Você está na página 1de 5

Lembrai-vos da mulher de Ló

Introdução: Todos nós estamos habituados com homenagens a grandes


personalidades que tem o seu nome em ruas, praças, escolas e até cidades. Algumas
são lembradas até mesmo com datas especiais. Todas essas pessoas realizaram
alguma obra ou lideraram alguma grande causa que de alguma forma mudaram o
mundo.

Quando Jesus disse a Seus discípulos que se lembrassem da mulher de Ló, ficamos
realmente surpresos. A razão pela qual é tão surpreendente é porque esta foi a única
pessoa registrada nas Escrituras que Jesus disse a alguém para se lembrar. Isso está
registrado em Lucas 17:32.

Ele não disse a eles para se lembrarem de nenhum dos patriarcas ou heróis da fé do
Velho Testamento. O Senhor queria que seus discípulos se lembrassem de alguém a
respeito da qual não sabemos quase nada.

Se o Senhor ordenou que nos lembrássemos dela, temos que nos perguntar: “O que
há para lembrar sobre essa mulher?” Nem mesmo o seu nome é mencionado.
Sabemos o nome da esposa de Abraão e sabemos o nome até da esposa de Naor
(irmão de Abraão), mas a esposa de Ló nunca é identificada.

Curiosamente, nunca lemos sobre ela em nenhum dos movimentos de Ló ao longo do


livro de Gênesis. Mesmo na conversa que Ló teve com os anjos que lhe diziam para
deixar a cidade de Sodoma, ela não é mencionada.

Ela aparece em uma única e breve imagem, sua fuga apressada de Sodoma. Gênesis
19:26 diz que “a mulher de Ló olhou para trás e converteu-se numa estátua de sal.”

Gostaria de mostrar a extrema relevância da ordem do Senhor para lembrarmos da


mulher de Ló. Quero realçar três aspectos.

1. O apego ao mundo
A primeira coisa que precisamos dizer é que Ló e sua família foram salvos da
condenação de Sodoma. Eles não foram condenados com o mundo.

Os anjos chegaram em sua casa em Sodoma e anunciaram que a cidade seria


destruída. Os anjos estavam ali para executar o juízo de Deus, mas em Gênesis 19:22
eles dizem para Ló: Nada podemos fazer enquanto você não tiver saído da cidade.

Naquele mesmo momento Abraão estava intercedendo por Ló e ele pergunta para o
Senhor: “Destruirá o justo com o ímpio?” (Gn. 18:23). Isso mostra que Ló era justo e
não podia ser condenado junto com os ímpios.
Tanto Abraão como Ló são chamados de justos no Novo Testamento (II Pe. 2:7-8).
Ambos foram justificados pela fé. Mas um crente justificado pela fé ainda pode viver
como derrotado. Ló e sua esposa não viviam no pecado de Sodoma e suas filhas
eram virgens. Tinham uma boa conduta.

Eles saíram de Sodoma, mas aconteceu que no meio do caminho a mulher de Ló


olhou para trás. Esse olhar aponta antes de tudo para o apego ao mundo. A mulher de
Ló certamente olhou para trás lamentando tudo o que havia deixado.

Um crente jamais sofrerá o juízo que virá sobre o mundo, mas ele pode sofrer a perda
do reino. A mulher de Ló tinha suas raízes muito apegadas a esse mundo.

Nós somos como o trigo que foi semeado neste mundo. Sabemos que o trigo está
maduro quando a espiga, o caule e as outras partes se encurvam. Isso significa que o
trigo está morto para o mundo, assim a sua raiz é facilmente arrancada da terra.

E, quanto mais a espiga amadurece, mais se encurva. Então, quando o fruto está
maduro, a foice pode ser lançada. Quando esse trigo é cortado, isso significa
arrebatamento. A condição para o arrebatamento é o desapego a esse mundo.

A Bíblia diz que Ló se demorava para sair da cidade. Ele certamente estava pesaroso
de perder tantas coisas, seus bens e propriedades. Os anjos então tiveram de arrastá-
los pela mão para fora da cidade.
Ao amanhecer, apertaram os anjos com Ló, dizendo: Levanta-te, toma tua
mulher e tuas duas filhas, que aqui se encontram, para que não pereças no
castigo da cidade. Como, porém, se demorasse, pegaram-no os homens pela
mão, a ele, a sua mulher e as duas filhas, sendo-lhe o SENHOR
misericordioso, e o tiraram, e o puseram fora da cidade. Havendo-os levado
fora, disse um deles: Livra-te, salva a tua vida; não olhes para trás, nem pares
em toda a campina; foge para o monte, para que não pereças. Gn. 19:15-16

Os anjos mandaram que eles fugissem para os montes. Esse era o lugar onde estava
Abraão, o lugar mais alto dos padrões espirituais. Abraão era justo pela fé, mas estava
nos lugares elevados. Ló era justo pela fé, mas habitava nos lugares baixos das
campinas de Sodoma. Qual dos dois justos queremos ser?

Ló foi como que arrastado para fora de Sodoma. Mesmo depois de ouvir o que Deus
faria ali ele demorou porque certamente estava apegado.

Precisamos ter muito cuidado para não ficarmos apegados a coisa alguma desse
mundo. Trabalhamos e ganhamos dinheiro, mas não somos apegados a isso. Somos
brasileiros, votamos e escolhemos políticos, mas tenha muito cuidado para isso não
se tornar uma paixão. Quando nos apaixonamos essas coisas se tornam o mundo.
O mundo não é um lugar, mas um espírito. De nada adianta nos fecharmos dentro do
prédio da igreja achando que estamos nos separando do mundo. O problema não são
as coisas em si, mas se o nosso coração está preso a elas.

O mundo é constituído de qualquer coisa que se torna tão ou mais importante do que
Deus em nossas vidas.

Todos reprovam se um homem se envolve na bebida e se esquece de Deus, mas


ninguém se importa se alguém se envolve na literatura, poesia ou política e se
esquece de Deus. Mas tudo isso é o mundo.

Nem sempre as coisas do mundo possuem a aparência feia do pecado.

O mundo é tudo aquilo que usurpa o lugar de Deus em nossas vidas. Como sabemos
se algo está usurpando o lugar de Deus? Vemos isso pelo nosso apego exagerado. O
que tenho visto nesses dias é um apego exagerado a política e ao patriotismo.

É interessante que Jesus disse que pais, mães, irmãos, parentes, esposas, filhos e
filhas podem ser o mundo para nós se deixarmos de fazer a vontade do Senhor por
causa deles (Mt 19:29, Mc. 10:29 e Lc. 18:29). Isso também se aplica a pátria.
Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem
ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim. Mt. 10:37

2. A Indiferença

O segundo significado da atitude da mulher de Ló de olhar para trás é a tentativa de


retroceder. Alguns colocam a mão no arado e depois olham para trás. Isso também
representa desatenção e descuido com a obra de Deus. Quando o lavrador olha para
trás os regos ficavam tortos e isso compromete a plantação.
Mas Jesus lhe replicou: Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para
trás é apto para o reino de Deus. Lc. 9:62

A ordem bíblica é que olhemos firmemente para o autor e consumador da fé. Isso não
é possível quando olhamos para trás. Aquele que olha para trás vai tropeçar
inevitavelmente.

A mulher de Ló desobedeceu a ordem expressa do Senhor e em vez de olhar para


frente e contemplar a salvação de sua vida, preferiu olhar para trás e contemplar a
destruição e a morte.
O mesmo aconteceu nos dias de Ló: comiam, bebiam, compravam, vendiam,
plantavam e edificavam; mas, no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu do
céu fogo e enxofre e destruiu a todos. Assim será no dia em que o Filho do
Homem se manifestar. Naquele dia, quem estiver no eirado e tiver os seus
bens em casa não desça para tirá-los; e de igual modo quem estiver no campo
não volte para trás. Lembrai-vos da mulher de Ló. Lc. 17:28-32

Todo o contexto da advertência do Senhor sobre a mulher de Ló trata do


arrebatamento. A volta do Senhor acontecerá em dois momentos, primeiro ele vem
para arrebatar os crentes vencedores e no final da grande tribulação ele volta para
reinar sobre a terra.

A mulher de Ló, assim como ele próprio, não foi condenada junto com os ímpios de
Sodoma. Mas havia algo nela que não fez dela uma vencedora.

A Bíblia fala que ela olhou para trás e se tornou em uma estátua de sal. É como o
povo de Israel que não foi condenado com o Egito, mas também não entrou em
Canaã.

Jesus disse em Mateus 5:13 que todo crente vencedor deve ser como o sal da terra.
Todavia, tal sal pode vir a se tornar insípido. A mulher de Ló é um exemplo de um
crente que se tornou insípido, perdeu o sabor e tornou-se derrotado.

O que significa tornar-se uma estátua de sal? É ser sal, mas um sal impuro que não
serve para dar sabor. É ser um sal misturado que se tornou insípido. No final é ser um
sal inútil, porque ninguém usa uma estátua de sal para salgar o alimento.

3. A embriaguez

Muitos dizem que a condição para ser arrebatado é apenas ter nascido de novo.

No entanto se a única condição para ser arrebatado é o novo nascimento, então não
faz sentido o Senhor mandar vigiar. Vigiar para quê, se já somos salvos?
Acautelai-vos por vós mesmos, para que nunca vos suceda que o vosso
coração fique sobrecarregado com as consequências da orgia, da embriaguez
e das preocupações deste mundo, e para que aquele dia não venha sobre vós
repentinamente, como um laço. Pois há de sobrevir a todos os que vivem sobre
a face de toda a terra. Vigiai, pois, a todo tempo, orando, para que possais
escapar de todas estas coisas que têm de suceder e estar em pé na presença
do Filho do Homem. Lc. 21:34-36

Precisamos vigiar para não ficarmos embriagados.


Quando o Senhor fala de orgia e embriaguez ele não está falando de bebida alcoólica.
Ele está dizendo que as preocupações desse mundo produzem um torpor semelhante
à embriaguez.

Perdemos a noção dos valores espirituais.

Por causa do que aconteceu no último domingo dezenas de irmãos choraram muito.
Alguns continuaram chorando.

Não sei se algum dia esses irmãos tiveram o mesmo encargo pela obra de Deus, mas
estão inconsoláveis por causa de uma eleição.

Eles acreditam mesmo que um homem poderia mudar o Brasil. Isso é embriaguez.

Todo crente precisa votar e participar da política, mas quando isso se transforma em
uma paixão torna-se a embriaguez a que o Senhor se referiu.

Precisamos vigiar porque as coisas desse mundo podem facilmente nos embriagar.

O dinheiro, a profissão, a carreira, a política ou até mesmo a família podem nos fazer
olhar para trás lamentando o juízo de Deus que certamente virá sobre as nações.

Você também pode gostar