplo, uma prescrição da Declaração dos Direitos Reino de Deus é minha convicção. É a verdade que quero
Humanos de 1789. Tenho fé no que ela enuncia e decido defender e promover. É a verdade na qual creio.
submeter-me a ela.
O fato de confessar Deus e o projeto do seu reino vem de
Eu me comprometo por Deus, pela causa de Deus e pela uma decisão. É mais da ordem da vontade que do senti
utopia do Reino de Deus, tal como prega Jesus Cristo. E mento. A confissão vem de uma vontade de resistir"º às
eu me comprometo sem que haja uma razão razoável, por exigências do realismo, à fatalidade do mal, do absurdo
e da injustiça. É verdade: tudo é noite, e eis uma razão
André Gounelle: Eu não retomaria, nesse contexto, a pa Falando num plano científico, e creio que a ciência é
lavra existir, mas pensando que René Girard pode reagir muito importante para a nossa época, o que aconteceu
dizendo que uso a füosofia grega, utilizarei de preferên nesses últimos tempos é que todas as ciências foram
cia a palavra ser. Existir quer dizer situar-se (sistere) fora historicizadas. Elas, que eram completamente imóveis e
de si (ex). Existimos sempre em função de uma exteriori estát icas, como a astro nomia, se tornaram astrofísicas...
dade e de uma alteridade, sendo que se "é" em si. Deus é De certa forma, eu gostaria de dizer a mesma coisa :
independentemente dos homens, ele não existe indepen entre o mundo arcaico, onde se fez religião do bode
dentemente deles. expiatório, e o mundo j udaico-cristão, há uma ascensão
histórica, a qual aliás os Evangelhos e Paulo levam em
Depois de ter lido René Girard e, mais ainda depois de conta, posto que nos dizem que chegou a hora de passar
tê-lo ouvido, tenho vontade de lhe fazer uma pergunta : de um ali mento de crianças a algo m ais forte e difícil.
segundo a sua perspectiva, podemos pensar, perceber Esse valor educativo do religioso é um tema constante
alguma coisa de Deus fora da humanidade? Sei que o para Paulo, assim como chegar a um mundo em que
senhor é antropólogo e que, nessa qualidade, o senhor esse alimento mais forte se tornou necessário e, de certa
busca e percebe vestígios de Deus no homem e na socie forma, inevitável.
dade humana. Volto a formular a pergunta da seguinte
maneira: o senhor acha que a sua abordagem é abran A. H.: André Gounelle, para o senhor, uma boa religião é
gente e exclusiva? uma religião educativa, ou antes, uma religião que leva
ao bem, ou ainda que ensina o que é verdadeiro? Qual
R. G.: Minhas próprias tendências me levam mais para o seria o verdadeiro critério para uma religião autentica
tipo de raciocínio que expus nesta noite. Restam alguns mente divina?
das crenças a uma impostura. Segundo 1 841 , que teve sucesso. Feuerbach considera que Deus é
aqueles que a professam, homens muito uma projeção do homem ; ou uma projeção da riqueza do
espertos teriam inventado e inculcado a seu ser, ou, ao contrário, uma projeção que vem compen
religião nos outros, para dominá-los e sar sua angústia econômica ou seu mal-estar psicológi
explorá-los. É como se sustentássemos co. Deus não surge, portanto, da vontade consciente de
que os proprietários de restaurantes e alguns; ele é o produto da natureza do ser humano ou de
cozinheiros tivessem inventado a fome suas condições de existência. Ele é a expressão metafísica
e a sede para lucrar com isso. A fé em não de um ser sobrenatural, mas de uma realidade antro
Deus não é resultado de uma impostura. pológica física e natural.
Ela foi muitas vezes, é verdade, vergo
nhosamente utilizada, mas a sua origem Para pensar sobre si mesmo, o ser humano tem neces
não se encontra aí. sidade de um outro diante do qual ele pode se colocar;
é preciso que haja um outro em relação ao qual ele vai
Da mesma maneira, em um livro recente, Les Origines apreender a si mesmo e defmir-se. Ele só percebe o que é
de la Culture, 2 René Girard afasta, com desdém, a "tese e o que o caracteriza com a ajuda de alguém ou de algo
absurda" de que os "padres inescrupulosos e ávidos estão que, como um espelho, envia-lhe a sua imagem e indica
por todas as partes e impõem suas abracadabras ao povo lhe, por contraste ou semelhança, a sua identidade. Dessa
extremamente crédulo". Seria preciso, de fato, ainda ex maneira, macho e fêmea precisam um do outro para
plicar como se pode imaginar tamanho engano, e parti pensar sobre a virilidade ou feminilidade, para dar sentido
cularmente, por que pode prosperar e se difundir. É pelo a elas (mesmo que seja recusar quando não a sexualidade,
pelo menos a sua importância). Assim sendo, só nos per
fato de a religião existir que foi possível utilizá-la mal,
não é o seu emprego fraudulento que a fez nascer e que cebemos como pessoas ou individuos a partir do momento
explica a sua existência. em que concebemos a esfera daquilo que se distingue de
nós. O "eu" é revelado a si mesmo, o "eu" se mostra aos
seus próprios olhos em oposição ou contraste ao "você",
ao "eles". A alteridade é constitutiva da identidade. Só
2 Livro que será publicado na Biblioteca René Girard. (N. T.)
e construir a sua humanidade, o homem precisa de um me tornam isso; eles não me conferiram o ser, mas me
outro, ao mesmo tempo semelhante e diferente, próxi- permitem ser isso ou aquilo. Sou sem eles, mas o que sou
mo e longínquo. Ele passa assim a ter consciência de nasce das redes de relações que tecem a minha existência.
que ele não é somente um objeto, não simplesmente um
animal (mesmo se ele o é também), tampouco um deus. Da mesma maneira, se ninguém o adora, não o suplica,
Feuerbach dizia, nesse sentido, que Deus é uma projeção não o ouve e não o serve, Deus talvez seja o ser infinito,
do homem, aquele ou o que permite ao homem perceber o grande arquiteto do universo, o princípio de todas as
a sua própria realidade. A invenção de Deus não seria coisas, o primeiro motor, a substância em si e para si,
o fruto de um complô destinado a garantir para alguns o "desejo inteligente" que dirige e orienta a evolução.
poder e riquezas; ela decorre da estrutura ontológica do Pode-se ou não reconhecer que ele tem uma realidade
homem que p recisa de outro para ser ele mesmo. Há va enquanto condição necessária do mundo. Entretanto,
riáveis desse tema, a meu ver menos profundas, como a quando isso é dito, não se trata verdadeiramente de Deus '
ideia de que é a estrutura socioeconômica da humanidade porque Deus, em todo caso tal como a Bíblia o apresenta,
(o que marxistas pretenderam) ou a sua estrutura psicoló é amor, comunhão, relação, ser com (o que quer dizer
gica (o que foi defendido por psicanalistas) que fez Deus a pal avra Emanuel, que o profeta Isaías aplica a Deus).
Se Deus, segundo a famosa expressão do Memorial de
surgir; a religião funciona ao mesmo tempo como ópio e
Pascal, é o Deus de Abraão, Isaac, Jacó e de Jesus Cristo
como reveladora da nossa miséria material ou mental. '
capitulo 4 debate
- 113
112 Deus: uma invenção?
É preciso ser realmente louco para acreditar que foi o O Ramo de Ouro ( The Golden Bough), de James F razer.
cristianismo que nos levou à violência. De fato, o cris Nesse capítulo, trata-se muito da natureza, mas trata
tianismo só tem palavras de paz. Se os homens o inter se muito também da sucessão do padre de Nemi que
pretam de outra maneira, é problema deles. Deus só pode acontece de maneira extraordinária, pois o sucessor é
falar conosco ; ele não intervém para nos impor nada, aquele que consegue assassinar o padre d o lugar. Isso
justamente por respeitar a nossa liberdade. Somos nós m ostra que, em geral, a l iteratura é mais fo rte que a
que devemos nos dirigir a ele. Mas, se começamos ne teori a, pois ela nos faz ouvir coisas que não queremos
gando essas propriedades evidentes de Deus que a Idade diz er explicitamente.
Média conhecia perfeitamente, escondemos a verdade de
nós mesmos. Quando fazemos a pergunta "Deus é uma inven
A. H . :
ção?", fazemos também a pergunta resultante: "Deus
A. G.: Da minha parte, não me pergunto e não tento di pode ser provado?", visto que todas as tentativas para
zer o que está na origem das religiões (eu não estava ali). prová-lo buscam demonstrar j ustamente que Deus não
Não tenho certeza de que a busca da origem possibilite é uma invenção. Algumas dessas provas são célebres,
distinguir com nitidez suficiente diversos elementos. sendo uma delas a de Santo Tomás de Aquino, e a de
Descartes. 1 Esse desejo de provar que Deus não é uma
Todavia, estou propenso a dizer que quando se é sensível invenção é muito antigo? Encontramos vestígios na
ao poder que existe no mundo, percebemos a sua violên antiguidade, na Bíblia, ou na teologia antes da primeira
cia. A angústia vem do confronto com a violência. Sen dessas provas, a de Santo Anselmo no século XI?
timos o desejo de livrar-nos dela. Na evolução da socie
dade, o religioso constitui, creio, uma tentativa, às vezes A. G. : Sim, enco ntra mos vestígios muit o antig
os disso,
bem-sucedida, às vezes fracassada, de sair da violência mas talvez não na forma de provas filos ófica
s. Quando 0
ligada ao que René Girard chama de crise m imética. salmista decl ara: "Os céus cont am a glór
ia de Deus ", tem
uma percepção de Deus através do universo
. E m muitos
A. H . : Uma outra origem possível da religião é a que autores da Idade Média, enco ntra-se essa
ideia presente,
Freud associa à culpa. Ao contrário do que normal mente por exemplo, em Santo Ans elmo , de que
é preciso ser
se pensa, Freud não diz que foi a religião que causou a louco para não ver Deu s.
culpa ; ao contrário, para ele, foi a culpa que surgiu do
linchamento coletivo do pai que gerou a religião. O que o É preciso que nos perguntemos sobre a próp
ria noçã o de
senhor acha? prova. Temos duas posi ções . A prim
eira acredita que se
tei n : "O acaso é o pseudônimo de Deus quando ele não pode saber e pensar.
quer assinar"?
Segunda observação : o senhor citou uma afirmaç ão
R. G.: Nada mal ! Os fundamen talistas americano s são do Concílio Vatican o 1. Teríamo s praticam ente a mes-
muito atormentados porque mantivera m um princípio ma ideia, não necessa riamente nos mesmos termos, em
protestante - que o protestant ismo francês perdeu - que Calvino, no primeir o volume da Instituição da Religião
diz que a Bíblia não pode se enganar no menor deta Cristã que admite um conheci mento de Deus pela razão.
lhe: trata-se da infalibilid ade da Bíblia. Eles se obrigam, Entretanto, Calvino afirma que se trata de um conheci
portanto, a brigar por posições indefensáveis, os primei mento parcial e limitado , ele faz conhece r Deus como
ros capítulos do Gênesis, que interpretam ao pé da letra. criado r, não como salvado r, e ele não permite entrar no
Se pensarmo s assim, a teoria da evolução se opõe aos que ele denomin a o segredo de Deus; ele percebe algo de
���----·-
representação de, Herói Modernidade, 53
27, 30, 47, 49 como vítima, 70 Modernismo, 109
segredo de, 1 1 9 mítico, 70 Monoteísmo, 32
Difusionismo, 17 Hipóstase, 48 emergência do, 32,
Distãncia conceituai, Humanidade 34-35
1 5, 1 7 emergência da, 66 Não violência, 1 1 3
Divertimento (Pascal), Idealismo, 90, 9 5 Neoplatonismo, 5 6
79 Identidade, 89 Objeto
Duplo caráter, 99 Imaginação destruição do, 69
Duplo vinculo, 1 9 apocalíptica, 67, 107 Ontologia, 60
Educação cristã, 8 1 Imitação, 66 Paixão, 72, 74, 83
Engajamento, 1 4 Império Romano, 1 1 1 Panteísmo, 3 5, 54
Entropia, 39 Interpretação Paradoxo, 1 9, 46, 69,
Escalada mimética, 67 figural, 9 5 11 1, 1 1 6
Escatologia, 108 l n tertextuaJidade, 1 6 Parricídio, 70
Escolástica, 29, 36 Invenção, 1 1 , 1 8, 28, Política, 69
Absoluto, 25, 62, 1 1 3 Ceticismo, 104-05, 107 Deus
Estoicos, 30 32, 3 5-36, 42, 55, Prece, 50
defesa do, 105 arcaico, 70
busca do, 2 5
Etnocentrismo, 72 65, 86, 9 6 Protestantismo, 104,
Ciências como invenção, 9,
Absurdo, 22, 58
Eutanásia conceito de, 27-28 107, 1 1 8
historicização da, 77 li, 1 3, 23, 25, 27,
Acaso, 44, 58-59,
legalização da, 10 etimologia da, 1 3- vocação do, 101
Criação 3 1 , 46, 48, 5 1 , 53,
118 Evolução, 23, 30, 40- 1 4, 92, 97 Prova
etimologia da, 1 4 56-57, 62-63, 85,
Alteridade, 89
87, 90, 94, 102, 109 41, 91 Islamismo, 80 noção de, 1 1 5
Animismo, 32-35, Crise
criadora, 30 Judaísmo, 34, 36, Providência, 59
mimética, 68, 78- como invenção da
53, 5 5 das espécies, 43 66, 82 Psicologia da religião,
79, 98, 1 1 4 fé, 96
como invenção,
teoria da, 1 1 8 tardio, 60 58
sacrificial, 1 10 como invenção de
32, 34 Fé, 2 1 , 27, 36, 46, 52, Linchamento Realismo, 1 4, I l i
Cristianismo, 22, 27, Deus, 1 3
retorno ao, 5 5
como invenção
57, 62-63, 88, 92 original, 109, 1 1 4 exigências do, 63
Antropologia da 36, 66, 7 1 , 80, 82,
como aposta, 64 unãnime, 70 girardiano, 1 6
96, 98, 1 1 3 - 1 4 necessária, 101
religião, 58
como esperança, Lógica, 43 Reino de Deus, 62-63,
apologia do, 1 9 como invenção
Apocalipse, 94, 108
retórica, 29, 57
108 leis da, 43 72, 75, 108
Argumento antrópico, caráter sacrificial
confissão de, 56-60 Mana, 33 Religião, 87
do, 8 1 definição de, 26, 32,
43 emergência da, 49 Metafisica, 36, 38, 47, arcaica, 27, 32, 49,
e p a radoxo, 98 38, 47, 82
Assassinato
emergência da ideia
e mundo 53, 77 74, 80, 105, 1 1 2
coletivo, 70 especificidade do,
contemporãneo, e animismo, 36 como invenção, 100
7 5, 80 de, 32
fundador, 22, 1 10
essência de, 30, 6 1
27 Milagre, 44 emergência da, 66
Ateísmo, 1 1 , 22, 24, primitivo, 60, 107
experiência da, 13 definição de, 44 origem da, 23, 88,
verdade do, 1 1 7 experiência de, 52-53
60, 66, 87, 1 10
impossibilidade da, Mimetismo, 66-67, 113
Cristo função de, 48, 50-52
Bode expiatório, 22,
ideia de, 23, 27, 29,
116 69-70, 105 origem violenta da,
65, 7 1 , 73 como bode
razoável, 1 1 6, 1 1 9 Mistério, 52 109
mecanismo do, 69, e x piatório, 73 57, 1 1 6
Filosofia grega, 73, 76 Mística, 52-53 psicologia da, 48
Desejo, 49, 67 ideia judaica de, 36
7 1 , 98, 105
Finitude, 23, 52 Mito, 22, 48, 68, 70, universal.idade da, 26
mimétic� 1 8, 22, 67 prova da existência
religião do, 77
de, 1 2, 2 1 , 27, 3 1 ,
Fundamentalismo, 72, 74, 106, 1 1 3 utilidade da, 23
Budismo, 80 Desenho
37-39, 4 1 , 44, 53, 100, 1 1 8 cosmogônico, 34 valor educativo
Causa inteligente, 23, 40,
Graça, 22, 58, 60 edipiano, 68, 70 da, 77
4 1, 91, 1 1 7 115
ideia de, 4 5
índice analítico 1 39
1 38 Deus: uma invenção?
Religiocentrismo, 72 Violên cia, 65, 75, 107,
Religiosamente 112
correto, 1 1 , 104 controle da, 73
sacrificial, 72
Religio sidade , 53
social, 65
Religi oso arcaico
superação do, 1 1 3 Vítima, 72, 80
inocência da, 72
Retórica, 57, 6 1
Rito, 48, 106 unânime, 70
R ivalidade, 69
mimética, 22, 67, 79
Sacrifí cio, 71, 79-80 ,
106, 1 1 2
elimin ação do, 80
ritual, 74
Sagrado, 22, 52, 65, 99 Andrade, Oswald Grote, Jim, 1 6 Santo Tomás de
Secularismo, 1 9, 82 de, 1 5 Heidegger, Martin, 3 5 Aquino, 2 1 , 29, 32,
Semâ ntica, 6 1 Aristóteles, 39, 66 Houziaux, Alain, 2 1 , 36-43, 45, 47, 64,
Sexua lidade , 79 Barthes, Roland, 1 10 25, 53, 74 115
Símbo los, 48 Barth, Karl, 45-46 Jung, Carl Gustav, 109 São João, 97
Tabu Bergson, Henri, 30 Kant, lmmanuel, 1 2, 42 São Paulo, 50, 6 1 ,
do incesto, 70 Bin Laden, Osama, 26 Kierkegaard, S0ren, 26 77, 97
Teologia, 38, 75, 77, 85 Bruno, Giordano, 30 Lacan, Jacques, 109-10 Schweitzer, Albert,
caráter infinit o da, Bush, George W., 26 Leeuw, Gerardus van 48, 108
93 Calvino, João, 101, 1 1 9 der, 33, 38 Shakespeare, Willfam,
católica, 45, 1 1 9 Cervantes, Miguel Leibniz, Gottfried, 39 79
clássica, 78 de, 79 Lutero, Martinho, 61 Steiner, George, 1 4
da graça, 6 1 Chemama, Roland, 5 1 McGeeney, John, 1 6 Tylor, Edward
d a trindade, 48 Descartes, René, 2 1 , Mersch, Bernard van Burnett, 34
do processo, 106 38-39, 1 1 5 der, 51 Tillích, Paul, 102, 103
e ceticismo, 105 Durkheim, É mile, 66, Montaigne, Michel Tresmontant, Claude,
tarefas da, 1 1 6 112 de, 79 118
tomista, 47 Einstein, Albert, 29, 1 1 8 O'Gorman, Edmundo, Vaihinger, Hans, 1 2
Teoria mimética, 1 5 Espinosa, Bento de, 30 1 4- 1 5 Vergotte, Antoine, 52
e história cultural Otto, Rudolf, 99
Feuerbach, Ludwig, Verne, Jules, 94-95
latino-americana, 89-90 Pascal, Blaise, 26, 64, Voltaire, 40, 1 10- 1 1
15 Frazer, James, 34, 1 1 5 78-79, 9 1 , 93 Wagner, Charles, 88
epistemologia da, Freud, Sigmund, 50, Picon, Raphael, 26, 63
1 4, 1 6- 1 8 70, 109-10, 1 1 4 Platão, 38
metodologia da, 1 1 Gagnebin, Laurent, 63 Ricoeur, Paul, 93
resistência à, 1 9 Geffré, Claude, 53 Rousseau, Jean-
Vanguarda francesa, Goethe, Johann Jacques, 40
1 10 Wolfgang von, 38 Santo Anselmo, 2 1 ,
Vingança, 22, 67, 80 Goodman, Nelson, 1 3 37-38, 1 1 5
controle da, 68
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Este livro foi impresso pela Prol Editora Gráfica para É Realizações, em agosto de
201 1 . Os tipos usados são da fa milia Rotis Serif Std e Rotis Semi Sans Std. O papel
do miolo é pólem bold 90g, e o da capa, cartão supremo 300g.
Deus seria uma invenção dos homens? Ele seria uma
criação de sua angústia, de sua culpa, de sua sede de
imortalidade? Ou, simplesmente, do seu desejo de encon
trar a paz, o amor e o perdão?
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