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14/12/2022 09:00 António Henriques da Silveira e as Memórias analíticas da vila de Estremoz - 5.

A acção no Desembargo do Paço - Publicações do Cidehus

Publicações
do
Cidehus
António Henriques da Silveira e as Memórias
analíticas da vila de Estremoz  | Teresa Fonseca

5. A acção no
Desembargo do
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Paço
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p. 75-85
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Texte intégral
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1 O Desembargo do Paço, criado por D. Manuel I, afirmou-se
como ✗ Tout
umarefuser
instituição pública de relevo durante todo o
Antigo Regime. E embora a sua capacidade de intervenção
Personnaliser
na esfera governativa tivesse diminuído consideravelmente a
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partir do reinado de D. José, continuou a desempenhar um
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papel significativo nos domínios da justiça, da graça e da


administração periférica.
2 No âmbito da justiça, competia-lhe a reapreciação dos
recursos para a Coroa; a arbitragem dos conflitos entre
outros tribunais; o controle da admissão (através da “leitura
de bacharéis”) e da actividade (por meio de “inquirições” e de
“autos de residência”) dos magistrados régios da
administração central e periférica
3 No domínio da graça, cabia-lhe a concessão, em nome do
monarca, de perdões e indultos, de privilégios, de isenções,
de autorizações, de legitimações e de outras benesses para os
mais variados fins.
4 Na área político-administrativa manteve sempre o papel de
principal intermediário entre o poder central e a periferia
territorial, apesar da concorrência crescente das Secretarias
de Estado, da Intendência Geral da Polícia e de diversas
magistraturas paralelas, como superintendentes e
inspectores. Esta comunicação permanente era assegurada
por diversas vias: o provimento (trienal) dos corregedores,
provedores, juizes de fora e o controle da sua actividade; a
nomeação (anual) das equipas camarárias e dos principais
quadros do funcionalismo local; o acompanhamento,
efectuado por aqueles magistrados, da gestão camarária,
incluindo o modo de execução das ordens, avisos ou
informações emanados dos órgãos centrais do poder; e a
apreciação das representações formuladas pelas autoridades
municipais e pelas comunidades locais1.
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Até ao início da implementação (morosa e difícil), da carta de
lei de 19 de Julho de 1790, cerca de um terço do território
Cenacional
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permaneceu
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2
do que
ceux Paço vous. souhaitez
No entanto, o reforço das competências dos
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provedores com jurisdição nestas terras de domínio
senhorial, permitiu, em certos casos, algum controle
administrativo, que ajudou a atenuar os efeitos
descentralizadores e autonómicos do privilégio de isenção
usufruído por muitos donatários3. E de qualquer modo, os
concelhos controlados pelo tribunal régio, eram os mais
importantes do ponto de vista geo-estratégico, económico e

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demográfico. Correspondiam a 75% da população do reino e


a perto de 90% dos residentes em áreas urbanas4.
6 O acesso ao alto cargo de desembargador do Paço efectuava-
se através da progressão na carreira da magistratura, por
direito consuetudinário e sobretudo pelo exercício do
magistério em Coimbra, nas Faculdades de Leis e de
Cânones.
7 A colaboração de juristas que tivessem sido lentes, nas
Relações e em outros tribunais de maior graduação, era
encarada como vantajosa e qualitativamente superior. Por
isso, para um número significativo destes docentes, o
tirocínio universitário não constituía a derradeira etapa do
percurso profissional, mas antes um patamar de transição
para os tribunais superiores5. E no caso concreto do
Desembargo do Paço, 68% dos 56 desembargadores que
entre 1750 e 1833 ascenderam à Mesa, haviam sido doutores
ou lentes nas faculdades jurídicas6. O acesso à alta
magistratura era ainda facilitado se o jurista tivesse
anteriormente usufruído de uma beca num dos colégios
seculares de S. Pedro ou de S. Paulo, como referimos
anteriormente.
8 Por estas razões, António Henriques da Silveira reunia as
condições ideais de ingresso naquela instituição. Deste
modo, foi designado desembargador honorário por carta
régia de 6 de Maio de 1791, com os seguintes fundamentos: a
sua “distincta Literatura”; o “zello e prestimo com que tem
regido as diferentes Cadeiras da sua faculdade, creando a

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do Decreto, depois da reforma”, que já antes havíamos
referido; e ainda por “ser elle a muitos anos o mais antigo
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exceda,
ceux que vous merecimento e serviço Licterario”7.
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9 Quase em simultâneo, o Príncipe Regente, atendendo mais
uma vez “aos Merecimentos, Letras e mais partes”
concorrentes na sua pessoa e ainda “por confiar delle, que
em tudo o de que o encarregar Me servirá muito á minha
satisfação, e contentamento”, fez-lhe mercê “do Titulo do
Meu Conselho com o qual haverá e gozará de todas as
honras”8. E embora a atribuição destas cartas não

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implicasse, na maioria dos casos, a participação em qualquer


conselho régio9, conferia uma grande honra a quem a
recebia. Os detentores ostentavam com legítimo orgulho este
cargo honorífico, como viria a fazer até ao fim da vida o
nosso ilustre biografado.
10 Perante a dificuldade de se deslocar a Lisboa em virtude do
exercício do magistério em Coimbra, Silveira tomou posse do
ofício, um mês após a nomeação, através de um
procurador10.
11 Os magistrados nas suas condições eram frequentemente
nomeados com a cláusula de despacharem no Desembargo
do Paço durante as férias académicas11. Não foi, porém, o que
sucedeu com Henriques da Silveira. A citada carta de
nomeação apenas previa o exercício efectivo do novo cargo
quando o permitisse “o bem dos Estudos Academicos, e o
Meu Real Serviço”12.
12 Com efeito, o canonista foi jubilado da Universidade por
resolução de 4 de Fevereiro de 1793, confirmada por carta
régia de 4 do mês seguinte13. A 21 de Fevereiro, alguns dias
apenas após a jubilação, foi-lhe passada carta de
desembargador efectivo do Paço14, entrando em funções dois
dias mais tarde15, sem nunca ter, tanto quanto nos foi
possível investigar, despachado no tribunal entre 1791 e esta
última data.
13 Para conhecermos concretamente a sua actividade como
desembargador do Paço, efectuamos uma sondagem pelos
subnúcleos documentais correspondentes à Repartição das

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Justiças e Despachos da Mesa e às quatro repartições
territoriais do Minho e Trás-os-Montes, da Corte
CeEstremadura
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e Ilhas, da Beira e do Alentejo e Algarve.
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Testemunhámos
ceux que vous souhaitezo seu trabalho em numerosos processos,
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entre Maio de 179316 e Janeiro de 179917. Não garantimos
terem sido de facto estas as datas limite da sua actividade,
devido à dificuldade de efectuar uma pesquisa sistemática da
sua acção, entre os milhares de processos existentes na Torre
do Tombo, relativos a este período cronológico. Contudo, a
abundância da documentação com a sua assinatura, permite-
nos confirmar a intensa actividade no tribunal, entre o ano

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do ingresso e o termo de 1797, bem como um decréscimo


sensível da mesma a partir de 1798, provavelmente pelas
dificuldades de visão que no ano anterior o haviam forçado
suspender a redacção das Memorias annaliticas, como
veremos adiante.
14 Além da participação nos plenários da Mesa, competia-lhe
(tal como aos colegas), instruir processos provenientes de
todo o reino18, de modo a poderem ser devidamente
apreciados pelo Procurador da Coroa ou serem
simplesmente julgados em reunião da Mesa. Tais
representações provinham de particulares, de comunidades
de moradores, de câmaras ou respectivos juizes de fora, dos
corregedores e provedores das comarcas, de outros tribunais
superiores e ainda de instituições militares e religiosas.
15 Nos casos apreciados por Henriques da Silveira,
predominaram as petições formuladas pelo funcionalismo
administrativo, judicial e fiscal. Uns, requerendo provisão
para poderem ter “ajudante” ou “escrevente”. O pedido,
fundamentado na idade avançada, na falta de saúde ou na
sobrecarga de trabalho, era geralmente acompanhado de
uma proposta concreta, quase sempre contemplando um
familiar próximo do requerente. Outros, em regra de
localidades pequenas, solicitando a acumulação de dois ou
mesmo três ofícios, invocando o seu baixo rendimento ou a
falta, na terra, de candidatos com a preparação adequada.
Alguns ainda, requerendo aumento de ordenado ou a
dispensa do exercício dos cargos. Neste último caso,

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solicitavam, por vezes, a transmissão da propriedade do
ofício para um parente próximo, geralmente já “ajudante” do
Cerequerente.
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Outros,et pedindo a dispensa de impedimentos
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legais
ceux ao exercício
que vous souhaitez de empregos públicos, sendo os mais
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frequentes o do celibato, o da menoridade, o do
envolvimento em delitos criminais ou o do parentesco com
os membros da governança local.
16 Atendeu ainda numerosas representações provenientes dos
ministros territoriais, solicitando a confirmação ou a
prorrogação do exercício dos cargos dos funcionários
referidos no parágrafo anterior.

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17 Apreciou ainda recursos de trabalhadores alegando o


despedimento injusto dos empregos; ou de lavradores
alentejanos, invocando a expulsão ilegal, pelos senhorios,
das terras que traziam de renda e onde habitavam há muitos
anos.
18 Preparou requerimentos de abolição de capelas; de tutoria de
irmãos ou enteados menores; de legitimação de filhos; de
subrrogação, aforamento ou vedação de terrenos; de cultivo
de terras maninhas.
19 Debruçou-se sobre pedidos de provisão para a cobrança
litigiosa de dívidas; para a prorrogação do tempo legal de
apelação de sentenças; de realização de partilhas de bens; de
prova de compra; e de confirmação de doações.
20 Apreciou petições de professores régios, oficiais de justiça,
presbíteros seculares, procuradores de causas, bacharéis em
leis e magistrados régios, para advogarem nas terras.
21 E instruiu ainda processos enviados pelas câmaras,
requerendo a aplicação dos sobejos das sisas no conserto de
pontes e estradas; ou endereçados pelos moradores, pedindo
autorização para instruir, nas respectivas terras, partidos de
médico ou de cirurgião.
22 A preparação destes papéis, de modo a facilitar à Mesa uma
melhor apreciação, implicava o pedido, aos requerentes, de
diversos documentos adicionais19, como certidões ou
atestados. Quando necessário, exigia-se também das
autoridades competentes, nomeadamente juizes de fora,
corregedores ou provedores, um parecer sobre o caso em

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estudo, impondo-se a estes oficiais régios um prazo
determinado para a execução da ordem do tribunal. E
Cequando
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des tratava
cookies etde assuntos respeitantes à comunidade,
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mandava-se
ceux sempre ouvir a câmara, a nobreza e o povo,
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embora sem prescindir da opinião do magistrado
competente.
23 A instrução destes processos, além de trabalhosa, requeria
estudo e reflexão. Por isso, os desembargadores relatores,
mediante requerimento ao tribunal, podiam reter os
documentos em seu poder para uma apreciação mais
detalhada20.

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24 Entre a intensa actividade do nosso desembargador,


incluíram-se certamente outras tarefas, como a participação
nos exames dos bacharéis e outros candidatos a ofícios na
área da justiça, a fiscalização do cumprimento das ordens
enviadas às câmaras através dos ministros territoriais, ou a
elaboração das consultas a apresentar ao monarca21.
25 A preparação de cada processo era sempre efectuada por
dois, às vezes três elementos. Nos documentos consultados,
identificámos, associadas às de Henriques da Silveira, as
assinaturas dos seguintes desembargadores: José Ricalde
Pereira de Castro; Manuel Pedroso de Lima; Manuel Nicolau
Esteves Negrão; José Bernardo da Gama e Ataíde; Alexandre
José Ferreira Castelo; José Joaquim Vieira Godinho; e João
Xavier Teles de Sousa.
26 O número de membros do tribunal oscilou, de 1750 a 1833
(ano da sua extinção), entre um mínimo de cinco e um
máximo de catorze membros22, sendo de doze no ano de
entrada do jurisconsulto estremocense. Este número
manteve-se até 1797; e em 1798 e 1799 baixou para onze23.
27 Enquanto Henriques da Silveira exerceu funções na
instituição, a Mesa foi presidida por Luís de Vasconcelos e
Sousa. Este filho segundo do 1° Marquês de Castelo Melhor
era doutor em Cânones pela Universidade de Coimbra. Antes
de ser nomeado, em 1790, para presidente do tribunal, havia
sido desembargador da Relação do Porto, agravista da Casa
da Suplicação, 12° vice-rei do Brasil e presidente do
Conselho da Fazenda24.
28
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Mas os outros contemporâneos do nosso memorialista no
Desembargo do Paço também prestaram serviços relevantes
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Coroa.
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29 Joséque
ceux Ricalde Pereira de Castro, promovido a desembargador
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do Paço em 1762, foi um colaborador destacado dos
reformismos pombalino e mariano. A partir de 1770,
integrou a Junta de Providência Literária, constituída em
Dezembro desse ano para lançar as bases da reforma da
Universidade de Coimbra, como atrás referimos. Em 1777,
coube-lhe a honra de proferir o discurso político na
cerimónia de levantamento e aclamação de D. Maria I. Em

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1783, foi nomeado chanceler-mor do Reino, tendo também


presidido ao Desembargo do Paço25.
30 Manuel Pedroso de Lima teve um percurso muito
semelhante ao de Henriques da Silveira. Ingressou na
carreira docente universitária em 1772, como lente de Leis e
responsável pela cadeira de Direito Natural, comum aos
cursos de Leis e de Cânones. Foi, como vimos, um dos
subscritores do Parecer do conselho de decanos, redigido
por Silveira (provavelmente com a sua colaboração), em
1785. Tomou posse de desembargador do Paço em 178926.
31 Manuel Nicolau Esteves Negrão fez a “leitura de bacharel”
em 1751. Em 1756, com António Dinis da Cruz e Silva e
Teodoro Gomes de Carvalho, concebeu e executou o projecto
da Academia Ulissiponense, no âmbito da qual executou
algumas composições poéticas. Em 1765 foi nomeado
superintendente do tabaco da cidade e comarca do Porto. Em
1771, ascendeu a desembargador da Casa da Suplicação e
ainda nesse ano a corregedor cível da Corte. Em 1780 era já
chanceler da Relação do Porto, cargo que a partir de 1782
passou a acumular com o de desembargador do Paço. Em
1805 foi nomeado chanceler-mor do Reino e deputado à
Junta de Administração do Tabaco, cargos desempenhados
com o exercício cumulativo de presidente do Desembargo do
Paço27.
32 José Bernardo da Gama e Ataíde foi corregedor da comarca
de Almada, juiz da Índia e Mina, desembargador da Relação
do Porto e desembargador e agravista da Casa da Suplicação.

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Em 1786 ascendeu ao Desembargo do Paço. E a partir de
1787, acumulou as funções neste tribunal com as de
Cedeputado
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Real Mesa da Comissão Geral sobre o Exame e a
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Censura
ceux que vous dos Livros28.
souhaitez
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33 Alexandre José Ferreira Castelo, antes de entrar, no mesmo
ano de António Henriques da Silveira, no Desembargo do
Paço, foi provedor dos órfãos e capelas de Lisboa,
desembargador da Casa da Suplicação, corregedor do cível e
depois do crime da Corte e chanceler da Relação do Porto29.
34 José Joaquim Vieira Godinho, doutorado em Cânones e lente
do curso de Leis, foi o primeiro catedrático da cadeira de

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Direito Pátrio, instituída pela reforma da Universidade. Em


1772, prestou juramento perante o Marquês de Pombal, na
altura da cerimónia solene de outorga dos Estatutos à
Academia (tal como provavelmente fizeram Henriques da
Silveira e Pedroso de Lima, igualmente nomeados no
primeiro grupo de novos professores). Foi deputado da Junta
da Administração do Tabaco, agravista dos Feitos da Coroa e
Fazenda na Casa da Suplicação, censor do Novo Código,
desembargador honorário do Paço em 1793 e desembargador
de facto a partir de 179530.
35 João Xavier Teles de Sousa foi desembargador da Relação do
Porto, agravista da Casa da Suplicação, juiz conservador da
Nação Britânica, corregedor do crime da Corte e deputado da
Junta da Administração do Tabaco, antes de ascender, em
1786, a desembargador do Paço, cargo que acumulou, a
partir de 1795, com o de deputado da Casa da Rainha31.
36 Outro contemporâneo de Henriques da Silveira foi Diogo
Inácio de Pina Manique. No entanto, este influente ministro
de D. Maria I já desempenhava altos cargos públicos, com
relevância para o de Intendente Geral da Polícia, quando, em
1786, ascendeu ao tribunal régio. Por isso, o decreto de
nomeação dispensava-o do “Exame de Papéis para propor
em Meza”, comparecendo só ao despacho da mesma Mesa e
apenas quando “os importantes Negócios” dos outros ofícios
o permitissem32. Por isso, nunca encontrámos a sua
assinatura associada à do colega transtagano.
37 A partir de 1756, em consequência das primeiras medidas

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centralizadoras de Carvalho e Melo, o Desembargo do Paço
perdeu o privilégio do acesso directo ao monarca. Passou a
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intermediários, primeiro, a Secretaria de Estado
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dosque
ceux Negócios do Reino; e entre 1788 e 1801, o Ministro
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Assistente ao Despacho, na altura o 12° Visconde de Vila
Nova de Cerveira, D. Tomás Xavier Vasconcelos Teles da
Silva. Havia, contudo, uma excepção: o cerimonial das
sextas-feiras santas, durante o qual a Mesa se dirigia ao Paço
Real, para receber o perdão régio para os presos e
condenados33 constantes de uma lista proposta pelo tribunal.

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38 E em 179334 e 179435 coube a António Henriques da Silveira a


honra de proferir, em presença do Príncipe Regente, a
“Oração” pela qual os desembargadores imploravam e
fundamentavam a “graça” da remissão das penas.
39 No texto de 1793, o autor, depois de contrapor a “clemencia”
à “crueldade” [p.1-6], invoca a fundamentação jusdivinista
do poder, para daí deduzir os direitos régios de “punir” e de
“agraciar” [p.6].
40 Formula em seguida duras críticas à Revolução Francesa,
provavelmente ainda impressionado pela recente execução
de Luís de XVI, a 21 de Janeiro desse ano e naturalmente
receoso das repercussões, em Portugal, da onda
revolucionária que então percorria a Europa. Nesse sentido,
contrapõe a “sãa filosofia” legitimadora daqueles direitos
magestáticos, à “falsa Filosofia (...) que arvorou o
Estendárte da Rebelião” e “perturbou a páz publica”,
pretendendo “estabeleser huma universál Anarchia” [p.7].
Condena o “Deismo” e o “absurdo sixtema da Igualdade”
[p.7]. E numa crítica implícita a Rousseau, considera “a
liberdáde do hómem selvaje (...) tão opposta á vida social,
como as Trévas o são da Luz”, defendendo, que “o mundo
(...) não se póde conservár, sem que nelle hája ordem, e
subordinação, e esta necessariamente supoem a
Dezigualdáde” [p.7]. Denuncia a “hipocrezia dos Filosofoz”
que “não podendo sofrêr a grandeza em que algus cidadãos
nescerão, ou invejando as riquezas, que a fortuna deu a
outros (...) reputão esta desigualdáde como oppósta à

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natureza (...), e para illudirem os homens menos
advertidos, lhes offeressem a Tassa do Mortifero Veneno
Cerebusádo
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o etlizomjeiro titulo de Liberdade” [p.8].
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Defende
ceux que vous que numa sociedade perfeita, os soberanos imitam
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“o perfeitissimo governo de Deos” [p. 9]. Por conseguinte,
devem adoptar um modelo de justiça moderado pela
“Mizericórdia”, tornando o “castigo similhante ao de hum
Pai que quando pune os dilictos do filho não o dególa, mas
somente procura emmendálo” [p.10]. E espera que deste
modo a soberania “exercite a sua Clemente Justiça” aos
“venturózos Reos” [p.11] propostos pelo tribunal.

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41 A Revolução Francesa, na sua fase inicial, foi encarada com


expectativa benevolente pela ilustração portuguesa36 e
europeia37, confiante no progresso geral e irreversível da
humanidade. Por isso o optimismo deste grupo de opinião
não esmoreceu perante a acção legislativa da Assembleia
Nacional Constituinte. Tais medidas descaracterizaram
profundamente a monarquia absoluta, ao aniquilarem
numerosos privilégios das ordens até então dominantes, bem
como a própria estrutura da sociedade tradicional. No
entanto, coincidiam com boa parte dos projectos reformistas
acalentados para os respectivos países, por esta opinião
pública esclarecida.
42 Porém, a partir de 1790, surgiram, nomeadamente em
Portugal, as primeiras decepções perante os excessos
revolucionários e a subversão total do Antigo Regime,
acompanhadas do receio do seu impacto social, não apenas
no plano da ordem interna como também no da segurança
externa do Estado.
43 Ora as transformações acalentadas por Henriques da Silveira
ao nível da sociedade e do poder circunscreviam-se na
estrutura política absolutista. O seu espírito racionalista,
defensor do primado da moderação nas relações entre
governantes e governados, repudiava, com compreensível
veemência, o novo rumo, violento e desestruturante,
entretanto seguido pelo evento inaugural da Idade
Contemporânea.
44 No texto de 1794 retoma o princípio da fundamentação

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jusdivinista do poder régio, para legitimar os direitos
magestáticos de castigar e de perdoar. Realça a importância
Cedosite exercício
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da justiça na preservação da soberania e na
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manutenção
ceux da ordem social. Retoma dois temas
que vous souhaitez
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frequentemente abordados na época e que desenvolvera
anteriormente no Racional discurso: a valorização do
trabalho agrícola, invocando a “necessidade do castigo” para
proteger, a par dos sectores sociais mais vulneráveis como as
viúvas, as donzelas e as crianças, “o benemerito Lavrador, o
honrado e util Camponez”; e a condenação da “occiosidade”,
geradora de todo o tipo de crimes (f. 1v.). Expressa as suas

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opções regalistas, na condenação implícita do tradicional


direito de asilo da Igreja: “As Divinas Letras mandavão
punir severamente aos malvados, e que fossem arrancados
do mesmo Altar do Senhor, para serem postos no Patibulo”
(f.1v.).
45 Defende, em nome da “sã filosofia” e da “boa razão”, a pena
capital para os “crimes atrozes que offendem a
tranquilidade do Estado” e “desafião a colera publica” (f.
1v.). E renova as críticas aos “Filosofos Modernos, desertores
da fé e apostatas da razão”, por considerarem esta pena
máxima “injusta e tyranica” (f. 1v.), omitindo qualquer outra
alusão ao filosofismo ou ao evento revolucionário que nele se
inspirou38.
46 Quanto o direito de “agraciar”, o Príncipe deve, na sua
opinião, aplicá-lo nos três casos “em que a Misericordia não
offender a Justiça”: quando os delitos não estiverem
plenamente provados; quando tiverem sido cometidos “no
calor de hua accidental e inopinada rixa”; ou ainda quando
“o reo os tem expiado em aspera prizão, tirando dos
passados trabalhos efficazes motivos para a sua emmenda”
(f. 2).
47 Descreve, em seguida, a “lastimosa situação” (f. 2) dos réus
para os quais implorava a clemência régia, e considera esta
“o mais bello ornamento da sua Corôa, e a melhor guarda
do seu Imperio” (f. 2v.). E tal como Sólon mitigara as leis de
Drácon, também o Príncipe devia, no seu entender,
“moderar o seu rigor”, compatibilizando o “interesse

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publico” com os “dictames do Christianismo”, e a “Justiça”
com a “piedade” e a “Clemencia” (f. 2v.).
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defesa dos etprincípios da moderação das leis, da
48 vous donne le contrôle sur
compatibilização
ceux que vous souhaitezda razão de Estado com os interesses dos
activer
vassalos e da humanização da justiça através da piedade e da
clemência, já aflorados na “Oração” anterior mas aqui
melhor aprofundados, enquadra-se nas mutações
introduzidas na teoria e na prática políticas do período pós-
josefino39.
49 Com efeito, ultrapassados os anos agitados da Viradeira,
caracterizados por alguma hesitação, a rainha conferiu uma

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nova imagem pública ao sistema político, ao manifestar uma


disponibilidade, até então inédita, de ouvir os súbditos. Tal
atitude, sem afectar a autoridade régia, permitiu o
prosseguimento do reformismo pombalino, embora em
moldes menos centralistas e mais liberalizantes.
50 A este novo estilo de governar, pautado pela moderação e
pela associação entre a clemência régia e o bem estar e
felicidade dos súbditos, correspondeu um novo discurso
político essencialmente protagonizado por dois juristas com
quem Henriques da Silveira conviveu de perto: o
desembargador do Paço José Ricalde Pereira de Castro e o
canonista António Ribeiro dos Santos.
51 O primeiro, no já citado auto de aclamação da rainha, sem
alterar a natureza nem o modo de exercício do poder régio,
introduziu um princípio novo: a participação dos povos no
processo de transmissão da soberania, acrescentando assim
princípios de direito humano aos tradicionais fundamentos
jusdivinistas40.
52 E o segundo, além de reiterar este envolvimento dos súbditos
na legitimação da sucessão41, defende ainda o seu direito a
serem ouvidos em cortes e deste modo, embora sem
partilharem o poder, influenciarem o seu modo de
exercício42. Além disso propõe o alargamento do conceito de
leis fundamentais43, bem como a codificação de disposições
regulamentadoras da economia, da educação, do
desenvolvimento científico, do povoamento, da polícia e
segurança pública, da religião e de outras áreas

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crescentemente afectadas à governação pela política de
reformismo estatal44.
53 Ce Ositediscurso
utilise des cookies et juristas, embora, em certos aspectos,
dos dois
vous donne le contrôle sur
aparentemente
ceux que vous souhaiteztradicionalista, traduz, na realidade, uma
activer
tentativa de ajustar a teoria política do absolutismo puro e
esclarecido às grandes transformações em curso. E as suas
propostas de valorização da sociedade (reflectidas nos dois
discursos e em outros textos do nosso autor), à qual, além
dos deveres tradicionais, são agora conferidos direitos,
contribuirá para a emergência de uma das traves mestras da
ideologia liberal – o conceito de soberania nacional.

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Notes
1. Cf. José Manuel Louzada Lopes SUBTIL, O Desembargo do Paço
(1750-1833), p. 32-39 e 247-318. T. FONSECA, Absolutismo e
municipalismo..., p. 115-121; 125-134; 141-163; 428-499.
2. Este importante diploma determinava a extinção das isenções de
correição e abolia as ouvidorias concedidas aos donatários com ou sem
isenção de correição. Simultaneamente, preconizava um novo
ordenamento do território, tendente a facilitar, pela sua racionalidade, a
implementação daqueles princípios. As dificuldades na sua aplicação
ficaram a dever-se às resistências senhoriais e até municipais, à referida
vastidão do território abrangido pelo diploma e à falta de um aparelho
técnico e burocrático capaz de implementar as suas determinações
reformadoras com a rapidez e a eficácia convenientes.
3. Cf. T. FONSECA, Administração senhorial..., p. 54-58.
4. Cf. J. M. L. L. SUBTIL, O Desembargo..., p. 192-194.
5. Cf. F. T. FONSECA, A Universidade de Coimbra..., p. 473-474.
6. Cf. J.M.L.L. SUBTIL, O Desembargo..., p. 60-61 e 325-328.
7. T.T./Chc. de D. Maria I, liv° 38, f. 178-178v.
8. Id., ibid., liv° 38, carta régia de 12-5-1791, f. 178v. Este título era em
regra conferido a todos os recém nomeados desembargadores do Paço.
9. Cf. J. M. L. L. SUBTIL, O Desembargo..., p. 321.
10. A 4 de Junho de 1791. Cf. Chc. de D. Maria I, liv° 38, f. 179.
11. Cf. F. T. FONSECA, A Universidade de Coimbra..., p. 478.
12. Cf. Chc. De D. Maria I, liv° 38, f. 178v.
13. Cf. M. A. RODRIGUES (dir.), Memoria professorum..., p. 102.
14. Cf. T.T./Chc. de D. Maria I, liv° 45, f. 73v.
15. Cf. J. M. L. L. SUBTIL, O Desembargo..., p. 240.

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16. Cf. T.T./D.P., – J.D.M., mç. 1523, despacho de 17-5-1793.
17. Cf. id., ibiud., mç. 1529, despacho de 7-1-1799.
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vous
18. donne le contrôle sur Henriques da Silveira despachou, de facto,
O desembargador
ceux que vous souhaitez
processos referentes a todo o país. Os do Alentejo são, no entanto, mais
activer
raros, sobretudo se referentes à comarca de Évora. São em maior número
os oriundos do Minho e de Trás-os-Montes. Mas desconhecemos se
esteve encarregado do expediente desta Repartição, ou se essa
predominância tem simplesmente a ver com a maior densidade
populacional do norte do país.
19. Cf. J. M. L. L. SUBTIL, O Desembargo..., p. 128.
20. Cf. id., ibid., p. 128-129.
21. Cf. id., ibid., p. 122-134.
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22. Cf. id., ibid., p. 61-62.


23. Cf. id., ibid., p. 62.
24. Cf. id., ibid., p. 70, 239-240 e 510.
25. Cf. id., ibid., p. 67-68 e 498. Zília Osório de CASTRO, “Poder régio e
direitos da sociedade no reinado de D. Maria I”, Ler História, no 23, p.
11-22.
26. Cf. J. M. L. L. SUBTIL, O Desembargo…, p. 510. F. de LEMOS,
Relação geral..., p. 56.
27. Cf. J. M. L. L. SUBTIL, O Desembargo…, p. 66-67 e 511. I. F. da
SILVA, Diccionario..., vol. 6, p. 69.
28. Cf. J. M. L. L. SUBTIL, O Desembargo…, p. 509.
29. Cf. id., ibid., p. 515.
30. Cf. id., ibid., p. 68 e 519. F. de LEMOS, Relação geral..., p. 57. J. E.
PEREIRA, O pensamento político..., p. 51.
31. Cf. J. M. L. L. SUBTIL, O Desembargo…, p. 508.
32. Cf. id., ibid., p. 68-69 e 506.
33. Cf. id., ibid., p. 208 e 210.
34. Oração recitada na prezença de Sua Alteza Real o Serenissimo
Princepe do Brazil Regente do Reyno no dia de sexta feira maior 29 de
Março de 1793. Pelo Dezembargador Antonio Henriques da Silveira.
B.P.E., (Res.), Cód. CX/1-4, no 31.
35. Oração que na Presença de Sua Alteza Real o Serenissimo Princepe
do Brasil, Regente do Reino, recitou no dia de Sexta Feira Maior 18 de
Abril de 1794 António Henriques da Silveira, do Conselho de Sua
Magestade e seu Dezembargo do Paço. B.P.E., (Res.), F. M., Ms, Cód. 36,
no9, 3-9.
36. Sobre as diferentes correntes de opinião portuguesas relativamente à

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Revolução Francesa, veja-se: Graça DIAS e José Sebastião da Silva DIAS,
Os primórdios da maçonaria em Portugal, vol. I, tomo I, p. 245-265 e
339-348. José Esteves PEREIRA, “Revolução Francesa e discurso político
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em Portugal (1789-1852)”, Ler História, no 17, p. 67-72. Júlio Joaquim da
vous donne le contrôle sur
Costa
ceux queRodrigues da SILVA, Ideário político de uma elite de Estado.
vous souhaitez
Corpo diplomático
activer (1777-1793), vol. II, p. 1041-1070.
37. Sobre, por exemplo, o posicionamento kantiano relativamente à
Revolução Francesa, veja-se Viriato Soromenho MARQUES, Razão e
progresso na filosofia de Kant, p. 469-493.
38. Apesar de ter proferido este discurso no período do “Terror”
revolucionário e do expansionismo militar da Convenção, que a Europa
absolutista tentava conter em várias frentes, numa das quais, a do
Rossilhão, combatiam milhares de soldados portugueses.

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39. Cf. J. J. da C. R. da SILVA, Ideário político..., p. 17-58.


40. Cf. Z. O. de CASTRO, “Poder régio...”, p. 15-18.
41. Cf. J. E. PEREIRA, O pensamento político..., p. 263.
42. Cf. id., ibid., p. 250.
43. Cf. id., ibid., p. 293.
44. Cf. id., ibid., p. 253 e 274-290.

© Publicações do Cidehus, 2003

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Référence électronique du chapitre


FONSECA, Teresa. 5. A acção no Desembargo do Paço In  : António
Henriques da Silveira e as Memórias analíticas da vila de Estremoz [en
ligne]. Évora  : Publicações do Cidehus, 2003 (généré le 14 décembre
2022). Disponible sur Internet  :
<http://books.openedition.org/cidehus/3263>. ISBN  : 9782821897205.
DOI : https://doi.org/10.4000/books.cidehus.3263.

Référence électronique du livre


FONSECA, Teresa. António Henriques da Silveira e as Memórias
analíticas da vila de Estremoz. Nouvelle édition [en ligne]. Évora  :
Publicações do Cidehus, 2003 (généré le 14 décembre 2022). Disponible
sur Internet  : <http://books.openedition.org/cidehus/3253>. ISBN  :
9782821897205. DOI : https://doi.org/10.4000/books.cidehus.3253.
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