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Copyright © 2021, Joane Silva

Revisão: Grasiela Lima – GL Editorial

Diagramação digital: Joane Silva

Capa: T.V Designer

Silva, Joane

O TUTOR

NÃO RESISTO A VOCÊ

SEMPRE FOI VOCÊ

PERFEITA PARA MIM

1ª Ed.

Brasília - DF, 2021


Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua

Portuguesa. Todos os direitos reservados.

É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de


qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive

por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da

internet, sem permissão de seu editor.

A violação de direitos autorais é crime previsto na lei nº.

9.610, de 19 de fevereiro de 1998.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares

e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor,

qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera


coincidência. Todos os direitos desta edição reservados pela autora.
O E-BOOK É COMPOSTO PELOS LIVROS: O TUTOR,
O SPIN-OFF NÃO RESISTO A VOCÊ, CUJO CASAL PRINCIPAL

NÃO É O MESMO DO LIVRO QUE O ORIGINOU, E OS CONTOS

SEMPRE FOI VOCÊ E PERFEITA PARA MIM.


SUMÁRIO

O TUTOR
PRÓLOGO

CAPÍTULO 1 FELIZ ANIVERSÁRIO

CAPÍTULO 2 RESPONSABILIDADE

CAPÍTULO 3 PRESENTE

CAPÍTULO 4 PEGO DE SURPRESA

CAPÍTULO 5 SANGRANDO

CAPÍTULO 6 PERDAS

CAPÍTULO 7 O TUTOR

CAPÍTULO 8 MUDANÇAS

CAPÍTULO 9 PAPAI

CAPÍTULO 10 SEUS BRAÇOS

CAPÍTULO 11 ENTREGA

CAPÍTULO 12 INTRUSOS

CAPÍTULO 13 ACERTOS

CAPÍTULO 14 NO LUGAR DO OUTRO

CAPÍTULO 15 PRATOS LIMPOS

CAPÍTULO 16 CASTIGO

CAPÍTULO 17 UM SÓ

CAPÍTULO 18 CUIDADO

CAPÍTULO 19 FOGO

CAPÍTULO 20 IMPLICÂNCIA
BÔNUS I

CAPÍTULO 21 ACADEMIA

CAPÍTULO 22 RAPIDINHA
CAPÍTULO 23 A RECEPÇÃO

CAPÍTULO 24 LEOA

CAPÍTULO 25 BURBURINHO

CAPÍTULO 26 SURPRESA

CAPÍTULO 27 TUDO O QUE PRECISO

CAPÍTULO 28 COMPROMISSO

CAPÍTULO 29 CHANTAGEM

CAPÍTULO 30 TIC TAC

CAPÍTULO 31 DISTANTE

CAPÍTULO 32 SEM SAÍDA

CAPÍTULO 33 SOZINHA

CAPÍTULO 34 SAÍDA

CAPÍTULO 35 ÁGUA FRIA

CAPÍTULO 36 FAZENDO AS PAZES

CAPÍTULO 37 DESCOBERTA

CAPÍTULO 38 PLANO

CAPÍTULO 39 CENA

CAPÍTULO 40 POR TELEFONE

CAPÍTULO 41 POR TRÁS

CAPÍTULO 42 FUTURO

CAPÍTULO 43 DESESPERADO

CAPÍTULO 44 CONFIDÊNCIAS

CAPÍTULO 45 TRUNFO

CAPÍTULO 46 FÚRIA

CAPÍTULO 47 OFICIAL

CAPÍTULO 48 NOIVOS

CAPÍTULO 49 TRAGÉDIA
CAPÍTULO 50 RESISTA

CAPÍTULO 51 POR VOCÊ

CAPÍTULO 52 DE VOLTA

CAPÍTULO 53 MATANDO A SAUDADE

CAPÍTULO 54 RELEMBRANDO

CAPÍTULO 55 CAINDO A FICHA

CAPÍTULO 56 PASSADO

CAPÍTULO 57 FRUSTRADO

CAPÍTULO 58 O GRANDE DIA

CAPÍTULO 59 FUGIDINHA

CAPÍTULO 60 COMEÇO FELIZ

CAPÍTULO 61 PARA SEMPRE

CAPÍTULO 62 UM VIBRADOR
EPÍLOGO

PERFEITA PARA MIM


CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6

NÃO RESISTO A VOCÊ


PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
CAPÍTULO 49
CAPÍTULO 50
CAPÍTULO 51
CAPÍTULO 52
CAPÍTULO 53
CAPÍTULO 54
CAPÍTULO 55
CAPÍTULO 56
CAPÍTULO 57
CAPÍTULO 58
EPÍLOGO

SEMPRE FOI VOCÊ


CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
SOBRE A AUTORA
O TUTOR
SINOPSE

Marina foi cercada de luxos e mimos desde o seu nascimento,


sempre usufruindo de uma vida aparentemente perfeita, isso até

que, em seus 17 anos, uma tragédia muda o rumo das coisas: a


perda de seu pai, a pessoa que ela mais ama e que a deixa sozinha
no mundo ao partir. E, para completar o pesadelo, a garota é

obrigada a viver sob a tutela de Erick Estevan, melhor amigo de seu


pai e de quem guarda antigas e profundas mágoas.

Erick vê seu mundo inteiro virar do avesso com a chegada da


responsabilidade de cuidar da filha de seu falecido melhor amigo.

Mesmo tendo sua vida inteira planejada, a adição inesperada não


seria um problema se não fosse o doentio desejo que sente pela

garota que viu crescer.

Marina é agora uma linda e proibida mulher que assombra


seus pensamentos e desperta os sentimentos que o homem tanto

luta para suprimir.

Na batalha entre obrigações e vontades, será a razão capaz


de definir o que é certo ou errado?
PRÓLOGO

— Erick... — sussurra e sua voz sai tão fraca que não deixa

dúvidas do quanto se esforça para se manter consciente.


Não durma, princesa.
Resista, mantenha esses lindos olhos abertos.
— Não faça esforço, meu amor — suplico, quando tenho

coragem para descer meus olhos mais para baixo e vejo uma
enorme mancha de sangue começar a se acumular bem próximo do

seu peito. No ato, minha garganta ameaça se fechar e meus olhos


se enchem de lágrimas.

O nó na garganta, o embrulho no estômago e as lágrimas que

não hesitam em cair são sinais claros do meu desespero por


imaginar perdê-la. Desespero por entender a gravidade do seu

estado e pelo medo de não ter Marina no futuro, um futuro que nem
sequer ouso pensar que possa existir sem ela.

— Vai ficar tudo bem, temos uma vida inteira para conversar —

digo para ela e para mim mesmo. Com as mãos trêmulas e tentando
não fazer movimentos bruscos, grito para alguns curiosos que

começam a se acumular à nossa volta: — A ambulância, porra!


Alguém, por favor, chama uma ambulância... — falo mais baixo e

não consigo segurar a emoção quando ouço minha preciosa gemer

em agonia e seu rosto ficar cada vez mais sem vida. — A minha
mulher, ela...
CAPÍTULO 1 FELIZ ANIVERSÁRIO

— Amiga! — Pulo de alegria e saio puxando Ângela pelo

braço, tirando-a do jardim da mansão que se encontra rodeada de


adolescentes felizes e bêbados. Nunca na vida o meu pai permitiria
bebidas alcoólicas aqui, mas com certeza algum engraçadinho

trouxe. A minha sorte é que seu João não gosta de festas assim e
as chances de ele sair do escritório e vir conferir como estamos são
de mínimas a inexistentes.

Para contextualizar melhor, hoje comemoro meu aniversário de


dezesseis anos e, igualmente aos anos anteriores, meu pai permitiu
que eu reunisse os meus colegas do colégio para me divertir. E aqui

estamos nós. Para onde se olha é possível vislumbrar pessoas

comendo, bebendo e se divertindo. Tudo sendo bancado por mim, a


menina mais rica e popular do colégio. Embora eu não queira

parecer convencida, sei o poder que tenho, seja pela minha beleza,

ou pela minha personalidade carismática e dominante, coisa que


nem sempre traz bons frutos. Não são poucas as ocasiões em que
sou alvo de meninos maliciosos e garotas invejosas que se sentem

ameaçadas por minha mera presença em uma conversa, porém,


não se engane sobre mim, apesar do que possa parecer e de eu

demonstrar isso em alguns momentos, não sou essa menina fútil e

vazia que todos pensam. Não dou a mínima para opinião que essas
pessoas têm ao meu respeito, aliás, tem somente uma pessoa que

me importa e é justamente ela quem, inesperadamente, acaba de

chegar para deixar minha festa mais interessante.

— Não estou acreditando! Olha só quem acaba de chegar. O


gostoso do Erick — digo, empolgada, ao avistar seu carro adentrar a

garagem.

— Ah, não, Marina! Por favor, não começa com isso! Qual o
seu problema? — Ângela me questiona, bufando e revirando os

olhos. — Eu não nego que ele é um cara lindo e sexy, basta um

único olhar para notar isso, mas você já está me assustando com

essa sua fixação por esse cara. Caia na real, amiga.

— Eu sei que tenho enchido sua cabeça com tudo isso, mas o

que eu posso fazer se o Erick é meu sonho molhado? Além disso,

para quem iria contar se não para minha melhor amiga? Não é

como se eu fosse sair por aí falando para qualquer um que tenho


uma tara por um cara que tem idade para ser meu pai e que, além
disso, é o melhor amigo do próprio.

Ângela suspira, me ignora e recomeça seu discurso de

sempre:

— Olha, sei que já te falei milhões de vezes os motivos pelos


quais isso nunca dará certo, mas vamos lá, porque parece que

minha linda melhor amiga é surda.

Reviro os olhos ao ouvi-la dizer a mesma ladainha de sempre,

tão conhecida que até sei de cor os argumentos dela. E ela

continua:

— Para começar, como você mesma disse: ele é tão mais

velho que tem idade para ser seu pai.

Eu a interrompo:

— O fato de ele ser mais velho não importa, não tenho


qualquer preconceito quanto a isso.

— Você é menor de idade, Marina! — lembra algo que eu não

esqueci e que tenho até um plano para isso: o conquistar ao ponto

de que ele me espere. São dois anos, mas se ele gostar de mim,
com certeza serão como dois dias.
Eu a ignoro e emendo:

— Olha só para ele, me diz se não é um tesão de homem —

argumento ao observá-lo sair do carro. Crispo os lábios, quase

hipnotizada.

— Não me interrompa, pelo amor de Deus — balbucia,

tentando não se distrair com a visão linda diante de nós duas. —


Continuando... Ele é o melhor amigo do seu pai, pelo menos isso

tem que ter alguma importância para você. E pelo que me falou, ele
frequenta essa casa desde que a senhorita ainda usava fraldas. —
Ângela faz uma cara de “estou certa, aceita” que eu odeio, mas o

pior é que nisso ela tem razão, porém, procuro jogar esse
pensamento para o fundo da minha mente. Não quero recordar que

ele ainda me enxerga e trata como a sua bonequinha, a filha do seu


melhor amigo. — O que me lembra o mais importante disso tudo:

você não tem chances com ele, Marina — joga os fatos na minha
cara. Nada que me abale, até porque isso nunca me impediu antes.
— Você mesma me contou que depois que começou a provocá-lo,

ele tem se comportado diferente, ou te ignorando ou te tratando


friamente, e eu sei que isso te machuca. Precisa entender, Marina,

que é muito provável que ele esteja agindo assim para te afastar,
afinal, quando você é só a filha do melhor amigo dele, tudo está
bem, não é mesmo? — ela questiona retoricamente. — É como

amiga que eu digo que você deveria parar com essa loucura de
seduzir um cara tão mais velho, principalmente sendo menor de

idade. Isso pode prejudicar ele e você, amiga. Além disso, eu temo
que saia machucada de verdade desse joguinho.

Por um momento, sinto o peso de suas últimas palavras e


engulo em seco. Não sei o que será de mim se ele realmente não

me quiser, pois eu não posso pensar na minha vida sem a sua


presença. Temo tanto o dia em que ele vai se aquietar e querer

formar uma família e, se for para levar em conta a sua idade, o


temido momento não está longe de chegar. Balanço a cabeça,
espantando os argumentos da minha melhor amiga e erguendo o

queixo, confiante da minha decisão e da paixão que sinto pelo Erick.


Se há uma coisa que sei nessa vida, é que eu não vou desistir do

homem que quero para mim sem ao menos lutar por ele.

— Obrigada pelos conselhos, amiga, mas estou careca de

ouvir tudo isso. Nada me importa além dele. O Erick vai ser meu e
não vou deixar ninguém atravessar o meu caminho. Sei que pensa
que é loucura, mas acho que ele tem sentimentos por mim, eu sinto

como seu corpo reage a minha presença apesar de ele negar.


— Marina, só não quero...

— Chega disso, Ângela — interrompo o reinício do discurso. —

Olha, lá vem ele! — Vejo-o vindo em minha direção e sinto um frio


na barriga.

“Se prepare, Erick, hoje você não me escapa. Vai ser meu.”

Sinto minhas mãos suadas e meu corpo trêmulo ao vê-lo parar

na minha frente.
CAPÍTULO 2 RESPONSABILIDADE

Assim que estaciono o carro, vejo Marina conversando com uma


amiga. Desço dele, o tranco e vou em direção a elas. No curto
caminho até as duas, penso se vou tratá-la normalmente ou manter

a distância que venho tentando impor entre nós dois. Há algum


tempo, sinto que Marina está tentando me provocar sempre,
ultrapassar um limite perigoso, por isso, decidi tentar outro

tratamento: passei a ser um pouco ignorante e frio com a menina


que praticamente vi nascer. Tudo isso tem sido muito tenso e
estranho. Resolvo voltar ao normal com ela, afinal, é seu

aniversário, e eu não sou um vilão maléfico para agir como um

estúpido hoje, embora não saiba se essa é a melhor decisão.

— Minha princesa, feliz aniversário. — Abraço a linda garota


que vi crescer. Parece que foi ontem que ela dava seus passos

cambaleantes em minha direção cada vez que eu aparecia na porta

de sua casa. A linda aniversariante sorri abertamente e sua amiga


me olha de uma maneira repressora, mas a ignoro, não querendo
confirmar minhas dúvidas sobre o sentimento de Marina por mim. —

Onde está seu pai? — questiono, já imaginando a resposta.

— Ele está no escritório... Veio por causa dele?

— Você sabe que não gosto de festas, né? Só vim hoje porque

seu pai me intimou, diz ele que tem um assunto urgente a tratar

comigo — justifico, observando sua reação decepcionada por saber


que não foi o motivo do meu comparecimento no seu aniversário. —

Ei! Não fica assim, amanhã você terá o seu presente. Não se

esqueça que combinamos ano passado que eu te daria um dia


ainda mais memorável neste aniversário. É o nosso dia especial,

lembra? E eu não sou homem de faltar com as minhas promessas

— tento tirar a expressão triste do seu rostinho de boneca. “Minha


boneca.” Pisco os olhos demoradamente, me sentindo péssimo por

saber que, talvez, eu também a veja diferente.

— Que alívio, Erick, achei que você tinha esquecido disso. —


Me abraça de supetão e sinto o meu corpo retesar quando ela beija

a canto da minha boca.

— Quantas vezes eu falei para você parar com isso, menina?

— Me descontrolo por ela ter repetido uma atitude que eu já disse

que precisa parar. Seguro seus braços, afastando-a de imediato.


Não gosto nada da inédita reação do meu corpo ao seu toque
malicioso. Parece que eu estava certo na minha indecisão se era a

melhor opção voltar a ser gentil com a filha menor de idade do meu

melhor amigo. Reforço isso para que meu corpo e mente entendam

bem essas características que fazem-na ser completamente

proibida para mim. “Meu Deus, eu não acredito que eu estou,

inconscientemente, desejando-a!” Me assusto ao notar que pensei


na possibilidade... Não! Não posso pensar nisso.

A verdade é que, há um ano, quando senti que os sentimentos

de Marina por mim estavam se transformando, eu decidi não dar

muita importância, até porque uma menina de quinze anos, com os

hormônios em ebulição, não ofereceria nenhum perigo para um


homem vivido e experiente como eu. No entanto, já faz alguns

meses que essa crescente fixação dela vem me causando

preocupações, o que é uma pena, já que a cada dia que passa sinto

como se estivesse pisando em ovos ao estar ao seu lado. O medo

de que qualquer ato meu possa parecer um sinal positivo aos seus

avanços tem me posto em uma posição irritadiça e estúpida diante


da menina.

A pior parte nisso tudo, é o fato de eu não ser totalmente

imune a sua presença. Sinto nojo de mim mesmo ao me pegar


olhando-a enquanto toma sol à beira da piscina ou quando reajo tão

grosseiramente as suas investidas. Que tipo de homem eu sou?


Sinto-me mal apenas em desconfiar que possa sentir tesão por uma

menina que praticamente vi crescer. Sem esquecer-se de


acrescentar o mais grave dessa história toda: ela é a filha menor de
idade do meu sócio e melhor amigo. Ou seja, isso tem que acabar!

Tenho que destruir essa ilusão da minha menina, ela não pode

pensar que está apaixonada por mim, ou ter a esperança de que


algum dia essa estranha relação entre nós se transforme em um

caso amoroso. Preciso me afastar dela. É isso, vou falar para o


João o que anda se passando entre a gente e pedir que ele, de
alguma forma, nos afaste sem que eu tenha que magoá-la ou feri-la

ainda mais com as minhas ignorâncias, que eu sei, são frutos do


medo de ceder a ela, por mais errado que isso possa ser. O que sei

é que, no fim, não suportaria machucá-la de verdade.

— Isso o quê? — diz e faz um biquinho inocente com sua


boquinha rosada. — Não posso te dar um abraço de parabéns?

Qual o seu problema? — indaga e faz cara de ofendida, como se eu


não conhecesse sua tática de sedução, tão sutil quanto uma

manada de elefantes em uma loja de cristais. Não que sua


imaturidade para o flerte ajude em algo na minha situação, pelo
contrário, sua inexperiência apenas me deixa mais possessivo com

ela. Não consigo imaginar qualquer um desses moleques cheios de


hormônios com as patas em cima dela.

— O problema, boneca, é que nós dois sabemos que isso não


foi apenas um abraço, pelo contrário, de inocente ele não teve nada

— digo, dando uma batidinha com o dedo indicador em seu


narizinho arrebitado. Ela dá de ombros e muda de assunto:

— Para qual lugar vamos amanhã, tio? — faz a pergunta


provocante. Nada que já não tenha feito antes; ela primeiro provoca

e depois me ataca lembrando nossa diferença de idade ao me


chamar de tio. — Nada de restaurante caro. Quero que seja algo
especial de verdade, um lugar só nosso — pede enquanto passa a

mão em meu peito por cima da camisa social. Ignoro o gesto.

— Não se preocupe com isso, meu anjo, apenas fique bem


linda que eu cuido do resto. — Nisso estou sendo sincero, pretendo
ter um dia agradável ao lado dela, até porque não sei como serão as

coisas entre nós depois disso. De qualquer forma, sei que preciso
me manter firme e fazê-la entender que esse lance nosso, seja lá o

que isso for, não pode continuar, é totalmente errado e inapropriado.


— Tudo bem — diz com uma animação contagiante. — Não
vejo a hora de ser logo amanhã.

— Ok, princesa, agora deixa eu falar com aquele velho


ranzinza — brinco, referindo-me ao seu pai, meu sócio e amigo mais

próximo. No caminho até o escritório do João, me pergunto a razão


de ele me chamar na sua casa em pleno domingo à tarde.

Ao entrar, encontro João sentado em volta de uma pilha de

papéis. Essa é a vida dele desde que sua esposa o abandonou


quando Marina ainda era um bebê. Argumentando ser ainda muito

nova para ficar presa dentro de casa, a megera foi embora sem nem
olhar para trás e desde então nunca mais ouvimos falar da criatura.
Espero que assim continue. Eu e João fizemos nossa princesa

acreditar que a mãe morreu quando ela era recém-nascida e nisso


ela acreditou até completar idade suficiente para querer saber o

motivo da morte da mãe. Sem saída, meu amigo acabou por


confessar o abandono. Como era ainda muito nova, Marina não

sentiu tanto a perda quanto sentiria se fosse mais velha, ela


simplesmente aceitou e nunca mais tocou no assunto.

— Será que nem no aniversário de sua filha você deixa os


negócios de lado, cara? — pergunto, mas não espero pela resposta.
— Acho que nosso escritório traz lucros mais que suficientes para
permitir que você desfrute um domingo com Marina.

— Acho comovente essa sua preocupação com minha filha,


Erick, sei que você gosta muito dela, mas acho que não preciso te

lembrar que eu sou o pai, certo?

Se ele soubesse a realidade da minha relação com sua filha,

não estaria enciumado com a ideia de que quero tomar seu lugar de
pai.

— Eu sei, meu amigo, até porque não tenho idade para ser pai

dela — brinco para descontrair o ambiente. É claro que tenho idade

para isso, tenho trinta e cinco anos, cinco a menos que ele.

— Sem gracinhas, Erick, o assunto aqui é sério.

Olho em seus olhos e começo a me preocupar com o que vejo

neles.

— O que seria tão sério que fez você me tirar de casa em


pleno domingo à tarde? — indago, já aguardando a bomba.

— Você sabe que desde que a Cristina nos abandonou, a

única pessoa que eu e minha filha temos é você. — Isso é verdade.

João não confia em muitas pessoas, não depois do que sua esposa
fez. Eu sou o mais próximo de família que eles têm e sei que ele

confia em mim.

— Sei sim, meu amigo, mas diga logo o porquê disso aqui.

— Não é nada de mais — diz ele. — Eu apenas estive

pensando em algo e percebi que minha filha não pode ficar

desamparada, caso algo me aconteça antes dos seus vinte e um


anos.

— Você nunca pensou nisso, meu amigo, porque tem a saúde

de ferro e vai viver por mais uns sessenta anos.

— Pode ser, Erick, mas eu não posso arriscar assim com a


vida dela, entende?

Compreendo sua preocupação, sei que apesar de viver

trabalhando, meu amigo ama muito sua filha.

— Claro que te entendo, e onde eu entro nisso tudo? — Tenho


medo da resposta.

— Quero que você me prometa cuidar dela caso algo me

aconteça e eu vier a lhe faltar. Preciso saber que minha menina não

estará sozinha. Faz isso por mim, Erick?

Olho para ele sem acreditar no que acabei de ouvir.


— Pare de falar besteiras, homem, nada vai te acontecer. Você

mesmo cuidará da Marina até que ela se torne independente.

— Quero que me prometa só isso, do resto eu cuido. — Vejo

seu olhar suplicante. O que está acontecendo com ele?

— Eu prometo, João, cuidarei dela com a minha própria vida

se um dia ela precisar. E vamos mudar essa conversa, porque não

tem nenhum sentido, você tem saúde para dar e vender. Vai, saía

daí. Vamos nos divertir um pouco com aqueles garotos lá fora.

Inferno, vim disposto a contar-lhe como andam as coisas entre

mim e sua filha e acabei com uma promessa de cuidar da própria.

Espero que isso nunca aconteça. Pelo visto, eu mesmo terei que

tomar minhas providências para afastá-la.


CAPÍTULO 3 PRESENTE

— Éhoje, Brasil! — Pulo da cama logo cedo. É hoje que Erick vai

conhecer a verdadeira Marina. Não que eu espere que ele vá beijar


minha boca e declarar amor eterno. Posso ter acabado de completar
dezesseis anos, mas a falta de noção característica da maioria dos

adolescentes não faz parte da minha personalidade. Tenho


consciência da minha idade e do fato dele ser um homem maduro,
de trinta e cinco anos.

Preciso fazê-lo entender que os sinais mandados durante


esses meses não são uma ilusão, ou apenas joguinhos de uma
adolescente deslumbrada pela ideia de se relacionar com um

homem mais velho. Quero apenas deixá-lo consciente da

veracidade do que sinto, anseio que me dê a esperança de um dia,


quando a barreira da diferença de idade não tiver um peso tão

grande, possamos nos relacionar da forma que sonho desde meus

quinze anos. Não quero que ele me veja como uma menina boba, a
filha do seu melhor amigo, e sim como a mulher que será a mãe dos

seus filhos.

Já que madruguei, dedico as primeiras horas da manhã para


ficar linda para o encontro. Sei que há a chance de ele ainda não ter

notado que eu cresci e que apesar da minha idade, meu corpo e

minha mentalidade estão bem à frente dos meus dezesseis anos. A


verdade é que sei as possíveis consequências de um envolvimento

com Erick, entendo que o fato de eu ser mais nova e menor é algo

complicado e problemático, mas sinto que posso fazê-lo feliz e, além


disso, agora só faltam 729 dias para que eu seja maior de idade e

para que essa diferença não seja mais algo errado diante da

sociedade.

Balanço a cabeça, espantando esses pensamentos mais

sérios e buscando uma roupa bem ousada e, na verdade,

teoricamente pouco recomendada para uma adolescente. No rosto,

a maquiagem escolhida em nada lembra o rosto da criança que

Erick insiste em enxergar. Tenho certeza de que seria facilmente


confundida com uma mulher de no mínimo vinte anos.

Que bom! É isso que eu quero.


Preciso que ele vislumbre minha imagem aos dezoito; que
entenda que não serei para sempre uma adolescente. Algum tempo

depois, me olho no espelho e constato que com certeza posso atrair

a atenção do melhor amigo do meu pai.

— Erick! — Quando ouço passos no andar debaixo e lembro

que papai não está em casa, desço as escadas correndo ao


encontro de Erick. — Eu estava em cólicas te esperando — digo ao

lhe tascar um beijo no pescoço. Vejo o embaraço em sua face e

sorrio. Primeiro ponto para Marina!

— Oi, princesa! Eu prometi que vinha, não foi? — Isso é

verdade. Esse tem sido nosso ritual desde que me entendo por

gente. Como não é lá muito chegado a festas como as minhas, ele


deixa para comemorarmos meu aniversário no dia seguinte. Sempre

atencioso, prepara uma surpresa diferente todos os anos; além dos

presentes especiais, que guardo como tesouros em meu quarto. —

Espero que esteja preparada para o passeio, minha linda. Tenho

certeza de que será inesquecível — fala num tom convencido. O

que não deixa de ser verdade, já que, provavelmente, seja ele a


segunda pessoa que mais me conhece. A primeira é papai.
Depois de um longo trajeto, chegamos em uma linda reserva

florestal. Há árvores enormes por todos os lados; a grama verde e


bem aparada dá uma aparência cuidada ao local e, ao ficarmos em

silêncio, é possível ouvir o barulho da cachoeira ao fundo.

— Que lugar lindo, Erick. — Lhe abraço, emocionada. — Isso

aqui é o paraíso. Muito obrigada por me apresentar.

— Por nada, princesa. Você sabe que te conheço o suficiente

para saber que prefere vir aqui a ter que ir a um restaurante


sofisticado.

— Tem razão. — Abro os braços e inspiro o ar puro do local. —


É disso que eu gosto. A simplicidade da natureza; a grama úmida

sobre meus pés, o barulho da cascata. — Fecho os olhos e sinto o


vento balançar meus cabelos.

— Então venha, princesa. — Me puxa. — Olha aquilo ali. —


Aponta para um local um pouco mais adiante.

Quando avisto a surpresa, entendo o porquê de o amar tanto.


Ali, sobre a grama fresca, repousa uma toalha xadrez em tons de

azul e branco. Sobre ela estão diversos tipos de alimentos, que vão
desde pequenos pedaços de bolos, acompanhados de jarras de
sucos, até diversos tipos de doces. É comida para um batalhão. No
entanto, o que mais chama a minha atenção no cenário são os

vasinhos de girassóis que o enfeitam o local. Até nisso ele prestou


atenção.

— Você não existe. De todas as surpresas que já fez, essa


está sendo a mais linda. Obrigada — digo deslumbrada com sua

iniciativa, pois, sei que não gastaria seu precioso tempo preparando
isso para alguém que não fosse importante em sua vida.

— Espero que goste do nosso café da manhã. Como não sei


se ainda gosta das mesmas coisas de antes, trouxe um pouco de

tudo — justifica-se.

— Está perfeito. Vamos? — Seguro sua mão, indo em direção

ao nosso piquenique. Hoje sinto-me feliz, como não me lembro de


ter estado um dia.

E assim ficamos durante várias horas. Depois de comermos,


saímos explorar o paraíso. Sentamos em cima de uma pedra e
passamos um tempo conversando sobre nossas vidas. Descubro

com um imenso alívio que ele está solteiro. Não que eu acredite que
isso seja uma verdade absoluta. Sei que tem seus casinhos

descompromissados. Erick é um homem viril que provavelmente


não vive sem sexo. Também lhe conto que pretendo ser fotógrafa e
que possivelmente iniciarei um curso profissionalizante em alguns
dias, coisa que tanto ele quanto papai entenderam muito bem. Até
porque, é difícil imaginar-me trancada durante horas em um

escritório de advocacia, assim como eles fazem. Eu respeito muito a


profissão e o império que construíram, apenas não quero o mesmo

para mim.

Durante todo esse tempo, sinto ele relaxado como nunca

antes. Nesses momentos, sinto como se nossas diferenças não


existissem, como se falássemos de igual para igual e não como um

homem e uma adolescente.

Já no final do dia, por volta das 18h, voltamos de mãos dadas


para onde fizemos nosso piquenique.

— Nossa, estou exausta — digo ao sentar com as pernas

cruzadas na toalha xadrez. — Mais uma vez, obrigada, Erick. Esse


com certeza será lembrado como um dos melhores dias da minha

vida.

— Isso não foi nada perto do que seria capaz de fazer por
você, princesa. E tenha calma que a verdadeira surpresa ainda não

chegou — diz, discando em seu celular. — Pode trazer, Jorge —


pede misteriosamente para o motorista.
— Trazer? O que você está aprontando?

— Calma, menina. Deixa de ser curiosa. Olha lá, seu presente

está vindo. — Olha na direção de Jorge, que se aproxima com uma


caixa pequena nas mãos.

— Aqui está, patrão. — O motorista entrega a caixa.

— Obrigado, Jorge. Pode voltar para o carro. — Sorri para o

motorista, que caminha de volta para onde veio. — Espero que

goste. — Entrega-me a caixa, que não pesa quase nada e tem


vários buraquinhos na tampa.

— Que coisa fofa, Erick! — digo ao tirar um lindo filhote de

gatinho da caixa. — Meu Deus, que amor. — Beijo a cabecinha do


presente mais lindo do mundo. O animalzinho é pequeno e tem a

pelagem branquinha como a neve. Os olhos são azuis como o céu

em dia limpo.

— Gostou? Quis te presentear com algo que ainda não tinha e


que tivesse um valor especial para mim e você, minha linda. — Olha

intensamente em meus olhos ao acariciar a cabecinha do nosso

filho.

— ‘Tá, mas não pense que serei mãe solteira, não. Você
também terá responsabilidades com ele, já que será o pai.
— Pai? — diz, surpreso.

— Sim. Pai — digo, divertida. — Está vendo, Floquinho de


Neve? Sou mamãe e esse homem com cara de mau é seu papai.

Levanto o olhar e ele retribui de forma intensa. O clima que se

instala entre nós é quase palpável. Não conseguindo conter os

sentimentos sufocantes, aproximo-me mais um pouco e falo sem


pensar:

— Eu te amo, Erick...
CAPÍTULO 4 PEGO DE SURPRESA

— Eu te amo, Erick — diz olhando em meus olhos, bem próxima.


Fico momentaneamente lhe encarando sem reagir. Apesar de saber

das ilusões que ela vem tendo sobre nós dois, ouvi-la dizer assim,
tão diretamente, me assusta como o diabo.
— Eu também te amo, princesa — digo, passando a mão em
seu rostinho angelical. — Você é como se fosse minha família. Seu

pai é um irmão e você é praticamente minha sobrinha — minto


sobre a ver como minha sobrinha, pois embora eu deseje muito
conseguir enxergar Marina assim, não há como.

— Não sou sua parenta, está me entendendo? — diz,


enfurecida, tirando bruscamente minhas mãos do seu rosto. — Não

sou uma criança e muito menos sua sobrinha. Sou mulher formada,
será que você não percebe isso? — fala, emotiva, em mais uma

rápida mudança de humor, característica marcante de uma

imaturidade nada incomum em meninas da sua idade.


— Para mim, você sempre vai ser aquela garotinha que vi

crescer — minto. Já não a vejo assim há algum tempo, pois, embora


ainda não seja maior de idade, ela não parece mais a menininha

que eu via correr pela casa.


Para ser bem sincero, Marina tem deixado meu sangue quente

apenas por respirar ao meu lado, fato que não tem me deixado

dormir à noite. Sinto-me sujo a cada pensamento impuro que tenho


ao seu respeito.

— Garotinha? Então que tal isso? — pergunta ao abrir os

botões de sua camisa, que outrora ostentava um decote pouco


discreto. — Isso te parece adulto o suficiente? — pergunta ao

terminar de desabotoar os botões e abrir as duas partes da blusa.

No mesmo instante, sinto o fôlego me faltar. Diante dos meus olhos


está a constatação final de que ela realmente cresceu. Escondidos

sob o sutiã de renda preta estão seus lindos seios, que têm o
tamanho ideal para serem segurados em minhas mãos. Eles

ostentam algumas pequenas sardas que fazem minha boca salivar

por vontade de beijar e lamber cada sinal exposto.

Foco, Erick! Foco.

— Qual é o seu problema? Ficou louca? É assim que você age

nas festinhas com seus amiguinhos? Mostrando o corpo como uma


vadia? — digo e sinto o forte tapa de sua pequena mão em meu

rosto. Ao ver seus olhos marejados me encarando, percebo que


exagerei em minhas palavras, que lhe faltei com respeito. A única
justificativa que tenho para essa atitude exagerada é o fato de o

ciúme me corroer por dentro somente por imaginá-la fazendo isso

com outros. Não quero que ninguém ponha os olhos compridos

nela. Sei que isso não é certo, pois não tenho intenção de me

envolver com ela, porém, essa é uma coisa que não consigo

controlar.
— Nunca mais me ofenda dessa maneira. Você não tem ideia

do que está falando. Não entende que eu te amo? Me magoa muito

ouvi-lo falar assim. Eu sou uma mulher e quero ser sua mulher —

diz e coloca as duas mãozinhas em meu peito, indo direto ao ponto.

— Não, você não me ama. Isso aí é apenas coisa da idade,

daqui umas semanas estará apaixonada por um garotão, nem

lembrará desse velho aqui. — Sinto uma dor apenas em imaginar


isso acontecendo, não quero pensar nela com outro.

— Isso nunca! Para mim só existe você. O que sinto não vai

passar. Sei que moralmente não podemos ter nada agora sem

sofrer julgamentos, mas queria que prometesse me esperar.

Quando eu for maior, nós poderemos ficar juntos como um casal —

pede com os olhos em expectativa.


— Já disse que não. Para com isso, menina. A idade é o de

menos, afinal, você vai envelhecer. O que eu não quero é trair a


confiança do meu amigo. Jamais me perdoaria se perdesse a

confiança do seu pai — digo, tirando suas mãos do meu peito.


— Esquece isso, Erick, ninguém precisa saber, só a gente —
diz com o rosto tão próximo que sinto seu hálito doce.

— Marina, eu... — Seguro seus ombros, na tentativa de afastar


seu calor sedutor.

— Não pense, Erick, apenas sinta — sussurra, segurando


minha cabeça e colando sua boca na minha.

É nesse momento que sinto minha vida sair de foco. De


repente, sem ao menos esperar, vejo-me com os lábios colados na
garota que vi de fraldas, minha menina. Que Deus me perdoe, mas

que boquinha gostosa.


Se a sensação de ter seus doces lábios juntos aos meus é

indescritível, imagina como seria tê-la por inteiro sobre meu corpo.
Sinto ela meio insegura ao movimentar a boca desajeitadamente, o

que faz meu pau subir a meio mastro, somente pela a certeza de
que nem ao menos sua boca pertenceu a outro homem. Sou o
primeiro e que Deus tenha piedade de mim, mas quero ser o

primeiro em tudo. Ensiná-la a me dar e receber prazer.


Já ao ponto de perder completamente o controle, em vias de

arrastá-la rumo ao local mais reservado do parque, decido tomar as


rédeas da situação. Separo sutilmente nossas bocas e, olhando em

seus olhos anuviado de desejo, digo:


— É assim que se faz, bebê. — Colo novamente nossas bocas

e vou entreabrindo seus lábios macios com a ponta da minha língua,


até tê-la completamente dentro e, assim, com movimentos lentos e
calculados, consigo-a totalmente entregue. Timidamente, Marina

começa a imitar meus movimentos, passando a sugar minha língua


para dentro de sua pequena boca.

E nisso, não sei quanto tempo se passam, se são segundos,


minutos ou horas. Quando dou por mim, nós dois estamos nos
agarrando no meio do parque, como dois loucos, em uma confusão

de dentes e línguas que seria descrita como atentado violento ao


pudor por uma pessoa mais conservadora que nos visse assim. O

filhote? Não sei onde foi parar. Só sei que nos braços dela não está,
já que tem suas mãos ocupadas em tentar arranhar minhas costas

com suas unhas afiadas. A parte mais alegre na minha anatomia


encontra-se sufocada entre nossos corpos tão juntos quanto é
humanamente possível.
“Minha nossa, preciso entrar nela, preciso marcá-la como
minha”, penso ao soltar sua boca e dar pequenos beijos e lambidas
em seu pescoço perfumado.

— Vamos sair daqui, Erick, preciso de você... — diz rouca de


tesão. — Me faça sua, sei que você quer isso.

Quero, quero muito isso. É tudo o que eu mais quero neste


momento...
Espera um pouco, eu estou mesmo caindo na armadilha de

uma adolescente? Ela está claramente tentando me seduzir; e eu,


fraco como sou, quase me deixei esquecer as razões disso ser

errado e sucumbi ao desejo.


— Não, para com isso. Não podemos continuar. Me perdoe e

esqueça o que ocorreu aqui — digo, virando-me de costas. Ela não


pode perceber o quanto está sendo difícil falar isso.
— Para de mentir para mim e para você mesmo. Eu sei o que

senti nesse beijo e em seu corpo, Erick. Vi que me deseja tanto


quanto eu te quero.

— Não, foi apenas um momento de fraqueza que não vai mais


se repetir.
— Mentira, você está mentindo. — Abraça-me por trás,

deitando sua cabeça em minhas costas. Tremo com medo dela


sentir as batidas frenéticas do meu coração, que entregam meus
verdadeiros sentimentos.
— Para com isso, menina, não quero te magoar. — Solto suas

mãos da minha cintura e viro-me para encarar seu rosto. — Você


precisa de um rapaz da sua idade e não de um homem que não

pode te dar o que você procura. — Deus! Como me machuca dizer


isso. Meu coração parte ao ver seus olhos marejados.
— Não acredito em você, seu corpo não mente — fala,

maliciosa, olhando minha ereção. — Me leva daqui, sim? Quero que

seja meu primeiro e último homem — diz, agarrando-me novamente


e tentando me beijar outra vez.

— Já chega. — Seguro seus pulsos firmemente. — Eu quis

fazer isso da melhor forma, mas você não me dá outra escolha. —

Sofro com o que virá a seguir. — Eu não te quero, está me ouvindo?


Acha mesmo que eu me prenderia a uma pirralha mimada como

você? Eu posso ter a mulher que eu quiser e não me contentaria

com a filha do meu amigo que ainda fede a leite — cuspo


cruelmente. — E sabe do que mais? Eu nunca gostei realmente de

você. Sempre tive pena da pobre menininha rejeitada pela mãe.

Você me cansa... — despejo, até ser interrompido por um novo tapa


no rosto.
Em seus olhos, vejo uma dor que não sei se um dia

conseguirei esquecer. Eles se esvaem em lágrimas e, pouco a


pouco, vão mudando para uma frieza que me assusta.

— Entendi, Erick — diz pausadamente ao limpar o rosto. —

Finalmente me fez enxergar. E não se preocupe, nunca mais será


obrigado a olhar para uma pessoa que tanto detesta.

— Como assim nunca mais? — indago, confuso. Vira-me as

costas, indo em direção a entrada do parque, mas não sem antes

pegar o filhote na grama. — Volte já aqui, porra! — grito, porém, não


tenho resposta. Ligo imediatamente para o meu motorista. — Jorge,

Marina acabou de sair do parque. Vá atrás dela, por favor. Não a

perca de vista. Certifique-se de que ela vai chegar em segurança


em casa. — Desligo a chamada e me questiono sobre o que

aconteceu aqui. Estraguei tudo e ainda a magoei. — Meu Deus, o

que foi que eu fiz?


CAPÍTULO 5 SANGRANDO

“Eu não te quero, está me ouvindo? Acha mesmo que eu me


prenderia a uma pirralha mimada como você? Eu posso ter a mulher
que eu quiser e não me contentaria com a filha do meu amigo que

ainda fede a leite. E sabe do que mais? Eu nunca gostei realmente


de você. Sempre tive pena da pobre menininha rejeitada pela mãe.
Você me cansa...”

Coloco as mãos nos meus ouvidos, na fracassada tentativa de


calar a voz cruel de Erick que ainda ressoa na minha cabeça. Meu
Deus, como pude ser tão burra? Me iludi ao ponto de não notar que

além de não me querer como mulher, ele nunca gostou de mim.

Sempre me viu como a pobre menina sem mãe.


Corro até sentir uma mão me segurar pelo ombro. Olho para

trás, com a tola esperança de ele ter vindo falar comigo.

— Senhorita, o patrão pediu para levá-la em casa. Entra no


carro, por favor — o motorista pede com o olhar suplicante. Aperto

Floquinho em meus braços, buscando segurança.


— Não, eu não vou entrar nessa porcaria. E faça um favor

para mim? Manda-o ir se foder e diga que nunca mais me procure.


Acabou! — sentencio duramente, antes de ver um táxi se

aproximando. Dou sinal ao taxista e entro no automóvel, deixando

para trás esse capítulo da minha vida.

— Que filho da puta — esbraveja Ângela, depois de ouvir tudo

o que Erick me falou.


— A culpa é minha, amiga. Eu que não devia ter me iludido

dessa forma. Burra, burra, burra. — É assim que me sinto. Meu

coração está sangrando com as coisas duras que ouvi dele. Esse

homem não é o mesmo que conheço e aprendi a amar quando nem

mesmo sabia andar. Lembro-me das tardes de domingo quando, no


auge da minha inocência, saia correndo ao seu encontro. Quando

ele amorosamente me dava toda a atenção possível. Imagino que

deve ter tido uma paciência invejável com a criança pegajosa que

devo ter sido.


E tudo isso para que? Para depois de tantos anos descobrir da
forma mais cruel que nada disso foi me dado espontaneamente, que

cada carinho dado a mim foi fruto de um sentimento de pena. Choro

mais ainda ao relembrar.

— Para já com isso, Marina. Sei que deve estar doendo muito,

mas você não pode ficar chorando por esse homem escroto.

Homem não, moleque! Como ele teve a cara de pau de despejar em


você tanta crueldade?

— Não fale assim, Ângela, ele simplesmente teve a coragem

de abrir o coração e falar o que pensa. Imagina o quão difícil deve

ter sido aguentar uma pessoa como eu durante todos esses anos —

deprecio-me como só uma pessoa que acabou de ser rejeitada é

capaz de fazer.

— Cala essa boca, Marina. — Furiosa, minha amiga levanta da


minha cama, onde nos largamos quando ela chegou, depois de eu

ligar chorando e pedindo para que ela viesse me ver. — Para de se

colocar para baixo. Você é linda, amiga. Será que não percebe isso?

Olha como ficam os caras do colégio quando estão na sua frente!

Se ele não consegue ver a mulher maravilhosa que está perdendo,

o problema é dele, está me ouvindo? — Ouvir minha amiga é


sempre um conforto. Dona de uma beleza natural, Ângela tem a seu
favor o fascínio que me acusa exercer sobre os garotos do colégio.

E se tem uma pessoa que merece ter o melhor dessa vida, essa
pessoa é a Ângela.

— Obrigada, amiga. — Sento-me para tentar secar as lágrimas


que insistem em continuar descendo. — Não sei o que faria sem
você. Muito obrigada. Te amo. — Dou-lhe um abraço, emocionada.

— Para de ser boba. — Afasta nossos corpos a fim de secar


meu rosto. — Sabe o que você precisa? Sair desse quarto e curtir

uma balada. Vamos ficar bem gostosas e pegar uns gatinhos, quem
sabe não é hoje que você tira a teia de aranha dessa periquita.

Solto um risinho ao ouvi-la. Só Ângela mesmo para me fazer


sorrir em um momento como esse.
— Tudo bem, sua doida, deixa eu escolher um look aqui. —

Estou dirigindo-me ao closet quando ouço alguém bater na porta do


meu quarto. — Pode entrar — grito, distraída.

— Sou eu, senhorita. — Escuto a voz de Márcia, minha antiga


babá e agora governanta da casa.

— Oi, Bá, aconteceu alguma coisa com papai? Ele está bem?
— pergunto, preocupada.
— Não, minha menina, seu pai está bem — diz, apreensiva.

— Então o que houve, Bá? — indago, confusa.


— O senhor Erick está lá embaixo e pediu para falar com a

senhorita.
Agora entendi sua apreensão. Márcia certamente deve ter

visto meu desespero ao chegar do passeio com ele. A governanta


sai e me deixa a sós com minha amiga.

— E agora, Ângela, o que eu faço? — pergunto, incerta do que


quero.
— Não, não se atreva a descer, Marina — se apressa em

dizer. Afinal, acabei de encher sua cabeça com minha desilusão.


Eu queria ser forte como ela, pena que não sou. A verdade é

que enquanto estou aqui lhe questionando sobre como devo agir,
meu tolo coração toma a dianteira e decide por mim. E mais uma
vez meu lado racional leva a pior nessa disputa.

— Desculpe, amiga, mas eu tenho que descer e falar com ele


— digo, me sentindo culpada, pois sei que ela não aprova minha

atitude, não depois de ter dito tudo que aconteceu entre mim e ele.
— Essa é a última vez, prometo!

— Vai logo, sei que não vai adiantar eu falar para não ir.
— Volto num instante e a gente sai. — Dou um beijinho no seu
rosto.
Saio correndo pelo corredor que dá acesso às escadas,
diminuindo o ritmo ao alcançar os primeiros lances. Não quero que
ele pense que estou ansiosa para vê-lo.

— O que que quer aqui, Erick? Acho que já falamos tudo o que
tinha para falar, não? — digo assim que alcanço o último degrau.

Assustado, Erick vira de frente e me encara firmemente.


— Vim saber se você está bem. Me desculpe por tudo que
disse, não foi minha intenção magoar você.

Ele só pode ser bipolar, não é possível que depois de tudo que
falou, ainda tenha a cara de pau de vir pedir desculpas, como se

fosse fácil de esquecer o que ouvi.


— Se era só isso, já pode ir embora. — Aponto o dedo em

direção à porta.
— Não! Antes você precisa me ouvir — assevera em tom de
desespero e agarra meus braços com uma força desnecessária. —

Você precisa entender...


— Larga meu braço, Erick, você está me machucando — peço.

— Perdão, linda, nem sei o que está acontecendo. — Seu


olhar está meio perdido e apesar de ter ficado muito magoada com
suas palavras, seu estado faz com que me questione se eu não

peguei muito pesado na forma como revelei meus sentimentos.


Talvez ele ainda não estivesse preparado, assim como eu também
não estava para sua rejeição.
— Acho melhor você ir para casa, você não está bem. É

melhor deixarmos tudo como está — digo sem conseguir olhar em


seus olhos.

— Não. Você precisa entender — diz, tentando novamente me


tocar. — Me perdoa, nada daquilo é verdade. Eu amo você. Te amo,
minha princesa. Você nunca foi um peso para mim. A sua presença

em minha vida foi um presente, trouxe a luz que faltava ao meu dia

a dia tão corrido e muitas vezes solitário. — Olha-me magoado ao


ver eu me afastar de seu toque.

Nunca imaginei que um dia o veria tão vulnerável como o vejo

agora.

— Você me magoou muito, Erick. Eu abri meus sentimentos e


você zombou deles.

— Eu sei. Me envergonho da forma como agi, precisava fazer

você entender.
— Entender? — interrompo, confusa.

— Sim, entender que uma relação amorosa entre nós dois

nunca irá acontecer. Entender que isso que você sente não é algum
tipo de amor ou paixão. Creio que apenas confundiu o afeto que
sempre nos uniu com uma atração física — diz, sem, no entanto,

conseguir olhar dentro dos meus olhos.


— Chega! — falo mais alto do que deveria. — Sei que você

acha que minha idade governa meus sentimentos e pensamentos,

mas está completamente enganado. Eu sei o que sinto, você não


vai me convencer do contrário.

— Marina, por favor! Seja um pouco mais razoável. — Passa a

mão rudemente pelos cabelos, numa clara demonstração de

nervosismo. Ele sempre faz isso em situações extremas.


— Seja razoável você — falo alto, perdendo de vez o controle.

— E já que não estamos nos entendendo quanto a isso, acho que é

melhor nos mantermos afastados por um tempo.


— Marina, por Deus, não faz isso... — Dá um passo à frente e

eu dou um para trás.

— Preciso disso, Erick, juro que não estou com raiva de você.
Já entendi tudo que falou. Mas, no momento, quero que entenda

meu lado. — Uma lágrima solitária cai do meu olho. Finalmente

entendi que estava vivendo uma ilusão.

— Marina...
— Saia, por favor — imploro e indico a porta.
— Tudo bem, mas não vou me afastar. Estarei por perto, como

sempre estive — fala com convicção e sei que essa não é uma

promessa vã, pois, mesmo que não seja da forma que eu quero, ele
sempre estará presente.

— Tudo bem, faça o que quiser. — Viro as costas para não o

ver ir embora. Não posso fraquejar e implorar por seu amor mais

uma vez.
— Adeus, meu anjo. — Ouço seus passos cada vez mais

distantes.

Após ouvir o bater da porta, jogo-me no enorme sofá da sala,


deixando as lágrimas que prendi na sua frente finalmente rolarem.

Lágrimas amargas da perda de um amor impossível, da perda de

uma amizade.

Permito-me chorar e sofrer por ele pela última vez. Porque


depois que elas secarem, seguirei em frente, esquecendo que um

dia nutri um sentimento além de amizade por Erick Estevan.


CAPÍTULO 6 PERDAS

Um ano e seis meses depois

— Ah, papai, quanta saudade — digo enquanto toco a foto


emoldurada no seu túmulo. — O que será de mim sem o senhor? —

Choro copiosamente. Passaram-se trinta dias e a dor que sinto hoje


é a mesma que senti no dia em que papai deu seu último suspiro.
Depois de ter vivido todos esses anos sem a presença de uma mãe,

tranquei em minha cabeça a possibilidade de um dia também ficar


sem meu querido paizinho. E aqui estou eu, chorando sua perda de
joelhos perante um túmulo frio.

Em seus quarenta e dois anos de vida, papai sempre teve uma

saúde de ferro, não dando em nenhum momento sinais de que


poderia um dia sofrer de alguma doença mais grave, até o dia em

que foi parar na emergência por causa de um súbito desmaio e de lá

nunca mais saiu.


Diagnosticado com câncer no pâncreas, meu pai passou

quase um ano lutando contra a morte, só perdendo a luta no


momento em que suas forças se esgotaram e seu corpo, já cansado

demais para lutar, decidiu descansar.

— Te amo, papai. — Deixo uma única flor azul sobre a bela


lápide. — Virei sempre te visitar. — Passo a mão carinhosamente

sobre sua foto mais uma vez antes de levantar-me.

— Ele está olhando por você, tenha certeza. — Essa voz... —


Agora vamos para casa, anjo, você não está bem. Precisa

descansar um pouco — a voz embargada continua.

— Erick? — Viro-me surpresa por ver ele aqui. Sei que ele
também está sofrendo muito pela morte do amigo. A ligação que

tinham um com o outro era como a de irmãos de sangue ou até


maior. Talvez a minha surpresa se deva ao fato de não ter

conseguido evitar esse encontro, assim como consegui fazer

durante todos os meses que se passaram desde a nossa última

conversa.

Em todas as ocasiões em que esteve em minha casa, fosse

em reuniões de negócios ou nas visitas informais que costumava


fazer a papai, evitei ao máximo estar presente. E, nas vezes em que

isso não foi possível, nos portamos como dois estranhos, eu


principalmente. Não foram raras as ocasiões em que ele tentou se
reaproximar, fosse com mais pedidos de desculpas, ou tentativas de

reaver a amizade e cumplicidade que um dia tivemos. Em algum

momento, Erick finalmente se cansou e passou a retribuir o mesmo

tratamento que eu vinha dando a ele. E assim tem sido nossa

relação desde então, ele olhando-me ao longe quando achava que

eu não estava percebendo, e eu tratando-o apenas com a educação


que a boa etiqueta pede.

É apenas o vendo aqui, neste momento tão sofrido das nossas

vidas, que tenho a real dimensão do quanto nosso afastamento me

faz mal, do quanto a sua perda ainda me corrói as entranhas. Deve

ser esse o motivo de eu ter evitado tanto sua tentativa de

aproximação, não posso e não quero mais passar pela dor que foi

perdê-lo. Meu pai me deixou recentemente, mas o Erick, a segunda


pessoa que mais amei na vida, essa eu perdi há um bom tempo. E

espero que assim as coisas continuem! Sofri demais para sufocar

esse amor dentro do peito e não permitirei que ele reabra essa

velha ferida.

E, pensando bem, a única coisa que ainda me traz algum

alento nessa vida, é o fato de não precisar mais ter que conviver
com Erick, uma vez que a única ligação que tínhamos era o papai.
Para mim, já foi o suficiente ter de vê-lo durante todo esse mês,

desde a morte do meu pai. Mas acho que isso acabou. Hoje será
lido o testamento, e Erick se livrará da responsabilidade de ter que

cuidar dos bens do amigo e de mim também.


Esse capítulo da minha vida se encerra aqui!
— Eu mesmo. Vamos, meu anjo — chama-me pelo apelido

carinhoso, como nos velhos tempos. Sua mão está estendida na


minha direção.

Tem alguma coisa muito estranha nessa história. Não era para
ele estar curtindo sua liberdade depois de ter feito seu dever de

sócio e melhor amigo? O que ainda faz aqui me chamando para sair
com ele? Só pode ser louco!
— Como assim, vamos? Você ficou louco? — indago ao perder

a paciência de vez. — Eu vou para minha casa, e você vai para o


seu apartamento.

— Não, acho que você está enganada, eu e você vamos para


nossa casa — esclarece.

— O que foi que você disse?


Quando João me chamou em seu escritório e me fez prometer

cuidar de sua filha caso um dia algo lhe acontecesse, eu aceitei sem
muito relutar. Afinal, além de não conseguir negar um pedido dele,

também não imaginei que um dia teria de cumprir essa promessa.


Seria absurdo pensar que um homem tão jovem e bem-disposto nos

deixaria tão precocemente, antes mesmo de sua filha completar a


maioridade e ter total autonomia para responder por todos os seus
atos.

No entanto, aqui estamos nós. Uma menina de dezessete


anos órfã de pai e mãe, e tendo eu, que mal sei cuidar de um

cachorro, como seu responsável pelos próximos meses. O


testamento do meu amigo ainda não foi lido, mas não é preciso ser
um gênio para saber que, com a promessa feita por mim, ele deve

ter se achado no direito de garantir que eu a cumpra em uma das


cláusulas do testamento. Não que já não estivesse esperando por

isso, eu e ele sempre tivemos uma relação de irmãos e como não


tinha mais em quem confiar, meu amigo resolveu deixar sob meus

cuidados o seu bem mais precioso. Aliás, nosso bem mais precioso.
Depois de ter magoado tanto a minha menina, ela
simplesmente não deixou que eu me aproximasse mais, e olha que

não foi por falta de tentativa. Eu, mesmo com todo o meu orgulho,
passei meses tentando me desculpar e, quem sabe, resgatar o
carinho e proximidade que sempre tivéssemos um com o outro.
Tentei e tentei mais um pouco, até o dia em que cansei de ser

esnobado e deixei que as coisas ficassem como estavam. E é


agora, quando nos olhamos como dois estranhos, que seremos

obrigados a manter uma convivência forçada, pelo menos para ela,


que não quer me ver em sua frente nem pintado de ouro. Eu, apesar
de apavorado com a ideia e devastado por ter conseguido isso as

custas da morte do meu amigo, agradeço aos céus por ter essa
chance. Chega desse distanciamento, preciso recuperar sua

amizade e tê-la de volta em minha vida, nem que para isso tenha
que obrigá-la a me ouvir.

— Não disse nada. Vamos, que o testamenteiro já deve estar a


caminho da mansão e nós precisamos saber da última vontade do
seu pai. — Dou-lhe a mão na intenção de levá-la em meu carro.

— Esquece, não vou a lugar nenhum com você — diz, fazendo


birra. Pelo visto não amadureceu nada, continua a mesma

impetuosa e emburradinha de sempre. Mas para seu azar, eu sou


tão teimoso quanto ela é imatura.
— Tem duas opções, ou você entra naquele carro com as

próprias pernas ou te levo carregada. — Não sairei daqui sem ela.


— Então, qual é sua resposta? — indago para emburradinha.
— A resposta é... — Se aproxima para bem perto do meu rosto
— vai se foder! — diz e vira as costas para mim.

Garota teimosa.
— Eu avisei. — Seguro suas pernas, jogando-a bruscamente

em meus ombros. No mesmo instante, me arrependo ao perceber


onde minha mão direita está apoiada.
Céus, que bundinha macia. Espalmo minha mão com gosto em

seu belo traseiro. Não ouço reclamação da sua parte, apenas o som

da sua respiração forte pela surpresa do meu ato, por isso, e sem
conseguir resistir à tentação, dou uma palmada de força mediana na

bunda macia e, em seguida, passo a mão carinhosamente no local

que certamente deve estar ardido. Que delícia deve ser surrar essa

bundinha redonda e empinada enquanto meto por trás em sua


bocetinha pequena.

Acho que não foi uma boa ideia tocá-la dessa forma. Agora,

não sai da minha mente suja a imagem dela de quatro sobre uma
cama enorme a tomar meu pau até o talo em seu rabinho.

Caralho! Todo esse tempo de afastamento por opção dela,

mas que acabei me acostumando depois, em nada adiantou para


me fazer tirar essa fixação da cabeça. Achei que já estaria
preparado para estar junto de Marina sem sentir nenhum tipo de

atração física ou constrangimento com alguma de suas invertidas.


No entanto, aqui estou, com o pau duro feito pedra e a cabeça cheia

de pensamentos luxuriosos com a garota. Que tipo de doente sou?

Meu amigo e pai dela acaba de falecer e eu aqui, quase diante de


sua lápide, desejando sua filha, que por sinal provavelmente ficará

sob minha tutela.

Finalmente ela reage e sinto seu corpo se mexer, me

obrigando a segurá-la com mais força para que não caia.


— Me solte agora, seu brutamonte — grita, balançando as

pernas freneticamente, sem deixar de dar murros nas minhas

costas. — Me solta, porra.


Continuo andando em direção ao carro, ignorando sua ordem

e sua boca suja. Ao chegar ao lado da porta do carona, desço-a

lentamente e com cuidado pela parte da frente do meu corpo.


Outra má ideia.

Ao encostar seu corpo ao meu de forma não apertada, noto o

quanto ela mudou nesse pouco tempo, pernas mais grossas e bem

torneadas, cinturinha mais fina e, finalmente, minha parte preferida,


os belos e avantajados seios, que deixam minhas mãos coçando

por tocá-los. O rosto eu não preciso nem falar, o que sempre foi belo
se tornou deslumbrante. Com o cabelo mais moderno e curto, sua

face ganhou um destaque especial, principalmente pela maquiagem

mais pesada e escura que usa neste momento. De menina se


transformou em uma mulher em poucos meses. Nem parece que

passou tão pouco tempo e que apesar de parecer mais velha, ela

ainda não tem dezoito anos.

— Seu idiota. — Acerta a mão pequena em meu rosto. Chego


a arregalar os olhos com a surpresa do seu ato. — Nunca mais me

toque dessa forma e sem minha permissão.

Sinto a fúria subir rapidamente por minhas veias e quando dou


por mim já perdi completamente o controle da situação.

— Marina, eu venho tendo muita paciência com você e

assumo meus erros. Me desculpe por eles, mas escute bem... —

Encaro seu rosto de perto, quase tocando nossos narizes. — Não


se atreva a me agredir novamente, ou terá que arcar com as

consequências disso, estamos entendidos? — alerto, furioso, mas

tentando manter o controle das minhas emoções. — Acho que sua


ficha ainda não caiu, mas as coisas mudaram por aqui e você não

deveria me desafiar dessa forma.

Eu sei o quão errado e intimidade meu tom pode ter soado

para ela, mas preciso que Marina entre no carro, porém, não quero
assustá-la com a possibilidade de eu ser seu responsável legal. Sei

que ela vai surtar quando souber disso.


— Você só pode estar louco. Do que você está falando? —

questiona vermelha de raiva.

— Entre no carro e vai descobrir.


Percebendo que a coisa é mais séria do que imagina, Marina

entra no carro sem questionar mais, e começo a dirigir rumo à

reunião que mudará nossas vidas para sempre.


CAPÍTULO 7 O TUTOR

— Isso só pode ser uma brincadeira de mau gosto, não é? —


pergunto estarrecida com o que acabei de escutar. Papai não pode
ter feito isso comigo.

— Não, senhorita, aqui está o documento que comprova o


desejo do seu pai. — O senhor Nonato me entrega uma única folha,
na qual, mesmo sem ter muita noção do ramo jurídico, consigo

perceber a gravidade do que há nela. Ainda sem acreditar, volto a


encarar o advogado responsável pelas questões burocráticas e de
gestão dos escritórios de advocacia pertencentes a papai e Erick.

Seu João fez Erick assinar esse documento em que ele se

compromete a cuidar de mim e de todos os meus bens até os meus


dezoito anos de idade. Até aí não teria nenhum problema, já que em

poucos meses completo a maioridade. O problema está na condição

imposta para que isso aconteça. Não posso crer no que estou
vendo.
— Você sabia disso? — indago para Erick, que está estatelado

na minha frente, sem abrir a boca para nada.


— Sabia em partes, lembro de ter prometido e assinado essa

procuração, na qual me comprometi a ser seu tutor até que

completasse a maioridade — diz desconfortável ao notar meu olhar


furioso em sua direção. — O que foi? Acha mesmo que eu negaria

um pedido desses vindo do meu melhor amigo, ainda mais quando

não havia nenhum indício de que um dia seria obrigado a cumprir


essa promessa? — Apesar de tudo, sinto uma dor no peito ao ouvi-

lo se referir a mim como uma obrigação.

— Pois sinta-se livre desse fardo, não preciso de você para


nada. Tem alguma forma de mudar isso, doutor?

“Diga que sim, por favor, diga que sim”, peço mentalmente por
esse milagre. Eu não tenho estrutura para lidar com Erick, não

depois de tudo.

— Não, vocês não podem passar por cima do desejo do João,

além disso, Marina é menor e não tem autonomia para agir por si só

ainda.

— Eu não quero fugir da minha promessa, nem da minha


palavra dada através desse documento, doutor. Marina vai ter que

aceitar a vontade do seu pai e se virar para achar um marido até os


vinte e um anos, senão, terá que se conformar com minha presença
até lá — diz, sarcástico, ao mencionar a condição imposta por

papai.

Erick será legalmente meu tutor até eu completar meus dezoito

anos, no entanto, existe a condição de eu só poder desfrutar da

herança depois dos vinte e um, a menos que eu consiga essa

autonomia antes do tempo, mas isso só será possível através do


casamento. Ou seja, preciso me casar o quanto antes.

— Pois se depender de mim sua responsabilidade não durará

mais que alguns meses, não vou aceitar sua interferência em minha

vida. — Ela está furiosa com toda essa loucura. Eu entendo sua

fúria, afinal, não teve o tempo que eu tive para me acostumar com
as mudanças que acontecerão em nossa rotina. — Eu me casaria

até com o primeiro mendigo que aparecesse na minha frente para

me ver livre de tudo isso, porque você não vai ficar no lugar do meu

pai.

Pai? Marina acha mesmo que é isso que eu pretendo ser para

ela? Será que não percebeu que sinto tudo, menos amor fraterno?
As batidas frenéticas do meu coração e as reações do meu pau em

sua presença se rebelam imediatamente contra sua afirmação


equivocada.

— Você não se atreveria, menina, eu já falei e vou repetir:


teste meus limites e terá que arcar com as consequências. —
Encaro seu rosto, que passa de fúria para uma expressão de

desafio. Ficamos numa batalha visual, até que o pigarro do


advogado desperta novamente nossa atenção.

— Desculpe interromper essa... conversa de vocês, mas


precisamos concluir a reunião — diz, olhando-nos com curiosidade.

— Desculpe, doutor, pode continuar — me dirijo ao advogado.


— Acho que já ficou tudo esclarecido. A senhorita ficará sob
sua tutoria até os dezoito anos. No que tange a todas as

propriedades e sua parte do escritório — Aponta Marina — será


gerenciada por Erick até que complete vinte e um, ao menos que se

case antes disso, nesse caso, seus bens serão de sua inteira
responsabilidade.

— Isso não será um problema, doutor, já tenho um namorado e


estou esperando apenas completar a maioridade para casar com
ele.

Como é que é? Namorado? Casar com ele?


Não, isso não pode ser verdade, minha princesa não pode

estar falando sério. Sei que é hipocrisia da minha parte exigir


alguma coisa dela, quando eu mesmo tive minha cota de casos e

transas durante todo esse período, não é razoável pensar ou até


mesmo exigir que ela, sendo tão jovem, tenha ficado me esperando

quando eu mesmo lhe afastei. Meu lado racional pensa assim, o


lado que sabe os motivos de não podermos ficar juntos, mas meu
lado ciumento e possessivo, o lado que é louco por ela, que sente

tesão só em sentir seu cheiro, não aceita outro cara tocando sua
pele, beijando seu corpo macio.

Não, eu não aceito isso! Ela é minha, só minha, diz meu lado
apaixonado, irresponsável e inconsequente, que a cada minuto que
passa toma conta do meu corpo e pensamentos.

— Isso é tudo, espero que as coisas caminhem bem para


vocês. — O advogado aproxima-se e estende a mão em despedida.

Aperto sua mão e despeço-me com um breve aceno. — Adeus,


senhorita. — Ele aperta a mão dela e sai da sala, deixando-nos a

sós.
Ainda atordoada, Marina larga em cima da mesa o documento
que mudou nossas vidas e fixa o olhar em meu rosto.
Passam-se mais alguns minutos, nos quais nos encaramos em
mais uma batalha de vontades, até que ela decide acabar o silêncio
hostil.

— Se era só isso, já pode se retirar. Preciso descansar um


pouco, estou exausta.

Acho que a minha boneca ainda não entendeu como as coisas


vão funcionar por aqui.
— Tudo bem, descanse. Tenho muitas coisas para arrumar,

ver o que trazer e onde irei me instalar — revelo e vejo o choque em


rosto.

— Instalar? Você enlouqueceu? — diz, e agora sim ela perdeu


o controle.

— Marina, qual a parte de sou o seu tutor você não entendeu?


— indago. — Nós vamos morar juntos e isso não entra em
discussão. Você escolhe onde vai ser, aqui na mansão, ou no meu

apartamento.
CAPÍTULO 8 MUDANÇAS

— Eu não vou morar com você — falo pausadamente, ainda que


queira gritar. Preciso me controlar, mesmo que minha vontade seja
de sair quebrando tudo que está à minha volta. Era só o que me

faltava, o Erick começar a agir como se fosse meu pai. — Aceito


que você seja meu tutor legal, mesmo que por pouco tempo. Mas
daí a morarmos juntos é um pouco de exagero. Acho que sou

grandinha o suficiente para não precisar de babá — dou meu ponto,


na esperança de fazê-lo compreender-me.
— Marina, por favor, seja razoável — pede, aparentando um

cansaço não só físico como também psicológico. Será que ele não

percebe que isso será o melhor para nós dois? Não quero ser um
fardo para ele, isso me magoaria além do que talvez eu possa

suportar.

— Seja razoável você, Erick, você não tem a obrigação de


virar, literalmente, minha babá. Posso muito bem viver aqui com os

empregados, não vou estar sozinha. Além disso, sua namorada não
vai gostar de saber que está vivendo com uma outra mulher — jogo

um verde para descobrir se tem alguém em sua vida. Não sou tão
ingênua para achar que ele não teve ou tem outras mulheres em

sua cama. Mesmo que me machuque pensar nisso, sei que ele é

um homem lindo, bem-sucedido e deve ter uma longa lista de


conquistas. A única coisa que me consola é o fato de ele nunca ter

aparecido com nenhuma namorada, seja aqui em casa ou em

público. Acho que não aguentaria vê-lo dar para outra o que sempre
recusou me dar.

— Eu não vou deixar você só com os empregados, isso seria

um absurdo. Seu pai me pediu cuidar de você, não os empregados.


— Nisso eu tenho que concordar. Por mais que esteja irritada com

ele, não posso negar sua lealdade ao meu pai. — E com relação à
namorada, você pode ficar despreocupada, eu não tenho uma, e

mesmo se tivesse, não seria um problema, minha prioridade é você

— diz, e sinto meu coração bater acelerado com sua afirmação.

Ainda não decidi se fiquei mais feliz com a confirmação de que ele

não tem nenhuma namorada ou com o fato de eu ser sua prioridade.

— Acha mesmo necessário vivermos juntos? — pergunto,


decidida a conversarmos civilizadamente, como dois adultos. — Não

quero atrapalhar sua vida desse jeito — desabafo meu maior medo.
— Vem. Sente-se aqui, Marina. — Acomoda-se na ponta do
sofá e bate no assento ao seu lado. Sento com o corpo inclinado em

sua direção e sinto todos os pelos do meu corpo se arrepiarem com

a proximidade que há tanto tempo deixou de ser natural e

costumeira. — Por favor, me deixe fazer o que precisa ser feito,

princesa. Jamais me perdoarei se decepcionar seu pai, esteja ele

onde estiver. Preciso fazer a coisa certa, por você e por ele —
suplica, erguendo a mão e acariciando de forma terna o lado

esquerdo do meu rosto. Como é bom sentir seu toque, ver seu olhar

preso de forma tão intensa ao meu. Simplesmente não posso lhe

negar nada, não quando ele me pede dessa forma. Acho que sou

capaz de fazer qualquer coisa se ele pedir assim, ternamente.

— Tu-tudo bem — gaguejo, desconcertada, inclinando o rosto

para sentir melhor seu carinho. Quem vê a cena de fora pode nos
comparar com um cachorrinho recebendo carinho do seu dono. E

mesmo tendo noção do quanto isso pode ser humilhante, não me

importo, não neste momento, tão fragilizada pela perda do meu pai

e sabendo do que sinto pelo Erick. Tudo que eu queria antes, ainda

que inconscientemente, era essa conexão e cumplicidade que

estamos tendo agora. E pela intensidade com que está me olhando,


posso notar que ele também almejava isso. — Podemos morar
juntos, mas se você não se incomodar, eu prefiro que fiquemos aqui

mesmo, na mansão. A casa é grande, tem os empregados e todas


as lembranças de papai, prefiro manter isso, pode ser? — digo ao

afastar o rosto, quebrando a tensão que paira entre nós dois. Se


quero que as coisas deem certo, preciso me controlar para não
parecer uma boba à sua volta.

— Claro, princesa. Preciso apenas fazer minhas malas, fechar


meu apartamento, e venho para cá o mais rápido possível.

Sinto um frio na barriga só em imaginar como serão os


próximos meses.

— Que dia você vem? — pergunto, na esperança de ter pelo


menos mais um fim de semana sozinha, antes de ter que lidar com
ele e com toda essa confusão de sentimentos.

— Hoje à noite. Não vou para o escritório, portanto, tenho o dia


todo para organizar as coisas — diz, levantando-se do sofá. Mais

que porra! Pelo visto o fim de semana não vai rolar.


— Não precisa ter pressa, Erick. Resolva suas coisas com

calma, eu vou ficar bem — tento falar num tom que aparente
gentileza e não uma tentativa de postergar sua vinda. Preciso de um
tempo para levantar minhas defesas, que estão praticamente

inexistentes com apenas algumas horas de reencontro. Preciso me


policiar, senão ainda hoje estarei lhe atacando. Nada diferente do

que costumava fazer alguns meses atrás.


Isso não pode acontecer, minha cota de humilhação por ele se

esgotou hoje.
— Não se preocupe, minha linda, sei que está preocupada,

mas está tudo sob controle. Ainda hoje dormiremos sob o mesmo
teto. — Pisca ao caminhar na direção da porta de saída. Ele está
me provocando? — E outra coisa, Marina. Peça para governanta

preparar o quarto de hóspedes que eu costumava usar, é nele que


vou ficar — diz antes de sair. Puta que pariu, ele só pode estar de

brincadeira. O quarto que ele se refere é localizado exatamente em


frente ao meu.
— É, Floquinho, parece que vai ser mais difícil do que eu

imaginei. Seu pai está disposto a infernizar com a minha vida. — Me


jogo no sofá segurando minha gatinha que acabou de entrar. — Mas

deixa estar, esse é um jogo que dois podem jogar.

Depois de empacotar a última caixa com meus pertences, faço


uma inspeção visual pela ampla sala do meu duplex. Foi aqui onde
vivi desde o dia em que conquistei minha independência ao sair da
casa dos meus pais, onde passaram tantos amigos leais, ou
mulheres que nem ao menos consigo lembrar os nomes ou rostos.

Um local que apesar de tudo não me traz nenhum tipo de


sentimento mais profundo de apego ou nostalgia. No meu

apartamento tudo é distante e impessoal, apesar de ser o lugar


onde eu deitava meu corpo cansado depois de um dia de trabalho.
Sei que deveria estar apreensivo com tamanha mudança e que

a responsabilidade contraída poderia me fazer querer adiar o


máximo possível a minha ida para mansão, no entanto, o único

sentimento que me cerca é o de ansiedade. Ansiedade por saber


que irei viver na casa onde sempre senti como sendo meu

verdadeiro lar, o local onde tenho minhas melhores lembranças,


onde viveu e vive as pessoas que eu mais amo na vida.
Longe de mim querer colocar em xeque o sentimento entre

meus pais e João e Marina, até porque não tem como comparar. Eu
amo minha família, um amor que somente um filho amado e

compreendido poderia dedicar ao seus pais. Mas o amor e a ligação


que eu tinha com João, e depois passei a ter com Marina, vão além
do que a compreensão possa explicar e talvez seja esse o motivo

da minha alegria e ansiedade. Sinto-me como se estivesse indo


para o meu verdadeiro lar, o lugar a qual eu sempre pertenci, junto
da minha menina bonita.
Permaneço divagando por mais alguns minutos, até ter meus

pensamentos interrompidos pelo toque da campainha.


Provavelmente é o pessoal da transportadora que veio me auxiliar

com a mudança.
— Oi, senhor Erick — cumprimenta-me o rapaz assim que
abro a porta. — O caminhão já está estacionado ali embaixo.

— Que bom — digo ao apertar sua mão. — As caixas são

aquelas ali. Vou à frente com meu carro e vocês me seguem, tudo
bem? — indago e saio rumo à garagem assim que o rapaz confirma.

Já passa da meia noite quando termino de arrumar meus


pertences em um dos quartos de hóspedes. No enorme quarto há

apenas uma cama de casal King Size, um guarda-roupa, onde já se

encontram todas as minhas roupas e sapatos, e uma mesinha de


centro onde empilhei alguns dos meus livros de trabalhos. Para ser

sincero, o ambiente está quase impessoal, precisa ainda de muitas


coisas para que fique do jeito que eu gosto, mas nada que com o

tempo não seja resolvido. O importante é que eu estou aqui.


Sorrio para mim mesmo por ter escolhido a suíte que fica de

frente ao quarto da Marina, em detrimento as outras espalhadas por

toda a mansão. Aliás, até hoje não entendo o porquê do meu amigo
preferir morar numa casa tão grande, quando aqui só viviam ele e a

filha, mas pensando bem, não é preciso ser nenhum gênio para

imaginar o motivo de ele ter feito essa escolha. No mínimo isso deve

ter sido coisa daquela vadia do caralho. Ela sempre foi fútil e sentia
prazer em ostentar a riqueza do marido. Marido esse que nunca

lançou um olhar de superioridade para mais humilde das criaturas,

qualidade essa adquirida por sua filha, que não tem um pingo do
sangue ruim da mãe correndo nas veias. Mas chega de perder

tempo pensando nessa mulher que desapareceu há tanto tempo e

espero, pelo bem dela, que não volte nunca mais.


— E aí, garotão, feliz com seu novo lar? — Acaricio a cabeça

peluda do meu Golden Retriever que acabara de adentrar o quarto.

Com seus cinco anos de vida, Thor tem sido meu amigo e fiel

companheiro de todas as horas. Com uma pelagem marrom escura


e redondo como uma rolha, meu amigão tem a personalidade de um

gatinho manso, não sendo capaz de fazer mal nem para uma
mosca. E por falar em gatinho, o que será que foi feito do filhote que

dei de presente à Marina?

Marina... Onde essa garota se meteu? Ainda não a vi depois


que cheguei. Das duas, uma, ou ela saiu ou está trancada dentro do

maldito quarto para fingir que não notou minha presença. Para falar

a verdade, eu até prefiro a segunda hipótese. Sinto-me melhor com

a ideia de estar trancafiada na porra do quarto do que de estar em


algum lugar desconhecido para mim e em companhias mais

desconhecidas ainda.

— Ah, Marina, acho bom você não brincar com o fogo, porque
vai acabar se queimando... — digo em voz alta, ainda fazendo

carinho em Thor, que abana o rabo cada vez mais a cada passada

de mão em suas grandes orelhas. Esse preguiçoso adora ser

mimado. — Pela sua respiração, já vi que gostou daqui, não é,


garoto? — A língua de fora e a respiração denunciam o fato de ele

provavelmente ter passado todo esse tempo correndo pelos

corredores. Porra! Isso vai dá problema. — Só toma cuidado, que a


nossa menina é um pouco brava. E nós não queremos deixá-la

nervosa já no primeiro dia — termino de adverti-lo e sorrio ao

imaginar que devo estar parecendo um louco por tentar alertar meu

cachorro, como se ele realmente entendesse o que eu quero dizer.


— Isso só pode ser fome, Thor. — Levanto da cama, que até então

estava sentado, rumando em direção à porta. — Vamos lá na


cozinha ver se tem alguma coisa para gente comer — termino de

falar e ele logo vem atrás de mim.

Abro a porta e quase caio para trás com a cena que acabo de
ver. Sinto de imediato todo sangue que corre pelas minhas veias ir

para uma parte específica da minha anatomia.

Não haveria nada demais na coincidência de presenciar

Marina sair do quarto no mesmo instante em que eu saio do meu,


afinal, isso acontece o tempo todo com pessoas que moram juntas.

O problema aqui está na maldita roupa que ela veste, se é que isso

pode ser chamado de roupa. Com os cabelos castanhos soltos


emoldurando seu lindo rosto isento de maquiagem, Marina usa uma

camisola preta de seda que mal cobre metade de suas coxas. Com

alças finas e levemente soltas, a peça deixa pouco à imaginação e

daqui posso ver todos os contornos deliciosos do seu corpinho


jovem e bem cuidado. Corpo esse feito para ser amado e adorado

pelo sortudo que tiver o privilégio de receber esse presente. E

pronto, se era um balde de água fria que eu queria, acabei de


consegui-lo apenas com esse pensamento.
Não! Ainda não nasceu o homem que mereça tamanho

presente. Nem mesmo eu. Ela é um anjo.

— Erick — diz, com as bochechas coradas de

constrangimento, só não sei se é pela roupa ou por ter notado meu


olhar cobiçoso percorrer seu corpo. Preciso me controlar, porra! —

Eu não... — interrompe o que ia dizer, no mesmo instante em que

vejo seu semblante mudar de constrangido para furioso. — O que


esse monstro está fazendo aqui? — pergunta, olhando do meu

cachorro para a gatinha branca que até então eu não tinha

percebido encostada em sua perna.

É, parece que começamos com o pé esquerdo.


CAPÍTULO 9 PAPAI

— Responde, Erick — peço, indignada, ao ver o enorme Golden


Retriever encarar Floquinho com olhar que não sei ao certo como
descrever. Meu tutor é muito sem noção por ter a brilhante ideia de

trazer um cachorro desse porte para dentro de casa. Já até imagino


a guerra que vai ser instaurada aqui dentro. Imagine só: um cão e
um gato ocupando os mesmos metros quadrados. — Não sei se

você lembra, mas há uns meses eu ganhei esse filhote de você, e


como pode ver, ele ainda está comigo.
— Claro que lembro — se apressa em confirmar.

— Também suponho que saiba que cães e gatos não são

considerados os melhores amigos do mundo — explico, assim como


faria com uma criança. — Erick, ele vai matar minha filha, por favor,

arrume um lugar para ele ficar — imploro, sem conseguir desviar o

olhar dos dois bichinhos, que no momento se encaram com extrema


hostilidade.
— Nossa — afirma, e eu não consigo entender do que ele está

falando.
— Nossa? — pergunto, confusa.

— Nossa filha, pelo menos foi isso que você disse quando a

ganhou.
Não acredito que ele se lembra disso. Como eu era infantil.

— Disse mesmo, mas isso foi antes de abandoná-la por todos

esses meses. — É, pelo visto a maturidade continua não sendo meu


forte. — Floquinho é só minha. E como tenho a responsabilidade de

zelar por seu bem-estar, quero ele fora. Agora! — Olho mais uma

vez para eles e já percebo uma mudança no clima. O olhar de


hostilidade rapidamente transformou-se em curiosidade.

— O nome dele é Thor. — Agacha e começa a acariciar a


cabeça do cachorro. — E não se preocupe, ele não vai judiar dela.

Você vai cuidar da irmãzinha, não é, amigão? — Como é linda a sua

forma de tratar o bichinho.

Que inferno!

O cara acabou de chegar e eu já estou toda derretida por ele.

Assim fica difícil.


— Agora vai brincar por aí, sei que você está doido para

conhecer a casa nova. — Dá um tapinha de leve nas costas de


Thor, que sai correndo rumo à área de serviço como se tivesse
entendido a permissão. E para minha surpresa, vejo a vendida da

Floquinho correr atrás do Thor. A traidora está simplesmente se

juntando ao inimigo. — Está vendo, não precisa se preocupar com

nada, eles se tornarão amigos. Espero poder dizer o mesmo de nós

dois — diz, ao percorrer descaradamente o olhar por todo o meu

corpo, que neste momento veste nada menos que uma minúscula
camisola de seda. — Acha isso possível, princesa? — Aproxima-se

subitamente e encurrala-me contra a porta recém-fechada.

Está ficando difícil respirar!

— N-não sei — gaguejo, nervosa com sua abordagem. Seu

olhar quente e sua respiração em meu rosto roubam-me a

capacidade de falar, quem dirá de ter pensamentos coerentes.

Quando o sinto assim, tão perto e ao alcance de minhas mãos, tudo


o que eu mais quero é me jogar em seus braços, provar dos seus

beijos e deixar que possua cada pedaço do meu corpo. Dar a ele

tudo o que não tive coragem, nem vontade de entregar a outro.

Eu tentei de tudo para esquecer essa obsessão que tenho

nutrido há tanto tempo e, no entanto, nada foi o suficiente para

apagar essa chama que queima dentro de mim.


— Não sabe? — indaga com o corpo a um palmo de distância

do meu e no rosto um olhar quente que não sai da minha boca. —


Pois eu tenho para mim que nos daremos muito bem. Melhor do que

você imagina... — Eu não acredito que ele está novamente me


provocando e eu, como sempre, caindo. Acho de uma crueldade
sem tamanho fazer esse tipo de jogo se ele não pretende ir até o

fim.
Ah, mas se é guerra que ele quer, é guerra que vai ter.

— Será? — pergunto, sedutora, aproximando perigosamente


minha boca da sua. Mais um centímetro e o beijo sai. Vamos ver se

ele sabe lidar com isso. — Se eu fosse você não teria tanta certeza,
papai — digo, dando o tiro de misericórdia, e saio andando rumo à
cozinha, como se nada tivesse acontecido e, como era de se

esperar, Erick vem atrás como um touro enfurecido.

Papai?

Dessa vez ela foi longe demais!


Me irrito e saio em disparada atrás dela. Tudo bem que mereci
isso, afinal, eu comecei com essas provocações idiotas. Mas acho
que chamar de pai foi além dos limites.

— Volte aqui agora, sua peste — grito, sem controle. Ao


alcançá-la e segurá-la pelo braço, indago: — Do que foi que me

chamou? Acho que não ouvi direito — rosno, e da maneira mais


provocante possível, ela aproxima o rosto do meu e repete:

— Papai.
— Acho que você está um pouco confusa, meu bem — digo,
sem me afastar um centímetro sequer, deixando-a tensa com a

nossa perigosa proximidade. — Eu não sou seu pai, seu tio, nem
nada que seja pelo menos próximo a algum tipo de parentesco —

esclareço para que não existam mais dúvidas. — Entenda uma


coisa, apesar de ser bons anos mais velhos, sou um homem
maduro e ativo sexualmente. Ativo até demais — falo e vejo seu

semblante mudar. Seu rosto assume uma máscara de frieza que só


pode ser interpretada como ciúmes. Isso, meu amor, é isso que eu

quero de você. — E da minha parte não há um único fio de


sentimento paternal por você. Estou falando isso para que fique tudo

bem claro entre a gente. Não fique achando que sua maneira de se
vestir — Olho seu corpo de maneira maliciosa — e suas
provocações vão passar batidas, porque te garanto que não vão.

Saiba que eu posso e vou revidar, e que talvez você não esteja
preparada para as minhas reações — digo olhando em seus olhos
para que entenda em pé estamos.
— Entendi. Agora dá para me soltar, por favor? — Puxa o

braço e vai para a cozinha. — Vou preparar algo para comer, quer
alguma coisa? — muda drasticamente de assunto. É, parece que

deixei minha gatinha chateada. Mas é bom que fique mesmo, prefiro
deixar tudo esclarecido.
— Quero. Na verdade, estava justamente indo procurar algo

para comer, estou faminto — digo e ela vira para trás, me olhando
desconcertada por ter notado o duplo sentido da frase.

Rio internamente com esse fato. Se prepare, anjo, isso é só o


começo.

Já na ampla e mobiliada cozinha, Marina prepara sanduíches


naturais e, andando de um canto a outro, ela faz nossos lanches
sem deixar de me ignorar, age como se estivesse sozinha no

ambiente. Mas isso não significa que tenha deixado passar a


oportunidade de atazanar o meu juízo e meu pau a cada vez que

propositalmente se abaixa para pegar algo na geladeira. A safada


faz questão de pegar um ingrediente por vez, e a cada abaixada, eu
consigo visualizar suas coxas torneadas e uma minúscula calcinha,

que está deliciosamente enfiada dentro da sua bunda. Como não


sou bobo nem nada parecido, aproveito para dar uma boa conferida,
afinal, o fato de não poder tocar não me impede de apreciar o
banquete.

— Erick? — ela chama meu nome, e eu saio do transe. — Te


chamei três vezes e você não escutou. Onde estava? — pergunta,

divertida.
Ah, gatinha, é melhor você nem imaginar onde estavam meus
pensamentos.

— Desculpe, estava pensando em trabalho — minto.

— Fiz um suco de morango para acompanhar, espero que


goste — diz, colocando a jarra e o prato com os sanduíches em

cima da bancada de mármore, estilo cozinha americana, e depois

de pegar os copos, ela senta ao meu lado.

— Obrigado, meu amor — agradeço sincero e dou a primeira


mordida. — Está uma delícia. Cuidado, senão eu fico mal-

acostumado — brinco.

— Fica nada. Sei que deve comer comidas muito melhores


que isso. — Dá de ombros de maneira charmosa.

Eu estou tão vendido por essa menina que até os mais simples

gestos me encantam. Não que exista algum dia que eu não tenha
estado vendido por ela. A única diferença é que agora, depois de
tanto tempo separados, parece que tudo está mais intenso, o que já

era grande tomou proporções inexplicáveis. Estou ficando cansado


de reprimir o que não pode mais ser reprimido, de negar o que nós

dois queremos há tanto tempo. Por mais que minha consciência

diga que é errado por todos os motivos que estou cansado de


repetir a mim mesmo, meu coração e meu corpo clamam por ela,

por seu toque, seus beijos e seus abraços. Uma palavra dela e eu

jogo tudo para o alto, me permitindo viver esse amor.

— Pode ser, mas essa é especial, porque foi você quem fez —
digo.

— Para, Erick, assim você me deixa sem jeito. — Fica

encabulada com o elogio.


— Apenas a verdade.

— Mas diz aí, estou pronta para casar? — tenta brincar, e

consegue me deixar furioso.


Casar? Essa mulher só pode ser louca. Ela acha mesmo que

aquela baboseira de casamento vai adiante? Vai acontecer no dia

em que eu estiver morto.

— Não, você não está pronta, nem vai casar, Marina — afirmo,
curto e grosso. — E essa história de casamento é real ou está

falando isso para me irritar? — pergunto, vendo-a abocanhar o


último pedaço do pão. E com uma estranha calma, ela termina de

tomar seu suco e responde:

— O casamento é real, Erick, só te resta aceitar. E tem mais,


eu sou uma mulher livre e faço da minha vida o que eu quiser. Pelo

menos nessa parte, sou eu quem decido. Então, por favor, não se

meta. — Ouço e minha vontade é de esganar o moleque que se

atreveu a tocar nela. Mas isso não vai ficar assim. Ninguém vai
atravessar meu caminho.

Está decidido, não sei quando e como, mas vou fazê-la minha

e tenho pena de quem se atrever a entrar no meu caminho. É isso,


chegou ao fim a fase de negação. Vou à luta para reconquistar o

amor da mulher que desejo para mim. Sei que legalmente não há

nada que nos impeça de ficarmos juntos se ambos quisermos, já

que Marina tem mais de 14 anos, e embora não tenha 18 anos


ainda, não há lei nenhuma que a impeça de ficar comigo, se assim

ela quiser, porém, moralmente isso seria condenado por muitas

pessoas, mas fodam-se elas. Eu quero Marina, e vou reconquistar o


que sei que ela já sentiu por mim e posso apostar que lá no fundo

ainda sente.

— Não, princesa. — Toco sua bochecha com o dedo indicador.

— Você não vai casar, pelo menos não com ele — digo e saio da
cozinha, deixando-a sozinha para que pense sobre o que acabei de

dizer.
— O nosso momento finalmente chegou, meu amor — afirmo

para mim mesmo.


CAPÍTULO 10 SEUS BRAÇOS

“Não, princesa. Você não vai se casar, pelo menos não com ele.”
Marina, como você pode ser tão trouxa, menina?
Já são quase três horas da madrugada e eu aqui, bolando de

um lado para o outro na aconchegante cama, que agora não parece


tão aconchegante assim. A frase dita por Erick não parou de
martelar na minha cabeça desde que saiu da sua maldita boca.

Não vou ser hipócrita em afirmar que pouco antes de


completar meus 16 anos, nunca tenha visto que, aos poucos, seu
olhar para mim se mostrava desejoso. Apesar de ele negar e de eu

saber que nunca faria nada a respeito, desde aquela época tenho a

nítida sensação de que, no fundo, ele vem tentando reprimir um


sentimento que vai além do fraternal. Talvez seja justamente esse o

motivo do meu sofrimento e a causa do meu afastamento. Acho que

saber que sente algo, mas que nunca fará nada a respeito, me
machuca mais do que ele não retribuísse.
Agora, me sinto completamente perdida, vendo o muro de

proteção construído à minha volta desmoronar em apenas dois dias


de convivência. As dúvidas e questionamentos de outrora voltaram

com força total. A prova disso é o fato de eu estar acordada até

agora.
O que ele quis dizer com isso de que não vou casar? Será que

ele ficou com ciúmes?

Que infantilidade a minha inventar um namorado imaginário


apenas para provocá-lo. Não quero nem pensar nele descobrindo

essa mentira tão deslavada. Posso até ter dado uns beijos por aí

durante esse tempo, mas nada que chegue perto de um namorado,


quem dirá de um noivo.

Chega! Não aguento mais pensar nisso! Vou enlouquecer.


Maldito Erick, por que teve que vir bagunçar quando estava

tudo sob controle? Mas ele está muito enganado se acha que vou

passar por esse tormento sozinha. Aqui vai ser olho por olho e dente

por dente. Vou usar de todas as armas disponíveis, afinal, no amor e

na guerra vale tudo. Só espero que no nosso caso seja amor.

Ai, Erick... Erick... Erick... Minha mente dá voltas e voltas, até


cair em um sono raso e perturbado.
No auge da madrugada, dormindo um sono sereno e tranquilo,
logo após tomar a decisão que tirou um enorme peso das minhas

costas, desperto bruscamente ao ver a claridade vinda do corredor.

Em seguida, a porta do meu quarto é aberta de maneira cuidadosa

e acho que não preciso pensar para deduzir quem entrou aqui.

Mas o que ela faz acordada a essa hora da madrugada? O dia

deve estar quase amanhecendo.


Fico quietinho, esperando seu próximo passo, e tudo o que

ouço são seus soluços incontidos.

Meu Deus! O que aconteceu com minha garota para tê-la feito

chorar assim?

Vem, meu bem, vem para os meus braços, que eles estão

abertos para te proteger. Para defendê-la de tudo e de todos, até de


mim mesmo. Porque uma coisa eu posso garantir: nada e ninguém

lhe fará mal enquanto eu estiver aqui. E se Marina quiser, eu

sempre estarei.

Quando ela finalmente deita atrás de mim, sinto todo o meu

corpo responder ao calor tão bem-vindo quanto inesperado. Marina

é tão silenciosa em suas ações que se eu realmente estivesse


dormindo, não teria percebido sua presença na minha cama. Aliás,

tenho certeza de que era justamente essa a intenção: dormir aqui e


sair pela manhã, sem que eu soubesse de nada. Mas para minha

sorte, eu estou acordado, muito bem acordado, diga-se de


passagem.
— O que você faz aqui, bebê? — pergunto ao sentir a

mãozinha da minha boneca circulando minha cintura para me


abraçar por trás.

— Desculpa, Erick, tive um pesadelo com papai e não consigo


ficar no quarto. Me deixae dormir aqui essa noite, por favor?

Arrepio-me ao sentir o calor de sua respiração em meu


pescoço enquanto ela se aconchega ainda mais em mim.
— Tudo bem, princesa, só não chore mais. Estou aqui e vou te

proteger — falo ao virar de frente a ela e secar as suas lágrimas


com o dedo. — Vem, se arruma aqui — peço ao abrir os braços, ela

vira de costas e eu a abraço. Logo percebo o quanto essa ideia foi


péssima. Aqui estou eu, deitado de conchinha com a minha maior

tentação. A menina que me foi entregue como uma filha, mas que
só me traz pensamentos impuros. Pensamentos esses que
envolvem nós dois nus, suados, em cima de uma superfície plana,
seja uma cama, mesa, dentro de um carro... que seja, a única coisa

que consigo pensar ultimamente é em transar com essa garota.


Já aceitei que não tem mais nada que eu possa fazer a

respeito, a minha decisão foi tomada. Nunca passou pela minha


cabeça trair de alguma forma a memória de João e espero de todo o

meu coração, que de onde estiver, ele entenda o que estou prestes
a fazer.
— Sinto tanto a falta dele, Erick. Sonhei com a gente em um

parque, estávamos andando de bicicleta, do jeito que


costumávamos fazer quando eu era pequena, lembra? — pergunta

ainda chorando copiosamente e eu não sei o que fazer para que ela
se sinta melhor.
— Lembro sim, meu anjo. — E como poderia esquecer dela

aos sete anos, com o olhar mais doce que uma criança pode ter?
Não tinha uma única vez em que eu não pensasse em Marina como

sendo a coisa mais bela do mundo. Naquela época, claro, sentia por
ela apenas um carinho forte, mas nada sexual, como é agora.

Entretanto, até hoje a vejo como o que há de mais belo na face da


Terra.
— Nós dois estávamos nos divertindo, quando, de repente, ele

desapareceu. Eu olhei para o lado, olhei para o outro e não o


encontrei em lugar nenhum. Sabe qual a pior parte? — pergunta,
desvencilhando-se dos meus braços e deitando de forma que possa
me olhar. Agora estamos frente a frente e com os corpos a menos

de um palmo de distância. Mas acho que não é hora de pensar


nisso. A prioridade agora é outra. — O pior é acordar e ver que não

foi só um pesadelo, ele realmente me deixou, Erick, a única pessoa


que eu tinha. — Cola o corpo junto ao meu e desaba com o rosto
encostado no meu peito desnudo. — Eu nunca me senti tão sozinha

como agora. Eu sei que estou sozinha.


Uma porra que ela está só.

E eu? Será que não sou nada?


— Ei, olhe para mim, Marina — peço, levantando seu rosto

para que olhe dentro dos meus olhos. Preciso dela bem atenta para
o que tenho a lhe dizer. — Nunca mais... Você está me ouvindo?
Nunca mais repita isso. Você tem a mim, o seu Erick, lembra? Eu

nunca te deixei e nunca vou deixar. Enquanto você me quiser, eu


estarei aqui, do seu lado — afirmo enfaticamente ao secar suas

lágrimas, que insistem em cair.


— É diferente, Erick, as coisas mudaram tanto entre nós. E
tem a história da tutoria...
— Não, nada mudou. Esquece essa porra de tutoria. Será que
você não percebe que se isso não existisse, eu ainda estaria aqui?
Nessa cama, te consolando? — Não resisto a enxurrada de

sentimentos e envolvo seu corpo em um abraço ainda mais


apertado. Acho humanamente impossível ficarmos mais colados

que isso. — Nós temos que permanecer unidos, meu anjo, era isso
que seu pai queria quando nos deixou nesta situação — digo,
realmente começando a acreditar nisso.

— Promete, Erick? — pergunta, já menos chorosa. Acho que

minha princesa está um pouco carente.


— Eu prometo, linda. — Olho firmemente em seus olhos,

assim como ela olha nos meus.

Fixamos os olhares e sem qualquer aviso, a atmosfera muda

de melancolia para tensão sexual. Nossos rostos, que já não


estavam tão distantes, diminuem mais ainda o espaço entre nós.

Quando dou por mim, nossas bocas estão coladas e imóveis uma

na outra. Sua respiração misturada com a minha e a minha


misturada com a dela.

— Erick... — fala de maneira ofegante.

— Marina... — sussurro, quase inaudível.


CAPÍTULO 11 ENTREGA

— Marina... — sussurro, quase inaudível. É isso! Não dá mais para


adiar, nosso momento finalmente chegou. — Você sabe que isso
aqui não tem mais volta, não é? Depois de hoje, tudo vai mudar.

— Eu sei, Erick. Sei também que estar aqui com você, neste
momento, é tudo que eu sempre quis desde os meus quinze anos
— confessa, sem afastar o rosto do meu. A cena que se desenvolve

neste quarto não poderia ser mais íntima. Marina e eu deitados


frente a frente; braços e pernas entrelaçados e rostos tão próximos
que sinto que respiramos juntos, em sincronia. Tudo tão perfeito.

— Quinze anos, Marina? Sério mesmo? Será que a mocinha

não era nova demais para pensar nessas coisas? — pergunto, não
sabendo explicar o incômodo que sinto ao ouvi-la dizer isso. A

verdade é que eu não gosto de pensar que minha Marina tenha tido

esse tipo de pensamento tão cedo assim. — Não sei se quinze é


idade para pensar nisso. Você deveria estar pensando somente em

estudos e não em rapazes — termino de falar e não consigo


acreditar que tamanha baboseira saiu da minha boca. Preciso

controlar o que digo. Não quero que ela, em um momento de


lucidez, caia em si e chegue à conclusão de que seria muito melhor

estar com um garoto de sua idade do que com um homem de quase

quarenta como eu. Sei que isso soa egoísta, mas a quero tanto que
a razão não me habita neste momento.

— Rapazes? — indaga, ofendida. — Você ouviu bem o que eu

acabei de falar, Erick? Eu disse você, não qualquer outro rapaz.


Apenas você — enfatiza, deixando-me mais aliviado. Eu sempre me

orgulhei de ser um homem prático e racional, mas quando se trata

desta menina, toda a praticidade e racionalidade vão pelos ares,


restando apenas o homem possessivo e passional que não gosto de

ser, mas não consigo evitar. — Você está com ciúmes de mim, é
isso? — pergunta e cai na gargalhada. Ela joga a cabeça para trás e

sinto todo o seu corpo sacudir com sua risada ruidosa.

— Isso não tem graça, garota. — Puxo novamente seu corpo

para perto do meu. — Queria ver se fosse o contrário — comento e

tenho de imediato sua atenção.

— Você não se atreva — fala enquanto segura firmemente


minha mandíbula. — Acha mesmo que eu gostei de te ver desfilar
com todas aquelas mulheres? A vontade que eu tinha era ir até você
e te arrancar dos braços de cada uma delas.

Rio com sua confissão. Minha gatinha é selvagem.

— Depois eu é que sou o ciumento aqui — falo, jogando minha

perna pesada sobre seu quadril.

— E você é mesmo, o que não significa que eu também não

possa ser — admite, fazendo minha alegria. Minha alma se regozija


em saber que sou correspondido em todos os meus sentimentos.

Até mesmo naqueles que podem nos trazer problemas futuros.

— Amor, nós precisamos conversar — peço, decidido a deixar

toda a nossa situação esclarecida.

— Conversar? — indaga, apreensiva. — Por favor, não diga

que já vai voltar atrás? — diz e sinto todo seu corpo tenso com a

expectativa da minha resposta. Coitadinha da minha boneca, não


deve ter sido nada agradável ter seus sentimentos rechaçados tão

bruscamente.

— Não, minha linda, isso nunca mais vai acontecer. Nós

vamos viver esse amor e as consequências dele — termino e vejo

no seu semblante a leveza que o alívio proporciona. — Eu quero

mesmo é me desculpar.
— Amor, não precisa...
— Shiiii. — Coloco o dedo sobre seus lábios, impedindo-a de

interromper minha tentativa de redenção. Preciso me redimir. Não


por ter tomado as decisões que tomei, afinal, não poderia jamais

alimentar expectativas de uma menina de dezesseis anos. Aquele


não era o momento propício. O único arrependimento que tenho é
sobre a forma com que a afastei de mim. Dos vários meses em que

passamos distantes. Do fato de não ter estado do seu lado nos


momentos em que mais precisou de mim. — Eu preciso disso, meu

amor. Entende?
— Tudo bem — fala, deixando transparecer sua vontade de

ouvir o que tenho para lhe dizer.


— Primeiramente, eu preciso que me perdoe por ter te
chamado de estorvo. — Acho que de tudo dito no fatídico dia, essa

deve ter sido a maior mentira de todas. — Por tentar te ofender


usando o abandono de sua mãe.

— Acho que isso foi o que mais me doeu. Não o que disse
sobre aquela mulher, até porque não é mentira. A pior parte mesmo

foi te ouvir dizer que nunca gostou de mim, que tinha pena e por
isso me dava atenção — diz e a vontade que tenho é de tapar os
ouvidos com as mãos para não ouvir tamanha crueldade dita por

mim antes.
— Isso nunca foi verdade, anjo, eu só queria te afastar. —

Queria e escolhi a forma mais idiota do mundo. — Saiba que a


verdade não poderia ser mais diferente do que foi dito naquele dia.

— Que verdade, Erick? — indaga, confusa. Querendo que veja


e sinta a sinceridade de tudo que vou dizer, afasto nossos rostos

alguns centímetros, para que assim possamos enxergar um ao outro


sem nenhum artifício.
— A verdade sobre você ser a luz da minha vida. Quero que

entenda, Marina, que compreenda que meu amor por você não é de
agora.

— Não?
— Não. Ele apenas se transformou e talvez tenha sido isso o
que mais me assustou. Foi aterrorizante ver um amor fraternal se

transformar em amor de homem e mulher, ver que já não te via da


mesma forma de antes. Um amor diferente, mas ainda amor.

— Ah, Erick. — Abraça-me emocionada com o relato. — Tenho


algumas lembranças de uma eu pirralha correndo atrás de você. Por

isso eu acreditei quando me disse aquelas coisas. Eu realmente


vivia no seu pé. Como você, sendo tão jovem, aguentou uma
pestinha como sombra? — pergunta, incrédula.
— Aí é que ‘tá. Eu não via isso como sacrifício, Marina. Ter
você à minha volta era como um bálsamo para minha alma solitária.
Você e seu pai substituíram a falta que minha família me fez. As

horas em que eu passava com vocês sempre foram as melhores


horas dos meus dias cansativos. Era onde eu me encontrava, meu

porto seguro — desnudo de vez a minha alma.


— Te entendo, amor. Eu sentia o mesmo. Lembro-me de sua
presença constante em minha vida — fala com olhar saudoso. — Eu

te via como um super-herói, aquele com quem eu sempre podia


contar.

— E podia mesmo. Você sabe disso, não sabe?


— Claro que sei, se eu não estivesse tão cega por sua

rejeição, jamais teria acreditado nas merdas que você me falou —


diz, parece tentar amenizar minha culpa.
— Não, meu anjo, você não tem culpa de nada. Eu é quem

deveria ter sido mais cuidadoso — falo enquanto acaricio sua


cintura por cima da camisola. — Parando para pensar, as coisas

nem sempre foram tão difíceis entre nós dois, não é mesmo? —
indago
— Não. Tudo ia muito bem até a chegada da maldita

adolescência — brinca com o fato.


— Verdade. Você não tem ideia do choque que foi perceber
que eu poderia estar nutrindo certa atração por você. No início, eu
tive tanto nojo de mim mesmo. Não conseguia nem me olhar no

espelho.
— Pobrezinho. — Faz um biquinho com a boca, num gesto de

lamento. — Hoje em dia eu compreendo a barra que deve ter sido


para você.
— Demais. Um dia eu olho para uma criança e sinto como se

fosse um tio ou um segundo pai, e no outro eu te vejo adolescente e

começo a reparar nas curvas do seu corpo, no quanto você estava


ficando cada dia mais linda. Lembro-me de quase ter ido à loucura

na época. — Sinto-me leve em confessar isso a ela.

— Oh, Erick, perdão, eu não queria...

— Ei, Ei! — interrompo seja lá o que fosse dizer. — Pare com


isso. Você não tem culpa de nada. Foram apenas sentimentos que

eu não pude controlar.

— E quando foi que isso começou? — indaga.


— Acho que foi quando completou quinze anos. Lembra da

festa na piscina? — pergunto e ela confirma com a cabeça. — Foi

ali, no momento em que te vi saindo da piscina com aquele biquíni


indecente. Naquela hora, eu percebi que você não era mais a minha

garotinha, que estava se transformando em uma linda mulher.


— Então foi na mesma época em que eu comecei a te ver com

outros olhos?

— Provavelmente, sim, apesar de que no início era algo mais


fraco. Era apenas uma atração e eu tentava levar numa boa porque

acreditava que passaria logo. As coisas ficaram difíceis de verdade

quando percebi que você também se sentia atraída por mim e

quando começou a demonstrar isso. — Isso sim é que era


provação.

— Eu era muito chata, né? Não perdia a chance de me jogar.

— Não, amor, sua abordagem era tudo, menos chata. Chato


era o esforço que eu tinha que fazer para não sucumbir — admito

para que entenda a provação que impus a mim mesmo.

— A gota d’água foi aquele passeio em comemoração do meu


aniversário. — Garota esperta. — O que desencadeou tudo aquilo,

Erick?

— Não sei bem, anjo, acho que foi um misto de coisas. O fato

de você estar se aproximando da vida adulta e a sua abordagem


mais aberta me trouxeram o medo de não resistir, de fazer o que
meu coração e meu corpo queriam. Um querer que contrariava meu

lado racional. Era uma batalha travada entre o coração e a razão

— E a razão acabou vencendo... — constata, conformada.


— Sim, meu bem. Naquele momento, eu preferi não arriscar

perder a amizade do seu pai. O medo de desapontá-lo foi maior do

que qualquer coisa — confesso de forma sincera. — E para ser

sincero, eu não me arrependo da decisão que tomei. Meu único


arrependimento é a maneira como te tratei, por minha culpa

passamos tanto tempo longe um do outro. Não pude te abraçar nos

momentos em que mais precisou de mim.


— Não precisa mais se culpar, deixe o passado para lá. Hoje

eu entendo que você tinha razão em não querer nada comigo

naquela época. E talvez eu não tivesse maturidade para te dar o

que precisava. Além disso, o que importa é que estamos aqui,


agora. Só nós dois!

— Sim, meu amor. Somente eu e você — digo, colando nossos

corpos e rostos o máximo que a física permite.


Ela me olha com adoração, e eu rodeio meu braço em sua

cintura fina. Acaricio seu rosto e o afasto, encarando-o.

O clima muda, eu fito a sua boca, assim como ela mira a

minha, e percebendo o que está prestes a acontecer. Marina abre


mais os olhos e ofega de um jeito que torna quase impossível a

minha respiração.
— Erick, me beije... — pede, numa mistura de expectativa e

desejo, enquanto eu colo novamente nossos lábios. De repente,

sinto todo o meu corpo se arrepiar em antecipação.


— Sim, minha linda, isso é tudo o que eu mais quero nessa

vida — afirmo contra sua boca.

A princípio, ficamos com os lábios colados, sem qualquer

movimento, apenas sentindo nossas respirações se misturarem. O


aroma doce do resquício de batom que ela outrora usou invade

minhas narinas, entorpecendo meus sentidos. Devagar, passo a

sugar seu lábio inferior, apreciando o doce sabor de morango e,


completamente tomada pelo desejo, Marina solta um pequeno

gemido, e eu começo a chupar sua língua lentamente, num misto de

euforia e tesão.

Todo o sangue das minhas veias corre lentamente para o meu


pau e sem que possa evitar ou controlar o que estou fazendo, deito-

me por cima do seu corpo, sentindo assim cada pedacinho do que

me pertence, do que foi e do que sempre será meu. Sem desgrudar


nossas bocas nem por um segundo, desço minhas mãos até suas

coxas roliças, encaixo Marina sob meu quadril e quase vou à


loucura quando sinto o perigoso contato dos nossos sexos sedentos

por alívio.

Tomado pelo tesão e sem conseguir pensar com clareza,

começo a fazer movimentos circulares com o quadril. Simulo


movimentos sexuais sem o menor pudor, como se estivesse

penetrando sua boceta. Minha garota não fica atrás, pois a cada

bombada que dou, ela vem me encontrar no meio do caminho. É


como se fôssemos feitos um para o outro. Já deu para notar que

entre nós dois não existirá tabus e restrições, existirá apenas nossa

corrida em busca do prazer sem limites. O nosso prazer.

O beijo também se torna mais carnal, nossas bocas estão


numa dança sincronizada de lábios e línguas, eu peço e ela dá, eu

tiro e ela procura. Já sem fôlego e a um passo de perder o controle,

solto nossas bocas em busca de ar. Sem querer dar qualquer


trégua, Marina ataca meu pescoço com várias mordidinhas, e eu

não faço outra coisa além de gemer enlouquecido.

— Marina... Peça-me para parar, eu não aguento mais... —

suplico enquanto pressiono minha ereção no seu centro pulsante. —


Não é para ser assim... — gemo, insano, com as mordidas que

agora recebo na ponta da orelha. “Ai, porra, se essa diabinha não

parar, eu vou gozar”, penso, mandando tudo para o espaço ao


começar a subir a ponta de sua camisolinha sexy. — Puta que pariu!

— urro de dor ao sentir uma fisgada inesperada no alto do meu


tornozelo.
CAPÍTULO 12 INTRUSOS

— Oque foi, Erick, você está bem? — pergunto ao senti-lo


abandonar meu corpo de maneira súbita. Assustado, ele leva a mão
ao tornozelo, para só então olhar direto para sua agressora.

Sentada na ponta da cama, Floquinho o encara tão séria


quanto é possível para um felino. Seus imensos e redondos olhos
azuis o avaliam como quem se pergunta o porquê de ter um homem

em cima de sua dona.


— Ela enfiou a garra em mim, Marina — diz apontando o dedo
acusador para a gatinha. O cenário aqui não poderia ser mais

cômico; Erick encarando Floquinho fixamente, enquanto ela devolve

na mesma moeda. Minha pequena defensora estaria prestes a


rosnar como só um cachorro faria se Thor já não estivesse fazendo

seu trabalho. Sentado ao pé da cama, o enorme cão comporta-se

como se fosse o segurança da Floquinho. Atento, ele avalia o


ambiente e cada movimento meu e do seu dono. É, parece que

esses dois acabaram se tornando amigos, contra todas as


probabilidades, eles conseguiram essa proeza. — Isso no seu rosto

é um sorriso, garota? Está achando engraçado o que essa pequena


ferinha fez comigo? — reclama, birrento, ainda segurando o

tornozelo como se o mesmo estivesse prestes a cair.

— Eita, deixe de drama, homem. Tire a mão daí de cima —


peço ao arrastar-me de joelhos até o local em que minha gata está e

pegá-la carinhosamente nos braços. — Está vendo, foi só um leve

arranhão. — Volto a me recostar na cabeceira da cama,


acarinhando a cabecinha peluda do meu bebê.

— Verdade, foi apenas um arranhão — confessa mansamente

enquanto me encara com um olhar safado.


O que foi que eu perdi aqui? O homem estava até agora há

pouco se queixando de dor.


— Que cara é essa, meu amor? Não estava prestes a perder

seu precioso tornozelo? — indago, irônica, e sou presenteada com

seu olhar enigmático.

— E estava mesmo, mas aí você me presenteou com uma

imagem que faria até morto volta à vida — diz e vejo em seus olhos

a vontade que tem de avançar, não o fazendo apenas pelo temor


das garras afiadas da gata.
— Imagem? — questiono, vendo-o bater no colchão,
chamando assim o último convidado que faltava para festa estar

completa. Comportado, e vendo Floquinho ressonar tranquilamente

nos meus braços, Thor pula sobre a cama e, ajeitando-se o mais

distante possível, fecha os olhos, como quem ignora tudo que não

seja seu desejo de dormir.

Que interessante, os dois interrompem nosso primeiro beijo;


primeiro amasso, primeiro tudo, para depois se aconchegarem e

dormirem tranquilamente.

— Sim, minha princesa. A imagem da sua bundinha arrebitada

quando se arrastou até a gata — confessa por fim, e eu não acredito

que era isso o tempo todo. Virgem Santíssima, que vergonha! Eu,

com essa lingerie curtíssima, não parei para pensar que deixaria

toda a minha bunda de fora quando tive a brilhante ideia de virá-la


em sua direção. Pelo menos a calcinha que estou usando é

decente, mesmo que esteja completamente arruinada desde a hora

em que o vi sair do seu quarto. — Não precisa se envergonhar —

assevera ao tirar as mãos que cobriam meu rosto em claro sinal de

timidez. — Foi uma bela visão, amor. Você não sabe o quanto me

fez ter ideias nada puras ver esse seu rabinho empinado, com esse
pedaço de pano que você chama de calcinha todo socado na sua

bunda.
— Ideias, é? Que tipo de ideias, meu bem? — Decido entrar

no jogo de sedução. Já que os bichinhos nos interromperam, talvez


seja um bom plano saciarmos nossos desejos de outra forma.
Para mim não importa como isso vai ser, se é falando e

ouvindo sacanagens, ou se é se esfregando um no outro como


estávamos fazendo antes. Tudo o que me importa no momento é

continuar vivenciando a alegria e o prazer de finalmente tê-lo feito


aceitar o que existe entre nós dois, fazê-lo entender que não existe

tempo ou distância capaz de eliminar, ou ao menos diminuir o amor,


a paixão, o desejo e o tesão que nos consomem.
Sentir seus braços me abraçarem intimamente, tão diferente

das outras milhares de vezes em que o fez, trouxe-me a sensação


de finalmente ter encontrado meu lugar. Desta vez, ele não quis sair

correndo, longe disso, hoje ele me permitiu sentir o tamanho do seu


desejo por mim. Meu amor colou nossos corpos de uma forma tão

íntima, que eu pude sentir sua poderosa ereção cutucar minha


barriga, se antes eu sabia do seu desejo, agora eu tenho certeza
dele.
Quando seus lábios finalmente me beijaram, me senti escaldar

como um vulcão prestes a entrar em erupção. O prazer foi tanto que


teve um momento em que realmente acreditei ser capaz de gozar

sem qualquer estímulo. E apesar de toda a intensidade, o abraço


íntimo e os beijos arrebatadores foram fichinhas perto do momento

em que ele partiu para cima de mim. Eu sonhei tanto com seus
beijos que talvez tenha estado preparada quando o primeiro
finalmente aconteceu, só não contava mesmo era com o turbilhão

de sentimentos que me abateram quando senti seu peso sobre meu


corpo e a forma como nos encaixamos um no outro.

Veio tudo misturado, o amor e o tesão juntos numa briga para


ver quem domina mais espaço: se é a vontade de dormir a noite
inteira nos seus braços, ou se é a vontade de passá-la acordada

sendo preenchida de todas as formas e intensidades que ele quiser


e que aplaquem pelo menos um pouco da dor que sinto no meio das

pernas, que me recompense por todas as vezes em que acordei


subitamente, logo após um sonho erótico com ele. Sonhos que me

faziam acordar molhada de tesão. Ocasiões onde não me restava


outra saída, a não ser enfiar meus próprios dedos dentro da
calcinha e, numa masturbação superficial, conseguir o mínimo

alívio. Esse prazer fugaz nunca foi suficiente, uma vez que minha
mente insistia em permanecer com a imagem de Erick. Sua
presença sempre foi sentida, tanto nestes momentos íntimos
quantos nos beijos desajeitados dados em garotos que nunca

fizeram um por cento do que somente sua imagem faz em meu


corpo, alma e coração.

Agora estou aqui, sentada no aconchego de uma cama de


casal ao lado do homem que amo, e a vida está aí para provar que
a realidade é muito melhor do que os sonhos.

— Quer mesmo que eu te diga? — questiona, sem conseguir


esconder seu olhar arruinador de calcinhas. Em resposta, eu

apenas afirmo positivamente com um leve balançar de cabeça. —


Tudo bem, mas antes, vamos tirar as crianças do quarto, eles são

inocentes demais para as nossas putarias — avisa, e eu acho graça


de ele verdadeiramente achar que eles são crianças e não animais.
Não que eu não concorde que eles são dois bebês inocentes. O

mais divertido disso é ver um marmanjo como ele falar dessa forma.
— Concordo plenamente — digo e já estou me preparando

para levantar, quando sou interrompida por Erick.


— Pode deixar que os levo, meu amor. — Pega Floquinho
carinhosamente dos meus braços que, sem esboçar nenhuma

reação negativa, continua dormindo. Aquela cena toda dela foi


apenas motivada pelo ciúme, afinal de contas, ela nunca tinha
convivido com muitas pessoas além das de costume. Sempre foram
apenas eu, papai e minha amiga Ângela. Seu instinto de proteger a

dona deve ter aflorado ao avistar aquele homem enorme em cima


da sua mãe.

Não esperava outra atitude da minha menina.


— Vou levar Thor para área de serviço. Eu acabei arrumando
um cantinho para colocar a casinha dele. Vem, garotão — chama o

animal com uma leve palmadinha nas suas costas. — Isso,

campeão — elogia ao vê-lo descer e sair sozinho do recinto.


Esperto como parece ser, Thor deve ter ido direto para caminha. —

E ela, meu bem? Onde quer que eu a deixe? — indaga, já parando

ao lado da porta.

— Coloca no meu quarto mesmo. O cestinho dela está ao lado


da cama — explico.

— Só um segundinho. — Manda um beijo bobo e sai do

quarto.
Ouço o bater da porta e imediatamente me viro na direção do

espelho que enfeita a porta do seu closet. Aproveitando-me dos

poucos segundos que tenho, arrumo meu cabelo, analiso se meu


rosto está nos conformes e ajeito-me na cama de uma maneira que
me faça parecer mais segura e sexy. Se é que existe uma posição

para isso.
Será que vamos transar hoje à noite? Não sei se estou

preparada para dar esse passo tão definitivo, apesar de querer

muito. Mas sabe de uma coisa, eu não vou ficar pensando nisso
agora, se tiver que ser hoje, que seja. Na hora eu vejo se estou ou

não confortável. E se não tiver, com certeza terei a coragem de falar

não. Meu amor me respeitará, disso eu não tenho dúvidas.

— Pronto. Crianças dormindo e os pais fazendo a festa —


brinca ao se deitar no mesmo lugar que anteriormente estava.

— E então, Erick, você enrolou tanto que acabou não me

falando das tais ideias — jogo na cara dele e logo fico sem graça,
daqui a pouco ele vai pensar que eu estou no cio.

— Você quer transar, Marina? — Sabia que tinha passado

essa impressão. Que mico da porra.


— E-eu não... Quer dizer... — Pensa, Marina. Pensa, caralho!

— Não precisa ficar assim, amor, eu estou louco de vontade

também — confessa ao pegar minha mão. — Sinta como ele fica

animado por sentir seu cheiro tão de perto, minha gostosa. —


Coloca minha mão em cima da sua coxa, distante apenas alguns

poucos centímetros de sua visível ereção. Agora, além de não


conseguir desviar os olhos do seu pau, também não me sinto capaz

de conter minha mão, mais um pouco e eu o pego de jeito. — Sabe

o que eu imaginei quando vi seu rabinho todo de fora e ainda por


cima com a porra da calcinha socada na bunda? — pergunta, num

tom de voz gutural, ao se chegar mais para perto do meu corpo.

— Não... — respondo num fio de voz quando sinto o calor de

sua mão quente subir sedutoramente por minha coxa, que neste
momento está junta da outra. É como se mantê-las unidas pudesse

de algum modo conter um pouco do fogo que ameaça me consumir.

— Imaginei nós dois aqui, ou em qualquer outra superfície.


Você estaria de quatro, igual fez ao pegar Floquinho — sussurra,

aproximando a boca do meu ouvido, ao passo que a mão para no

começo da minha coxa, tendo o dedo indicador perigosamente perto

da minha boceta. Sua ação tem o instantâneo poder de fazer com


que eu afaste minhas pernas, deixando entre elas espaço suficiente

para que ele faça o que quiser com a mão que ali descansa. — Eu

viria por trás, afastaria sua maldita calcinha para o lado e socaria
meu pau em sua boceta até que implorasse por clemência; eu

bateria tanto nessa bocetinha apertada que você me sentiria dentro

dela por dias a fio. Sentiria a dor de ter sido bem comida. Iria saber

que quem esteve aí dentro foi seu homem, o único que teve e que
vai ter esse privilégio — despeja todas as suas taras. É como se

estivesse liberando o que por tanto tempo foi reprimido. — E você


gostaria disso, não é, minha safada? Adoraria tomar ele até o

fundo... — fala, mordendo meu pescoço fortemente, fazendo-me

sentir uma fisgada de dor, que logo é substituída por prazer quando
a sua mão entra dentro da minha calcinha.

— Oh..., sim — confesso, ensandecida de tesão.

Não mais aguentando manter minhas mãos paradas e

querendo lhe proporcionar o mesmo prazer que sinto, agarro seu


pau ainda dentro do moletom. Sem saber muito bem o que fazer,

decido colocar em prática todo o meu conhecimento adquirido dos

vídeos pornôs que tanto assisti. Com os dedos quase juntos, seguro
seu membro pulsante e, num ritmo cadenciado, passo a fazer

movimentos de vai e vem, indo da base até a ponta. O moletom

dificulta, mas pelo visto estou no caminho certo, já que tenho seu

olhar cheio de surpresa e desejo fixo no meu rosto.


— Isso, minha safada... — Solta um urro gutural, trazendo seu

corpo parcialmente para cima do meu. Sem se fazer de rogado e

deixando-se levar pelo desejo, Erick começa a fazer movimentos


circulares e ritmados no meu sexo gotejante. Seus dedos passam a

estimular meu clitóris inchado, e eu, já prestes a gozar, começo a


estimular e apertar a ponta do seu pau que acabara de molhar o

moletom cinza com seu líquido pré-gozo. — Mais rápido, minha

linda. Isso, porra — elogia e, completamente fora de controle,

começa a dar fortes tapas na minha boceta, que dói pela vontade de
ser preenchida e queima de excitação pelos tapas.

Nunca imaginei que sentiria tanto prazer com a dor, mas o fato

de estar a ponto de gozar por tapas grosseiros mostra que talvez eu


seja uma puta masoquista, e eu gosto disso.

— Oh, Erick... Acho que vou... — tento dizer, porém, não

termino a frase, porque sinto meu corpo convulsionar num orgasmo

que quase me fez perder os sentidos. Só não o faço porque os


planos do Erick são outros... Perdido de desejo, ele coloca umas

das mãos sobre a minha e começa a ditar o ritmo do meu aperto.

Após alguns segundos, ele solta minha mão e volta a se dedicar


apenas ao meu prazer. Com dois dedos dentro do meu sexo,

começa a estocar vigorosamente. E assim ficamos, os dois loucos

de paixão e tesão a buscar o prazer do outro.

— Isso, caralho, mais rápido. Mais rápido, minha gostosa —


pede e também aumenta os movimentos de suas estocadas. — Eu

vou gozar, porra... — diz, expelindo um jato de sêmen que molha


toda à frente de sua calça, no mesmo instante em que eu quebro no

meu segundo orgasmo.


Puta que pariu! Meus sonhos parecem borrões pálidos e sem

graça ante a realidade do que aconteceu agora.

Ainda trêmulos, porém, saciados e felizes, Erick e eu nos

fitamos, a cumplicidade no ar.


— Você está bem, minha linda? — indaga quando tombamos

deitados de barrigas para cima, com os rostos virados um para o

outro. — Foi bom para você? Não acha que fomos rápidos demais?
— Foi mais do que bom, nem meus melhores sonhos me

prepararam para grandiosidade do que fizemos e do que senti —

confesso, sincera. — Espero que tenha sido bom para você


também, amor.

— Bom nunca será o suficiente para descrever a alegria de

finalmente te ter dessa forma, Marina. Eu finalmente tenho minha

mulher no lugar que sempre foi seu. — Debruça-se, beijando


carinhosamente minha boca. — E se prepara que isso é só o início,

minha delícia — afirma, dando beijos no meu pescoço. — Agora

vamos limpar essa bagunça? — diz, fazendo-me olhar


instintivamente para sua calça, que ostenta uma enorme mancha, e

quase desfaleço de vergonha ao me dar conta do seu olhar sobre


minha calcinha igualmente molhada. A pobre da camisola está toda
embolada na altura da cintura. — Ei, não tem necessidade de ficar

constrangida. Essa aqui é a nossa bagunça. Só nossa, é a prova do

amor que fizemos aqui — termina de dizer, e eu fico impressionada


com sua habilidade em me acalmar, em me trazer a sensação de

que tudo sempre dará certo, desde que estejamos juntos. — Fica

quietinha aí, vou pegar uma roupa para você. — Levanta-se num
pulo. Em frente ao closet, ele tira moletom e cueca de uma só vez,

deixando-me vislumbrar sua bunda firme e musculosa. Devo

confessar que essa sim é a visão do paraíso. — Apreciando a vista,

pequena? — questiona ao abaixar-se para vestir a boxer preta da


Calvin Klein, logo depois, ele retira uma camiseta cor creme de

umas de suas várias gavetas. Olho ao redor e fico admirando a

organização do ambiente, não tem nada fora do lugar. É realmente


de se impressionar ao ter em vista o fato de ele ter acabado de

mudar.
— Não nego, nem confirmo — brinco, e ele sorri da minha
resposta vaga.

— Toma, anjo, vista isso. — Se aproxima e me entrega a


vestimenta, mas não sem antes me dar um selinho. — Posso me
virar de costas se você quiser um pouco de privacidade para se
trocar — fala, todo cavalheiro.
— Não há necessidade, já temos intimidade o suficiente para

que não exista esse tipo de pudor — afirmo e tiro a camisola pela
cabeça; logo depois, retiro a calcinha empapada, ficando nua sob o
olhar guloso do meu amor.

— Apreciando a vista, grandão? — uso sua frase.


— Demais, minha gata, mais um pouco desse show de beleza
e você me terá babando nos seus peitos.

— Seu safado. — Visto sua camiseta, que mais parece um


vestido no meu corpo, e volto a me deitar na sua aconchegante
cama. Erick, por sua vez, sai desligando as luzes do ambiente e

deixando apenas o abajur do seu lado da cama acesso.


Deitada de lado e pronta para dormir, sinto o outro lado da
cama afundar com peso do seu corpo. Sem fazer muito barulho, se

deita atrás de mim e abraça possessivo a minha cintura, deixando-


nos assim numa perfeita e confortável conchinha.

— Dia cansativo? — pergunta ao beijar meu rosto ternamente


e penso que talvez esse seja um dos motivos de eu amá-lo tanto. O
homem que me acalenta em seus braços fortes nem de longe se

parece com o selvagem que agora a pouco me pegou com firmeza e


falou tantas obscenidades. Essa sua capacidade de me fazer feliz
em todas as suas personalidades apenas confirma o fato de ter
escolhido a pessoa certa para entregar meu amor.

— Eu não diria cansativo, mas sim intenso — divago. —


Intenso e feliz. Talvez o dia mais feliz da minha vida, até agora —

confesso, prestes a me entregar ao sono.


— Da minha também, pequena — diz, também sonolento. —
Agora durma.

— Eu te amo, Erick — consigo dizer ainda.


— Eu também te amo, Marina. — Ouço-o antes de cair num
sono profundo.
CAPÍTULO 13 ACERTOS

— Meu amor, está na hora de acordar — digo preguiçosamente ao


despertar do que considero a melhor noite que tive em muitos anos.

Posso parecer um piegas ao atribuir a ela e nossa relação tudo


de bom que vem acontecendo nas últimas horas, mas se ser sincero
com ela e com meus sentimentos é ser piegas, então eu sou o
maior piegas que o mundo já viu. Não sei se culpo meu amor

incontestável ou a falta de entusiasmo que sempre tive com as


outras mulheres, mas a verdade é que todas as primeiras vezes
com Marina foram as melhores da minha vida adulta. Seja o

primeiro abraço nada inocente, onde deixei que sentisse o tamanho


do meu desejo por ela, seja nosso primeiro beijo, em que a óbvia

falta de experiência foi compensada por seu entusiasmo, ou seja por


nossa primeira masturbação mútua. Podem se passar mil anos e eu

nunca serei capaz de esquecer a cena que ocorreu aqui nessa

cama. Lembrarei do seu rosto contorcido de prazer quando enfim


gozou em meus dedos, da surpresa que senti ao vê-la manusear
meu pau tão corajosamente, mesmo que teoricamente não

soubesse como fazer.


Perfeita, essa noite foi pura perfeição!

Se houvesse um ranking em que fossem eleitos os melhores

dias da minha vida, esses momentos com certeza estariam no topo.


Sendo o segundo lugar preenchido pela delícia de segurá-la nos

braços depois de ela cair num sono pesado graças as nossas

brincadeirinhas. Vê-la dormir com nada além da minha camiseta me


faz tão possessivo que a vontade que tenho é de bater com os

punhos no peito como um homem das cavernas. Despertar e ter seu

rabinho colado na minha ereção matinal é como ter meu prato


favorito na minha frente e estar louco para comer até me lambuzar,

mas saber que me lambuzar pode trazer sérios riscos à saúde. É


assim que me sinto agora ao ter a plena noção de que minha mulher

não usa nem mesmo a porra de uma calcinha, que é só descer

minha boxer, levantar um pouco sua perna e meter com ela assim,

deitada de ladinho, com as costas apoiadas no meu peito. Eu

meteria até o talo, tiraria e meteria de novo, isso até nós dois

cairmos mortos, porém, prontos para um novo dia...


— Vamos, minha linda, deixe de ser preguiçosa — lhe mimo,

colando nossos corpos mais um pouco. Incapaz de resistir, enfio


minha mão por dentro da camiseta e vou subindo até alcançar seus
seios, que me deixam pronto sempre que os percebo duro de

excitação. Essas delícias são tão sensíveis que é até jogo baixo

com minha garota, uma vez que eles sempre vão denunciá-la. Eles

delatam que nunca haverá o dia em que ela consiga mentir sobre

suas vontades. Se eu quiser saber sua disposição em me dar, é só

olhar para os gêmeos, se eles estiverem piscando, é porque


também querem entrar na festa.

Que chance Mari tem contra esse trio de peso? Agora, por

exemplo, estão durinhos feito pedra, denunciando o fato dela não

estar tão inconsciente assim.

— A senhorita não tem aula hoje? — pergunto como quem

atira no escuro. Durante o período em que ficamos afastados,

sempre me mantive atento sobre tudo que lhe diz respeito, por isso
sei que já terminou o colegial e que agora faz um curso de

fotografia. Segundo fui informado pelo próprio pai dela, Marina

pretende ser fotógrafa profissional, dessas que fotografam modelos

e atores famosos para ensaios e capas de revistas.

— Não, amor. O curso é só mais tarde, umas nove e meia —

diz preguiçosamente ao empinar a bundinha contra meu pau, que


está mais do que disposto. O bastardo ganancioso está pronto para
outra festa como a de ontem. — Que horas são? — pergunta sem

mover um único músculo. Já percebi que ela não é uma pessoa


matutina, mas nada que um namorado cheio de amor para dar não

resolva. Nessa parte nossa diferença é bem-vinda. Porque se


Marina acorda como um bebê emburrado, eu, por outro lado, acordo
pronto para distribuir carinho.

— Seis e meia, Mari. Despertei e fiquei preocupado de você


estar perdendo aula. — Belisco o bico do seu seio e ouço-a ofegar

bem baixinho. — Eu também tenho que ir para o escritório —


explico, mordendo a carne do seu pescoço.

Mesmo sendo um dos donos, nunca tive o hábito de chegar


tarde ao trabalho, muito pelo contrário, geralmente sou um dos
primeiros a chegar. Assim que nos formamos e pegamos nossas

carteiras da OAB, João e eu não medimos esforços para tornar do


J&E Associados um dos mais renomados escritórios do país. Ele

era especializado nas áreas cíveis e trabalhistas e eu nas áreas


criminais e tributárias, assim trabalhamos durante muitos anos. E

entre chegar no horário certo e cumprir prazos, nós dois alcançamos


juntos o topo que sempre almejamos. Agora farei de tudo para
continuar do jeito que João sempre gostou.
— Não. Fica mais um pouco, só um pouquinho. Ainda está tão

cedo — resmunga como um bebê manhoso.


— Oh, meu Deus, que mulher preguiçosa essa minha — brinco

ao jogar minha pesada perna em cima do seu quadril, fazendo-a


perceber o quão animado acordei. A mão que apertava o seio direito

agora acaricia sua barriga em movimento circulares.


— Ele não dorme nunca? — indaga maliciosa ao apertar o
rabinho contra meu cacete

— Quando está na sua presença, não. Seu cheiro o deixa


babando de vontade de entrar na festa.

— E por que não entra? — provoca, rebolando de maneira


quase imperceptível. Outra pessoa vendo a cena não perceberia o
que a safada está fazendo.

— Você é mesmo uma putinha safada, não é, minha gostosa?


— Deito-a de barriga para cima e cubro seu corpo com o meu. —

Fica me atiçando assim, tão descaradamente. Faz isso apenas


porque sabe que não irei fazer nada — digo, mesmo sabendo não

ser esse o motivo das suas investidas que tanto amo. Marina me
atiça até o limite da razão, no entanto, eu tenho plena certeza de
que ela não faz joguinhos. Tudo é genuíno e espontâneo. É apenas

a demonstração pura e verdadeira das suas vontades mais íntimas.


— Como assim não vamos fazer nada, Erick? — indaga com
uma expressão temerosa em seu rosto.
— Amor, você ainda não completou dezoito anos, não acha

melhor esperarmos até que complete a maioridade? — Retiro minha


perna de cima do seu quadril e agarro seu bumbum, na tentativa de

fazê-la parar de me atiçar. Se já é difícil resistir com ela parada,


imagina meu sofrimento quando decide me provocar. — Só mais
alguns meses.

— Seis meses é tempo demais, Erick. Não vejo motivos para


não darmos esse passo. Eu te desejo tanto — confessa, despindo-

se de qualquer pudor ao me dizer o que quer. Esse seu jeito aberto


muito me encanta, demonstra a sua confiança em mim sem precisar

ficar reafirmando com palavras. Confiança essa que por muitas


vezes não fiz por merecer. — Além disso, falta tão pouco que
transarmos agora ou daqui uns meses não fará muita diferença —

argumenta.
— Esse sim é um bom argumento, minha gatinha curiosa —

elogio ao apertar de mão cheia a sua nádega. — Aqui em casa,


estando só nós dois, talvez não tenha nenhum problema agirmos
como um casal de namorados, pois é isso que somos. Já lá fora...

— Lá fora?
— Sim, pequena. Acho que não é o momento de aparecermos
como um casal em público — afirmo, torcendo para que ela entenda
o que irei propor.

— Não aparecermos como um casal? O que isso significa,


Erick? — Tira minha mão e senta na cama num supetão. Com um

ponto de interrogação estampado no rosto, ela vira em minha


direção, apenas aguardando a resposta que em nada vai lhe
agradar. — Não vou poder contar para ninguém? — indaga,

chateada, e eu acabo levantando também. Agora, sentados frente a

frente e de pernas cruzadas, nos fitamos com olhares sérios e


compenetrados.

— Não é isso, meu amor. Pensa comigo: você é menor de

idade, seu pai, que era meu sócio e melhor amigo, acabou de

morrer. Você acha mesmo que as pessoas vão entender nossa


relação neste momento? — questiono, fazendo-a entender que as

coisas não são tão simples como gostaríamos que fosse.

Infelizmente.
— Eu não tinha parado para pensar nisso — diz, pensativa.

— Você é muito nova, não sabe até onde vai a crueldade das

pessoas — previno, pois apesar de ser de família rica e de ter


participado de alguns eventos da alta sociedade de São Paulo, ela
ainda não teve o desprazer de conviver mais de perto, de conversar

ou presenciar a crueldade desse tipo de gente. Os mais abastados


sentem-se no direito de julgar sem conhecer e de apontar sem

saber o que há por trás de uma história. — Você não tem ideia do

que pessoas como as que sempre rodearam eu e seu pai são


capazes de fazer, do que seriam capazes de inventar a respeito da

nossa relação.

— Até quando, Erick? Seremos reféns dessa gente, é isso? —

questiona, indignada, e com razão. Marina é boa demais para


suportar qualquer tipo de discriminação e maldade. Sua bondade

me orgulha na mesma proporção com que sua ingenuidade me

preocupa. Preciso e vou garantir que nenhum abutre se aproxime


dela. Não sei o que sou capaz de fazer se lhe magoarem por minha

causa.

— Não, carinho, não será para sempre. Eu proponho


esperarmos pelo menos até que fique maior e que a morte do seu

pai não esteja tão recente.

— Você está certo, amor, vamos manter em segredo por

enquanto. Mas será que tem algum problema eu contar apenas para
minha amiga Ângela? Você conhece ela, né? — pede, fazendo
beicinho. A safada sabe que eu não resisto a um pedido seu quando

faz isso.

— Lembro-me vagamente da garota e se você confia nela, eu


não vejo problema nenhum em falar sobre a gente.

— Confio, sim. Só para você saber, Ângela é minha maior

confidente. Foi ela quem me suportou falando de você, chorando

por você e tendo ataques de ciúmes por sua causa. Nada mais justo
do que ser a primeira a saber do nosso... — Dá uma pausa e me

analisa atentamente. — Nosso o que mesmo, Erick?

— Não sei, gatinha, namoro eu acho que não pode ser, até
porque a senhorita tem um noivo, não é mesmo? — Lembro de suas

palavras e vejo ela juntar as duas mãos fechadas sobre o rosto que

queima de constrangimento. — Eu não posso namorar uma pessoa

comprometida.
— Pare de palhaçada, Erick, você sabe muito bem que não

existe noivo nenhum. Eu inventei ele por sua culpa — fala ao dar um

tapa no meu braço.


— Agora a culpa é minha? E eu não sabia que era invenção

sua. Acreditei de verdade e quase tive um infarto no meio da sala.

— Acho é pouco. Quem manda me irritar? Sorte a sua ser

mentira — diz ao dar de ombros.


— Não, Mari, o único a ter sorte aqui foi seu noivo imaginário.

Não pense nem por um minuto que eu permitiria que te tirassem de


mim. Isso entre nós dois, mais dia ou menos dia, ia acontecer, amor.

Eu sou seu namorado e você é minha namorada, é isso que sua

amiga precisa saber.


— Tudo bem, namorado. — Aproxima-se na intenção de dar

um selinho e quando tento aprofundar o beijo com a ponta da

língua, ela levanta-se da cama num pulo.

— Que foi? Você está bem? — indago, tentando abraçá-la.


— Não. — Afasta-se dos meus braços e sai em disparada

rumo à porta. — Apenas lembrei que acabei de acordar. Além disso,

não podemos nos atrasar, faça suas coisas e me encontre lá na


cozinha para tomarmos café — finaliza e sai do quarto, deixando-me

sem entender nada.

— Oi, amor, em dez minutos eu chego aí — falo ao telefone

com minha namorada. Já são quase seis da tarde e, como o

combinado, irei passar num barzinho perto do curso para pegá-la.


Mais cedo, minha garota me ligou avisando que depois do curso ia

encontrar a amiga Ângela.

— Ok, querido — responde com a voz manhosa. — Espero

ansiosamente — sussurra essa parte, e eu olho irritado para o


painel do elevador. A porra parece descer mais lento que o normal.

7, 6, 5, 4, 3, 2, 1... e finalmente ele chega ao térreo do tribunal onde

eu normalmente participo das audiências. Chegando à garagem,


entro no carro e saio em disparada para os braços da minha garota.

O dia hoje não poderia ter sido mais feliz. Depois de

acertarmos os pontos do nosso namoro, Marina e eu tomamos o

café da manhã cheios de carinho e intimidades. Entre beijinhos e


dar comida na boca um do outro, nós dois não fizemos questão de

esconder dos empregados nossa relação, já basta ter que fingir fora

de casa. Lá não, aquelas paredes serão as maiores testemunhas do


nosso amor, só espero que elas sejam resistentes. A única coisa

ruim da nossa primeira manhã como casal foi o fato dela ter

acabado. Às sete e meia tive que me despedir da boneca e ir para o

trabalho, meu lento e enfadonho trabalho. Pelo menos é assim que


venho pensando durante todo o dia de hoje. Eu e ela, como duas

pessoas que acabaram de assumir uma relação, só queremos ficar

juntos o tempo todo.


Quando finalmente chego, avisto Marina e sua amiga sentadas

numa mesa de madeira do lado de fora do bar. Passo alguns


segundos observando sua beleza jovem, quando um rapaz de mais

ou menos uns vinte anos se aproxima e senta ao lado da minha

mulher. Ele apenas cumprimenta Ângela e logo passa a conversar

com Marina ignorando completamente a presença da outra.


Quem esse filho da puta pensa que é para estar tocando

minha mulher desse jeito, porra? Saio do carro furioso ao ver o cara

acariciar seu braço que descansa sobre a mesa.


— Marina? — chamo, e tanto ela quanto o moleque viram as

cabeças para trás com olhares assustados. A amiga apenas me fita

paralisada e de boca aberta, já que estava sentada de frente e foi a


primeira a perceber minha chegada. — Atrapalho?
CAPÍTULO 14 NO LUGAR DO OUTRO

— Erick? — digo, surpresa, ainda que estivesse lhe esperando.


Olho dele para a mão de Mateus em meu braço e o puxo como se
tivesse sido pega cometendo um delito. — Chegou rápido. — Seu

olhar furioso em mim denuncia que acabei de falar a coisa errada na


hora errada. Puta que pariu! Por que Mateus tinha que aparecer
logo agora? Ainda mais sem ser convidado. A menos, é claro, que

sua priminha o tenha chamado e esquecido de me avisar esse


detalhe importante. Não é que eu ache o Erick um cara ciumento ou
que faria algum tipo de escândalo, para falar a verdade, eu não sei o

que pensar a respeito disso, afinal de contas, estamos namorando

há apenas um dia, ou uma noite, para ser mais exata. Não tenho
ideia de como ele pode reagir ao ver essa cena, que em si não teria

nada demais, se eu não soubesse qual é a do Mateus.

— Pois é. Mas como você pode ver, eu já estou aqui, vamos?


— fala sarcástico e mal-educado. Ele está me constrangendo na

frente da minha amiga.


— Erick, você lembra da Ângela? — indago para tentar

quebrar o gelo e, quem sabe, trazer de volta o seu bom humor, que
provavelmente deixou dentro do carro. Se bem que ele fica tão sexy

com essa cara de mau, com esse olhar gelado e testa franzida, que

tenho vontade de deixá-lo mais irritado ainda, apenas para ter mais
desse olhar, para ter um pouco do seu modo bruto. — Minha amiga

que sempre estava lá em casa. — Lanço lhe um olhar suplicante.

Erick não pode tratá-la com hostilidade, não quando eu passei a


tarde inteira falando do quanto ele é gentil, do quanto me fez feliz

quando me beijou e tocou intimamente. Minha amiga, no mínimo,

acharia que sou uma mentirosa e eu não quero nenhum tipo de


atrito com ela. Ângela tem sido minha amiga desde que me entendo

por gente, não quero gerar mais desconfiança num relacionamento


que ela já não ver com bons olhos. Para ela, eu sou nova demais

para assumir uma relação com um homem maduro feito o Erick.

— Lembro, sim. — Desvia o olhar de mim para ela. —

Desculpe minha indelicadeza. Como tem passado, Ângela? Marina

fala muito de você — revela ao pegar sua mão e beijá-la

gentilmente. No mesmo instante, sinto o bichinho do ciúme me picar,


o que é patético da minha parte. Erick está apenas tentando ser

gentil e ela é minha amiga. Amiga essa que agora tem um sorriso
tímido no rosto e as bochechas coradas num tom de vermelho vivo,
nem de longe parece a mesma garota que contesta tanto nossa

relação.

— Estou bem, senhor... — responde, insegura, e eu percebo

sua indecisão sobre como deve chamá-lo, porque, afinal de contas,

se fôssemos avaliar nossa idade e a dele, seria aceitável usar esse

tipo de tratamento. Só que neste caso a situação é diferente, uma


vez que o “Senhor Erick” também é meu namorado. — E espero que

ela fale apenas coisas boas ao meu respeito.

— Pode ter certeza que sim. Marina é muito leal — diz

olhando-a com seriedade, e eu quase tenho a sensação de que ele

não confia nela. — E você, rapaz, quem é? — Desviar o olhar para

um Mateus que até então apenas observava a cena com atenção.

Eu já tinha até esquecido da sua presença desnecessária. Ainda


não entendi a necessidade que Ângela tem em tentar enfiar esse

garoto em todos os programas que fazemos, seja os como o de

hoje, quando era para estar só nós duas e de repente ele aparece,

ou nas reuniões que fazemos mensalmente para reunir toda a

galera do colégio.

Mateus é primo de Ângela por parte de mãe e, segundo minha


amiga, ele veio passar uma temporada com a família dela porque
estaria dando muitos problemas na cidade do interior em que vivia

com os pais e uma irmã pequena. Aos vinte anos, o cara reprovou
vezes o suficiente para ter que fazer o último ano do ensino médio

junto com a prima de dezoito anos. Desde que ele chegou, Ângela
tem feito de tudo para encaixá-lo no nosso grupo de amizade. Eu
nunca fui do tipo de pessoa que julga os outros, que entra em

panelinhas e não deixa ninguém de fora se aproximar, pelo


contrário, sempre fiz questão de me aproximar de quem quisesse

minha amizade, não excluindo por condições financeiras ou


qualquer outra babaquice do tipo. Mas com Mateus não deu para

segurar, o cara chegou no colégio todo cheio de marra, se achando


o suprassumo da virilidade apenas por ser um cara mais velho no
meio da pirralhada. Ele saiu dando em cima de todas as garotas,

quer dizer, não todas, apenas as que na sua visão tivessem uma
melhor condição financeira ou um sobrenome influente na alta

sociedade. O pior disso não é nem a inconveniência de suas ações,


e sim sua maldade, já que sua única intenção em as paquerar era

massagear seu ego.


O babaca iludia as pobres coitadas, chegando inclusive a levar
algumas para a cama para depois, segundo ele mesmo se gabava,

meter o pé na bunda. Isso tudo porque além de idiota, esse garoto


também é pretensioso. Quem ainda cai no papo dele ou é inocente

demais ou besta, afinal, não é segredo para ninguém que sua mira
sempre esteve virada para mim.

Infelizmente.
Com a ajuda da prima, Mateus passou o ano inteiro no meu pé

e foi inconveniente por mais vezes do que sou capaz de aguentar,


sempre dando um jeito de aparecer nos mesmos locais em que eu
estava e com a mania irritante de querer sempre me tocar. Não é

como se eu nunca tivesse lhe dado um fora. Já dei e não foram


poucos, mas o cara simplesmente não se toca. Fica querendo forçar

uma eterna barra. Acho que ele coloca um ovo se forçar mais.
O pior disso tudo é que o interesse nunca foi genuíno, o que
mais chamou sua atenção para mim foi classe social e status, mas,

para seu azar, isso nunca me importou.


Eu estou com tanta raiva desse moleque que nem sei o que

sou capaz de fazer se ele tiver estragado meu namoro já no primeiro


dia.

— Tudo bem, senhor? Prazer, Mateus. — Oferece a mão em


cumprimento e Erick não aceita. Ele continua com as duas mãos
dentro dos bolsos, confesso que fiquei com um pouco de pena do

cara. — Sou primo da Ângela e amigo da Mari — da ênfase no


“amigo” e me chama pelo apelido. Minha pena some imediatamente,
já que esse idiota está claramente tentando provocar o meu
namorado.

— O prazer é meu — Erick cumprimenta mordaz e não


consegue disfarçar o sentimento contrário ao que diz. Seu rosto

demonstra um verdadeiro desprazer. — Vamos? — me chama e


quando vou me levantar, Mateus ataca novamente.
— Não, Mari, fica mais um pouco — fala na cara dura,

ignorando a presença do Erick. — Acho que seu pai não vai se


importar. — Olho para Erick e ele está quase cuspindo fogo pelas

ventas.
— Eu não sou o pai dela — responde de má vontade, e eu

quase caio para trás quando sinto o braço de Mateus abraçar meus
ombros por cima do encosto da cadeira. Olho para Erick e ele agora
está encarando a mão do folgado como quem lança facas pelos

olhos.
— Desculpe pelo vacilo — Mateus diz. Levo meu tronco mais

para frente, afastando de mim os braços de polvo de Mateus. —


Deve ser o tio, então. Por que você nunca me falou que tem um tio
tão maneiro, gata? — pergunta como se eu e ele tivéssemos

alguma intimidade para que eu lhe desse esse tipo de informação


ou que permitisse que me chamasse de gata. Cara mais detestável.
Eu vou matar a Ângela, ela vai me pagar muito caro por me fazer
passar por esse constrangimento.

Pela cara com que meu amor me encara, eu estou muito na


merda.

— Ele também não é tio dela — fala a bonita, resolvendo abrir


a boca pela primeira vez desde que essa cena patética começou. —
Será que dá para calar a boca só um pouquinho? — pede, já sem

paciência para as inconveniências do primo.

— Não tem problema, Angel, já estamos de saída. — Ignoro a


pergunta anterior de Mateus, levantando-me da cadeira e indo de

encontro ao Erick, que está parado a poucos passos da mesa. —

Até logo, amiga. — Mando um beijo de longe. — Foi um prazer,

Mateus — digo, seca, esperando não ter o desprazer de vê-lo tão


cedo.

Erick e eu damos apenas alguns passos em direção à calçada

antes de sermos interpelados por uma pessoa.


— Erick, que surpresa te encontrar aqui. — A mulher loira e

elegante abraça o meu namorado numa intimidade que muito me

incomoda. — Acho que se tivéssemos combinado esse encontro,


ele não teria dado tão certo — fala com as unhas grandes fincadas
no seu braço escondido por baixo da manga do terno cinza. Ainda

bem, senão essa vaca seria capaz de furar o braço do meu Erick
com essas garras.

— Tudo bem, Patrícia? — meu namorado pergunta sem fazer

um único movimento para tirar as garras da mulher do seu braço.


Nem parece o mesmo cara que até uns instantes atrás estava se

roendo de ciúmes, um ciúme bobo e infundado. Ao contrário dele,

que está todo risonho para o lado da Pamela Anderson de São

Paulo. — E uma coincidência mesmo, já não basta isso ocorrer


todos os dias pelos corredores do escritório? — insinua algo,

mesmo que de forma educada, e eu percebo duas coisas: a primeira

é que ela provavelmente deve trabalhar no escritório e a segunda


que os corredores da J&E Associados devem ser muito estreitos

para a pobre mulher ter o desprazer de esbarrar com o chefe a todo

momento.
Deixando o ciúme de lado, fixo o olhar na mulher e começo a

analisar a "concorrência". Aparentando ter seus trinta e poucos

anos, Patrícia tem no rosto a expressão fria de uma mulher

experiente e que sabe encobrir bem suas intenções e sentimentos,


ela é tão boa nisso que está inclusive fingindo não notar minha
presença. Não que isso seja possível, uma vez que estou

praticamente colada no meu namorado, mas ela bem que tenta.

— Verdade, Erick, estamos sempre nos esbarrando, não é


mesmo? — Inclina o tronco um pouco mais para frente, parece

querer que seu decote fique mais visível aos olhos do meu homem,

que corre o sério risco de se tornar "ex", caso ele tenha a audácia

de olhar para essa biscate. — E eu não chamaria de coincidência, e


sim de destino. — Dessa vez ela foi longe demais.

— Erick, podemos ir, por favor? Eu estou ficando cansada

desse ambiente, está meio sufocante — digo ao abanar o rosto


teatralmente com as mãos. Só espero que a biscate se toque.

— Oh, nem tinha te visto aí, menina. — Coloca a mão na boca,

numa perfeita encenação de surpresa. É, parece que temos uma

atriz melhor do que eu aqui, está quase merecendo o Oscar. — Por


que não me disse que tinha uma sobrinha, Erick? — indaga,

querendo parecer simpática. Ai, que ranço dessa mulher.

— Já é a segunda vez que respondo isso hoje — fala num de


mau humor que dessa vez muito me agrada. — Ela não é minha

sobrinha.

— Não? — Não, vaca. Fale para ela, Erick, diz que somos

namorados.
— Essa é a Marina, filho do João Junqueira, lembra?

Ela me fita surpresa e eu lhe retribuo com um sorrisinho


amarelo.

— Meu Deus, quanto tempo não te vejo, menina. — Aperta

minha bochecha como se eu fosse uma criança. — Nossa, como


você cresceu, a última vez que te vi você tinha uns quatorze anos

de idade.

— Pois é, parei um pouco de ir nesses eventos do escritório.

Lá só tem gente chata — falo e ela continua plena, age como se eu


não tivesse acabado de chamá-la de chata.

— Não fale assim, Marina — o babaca resolve abrir a boca

quando eu não pedi sua opinião. Se fosse para falar, ele teria ficado
calado.

— Deixe-a, Erick, Marina está apenas brincando. Além disso,

ela é apenas uma menina — diz, e ele permanece calado. — Como

poderia esquecer dela, se todas as vezes em que te avistava, ela


estava junto, lembra? Às vezes eu tinha até pena. A pobrezinha só

queria um pouco de atenção, não é mesmo? Eu me colocava em

seu lugar, criança, não deve ser fácil ser desprezada pela mãe —
fala com falsa solidariedade, e eu sinto meus olhos se inundarem de

lágrimas.
Olho para Erick e ele fica estático, sem saber como agir, sem

dizer uma palavra.

— Chega, eu não consigo mais. — Olho para ele com magoa e

ele me devolve com um cheio de dor, mas eu não fico tempo o


suficiente para decifrar o seu significado.

— Marina... — começa a dizer algo, e eu não tenho vontade de

ouvir o resto. Ajeito a alça da bolsa que carrega minha câmera


fotográfica e saio correndo pela avenida movimentada. Ao me ver

livre do ambiente hostil e daquela víbora, cesso a corrida e continuo

com meu andar apressado. — Marina! — Ouço sua voz distante e

preocupada me chamando... "A pobrezinha só queria um pouco de


atenção, não é mesmo? Eu me colocava em seu lugar, criança, não

deve ser fácil ser desprezada pela mãe..." Ando desnorteada por

entre os carros, as buzinas se misturam com as malditas palavras e


a última coisa que eu ouço é a voz do Erick me gritando.
CAPÍTULO 15 PRATOS LIMPOS

— Marina — grito desesperado quando vejo um carro vindo


rapidamente em sua direção. Sem pensar em mais nada, corro e a

empurro contra o meio fio da calçada, milésimo de segundos antes


dela ser atingida pelo veículo em movimento. Querendo lhe proteger
de todos os lados, jogo meu corpo sobre o seu e não penso nem por
um segundo em mim mesmo, no fato de que talvez eu não possa

me proteger.
— Olhe por onde anda, porra! — o motorista que já está a
metros de distância não deixa de expressar sua indignação, e eu

não o culpo, Marina realmente atravessou uma avenida


movimentada em pleno horário de pico. Ela agiu como se não se

importasse com nada, nem comigo e muito menos com a própria


vida que correu um sério risco.

Quando a adrenalina baixa um pouco, sinto um alívio tomar

meu corpo ao me dar conta de que poderia tê-la perdido para


sempre. Tiro um pouco do peso do meu corpo de cima do dela e só

então percebo que Marina não diz nada e muito menos se mexe. É
neste momento que sinto um frio gélido atravessar todos os meus

ossos.
— Marina. — Levanto meu tronco de cima do seu corpo da

forma mais delicada possível e o medo de constatar seu estado me

corrói a alma.
Caída de costas, Marina tem o rosto encoberto por seus

cabelos. Com as mãos trêmulas, tiro os fios do seu rosto e só então

tenho coragem de olhá-la. Sinto a cor fugir da minha face quando


fito seu rosto pálido.

Meu Deus, ela não pode...

— Marina — chamo, suplicante, sem, no entanto, tocar no seu


corpo, pois não quero correr o risco de mexer e piorar seu estado,

que ainda não sei dimensionar a gravidade. — Acorde, amor. —


Sinto meu olho arder e um nó se formar na minha garganta.

— Senhor? — Ouço uma voz e só agora percebo o grande

número de pessoas à nossa volta. — Eu vi o que aconteceu com a

moça, sinto muito — diz o homem que aparenta ter seus quarenta e

poucos anos.

— Eu também sinto — digo com pesar. Minha menina está


nessa situação por minha culpa. Eu não devia ter deixado aquela

víbora lhe atacar daquela forma. — Você não tem ideia do quanto —
completo sem tirar os olhos dela. É como se ela fosse me deixar
caso eu desvie minha atenção. É irracional, eu sei, mas não consigo

evitar.

— Eu sou enfermeiro, se quiser posso ajudar. Mas o senhor

precisa se afastar — diz condescendente e eu percebo o que ele

está fazendo. O homem deve ter notado meu estado e com toda sua

provável experiência, decidiu fazer a melhor abordagem possível.


Com suas palavras, eu o olho e decido confiar nele. É apenas

uma pessoa querendo nos ajudar. Só acho demais pedir para que

eu me afaste, isso eu não vou fazer.

Nunca!

— Obrigado — agradeço de antemão. — Só, por favor, não me

peça para sair do lado dela. Isso não — deixo claro.

— Tudo bem. Pode ficar onde está, apenas me deixe chegar


mais perto, preciso checar seus sinais vitais para ver se está tudo

bem — diz e tem que afastar alguns curiosos de sua frente.

Prostrando-se do outro lado onde Marina está, o homem analisa

atentamente seu corpo, e eu suponho que seja para verificar se não

há nenhuma fratura aparente ocasionada pelo impacto da queda.

Tenho consciência do peso do meu corpo e do seu também, mas na


hora do desespero eu só quis tirá-la da situação de perigo.
Após inspecionar seu corpo, ele checa seu pulso e finalmente

diz:
— Ela está bem, os batimentos estão estáveis — afirma para o

meu alívio. — Ela provavelmente deve ter desfalecido pelo susto e


pelo impacto da queda.
— Graça a Deus — agradeço, apesar de não ser muito ligado

a fé.
— Ela só precisa respirar. — Olha ao redor e eu o acompanho,

ficando surpreso pelo tanto que a multidão cresceu desde a última


vez que olhei. — Pessoal, se afastem um pouco, por favor. A moça

precisa de ar — pede e a multidão aos poucos começa a dispersar.


Distraio-me por alguns segundos, mas quando escuto ela
resmungar, olho seu rosto ainda virado de lado e a vejo tentar se

mexer.
— Calma, meu amor, fique quietinha, por favor — peço, e ela

abre os olhos vagarosamente, tentando recobrar a consciência. —


Não se mexa.

— Erick, o que aconteceu? — pergunta num fio de voz.


— Nada, querida, você apenas caiu — limito-me em dizer.
Prefiro não lhe estressar agora relembrando a cena de minutos

atrás.
— Você está bem, moça? — o gentil desconhecido lhe

pergunta. — Sente dor em alguma parte do corpo?


— N-não. Estou apenas um pouco confusa — responde, já

com a consciência totalmente recobrada.


— Isso é normal, a senhorita ficou desfalecida por alguns

minutos. Logo isso passa — explica docemente, e eu fico feliz por


perceber que, apesar de tudo, ainda existem pessoas boas no
mundo, pessoas que, como ele, ajudam sem olhar a quem.

— Eu quero ir para casa, Erick. — Senta-se vagarosamente, e


eu ajeito seus cabelos que até então estavam espalhados pelo seu

rosto e ombros.
Olho novamente para o homem e só então percebo que não
perguntei seu nome. Entendendo o que eu quero, ele responde.

— Se o senhor quiser, pode levá-la para casa — diz e levanta.


— A moça está bem.

— Não sei nem como te agradecer. — Estendo a mão, e ele


aceita de bom grado. — E desculpe minha indelicadeza por não me

apresentar antes. Prazer, Erick Estevan. Muito obrigado por ter me


ajudado com minha namorada — revelo, esquecendo o meu próprio
acordo de não abrir a nossa relação.
— Que é isso, não precisa agradecer. Fiz apenas minha
obrigação — responde, modesto, e minha admiração por ele
aumenta ainda mais. Se fosse outra pessoa, talvez não tivesse essa

iniciativa, mesmo sendo esse o seu trabalho. — O prazer foi todo


meu em conhecê-los, mesmo que numa situação tão inusitada. Meu

nome é Lucas.
— Lucas, essa moça aqui é Marina Junqueira, minha
namorada teimosa.

— Teimosa eu não sei, mas descuidada com certeza é. Da


próxima vez seja mais cuidadosa, menina. Você teve muita sorte de

ter seu namorado por perto — diz, carinhoso, enquanto eu a ajudo a


ficar em pé.

— Pode deixar, chefe. — Marina toca na têmpora como quem


bate continência. — E não se preocupe, porque não vai ter próxima
vez.

— Não vai mesmo — afirmo lhe encarando, e ela olha de


imediato para o chão. — Tenho que levar ela para casa, Lucas —

digo ao segurá-la firmemente pela cintura. — Mais uma vez,


obrigado. Aqui está meu cartão. — Tiro o papel pequeno do bolso
do meu terno. — Aí tem todos os meus contatos, qualquer coisa que

precisar, não hesite em me procurar. Será um prazer te ajudar. —


Ele pega o papel, agradece e se afasta, indo na direção oposta da
nossa. — Está confortável para andar? — indago, e ela responde
apenas com um balançar de cabeça.

Caminhando devagar, eu e ela chegamos até o carro


estacionado próximo ao bar. Ao entrarmos no veículo, Marina coloca

o cinto de segurança, encosta a cabeça no vidro e fica


completamente em silêncio. Não me dirige a palavra e muito menos
me lança um olhar.

— Marina... — começo, mas desisto quando vejo que ela nem

ao menos se mexe.
Sem querer forçar a barra, respeito seu momento e passo a

dirigir todo o caminho até nossa casa no mais completo silêncio,

toda a quietude no carro faz com que eu me questione se Marina

está acordada ou dormindo.


Não demora para chegarmos em casa, após um caminho

tortuoso e longo. Ao entrarmos, minha namorada se desvencilha do

meu abraço, segue rumo ao sofá e lá mesmo se joga. Com os olhos


fechados e cabeça apoiada no encosto do estofado, ela respira

silenciosamente. Sem paciência, eu decido que é hora de quebrar o

silêncio e nos acertarmos de uma vez.


— Marina, precisamos conversar — digo ao sentar do seu

lado, mas ela continua me ignorando. — Será que dá para você


parar de ser infantil e conversar como uma adulta? — digo e isso é

o suficiente para chamar sua atenção. De imediato, ela levanta a

cabeça, vira-se em minha direção e começa a me encarar furiosa.


— Infantil. Você está me chamando de infantil? — fala com o

rosto vermelho, só que dessa vez é de raiva. — Será que você

ainda não percebeu o quanto eu odeio ouvir você me dizer isso?

Eu imagino o incômodo que deve ser para ela me ouvir falando


isso, ainda mais quando temos uma diferença de idade tão grande e

personalidades tão divergentes.

— Não tenho como falar de outra forma quando você tem esse
tipo de atitude, meu amor. Admita que isso que você está fazendo

não é a atitude mais madura do mundo — provoco para tentar

deixar o clima mais leve.


— E como você quer que eu aja, Erick? — indaga, deixando

claro que não deu muito certo minha tentativa de descontração. —

Quer beijos e abraços depois do que fez lá no bar? — fala, e eu

tenho vontade de beijar sua boca. Ela não tem ideia do quanto está
linda com essa carinha amarrada.
— Confesso que queria, sim — respondo. — Deixa de ser

brava. Vem aqui, amor. — Estendo os braços e ela os recusa

solenemente.
— Eu não estou brincando, Erick. Você viu o jeito que aquela

mulher estava falando comigo e ficou calado. Não teve a decência

de me defender — diz de uma vez tudo que estava guardando.

— Me desculpe, pequena, fiz aquilo para te proteger. Apenas


me deixa explicar, por favor? — Junto as duas mãos em frente ao

rosto em sinal de prece.

— O pior de tudo foi ver ela com as garras em cima de você —


continua como se eu não tivesse dito nada. — E ainda por cima

fingindo que não estava me vendo ali, do seu lado.

— Disso eu não tenho culpa — me defendo.

— Tem sim. — Se aproxima de joelhos e dá um forte tapa no


meu braço. Ela é pequena, mas bate feito um homem. — Devia ter

tirado as garras dela de cima, e não ficado parado igual a um idiota.

Se você realmente tivesse amor a sua vida, não deveria nem estar
aqui querendo conversar — ameaça, sentando-se na outra ponta do

sofá.

— Vem cá, amor. Pare com isso — tento acalmá-la. — Não se

esqueça que eu também vi aquele merdinha com as mãos em cima


de você, gata — dou ênfase no “gata” para que ela perceba que eu

não esqueci aquela cena.


— Não vem querer comparar, são situações completamente

diferentes — contrapõe, ainda mais irritada.

Já estou vendo que essa conversa não vai acabar bem. Não
estamos conseguindo nos entender.

— Não, não são diferentes. Se você não fosse tão imatura,

perceberia que as situações foram parecidas.

— Um caralho que foram parecidas — xinga, furiosa. — E não


me chame de imatura novamente. Eu não tenho culpa se você é um

tiozinho que não entende nada — diz, levantando-se do sofá.

Movendo-se rapidamente, Marina vira-me as costas e dirige-se


para o que suponho ser o seu quarto. Pelo menos isso é o que ela

pensa.

— Volte aqui agora, Marina! — Caminho rapidamente atrás

dela. — Nós ainda não terminamos. Você volta ou eu...


— Ou você o quê? — diz ao dar meia volta e me encarar,

petulante. — Vai me colocar de castigo? Ou vai me colocar sobre

suas pernas e surrar minha bunda? — indaga, provocativa, e eu


perco a paciência que eu tanto estava lutando para manter. Já vi
que é impossível lutar contra seu lado teimoso quando ela está

brava.

— Cale essa boca. — Chego junto e encosto meu rosto ao

seu. — Você não vai gostar nada das consequências de não me


obedecer — aviso, sentindo tanto a sua quanto a minha respiração

ofegante.

— E se eu quiser as consequências? — pergunta, me


deixando perceber sua mudança de atitude. A safada resolveu que

é melhor me provocar do que me enfurecer. — Responde, tio —

pede, me fazendo lembrar as palavras da porra daquele garoto. Se

eu já fiquei furioso ouvindo isso da boca dele, imagina meu estado


por ouvir isso da boca da minha mulher. A vontade que eu tenho é

de fazer exatamente o que ela propôs: colocá-la sobre meus joelhos

e surrar sua bunda até que fique vermelha pelas marcas da minha
mão, para logo depois fodê-la duro até que peça por clemência. Mas

eu não vou fazer isso, não quando é exatamente o que ela quer.

Sou eu quem está no controle aqui. Preciso me controlar,

senão sempre voltaremos para mesma cena.


— Marina... — começo, prestes a dar a ela o último aviso. —

Por favor, não me provoque. Nós ainda precisamos conversar sobre


o que aconteceu lá no bar. — Seguro seu braço para apoiá-la ainda

mais contra meu corpo.


— Ou o que, tio? — diz, e eu abandono de vez minha

racionalidade.

— Isso foi você quem pediu, gata — lembro e a chamo

novamente pelo apelido do moleque petulante. — Não tente me


provocar, quando não dará conta das consequências. — Avanço em

sua direção e ela vai andando para trás.

— Para, Erick, eu estou brava com você — diz quando vê que


não tem mais por onde escapar.

— Eu disse que vamos conversar, Marina? — Paro quando a

tenho apoiada contra a porta da nossa casa e só então eu me dou


conta do lugar em que estamos parados. — Você realmente precisa

parar com essa impulsividade, não pode sair correndo todas as

vezes que as coisas saírem do controle.

— Eu não ia... — começa, sem saber o que dizer, deixando


claro tanto para mim quanto para ela que era exatamente isso que

ia fazer. Fugir, outra vez, fugir.

— Claro que ia, você sabe que ia. — Encosto meu corpo ao
seu, e ela ofega, ainda que tente disfarçar seu desejo. Marina sabe

que precisamos conversar. Ela está chateada comigo, mas ainda


assim não consegue negar o chamado do corpo. Eu estou sentindo
o mesmo aqui.

— O que foi? Não gostou de ver outro me tocando? —

debocha para tentar tirar uma reação minha que eu sei exatamente
qual é. — Isso tudo porque ele só tocou meu braço, imagina se

fosse um beijo? — ela diz e me tira o fio racional que sobrava.

— Era isso que você queria, não era? — digo ao apertá-la


contra a porta da nossa casa. — Você vai me pagar muito caro por

ter deixado aquele merdinha te tocar, porra... — falo cada vez mais

irritado e excitado ao sentir o calor de sua boceta pressionando meu

pau dolorido de tesão.


— Era isso sim, tio — sussurra no meu ouvido, aproveitando-

se da proximidade para chupar o lóbulo da minha orelha lentamente.

Ah, Deus, ainda bem que não há nenhum laço sanguíneo que nos
una. — Queria te ver provando do mesmo veneno que eu. Eu nunca

suportei te ver rodeado de putas. A vontade que tenho é de arrancar


os cabelos delas com minhas próprias mãos, para que saibam que
você é meu, só meu — assevera com convicção, enquanto eu

chupo seu pescoço avidamente. Meu Deus, o que essa menina tem
para me tirar tanto dos eixos? Perto dela me sinto como um garoto
de vinte anos e não como um de homem de quase quarenta.
— Quero deixar uma coisa bem clara aqui, menina. Nunca
mais, ‘tá entendendo? Nunca mais repita coisas como essa. Se eu
sonhar que deixou algum desses moleques te tocar, eu acabo com

ele e com você também — digo ao dar um tapa na sua nádega


esquerda, fazendo com que dê um gritinho de susto. Ela sabe que
eu não sou capaz de feri-la, mas vê-la ou imaginá-la com outro

homem é horrível, da mesma forma que para ela é descabido


pensar em mim com outra mulher. — Você é minha e só eu posso
beijar essa boquinha safada. Só eu posso comer essa bocetinha

quente — completo, já dominado pelo tesão.


— Sim, sim — grita ao me sentir bombar o pau no seu sexo,
que mela meu jeans escuro de tão molhado que está.

— O que quer que eu faça primeiro, hein? — pergunto ao levar


minha mão para baixo do seu vestido e afastar sua pequena
calcinha para o lado, dando-me acesso a sua intimidade pulsante.

— Me diz o que você prefere, meu amor. Quer meu pau aqui? —
Coloco apenas a ponto do meu dedo indicador dentro da sua

bocetinha. — Ou você prefere começar por aqui? — Levo minha


mão à sua bunda, acariciando de maneira cadenciada seu
buraquinho apertado.
— Tudo, com você eu quero tudo — confessa ao tentar
aprofundar minhas investidas contra seu sexo.
— Eu vou dar esse tudo, meu amor. Não tenha dúvidas disso.

Só não vai ser agora — falo ao afastar-me e ajeitar sua roupa no


devido lugar.

— Desistiu do castigo? — ela me lembra das ameaças feitas


há poucos minutos.
— Esse é seu castigo, meu anjo. — Caminho de volta para o

sofá que estávamos sentados anteriormente. — Nós precisamos


conversar. Vem, senta aqui. — Bato no assento, e ela, a
contragosto, faz o que eu peço. — Pronto — digo quando a vejo

aproximar-se e sentar-se do meu lado. — Agora já pode falar.


— Falar? — pergunta, ainda atordoada.
— Sim, vamos falar sobre o que aconteceu lá no bar.

Seus olhos brilham em entendimento.


— Está legal, se você quer falar, nós vamos falar. — Ajeita a
postura, e eu acho graça da sua posição de combate. — Quer que

eu comece?
— Sim — digo simplesmente.

— Para começar, eu quero falar sobre o Mateus.


— O moleque. — Sinto meu maxilar enrijecer ao lembrar de
suas ousadias para cima da minha mulher.

— Sim. Ele é primo da Ângela. — Só podia ser. — E sempre


foi aquilo ali, um cara que tenta forçar uma intimidade que não
temos em todas as oportunidades em que nos encontramos.

— Espero que isso não aconteça muito.


Não sei se terei paciência para aguentar um merdinha

querendo cantar de galo para cima de mim.


— Graças a Deus eu não sofro de tamanho azar.
— Me fale, meu amor, ele já tentou forçar a barra com você?

— indago, com medo da sua resposta.


— Algumas vezes, ele tentou avançar o sinal — diz, e fecho
minhas mãos em punhos —, mas não precisa se preocupar com ele,

querido. Mateus nunca se excedeu sexualmente, o máximo que ele


tenta é aquilo ali que você presenciou no bar. É sempre uma
tentativa de aproximação, que é prontamente cortada por sua

namorada aqui.
— Tem certeza, linda, que está tudo bem? — Pego sua mão e
começo a fazer carinho na palma. — Eu não gostei nada dele —

afirmo, sério.
— Ah, meu Deus, como esse meu homem é ciumento — diz

maravilhada, ela não entendeu minha real preocupação. Pode


parecer paranoia minha, mas minha questão com o garoto vai além
do ciúme.

— Não é apenas ciúmes — explico e espero ser claro. — Eu


só preciso que você fique com os olhos bastante abertos com ele.
Estou falando sério.

— Ok, meu homem preocupado, eu também não confio nada


nele, só aturo por causa da Ângela, que insiste em forçar essa barra

— termina de falar e me olha preocupada. Pelo jeito ela não queria


que eu soubesse dessa parte.
— O que você está dizendo, Marina? — Tenho que tirar essa

história a limpo.
— Não é nada sério, lindo, vamos esquecer isso.
— Não, nós não vamos esquecer nada — digo com

veemência. — Quero que me conte tudo. O que essa sua amiga tem
a ver com a insistência dele?
— Ela tem o estranho hábito de sempre tentar enfiar o cara em

tudo o que fazemos, sempre foi assim, tanto na escola quanto fora
dela. A Ângela percebia meu incômodo com ele e ainda assim
insistia em mantê-lo perto de mim e do resto da galera.
— Eu não confio nessa sua amiga, por favor, tome cuidado
com ela — digo o que tenho entalado na garganta desde que
percebi seu olhar para mim mais cedo.

— Eu sabia que não devia ter falado essas coisas. Amor, você
não precisa desconfiar da Ângela, eu conheço ela há muito tempo.
É um pouco sem noção em alguns momentos, mas eu confio nela

— defende veementemente.
— Só tome cuidado com a dupla dinâmica. Me promete? —
indago, na esperança de colocar uma pulga atrás de sua orelha

para que se proteja de qualquer coisa que possa surgir para magoá-
la.
— Eu prometo. — Beija os dedos cruzados sobre a boca. —

Agora quero falar da sua amiga — diz, e a palavra amiga pinga


sarcasmo.

— Patrícia Maldonado não é minha amiga, amor — defendo-


me com a verdade. Eu nunca tive qualquer tipo de envolvimento
com a mulher, mesmo ela tendo insistido tanto.

— Sabe que não foi isso que pareceu. — Pensando pelo lado
dela, realmente não pareceu. Eu não consigo entender o que deu na
Patrícia para me tocar com tamanha intimidade. Ao longo desses

três anos em que ela foi contratada por João, nós nunca tivemos
mais intimidade do que os educados cumprimentos nos corredores
do escritório. Eu conheço muito bem a fama dela para me permitir

cometer tamanho erro. — Essa é a verdade, linda. Só quero que


confie no que estou dizendo. — Encaro firme dentro dos seus olhos.
— Você nunca foi para cama com ela? — indaga, e posso ver

que está apreensiva pela resposta. Minha gatinha ciumenta. Que


bela dupla nós somos, dois ciumentos possessivos.
— Não, graças a Deus não cometi tamanha burrice — digo,

pois sei de colegas que caíram na sua teia e se arrependem


amargamente.
Eu, felizmente, tenho a sorte de ser o chefe, o que me permitiu

mantê-la numa distância confortável. Fora, é claro, os estranhos


esbarrões nada corriqueiros. A mulher parece ter um radar, todas as
vezes em que saio da sala, ela está passando pelo corredor. Eu

entro no elevador, ela também entra. Se eu fosse uma pessoa


paranoica, poderia dizer que está me perseguindo. Tudo bem que

ela já fez isso outras vezes, mas eu acho que não seria tão ousada
em tentar algo com o chefe.
— Pelo menos isso, né, Erick? — fala, aliviada. — Não devia

nem ter contratado essa mulher.


— Não contratei — admito. Não quero jogar meu amigo no
fogo, mas também não quero ver seu olhar de desconfiança voltado

para mim. — Foi seu pai.


— Meu pai? — pergunta, surpresa com a revelação. — Amor,

você acha que...?


— Não tenho ideia. Há três anos, ele simplesmente apareceu
com ela no escritório e a apresentou como a nova advogada

contratada.
— Ele falava com você sobre ela? Pelo amor de Deus, vocês
eram melhores amigos.

— Não, amor, seu pai nunca deu abertura para falar sobre
isso. No início eu quis questionar a contratação, mas ele logo cortou
o assunto e não insisti.

— Eu não estou gostando nada disso — fala e tem em seu


rosto o indispensável olhar de preocupação.
— Ei, amor, não precisa quebrar a cabeça com isso. Deixe que

dela eu cuido — logo que termino a fala, percebo que não me


expressei bem.

— Cuida mesmo, né, Erick, mas cuida tanto que ficou mudo
enquanto eu ouvia todas aquelas crueldades vindas de uma pessoa
que não me conhece, que não sabe nada da minha vida, ou pelo
menos não deveria saber — desabafa e a última parte fica na minha

cabeça. Preciso ficar mais atento.


— Me perdoe, meu amor, eu sei que não agi bem com você.
Eu tentei te proteger e talvez tenha feito as coisas da pior maneira

possível — admito meu erro de julgamento.


— Como me proteger, Erick? Sua ideia de proteção é muito

distorcida se acha que ficar calado poderia ajudar em algo.


— Eu não queria chamar mais a atenção dela sobre você,
sobre nós dois como casal.

— Não entendo o que você está querendo dizer, seja mais


claro, por favor — pede, determinada, e eu percebo o quanto amo
sua personalidade, sua força interior de não abaixar a cabeça para

quem quer que seja, sua firmeza em querer correr atrás de suas
respostas e de lutar pelo que deseja. Eu amo tudo nela, tudo, até
mesmo sua imaturidade característica da idade.

— Estou querendo dizer que na hora preferi ficar calado do


que deixá-la ciente do nosso tipo de relacionamento.
— E esse medo todo, Erick? O que tem de mais em

justamente ela saber do nosso namoro? Eu sei do nosso


combinado, só não entendo qual a relevância daquela mulher nesse
assunto.
— A Patrícia não tem escrúpulos, amor. — Resolvo contar tudo
o que se ouve a respeito dela no escritório. — Como te falei antes,
eu só não tive nada com ela porque não quis.

— Ela dá em cima de você? O chefe dela?


— Não diretamente. A abordagem dela é aquela que você
presenciou hoje. E tem também os constantes encontros pelos

corredores do escritório.
— Com você, eu não achei nada sútil. Quer dizer que é pior
com os outros?

— Para ser sincero, eu não presenciei muita coisa, até porque


meu escritório fica em outro andar. Tudo o que sei são papos que

rolam entre os outros associados.


— O que de tão grave dizem, amor? — indaga, curiosa.
— Vemos esquecer isso, meu bem, eu não vou deixá-la chegar

perto de mim e muito menos de você.


— Começou, agora termina. Você vai me explicar o que
aconteceu lá no bar.

— Eu não quis aguçar o espírito competitivo dela. É isso. Os


advogados empregados e associados propagam a fama de cruel
que Patrícia tem. Os que já tiveram a oportunidade de trabalhar com

ela dizem que a mulher não tem escrúpulos na hora de defender


uma causa. Ela usa das fraquezas das pessoas sem pensar nos
sentimentos dos envolvidos por um minuto sequer.

— Meu Deus, tão grave assim? — surpreende-se sem, no


entanto, ter a real dimensão do que estou falando. E eu prefiro que
não saiba.

— É sim, amor, e isso não é só na área profissional. Um dos


associados fez a burrice de se envolver com ela, para logo depois
ter seu casamento indo pro ralo.

— Que bom, o safado merecia se foder mesmo. Quem


mandou trair a esposa — declara minha garota solidária, se
sensibilizando pela esposa traída.

— O que pesa não é nem isso. Júlio é um safado acostumado


a esse tipo de situação, a mulher parecia aceitar. O que pegou aí foi

a perseguição da Patrícia, ela fez de tudo para infernizar a vida dele


e da família até que conseguiu separar ele da esposa. No fim das
contas, Júlio pediu demissão do escritório e ela ficou.

— Alguém precisa parar essa mulher, amor. Você já devia ter


dispensado ela. Eu não quero essa víbora perto de você.
— Eu sei, só não fiz isso antes pelo seu pai, ele a contratou,

não cabia a mim passar por cima da decisão dele.


— Entendo. Só dá um jeito de fazer isso agora — pede,

preocupada.
— Vou dar um jeito nela — prometo. — Agora você entende o
motivo do meu silêncio? — Analiso no seu rosto a disposição em me

perdoar. — Sei que não justifica ter deixado ela falar aquelas coisas
para você, mas foi o que consegui pensar no momento.
— Entendo, querido — diz.

— Fiquei com receio de dizer algo que aguçasse seu lado


competitivo quando descobrisse nosso namoro — revelo. — Se
algum dia você se encontrar com ela, fique longe, é só isso que eu

te peço.
— Não se preocupe, meu amor, eu vou ficar. Não precisa nem
pedir. Tem alguma coisa nela que traz arrepios.

— Quanto mais longe dela estiver, mais segura vai estar —


afirmo, a trazendo para o meu colo e a abraçando apertado. — Eu

te amo.
— Também te amo. — Devolve meu abraço. — Agora me
deixe ir. — Sai do meu colo, indo direto para as escadas.

— Vai subir, amor? Ainda está tão cedo. Não quer comer
alguma coisa?
— Não estou com fome, fiz um lanche no bar e agora estou

com vontade de colocar minhas séries em dia.


— Tudo bem, vou só comer alguma coisa e tomar um banho

— digo ao sair do sofá.


— Não precisa se incomodar, hoje você dorme no seu quarto.
— Como é que é?
CAPÍTULO 16 CASTIGO

— Isso mesmo que você ouviu. Hoje é cada um para o seu canto —
assevera com o narizinho arrebitado ainda mais em pé. Essa

menina sabe exatamente onde puxar as cordas. É impressionante.


— Mas eu pensei que você tivesse me perdoado e que a gente
estivesse em uma boa. — Tento fazer cara de cachorro que caiu da
mudança para ver se amoleço seu coração de pedra.

— Eu entendi o que você quis fazer, Erick, e até perdoei. —


Não para de subir os degraus enquanto conversa comigo, e eu
estou claramente vendo minha oportunidade escorrer pelos dedos.

— Só que isso não significa que você não mereça um castigo.


— Como você é má, garota — constato um fato. — Tudo bem.

Eu sei que esse castigo também será seu. — Olho maliciosamente


para meu pau e seus olhos seguem o mesmo caminho.

Pelo rosto rubro, vejo que titubeia um pouco em sua decisão, e

eu me parabenizo por ter pensado certinho na melhor maneira de


provocá-la. Seu desejo de conhecer os prazeres da carne é grande
demais para que possa recusar quando eu me ofereço tão

prontamente.
Nunca imaginei que chegaria esse dia, o dia em que eu usaria

de artifícios para conseguir dormir com alguém. Nunca estive tão

feliz por estar tão enganado quanto a isso, sei que minha vida com
ela não vai ter monotonia, que cada dia será uma experiência e

aventura diferente.

Que venham mais dias como os de hoje, porque apesar de


tudo que aconteceu, tivemos a oportunidade de estar juntos.

— Não venha querer me provocar, Erick, sei muito bem o que

está tentando fazer aqui. — E pelo visto minha ideia não deu tão
certo assim, se tivesse dado, eu a teria correndo para os meus

braços e não na direção contrária. — Além disso, eu não preciso


tanto assim de você. — Para o caminhar no primeiro degrau da

escada. — Eu tenho o Maneco — diz, e eu fico surpreso, mais uma

vez, só para variar.

— Maneco? Quem é Maneco? — pergunto enciumado e ela

zomba da minha cara dando de ombros.

— Isso você vai ter que descobrir — se limita em dizer antes


de sumir pelo corredor onde fica a ala dos quartos.
Ao todo, a mansão contém oito quartos, o meu e da Marina
ficam na ala esquerda, onde as amplas janelas fazem vista para os

jardins bem cuidados que enfeitam o local de fora a fora. Quem

ocupa os quartos da ala direita tem o privilégio de ter a vista da

piscina, onde por tantos anos Marina fez festas em comemoração

ao seu aniversário. Todos já estão tão acostumados com esses

eventos que eles viraram uma tradição.


— Volte aqui, caralho — grito em vão porque já não vejo mais

seu rastro.

Resignado, decido que é melhor dar um tempo e aceitar o

castigo que me foi imposto, pelo menos por hora. Ela realmente

precisa descansar depois do susto de agora há pouco, e eu tenho

que encontrar algo para comer.

Na cozinha, me deparo com Márcia, a senhora que por muitos


anos tem administrado tão bem a residência.

— Boa noite, Márcia — cumprimento, e ela para o que está

fazendo.

— Boa noite, doutor. Deseja alguma coisa? — pergunta formal.

— Se tiver alguma coisa para comer, eu agradeço.

— Tem sim, a cozinheira preparou um filé ao molho madeira —


afirma, logo após confirmar na travessa que contém o alimento. —
O senhor vai jantar aqui ou prefere que eu prepare um prato e leve

no seu quarto?
— Se não for dar muito trabalho, eu gostaria de jantar lá em

cima. — Preciso urgentemente tomar uma ducha fria, talvez assim o


cansaço e a tensão do dia atribulado deixem meu corpo. — Vou
tomar uma ducha, tudo bem? É o tempo de ficar tudo pronto.

Ela assente e subo para o quarto, mas não sem antes conferir
Marina. Aproximo meu ouvido da porta do seu quarto e escuto sons

de vozes conversando. Ela certamente cumpriu a palavra e está


assistindo séries. Sem conseguir frear os impulsos, pego a

maçaneta e giro-a calmamente para que ela não perceba que eu


estou tentando descumprir o castigo, mas logo sou surpreendido
pela porta trancada.

É inacreditável que ela tenha mesmo me deixado do lado de


fora. E esse tal de Maneco? Será que é mesmo o que estou

imaginando?
O melhor mesmo é eu tomar meu banho frio, hoje não é um

bom dia para se ter certas ideias e pensamentos, não quando meu
corpo cansado clama por uma cama. É claro que não vai ser a
mesma sensação que teria se ela estivesse dormindo do meu lado.

Mas fazer o que se é isso o que ela quer?


Depois de um demorado banho e de um bom prato de

refeição, finalmente deito minha cabeça sobre o travesseiro e tenho


meu merecido descanso. Antes de dormir, não deixo de me recordar

que amanhã é sábado e que eu terei dois dias inteiros só para mim
e minha mulher. Vamos ter mais tempo para curtir um ao outro, sem

nos preocuparmos com horários ou com interrupções impertinentes.

— Puta que pariu! — xingo por ser acordado com um barulho


estrondoso agredindo os meus ouvidos.

Sento-me tão rápido que acabo ficando meio tonto, pego meu
celular e me surpreendo ao ver que já são nove e meia da manhã.

É, eu realmente estava precisando dessa noite de sono, faz anos


que eu não durmo tão bem assim, provando o sono de quem sabe
que pela manhã têm coisas boas a sua espera.

Ainda desnorteado pelo despertar abrupto, levanto, faço minha


higiene matinal e saio para ver o que Marina está aprontando logo

cedo, quer dizer, não tão cedo assim, já são quase dez da manhã.
Desço para a sala, me aproximo da ampla janela de vidro e
não me surpreendo com o que vejo. Minha jovem namorada montou
todo o equipamento iPod ao lado da churrasqueira, assim como faz

em suas festas de aniversário, e está tranquilamente deitada sobre


uma das muitas espreguiçadeiras que ficam em volta da piscina. De

longe não consigo ver bem o que veste, só sei que não é nada
comportado, porque além de querer me provocar, como é seu
costume, ela também é muito segura de si e aparentemente não

tem qualquer complexo com o corpo. Marina sempre foi assim,


segura de quem é e do que quer para si.

— Bom dia, senhor. — Uma moça uniformizada entra na sala


carregando uma bandeja de café da manhã e tirando-me do

momento babação.
— Bom dia.
— Estou levando o desjejum da senhorita Marina, o senhor vai

querer também? — indaga atenciosa, e eu reparo no quanto os


funcionários desta casa são competentes, todos os que já tive o

prazer de conhecer foram prestativos e educados.


É impressionante como a mudança de situação também tem o
poder de mudar a visão que se tem sobre determinadas coisas.

Esse caso dos funcionários é um ótimo exemplo disso. Há anos eu


frequento a mansão, sem, no entanto, reparar em coisas como
essas. Talvez esses empregados sempre tenham estado aqui e só
agora eu tenha começado a me permitir reparar em cada um deles,

em como me tratam com a mesma devoção que provavelmente


tratavam o antigo patrão, que acabou de falecer. Não me admira

que Marina tenha dito não precisar de mim porque tinha os


empregados. Talvez seja por isso.
Aqui, dentro dessas quatro paredes, que foi o único lar que ela

conheceu, Marina tem o conforto e a proteção de pessoas que nem

parentes são, mas que cuidam dela com toda a dedicação que
merece. E tenho certeza de que isso é mais que a prestação de um

bom trabalho, certamente é a retribuição do mesmo carinho e

respeito que Marina lhes dedica.

— Quero sim. Qual o nome da senhorita? — indago à moça


negra que aparenta ter seus vinte e poucos anos. Se não estiver

enganado, ela deve ser a filha da Márcia. Lembro bem do dia que

João comentou a respeito do assunto. Com sua autorização, a


governanta trouxe a filha mais velha para trabalhar como ajudante

de cozinheira, para que conseguissem cobrir os gastos que tem com

a faculdade. E se não me falha a memória, essa moça conquistou


uma bolsa de estudos para o curso de chef de cozinha.
— Me chamo Maya, senhor — responde prontamente.

— Tudo bem, senhorita Maya. Pode preparar outra igual a


essa e levar lá na piscina — digo ao reparar tudo que Maya segura.

— Deixe que eu mesmo levo isso aqui. — Pego gentilmente a

bandeja de suas mãos.


Com a bandeja em mãos, paro em frente a espreguiçadeira de

Marina, fazendo sombra ao sol que lhe esquentava. Com o susto,

minha namorada tira os óculos de sol que cobriam seus olhos e

abre um sorriso quando vê que sou eu.


— Bom dia, meu amor. — Abaixo o tronco e dou um beijo leve

nos seus lábios, que tem um sabor doce de chiclete, sabor

proveniente de uma dessas coisas que as mulheres gostam de usar.


— Como foi sua noite? — pergunto ao colocar seu desjejum em

cima da mesinha de madeira que fica ao lado da sua

espreguiçadeira.
Existem mais delas espalhadas em vários locais da área

externa da mansão, e é claro que foi ideia da minha namorada.

Segundo ela, as mesinhas são necessárias para que os convidados

tenham onde colocar seus pertences quando vêm para as festas


que costumam ser aqui fora, não só as dela, mas também as
confraternizações que eu e João precisávamos fazer para a galera

dos escritórios e também para alguns clientes mais importantes.

— Foi muito boa. E a sua? — A danada ajeita a parte de cima


do pequeno biquíni azul turquesa que deixa pouco à imaginação. Eu

quero muito pensar que ela está usando-o apenas para mim. Não

quero bancar o machista com ela, tenho idade o suficiente para

saber que isso não é nada legal e muito menos saudável. Eu só


acho difícil refrear meu lado possessivo quando o ciúme ataca. Meu

sangue ferve nas veias só por imaginá-la exposta aos olhos dos

moleques que costumavam frequentar essa casa na época de


colégio. Vez ou outra, eu dava meus pulos por aqui e me deparava

com a galera em volta da piscina, incluindo, claro, os garotos com

hormônios em ebulição.

Quero a visão dela com esse biquíni só para mim.


— Foi muito proveitosa. — Me agacho ao seu lado, para logo

em seguida colocar atrás da sua orelha uma mecha de cabelo que

voou para seu rosto. — Pena que minha cama estava tão vazia.
— Oh, pobrezinho, meu Deus — zomba da minha afirmativa.

— Não deve estar acostumado a dormir sozinho, não é mesmo? —

diz, sarcástica.
— Do que você está falando? — Estranho a agressividade em

sua voz, quando não tem motivos para estar assim.


— Você já não teve tantas mulheres? Deveria ter chamado

uma delas para te fazer companhia — sentencia ao recolocar os

óculos sobre os olhos.


— Você tem certeza disso que você está falando, Marina? —

Tiro sem avisar os seus óculos de sol, obrigando-a a olhar nos meus

olhos. Vendo que fiquei chateado com o que disse, ela senta ereta e

me estende os braços para pedir um abraço.


— Desculpe, amor — pede quando eu me curvo para receber

seu abraço. — Eu não consigo me conter.

— Nós já conversamos sobre seus impulsos, não foi? — Pego


suas pernas e coloco-a de lado, dando assim espaço para que eu

sente na sua frente. — Você precisa conversar comigo antes de tirar

conclusões precipitadas e ter esse tipo de reação.

— Eu sei — diz, amuada.


— E para que você saiba, não tem motivos para ter ciúmes. —

Acaricio sua coxa lisinha. — Você foi a primeira. Eu nunca dormi

com outra mulher do meu lado além de você, nunca senti essa
necessidade. Depois que o sexo terminava, elas já sabiam que tinha

que sair.
— Tudo bem, eu não quero saber desses detalhes — corta-

me.

— Desculpa interromper. — Maya traz meu desjejum. — Aqui

está. — Coloca a bandeja ao lado da bandeja de Marina. — Bom


apetite.

— Obrigada

— Obrigado — nós falamos juntos, e Maya tem seu sorriso


voltado para minha namorada, que a retribui com um piscar de olho.

Espero Maya sumir de nossas vistas para questionar:

— Vocês são amigas?

— Mais ou menos. Mas eu quero muito voltar a me aproximar


dela — diz, me enchendo de orgulho. Para ela não tem isso de

classe social, trata todos de igual maneira.

— Como é isso de mais ou menos amigas?


— Ela é filha da minha antiga babá, lembra? — pergunta, e eu

balanço a cabeça em confirmação. — Então, quando éramos

crianças, Márcia a trazia para brincar comigo, mas, por algum

motivo que desconheço, um dia Maya parou de vim e perdi a amiga.


Agora que está de volta, quero me reaproximar dela.

— Que bom, é interessante reaver amizades antigas — afirmo

e lembro da Ângela. Talvez seja cisma minha, mas ainda assim não
é bom que Marina fique tão dependente dessa garota. — Agora

vamos comer antes que isso tudo aqui esfrie.


Passamos os próximos minutos conversando enquanto nos

alimentamos, falamos assuntos corriqueiros e trocamos

experiências de como foram nossas vidas durante todo o período

em que ficamos separados. Quando terminamos, Marina decide que


é uma boa darmos um mergulho na piscina e eu não penso duas

vezes em aceitar a sugestão. Não com o dia tão quente como o de

hoje.
Depois de trocar a bermuda por uma sunga de banho, pego

Marina de surpresa ao nos jogar com tudo dentro da piscina.

— Que susto, seu idiota. — Emerge com o cabelo todo


molhado e grudado no rosto bravo. — Eu poderia ter me afogado,

sabia?

— Não sabe nadar, princesa? — Tiro os fios de cabelo do seu

rosto.
— Sei, sim. — Percebe que ficou brava à toa. — Poderia ter

me matado de susto.

Eu realmente fui sorrateiro ao me aproximar.


— Vem, minha menina bravinha. — Lhe abraço mais apertado,

e ela enrola as longas pernas na minha cintura. — Deixe de


conversa e me beije. — Seguro sua cabeça e abocanho sua boca
apetitosa.

Num piscar de olhos, o beijo vai de casto para intenso e de

intenso para impróprio para menores. Não sei em que momento isso
aconteceu, só sei que agora eu tenho ela presa entre meu corpo e a

parede da piscina. Entre beijos e mordidas, esfrego meu pau duro

contra sua boceta sedenta, ela se contorce nos braços, e eu não


tenho outras alternativas se não calar seus gemidos com beijos e

mais beijos, sem nunca desgrudar nossas bocas. Não que eu esteja

achando ruim, até porque tenho um verdadeiro vício por sua boca e

acho que seria capaz de passar horas e horas beijando-a, sem


nunca me cansar. O problema aqui são seus peitos, que estão tão

apetitosos com os biquinhos salientes querendo perfurar a porra do

pedaço de pano que ela chama de biquíni. Minha vontade é rasgar o


tecido no dente, só para ter acesso a esses montículos

intumescidos que me pertencem.


— Amor. — Paro o corpo e solto sua boca quando, pelo canto
dos olhos, vejo um movimento na parte mais afastada do jardim. —

É melhor pararmos por aqui, ou então seremos flagrados pelo


jardineiro — digo, e ela cora quando também repara que ele estava
ali o tempo todo.
— Mas eu queria...
— Eu também quero — interrompo sua fala ao colocar o dedo
indicador sobre seus lábios inchados por meus beijos duros. —

Você quer subir lá para o meu quarto? — convido, esperando que


ela entenda o que significa esse convite. Que entenda que se
depender de mim essa decisão já está tomada, o próximo passo

dependerá apenas de sua decisão.


— Quero — responde com a firmeza de quem sabe o que
realmente quer. — Agora — exige.

— Então, vamos. — Entrelaço nossos dedos.


CAPÍTULO 17 UM SÓ

Quando Erick olha-me nos olhos e pergunta se eu quero ir para o


seu quarto, eu entendo que finalmente ele tomou a decisão. Aceitou
o inevitável, o que venho esperando durante toda a minha vida

adulta. Não que faça tanto tempo assim...


Diferente das outras meninas que tinham em seus ídolos da
adolescência as suas maiores fantasias, a minha era ele, o homem

que segundo a minha opinião sempre foi mais fascinante do que um


astro teen qualquer. Desde que entendi a diferença entre o amor
fraternal e o amor entre um homem e uma mulher, eu soube que ele

não se encaixava no primeiro grupo. Não quando era seu rosto que

aparecia nos meus sonhos de um príncipe ideal. Pode parecer


doentio ou até mesmo promíscuo da minha parte alimentar tal

desejo pelo melhor amigo do meu pai, mas, se assim o for, eu sou

uma doente sem cura.


No meu aniversário de dezesseis anos, quando no alto da

minha impulsividade eu decidi que era hora de lutar pelo que queria,
entendi que não era apenas um capricho, uma ilusão da garota

solitária que de alguma forma pudesse ter confundido com paixão a


dependência que tinha do seu afeto. Aceitei que assim como agora,

depois de tudo o que passamos e comigo prestes a completar

dezoito anos, o amor, a paixão e a devoção não mudaram. Pelo


contrário, tudo ficou mais intenso.

Se é errado, eu não me importo, se vão julgar, eu não vou

ouvir. Se vão tentar nos separar ou atingir com uma moral pregada
falsamente, irei lutar.

Não importa o que se interponha no caminho, enquanto ele me

quiser, eu ficarei do seu lado. O nosso momento finalmente chegou.


O amor que um dia eu sonhei para mim, ainda que sob a lente cor

de rosa de uma adolescente, está aqui, dizendo-me com seu convite


que venci, finalmente conseguimos nos encontrar.

— Então, vamos — diz ele, dando-me a mão, entrelaçando os

nossos dedos e me puxando para as escadas da piscina.

Do lado de fora, solto nossas mãos e começo a pegar todos os

meus pertences rapidamente. A minha felicidade é tanta que tenho

medo de ele mudar de ideia, talvez por isso a minha pressa.


— Vamos? — chamo quando tenho meu chapéu de praia,

canga e toalha pendurados no braço. Ele, no entanto, não move um


passo, fica apenas parado observando descaradamente meu corpo.
— Qual o problema, amor? — questiono apreensiva com sua

inércia.

— Não é nada — se recusa a me dizer qualquer coisa. Ele

apenas chega do meu lado, pega minha canga e a amarra na minha

cintura. — Pronto — diz ao olhar seu serviço.

— Vai me dizer o motivo disso?


Ele me fita como se a resposta fosse óbvia e eu tivesse o

dever de saber.

— Acha mesmo que vou deixar você sair assim, com esse

biquíni que mais mostra do que esconde? — diz, e eu custo a

acreditar nas suas palavras.

— Você não tem que permitir nada, homem das cavernas. Não

tem o direito de optar no que eu uso ou deixo de usar — digo, e ele


fica mudo, apenas com a expressão fechada no rosto. — Muito me

admira um homem da sua idade, com o seu conhecimento, ter esse

tipo de atitude.

— Não precisa ficar assim, garota, eu só não quero outros

homens de olho no que é meu — justifica, olhando por sobre os

ombros para o jardineiro que agora conversa com outros dois


indivíduos e eu suponho que são seus assistentes. — Se quiser, é
só tirar, faça o que tiver vontade! Eu que não vou me meter no que

você usa.
Termina de dizer e eu tenho vontade de chutar meu próprio

traseiro. Não era necessário fazer a cena que fiz. Não é como se ele
tivesse feito eu ir trocar de roupa por tê-la achado curta.
Está apenas com ciúmes por ver que têm outros caras por

perto, ele já me viu assim antes e nunca falou nada. Também sei
que não é do seu feitio ser controlador e machista.

— Me perdoe, meu amor. — Dou um beijo discreto no canto da


sua boca. — Eu também não quero que eles me vejam assim —

confesso e olho abertamente para sua sunga azul que sustenta uma
potente ereção.
— Que foi? — Sorri, vitorioso. — Pimenta nos olhos dos outros

é refresco, não é, pequena? — diz sarcástico quando sou pega na


armadilha que eu mesma criei. Eu e minha boca grande.

— Você não vai entrar nessa casa cheia de mulheres exibindo


isso. — Aponto o recheio de sua sunga, e ele dá uma gostosa

gargalhada.
— E quem vai me cobrir? — pergunta o safado, encarando
minha bunda sem o menor pudor. — Ao contrário de você, meu

amor, eu não tenho nada aqui. — Mostra as mãos vazias.


— Daqui você não sai. — Bato o pé, e ele não disfarça o

quanto está gostando de me fazer provar do próprio veneno.


— Vem. — Pega meu braço e me coloca com as costas

coladas em seu peito, o bumbum, esse está mais que feliz por sentir
a alegria do seu equipamento. — Está vendo? Agora não temos

mais problema. — Tira as mechas de cabelo que encobrem meu


pescoço e taca uma lambida na minha veia pulsante. — Nós vamos
chegar naquele quarto de qualquer jeito, não vamos, amor? —

Firma a pesada mão morena em minha barriga plana, fazendo com


que seu pau se acomode ainda melhor entre as bandas da minha

bunda.
— Vamos, sim — confirmo, dando uma leve rebolada, e ele,
tão excitado quanto é possível, abraça minha cintura mais apertado.

Assim, posicionados comigo na frente e ele as minhas costas,


me abraçando pela cintura, entramos em casa sem nos importarmos

de sermos vistos aos amassos em plena manhã de sábado.


Ao entrar em seu quarto, Erick passa a chave na porta, vira-me

de costas contra ela e com a cara mais sexy do mundo, diz:


— Está vendo que dupla do caralho nós somos, princesa?
Sempre arrumamos um jeito de solucionar os problemas. — Faz

aspas com os dedos ao dizer a palavra problemas. A solução que


achamos acabou se tornando uma preliminar do nosso sexo, já que
a cada passo que dávamos, o sacana arrumava um jeito de cavar o
pau ainda mais fundo contra minha bunda, provavelmente

estaríamos fazendo sexo anal no meio da escada se não fosse sua


sunga e a parte de baixo do biquíni que uso. Isso sem levar em

conta sua mão livre, que decidiu que era uma boa apertar meus
seios, logo eles, o meu e seu ponto fraco. Durante essa tortuosa
jornada, eu só curtia e torcia para não ser pega no flagra. Até

porque, o fato de termos achado por bem deixar os empregados


cientes do nosso namoro, não quer dizer que vamos transar no meio

da escada e ter eles de plateia.


— A melhor. — Aceito com prazer a mordida que recebo na

ponta da orelha esquerda. Primeiro morde e depois assopra,


enviando resposta para a parte mais necessitada do meu corpo.
— Pequena, olhe para mim — pede quando afasta a cabeça e

me encara com seriedade. — Você tem certeza de que está pronta?


Depois de hoje, não tem mais volta — garante. — Se quiser desistir

ainda está em tempo.


Ele dá a opção porque é parte do seu caráter fazer com que eu
pense sobre isso e até mesmo por ainda ter dúvidas da veracidade

do que sinto por ele. Seus olhos, no entanto, revelam toda a


apreensão por minha resposta, demonstram que apesar de não ter
certeza dos meus, ele tem certeza dos seus sentimentos.
— Eu estou pronta, amor. Há mais tempo do que você imagina

— digo convicta, ainda que o medo do desconhecido faça meu


estômago se retorcer de nervosismo. — Quero ser sua. — Seguro

sua cabeça e mordo a parte inferior dos seus lábios, puxando a


parte suculenta para dentro da minha boca.
— Você já é minha — afirma com a respiração entrecortada

quando separamos nossas bocas. — Aqui será apenas nosso rito

de passagem, principalmente para você. É como dizem


vulgarmente, hoje você se torna mulher, a minha mulher.

Ele, ainda com o corpo colado ao meu, abraça-me com os dois

braços e me leva para junto de sua cama. Chegando nela, apoia um

dos joelhos no colchão, me deita delicadamente sobre a cama, e eu


me ajeito da melhor maneira que posso.

— Linda — elogia ao dar um beijo em cima do meu umbigo

enquanto suas mãos passeiam do meu tornozelo até a parte alta


das minhas coxas e perto da junção onde meu sexo é abrigado. —

Linda e gostosa. — Vai subindo os beijos de boca aberta, beijos que

estão mais para chupadas. — Eu vou te devorar inteira,


Chapeuzinho — faz alusão ao conto de fadas, e eu acredito
piamente no que diz. Se os olhos são mesmo espelhos da alma, os

dele entregam o desejo que sente.


— Eu não vejo a hora, meu Lobo Mau. — Me arrepio quando

sua mão morena entra em contato com a pele clarinha do meu

peito.
Sem demonstrar a menor pressa, ele desamarra o nó lateral

do biquíni, fazendo com que eu levante minimamente a cabeça para

assim terminar de tirá-lo.

Quando me vejo seminua aos seus olhos, instintivamente


cubro meus seios e meu rosto pega fogo de vergonha.

— Não faça isso. — Abaixa minhas mãos e mira meus seios

em aberta admiração. — São meus. — Os agarra possessivo e


deixa os dedos polegares apertarem os mamilos já duros de

excitação. — De agora em diante, não os esconda mais, não dos

meus olhos ou minhas mãos — pede ao abaixar a cabeça e beijar o


vão que fica entre eles.

— Erick — chamo como uma súplica.

— Diga, amor. — Paira o corpo sobre o meu, fazendo um

esforço para que seu peso não me esmague. — É isso que você
quer? — Ele abocanha meu seio esquerdo, passando a chupar

avidamente entre um e outro. Primeiro os aperta, para depois aliviar


com deliciosas chupadas por todas as partes. Amanhã com certeza

as marcas irão aparecer. — É assim que vai ser a partir de agora.

Quando eu quiser, você vai me oferece eles, vai me deixar chupar,


foder, lambuzar com a minha porra, tudo o que eu quiser; e você

sabe por quê? — indaga quando sua respiração alterada pede um

momento de descanso.

— Sou sua — afirmo ao segurar a parte de trás da cabeça


dele, me esforçando para não o machucar com minhas unhas

afiadas.

— É sim — confirma. Ele separa minhas pernas, liberando


espaço para que seu pau se acomode contra minha boceta

molhada, e a umidade com certeza não é a proveniente das horas

passadas dentro da piscina. — Essa boca foi feita para receber

meus beijos. — Passa a língua entre meus lábios. — Esses


peitinhos... — Dá uma mordida dolorosa, descendo em seguida

beijos por meu abdômen plano. — Amo saber que um dia vai

abrigar meu bebê nesse corpo lindo — diz, fazendo com que meus
olhos se encham de lágrimas. Saber que ele vê um futuro em que

tenhamos nossa família traz sensações que nem mesmo sou capaz

de explicar. — E essa boceta...


— Erick... — gemo quando sua cabeça alcança minha virilha e

ele beija o local.


— Essa bocetinha apertada vai tomar meu pau tantas e tantas

vezes que quando eu não estiver aqui — Acaricia com o dedo

indicador os lábios vaginais por cima do pano úmido —, entre suas


pernas, você vai estar desejando que eu esteja. Sempre querendo

mais e mais, e então eu estarei por perto para satisfazer nosso

tesão acumulado.

— Ai, caralho. — Contorce o corpo, louca de desejo, e eu, tão


ou mais necessitado que ela, desmancho o laço do pedaço de pano

que cobre seu paraíso tão desejado.

Inebriado com o cheiro da sua excitação, encosto meu nariz na


sua boceta, me embebedando com o mais doce aroma, o cheiro da

minha mulher. Sem mais conseguir me segurar, coloco a boca no

seu centro e começo a comê-la como um louco que há muito não


prova da sua comida preferida. Alternando entre chupar seus

grandes lábios para dentro da minha boca e enfiar a língua dentro

da sua vagina, eu a levo cada vez mais perto do orgasmo.


— Erick, eu não aguento mais. Eu vou...— implora por alívio, e

eu desacelero o sexo oral. Dessa vez eu a quero gozando no meu

pau, com ele todo socado dentro da sua boceta.

Sob protesto, afasto-me do meio das suas pernas e sob sua


intensa supervisão, tiro a sunga, deixando minha dolorida ereção

livre aos seus olhos, e ela a fita abertamente, com o rosto

encantadoramente esbaforido.
— Amor, será que ele...? — Para a frase no meio do caminho

e eu completo:

— Sim, linda. — Me toco, querendo prolongar seu olhar de

admiração. — Você vai conseguir comportá-lo aí dentro. — Olho


malicioso para sua boceta depilada.

Sem demora, vou até a cômoda do criado-mudo, que fica do

lado esquerdo da minha cama, e de lá pego três pacotes de


preservativos e os jogo em cima do colchão. Depois disso, deito

novamente entre as pernas da minha garota e sem querer perder

nem mais um segundo sequer, pergunto:

— Está pronta, meu amor? — Desço minha mão até seu sexo,
testando sua umidade. Não quero machucá-la mais do que o

necessário. Enfio primeiramente um e depois dois dedos, fazendo

movimentos de vai e vem dentro da sua boceta. Quando a tenho


completamente encharcada e prestes a gozar, retiro minha mão,

pego a camisinha, visto meu pau e coloco a ponta na entrada da


sua abertura. Com os olhos arregalados, ela me olha como se só

agora se desse conta do que vai acontecer aqui.

— Marina, se você quiser... — Ofego, me segurando para não

socar até o talo em seu interior.


— Não, querido. Eu confio em você. — Tenta mexer os

quadris. — Só me faça sua, por favor.

— Me desculpe por isso. — Começo a entrar lentamente,


parando ao sentir a barreira da sua virgindade. — Prometo nunca

mais te machucar dessa forma. — Soco até o fundo e vejo uma

lágrima escorrendo por seu rosto quando seus olhos refletem a dor
da penetração.

— Caralho! — grita o xingamento, e eu imagino que até os

funcionários que trabalham do lado de fora da casa devem ter

ouvido sua voz. — Não pensei que fosse doer tanto. — Tenta se
movimentar, e eu seguro novamente seu quadril.

— Calma, princesa — peço docemente. — Isso — elogio

quando a sinto relaxar. — Deixe seu corpo se acostumar. —


Acomodo melhor seu corpo, tendo cuidado para não a machucar.
Depois de um tempo, vendo que está mais relaxada, pergunto: —
Está doendo menos?

Ela me olha com adoração, e eu tenho vontade de colocá-la

sobre meu colo e lhe abraçar por horas a fio, apenas abraçar, até
que ela entenda que é todo o meu mundo.

— Sim, eu só preciso que você se mexa — ela responde.

Tendo cuidado para não mais lhe causar dor, eu começo a me


movimentar, retiro meu pau lentamente, para depois o enfiar até a

base.

— Assim? — Continuo, e ela acena com a cabeça, soltando o

primeiro gemido de prazer.


— Isso, amor, mais rápido. — Afobada, tenta encontrar minhas

estocadas no meio do caminho. — É uma gostosa mistura de dor e

prazer.
— Logo a dor sumirá e você vai sentir apenas o prazer. —

Beijo seu pescoço úmido de suor. — Eu só preciso que facilite as


coisas aqui. Fique quietinha, menina gulosa. — Aumento um pouco
a velocidade das arremetidas. — Essa primeira vez, vamos apenas

fazer amor. — Chupo seus mamilos rígidos. — Na próxima, a gente


vai foder, trepar, fazer sexo, ou seja lá como queira chamar. —
Agarro sua coxa, me permitindo um maior contato. — Vamos fazer
do jeito que eu acho que você gosta, sua safada.
— Que delícia... — Apoia o corpo nos cotovelos para poder ver

o movimento do meu pau entrando e saindo. Percebendo sua


curiosidade, levanto o tronco e ela tem uma melhor visão.
— Está vendo, princesa? Como somos bons juntos. — Tiro e

coloco até a base dentro da sua boceta. — Isso aqui é apenas o


começo. — Seus olhos escuros de tesão acompanham minha mão
que começa a massagear seu clitóris. Com seu olhar fixo na cena,

eu trabalho com meu cacete dentro da sua boceta e com os dedos


em cima do clitóris. — Goze para mim, pequena. — Soco cada vez
mais rápido. — Molha meu pau com seu creme, quero ele todo

meladinho. Vai, meu amor, isso. — Enrolo suas pernas na minha


cintura ao penetrar, ensandecido.
— Erick... Ahhhh — grita a plenos pulmões quando é atingida

por um potente orgasmo.


Em busca do meu próprio alívio, abaixo meu tronco, encosto

meu peito contra o seu e com seus pés fincados as minhas costas,
dou mais cinco estocadas até encher a camisinha de porra, o sêmen
jorra numa quantidade e intensidade que me tiram as forças e tenho
que me esforçar para sustentar o peso do meu corpo e não deixar
meus cotovelos cederem.
Fazendo esforço para respirar, levanto a cabeça do seu

pescoço, vejo seu corpo úmido de suor tanto quanto o meu, que
pinga nos seus seios, e pergunto:

— Está tudo bem, minha linda? — Inspeciono-a da cabeça aos


pés e já sinto o bastardo ficar alegre. Se os homens precisam de um
tempo para se recuperarem, talvez meu pau não concorde quando

se trata dessa boceta. — Não está machucada?


— Não. — Se mexe, e eu vejo o sinal de desconforto passar
por sua expressão. — Talvez um pouco ardida lá. Mas nada de

mais, nada que apague o prazer que você me deu.


— Valeu a pena, não é? — Deito do seu lado e entrelaço
nossos dedos. — Valeu a pena esperarmos.

— Demais. — Levanta nossos braços e beija minha mão. —


Para ter nós dois juntos, como estamos neste momento, eu
esperaria quantos anos fossem necessários.

— Eu também, meu amor. — Agora sou eu que beijo sua mão,


que de tão delicada que é, quase some quando em contato com a

minha. — Mesmo você tendo demorado para vir ao mundo e a


gente tendo que esperar para ficarmos juntos, eu acredito que
nascemos destinados a viver isso aqui. — Passo os olhos por
nossos corpos nus e saciados.

— Erick. — Ela deita de lado, com o corpo deleitoso virado em


minha direção.
— O que foi, princesa? — Reparo no seu rosto pensativo.

— Será que já podemos fazer de novo?


CAPÍTULO 18 CUIDADO

— Não só podemos, como vamos fazer de novo. — Desço meus


olhos por seu delicioso e saciado corpo.

Gostosa!
— Agora? — indaga uma entusiasmada Marina, que nem
parece ter acabado de ter sua primeira relação sexual.
— Não. Antes vamos cuidar da mocinha e só depois

saciaremos todo esse fogo — digo ao retirar a camisinha cheia, dar


um nó na ponta e descartá-la no chão ao lado da cama. Espero não
esquecer dela aí mesmo, imagino qual seria o susto de quem vier

arrumar o quarto mais tarde. Não seria nada lisonjeiro encontrar um


preservativo usado e cheio de porra descartado no chão. Não é

como se eu fosse um adolescente, mesmo que esteja me sentindo


como um. — Tem certeza de que está bem? — Olho para sua

boceta ainda úmida dos nossos fluidos, constatando que

aparentemente ela não está machucada, pelo menos não mais do


que o normal.
Sei que devia ter sido mais cuidadoso. Ela é tão pequena para

o meu pênis um pouco acima da média que uma pegada mais


brusca seria capaz de machucá-la.

— Está só ardendo um pouco — confessa sem jeito, e eu

tenho vontade de recomeçar tudo de novo. Mas antes de fazermos


o tipo de sexo que gosto, preciso prepará-la.

— Vem, pequena. — Levanto da cama, pegando-a nos braços

e levando-a para o banheiro. — Vou cuidar de você, quanto mais


rápido sua bocetinha ficar boa, mais feliz a fera vai ficar. — Pisco o

olho malicioso e ela esconde o rosto tímido no meu peito suado.

— Você fala cada coisa... — tem coragem de dizer quando


entramos no banheiro.

— E você gosta, não é? — Beijo a parte de trás da sua orelha


pequenina que ainda contém resquícios do seu perfume doce. —

Não tente negar o óbvio. Eu conheço tudo sobre você, Marina. Sei

que sua calcinha fica úmida quando falo putarias no seu ouvido.

Sinto o cheiro da sua excitação, o cheiro de quem quer ser pegada

com força — digo ao sentá-la em cima do balcão que comporta a

pia do banheiro. Abro suas pernas, me interponho entre elas e


continuo: — Agora, por exemplo, eu estou sentindo seu cheiro. —

Toco seu sexo, que brilha numa mistura de sangue e de fluidos do


seu recente orgasmo, fazendo com que ela rebole contra minha
mão. — Você já está toda molhadinha para mim, não está? Mesmo

dolorida e sabendo que não me aguenta agora, você me quer,

minha safada. — Enfio um dedo lentamente dentro do seu calor.

Faço pequenos movimentos de entra e sai e minha namorada, como

uma boa gulosa que é, levanta o quadril, indo ao encontro do meu

dedo. — Olhe para mim, amor — peço, querendo ter todas as


nuances do seu prazer, inclusive o que não pode ser contido pelo

olhar. Não que algum dia ela tenha escondido isso e eu só tenho

que agradecer, não abro mão de ver seus olhos, olhos que contam

histórias de paixão e desejo, olhos que refletem todo o caminho

percorrido até que chegássemos aqui. No nosso mundo, onde as

acusações, convenções sociais e preconceitos não nos atingem.

Onde só existe eu, ela e o nosso amor. — Isso, não feche os olhos
nem por um segundo, quero que me entregue tudo.

— Erick... — Puta que pariu, ela está muito molhada. Como é

possível que esteja tão receptiva depois da sua dolorosa primeira

vez?

Juízo, Erick. Juízo!

Repreendo-me por tecer desejos tão desenfreados, quando


tudo o que ela precisa é de cuidado. Teremos todo o tempo do
mundo e eu garanto que cada um dos nossos momentos será muito

bem aproveitado.
Em nossa situação, falar em recuperar o tempo perdido não

seria apropriado, mas com certeza é de se falar em liberar o tesão


reprimido, jatos e mais jatos de porra que eu, de forma doentia,
liberei em minhas próprias mãos.

— Quer gozar, minha gostosa? — Aumento gradativamente


meus movimentos e ela apenas balança a cabeça de maneira

ensandecida. — Então goza. — Masturbo sua boceta, ainda


exigindo com o meu olhar para que não desvie o seu. Sinto as

paredes do seu sexo apertarem meu dedo e eu me dou conta de


que ela está chegando lá.
— Eu vou... Ah. — Molha meu dedo e chega ao ápice do

prazer ao sentir o leve belisco em seu clitóris inchadinho. — Eu


preciso... — tenta dizer com o corpo ainda ondulante.

— Precisa de descanso. — Ela me fita decepcionada e eu


tenho que me forçar a sair do meio de suas pernas. — Quietinha aí.

Já volto. — Beijo seu rosto e abro o armário em busca daqueles sais


de banhos que as mulheres parecem gostar.
Sob o olhar curioso da minha pequena, ligo as torneiras da

banheira e a deixo enchendo por alguns minutos. Depois de testar a


temperatura da água e de colocar uns líquidos cheirosos e

espumantes que ela disse gostar, eu a pego novamente nos braços


e lhe carrego para o seu banho de recuperação.

— Erick, eu ainda consigo andar — diz maliciosa, somente


para me provocar, já que enquanto diz isso seus braços circulam

meu pescoço e sua cabeça deita no meu ombro.


— Eu sei, baby, mas um homem tem o direito de cuidar da sua
namorada. — Entro na banheira que agora transborda espuma,

coloco-a em pé dentro, viro seu corpo de costas e abraço sua


cintura. — Vem, sente aqui comigo. Quero você recuperada e bem-

disposta — digo malicioso no seu ouvido. Ela senta no meio das


minhas pernas, com as costas apoiadas no meu peito, e tenho a
certeza de que não quero estar em outro lugar que não esse aqui.

— Pronto. — Tenho nossos corpos bem acomodados na banheira


transbordante de espuma. — Agora deixe-me cuidar de você. —

Massageio seus seios com carinho e ela geme baixinho, reprimindo


o som ruidoso que ela costuma fazer. — Marina? — Ela fica muda.

— O que te incomoda?
— Não quero que você pense que sou uma sem vergonha —
confessa, receosa. — Eu acabei de... Você sabe.
— Mas você é sem vergonha, baby, a minha sem vergonha. —
Aperto os mamilos dos seus seios e ela retorce o corpo. — Não
precisa se envergonhar de nada. O que você sente é o mesmo que

eu. Meu desejo é tão ou mais voraz que o seu. — Mordo o lóbulo da
sua orelhinha. — Eu só não estou te fodendo neste exato momento,

porque você precisa se recuperar, sua bocetinha precisa de outro


tipo de atenção. — Desço uma mão até lá e ela retesa o corpo num
visível incômodo. — Está ardendo?

— Sim — admite meu ponto de vista, ainda que meu pau duro
cutucando sua bunda tente anular o meu discurso.

— Isso não quer dizer que não vamos poder namorar. —


Continuo a massagear tanto seu seio quanto seu sexo castigado. —

Podemos nos dar outro tipo de prazer.


— Podemos, não é? — Aperta o bumbum contra o meu pau,
que já está pronto para outra.

— Vamos terminar isso aqui, que eu quero te mostrar


exatamente de que tipo de prazer estou falando — ronrono contra

seu pescoço.
Depois de quase uma hora cuidando de suas necessidades,
ainda que envoltos numa aura puramente sexual, eu lhe tiro de

dentro da água, fazendo questão de secar seus cabelos e seu


corpo. Ela, por outro lado, recebe o carinho de bom grado, apenas
ronronando como um gatinho preguiçoso.
— Assim vou ficar mal-acostumada, Erick — diz ao se ver

deitada na cama que nem de longe lembra a bagunça de lençóis


emaranhados e com algumas gotículas de sangue que há pouco lhe

forravam. Me divirto ao lembrar do seu rosto envergonhado quando


eu fui trocar os lençóis. Ela ficou tão vermelha que por pouco não vi
sair fumaça da sua cabeça.

— É sempre um prazer ter as mãos em cima desse corpinho

delicioso. — Pairo sobre ela ao lhe dar um beijinho no osso do


quadril.

— E eu adoro ter suas mãos em cima e dentro dele — diz

encabulada por deixar claro o quanto gosta de ser estimulada por

minhas mãos e tenho certeza de que pela língua também.


A cada nuance descoberta, eu fico mais encantado por sua

personalidade. Encanta-me o fato de ser ousada nas ações e tímida

nas palavras, pelo menos quando se trata de sexo. Não que isso vá
se prolongar por muito tempo, não demora muito e minha garota

estará falando pau, boceta, trepar e muitas outras coisas sem o

menor constrangimento. A convivência e a prática com certeza farão


isso por ela.
— Que bom, querida, porque a partir de hoje é aí que minhas

mãos vão estar com bastante frequência. — Beijo o vale entre seus
seios, perguntando-me o porquê de ter achado uma boa ideia

sugerir que ficássemos pelados.

— Nenhuma objeção por aqui. — Ondula o corpo contra o


meu, que não consegue deixá-la de lado. O desgraçado que agora

ameaça furar o colchão da cama nem parece o mesmo que

murchou de tanto tomar banho de água morna alguns minutos atrás.

Banheiras e seus efeitos desconhecidos.


— Acho que criei um monstro aqui. — Estou prestes a beijar

sua boca quando ouço baterem na porta. — A comida, meu bem. —

Levanto, enrolo uma toalha em volta da cintura e pego nosso


almoço que pedi depois de ouvir o seu estômago protestar

ruidosamente.

— Estou faminta — diz quando sento ao seu lado e eu não


consigo evitar meus pensamentos de duplo sentido.

— Então, vamos saciar essa fome — propositalmente, dou

ênfase quando me refiro ao tipo de fome que ela vai saciar.

Adoro fazer esse tipo de jogo. As provocações e insinuações


são uma espécie de preliminares para mim, quanto mais disposta e
desejosa a mulher estiver, mais desinibida e receptiva ela estará na

hora da real trepada.

Marina e eu fizemos amor nessa primeira vez, agora chegou a


hora do sexo. O duro, o intenso e violento do jeito que eu gosto e

vou ensiná-la a gostar. Vou ensiná-la que entre nós não haverá

tabus, que podemos ir do sexo mais romântico ao mais sujo e ela

vai gostar dos dois na mesma medida.


— Não vai comer? — Ela devora seu almoço com entusiasmo

e eu me obrigo a fazer o mesmo, deixando os pensamentos

"impuros" para depois. Para quando o outro tipo de fome for


saciada.

Envoltos em conversas e trocas quentes de olhares, nós dois

terminamos nossas refeições, deitamos completamente nus e

abraçados na cama.
Depois de muitos beijos provocativos e apalpadas nada

inocentes, acabamos sucumbindo à preguiça, caindo num cochilo

de meio da tarde. Coisa que eu não me lembro de ter feito algum


dia.

— Humm — gemo em sonho quando sinto pequenas mãos

fazerem movimentos circulares de sobe e desce no meu pau

dolorido de tesão. — Isso, amor. Que delícia, pequena.... Não pare.


— De repente abro os olhos, sobressaltado, e não acredito no que

estou vendo.
CAPÍTULO 19 FOGO

Desperto atordoada, precisando de um momento para me situar.


Sabe aquela sensação de não saber onde se está, que dia ou que
horas são? Então, eu agora estou vivendo um momento peculiar

como esse. O que posso dizer é que sinto um enorme peso sobre
meu quadril que faz impossível qualquer movimento meu, e que vejo
uma morena e enorme mão segurar meu seio possessivamente,

envolvendo meu corpo em um abraço de braços e pernas.


Subo lentamente o olhar pelo corpo longo e musculoso, que
por sorte eu tenho agarrado ao meu, e isso é incentivo suficiente

para me ter totalmente desperta.

Olho para o seu rosto sereno, mesmo que ainda sustente o


vinco sexy entre as suas sobrancelhas, o mesmo vinco que faz com

que viva com a constante cara de homem mal, e logo termino por

despertar para minha maravilhosa realidade.


Viro a cabeça e, pela fresta da cortina, percebo que já está

escurecendo, que surpreendentemente passamos boa parte da


tarde apagados, quer dizer, não tão surpreendente assim se

levarmos em conta as atividades praticadas desde manhã cedo. A


leve ardência entre minhas pernas certamente é uma testemunha

do quanto meu dia foi proveitoso.

Proveitoso não, perfeito!


A realidade de tudo que aconteceu aqui é muito melhor do que

tudo que minha mente fértil fantasiou. Apesar de querer e criar

muitas expectativas de como seria perder a virgindade, eu sempre


acreditei nas histórias de amigas que pregavam uma primeira vez

dolorosa e desprovida de prazer, que afirmam não ser possível

chegar ao orgasmo...
Eu não sei com que tipo de cara elas tiveram suas primeiras

relações, só sei que não poderia discordar mais dos seus


diagnósticos. Tirando a parte da dor, que realmente foi sentida, todo

o resto foi prazeroso. Com seu cuidado e carinho, Erick não só

conseguiu me levar ao ápice do prazer por duas vezes, como

também fez a proeza de me fazer parecer uma ninfomaníaca que

não quer nada na vida além de fazer sexo. Não que essa impressão

estivesse totalmente errada, pelo contrário, tudo o que eu queria era


repetir e repetir novamente. Acho que se não fosse o freio dele,

agora eu estaria com mais do que uma leve ardência.


Como quem não quer nada, meio que me esforçando para não
bancar a ninfomaníaca, passo os olhos pelo seu pênis, que mesmo

não estando ereto, ostenta um comprimento fora do comum. Se um

pau pudesse ser classificado como belo, o dele com certeza seria

considerado o suprassumo da beleza. Ostentando veias ressaltadas

quando duro, seu instrumento seria capaz de enlouquecer a mais

puritana das religiosas. Pena que agora ele está se aposentando, e


é só meu.

— Agora esse Lobo Mau vai comer apenas sua Chapeuzinho.

— Rio do pensamento bobo que me ocorre e sem conseguir me

conter, desço a mão até ele, pego com cuidado e já não me seguro.

Começo a fazer movimentos circulares e de vai e vem no seu

mastro, que de maneira inconsciente começa a endurecer dentro da

minha mão.
— Humm — Erick geme baixinho, ainda inconsciente, e eu

acredito que devo estar fazendo tudo direitinho, até o momento. —

Isso, amor. Que delícia, pequena... Não para. — Movimenta o

quadril, e eu, decidida a ousar, passo a massagear com a ponta do

polegar a cabeça rosada do seu pau. Meu ato finalmente o

desperta.
Ele vira o olhar confuso e me olha surpreso.
— Que foi? Fiz mal em te acordar dessa forma? — Dissimulo

um olhar culpado.
— Não, gata, fez bem até demais. — Coloca a mão morena

sobre a minha para me auxiliar nos movimentos. Já percebi que ele


gosta disso, de ter o controle na hora do sexo, de me guiar.
— Erick, eu quero... — Caralho! Qual é a dificuldade de falar

"Quero chupar seu pau”, se é exatamente isso o que eu quero


pedir?

— Quer colocar a boca? — Olha para nossas mãos unidas e


eu apenas balanço a cabeça para confirmar que esse é o meu

desejo. — Linda, se isso é para me agradar, você sabe que não


precisa.
— Eu quero. — Para falar a verdade, minha boca está cheia

d'água e minha boceta úmida, então eu acho que é mais do que


querer, é necessitar.

Só espero que as horas perdidas vendo atrizes pornôs fazendo


as mais diversas peripécias com a boca me ajudem em algo.

— E eu quero mais ainda. Só de pensar nessa boquinha me


mamando... Só que antes tenho uma condição. — Retira nossas
mãos do seu sexo.
— Condição? — Certeza que é alguma sacanagem. Erick

adora provocar essa minha veia tímida.


— Vamos lá. — Sobe o tronco para que possa ver melhor

minha expressão. — Repita comigo: eu quero chupar seu pau —


fala compassado e divertido. Eu tenho vontade de matá-lo.

— Eu... quero chupar seu pau — falo de uma vez e ele cai na
risada.
— Não ficou cem por cento, mas vou relevar por ser sua

primeira tentativa e também porque eu quero muito sua boquinha aí.


— Abaixa o olhar para o seu pau em riste.

Cheia de desejo e a fim de lhe agradar, saio dos seus braços e


desço o corpo pelo seu. Mais abaixo, eu me ajeito entre suas pernas
torneadas e fico frente a frente com sua soberba ereção. A dor do

desejo entre minhas pernas aumenta em níveis altíssimos por saber


que sou eu quem está o deixando assim.

Sendo observada por seu intenso olhar de desejo, fecho meus


lábios sobre a cabeça redonda do seu pau. Lentamente, passo a

língua ao redor e ele começa a perder o controle.


— Isso, amor. — Segura a parte de trás da minha cabeça. —
Ai, caralho... Puta que pariu... — urra quando passo da primeira

base e vou lentamente tomando ele dentro da minha boca. Começo


indo da cabeça até a metade, tomando cuidado para não fazer nada
de errado, para depois chegar até a base. Com muita dificuldade
entre babas e engasgos, eu consigo chupá-lo por inteiro. — Isso,

gostosa. — Começa ele mesmo a socar na minha boca. Em um


entra e sai lento, e sendo observada por seu olhar guloso, eu enfio

dois dedos dentro do meu próprio sexo e tento aplacar a minha


própria dor. — Que boquinha gostosa. — No seu rosto já se percebe
o suor querendo escorrer. — Vai, minha safada... — Soca

freneticamente, fazendo-me engasgar, mas nem assim deixo de lhe


chupar. — Humm — geme ruidoso quando sinto o orgasmo se

aproximando, tanto o meu quanto o dele. — Mais devagar, Marina.


— Controla os movimentos da minha cabeça. — Eu não quero

gozar dentro da sua boca. Não dessa vez. Vem.


Puxa meu braço, devorando minha boca com um beijo ousado,
sua língua a invadindo sem pedir permissão e eu respondendo com

a mesma empolgação.
Com o corpo parcialmente sobre o meu, Erick abruptamente

interrompe o beijo e me surpreende:


— Quero que te comer por trás — diz, e eu olho surpresa para
sua boca úmida do nosso beijo delirante.

— Por trás? — Será que não gostou da minha bocetinha?


— Quero te pegar por trás, amor, e não comer seu cuzinho —
fala com naturalidade. — É claro que isso faz parte dos meus planos
futuros, mas agora, o que eu quero é comer sua boceta e ter como

visão essa sua bunda gostosa. — Aperta forte uma banda do meu
traseiro, para em seguida nos mudar de posição.

Posicionada de joelhos no meio da cama, sinto ele me abraçar


por trás, também sobre os joelhos, com a mão enrolada na minha
cintura.

Sinto não só seu peito poderoso pressionar minhas costas,

como também seu pau cutucar minha bunda.


— Tem certeza de que pode me levar dessa forma? — Belisca

meu mamilo e eu tenho certeza de que meus seios são sua parte

favorita do meu corpo.

— Sim. — Rebolo em demonstração. — Posso provar. — Pego


a mão que me abraçava e a levo em direção ao meu sexo, e ele

ofega quando seu dedo entra em contato com a prova da minha

excitação.
— Tão molhadinha. — Acaricia meu clitóris com o dedo

indicador. — Você é tão receptiva ao meu toque, isso só me faz ter a

certeza de que vamos nos divertir. — Desce meu tronco, fazendo


com que eu fique na posição perfeita para o seu desejo. — Muito!
Exposta aos seus olhos e equilibrada sobre joelhos e

cotovelos, não sei sentir outra coisa além de poder e ansiedade.


Poder por saber que seus olhos de cobiça queimam por me ter da

forma que desejou e ansiedade para saber do que ele é capaz.

— Tão deliciosa. — Olho-o por sobre os ombros para


presenciar a cena sexy que nunca irá me cansar. Ele se

masturbando, acariciando o próprio pau enquanto passeia a mão

sobre minha bunda, isso é algo para nunca esquecer, pelo contrário,

quero doses e mais doses de cenas como essa. — Tão minha. —


Corta a embalagem da camisinha, colocando-a em seguida.

— Só sua e você é só meu. — Sinto a agonia da espera

quando ele pincela o cacete entre as dobras da minha bunda.


— Só seu. — Segura as bochechas da minha bunda,

passando a ponta do pênis sobre meu buraco enrugado e intocado.

— Não vejo a hora de comer seu cuzinho, minha safada — diz e eu


me arrepio só por imaginar a dor. Apesar de ter visto cenas de sexo

anal, a possibilidade de a anaconda conseguir entrar no buraco sem

me arrombar parece um pouco remota. — Mas até lá, vou comer

muito essa bocetinha. — Desce o corpo contra o meu, possibilitando


que sua mão alcance meu sexo. — Tão pronta. — Umedece o dedo

e o leva novamente para meu cu. Erick massageia o local agora


úmido e eu sinto uma fisgada de dor. A dor de sua ausência me

preenchendo, me deixando cheia dele.

— Erick, por favor... — imploro.


— É isso que você quer, minha putinha? — Ajeita a ponta do

pau na entrada da minha boceta encharcada. — Quer tomar meu

pau, não é? Diz.

— Quero. — Avanço o quadril em sua direção e ele o segura


firmemente.

— Não assim, fala exatamente o que você deseja — continua

a me provocar, sem me penetrar.


— Quero que me coma, caralho — grito e o sinto meter até as

bolas dentro da minha boceta necessitada. — Ah!

— Deliciosa dos infernos. — Penetra duro e fora de controle,

em um entra e sai frenético, fazendo com que meu corpo todo


sacuda e que meus joelhos percam as forças.

Uma, duas três... doze vezes, ele penetra até que eu desabe

sobre o colchão. Líquidos escorrem por entre minhas pernas, eu


gemo, grito, me descabelo, tudo o que é necessário fazer quando se

deseja ser ouvida pelos vizinhos do outro lado da rua.

— Tudo bem, linda? — Tem o corpo suado colado ao meu e os

movimentos mais lentos. — Se for demais, eu posso parar.


— Você não se atreva. — Levo as mãos para trás e finco as

unhas em sua bunda, obrigando-o a continuar os movimentos. —


Não para...

— Seu pedido é ordem, gostosa. — Com os joelhos, ele

separa ainda mais minhas pernas, deixando espaço para uma


penetração mais profunda. — Eu — Mete com força — não vou —

Mete de novo ao enfiar a mão na carne macia do meu peito — parar

— Desce a mão livre até meu montículo inchado — nunca. — Soca

até o talo, até que eu tenha a impressão de sentir a ponta do seu


sexo cutucar meu útero. Me estimulando por todos os lados, ele, de

repente, solta meu peito, tira a mão e o pênis da minha boceta e diz:

— Vem. — Senta na ponta da cama e eu entendo que me quer em


seu colo. — Agora o controle será seu, minha gostosa. — Acomoda-

me em cima de suas pernas, voltando a entrar novamente.

Se já o senti fundo quando me pegou por trás, nem sei o que

dizer dessa posição. Assim parece que estou cheia dele,


deliciosamente cheia.

— Erick... — gemo seu nome, entorpecida.

— Quero que me cavalgue como uma deliciosa amazona, a


minha amazona. — Segura minha cintura e ajuda-me nos primeiros

movimentos de subir e descer. Noto que ele evita descer até o final,
talvez com receio de me machucar. Sua gentil preocupação só faz

com que eu o ame mais um pouquinho, se é que isso seja possível.

Sentindo-me mais segura, começo a me movimentar

cautelosamente, Erick apenas segura minha cintura e me fita de


maneira intensa. Desço cada vez mais fundo, até que me tenho

totalmente dentro, agora suas bolas estão em contato com a minha

bunda.
— Você ainda vai me matar de tanto tesão, menina. — Belisca

meu peito com uma das mãos enquanto a boca chupa o gêmeo com

igual vontade. Ele o morde e a dor fina vai direto para o meu sexo.

Na intenção de levá-lo ao limite, assim como faz comigo, paro


e permaneço sentada no seu pau, fazendo apenas pequenos

movimentos circulares. Seu pênis me massageia internamente e ele

sorri quando me vê ser atingida por meu próprio plano.


— O que foi, meu amorzinho? — Tira do meu rosto o cabelo

que grudou por conta do suor.

— Nada — finjo inocência e começo novamente a me

movimentar. Vou deixá-lo louco, da mesma forma que faz comigo.


— Isso, gostosa — geme as palavras. Cavalgo seu pau em um

sobe e desce ritmado e profundo, saio lento e entro com tudo,

chocando nossos corpos suados num ruidoso som de pele com


pele. — Ai, caralho. — Não aguenta ficar parado e investe contra

meu quadril. Tirando a bunda da cama e suspendendo nosso peso


apenas pelos braços fortes, Erick passa a me comer da maneira

mais profunda possível, encontra meu entra e sai com vigorosas

arremetidas. Meus seios pulam livres contra seu rosto e ele tenta

abocanhá-los.
— Erick! — grito a ponto de gozar.

— Grita, porra, eu quero que grite para toda cidade ouvir. —

Mete com força quando volta a sentar e abocanhar minha boca. Sua
língua me invade assim como seu pau e eu chupo a sua tal qual

minha boceta engole seu cacete. — Quero que todos saibam... —

Larga minha boca e ataca meu pescoço, chupando-o fortemente,


tudo sem parar de meter — quem é o homem que te come, quem é

seu dono... — Seu pau engrossa no mesmo instante em que minha

vagina lhe aperta. — A quem você pertence — Mete uma última vez

antes de gozarmos juntos.


— Amor... — gemo sem força.

Ele abraça minha cintura possessivamente com os dois braços

ao dar lentas e curtas estocadas, enchendo o preservativo com os


últimos jatos do seu sêmen.
— Marina. — Tira o rosto do meu pescoço e me fita com um
olhar perdido. — Eu te amo... — Beija todo o meu rosto.

— Eu te amo mais — afirmo e ele me beija. Seu beijo é lento e

ao mesmo tempo faminto, sua língua me varre como se quisesse


reafirmar com ações as suas palavras.

Sem parar o beijo e ainda conectados, ele inverte nossas

posições e nos deita outra vez em sua cama macia. Nos beijamos
por mais uns instantes, até que ele sai cuidadosamente de dentro

de mim.

— Uau. — Não contenho o sorriso bobo que se abre quando

passo os olhos por nossos corpos suados e deitados lado a lado.


— É só o começo, amor, um mundo de prazer sem limites nos

espera — promete enquanto tira o preservativo, o amarra e joga no

chão. — Pena que responsabilidades nos esperam também, senão


acho que seria capaz de viver a vida com você a base de água e

sexo.
— Eu também — o surpreendo ao admitir.
— Essa é minha garota. — Traz meu corpo para mais perto do

seu. — Mari, você toma anticoncepcional? — pergunta.


— Não tomo. — Ao contrário de algumas mulheres que
recorrem a esse método por outros motivos além da prevenção, eu
nunca precisei recorrer a eles. Era virgem até hoje e nunca tive
problemas com meu ciclo menstrual.
— Vou marcar uma consulta com o ginecologista, tudo bem?

— Massageia meu couro cabeludo quando deito a cabeça em seu


peito. — Não quero mais transar com camisinha, preciso senti-la por
inteiro. Mas só se estiver de acordo.

— Pode marcar a consulta. — Levanto a cabeça para olhar


seu belo rosto moreno. — Se você quer, eu também quero.
— Linda. — Dá um selinho. — Percebeu que passamos o dia

trancados no quarto? — Ri contra minha boca. — Se não fossem


seus gritos, os funcionários já teriam vindo verificar se estamos
vivos.

Agora eu quem não seguro a risada.


— Só eu que gritei, não é mesmo? — Preguiçosa, enrosco
minha perna nas suas.

— Você quem está dizendo. Pensando bem, um dia não é


nada para quem deseja viver de água e sexo — diz e nós dois

passamos a rir como dois bobos.


Felizes! Finalmente felizes.
CAPÍTULO 20 IMPLICÂNCIA

— Merda. — Desperto e, como sempre, demoro alguns instantes


para me situar. Estico braços e pernas e encontro o outro lado da
cama frio e vazio. Isso significa que já tem um tempo que Erick saiu.

Faz mais de um mês que vivemos nessa rotina, desde o fim de


semana em que eu perdi minha virgindade e resolvi que era uma
boa passar dois dias transando, não como uma recém-desvirginada,

e sim como a mais experiente das mulheres.


Reclamar? Jamais! O fato de não estar conseguindo fechar as
pernas na segunda-feira e de Erick ter ficado dividido entre rir de

mim e ficar louco com os cuidados não mudou em nada a delícia

que foi aqueles maravilhosos dois dias. Como era nosso desejo,
ficamos em nosso mundo particular — o quarto do Erick — a base

de sexo, água e da comida que recebíamos na porta. Ficamos

trancados, literalmente, fazendo nada além de namorar. Pouco a


pouco, fomos nos descobrindo como casal e, com toda paciência,

meu namorado me ensinou como lhe dar prazer, assim como me


ajudou a conhecer meu corpo e as partes mais sensíveis e

receptíveis ao seu toque.


Hoje, depois de um mês juntos e de ter me mudado em

definitivo para o seu quarto, ainda me pego sem acreditar que isso

seja realmente verdade, que todas as fantasias que tive se tornaram


realidade, uma vida em que os finais feliz existem, bem parecido

com as histórias de contos de fadas que papai lia para eu dormir

quando pequena.
Não vou dizer que é uma relação perfeita, seria mentira,

porque relações perfeitas não existem. Nossa diferença de idade e,

principalmente, de personalidade, já foram motivos para leves


desentendimentos. Discutimos por bobagens algumas vezes, mas

nada que nos faça dormir brigados. E como ele diz, o bom das
brigas é fazer as pazes. E olha que Erick é especialista no assunto.

— Merda, mil vezes merda. — Olho para o criado-mudo ao

lado da cama e constato minha suspeita: eu perdi a hora.

A Ângela vai me matar. Como se não bastasse o fato de ter

que ouvir suas reclamações, eu ainda dou um mole desses.

Segundo ela, sou daquelas amigas que abandonam as outras


quando arranja um namorado e por mais que eu proteste dizendo

que as coisas não são bem assim, ela simplesmente não aceita.
Não entende que esse é um momento importante na minha vida,
que embora eu não tenha lhe abandonado, como gosta de dizer, a

realidade agora é outra.

Diferente de antes, hoje em dia eu tenho que me dividir entre

meu namorado, o curso de fotografia e os amigos, principalmente

ela. Só queria que ela entendesse que essa fase nova requer boa

parte do meu tempo e atenção. Entre a Marina estudante, amiga e


namorada, a escolha do momento é a Marina que é namorada. Esse

não o pensamento de uma adolescente deslumbrada pelo primeiro

namorado. Eu quero aproveitar a sensação de estar com o amor da

minha vida, e essa pessoa é o Erick, o homem que por toda vida foi

amigo meu e de papai, o homem por quem tanto sonhei e que enfim

é meu namorado. Essa não é uma relação qualquer que eu poderei

descartar quando quiser, na primeira briguinha. O que está em jogo


aqui é muito maior que a birra da Ângela. Um escândalo envolvendo

os nossos nomes respingaria em coisas que vão muito além da

nossa relação.

Ela tem que parar com isso, não vou deixar que seus chiliques

acabem com minha felicidade.

Agora eu entendo os motivos do Erick querer manter nosso


namoro em segredo. Ele explicou, eu não quis entender, mas agora
consigo compreender.

— Eu não acredito que você furou comigo outra vez, Marina.


— Como quem soubesse dos meus pensamentos, uma Ângela

furiosa adentra meu quarto, quase me matando de susto. Nem para


bater antes de entrar...
— Perdão, amiga. — Sento de imediato, imaginando o estado

em que meu rosto e cabelo devem estar.


Ontem foi uma noite agitada. Como tem acontecido todos os

dias, Erick chega do serviço faminto, e quando digo faminto, eu não


estou me referindo a comida. Seja na ducha que toma quando

chega ou em cima de um dos aparelhos da academia, Erick parece


sempre estar querendo transar. Seu desejo por mim, assim como o
meu por ele, está mais ardente do que nunca.

Bem diferente do que eu imaginava, os primeiros dias de


novidade da relação passaram e o tesão não diminuiu. Pelo

contrário, quanto mais descobertas e posições novas tentamos,


mais insaciáveis um do outro ficamos.

Está aí motivo do ciúme da minha amiga — pelo menos eu


imagino que seja isso —, é de eu acordar sempre fora do horário e
com cara de quem foi atropelada. Eu realmente fui, por um moreno

lindo, gostoso e também viril.


Haja fôlego e disposição.

— Eca. Esse quarto só tem cheiro de sexo. — Ângela


escancara a janela e a brisa da manhã de sexta entra e toca meu

rosto. — Qual o seu problema, Marina? — Senta no sofá de dois


lugares posto ao lado da janela. Se ela soubesse o que fizemos

nele, teria sentado na cama mesmo. — Nunca tem tempo e quando


diz que tem, não comparece.
— Já pedi desculpa, Ângela. — Me sinto incomodada com sua

teimosia. Ela sempre foi assim e eu não percebia? Ou é sua


predisposição em não aceitar meu namoro que está deixando essa

característica mais evidente? — Esqueci de colocar o celular para


despertar e perdi a hora.
Ela não precisa saber que o despertador não foi um problema

quando, às seis e trinta, eu acordei com um Erick mais do que


disposto em cima de mim, pronto para o sexo de bom dia de

trabalho, como diz ele.


— Está bem. Levanta a bunda daí e vamos almoçar fora.

Faço o que ela diz, mesmo tendo vontade de passar o dia na


cama, curtindo a preguiça, já que a aula de hoje foi cancelada. Com
o lençol enrolado em volta do corpo, saio e ela revira os olhos

quando percebe que estou nua.


Depois de um gelado e revigorante banho, me arrumo
rapidamente sob o comando irritante de Ângela — que se eu não
estivesse em dívida, já teria mandado ir pra puta que pariu —, pego

minha inseparável câmera fotográfica e saímos para o bendito


almoço.

Quando chegamos ao MamaMia, o restaurante especializado


em comida italiana que frequentamos desde crianças com meu pai,
eu respiro aliviada por pelo menos dessa vez não ter tido a

desagradável surpresa de me deparar com o Mateus, já basta o que


aconteceu da última vez. Não quero mais ter problemas com o Erick

por causa desse menino que eu nem ao menos tolero.


Depois daquele fatídico encontro, chamei a atenção da Ângela,

que por sua vez me garantiu que não fez nada, que ele estar ali não
passou de uma grande consciência — na hora eu só pensei na
frequência com que essas coincidências acontecem, afinal, sempre

parece que Mateus adivinha onde estou. Além disso, minha amiga
prometeu controlar mais a língua do abusado, que faz de tudo para

forçar uma situação em cada um dos nossos esbarrões por aí.


— Me conte, amiga — começa, quando estamos acomodadas
em nossa costumeira mesa de canto. — E esse namoro, já subiu no

telhado? — Eu levanto os olhos do cardápio, surpresa com o que


acabei de ouvir, e ela emenda: — Ei, eu estou brincando, garota. —
Dá uma risada. Ela sempre teve esse humor ácido? — Era só olhar
seu estado mais cedo para saber que o relacionamento de vocês

anda de vento em polpa — afirma num tom de descrença. — Quem


diria.

— Você nunca levou fé que eu conseguiria conquistar ele, não


é? — digo e tenho minha atenção desviada pelo garçom que chega
para anotar nossos pedidos.

— Não é questão de levar fé em você ou não, Marina. Para ser

sincera, eu não esperava que ele fosse olhar para uma menina
como você.

— Uma menina como eu? — O que ela quer dizer com isso?

— Jovem e inexperiente... — revela o que pensa. — Quem

imaginaria que um cara tão... tão...


— Tão?

— Tão lindo e maduro, que é acostumado a ser fotografado

com as mais belas mulheres do país, iria dar atenção para uma
menina virgem e tão jovem.

— Com amigas como você, quem precisa de inimigas —

brinco para tentar encobrir minha chateação com seu comentário.


Tudo bem que são assuntos que eu me questionei e que ainda

rondam minha cabeça, raramente, mas rondam. Só que ouvir isso


da boca de outra pessoa, ainda mais sendo uma que me conhece

tão bem, não ajuda em nada com a insegurança que eu tanto quero

esconder.
Durante todas essas semanas de namoro, Erick tem tido um

comportamento irrepreensível, não dando nenhum motivo para me

fazer duvidar dos seus sentimentos, ou até mesmo para me fazer

questionar se não sente falta da vida que levava antes, das


mulheres tão diferentes de mim que sempre estavam agarradas no

seu braço. Pensando bem, não tenho motivo para me preocupar

com isso, se ele sentisse falta de alguma dessas mulheres, estaria


com elas e não comigo. Meu amor nem ao menos merece que eu

tenha esses pensamentos.

— Não me leve a mal, amiga. — Segura minha mão.


— Não levo, querida — falo com sinceridade depois de ter

refletido. — Eu sei que Erick me ama e é isso que me importa. O

resto se ajeita.

— Que bom, minha amiga. — Solta minha mão para que


nosso almoço seja servido. — Se está feliz, eu também fico. Mas...

— Sabia que tinha um "mas" vindo por aí.


— Não acha que está ficando muito dependente dele? —

Estava demorando a chegar nesse assunto. — Não sai mais com os

amigos, sempre tem um compromisso com o Erick. Não faz mais


nada que não seja com ele.

Ela parece uma criança birrenta com essa disputa por atenção.

— Já falamos sobre isso, Ângela — digo, enquanto ela come

seu risoto sem deixar de me ouvir com atenção. — As coisas agora


são diferentes. Quando for sua vez, vai me entender. — Torço para

que isso aconteça logo, talvez assim ela fique menos ciumenta.

Para falar a verdade, eu não imaginava que ela fosse tão


dependente dessa amizade, apesar de ser minha melhor amiga e de

nos conhecermos desde pequenas. Pelo contrário, eu que sempre

fui muito mais dependente dela.

— Os amigos, eu com certeza não irei abandonar — insiste em


fazer drama.

— Tanto abandonei que estou aqui, almoçando com você.

— Tem razão. Chega! Cansei desse assunto. — Finalmente.


— Vamos, me diga, como anda seu curso de fotografia?

Enquanto almoçamos, conto sobre o bem que o curso me faz,

mostro as fotos que fiz no parque em que Erick me levou como


presente de aniversário de dezesseis anos, além, é claro, de babar

nas fotos que fiz dos meus filhos, a Floquinho e o Thor.


Sim. Agora são dois, porque além de ter adotado o preguiçoso

Thor, também convenci Erick de que ele é o pai de ambos.

— Você está muito louca, Mari. — Não contém o riso ao ouvir


minhas histórias.

— Fazê-lo assumir a paternidade não é loucura, Ângela, é um

ato de lucidez — brinco e dessa vez ela não ri, pelo contrário, fecha

a cara, olhando para a porta de entrada. — Que foi, Ângela? Ficou


séria de repente.

Ela não consegue nem piscar.

— Amiga, não olhe agora, mas seu Erick acabou de entrar


com uma mulher.

As batidas do meu coração aceleram drasticamente.

— Não me peça isso. — Desobedeço e vejo quando ele puxa

a cadeira para loira sentar.


Não. Não pode ser! É a mesma mulher que me humilhou na

sua frente e ele não disse nada. Agora Erick está em um almoço

romântico com ela.


Por que você está fazendo isso comigo, amor?
— Eu tenho que ir embora, Ângela. — Guardo minha câmera

na bolsa. — Não quero que ele me veja aqui. — Levanto-me

discretamente. — Você vem? — Agradeço mil vezes aos céus por

ter vindo com o motorista.


— A conta, querida — me lembra que ainda nem pedimos para

fechá-la.

— Eu tenho mesmo que ir. — Não consigo olhar para mesa à


frente. Pior ainda com o Erick podendo me ver a qualquer momento.

— Está bem. Deixa que eu acerto aqui. Vai, mais tarde eu te

ligo.

— Sinto muito. — Beijo seu rosto e saio do restaurante pela


saída mais distante possível da loira e do Erick.

— Para casa, senhorita? — Jorge pergunta assim que bato a

porta do carona.
— E-eu... Não sei. — Meus olhos turvam em lágrimas, me

fazendo perceber que realmente não sei o que fazer.

Não sei como interpretar a cena que vi. Apesar da decepção

por vê-lo com ela, quero acreditar que há uma explicação, mas não
sei o que dizer quando estiver cara a cara com Erick.

Ele tem uma explicação, eu sei que tem!

“Preciso confiar nele! Preciso confiar!”, repito como um mantra.


— Me leve para casa, por favor, Jorge.
BÔNUS I

— A conta, por favor. — O garçom se aproxima e eu entrego em


suas mãos a comanda e o dinheiro que acabei de tirar da carteira.
Quando me vejo sozinha, sinto-me mais à vontade para

fiscalizar os acontecimentos da mesa mais à frente. Levanto os


olhos e me deparo com Erick me encarando com uma expressão
vazia. Para ele é como se a loira cheia de garras — que não para de
tocar seu braço — nem estivesse ali.

Não consigo evitar que as batidas do meu coração fiquem


mais frenéticas quando estou no mesmo recinto que esse homem.

Não nos encontramos tantas vezes assim para que eu tenha me


acostumado com a visão.

E que visão.
Erick é um dos homens mais bonitos que eu já vi na vida, não

perdendo em nada para os galãs das novelas e filmes que eu

gostava de ver na adolescência. É muita virilidade para uma jovem


de apenas dezoito anos.
Ai, meu Deus, ele está vindo.

Será que chegou a ver Marina aqui? Eu espero que não!


Não quero que sua saída dramática tenha sido em vão.

— Para onde ela foi? — pergunta, grosseiro, quando se vê

parado na minha frente. A loira, por outro lado, continua sentada


com o olhar cheio de frustração. — Eu não estou de brincadeira,

garota. — Parece que ele fica ainda mais bonito quando está bravo

desse jeito. Marina, sua sortuda. — Cadê a minha namorada?


— Aqui ela não está, como pode perceber — digo, sarcástica,

e ele está cada vez mais furioso.

— Eu não gosto de você, garota. E nem daquele seu primo.


Isso eu já tinha percebido.

— Então estamos empatados, porque eu também não vou com


a sua cara — digo, mas isso não significa que ele não seja um gato.

— Cuide bem da minha amiga, ou então vai se ver comigo. E você

não tem ideia do que sou capaz — ameaço.

— Você é louca? — pergunta, impaciente.

— Sou — confirmo. — Volte para o seu almoço, aquela mulher

não está nada contente. — Aponto para oxigenada.


— Que se foda, eu tenho que ir atrás de Marina. — Vira-me as

costas, rumando para a mesma porta que minha amiga acabou de


passar.
— Tem mesmo. Bye bye — despeço-me e ele nem ouve.

Quando estou sozinha, olho para oxigenada e pisco de

maneira irônica, sendo retribuída com um olhar de ódio.

Sorrio, satisfeita comigo mesma, quando ouço meu celular

vibrar em cima da mesa. De imediato, pego o aparelho e vejo que é

uma mensagem da Marina.


“Não se preocupe, estou bem <3”

“Graças a Deus. Ele nos viu amiga.”

“Ok :)”

Encerro as mensagens aliviada por saber que tudo correu

bem. A lembrança do quase acidente que Marina sofreu gela meu

sangue. Desde esse dia minha preocupação com ela triplicou de

tamanho.
Eu sei que estou sendo chata com ela, principalmente depois

desse namoro que eu nunca achei que fosse acontecer. Na minha

cabeça, Marina sofria de um amor platônico e unilateral que jamais

iria se concretizar. Até porque, coisas como essa acontecem apenas

em novela. Na vida real, meninas como eu não tem direito a uma

final feliz.
Acho que não estava preparada para dividir a atenção dela

com outra pessoa e por isso impliquei com esse namoro desde o
início. Marina sempre foi meu porto seguro, apesar de não ter ideia

disso. Minha amiga é a lufada de ar fresco que dá vigor ao mar de


frustração que minha vida se tornou.
Apesar de ela pensar o contrário, sou eu quem sempre fui

dependente de sua amizade, quem invejou o amor que seu pai


sempre lhe deu. Até o fato dela ser órfã de mãe eu invejei, é melhor

não ter uma do que ter a mãe que tenho.


Sempre quis ter tudo que Marina teve, uma família feliz, apesar

de incompleta, a popularidade de ser aceita onde quer que esteja, e


agora o amor, minha amiga tem o amor.
E eu, o que eu tenho?

Meus olhos começam a arder, mas parece que nem para ter
pena de mim mesma tenho paz, pois acabo atendendo uma ligação

indesejada.
— Onde você está? — Ouço a voz odiosa de Mateus do outro

lado da linha.
— Já estou indo. — Desligo na sua cara. Até quando vou ter
que fugir para não ser obrigada a carregar essa cruz onde quer que

eu vá?
Com o pensamento longe e frustrada por ter que voltar para o

inferno, esbarro sem querer numa torre de músculos e gravata que


acaba de adentrar no recinto.

— Você é cego por acaso? — indago, indignada.


O homem que vem para tirar o posto de Erick de mais gato,

apesar de não conseguir ver seus olhos, caminha lentamente sem


dizer uma palavra, ou ao menos olhar na minha direção. Mas
também não faria diferença, ele está de óculos escuros mesmo.

Óculos escuros dentro de um restaurante.


Me leve, Deus!
CAPÍTULO 21 ACADEMIA

"Que meu amor não será passageiro. Te amarei de janeiro a janeiro.


Até o mundo acabar."

— Você pode segurar as pontas aqui, Patrícia? — Olho meu pulso


pela décima vez em cinco minutos. — Os detalhes você já sabe, é
só repassar com o Bruno quando ele chegar — digo, desconfortável.

Tenho a sensação de que o nó da minha gravata está ficando cada


vez mais apertado em volta do meu pescoço.
Eu vou matar o incompetente do Bruno. Como pode se atrasar

e me deixar aqui com essa mulher? Ele não disse que estava
chegando? Se ao menos eu sonhasse que ele ainda não estava

aqui, teria enrolado um pouco mais no escritório.


— Não, querido. — Me aborreço com o fato dela me tratar com

uma intimidade que não temos e meu semblante deve ter

demonstrado exatamente isso, já que ela rapidamente se corrige: —


Quer diz, Erick, você sabe como o João era minucioso com esses

eventos. Agora que ele se foi, passou a ser sua responsabilidade.


Eu gostaria de esquecer esse fato.

Nosso escritório é conhecido pelas grandes recepções que


oferece a cada grande causa ganha ou quando somos contratados

para atuar em causas milionárias. Isso nunca foi problema para

mim, eu até que gostava, é nesses eventos que toda a equipe ronda
os convidados atrás de novas causas e consequentemente mais

ganho e prestígio para o escritório. O problema é que diferente das

outras vezes em que eu me preocupava apenas em comparecer,


hoje tenho, não só que tomar à frente, como também ouvir e

concordar com todas os detalhes irritantes.

É disso que se trata esse almoço. Não sei por qual razão, mas
Bruno e Patrícia — que não foi demitida ainda porque tenho

desconfianças a seu respeito que preciso averiguar mais de perto —


são as pessoas que, junto com o meu falecido amigo João,

organizam esses eventos. Segundo eles, há uma recepção para

Ulisses Casagrande, dono da conceituada rede de cosméticos

SempreBella, que é de extrema necessidade, e como eu confio no

discernimento de Bruno, tive que vir a esse almoço.

— Tem razão — digo a contragosto, olhando novamente o


relógio. — Mais cinco minutos, se ele não aparecer, eu vou me

retirar e deixar por conta de vocês. Tenho outro compromisso. — Na


verdade, não tenho, só preciso fazer a costumeira ligação para
Marina. Todos os dias nos ligamos para sabermos como o outro

está.

Estou a ponto de pegar meu celular dentro do bolso interno do

paletó quando vejo uma movimentação na mesa de canto, olho mais

atento e me surpreendo por ver que é minha Marina quem está indo

embora.
— Licença. — Saio da mesa sem esperar pela resposta que a

mulher com certeza daria.

Paro em frente à amiga estranha e pergunto sem rodeios:

—Para onde ela foi? — Ela permanece me olhando calada. —

Eu não estou de brincadeira, garota. Cadê a minha namorada?

— Aqui ela não está, como pode perceber — diz debochada e

eu tenho vontade de matá-la.


— Eu não gosto de você, garota. E nem daquele seu primo —

declaro. Essa menina tem alguma coisa que não se encaixa.

— Então estamos empatados, porque eu também não vou com

a sua cara. Cuide bem da minha amiga, ou então vai se ver comigo.

E você não tem ideia do que sou capaz — ameaça.

— Você é louca? — indago, sem paciência. Mas pelo menos


deu para perceber que ela gosta mesmo da Marina.
— Sou — assevera. — Volta para o seu almoço, aquela mulher

não está nada contente.


— Que se foda, eu tenho que ir atrás de Marina. — Saio

apressado.
Depois de muito quebrar a cabeça tentando imaginar para
onde Marina poderia ter ido, decido confiar no seu bom senso e ir

direto para casa.


Quando entro com o carro na garagem, reparo que o veículo

que o motorista usa quando sai com ela está aqui, então
provavelmente Marina veio para casa.

Entro e encontro a sala em total silêncio. Se minha namorada


não fosse tão apegada emocionalmente a esse lugar, eu, com
certeza, já teria lhe convencido a irmos morar no meu apartamento,

que tem o espaço adequado para duas pessoas. Essa mansão é tão
grande que se Marina quiser me dar um castigo, é só se esconder e

depois me fazer procurá-la.


Tendo em mente a certeza de que ela está aqui em algum

desses milhares de cômodos, decido deixá-la um pouco sozinha,


dar um tempo para que se acalme e tire suas conclusões, para só
depois conversarmos.
Depois de almoçar — coisa que não deu tempo de fazer no

restaurante —, tomar banho e revisar alguns processos no antigo


escritório de João, que agora estou utilizando, saio para procurar

minha garota.
Chega de se esconder, princesa.

Primeiro procuro nos quartos, na sala de cinema e até mesmo


no banco que fica entre as roseiras bem cuidadas do jardim, e não a
encontro em nenhum deles.

Por fim, dirijo-me ao último lugar onde ela poderia estar: a


academia.

Se tem um espaço que minha garota não frequenta, esse lugar


é a academia, não que ela precise, pelo contrário, seu corpo é
naturalmente gostoso e sem uma única gordurinha fora de lugar.

Segundo ela, somente as pessoas sadomasoquistas praticam esse


tipo de tortura quando não é estritamente necessário.

Por outro lado, ela adora ficar me olhando treinar. Todas as


noites depois que chego do trabalho, malho sob seu olhar faminto.

Marina me admira abertamente, sem conter a excitação de ver meu


corpo suado pelos exercícios intensos e como não gosto de deixar
minha mulher passar vontade, eu a como ali mesmo, seja contra a

parede espelhada, seja sentado em cima de um dos aparelhos de


musculação ou mesmo no chão. O fato é que nós sempre
acabamos suados e ofegantes, depois de uma foda de boas-vindas.
Minha pequena parece ter sido feita na medida certa para mim,

é impressionante o quanto temos nos dado bem em pouco mais de


um mês de namoro. O nosso ainda tem um diferencial, que é o fato

de morarmos juntos. O que poderia ser um ônus para quem acabou


de iniciar uma relação, para nós se tornou um bônus, pois foi essa
necessidade de morarmos juntos que me ajudou a perceber que a

grande diferença de idade que nos separa não é um empecilho para


nosso entendimento. Ela me fez perceber que muitas das nossas

diferenças vêm mais em decorrência das personalidades distintas


do que propriamente das mentalidades, que tem bons anos de

distância uma da outra.


Entro no amplo espaço, que é todo revestido em vidro, e
também encontro o recinto em completo silêncio. Passo os olhos

rapidamente pelo ambiente e quando não a vejo, aceito que não só


não está aqui, como também não veio para casa.

Porra! Onde você se meteu, meu amor?


"Que meu amor não será passageiro. Te amarei de janeiro a
janeiro..."
Estou quase fechando a porta da academia quando ouço sua
voz cantando bem baixinho.
Porra! Ela está aqui!

Escancaro a porta e dessa vez olho com mais atenção. Avisto


Marina deitada num cantinho entre a parede e uma esteira. Ela

veste um short preto bem curtinho e um top cinza que cobre seus
seios deliciosos, deixando sua barriga lisa à mostra. Tem nos
ouvidos um fone branco e por ele sai uma música melosa que ela

vez ou outra cantarola.

Fico um tempo apenas olhando minha pequena, imaginando o


que passa pela sua cabeça depois do que presenciou lá no

restaurante ou o que imagina ter visto. Não a culpo por ter

imaginado alguma coisa. Se tivesse lhe encontrado almoçando com

outro, também ficaria chateado, pelo menos na hora.


Silenciosamente, caminho até onde está deitada, sento em

cima da esteira e sacudo seu corpo de leve.

— Amor — chamo-a e ela tira o fone de ouvido. Com cuidado,


lhe ajudo a sentar sobre o tapete emborrachado que uso para fazer

exercícios de aquecimento. — O que você está fazendo aqui? —

indago, notando que aparentemente não andou chorando.


— Achei que seria um lugar ideal para pensar — diz com

aparente tranquilidade.
— E pensou? — sondo.

— Acho que sim. Só estava ouvindo música mesmo. — Mostra

seu iPod. — E você, por que chegou tão cedo? — Pelo visto ela não
vai tocar no assunto.

— Eu vi você no restaurante, Marina — decido ser direto. Sei

que o assunto está lhe incomodando e ela aparentemente não quer

tocar nele. — Foi embora sem falar comigo — acuso e ela me olha
incrédula.

— Não queria atrapalhar o almoço com sua amiga — diz,

sarcástica, mostrando finalmente a Marina que eu conheço.


— Ela não é minha amiga e você não atrapalharia nada que

não fosse um almoço de negócios — justifico-me. — E se você

tivesse esperado mais um pouco, teria visto que estávamos


esperando um outro advogado, que infelizmente se atrasou. — Se

Bruno fosse pontual, eu não teria que passar por essa situação

desagradável. Não é só por Marina que digo isso, é por mim mesmo

que tive que aguentar aquela mulher se jogando. Ela fez os poucos
minutos parecerem horas.
— Entendi — fala com sinceridade. — Mas não vou me

desculpar — deixa claro sua posição.

— E nem eu quero que se desculpe, amor. — Coloco atrás da


orelha dela uma mecha que escapou do seu coque frouxo. — Na

verdade, eu estou muito orgulhoso.

— Orgulhoso? — pergunta, surpresa.

— Sim, orgulhoso. — Levanto-a do tapete, para em seguida


sentá-la no meu colo. Será que algum dia vou ser capaz de estar no

mesmo recinto que ela e não ter essa necessidade de sempre está

lhe tocando? — Agiu muito bem numa situação como a que


presenciou. — Beijo seu pescoço cheiroso e sou retribuído com

mãos macias massageando meu couro cabeludo. — Veio para casa

e me esperou para conversarmos. — Distribuo beijos por todos os

lados do seu rosto. — Minha garota madura. — Finalmente capturo


sua boca, sendo recebido com o mesmo entusiasmo da primeira

vez.

Ficamos nos beijando preguiçosamente por alguns minutos,


apenas curtindo nosso tempo juntos. O fato de estarmos morando

juntos, de dormirmos e acordarmos todos os dias lado a lado, não é

o suficiente para tirar a sensação ruim que por vezes sufoca o meu

peito. Eu, que sempre fui um homem mais prático do que religioso,
tenho me visto preocupado com os sonhos que têm atormentado

minhas noites nesses últimos dias. Acordo suado e ofegante com a


imagem de Marina desfalecida nos meus braços, ela tem o rosto

pálido e por mais que eu chame e balance, seu corpo permanece

inerte. Não consigo ver seus bonitos olhos porque ela não os abre.
Toda manhã eu acordo procurando seu corpo. Nas vezes em

que não sinto seu calor junto ao meu, simplesmente lhe puxo para

os meus braços enquanto deixo o alívio me tomar. Depois de ter

certeza de que tudo não passou de um pesadelo, vem a fome, o


desespero de tomar seu corpo, como se não tivéssemos mais

tempo, como se o depois nunca fosse chegar. Então eu lhe abraço,

declaro meus sentimentos e vou para o escritório. Vou, mas fico


ansioso pela volta, onde todo o ciclo se repete.

— Já disse que te que amo hoje? — pergunto ao interromper o

beijo quando nós dois precisamos de ar e eu deixo de lado os maus

pensamentos. Nada de ruim vai lhe acontecer. Ninguém se atreveria


a tirá-la de mim.

— Não nas últimas horas — brinca, deixando transparecer que

já superou o incidente de mais cedo.


— Que cabeça essa minha — devolvo com bom humor. —

Querida, sobre o almoço...


— Eu entendi que era um almoço de negócios, amor. Já

passou.

— Não é isso. — Nem sei como abordar o assunto. — Lembra

daqueles eventos que seu pai costumava fazer aqui no jardim para
o pessoal lá do escritório?

— E como eu poderia esquecer? — Sinto a mudança no seu

humor quando o corpo tensiona em cima do meu. — Ficava muito


irritada quando papai me fazia comparecer. Por mim ficava trancada

dentro do quarto até que aquela gente chata fosse embora —

confessa e eu não deixo de concordar. Só compareço porque é

necessário.
— Mas você entende que eles são necessários?

— Eu entendo, Erick — afirma. — Mas isso não quer dizer que

goste.
— O almoço era para discutir esse assunto. Nós fomos

escolhidos para defender Ulisses Casagrande, então Patrícia e

Bruno, que eram responsáveis por essa parte junto com seu pai,

vão dar uma recepção em homenagem a ele.


— Eu não quero essa mulher dando ordens na minha casa,

Erick. — Ela levanta num rompante. — Não quero.


— Ela não vai, meu amor. — Levanto-me em seguida, lhe

abraçando pela cintura. — Vou falar com Patrícia amanhã mesmo.


Marina tem razão, ela não precisa se submeter a isso. Sei que

talvez esteja comprando uma perigosa briga e que isso pode se

voltar contra nós dois, mas também não posso deixar Patrícia tão

próxima de Marina.
Tenho que averiguar se essa mulher esconde algo que possa

prejudicar minha princesa de alguma forma e só então afastá-la de

nossas vidas.
CAPÍTULO 22 RAPIDINHA

Duas semanas se passaram desde o desagradável encontro no


restaurante e finalmente chegou o dia da bendita recepção. Tudo foi
planejado por Bruno e Carla, a secretária de Erick, que nem de

longe é tão desagradável quanto a tal Patrícia, que não me causa


outro sentimento além de arrepios.
Segundo Erick, ela não gostou nada de ter sido dispensada

desse trabalho, meu namorado disse que ela argumentou de tudo


quanto foi forma, chegando inclusive a usar o nome de papai como
chantagem emocional. Erick, no entanto, se manteve firme na

decisão e informou que eu, como dona da casa, não me sentiria

confortável com a presença dela.


Fiquei muito contente com sua atitude, e Erick logo achou um

jeito de me fazer agradecer e quando digo agradecer, me refiro a

atender ao pedido descarado para que desse uma atenção especial


ao seu amiguinho, que pelas suas palavras, já estava sentindo

saudades da minha boca gulosa. Eu, sem muito pensar, fiz


novamente esse enorme sacrifício, pelo menos foi essa a resposta

irônica que saiu da minha boca.


Como antes, estamos conseguindo levar o relacionamento

numa boa, sem maiores problemas. A parte sexual, com certeza,

ainda é a mais agitada. Erick e eu não temos limites, não há nada


que um propõe que o outro não esteja disposto a tentar e, no final,

nossa sede pelo novo é recompensada por um maravilhoso

orgasmo e a promessa de novas aventuras.


Como esquecer do dia em que fui ao escritório?

Lembro que numa segunda-feira, decidi ir do curso direto para

a J&E Associados e lá fiquei até o fim do expediente. Meu plano era


ficar sentada quietinha no sofá de canto, enquanto, sentado à mesa,

Erick fazia seu trabalho. Mas é óbvio que não foi nada disso que
aconteceu.

No começo ele até tentou trabalhar, só que a cada duas teclas

apertadas no computador em que redigia um processo, seus olhos

levantavam e iam de encontro a mim e a partes específicas do meu

corpo. Seu olhar era tão faminto e abrasador que eu já não estava

mais tão inocente quanto no início, quando só queria continuar


lendo meu livro enquanto dava seu horário.
Ao ver que de alguma forma a cena lhe excitava, passei a lhe
provocar de maneira consciente, o que antes acontecia pelo simples

fato de estar ali no seu local de trabalho. Ajeitando minha postura,

deixei que visse quando abri os primeiros dois botões da minha

blusa social branca, assim como também deixei a vista minha

vermelha e pequena calcinha. Quando vi sua reação, pensei que

não poderia ter escolhido roupa mais apropriada ao momento.


Justamente nesse dia, resolvi me vesti como uma colegial

sexy. Minha saia preta de pregas, fazendo conjunto com a blusa

social branca, fez um estrago maior do que provavelmente qualquer

outra fantasia faria.

Erick até tentou se manter firme, mesmo deixando a tensão

transparecer por meio de suas batidas agressivas no pobre teclado.

A gota d'água foi a hora em que eu, com a cara mais descarada do
mundo, me virei frente a sua mesa e, sem qualquer pudor,

escancarei minhas pernas, deixando que visse a prova do meu

desejo em uma calcinha completamente encharcada. Eu sabia que

de onde estava dava para ver nitidamente a mancha escura da

minha peça íntima, tanto dava, que depois disso ele veio para cima

de mim como um leão faminto.


Sem nada dizer, Erick me colocou de joelhos com o peito

apoiado no encosto do sofá e por sobre os ombros, vi quando abriu


o botão e o zíper da sua calça, abaixando apenas o suficiente para

que deixasse seu pau livre. Depois, levantou minha saia curta,
afastou minha calcinha para o lado, testando com o dedo meu nível
de excitação e, sem qualquer aviso, me penetrou por trás, meteu até

o fim e por lá ficou.


Parcialmente ajoelhado e com o peito colado as minhas

costas, ele apenas se certificou se eu estava bem e começou a se


movimentar. Suas arremetidas não foram suaves, pelo contrário, o

que fizemos foi um sexo intenso e bruto, ele agiu como se


estivéssemos um mês separados e não apenas algumas horas do
dia. Enquanto me fodia, ele tinha uma das mãos segurando meu

peito possessivamente, ao passo que a outra apertava minha boca


com firmeza. Até porque, não queríamos que todo o pessoal do

escritório descobrisse a filha do sócio falecido trepando com o seu


melhor amigo.

Posso dizer que essa foi nossa primeira rapidinha, já que


depois de alguns minutos e poucas arremetidas, estávamos os dois
dentro do banheiro tentando limpar a bagunça que nós mesmo

fizemos. E como eu gosto de comentar, transar sem camisinha é


uma delícia, mas traz consigo o dever de limpar toda a lambança

depois. Minha sorte é que tenho um homem muito atencioso que


toma para si a tarefa de cuidar da sujeira que, em sua maior

proporção, é feita por ele, que insistiu em transarmos sem


preservativo.

Eu só tenho a agradecer a esse seu lado atencioso, porque


muitas das vezes tudo que eu quero depois de um sexo intenso é
cair no sono. Principalmente quando fazemos em horários propícios

a isso.
Meu rosto queima de vergonha quando lembro da nossa saída

no fim do expediente de Erick. Com ele andando tranquilamente ao


meu lado, eu senti como se todas as pessoas que encontramos no
caminho soubessem de alguma forma o que fizemos na sala dele.

Depois desse episódio, fiquei por dias com isso na cabeça, até
que entre provocações e convites para uma nova visita, Erick me

convenceu de que era coisa da minha cabeça, que ninguém sabe


ainda o tipo de relação que temos, imagina pensar que estávamos

trepando no seu local de trabalho e no meio do expediente.


— Estou entrando. — Ângela entra no quarto, me tirando das
minhas nada puras lembranças. — Está linda, garota — ela elogia
ao ficar atrás de mim, que estou parada em frente ao espelho do
banheiro me maquiando.
— Olha só quem fala. — Interrompo minha atividade por um

momento e reparo melhor no seu visual, que é basicamente


composto por um vestido justo azul royal, um scarpin nude e os

cabelos soltos, enfeitados com leves ondas. — Você está linda,


Ângela — elogio, por mais que ela não tenha essa visão de si
mesma. Ângela sempre foi bonita, apenas nunca se importou o

suficiente para reparar na atenção que chama por onde passa. Ela
me acusa pelos olhares e piadinhas de pedreiros que escutamos,

mas eu tenho convicção que metade dessa atenção indesejada é


dedicada a ela.

— Não mais do que você — devolve o elogio quando termino


minha maquiagem e viro de frente na intenção de lhe mostrar o
resultado. — Seu namorado vai ter um ataque quando te ver.

Imagina ter que conter toda a atenção que vai despertar? Isso vai
ser divertido — diz, maliciosa. Se tem uma coisa que não mudou

nesses últimos dias foi a implicância dela com Erick. Não com o
namoro em sim, isso ela está tendo que aceitar, ainda mais depois
que eu me toquei que estava tendo comportamentos estranhos —

mais que o normal — e decidi que precisava lhe dar mais atenção.
Ângela agora não perde a chance de alfinetar o Erick e ele não
fica atrás, sempre que se refere a ela é como "aquela sua amiga
estranha”. Não sei o que conversaram no restaurante, mas depois

daquele dia, passaram a ter uma bizarra relação de cordialidade,


como se vivessem uma guerra fria onde ambos se aturam apenas

por minha causa.


— Chegou a ver ele? — Olho o visor do celular ao lado das
maquiagens e vejo que já está quase na hora da bendita recepção

começar. Sorte ter convencido minha amiga a vir, ela vai me ajudar

a passar por essa gente sem ter vontade de me trancar dentro do


quarto, exatamente como fiz na maioria das outras vezes. Espero

que hoje seu humor esteja ácido o suficiente.

— Estava no jardim quando entrei. — No mínimo está

vistoriando os últimos detalhes, literalmente. Ao contrário do que era


esperado e planejado, Erick mal se envolveu na organização da

recepção. Ele deixou Bruno e Carla tomarem à frente, quer dizer,

mais Carla do que Bruno. Eu a vi e até troquei algumas palavras


quando as mesas e cadeiras estavam chegando. Bruno, por outro

lado, não pisou o pé aqui em casa. Quando questionei, Erick me

revelou que o trabalho dele se limita a fisgar os convidados com


potencial, porque é nessas horas onde tudo acontece, onde rolam
novas e milionárias causas. Ou seja, nunca vi a cara do sujeito que

meu namorado tanto confia.


— Estou pronta — digo ao terminar de borrifar algumas gotas

de perfume no meu pulso e estrategicamente no espaço entre o

ombro e pescoço. — Quer descer? — pergunto, supondo que os


convidados de Erick já devem estar chegando, se for levar em conta

o horário e a música ambiente que começou a tocar.

— Vamos logo, deixe de ser cagona. — Pega meu braço e me

arrasta pelas escadas.


Na sala não tem nada fora do lugar, tirando a movimentação

do povo do buffet que de vez em quando passam para chegar até a

cozinha. É lá fora que a mágica acontece, já presenciei tantas


outras vezes e ainda não me acostumei a ver como tudo fica tão

diferente.

Como todos os outros anos, o local está parcialmente ocupado


por uma mesa comprida que contém vinte e cinco cadeiras de cada

lado, além das duas que ficam na ponta, essas sempre foram

ocupadas por papai e Erick. Coberta por uma toalha branca de

seda, a mesa está meticulosamente arrumada com a mais fina


louça, e entre os diversos tipos de taças, pratos e talheres, estão

finos jarrinhos de vidro que poderiam passar por cristais, dentro de


cada um deles foi posta uma flor copo de leite. Tudo à altura dos

convidados que avisto da porta.

— Como está lindo. — Como eu, Ângela admira como se fosse


a primeira vez, sendo que eu sempre a convenci a participar desses

eventos — Nem parece com a bagaceira que fazemos todos os

anos nas suas festas de aniversário. — Ela desvia a atenção para o

bar improvisado, onde um homem alto e aparentemente forte


conversa com o bartender. — Quem é ele? — indaga, sem tirar os

olhos do homem que está virado de costas para nós. Quando ele

virá um pouco de perfil, eu ainda assim não consigo identificar.


— Acho que não conheço, amiga, depois me lembre de

perguntar ao Erick. Que foi, está interessada?

Ela me olha com a sobrancelha arqueada.

— Não comece, o fato de você ter um namorado não te obriga


a me arranjar um também, viu?

Estamos as duas na porta, viradas frente a outra, a ponto de

iniciar a mesma discussão pela trigésima vez, quando somos


surpreendidas pelo olhar de Erick. Ele está alguns passos de onde

estamos e as emoções que vejo passarem por seu olhar me

assustam, deixando minhas pernas trêmulas.


CAPÍTULO 23 A RECEPÇÃO

Linda, gostosa, estonteante são as primeiras palavras que vêm à


minha cabeça quando me aproximo de onde está minha Marina e a

chatinha.
O vestido preto sem mangas e que deixa uma generosa
porção dos seus seios à mostra não é nada menos do que sexy. A
vestimenta se molda em suas curvas como uma segunda pele,

trazendo à tona meu instinto animal. E tal qual um leão feroz, só


quero devorar minha bela e amada presa.
Por estar num papo animado com a chatinha, ela não percebe

de imediato minha presença e quando percebe, seu rosto


preocupado denuncia a mensagem errada que minha expressão

deve estar transmitindo. Talvez pense que minha cara de bravo


signifique outra coisa além do esforço em não a carregar para o

nosso quarto e comê-la até não aguentarmos ficar sobre as próprias

pernas.
Essa menina vai ser a minha morte!
— Amor, você está... — As palavras fogem da minha cabeça,

tudo que poderia falar parece pouco diante dessa visão — perfeita!
— concluo ao entrelaçar nossos dedos.

— E você está lindo — diz e pelo seu olhar de aberta

admiração, noto que aprovou meu visual composto por uma calça
jeans escura e blusa social cinza.

— Eca. Que nojo. Dá licença, que não sou obrigada a aturar

isso. — A chatinha, que nem lembrava mais da presença, revira os


olhos quando, disfarçadamente, deixo um beijinho no ombro

desnudo da minha mulher.

Ela sai e eu a vejo se dirigir ao bar no momento em que,


andando calmamente, Bruno deixa o local.

Quando estamos sozinhos, não me seguro e acabo com uma


das mãos na sua bundinha cheia. Os olhos? Esses não conseguem

desviar do decote que deixa o vão entre seus seios à mostra.

— Erick! Pare com isso. — Apoia a mão no meu ombro. —

Você quer que as pessoas descubram? — diz, lembrando-me de

que o nosso namoro ainda é um segredo.

— Foda-se. Não vou me importar se as pessoas ficarem


sabendo da nossa relação. — Me dou conta de que não faz mais

sentido guardar só para gente. Mais dia ou menos dia isso vai
acabar acontecendo. No caso, eu escolho a opção menos dia. — Eu
não vou deixar que pensem que você está livre quando na verdade

não poderia ser mais diferente. Você é comprometida — Aperto sua

cintura fina — comigo.

— Com você.

Dou-lhe um outro beijo, só que dessa vez entre o vale sexy

dos seus seios. Ela fica parada apenas olhando minhas mãos bobas
e minha boca percorrer seu corpo e eu me divirto com o esforço que

faz em disfarçar o que aqui acontece.

— Eu ainda estou na dúvida se gostei ou odiei esse vestidinho

sexy. — Olho-a da cabeça aos pés. — Gostosa, você está demais.

Disso eu não tenho dúvidas e talvez seja esse o problema: os outros

também vão achar.

— Deixa que achem, o importante é que eu sou sua. — Beija o


canto da minha boca, me obrigando a ajeitar a ereção dentro da

calça, que agora parece ter um número a menos.

— Assim como eu sou seu.

Ela fica feliz sempre que me ouve falar essa frase. Para

agradá-la, não vejo problema em repetir quantas vezes forem

necessárias. Sempre reafirmando, caso ela ainda tenha dificuldade,


para que possa entender que não estou disposto a ir para nenhum

lugar longe dela.


Envoltos numa íntima esfera de carinho e sedução, Marina e

eu passamos os próximos minutos. Quando os convidados


começam a chegar, ela prefere se juntar com a chatinha e eu passo
a cumprimentá-los, como é o meu dever.

Durante as horas que se seguiram, fiz o de sempre, mantive


conversas cordiais com empresários importantes, dei atenção ao

homenageado da noite e ainda mantive minha atenção em Marina.


Por mais empenho que as conversas exigissem da minha parte, eu

nunca lhe perdia de vista. Nem dela, que não saiu do lado de
Ângela um minuto sequer, nem dos olhares cobiçosos que boa parte
do público masculino lançava na direção em que as garotas

estavam.
Agora, já cansado e não vendo Marina em parte alguma,

decido que é hora de me livrar desses caras e dar um pouco de


atenção para minha garota.

— Com licença, pessoal, preciso de uma bebida. — Toco no


braço de Bruno, que está ao meu lado, e ele entende nosso sinal.
Temos esse estranho acordo quando um quer que o outro continue

segurando as pontas. Afinal, não é fácil aguentar horas de papos


fúteis que vão de mulheres a futebol, quando tudo o que queremos

é descobrir seus podres e convencê-los de que somos os melhores


em "limpar a sujeira".

— Só não esquece de trazer a gostosinha na volta. — Já


seguia meu caminho, mas a voz do Casagrande chama minha

atenção e eu me volto em sua direção.


— Gostosinha? — repito o termo falado de maneira pejorativa.
— É. A filha do João Junqueira, seu falecido sócio. — Minha

raiva cresce por ver seu olhar de malícia ao se referir a ela. — Onde
é que eu estava que não vi aquela garotinha se tornar essa delícia

toda? — Tirando o protagonista da fala estúpida, toda a roda de


conversa está em silêncio, pois todos perceberam minha irritação.
— Eu sugiro que tome mais cuidado com suas palavras,

Casagrande. A gostosinha a quem se refere é minha namorada —


revelo e não fico para ouvir sua resposta ou a reação de todos eles

ao se tornarem cientes de que Marina e eu somos um casal.


Depois de percorrer todo o jardim com os olhos e não avistar

Marina em lugar algum, percebo Ângela digitando freneticamente ao


celular em um canto mais afastado. Ao me ver chegar perto, ela
levanta o rosto, chateada. Seja quem for do outro lado, ela não

parece nem um pouco satisfeita com a conversa


— Onde está a Marina? — indago sem rodeio. A ideia de
deixá-la sozinha tem me preocupado sem nenhum motivo aparente.
Apenas sei que preciso ficar de olho, ainda mais tendo Patrícia, que

a tratou com tamanha hostilidade, andando por aí.


— Eu não sei — diz, preocupada, como se soubesse que ela

precisa de proteção.
Apesar de continuar achando ela uma chatinha, passei a
admirar muito a devoção e parceria que elas têm uma com a outra,

mesmo tendo personalidades tão diferentes. Enquanto Marina é


ousada, alegre e jovial, sua amiga é séria e contida. Olhar para ela é

ter a sensação de que carrega o peso do mundo nas costas. Marina


tanto percebeu seu comportamento estranho, que decidiu lhe

dedicar mais atenção.


Olhá-las é como ver eu e João durante todos os nossos anos
de amizade. Um pelo outro, sempre!

— Meu celular tocou e ela disse que ia subir para retocar a


maquiagem.

— Tudo bem. Fique de olho, vou procura ela lá dentro — digo,


saindo apressado.
Ao entrar na casa, reparo alguns convidados sentados no sofá

e pergunto se eles não foram avisados de que a recepção seria no


jardim.
— Oi, Maya — cumprimento ao passar rapidamente pela
cozinha. — Sabe se a Marina subiu? — questiono, já que elas

parecem ter desenvolvido uma amizade nessas últimas semanas.


Não como a que Marina tem com a chatinha, mas uma amizade.

— Ela subiu tem alguns minutos, senhor, disse que precisava


usar o banheiro. — Continua o que estava fazendo, e eu digo antes
de sair:

— Seu expediente já acabou. Se quiser trocar de roupa e curtir

um pouco... Vá fazer companhia à Ângela, que eu vou conferir como


Marina está. — Pelo que minha pequena contou, elas estão

tentando estreitar os laços.

Alguns minutos antes

— Que droga. — Ângela se irrita ao ouvir seu celular vibrar em

chamada pela quinta vez. — É o Mateus. — Eu não sei o que se

passa entre esses dois, mas minha amiga claramente não está
gostando da insistência. Eu mesma estou admirada de ele ainda
não ter dado as caras por aqui. Se antes eu achava que era minha

amiga quem o convidava para os mesmos programas que a gente,


hoje estou começando a desconfiar de que é ele mesmo quem se

convida. Antigamente, ela parecia não se incomodar, tanto que eu

desconfiava de sua participação nisso tudo. Agora, é como se estar


perto dele sugasse suas energias, Ângela muda da água para o

vinho em todas as ocasiões em que o primo aparece.

Será que o escroto está lhe seguindo? Não, a Ângela que eu

conheço não permitiria uma coisa dessas.


Ao vê-la começando a digitar uma mensagem, sou obrigada a

enfrentar meus próprios demônios.

Desde a hora que chegou, a tal Patrícia não para de me


encarar. Ela sempre está nos mesmos lugares que eu.

Seu olhar tem me incomodado tanto que mal tenho conseguido

passar por essa recepção. O que já era difícil se tornou cem vezes
pior. A mulher me encara como quem me acusasse de alguma

coisa, como se eu tivesse uma dívida que ela quer que eu pague.

— Ângela — chamo e minha amiga tira a atenção do celular

por um instante. — Vou no quarto retocar minha maquiagem —


invento a primeira desculpa que me vem à cabeça. Só tenho que

ficar longe da Patrícia.


— Tudo bem. Vou ficar ali. — Aponta o canto mais afastado do

jardim, onde tem um banco de madeira que cabe três pessoas.

Ao entrar no meu quarto, sinto o alívio percorrer lentamente

meu corpo. Sento na beirada da cama, tiro os saltos altíssimos por

alguns instantes e deixo meu corpo finalmente relaxar.


Permaneço um tempinho apenas sentindo a brisa fresca da

noite adentrar pela janela e de olhos fechados ouço o barulho da

maçaneta girando. Ainda sem abrir os olhos, digo:

— Vem aqui, amor, vem sentir esse ventinho maravilhoso.


— Então é aqui que a pirralha se esconde.

Dou um pulo da cama quando ouço a voz ácida da Patrícia.

— O que você está fazendo aqui? — Me afasto instintivamente


para o outro lado da cama.

— Tenho que admitir que você foi bem esperta, menina.

Conseguiu fisgar Erick Estevan. — Começa a me encurralar contra


a parede e não vejo mais para onde correr. — O que você fez além

de abrir as pernas? Foi choramingar como uma menininha chorona?


— Não sei do que você está falando — digo baixinho ao ter a

mulher muito mais alta e forte quase encostada em mim.


— É claro que sabe. Essa era a chance que eu tinha para

mostrar serviço e ganhar a confiança do Erick, mas você foi lá e

estragou tudo, sua vagabundinha. — Agarra meu braço direito com


toda a força que seu corpo possui.

— Me solte, você está me machucando. — As lágrimas

começam a cair quando tento sair de perto dela e ela me aperta

ainda mais forte. Não sei o que é pior, a agressão física ou as


verbais.

— É para machucar mesmo, garota irritante. Será que você

veio ao mundo apenas para atrapalhar minha vida?


Não tenho tempo para processar a última frase, já que um

Erick furioso adentra o quarto e ordena:

— Solte minha mulher agora!


CAPÍTULO 24 LEOA

Acena que vejo não poderia ser mais grotesca. Tendo Marina
acuada entre ela e a parede, Patrícia segura fortemente o seu braço
— enquanto fala barbaridades que só pude ouvir o final — e lhe
sacode bruscamente. Minhas entranhas se contorcem ao ver no

rosto da minha pequena as lágrimas que ela tenta não derramar e


que ainda assim escorrem.
— Você enlouqueceu, caralho? — grito, furioso, fazendo-a se

assustar, largar o braço de Marina e se afastar alguns passos para


trás.

De imediato, vou de encontro à Marina, que não diz nada além

de tremer incontrolavelmente. Neste momento tenho que me


segurar para não fazer uma besteira.

Como essa vadia ousou tocar na minha mulher dessa forma?


— Erick. — Patrícia está na nossa frente, totalmente

desconcertada, não pelo que estava fazendo, e sim por eu ter visto.

— Marina e eu estávamos apenas conversando. Fale para ele,


menina — pede. Quando olho em seu rosto, vejo a pequena encarar

a loira com incredulidade.


— Você acha que eu sou idiota, não é mesmo? — digo e lhe

surpreendo. Para o seu azar, eu sei exatamente com quem estou

lidando. — Você estava agredindo minha namorada, não vem com


essa de que estavam apenas conversando.

— Aquilo não foi nada — diz, fazendo pouco caso da própria

agressividade. — Marina que é sensível demais, não é, querida?


Quando ela diz isso, sinto todo o corpo de Marina se enrijecer.

Ela tira minha mão da sua cintura, dá alguns passos até onde está

Patrícia e surpreendentemente estapeia seu rosto. Não sei se pela


surpresa do ato ou pelo tapa em si, mas a mulher quase perde o

equilíbrio e instintivamente leva a mão ao rosto.


— Está vendo, querido. — Não sei se algum dia serei capaz de

ouvir essa palavra novamente. — Essa menina não está bem,

precisa de uma ajuda profissional urgente. Está totalmente

descompensada.

Meu Deus! Essa mulher não tem limites. Ela chegou ao ponto

de colocar em dúvida a sanidade da Marina.


— Fora da minha casa. — Minha garota aponta o dedo na

direção da porta. Sua atitude me enche de orgulho. Essa é a Marina


que eu conheço, a mulher que apesar de ser sensível e aparentar
fragilidade não deixa de se defender quando é atacada. É como ver

uma gatinha se transformar numa leoa. — Eu não te conheço, nem

sei qual é o seu problema comigo — diz ao encarar a loira de perto.

— Se for pelo Erick, você pode se conformar. Nós estamos juntos,

nem você nem ninguém pode dizer o contrário — ela afirma, vindo

novamente para os meus braços e eu circulo sua cintura, tendo que


segurar as evidências do tesão que sua atitude está me causando.

— Saia daqui, esqueça da minha existência e do meu namorado

também.

— Sua... — ela ainda tenta insultá-la mesmo depois de tudo

que ouviu e de carregar no rosto a marca da minha ferinha furiosa.

— Cuidado com suas palavras — corto antes que a situação

piore. — E diante de tudo que presenciei aqui, nós não temos


condições de continuarmos trabalhando juntos. Passe amanhã no

escritório para acertarmos tudo. Seus serviços estão dispensados —

comunico, fazendo o que já devia ter feito.

Tenho que arrumar outra forma de neutralizar as ações dela.

Deixando-a perto da Marina é que não vai ser.

— Você não pode estar falando sério — diz, furiosa. — Não


pode simplesmente me dispensar por causa dessa mimada.
— Não só posso, como vou. Se retire, por favor. — Sinalizo

para a porta, assim como Marina fez.


— Eu vou. — Sai, mas não sem antes dizer: — Mas vocês

ainda vão ouvir falar de mim. Isso não vai ficar assim — ameaça e
logo depois bate a porta num barulho estrondoso.
Quando ela sai, Marina solta meus braços da sua cintura e vai

caminhando lentamente para a cama. Chegando nela, se senta na


beirada e solta as lágrimas que até então estavam contidas. Seu

corpo treme tanto que começo realmente a me preocupar.


— O que foi, meu amor? — Seco seu rosto ao me agachar à

sua frente. — Fale comigo. Estou ficando preocupado. — Toco seu


braço, fazendo-a reagir com um sobressalto. — Eu vou matar
aquela desgraçada. — Tento me levantar, mas sou impedido quando

seu braço toca meu ombro. — Ela não devia ter feito isso. — Sinto
um nó na garganta por ver a pele branquinha do seu braço

ostentando um enorme hematoma, que começa a ficar roxo. Nele


está o exato formato da mão daquela vadia dos infernos.

Maldita a hora em que João a colocou nas nossas vidas. O


que foi que você fez, meu amigo?
— Fica, amor. — Me abraça pelo pescoço. — Estou chorando,

mas é de raiva. — Com cuidado para não me afastar do seu abraço,


levanto cuidadosamente, para em seguida sentar em nossa cama

com ela em cima do meu colo.


— O que foi que ela te disse? — indago. Tenho que tentar

descobrir qual é a motivação da Patrícia para ter toda essa raiva por
uma pessoa que ela nem ao menos conhece. Pelo menos até onde

eu sei.
— Basicamente me acusou por ter sido afastada desse evento.
Porra! Isso é tudo culpa minha. Não devia ter mencionado o

nome da Marina quando lhe dispensei.


— Só isso? — pressiono, depois de perceber que já está mais

calma.
— Não. Ela mencionou alguma coisa sobre eu ter nascido
apenas para trazer problemas. — Um alarme toca dentro da minha

cabeça. — Não acha isso estranho? Falar algo tão cruel, a mulher
não sabe nada da minha vida — diz, e suas palavras deixam claro

que ela não desconfiou de nada. Talvez seja melhor assim, quanto
mais distante eu conseguir manter Patrícia, melhor vai será para

Marina.
— Vamos esquecer essa mulher, pequena. — Beijo seu rosto
ainda úmido. — O importante é que está fora das nossas vidas.
— Tem razão, não vamos deixar que estrague nossa noite. —
Seca o rosto com altivez.
— Assim que se fala. Agora vamos olhar esse braço. —

Levanto com ela nos meus braços e lhe carrego para dentro do
banheiro. Chegando nele, coloco-a no chão e ela fala assustada ao

se ver no espelho:
— Meu Deus! Estou parecendo um monstro. — Começa a
limpar a mínima mancha preta que escorreu dos seus olhos. — Não

posso sair assim. — Ajeita-se rapidamente e com uma assustadora


habilidade.

— Será que uma bolsa de gelo dá jeito nisso? — Toco de leve


o local arroxeado.

Enquanto minha prioridade é o braço, a sua é a bendita


maquiagem borrada.
Mulheres!

— Está tudo bem, Erick. Na hora doeu, mas já está melhor. —


Se vira para mim, dá um beijinho na minha boca e continua: —

Parece pior do que realmente é.


— Não te incomoda sair assim? — Aponto. — As pessoas vão
comentar.
— Deixe que comentem, se for difícil para você, eu posso
colocar um casaco — oferece.
— Não, linda, só estou preocupado com seu bem-estar. O que

tive bom para você, também vai estar para mim.


Contente com minhas palavras e já com o rosto tão perfeito

quanto antes, ela vira de frente para mim e enlaça meu pescoço
num novo e delicioso abraço apertado.
Encostados na bancada que sustenta o espelho,

permanecemos por um momento, apenas sentindo o calor um outro,

até que minha gatinha quebra o silêncio:


— Erick, isso que eu estou sentindo é...

Chego mais perto do seu corpo para que não fique nenhuma

dúvida.

— O que eu posso fazer se te ver toda dona de si, se


defendendo tão bravamente, me deixou com tesão? Não que já não

estivesse antes. Esse tem sido meu estado desde a hora que te vi

tão gostosa com esse vestido. — Presenciar sua força somente


potencializou meu desejo, que já não era pequeno.

— Tesão, é? — Leva a mão até minha ereção, e sobre o tecido

da calça, aperta meu pau com a força necessária e diz baixinho no


meu ouvido: — Agora imagina como anda a situação aqui em baixo.
Talvez eu tenha ficado feliz e queira agradecer por você ter me

chamado de sua mulher. — Movimenta a mão lentamente por todo o


comprimento. Mesmo que por cima da calça, ainda sou capaz de

sentir o calor do seu toque.

— Minha mulher. — Curvo parcialmente seu corpo contra a


bancada, para depois lamber o vão desnudo entre seus seios. —

Minha mulher.

— De novo — pede, tirando a mão do meu pau, levando-a

para o meu cabelo. Enquanto ela busca apoio, aproveito para


esfregar minha ereção na sua boceta.

— Você é minha mulher — afirmo, e ela ofega, desejosa. —

Minha namorada, meu tudo. — Afasto o tecido para o lado, deixo


seu seio esquerdo livre e o abocanho.

— Isso! Não pare — pede, insinuando o quadril para frente.

— Não vou parar. — Ajeito seu corpo e como sua boca num
beijo duro. — Diz que quer me dar essa boceta, diz?

— Eu quero que você me coma, agora. — Ouvir isso, tendo

seus olhos sobre os meus, leva o fio de sanidade que eu tentava

manter.
Seu modo cadela safada me tira a capacidade de raciocínio.

Não me importo de terem pessoas me esperando no andar inferior,


ou com o risco de sermos ouvidos por quem estiver na sala. Marina

e eu não podemos ser classificados como um casal discreto.

Quando o sexo fica intenso além do normal, tenho que tapar sua
boca com a mão. Se não o fizer, no dia seguinte ela estará se

escondendo com vergonha dos funcionários.

Não é como se eles fossem achar que seus gritos são

ocasionados por uma surra, quer dizer, é uma surra, mas uma surra
de pau. E essa surra eu garanto que ela gosta de levar.

— Eu vou, minha gostosa. — Mordo a ponta da sua orelha

para depois aliviar com uma lambida. — Vou meter tão profundo
dentro dessa bocetinha pequena que quando nós voltarmos para

festa, todos vão notar o que estávamos fazendo aqui. — Troco

nossas posições. Agora ela está virada de frente para o espelho e

eu estou abraçando-a por trás, fitando seu rosto através dele. O


cenário não poderia ser mais excitante, tudo tem um ar de proibido e

transgressor. — Você vai ficar envergonhada, é claro. Mas, por outro

lado, vai gostar, sabe por quê? Todas aquelas pessoas saberão
quem é seu macho, quem é o homem que tem estado entre suas

pernas por horas a fio, em todas as oportunidades que nos

aparecem, assim como também saberão que Erick Estevan não


está mais disponível, que meu pau domado está mais que satisfeito

por socar apenas em uma boceta, a sua boceta.


— Caralho. — Amo como sua boca fica suja quando está louca

de tesão.

— Você vai gostar disso, não vai? — Começo a subir seu


vestido, deixando a parte de baixo toda enrolada na altura da

cintura. — Me diz.

— Sim...

Abaixo a vista para sua bunda e sinto todo o sangue que


circula pelo meu corpo correr para o meu pau.

A safada tem uma pequena calcinha de renda preta toda

socada dentro da bunda. A imagem é tão excitante que tenho meu


pau babando dentro da cueca. Mais um pouco e estarei passando

vergonha aqui.

— Gostosa. — Levo minha mão até a parte da frente,

encontrando a peça deliciosamente molhada. Com os dedos, passo


a massagear seu montículo por sobre a calcinha. Ensandecida,

minha putinha safada profere todos os tipos de xingamentos, sem

nunca deixar de esfregar a bunda redonda no meu pau.


Estamos quase fodendo a seco dentro do banheiro e de portas

abertas, quando uma voz feminina nos interrompe.


— Marina? — Maya chama, ainda do lado de fora do quarto.

Puta que pariu!


CAPÍTULO 25 BURBURINHO

Avoz abafada e distante de Maya diz, enchendo o ambiente


novamente:
— Você está aí?

— Pare com isso, Erick. Ela vai entrar. — Seguro sua mão
para que pare e ele não só continua, como decidi enfiá-la por dentro
da minha calcinha.

— Quietinha. Se ficarmos em silêncio, ela não vai ouvir. —


Enfia dois dedos dentro do meu sexo e como a maníaca que estou
me tornando, coloco a mão para trás, masturbando seu pau por

cima do tecido da calça.

— Está tudo bem, Marina?


Ouço o clique da maçaneta sendo girada.

A iminência de ser descoberta num momento tão íntimo traz

uma mistura de medo e excitação, o que torna a experiência ainda


mais prazerosa.
Quando seus dedos beliscam meu clitóris, não me contenho e

dou um gritinho, alto suficiente para que Maya decida entrar. No


mesmo instante, Erick coloca a mão a minha boca, aumentando

ainda mais o vai e vem com a outra.

— Estranho — sua voz ecoa mais nítida. — Jurava ter ouvido


alguma coisa.

Ela termina de falar e eu sou obrigada a segurar a bancada de

mármore com força. Erick acaba de me levar a um orgasmo quase


insano.

Com as pernas fracas, fico dividida entre vigiar pelo espelho

Maya parada perto da porta ou olhar para a cena tão sexy quanto
excitante do meu homem levando os dedos, que até então estavam

me masturbando, para dentro da sua boca. Ele prende meu olhar no


seu através do espelho e já não me importo com o que se passa ao

redor.

— Você está ficando louca, Maya — ela diz e sai do quarto.

Ufa! Essa foi por pouco. Nunca imaginei me tornar o tipo de

mulher que transa dentro do banheiro, com a porta aberta e com

medo de ser pega no flagra. Tudo bem que é meu namorado, mas
também não posso dizer que seria uma boa experiência ser pega
por uma amiga enquanto tenho a bunda de fora e meu Erick com os
dedos dentro de mim.

Tirando os dedos da boca, ele me vira de frente e diz:

— Preciso te comer agora, ou então vou acabar gozando na

cueca.

Sem pensar, abro seu cinto, desço o zíper da calça e abaixo a

cueca apenas o suficiente para ter seu pau em minha mão. Ver a
cabeça do seu pau começando a babar é motivo suficiente para ter

minha calcinha ainda mais úmida.

Prevendo minha intenção, Erick coloca a mão em cima da

minha, impedindo que os movimentos continuem e diz:

— Agora, meu amor. Vem. — Erick leva meu corpo para cima,

sentando-me em cima da bancada de mármore que faz minha pele

quente se arrepiar com seu toque gelado. — Abre. — Após separar


minhas pernas, engancha os dedos indicadores nas tiras finas da

minha calcinha, fazendo com que eu levante minha bunda do

mármore, apenas o suficiente para que a peça possa ser tirada.

Quando termina de tirá-la, ele aperta o pedaço de pano entre

os dedos para em seguida levar a peça ao nariz. A cena me faz ter

vontade de agradecer de joelhos por ter esse homem na minha vida,


quer dizer, por ter ele como namorado, já que na minha vida ele

sempre esteve. Felizmente!


— Amo seu cheiro, minha gatinha — confidencia ao guardar a

calcinha dentro do bolso da calça. — Cheiro de mulher, a minha


mulher. Estava com tanta saudade... — Sua voz fica abafada ao se
interpor entre minhas pernas, pincelando a ponta grossa do seu

sexo na minha boceta molhada, no mesmo momento em que abaixa


sua cabeça para a curva do meu pescoço. — Tão cheirosa. —

Passa a língua pelo local quando mais abaixo começa a me


penetrar.

— Baby... — gemo ao senti-lo enfiar vagarosamente e


tomando cuidado para que eu me acostume com seu tamanho e
espessura. — Como é bom te sentir.

Ele termina, entrando até o fim, e parado fica por alguns


segundos. É sempre assim entre nós, quando estamos transando,

nossa conexão se estende para muito além da parte física. É quase


como um encontro de almas. São esses os momentos em que nos

encaramos, dizendo com o olhar o que simples palavras não podem


expressar.
São momentos como estes que me fazem amá-lo além do que

a razão pode explicar e me fazem ter a plena convicção de que sou


retribuída na mesma medida. É aqui que reafirmo que meu amor

nunca foi uma carência ou um capricho. Foi, é e sempre será um


sentimento genuíno, primeiro o de uma criança que o via como um

super-herói capaz de defendê-la de tudo, depois como uma


adolescente e agora como uma mulher.

— O mesmo aqui, princesa. — Começa um entra e sai lento.


— Me perdoe se isso for rápido demais — avisa, deixando-me
ciente do estado em que está. Nada diferente do meu. Minha

vontade por ele subiu para níveis estratosféricos ao vê-lo no modo


chefão. Quando está trabalhando, o vinco entre suas sobrancelhas

que o deixa com cara de mau fica ainda mais proeminente. Nessas
horas, eu só tenho vontade de tirar as roupas; as minhas e as dele.
— Também estou quase lá — aviso, não querendo que se

segure por minha causa. Com seu olhar denunciando o que vem
pela frente, finco minhas unhas nos seus ombros, que felizmente

estão cobertos pela camisa, e enrolo minhas pernas firmemente nas


suas costas, cravando de maneira desajeitada os saltos finos dos

meus sapatos na sua bunda.


O que começou lento tornou-se intenso quando entre
sacanagens faladas ao pé do ouvido e chupões doloridos no bico do
meu peito, Erick passa a estocar com brutalidade, fazendo com que
meu corpo seja içado para cima pela força das arremetidas.
— Mais forte, amor... — Levo a mão para seu cabelo,

puxando-o com força e ele faz o que eu digo. — Isso...


— Deliciosa... — Está ofegante e com os olhos cravados nos

meus, que lutam para manter o foco.


De modo sincronizado, ele encontra a veia pulsante do meu
pescoço e passa a chupar o local com extrema maestria. Enquanto

estoca, sua boca trabalha de uma forma que me faz sentir como se
o sangue ali acumulado tivesse uma ligação direta com o meu sexo,

o que torna as coisas ainda mais excitantes.


— Me dá sua boca — pede ao colar nossos corpos. — Quero

beber do som do seu prazer. — Abocanha meu lábio inferior, o


puxando levemente para frente de um jeito sexy que só ele sabe
fazer. — Se segure, meu amor — diz e então empurra uma, duas,

três... oito vezes, até que eu balbucio dentro da sua boca o que
deveria ser um grito capaz de alardear toda a recepção. — Isso,

minha putinha gostosa, goza, vai... — Ainda penetra, amparando


meu corpo trêmulo e lânguido de saciedade. — Me dê tudo. — Soca
profundamente mais algumas vezes, até alcançar seu próprio pico.
— Foda! Porra... — Encharca dentro do meu sexo com seu líquido
viscoso. — Isso está ficando cada vez melhor.
— Se isso fosse uma doença, nossas vidas estariam

condenadas — digo com as pernas ainda enroladas na sua cintura e


os braços lhe abraçando pelo pescoço.

— Seria uma ótima maneira de morrer — afirma, sem quebrar


nossa conexão física. — Já pensou: "Casal falece por transar
demais". Isso é o que eu chamo de morte honrada.

— Para de ser babaca, Erick. — Puxo os cabelos curtos de

sua nuca. Meu namorado apenas dá seu típico sorriso abaixador de


calcinhas, dá uma última e deliciosa metida, para logo em seguida

sair cuidadosamente de dentro de mim.

— Tudo bem? — Afasta alguns passos para observar minha

boceta, que neste momento deve estar uma bagunça.


— Se melhorar, estraga — respondo, satisfeita.

— Linda. — Dá um selinho e diz em seguida: — Espera só um

instante. Observo quando pega uma toalhinha amarela, umedece


com água da torneira e volta. — Isso deve servir por enquanto. —

Separa novamente minhas pernas, passando a limpar as evidências

do amor que acabamos de fazer.


— Temos que descer logo. Os convidados devem estar

chamando a polícia — digo, vendo-o tirar do bolso a minha calcinha


e me entregar. — Eu não vou usar isso de novo. — Meu rosto

queima quando sobre seu olhar caí a compreensão do porquê.

— Vou procurar outra, então. — Sai rumo ao closet que


passamos a dividir.

Enquanto ele não vem, aproveito para arrumar meu cabelo.

Mas antes, dou um jeito de melhorar a merda que meu rosto ficou,

apesar da maquiagem ter ajudado a disfarçar o choro de antes, o


suor produzido durante o sexo bagunçou um pouco o que eu havia

feito. Estou a ponto de passar para o ninho de ratos que está meu

cabelo quando Erick volta com uma lingerie muito parecida com a
outra.

— Obrigada, amor. — Vou pegar a peça, mas Erick é mais

rápido e, gentilmente, ajoelhado, ele passa a peça em cada uma


das pernas, vestindo-me com a mesma perícia que teve na hora de

tirá-la. Depois, ele abaixa meu vestido, que até então estava

embolado na cintura.

— Vamos? — chama, fazendo-me ficar surpresa por não ter


percebido a hora que ele cuidou de si mesmo. Erick está tão

alinhado quanto na hora em que entrou no quarto.


Homens e sua praticidade.

— Ainda não. — Me aproximo do espelho e pego a escova na

tentativa de ajeitar os fios rebeldes. Através do espelho, vejo-o de


braços cruzados, apenas me observando e esperando. — Eu não

acredito que você fez isso, Erick. — Não acredito quando, em um

olhar mais atento, vejo a mancha roxa e arredondada bem no centro

do meu pescoço. — Como vou sair daqui assim? O que seus


convidados vão pensar?

— Eles não têm que pensar nada e se pensarem, vão saber

que provavelmente você estava dando um amassos por aí no seu


namorado. — Faz aspas com os dedos quando diz a palavra

amassos, até porque fizemos muito mais do que dar uns amassos.

— Namorados fazem isso.

— Oi? — Me dou conta das implicações da sua afirmação.


— Isso mesmo, pequena. — Vem me abraçar. — A essa

altura, todos que estão lá fora já sabem o tipo de relação que temos,

além de eu ser seu tutor, é claro.


— O que aconteceu com aquela história de “vamos manter

segredo”?

— Foi para puta que pariu no momento em que ouvi te

chamarem de gostosinha. E também já não via mais sentido em


esconder. Estamos juntos há tempo suficiente para sabermos que

isso entre nós é real e duradouro.


— É para eu ter medo? — indago. Realmente não sei qual

será a reação dos figurões pomposos que lá fora estão. De maneira

nenhuma quero que Erick saia prejudicado e com a imagem


manchada.

— Não, amor, vai dar tudo certo. O máximo que pode

acontecer é nos olharem com estranheza — explica e eu ouço com

atenção enquanto tento com base corretiva amenizar a evidência do


chupão que Erick deixou no meu pescoço.

— Então está tudo bem. — Termino meu trabalho, que não

ajudou muito, e lhe estendo a mão. — Agora podemos ir. — Ele


entrelaça nossos dedos. — Estou bem? — Sendo uns bons trinta

centímetros mais baixa que ele, levanto a cabeça para cima a fim de

que veja meu rosto com clareza.

— Linda. — Puxa meu corpo para si, dando-me um selinho.


Ao voltarmos para o evento, avistamos pessoas mais

descontraídas, com taças de vinho ou champanhe nas mãos. Para

onde se olhe é possível encontrar rodas de conversas. Seja ainda


sobre negócios, seja futebol ou até mesmo alguns passos

arriscados ao som da música ambiente; o importante é que cada


convidado parece estar confortável em sua própria pele. Talvez até

contentes em aproveitar boas músicas, bebidas e comidas. Esse

comportamento certamente é um indício de que a parte chata em

que falam de negócios passou para uma boa parte deles, pelo
menos é isso que a mudança de postura de muitos diz.

— Hora do show — Erick sussurra no meu ouvido quando

alcançamos o jardim de mãos dadas.


E por falar em mudanças de postura... De repente, o ambiente

fica mais silencioso, cabeças começam a se virar em nossa direção,

pessoas discretamente passam a cochichar; e tudo isso por ver o

grande advogado Erick Estevan assumindo publicamente o namoro


com a filha do seu falecido melhor amigo, que tem quase vinte anos

a menos que ele.

O burburinho provavelmente vai continuar até o fim da


recepção, entre olhares que vão de surpresa e desagrado, mas que

na nossa frente passam para cumprimentos e parabéns. Todos nos

felicitam, sem falta.

A alta sociedade e sua hipocrisia. Até aqui, não há nada de


novo sob o sol.

A única reação que me é importante a tudo isso é a do Erick,

que a certa altura me abraça pela cintura e sussurra no meu ouvido:


— Será que eles não vão embora nunca? — diz, colando o

corpo ao meu. — Não vejo a hora de ficar a sós com você.


— Estou sentindo sua ansiedade — rebato, e discretamente

rimos da nossa própria piada. A


CAPÍTULO 26 SURPRESA

Otempo foi passando. Os dias viraram semanas, as semanas


viraram meses e aqui estou eu, no meio de um dia de trabalho,

escolhendo um presente para a minha namorada que completa seus


dezoito anos hoje.
Os meses que se seguiram desde o dia em que assumi minha
relação com ela foram tanto calmos quanto atribulados. Calmos

porque Marina e eu passamos a ter mais liberdade, já não


precisamos mais nos policiar na hora de sairmos juntos, pelo
contrário, sempre que temos algum evento de negócios, ela vai

como minha acompanhante, assim como eu passei a ser convidado


a sair com seus colegas, convites que eu nego em sua maioria, é

claro.
Os momentos atribulados vieram quando a mídia — que nunca

foi de dar muita importância para o que eu faço ou deixo de fazer —

achou que nossa história interessante demais para passar em


branco. Desde então, as pessoas se sentem no direito de opinar em

nosso namoro. Há quem nos veja com olhos de crítica e há os mais


românticos, esses torcem por nós e enxergam tudo pela lente cor de

rosa, como se vivêssemos em um conto de fadas.


Entre nós as coisas não poderiam estar melhores, sempre que

estamos juntos em casa, aproveitamos para curtir um ao outro.

Quando não estamos fazendo sexo, porque isso é uma coisa que a
convivência e o costume não diminuíram, estamos apenas curtindo

a oportunidade de estarmos perto. Não são poucas as vezes em

que, preguiçosamente, ficamos deitados na nossa cama, assistindo


filmes e séries, ou apenas cada um do seu lado da King Size, ela

lendo um romance qualquer e eu trabalhando no computador.

Nossa felicidade tem sido tanta, que junto com ela vem o
medo. Medo de ver tudo isso acabar. Infelizmente, não tem sido

poucas as noites em que acordo suado e desesperado por conta de


um novo pesadelo.

Diferente de antes, agora eles têm sido mais frequentes e mais

agressivos também, e todos eles terminam comigo perdendo minha

mulher. As formas também mudaram, às vezes minha mente recria

imagens do seu quase atropelamento, só que no sonho ele se

concretiza e ela não sobrevive. Outras vezes a encontro


desacordada com um tiro perto do peito, esses são os piores e mais
recorrentes, são esses que me fazem acordar chorando e lhe
pedindo para me abraçar apertado.

Sendo esse o único aspecto ruim da nossa rotina, me ofereci

algumas vezes para trocar de quarto, e em todas recebi sua recusa,

ao afirmar que tudo está bem, que nada de ruim irá lhe acontecer.

Ela sempre diz isso, com as mesmas palavras, desde a

primeira vez. São elas o bálsamo que alivia meus medos. Suas
palavras e seu corpo.

Seu corpo é a minha cura.

Tocá-la é ter a prova de que tudo não passa de uma ilusão,

que a realidade é essa onde estamos nos amando plenamente.

Tanto quanto os pesadelos, transar de madrugada vem se

tornando uma rotina. Segundo minha pequena, essa é a sua forma

de demonstrar que está tudo certo, que da mesma maneira em que


fomos deitar, vamos nos levantar. Lado a lado, como tem que ser.

Para sempre!

— Vai ficar só olhando pela vitrine? — A voz feminina me tira

dos meus devaneios de uma maneira não tão delicada.

— Que susto, caralho. — A peste sorri com o mesmo deboche

de sempre. — Demorou assim por quê? Acha que tenho o dia todo?
Ela se irrita com minha pergunta.
— Para de ser folgado — Ângela rebate minha crítica de

prontidão. — Se estou aqui é por Marina, e não por você —


confidencia, ainda que não precisasse. Eu e essa peste temos uma

estranha relação. Nem amigos íntimos nem inimigos declarados. É


mais como colegas que se toleram por um ponto em comum, que no
nosso caso se chama Marina. Nós dois a amamos e sabemos que

ela tem o seu porto-seguro tanto nela quanto em mim. Em níveis e


formas diferentes, é assim que as coisas são.

Apesar de ser meio chatinha e querer sempre manter a pose


de durona, durante esse tempo de convivência, acabei me

acostumando com ela, que a meu pedido está nesta joalheria para
me ajudar a escolher um presente para minha garota.
— Vem, vamos entrar — chamo-a e entramos na sofisticada

loja.
— Tem algo em mente? — me pergunta assim que paramos

frente a vitrine recheada de joias.


— Tenho — digo e logo começo a lhe explicar o que pensei e

em como pretendo entregar o presente. Quero fazer de um jeito


especial, para que Marina possa recordar desse dia sempre que
olhar o anel.
Com o auxílio da chatinha e também de uma vendedora que

acabou nos dando uns toques, saímos da loja uma hora depois,
com Ângela ansiosa para ver a reação da Marina com a surpresa,

mesmo eu tendo deixado claro que ela não vai presenciar, ao


menos não essa, e eu contente por ter nas mãos algo que vai deixar

Marina feliz. Assim eu espero.


Depois de deixar Ângela na porta de casa, volto para o
escritório, resolvo algumas pendências que não podem ficar para

segunda-feira e volto para casa.


Com sorte Marina ainda não terá chegado e eu poderei checar

os últimos detalhes da nossa noite especial. Na sua cabeça, como


hoje é sexta-feira, dia em que eu e ela temos obrigações a cumprir,
nós comemoraremos o seu aniversário apenas amanhã, na

costumeira festa de todos os anos, dessa vez um dia depois da


data, mas ainda em volta da piscina.

— Oi, garotão. — Afago as orelhas de Thor quando, assim que


passo pela porta de entrada, ele vem correndo em minha direção.

Atrás dele, Floquinho também se aproxima, só que mais discreta. O


animal começa a passar o corpinho e o rabo esticado por entre
minhas pernas, só parando quando lhe pego nos braços. — Ei,

você. — Acaricio sua cabeça pequena, que ela preguiçosamente


empurra contra minha mão. — Vocês não vão contar para mamãe o
que eu estou aprontando, não é? — Vou para o sofá e sento com a
gata nas minhas pernas e com Thor deitado em cima dos meus pés.

As horas em que se seguem são usadas para garantir que


nada dê errado no momento do pedido. Já está anoitecendo

quando, pela janela do quarto, vejo Jorge entrar com o carro. Essa
tem sido a rotina de Marina nas últimas semanas. Depois de
terminar o curso de fotografia e de conhecer Lua — a namorada de

Bruno — em um dos eventos em que fomos, minha namorada foi


convidada por ela, que é fotógrafa, para ser sua assistente em um

ensaio editorial.
Animada com a ideia de iniciar a carreira com o pé direito, ela

me consultou — mesmo não precisando, já que eu lhe apoiaria de


qualquer forma — e acabou aceitando o convite. Todos os dias, às
dez da manhã, Marina sai com o motorista, carregando sua câmera

e todo o resto do equipamento para o estúdio da Lua, que a essa


altura já nem é mais namorada de Bruno. Sendo ela tão gente boa,

segundo elogios da Marina, eu só consigo pensar na sorte que teve


em se livrar tão rápido do Bruno. Ou foi o Bruno quem se livrou
dela? Bom, isso realmente não importa. A verdade é que mesmo

sendo meu amigo, Bruno não é nem de longe um bom material para
relacionamentos. Apesar de tudo, meu amigo faz muito sucesso
com as mulheres e eu até acho saudável que ele saia um pouco da
concha. Só não aconselho que isso passe de algumas noites, aí já

não seria bom para nenhuma das partes envolvidas.


Às seis da tarde, quando sai do estúdio, ela costuma me enviar

mensagens dizendo que já está indo para casa e que correu tudo
bem, hábito adquirido como consequência dos pesadelos. Hoje não
foi diferente, alguns minutos atrás recebi sua mensagem e também

lhe informei que já estou em casa.

— Amor, que surpresa maravilhosa — diz ao entrar no quarto e


pular nos meus braços, enrolando as pernas na minha cintura. —

Melhor presente de aniversário não poderia ter.

— Pensei que o melhor presente você tinha recebido hoje

manhã cedo — faço referência ao sexo matinal que minha pequena


nomeou como o melhor presente de aniversário já recebido.

— Recebi e quero de novo, meu tutor — lembra o vínculo que

acabou nos unindo novamente. Não que algum dia não fosse
acontecer. Mas, se não fosse a promessa e o testamento de João,

talvez isso não estaria acontecendo tão cedo.

— Ex-tutor e agora apenas namorado. E o repeteco do seu


presente fica para mais tarde, sua safada. — Ela solta as pernas e
eu vou lhe descendo pelo meu corpo até que seus pés toquem o

chão. Marina, como não perde a oportunidade de me provocar,


aproveitou a situação para se esfregar contra uma rígida e

específica parte da minha anatomia. — Vá se arrumar que nós

vamos sair.
— Para onde? — pergunta, desconfiada.

— Deixe de ser curiosa, meu amor, apenas fique bem linda. Eu

tenho uma surpresa para você.

— Surpresa, é? — Me olha com malícia. Eu amo que ela seja


tão fogosa, o par perfeito para mim. Se não fosse minha tentativa de

ser romântico, certamente estaríamos embolados contra o lençol a

foder como dois coelhos. Com a gente não tem tempo ruim, basta
ter oportunidade e vontade para as coisas acontecerem.

— É, linda, surpresa. Não essa que sua mente suja está

pensando. É uma de outro tipo. Apenas fique linda para mim. Mais
do que você já é.

— Devo vestir algo sofisticado ou mais básico?

— Nada sofisticado. Lá estará apenas eu e você. Então, não

há necessidade disso.
Quando a tenho pronta, lhe levo vendada para o carro e,

querendo estar sempre ao seu lado, peço para que Jorge nos leve e
assim ele o faz.

Com uma Marina dividida entre estar tensa e ansiosa, depois

de um tempo trafegando pela cidade já escura, finalmente


chegamos ao local escolhido.

Cuidadosamente, pego a sua mão e tiro-a de dentro do carro,

a levando pelo curto caminho

— Você vai me matar, Erick — reclama a gatinha apressada.


— Pronto, aqui estamos — digo quando a tenho parada onde

pretendia.

— Que ventinho gostoso — fala ao sentir a brisa fresca da


noite e o cheiro das árvores beijarem de leve as nossas peles. — Já

sei que estamos ao ar livre.

— Garota esperta — elogio ao levar as mãos para a parte de

trás da sua cabeça, desatar o lenço preto que cobre seus olhos e
dizer: — Feliz aniversário, meu amor. Hoje será a nossa noite de

criar novas memórias, espero ter acertado — digo ao terminar de

tirar a venda.
— Erick... — emocionada, diz o meu nome, a única palavra

que sai dos seus lábios no momento.


CAPÍTULO 27 TUDO O QUE PRECISO

Sei que pode parecer bobo e que outras pessoas poderiam pensar
em mil maneiras de se passar o aniversário, mas para mim é
diferente. Acordar e ver a vida que eu tenho é o melhor presente

que poderia ter no dia de hoje. O dia em que, perante a sociedade,


eu me torno uma adulta, responsável por tudo que possa fazer
daqui para frente.

Com exceção dos momentos de tristeza pela falta do papai,


meu dia não poderia ser mais feliz. Aqui, onde eu vivi durante toda a
minha vida, tenho tudo o que julgo necessário para me sentir

agradecida. Além de um amigo e namorado que me faz mais feliz do

que qualquer devaneio adolescente poderia fantasiar, tenho meus


dois bebês, a Floquinho e o Thor, minha irmã Ângela e, por fim, mas

não menos importantes, colegas do colégio que, mesmo depois do

natural afastamento pós-formatura, não deixaram que a amizade


morresse.
Então, sim! Eu posso dizer que esse é meu melhor aniversário,

que estou feliz, como nunca antes estive.


Hoje pela manhã, quando a luz fraca do sol adentrou pela

fresta da cortina, me deparei com um Erick ainda dormindo, o que

foi uma surpresa, já que ele ou sai antes de eu acordar ou me


acorda para um suado sexo de bom dia.

Hoje ele não fez nenhum nem outro. Foi só depois de alguns

minutos, quando já estava cem por cento desperta, que me dei


conta do que estava acontecendo. Esse homem lindo, gostoso e

que fode como um deus do sexo decidiu ficar e acordar comigo no

dia do meu aniversário. Se meu tesão já não estivesse alto o


suficiente — é assim que eu acordo desde que ele me acostumou a

trepar logo cedo — ele foi às alturas com essa percepção e foi o
estopim para me fazer pular em cima dele. Dessa vez foi eu quem o

acordou acesa e não o contrário.

E se como diz ele, a nossa transa de bom dia foi meu presente

de aniversário, acho que nem reclamaria de não receber outro.

Depois de tomarmos nosso café da manhã e combinarmos por

alto a festa de amanhã, saímos cada um para um lado, ele para o


seu escritório e eu para o estúdio que trabalho tem algumas

semanas.
Ter a oportunidade de trabalhar com o que eu gosto e com
uma pessoa tão adorável quanto Lua tem sido uma ótima

experiência de primeiro emprego. Com seu bom humor, eu até

agora não entendi como é que ela pôde se envolver com o taciturno

Bruno, que de adorável só tem o azul intenso dos olhos. Ela

infelizmente teve um caso com ele, se apaixonou, para logo em

seguida levar um pé na bunda. Quando questionei para Erick qual


era o problema dele — além do óbvio —, meu namorado apenas

deu de ombros, como quem já está acostumado com o jeito do

amigo, e disse que era para minha amiga ficar feliz com o

rompimento, que mulher nenhuma merece ter consigo o peso que

Bruno carrega nas costas. É disso que estou tentando convencer

minha chefe nos últimos dias.

Graças a Deus ela fechou contrato com uma grande


campanha editorial e nós não temos tido tempo para que ela pense

em Bruno e sua falta de tato com as mulheres.

Quero nem imaginar uma realidade em que uma amiga minha

esteja envolvida com um babaca desse. Minha sorte é que Ângela

não chegou a conhecê-lo, porque ele parece ter tudo o que ela

gosta e não precisa ter em sua vida, que já me parece atribulada o


suficiente.
Ao terminar um cansativo, porém, produtivo dia de trabalho,

mando a costumeira mensagem para Erick, obtendo como resposta


a ótima notícia de que já chegou em casa.

Cheia de saudades, entro no quarto e pulo nos seus braços,


mas ele trata de jogar o balde de água fria quando interrompe
minhas más intenções e diz que vamos sair. Como não sou boba,

trato logo de me aprontar para o passeio.

Agora, parada diante da visão que enquanto eu viver jamais

sairá da minha memória e do meu coração, as palavras


simplesmente somem, tudo o que consigo fazer é rir e chorar na

mesma medida.
— Fale alguma coisa, meu amor — ele pede.
— Erick, eu... — Me jogo nos seus braços — te amo tanto,

tanto que chega a doer — as palavras saem abafadas porque tenho


minha cabeça enterrada no seu pescoço.

— Ei, não fiz isso para te ver chorar, princesa. — Me afasta


gentilmente, secando meu rosto no processo. — Não gostou?
— Eu amei, Erick, você não poderia ter preparado um presente

melhor que esse — digo ao olhar maravilhada para todos os lados.


No mesmo parque e perto da mesma árvore que me trouxe no

meu aniversário de dezesseis anos, o último e fatídico em que


passamos juntos, Erick preparou um ambiente intimista e agradável.

Ao ar livre e sendo iluminados apenas pela luz da lua e de


alguns pequenos iluminadores e outros singelos pontinhos de luz
colocados nos galhos da bela árvore, Erick forrou na grama uma

grossa toalha branca e em cima dela deixou algumas almofadas


coloridas e pétalas de rosas vermelhas. No canto, há uma pequena

mesa para dois sortidas de bebidas e pelo que pude ver, alguns
tipos de massas, meu tipo de prato favorito. Tudo está tão lindo e
tão delicado que é difícil crer que todos os detalhes tenham saído da

cabeça de um homem racional como Erick.


Eu apostaria meu braço esquerdo como tem o dedo da Ângela

nisso. Ela tem andado muito misteriosa — mais que o normal — nos
últimos dias. Sempre me fazendo perguntas estranhas e inusitadas.

Saber disso me deixa ainda mais feliz, ver meus dois amores se
acertando é um alívio.
— Eu imaginei que seria um pouco arriscado, considerando as

lembranças do nosso último passeio que foi exatamente aqui. Mas,


como disse, quero que construa novas memórias. Dessa vez,
felizes.
— Nem me fale, são cenas que minha mente deletou com o

passar do tempo — digo e noto que falei a coisa errada quando seu
semblante cai um pouco, por isso, logo trato de consertar. — Mas

até que aquele piquenique não foi de todo ruim. — Enfio a mão
dentro de sua camisa, passando a alisar preguiçosamente suas
costas.

— Não foi? — Aconchega-me melhor em seus braços.


— Esqueceu que foi aqui que você me deu Floquinho, meu

presente inesquecível? — indago e ele me fita surpreso.


— Confesso que tinha esquecido disso. A única coisa que eu

consigo associar a esse dia é o nosso rompimento de quase dois


anos — admite com pesar.
— Esquece isso, querido — falo, lembrando de como foi difícil

fazê-lo parar de resistir a esse tratamento. Segundo ele, a palavra


"querido" só o faz lembrar da Patrícia, que a usava todas as vezes

em que queria forçar uma intimidade inexistente.


E por falar em Patrícia, depois do acontecido na recepção e de
ter sido dispensada por Erick, nunca mais ouvimos falar na mulher.

A sensação que tenho é de que ela está por aí, sempre à espreita,
querendo uma chance para se vingar, para destruir a felicidade que
dia a dia vamos construindo. É claro que isso também pode ser
paranoia da minha cabeça, por causa da última ameaça que ela fez.

E é justamente por isso que não compartilho dos meus medos com
Erick, já basta as noites em que ele acorda amedrontado com os

pesadelos que tanto lhe atormentam.


— O importante é que hoje estamos aqui. — Olho em volta. —
Juntos e bem.

— Vamos jantar? — Desfaz nosso abraço, entrelaça nossas

mãos e me leva para perto da mesa. Sobre ela, existe um único


girassol, que ele logo pega, quebra o galho e coloca atrás da minha

orelha.

— Você ainda lembra disso? — Fico surpresa por ele se

recordar de um detalhe como esse, depois de tanto tempo longe um


do outro.

E como costumava ser no passado, hoje o girassol voltou a ser

minha flor preferida.


— Lembro de tudo relacionado a você, linda. Vem. —

Educado, puxa a cadeira para que eu me sente e, logo em seguida,

senta no seu lugar.


Depois de um agradável jantar, Erick me convida para sentar

entre as almofadas que ele tão atenciosamente pediu para que


fossem colocadas em cima da grama.

Comigo sentada entre suas pernas e com a cabeça encostada

no seu peito, Erick e eu ficamos num confortável silêncio, momento


em que apenas nos permitimos ouvir o barulho da cachoeira que

aqui perto jorra cascatas de água.

— Está feliz? — ele quebra o silêncio ao me abraçar e deixar

um delicado beijo em cima do meu ombro.


— Muito. Esse é o melhor aniversário da minha vida —

confesso. — Para estar perfeito só falta o papai comigo. — Um

pouco de nostalgia me abate quando volto a lembrar dele. Por ser o


primeiro aniversário passado sem ele, especialmente hoje sua

ausência é mais sentida.

— Eu também sinto a falta do João, meu amor. — Fica


pensativo por uns instantes, mas logo diz: — Vamos deixar os

pensamentos tristes do lado de fora das nossas mentes, hoje é seu

dia e só quero te ver sorrir.

— Tristeza? Já passou. — Saio de dentro dos seus braços e


sento com as pernas cruzadas uma na outra e de frente para ele. —

Não acha que está na hora de esquentarmos as coisas?


— Está frio? — se faz de desentendido, apenas para me

provocar.

— Não, querido. Para falar a verdade, eu estou é com calor. —


O dia foi quente e a noite realmente está entre fresca e abafada,

mas eu tenho certeza de que ele sabe que o calor a qual me refiro

em nada tem a ver com a temperatura fora dos nossos corpos. —

Com muito calor. Só acho que você poderia me esquentar um pouco


mais — digo ao ficar de joelhos e abrir o primeiro botão da minha

saia jeans curta.

— Eu não só posso, como vou, minha garota insaciável. —


Segura minha mão e eu entendo que ele tem algo a dizer: — Mas

antes, tenho um outro presente para te dar.

— Erick, você não precisava... — Ele me cala ao também se

ajoelhar, puxar-me mais para perto do seu corpo e dizer:


— Eu fiz todo esse cenário, mas seu presente na realidade é

outro — diz, colocando a mão dentro do bolso da calça. — Só, por

favor, não entra em pânico.


Ele volta com a mão fechada e quando a abre, o que tem

dentro me tira completamente a capacidade de respirar.


CAPÍTULO 28 COMPROMISSO

Olhando para a pequena caixa azul de veludo, Marina não faz


nenhum movimento além de fitar ora a caixa aberta ora meu rosto,

que aguarda por sua resposta.


Só espero não ter exagerado. Em minha defesa, só tenho a
dizer que fiz exatamente o que meu coração pediu.
— O que isso significa? — pergunta depois de um tempo e ao

pegar a caixinha da minha mão e analisar de perto.


Dentro do pequeno compartimento quadrado há um anel de
prata com as bordas delicadamente salpicadas de pequenas pedras

de diamante. Quando pensei na escolha, o que me veio à cabeça foi


algo simples — assim como a minha garota —, mas que também

fosse elegante. Com a ajuda da Ângela e da vendedora que deram


alguns toques, cheguei no anel que julgo ser o ideal para ela.

Simples como a sua essência e valioso como ela é para mim.

— Significa o compromisso que há muito tempo selamos. Esse


anel é apenas a prova material, meu amor. — Acaricio seu rosto,

que tem os olhos brilhando pelas lágrimas não derramadas.


— Ele é tão lindo — diz ao passar o dedo em cima da joia

delicada. — Tenho até medo de tocar e estragar.


Acho graças das suas palavras, pois sei que não diz isso

deslumbrada pelo valor econômico que a peça possui, mas sim pelo

valor sentimental a ela atribuído.


— Assim como você — elogio.

Minha ligação com Marina é tão forte, que não consigo lembrar

de um dia em que não tenha estado apaixonado por ela. É como se


toda a minha vida antes de ter me entregado a esse amor não

tivesse existido. A Marina criança que eu via como da família e a

adolescente que até os quinze não levava a sério, nem de longe me


fazem lembrar da mulher que ela tem se tornado. A Marina que eu

tenho aqui, durante os dias e as noites passadas na intimidade do


nosso quarto, é a mulher que tem tudo o que eu preciso mesmo

sendo tão jovem.

Com ela me sinto completo como nenhuma outra mulher mais

"adequada" seria capaz de me fazer sentir.

E como eu sei disso? Sei pela experiência. Tive vinte anos da

minha vida para comprovar esse fato, anos em que Marina nem
bem existia. Foram anos e anos procurando me encontrar e sem

nunca achar. Até que um dia eu cansei de desejar a suposta vida


perfeita do meu amigo, que tão jovem tinha encontrado o amor e a
calmaria de uma existência tranquila. Foi isso o que eu almejei, até

que Cristina abandonou João e a filha pequenina.

Quando parei de imaginar a vida em que uma mulher seria

capaz de aplacar a solidão que a distância da minha família deixou,

comecei a acumular diversos namoros rápidos e casos sem

importância, até que, sem pedir licença, Marina veio e me mostrou


que às vezes, mesmo sem planejar, a vida pode nos surpreender.

— Vem, deixa que eu faço isso. — Pego a caixinha da sua

mão, tiro o anel e o coloco no seu dedo direito.

— Perfeito. — Contente, ela olha para a mão esticada, que

agora ostenta um lindo brilhante.

— Agora é a minha vez. — Pego o meu, que deixei separado

no bolso da minha calça, e lhe entrego para que também o veja.


Ela o pega e deixa transparecer sua surpresa por eu ter

comprado um para mim. Talvez tenha pensado que somente ela

usaria.

— Estar com você é não ter um segundo de monotonia —

assevera, enquanto coloca o anel no meu dedo. — Sempre arranja

um jeito de me surpreender e eu te amo por isso.


— Tudo por você, que me faz tão feliz — digo quando ela vem

para o meu colo e começamos um beijo que se estende até o


momento em que nosso jantar é discretamente posto sobre a mesa.

As horas em que se seguiram foram divididas entre beijos


apaixonados contra a árvore que batizamos como nossa e um jantar
composto com os seus pratos favoritos, terminando com nós dois

nadando pelados e fazendo amor dentro da cachoeira que por horas


embalou a nossa noite com o som de suas águas revoltas que

desciam como cascatas.


Lá pela meia-noite, eu e ela continuávamos tão unidos quanto

duas pessoas podem estar, com a lua sendo a testemunha


silenciosa de que, enquanto eu estiver aqui e ela me quiser, do seu
lado eu sempre estarei.

Em casa, uma Marina radiante de alegria dormiu nos meus


braços, enquanto, empolgada, me ouvia contar como toda a

surpresa foi planejada.


— Amor... — Na manhã de sábado, acordo tendo uma

sensação de déjà vu. Estou sozinho na cama e da janela se ouve o


barulho estrondoso de batidas que imagino serem músicas de funk.

Quando me levanto e me aproximo da janela para olhar,


vislumbro a cena que por vários anos tenho presenciado: o jardim

está abarrotado de jovens alegres e falantes. Uns dançam, outros


nadam e alguns estão comendo petiscos que o garçom contratado
por Marina serve. Mais afastada da galera e perto da churrasqueira,

vejo minha namorada conversando com Ângela e com outras


garotas. Ela está tão animada mostrando o anel que eu dei, que é

praticamente impossível não ter vontade de descer e me juntar com


a galera.
— Deixe de ser bobo, Erick — digo a mim mesmo ao pensar

alto. — O que de ruim pode acontecer? Você só vai passar um


tempo com a galera da sua mulher — tento me convencer.

Ainda estou na janela, decidindo se desço ou não, quando


Marina nota minha presença, manda um beijo e de maneira nada

discreta me chama para se juntar a ela. Dando-me por vencido, faço


minha higiene matinal, tomo meu café e em seguida desço para lhe
fazer companhia.
Conforme o dia vai seguindo, começo a me sentir mais à
vontade e a interagir com seus amigos — até mesmo com os que
ficam secando seu corpo com olhos famintos —, até que me dou

conta de que tudo dará certo. Nada está fora do lugar.


Percebo que minha apreensão de me juntar com os garotos

era derivada apenas do medo de não me ajustar. De perceber o


quão diferente o meu mundo e o de Marina são.
Felizmente, tudo tem corrido bem.

Tirando uns engraçadinhos que me chamam de tio, as reações


são polarizadas entre respeito e admiração por parte dos rapazes; e

de suspiros e cobiça por partes das meninas. Quem não gosta muito
dessa parte é a minha ciumentinha, que não perde uma chance de

mostrar que sou dela e que o homão da porra — expressão


estranha que elas me atribuíram e da qual eu nunca tinha ouvido
falar — está fora da pista.

— Amor, vou subir para trabalhar um pouco, tudo bem? — falo


no seu ouvido assim que o dia começa a virar noite. — Quando eles

forem embora, me avise que eu paro para te dar a atenção que você
merece. — Discretamente, passo a língua por seu lábio inferior.
— Não vejo a hora de expulsar esse povo daqui de uma vez —

confessa ao levantar da espreguiçadeira e sair do meio das minhas


pernas, lugar em que discretamente estava sentada e onde nós dois
aproveitamos o clima descontraído dos seus amigos para namorar.
Não o tipo de namoro apropriado para um lugar cheio de gente, e

sim do tipo que meu pau estava duro contra sua bunda e onde
nossas bocas não se abstiveram de darem beijos nada inocentes,

daqueles em que nossas línguas fazem o que a parte de baixo do


corpo não pode fazer no momento.
— Eu também não. — Levanto-me em seguida, rezando para

que o short tactel seja capaz de esconder o meu estado e parando

com o corpo colocado junto ao de Marina, que não veste nada além
de um biquíni indecentemente pequeno. — Te aguardo, meu amor.

— Dou um beijo casto, porém, repleto de promessas, ao mesmo

tempo em que aperto as bochechas da sua deliciosa bunda, que eu

ainda não tive o prazer de conquistar.


Depois de uma revigorante ducha fria, entro na minha sala,

sento à mesa; ligo meu notebook e enfim começo a trabalhar.

Não é como se eu fosse um viciado que não pode ficar sem


trabalho mesmo aos fins de semana, o único ponto aqui é que o dia

hoje foi agitado demais para uma alma mansa como a minha. O

trabalho talvez me faça sentir mais como eu mesmo e menos como


um garoto apaixonado pela primeira namoradinha e que só quer
ficar grudado demarcando seu território. Foi isso que eu fiz na frente

dos seus colegas? Foi exatamente o que fiz.


Estou tão concentrado no processo que ando trabalhando, que

nem notei o momento em que o barulho de música e som de vozes

diminuiu. Mais um pouco e terei minha linda entrando por essa


porta, alegre e cheia das más intenções. Ou seriam boas?

Por alguns segundos, paro o que estou fazendo quando

percebo que o trinco da porta está sendo girado. Imaginando quem

é, volto ao que estava fazendo e, satisfeito, digo:


— Finalmente, pequena — falo sem levantar os olhos,

finalizando a petição que estou redigindo. — Que bom que veio dar

atenção para o seu pobre e abandonado namorado — brinco.


Silenciosa, minha pequena entra e fecha a porta atrás de si.

— Olá, Erick Estevan. Sentiu a minha falta? — Essa voz com

certeza não é da Marina.


Na minha frente, está uma mulher de cabelos pretos e longos,

vestida com um sobretudo preto e no rosto grandes óculos escuros

que escondem seus olhos e parte da sua face.

— Quem é você e o que fez com a minha namorada?


Marina é a única pessoa que me vem à cabeça na hora em

que uma sensação estranha toma conta do meu corpo.


CAPÍTULO 29 CHANTAGEM

— Não está me reconhecendo, querido? — a mulher indaga e a


compreensão me abate ao ouvir essa palavra... Não, não pode ser!

— Patrícia? — indago somente para confirmar, não tem como


ser outra além dela. Quem mais teria a audácia de invadir meu
escritório dessa forma?
— Vejo que continua inteligente, Erick — fala e tira primeiro os

óculos e depois a peruca negra, deixando evidente o cabelo tingido.


— Ou talvez nem tão inteligente assim.
— Cadê a Marina? O que você fez com ela? — pergunto e,

desesperado, corro para a janela que faz vista para o jardim. O


alívio logo percorre meu sangue, que parecia congelado em minhas

veias, quando a vejo numa roda conversando com Ângela e outros


amigos, inclusive o idiota do Mateus. O que esse cara está fazendo

aqui, se nem ao menos foi convidado?

— Como pôde ver, sua boneca está intacta. Ao menos por


enquanto.
Parada atrás de mim, Patrícia toca o meu ombro e é

prontamente repelida quando pego sua mão e a tiro bruscamente de


perto do meu corpo.

— Não me toque, porra! — digo entre dentes ao me afastar da

janela e dela, indo para perto da porta. — Saia imediatamente


daqui, ou eu mesmo te tiro. — Indico a saída com a mão.

— Se eu fosse você, eu fechava essa porta e ficava bem

calminho — fala em um tom de ameaça.


Fria como eu nunca vi uma pessoa ser, a víbora coloca a

bolsa, óculos e peruca em cima da mesa e senta-se como se não

estivesse impondo sua presença na minha casa.


Eu não devia ter subestimado tanto essa mulher, deveria ter

desconfiado que o silêncio e o conformismo com a sua dispensa era


sinal de que estava tramando alguma coisa. Agora, ela aparece

depois de meses e seja lá qual for a sua intenção, coisa boa não é.

— Fala logo o que tem a dizer e dê o fora daqui. — Sento atrás

da mesa, já que não posso exercer a minha vontade de lhe

escorraçar, não sem antes saber o que pretende.

— Vamos com calma, querido — fala sem fazer questão de


esconder o quanto é cínica.
— Se eu fosse você não brincaria com o fogo. — Sei que não
devia, mas não consigo me segurar.

— Você ainda não percebeu que não está em condições de

fazer ameaças? Mas já que quer, vamos direto ao ponto — diz ao

pegar a bolsa, abri-la e tirar de lá um pedaço de papel envelhecido,

que eu imagino ser uma foto antiga.

— O que é isso? — indago quando ela me entrega a fotografia


envelhecida.

— Esses três aí são João, Cristina e eu, na época em que ele

namorava comigo.

Analiso bem a foto e reconheço todos que dela participam,

apesar de serem tão novos e aparentemente não terem mais do que

dezoito anos.

— João namorou você e sua amiga — falo, confuso, e sem ter


ideia de onde essa história vai chegar —, que por acaso é a mãe da

minha namorada, a mesma que a abandonou quando ela era

praticamente um bebê?

— Cristina não é minha amiga. É minha prima, que depois de

ter sido apresentada ao João por mim, fez de tudo até conseguir

seduzir e ficar com ele.


— E você já pensou que talvez eles estivessem apaixonados?
— Não, eu não pensei. O João pode até ser, mas não ela.

Cristina, assim com eu, que fui burra o suficiente fazer propaganda,
só estava interessada no dinheiro dele.

— Que dinheiro? Vocês não sabiam que ele vivia uma vida
classe média antes de abrirmos o escritório?
Tanto eu quanto meu amigo crescemos em um bairro classe

média, estudamos nos melhores colégios e fizemos o curso numa


faculdade com mensalidades relativamente caras, ou seja, nunca

passamos por necessidades, mas também não tínhamos pais ricos


o suficiente para atrair garotas interesseiras.

Então, como foi que João conseguiu atrair logo duas?


— Para duas caipiras mortas de fome vindas do interior com a
intenção de se darem bem, ser de classe média já era o suficiente.

Além disso, eu sabia e contei para ela que meu namorado fazia
faculdade e que provavelmente ganharia muito dinheiro quando se

formasse. E parece que nisso eu acertei.


— Aí você pensou em dar o golpe — digo. — Só não contava

que ela fosse ser mais esperta que você, não é? Tanto foi que casou
e teve uma filha ele.
— Foi mesmo, mas não tanto quanto você pensa, meu caro.

— O que é que você está querendo dizer?


— Que você é tão burro quanto a Cristina — diz entre risos. O

tipo de risada que dá medo, pelas intenções escusas que há por


trás dela. — No fim das contas, a tonta acabou se apaixonando de

verdade por ele e esse foi seu grande erro.


— Erro? — pergunto, querendo entender o porquê de ela ter

me comparado com a mãe da pequena.


— Sim, um erro — afirma com a veemência de quem sabe
sobre o que está falando. — Vamos lá, você é esperto: você que

conheceu João durante toda a vida, acha mesmo que um cara que
trocou a namorada tão rapidamente pela própria prima se manteria

fiel a alguém?
— Você não está querendo dizer que depois de tudo...
— Isso mesmo. Apesar do que aconteceu, eu sempre soube

como trazer o idiota de volta. A tonta da Cristina achou que eu tinha


me conformado em perder um homem para uma garota idiota como

ela e quando viu, eu já estava de novo com o cara nas minhas


mãos.

— Sabe que essa história não bate, não sabe? — Lembro da


Cristina, que vi poucas vezes e ainda assim não me causou boa
impressão. — A Cristina que eu conheci e que me foi apresentada

por João não me parecia essa pessoa ingênua que você quer pintar.
— E ela não era mesmo. Como eu disse, Cristina sonhava em
mudar de vida ao se casar com um homem rico. O fato de ela ter se
afeiçoado ao marido não lhe tirou essas qualidades. Tanto é que

depois que conseguiu me tirar o João, ela não perdeu a chance de


se exibir, de mostrar que conseguiu e eu não — enquanto fala, não

consegue disfarçar a amargura na expressão e muito menos no tom


de voz.
— Duas sórdidas ordinárias.

— Assim como seu amigo, que era um fraco por mulher e não
conseguiu ser fiel nem a mãe da sua filha.

Eu sempre soube que João não era nenhum santo quando o


assunto era mulher, mas essa história está bizarra demais — para

dizer o mínimo — até para ele.


— Está me dizendo que vocês dois foram amantes durante
todo esse tempo?

— Não só amantes. Fomos cúmplices em tudo!


— Tudo o que? Fale logo, caralho. — Soco o tampo da mesa,

já em vias de perder completamente a razão.


— Simples, quando já o tinha totalmente sob meu domínio, o
convenci de que ela tinha um amante e ele, como um fraco que

acreditava em tudo o que eu dizia, inclusive em imagens forjadas,


não parou um segundo sequer para questionar minha história. A
partir daí, não foi difícil fazer a cabeça dele para que lhe mandasse
para longe de nós.

— E posso saber como foi que fizeram isso? — ainda tenho


forças para perguntar. Estou tão enojado com toda essa história,

que nem sei como reagir. — Chantagearam ela?


— Isso mesmo — fala num riso feliz, como se estivesse se
lembrando e se deliciando com a memória. — Com as fotos em

mãos e achando que estava fazendo a coisa certa em afastar uma

mulher tão promíscua de perto da filha, seu amigo lhe ofereceu uma
grande soma de dinheiro para que sumisse do país e nunca mais se

aproximasse da pirralha. Bom, eu imagino que ela deve ter gostado

da ideia, já que mesmo depois de tantos anos, nunca mais apareceu

ou procurou por notícias da menina.


— E o escritório? Que ligação você tem com ele?

— Essa foi a parte mais chata que tive que passar — diz com

tranquilidade. — Como não queria perder o controle sobre João,


nem do seu dinheiro, decidi fazer o curso de Direito, passei no

exame da ordem e há um pouco mais de três anos, quando senti

João mais distante, o convenci a me contratar. O idiota não só fez o


que eu pedi, como também adorou a ideia de ter a amante por perto

para poder transar sempre que tivesse vontade.


— Eu tenho nojo de vocês. — Tenho minhas mãos em punhos,

me segurando para não destruir tudo o que vejo pela frente.

— Calma, querido — a infeliz tem a audácia de me pedir isso.


— Não fique chateado com o seu amigo, ele era apenas burro, mas

pode ter certeza de que o amor dele por você e por aquela fedelha

que está ali no jardim era verdadeiro. Você acha que eu a detesto

tanto por quê? A infeliz, além de ser filha da mulher que tentou me
passar para trás, ainda teve a coragem de me tirar você.

— Você só pode estar louca.

— Louca? Não, meu amor, apenas sou prática. Já que eu perdi


o homem que sustentava meus luxos, pensei que seria uma boa

ideia arrumar um modelo mais novo e muito mais interessante.

Tenho certeza de que conseguiria se não fosse a filha da Cristina,


sempre a infeliz da Cristina.

— Me teria somente nos seus sonhos, querida — ponho

sarcasmo na última palavra. — Agora que você me contou o quão

sórdida é, faça o favor de dar o fora da minha casa e de não voltar a


se aproximar de mim e da minha mulher.
— Você acha mesmo que eu viria aqui só para fazer o favor de

te contar o quão linda é a história de vida dos pais da sua pirralha?

— indaga e como não é o tipo de pergunta que se espera uma


resposta, ela continua: — Você tem uma semana para terminar seja

lá o que tiver com a garota. Inventa a desculpa que quiser, isso não

me importa, apenas termine com ela.


CAPÍTULO 30 TIC TAC

— Vai embora daqui, agora. — Levanto da cadeira e, no susto, ela


levanta também. — Isso nunca vai acontecer. Está me entendendo?

Nunca!
— Tem certeza? — indaga, já pegando suas tralhas, inclusive
a foto que ali tinha deixado. — Se eu fosse você não arriscaria. Será
que a garotinha ficaria feliz de saber que belo bosta seu pai era? E a

mãe, que além de ser uma vadia, foi tão interesseira que lhe deixou
em troca de alguns trocados?
— Você sabe que não foi bem assim que aconteceu — falo

friamente.
— Para ela vai ser exatamente assim que tudo aconteceu. Até

porque, eu não estou vendo a mamãe dela aqui. Por que será que
ela não voltou durante todos esses anos? Se você for racional, vai

perceber que, de qualquer jeito, Cristina acabou abandonando a

filha.
— Ela não acreditaria em você. — É nisso que eu mesmo

tento me apegar, mas não posso arriscar. — Uma mulher que ela
não suporta.

— Quer pagar para ver? Não se esqueça de que tenho as


fotos da Cristina com o suposto amante, além, é claro, dos

documentos que comprovam que o querido papaizinho me

sustentou e me manteve por perto durante todos esses anos.


Puta que pariu! O que eu vou fazer? Essa mulher está

mostrando que é capaz de tudo.

— Só não entendo uma coisa, por qual motivo você está


fazendo essa chantagem?

— Vamos ver: vingança, talvez? Por culpa da filha da Cristina,

que fez a sua cabeça, meus planos deram errados. Se não fosse
por ela, você ia me olhar, eu sei que ia — fala e no rosto tem uma

expressão sonhadora, como se realmente acreditasse no que diz.


Isso só prova que a mulher é louca. Nesses anos em que esbarro

com ela pelos corredores, eu nunca a olhei por mais tempo que o

necessário, pelo contrário, sempre preferi trocar somente os

cumprimentos que uma boa educação pede.

— Sabe que isso jamais aconteceria. Eu tenho nojo de você.

Ainda que consiga me separar dela, jamais terei algum tipo de


relação com você — assevero, mesmo duvidando que sua mente

perturbada entenda. Ela distorce tudo ao seu favor.


— Isso é o que você diz, se seu amigo não resistiu e foi capaz
de destruir a própria família por minha causa, com você não será

diferente. Os homens não são capazes de resistir a mim.

— Não os homens como o João, que gostam de mulheres

superficiais e plastificadas como você. — Neste momento, a louca

coloca a mão no rosto, como se estivesse ultrajada com as minhas

palavras. — Eu prefiro as naturais, que não usam de artifícios para


tentar chamar a atenção de um homem. Pessoas como você, com

personalidades vazias e almas pobres, morrem solitárias.

— Eu ainda vou acabar com essa sua pose, Erick Estevan —

esbraveja, furiosa, enquanto tira um cartão pequeno da bolsa. —

Aqui está. — O coloca em cima da mesa. — Uma semana, você tem

uma semana para se despedir da sua namoradinha. Nem tente se

fazer de esperto, você não tem ideia do que eu sou capaz. Contar a
história podre dos pais dela é só uma amostra do que eu posso

fazer com vocês, caso você tente me enganar.

— Sua vagabunda. — Avanço em sua direção, mas ela já está

perto da porta, prestes a se retirar.

— Passar bem, querido. — Sai, me deixando completamente

sem chão.
Em um acesso de fúria, varro todos os objetos de cima da

mesa, fazendo com que todos caiam e se quebrem no chão, assim


como o meu coração está quebrado. Desesperado e sem saber o

que fazer, deixo meu corpo arrastar-se pela parede até tocar o chão,
e é sentado, com as pernas dobradas até a altura dos ombros, que
caio num choro incontido. Dou vazão ao desespero de não saber

como agir, o que fazer daqui para frente.


— Eu não posso perder a minha pequena, meu Deus! Eu não

posso.
Ainda soluçando, com a cabeça apoiada contra os joelhos e

sem ter ideia se passaram horas, segundos ou minutos, ouço a


porta novamente ser aberta, e dessa vez me falta coragem para
levantar a cabeça e ver quem é. Dá última vez entrou meu pior

pesadelo.
— Nossa, pensei que nunca mais fossem... — Abruptamente,

Marina para de falar ao ver a situação em que eu e o escritório


estamos. — Meu Deus! O que foi que aconteceu aqui, meu amor?

— Ela se agacha na minha frente e eu permaneço com o rosto


abaixado, sem ter coragem de olhar nos seus olhos. — Erick, olhe
para mim. Por favor, querido. — De joelhos, ela coloca a mão no

meu queixo e o levanta. Quando tenho seus olhos sobre os meus,


vejo que há nos seus a dor de perceber que alguma coisa muito

séria aconteceu aqui para que eu esteja dessa forma. Desde a


época em que me via como algum tipo de super-herói, minha

pequena nunca teve a chance de me ver assim, talvez por isso seu
olhar esteja oscilando entre sentir a minha dor, mesmo sem

entender o que se passou, e a curiosidade que ela logo trata de


tentar dissipar. — Você estava chorando? — Passa o dedo por meu
rosto, que ainda está úmido. — Foi alguma coisa que eu fiz? Eu...

— Não! — Seguro firmemente seu rosto. — Você não fez nada


de errado, meu amor, nunca faz. Só me faz feliz, como eu nunca

antes fui. Eu não posso perder você, Marina. — Seguro seus braços
e lhe trago para o meu colo.
Eu preciso senti-la.

Com suas pernas enroladas na minha cintura, lhe abraço forte


e por um bom tempo fico apenas assim, sentindo as batidas do seu

coração, o ritmo calmo da sua respiração e o cheiro doce do seu


cabelo macio que impregna o meu nariz.

Como eu amo essa mulher.


— Não vai mesmo me contar o que aconteceu aqui? —
questiona ao afastar o rosto do meu pescoço.

— Vai ficar chateada se eu disser que não?


Ela me analisa, desconfiada, e finalmente diz.
— Não vou negar que queria saber o que houve e que seu
estado me deixou preocupada e curiosa, mas se você preferir não

me falar nada, eu respeito, pelo menos por enquanto — afirma,


deixando claro que não vai se contentar em me ter escondendo

coisas.
— Tudo bem, meu amor. Eu só preciso de um tempo. — Beijo
seus lábios e depois continuo: — A festa já acabou? — Não resisto

a colocar a mão por dentro do camisão que ela vestiu por cima do
biquíni.

O baque que tive há pouco só me fez ter mais vontade dela.


Meu corpo, meu coração e mente; tudo em mim tem a necessidade

de relembrar incontáveis vezes a sensação de estar dentro dela. De


fazê-la minha de todas as formas possíveis.
— Todos já foram embora. Por quê? — Maliciosa, minha

pequena tenta deixar os nossos corpos ainda mais colados. No


mínimo deve estar sob o efeito do tesão que nos queimou em fogo

brando enquanto estávamos sentados naquela espreguiçadeira.


— Eu quero você, agora — digo com veemência. — Vamos
para o quarto. — Levanto-me desajeitado com o meu amor agarrada

ao meu corpo.
— Não, Erick, eu estou suja de um dia inteiro no sol, meu
corpo deve está impregnado de cloro e cheiro de churrasco — ela
protesta e tenta sair dos meus braços. — Me deixe tomar um banho

primeiro.
— Não. Eu disse que quero agora. — Seguro mais firme as

suas coxas em volta da minha cintura. — Foda-se o cheiro, eu só...


preciso de você.
— Tudo bem, amor — concorda, talvez por ver no meu rosto a

necessidade de reivindicá-la. — Depois você mesmo pode me dar

um banho. — Ela já esqueceu do seu protesto e entrou no modo


fogoso e insaciável que me excita.

— O banho que você jamais irá esquecer — assevero ao

caminhar apressado para o nosso quarto. — Limparei cada canto do

seu corpo. — Entro no quarto, indo diretamente para a cama de


casal. — Com a língua — prometo. Com pressa, como se o mundo

estivesse prestes a acabar, deixo-a em pé perto da cama, tiro seu

camisão e em seguida seu biquíni. — Muito gostosa — digo ao tê-la


nua e linda como uma pintura. Meu pau certamente ficou feliz, já

que a visão da sua bocetinha depilada o fez duro instantaneamente.

Depois de também tirar toda a minha roupa, peço em seguida: —


Quero que deite com a bunda na beirada da cama e deixe as pernas
livres — peço e ela faz do jeito que eu disse. — Isso, minha linda.

Agora eu vou te comer do jeito que venho imaginando desde a hora


em que estivemos naquela maldita espreguiçadeira.

Louco por sentir seu cheiro e gosto, ajoelho-me aos pés da

cama, separo suas pernas amplamente e abocanho o seu sexo.


Com maestria e vontade, chupo sua boceta e entre lambidas e

assopros que a deixam subindo pelas paredes, finalmente tenho em

minha boca o sabor do seu desejo. Ela goza com a minha língua

entre gemidos e xingamentos, e eu bebo até a última gota do seu


desejo por mim, como se isso fosse torná-la ainda mais inesquecível

em minha mente.

O gosto de mulher, da minha mulher.


O dia que começou feliz e que no meio se tornou um desastre,

terminou comigo lhe levando à exaustão. Depois de comer sua

boceta com a boca, lhe coloco de quatro ainda na ponta da cama e


invisto contra seu corpo com uma intensidade que leva a cabeceira

da cama a bater fortemente contra a parede e também a faz gritar

de uma forma que dessa vez ela terá motivos para se envergonhar

dos funcionários.
Em seguida, no banheiro, com suas pernas em volta da minha

cintura, nós fizemos um amor lento e gostoso no chuveiro, mas não


sem antes eu ter de cumprir minha promessa de lavar seu corpo

com a língua.

Seja na foda sem sentido ou no amor embaixo do chuveiro, o


dia terminou com minha mulher alinhada e satisfeita nos meus

braços e eu com uma angústia no peito, perdido e sem saber como

agir; como se um relógio estivesse acima da minha cabeça

bradando o som de: Tic-tac. Tic-tac...


CAPÍTULO 31 DISTANTE

— Alô, terra chamando Marina. — Estalando o dedo em frente ao


meu rosto, Ângela tenta me trazer de volta para o presente.
— Desculpa, amiga. Eu não estou sendo uma boa companhia,

não é? — indago.
É óbvio que não estou sendo, porque simplesmente não
consigo me concentrar na conversa nem na companhia. Tudo o que

minha mente confusa quer é ficar pensando no Erick,


especificamente no seu comportamento dos últimos cinco dias, e
criando teorias mirabolantes da conspiração para, quem sabe,

encontrar uma justificativa para o fato de ele estar agindo de

maneira tão estranha.


— Não está mesmo. Ainda bem que você admite — diz com

sua falta de tato e sinceridade nata. — O que está acontecendo,

amiga? — Segura minha mão para ver se consegue finalmente ter


minha atenção. — Sabe que pode se abrir comigo, não é?
Eu sei que posso, se tem uma pessoa a quem eu possa

confiar os meus segredos, essa pessoa é a Ângela. É assim que


tem sido desde sempre, ainda que ela, com suas duras e sinceras

opiniões, mais atrapalhe do que ajude.

— É o Erick. — Decido me abri, quem sabe ela não me dê


uma luz.

É até bom ouvir uma pessoa que não tem no Erick o santo da

sua devoção.
Seria diferente se eu pedisse a opinião da Maya, por exemplo.

Aquela ali gosta e admira Erick de uma forma que certamente sua

opinião estaria comprometida.


— O que foi que aquele imbecil andou aprontando, amiga? Me

diz e agora mesmo eu vou lá ter uma conversinha com ele —


ameaça e me tira o primeiro riso sincero do dia.

— Não precisa disso, Ângela. Fica quieta aí — aviso antes que

ela cumpra a ameaça e vá caçar meu namorado.

— Tem certeza do que está dizendo? — Acho que o sonho da

Ângela é quebrar o pau com Erick. Ela simplesmente não consegue

aceitar numa boa o nosso namoro.


Muitas vezes eu me pergunto o motivo dela agir dessa forma,

já pensei de tudo, não chegando a nenhuma conclusão. Às vezes,


eu tenho a sensação de que ela se ressente por não ter esse tipo de
afeto. Quando imagino isso, não a culpo nem por um segundo, não

quando eu sei a relação difícil que ela tem com os pais,

principalmente depois de terem trazido Mateus para morar com eles.

Ângela não consegue se abrir comigo, mesmo que eu tente de

todas as formas fazê-la falar. Ainda não sei como, nem quando, mas

vou conseguir descobrir o que se passa naquela casa e vou livrar


minha amiga das amarras que a prendem, sejam elas quais forem.

Antes, eu tenho que resolver os meus próprios problemas, se é que

eles existem.

— Tenho sim.

Minha amiga volta a encostar as costas no sofá que fica em

frente a cama do meu antigo quarto. Depois que cheguei do estúdio,

com a cabeça cheia e precisando me distrair, liguei para ela e lhe


chamei para assistirmos filme.

Quando chegou, Ângela logo percebeu que tinha topado um

programa solitário. Além de não assistirmos filme algum, eu a deixei

falando sozinha enquanto minha mente viajava.

— Está bem! Agora me diga, no que tanto pensa para que me

deixe falando sozinha?


— Não sei... Erick anda meio distante desde o dia da festa. E

isso tem o que, cinco dias? O que pode ter mudado em tão pouco
tempo?

— Você tem certeza do que está falando, amiga?


Estou vendo que nem ela é capaz de crer nisso, cinco dias não
é tempo suficiente para que alguma coisa mude, não depois da

surpresa que ele me fez e de ter me tomado tão intensamente após


a festa na piscina.

— Quando você diz distante, quer dizer...


— Não. — Sei que ela vai fazer a pergunta constrangedora. —

Nessa parte as coisas não poderiam estar melhores. — Sinto meu


rosto esquentar apenas pela lembrança.
Nestes últimos dias, Erick tem me procurado com o dobro da

frequência e olha que antes já não era pouca. Ele não só se tornou
mais insaciável como também mudou a forma de fazer sexo. Se

antes ele tinha seus momentos de sexo intenso e mais feroz, agora
esse parece ser o único tipo que ele sabe fazer. É como se Erick

quisesse me marcar como sua, como se nunca tivesse o suficiente


de mim.
Se eu estou reclamando? É claro não estou, é graças a isso

que eu estou conhecendo o seu melhor lado. Por mais que das
outras vezes em que transamos, ele já estivesse me dando uma

amostra do que é capaz, no fundo ainda existia o medo de me


machucar, como se eu fosse um cristal frágil.

Hoje não. Tem exatos cinco dias que ele entrou no seu modo
devasso e nunca mais voltou. Como uma boa devassa, poderia

muito bem-estar radiante de felicidade, mas infelizmente não estou.


Junto com os arroubos de paixão, vem o afastamento. Não é como
se ele me tratasse mal, longe disso. Acho que é mais como um

distanciamento emocional.
A cada vez que terminamos uma rodada de sexo, Erick me

abraça por vários minutos, sem dizer uma palavra sequer, e assim
permanece. Quando não estamos em um momento de intimidade,
ele até tenta ser atencioso ao iniciar algum assunto, o problema é

que o assunto logo morre e entre nós fica um silêncio perturbador.


Não o silêncio confortável que ficava sempre que não tínhamos

nada para dizer um ao outro. Naqueles momentos, não importavam


palavras, tudo o que precisávamos saber era que estávamos bem e

juntos.
A verdade é que Erick tem se fechado dentro de uma concha e
eu infelizmente fiquei trancada do lado de fora.
Disso tudo, só sei que uma coisa muito grave está
acontecendo e que ele, talvez, não queira me contar por não confiar
em mim. Seu silêncio e distanciamento têm me machucado tanto,

que se ele se importa pelo menos um pouco comigo já deve ter


percebido. E se percebeu e não mudou de atitude ou deu pelo

menos uma explicação que seja, é porque talvez esse amor sempre
tenha sido unilateral e eu não tenha passado de uma novidade em
sua vida. Afinal, que homem iria dispensar uma garota que por tanto

tempo andou se oferecendo?


A pior parte disso tudo é o fato do meu corpo ir contra a minha

cabeça. Todas as vezes em que ele vem querendo sexo, eu nunca


consigo dizer não. Eu entrego não só o meu corpo como também o

meu amor e a esperança de ter meu amoroso Erick novamente. No


fim, ao ver que nada mudou, me resta apenas me sentir suja e
usada. Apenas um corpo disponível para o alívio de um momento de

frustração.
É isso, eu perdi o Erick. Se é que algum dia o tive de verdade.

— Minha nossa senhora — Ângela novamente chama a minha


atenção. — Estava perdida em pensamentos novamente, Marina?
— Perdão, Ângela. — Tento ser forte e não chorar. Isso não vai

acontecer, o babaca dos últimos dias, que não é o meu Erick, não
merece uma gota sequer derramada. — Minha cabeça está tão
cheia. — Coloco o polegar e o indicador nas minhas têmporas e
faço movimentos circulares.

— Desabafa, minha querida. Quem sabe isso não alivie seu


estresse.

— É isso que você ouviu, amiga. — Decido colocar tudo para


fora. — Tirando na parte sexual, o Erick tem se afastado a cada dia
mais. Nós não conversamos como antigamente, é como se a

conexão que tínhamos tivesse sido quebrada.

— Mas é um grande imbecil mesmo. E tem um motivo para


isso?

— Eu não sei, ele se fechou completamente.

— Chegou a perguntar? — ela faz a pergunta de um bilhão de

dólares.
— Não. Ele não me dá espaço para isso.

— Vocês têm que conversar. Quem sabe uma boa conversa

não resolve essa situação? — Ela sai da cadeira, senta ao meu lado
e, segurando carinhosamente a minha mão, diz: — Longe de mim

querer defender aquele imbecil, mas você já parou para pensar que

ele pode estar passando por uma barra muito pesada e não está
sabendo lidar com isso, ou que talvez esteja te mantendo de fora

apenas querendo te proteger?


— Confesso que pensei na hipótese de ele está me

escondendo algo, mas o pensamento parou por aí mesmo. Minha

mente fértil não chegou ao ponto de cogitar que talvez ele esteja
querendo me proteger, seja lá do que for.

— Pois devia ter imaginado — agora Ângela fala em tom de

bronca. — Não faço ideia do que se passa com aquele homem,

Marina. A única certeza que eu tenho é a de que ele te ama. Não se


esqueça que eu estava junto no dia em que ele foi escolher isso

aqui para você. — Levanta minha mão e me faz lembrar do anel

lindo que ele me comprou. A verdade é que em meio ao mar de


desilusão, vê-lo ainda com o meu anel no dedo me traz um pouco

de alento. — O Erick que tão pacientemente escolheu o anel

perfeito para você não mudaria de ideia assim, do dia para a noite
— afirma. — E se você quer o meu conselho, eu vou dar: vá

conversar com seu namorado, amiga, não permita que a história de

vocês acabe assim. Não deixe de lutar pela felicidade que

conquistaram com tanto custo.


Como sempre, ela está coberta de razão.
O Erick vai ter que me ouvir. Ele não vai escapar sem me dizer

com detalhes o que está acontecendo.

— Eu te amo. — Abraço minha amiga. — Você sabe disso,


não?

— Sei sim — responde, convencida, logo se soltando. Ângela

não é do tipo que gosta de toques.

— Espero que saiba que pode contar comigo para tudo. —


Segurando em suas mãos e olhando em seus olhos, repito: — Para

tudo mesmo.

— Eu sei, quando precisar de ajuda para pintar as unhas dos


pés, te chamo — brinca, tentando fazer a linha durona.

— Pode chamar, sua boba. — Caímos na risada por relembrar

os tempos em que fazíamos exatamente isso.

— Agora chega, vamos ver o filme ou não?


— Claro, pode escolher.

Ela sai apressada para pegar o controle da TV e decidir o que

veremos.
Mais tranquila e com tudo planejado, deixo-me distrair com o

filme. Quando meu namorado chegar, ele não vai nem ver o trem

desgovernado que irá em sua direção.

Se prepare, Erick Estevan. De hoje você não escapa.


CAPÍTULO 32 SEM SAÍDA

— Caralho. — Pego a folha recém-saída da impressora e pela


décima vez a mesma é amassada e arremessada para a lixeira,

sendo que nem dez por cento desses arremessos alcançaram o


alvo pretendido. Ou seja, minha sala está uma zona de bolas de
papéis espalhadas por todos os lados, assim como tem estado nos
últimos dias.

— Ainda tendo problemas no paraíso? — Silenciosamente,


andando de maneira cadenciada, Bruno mais uma vez invade minha
sala sem pedir licença. Esse é o Bruno, o cara que se acha o dono

do mundo e se não fosse o pequeno abalo que o torna mais


humano, ele certamente seria mais inatingível do que já é. — Não

sei o porquê de eu ainda perguntar. — Ele percebe o estado da


minha sala quando pisa numa bola de papel amassada diferente a

cada passo que dá na direção da cadeira.

— Eu também não sei. Veio fazer o que aqui? — vou direto ao


ponto, hoje eu não estou disposto a aturar o humor ácido do Bruno.

— Se não for nada relacionado ao trabalho, pode se retirar.


— Calma aí, Romeu. — Acomoda-se melhor sobre a cadeira

giratória e fica girando em curtos movimentos de um lado para o


outro. — Ainda é o problema com a Patrícia?

Na segunda, quando eu já não conseguia agir com

naturalidade ante a bomba relógio que está sobre a minha cabeça e


prestes a explodir, acabei abrindo para Bruno sobre as ameaças

que aquela mulher me fez e também do envolvimento de João em

toda a sujeira. Para ele, não foi bem uma surpresa.


Segundo Bruno — que é mais observador que a maioria —,

Patrícia nunca teve competência para se enquadrar no quadro de

advogados de um escritório de renome como o nosso. Para ele, o


fato de João mantê-la e ainda lhe conceder benefícios e

responsabilidades que outra pessoa estaria mais apta em receber,


apenas demonstra que ele tinha alguma estranha ligação com ela

que ia além do trabalho.

Bruno comentou ainda que pelos corredores sempre rolou o

buchicho de que eles eram amantes, o que por ele sempre foi visto

com naturalidade, já que João era um homem solteiro. Para meu

amigo, a única surpresa foi ouvir da minha boca as tramoias feitas


no passado e a chantagem de agora.
— Não tem como ser outro — afirmo, pesaroso. — Estou num
beco sem saída, meu caro.

— Fez o que te falei? — indaga. Bruno é o típico cara que na

hora do aperto aparece para dar os melhores conselhos, mesmo

que não sejam da maneira mais correta do mundo.

— Sim, tentei de tudo e não encontrei nenhuma brecha que

me faça virar esse jogo.


Como ele sugeriu, fui em busca de algum podre que me

ajudasse a neutralizar a chantagem e ameaças feitas por Patrícia.

Fui de detetive particular a sondagem entre os colegas daqui,

principalmente os que ela conseguiu seduzir, e nada deu resultados,

pelo menos nada sério o suficiente para fazê-la temer. Das duas,

uma, ou essa mulher é uma santa — isso eu tenho provas de que

não é — ou muitos aqui têm os rabos presos com ela.


Quanto ao detetive, seu parecer final foi o mesmo que nada.

Disse coisas que a própria me revelou, como, por exemplo, o fato de

ter sido amante de João por todos esses anos.

— Eu sinto muito, cara — diz e seu tom de voz demonstra que

dessa vez ele realmente sente. — E agora? O que você pretende

fazer?
Ele faz a pergunta que eu tenho tentado fugir desde a hora em

que a vagabunda deixou minha sala. Talvez esse temor venha do


fato de não ter muitas opções, e a que tenho me faz ter vontade de

destruir o mundo apenas para não precisar executá-la.


— Ela quer que eu deixe a minha garota, cara. Você tem
noção do que isso significa?

— Que você tem que deixar a sua garota — responde e eu


tenho vontade de matar o idiota. Como ele ousa brincar num

momento como esse?


— Deixa de ser otário, Bruno. É por isso que ninguém te leva a

sério — digo e sua expressão não sofre nenhum abalo, até porque,
é ele quem não leva ninguém a sério.
— Foi mal, Erick. E você, está disposto a fazer o que ela

pediu?
— Eu não tenho outra opção, Bruno — finalmente tenho

coragem de dizer em voz alta.


Conforme os dias foram passando, minha certeza de que não

tem mais o que possa ser feito foi aumentando. Se eu nunca disse
isso em voz alta, foi por saber que só serviria para fazer com que
tudo pareça mais definitivo.
— Acha que seria tão ruim assim se a Marina soubesse da

verdade sobre os pais? — indaga, pensativo. — Ruim eu sei que vai


ser, mas se vocês se amam tanto quanto parece, o seu apoio

certamente daria forças para ela lidar com isso, não acha?
— Acho que sim. Esse é o menor dos problemas, meu amigo.

Se fosse só essa a ameaça, eu mesmo lhe contaria tudo e a


ajudaria a superar o baque — afirmo, convicto. Estar do seu lado
não seria nenhum sacrifício para mim, longe disso, ficar com ela

sempre significou poder apoiá-la em tudo, compartilhar não só da


sua cama, mas também da sua dor. — Se você estivesse lá na hora,

vendo o que eu vi ou escutando o que aquela mulher disse, iria


entender os meus temores. Fazer revelações apenas para magoar
Marina é o mínimo que Patrícia é capaz. Ela mesma disse isso.

— Meu amigo, eu não gostaria de estar na sua pele —


confessa, e eu penso que ninguém gostaria. — Também não queria

dizer isso, mas se você sente que, de alguma forma, Patrícia pode
tentar algo mais sério contra a Marina, o melhor a se fazer é

terminar com ela. Se for te ajudar em alguma coisa, pense que com
isso você está protegendo a sua garota.
— Não ajuda — exponho o sentimento que oprime o meu

peito.
Como vou viver sabendo que para protegê-la tive que lhe
deixar e talvez até magoar? De alguma forma, eu sei que isso não
vai acabar bem. Marina não vai simplesmente aceitar o fim, não sem

antes questionar e tentar entender os meus motivos.


— Sinto muito. Pense nisso como algo provisório. Durante este

tempo, tente com mais afinco encontrar algo para parar as ações
dessa louca. Algum podre ela deve ter — ele aconselha e
prossegue: — Pode deixar que nisso eu faço questão de te ajudar.

Se ela tem algo a esconder, eu vou descobrir.


— Valeu, cara. — Unimos as mãos em uma batida seca, um

toque puramente masculino.


— Agora deixa eu ir que o trabalho me chama. — Assim como

entrou, Bruno sai sem fazer muito alarde, ele marcha até a porta e lá
tateia a fechadura até encontrá-la.
Sozinho novamente, deixo meus pensamentos voarem. Desde

a visita da Patrícia, tem sido impossível para mim agir diferente do


que venho fazendo. Por mais que eu esteja relutante em fazer algo

que magoe minha menina, no fundo eu sei que é inevitável, tanto


que isso já está acontecendo. Quando estou do seu lado, meu
humor fica dividido entre o que meu corpo e coração pedem e a

minha cabeça, que sabe exatamente o que deve ser feito.


Como a garota esperta que sempre foi, minha Marina tem
percebido a diferença no meu comportamento e se ressentindo
disso, ela nunca disse nada, mas eu percebo o jeito que seus olhos

magoados me fitam sempre que minha mente vai em direção aos


problemas que me aguardam. Sinto minhas mãos atadas por não

poder jogar tudo para o alto, lhe abraçar e dizer que tudo vai ficar
bem. Como eu poderia fazer tal coisa se sei que nada vai ficar bem,
se o nosso tempo juntos vai escorrendo pelo ralo minuto a minuto?

Meu corpo, por outro lado, luta contra o iminente corte. Indo na

contramão das outras ações, ele busca por ela, o desejo de antes
triplicou de tamanho. Não tenho agido com racionalidade e quando

começamos a fazer amor, minha mente perturbada toma o comando

e tudo o que eu faço é fodê-la sem parar. O nosso sexo dos últimos

dias pode ser chamado de qualquer coisa, menos de fazer amor.


Minha mulher sempre me entrega tudo o que tem. Sem fazer

um único questionamento e como se soubesse exatamente do que

estou precisando, ela me recebe e se dá como só uma mulher que


ama o seu homem pode fazer. Se fosse possível, nesses momentos

eu seria capaz de amá-la mais do que já amo.

Quando tudo termina, o que sobra são as evidências do nosso


sexo duro. Sua bunda tem as marcas dos meus dedos que a
apertam sempre que, como uma amazona, ele cavalga em cima do

meu colo, e nas minhas costas ficam os sinais dos arranhões que
suas unhas deixam. A ardência que sinto e me impede de encostar

as costas na cadeira lembra-me das feridas não cicatrizadas,

marcas que carregaria com orgulho, caso elas fossem permanentes.


São elas as lembranças vivas da paixão que compartilho com o

amor da minha vida.

Do prazo dado, faltam apenas dois dias, é esse o curto espaço

de tempo que terei para convencer Marina de que não fomos feitos
para ficar juntos.

Sem a magoá-la mais do que o inevitável, arranjarei um jeito

de fazê-la pensar que a relação entre nós nunca dará certo, que
com o tempo nossas diferenças irão ser maiores que o desejo de

ficarmos juntos.

Vou fazê-la acreditar na maior mentira já saída da minha boca


e que Deus me ajude a não fraquejar e cair aos seus pés pedindo

para que me perdoe por ter dito tamanha asneira.

— Sinto muito, meu amor. — Pego o porta-retrato que contém

a imagem de uma Marina sorridente enquanto faz carinho nos


nossos bichinhos de estimação, eles, por outro lado, a fitam com

olhos sinceros de amor e devoção. A simples e espontânea imagem


é tão perfeita, que nem se tivesse sido combinada sairia tão linda

quanto saiu. — Um dia você vai entender. — Beijo o porta-retrato e

o guardo dentro da minha gaveta, assim como faço todos os dias ao


final do expediente.
CAPÍTULO 33 SOZINHA

— Desculpe, querida, agora não. Estou com uma terrível dor de


cabeça. — Essa foi a resposta que ouvi da boca do Erick, assim,
dada de modo distante e sem que ele conseguisse olhar nos meus

olhos.
Dito isso, ele subiu direto para o quarto, que diga-se de
passagem, não é o mesmo que a gente ocupa, e desde então eu

estou aqui, andando de um lado para o outro, sem saber o que


fazer. Toda a coragem obtida com os conselhos da Ângela terminou
indo para o ralo quando sua frase — que certamente é uma mentira

— alcançou meus ouvidos.

Como sei disso? Simples: mesmo sendo esse homem durão e


autossuficiente, Erick fica como um bebê chorão e manhoso quando

está com alguma doença. Ele não tem esse tipo de atitude que teve

agora, é mais do tipo que fica choramingando no meu colo. Sempre


que acontece, faço questão de cuidar dele, de mimá-lo e lhe dar os

remédios necessários para que fique bem novamente.


Ele não faz diferente comigo, em meus piores momentos,

principalmente nos períodos menstruais, meu namorado sempre faz


questão de fazer todas as minhas vontades. Entre tentar me

acalmar nos momentos críticos de TPM até a comprar os chocolates

que eu sinto vontade de comer nas horas mais inusitadas, ele


sempre faz de tudo para que eu volte a me sentir bem.

Agora, tudo está diferente. Eu não mudei, nada mudou, para

ser sincera. Então, o que foi que eu fiz para, de uma hora para
outra, ele começar a me tratar com tamanha indiferença?

— Calma, Marina — digo enquanto, de um lado para o outro,

meus pés estão a ponto de furar o tapete. — Se você não for lá e


perguntar, nunca irá saber. Pense na conversa que você teve com a

Ângela...
Decidida e tendo a certeza de que Erick não foi para o nosso

quarto, saio verificando em todos os outros seis quartos vazios.

Quando o encontro, o fato de vê-lo no último quarto do corredor só

serviu para aumentar ainda mais o buraco dentro do meu peito.

Ao sentir minha presença, ele, que estava de costas e, pelo

que suponho, abrindo os últimos botões da sua camisa social, se


vira, me encara exasperado e começa dizendo:
— Querida, eu não estou num bom momento — afirma e seu
olhar perdido me tira a certeza de que sua dor de cabeça seja

apenas uma mentira para não ter que estar na minha presença.

— Por que você não foi para o nosso quarto? Se o problema é

só a sua dor de cabeça, poderia ter ficado lá mesmo. Eu não iria

incomodar.

— Esse aqui é melhor, por causa da vista para o jardim. Ele é


mais arejado. — “Do mesmo modo que o nosso”, tenho vontade de

dizer. Eu conheço essa mansão como a palma da minha mão para

saber esse tipo de informação.

— Erick, por que você não conversa comigo? Eu sei que tem

alguma coisa acontecendo aqui e você está me deixando de fora —

vou direto ao assunto, deixando os temores de lado e sem medo do

que vou ouvir.


— Não tem nada acontecendo — fala de maneira calma e

seca. — Eu só preciso ficar sozinho por um tempo. Dá para

entender isso ou do alto do seu egoísmo é impossível ter mais

empatia pela dor do próximo?

— Você está mesmo me chamando de egoísta? — Sinto

vontade de chorar, mas não vou dar esse gostinho a ele. — Erick?
— Eu... — Dá um passo à frente, mas, como se alguma coisa

estalasse na sua cabeça, ele para e não diz ou faz nada para
consertar o que falou, pelo contrário, torna as coisas ainda piores.

— Por favor, me deixe sozinho. Eu não te quero aqui — afirma, sem


conseguir olhar para o meu rosto.
— Por que você não olha para mim? — Chego perto e seguro

seu rosto entre as minhas mãos, o obrigando a me encarar. —


Quero que diga isso olhando nos meus olhos. Fale, Erick.

Sem acreditar que ele tem coragem de fazer isso, vejo Erick
segurar as minhas mãos, tirá-las do seu rosto e repetir olhando bem

dentro dos meus olhos, assim como eu pedi:


— Eu não te quero aqui, entendeu?
Neste momento, as lágrimas que com muito custo tentei

engolir escorrem sem freio, mas não foram só as lágrimas que


decidiram ir embora aqui. A minha paciência também resolveu que

era a hora de dizer adeus. Sem controle, e talvez sem maturidade,


lhe ataco com os punhos fechados dando socos ligeiros e certeiros

por todas as partes que consigo alcançar do seu peito. Junto com as
agressões e lágrimas, há uma torrente de palavras que não podem
ser reprimidas.

Não dessa vez.


— Eu te odeio, Erick — digo desesperada, ao mesmo tempo

em que ele tenta conter meus braços e mãos, que nada querem
além de lhe machucar tanto quanto suas palavras me magoaram. —

Era isso que você queria, não era? — Com a voz embargada, tento
inutilmente soltar meus pulsos que ele tenta conter. — Então, você

conseguiu, senhor Erick Estevan. Parabéns! Fique aqui com o seu


silêncio e com a sua dor de cabeça. — Mais uma vez, tento me
afastar do seu toque e mais uma vez não só não consigo, como

também sou surpreendida com um inesperado abraço. Muito


magoada, meus braços permanecem pendurados, ao passo que ele

me aperta tanto que tenho a sensação de que a qualquer momento


meus ossos irão ser quebrados. — Me solte, Erick. — Subo os
braços para empurrar seu peito e tirar sua cabeça da curva do meu

pescoço. — Sou eu quem não quer mais ouvir.


Derrotado e como quem se dá conta de que acabou de fazer

uma coisa muito errada, Erick caminha para longe e quando acha
que já nos impôs distância o suficiente, ele me vira as costas,

dizendo:
— Perdão, eu realmente não sou uma boa companhia. Talvez
seja melhor assim... — ele fala com dificuldade. — Se ficar aqui, eu
posso falar coisas que você não gostará de ouvir e que talvez mais
tarde eu mesmo me arrependa de tê-las dito.
— Acho difícil você me dizer palavras mais cruéis do que já

disse. — Resoluta, termino de secar meu rosto, e como se esse


gesto me deixasse mais forte, levanto o queixo, altiva, mesmo

sabendo que ele não pode ver, e digo: — Eu tentei, Erick. Eu juro
que tentei, mas pelo visto foi você quem desistiu.
De cabeça erguida, levo-me até a porta e ao fechá-la do lado

de fora, não penso duas antes de sair correndo pelo comprido


corredor, só parando para respirar quando me vejo em frente ao

meu antigo quarto.


Assim como Erick fez, só que por motivos completamente

diferentes, eu não consegui entrar no nosso quarto e ver a cama em


que por tantos meses dormimos e fizemos amor. Fazer isso seria
como me impor uma tortura que eu não suportaria vivenciar, não

hoje e talvez nunca mais.


Na intimidade do meu quarto, passo a chave na porta, para

depois me jogar na cama. Tendo o travesseiro como meu principal


ouvinte, solto o grito de desespero que tanto segurei. Depois do
grito de desabafo, ele agora recebe a umidade de todas as lágrimas

que tentei não derramar na frente do babaca.


— Ai, papai, por que o senhor se foi e me deixou sozinha? —
Agora choro não só por Erick, mas pela saudade do meu pai que
parece aumentar a cada dia. — Lembra do que o senhor prometeu?

— Pego sua foto de cima da minha cabeceira e acaricio o seu rosto.


— Lembra quando disse que seríamos eu e você contra o mundo?

Então, agora sou só eu contra o mundo, papai. — Abraço sua foto


como se seus braços estivessem me acalentando. Como sempre
fez, até o dia do seu último suspiro.

Em um mundo em que uma mãe abandona a própria filha

praticamente bebê, é um privilégio para poucos ter um pai que, ao


invés de chorar as mágoas, não faz nada além de dar amor para

essa criança. Na fase do colégio, onde as crianças podem ser cruéis

quando assim o querem, seu João não me permitiu passar por isso,

não importava qual fosse a data comemorativa, ele sempre estava


lá, na fila, batendo palmas e tendo orgulho de mim.

— O Erick quer me abandonar, assim como a minha mãe me

abandonou e assim como o senhor me deixou. — Soluço, ainda


abraçada ao porta-retrato. — Eu não sei, pai, eu não sei o que fazer

para evitar isso. Como eu poderia, se nem ao menos sei onde errei?

Deitando-me de bruços, vejo um filme dos últimos meses


começar a passar pela minha cabeça. Com um sorriso no rosto,
lembro do dia em que, revoltada, recebi a notícia de que papai tinha

incumbido Erick de ser meu tutor, do dia em que ele se declarou, do


dia em que fizemos sexo pela primeira vez e, mais recente — com

meu rosto não mais ostentando o sorriso triste de antes —, lembro

de suas declarações ao me dar o deslumbrante anel de


compromisso, ocasião que ocorreu pouco antes de vivermos nossas

últimas horas realmente felizes.

Desde então, há cinco dias para ser mais específica, esses

momentos felizes, que aquecem o coração e não só o corpo, se


tornaram apenas lembranças. Talvez apenas memórias boas que no

futuro servirão de consolo, que irão me lançar para uma época em

que eu, de maneira ingênua, nutria a ilusão de ter encontrado o meu


final de conto de fadas.

Depois de secar todas as lágrimas e de deixar que todos os

pensamentos bons e ruins escapem, ajeito-me melhor sobre a cama


e ainda com a foto do papai na mão, caio em um sono tranquilo e

sereno, onde sonho o mundo ideal, um mundo em que papai não

me deixou tão cedo e onde Erick, o único amor que conheci, não

esteja na iminência de me deixar.


CAPÍTULO 34 SAÍDA

— O Erick quer me abandonar, assim como a minha mãe me


abandonou e assim como o senhor me deixou. Eu não sei, pai, eu

não sei o que fazer para evitar isso. Como eu poderia, se nem ao
menos sei onde errei?
Do lado de fora, lutando para não entrar e acabar com tudo,
ouço a última e dolorosa parte do seu desabafo.

Ouvi-la dizer que está sozinha, e que não sabe onde foi que
errou para que eu esteja agindo dessa forma traz uma dolorosa
sensação de mil agulhas espetando o meu coração.

Como conviver com o fato de que para protegê-la estarei


destruindo não só o nosso amor, como também o seu psicológico?

Como ela mesma disse, Marina já sofreu perdas demais com tão
pouca idade, eu só não quero ser mais um na lista, e sei que jamais

farei parte dos que partiram. Ela não sabe disso, mas precisa saber.

Se Marina não é capaz de viver bem com a separação, tão


pouco eu sou.
A cena que fiz no quarto foi de uma crueldade sem tamanho.

Ter que a rechaçar quando, provavelmente, só chegou a esse ponto


de vir me confrontar por já não aguentar mais a minha indiferença,

me doeu mais do que as palavras podem expressar. Ao mesmo

tempo que mandava ela embora, minha vontade era de pedi-la para
que ficasse, que me perdoasse por ter falado tantas mentiras e que

me deixasse amá-la até que entendesse que nada no mundo me é

mais precioso do que ela. Que numa realidade em que os


problemas não estejam batendo na nossa porta, eu jamais lhe

viraria as costas.

Preocupado por perceber que os soluços pararam e tudo está


em silêncio, decido — sem pensar nas consequências — entrar e

falar com ela. Que se dane tudo, eu não vou deixar minha mulher
dormir longe de mim e ainda pensando as piores coisas. Não

importa que tenha sido eu a fazer isso.

Decidido, giro o trinco e logo me deparo com a porta trancada.

— Inferno! — xingo pela frustração de ter meus planos

refreados por uma maldita porta trancada.

“E se aconteceu alguma coisa com minha pequena? E se ela


tiver passado mal dentro do banheiro?” Esses são os pensamentos

trágicos que rodam minha cabeça enquanto desço apressadamente


as escadas para ir atrás da chave reserva. A minha sorte é que
todos os quartos possuem essas chaves, elas existem justamente

para ocasiões como essa, em que uma porta trancada não é uma

opção a ser aceita.

— Seu José, o senhor sabe onde posso encontrar a chave

reserva do quarto da Marina? — indago ao caseiro da mansão,

depois de bater na porta de sua casa.


Essa é uma informação que eu deveria saber e estranhamente

não sei. Quer dizer, não tão estranho assim, nunca imaginei que

precisaria utilizar-me dessa informação e, como o homem prático

que julgo ser, só vou atrás de assuntos que num futuro próximo

serão de alguma serventia.

— Está no quadro de metal que fica na parede da cozinha —

diz com um incontido olhar julgador. — E, perdão por falar, senhor,


mas é lá que ela tem estado a vida toda. — Ele tem razão, devo ter

passado pelo quadro de metal uma centena de vezes, sem nunca

ter percebido.

Parece que alguém aqui precisa prestar mais atenção no

mundo à sua volta.

— Boa noite, seu José, e desculpa o incômodo — digo e saio


apressado.
Quando chego no bendito quadro de metal, pego a chave que

pela numeração suponho ser a do antigo quarto da pequena.


De dois em dois degraus, subo as escadas e, ao parar

novamente em frente a porta, o medo começa a me consumir.


Não sei o que vou encontrar e muito menos o que falar. Só
espero que esteja tudo bem.

Eu jamais vou me perdoar se de alguma forma minhas


palavras e ações de hoje e dos últimos dias resultarem em um dano

mais severo para a Marina.


— Vamos lá, Erick, você tem que consertar a merda que fez...

— digo em voz alta.


Eu achei mesmo que conseguiria colocar esse plano em
prática? Como seria possível se poucos minutos depois estou

voltando atrás?
Quando a porta finalmente se abre, a cena à frente faz minha

garganta se fechar quase ao ponto de não conseguir respirar.


Deitada de maneira atravessada na cama, meu amor dorme

agarrada a um porta-retrato, que cuidadosamente tiro de suas


mãos.
Ao aproximar a foto para perto dos meus olhos, vejo que se

trata de uma foto dela, feliz, enquanto andava de bicicleta com o


auxílio do seu pai. Como dizer para a Marina, que tem tanta

devoção por João, que ele não era esse homem perfeito que ela
imagina?

Por outro lado, as revelações feitas por Patrícia, que me


fizeram abrir os olhos para várias coisas em relação ao meu melhor

amigo, não mudaram em nada a certeza que eu tenho do seu amor


e devoção pela filha. Se ele foi fraco em tantas outras coisas, isso
em nada atingiu a relação dos dois. É nisso que eu continuo

acreditando e espero que Marina pense da mesma forma quando


descobrir a verdade, principalmente no que diz respeito ao motivo

de sua mãe ter lhe deixado.


— Meu amor... — Aproveito-me do seu sono para fazer o que
por tantos dias não faço. Carinhosamente, tiro as mechas de cabelo

que cobrem o seu rosto e passo delicadamente o dedo indicador na


sua bochecha corada pelas lágrimas. — Me perdoe. — Sento na

cama, abaixo o tronco na altura do seu rosto e sussurro perto do


seu ouvido: — Era tudo mentira, tudo o que se passou nos últimos

dias foi uma grande mentira. — Beijo primeiramente sua bochecha e


depois o canto da sua boca. — Eu te amo. Está me ouvindo? Eu te
amo, Marina.
— Erick... — Ela se mexe, incomodada, sem, no entanto, abrir
os olhos. — Eu te amo, não faça isso, por favor. — Afasto-me,
assustado, ao passo que, debatendo-se com mais vigor, ela

continua a falar, só que agora entre lágrimas: — Não, papai, o


senhor prometeu... Volta, prometo ser uma boa menina. — No

pesadelo, ela mistura todos os seus temores. — Você também,


Ângela... — Em agonia, balança a cabeça de um lado para o outro.
— Cadê todos vocês...? — ela questiona, e a sua voz vai morrendo,

sobrando apenas o choro desesperado.


Quando não suporto mais, saio do torpor que meu corpo e

mente entraram por presenciar o estrago que os meus atos e


palavras foram capazes de fazer na sua cabeça. A cena de mais

cedo foi apenas a gota d'água. Quantos dias ela não deve estar
guardando isso para si, se sentindo rejeitada? E para piorar, eu
ainda fui burro de não saber controlar meus medos e sentimentos e

mesmo em meio à crise, não deixei de transar com ela, pelo


contrário, sexo foi o que mais fizemos até agora.

Minha mulher, além de tudo, deve estar achando que eu só


queria usá-la para o sexo, para satisfazer a minha lasciva.
Eu achei que conseguiria, mas não vou. Não posso fazer isso

com meu amor. Tem que ter outra saída. Vou até o inferno se for
preciso, mas eu não vou deixar a minha Marina, jamais!
— Ei, acorde, meu amor. — Lhe sacudo delicadamente pelo
ombro. — Já passou, foi apenas um pesadelo. Está vendo? —

Depois de uns segundos, Marina vai se acalmando, as palavras


cessam, restando apenas os soluços. Pouco a pouco, ela vai

voltando a consciência.
— Erick... — fala de maneira quase inaudível, ainda confusa.
— O que você está...? — Tenta se sentar, mas eu impeço ao apoiar

os braços nela, um de cada lado do seu corpo.

— Calma, linda. — Ainda sonolenta, ela me olha confusa e


desiste de fazer perguntas. — Você estava no meio de um

pesadelo, agora vai ficar tudo bem. — Como quem acredita no que

eu digo, ela apenas balança a cabeça.

A fé que Marina deposita e sempre depositou em mim jamais


deixará de me surpreender e alegrar. É por isso que não posso

desistir, não sem antes lutar.

— Quais são as horas? Mais cedo você disse que... — se


interrompe, não parece querer repetir o que ouviu.

— Amanhã nós conversamos, tudo bem? — Bastante

desnorteada, ela concorda com um movimento de cabeça. — Agora


volte a dormir, eu sei que você quer e precisa disso. — O dia de

hoje não deve ter sido fácil para ela.


Sem nada mais dizer, minha namorada permanece com os

olhos vidrados em meu rosto, que está bem próximo ao seu. Ela age

como se o calor da minha respiração fosse o remédio que necessita


para ficar tranquila e assim permanece até que cai em um sono que

dessa vez parece ser mais tranquilo.

Com cuidado, tiro as sapatilhas pretas que ainda calçam os

seus pés, tiro sua calça jeans desfiada e, por fim, abro o fecho
frontal do seu sutiã rosa, deixando-a confortável e vestindo apenas

regata branca e uma calcinha rosa.

— Chega disso! — Pego-a delicadamente nos meus braços e


me dirijo para a porta. — Vamos para o nosso quarto — falo no seu

ouvido.

Ao chegar, lhe deito do lado da cama que ela dorme todas as


noites. Depois de cobri-la com a coberta, rumo para o banheiro,

tomo um banho; faço a minha higiene básica e volto para perto dela.

Deitando com cuidado para não a acordar, trago o seu corpo

para junto do meu e, abraçando sua fina cintura numa bem


encaixada conchinha, deixo os problemas e preocupações irem para

o fundo da minha mente.


Quando o sono vem, a única certeza que tenho é a de que não

tem Patrícia com chantagens e ameaças que me faça abrir mão do

meu amor, a relação que construímos não será desfeita assim, tão
facilmente.

Eu vou encontrar um jeito de neutralizar as ameaças dessa

mulher. Ela vai deixar Marina viver em paz, eu mesmo irei garantir

isso, nem que seja a última coisa que faça na vida.


Sobre o término do prazo que está prestes a findar, talvez eu

tenha encontrado uma saída.


CAPÍTULO 35 ÁGUA FRIA

De manhã cedo, acordo com a claridade vinda da janela, que teve


as cortinas arregaçadas. Ao prestar mais atenção, me dou conta de
que não estou no mesmo quarto em que fui dormir ontem à noite, ao

invés disso, estou no quarto em que há meses venho dividindo com


Erick.
Erick... Será que foi ele quem me trouxe?

Aos poucos, as lembranças da noite anterior invadem minha


mente e a ferida aberta de dias volta a sangrar. Todo o
distanciamento de Erick foi fichinha perto da forma que me tratou

ontem naquele quarto de hóspedes. Ele me mandou embora sem se

importar com os meus sentimentos. O cara que disse isso nem de


longe lembra o homem gentil e apaixonado que sempre demonstrou

ser.

O estranho é que entre o Erick do quarto de hóspedes e o fato


de eu estar de volta ao nosso quarto, existe um lapso perturbador.
Na minha cabeça, os acontecimentos se misturam e não tenho

capacidade de discernir a realidade do sonho.


Sei que algum tempo depois de ter caído no sono, exausta de

tanto chorar, comecei a ter um pesadelo que envolvia todas as

pessoas que amo. Nele, elas me abandonaram e eu me via


caminhando sem rumo, chorando e sem ter para onde ir, eu gritava

por eles e ninguém me ouvia, até que apareceu Erick no meu

caminho e eu finalmente voltei a respirar. No sonho, que já não era


mais um pesadelo, ele me fazia carinho e dizia que tudo ia ficar

bem, que era apenas um pesadelo. Eu devo ter acreditado, porque

depois disso, senti meu coração voltar a bater feliz e o medo de ficar
sozinha ir embora.

Será que foi tudo fruto de um sonho ou aconteceu de verdade?


E se não foi um sonho, por que Erick faria uma coisa dessas, logo

depois de ter me escorraçado para longe dele?

Como se ouvisse os meus pensamentos, entra no quarto o

homem que já não sei definir qual a sua posição na minha vida. Ele

está sorridente e com uma bandeja contendo o que suponho ser o

meu café de manhã. Erick se aproxima, senta próximo a mim e eu,


imaginando que é o que se espera, também me sento, só que

encostada na cabeceira da cama.


— Bom dia — cumprimenta com tranquilidade.
Esse homem só pode ter algum probleminha na cabeça. Cadê

o macho escroto do quarto de hóspedes e de toda a semana que se

passou?

Morreu ou foi substituído?

Aproveitando que ele está ocupado em colocar a bandeja de

madeira em cima das minhas pernas, aproveito para passar


rapidamente as mãos pelo cabelo, limpar as remelas dos olhos e a

saliva que pode ter escorrido enquanto eu dormia. Quanto a cara

inchada pelo sono e mais ainda pelo choro, não posso fazer nada a

respeito.

Talvez seja até bom que ele me veja dessa forma, quem sabe

assim aprenda como se deve tratar uma mulher. Isso se ele tiver

arrependido de alguma coisa.


— Bom dia. — Olho pela primeira vez para a bandeja de

comida e vejo que ele teve o cuidado de colocar um copo de suco

de laranja natural, um pedaço generoso do meu bolo preferido e

também pedaços de manga e mamão.

Apesar de toda a comida, o que me chama mais atenção é o

jarrinho com dois girassóis dentro. Depois que termino de analisar


tudo, levanto o olhar e o encontro me avaliando cheio de

expectativas, talvez esperando para ver se eu gostei do seu gesto.


Será que o Erick pensa que um simples café da manhã — que

eu amei, diga-se de passagem — vai apagar e me fazer esquecer


tudo o que houve entre nós na última semana?
Calma lá, o cara ainda nem abriu a boca. Talvez ele só esteja

se sentindo culpado e por isso teve esse gesto.


— Espero que goste, tentei colocar aí tudo o que você gosta

de comer — afirma, parecendo sem jeito.


De novo, não aguentando a expectativa, lanço a famosa e

temida frase, que muitas das vezes significa o término de uma


relação:
— Acho que precisamos conversar, Erick.

— Sim, nós precisamos. — Esse Erick, de algum modo, me


lembra mais o meu namorado do que o estranho de ontem. — Mas

primeiro eu quero que você tome o seu café da manhã. Depois


conversamos, tudo bem?

— Não vai para o escritório? — Pelo sol que adentra pela


janela, suponho que já era para ele ter ido para o escritório. Eu, por
mais que goste de trabalhar no estúdio, fiquei feliz quando Lua me
disse que se não quisesse não precisaria ir hoje, já que as coisas

estão mais tranquilas por lá.


— Talvez na parte da tarde, tenho alguns assuntos para

resolver por aqui — fala, e seu tom de voz deixa claro que a nossa
relação é um desses assuntos a serem resolvidos.

Enquanto tomo café igual a uma condenada que está há dias


sem ver um prato de comida, Erick continua sentado na minha
frente — vestindo nada mais que sua calça moletom, que o deixa

mais sexy do que minha saúde aguenta —, olhando sem parar para
minha boca que não para de mastigar. Como de tudo um pouco,

porque se tem uma coisa que não vai embora nem nos momentos
de maiores crises, essa coisa é meu apetite. O mundo pode está
prestes a desabar, mas sem comer eu não fico.

Se não estou acima do peso, tenho que agradecer aos bons


genes dos meus pais e também a academia que passei a visitar

com mais frequência, não por ter uma maior preocupação com o
corpo ou algo do tipo. O fenômeno tem mais haver com a

descoberta do quanto meu namorado fica sexy quando está


pingando suor, trajando somente o seu short revelador que é usado
especialmente para malhar. A minha sorte e da minha saúde é que

temos academia em casa. Não sei se saberia lidar com toda a sua
gostosura sendo exposta para outros olhos famintos além dos
meus.
A melhor parte de acompanhar o tour da malhação é quando

ele, já eriçado com a minha aberta admiração, me chama para cima


de qualquer um dos aparelhos e lá mesmo mata a minha frustração.

Se eu for parar para pensar, não sei se ainda tem algum aparelho ali
que não tenha sido batizado por nós. Ainda bem que somos só eu e
ele a utilizar essa academia.

Céus! Se controla, o cara pode estar prestes a te dar um pé na


bunda e você está delirando com as proezas sexuais dele?

Por outro lado, é melhor pensar em sexo do que começar a


fantasiar o teor da conversa que ele pretende ter comigo. Talvez eu

até já saiba, então, não há nada de mais em pensar nos nossos


bons momentos, afinal, esse provavelmente será o meu futuro
próximo, um amanhã onde só existem lembranças.

Ainda em silêncio e sem mover um músculo, nem mesmo do


rosto, ele continua a acompanhar os movimentos da minha boca. A

dúvida aqui é se ele está sentindo vergonha alheia pela minha


voracidade ou se é outra coisa. A julgar pela almofada que ele
acabou de pegar e colocar em cima do colo, tudo leva a crer que

esteja ficando...
Não, esse homem não ficaria excitado apenas por me ver
comendo, ou será que ficaria?
— Terminei. — A fim de acabar com a expectativa que me

corrói a alma, fico de joelhos em cima do colchão, aproximo-me do


criado-mudo, afasto os diversos objetos que estão espalhados e em

cima coloco a bandeja praticamente vazia.


No momento em que vou voltar para o meu lugar, noto que
estou apenas de regata e calcinha. Meu rosto arde na hora e eu só

consigo olhar para Erick que no momento fita o mesmo lugar que

eu. Envergonhada, subo a coberta até a cintura e pergunto:


— Foi você quem...? — Como uma boba, fico sem jeito de

continuar a frase. Não é como se ele já não tivesse feito isso antes.

Depois de meses morando juntos, meio que não existe mais espaço

para pudores entre nós. Assim como eu o conheço, ele conhece o


meu corpo como a palma da sua mão. Menos, é claro, o terreno

proibido, mais conhecido como a minha bunda, que ele sonha em

conquistar. Para deixá-lo ainda mais ansioso, eu sempre frustro


suas intenções ao dizer que minha bunda ele vai ter que fazer por

merecer, que não vai ser tão fácil quanto a boceta.

Em resposta, Erick apenas dá um sorriso de canto, como


quem sabe que está no controle. E ele está mesmo, pois, tenho a
plena convicção de que ele sabe exatamente como me fazer ceder,

só não o fazendo porque prefere me ver pedindo com todas as


letras. Eu até tenho vontade de fazer sexo anal e fico excitada

quando o sinto me tocando lá, mas e o medo de ter a coisa gigante

que ele carrega no meio das pernas tentando entrar em um buraco


tão apertado?

— Foi. Quando vi dormindo de jeans, imaginei que poderia

estar desconfortável e decidi tirá-la. Fiz mal?

— Não, você sabe que não — digo. Entre nós não é novidade
que se tiver alguma coisa me incomodando, meu sono não é tão

tranquilo.

Para nossa sorte, ele não tem o hábito de se mexer durante o


sono.

— Podemos conversar agora? — insisto novamente, mesmo

que o frio na minha espinha esteja ameaçando se transformar em


uma dor de barriga.

Mas é melhor que seja agora do que ficar adiando o inevitável,

de qualquer forma essa conversa tem que acontecer.

— Claro — confirma, agora mais sério. É como se ele não


soubesse a melhor maneira de abordar o assunto. Ai, meu Deus,

isso não é um bom sinal. — Em primeiro lugar, eu preciso que você


me desculpe pelo que fiz ontem e por todos os outros dias. Eu sei

que te deixei de lado, Marina. — O começo já não é muito animador.

— Me perdoe?
— Claro — digo da boca para fora, o perdão dependerá de

suas próximas palavras, porque suas atitudes têm de ter um motivo.

— Eu só preciso entender.

— Tudo bem, princesa, mais tarde você vai entender as


minhas razões — diz e deleto o resto das palavras depois do

“princesa”.

Seja lá o que estiver acontecendo, sim, porque está mais que


claro que tem alguma coisa acontecendo, o tratamento carinhoso já

aumenta as minhas expectativas.

— Antes de mais nada, você tem que saber que eu...

— Que você?
— Preciso terminar com você.

É neste momento que vem o balde de água fria, a desilusão

vem junto com a frase que eu mais temia ouvir da sua boca.
O que ele veio adiando por dias, finalmente foi concretizado.
CAPÍTULO 36 FAZENDO AS PAZES

Ao revelar o que por quase uma semana escondi, de imediato sua


disposição em aceitar me ouvir se esvai como uma gota de água no

deserto.
Ao decidir mimá-la com um café da manhã na cama e com as
coisas que eu sei que ela gosta, não imaginei que seria tão burro
com a tamanha falta de sutileza com que dei a notícia.

Quando acordou e se viu de volta ao nosso quarto, com o seu


coração bom de sempre, não fez o que muita gente faria e se
fizesse, eu saberia que fiz por merece. Ao invés de me expulsar —

assim como eu fiz —, em todo esse tempo, minha menina pareceu


querer me escutar. Esteve disposta a dar a chance que eu não

mereço e essa falta de tato serviu apenas para reafirmar o quanto


sou idiota.

Vamos lá, rapaz. Se acalme, você está nervoso e falando

bobagem. Quer mesmo perder a sua mulher?


— Você precisa ou você quer terminar comigo? — Como a

menina forte que sempre foi, ou ao menos luta para ser, Marina logo
troca a expressão de decepção pela de resignação. É como se

tivesse desistido de nós, de tentar me entender.


De tudo.

— Eu não quero e não vou me separar de você — digo ao

mesmo tempo em que chego perto do seu corpo e seguro seu rosto,
para que me olhe dentro dos olhos. — É mais fácil o inferno

congelar do que existir Erick sem Marina.

Emocionada e ainda assim confusa, ela tira minhas mãos do


seu rosto, abaixa até que estejam em cima do seu colo e, me fitando

nos olhos, indaga:

— O que está acontecendo, Erick? — pergunta e analisa todo


o meu rosto, quem sabe em busca da verdade. — Esses dias você

não parecia o mesmo...


— Perdão, meu amor. — Sem conseguir me conter, mesmo

em meio a uma conversa tão séria, aproximo nossos corpos ainda

mais. Tendo ela quase sentada em mim, beijo carinhosamente cada

canto do seu rosto e deixo por último a boca. Ao abocanhar seus

lábios carnudos, faço o que há muito tempo venho me abstendo de

fazer, não que eu não tenha lhe beijado desde que essa crise
começou, é só que não era a mesma coisa.
Como aproveitar o doce e inebriante sabor da sua mulher
quando se tem uma bomba relógio prestes a explodir bem na sua

cara?

Dessa vez não, agora eu a beijo e me deixo ser beijado com

todo o amor e devoção que tenho por ela. Com a língua, varro todos

os cantos da sua boca, e de maneira erótica e com a experiência

que com muito orgulho lhe proporcionei, minha deliciosa namorada


me presenteia com movimentos sensuais de me oferecer e depois

esconder a sua própria língua. No percurso, ela me dá pequenas e

excitantes mordidas e eu como um homem sedento por sua mulher,

tenho que me segurar para não mandar a conversa e todo o resto

para a puta que pariu.

Tudo o que eu quero agora é fazer amor com minha garota e a

julgar pela voracidade do nosso beijo — que mais parece uma


simulação de sexo —, ela também quer isso na mesma medida que

eu.

Fraco, não tenho forças para interromper seja lá o que

estamos fazendo com as nossas bocas. Só depois de um tempo,

quando a falta de ar já não nos permite continuar, terminamos o

delicioso, faminto e erótico beijo sem fôlego.


— Perdão. — Desnorteado, não consigo tirar os olhos da sua

boca úmida, vermelha e até um pouco inchada do nosso beijo duro.


Aliás, duro é uma palavra que eu não deveria pensar, porque pensar

nela me levaria a pensar em outra parte da minha anatomia e se


ainda não posso fazer nada a respeito, o melhor é manter meus
pensamentos longe. — Quer dizer, isso eu já disse. — Por que de

repente eu me sinto como um moleque que não sabe se comportar


na frente da namoradinha? — Agora só falta todo o resto.

— Foco, Erick, pelo jeito que você anda agindo, nem imagino o
quanto tem sido duro para você.

Puta que pariu! Essa palavra, não!


Sem poder fugir, termino por responder:
— Muito duro, duro demais — afirmo e ela olha para o meu

moletom, que não deixa de entregar o tamanho da dureza.


— Se precisar, você sabe que pode contar comigo, não é, meu

amor? — oferece e já nem sei o que me surpreende mais: se é ela


ter me chamado de amor ou se é rumo que essa conversa tomou.

Quando foi que o desejo de explanar as ameaças da Patrícia


se tornou preliminares para o sexo, isso quando nós nem fizemos as
pazes ainda? Quer dizer, ela fazer as pazes comigo, já que para

mim que sei de tudo, nós nunca estivemos realmente brigados.


Apenas fui idiota ao ponto de pensar que conseguiria ir até o

fim. Tenho convicção de que é um plano arriscado, mas eu vou


proteger a princesa e garantir que Patrícia nunca chegue perto dela.

O que não posso é deixar que continue pensando mal de mim e que
duvide do meu amor por ela. Com isso eu não conseguiria conviver.

— Amor, como pode querer transar em um momento como


esse? Não tem curiosidade? — indago, mesmo querendo tanto ou
mais que ela.

Sei que não é uma coisa da qual posso me orgulhar, mas


nosso desejo pelo outro é tão grande que mesmo estando mal, a

ponto de enlouquecer com o iminente fim da nossa relação, eu não


consegui me manter longe. Mesmo tendo noção do mal que poderia
estar causando, meu corpo sempre arrumava um jeito de trazer de

volta a proximidade que meus atos foram capazes de eliminar.


— Tenho sim, mas só o fato de te ouvir me chamar novamente

de amor me faz ter a esperança de que seja o que for esse assunto,
nós vamos ficar bem. Nós vamos ficar, não é? — fala, querendo ter

uma dose de segurança.


— Ainda não sei ao certo, princesa, no que depender de mim,
tudo vai ficar bem. Do jeito que era antes.
— Eu acredito — afirma ao levar os olhos novamente para o
meu colo.
Eu não a julgo pela falta de concentração no assunto, até

porque seria difícil ignorar o fato do meu maldito moletom marcar a


minha ereção em toda a sua glória. Assim como é impossível

ignorar o fato de saber que por baixo das cobertas ela não usa nada
mais do que uma pequena calcinha rosa, que faz par com o sutiã
tirado por mim ontem a noite.

— Só acho que poderíamos cuidar de assuntos mais urgentes


primeiro — ela fala com malícia.

Nem nos meus melhores sonhos eu imaginei Marina assim,


tão boca suja, receptiva e do tipo que não tem medo de pedir pelo

que quer. Ela não tem o menor pudor de me procurar ou de se


insinuar quando sente vontade de transar. Cheio de tesão pela
atitude, faço tudo e mais um pouco das suas vontades. Devo

confessar que um dos locais mais incríveis onde fazemos sexo é na


nossa academia.

Não sei se posso atribuir ao ambiente ou o fato dela ficar uma


delícia com seus shortinhos de malha e tops que deixam a
barriguinha de fora, só posso afirmar que se os aparelhos e chão
falassem, com certeza seriam histórias para maiores de dezoito
anos.
— Você é uma safada, sabia? — Desço cuidadosamente seu

corpo para a cama, tendo-a deitada novamente. — Muito safada. A


minha gostosa. — Tiro a coberta que antes afastava meus olhos da

visão do paraíso.
— Meu Erick... — Marina ofega ao me ver deitar em cima do
seu corpo e enrolar a regata para cima, deixando assim os

deliciosos peitos livres para meus olhos e boca.

— Como você quer, minha linda... — Fecho os lábios em torno


no seu mamilo duro e, sem deixar de olhar em seu rosto, brinco com

seu montículo fazendo movimentos de vai e vem com a língua —

um amor gostosinho ou uma trepada nível hard? — Passo para o

outro seio, fazendo o mesmo que fiz no anterior.


— Quero do jeito que fez todos esses dias, não quero que

volte a ficar cheio de dedos. Prefiro o verdadeiro Erick, o macho que

come a sua fêmea com voracidade — revela toda a sua devassidão


ao mesmo tempo que enlaça as pernas na minha cintura.

Sem protestar — até porque não seria louco de fazer uma

coisa dessas —, deixo que o meu quadril se encaixe entre as suas


pernas e permito que meu pau se acomode bem em cima do seu

sexo. Era desse tipo de contato que eu sentia falta.


De ter não só nossos corpos conectados, mas também mente

e coração. Para mim não importa o nome que se dá, se é trepar ou

fazer amor, quando estamos bem um com o outro, o fim será


sempre o mesmo: dois amantes em uma crua demonstração de

amor, onde corpos se reconhecem, mentes e corações se

conectam. São os nossos momentos, Erick e Marina ligados como

tem que ser.


Sentindo através da sua calcinha a quentura que ameaça me

consumir, inicio uma deliciosa fricção. São movimentos cadenciados

de sobe e desce que nos servem como preliminares, uma vez que o
faço somente para aumentar ainda mais o nosso tesão.

— Pronta para fazer as pazes? — De olhos fechados, Marina

apenas murmura sons de súplica.


Adiando por alguns minutos ou até horas a conversa que

precisamos ter, deixamos que nossos corpos escolham o que está

em primeiro lugar na lista de prioridades.

Por fim, acho que foi uma decisão acertada. Antes de palavras
e promessas, precisamos primeiro nos certificar de que nosso elo

não foi perdido, que nossos corpos ainda são capazes de


reconhecer os sentimentos que vão além de qualquer compreensão.

Não o tipo de sexo que estávamos fazendo, e sim o amor

transmitido atrás de movimentos, sons inteligíveis e palavras que


não precisam ser ditas. A conexão que iremos buscar através do

olhar.

Esse será o nosso primeiro passo, não sei se o mais acertado,

mas com certeza o que precisamos.


CAPÍTULO 37 DESCOBERTA

— Calma, meu amor. — Com a mão na sua boca e o suor


escorrendo ao ponto de pingar na altura dos seus peitos vermelhos

pelas minhas chupadas, continuo socando na sua bocetinha, que


me recebe de maneira tão gulosa quando o meu pau a penetra com
reverência. — Você não quer que todo o condomínio saiba que
estamos trepando, não é? — Desgrudo os cabelos úmidos da sua

testa suada.
— Não... — responde, sem fôlego, ao cavar o calcanhar ainda
mais firme na minha bunda querendo auxiliar os movimentos e nos

deixar mais grudados. Minha ferinha gananciosa. — Se isso


acontecer, eu mato você — ameaça, mesmo quando não está em

condições de fazer nada. A mulher nem ao menos tem fôlego para


falar frases inteiras sem que tenha que puxar uma longa lufada de

ar.

Eu não estou diferente, com o corpo pingando suor, sinto como


se tivesse acabado de correr uma maratona, mas nada que me

impeça de comer a minha namorada cheia de disposição e com


bons vinte anos a menos que eu. A minha sorte é ser adepto da

malhação, só assim para aguentar esse furacão deliciosamente


sexy, mais conhecida como o amor da minha existência.

— Me matar por que, sua gostosa? — provoco ao puxar os

cabelos que ficam na parte de trás da sua nuca, enquanto com a


outra mão levanto suas costas. — Não sou eu quem está dando um

espetáculo digno de um filme pornô. — Na verdade, eu estou sim,

só não sinto a mesma vergonha que ela. Que se dane as pessoas


saberem que estou transando.

É minha mulher, porra!

Trocando a posição papai e mamãe para uma em que possa


senti-la ainda mais profundo, enlaço suas pernas na minha cintura e

sussurro no seu ouvido:


— Vem, minha gostosa, dê o seu melhor.

Toda descabelada e com a pele deslizante de suor, minha

garota, que não foge de um desafio, inicia uma lenta e torturante

cavalgada em cima do meu pau. Me provocando, Marina intercala

os movimentos entre reboladas sensuais e um sobe e desce lento e

cadenciado.
— Que foi, meu machão não aguenta uma menininha cheia de

fôlego? — ela insiste em testar os meus limites.


— Você sabe que isso não é verdade, sua cadela. — Torturo o
bico já sensível dos seus seios que há algum tempo vêm sofrendo

com minha boca possessiva. — Não foi eu quem gozou três vezes e

já está quase lá de novo. — Para falar a verdade eu só gozei uma,

mas a vontade era de ter feito isso umas cinco vezes. Mas, como eu

não quero deixar minha gata na mão, tenho me segurado até que

ela esteja satisfeita, e depois eu mesmo vou cuidar para que meu
alívio venha à altura.

Todas as vezes em que chegou ao ápice, eu logo tratei de

acendê-la de novo e de novo, quero que ela sinta como somos bons

juntos, para que nunca se arrependa de me amar, de me dar tudo o

que eu já não tinha esperanças de encontrar.

— É, você tem seu ponto. — Acelera subitamente o entra e

sai. Eu conheço o corpo da minha mulher e sei que está quase


gozando. — Eu quero que me faça gozar, meu homem, daquele

jeito que só você sabe. — Ela nem precisa repetir para que tenha o

seu desejo cumprido.

Sedento, tomo sua boca no beijo que de tão desejado envolve

línguas e dentes se batendo na mesma medida. Mais abaixo, coloco

as mãos na parte de fora das suas coxas, e sustentando o seu


peso, controlo o entra e sai, o subir e o descer do seu delicioso e
ousado corpo. Com as estocadas violentas, sou obrigado a soltar

sua boca para não a machucar e, em contrapartida, tenho seus


deliciosos peitos pulando bem diante dos meus olhos.

— Era assim que queria, minha cadela safada? — Com os


dedos indicador e médio, manipulo seu clitóris inchadinho. — Então
goze para mim, vai, goze para o seu macho.

— Ahhhh, puta merda. — Convulsiona nos meus braços ao


atingir o seu tão buscado orgasmo. — Meu Deus! Que delícia... —

Segurando-a firme pelas costas, espero que seu corpo se acalme,


para só depois ir em busca da minha própria satisfação, além da

que sinto por satisfazer minha gatinha deliciosa.


Com estocadas calculadas e profundas, não resisto quando
Marina crava os dentes no meu pescoço, sendo esse gesto o

estopim para me fazer liberar dentro dela todo o tesão que por duas
vezes tive que reprimir em favor do seu próprio alívio e, fazendo

uma sujeira maior do que sou capaz de calcular, encho o seu sexo
da minha porra.

Se isso parece possessivo eu não sei, mas para mim, nada é


tão excitante do que fazer isso com ela. Tê-la cheia de mim, em
todos os níveis possíveis.
Depois de algum tempo, apenas abraçados e recuperando o

nosso fôlego, levo uma Marina exausta para o banheiro e primeiro


lhe dou um banho quente e relaxante, para depois colocá-la

confortavelmente sobre a cama vestindo nada mais que um roupão


felpudo. Tão brega quanto o seu, tem também o meu, que visto

assim que termino meu próprio banho.


Ao chegar perto dela, Marina me abre o seu já conhecido,
porém, não menos encantador sorriso. E como eu senti falta dessa

intimidade, da preguiça que curtimos juntos todas as vezes em que


terminamos de fazer amor.

— Tudo bem, princesa? — pergunto. Ela está com o corpo


encostado de maneira confortável contra a cabeceira da cama.
Sento na sua frente e trago suas pernas para o meu colo.

— Ótimo, querido. — Como dizer a ela que o trauma por esse


nome voltou? Acho que precisarei de uma outra dose do seu

convencimento.
Como nunca fomos o tipo de casal que faz amorzinho calmo

em frente a uma lareira, nunca deixei de me certificar que não


passei dos limites, mas agora, depois de perceber que ela curte um
sexo mais duro tanto quanto eu, minha preocupação é ainda maior.
Essa descoberta certamente foi a única coisa boa que essa
situação trouxe. Se antes nós éramos bons, hoje somos ótimos.
Entre palavrões e tratamentos chulos, Marina e eu não temos mais

limites na busca pelo prazer. As minhas costas rasgadas de fora a


fora e seu modo estranho de andar e bumbum marcado são as

provas da nossa falta de controle.


Se essa bobagem de alma gêmea e metade da laranja existe,
eu com toda certeza encontrei a minha.

— Que bom, meu amor. — De maneira despreocupada, fico


passando a mão do peito do seu pé esquerdo até a altura da

panturrilha, um gesto de carinho que nada tem de sexual, é apenas


uma maneira que encontrei para continuar lhe tocando. — Quer

conversar agora?
— Acho que sim — titubeia, deixando claro que ainda teme
pelo que tenho a falar.

Isso só me faz ter noção do tamanho do estrago que estava


prestes a fazer.

— Tem alguma coisa que você queira me perguntar? — Antes


de soltar a bomba no seu colo, dou-lhe a oportunidade de revelar o
que passa por sua cabeça.
— Tenho — afirma, ainda que pareça incerta sobre o que tem
a dizer.
— Pode perguntar, meu anjo, fale comigo — peço, pensando

na ironia disso tudo. Logo eu pedindo isso depois de ter virado-lhe


as costas por quase uma semana.

— Você ainda me ama? — Marina faz a pergunta que eu não


estava esperando enquanto olha em meus olhos, e eu sei que talvez
mereça esse tipo de dúvida vindo dela.

— Se eu te amo? — Ela confirma com a cabeça. — Mais que a

minha vida, meu amor. Por você eu seria capaz de tudo, eu mato e
morro — exemplifico para que a faça entender a dimensão do que

estou afirmando. Ao me ouvir, uma única e solitária lágrima escorre

pelo canto do seu olho direito, que ela logo trata de enxugar. —

Nada do que passou aqui durante essa semana tem a ver com o
que sinto por você, nada foi real.

Eu e ela nos encaramos, sem conseguir desviar os olhares e

espero está transmitindo todos os sinais certos, que tudo o que eu


diga aqui consiga levar o resquício da tristeza que carrega no rosto

desde o dia em que me tornei uma pessoa da qual não me orgulho.

Se tudo o que eu disse ontem foi premeditado, como o último


golpe dado antes do fim, o meu afastamento dos outros dias não
fora. Não me envergonho por confessar que não consegui lidar com

a situação, que se tivesse sido mais racional e pensado melhor, teria


aberto toda a história para ela e esperando que juntos

encontrássemos uma saída.

No alto da minha falta de controle, preferi me fechar e somente


lhe procurar para usar seu corpo, assim como se faz com uma

prostituta barata. E eu me odeio com todas as forças por isso.

— Meu erro foi não ter conseguido lidar com a situação, só não

duvide do que eu sinto por você — volto a reafirmar o meu amor,


temendo que ao fazer a mesma pergunta, a sua resposta seja

diferente da minha. — E você, ainda deixou vivo pelo menos um

pouco do amor que sentia por mim?


Nunca fui um homem de sentir insegurança, mas dessa vez

ela me pegou de jeito. Que ela sente tesão por mim já está mais que

claro. É só que isso não é o suficiente. Assim como eu não me


entregaria pela metade, não acho que sou capaz de aceitá-la de

outra forma que não seja por completo.

— Nada mudou, Erick. Tudo o que eu senti esses dias foi

medo. Medo por pensar que você já não me amasse mais. — Outra
lágrima escorre pelo canto do seu rosto, mas minha princesa logo a

seca, fazendo força para que outras não caiam. Se tem uma coisa
que ela não se permite é fraquejar. Mesmo ainda sendo tão jovem e

tendo esse direito, Marina não se permite demonstrar fraqueza,

ainda que às vezes seja impossível de controlar. — Quando você


me expulsou, eu só pensei...

— Não, linda. Deixe isso para lá, já passou. — Chego perto e

lhe abraço apertado. — Estou aqui, até quando você quiser que eu

fique. — Afasto-me, mas não sem antes deixar um beijo em cada


um dos seus olhos.

— Erick, quem é a pessoa que está nos ameaçando. Você

disse que precisa terminar comigo, só me diga o nome.


— Patrícia.

Seus ombros caem em desânimo, mas seu rosto está longe de

demonstrar a surpresa que eu achei que teria.


CAPÍTULO 38 PLANO

— Como. Quando? — Meu choque não é nem pela surpresa de ter


o dedo dela metido nisso, já que a mulher deu provas o suficiente de
ser uma víbora. O que me surpreende mesmo é ela ter ido tão longe

quando o máximo que imaginei foi a cena que fez em meu quarto,
no dia da recepção. — Ela esteve aqui em casa?
— Sim, pequena, na comemoração do seu aniversário. Você

estava lá fora se divertindo, e eu estava trabalhando no escritório.


Quando ela entrou, achei que fosse você, mas foi só levantar os
olhos para perceber que não era.

— Como ela conseguiu entrar aqui?

— Isso eu não sei, quando fui questionar o jardineiro que ficou


aquela noite, ele disse que uma mulher de óculos escuros e cabelos

pretos chegou dizendo que tinha vindo buscar a filha.

Isso é bem a cara dela.


— E o que ela disse? — indago, mesmo tendo medo de

pensar na resposta.
— Ela fez ameaças veladas contra você e exigiu que eu te

deixasse — diz e vejo seu semblante mudar ao proferir as palavras.


— Ela não pode fazer isso. Foi o que, um tipo de chantagem?

— É óbvio que foi uma chantagem, e das sérias, Erick não é do tipo

que aceita que lhe digam o que fazer. — O que Patrícia sabe sobre
você para que tenha cogitado ceder à chantagem, querido? — Seu

rosto faz uma leve careta por ouvir a palavra "querido". Parece que

a vaca traumatizou meu amor mais uma vez, mas nada que eu não
consiga reverter.

— Não é sobre mim, pequena. Ela sabe coisas a respeito do

passado dos seus pais que eu não queria que você ficasse sabendo
— explica e isso sim é uma surpresa.

— O que Patrícia tem a ver com o passado dos meus pais? Se


ela sabe de alguma coisa, significa... que esteve nele? — deduzo e

ele confirma com um movimento de cabeça.

— Ela é prima da sua mãe — fala e eu percebo que ele

continua não querendo falar o teor da chantagem. — Escuta, amor,

você tem certeza de que quer saber de tudo? Infelizmente, não é

uma história muito bonita.


Quando ele diz isso, eu me pergunto se realmente vale a pena

ficar sabendo de algo que pode de alguma forma mudar a visão que
tenho do meu querido pai, que ponha em risco até mesmo o amor
que ele demonstrava sentir por mim. Quanto à Cristina, não acho

que haja alguma coisa sobre ela que vá me surpreender tanto,

afinal, o que se pode esperar de uma mulher que deixa uma filha

ainda tão pequena, assim como ela fez comigo?

— Me fala, Erick, eu prefiro saber a verdade do que ficar a vida

toda no escuro, a mercê dessa mulher.


Não sei o quão graves são as revelações que ele tem a fazer

ou o quanto elas vão me afetar, mas acho que estou tomando a

decisão certa. Antes de tudo preciso saber com quem estou lidando.

—Tudo bem, só preciso que saiba que estou aqui, do seu lado.

— Segura a minha mão, e eu apenas balanço a cabeça, pois,

apesar da turbulência pelo qual estamos passando, confio nele e no

seu amor por mim.


Durante alguns minutos, que eu não sei calcular quantos

foram, Erick me conta, de maneira detalhada, toda a conversa que

teve com Patrícia. Quer dizer, conversar não parece ser a palavra

adequada, porque, pelo que ele me diz, ela preferiu impor sua

presença em um constante tom de ameaça.

Quando ele termina, simplesmente não consigo me mexer ou


dizer qualquer coisa. É bizarro e cruel demais para que eu reaja de
outra forma. De tudo o que me revelou, eu não sei dizer qual foi a

pior parte.
Meu pai, como ele teve coragem de trair a minha mãe e

manter Patrícia por todos esses anos?


E nem é o pior, ele foi tão fraco, que não só acreditou na
mentira da megera como chantageou e deu dinheiro para que

Cristina sumisse e me deixasse.


Será que uma traição da esposa é motivo suficiente para que

justifique um pai obrigando uma mãe a deixar a filha?


Por outro lado, talvez Cristina não me amasse tanto assim, não

quando depois de tantos anos e também da morte do papai, ela não


teve a decência de me procurar para, quem sabe, me falar a sua
versão da história. No fim das contas, nada mudou, minha mãe

realmente me abandonou. O motivo além do dinheiro? Acho que


viverei bem sem saber qual era, mas o que sei agora é que não é

muito agradável sabe que fui trocada por algumas notas de papel.
Deus! Minha cabeça vai explodir.

“Forte, você é forte. Não chore, eles não merecem suas


lágrimas”, fico repetindo isso como um mantra.
— Ei, olhe para mim, minha linda. Você está bem? — Toca

meu rosto com as duas mãos, me fazendo focar no seu, que


transmite uma genuína preocupação. — Sabe que não tem mal

nenhum em chorar, não é? — Ele me traz para os seus braços e


isso é o estopim para que eu libere toda a carga que venho

carregando nesses últimos dias.


Com sua mão fazendo cafuné na parte de trás da minha

cabeça, tenho meu rosto enterrado no seu peito enquanto


silenciosamente molho sua camisa com as lágrimas que por muitos
dias não me permiti derramar, a exceção de ontem, que foi o pior dia

desse período de turbulência.


Depois de um tempo, que não sei dimensionar quanto, eu

finalmente paro de chorar, restando apenas os soluços, que meu


amor tenta aplacar com o seu carinho na cabeça e beijinhos
deixados no meu ombro. Quando levanto a cabeça do seu peito e

olho para o seu rosto, percebo que ele também deixou que alguns
dos seus sentimentos guardados viessem à tona silenciosamente e

bem menos que eu. Toco o seu rosto e percebo que ele está úmido.
Nos seus olhos, tenho a resposta sem que seja preciso fazer a

pergunta. Ele chorou por mim. Por me amar e compartilhar junto a


dor do meu sofrimento.
— Sinto muito, meu amor, eu não queria... — Coloco a mão na

sua boca, o impedindo que diga a bobagem que está pensando.


— Você não tem culpa de nada. — Beijo cada um dos olhos
azuis que eu tanto amo. — Eu quem quis saber, lembra?
— Por isso não queria falar, me machuca te ver assim, tão

triste e decepcionada. — Estende a mão e como tantas outras


vezes, sei o que ele quer.

— Estou tão confusa, Erick, acho que preciso de um tempo


para digerir tudo isso. — Aconchego-me em cima das suas pernas,
me sentindo protegida apenas por ter seus braços em torno da

minha cintura. — Sobre a Cristina, nada mudou. Ela ainda é a


estranha que me abandonou.

— Ela foi levada a isso, Marina — defende.


— Se fosse só por isso, ela já teria me procurado — dou meu

ponto. — Também não acho que devo ficar remoendo isso, se nem
sei onde ela está ou se ainda está viva. — Me dói pensar nessa
última opção, afinal, é a minha mãe.

— Tem razão, se um dia achar conveniente e quiser saber


como a filha está, ela nos procura — diz com praticidade, ao mesmo

tempo em que, distraidamente, brinca com a corda do meu roupão.


— O que dói mesmo é perceber que papai não era exatamente
a pessoa que eu achei que fosse — digo, mal termino de falar e

Erick vem em defesa do amigo.


— Mari, sei que João não foi nenhum santo, que foi fraco por
se deixar enganar por Patrícia, mas, por favor, não ponha em dúvida
o amor que ele sentia. Seu pai tinha verdadeira adoração por você,

Marina. Não havia nada que ele não fizesse para te ver feliz. Sabe
disse, não é?

— Claro que sei — admito, dando o braço a torcer.


Apesar de todos os defeitos, João foi o melhor pai que uma
garota sem mãe poderia ter, diante dessa sujeira toda que foi a vida

dos três, a única certeza que tenho é a de que ele me amava. Do

seu jeito torto, acredito que até o fato de ele ter dado dinheiro para a
Cristina ir embora foi na intenção de me proteger.

Não digo que não ficou uma mágoa e até mesmo uma

rachadura, mas eu sei que vou superar. Só preciso ir visitar o seu

túmulo, como sempre fiz, e relembrar tudo o que vivemos quando


ele era tudo o que eu tinha.

— Você vai passar por cima disso tudo, meu amor, os erros

deles não têm nada a ver com você. A Patrícia pode até tentar, mas
ela não vai trazer esses erros para perto da gente.

— Só de ter você ao meu lado, me sinto capaz de enfrentar

qualquer obstáculo que se ponha no meu caminho — declaro e


ganho um beijo no pescoço como agradecimento.
— Sinto o mesmo, minha pequena — ele diz ao passar as

mãos por minhas coxas, que ficaram mais expostas depois que
sentei no seu colo. — Sobre o nosso namoro.

— Já está tudo certo, não é mesmo? Se ela te ameaçava com

isso, e você já me contou tudo, não tem mais motivo para ela te
chatear — digo como se fosse a coisa mais simples do mundo. E é

mesmo, ou será que não é?

— Não é tão simples assim — responde como se tivesse lido

meus pensamentos. — Não podemos subestimar essa mulher,


lembra? Além disso, ela não ameaçou só de abrir a boca. Patrícia

disse com todas as letras que é capaz de fazer muito pior.

— Só não entendi uma coisa. O que ela ganha com tudo isso?
O que eu fiz para ela?

— Patrícia achava que tinha chance de me conquistar antes de

assumirmos nosso namoro. Agora, ela quer se vingar nos mantendo


separados — diz, mas eu não acredito que seu desejo de me

separar do Erick seja só vingança.

— Essa mulher é no mínimo louca. E agora, vamos ficar nas

mãos dela, a mercê das suas vontades?


— No momento temos que ser cautelosos, até que eu encontre

uma maneira de neutralizá-la. E isso só será possível se fizermos o


que ela quer.

— E fazer o que ela quer, significa...

— Que vamos seguir seus planos, vamos terminar o nosso


namoro. Pelo menos é isso que ela vai pensar — ele fala com uma

assustadora tranquilidade, e eu já não entendo mais nada.


CAPÍTULO 39 CENA

Atento e observando tudo à minha volta, torço para que nada saia
errado. Hoje, no último dia do prazo estabelecido pela louca, faço

exatamente o que ela exigiu.


Em frente ao escritório, onde o fim do dia deixa a rua ainda
mais movimentada de pessoas que, apressadamente, se dirigem
para as suas casas, fico me perguntando onde Patrícia está

escondida. Doente do jeito que é, ela certamente não iria deixar de


ver com os próprios olhos a cena que eu fiz questão que fosse aqui,
em frente ao meu local de trabalho, onde curiosos irão ver e

ajudarão a espalhar a notícia.


Isso sim será um prato cheio para a mídia e línguas

maliciosas. Não ficarão dúvidas da veracidade dos nossos atos.


Alguns minutos depois, uma Marina arrasada e com uma

expressão assassina vem como um furacão em minha direção. No

ato, pessoas que até então andavam apressadas e descontraídas


param para observar com curiosidade a iminente briga de um casal.
Para eles, não um casal qualquer, e sim Marina e Erick, o casal que

de repente passou a ser interessante para a mídia.


— Erick, me escute. — Ela segura as lapelas do meu terno,

como quem tenta me impedir de lhe virar as costas.

— O que você está fazendo aqui, Marina? — Seguro suas


mãos, afastando-as para longe do meu corpo. — Eu não te pedi

para esperar em casa?

— Não pude esperar, você precisa me ouvir, querido — diz,


tentando me provocar com esse tratamento.

— Aqui não. Vá para casa, por favor — peço, dando sinal para

que o show comece.


— Não vou, me ouça, Erick. — Lágrimas começam a escorrer

dos seus olhos e ela volta a colocar as mãos em cima do meu peito.
A ideia aqui é que eu saia como o vilão de toda a cena.

— Está vendo? Foi esse tipo de comportamento que me abriu

os olhos para o erro que estava cometendo em me envolver com

uma garota como você — digo, e mantenho o tom de voz alto o

suficiente para que os curiosos e Patrícia, que está em algum lugar

por aqui, escutem.


— Uma garota como eu? O que quer dizer com isso? — Ela

parece estar descontrolada e eu tenho que me esforçar para não


cair na risada.
— Não me faça dizer o que eu não quero aqui, no meio da

calçada, Marina. Em casa nós conversaremos melhor. — Finjo virar-

lhe as costas, só que ela me impede ao segurar meu braço.

— Não, agora você vai falar. — É insistentemente irritante. —

Que tipo de garota eu sou, Erick Estevan? — indaga, fazendo aspas

com os dedos quando diz a palavra garota. — Anda, que tipo de


garota eu sou?

— O tipo irritante e infantil, que não tem maturidade nem para

entender um pedido simples como esse. — Solto meu braço do seu

aperto e continuo de maneira dura: — É por isso que não temos

mais como continuar.

— Você não pode estar fazendo isso comigo. — Começa a

chorar. — Não faz isso com a gente, meu amor.


— Acabou, Marina. Queria que fosse de outra forma. — Ela

tenta se aproximar, e eu dou dois passos para trás, como se não

quisesse o seu toque. — Só que você não me dá outra alternativa.

— Você só queria me usar, agora que se cansou, está me

descartando como um pedaço de lixo — dramatiza ainda mais a

situação.
— Você sabe que não é isso, respeito muito a memória do seu

pai. Eu só não te amo mais — digo, dando o golpe final, ao mesmo


tempo em que avisto Patrícia se esgueirando por trás de uma

coluna que fica do outro lado da rua.


Aparentemente satisfeita, ela observa tudo com atenção e sem
notar que eu lhe vi ali. Eu poderia muito bem ter feito isso de outra

forma, só não fiz porque quanto maior a nossa cena, maior será o
seu convencimento de que o término é real.

Não sei se sua mente doente cogita a ideia de que eu


realmente não quero mais ou a de que estou falando isso da boca

para fora, apenas por ter sido obrigado. O que importa é que ela
realmente acredite no que vê, que estou fazendo exatamente o que
queria e que agora pensa que conseguiu.

O meu término como Marina ocorrer em frente ao escritório,


onde não só meus colegas de trabalho podem nos ver, como

também qualquer outra pessoa, com certeza vai deixar Patrícia


segura de que não estou tramando nada por trás.

— Já amou algum dia? — Seus olhos estão tão magoados que


meu coração aperta dentro do peito. Mais tarde preciso compensar
minha linda por fazê-la ouvir todas essas bobagens.
— Provavelmente, não — digo friamente. — Desculpe se a fiz

pensar de outra forma. Adeus, Marina. — Viro as costas, deixando-a


sozinha e chorando.

Os curiosos que desde o início acompanham todo esse circo


agora a fitam com pena. Ao entrar no meu carro, vejo Patrícia sorrir

satisfeita com o que viu e virar as costas, indo — pelo que presumo
— para o seu próprio carro. De imediato, mando uma mensagem
para minha mulher, que ainda está parada no mesmo lugar

recebendo palavras de carinho de algumas senhoras que


presenciaram o suposto término do seu relacionamento.

Ao longe, vejo-a abrir a bolsa, pegar o celular e abrir seu lindo


sorriso ao ler meu curto, porém, sincero texto, que diz:
“Parabéns, minha gata, você foi perfeita em tudo. Agora

limpe essas lágrimas de crocodilo que nós só temos motivos


para comemorar.”

Instintivamente, Marina leva as mãos ao rosto e seca as


lágrimas que certamente não são de tristeza. Depois disso, ela se

despede das senhoras com carinhosos abraços, para em seguida


entrar no carro, que durante todo esse tempo teve Jorge como
principal espectador, ele, seguindo minhas ordens, esteve de olhos

abertos para que nada saísse do controle.


Depois do que ouvi da Patrícia, proteger Marina tem sido
minha missão. Tenho consciência de que não posso passar a perna
numa pessoa como Patrícia sem pensar em todas as possíveis

consequências.
A partir de hoje, Marina só sairá de casa acompanhada, seja

na companhia de Jorge com o carro ou de Ângela com sua moto. O


importante é nunca deixar ela sozinha.
Depois de um tempo, meu celular vibra e, pelo visor, percebo

que é uma mensagem de Marina em resposta a minha anterior.


“Te espero lá, meu homem mau. Não vejo a hora de ser

recompensada. Não se preocupe com nada, Jorge é esperto e


se tiver alguém nos seguindo, ele vai dar um jeito de despistar.

Um beijo, onde você quiser que seja <3”


Quando expliquei tudo o que estava acontecendo para minha
namorada e contei meu plano, ela logo se animou, afinal, é melhor

ficarmos juntos e escondidos por um tempo, do que separados e


presos a uma chantagem.

Para que isso dê certo, basta que eu e ela tenhamos cuidado,


pois, não imagino o que Patrícia é capaz de fazer se descobrir que
estamos lhe enganando, que ao contrário do que fizemos parecer,

nosso namoro está mais firme do que nunca.


— Finalmente, Erick. — Ela pula nos meus braços assim que
abro a porta usando a chave reserva, já que a outra eu lhe devolvi.
Quando pensamos em uma saída para o nosso impasse,

decidimos que para que o rompimento ficasse mais verossímil, seria

melhor que eu deixasse a mansão e voltasse para o meu


apartamento e foi exatamente isso que fizemos.

— Eu não via a hora de chegar, minha linda. — Beijo seu

pescoço cheiroso e lhe carrego nos braços para o meu quarto, que
agora eu chamo de nosso.

Chegando lá, sento na ponta da cama, com ela sobre as

minhas pernas e digo, cheio de empolgação:

— E o Oscar de melhor atriz vai para...


— Marina! — Ela bate palmas, exultante de alegria. — E as

lágrimas, gostou?

— Você foi perfeita, minha gata — elogio. — Tenho certeza de


que agora ela deve estar se regozijando com a vitória.
— Será que Patrícia, de alguma forma, vai tentar se aproximar

de você? — indaga, preocupada.


— Se aproximar em que sentido?

Ela não pode estar com ciúme da louca.

— Dessa mesmo que passa pela sua cabeça — quando fala,


toda rígida, eu tento, mas não consigo segurar o riso.

— Amo quando sente ciúmes, minha menina possessiva. —

Aperto sua cintura, deixando-a melhor acomodada contra o meu

sexo. — Tenho vontade sabe de quê?


— De se comportar?

— Não. De te comer todinha, até que não consiga se mexer ou

até que entenda que só tenho olhos para você, minha gata. —
Passo as mãos por baixo da sua blusa. — Meu pau e meu coração

pulsam por você. — Agora é sua vez de rir.

— Mas, falando sério, toma cuidado com ela. Se na mente


perturbada já achou que poderia te conquistar, nada a impede de

fazer alguma coisa para te ter. Ainda mais agora que pensa ter

eliminado uma concorrente.

— Pode deixar, princesa. Eu também não acredito que Patrícia


esteja fazendo isso apenas por vingança. Ela tem outros interesses,

além disso.
— É claro que tem, amor. Será que não percebe? Ela está de

olho em você — acusa com convicção. — Acha mesmo que irá se

contentar em perder a mordomia que teve ao lado de papai durante


todos esses anos? Patrícia quer você e não vai medir esforços até

conseguir isso. — Seus ombros caem pelo desânimo.

— É por isso mesmo que devemos ser cautelosos a partir de

agora. Tenho medo de pensar no que ela pode fazer com você —
confesso ao tirar as mãos de dentro da sua blusa e abraçá-la

apertado. — Eu não sei o que seria de mim se te perdesse,

pequena — revelo o medo que me consome lentamente. Resolver


essa situação e garantir que estejamos bem e mais unidos do que

nunca em nada serviu para abrandar o meu temor, pelo contrário,

ele a cada dia cresce mais. Agora, além dos pesadelos, tem o medo

de sermos descobertos e das consequências que isso pode causar.


— Vai dar tudo certo, Erick — Marina assevera ao beijar minha

boca com carinho. — Quando ela descobrir tudo, nós já estaremos

um passo à frente. Eu confio em você.


— Chega de falar em coisas ruins. — Pego a barra da sua

blusa e ela levanta os braços para que eu possa tirá-la. — Que tal

comemorarmos? Não esqueça que agora nosso tempo é contado.


A pior parte disso tudo é não poder dormir e acordar do lado

da minha mulher, ter que nos encontrar às escondidas.


— Nem me lembre disso. — Começa a desabotoar os botões

da minha camisa, já que o terno eu deixei dentro do carro. — Nem

sei como vou dormir sem você. — Faz um biquinho, que eu logo
desfaço com uma mordida leve.

— Não se preocupe com isso, todas as noites eu vou te ligar e

garantir que tenha uma noite bem relaxada. — Pisco com malícia e

ela entende o tipo de conversa que teremos.


— Eita! — diz, animada. — E agora, o que pretende fazer, meu

homem?

— Isso. — Sem aviso, levanto com ela nos meus braços, lhe
jogo em cima da cama, para em seguida cair por cima do seu corpo.

— Se prepare para a nossa foda de comemoração, porque ela está

prestes a começar, minha garota fogosa.


CAPÍTULO 40 POR TELEFONE

Depois de duas semanas, ainda não me acostumei em não ter Erick


dormindo e acordando do meu lado. Tudo aqui em casa me faz
lembrar dele e consequentemente sentir a sua falta. Mas é de noite

que os sentimentos ficam mais aflorados. É durante o anoitecer que


fico me virando de um lado para o outro até tarde, sem conseguir
pregar os olhos e quando finalmente consigo dormir, é porque meu

corpo sucumbiu à exaustão.


Mesmo ele me ligando todos os dias e ficando comigo ao
telefone durante várias horas, nem assim eu consigo deixar de

lamentar a sua ausência.

Seguindo o combinado, tentamos ser discretos, nos vendo


apenas quando a saudade já está apertada e quando julgamos ser

menos arriscado.

A verdade é que não podemos botar tudo a perder, não


quando Erick está na iminência de descobrir algum podre da vida da
chantagista, que me nego a pensar que tenha meu sangue correndo

nas veias.
Enquanto as coisas não se resolvem, eu sigo com a minha

rotina, só que sempre acompanhada de alguém. Quando tenho que

estar no estúdio, Jorge me leva e me busca, ao estar em casa,


sempre tenho Ângela ou Maya como companhia. Minhas amigas

estão presentes para me consolar pelo término do meu namoro.

Nestas horas, eu me lamento por não poder contar a verdade para


elas, mas é preferível fazer isso para garantir que mais ninguém vai

se envolver e correr algum tipo de risco. Já basta o Bruno estar

envolvido até o pescoço. O diferencial é que esse sabe se cuidar,


segundo palavras do próprio e de Erick.

Diferente do que queríamos, Erick e eu não podemos ficar


todas as noites juntos. Teve umas em que eu sorrateiramente passei

no seu apartamento e outras em que ele, disfarçado de jardineiro,

entrou pela garagem e veio para o nosso quarto.

Não importa como, Erick e eu sempre damos um jeito de

estarmos juntos. Seja na mesma cama ou por telefone, sozinha eu

sei que não estou. Tem horas que a saudade da rotina aperta, mas
no coração tem a alegria de saber que, apesar de tudo, estamos

bem e felizes. Há também a esperança de que um dia isso vai


acabar, que poderemos nos amar como antes, sem ameaças ou
barreiras de tempo e linhas telefônicas.

Hoje, a barreira da linha telefônica até que não seria tão mal.

Ruim com ele..., pior sem.

Pela centésima vez, olho para o visor do celular e nada. Já são

dez e quinze da noite e Erick não me ligou.

Sua falta de notícias me traz dois tipos de sensações. A mais


egoísta, que é o meu lado que não se aguenta de ansiedade por

ouvir sua voz; e a mais responsável, que é o meu lado que não

deixa de se preocupar e se perguntar se algo de ruim lhe aconteceu.

Cinco minutos depois, quando o telefone toca, eu nem me dou

ao trabalho de olhar o visor e já atendo:

— Amor, tudo bem? — preocupada, pergunto sem respirar.

— Ei, calma, pequena. ‘Tá tudo bem, respira. — Como se suas


palavras fossem um calmante, faço exatamente o que me pede e

puxo uma longa lufada de ar. — Isso, faça de novo. — Espera, e

quando me acalmo, ele continua: — Está melhor?

— Sim... Hoje você demorou e eu fiquei tão preocupada —

admito.

— Perdão, linda — pede, com sua voz grossa e sempre


segura que me traz sentimentos diversos. Quando estamos num
momento de intimidade, ouvi-lo só aumenta o meu tesão e quando o

assunto é sério, sua voz me traz uma sensação de paz e segurança.


— Estive tão concentrado com as descobertas que eu e Bruno

estamos fazendo que acabei perdendo a hora.


— É sobre a Patrícia? — indago na esperança dessa situação
estar próxima do fim.

— É sim, linda. Ainda não são fatos concretos, mas estamos


chegando lá — afirma e sua animação termina por me contagiar.

— Ótima notícia, querido. Eu não suporto mais dormir longe de


você — choramingo, quem sabe ele não venha até aqui.

— Eu também não, princesa — confessa. — Eu sinto falta do


seu pequeno corpo colado ao meu, das manhãs em que fazíamos
um amor gostoso antes de ir para o escritório; sinto falta até do

cheiro do nosso quarto. O quarto do apartamento, apesar de ter


usado por muitos anos, parece o quarto de um estranho. Só

melhora depois que você passa a noite nele, que é quando seu
cheiro fica impregnado nos lençóis.

— O mesmo aqui, querido — digo e já não ouço seu


resmungar. Mais uma vez ele se curou do trauma que a palavra lhe
causou.

— Queria estar aí.


— Então vem — chamo, mesmo sabendo que as coisas não

são tão simples. Mas não custa nada tentar.


— Sabe que não podemos, amor — dá a resposta esperada.

— Se quiser, podemos improvisar.


— Improvisar? — indago, mesmo desconfiando das suas

intenções.
— Sim, minha linda. Improvisar. — Através da linha, ouço a
sua risada maliciosa, e começo a imaginar a cara sacana que faz

neste momento. — Me diga, o que minha garota safada está


vestindo?

— Quer a verdade ou que eu invente? — brinco com a


situação. É típico dessas situações a invenção de uma realidade
mais instigante.

— A verdade, sempre a verdade, meu bem. Até porque você


não precisa de muito para me fazer sentir tesão.

— Vamos ver... Sabe aquela sua camiseta verde? — pergunto


ao olhar para o corpo preguiçosamente sentado e escorado na

cabeceira aconchegante da nossa cama. — Então, não visto nada


além dela. Sabe como são as coisas, não é, meu amor? Em dias
abafados com hoje, eu prefiro não ter nada me prendendo,

principalmente uma calcinha.


— Deve estar uma delícia, minha gata. Se eu estivesse aí,
você estaria vestida com bem menos que isso.
Um arrepio sobe por minha pele só por imaginar em que eu

estaria vestida.
— E você, meu homem, carente? Deixe-me adivinhar, está

pelado?
— Quase isso, se você quiser e pedir com jeitinho, eu posso
ficar para você — diz e eu rio com a sua falta de limites.

A melhor parte de namorar um homem mais velho e experiente


é o fato de ele saber me introduzir nas mais devassas situações e

depois dele, eu não me imagino negando algo que deseje, ainda


mais quando sei que não fará nada que eu não vá gostar. Erick é o

sonho de consumo de muitas mulheres. Homem do tipo que só se


encontra em livros de romance.
— Visto somente aquele moletom cinza. Lembra dele?

— Você sabe que sim. — Como não lembrar? O bendito


moletom que o deixa mais gostoso do que já é, que marca as partes

mais interessantes e deliciosas do seu corpo.


— Eu já disse o quanto os seus seios são lindos? — Suas
perguntas nada inocentes estão começando a me deixar quente.
— Não tão especificamente. Mas acho que as marcas que eles
carregam deixam isso bem claro.
— Eu amo o fato deles serem tão alvos e firmes. Do tamanho

que cabem perfeitamente nas minhas mãos. Minha boca saliva


todas as vezes em que eu coloco os olhos neles. Fico com vontade

de fodê-los com o meu pau e chupá-los com a minha boca.


— Não faz isso, Erick, não quando não pode vim me satisfazer
— me lamento.

— Imagine que eu estou — sussurra. O tom da sua voz já

mudou e amo saber que as suas provocações não atingem somente


a mim. — Quero que toque nos seus seios imaginando que sãos as

minhas mãos que os tocam. — Obedecendo ao seu comando, toco

meu seio direito, ficando verdadeiramente excitada. Mais abaixo,

minhas coxas se juntam na tentativa de aliviar o desejo que começa


a se acumular no meio das minhas pernas.

— Amor, eu preciso tanto de você — sussurro, porque não

posso deixar de pedir. — Preciso que preencha esse vazio que


estou sentindo.

— Estar com você é tudo o que eu mais quero. Eu e meu pau

estamos doidos de vontade de você, de aplacar essa dor que


somente nós dois podemos curar.
— Sim... — murmuro baixinho e por um segundo penso que

jamais imaginei ser o tipo insaciável de mulher, das que sobem


pelas paredes quando sentem falta do seu homem.

— O quão molhada você está neste momento, querida? —

Instintivamente, desço a mão para o meu sexo depilado. — Me fala,


o quão necessitada de mim a minha mulher está?

— Molhada, muito molhada... — Toco-me e gemo no seu

ouvido.

— Você ainda vai me matar, Marina — fala ofegante, e eu


imagino que esteja na mesma situação que eu.

— Eu quero gozar...

Jogo o celular na cama, quando, assustada, vejo meu quarto


ser invadido.

— E você vai, gostosa. — Um Erick esbaforido, vestindo a

mesma calça moletom que disse usar e uma camiseta preta, para
na minha frente com os olhos famintos na minha boceta

visivelmente à mostra.

— Meu Deus! Você é louco. — Ainda não sei definir qual o

sentimento predominante, se é a surpresa ou alegria por tê-lo aqui.


— Louco por você, minha safada. — Tira a camisa e se deita

em cima de mim. De imediato, desço as pernas, que até então


estavam dobradas e as abro amplamente para melhor acomodá-lo.

— Melhor? — Duro feito uma pedra, meu namorado se ajeita entre

minhas pernas e confessa: — Porque eu estou só de sentir o seu


cheiro... — Beija a minha boca com desejo.

— Sim... Como você veio...? — tento perguntar, mas sua boca

gananciosa não deixa a minha.

— Depois eu te falo. Agora eu só quero te amar. — Abaixa a


parte da frente do moletom e eu termino de o tirar quando o arrasto

com os pés até o seu tornozelo.

— Então vem!
Quando dou sinal verde, Erick sai de cima de mim, estende a

mão, faz com que eu enrole as pernas na sua cintura e me leva para

a parede contrária a cama. Quando me tem com as costas

apoiadas, ele chega com o rosto perigosamente perto do meu e


assevera:

— Dessa vez, eu quero te comer assim, de pé, sustentando

todo o peso do seu delicioso corpo e depois você vai me agradecer


por tão prontamente ter vindo atender os seus desejos, madame.

— Posso saber que tipo de agradecimento meu homem tem

em mente? — provoco no seu pé de ouvido.


Com os olhos soltando faísca, Erick chega bem perto da minha

orelha, e o que ele me pede tem o poder de me deixar sem voz e


mais vermelha do que uma pimenta malagueta.
CAPÍTULO 41 POR TRÁS

— Safada. — Invisto dentro da sua boceta apertada, que molha o


meu pau com as evidências do seu desejo.

Enquanto eu meto do jeito que minha gostosa aprendeu a


gostar, ela arqueia suas costas apoiadas contra a parede,
recebendo solavancos que a impulsionam para cima e em seguida a
fazem descer lentamente ao encontro do meu cacete. Com as

pernas firmemente enroladas em volta da minha cintura e as unhas


fincadas no meu ombro, minha gata deliciosa tem o quadril e a
bunda agarrados por minhas mãos, enquanto eu meto sem parar,

ardente de desejo e de um tesão que nunca se esvai. Quanto mais


eu fodo com ela, mais eu tenho vontade de fodê-la.

— Gostoso. Tão gostoso, Erick. — Com as costas na parede e


os quadris cada vez mais longe dela, meu amor me proporciona a

excitante e bela visão do meu pau entrando e saindo do seu sexo

apertado e todo depilado, do jeito que eu gosto.


— Está vendo? Isso aqui somos nós. Eu e o meu pau

possuindo o que nos pertence. A boceta que ninguém nunca vai ter
ou tocar — falo, ofegante, sem parar de meter e vendo seu centro

guloso me engolir com ganância. — Diz para mim. Fala que é minha
e que ninguém jamais te tocará além de mim. — Paro os

movimentos quando estou profundamente dentro dela e olhando

dentro dos olhos perdidos em sentimentos, imploro: — Fala isso, por


favor, amor. Eu preciso. — Uma agonia inexplicável toma o meu

peito.

Pode parecer exagero pedir que me fale algo tão radical e


definitivo, mas são sentimentos que não posso controlar. Depois de

quase ter feito a besteira de perdê-la, toda a possessividade que

mantenho sobre um duro controle rompeu as barreiras e agora corre


solta. Em total sintonia e sabendo exatamente do que preciso,

minha menina segura minha cabeça e contra a minha boca,


respirando o mesmo ar que eu, diz:

— Só sua. Hoje, amanhã e para sempre — afirma com

convicção e emoção.

— Sim, sempre — digo, voltando a me mover de dentro para

fora. Sentindo que está perto de gozar, forço um pouco mais sua

bunda e com as nossas pélvis grudadas uma na outra, sussurro no


seu ouvido: — Já tem a sua resposta, meu amor? — O bate e volta

continua.
Não quero que isso pareça uma tentativa de pressioná-la a
fazer o que eu quero. Só insisto, porque nesses últimos dias em que

nosso sexo atingiu um patamar de maior intensidade e intimidade,

ela demonstrou querer isso tanto quanto eu, sempre que ousava

acariciar o seu lugar proibido e intocado.

Quando a transa fica mais intensa, meto pouco a pouco o dedo

indicador na sua bunda e, tirando a primeira vez em que ficou tensa


com a inesperada invasão, nas outras ela não só apreciou o carinho

mais ousado, como também me auxiliou nas ações. Como esquecer

da sua deliciosa bunda se abaixando contra o meu dedo, que depois

de melado com o nosso próprio gozo, passaram a ser dois.

Então sim, depois dessas ousadias, eu não consigo pensar em

nada que não seja comer a sua bunda que eu tanto amo. Se ela

quer e eu também quero, só preciso fazer o certo para convencê-la


de que não tem nada a temer, que depois da dor vem o prazer e que

depois do prazer vem o vício. Marina vai perceber que tanto quanto

ama me dar a sua boceta, vai se deliciar em me deixar comer a sua

bunda.

— Resposta de quê? — indaga, perdida, já que está mais

concentrada nas socadas que meu cacete dá dentro da sua


abertura flamejante. — Me faça gozar, amor... — Leva a mão à

boceta e começa a se acariciar.


— Vai me deixar comer a sua bunda? — pergunto, e de

propósito, diminuo a velocidade das estocadas. A intenção aqui é


retardar o máximo possível o nosso orgasmo. A experiência me
ensinou que quanto mais orgasmos intensos vierem, mais gostosos

e proveitosos serão.
— Anal? — Finalmente se acha na realidade quando uma gota

de suor escorre de sua têmpora para entre os seios, que se


mostram deliciosamente vermelhos em consequência das minhas

mordidas e chupadas.
— É, amor. Anal, do tipo que eu meto o pau dentro do seu
cuzinho e você geme de prazer e me xinga dos nomes mais

obscenos a cada socada que eu der dentro dele.


Marina fica vermelha e sei que é tanto de tesão quanto de

vergonha da minha boca suja, coisa que ela já devia ter se


acostumado, se não fosse um pouco tímida na hora do sexo.

— Vai fazer com jeitinho? — O biquinho que me mata se faz


presente e eu mordo os seus lábios, os puxando para dentro da
minha boca e com a língua aliviando a mordida. Já fizemos isso
tantas vezes, que ela o faz de propósito, sabendo qual será a minha

reação. — Ele é tão grande e grosso...


— Do tamanho exato para o seu prazer, minha gostosa, nada

para te machucar. Lembra dos meus dedos, de como você apreciou


ser acariciada por eles? Então, você está mais que preparada, linda

— digo, sabendo que ela esperava ser convencida. Porque vontade


de me dar, sei que tem de sobra.
— Como você anda merecendo — diz próxima ao meu ouvido

num tom safado, assim como ela é. — Conquistou o passe livre


para a sua tão desejada bunda.

— Bundinha essa que você também quer me dar. — Ela não


nega, apenas sorri enigmática. — Porque você é uma puta safada.
Eu te fiz assim, o seu homem.

— Meu garanhão gostoso. — Volta a movimentar o quadril em


cima do meu pau e eu decido que chegou a nossa hora.

— Você quer gozar, não é, safada? Então goza, porque estou


junto de você. — Dou mais uma, duas... seis arremetidas duras e

são elas o suficiente para alcançarmos os nossos picos de prazer.


Na medida que sua boceta mela o meu cacete, alago seu sexo
com a minha porra e não há nada que me deixe mais possessivo do
que a encher com o meu esperma. Ver escorrer a minha marca por
suas pernas.
Acho que sensação melhor sentirei apenas quando esse

esperma encontrar o caminho certo e eu preencher o seu ventre


com a minha semente, e mesmo que com sua prevenção isso seja

impossível no momento, esse pensamento me vem à mente sempre


que gozo dentro da sua boceta.
— Gostosa, muito gostosa... — Ela convulsiona por todas as

partes do meu corpo. São pernas enroladas na minha cintura,


braços ao redor do meu pescoço e eu tenho todo o meu mundo nos

braços.
— Nossa... Erick, isso foi... Uau. — Eu e ela respiramos aos

tropeções, e com pernas bambas pelo sexo e orgasmo intenso, me


dirijo novamente para a nossa cama e ao chegar, lhe coloco
carinhosamente sentada e vou até a cabeceira pegar três

travesseiro.
Sob seu olhar ainda lânguido, posiciono os três no centro da

cama, um em cima do outro e quando acho que estão numa altura


correta, peço:
— Amor, agora eu preciso que você deite de bruços e com o

quadril em cima deles. — Aponto para os travesseiros bem


posicionados. — Se tiver desconfortável, me avisar. Quietinha, que
eu já volto — oriento.
Em seguida, vou para o banheiro, pego o tubo de lubrificante e

quando saio, a cena que me espera faz meu pau acordar como se
não tivesse acabado de se esbaldar nessa delícia de corpo

pecaminoso.
No meio da cama e do jeito que eu pedi, meu amor tem
abdômen e quadril apoiados na pequena montanha de travesseiros

e a bunda bem arrebitada, especialmente para os meus olhos.

Cheio de desejo, chego perto dela, pairo o corpo sobre o seu e


depois de tirar os cabelos do seu pescoço, digo bem perto da sua

boquinha vermelha:

— Espero que aproveite, meu amor. — Distribuo beijos por seu

pescoço, enquanto mais abaixo o meu pau cutuca as bandas da sua


bunda.

— Sei que vou — assegura, toda ansiosa pelo desconhecido,

quando pouco a pouco vou descendo beijos e chupões por suas


costas. Ao chegar no meu local desejado e já ouvindo sua

respiração mais curta, dou mordidas em cada banda da sua bunda,

para depois abri-la com as duas mãos.


Com os olhos queimando de tesão e a fim de deixá-la

preparada, primeiro desço minha boca, passando a língua ao redor


do seu orifício, para depois umedecê-lo com os fluidos do nosso

recente orgasmo.

— Tudo bem, amor? — Enfio o dedo indicador e quando ela


confirma com a cabeça, coloco o segundo dedo. Com movimentos

de entra e sai, fico estimulando a sua boceta e ela corresponde ao

oferecer a sua bunda com entusiasmo. — Você é uma delícia, e

agora eu vou te comer do jeito que nós dois queremos, tudo bem?
— Agora — pede, mesmo sabendo da dor inicial que vai sofrer.

Tendo-a pronta e na mesma frequência que eu, volto a

lambuzar seu orifício com os líquidos da sua boceta e o meu pau


com uma boa quantidade de lubrificante.

— Perdão, amor, vai ficar tudo bem. Tão bem que você vai

querer repetir, eu prometo. — Cuidadoso e segurando sua bunda


bem aberta, começo a enfiar a cabeça robusta do meu pau, até que

ela começa a se retrair. — Calma, linda. — Firmo seu quadril no

lugar. — Para que dê certo, você tem que fazer movimentos de

empurrar, tudo bem? — Ela diz que sim e eu continuo. — Isso, fique
bem relaxada. — Confiando e fazendo o que instruí, meu pau pouco
a pouco vai entrando em sua bundinha e quando já está na metade,

ela protesta em agonia:

— Ai, porra. — Olha para trás e em seus olhos vejo o brilho de


lágrimas querendo se formar. — Sai, você vai me partir no meio,

caralho — protesta, me fazendo pausar a invasão e reacender o seu

tesão com movimentos em seu clitóris inchado e hipersensível.

— Tudo bem, amor. — Agora ela geme e me xinga entre


lágrimas. — Isso, estou quase lá. — Continuo enfiando, até que

esteja tudo dentro do seu cuzinho apertado.

— Ai, meu Deus! — reclama com a respiração entrecortada. —


Pode se mexer, por favor? — Depois de um tempo esperando que

se acostume, ouço a sua pergunta.

— Tem certeza? Nós podemos...

— Faz isso logo, filho da puta. — Tenho vontade de rir do seu


destempero.

Sem deixar de estimular sua boceta com os dedos, saio

vagarosamente, até deixar apenas a cabeça. Depois de uma longa


respiração e tendo a passagem facilitada pelo lubrificante, meto com

tudo até a base e neste momento, o grito que se ouve é capaz de

ser escutado em outro continente.


— Desgraçado. — Deixa seus braços, que estavam apoiados

no cotovelo, caírem e somente a bunda continua firme, aberta e


empinada para a minha invasão. — Você vai me partir no meio

mesmo, Erick — reclama, mas não deixa de trazer a bunda de

encontro as minhas arremetidas.


— Quer que eu pare? — indago para ter certeza, mesmo que

seus gemidos de prazer digam a resposta.

— Não... Mais rápido. — Entro com um pouco mais de pressão

em seu buraquinho, que de tão apertado está a ponto de esfolar


meu pau. — Isso, mais... mais. — Entro e saio todo suado e em

cima do seu corpo bem menor que o meu.

— ‘Tá gostando de me dar esse cuzinho, não é, sua puta?


— Muito. — Suas costas brilham de umidade e eu, com

cuidado para não a machucar, puxo um punhado do seu cabelo,

trazendo seu corpo para junto do meu.

Agora, com suas costas coladas no meu peito e com nós dois
no centro da cama, continuo as arremetidas do jeito que ela gosta,

enquanto aperto os bicos dos seus seios com uma mão e meto dois

dedos dentro da sua boceta alagada com a outra mão,


— Está gostoso, não é? — Cravo os dentes no seu pescoço

alvo. — Me diga o que sente.


— Gostoso, muito gostoso. — Olha para trás e eu puxo sua

língua macia para dentro da minha boca, sem nunca deixar de

meter com o pau e lhe acariciar com as mãos.

— Olha só como somos bons juntos, minha gostosa, eu estou


todo em você. Meu pau comendo o seu cuzinho como nós dois

queríamos. Esses seios firmes que tenho verdadeira adoração. —

Belisco com a força necessária e ela geme ruidosamente. — E essa


boceta quente que é meu paraíso particular. — Com força e na

mesma velocidade que o meu sexo, meto os dedos na sua boceta.

— Goze para mim, sua puta, quero que me mostre o quanto gosta

de me dar essa boceta e esse cuzinho apertado.


— Desgraçado! Filho da puta! — Leva a mão para trás da

minha cabeça, puxando meu cabelo com força quando aumento as

socadas tanto da sua bunda quanto da boceta.


Com a cabeça virada para trás e nossas línguas duelando,

gozamos intensamente. Eu esporrando dentro do seu cuzinho e ela

umedecendo a minha mão com a prova do seu desejo.

Suados, ofegantes e sem forças; sinto quando os seus joelhos


perdem as forças e minha mulher tomba sobre a cama de bruços e

me leva junto.

Por cima e ainda dentro dela, confesso com o fôlego curto:


— Você ainda será a minha morte, menina. — Tiro o pau já

meio amolecido do seu ânus, para depois sair das suas costas e me
jogar do seu lado. Com um rosto que não esconde a exaustão de

duas rodadas de sexo, ela sorri preguiçosamente e diz:

— Eu sei que você aguenta, tio. — Pisca e eu acho graça do

tratamento que antes me irritava. — Meu traseiro está tão dolorido,


uma dor estranha e também gostosa. — Fico feliz com suas

palavras. — Será que conseguirei andar amanhã?

— Se não conseguir, eu te carrego, Mari. Não se preocupe —


brinco, tentando esconder a tristeza por não poder fazer isso, já que

estamos vivendo como criminosos.

— E eu vou dizer o que? Oi, gente, não posso caminhar


porque dei o cu.

— Se preferir.

Ela mete um tapa seco no meu braço e eu não seguro o riso.

— Que bom que veio, querido — diz, bocejando. — Estava


sentindo sua falta.

— Eu também, princesa. Não poderia dormir sem te ter —

confesso. — Quando te liguei já estava igual um louco dando voltas


de carro aqui por perto.
— Te amo por isso — declara e eu recebo como se fosse
música para os meus ouvidos.

— Só por isso? — Sorrindo, ela confirma com a cabeça. —

Vem, vou te dar um banho de banheira e cuidar desse seu rabinho


delicioso.

— Agradeço. — Se aproxima e beija meu peito suado.

— E aí, gostou de fazer sexo anal?


— Apesar de estar meio doída, foi uma experiência

maravilhosa. Uma coisa tão transgressora e pecaminosa... Eu quero

fazer de novo — pede, animada.

— Nós vamos, sua deliciosa. — Tiro os fios de cabelos suados


da sua testa. — Muitas e muitas vezes — garanto. — Agora, deixe

de ser preguiçosa e vem para o banho.

Pego minha pequena nos braços e, feliz, a carrego para dentro


do banheiro.
CAPÍTULO 42 FUTURO

Deitada e com a cabeça descansando no peito forte do Erick, aceito


o seu carinho feito com a ponta dos dedos no meu couro cabeludo.
Mesmo caindo de sono, não me permito fechar os olhos, não posso

e não quero perder o tempo que temos para ficarmos juntos. Depois
de tudo o que aconteceu e de estarmos sendo obrigados a namorar
escondidos, os nossos momentos juntos, que já eram valorizados,

passaram a ser mais ainda.


Não quero pensar que daqui a pouco Erick vai levantar para ir
para o seu apartamento, onde tanto eu quanto ele estaremos em

camas separadas, sofrendo a ausência do outro.

Depois de experimentar o seu tão desejado sexo anal e de me


ouvir dizer que tinha adorado a pecaminosa experiência, meu

namorado, com todo o cuidado, me levou para o banho e depois de

cuidar das minhas áreas doloridas, lavou-me por completo, para


enfim tomar o seu banho e nos deitar sobre a convidativa cama de

casal.
— Posso saber por onde anda os pensamentos da minha

mulher? — indaga e eu levanto a cabeça para fitar o seu belo rosto.


Acho que nunca vou me acostumar com a beleza desse

homem. Não é uma beleza comum, longe disso. Erick tem um rosto

forte, passando até mesmo arrogância com seus frios olhos azuis e
sua costumeira cara de mau. O que fascina não só a mim, como

também o resto das suas admiradoras, é toda essa virilidade e a

pose de macho alfa, que faz qualquer uma desejar ser protegida por
ele.

— Nada demais, apenas pensando no quanto você é lindo,

sexy, viril e gostoso.


— Gostosa e linda é você, mulher. — Segura minha mandíbula

e quando estou com o bico igual a boca de um peixe, ele dá um


beijo nela e depois uma mordida no lábio inferior.

— Eu amo quando você me chama de minha mulher —

admito.

— Você é minha mulher e eu sou o seu homem — afirma.

— Sim, meu homem perverso. — Lembro da forma pervertida

como fodeu a minha bunda, das palavras sujas que nem eu sabia
que gostaria tanto de ouvir. Não só ouvir, já que a cada transa eu

fico mais desinibida e tão boca suja quanto ele.


— Seu homem perverso ainda vai foder muito esse seu
cuzinho apertado, minha safada. — Chega meu corpo mais para

perto e aperta minha bunda com gosto.

— E eu não irei reclamar. — Apesar da dor inicial que me deu

a sensação de que seria partida em duas e de não saber se

conseguirei caminhar amanhã, achei a experiência muito prazerosa

e certamente terei vontade de fazer de novo.


E indescritível a sensação de pertencer a ele de todas as

formas.

— Sei que não, até porque a sua bunda é o segundo lugar

preferido do meu pau, só perde mesmo para sua boceta, que é a

nossa pequena amiguinha — ele fala e rir das próprias palavras.

— Você é um cachorro safado — digo, olhando para o seu

sorriso sacana.
— E você é minha putinha mais safada ainda. — Traz minha

perna para cima do seu quadril.

Ainda bem que estou vestida com um pijama, que consiste em

uma blusa fina de alcinha e um shortinho curto de malha, e ele com

sua boxer branca, pois pelo rumo que esse papo está indo, se a

passagem estivesse livre, já estaríamos indo para o terceiro round


da noite.
— Achei que era a sua mulherzinha. — Com minha perna na

sua cintura, o provoco quando colo nossos sexos protegidos.


— E você é — diz, ainda com a mão na minha bunda. —

Agora é minha mulherzinha, depois minha esposa e depois a


mamãe dos meus bebês. — A cada etapa dos seus planos, ele
deixa um beijo em uma parte do meu rosto.

Com os olhos arregalados, não sei se acho engraçado o fato


de ele ter falado tudo no diminuitivo ou pela descoberta desses

planos. A única certeza que tenho é de que estou muito feliz. Viver
todas essas fases da minha vida é tudo o que eu quero para o

futuro, desde que seja com ele.


— Erick, você quer tudo isso, de verdade? — Tenho que
confirmar que não estou delirando aqui.

— É o que eu mais desejo, meu anjo — revela, sem titubear.


Quero casar com você, ter você oficialmente minha. Poder te dar

uma aliança e chamar de minha esposa.


— Isso por acaso é um pedido? — Minha boca grande tenta

nos constranger.
— Ainda não, princesa. Mas muito em breve será. — Tenho
vontade de pular de alegria. — É só que...

— Que foi, Erick? — Vi que de repente ficou apreensivo.


— Você ainda é tão nova. — Analisa meu rosto com cuidado.

— Tem apenas dezoito anos. Eu só não quero roubar a sua


juventude...

— Não começa com isso, por favor — peço por não suportar o
rumo que os seus pensamentos estão querendo tomar. — Sou eu

quem deve escolher isso. Não percebe que não está roubando coisa
alguma? Que mesmo estando praticamente casada, eu continuo
com os meus amigos, tendo minha independência e trabalhando

com o que gosto? deve escolher isso. Tire essa ideia da cabeça, a
— Eu sei, mas..., eu continuo com meus

— Não tem mas, nem meio mas, Erick — interrompo. —


Quando você achar que é o momento, vai me fazer o pedido e cabe
a mim dar a resposta certa e julgar o que é melhor para nós dois. —

Ao fim, beijo a sua boca.


— E quanto aos bebês? — Desce os olhos para a minha

barriga lisa.
— Você os quer?

— Muito, fico animado só de imaginar meu bebê aqui dentro.


— Passa a mão por meu ventre. — Te ver com a barriga enorme,
exibindo para o mundo o fruto do nosso amor.

— Pensamento mais besta esse seu — lhe repreendo.


— Você me faz muito possessivo, amor, e eu te garanto que
antes de você, essa não era minha principal característica. Vai
aguentar esse velho turrão no seu encalço? — debocha da nossa

diferença de idade.
— Você sabe que não tem uma única veia velha, não sabe? —

Erick, com o seu sorriso quente, apenas dá de ombros e continua


passando a mão por minha perna, que descansa no seu quadril. —
É mais fácil eu criar cabelos brancos por tentar espantar as suas fãs

loucas. — Meu sorriso morre um pouco por lembrar que Patrícia é


uma delas. Só Erick ainda não se deu conta disso. Essa suposta

vingança é só uma desculpa por não ter ele.


— Admita, nós somos dois ciumentos possessivos. — Morde

meu pescoço antes de lamber dele até o ombro.


— Somos mesmo. Mas em minha defesa, eu digo que
somente cuido bem do meu homem.

— E eu da minha mulherzinha gostosa, que não sabe o quanto


chama atenção.

— Só quero chamar a sua — revelo, mesmo que não precise.


— Quanto aos bebês...
— Não os quer? — Volta a face, que já estava perto dos meus

peitos, para o meu rosto.


— Claro que sim, no momento certo. Antes, tenho alguns
objetivos a cumprir.
— Nisso eu tenho que concordar, antes dos filhos eu vou ser

um pouco egoísta. Quero você só para mim por um bom tempo. —


A mão esquerda continua acariciando a minha barriga. — Ainda

vamos transar muito antes de sermos interrompidos por choros de


bebês.
— Esse é o plano. — Pisco.

— E como andam as coisas lá no estúdio, linda? — pergunta e

eu amo o fato de ele ser tão atencioso com tudo o que se refere a
mim, nunca deixando de me perguntar sobre o meu trabalho.

Quando morávamos juntos, tínhamos o costume de contar um para

o outro como foi o dia de trabalho.

— Está tudo ótimo, a Lua a cada dia me dá mais autonomia


nas campanhas que fotografamos, e isso me deixa segura do

trabalho que estou fazendo.

— Fico feliz por você, querida. Já pensou em montar o seu


próprio estúdio?

— Você acha que devo? — indago, animada. Já tinha pensado

na ideia, mas ouvi-lo falar sobre significa demais para mim. Isso
deixa claro que confia no meu potencial.
— Muito, amor, eu já vi seu trabalho e é muito bom. — A mão

que estava no meio, já está na parte final da minha barriga e os


dedos ultrapassaram o elástico do short. — Quando quiser, pode

contar com minha ajuda.

— Eu sei. — Abraço a sua cintura, voltando a encostar nossos


sexos e prendendo sua mão no meio deles. — Vou ficar mais um

pouco, conseguir mostrar melhor o meu trabalho e então me

arriscar.

— Esse sim é um excelente plano, minha garota esperta —


elogia e ameaça enfiar a mão dentro do meu pijama.

— Dorme aqui hoje? — Faço o biquinho que sempre o

desmonta. Vendo que ele não diz nada, continuo. — Eu não


aguento mais isso, estou cansada de ficarmos nos esgueirando

como dois criminosos.

— Está acabando, eu prometo.


— Tem certeza?

— Tenho. Bruno e eu temos evidências de que Patrícia anda

envolvida com um escândalo de desvio de dinheiro em uma grande

empresa. Antes precisamos reunir todas as evidências e só então


cercá-la.
— Que bom, não vejo a hora de ter tudo como era antes —

reclamo, e no meio do papo, o safado já tem a mão totalmente

dentro do meu short. Como estou sem calcinha, ele tem total
acesso, mas prefere ficar com a mão parada, como se nada

estivesse acontecendo.

— O mesmo aqui — afirma, me fazendo olhar para onde sua

mão se perde. — Que foi? — pergunta na maior cara dura. — Estou


apenas deixando ela aquecida, aqui dentro está tão quentinho. —

Abaixa a cabeça e morde a pontinha da minha orelha.

— Cachorro — digo e percebo que sua boca suja me pegou de


vez.

— Cadela — devolve, insinuando o dedo médio entre os lábios

da minha boceta.

— Não me diga que você está querendo transar de novo,


Erick? — pergunto e o sacana dá um sorriso de canto.

— Tudo bem, eu não digo. Mas eu estou querendo trepar sim.

Meus olhos arregalam. Como pode ser tão insaciável? Já


transamos duas vezes, nem faz uma hora que terminamos a última.

Quem estou querendo enganar? Eu também não negarei fogo,

caso ele realmente queira fazer sexo pela terceira vez.


— Não tem que ir embora? — Fico torcendo para que diga que

não.
— Tenho sim, mas não estou querendo ir, assim como nós não

vamos transar.

— Não vamos? — pergunto, entregando que também queria.


— Não, Marina. Hoje eu já judiei demais de você, capaz de

acordar assada pela manhã. — Seu dedo já está num entra e sai

cadenciado na minha boceta que começa a ficar muito molhada.

— E essa mão? — Espero que não entenda como uma


reclamação, até porque meu quadril já está a todo vapor, se

insinuando de encontro ao seu dedo.

— Não transar não significa que não posso te fazer gozar. —


Desce minha perna da sua cintura, olha para o seu pau que ostenta

uma evidente ereção e eu entendo o que ele pretende.

— Tem razão — digo ao receber a língua dentro da minha

boca.
Mais abaixo, temos o meu pijama descido até metade das

pernas e a sua cueca boxer abaixada o suficiente, enquanto nossas

mãos trabalham, se masturbando mutuamente.


Nossa noite termina com nossos corpos exaustos, porém,

satisfeitos e sorrindo. Eu adormeço com a esperança de que tudo


vai ficar bem e de que em breve terei o meu amor de volta em casa.
CAPÍTULO 43 DESESPERADO

— Amor. — Desperto com a cabeça quase explodindo de dor e,


como de costume, olho para a janela e vejo que o dia começa a

amanhecer. Pela fresta da ventana, percebo que está


estranhamente nublado, considerando o clima quente do dia
anterior. — Cadê você? — Ainda desnorteado e meio dormindo,
estico a mão até o lado em que Marina costuma estar e o encontro

frio e vazio. — Vamos atrás da garota fujona. — Trajando um


moletom escuro, uma das peças que deixei no nosso closet antes
de me mudar, levanto, calço meu chinelo de dedo e rapidamente

desço as escadas. — Marina? — chamo, depois de chegar na sala


que está em completo silêncio.

Não lhe encontrando, parto para a cozinha e ainda não a


vendo, volto e, pela primeira vez, noto que a porta de entrada está

aberta. Lá de fora, entra um forte e sinistro vento, mais estranho

ainda é a chuva fina que cai e molha o gramado bem cuidado.


Sendo levado por uma estranha curiosidade, me dirijo até a

porta e meus olhos varrem todo o jardim que é castigado pela


chuva, quando eles chegam na piscina, percebo que tem alguma

coisa boiando dentro da água.


Sem me importar com a chuva me molhando, chego perto,

vejo a água azul banhando-se de vermelho e lá no meio existe um

corpo flutuando, não um corpo desconhecido, parece ser a minha...


— Marina. — Meu estômago embrulha e meus olhos ardem

antes mesmo que eu pule dentro da água tingida de vermelho

Com medo, viro seu corpo para cima e quando a vejo de olhos
abertos e vidrados e com a boca num tom de roxo, meu coração se

parte em mil pedaços e eu só consigo pensar que ela está morta. A

minha Marina está morta!


Abraço o seu corpo frio e em um choro barulhento e

desesperado, começo a lhe sacudir enquanto inutilmente imploro:


— Não faz isso comigo, acorda. — Balanço o seu corpo inerte.

— Marina... Marina — meu grito cada vez mais alto se mistura com

uma voz que ao longe chama o meu nome sem parar.

— Erick!

— Não. Volte, amor. — Meu choro vem cada vem mais sofrido

e desesperado. — Marina... — Levanto a cabeça para o céu,


deixando que a água que cai dele molhe meu rosto tanto quanto as

lágrimas.
— Erick — me chama cada vez mais alto a voz doce, porém,
preocupada. — Amor, vamos, abra os olhos. — Em meio ao

sofrimento e o frio, sinto algo aquecer o meu rosto. Não só o rosto,

mas também o coração.

— Marina... — sussurro entre soluços, ainda sem conseguir

sair do pesadelo.

— Aqui — uma voz fala baixinho ao meu ouvido e um pequeno


e conhecido corpo está em cima do meu. — Abra seus lindos olhos

e olhe para mim. Eu estou aqui. — Com o corpo todo colado ao

meu, sua cabeça deita na curva do meu pescoço.

Chorando tão copiosamente quanto chorava no pesadelo, abro

os olhos e, com alívio, veja pela janela o sol brilhar do lado de fora,

trazendo para dentro do ambiente o calor que começa a apagar as

lembranças frias.
É também com alívio que eu aperto entre os meus braços o

corpo quente e pulsante da minha namorada, não o frio e sem vida

que vem me perseguindo há várias semanas nos meus piores

pesadelos.

Por um tempo, fico apenas agarrado à Marina ouvindo as

ritmadas batidas do seu coração. Esse som que tem sido música
para os meus ouvidos. Se pudesse, eu passaria horas a fio somente

ouvido o som da sua respiração e com seu corpo todo em mim.


Quando os soluços já estão mais baixos e o choro quase

parando, a minha pequena começa a fazer o que sempre tem feito e


eu mais uma vez tento lhe dissuadir da ideia.
— Não. Não quero que se sinta obrigada a...

— Eu quero, na verdade, eu desejo. — Começa pela minha


boca e vai descendo beijos pelo meu peito. — Quero te fazer se

sentir bem — revela.


— Acordar com o seu corpo sobre o meu já me fez bem, amor.

— Quero que se sinta melhor do que bem. — Sua língua


deliciosa lambe o meu abdômen. — Que esqueça esses pesadelos
horrorosos e pense apenas em mim.

— É tudo o que eu faço, Marina. — Trinco os dentes quando


sua boca fica cada vez mais perto do meu sexo, que começa a ficar

rijo. — Os pesadelos... são frutos... — Me esforço para terminar a


frase quando sua mãozinha abaixa o elástico da calça e começa a

manipular o meu pau, que termina de endurecer entre os seus


dedos — do meu medo de te perder...
— Esquece os pesadelos. — Faz movimentos de sobe e

desce. — Estou aqui, com você. Está sentindo? — quando faz a


pergunta, ela não espera a resposta antes da abocanhar a cabeça

do meu pau. Esquecendo do terror vivido minutos antes, levanto o


tronco e encontro os seus olhos me encarando cheios de malícia.

— Sinto... — digo, e minha voz sai ofegante quando pouco a


pouco ela vai me engolindo. Até onde consegue, Marina me engole,

compensando o que falta com sua mão, que intercala movimentos


circulares e apertados na medida certa do meu prazer. — E como
sinto... — Fora de mim, como só sua boquinha gulosa é capaz de

me deixar, passo a foder sua boca com movimentos de quadril. Aos


engasgos e banhando o meu comprimento com a sua saliva, Marina

aceita as minhas investidas do jeitinho que lhe ensinei a fazer. —


Chega, por favor... Eu vou gozar. — Ao me ouvir, ela aumenta a
força das chupadas, e eu acabo gozando dentro da sua boca, onde

a gostosa prontamente engole a minha porra sem nenhuma


demonstração de incômodo, pelo contrário, Marina me fita com a

cara mais safada do mundo. Ela passa o dedo pelos lábios e queixo
e, como quem limpasse os resquícios de sêmen, coloca o dedo

dentro da boca, chupando-o sem desviar os olhos em mim. Meu


pau, que até agora estava morto pelo recém-orgasmo, já começa a
se animar pela arte da minha garota safada. — Você sabe mesmo

como cuidar do seu homem, não é? — Puxo seu corpo para cima,
deito-a do meu lado e, em seguida, deito meu corpo em cima do
seu. — Minha gostosa. — Beijo sua boca e com a minha língua,
sinto o meu gosto através da sua. — Gosto bom — brinco quando

solto seus lábios, que estão totalmente vermelhos depois dos vários
minutos correspondendo ao meu beijo faminto. — Me responde uma

coisa?
— Claro. — Me encara, curiosa.
— Quando foi que a garotinha virgem, que veio para minha

cama como uma coelhinha assustada, se transformou nessa mulher


safada? Amor, você é muito boa nisso, age como uma puta sem

pudor. E sabe o melhor disso tudo? A doce garota que se


transforma na hora do sexo é só minha. Eu quem fiz isso com você,

não foi? — Volto a deitar as costas no colchão e trago a sua perna


para cima de mim.
— Não tinha como ser diferente tendo um homem como você.

E também, já fizemos tanto sexo que seria impossível não aprender


algumas coisas. Mas que bom que eu te agrado.

— É mais que agradar, pequena — digo, apertando a sua


bunda coberta com um shortinho curto. — Você me enlouquece de
todas as formas.
— A ideia é essa — a safada diz, se insinuando ao se
aconchegar melhor.
— Está tudo bem por aí? — Olho para baixo e ela cora por

entender ao que me refiro.


— Tudo bem — responde sem jeito, mas eu sei que não está.

— Meu amor, você não vai se importar se eu for comprovar,


não é? — Tenho seu rosto vermelho como um pimentão, quando,
lentamente, apenas para provocá-la, vou descendo as mãos até o

elástico do seu shortinho pijama. Ao encontrar a sua boceta

completamente encharcada e quente, descanso a minha mão em


cima e louco para mimá-la, pergunto com carinho depois de sentir

seu sobressalto: — É aqui que dói, gostosa? — Compassadamente,

meto dois dedos, fazendo em seguida um movimento de entra e sai

enquanto acaricio seu clitóris saliente com o polegar. — Está


melhor? — Beijo seu biquinho manhoso e excitado.

— Uhumm — geme em resposta, entre os beijos famintos que

iniciamos.
— O que mais posso fazer para aplacar essa dor, safada? —

Tiro meus dedos de dentro do seu sexo e os chupo sob o seu olhar

de desejo incontido. Depois, coloco o minha língua para fora e


fazendo exatamente o que eu esperava, Marina a chupa e, sem
tocar os nossos lábios, ela repete o movimento até que eu, prestes

a explodir de tesão, capturo a sua boca e dou o beijo que nós dois
gostamos de dar, do tipo que não pode ser feito em público. —

Sentiu como é gostosa? — Desejosa e estando deitados de lado,

ela circula a perna no meu quadril e passa a esfregar a boceta


contra minha perna que está coberta pela calça. — Ei, princesa.

Calma. — Com a força necessária, seguro a sua coxa, parando

assim os seus movimentos que estão me deixando num estado tão

crítico quanto o dela. — Eu vou fazer você se sentir bem — afirmo,


e ela beija meu peito.

Cheio de pressa, desço o seu short pelas pernas, libero a

minha ereção e deitados frente a frente, com a sua perna em cima


da minha cintura, penetro-a até o fim e da sua boca escapam

palavras que mais parecem gemidos.

— Ai, que delícia... — Ofega e não fica parada. Seu quadril


auxilia minha mão, que firmemente empurra a sua boceta no meu

pau.

— Se sente melhor, amor? Era isso que você queria?

— Uhum. — Puxa meu cabelo para baixo e deixa nossas


cabeças próximas uma da outra. Enquanto meto profundo, sua boca

morde a minha orelha, sua mão esquerda puxa o meu cabelo e a


outra livre passa as unhas por minhas costas, arranhando por cima

das marcas antigas e ainda não cicatrizadas. — Isso, porra. Mais

forte, Erick — implora e o som das nossas pélvis se batendo ressoa


pelo quarto.

— Como você quiser, gostosa. — Atendo o seu pedido e

penetro-a profundamente.

— Ai... Acho que vou...


— Tão boa. Tão minha. — Soco com força e estando prestes a

me perder, peço: — Vem comigo. — Sua boceta esfola o meu pau e

ela murmura:
— Sempre... — Marina goza e eu vou logo em seguida, me

derramando dentro do seu corpo exausto, porém, bem comido. —

Uau — diz, meio grogue e sem forças.

— Cada dia melhor — completo, analisando a delícia que é


essa mulher.

Depois do nosso costumeiro momento de recuperação, onde

suados de satisfação e com um sorriso no rosto, aguardamos a


nossa respiração voltar ao normal, caímos cada um para um lado.

Com nossos rostos fitando o teto, digo:

— Bom dia, pequena. — Entrelaço nossos dedos e levo sua

mão para a minha boca, deixando um beijo nela. — Perdão mais


uma vez.

— Não tem o que perdoar, a única coisa que lamento é não


poder estar do seu lado em todas as vezes que esses pesadelos

aparecem — revela com tristeza.

— Essas são as noites mais difíceis. Sabe o que é acordar


desesperado e não te ter do meu lado para comprovar que foi

apenas um sonho?

— Quando for assim, você pode me ligar, querido. — Viramos

os rostos e ficamos nos encarando de mãos dadas.


— Não vai precisar, isso está acabando. Quando eu parar a

Patrícia, esses pesadelos também passarão.

— Torço por isso, não suporto te ver sofrer.


— E eu amo a sua forma de me confortar.

Ela vira os olhos para cima em sinal de deboche.

— Será que você só pensa nisso?

— Com você, minha mulher gostosinha que sabe fazer o


melhor boquete? — provoco, pois, apesar de estar mais safada do

que nunca, seu rosto ainda cora como o de uma virgem. — Sim!

— Você não tem jeito — diz entre risos. — Agora deixe eu


tomar banho, porque hoje ainda tem trabalho. — Senta na cama e

continua: — Você vai depois, se formos juntos, vamos nos atrasar.


— Eu vou — teimo.

— Não vai, não — ela nega já na porta do banheiro.

— Vou sim, e ainda lavarei todo o seu corpo, principalmente a

bocetinha, e vai ser com a língua — são as últimas palavras que


digo antes de sair correndo atrás dela.
CAPÍTULO 44 CONFIDÊNCIAS

— Não acredito que teve coragem de fazer isso, Marina! — diz uma
Ângela abismada. Minha amiga está em seu biquíni azul que
combina com os seus olhos e seus cabelos negros.

— Fiz — afirmo, sem jeito.


Depois de esconder por vários dias, não consegui levar
adiante a mentira, não para Ângela, que me conhece mais do que

qualquer um — tirando o Erick — e já estava começando a


desconfiar desse término.
Se Erick me deu o Oscar pela atuação na cena do término do

nosso namoro, pela atuação com minha amiga certamente me

entregaria o troféu Framboesa de Ouro.


Depois de ter me visto tão triste pelas atitudes do meu

namorado e de posteriormente ter recebido de mim a notícia de que

Erick tinha acabado a nossa relação e saído de casa, Ângela se


sentiu na obrigação de me consolar e passou a me visitar todos os

dias.
Nas ocasiões, eu não sabia se ficava feliz pela sua lealdade ou

se irritada por ter mentido todos os dias para ela, que não merece
isso de mim. Depois dos primeiros dias em que eu realmente estava

mais sentida por não ter Erick tão perto, passei a ficar cada dia mais

à vontade e Ângela cada vez mais desconfiada das minhas reações.


Não que ela tenha me perguntado isso diretamente, era mais como

um olhar mais avaliativo. Ângela ficava me encarando com olhos de

rapina, e eu, como uma mosca atraída pela luz, ficava doida para
abrir o jogo.

Como deixar minha maior confidente de fora desse capítulo da

minha história?
O fato de ter conseguido esconder por duas semanas não foi o

suficiente para assegurar que o segredo continuaria.


Não depois da noite que tivemos na quinta e de ontem pela

manhã.

Como explicar as marcas de chupadas em várias partes das

minhas costas, as bochechas da minha bunda marcadas dos seus

dedos, que me segurou com possessividade, e para piorar, o fato de

eu estranhamente estar andando com as pernas meio abertas?


Dessa vez, ela não só perguntou de maneira direta o que já

desconfiava, como também me deu bronca por ter mentido por


tantos dias. A sua chateação só diminuiu quando eu revelei que
fizemos isso apenas para não a envolver, assim colocando-a em

perigo.

— Meu Deus! Nunca pensei. — Vejo que tenta procurar

palavras para expressar seu espanto com o fato de que eu liberei a

área proibida para o Erick. — E foi bom?

— Muito bom, tanto que não vejo a hora de fazer de novo —


confesso, relembrando tanto a delícia quanto a intensidade do ato.

— Esse seu namorado te transformou numa safada, Marina —

diz com os olhos fechados e a cabeça erguida para o sol.

Como é sábado e o dia amanheceu quente, convidei Ângela

para tomarmos sol e darmos uns mergulhos na piscina. Só não

lembrei que pelo meu corpo ainda teriam as marcas da noite agitada

que Erick nos proporcionou.


— Juro que não consigo imaginar uma coisa dessas. Um pau

cutucando um buraco tão pequeno e fechado — fala sem rodeios e

com sua boca suja de sempre. — Mas confesso que tenho certa

curiosidade — confidencia, ignorando o fato de eu estar sem jeito

pelo assunto.

— E o Diego? Nunca mais falou dele — mudo de assunto do


jeito que posso.
— Nem me fale o nome daquele idiota — pede e, de repente,

seu humor muda.


O idiota a quem ela se refere é um playboy, filho de amigos

esnobes dos seus pais. Com vinte e três anos, o cara que eu vi
poucas vezes teve um breve relacionamento com minha amiga, que
tem quase dezenove anos. Foi com ele que Ângela perdeu a sua

virgindade e a capacidade de acreditar no romantismo.


Pressionada por pai e mãe ambiciosos, que não sei até que

ponto controlam as suas vontades, Ângela se relacionou por alguns


meses com Diego, até que felizmente se livrou dele e em

circunstâncias que ela não me fala quais foram.


Só sei que de tanto tentar, ela conseguiu se livrar do namoro
insosso e hoje é mais cínica do que uma pessoa da nossa idade

deveria ser.
— Acabou mesmo? — tento tirar alguma coisa da pessoa que,

quando quer, se fecha como uma ostra.


— Acabou e dessa vez em definitivo. — Deve ser mesmo,

porque tem meses que não ouço falar o nome dele. — Graças a
Deus. — Levanta a mão para o céu.
— Por que namorava ele? — Sei que tem o dedo dos pais dela

nisso, mas desconfio que tem algo a mais e que Ângela não quer
me falar.

— Prefiro não falar disso, até porque não tem mais


importância. — Pega o protetor e começa a lambuzar a pele branca

novamente.
— Tudo bem. — Ajeito meus óculos de sol.

— Amiga, quem é que vem ali? — Nós ficamos de olho,


quando, de longe, notamos que o portão automático da garagem
começa a subir. — Quando eu cheguei o Jorge estava aqui. Está

esperando alguém?
— Não estou. Que estranho.

O carro tem os vidros escuros e por isso não consigo ver quem
é a pessoa que Jorge carrega dentro do automóvel. Se é que tem
alguém lá dentro, talvez ele tenha apenas levado o carro para fazer

manutenção.
Quando as portas do motorista e carona se abrem, meu sorriso

cresce por ver quem é a minha visita.


— Erick. — Sorrio de canto a canto

— Que gato, meu Deus — Ângela exclama, mas eu estou tão


concentrada no fato de tê-lo aqui que nem presto atenção em suas
palavras.
— Muito gostoso. — Minha boca fica seca por vê-lo vestido de
maneira casual.
— Eu quero esse homem — Ângela enfatiza, e olho para ela

de olhos arregalados, vendo que minha amiga tem o rosto vidrado


no meu namorado.

— Ângela? — chamo sua atenção e sou solenemente


ignorada.
Devo ter um enorme ponto de interrogação na minha testa. Ela

disse que quer o meu namorado?


Será que foi o sol?

— Não importa o que eu tenha que fazer, quem eu tenha que


tirar do meu caminho, vou ter ele na minha cama, ou eu não me

chamo Ângela Albuquerque. — Finalmente me olha e de mim seu


olhar retorna para a garagem.
Olho na mesma direção que minha amiga e só então percebo

que Erick não está sozinho. Do seu lado, caminha um alto e sério
Bruno vestindo um jeans escuro e camisa polo vermelha. Na sua

mão, há o que suponho ser um bastão de ferro que ele não ousa
abrir. Bruno caminha compassadamente ao lado do meu namorado,
que acompanha os seus passos de modo tranquilo.
— Ei, amor. — Levanto da espreguiçadeira e dou um selinho
assim que chegam do nosso lado. — Não estava te esperando.
— Eu percebi isso — responde quando seus olhos varrem meu

corpo de cima a baixo, se demorando na parte de baixo do meu


biquini vermelho estilo fio dental. — Dormiu bem? — Abaixa a

cabeça e cheira o meu pescoço.


— Poderia ter dormido melhor — digo com malícia, até que um
pigarro chama a nossa atenção.

— Não sei se o casal apaixonado percebeu, mas têm mais

pessoas aqui — Bruno assevera com a voz grossa e os seus óculos


escuros estilo aviador.

— Então você notou a minha presença? — Ângela diz com a

voz sarcástica e também se levanta, chegando bem perto de Bruno,

que segue sério.


— Essa voz...

— O que tem a minha voz, não gostou? — se insinua Ângela,

que nem de longe lembra a Ângela que eu conheço. Ousada, a


safada encosta nele e como quem tenta testar as reações, toca de

leve no braço do cara.

Olho para os dois, lado a lado, e de longe sinto o cheiro de


desastre.
Isso simplesmente não tem como dar certo, de todos os

homens no mundo, Bruno seria o último a ser recomendado para


Ângela em uma lista de preferência. Seria como ver trens

desgovernados se chocando em um terrível acidente, onde somente

restariam escombros para contar a história.


— Não tinha como não notar. — Não entendo sua afirmação e

acho que Ângela também não. Em seguida, meus olhos enxergam

ela afastar tanto a mão quanto o corpo de perto dele.

— O que quis dizer com isso? — indaga, sem jeito, de uma


forma que ela raramente fica. Atrás de mim, Erick fica em silêncio,

com os braços em volta da minha cintura, apenas observando tudo.

— Não importa, garota — responde, grosseiro.


— Devia pelo menos ser educado e falar isso olhando nos

meus olhos.

Puta que pariu! Ângela não devia ter dito isso. Na hora em que
ele ouve suas palavras, o rosto, que já estava sério, fica mais sério

ainda.

De modo brusco, ele encosta os seus corpos de maneira firme,

e um tanto grosseiro e avisa:


— Fique longe de mim, menina. Para o seu bem e para o meu,

apenas se mantenha distante. — Vira-lhe as costas e anda em


direção à casa com os seus costumeiros passos curtos. — Você

vem, Erick? Não tenho o dia todo.

— Vou lá para o escritório, amor. — Beija os meus lábios, sem


se importar com a presença de uma mortificada Ângela. — Vamos

discutir a melhor maneira de resolver aquele assunto — diz e parece

não se importar com o fato da minha amiga já estar sabendo de

tudo.
Isso me deixa esperançosa de que tudo esteja chegando ao

fim, se não estivesse, ele teria ficado incomodado por eu ter metido

mais uma pessoa no assunto.


— Tudo bem. — Mando beijo e ele apressa os passos para

alcançar o amigo.

— Porra! O que foi que aconteceu aqui? — Dramática, minha

amiga se joga na espreguiçadeira e continua: — Esse homem é


lindo e tenho a sensação de já tê-lo visto antes.

— Ângela...

— Pena não ter visto os olhos. Qual será a cor deles?


Eu sento de frente para ela e fico sem saber o que dizer. O

melhor será não alimentar as suas loucuras.

— Escuta o que ele disse, fi longe — suplico até pelo olhar. —

Vai ser melhor para vocês.


— Ele tem namorada?

Lembro de Lua, que não é mais, mas tem esperança de voltar


a ser.

— Tem, é a minha chefe, Lua — minto e me sinto culpada por

estar fazendo isso. É só que, depois ter visto o estado em que Lua
ficou depois do fora e de saber da história de Bruno através do

Erick, não acho que minha amiga precise dele em sua vida. E

também não acho que ele queira isso.

Ângela merece ser feliz, assim como eu estou sendo, e Bruno


não será o cara a fazer isso por ela.

— Que pena — diz e no seu rosto não tem nada que acuse a

sua real desistência — para ela.


Quando eu penso que a paz está perto de chegar, Ângela vem

com mais essa.


CAPÍTULO 45 TRUNFO

Dentro do escritório, que já não lembra a bagunça que eu mesmo fiz


no dia em que a víbora veio me ameaçar, um Bruno mais sério do

que o seu normal entra junto comigo.


— Algum problema, Bruno? — indago ao sentar atrás da mesa
e ele à frente. — Parece tenso.
— Aquela voz, quem é aquela garota? — pergunta, agora com

uma expressão enigmática no rosto.


Era só o que faltava. O Bruno começar algum tipo de fixação
na chatinha. Seria uma receita infalível para o desastre e sendo ela

a melhor amiga da minha mulher, me sinto no dever de tentar


apagar essa fagulha. Tenho certeza de que não é isso que Marina

quer para a sua Ângela.


— Bruno, essa moça... — Procuro a melhor maneira de dizer,

para não atiçar ainda mais a curiosidade dele. — Fique longe, ela

não é para você.


— E quem disse que eu quero alguma coisa com a garota? —

diz, negando com veemência. — Só me diz quem é ela.


— Ângela Albuquerque, deve ter dezenove anos e é a melhor

amiga da Marina, isso é tudo que você precisa saber.


— Albuquerque? — pergunta de forma estranha.

— Isso, conhece a família dela?

— Não — nega. — A voz dela... — Tira os óculos escuros,


coloca sobre a mesa e continua: — Tenho a impressão de já ter

ouvido antes, é como ouvir a voz de um anjo...

— Anjo? A menina é um demônio. Você só pode estar louco —


interfiro na sua ilusão.

— Se você diz. Mas não precisa se preocupar, eu não quero

nada com a menina — assegura e eu espero que esteja sendo


sincero. Bruno e Ângela seria problema demais para alguém

conseguir suportar.
— Tudo bem — encerro o assunto. — Conseguiu aquela

informação? — Estou ansioso por um resultado.

— Claro que sim, até parece que você não me conhece —

responde todo cheio de si.

Bruno é o tipo de homem que, sem que seja preciso fazer

qualquer tipo de ameaça, convence as pessoas a fazerem e,


principalmente, dizerem tudo o que ele precisa ouvir ou descobrir.
Isso é um dom e não é à toa que ele está entre os melhores
criminalistas do país.

— O que conseguiu?

— Ela está envolvida em um crime de apropriação indébita.

Descobri que andava pegando uns casos por fora do escritório e em

um desses casos, Patrícia se apropriou de uma grande soma de

dinheiro do cliente.
— Como foi isso?

Nos minutos que se seguem, Bruno não só me dá todos os

detalhes do delito cometido por Patrícia, como também dá a ótima

notícia de que convenceu a vítima a denunciá-la

— Isso é maravilhoso, cara, finalmente temos um trunfo contra

ela.

— Temos sim. Já sabe o que vai fazer?


— O mesmo que ela: chantagem.

— Isso é perigoso, Erick. Você sabe do que a mulher é capaz

— ele avisa.

— Eu sei que ela é perigosa, meu amigo, mas eu também

posso ser — assevero. — Para proteger a minha menina, sou capaz

de qualquer coisa, até de ir contra a lei.


— Você sabe que um crime de apropriação indébita não seria

o suficiente, não é? — Bruno questiona.


— Sei que não. Uma condenação, além de demorar, só vai

deixá-la ainda mais sedenta por me ferrar. Eu vou ameaçar ela com
essa informação, é isso.
— E será o suficiente?

— Creio que sim, agora que a mídia está do meu lado, ela não
vai gostar nada de ter seu nome jogado na lama. Com pessoas do

tipo dela, um escândalo em nível nacional será muito pior do que


uma condenação.

— Você tem razão. Vamos guardar as provas como trunfo,


tudo o que Patrícia não quer é ter o nome jogado na lama.
— É claro que não. Como vai conseguir dar os seus golpes

sem o nome de grande advogada que usa para se meter com os


figurões? — questiono, sorridente. — Bingo, meu amigo — digo,

satisfeito.
— Vai procurá-la? É bom que faça isso antes que descubra

que vocês nunca estiveram separados. Eu sinceramente não sei


qual seria a sua reação.
— Em breve entrarei em contato. Não vejo a hora de voltar

para casa. De dormir e acordar todos os dias ao lado da minha


mulher.

— Eita, nojo — Bruno zomba. — Para quando é o casamento?


— Ainda não sei, a verdade é que sonho com o dia em que

vou colocar uma aliança no dedo dela.


— E o que está esperando para fazer exatamente isso?

— Não acha ela muito nova para esse tipo de compromisso?


— Não acho. Não sei se você percebeu, mas até a louca
aparecer, vocês estavam vivendo uma vida de casados e se estava

dando certo, não vai ser um papel que irá dizer o contrário.
— Tem razão, confesso que não tinha pensado por esse

ângulo.
Eu e Marina já estamos casados, só falta um papel para
oficializar. A ideia de noivado e casamento me anima e eu tenho

ainda mais vontade de resolver a situação com a chantagista e


depois tornar tudo oficial.

— Eu sei que não, você só pensa em estar dentro da sua


branquinha.

— Olha lá como fala, filho da puta — reclamo. — Não chama


de branquinha, para você é Marina.
— Não está mais aqui quem falou, Tarzan.
— Agora que a parte chata acabou, vamos tomar uma
cerveja? — chamo, um pouco mais aliviado e acreditando que,
enfim, eu e minha garota teremos um pouco de paz.

— Por que você não admite que já está louco de saudade da


sua mulher, porra? — diz entre risos. Zombar da minha cara se

tornou o esporte preferido do Bruno, o fato de eu ser seu chefe, ele


não leva em conta.
— É claro que estou — retruco.

— Tudo bem, só uma cerveja. Deus me livre ficar muito tempo


perto da voz de anjo e personalidade do demônio.

— Não seja cínico, cara.


— Me diga, ela é tão bonita quanto a voz? Os cabelos são

escuros ou claros?
— Ela é bonita, sim — me limito a essa informação. — Quanto
ao resto, você vai ter que usar a sua imaginação.

— Você sabe que eu posso descobrir isso, não é? — indaga,


enigmático. Em todos esses anos em que Bruno trabalha no

escritório, ele, com todo o seu mistério, não deixa claro o quanto
consegue ver. Se às vezes tenho a impressão que vive na total
escuridão, em outras, suspeito do contrário, que bem ou mal, meu

amigo ainda é capaz de enxergar alguma coisa.


— Isso significa que...
— Nada, Erick. Não significa nada — Bruno corta o assunto,
como sempre acontece quando tento desvendá-lo. — Se me

permite, antes de descer, eu preciso usar o banheiro. — Se levanta


e vai na direção da porta.

— Tudo bem se eu ir na frente? — indago e seguindo o som


da minha voz, ele se volta para mim.
— Eu conheço o caminho — fala, irritado, antes de sumir pela

porta.

— Filho da puta! — O som da minha voz ecoa pelo ambiente


antes que eu imite meu amigo e saia do escritório.

— Posso saber por onde andam os pensamentos dessa


princesa? — sussurro no ouvido da minha gatinha ao me agachar

do lado da espreguiçadeira em que ela está tomando sol e analisar

o seu delicioso corpo, que veste um biquíni nada comportado e está


quente pelo sol. A garota é o pecado em forma de mulher. — Espero
que esteja pensando em mim. — Deixo um beijo no seu ombro

aquecido pelo sol das dez.


— Pode apostar que estava — responde ao se sentar, tirar os

óculos do rosto e colocá-los em cima da cabeça.

— Boas notícias. — Sento do seu lado e puxo suas pernas


para cima do meu colo.

— Sério? — Marina pergunta e vejo que minha menina se

anima, até abre um sorriso que é capaz de levar qualquer um a

nocaute.
— Sim, eu e Bruno temos um trunfo contra Patrícia — revelo

com entusiasmo. — Então, pode ir esquentando o meu lado da

nossa cama, porque em breve estarei de volta.


— Em breve quando? — indaga, querendo saber mais, e eu

imagino o quanto essa situação deve estar sendo difícil para ela. Se

é para mim que fui embora, imagine para minha gatinha, que tem
que ficar sozinha e com as lembranças de nós dois preenchendo

todos os cômodos da mansão.

— Vou marcar um encontro com ela para segunda-feira. Isso

quer dizer que, provavelmente, amanhã será nossa última noite


separados.

— Tome cuidado, meu amor — pede, preocupada.


— Pode deixar, por você, terei todo o cuidado do mundo. —

Beijo sua boca para tentar desfazer sua expressão preocupada.

— Que trunfo é esse que vocês têm contra ela?


— Amor, prefiro que não saiba nada sobre isso, está bem? —

A contragosto, ela balança a cabeça. — Quanto menos você souber,

mais protegida estará. Eu prometo te contar depois que acabar, tudo

bem?
— Eu confio em você. — Me abraça pelo pescoço e toda

manhosa, esconde o rosto no espaço entre meu pescoço e ombro.

— Linda. — Lhe ajeito melhor sobre as minhas pernas,


lamentando o fato de não estarmos sozinhos, apesar de que...

— Amor, a Ângela foi embora? — Somente agora me dei conta

de que Marina está sozinha na beira da piscina.

— Ela foi para o toalete.


— Aqui de fora? — indago quando uma ideia se forma na

minha cabeça.

— Não, o lá de dentro. E o Bruno, cadê? — me devolve a


pergunta.

— No banheiro, o lá de dentro também — revelo, e ela me olha

surpresa.

— Puta que pariu — falamos juntos.


— Você acha que eles...? — questiono.

— Seria uma péssima ideia — diz.


— Um desastre — reafirmo.

— A sorte é que Bruno não parece ter retribuído ao interesse

da Ângela.
— Verdade — me limito a dizer, pois não consigo falar outra

coisa. Não tenho ideia do motivo, mas Marina se preocupa demais

com a amiga e eu prefiro não ser a pessoa a colocar coisas na sua

cabeça que já está cheia dos nossos próprios problemas.


Por enquanto, é melhor que não saiba que Bruno está mais

interessado do que deixou transparecer. Só espero que não dê

tempo dos dois perturbados se encontrarem no caminho do


banheiro.

— Deixe eles para lá. — Começo a beijar do seu ombro até o

canto da boca. — Vamos aproveitar, pois eu passei a noite sentindo

a sua falta.
— Eu também, querido. — Mete a mãozinha por dentro da

minha camiseta, começa a alisar as minhas costas de maneira

provocativa e bem no meu pé do ouvido, propõe: — Sabe que essa


história de banheiro me deu uma ideia. Que tal se nós dois formos lá

um pouquinho?
— Você não está pensando...

— Estou sim, eu quero você e também quero privacidade. O

banheiro daqui de fora seria perfeito

— Muito pervertida — brinco, mas levanto com ela nos meus


braços e, aproveitando que estamos sozinhos, ela enrola suas

pernas na minha cintura e os braços no meu pescoço.

— Tive um ótimo professor. — Pisca com malícia e eu me


seguro para não apertar a sua bunda, que já está marcada das

nossas últimas transas.

— Teve sim. — Abro a porta do banheiro que fica no canto

direito do jardim e lhe coloco em cima da bancada de mármore


branco. — Lá vamos nós batizar mais um cômodo — digo. — Mais

um pouco e teremos transado em todos os cantos dessa mansão,

não é, minha delícia? — Abro suas pernas e me interponho entre


elas.

— Sim — ela responde na mesma hora que puxo o laço que

prende a parte de baixo do seu biquíni.


CAPÍTULO 46 FÚRIA

— Aqui está. — O moleque, que se acha um homem adulto, joga


um envelope pardo em cima da cama do quarto de hotel, que mais

parece uma espelunca.


— São as fotos? — indago e Mateus balança a cabeça antes
de sentar do meu lado.
Cheio de expectativa, o menino patético espera que eu abra o

conteúdo do envelope e seja eternamente agradecida pela


informação que me traz. Assim como todos os outros, esse garoto é
apenas mais um idiota que está disposto a fazer de tudo para me

agradar.
Depois que viu minha primeira interação com a idiota da

Marina, ele veio atrás de mim como um cachorrinho assustado, mas


não assustado o suficiente para frear a sua curiosidade. Dali e

imaginando que de alguma forma poderia me ser útil — já que

estava na companhia da garota —, levei o moleque para minha casa


e depois de um boquete bem feito, já o tinha em minhas mãos,

disposto a fazer tudo o que eu lhe pedisse.


Agora que o conheço um pouco melhor, já entendi pela forma

que ele fala que seu alvo nunca foi a vadiazinha — que não é muito,
devo confessar —, e sim a tal Ângela, melhor amiga e quase um

cão de guarda da Marina. Sem que precise revelar muito, entendi

que Mateus tem uma estranha fixação pela prima e quer de alguma
forma se beneficiar dos meus planos.

— Posso saber o que você ganha com isso? — Balanço o

envelope diante dos seus olhos.


— Além do óbvio? — Seus olhos medem meu corpo de cima a

baixo e sua mão começa a alisar a minha perna pela abertura da

camisola que a deixa desnuda.


— Sim, além do óbvio. — Coloco minha mão em cima da sua,

parando seus planos. Ele não pode estar achando que vou fazer o
sacrifício de transar com ele, quando tenho coisas mais importantes

para fazer. Se o sexo fosse pelo menos bom...

— Acho que isso é assunto meu, só precisa saber que a

amizade daquelas duas não me interessa em nada. Prefiro que a

Marina use seu tempo para solucionar seus próprios problemas do

que o tenha de sobra para se preocupar com Ângela.


— Entendi, mas isso também não me importa — corto o

discurso cansativo. — Vamos ver o que temos aqui. — Sob o seu


olhar cheio de expectativas, abro o lacre do envelope e pela textura
do papel confirmo que são as fotos. Mesmo as tendo em mãos, eu

custo a acreditar no que meus olhos veem.

Foto atrás de foto, vejo as imagens de Erick rondando a

mansão da vadia tarde da noite, o carro dele saindo de madrugada

pelo portão da garagem e até o carro do filho da puta do Bruno

aparece nas malditas fotos.


Não fazendo questão de conter a minha fúria, destruo todas a

fotos, rasgando uma a uma, até que fiquem em pedacinhos. Viro

para o moleque e pergunto:

— Como foi que você conseguiu isso? — Aponto para os

pedaços de papéis espalhados pelo quarto. — Essas imagens são

dessa semana?

— Todas dessa semana — confirma o quanto fui idiota.


— Você acha que eles estão...?

— Não está óbvio?

— Desgraçados! — Viro o corpo para trás e pego uma

almofada. — Eu vou acabar com aqueles dois. — Soco

furiosamente o pedaço de pano recheado com penas, como se

estivesse socando os dois ordinários e metidos a espertos.


— Você precisa se acalmar. — Ouvir a voz do moleque me

dizendo o que fazer aumenta ainda mais a minha raiva.


— Cale a boca — grito em sua direção. — Quer saber, dá o

fora daqui. — Vou até a porta e a deixo escancarada, mas o idiota


só sabe ficar me olhando com cara de assustado. — Fora — grito
mais alto e ele finalmente se mexe.

— Me ligue quando estiver mais calma. — Mateus sai, e eu


bato a porta com força.

— Vocês não têm ideia da besteira que fizeram — falo


sozinha, andando de um lado para o outro. — Vão pagar muito caro

por ter tentado me passar para trás. Principalmente você, sua


vadiazinha dos infernos — falo para o travesseiro imaginando que
seja o rosto odioso da garota. — O Erick vai ser meu, só meu.

Eu devia ter imagino que isso iria acontecer.


Como eu fui burra!

Tudo por culpa da filha da Cristina, eu estava tão perto, sei que
estava. O Erick estava sofrendo a morte do amigo sozinho,

precisando de um ombro que o consolasse pela perda. Eu ia ajudar,


juro que ia. Estava tudo planejado na minha mente.
Se não fosse a vagabunda mirim, a essas horas o Erick já teria

até me pedido em casamento, tenho certeza. Estaríamos os dois


tocando o escritório felizes, muito felizes.

Mas também, como eu iria imaginar que ele iria se interessar


por uma garota tão sem graça como a filha da Cristina? Uma

mocinha sem sal, com sua eterna cara de cachorro sem dono. No
mínimo usa da fragilidade para prender o meu homem, e como ele é

um idiota de coração mole, deve estar do lado dela por pena.


— É, Erick, você não está me dando outra opção — digo, não
conseguindo ficar parada. — Se você não consegue fazer isso, eu

mesma vou ter que me livrar dela para nós.


Sorrio satisfeita ao pensar que nem tudo está perdido. Se

neste momento ela está com Erick rindo da minha cara, é bom que
aproveite bastante, porque essa alegria está perto de acabar.
Não importa como ou onde eu tenha que chegar, mas esses

dois não vão ficar juntos, isso eu garanto.


— É isso, Patrícia, você vai se livrar da garota. Você não

queria fazer isso, foram eles que pediram. Eu juro que foi. E você,
meu caro. — Pego um recorte de revista que contém a foto do Erick,

beijo o pedaço de papel e afirmo: — Vai ser meu, ou não vai ser de
mais ninguém.
Depois do que os dois aprontaram, eles merecem o que irei

fazer. Guardo a foto dentro de uma gaveta, troco de roupa


rapidamente e pego o que preciso antes de sair do quarto.
CAPÍTULO 47 OFICIAL

— Bom dia... — digo, e minha voz soa abafada, talvez por minha
boca estar contra os travesseiros. — Vejo que alguém acordou
animado — digo, ao sentir seu corpo quente pairar sobre o meu e

sua boca começar a descer beijos desde o meu pescoço e ir


deslizando pelas costas. No processo, Erick vai abaixando pouco a
pouco o pano fino que cobre a minha nudez.

— Do seu lado, eu sempre acordo animado e você sabe disso,


minha garota safada — afirma ao dar uma mordida bem perto de
onde ficam as minhas costelas, depois ele continua descendo o

pano, até que consegue desnudar a minha bunda. Ao fazer isso,

Erick fica em silêncio, apenas me observando com atenção.


— Algum problema, querido? — indago, preocupada.

— Amor, não acha que está na hora de nós pegarmos um

pouco mais leve? — Seu dedo alisa alguns pontos da minha pele e
pelo que parece, seus olhos só agora repararam nas costas que

acabou de beijar.
— Onde você está querendo chegar com essa conversa,

Erick? — Viro meu rosto para trás, na intenção de enxergar melhor


o seu rosto, pois o corpo morto de preguiça e ainda lânguido pelas

atividades da noite anterior permanece deitado de bruços.

— Se você estivesse vendo o que eu vejo, iria entender,


querida. Suas costas e bunda... — ele começa e já sei o fim da

frase.

— Não vem com esse papo de novo — repreendo. — E daí


que no meu corpo tenha algumas marcas? Suas costas também

têm marcas das minhas unhas. Isso é o que nós somos, meu amor,

e você não pode frear.


— É que... — Fica por um momento apreensivo. — Eu fico

doente só de pensar que de alguma forma posso estar te


machucando. Sei que você sente prazer, quer dizer, que nós dois

sentimos prazer com o tipo de sexo que estamos fazendo, mas...

Quando ele vai começar a listar os seus temores, viro com a

barriga para cima, oportunidade em que seus olhos vão direto para

as duas marcas que sua boca deixou nela e já não tenho certeza se

deveria ter feito isso. Como não quero dar tempo para que pense
demais, coloco a mão na sua boca e digo:
— Não tem um "mas", Erick, já disse que não sou uma boneca
que a qualquer momento vai se quebrar. Elas parecem piores do

que são, mas é porque sou branca demais e esse é o único

problema aqui.

— Tem ideia do que as pessoas pensarão ao verem isso aqui?

— Pensativo, alisa as marcas na minha barriga.

— Ninguém vai ver, assim como não vão ver os arranhões nas
suas costas — digo ao fazer carinho na sua barba por fazer, que ele

aprendeu a deixar depois que eu confessei gostar dela assim. — E

se alguém notar, vou falar que meu namorado faz o sexo mais

delicioso do mundo, que as mesmas marcas que eu tenho, ele

também carrega na pele.

— Você tem mesmo dezoito anos? — Paira o corpo sobre o

meu e sua boca beija o meu pescoço. — E muito madura, sabia?


— São dezoito anos, mas a mentalidade tenta acompanhar a

seriedade do meu homem.

— Não fale assim — pede e a mão fica despreocupadamente

em cima do meu peito.

— O que foi que eu falei? — indago, sem entender onde foi

que me perdi.
— Meu homem — responde, e já sei que a neura passou e o

modo safado foi ativado. — Quando diz isso, fico com vontade de te
comer todinha. Minha mulher!

— E eu fico com vontade de me dar para você quando me


chama de sua mulher.
— Você quer, ou acha que ainda é muito cedo para isso? —

pergunta, e percebo certa insegurança na sua voz.


Eu já não sou a mulher dele? Pelo menos foi isso que acabou

de afirmar.
— Isso o que? Você está bem? — pergunto. — Desde a hora

em que abriu esses lindos olhos azuis que está agindo e falando
coisas estranhas.
Ele não responde, mas vira o corpo para a beira da cama,

estende o braço, abre a primeira gaveta do criado-mudo branco e de


lá tira alguma coisa que eu não tenho ideia do que seja.

— Estou bem, só um pouco nervoso — revela, deixando claro


que tem algo importante para dizer.

Neste momento, meu coração dispara e eu não sei se estou


preparada. Depois da turbulência pela qual a nossa relação passou,
ando meio cabreira sempre que ele tem alguma coisa séria para

dizer.
— Posso só ir ao banheiro antes? — peço.

Além da minha bexiga está cheia, não quero ter outra conversa
— além da que os nossos corpos costumam ter na maioria das

manhãs — com os olhos cheios de remela e com mau hálito


matinal.

— Claro, querida — afirma ao dar um selinho na minha boca e


ainda com o objeto na mão esquerda, levanta-se e diz: — Também
preciso usar o banheiro. E também quero que tenha privacidade —

afirma e veste sua calça jeans que estava jogada no chão, já que a
cueca provavelmente ficou pelo meio do caminho até aqui.

— Está bom — digo, e ele dá uma piscadela antes de tentar


passar pela porta que está fechada.
— Meu amor? Tudo bem? — Chego do seu lado, me

esforçando para segurar o riso e checando a sua testa que acabou


de dar um beijo na porta.

— Sim — diz, todo sem jeito e desconcertado, uma


característica que ele nunca demonstrou ter, porque de fato não

tem. — Até mais, linda. Nós encontramos aqui?


— Sim — confirmo. — Vai poder passar o dia aqui comigo?
Hoje é domingo e tudo que eu quero é passá-lo ao lado do

meu namorado. Sem preocupação e nada para fazer. Apenas


curtindo a preguiça e namorando.
Não sei nem descrever o susto e a alegria que senti, quando,
lá pelas três da manhã, Erick se deitou do meu lado na cama.

Segundo ele, esse é o melhor horário de aparecer por aqui, já que é


a hora de menor movimentação e consequentemente levanta menos

suspeita.
Sei que ele tem muito medo do que possa acontecer caso a
víbora nos descubra e talvez por isso não o pressiono — tanto —

quando quero que passe a noite em casa, coisa que acontece todos
os dias.

— É claro, amor, mas nós vamos ter que ficar trancados aqui e
só poderei sair de madrugada, assim como cheguei hoje.

— Amei esse castigo — digo. Ele abre o sorriso, me dá outro


beijinho e sai do quarto.
Com pressa, entro no banheiro e faço o que tenho que fazer.

— Meu Deus! Você está pavorosa, Marina — digo a mim


mesma em frente ao espelho.
— Como você é burro, Erick — repreendo a mim mesmo na
frente do espelho, depois de ter feito minha higiene básica matinal.
— Passando vergonha na frente da sua garota — digo em voz alta

ao pegar o brilhante de dentro do bolso traseiro da calça.


Após a conversa em que o Bruno abriu os meus olhos para a

situação em que Marina e eu já vivemos, não me aguentei e horas


depois estava na mesma loja em que comprei o anel de
compromisso e, dessa vez, comprei o anel de noivado.

Com o brilhante bem na frente das minhas vistas, fico me

perguntando se vou fazer a coisa certa. Se não estarei sendo


precipitado demais.

Bem, a resposta eu só vou saber se for lá e perguntar para ela.

Bruno tem razão em tudo que disse. Marina e eu vivemos

como marido e mulher desde o início do namoro.


A fase em que cada um mora para um lado, dormindo juntos

por algumas vezes, só veio agora e foi somente porque fomos

induzidos a isso. Se não fosse por Patrícia nos ameaçando, eu e ela


não teríamos tido a sensação de um namoro convencional.

Meu amigo também teve razão quando me alertou que o medo

de fazer a proposta é ilegítimo. Minha garota, apesar da idade, tem


plenas condições de entender exatamente o que um noivado e um
casamento implicam. E também, não é como se fôssemos casar

amanhã mesmo. Na minha cabeça, o noivado é apenas o primeiro


passo de uma caminhada rumo ao destino final, que é tê-la

oficialmente minha e eu seu.

A aliança no seu dedo é como tornar ainda mais definitivo o


nosso relacionamento, é deixar que todos saibam que ela tem dono,

assim como eu também tenho, sim, pois da mesma forma que fiz

com o anel de compromisso, estou disposto a usar a minha aliança.

Não tenho intenção nenhuma de tentar passar a ideia de que estou


livre, quando a realidade não poderia ser mais diferente.

— Vamos lá, cara — digo em voz alta ao ter decidido que o

tempo de ser cagão acabou. — Ela já deve estar preocupada com a


demora.

Depois de me convencer de que estou tomando a decisão

certa, saio do quarto e rezo para que Marina me dê a resposta que


eu espero obter.

Ao entrar novamente dentro do nosso quarto, encontro Marina

com seu vestidinho florido e de alças, sentada no sofá de dois

assentos que fica na lateral direita do quarto. Ela abaixa o celular


que até então encarava com total concentração e me fita, esperando

que eu diga alguma coisa.


— Atrapalho? — Aponto para o celular.

— Não, só estava lendo meu livro enquanto você não vinha —

afirma, me fazendo lembrar do quanto ela gosta de ler. Os romances


são sua paixão e minha garota é adepta dos livros digitais, pois,

segundo seu entendimento, são práticos e mais leves.

— Marina... — Me ajoelho na sua frente, apoiando as mãos em

cima do seu colo. — Eu não sei como fazer isso sem parecer um
completo idiota — começo e minha voz sai esganiçada por eu estar

nervoso demais.

— Estou ficando preocupada, amor. Você está tremendo? —


Aflita, meu anjo passa a mão pelo meu rosto.

Estou sim!

— Se a situação fosse outra, faria tudo do jeito que você

merece — começo a me justificar. — É só que... Não posso mais


esperar e não posso fazer do jeito grandioso que gostaria e que

você merece — confesso a verdade.

Eu sei que poderia esperar e aguentar mais uns dias até fazer
isso da maneira que ela merece, mas a empolgação de saber que

estamos prestes a ter a nossa liberdade de volta foi tanta, que não

aguentei, quando dei por mim, já estava na joalheria, assim como

estou aqui, de joelhos e sem saber ao certo o que dizer.


— Erick, você não está... — começa e se emocionar,

colocando a mão na boca para disfarçar o fato.


É, meu amor, é exatamente isso que passa pela sua cabeça.

— Estou sim. — Abaixo a sua mão esquerda e abro a direita,

que até então estava fechada em cima do seu colo. — Eu amo você
mais que tudo nessa vida, por isso queria saber...

— Sim!

— Casa comigo.

Falamos ao mesmo tempo e, com os olhos marejados, Marina


olha para o anel que ostenta uma brilhante pedra de diamante,

pedra essa que tem dentro dela o formato de dois corações

entrelaçados, assim como eu quero que seja a nossa vida daqui em


diante.
CAPÍTULO 48 NOIVOS

— Desculpe — peço entre risos e lágrimas.


Sim, pareço uma doida ao fazer as duas coisas ao mesmo tempo.
Mas como me segurar quando tenho o homem da minha vida me

pedindo de joelhos para ser sua esposa?


Acho que estou até me comportando bem, poderia ser pior, eu
poderia estar agindo como a maluca que finjo não ser e sair

correndo pela casa, contando para todos os funcionários que eu,


Marina Junqueira, fui pedida em casamento.
— Pelo quê? — pergunta meu noivo, que delícia falar essa

palavra, ao me tira do meu devaneio e me fitar com um olhar

curioso.
Ele deve estar me achando uma maluca. Não julgo se tiver, eu

também acharia estranho ver alguém rir e chorar ao mesmo tempo.

— Não pareço uma doida?


— Parece sim, mas é a minha doidinha — diz, sendo fofo. —

Posso? — pede a minha mão.


— Deve. — Estico a mão esquerda e ele coloca a aliança,

beijando meu dedo em seguida.


— Por essas lágrimas, posso supor que gostou dela? —

indaga, olhando para o anel de diamante enfeitando o meu dedo.

— Eu amei, de verdade, querido. — Fico babando e pensando


em como Erick me conhece bem, escolheu uma aliança que é a

minha cara, nem menos nem mais, e sim a que eu provavelmente

escolheria se tivesse ido junto.


— Que bom, porque dessa vez eu não tive a ajuda da chatinha

— revela ao se levantar, correr até o criado e tirar alguma coisa da

gaveta. — Agora sim. — Volta, ostentando uma aliança de prata na


mão esquerda. — Noivos.

Parado na minha frente, meu amor me estende a mão, e eu a


pego, sem pensar em mais nada que não seja esse momento

especial.

Vendo de perto o rosto tão amado por mim, entendo que tudo

valeu a pena. Se para chegarmos até aqui foi preciso andarmos por

caminhos tortuosos, garanto que viveria tudo outra vez. Tudo o que

me trouxe para este dia, neste quarto e com ele, que em breve vai
ser oficialmente meu.

Meu esposo, o amor para toda vida.


— Noivos. — Enlaço o seu pescoço e ao circular a minha
cintura em um abraço possessivo, Erick me beija, um beijo calmo e

cheio de significado, onde tenta transmitir sentimentos que no

momento a boca não pode falar.

— Amo você — ele diz depois de um tempo. — Amo — Beija

meu pescoço — você. — Beija todo o meu rosto e finaliza: — Minha

vida — Erick diz essa última parte olhando dentro dos meus olhos e
eu não consigo fazer ou dizer nada, além de beijá-lo novamente.

Dessa vez e diferente do seu, meu beijo foi mais faminto,

daqueles que fazem a gente perder o rumo de casa. O tipo que faz

a calcinha molhar, caso você esteja vestindo uma, e que traz uma

repentina vontade de ficar e de deixar alguém nu. O bom dele é que

afeta o meu homem na mesma medida em que me afeta, pois

quando dou por mim, Erick já tirou o meu vestido e calcinha e em


segundos me vejo de volta a cama e com meu noivinho mandando

ver.

Da primeira vez, optamos pelo amor gostoso, em homenagem

ao nosso noivado, e da segunda, fodemos do jeito que eu e o diabo

gosta, o tipo de transa em que se ouve palavrões ao invés de

declarações, e tapas e arranhões, ao invés de beijos e afagos.


Tanto no amor lento e cheio de sentimentos, quanto no sexo

cru e frenético, o prazer que eu e Erick sentimos é o mesmo, a


diferença é que eu amo e aceito ele, ao passo que meu preocupado

noivo, apesar de amar, tentar se abster de fazê-lo por medo de


julgamentos errôneos.
Apesar de não concordar, tento entender o seu temor pelas

interpretações erradas que as marcas do nosso sexo podem


resultar, mas, por outro lado, apesar de eu o compreender, sempre

tento colocar na sua cabeça que não tem nada de errado conosco,
que o que acontece no nosso quarto não é e nem nunca será pauta

para julgamentos, até porque a nossa diferença de idade já é


assunto suficiente para que algumas mentes preconceituosas nos
virem a cara.

O que eu quero é o Erick de agora, que se dá e me dá prazer


do jeito que apreciamos, sem se preocupar se pode ou não me

machucar quando as coisas ficam quentes demais, até porque ele


sabe que confio nele o suficiente para fazê-lo parar quando achar

que está me dando mais do que eu posso aguentar.


— Mais, Erick. Mais forte. — Minhas mãos se agarram ao pano
fino da cama como um bote salva-vidas, enquanto meus joelhos

lutam para sustentar o peso de todo o meu corpo e as investidas


bruscas do meu noivo. Em pé e segurando o meu quadril com

possessividade, ele faz como eu peço e espalma a mão na minha


bunda com maior intensidade do que tinha dado do outro lado.

— É assim que você gosta, não é? — investe, agora alisando


as bochechas ardidas e marcadas da minha bunda. — Muito safada

essa minha mulher.


— Erick, acho que eu vou... — tento falar, mas interrompo o
que estava prestes a dizer, pois, me conhecendo como conhece, ele

sabe exatamente o que eu quero e leva a mão até o meu clitóris e o


estimula em sincronia com suas estocadas cada vez mais profundas

e cadenciadas.
— Você vai, sim... — diz com a respiração curta. — Goze para
mim, minha gostosa — pede ainda metendo, e como se seu

comando de voz também comandasse o meu corpo, gozo


chamando por seu nome como quem reza um mantra.

Me sentindo exausta, meu corpo desaba sobre o colchão, e


sustentando o peso do seu corpo pelos braços, Erick ainda me

penetra algumas vezes, até que se libera dentro de mim.


Estamos os dois com os corpos inutilizáveis e com dificuldade
para respirar. Ele também tomba sobre a cama e assim ficamos
esperando a adrenalina pós-foda baixar. Depois de um tempo, ouço
a cama balançar e já sei que Erick está pronto para outra.
— Amor — chama ao beijar a parte alta das minhas costas.

— Hummm — isso é tudo que consigo murmurar, ainda me


sentindo sonolenta.

— Não foi assim que imaginei esse momento — sorrindo, ele


sussurra no meu pé do ouvido enquanto dá leves mordidas pelo
meu pescoço suado —, mas confesso que está sendo mais

delicioso do que se tivéssemos planejado uma festa.


— Eu não mudaria nada. Foi perfeito do nosso jeito, além

disso, tudo o que precisamos para tornar qualquer momento perfeito


é estarmos felizes e convictos do que queremos e somos para o

outro — afirmo e sua boca insiste em distribuir beijos que, do meu


ombro, passam novamente pelo pescoço, até chegar ao lóbulo da
minha orelha, onde ele ama dar atenção para me provocar.

— Muito sensata a minha garota — Erick me elogia sem deixar


por um segundo de me tocar.

É assim que somos nos momentos em que estamos juntos. Se


antes éramos carinhosos um com o outro, nas últimas semanas,
inconscientemente, estamos agindo como se nunca tivéssemos o
suficiente, como se precisássemos reafirmar e relembrar o motivo
de não conseguirmos ficar separados.
Seja nos toques sexuais ou nos mais inocentes, o que nos

importa é estarmos sentindo um ao outro. Então, para mim não


interessa a forma como o pedido foi feito, pelo contrário, ele

representou com perfeição o que somos.


— Eu não poderia ter planejado melhor essa manhã. Prefiro
transar do que ser obrigada a dividir o nosso momento em uma

festa em que parte das pessoas viriam para nos julgar e sair falando

mal — confesso. — Só acrescentaria um passeio, o nosso primeiro


como futuros senhor e senhora Estevan — o comentário infeliz

escapa da minha boca grande, que não se absteve de completar o

raciocínio. Percebendo que falei o que não devia, viro-me e deito de

barriga para cima, quem sabe assim eu não o distraio do rumo que
os seus pensamentos podem tomar.

— E posso saber onde a senhorita Marina, minha noiva,

gostaria de ir para comemorar? — Erick questiona, com a cabeça


apoiada em uma mão e o rosto pairando sobre o meu enquanto a

outra mão faz movimentos circulares em volta do meu umbigo.

É, pelo jeito meu plano não deu muito certo.


— No nosso lugar — digo, e ele sabe que me refiro ao parque

onde foi o nosso fim e recomeço.


Por tudo o que aconteceu lá, o lugar acabou se tornando o

nosso refúgio, onde podemos estar conectados com a natureza. Se

de dia ele é movimentado, à noite e no cantinho onde somente nós


dois temos acesso, podemos ter nossa privacidade e a paz que

buscamos, longe da realidade de uma cidade movimentada.

— Bom, talvez eu possa dar um jeito de irmos lá. Nós só

precisamos ser discretos — diz.


— Não é muito arriscado? — indago, preocupada.

— É sim, mas se tivermos cuidado, vai dar tudo certo —

explica. — Vamos sair com o motorista pela rua de trás do


condomínio, só por precaução.

— Tudo bem. Estou tão animada. — Levanto da cama num

pulo e saio perguntando: — Vamos tomar banho?


— Nesse banho vai rolar um agradecimento especial? — Ele

pisca com malícia ao descer os olhos por todo o meu corpo nu, o

olhando como se estivesse vendo pela primeira vez.

— Isso só vai saber se vier descobrir. — Devolvo a piscada e


entro no banheiro, mas não sem antes escutar sua resposta:

— Não precisa chamar duas vezes, gostosa.


Para sermos os mais discretos possível, Marina e eu saímos

com Jorge de motorista e por um caminho diferente, mas, nenhum

desses cuidados me tira a sensação de estar sendo observado.


Paranoico, fico todo o caminho olhando para trás e pela janela para

verificar se não estamos sendo seguidos.

É claro que não estamos, temos sido discretos, então não tem

como Patrícia ter descoberto alguma coisa, e se tudo correr como


deve, amanhã mesmo ela terá uma surpresinha. Finalmente vamos

nos livrar da chantagista e viveremos em paz, assim como vivíamos

antes.
— Eu estou tão feliz — Marina interrompe meu devaneio ao

deitar a cabeça no meu ombro.

— Eu também, pequena. — Olho para os nossos dedos

entrelaçados e continuo: — Hoje nada vai estragar o nosso dia, e


em breve não precisaremos mais ficar namorando em segredo,

como dois criminosos que se escondem da polícia.

— Eu sei. Confio em você — afirma.


Quando chegamos, já perto da hora do almoço, preparamos

um cantinho perto da árvore que ela batizou como nossa,


arrumamos a toalha e lá colocamos a comida que Maya ajudou a

preparar. Depois de almoçarmos e descansarmos um pouco, minha

noiva e eu dividimos a tarde entre banhos de cachoeira e


caminhadas de mãos dadas pelo parque, que não está tão

movimento, talvez por ser um dia de domingo.

Com orgulho, Marina ostenta o seu brilhante, assim como eu

uso na mão esquerda a aliança que faz par com ele.


No fim do dia, quando já está escurecendo e o lugar

praticamente vazio, ligo para o Jorge e ele logo chega com o carro.

— Está feliz? — indago com o braço em volta da cintura de


Marina enquanto nos dirigimos para perto do veículo.

— Exausta, mas feliz. — Sorri entre um bocejo.

— É para isso que eu vivo, amor — afirmo, beijando a sua

testa. — Para te ver feliz — assevero e já estamos próximos ao


carro, quando, de repente, nossa conversa descontraída é

interrompida por uma odiosa voz:

— Ora, se não é o casalzinho feliz.


Nós dois nos voltamos para trás e entre a escuridão que

começa a cair sobre o parque, vejo a conhecida peruca negra e os


enormes óculos que cobrem os seus olhos.

— Patrícia? — digo e sinto minha garota se encolher ao meu

lado.

— Eu mesma. Vocês acharam mesmo que iriam me enganar?


CAPÍTULO 49 TRAGÉDIA

— Eu mesma. Vocês acharam mesmo que iriam me enganar? — O


tom sombrio da sua voz gela meus ossos e eu passo a observar

com atenção todos os seus movimentos. Pelo canto do olho, reparo


poucas pessoas transitando tranquilamente ao se dirigirem para
suas casas, e mais à frente, Jorge se encontra dentro do carro de
vidros escuros. Esperto como é, eu espero que ele perceba a

movimentação estranha à nossa volta e que não faça nada, ou que


tenha o bom senso de agir apenas se necessário.
— Aqui não, Patrícia. Vá embora, por favor, amanhã eu te

procuro. Nós precisamos conversar — tento falar com tranquilidade,


ao passo que, do meu lado, Marina permanece quieta, com sua mão

agora unida a minha.


— Não vou, o tempo de me fazer de idiota acabou, Erick

Estevan — afirma. — Não sei o que disse para essa idiota, mas isso

não vai ficar assim, você e todo aquele escritório serão meus — diz
ao começar a caminhar na nossa direção. — E essa vadia mirim

que vá para o inferno.


— Pare aí mesmo, Patrícia. Não chegue perto dela. —

Empurro o corpo da minha pequena para trás do meu e prossigo: —


Acabou para você. Eu sei do seu envolvimento no crime de

apropriação indébita no caso dos Ferraz, por isso é assim que as

coisas vão ser, ou você se afasta de nós ou eu mesmo vou à


imprensa e procuro a polícia, irei contar do seu pequeno deslize

com prazer — ameaço e seu rosto começa a se contorcer em fúria.

— Acho que você não gostaria de se ver envolvida num escândalo


desse tamanho, não é mesmo? — concluo.

Essa conversa era para ter sido de outra forma, longe o

suficiente para que essa mulher não tivesse a oportunidade de


colocar os olhos em cima de Marina novamente.

— Isso não vai ficar assim, não vai. Nada está saindo como eu
planejei, querido. Eu ia me livrar dela e nós dois seríamos felizes,

mas você teve que estragar tudo, não é mesmo? Se deixou sujar

pela mediocridade dessa menina e agora está aí me ameaçando. —

Desnorteada, ela começa a dar passos para trás, ficando cada vez

mais distante de nós. Quando viro de costas para checar se minha

noiva está bem, ainda sou capaz de ouvi-la repetir por incontáveis
vezes: — Não vai ficar assim. Não vai.
Um pouco à frente, Jorge abaixa os vidros negros do carro, e
eu vejo seu rosto mais tranquilo por tudo ter acabado bem.

— Acabou, meu amor. — Limpo suas lágrimas que agora

escorrem. — Pobrezinha. — Beijo seus olhos. — Está tudo bem,

agora poderemos ter paz.

— Eu te amo, Erick. — Seus olhos me fitam com pesar, coisa

que não consigo entender. Era para ela estar feliz, nós finalmente
estamos livres. — Jamais esqueça disso. — Fica na ponta dos pés

e deixa um beijo no canto da minha boca, e eu sinto o gosto salgado

de uma grossa lágrima que desliza do seu olho até os meus lábios.

De uma hora para outra, como um filme em câmera lenta

sendo rodado na minha frente, meus olhos avistam Jorge abrir a

porta, sair de dentro do carro e Marina se afastar e desviar os olhos

para algo que acontece atrás de mim.


Quando vou me virar para entender o que aconteceu para ter

chamado a atenção tanto de Marina quanto de Jorge, minha mulher

abre os abraços e joga o corpo na frente do meu.

— Não! — Marina grita antes que seu corpo seja jogado para

trás. No impulso, lhe seguro e só então consigo entender o que

aconteceu.
— Meu Deus, não. Não faz isso comigo — suplico. — Meu

anjo, o que foi que você fez? — Amparando-a pelos braços, vou me
abaixando até que meus joelhos estejam sobre a grama verde e a

sua cabeça e parte do tronco apoiados nas minhas pernas.


Rapidamente um alvoroço se instaura ao nosso redor, as
poucas pessoas que ainda transitam se dividem entre correrem

assustadas pelo tiro e ajudarem Jorge a conter a miserável que


queria me atingir, mas acabou acertando meu amor, que foi ferida

para me proteger.
Dentro da minha cabeça uma batalha está sendo travada, um

lado meu quer ir até a infeliz — que já está sendo contida por dois
homens enquanto Jorge faz uma ligação que eu suponho ser para a
polícia — e torcer seu pescoço com as minhas próprias mãos, e o

outro lado não consegue se mover, porque tem medo do que pode
acontecer caso se afaste um centímetro sequer da minha mulher.

Levo segundos para entender tudo o que acontece à minha


volta e abaixar a cabeça. Ver seu rosto, seu corpo e ouvir suas

palavras neste momento desesperador me faz perceber que nunca


houve outra escolha, que minha prioridade sempre foi e sempre
será ela.
— Erick... — sussurra e sua voz sai tão fraca que não deixa

dúvidas do quanto se esforça para se manter consciente.


Não durma, princesa.

Resista, mantenha esses lindos olhos abertos.


— Não faça esforço, meu amor — suplico, quando tenho

coragem para descer meus olhos mais para baixo e vejo uma
enorme mancha de sangue começar a se acumular bem próximo do
seu peito. No ato, minha garganta ameaça se fechar e meus olhos

se enchem de lágrimas.
O nó na garganta, o embrulho no estômago e as lágrimas que

não hesitam em cair são sinais claros do meu desespero por


imaginar perdê-la. Desespero por entender a gravidade do seu
estado e pelo medo de não ter Marina no futuro, um futuro que nem

sequer ouso pensar que possa existir sem ela.


— Vai ficar tudo bem, temos uma vida inteira para conversar —

digo para ela e para mim mesmo. Com as mãos trêmulas e tentando
não fazer movimentos bruscos, grito para alguns curiosos que

começam a se acumular à nossa volta: — A ambulância, porra!


Alguém, por favor, chama uma ambulância... — falo mais baixo e
não consigo segurar a emoção quando ouço minha preciosa gemer
em agonia e seu rosto ficar cada vez mais sem vida. — A minha
mulher, ela...
Não tenho coragem de terminar a frase, porque o pensamento

que passa por minha cabeça é cruel demais para ser externado.
— (...) aqui mesmo, tem uma moça, ela foi baleada, e parece

ser grave. Depressa.


Sem tirar os olhos do meu amor que, apesar de me fitar,
parece não estar conseguindo focar em mim, ouço o barulho da

sirene de polícia que veio prender a ordinária.


— Cadê a porra dessa ambulância, caralho? — Olho em volta,

irritado pela polícia ter chegado antes do socorro. — Aguente firme,


meu amor — peço ao fazer carinho no seu rosto pálido. — Vai ficar

tudo bem. Prometo. — Ela ainda tenta abrir um sorriso, mas falha
miseravelmente. — E você sabe que costumo cumprir com as
minhas promessas.

— Erick, o meu tempo está acabando... — diz num fio de voz,


e tenho vontade de tapar os ouvidos com as mãos apenas para não

ouvir a frase tão definitiva saindo da sua boca, que já está


ressecada e sem cor. Quanto tempo se passou? Meu Deus, onde
está a ambulância? — Você precisa prometer...
— Não fale nada, amor — imploro, com a voz embargada
pelas lágrimas.
— Promete que vai ser feliz? Que quando eu partir, você vai

refazer a sua vida? — Marina diz e faz força para formar as frases.
— Prometo que nós vamos ser felizes — respondo, enfático.

— Você vai ficar boa e nós vamos nos casar e um dia teremos
nossos bebês, lembra? Você prometeu, linda. — Tento sorrir para
ela.

— Eu fui muito feliz com você, do jeito que um dia sonhei e

achei que não seria possível realizar — afirma com a voz quase
sumindo e os olhos mais baixos. — Eu sempre vou te amar, e de

onde estiver, estarei olhando por você. Te amo... — se declara, e

essas são suas últimas palavras antes de perder a consciência.

— Não, Marina — imploro, desesperado. — Não faz isso, olhe


para mim. Eu não vou deixar você ir, nunca! — afirmo.

Cuidadosamente, desço meu corpo sobre o seu, até sentir

minha camiseta ser ensopada com o sangue pegajoso e quente.


Selo os nossos lábios pela última vez.

Quando ao longe finalmente consigo ouvir o som da sirene da

ambulância, ainda tenho forças para rezar. Para pedir que quem
quer que esteja nos olhando faça um milagre, que não me tire o que
me é mais precioso nesta vida. Não a minha mulher jovem e cheia

de luz, ela não merece ter sua vida interrompida tão cedo e de
maneira tão covarde.

Enquanto os paramédicos fazem o trabalho, caminho de um

lado para o outro, ouvindo-os cochichar palavras tão desanimadoras


acerca do seu estado que nessa hora eu me pergunto se não era

melhor que eu fosse surdo. Nada de animador sai de suas bocas.

Segundo eles, os sinais vitais da minha menina estão fracos e o fato

de estar perdendo muito sangue agrava ainda mais a situação.


— Alguém me diz alguma coisa, por favor. — Me aproximo

quando a colocam dentro da ambulância.

— O senhor é o noivo?
— Eu mesmo — digo para a paramédica, que me lança um

olhar que não consegue esconder a pena que sente, tanto da

Marina quanto de mim, que não escondo meu desespero e agonia.


Ao vê-la se dirigir para dentro da ambulância, que já tem

Marina em uma maca com uma máscara de oxigênio no rosto e

expressão tão serena que mais parece estar dormindo do que

gravemente ferida, lhe sigo na intenção de acompanhá-la até o


hospital.
— Ela vai ficar bem? — pergunto para a paramédica sentada

na frente da Marina. Ela prepara algum tipo de aparelho que eu não

sei, nem quero imaginar o que significa.


Com pesar e sabendo exatamente o estado da minha noiva,

ela se limita a dizer:

— E-eu não posso te dar essa informação...

Ela fala mais alguma coisa além disso, mas já não lhe escuto.
A minha mente se fechar novamente, me levando de encontro

a fé que há tanto tempo foi esquecida. Fé num Deus que por tanto

tempo ignorei, mas que lembro ser misericordioso, um Deus que


não vai levar minha menina cheia de saúde, vitalidade e que tem

tantas coisas a viver e tantos sonhos para realizar.

“Eu preciso dela para viver, Deus. Ela é o meu ar e a vida só

faz sentido ao seu lado, então, por favor, Senhor, tenha misericórdia
do amor da minha vida e me deixe cuidar dela.”

— Olhe pela nossa menina, meu amigo. Pela sua filha.


CAPÍTULO 50 RESISTA

Vejo o mundo girar lentamente e sinto como se minha cabeça


estivesse prestes a explodir pela dor insuportável e a náusea que

me embrulha o estômago desde que pisei meus pés neste ambiente


frio e insípido. Às pressas, Marina foi levada para a sala de cirurgia,
onde os médicos estão fazendo de tudo para salvar a sua vida.
Quando assinei todos os papéis que autorizam a cirurgia da

minha garota, pensei que ela não precisaria estar passando por
essa situação se não tivesse feito o que fez. Sim, a minha mulher
levou um tiro no peito e foi por mim. Ela entrou na frente de uma

arma para me proteger, quando o certo seria eu ter feito isso por ela.
E mais uma vez eu falhei.

Falhei na promessa que fiz ao meu amigo, quando prometi


cuidar e protegê-la, falhei comigo mesmo e principalmente com ela,

que não questionou, apenas decidiu confiar quando da minha boca

saiu a promessa de que iria resolver a situação da melhor maneira


possível.
No fim das contas, eu não só subestimei a capacidade da

Patrícia em fazer mal a nós dois, como coloquei a minha mulher em


cima de uma cama de hospital e se alguma coisa der errado e o pior

acontecer, eu não só terei de conviver com a dor da perda pelo resto

dos meus dias, como também com a culpa, uma culpa que mereço
carregar, simplesmente por não merecer a fé deposita em mim.

Foi por mim, foi por amor que Marina levou um tiro tão próximo

ao coração.
“Meu amor, por que você fez isso? Não era para ser assim. Era

eu quem devia estar no seu lugar... Eu não posso perder você. Por

favor, se realmente existe um Deus aí em cima olhando por nós, não


a tire de mim. Eu não vou suportar.”

Isso não pode acontecer, rogo, chorando em silêncio,


enquanto Bruno, numa rara demonstração de carinho, tenta com

gestos tímidos e palavras de apoio me consolar da forma que pode.

Do outro lado, só que mais distante, do jeito que ela é, Ângela tem

os olhos vermelhos e a expressão abatida pelo tanto que se

desesperou depois de eu ter lhe avisado do que aconteceu. Pela

minha dor, imagino o que ela deve estar sentindo com essa situação
que sua melhor amiga está passando. Eu diria que são mais que
isso, elas são como irmãs, uma relação bonita de se ver, apesar de
serem tão diferentes.

Olhando em volta, vejo Maya, Lua e alguns dos empregados

da casa, que a respeitam e tratam com tanto carinho e cuidado. Em

suas expressões, posso ver o pesar, a tristeza e até a raiva de quem

foi capaz de feri-la tão gravemente.

— Vocês são os familiares e amigos da senhorita Marina


Junqueira? — uma voz grave e preocupada pergunta, olhando a

prancheta que suponho ter os dados da Marina e informações

referentes ao seu estado de saúde. Ao ouvir a sua voz, levanto a

cabeça, que até então estava baixa e encarando o piso enquanto

minha mente não deixava de trabalhar e implorar por um milagre. O

estado em que minha noiva ficou e a expressão que agora vejo no

rosto e na voz do médico que a atendeu primeiro não deixam


dúvidas da gravidade do seu estado. Quando balanço a cabeça em

reação a sua pergunta e todos param para ouvi-lo com atenção, ele

continua: — Estamos fazendo o possível para que... — se

interrompe no meio da frase. — Receio que é melhor irem se

preparando, caso...

— Cale a boca — grito ao levantar-me do banco e dar um soco


com todas as minhas forças na parede mais próxima. — Não, isso
não pode estar acontecendo, você não sabe o que diz. — A

adrenalina corre por minhas veias, e eu sinto Bruno ao meu lado


tentando conter a minha fúria. Isso não está acontecendo com a

minha Marina. Ela não pode estar me deixando dessa forma. Nós
temos tantos planos. — Não! Ela não vai fazer isso, Bruno — digo
em estado de negação e seguro o rosto do meu amigo. Ele tem que

acreditar em mim. — Marina me ama, você sabe disso. Não vai me


deixar sozinho. É ele quem está mentindo, não é?

Bruno me abraça, e eu não contenho o choro que já estava


prestes a derramar.

— É claro que sim — Bruno me consola ao interromper o


nosso abraço e segurar o meu rosto com as duas mãos. — Acredite
na força da sua mulher, ela vai resistir e voltar para você.

— Vai resistir. Vai resistir. — Saio de perto de todo mundo,


caminhando de um lado para o outro, ao passo que um mantra se

repete na minha cabeça:


Resista, Marina.

Resista.
Resista.
Sem que eu esteja esperando, Ângela para ao meu lado e

quando me viro em sua direção, me dou conta do quanto estou


sendo egoísta e que ela está sofrendo tanto quanto eu. A garota só

precisa do apoio da pessoa que sabe exatamente o que ela está


sentindo.

Quando já não consigo conviver com os sentimentos que vejo


nos seus olhos, estendo os braços e, chorando, ela me abraça

apertado.
— Ela tem que ficar bem, Erick. — Funga contra a minha
camisa.

— Marina vai sobreviver. Eu sei que vai. — Tento dar forças


para ela quando nem eu mesmo tenho.

Por uns instantes, continuamos abraçados, até que uma


movimentação estranha se inicia e, do meu campo de visão, vejo
uma enfermeira sussurrar algo no ouvido do doutor e seu semblante

mudar da água para o vinho. Se antes era pesar, o que vejo agora é
um total espanto. No ato, desvencilho-me do abraço de Ângela,

aponto para o médico que eu nem tinha percebido que ainda estava
aqui e juntos nos aproximamos dele. Ao me ver em sua frente,

tenho coragem de fazer a pergunta:


— Doutor — chamo e tenho a sua atenção. — A minha noiva,
ela...?
— Sua noiva é uma lutadora, ela está batalhando pela vida —
se limita a dizer, antes de sair às pressas para a sala de cirurgia.
Ela está voltando, a minha Marina está voltando para mim.

Minha pequena guerreira sabe que ainda não é a sua hora.


— Ouviram isso, pessoal? — pela primeira vez, consigo falar e

enxergar de verdade todas as pessoas que estão aqui, seja orando,


chorando ou apenas prestando solidariedade, o importante é que
todos que antes choravam, agora têm em seus rostos a

inconfundível expressão de esperança. Todos nós nos agarramos a


esse pequeno fio de esperança de saber que ela ainda tem uma

chance. — Minha menina bonita é uma guerreira — digo, cheio de


orgulho.

Quieta, em um canto, Ângela, que agora chora de alegria, se


vira para buscar água no bebedouro e ao acompanhar os seus
passos, vejo Bruno ir atrás dela. Um gesto estranho que não tenho

tempo para pensar agora.


Nas horas que se seguem, os amigos do colégio que vieram

dar apoio, os funcionários da mansão que agiram como só alguém


da família agiria e Lua, que também sentiu muito o que aconteceu
com a amiga e funcionária, essas pessoas foram pouco a pouco
indo embora sob o pedido de que sejam avisados caso haja alguma
mudança no quadro de saúde da Marina.
Aqui no hospital continuam apenas os mais próximos, os que

não conseguem arredar o pé do lugar. Ângela e Maya não me


surpreendem, já que as três são tão unidas. Bruno, por outro lado,

apesar da nossa recente proximidade e de ser agora o meu melhor


amigo, teve atitudes que não esperava.
O Bruno que eu julgo conhecer jamais demonstraria tamanha

preocupação, solidariedade e afeto. Com ele, tive uma boa surpresa

e me serviu como um tapa na cara, me mostrando que não


importam os defeitos de uma pessoa, ela sempre pode nos

surpreender, e que são nessas horas que os verdadeiros amigos

aparecem. Depois do que presenciei, já não consigo enxergar Bruno

com olhos de crítica. Ele certamente tem seus motivos para ser
quem é e agir como age.

Nesse período de tempo, em que o médico responsável

apareceu uma única vez para avisar que as próximas horas pós-
cirurgia serão cruciais para a recuperação da Marina, ainda recebi a

ligação dos meus pais, que mesmo não sendo tão próximos — já

que moram em outro estado — conhecem Marina quase há tanto


tempo quanto eu e sabem da sua importância na minha vida, ainda
mais agora que estamos juntos e noivos. Informação que mamãe

não gostou nada de saber, pois para ela é o fim do mundo não ter
lhe incluído nos meus planos. Minha senhora só se acalmou quando

expliquei que não foi nada planejado com maior antecedência e que

somente hoje ou ontem — considerando o fato de estamos em


plena madrugada — que eu fiz o pedido oficial.

— Erick Estevan — chama o médico de Marina e eu, ao ouvir

sua voz, de imediato levanto da cadeira que estava sentado. — O

senhor tem alguns minutos para visitar a sua noiva. Milagrosamente,


a cirurgia foi um sucesso e ela já foi encaminhada para o centro de

terapia semi-intensiva, mas antes você precisa saber de uma

coisa... — diz, apreensivo.


— Fala, doutor, o que aconteceu? — começo a me desesperar

novamente.

— Marina entrou em coma — diz, com pesar, e eu sinto meus


ombros caírem e meu coração parar de bater assim que suas

palavras me atingem.

— Caralho, isso só pode ser uma brincadeira.

Bruno e Ângela já estão ao meu lado e quando olho para seus


rostos, vejo olhares de tristeza e pesar.
— O senhor precisa se acalmar, na gravidade do caso dela,

com a cirurgia e os remédios que tomou, isso é mais que comum. A

mente e o corpo dela só precisam de descanso.


— Tem ideia do quanto isso pode demorar, doutor?

— Infelizmente, não. Pode levar um dia, semanas ou até

meses. Cada organismo reage de uma forma, mas como a sua

noiva é jovem e demonstrou uma garra fora do comum, nós, da


equipe médica, acreditamos e torcemos para que ela volte a si o

mais rápido possível.

— Tudo bem... — digo, porque sei que apesar de tudo, ele não
sabe por quanto tempo ela vai ter que ficar aqui, nem o quanto terei

que viver sem ela. — Eu só... preciso ver a minha mulher.

Viro as costas e vou ao encontro do meu amor.


CAPÍTULO 51 POR VOCÊ

— É por aqui, Erick. — Ângela me acompanha ao centro de terapia


intensiva, onde minha Marina se recupera, e eu sei que apesar de

tudo indicar que nada deu errado — graças a Deus — seu estado
ainda inspira muitos cuidados, uma vez que a cirurgia para a
retirada da bala, que se alojou próxima ao coração, foi bastante
delicada. Um tiro que levou por mim, uma trágica e definitiva prova

de amor que se eu pudesse teria evitado, mas que nunca serei


capaz de esquecer. — Tudo vai terminar bem, não é? — indaga
uma Ângela menos abatida, como se precisasse que fiquem

afirmando o tempo todo para que consiga acreditar que é real, que a
amiga dela em breve vai voltar para nós.

— Vai sim, querida. Tenho certeza disso — afirmo e ela


assente.

— Você pode entrar primeiro, acredito que ela vai ficar feliz em

te ver. De ouvir a sua voz — afirma e suas palavras me deixam


exultante de alegria, talvez por saber que a minha presença possa

de alguma forma ajudá-la a se recuperar mais rápido.


Quando entro no quarto, primeiro lavo as minhas mãos com

álcool em gel e depois de fazer os procedimentos adequados,


finalmente meus olhos a procuram. Pequena e deitada em cima da

cama, o meu amor repousa inerte. Ela tem a expressão serena e tão

quieta que quase dá a impressão de não estar respirando. O alívio


vem quando, de maneira quase imperceptível, vejo seu busto fazer

um leve movimento de subir e descer e me permito escutar o bip

dos aparelhos que estão ligados ao seu corpo.


— Oi, meu amor. — Me aproximo e dou um beijo no seu rosto

pálido e ainda ligado a alguns fios. — Estou aqui e não vou sair do

seu lado até te ver em pé e quando estivermos juntos, iremos


embora desse lugar que eu tenho certeza de que você não gosta —

falo e as minhas vistas já estão turvas e a minha garganta fechada.


Me parte o coração vê-la aqui, imóvel e debilitada. Logo ela, tão

cheia de vida.

Quando uma única lágrima começa a escorrer pelo meu rosto,

eu juro a mim mesmo que, custe o que custar, Patrícia vai pagar

muito caro. Ela não vai sair impune dessa, isso eu mesmo vou

garantir.
— Sabe que eu não vejo a hora de ter esses seus lindos olhos

me encarando? — volto a conversar com ela, deixando a raiva para


depois, para quando Marina estiver recuperada o suficiente que eu
possa pensar em outra coisa. — Eu preciso que você faça isso por

mim. Sei que gosta muito de dormir. — Um sorriso triste paira nos

meus lábios quando lembro dessa sua característica. — Mas todos

os seus amigos estão ansiosos para ver e falar com você. Meu

amor, você tem que abrir os olhos para mim, ficar mais linda do que

já é e ir mostrar para eles o quanto é forte. — Olho para uma


cadeira encostada na parede, vou até ela e a trago para junto da

cama. — Pronto, princesa. Assim está melhor. — Seguro na sua

mão imóvel, que não tem mais o anel enfeitando o seu dedo anelar,

provavelmente foi tirado dela para a cirurgia. Na sua mão há apenas

os fios que a monitoram. — Se você quer descansar mais um

pouco, eu não vou insistir. Desde que não demore muito e volte para

mim o mais rápido que puder.

Ela não voltou.

Passaram-se duas semanas, tempo em que eu, dia após dia,

acordava com a esperança renovada de que ela finalmente abriria


os olhos e me encararia com todo o amor e paixão, e os terminava

com a frustração de não ver nada disso acontecer. Os aparelhos já


não estão mais ligados e seu rosto tem a mesma aparência linda de

sempre. É como se ela estivesse em algum lugar muito melhor do


que aqui e sem vontade ou forças para voltar para mim.
— Por onde você anda, meu amor? — Nessa manhã de

sábado, assim como tem acontecido todos os dias e desde que eu


deixei o escritório aos cuidados de Bruno, estou sentado na cadeira

ao lado da sua cama e sussurrando ao seu pé de ouvido: — Sei que


prometi esperar, mas você não acha que já descansou o suficiente?

— Seguro a sua mão, já com o anel de noivado nela e, emocionado,


faço o que desde o dia da sua cirurgia não tenho me permitido fazer.
Hoje, no décimo quinto dia sem ela, eu me permito desabar e choro.

Choro de frustração e medo. O temor de não a ter de volta, de


não poder mais ouvir o som da sua voz, nem a beleza do seu

sorriso. Como ter fé se nem os médicos sabem explicar ao certo os


motivos dela ainda não ter voltado a si?

— Meu amor, você não pode fazer isso comigo — imploro ao


deitar a minha cabeça em cima da sua barriga e deixar que as
lágrimas caiam. — Você não pode me deixar, eu não sei viver sem

você, Marina. Vem para mim, meu amor... — peço mais uma vez,
quando, de repente, como se estivesse me ouvindo de algum lugar,

Marina aperta levemente a minha mão e ouço um som que me faz


levantar a cabeça de imediato.

— Amor? — indago por ela. Vejo seus cílios se mexerem e


percebo que se esforça para abrir os olhos.

Estou deitada sobre a grama verde de um campo cheio de

lindos girassóis e tenho meu rosto levantado para o céu enquanto


um lindo sol de outono beija a minha pele.

— Deus! Eu estou no paraíso e não quero sair daqui nunca


mais. E se isso for um sonho, só peço que não me acorde jamais.

— Marina? — uma voz chama e me sento rapidamente


quando reconheço a quem ela pertence. Tão doce e tão amada.
— Papai? Eu não acredito, papai. — Vou lhe encontrar pelo

caminho de girassóis, lhe dando um saudoso abraço assim que o


alcanço. — Como eu senti saudades, não me deixe nunca mais —

peço, não conseguindo me desvencilhar dos seus braços.


— Amor, você tem que voltar, as coisas não podem ser assim
— ele diz e solta os meus braços da sua cintura.
— Não fale isso, papai — peço.
Como pode me pedir uma coisa dessas, logo agora que o
encontrei e estamos neste paraíso?

O que mais eu poderia querer?


— Tem certeza de que não está esquecendo de nada ou de

alguém? — papai pergunta como se lesse meus pensamentos.


Confusa e parando para pensar com mais calma, me dou
conta de que falta alguém. O essencial, a minha pessoa preferida

nessa e em qualquer outra vida.


Erick!

— O Erick! Onde está o meu noivo, papai? — De repente, já


não me sinto tão plenamente feliz, o sol que brilha já não é capaz de

aquecer o frio que gela o meu coração. — Por que ele não está
aqui?
— Por isso, minha criança — termina de dizer e diante dos

meus olhos uma imagem nítida começa a se apresentar. Pelo que


parece é um quarto de hospital, vejo meu corpo deitado e imóvel em

cima de uma cama, enquanto um mais magro e abatido Erick chora


com a cabeça deitada sobre a minha barriga.
— Ele precisa de mim.
O entendimento cai sobre a minha cabeça e me dou conta do
que papai estava falando.
É esse o motivo pelo qual eu não posso ficar no campo de

girassóis.
Ficar com papai aqui é o mesmo que abandonar Erick sozinho

e sofrendo, assim como faz agora nesse quarto de hospital.


Não, de jeito nenhum, meu Erick precisa que eu retorne.
Mas e o meu pai?

— Minha filha, um erro meu não pode castigar um amor como

o de vocês dessa forma — afirma quando segura as minhas duas


mãos e me pede olhando nos olhos: — Me perdoe, princesa. Foi

pelos meus erros que você acabou nessa cama. — Ele olha com

pesar a cena que se desenvolve à frente.

— Não há o que perdoar. O senhor é meu pai e eu te amo.


Nada nunca vai mudar isso. — Lhe abraço novamente, lembrando

do quanto sinto saudade do seu carinho.

— Você tem muito o que viver. Vai ser muito feliz e eu estarei
aqui olhando por vocês, pois sei que um dia nos encontraremos

novamente. — Meus olhos ficam marejados com as suas palavras.

— Eu amo você, lembre-se disso sempre que a saudade apertar —


declara, fazendo pela última vez um carinho no meu rosto e, em
seguida, deixando um beijo na minha testa. — Agora volte — diz e

assim como veio, seu João desaparece, restando apenas eu e uma


voz que não para de me chamar, como se tivesse aos poucos me

puxando desse lugar bonito e tranquilo.

— Isso, meu amor. Abra os olhos, eu estou aqui, te esperando.


Mesmo sentindo náuseas e uma tremenda dor de cabeça pelo

esforço em abrir os olhos, a voz e o calor da sua mão sobre a minha

é um alento. É ela quem me faz lutar contra a escuridão que tomou

o lugar do paraíso.
— Erick... — consigo balbuciar o seu nome mesmo

estranhando a minha voz e ainda que tenha falhado em despertar

por completo.
— Estou aqui, pequena, e não vou a lugar algum — fala

baixinho no meu ouvido, e eu sinto todo o meu corpo voltar a vida.

Agora, o que mais quero é abrir os olhos e ver o seu tão amado
rosto. — Só preciso que tenha calma e quando estiver pronta, abra

os olhos bonitos para mim, você pode fazer isso? — indaga e, em

resposta, aperto levemente a sua mão.

Sem saber ao certo quanto tempo se passou, eu finalmente


consigo voltar a mim e, quando desperto, um irritante clarão invade
o meu campo de visão, fazendo a terrível dor de cabeça e a dor no

peito ficarem mais intensas.

De repente, depois de mexer de leve o rosto para o lado, sinto


qualquer dor ou incômodo sumirem pouco a pouco quando encaro o

rosto do meu amor, que está banhado pelas lágrimas e um imenso

sorriso.

— Minha princesa. — Como uma criança, Erick volta a deitar a


cabeça sobre o meu abdômen e chora, o que imagino ser um choro

de alívio e de alegria. Com um pouco de custo por ainda estar

debilitada, levanto o braço e deixo que meus dedos acariciem sua


cabeça num gesto de carinho e consolo que sei que ele está

precisando. — Eu te amo tanto. — Levanta a cabeça, distribuindo

beijos por todo o meu rosto, pescoço e todos as lugares onde

consegue alcançar.
— E-eu também... — me esforço para dizer em palavras os

sentimentos que transbordam do meu coração. Um coração que

está batendo por ele e que não se arrepende nem por um segundo
da atitude que teve, quando a intenção era não deixar que nada de

ruim lhe acontecesse.

Como se só agora se desse conta de algo, Erick dá um pulo da

cadeira, seca as lágrimas e vai correndo até a porta. Após colocar a


cabeça para fora do quarto, meu amor grita a plenos pulmões:

— Enfermeira. Uma enfermeira. A minha noiva acordou.


CAPÍTULO 52 DE VOLTA

— Com calma, amor — digo quando sete dias depois de sair do


coma, Marina finalmente recebeu alta e agora eu a tenho em meus

braços levando-a para o nosso quarto.


— Não seja exagerado — diz, irritada. Talvez o meu excesso
de cuidado esteja fazendo isso com o seu humor. — Não é como se
eu fosse me desintegrar apenas por mexer meus dedos dos pés —

afirma, não perdendo o tom de ironia nem mesmo numa situação


como essa.
Se fosse diferente, não seria a Marina que eu conheço e amo.

— Me deixe cuidar de você, por favor — peço, e ela olha nos


meus olhos, entendendo que é uma coisa que eu preciso fazer.

De alguma forma, tenho que lhe compensar por tudo o que fez
por mim, preciso tirar pelo menos um pouco do peso que me abate

os ombros. Não uma carga de culpa que ela ou alguém esteja

colocando, longe disso, é um peso que eu mesmo me imponho.


— Erick, você tem que entender que nada do que aconteceu

foi culpa sua — inicia a mesma conversa que tem tido comigo desde
o dia em que abriu os olhos. — Eu fiz o que fiz e não me arrependo

de nada. Não poderia simplesmente ver uma bala vindo em sua


direção e ficar parada. Aquilo foi o instinto do momento e eu tenho

certeza de que você faria o mesmo que eu se estivesse na mesma

situação.
— Não há nada que eu não faria por você — afirmo,

colocando-a sentada no colchão com o corpo apoiado na cabeceira

estofada da cama de casal.


— Então, esse assunto está encerrado. De uma vez por todas

— assevera. — E a Patrícia?

— Está presa, o Bruno está cuidando do caso e me garantiu


que vai fazer de tudo para que ela passe uns bons anos vendo o sol

nascer quadrado — aviso.


Durante essa última semana em que Marina permaneceu no

hospital, pois, segundo ordens médicas, teria que ficar em

observação, eu finalmente pude acertar as minhas contas com a

ordinária que teve a infeliz ideia de atravessar o meu caminho.

Escondo de Marina o fato de que, dois dias depois de ela ter

finalmente despertado do coma, eu fui ao presídio ver a cara da


mulher que fez isso conosco. Como o coração cheio de ódio, tinha a
intenção de cuspir na cara dela o tamanho do meu desprezo e falar
sobre o meu desejo de vê-la apodrecer dentro de uma cela.

Mas, quando me vi frente a frente com ela, percebi que não

valia a pena gastar saliva desejando nada de ruim em sua vida,

simplesmente porque a própria Patrícia já se encarregou disso. Na

minha frente, totalmente despida da vaidade exagerada que sempre

teve, eu vi uma mulher completamente descompensada, que não


parava de repetir o quanto seria poderosa e feliz quando eu e ela

nos casássemos.

Nos poucos minutos em que me obriguei a permanecer na sua

presença, quase cheguei a sentir pena de uma mulher que tinha

tudo para seguir bem na vida, mas preferiu não só acabar com a

sua vida, como também tentou fazer isso com a minha e da minha

mulher. A compaixão que comecei a sentir se esvaiu no exato


momento em que Patrícia abriu a boca para desejar a morte da rival

— sim, é dessa forma que ela se refere à Marina.

Na hora, foi preciso que Bruno e os guardas, que estavam do

lado de fora da sala, a invadissem antes que eu mesmo fosse preso

por espancamento. No fim, sai sem deixar de avisá-la para esquecer

da nossa existência, ou a prisão será o menor dos seus castigos.


Desde aquele dia, não dediquei mais um pensamento sequer

para a infeliz. O caso eu deixei nas mãos de Bruno — o mais


competente advogado criminalista do país —, que me garantiu que

os crimes cometidos não ficarão impunes e que ela passará muitos


anos presa.
— Que alívio, não quero mais ouvir falar dessa mulher —

afirma e no seu rosto não vejo o ódio que outra pessoa


demonstraria, caso estivesse vivendo a mesma situação. Diferente

da maioria, minha linda é agradecida demais para perder tempo


com quem não merece um segundo dos seus pensamentos.

— E não vai, querida. — Sento ao seu lado e digo: — Acabou.


Somos só eu e você e que ninguém se atreva a tentar nos separar
novamente.

— Até porque não vai conseguir, não é mesmo? — Marina faz


graça com a situação, que é até engraçada, se formos parar para

pensar que nem em situações extremas, como foi a da chantagem,


nós conseguimos ficar separados.

— Nem se tentarem com muito afinco.


— Não quer chegar mais perto? — indaga ao me encarar
abertamente.
— Nós já conversamos sobre isso... — lembro, sabendo que

vamos iniciar mais uma vez o dilema dos últimos dias.


— Já mesmo, inclusive, eu acabei de te falar que não sou de

vidro — rebate num misto de irritação e frustração.


Se ela soubesse o quanto eu também estou sofrendo.

Nos últimos três dias, eu posso dizer que a situação entre


Marina e eu está tensa. A frustração sexual já alcançou níveis
insuportáveis e não sei o que fazer para conter nem o seu e muito

menos o meu desejo de fazer amor. Não sei se foi pelo risco que
corremos de nunca mais estarmos juntos ou se foi o tédio de ficar

dias a fio em um quarto de hospital, quando claramente ela já


estava bem o suficiente para receber alta, mas a verdade é que o
tesão vem nós consumindo em fogo brando, hora após hora.

Tirando os horários em que a chatinha, a Maya, o Bruno e os


outros colegas da Marina estavam no quarto de visitas, o restante

do tempo que estivemos a sós foi uma verdadeira tortura.


Depois de uma primeira investida em que foi repelida por mim

— que estava preocupado demais com o seu ferimento para arriscar


uma rapidinha em cima do colchão do hospital —, Marina não deu
mais nenhum indício de que queria transar. Pelo menos não

abertamente, ela fez coisa muito pior ao me tentar até conseguir


derrubar a minha convicção de só voltar a comê-la depois que
estivesse cem por cento recuperada.
Safada com só ela sabe ser, minha gostosinha passou a me

torturar da maneira mais cruel que existe. Quando não ficava me


encarando com um olhar esfomeado e cheio de luxúria, daqueles

que pedem sem palavras para que eu a pegue com força, de um


jeito que nos faça delirar de prazer, ela arrumava um jeito de deixar
partes bem particulares do seu corpo delicioso visíveis. Quando isso

acontecia, eu tinha que pedir licença e ir ao banheiro fazer o serviço


com as próprias mãos. Ou era isso ou teria um severo caso de bolas

azuis.
A pior situação aconteceu no nosso último dia no hospital, que

terminou com o constrangedor flagrante da enfermeira que entrou


no quarto sem aviso prévio e bem na hora em que Marina — depois
de finalmente conseguir me seduzir — estava com a língua dentro

da minha boca e com a mão dentro da minha calça, isso enquanto


dividíamos a mesma cama, que claramente não foi feita para duas

pessoas deitarem. A pobre coitada da enfermeira ficou tão vermelha


que na mesma hora virou de costas e se dirigiu para a porta, saindo
sem dar uma única palavra.
Se no início Marina ficou mais sem graça do que a pobre da
mulher, a safada da minha noiva logo se recuperou e arrumou um
jeito de continuarmos com a tortura.

Ela quer me dar a boceta de qualquer jeito e eu quero comer a


sua boceta, boca e bunda mais do que quero o ar para respirar, o

problema é que entre as nossas vontades existem o meu senso e


cuidado, que neste momento gostaria que não fossem tão
exacerbados, beirando a paranoia.

— Eu sei o que falou e entendi em todos os momentos que

repetiu — afirmo, de olho em sua perna que o vestido vermelho de


alça deixa à mostra. Mais acima, seus mamilos estão pontudos,

doidos por receberem atenção. É impressionante como mesmo

tendo perdido bons cinco quilos, a minha mulher continua linda e

altamente desejável aos meus olhos, a prova disso é o zíper da


minha calça querendo estourar só pela visão do seu decote, um

pedaço de perna desnuda e essa sua insistência por fazermos sexo.

— Eu sei que você também quer. — Desvia os olhos direto


para o meu colo.

— Estou querendo a partir do momento que você voltou a

querer também — explico, ainda mantendo uma distância segura do


seu corpo e os dedos quase furando a palma da minha mão de
tanto que eu os aperto. É isso ou pegar minha gata de jeito, antes

de termos essa conversa, que no meu ponto de vista é mais que


necessária.

Diferente do dia em que fizemos as pazes, dessa vez o sexo

não virá antes da conversa. Até porque, depois que começar...


— Então..., por que ainda estamos vestidos? Não sei no que

você me transformou, Erick. Mas eu sinto tanta saudade de você —

abre os seus sentimentos. — É uma sensação estranha, como se

essa conexão fosse vital para mim, entende? Ficar longe de você e
do seu corpo é como não ter algo essencial.

— Eu sinto exatamente o mesmo que você, amor. — Pego a

sua mão e coloco em cima do meu coração, que bate frenético. —


Está ouvindo esse som? — questiono, e ela balança a cabeça em

afirmação. — Tem ideia do medo que tive de não ouvir o seu

coração fazendo o mesmo? De nunca mais ouvir o meu bater tão


forte como bate agora por você?

— Erick, eu...

— É por isso o meu cuidado, que às vezes pode até passar

dos limites. — Desço nossas mãos com os dedos ainda


entrelaçados aos dela. — Eu também sinto muita saudade de estar

em você, de sentir o cheiro do seu corpo, de me perder e me


encontrar dentro de você, meu amor. É só que a minha vontade de

te ver bem é maior que a de satisfazer os meus desejos sexuais.

— Sei da culpa que carrega por eu ter tomado o tiro no seu


lugar, mas eu já disse que não precisa se sentir assim. Já acabou,

querido. Aquela mulher não vai mais nos incomodar.

— Eu sei, o problema é que...

— Olhe para mim — pede ao afastar o corpo da cabeceira da


cama e se aproximar de mim. Do meu lado e fazendo o mesmo que

eu, Marina pega a minha mão, coloca em cima do seu peito, do

mesmo lado em que foi atingida, e diz: — Está vendo? Continua a


bater. Eu estou aqui, meu amor. Voltei por você, pelo nosso amor.

Quando ela se cala, as barreiras do medo e preocupação que

foram erguidas dia após dia, a cada hora passada dentro daquele

quarto, caem de uma única vez. Agora, com o olhar intenso sobre o
seu, que me fita cheio de expectativas, deixo que meu corpo e meu

coração façam o que nós dois queremos.

Desço um pouco a mão que está no seu peito, até encaixá-la


no seu seio perfeitamente e apertá-lo. Pouco a pouco, enfio os

dedos dentro do seu decote, com a outra mão, puxo a sua cabeça

para perto da minha e peço sussurrando no seu ouvido:


— Tire a roupa. — Mordo o lóbulo e ordeno: — Fique nua para

mim. Agora!
CAPÍTULO 53 MATANDO A SAUDADE

— Tire a roupa. Fique nua para mim. Agora! — as palavras


finalmente ditas ao pé do meu ouvido e de um modo tão intenso me
fazem arrepiar até a ponta do dedo. O inferno da abstinência

chegará ao fim e já vai tarde.


Às vezes chego a me perguntar se tem alguma coisa de errado
comigo, talvez eu seja uma ninfomaníaca que ainda não foi

diagnosticada. Porque não é possível esse tesão que vem me


consumindo desde quando eu ainda estava no hospital me
recuperando de uma quase morte, sim, porque segundo palavras

dos médicos, foi exatamente isso o que aconteceu comigo. Para

eles, foi um milagre o fato de eu ter sobrevivido a uma cirurgia tão


crítica e ter despertado sem sequela de um coma de tantos dias.

Mal sabem eles que esse milagre está aqui, na minha frente,

em toda a sua glória e gostosura, me pedindo para tirar a roupa


como quem pede para alguém ir comprar pão na padaria.

Mas a minha preocupação não é essa...


— Eu vou sim, mas... — início, sem saber bem o que dizer, só

que a vergonha vai ser passada no débito.


— O que foi, amor, não quer mais transar? Se for isso, tudo

bem. Eu acho mesmo que você precisa se recuperar mais um pouco

antes de voltarmos a programação normal, se é que você me


entende — diz e, com um olhar saliente, me joga uma piscadela

com esses seus olhos azuis que me deixam subindo pelas paredes

toda vez que...


Foco, Marina! Foco na missão, porra!

— Não é isso, eu quero muito transar e é justamente o

problema. Não acha que tem algo estranho com a gente?


— Você está me deixando confuso, amor. Que problema nós

dois poderíamos ter? — indaga e seu rosto transparece toda a


confusão dos seus pensamentos.

— Não é estranho essa vontade louca de trepar, tipo, três dias

depois de eu sair de um coma? Pelo amor de Deus, estávamos em

um quarto de hospital e tudo o que eu conseguia pensar era no

quanto seria gostoso se você pulasse em cima daquela cama e me

comesse, até que fôssemos pegos por algum desavisado que


entrasse sem bater.
— Nossa, parece um filme pornô. Fiquei ainda mais duro com
a revelação dessa sua fantasia — diz, e eu olho para a sua calça

jeans e nela está a evidência de que não está mentindo em suas

palavras. — Vamos, conte-me mais das suas fantasias, minha gata

insaciável. Depois que eu gozar, te conto as minhas, que são dez

vezes mais indecentes, e aí você goza também — propõe, não

levando a sério o meu papo.


Erick pensa que eu não sei que ele está fazendo isso apenas

para evitar me tocar mais intimamente. De alguma forma, meu noivo

não consegue se livrar da culpa pelo que me aconteceu. E se o seu

cuidado já era exacerbado, agora está ainda mais sufocante, mas

nada que eu não consiga dar um jeito.

— É sério, Erick. E se for uma doença ou algo do tipo?

— Você tem vontade de dar para outro? — questiona, e eu


penso nunca ter ouvido coisa mais absurda em toda a minha vida.

— Que pergunta idiota é essa? — Agora eu estou indignada.

— É óbvio que não, e você deveria saber disso.

— Ei, não precisa ficar irritadinha, só perguntei para que

perceba que não tem nada de errado com você, nem comigo, se

esse seu tesão é voltado apenas para mim.


— Não?
— De maneira nenhuma. Pessoas com compulsão sexual

geralmente não se atém a um só parceiro e o que dita com quem ou


quando vai acontecer é o corpo, pois nesses casos é ele que guia a

mente — me dá uma breve explicação.


— Então, se não tem nenhum problema comigo, quer dizer
que eu sou...

— Uma safada. — Sim, era essa a palavra. — A minha


deliciosa noiva apenas sente saudades do corpo do seu homem —

ele diz e me traz para cima das suas pernas, e eu aproveito para
enlaçar a sua cintura.

— Não mais que você, não é? — Deixo meu tronco mais ereto
e parece que atingi o meu desejo, já que os seus olhos esfomeados
vão direto para o meu decote. — Sua pobre noiva deitada naquela

cama de hospital e o senhor tendo ereções que, se brincar, até as


enfermeiras notaram — brinco, pois gosto de levá-lo ao limite.

Não é como se eu estivesse mal de verdade. Meus últimos


dias no hospital foram apenas por precaução, e como disse o

próprio médico, dias antes de a minha mente resolver cooperar, o


meu corpo já estava curado. O procedimento cirúrgico foi um
sucesso, sendo o coma a única razão de eu ter sido obrigada a

permanecer tanto tempo de molho naquele quarto.


— Coitada da minha bebê — ele zomba e faz um biquinho com

a boca, claramente me imitando. — Tão inocente, não é mesmo?


Inocente até quando praticamente implorava com os olhos para ser

comida por mim, inocente quando dispensava a enfermeira e me


pedia para lhe dar banho, só porque queria estar mais próxima de

mim. E, principalmente, inocente quando começou a falar no auge


da madrugada...
— Eu, falando? Mas eu não sou de falar durante o sono, ou

falo? — pergunto a ele, que agora tem o rosto bem próximo ao meu,
me fitando como se quisesse ler a minha alma.

Esse seu olhar me chama atenção para coisas que não podem
ser ignoradas, como o fato do seu pau duro está cutucando meu
sexo enquanto estou sentada exatamente em cima dele, e o fato da

minha calcinha está pingando e a boceta latejando de tesão. Essa


conversa toda está me deixando louca de desejo.

— Não fala, a menos, é claro, se você estiver no meio de um


sonho erótico.

— Como é? Eu não tive nenhum sonho erótico. — Pelo menos


não que eu me lembre.
— Isso foi no mesmo dia em que a enfermeira quase nos

pegou em flagrante. — Ele se refere ao dia do quase e não ao que


realmente fomos pegos com a mão naquilo e aquilo na mão. — Eu
me deixei seduzir porque já estava no meu limite, depois de ouvir
tantas sacanagens saindo dessa boquinha linda.

— Que vergonha. — Tento levar as mãos ao rosto, mas ele me


impede ao colocar novamente as suas mãos em volta do seu

pescoço. — O que foi que eu disse?


— Não prefere que eu te mostre, minha deliciosa? — pergunta
e sua boca passa a beijar o meu pescoço e suas mãos começam a

subir o meu vestido.


— Você me pediu para ficar nua para você. — Ofego quando a

sua boca começa a me castigar com lambidas e mordidas deliciosas


que me trazem sensações incríveis, como se esses carinhos fossem

feitos na minha boceta, já que é lá que eu o sinto mais


intensamente.
— E você demorou demais para fazer, então, deixe que eu

mesmo faço isso. Eu levo meio segundo para tirar sua roupa, é uma
atividade que eu gosto muito de fazer — afirma quando eu levanto

os braços e ele tira meu vestido pela cabeça. — Meu Deus! —


murmura ao ver a minha lingerie de renda branca, que é composta
por uma calcinha fio dental e um sutiã meia taça, usado para deixar
meus peitos mais desejáveis aos seus olhos, o que é um ótimo
truque, já que tem verdadeira adoração por eles.
— Gostou do presente? — questiono e assim como ele fez, tiro

a sua camisa e a jogo em um canto qualquer. — Coloquei


especialmente para você. — Não vou revelar que tive a coragem de

pedir para que Ângela passasse aqui casa antes de ir para o


hospital e colocasse o conjunto dentro da minha bolsa.
— Do presente e principalmente do que vem dentro da

embalagem. Hoje eu vou te comer todinha, meu amor. — Com a voz

rouca de tanto tesão, abre o fecho frontal do meu sutiã e depois me


joga com cuidado em cima da cama. Em seguida e cheio de pressa,

Erick tira a minha calcinha e me deixa do jeito que queria. A fim de

me matar do coração, meu amor leva o pedaço de pano até o nariz

e antes de jogá-la longe, diz: — Gostosa! Você é tão deliciosa e


cheirosa, que eu tenho de me segurar para não te dar o tipo de sexo

que nós dois precisamos — fala no mesmo instante em que tira sua

calça e cueca. — Senti tanta saudade disso...


Com os olhos em brasa, se joga de joelhos aos pés da cama e

de lá puxa as minhas pernas para os seus ombros. Com pressa e

sem fazer cerimônia, ele abocanha o meu sexo carente da sua


atenção.
— Nossa... Como eu senti falta disso. — Sensível pela espera,

levanto um pouco o tronco e seguro a parte de trás da sua cabeça a


ponto de gozar, não só por sentir sua boca me chupando com

avidez, enquanto a sua língua me invade com a perícia de um

homem que sabe o que está fazendo, como também pela falta que o
seu toque me fez durante esse período de abstinência.

— Não mais do eu senti de comer a sua boceta com a minha

boca. — Me olha quando levanta o rosto por um momento e tenho

que me segurar para não gozar ao ver a sua boca e nariz úmidos
dos meus fluidos. — A iguaria mais saborosa que eu já provei. —

Volta com o ataque, só que dessa vez mais frenético. Ele me come

com uma fome que além de me deixar envaidecida por despertar


tamanho desejo em um homem como ele, também me torna incapaz

de segurar o orgasmo que se aproxima.

— Eu preciso, eu vou... — inicio, apenas para me frustrar, já


que, abruptamente, sua boca deixa o meu sexo e de imediato volta

a ajeitar meu corpo sobre a cama.

— Não vai, não, minha gostosa. — Se deita em cima do meu

corpo e se acomoda entre as minhas pernas, que abro amplamente


para lhe receber. — Você vai gozar com o meu pau te comendo
gostoso — avisa ao pincelar a ponta grossa e robusta em cima do

meu centro pulsante.

— Está esperando o que, um pedido formal para que meta? —


Decido levá-lo além do limite, para que nem pense em me tratar

como uma boneca prestes a se quebrar por causa de um

movimento mais brusco.

— Você não devia ter dito isso, menina.


— Por quê? “O senhor tenho medo de meter com força" vai

fazer o que, vai passar a transar com as luzes apagadas?


CAPÍTULO 54 RELEMBRANDO

— Não diga que eu não te avisei, sua safada. — Uma adrenalina


começa a fluir pelo meu corpo, me fazendo mandar para o inferno

todo o lance do cuidado. Marina obviamente está mais que sarada


para não ter medo do perigo e está me provocando dessa forma.
Mal sabe ela que está atiçando uma fera adormecida e
faminta. E um homem que quase viu a sua razão de respirar lhe

deixar de maneira tão repentina não pode ser considerado como o


mais paciente nem o mais controlado.
— Dê o seu melhor, meu garanhão, ou seria o seu pior? —

provoca, se esfregando contra o meu pau.


— Aí é você quem escolhe, minha gata — digo e sem aviso

meto o pau até o fim, fazendo-a ofegar pelo prazer de finalmente se


ver cheia de mim. — Satisfeita? Não era você quem queria pau

nessa bocetinha quente? Então toma, minha gostosa. — Faço um

bate e volta gostoso, indo até a fim, para depois tirar lentamente e
voltar a socar de uma vez só.
— Isso, mais rápido, mais forte. Caralho! — xinga com

dificuldade quando mudamos de posição. Fico de joelho sobre a


cama e seguro as suas pernas em volta da minha cintura. — Isso,

amor.

Nessa posição, a penetração é ainda mais profunda e eu estou


me segurando para não gozar antes dela.

— Ainda não, gata selvagem. — Recolho as suas mãos, que

estavam prestes a irem até as minhas costas e arranhá-las até que


as suas marcas ficassem gravada nelas. — Só quando disser que

pode — aviso tão ou mais ensandecido que ela, metendo com força,

levando nossos corpos a se baterem e os pés da cama rangerem


contra o chão. — Agora é a sua vez. Vem. — Seguro a sua cintura e

a coloco sobre as minhas pernas. — Dê seu pior, garota sacana.

Com os olhos escuros pela intensidade do desejo, Erick me

pede para cavalgar nele e eu começo a minha busca frenética para

o alívio e saciedade que me aguardam. Como sei que ele ama os

meus peitos, seguro um deles que está carente dos seus beijos e o
levo até a sua boca, que o abocanha cheio de gula e passa a
chupá-lo de maneira dolorosa, assim como faz com a minha boceta.

Quando ele está todo dentro de mim, começo a cavalgá-lo com

força, e o sinto entrando e saindo, sem que nunca deixe de chupar

os bicos intumescido dos meus seios.

— Isso, minha putinha, senta no cacete do seu homem, do

jeitinho que você estava sonhando — fala quando puxa meu lábio
inferior para depois chupar a minha língua, assim como o seu pau

suga a minha boceta. — Hoje você não vai dormir, gostosa da porra.

Vai me pagar muito caro pelas provocações feitas na porra do

hospital, por todas as vezes em que, depois de ter me atiçado, foi

dormir um sono tranquilo, enquanto eu tive que me virar com os

dedos dentro de um ínfimo banheiro, assim como fazem os

moleques.
— Promessas, promessas... — Ofego e já suada e com o

fôlego curto, mudo o ritmo das penetrações, indo em um ritmo lento

e cadenciado, apenas para deixá-lo ainda mais louco.

— Promessa você vai ver quando estiver com a boceta assada

e andando de pernas abertas pela manhã — indecente, ele diz isso

aos sussurros, me fazendo pular mais alto quando sinto seu dedo
indicador sondando a minha porta de saída.
Deus! Só de lembrar do dia em que finalmente permiti que ele

me pegasse por trás, já sinto uma vontade insana de fazer de novo.


Me parece uma coisa tão vil e degradante, mas ao mesmo tempo

tão íntima e deliciosa.


— O que foi, meu amor? — Eu paro de me mover ao sentir seu
dedo começar a me invadir centímetro por centímetro. Agora me

sinto cheia, de todas as formas possíveis. — Não posso tocar aqui?


— apesar de perguntar, já tem meio dedo dentro do meu ânus. —

Hoje eu quero comer a sua bunda novamente. Vai me deixar fazer


isso?

— Vou — admito, porque é exatamente o que eu quero que ele


faça. — Quero muito — confesso.
— Mas isso vai ficar para depois, agora eu preciso que você se

mova. — Eu começo a sentar devagar, tanto em cima do seu pau


quanto em cima do seu dedo. — Já imaginou ser comida na frente e

atrás ao mesmo tempo? — faz a pergunta estranha, sem parar de


auxiliar no bate e volta.

— Eu não quero...
— Nada disso, minha linda. Nenhum outro homem vai tocar no
que é meu. Nunca! — avisa, todo possessivo. — Isso não quer dizer

que não podemos usar alguns brinquedinhos. — Pisca o olho azul


que enfeita o seu belo rosto suado. — Vamos deixar isso para

depois, agora eu quero que goze.


— Humm — murmuro em concordância, pois já estou no meu

limite.
— Mais um pouco e meu pau vai sair daqui esfolado de tanto

meter. — Chupa o meu pescoço com avidez. — E como eu disse,


temos uma noite inteira pela frente. Se segura, minha amazona. —
Agarra minha cintura com maior firmeza e começa ele mesmo a me

levantar, com força e rapidez. Logo sinto seu pau inchar e me trazer
para a borda do paraíso junto com ele. — Isso, vai... — Ele goza

antes de mim e sentir seu esperma me preenchendo e ver o rosto


contorcido de prazer são o suficiente para que eu chegue ao
orgasmo logo em seguida. Dessa vez foi tão intenso, que não foi

preciso nenhum tipo de estímulo para que eu chegasse lá.


Com Erick me segurando em seus braços, sou apenas uma

massa mole e sem utilidade, que o agarra trêmula como se ele


fosse um bote salva-vidas. Tendo nossos corpos ainda unidos, meu

amor me deita novamente de costas na cama, e de maneira


preguiçosa, ainda fica mais um tempo entrando e saindo enquanto
me beija. No beijo em que usa a língua com maestria, meu homem

transmite todo o amor e desejo que nos une.


— Nossa! — Ainda com a respiração tão ofegante quanto a
minha, Erick deita ao meu lado e completa: — Finalmente! — Fica
imóvel, calado, apenas encarando o tato. Eu, como não sei o que se

passa na sua cabeça, também fico na minha e deixo que tenha o


seu momento. Sei que assim como eu, que tirando o susto do tiro,

não estava acordada para sentir ou fazer alguma coisa, ele passou
por maus bocados estando acordado e tendo que me ver entre a
vida e a morte. Me coloco no seu lugar, pois não sei o que faria se a

situação fosse inversa, se eu estivesse com a pessoa que é tudo na


minha vida prestes a me deixar sozinha.

Incapaz de me segurar, arrasto a minha mão até a sua e


entrelaço os nossos dedos. Quero que ele saiba, que estejam onde

estiverem os seus pensamentos, está tudo bem, que sou eu quem


está aqui, do seu lado, a sua mulher.
Surpreso com o meu gesto, meu amor vira o rosto em minha

direção e o que eu vejo são olhos angustiados, brilhantes pelas


lágrimas que ele está lutando para não deixar cair.

— Amor, porque você está...? — começo a dizer, mas de


repente e antes que eu termine a fala, ele vem para perto de mim e
deita a cabeça um pouco abaixo do meu seio.
— Eu tive tanto medo, por um momento eu pensei, pensei... —
Nessa hora ele não suporta a pressão e deixa que as lágrimas
rolem. Em silêncio, eu o consolo fazendo um leve cafuné no seu

couro cabeludo. — Nunca mais faça uma coisa dessas comigo,


Marina — exige, depois de um tempo e após levantar a cabeça e

me fitar de perto. — Eu não posso mais viver sem você e espero,


sinceramente, que saiba conviver com isso. Você é o amor que eu
quero para a vida inteira.

— Foi por você que eu voltei. — De repente me vem a

memória o encontro que tive com papai.


— Foi?

— Foi sim, eu estava em um lugar tão bonito, Erick. Um campo

repleto de girassóis onde o papai apareceu — começo a contar e

ele me ouve com atenção. — Quando o vi, fiquei tão feliz que só
queria abraçá-lo e nunca mais soltar. Eu estava em paz, até que ele

me mostrou você sofrendo ao lado da minha cama. Estava tão

abatido que hora não pensei em nada a não ser em voltar para e
curar a sua tristeza. Voltar para dizer que não irei a lugar algum, não

sem você, meu amor.

— E eu vou te recompensar pelo resto das nossas vidas,


princesa — afirma, não demonstrando estranheza pelo que acabei
de contar. — Te fazendo feliz e te dando muitas alegrias — diz e

seus olhos fitam, pela primeira vez tão de perto, a cicatriz vermelha
que o projétil deixou e a marca da cirurgia, as lembranças do que

aconteceu e de que eu estou viva. No ato, ele abaixa a cabeça e

deixa um beijo carinhoso sobre cada uma das cicatrizes. — Tenho


vontade de ir à cadeia e torcer o pescoço daquela vagabunda —

revela enquanto passa o dedo indicador na pequena marca

avermelhada da bala e percorre a cicatriz da cirurgia.

— Esqueça essa mulher, Erick. Ela vai ser condenada e pegar


por seus crimes. Não cabe a nós fazermos justiça com as próprias

mãos. O que nos cabe de agora em diante é sermos felizes, como

se essa mancha na nossa história nunca tivesse existido.


— É claro que você tem razão — afirma, para depois pegar

uma perna minha e a colocar sobre o seu quadril. — Como sempre.

— Sim, como sempre — eu brinco e ele sorri descontraído,


deixando as lágrimas e angústias de fora da equação.

— Sim, como sempre — se atém em concordar, enquanto gira

o meu anel de noivado, que está mais folgado pelo pouco peso que

perdi. — Se importa de deixarmos o banho para mais tarde? Eu


quero sentir os nossos cheiros impregnados no seu corpo por mais

um tempo.
— De maneira alguma, é até bom, já que vamos nos sujar de

novo em breve.

— Safada! — Dá um apertão na minha bunda. — Minha noiva,


além de ser linda, é uma devassa.

— Tudo para agradar o meu noivinho — provoco.

— Por falar em noivado, nós temos muito que conversar,

como, por exemplo, o que você acha de fazermos uma festa para
oficializarmos o nosso compromisso, agora que não temos mais o

que esconder? — ele pergunta e eu fico surpresa com a proposta.

Confesso que não tinha parado para pensar nisso. Noivado, morar
juntos, casamento... Marina delirando assim como fez quando

ganhou Floquinho e já saiu atribuindo a paternidade ao Erick...

— Amor, está viajando?

— Não, estava aqui pensando nos nossos filhos.


— Mas já?

— Os filhos que já temos, Floquinho e Thor — termino de falar

e olho para Erick, que me olha de volta e caímos na gargalhada pela


lembrança de coisas que parecem tão distantes, cenas que nos

remetem ao início de tudo, o começo de uma longa, porém,

gratificante e feliz jornada.


CAPÍTULO 55 CAINDO A FICHA

Conhecendo a minha gata do jeito que conheço, fiz a proposta de


oficializarmos nosso noivado perante toda a sociedade e ela

entendeu que seria bom se fizéssemos uma recepção mais simples


e íntima. Com a imprensa interessada nos nossos passos e em tudo
o que acontece na nossa vida como casal, o anúncio do noivado foi
visto com estranheza, já que o nosso término, além de ter caído na

boca do povo, gerou bastante comentários. O que não poderia ser


de outra forma, uma vez que a cena do término foi propositalmente
presenciada por várias pessoas.

Como justificativa e a fim de preservar ao máximo a nossa


intimidade, deixamos de fora a chantagem feita por Patrícia e

atribuímos o nosso fim a uma briga boba e que depois de


conversarmos, decidimos dar mais uma chance ao nosso amor.

Quanto ao tiro que meu amor levou, dei um jeito de fazer parecer

que foi uma fatalidade, que Marina estava no lugar errado e no


momento errado.
Duas semanas depois da sua volta, minha menina me disse

sim à frente de dezenas de pessoas, no jardim da mansão, onde


ela, com a ajuda de Ângela, organizou detalhe por detalhe. Visto

como um conto de fadas pelo mais cético dos homens, o nosso

amor deu mais um passo em direção ao para sempre, quando,


apoiado sobre um dos joelhos, voltei a pedi-la para que seja a minha

esposa.

A noite, que estava bonita, mas não tão bonita quanto a minha
princesa — que vestiu um longo vermelho com uma fenda sexy,

onde deixava boa parte da sua perna esquerda à mostra a cada

passo que ela deva —, teve como ponto alto a estranha


animosidade entre Bruno e Ângela, que até onde eu sei nunca se

falaram mais do que os cumprimentos necessários a uma boa


educação e ainda assim pareciam não suportar estar no mesmo

ambiente que o outro. Quando questionados por mim e por Marina

sobre qual era o problema deles, ambos tiveram a mesma reação

de sair emburrados da festa, dizendo que não tinha nada de errado

acontecendo, que o clima pesado entre eles era apenas impressão

nossa.
— Por onde essa mente brilhante tem andado? — Minha

garota esfrega as pernas macias nas minhas ao se espreguiçar


como uma gata manhosa, e eu, como não sou santo, puxo o lençol
fino que a cobre, deixando seu corpo nu para a alegria dos meus

olhos.

— Estava lembrando da noite do nosso noivado e em como

tudo saiu perfeito, menos, é claro, o clima estranho entre a sua

melhor amiga e o meu.

— Eu estou louca de curiosidade para saber o que aconteceu


entre aqueles dois — ela confessa, aconchegando a cabeça no meu

ombro em um contato singelo, mas delicioso, apenas por ter o seu

corpo no meu. Ter ela pertinho de mim em qualquer hora é uma das

coisas que eu mais senti falta e que mais tenho gostado de ter de

volta, desde que, dois dias depois da sua saída do hospital, tranquei

meu apartamento e voltei para a mansão, para o nosso quarto, lugar

onde não deveria ter saído. — Amor, você acha que eles...
— Não acho que eles estejam transando, parece mais um

caso de antipatia mútua — falo para tranquilizá-la, para mim, parece

mesmo é tesão reprimido por ambas as partes, apesar de o Bruno

jamais admitir isso.

— Eu acho bom ser só isso mesmo. Ângela tem problemas

demais e o Bruno viria só para acabar de foder com tudo.


— Qual é o mistério que ronda a vida dessa chatinha? —

pergunto, fazendo os olhos da minha menina me lançarem adagas


de reprovação. Mas fazer o que se o apelido pegou?

— No mínimo, tem pais controladores. O resto ela não diz a


ninguém. Ângela nega, mas eu sei que esconde alguma coisa e eu
vou descobrir o que é.

— Acredito em você — digo, porque sei que ela é muito


obstinada, ainda mais se a intenção for ajudar a amiga

problemática. — E não se preocupe com uma possível aproximação


entre eles, o Bruno sairá do país. Acho que só vai esperar o nosso

casamento acontecer.
— Nossa, que bom saber que Bruno Pires ainda tem um
coração e vai esperar o casamento do amigo antes de fugir para as

colinas — fala com um sorriso no rosto que deixa claro o tom de


brincadeira.

É claro que Marina acha, e com razão, que ele é sério e duro
demais com as coisas e pessoas que o rodeiam. Mas ela também

não tem dúvidas da lealdade que tem para com os poucos amigos
que cultiva. Deixei claro para Marina o carinho que todos lhe
dedicaram quando ainda estava desacordada.
— Não fugiria nem se quisesse — digo, fazendo carinho na

sua barriga lisa. — Já que foi convidado para ser o meu padrinho —
revelo, não querendo imaginar o climão que isso vai gerar.

— Espero que eles não se matem — minha gata completa o


meu pensamento.

— Ou se matam ou se comem de uma vez.


— Ainda bem que o cara vai sair do país. Imagine a sinuca de
bico se acontecesse alguma coisa entre eles? Minha melhor amiga

e a Lua brigando pelo mesmo homem.


— Eu teria pena dos seus ouvidos. — Sorrio, porque não tenho

outra coisa a fazer. Só posso imaginar que seria uma boa briga, mas
se pudesse apostar, diria que Ângela levaria a melhor nessa. Bruno
nega, mas não esconde o quanto ficou impressionado com a garota,

isso tudo sem vê-la fisicamente.


— Tem algum motivo para ele sair do Brasil assim, tão de

repente?
— Vai fazer uma especialização na Itália. Só não soube me

dizer quanto tempo vai durar ou quando pretende voltar — explico,


deixando de revelar minha suspeita de que ele vai fazer mais do que
uma especialização.

— Quem não vai ficar feliz com a notícia é a Lua.


— Difícil acreditar que ela ainda esteja a fim de um cara que se
relacionou por pouco tempo e que lhe deu um pé na bunda sem a
menor pena.

— Cala a boquinha, que você não entende nada da cabeça


feminina. Também me deu um pé na bunda e, no entanto, aqui

estamos nós, prestes a nos casarmos.


— Nosso caso foi diferente e você sabe disso — me defendo.
— E quanto ao pé na sua bunda, quero deixar claro que só tem uma

coisa que eu meto nela e não é exatamente um pé. Ou será que já


se esqueceu de ontem?

Gosto de lhe provocar com isso, porque não entendo qual a


sua vergonha por nós dois gostarmos de sexo anal.

Com o rosto vermelho, Marina o esconde no meu peito, e torna


a dizer:
— Quando foi que começamos a falar de sexo mesmo? —

Belisca a minha barriga e não me faz nada além de cócegas.


— Sabe como é, né? Não posso deixar uma oportunidade

passar.
— Estou vendo, mas o senhor vai ter que deixá-la passar
dessa vez — afirma ao pegar um pequeno despertador em cima do
criado e ver as horas. — Nós já passamos tempo demais nessa
cama e eu ainda tenho que ir ao estúdio.
— Ah, pelo amor de Deus, em plena tarde de sábado? —

Como um bebê, me agarro com braços e pernas em seu pequeno


corpo, não deixando que se mova. — Vai, amor... Só mais uma

transadinha? — Ela nega. — No chuveiro, enquanto lavo seu corpo


com as mãos e embaixo te como com o pau? — insisto, ela pensa
por uns segundos e logo me dá a resposta:

— Tudo bem. Você... — nem termina de falar e eu já lhe tenho

em meus braços, a carregando para debaixo do chuveiro.

— Pequena, e sobre o assunto do estúdio? — Já estou vestido

e satisfeito, não poderia estar de outra forma depois da rapidinha


vespertina embaixo d’água. Fico lhe observando terminar a

maquiagem. — Você tem certeza de que quer fazer isso? Se quiser,

posso ir dando entrada na papelada.


O assunto ao qual eu me refiro é a proposta que Lua fez para

a minha noiva. Segundo suas palavras, Marina se mostrou essencial


para o estúdio, inclusive na captação de clientela, e por isso Lua

achou mais do que justo a convidar para ser sua sócia na empresa
que está ficando cada dia mais renomada e conhecida. Para ela, a

proposta também é vantajosa, já que com o capital que iremos

investir, a expansão, e quiçá a abertura de uma nova filial, será mais


viável.

— Claro, amor. Como eu te disse, o fato de eu ser tão jovem e

nova no mercado talvez fosse um empecilho para crescer no meio,

e já que nós nos entendemos tão bem...


— Linda — faço o elogio a sua beleza quando vejo que está

pronta. — E inteligente — agora elogio a sua mente brilhante e

preparada para os desafios que a vida lhe impuser. — Pode deixar


que o seu superadvogado cuidará da parte chata.

— E modesto também. — Ela vem até onde estou e me dá um

beijo leve. — Agora, vamos descer, querido. Hoje o dia vai ser
corrido, de lá eu vou pedir para o Jorge me levar até a Maison

Buffet, eu e a Ângela vamos escolher o cardápio da festa do nosso

casamento — avisa. — Você também vai, não é? — indaga ao

pegar a sua bolsa sobre o sofá lateral.


Sim, vamos nos casar em breve.
Diferente da intenção inicial que era ter um longo noivado e só

depois pensarmos em casamento, Marina e eu conversamos e

decidimos que não tem motivos para esperarmos tanto tempo se


temos certeza do que queremos.

Se o nosso amor já não fosse motivo suficiente para tomarmos

tal decisão, a experiência pela qual passamos certamente é. O

medo de perdê-la me fez entender que há razão para temores, que


o nosso amor está aí para ser vivido de maneira plena.

— Eu vou sim, e já que não terei a sua companhia agora, vou

malhar um pouco e assim que estiver a caminho, me avisa, tudo


bem?

— Está certo.

Nós descemos as escadas de mãos dadas e quando a levo até

a porta, Marina vem na intenção de me dar outro selinho, mas para


o seu azar, sou mais rápido e abocanho sua boca em um beijo de

língua, longe desse sem graça que ela gosta de dar em momentos

de pressa.
— Agora sim, terei uma ótima tarde. — Ela me olha atordoada

e ainda dá um tropeço no batente da porta, tanto pelo beijo quanto

pelo tapa que acerto na sua bundinha redonda. — Gostosa.


Dando uma de esnobe, a minha gata não diz nada, segue o

seu caminho, mas não sem antes voltar a cabeça para trás, medir o
meu corpo — que não veste nada além de uma calça moletom — e

me mandar um beijinho por cima do ombro. Depois ela se dirige

para a garagem com um balançar de quadril mais acentuado, me


deixando com o pau mais duro do que uma rocha.

E agora, como vou puxar peso neste estado? Meu cacete é

capaz de furar o chão antes que eu comece o aquecimento. Não é

como se eu não pudesse dar um jeito neste grande — sim, grande,


até porque aqui embaixo não tem nada de pequeno — problema.

Chego na academia, ainda me recusando a me aliviar no chuveiro,

assim como fazia dentro do banheiro do hospital, não quando tenho


uma mulher tão gostosa e tão insaciável quanto a minha. A mulher

que dentro de poucos meses se tornará minha esposa.

Esposa...

— Caralho! — Olhando-me no espelho que cobre toda a


parede da academia, é que finalmente a minha ficha cai, como se

agora estivesse ciente do importante passo que estou prestes a dar.

— Eu vou me casar.
Erick Estevan vai se casar!
CAPÍTULO 56 PASSADO

“Deus, eu vou casar, e é com o Erick, o meu Erick. O amor de toda


uma vida."
Não deixo de me emocionar quando, dias depois de fazer a escolha

do cardápio que será servido na recepção, me vejo refletida no


enorme espelho do atelier, trajando o belíssimo vestido de noiva
feito por Honória Braga, a estilista das estrelas. A peça feita

exclusivamente para mim é uma das coisas mais espetaculares que


já vi.
— Como você está linda, minha amiga. — Uma Ângela

emocionada e com olhos brilhantes me fita. — Parece uma

princesa. Tenho certeza de que tio Erick vai infartar antes do sim.
— Mais algumas provas e ele estará pronto, minha querida.

Você vai ser a noiva mais bela que essa cidade vai ver esse ano —

me elogia a mulher de meia idade, que é talentosa demais com as


suas agulhas e linhas.
Com a mente viajando para o tão esperado dia, que

rapidamente se aproxima, fico por um bom tempo me olhando e


alisando o tecido do vestido que molda meu corpo, até que algo

chama a minha atenção.

Do lado de fora da porta de vidro, uma mulher de cabelos


escuros e aparentando seus quarenta anos me observa e tem os

olhos cheios de lágrimas. Do seu lado, tem dois menininhos de

cabelos lisos e castanhos e que parecem ignorar o estado que a


mãe se encontra, já que discutem de maneira ferrenha por alguma

bobeira qualquer, que só é uma grande coisa na mente das

crianças.
Incomodada com as crianças brigando e a mãe dura como

uma pedra me olhando sem ao menos piscar os olhos, não penso


antes de descer do caixote que Honória me colocou e sob os olhos

especulativos da costureira e minha amiga — que param de falar

quando presenciam o meu movimento —, vou até a porta e

confronto a mulher que tanto me encara, como se quisesse me falar

alguma coisa.

— Algum problema, senhora? — indago e quando lhe encaro


mais de perto, penso que teria sido melhor se não tivesse vindo até

aqui. — Cristina?
É claro que é ela, apesar de mais velha, continua a mesma
das poucas fotos antigas que até alguns anos atrás enfeitavam a

sala da mansão, e mesmo sem elas, eu nunca deixaria de ser capaz

de reconhecer a pessoa que tem vários traços parecidos com os

meus.

— Minha filha? — Com a mão trêmula, ela a sobe até a altura

do meu rosto, voltando a abaixá-la quando me esquivo.


— Não me chame de filha — peço e assim como ela, eu tremo

da cabeça aos pés, tendo que me segurar na porta antes que as

minhas pernas me deixem na mão.

— Desculpe — pede com a voz embargada, mas o que me

chama a atenção é o fato de os dois garotinhos terem parado de

discutir e agora me olharem com curiosidade. — Eu soube do que

aconteceu. Você está bem?


— Estou ótima, mas não graças a sua prima — acuso. — Eu

posso saber o que a senhora está fazendo aqui, depois de tantos

anos de abandono? — Limpo uma lágrima solitária que deixo

escapar.

— Nós precisamos conversar, minha filha — pede.

— Não temos nada para conversar, senhora. Teve tantos anos


para fazer isso, e agora, no momento mais importante da minha
vida, você resolve dar as caras? — desabafo, não conseguindo

conter minhas palavras.


Mas como poderia, se não posso nem ao menos olhar para os

rostos das crianças que tiveram tudo o que eu nunca tive: o amor de
uma mãe.
— Não faz isso, Marina. Eu sei que minhas ações não têm

perdão. Eu fui fraca por não lutar para ficar com você e também
ambiciosa quando decidi aceitar o dinheiro que o João me deu para

sair do país...
— Aí, deixa eu adivinhar: em um mundo maravilhoso, onde

não existia uma criança que abandonou, você acabou encontrando


um príncipe encantado e até teve dois filhinhos. — Aponto para
eles, e me dou conta do quanto estou sendo cruel, eles são apenas

crianças que não têm culpa dos erros da mãe, assim como eu não
tive culpa dos erros dos meus pais.

— Você pode me ouvir? Será que pode me perdoar? — pede,


e eu não consigo acreditar no que estou ouvindo.

— Não, eu não posso fazer isso, pelo menos não agora e


talvez nunca. — Com os olhos marejados, me volto para dentro da
loja, mas antes faço uma única pergunta: — Cristina. — A mulher,

que permanece parada no mesmo lugar, levanta a cabeça e,


esperançosa, espera pelo que tenho a dizer. — Como eles se

chamam?
— Victor e Artur, seus irmãos.

— Tudo bem. — Entro de vez, deixando meu corpo cair em


cima da primeira cadeira que vejo pela frente.

— O que foi, Marina? — Preocupada, Ângela se agacha à


frente. — Suas mãos estão geladas e você está tremendo.
— A Cristina, aquela mulher... era a minha mãe. — Ela me

olha com surpresa. — Mas não quero falar sobre isso agora, eu só
preciso ir para casa. — Levanto-me novamente e peço: — Me ajude

a tirar ele.
De imediato, ela se levanta e me ajuda a abrir os milhares de
botões perolados que tem na parte de trás da vestimenta.

— Tem certeza de que está tudo bem, querida? — senhora


Honória indaga sem saber de nada, certamente por perceber a

mudança no meu estado de espírito.


— Sim, obrigada por perguntar — agradeço com as mãos

ainda trêmulas, coisa que não passa batido por Ângela, que
pergunta:
— Não é melhor que eu ligue para o Erick vir te buscar? Você

não está bem — afirma quando finalmente consegue me livrar do


vestido.
— Não — digo, categórica. — Ele ainda está no escritório e
não quero atrapalhá-lo — digo, sabendo que não posso sair

correndo até ele a cada acontecimento fora da rota que atrapalhe o


meu dia. Mesmo que seja essa a minha vontade. — Vamos com o

motorista. Quando chegar em casa, eu aviso para ele. Tudo o que


preciso no momento é ficar sozinha.
Sozinha para pensar em tudo o que aconteceu agora há pouco

e quem sabe liberar a frustração e a dor que comprimem o meu


peito.

— E aí, amigão, você sabe onde está a mamãe de vocês? —


Me sinto tão ridículo por dizer uma coisa dessas, mas fazer o que se

a convivência faz isso com as pessoas? E quando digo que ela trata
os animaizinhos como seus filhos é porque ela realmente os vê

dessa forma. Para Marina, Floquinho e Thor não passam de duas


crianças que não precisam de nada, além do amor e cuidado da
mãe e, como ela é a mãe, eu fui intitulado como pai.

Meu Deus! Eu, pai de dois animais.


— Ele não viu e pelo visto nem você, não é? — Solto as
orelhas do meu amigo e dedico um pouco de atenção a peludinha
que agora passar a pequena cabeça na minha perna. — Então

cuidem da casa, que papa... quer dizer, o grande Erick vai encontrar
a fujona.

Deixando-os para trás, subo as escadas, me perguntando se


devo me preocupar. Já são quase sete da noite e ela nem voltou da
prova do vestido, nem atende o celular. Jorge não está na garagem

com o carro, e eu imagino que ele ainda não a trouxe para casa.

Então, por que não consigo falar com ela?


— Calma, Erick — digo a mim mesmo enquanto subo tirando o

terno e afrouxando o nó da gravata. — Sua mulher deve estar

entretida com o vestido e não teve tempo de atender — tento me

tranquilizar, talvez esteja paranoico demais depois de quase perdê-


la.

Ao abrir a porta do nosso quarto, me deparo com a penumbra

e um soluçar baixinho ecoando pelo ambiente.


Marina! Mas o que...?

Quando me aproximo, ligando apenas a luz do abajur para não

a assustar, o que vejo deixa o meu coração apertado e com uma


vontade de matar a pessoa que fez isso com meu amor, que
acordou tão feliz em ter tantos compromissos do nosso casamento

para cumprir.
— Ei, o que houve, princesa? — Tirando o sapato, me deito

atrás dela e abraço a sua cintura, enquanto ela, sem se mexer,

continua chorando bem baixinho.


— Só me abraça, por favor — pede ao levar a sua mão até a

minha e entrelaçar os nossos dedos. Respeitando a sua vontade,

mesmo estando preocupado por vê-la chorando assim, faço o que

me pede e apenas lhe abraço. — A Cristina apareceu lá no atelier


— ela fala depois de um tempo, já sem chorar, e o motivo do seu

pranto me deixa bastante surpreso.

— Cristina, a sua mãe?


— Ela mesma — se limita em dizer e se vira de frente para

mim.

— E o que essa mulher queria depois de tantos anos sem dar


notícias? — indago, chateado, pois, apesar de não gostar de

injustiças e ser contra julgamentos precipitados, na minha cabeça o

que ela fez não tem justificativa.

— Foi isso que eu questionei. Ela disse estar arrependida e me


pediu perdão, mas eu a tratei tão mal, que agora eu estou me
sentindo confusa, sem saber se fiz a coisa certa. O que eu faço,

amor?

— Acho que você precisa de um tempo, pequena. Teve os


seus motivos para agir dessa forma e se ela realmente quer o seu

perdão ou qualquer outra coisa, vai ter que respeitar o seu tempo.

Afinal, não devia esperar outra reação sua, não depois de tudo que

soube — opino e espero estar fazendo a coisa certa.


Não serei eu a incentivar algum tipo de perdão ou aproximação

forçada, se nem mesmo concordo com o que ela fez. Não ouvi a sua

versão dos fatos, mas parece que a Patrícia não mentiu quanto a
motivação para Cristina abandonar Marina.

— Sabia que tenho dois irmãos? — Agora minha noiva abre

um sorriso e seus olhos brilham só por mencioná-los. — Eles são

gêmeos e se chamam Artur e Victor, tão lindos.


— Assim como a irmã mais velha. — Beijo o canto da sua

boca e continuo: — Amor, se puder, esquece esse assunto por

enquanto. Dê tempo ao tempo e quando estiver pronta, se um dia


estiver, você a procura e tenta uma outra conversa.

— É por isso que eu te amo, sabia? — Se aconchega ainda

mais nos meus braços. — E desculpe por não ter ligado avisando.
Eu só precisava ficar sozinha e pensar um pouco, você me

entende?
— Claro, amor. Eu só fiquei preocupado com a falta de notícia,

mas já que está tudo bem, vamos deixar esse assunto de lado,

futura senhora Estevan.


— Esse nome me soa bem — afirma e começa a abrir os

botões da minha camisa social. — Só mais três meses e você será

tão meu quanto é humanamente possível. — Ela abre as bandas da

minha blusa e deixa um beijo no meu peito.


— Três meses... — digo, sentindo que as coisas estão

começando a ficar duras, e digo isso no sentido literal da palavra.

— Por falar em três meses, a Ângela teve uma ideia para os


nossos últimos quinze dias de solteiros e acredito que você não vai

gostar.

— Tinha que ser a porra da chatinha. Vamos, me fale que ideia

é essa que vou odiar. Sim, odiar, pois sei que quando você diz que
não vou gostar de algo, o meu sentimento vai muito além de um

simples "não gostar".


CAPÍTULO 57 FRUSTRADO

— Mas que porra! — Erro pela terceira vez a mesma frase que
estou digitando no computador.

Uma semana.
Sete dias.
Faltam apenas sete dias para que esse inferno chegue ao fim.
— Que mau humor é esse, meu caro? — Sem bater na porta,

como sempre, e pisando tão leve que cada entrada sem avisar é um
susto diferente, Bruno invade a sala e presencia mais uma vez a
minha frustração. — Ainda sem transar?

— Sim, e toda vez que lembro disso, eu tenho vontade de


torcer o pescoço da intrometida da Ângela.

Há pouco mais de dois meses, quando Marina me falou da


ideia absurda de passar os últimos quinze dias que antecedem o

casamento na casa da Ângela, porque, segundo a própria, isso

tornaria tanto a nossa experiência como marido e mulher quanto a


nossa noite de núpcias ainda mais prazerosa e especial, eu fiquei

tão puto que preferi nem tocar mais no assunto. Pelo contrário, eu e
Marina começamos a trepar como dois coelhos, o negócio ficou tão

intenso que eu até esqueci do plano idiota. Até achei que ela
também tivesse esquecido, mas a safada estava tão insaciável

justamente por não ter esquecido, estava apenas aproveitando

antes da separação.
Há sete dias, quase tive um infarto ao chegar em casa e

encontrar suas malas prontas no meio da sala. Nesse dia, nós dois

discutimos e ela bateu o pé, me dizendo que depois eu iria


agradecer.

Eu não tive outra saída a não ser deixá-la ir, mas não sem

antes — em cima do sofá, já que estava com tanta pressa de se


livrar de mim — lhe mostrar o que ela estaria perdendo e meus

motivos de acreditar que não conseguiria aguentar por muito tempo.


Mas o tempo mostrou que quem estava enganado era eu. Ela

não só aguentou, como tem um cão de guarda à sua volta e toda

vez que eu apareço na residência dos Albuquerque para ver a

minha noiva, sempre estamos sobre os olhos atentos do filhote de

megera, que parece adivinhar todas as vezes em que o clima está

esquentando.
A garota sempre aparece para interromper.
De toda essa situação insuportável, pelo menos não tive o
desprazer de esbarrar com o primo, que depois da prisão da Patrícia

e dela ter entregado que foi ele quem disse do namoro falso, o

covarde fugiu de casa e ainda não teve coragem de aparecer para

arcar com as consequências dos seus atos.

— Quer dizer que o grande Erick Estevan está comendo poeira

por causa de uma garotinha? — Ele tateia a cadeira e se senta,


mais uma vez sem convite.

— Garotinha? Bem se vê que você não conhece a Ângela,

aquela ali é o próprio demônio.

— Isso eu já percebi, tão quente, quer dizer, tão insuportável...

— diz isso com um sorriso enigmático que não me passa batido.

— Que cara é essa, Bruno...?

— Nem comece com os seus delírios. O assunto aqui é você


com a sua bunda mole. Pelo menos tentou furar a defesa da general

empata foda?

— O que você acha? Não foi por falta de tentativa, meu caro.

No entanto, hoje tem sete dias que eu não transo com ninguém,

além da minha mão. Ângela é a minha definição perfeita para

demônio de saia.
— Poxa, mais uma semana na seca? Boa sorte — diz ao

levantar e ir na direção da porta.


— Queria alguma coisa?

— Não, só te provocar mesmo, já que ontem à noite bati uma


boceta bem gostosa.
— Vai se danar, porra. — Atiro um grampeador em sua

direção, mas ele é rápido o suficiente e o mesmo se quebra contra a


porta fechada.

Chatinha dos infernos, será que não faz nada além de empatar
os meus planos?

Pensando bem e sendo justo, até que ela não é de todo mal. É
Ângela, com a sua força e companhia, que tem ajudado Marina a
esquecer o desconcertante encontro que teve com a mãe pouco

mais de dois meses atrás.


Depois do encontro entre elas, eu, como noivo e maior

interessado no bem-estar da minha garota, fui atrás de saber mais


da vida da Cristina e descobri coisas bem interessantes.

Para começar, não existe nada de romântico na história do


abandono. Cristina, apesar de ameaçada por João, trocou a
companhia da filha por dinheiro.
Jovem e ambiciosa, a mulher partiu para Portugal e pouco

tempo depois se casou com um português. Um empresário bem-


sucedido e que foi capaz de satisfazer suas ambições. Depois de

tentar vários tratamentos e não conseguir realizar o desejo de ser


mãe novamente, Cristina desistiu da ideia, até que, oito anos atrás,

conseguiu engravidar e dar à luz aos gêmeos que hoje têm sete
anos de idade.
Apesar de ser feliz e realizada, não conseguiu esquecer a filha,

tanto que, com a ajuda do marido, acompanhou a vida da Marina


pelos últimos seis anos, o que não apaga o erro de nunca ter

tentado entrar em contato e só fazendo isso depois da merda que a


prima fez.
É como eu sei disso tudo?

A própria me contou, quando — desconfiado das suas


intenções — busquei seu contato e marquei um almoço em um

restaurante perto do escritório. Na ocasião, lhe aconselhei a dar um


tempo para a filha e não forçar a barra. Expliquei que quando estiver

preparada, a própria Marina vai entrar em contato, nem que seja por
causa dos dois irmãos que tanto lhe chamaram a atenção.
No mesmo dia, contei para a minha noiva a respeito do tal

almoço e fora a chateação por eu ter feito sem avisá-la, Marina


levou numa boa e até concordou com o meu conselho para que a
mãe se mantivesse longe.
Desde então, Marina, com a sua fiel escudeira, não tem outra

preocupação além de ajeitar os detalhes do nosso casamento. É por


isso que digo que Ângela é noventa e nove por cento demônio e um

por cento anjo. Eu até poderia me apegar nesse um por cento, mas
a saudade da minha mulher é quem está no comando e como não
sou de passar vontade e muito menos de desistir do que quero,

levanto-me da cadeira e dando o expediente por encerrado um


pouco antes do normal, saio do escritório e vou diretamente para a

casa da megera.
Às seis da tarde, dentro do carro e parado em frente ao portão

do inimigo, vejo as duas chegarem com as mãos cheias de sacolas.


Sem perder tempo, saio do veículo e quando a linda me ver, ela
entrega as suas sacolas para Ângela e se joga nos meus braços,

enlaçando os braços no meu pescoço e as pernas na minha cintura.


— Você veio, amor, pensei que dormiria sem te ver.

— Nunca. — Beijo a sua boca, mas já no início, abro os olhos


e vejo o cão de guarda nos observando com a mão na cintura.
Eu tenho que presenciar o dia em que ela for casar, porque se

Marina não fizer a mesma sacanagem que Ângela está fazendo com
a gente, juro que eu mesmo faço.
— Não vou conseguir fazer isso tendo a chatinha nos vigiando
com esses olhos de rapina. Faça alguma coisa, por favor — peço.

Ela solta os braços e pernas, vai até a general, conversa alguma


coisa baixo o suficiente para que eu não possa ouvir e logo em

seguida e de cara amarrada, vejo Ângela atravessar o portão, nos


deixando sozinhos. Finalmente. — Enfim sós. — Enlaço sua cintura
e quando vou beijá-la, Marina coloca a mão sobre a minha boca e

declara:

— Não pense que o fato de a Ângela ter nos deixado sozinhos


é um indício de que você vai conseguir entrar na minha calcinha,

pois não é.

— Sério? — indago, já sentindo a minha empolgação cair pela

metade.
— Sério. Eu prometi isso para ela — avisa. — Pense em como

vai ser gostoso, meu amor. Nós dois, depois de tantos dias de tesão

acumulado, matando todo o desejo na noite de núpcias.


— Diz isso para o meu pau. — Pego a sua mão e a coloco em

cima da minha ereção, que aumentou de tamanho no exato

momento em que entrou em contato com o seu corpo. — É ele


quem não entende. — Como se o local estivesse pegando fogo, e
está mesmo, Marina tira a mão, não a deixando nem tempo o

suficiente para fazer um agrado.


— Se comporte. — A aprendiz de megera bate o pé, cheia de

convicção.

— Vou me comportar, só que dentro do carro — digo e antes


que ela perceba, já estamos na parte de trás e com seu corpo bem

acomodado em cima do meu colo.

— Você não tem jeito, não é? — reclama, agora sem muita

firmeza, quando levanto a barra do seu vestido longo, até tê-lo


enrolado até a altura da sua cintura.

Marina não tem ideia do quanto me fascina vê-la usar vestidos

e acho que seria capaz de comprar dezenas deles só para ter mais
da bela visão.

— Não tem mal algum em dar uns amassos dentro carro, coisa

que não faço desde a adolescência — revelo. — Aí vai mais uma


experiência nova, minha gata.

Segurando na parte de trás da sua cabeça, saqueio a boca

gostosa num beijo faminto que há muito tempo estava a fim de fazer

e do beijo a coisa toda sai do controle. Dele, eu desço as alças do


seu vestido e chupo os seus seios que claramente estão carentes

por atenção. Dos seios, decido fazê-la gozar com os dedos e assim
como eu lhe dou prazer, minha safada também me dá quando desce

a minha calça e me chupa até engolir, literalmente, cada gota da

minha sanidade.
Longe de me sentir saciado e com os vidros do carro já

embaçados, estou a ponto de tirar a sua calcinha, mas sou impedido

por ela, que diz:

— O foi que conversamos? — Sai do meu colo se ajeitando e


arrumando o vestido. — Sem sexo.

— O que fizemos aqui não deixa de ser sexo — afirmo, me

referindo ao fato de nós dois termos gozado com masturbação e


sexo oral.

— Não fizemos, não, isso aqui foi apenas um aperitivo do que

nos espera daqui uma semana. — Quando diz isso, é como se

tivemos um insight simultâneo e, no mesmo instante, paramos o que


estamos fazendo, nos olhamos com intensidade, e é Marina quem

fala primeiro: — Sete dias para o passo mais importante da minha

vida, até aqui.


— Sete dias para a decisão mais acertada que tomei —

completo, trazendo na memória a minha melhor escolha, o dia em

que joguei para o alto todos os receios, preconceitos com idade e


medo de julgamentos, o dia em que, sem saber, disse sim para o

seu amor e para a felicidade que nos foi guardada.


CAPÍTULO 58 O GRANDE DIA

— Puta que pariu. — Com força, arranco a gravata do meu pescoço.


Será que esqueci como se faz um simples nó de gravata, coisas que

faço há anos?
— Calma, meu filho. Me dá isso aqui, deixe que eu te ajudo. —
Meu pai vem em meu socorro ao pegar o pedaço de tecido e fazer

em segundos o que tenho tentado há alguns minutos. — Você está


nervoso, e eu sei exatamente como é sentir isso.
— Sabe?

— Como você acha que eu fiquei no dia do meu casamento


com a sua mãe? — antes que termine de falar, já tenho a minha
gravata fazendo conjunto com o meu terno no lugar certo.

Finalmente chegou o grande dia e não poderia estar mais feliz,

além de estar prestes a me casar com a minha pequena, ainda


tenho o prazer de ter a minha família do meu lado. Eles chegaram

há dois dias e se instalaram aqui na mansão, que tem quartos de

sobra. A melhor parte de tê-los por perto, além de matar a saudade,


é poder me distrair da saudade que tenho da Marina, que cumprindo

com a sua palavra, não me deu mais que um beijinho.


Ainda bem que o casamento acontece só uma vez, pois não

sei se aguentaria passar por isso novamente, principalmente essa

última semana que ela andou tão atarefada na preparação dos


últimos detalhes.

Mas, enfim, hoje acaba a tortura e eu terei a minha mulher de

volta e com um novo status: o de minha esposa.


— Me admira o senhor ainda lembrar disso — brinco com o

homem de sessenta e oito anos, cheio de lucidez e vivacidade.

— Me respeite, garoto — diz, e eu sorrio por pensar que só


mesmo o meu pai para me chamar de garoto. — Agora, falando

sério, filho.
— Sou todo ouvidos. — Sabendo que não tem como estar

mais preparado do que já estou, dou uma última olhada para o

espelho e me viro para o meu velho, pois sei que seja lá o que tenha

para dizer, será algo que eu preciso e devo ouvir.

— Faça o possível e o impossível para fazer a sua mulher feliz,

Erick — aconselha olhando nos meus olhos e com a mão no meu


ombro. — Marina é uma menina muito especial e se Deus lhe
concedeu a graça de tê-la como sua companheira, faça de tudo
para preservar esse amor.

— Farei, papai. Aquela garota é toda a minha vida e a partir de

hoje viverei para fazê-la a mulher mais feliz, assim como ela me faz

o homem mais feliz do mundo a cada sorriso que me presenteia.

— Eu não esperaria nada menos de você, meu filho. — Me

abraça, dá batidinhas nas minhas costas e quando se afasta, segura


meu rosto com ambas as mãos e fala: — Seja feliz.

— Eu vou ser, seu Lauro. Na verdade, já sou e serei mais

ainda quando ver a minha Marina andando em minha direção para

que possamos nos unir tendo Deus e nossos amigos como

testemunhas, e quem mais quiser presenciar a confirmação do

nosso amor.

— Assim que se fala. Agora deixe de papo. Já está pronto?


Lembre-se de que quem costuma chegar atrasada é a noiva.

— Que aflição — reclamo mais uma vez dentro da tenda que

fica alguns metros do local da cerimônia.


Comigo estão a minha sogra Carmem, e Ângela, a minha

madrinha e melhor amiga, que não estão nada contentes com o


meu nervosismo e ansiedade.

— Você lembra que o noivo entra primeiro, não é? — Não


presto atenção em quem pergunta, se é minha sogra ou minha
amiga.

— Claro que lembro — afirmo, estalando os dedos em sinal


óbvio de nervosismo.

Eu planejei e sonhei tanto com esse dia que agora que chegou
temo estar sonhando ou que algo dê errado.

— Então, só fique calma que já está quase na hora — Ângela


diz ao abrir uma fresta no tecido da tenda e espiar a movimentação
dos convidados chegando.

Como não tinha nenhum sonho particular ou preferência por


alguma igreja em especial, Erick e eu decidimos que a cerimônia de

casamento seria na praia e por volta das cinco da tarde.


Hoje vejo que não poderíamos ter feito melhor escolha, já que

o sol laranja do fim de tarde dá um clima mágico ao local. Simples,


porém, elegante, a decoração escolhida é basicamente constituída
por médios vasos de flores, que acompanham o tapete branco até a

pequena tenda onde o padre irá realizar a cerimônia e que tem o


mar de águas verdes e límpidas como pano de fundo. Nas laterais

do corredor de flores foram colocadas cento e cinquenta cadeiras


para os convidados, que acabaram sendo em maior quantidade do

que imaginávamos. O importante é que deu tudo certo e eu não


poderia estar mais feliz com o resultado, apesar do nervosismo.

— Como você está linda, minha querida. — Minha sogra se


vira para mim e, toda emocionada, finaliza: — Meu filho tem muita
sorte em ter conquistado uma moça como você, tão linda e que o

ama na mesma intensidade com que ele te ama.


Ouvir suas palavras é um alívio para mim, pois de todos os

preconceitos e falta de aceitação que o nosso relacionamento


poderia ter, os seus pais, ainda que à distância, era uma
preocupação que vez ou outra passava por minha cabeça. Apesar

de dizerem que apoiavam o nosso namoro assim que souberam, eu


não sabia como seria quando nos vissem pessoalmente, o que é

uma realidade bem diferente de quando só se sabe, mas não se


presencia. Com a graça de Deus, ao nos ver pela primeira vez

alguns dias atrás, quando chegaram para o casamento, meus


sogros deixaram mais do que claro que não só não são contra,
como também o fato de estarem satisfeitos por estarmos dando

esse passo importante.


— Obrigada por tudo — digo e, emocionada, ela me presenteia
com um abraço.
— O que é isso, querida. Vamos parar que eu não quero borrar

as nossas maquiagens, nem amassar o seu vestido — avisa ao fitá-


lo com olhos de encanto, o mesmo encanto que eu o encaro desde

o dia em que Honória me mostrou o desenho com o modelo que


tinha imaginado para mim.
De alças finas e com decote em V, o modelo levemente

acinturado e de tecido esvoaçante é o sonho de qualquer noiva


romântica e despojada. Num estilo mais simples e delicado, assim

como a minha maquiagem de tons claros, preferi deixar os meus


cabelos soltos e enfeitados por leves ondas, onde uma tiara de

flores dá o toque final em uma noiva que se casa ao fim de um dia


de verão, tendo o verde límpido do mar como paisagem e o som das
águas se quebrando contra as pedras como trilha sonora.

— Tem razão, nada de choro, e obrigada por estarem aqui. —


Abraço-as e elas me retribuem com sorrisos sinceros, as melhores

pessoas que eu poderia querer ao meu lado neste momento.


Em outra situação, quem deveria estar presente aqui comigo
era a minha mãe, mas, na situação que nos encontramos, não seria

apropriado forçar uma aproximação, já que as poucas vezes em que


aceitei me encontrar com ela não foram o suficiente para tamanha
intimidade. Por outro lado, esse laço que se estreitou com os
gêmeos me trouxe a sensação de ter uma família além do Erick,

tanto que serão eles os pajens que entrarão com as alianças.


O triste disso tudo, tanto para mim quanto para eles, é saber

que em breve terão de voltar para Portugal, mas a Cristina prometeu


trazê-los para me visitar sempre que for possível.
— Está quase na hora. — Dessa vez, é minha sogra quem

espia a movimentação. — Eu já vou, pois seu noivo está prestes a

entrar.
Dito isso, ela sai e ficamos só eu e a Ângela que, com seu

longo vestido cor lilás, é certamente a madrinha mais linda que uma

noiva poderia ter, uma madrinha nada satisfeita com o padrinho

escolhido. Mas o que eu posso fazer se Erick escolheu o Bruno


como o seu padrinho?

— Tudo bem? — Ela chega perto de mim e segura as minhas

mãos. — Suas mãos estão trêmulas e geladas — diz, preocupada.


— Isso sem contar o frio na barriga, mas tenho certeza de que

todo o nervosismo vai passar quando ver o Erick me esperando no

altar.
— Estou muito feliz por você, sabe disso, não é?
— Sei, sim. Obrigada por tudo. — Vou abraçá-la e sou

impedida.
— Nada de lágrimas e abraços. Vamos guardar eles para

depois. Agora, você tem que estar linda — afirma ao ajeitar as

mechas onduladas do meu cabelo.


Alguns minutos depois, vejo Ângela entrando pelo corredor de

braços dados com Bruno e, respirando fundo, saio da tenda e

caminho os poucos metros. Quando o instrumental começa a tocar

a marcha nupcial, sozinha e com um buquê de girassóis nas mãos,


eu começo a caminhada na direção do meu noivo.

Como eu imaginava, no momento em que o vejo tão lindo no

seu terno escuro e me esperando, todo o nervosismo e apreensão


caem por terra, restando somente a plenitude do amor e a vontade

de chegar até ele e vê-lo segurar a minha mão.

Depois de percorrer o que pareceu ser um longo caminho,


finalmente me vejo frente a frente com o meu amor e, por alguns

instantes, ficamos nos encarando com olhares de amor e

encantamento, até que ele, ainda de mãos dadas comigo, se

aproxima do meu ouvido e sussurra:


— Você está linda nesse vestido, meu amor, e eu não vejo a

hora de tirá-lo do seu corpo — elogia e emenda com uma


sacanagem.

Se não fosse assim, não seria o Erick.

Sob os olhares curiosos dos convidados e do padre, ainda


estamos no nosso momento, até que um pigarro nos interrompe:

— Senhores, podemos começar?

— Sim — dizemos juntos e entre risadas discretas que fazem

com que sejamos presenteados com um olhar impaciente do


religioso.

Como um borrão, todo o sermão passa, onde eu só tenho

consciência da minha mão unida a do meu amor e na minha cabeça


passa um filme de tudo o que enfrentamos para chegarmos até

aqui, dos percalços no meio do caminho, da luta diária para

construirmos uma relação sólida, mas, principalmente, da fé que

depositamos no nosso amor. Isso tudo foi o que nos trouxe ao dia
de hoje, o dia em que perante Deus concretizamos a nossa união.

— Senhorita — diz o padre, e a sua voz me traz para o

presente, onde ele e Erick me fitam. — É de livre e espontânea...


— Sim! — mal termino de dizer e me jogo nos braços do meu

marido, que ao me envolver com braços e lábios famintos, apaga

quase por completo a noção do que acontece à nosso volta, sendo


possível ainda ouvir o som de palmas e, um pouco mais baixa e

demonstrando cansaço, a voz do padre diz:


— Sendo assim, eu vos declaro marido e mulher.

Na frente de todos e sem o menor pudor, meu marido devora a

minha boca, o que não inibe o sacerdote de tentar terminar o


protocolo:

— O noivo pode... é... Ah, vocês entenderam.

— Beijar a esposa — completa Erick ao pegar a minha mão

esquerda e beijar a aliança de ouro que acabou de colocar nela. —


E esse marido não vê a hora de estar a sós com a mulherzinha dele

— sussurra, discreto, antes de me beijar novamente sob o som de

aplausos, assobios e pétalas de flores jogadas nas nossas cabeças.


CAPÍTULO 59 FUGIDINHA

— Será que ainda vai demorar muito, esposa? — Erick pergunta ao


me abraça por trás.
Estamos no jardim da nossa casa, que foi totalmente transformado

para a recepção do nosso casamento e em nada lembra o seu


visual original. No início, íamos alugar um espaço próprio para
festas de casamento, mas aí pensamos melhor e decidimos que o

nosso jardim, que é tão amplo, não poderia ser desperdiçado dessa
forma. No fim, o lugar ficou tão lindo quanto ou mais do que ficaria
se tivéssemos alugado um outro local.

Para mim, a maior felicidade é ver como os decoradores

conseguiram trazer para cá a mesma ideia da cerimônia, imprimindo


na noite de verão um clima descontraído e informal, enfeitado pela

pista espelhada que foi montada e pelas flores naturais que

finalizam a decoração. Já para o meu maridinho, os sentimentos são


um pouco menos ortodoxos. Para ele, fazer a recepção aqui é

sinônimo de poder fugir no meio da festa e é isso que ele tem


tentado desde a hora que chegamos. E olha que nem tem tanto

tempo assim.
— Calma, marido. A noite está apenas começando. — No

meio da pista, me viro para ficar de frente para ele e quando uma

batida começa a tocar, começo a me mexer e peço: — Vamos,


dance comigo, ou será que não sabe?

— Não me provoque, meu amor. — Enlaça a minha cintura

com mais firmeza. — Vou te mostrar que sou um exímio dançarino e


será você a pedir arrego — sussurra no meu ouvido e todos os

pelos do meu corpo se arrepiam de prazer, o que me faz perceber

que estou tão ansiosa quanto ele para escapar dos convidados e ter
nosso momento a sós.

— Então me mostre, meu esposo gostoso. — Com as mãos na


sua nuca, começo a passar as unhas curtas por ela.

De repente, me dá uma pesada vontade de testar os seus

limites.

— Foi você quem pediu — diz ao começar a se mexer ao som

da balada sensual. Sem desviarmos os olhares que trocam

promessas e falam de paixão incontida, ficamos no nosso mundo


sendo observados pelos convidados, que ainda não tiveram a

iniciativa de entrar na pista. — Eu já disse que você é linda e que


está ainda mais linda com essa roupa? — Ele volta a me virar de
costas e assim fica, com as mãos em volta da minha cintura, me

presenteando com o calor do seu corpo. — Fico com vontade de

lamber a sua barriga até chegar aos seus seios, que estão lindos

nesse pedaço de pano brilhoso.

O pedaço de pano brilhoso é um cropped cor champanhe que

deixa parte da minha barriga de fora e que faz conjunto com uma
esvoaçante saia longa. Com uma fenda do lado direito que vem

aberta até a altura da coxa, a saia toda transparente deixa

totalmente à mostra o shortinho branco que uso por baixo.

E se eu achava que tinha feito a escolha certa, o olhar de

desejo do meu marido ao me ver confirma minha certeza.

— Também estou com vontade de te lamber — digo e espero

não acabar com a festa que mal começou. — E não é a sua barriga.
— Safada. — Me puxa mais para perto, me deixando com a

bunda quase na altura do seu pau, isso graças aos saltos altíssimos

que uso. — Olhe o sorriso dessas pessoas, tão inocentes. Mal

sabem eles das sacanagens que os pombinhos estão falando,

principalmente a noivinha — fala baixinho ao, propositalmente,

rebolar a parte baixa do seu corpo contra o meu. Se antes eu já


estava subindo pelas paredes, agora que o sinto endurecer por

baixo do seu short branco, eu estou quase em combustão.


— Faz isso de novo — peço, sem pensar e no mesmo

momento em que uma outra música começa. — Quero sentir você.


Para nossa sorte ou tortura, a balada agitada parece ter
animado a galera e rapidamente a pista fica lotada de corpos

saltitantes, o que transforma eu e meu homem em apenas mais um


casal no meio dela.

— Isso é algo que eu posso providenciar — sussurra um


pouco mais alto no meu ouvido para que eu possa ouvir, já que o DJ

aumentou o som de maneira considerável alguns minutos atrás. —


Só não goze, meu amor — assopra, e eu tenho vontade de chorar.
Isso tudo deve ser consequência dos planos da Ângela. Tanta

frustração e desejo reprimido finalmente estão cobrando seu preço e


se ela tinha razão, a recompensa por tamanho sacrifício já

começou. Porque se o fogo que sentimos no meio dessa pista for


um indício de como vai ser a nossa noite de núpcias, eu garanto que

ela vai ser quente.


— Só se você prometer que também não vai — provoco e
mesmo de saltos altíssimos, fico na ponta dos dedos e na altura da

sua ereção, me esfregando contra a sua dureza. Só espero estar


disfarçando ou que todos estejam distraídos o suficiente para que

não possam presenciar o nosso sexo a seco.


— Te garanto que não, minha mulher. — Me vira novamente e

olhando nos meus olhos, aproxima a boca na minha e quase a


tocando, diz: — Isso eu vou fazer dentro da sua boceta.

Depois de me deixar ofegante com sua afirmação, Erick


começa a dançar, quer dizer, não dançar de verdade. O que ele faz
é me castigar pela abstinência que nos impus.

No ritmo, meu marido executa passos que nos deixam com os


sexos colados e quando isso acontece, ele faz questão de se

apertar ainda mais contra mim, me deixando mais molhada do que


tenho coragem de admitir.
— Eu não aguento mais — digo, sem fôlego, quando a quinta

música acaba, e quando termino a minha terceira taça de


champanhe. — Eu preciso transar — confesso, sem vergonha

nenhuma de admitir a minha frustração.


— Você está bêbada? — Pega minha taça vazia e coloca em

uma bandeja assim que o garçom passa por nós. — Não beba mais,
quero você sóbria para mais tarde — avisa, sem deixar de lamber
uma gota da bebida que começa a escorrer pelo canto da minha

boca.
— Bêbada? Não, é só tesão mesmo — digo. — O que está
acontecendo comigo?
— Frustração, a mesma que eu senti nessas duas semanas

por sua culpa e da diaba — revela, me fazendo rir do apelido.


— Pense que hoje vai acabar e se for como ela diz, nós vamos

botar pra foder.


— Literalmente. — Ele sorri e, segurando a minha mão, me
leva para fora da pista. — Precisamos respirar um pouco.

— Acho que devíamos ter dispensado os funcionários —


assevero. — Já bastou no dia que você... Você...

— Comi sua bundinha — a boca suja completa, sem o menor


constrangimento. — E não se preocupe em passar vergonha com os

seus gritos, pois o seu marido já pensou em tudo.


— Sério?
— Seríssimo. — Ele me leva até o banquinho mais afastado do

jardim, senta e depois me ajeita em cima do seu colo. — Depois da


festa, todos estão dispensados para irem para suas casinhas e nós

dois começaremos a nossa própria festa.


— Será que vai demorar muito para eles cansarem e irem
embora? — Nós voltamos para a pista e vemos a galera,
principalmente os meus amigos, pularem sem demonstrar nenhum
cansaço ou vontade de encerrar a noite.
Se brincar, amanhecerão o dia dançando.

— Não está parecendo — fala e sua mão começa a subir por


minha coxa nua. — Deixe-os. Quer namorar um pouco?

— Mais que um pouco, eu quero você em mim — confesso,


tendo certeza de que a bebida ingerida me deixou com a língua
solta.

— E eu suspiro só de imaginar estar em você, meu amor. Em

todas as partes de você — confessa ao beijar o meu colo e subir


para o meu pescoço. — Eu te amo, minha esposa.

— Eu te amo, marido — devolvo quando sua boca encontra a

minha em um beijo cheio de sentimentos.

No início, usamos apenas os lábios em uma carícia cheia de


ternura e amor, depois, ele captura a minha língua e com uma

dança cadenciada e sensual, o beijo fala de paixão e erotismo, a

promessa da vida que nos aguarda a partir de hoje.


— Humm — gemo dentro da sua boca.

— Será que irão perceber se dermos uma fugidinha de leve?

— questiona, quando, sem fôlego e totalmente excitado, ele separa


os nossos lábios. — A gente dá uma rapidinha e volta.
— Acho que não. — Aproveito que foi ele quem propôs e lhe

estendo a mão.
— Vamos. — Estamos decididos e a ponto de fugirmos para o

nosso quarto, até que somos interrompidos por uma voz inesperada:

— Aí estão vocês. — Ângela vem de braços dados com a


minha sogra. — Eu não disse que eles tinham fugido. Sorte a nossa

não estarem trepando.

— Ângela! — repreendo, roxa de vergonha.

Desse jeito a minha sogra vai ficar pensando que somos


tarados.

— Vem, querida, está na hora do buquê e depois tem o bolo...

— minha sogra vai falando o cronograma, me fazendo ter vontade


de chorar de frustração.

— Vai, amor, faz essas porras tudo e volte para mim. — Dá um

selinho na minha boca e fala: — Foda-se festa e convidados, logo


estaremos fugindo, só eu e você.

— Combinado. — Beijo sua boca antes de ser puxada pelas

mulheres.

Infelizmente, a rapidinho demorou duas longas e torturantes


horas. Primeiro foi o buquê, que caiu nas mãos de Ângela quando a

coitada nem estava na fila para pegar e acho que se pudesse o


jogava no lixo. Depois veio o corte do bolo e fotos, onde tive que

sorrir sempre. Fiquei tanto tempo com os dentes à mostra que agora

a minha mandíbula dói.


Nesse tempo, Erick se revezou entre sorrir para fotos, porque

sempre era solicitado, e conversar com os amigos, principalmente

com Bruno, o padrinho que a essa altura já se arrependeu de ter

aceitado o convite. Acho que ele não imaginava que teria de ficar
tão próximo da madrinha, que parece lhe retribuir o mesmo ranço.

Depois de toda a minha insistência, a única coisa que Ângela

me disse foi que tiveram um encontro nada agradável dentro do


banheiro. Isso no dia em que Erick e Bruno apareceram de surpresa

e nos encontraram à beira da piscina.

Agora, morta de frustração e vendo que a festa está longe de

acabar, saio em busca do meu amor, que provavelmente fugiu para


um lugar mais calmo e me espera com ansiedade.

— Voltei, marido. — O encontro sentado no mesmo banquinho

de horas atrás.
— Já não era sem tempo. — Me puxa para as suas pernas e

me tasca um beijo de tirar o fôlego.

— Me tire daqui... — murmuro, me deliciando com a sua mão

sobre o meu peito.


— Agora. — Meu amor entrelaça os nossos dedos e saímos

correndo para a porta dos fundos da mansão.


CAPÍTULO 60 COMEÇO FELIZ

— É para dar sorte. — Ao alcançarmos a porta do nosso quarto,


Erick me pega em seus braços e a abre com um leve chute.
— Isso é bobagem... — começo a falar com medo de cair de

bunda no chão, mas logo tenho a minha atenção atraída pela visão
do nosso canto.
Com a luz baixa, o ambiente não poderia ser mais romântico e

propício para uma noite de núpcias. Numa mesinha de centro,


colocaram um balde de gelo e de champanhe e ao lado algumas
frutas, como uvas e pedaços de morango.

Está tudo tão lindo, mas o que me chama ainda mais atenção

é a nossa cama, que foi forrada com um lençol de seda todo branco
e sobre ela foram depositadas pétalas de rosas vermelhas que

perfumam todo o quarto. O clima criado aqui é tão sensual, que se

eu já não estive nele, teria ficado agora.


— Quem foi o responsável por isso, amor? — Quando ele me

coloca no chão, me aproximo da cama, passo os dedos em algumas


pétalas macias e só então vejo a camisola sexy, quase da mesma

cor do lençol e que até então eu não tinha notado aqui em cima.
— Não sei e seja quem for, eu só tenho a agradecer — diz e

seus olhos acompanham quando pego a camisola curtíssima e toda

trabalhada em seda e renda. Será um milagre se a minha bunda


não ficar visível e meus peitos pulando para fora. Mas talvez a ideia

seja essa se eu levar em conta o jeito que meu marido olha para

ela. — Não vai ler o bilhete? — Olha para a cama e antes que eu
me poupe da vergonha, ele passa na minha frente e pega o papel.

— Ei, isso é para mim — faço a minha reclamação com as

mãos na cintura.
— Acho que é para nós, minha linda — afirma e com sorriso

estampado, começa a ler em voz alta: — Espero que curtam a noite


e transem bastante. Não esperamos mais do que isso do casal mais

apaixonado do planeta. Com carinho, Ângela e Maya. Eu adoro

essas duas — enquanto fala, balança o bilhete. — Se um dia

critiquei, não me lembro — diz, na maior cara dura.

— Ângela que o diga — devolvo, ao finalmente descer dos

saltos altos e dar um descanso para os meus pobres e sofridos pés.


— Quer um tempo? — Olha para minha mão que segura a

lingerie com firmeza.


— Quero. — Preciso mesmo escovar os dentes, arrumar o
cabelo e vestir essa indecência que Erick parece ter aprovado. —

Só me diz que não pretende fugir para a festa enquanto eu estiver

no banheiro — brinco.

É claro que ele não vai fazer isso, não o homem que quis tanto

quanto eu que a festa terminasse. A festa acabou para nós dois, os

outros, inclusive as responsáveis por tudo isso aqui, certamente


ficarão por mais algumas horas e eu não tenho dúvidas de que

faremos amor ao som de uma música eletrônica qualquer.

— Nem morto, amor. Desse quarto eu só saio para o

aeroporto, para dar continuidade na nossa lua de mel — avisa e eu

não tenho tempo de perguntar mais uma vez para onde iremos, até

porque já fiz, e ele disse que o destino da nossa viagem é uma

surpresa.

— Tenho certeza de que você vai ser a minha morte, mulher —

digo de boca seca ao ver a gostosa parar bem na minha frente.

Assim como ela, eu também decidi me preparar. Preparo que


consistiu em fazer uma rápida higiene pessoal no meu antigo
quarto, voltar para o nosso, tirar a blusa e o short branco e deitar na

cama vestindo somente a minha boxer da mesma cor.


— Você também não está nada mal. — A safada, que veste

uma indecente camisola branca que deixa pouco à imaginação,


manja o meu pau sem o menor pudor.
De igual modo, eu bebo da sua beleza, que mais me lembra

um anjo do pecado com essa seda branca, onde as rendas cobrem


partes estratégicas, mas não cobrem por inteiro a sua pequena

calcinha. Neste momento, eu estou tão excitado que será um


milagre se eu não gozar na primeira arremetida.

— Vem cá, vem — chamo e me sento com as pernas abertas


na beirada da cama. — Quero você. — Trazendo o seu perfume e o
corpo exuberante, minha mulher para entre as minhas pernas e eu

penso que finalmente a tortura acabou, que hoje não tem quem me
impeça de amar a minha gostosa. — Quero tanto, que você vai ter

que me perdoar por fazer isso. — Seguro a parte de cima da sua


camisola e a rasgo de fora a fora, deixando-a somente com a

calcinha fio dental clara, que em nada ajuda a esconder a evidência


do seu desejo.
— Não poderia ter me pedido para tirar, seu homem das

cavernas? — pergunta, sem estar brava realmente.


— Poderia, mas tenho certeza de que as meninas vão me

perdoar por isso, afinal, ela era um empecilho — Abocanho seu seio
esquerdo enquanto com a mão belisco o outro mamilo excitado.

Solto seu seio e desço a mão para dentro da sua calcinha. — Tão
molhadinha, meu amor. Você quer gozar? — Meto dois dedos

dentro do seu sexo pulsante, fazendo movimentos de entra e sai,


enquanto o meu está tão duro que beira a dor. — Quer que eu
acabe com esse vazio de dias que deve estar sentindo?

— Sim, eu já não suporto mais. — Abre mais as pernas,


permitindo que meus dedos a penetrem com maior profundidade. —

Nunca mais quero ficar tanto tempo sem isso... — confessa entre
gemidos ao tomar a iniciativa de um dos beijos mais quentes que já
demos, e enquanto ela me fode com a língua, eu a fodo com os

dedos.
— Goze para mim... — peço com a boca na sua. — Isso,

minha putinha, rebola, vai — incentivo e sem largar a minha boca,


minha mulher senta sobre o meu dedo, até que entre gemidos

abafados pelos meus lábios, ela goza em cima dos meus dedos e
neste momento eu não resisto em levá-los à sua boca, a induzindo a
chupá-los e sentir o seu próprio gosto. — Está sentindo o quanto

você é gostosa? — Ela me encara com intensidade, chupando os


meus dedos como quem chupa o mais doce pirulito. — Vem, deixa
eu experimentar — exijo ao segurar os cabelos da sua nuca e trazer
a sua boca para dentro da minha.

Enquanto eu como a boca da minha delícia com sofreguidão,


ela desce a mãozinha pelo meu abdômen e assim como eu fiz,

começa a me masturbar por dentro da cueca.


— Fique em pé, querido — pede, e eu obedeço de prontidão.
Quando o faço, ela se ajoelha na minha frente, desce a Calvin Klein

por minhas pernas e quando tem meu pau duro e pulsante bem na
frente do seu rosto, a gostosa o segura com as duas mãos macias e

o chupa do jeito que gosta de fazer. Primeiro passa a língua na


cabeça e depois o engole até onde consegue. E o que sua boca não

comporta, ela compensa com a mão, que faz delirantes movimentos


e se reveza entre leves apertos e um vai e vem cadenciado.
Se no início eu a deixo comandar os movimentos, depois que o

meu último resquício de controle se esvai, pego a sua cabeça, paro


seus movimentos e eu mesmo começo a meter.

— Isso, porra. — Tiro e vou até onde posso, parando quando


seus olhos estão cheios de lágrimas. — Engole, sua safada. —
Meto e quando sinto que estou prestes a esporrar dentro da sua
boca, saio e lhe estendo a mão. — Vem aqui, que eu quero fazer
isso dentro da minha bocetinha.
— Me come — pede, linda além do limite, com uma enorme

mancha na frente da calcinha e a boca avermelhada dos meus


beijos e de me levar quase até o talo.

— Agora. — Deito-a de costas no centro da cama e sem deixar


de lhe encarar, tiro a última peça que me impede de vê-la por inteiro.
— Como eu senti falta da minha bocetinha. — Abaixo até seu sexo,

assopro, fazendo com que os pelinhos claros dos seus braços se

arrepiem, e deixo um beijo na parte de cima da sua pélvis. — E


desse cheiro.

— Nem me lembre... — fala com a voz rouca pelo tesão.

— Abre bem as pernas. — Marina faz o que peço e me enfio

entre elas, tomando cuidado para não a sufocar com o meu peso. —
Ainda está tomando o anticoncepcional?

— Sim. — Fico feliz por poder senti-la mais uma vez sem nada

entre nós.
— Minha esposa. — Observando todas as emoções que

passam por seu rosto, começo a meter até que fico completamente

dentro dela.
— Meu marido... — Ofega ao me sentir sair, para depois

penetrá-la com rapidez. — Dessa vez eu quero com força.


— Assim. — Soco com brutalidade, fazendo com que nossos

quadris se batam e ela solte um gritinho de contentamento.

— Mais fundo — pede, seguro a sua coxa e ela entende o meu


pedido ao enlaçar as pernas na minha cintura. Dessa forma e

fazendo do jeito que minha gata gosta, a penetração fica mais

profunda.

Não sei quanto tempo foi, só sei que nos minutos seguintes,
Marina e eu colocamos para fora toda a frustração de duas

semanas sem transar. Fizemos o sexo no sentido mais puro da

palavra, uma transa que nada teve a ver com amor, foi puro tesão
em forma de uma foda épica.

Depois de comê-la na tradicional papai e mamãe e ainda sem

permitir que nenhum de nós dois encontrasse alívio, continuamos


experimentando novas e loucas posições. No fim, depois de gozar e

de me fazer pensar que não aguentava mais nada antes de algum

descanso; a minha esposa cheia de fogo ainda me atiçou para o

sexo anal e como eu não sou de deixar oportunidades passarem,


dei a ela o que nós dois gostamos.
Quando paramos no meio da madrugada e com a som do lado

de fora bem menos barulhento, estávamos tão em frangalhos e com

corpos e cabelos pingando de suor que não tivemos forças nem


para um banho.

Foi só depois de um cochilo e um banho revigorante que

tivemos a chance de nos amarmos. Dessa vez, com calma e

olhando nos olhos um do outro, Marina e eu fizemos o nosso


primeiro amor como marido e mulher.

— Eu te amo — declaro as palavras que são poucas para

descrever a grandeza do que eu realmente sinto. Ainda estamos de


mãos dadas e lânguidos. — Muito! E isso é definitivo.

— Para sempre, Marina e Erick. — Com um sorriso no rosto,

meu amor cai novamente no sono, e eu lhe trago para os meus

braços, lugar onde sempre quero tê-la.

Com o sol alto batendo no meu rosto, desperto e encontro o


lado da Marina vazio. No momento em que vou me levantar para

procurá-la, ouço a sua voz encher o ambiente:


— Estou aqui na varanda, querido.

Vou até lá e a encontro observando o nosso jardim, que apesar


de vazio ainda ostenta a decoração da festa.

— Tudo bem? — Abraço-a por trás e encosto a cabeça no seu

ombro.
— Não poderia estar mais feliz. Só estava pensando na nossa

história.

— Você sempre soube, não é?

— Acho que sim. Mesmo na época que parecia errado te amar,


eu tinha esperanças de que o tempo se encarregasse de eliminar as

barreiras e te fazer enxergar que o meu amor era real e que não é

errado amar como nos amamos hoje. Nunca foi, ao menos depois
dos quatorze — brinca com o fato, já que, por lei, a partir dos

quatorze anos o relacionamento com uma pessoa maior de idade

pode ocorrer se for de livre espontânea vontade do menor de idade,

mas, mesmo sabendo disso, na época em que Marina me


confessou seu amor, ainda havia a questão com meu amigo João, o

receio de abalar nossa amizade com o meu envolvimento com sua

filha.
— E conseguiu, amor. No dia em que eu decidi assumir os

meus verdadeiros sentimentos, não quis outra coisa além de te


fazer feliz, assim como você me faz pelo simples fato de existir.

Obrigado!

— Para sempre — afirma, emocionada, ao entrelaçar os

nossos dedos.
— Para sempre — confirmo, tendo a brisa suave que acaricia

os nossos rostos e o sol da manhã que beija nossa pele como

testemunhas de um amor que vai além da compreensão.


Um amor que tinha tudo para dar errado, mas que enfrentou e

venceu todos os obstáculos que se interpuseram no meio do

caminho, isso porque decidimos lutar por ele e abraçar o tão

aguardado final feliz.


Quer dizer, começo feliz, pois o nosso caminho rumo ao para

sempre está apenas começando.

— E então, minha esposa não quer descer e tomar o primeiro


café como a senhora Estevan? — pergunto ao dar uma leve

mordida no seu pescoço, para depois lamber o local que

prontamente ficou avermelhado.

— Só se for agora — fala e se encolhe entre os meus braços


quando o balançar das árvores traz um vento mais forte. — Para

falar a verdade, eu estou tão varada de fome, que seria capaz de

comer um bolo inteiro.


— Imagino que seria mesmo. — Viro-a de frente para mim. —

Depois das atividades intensas e suadas dessa madrugada.


— Não vem me dizer que você não está faminto.

— Estou, com certeza — afirmo, alisando a sua cintura, que

está coberta pelo robe de cetim lilás e tendo por baixo somente um

conjunto de calcinha e sutiã. — Mas eu garanto que tem uma outra


fome bem mais intensa e urgente. — Aproximo minha ereção

matinal na altura da sua barriga.

— Avisa para sua outra fome, que ela vai ter de esperar um
pouquinho, pois a sua mulher aqui, apesar de querer matá-la,

precisa recuperar as energias e comer antes de ser comida.

— Então vamos logo — chamo, para depois soltar a sua


cintura e entrelaçar os nossos dedos. — Estou doido para receber a

minha sobremesa. — Pisco para os seus seios, já louco por uma

oportunidade de prová-los. — Espera aqui, só um minutinho — peço

e me mando para dentro do banheiro.


Depois de rapidamente lavar o rosto e escovar os dentes, saio

do banheiro e encontro a minha mulher sentada na ponta da cama,

apenas me esperando para descermos juntos.


— Vamos? — Estendo a mão e Marina a segura.
— Espere um pouco. — Ela dá uma leve puxada no meu braço
assim que dou o primeiro passo para fora do quarto. — Você vai

descer assim? — Aponta para o meu corpo e só então percebo que

não visto nada além da cueca boxer preta.


CAPÍTULO 61 PARA SEMPRE

— Pare com isso. — Aos risos, descemos as escadas com ele me


abraçando por trás e atacando o meu pescoço com dentes afiados.
— Daqui a pouco arranca um pedaço — brinco com a sua mania de

estar sempre com a boca em algum canto do meu pescoço.


— Poxa, achei que a minha mulherzinha gostasse das minhas
mordidas de amor — ele encena uma voz dramática enquanto

passamos pela sala e nos direcionamos para a cozinha.


Com um caminhar desastrado pela forma com estamos
atracados, não consigo dar dois passos sem tropeçar nos seus pés.

— Você sabe muito bem o quanto eu gosto do seu lado

vampiro. — Deve ser por isso que ele também gosta, já que não
consigo esconder que ter sua boca em mim me excita além do

limite. — Só acho que os nossos funcionários não pensam da

mesma maneira. Já pensou proporcionar um filme pornô ao vivo?


— Está exagerando, amor. — Parando no meio do caminho,

entre a sala e a cozinha, Erick me encosta na parede e se posiciona


à frente, com o corpo tão colado ao meu quanto pode.

— Não estou, não. — Segurando a sua cintura e me apertando


ainda mais contra ele, continuo: — Olha só para o seu estado, todo

duro, só por encostar na minha bunda por alguns minutos.

— Não é apenas uma bunda — falando com a boca próxima a


minha, meu marido leva as mãos até o meu bumbum e o aperta

com gosto. — É a da minha gostosa, a mulher que eu sinto um

tesão enorme por comer.


— Continuando — mudo o assunto, pois o papo já está ficando

quente demais para uma manhã de domingo e para uma barriga

vazia. — Se não controlarmos os nossos carinhos, expulsaremos


todos dessa casa, e você sabe que não leva nem cinco segundos

para passarmos de um beijo para uma trepada sobre o sofá.


— Pensando por esse lado — concorda, mas não deixa de

apertar com gosto o seu mais novo paraíso particular. Foi assim que

ele intitulou depois de ter conseguido o que queria e de ter se

assegurado que eu gostei o suficiente para querer repetir. — O

problema é que eu não tenho culpa de ter a esposa mais gostosa do

mundo e de não me controlar quando estou do lado dela. — Faz


cara de inocente e beija o canto da minha boca.
— Por isso mesmo que precisamos pegar mais leve na
demonstração de afeto em público — enquanto digo isso, eu, de

forma patética, estou na ponta dos pés tentando me esfregar na sua

ereção. Misericórdia! Parece que a ideia da Ângela de nos separar

por duas semanas saiu melhor do que o esperado. É isso ou eu

estou no cio. — Já basta eu ter que fazer a caminhada da vergonha

toda vez que solto uns berros — revelo e ele não deixa de sorrir da
minha reação.

Como um homem vivido e que deve ter vivido as mais loucas

experiências — que eu prefiro nem imaginar —, Erick se diverte e

não entende o motivo de eu ficar tão envergonhada das pessoas da

casa nos ouvirem. Isso depois de eu explicar que para mim eles não

são simples funcionários, são meus amigos que me viram crescer e

me tornar a mulher que sou hoje.


Como meu maridinho é um devasso descarado, toda vez que

ouve minha explicação, apenas sorri e diz que eles sabem que a

menina deles cresceu, se tornou adulta e que ao invés de se divertir

com bonecas, agora passa as horas livres transando.

— Eles já ouviram o suficiente para saber que você faz sexo,

amor, e nós já falamos sobre isso — diz enquanto sua mão traça um
caminho que sai do bumbum e vai até a altura do meu seio. — Mas
já que não podemos transar amordaçados, o que acha de

mantermos o meu apartamento?


— Me parece um ótimo plano — digo, animada e surpresa por

não ter pensado nessa ideia.


— Não é como se fôssemos sair de casa todas as vezes que
quisermos transar, até porque isso acontece com bastante

frequência. — Talvez por perceber que estamos há alguns minutos


tendo essa conversa em pé e que ela pode ir longe, Erick se afasta

do meu corpo, segura a minha mão e me leva para a sala, me


puxando para o sofá. Chegando nele, senta-se no canto esquerdo,

para depois me ajeitar sobre as suas pernas. Agora, mais


confortáveis e sem deixar de trocar o carinho dos recém-casados,
meu amor continua o que estava dizendo: — O que podemos fazer

é fugir para lá quando as coisas esquentarem demais — revela o


seu plano.

— Mas sempre esquenta demais — faço a minha objeção, pois


entre nós não existe isso de sexo morno.

Em uma realidade em que o fogo fica mais brando e o sexo


menos intenso depois que a novidade de início de namoro passa,
Erick e eu fomos na contramão, já que diferente do que acontece

normalmente, o nosso tesão pelo outro só aumentou.


Parece que quanto mais o tempo passa, mais nos sentimos à

vontade com os nossos desejos e desinibidos com o tipo de sexo e


prazer que queremos proporcionar ao outro.

— Não tenha dúvidas disso, amor — fala ao desatar o nó do


meu robe e começar a alisar a minha barriga de um canto a outro

enquanto conversamos. — Mas tem uma ocasião em que você uiva


como uma loba e acho que nessas horas nem dez mordaças seriam
capazes de abafar os seus sons.

— Eita, fiquei curiosa — revelo e me arrependo assim que ele


sussurra no meu ouvido o que me assanha a ponto de perder o

controle.
Sem jeito e sem saber o motivo para isso, concordo com o que
diz, porque sem tem uma coisa que me deixa ensandecida é

quando nós dois fazemos sexo anal. O meu homem faz o negócio
de uma forma tão deliciosa, que eu morro de vergonha por admitir

em voz alta o quanto eu gosto da prática.


— Tem ideia do quanto fica linda assim, toda sem jeito por me

ouvir te falar o quanto sente prazer ao dar a bunda?


— Cale a boca! — Enfio a cabeça entre o seu ombro e
pescoço, tendo a certeza de que o meu rosto está soltando vapores

de fumaça, pelo tanto que está quente.


— Calo, mas que é verdade, isso é. — Vai subindo a mão
macia pela minha costela e eu já estou toda arrepiada com todo
esse papo de sexo que estamos tendo.

— Tem algo planejado para o dia de hoje? — pergunto, pois


além de ser o nosso primeiro dia como marido e mulher, também é o

último antes da nossa viagem de lua de mel, que continua tendo


destino incerto para mim, até as malas foram ele quem fez. Só não
sei se fez isso sozinho ou se tem dedo de duas traidoras, que

parecem ter virado suas cúmplices em tudo que apronta.


— O que acha de batizarmos o meu apartamento mais tarde?

— indaga. — Sabe esse plano de fugirmos para ele quando tudo


ficar intenso demais? — Balanço a cabeça em confirmação. — Pois

é. Acho que esse momento chegou mais rápido do que


imaginávamos.
— Mas a casa não vai estar vazia hoje? — Lembro de ele ter

dito que dispensou todos os funcionários e que teríamos a mansão


só para gente.

— Estará, mas é melhor prevenir. Ou quer correr o risco de


sermos ouvidos? — O safado usa o meu constrangimento contra
mim.
— De jeito nenhum! Vamos para o nosso refúgio do pecado —
brinco e ele cai na risada.
— E sobre os planos, quero tentar uma coisa que vai te deixar

tão ou mais tímida do que o sexo anal, mas que vai amar fazer,
assim como gostou de dar... — termina a frase no meu ouvido.

— E estamos esperando o quê para irmos? — pergunto, não


tendo vergonha de deixar evidente a minha ansiedade em
experimentar isso que ele tem em mente. Pois, de uma coisa eu

tenho certeza: vindo do Erick, a novidade não vai ser nada menos

do que deliciosa e quente como o fogo do inferno.


— O café da manhã. Já que a senhorita fugiu do quarto

alegando que estava faminta e não era pelo meu corpo.

Como se quisesse atestar as minhas palavras, assim que Erick

termina de falar, meu estômago faz um barulho terrível, o que é


motivo o suficiente para ele me tirar das suas pernas e me chamar

para a cozinha.

— Vem, vamos primeiro matar essa fome e depois pensamos


na outra. — Meu amor segura a minha mão e me leva à cozinha.

— Oi, Maya — surpresa, cumprimento-a assim que entramos

no amplo e moderno cômodo. — Achei que estaria em casa


descansando. — Ela com certeza ficou a noite toda dançando.
— Vou agorinha — avisa. — Vim só preparar algo para os

pombinhos. Pronto. — Termina de despejar o suco dentro de uma


bonita jarra que está em cima do balcão, onde tem uma infinidade

de delícias para o nosso café da manhã.

— Obrigada, amiga — agradeço e sinto orgulho por ter


conseguido construir uma amizade tão bacana com ela.

— Nada mais que o meu trabalho. E como estão os pombinhos

nesse primeiro dia de casados?

— Com fome — Erick se mete e eu dou uma cotovelada na


sua barriga.

— Imagino que sim — rebate com malícia. — Bom, deixa eu ir

que estou exausta. Tenha uma boa viagem, Mari. Te vejo na volta.
— Manda beijo e se vai pela porta dos fundos.

— Aposto que ela sabe para onde irei viajar — jogo verde ao

me sentar em cima do banquinho e pegar o copo com suco que


Erick serviu para mim.

— Isso é você quem está dizendo — responde, enigmático. —

No momento, a única coisa que posso revelar é que a senhora

minha esposa terá um memorável primeiro dia de casada.


De repente, depois que ele faz essa promessa, começo a ter

pressa e devoro tudo o que vejo pela frente, somente para chegar
na parte em que ele vai cumpri-la.

— Você é muito bobo, meu amor. — Em seus braços


novamente, balanço as pernas de um lado para o outro.

— Bem-vinda ao seu segundo lar, princesa — Erick termina de

dizer e me coloca em pé no centro da sala. Isso, duas horas depois


de termos levantado, tomado um café delicioso e um banho tão

revigorante quanto quente.

Por um tempo, eu fico analisando o apartamento que aprendi a

ver como especial a partir do momento em que ele se tornou o


nosso esconderijo contra a Patrícia. Foi aqui que muitas vezes nos

refugiamos para nos amar e continuará sendo aqui o refúgio para os

dias ou noites mais intensas.


— Sabe o que eu estava pensando? — Meu amor vem e me

abraça por trás, não deixando de cheirar o meu pescoço, que tem o

perfume doce que ele tanto adora.


— Não, me diz o que passa por essa sua mente mirabolante.
— Nada de mais, estou só imaginando nós dois, daqui uns

anos, fugindo para esse apartamento para podermos transar, pois


em casa não será possível sem sermos interrompidos pelas

pestinhas dos nossos filhos — o que ele diz me surpreende tanto,

que acabo me desvencilhando do seu agarre e me virando para


poder olhar o seu rosto.

— Sério que você teve esse pensamento? — pergunto, toda

derretida.

— Muito sério, por quê? Foi bobo demais? — indaga, inseguro,


e eu não entendo o motivo, uma vez que já deixei bem claro o meu

desejo de um dia ser a mãe dos seus filhos.

— Não foi bobo, querido. — Seguro o seu rosto e deixo um


beijo leve na sua boca. — Foi muito fofo, por isso o motivo da minha

surpresa e também porque depois que você falou, eu consegui

visualizar perfeitamente a cena.

— Quero que saiba que no tempo certo — se interrompe ao


colocar a mão sobre a minha barriga —, eu vou ser o homem mais

feliz dessa terra por ter o fruto do nosso amor crescendo dentro da

sua barriga.
— E eu vou ser a mulher mais feliz por te dar esse presente,

nos dar.
Neste momento, meu Erick me abraça bem apertado e quando

se afasta, segura o meu rosto e, olhando dentro dos meus olhos,

diz:

— Eu amo você. — Me pega nos braços e me leva para o seu


quarto.

— E eu te adoro e preciso de você mais do que preciso do ar

para respirar. — Com o peito tão cheio de amor, que por vezes eu
tenho a impressão de que vou explodir pela enormidade dos meus

sentimentos, beijo todos os lados do seu pescoço, enquanto ele, de

maneira apressada, me leva para a cama.

— Até que chegue a hora, nós vamos treinar muito, não é,


meu amor? — Me deixa sentada no fim da cama King Size. — O

que acha de começarmos agora? — Erick se agacha na altura do

meu rosto e, sem esperar pela resposta óbvia, me beija com


carinho. Ao terminar, afaga o meu rosto e diz: — Só um minuto que

eu vou à sala buscar uma coisa.

Incapaz de falar, o vejo virar as costas e passar pela porta.


— Aqui está, o nosso kit foda do século. — Volto e deixo a

bolsa pequena e quadrada em cima do seu colo.


— Tenho até medo de perguntar o que você anda aprontando

e o que tem aqui dentro, meu amor. — Minha mulher pega a

bolsinha com receio e eu acho graça da sua reação.

— Deixe que eu te mostro, minha linda. — Pego a bolsinha da


sua mão, abro o zíper e primeiro tiro o tubo de lubrificante. No ato,

ela tem reações distintas e que me deixam ainda mais excitado.

Primeiro vem a expressão envergonhada de sempre e junto dela a


excitação que os seus pelos arrepiados não conseguem esconder.

— É, amor. Não podíamos deixar o seu tipo de sexo preferido de

fora da nossa comemoração de um dia de casados.


— O meu? E quanto ao seu tipo de sexo preferido?

— O que eu mais quero é estar em todas as partes de vocês.

Ter tudo da minha mulher, até tê-la cheia de mim, cheia ao ponto de

não restar nada em seu corpo que eu não esteja tocando.


— Isso eu acho que não... — Marina já tem a voz ofegante

quando eu retiro o segundo objeto de dentro da bolsa.

De imediato, os olhos da minha esposa crescem de tamanho e


ela fica toda tímida, do jeito que eu imaginava.
CAPÍTULO 62 UM VIBRADOR

Meu marido saca de dentro da bolsa um vibrador de tamanho médio


e que imita perfeitamente um pau de verdade.
Sob o seu olhar especulativo, eu não sei se fico surpresa por

nunca ter visto um pessoalmente — apesar de uma vez ter


insinuado o contrário —, ou se pelo fato de ele estar pretendendo
usar a coisa comigo.

— Amor, eu ... — vou dizer alguma idiotice qualquer, mas


felizmente sou impedida quando ele coloca a mão em cima dos
meus lábios e fala:

— Só relaxe, linda. — Despeja os objetos sobre a cama e

começa a abrir o botão da minha camisa. — Lembra quando eu


disse que ia gostar de me dar a sua bunda? — Confirmo com a

cabeça. — Pois é. Dessa vez não vai ser diferente e eu te garanto

que vai ser umas das experiências mais prazerosas que você vai ter
na sua vida sexual. Tanto que vai querer fazer de novo e de novo...
— fala ao meu ouvido, ao mesmo tempo em que tira a minha blusa

e eu já nem lembro mais da apreensão inicial.


— Eu quero...

— Eu sei que quer, esposa. — Pega a minha mão, me levanta

da cama e em seguida tira o restante da minha roupa. Quando me


tem nua, Erick continua: — Você é como eu, gosta de sexo, de

experimentar o novo. De dar e receber prazer.

— É você quem me encoraja. — Como ele fez antes, desço as


mãos até o cós do seu jeans e, desajeitadamente, abro o botão e

desço o zíper.

— Tão linda — elogia ao passar a mão pelo meu corpo


desnudo. — Eu quero você, Marina.

Mal termina de falar e então não leva mais do que alguns


segundos para terminar de tirar a própria roupa e me deitar em cima

da cama.

As horas que se seguiram realmente foram as mais intensas

da minha vida sexual. Famintos um do outro, como só duas

semanas separados podem deixar, Erick e eu nos empenhamos em

compensar toda o distanciamento que nos foi imposto.


Como o prometido, Erick me apresentou o tipo de sexo mais

depravado e quente que uma pessoa como eu poderia experimentar


e posso garantir que não só valeu a pena como também já estou
ansiosa para repetir.

Como toda a sua perícia sexual e a safadeza que lhe é

característica, meu amor me preparou da melhor maneira que pôde,

até conseguir me comer com o pênis e o vibrador ao mesmo tempo.

Enquanto estava deitado e me tinha por cima, Erick pouco a pouco

penetrou o meu ânus com o pênis de borracha e na frente fez o


mesmo ao foder a minha boceta com o seu pau. Ao fazer isso, me

senti estranhamente mais próxima dele, como se não existe mais

nada que não o pertencesse em meu corpo e alma.

Meu marido passou vários minutos me comendo pela frente e

por trás e quando já estava pingando de suor e eu achava que me

deixaria gozar, ele fazia questão de desacelerar as metidas

frenéticas tanto do pênis quanto do vibrador. Isso quando não


estava me levando à loucura ao inverter as coisas e comer a minha

bunda e enfiar o cacete de plástico na minha boceta.

No fim do dia, estávamos exaustos e precisando de um bom

banho e, depois de termos feito exatamente isso, caímos em um

necessário e delicioso sono.

Sono do qual eu só agora consegui despertar, depois de sentir


a barba por fazer do meu esposo fazendo cócegas nas minhas
costas.

— Ei, acorde, preguiçosa. — Continua a descer os beijos, até


chegar aos furinhos gêmeos que enfeitam o início da minha bunda.

— Já está escurecendo, sabia?


Ao ouvi-lo, me viro de frente e vejo pelo relógio que já são seis
e meia da tarde.

— Céus! Como o dia passou rápido. — Volto a jogar a cabeça


contra o colchão.

— Passou mesmo. Só não sei se passamos a maior parte dele


dormindo ou trepando.

— Acho que meu corpo dolorido tem a resposta, meu amor.


— Oh, meu Deus! — Paira a parte superior do corpo sobre o
meu e continua: — Eu judiei do meu bebê, foi? — fala com a voz

mais mansa, beijando em cima dos meus olhos, depois a ponta do


meu nariz e por fim o canto da minha boca.

— Nada que eu não tenha gostado muito. — Pisco, cheia de


ousadia.

— Que bom saber que proporcionei um dia à altura da minha


gata. Mas pode ir se acostumando, porque hoje foi só o primeiro de
longos vinte dias.

— Estou tão ansiosa para saber o nosso destino.


— Amanhã você vai saber, linda. — Senta e começa a recolher

as nossas roupas. — Só posso te garantir que seremos muito felizes


lá.

— Só eu e você. — Me levanto e me sento as suas costas,


para depois encostar a cabeça no seu ombro. — Juntos.

— Para sempre — completa ao segurar a minha mão e beijar a


minha bonita aliança de ouro.
EPÍLOGO

Dois anos depois

— Chegaram. — Cheia de empolgação, pulo do


sofá onde eu e Erick estamos sentados e vou abrir a porta para a

minhas amigas. Elas vieram para uma pequena comemoração pelo


nosso aniversário de dois anos de casamento.
Dois anos em que permaneceram o amor, a paixão e o

companheirismo que sempre foram a nossa base. Anos em que


tivemos a confirmação do quão verdadeiro e permanente é o nosso
amor.

— Como você está linda — digo para Ângela, que me abraça

apertado, e eu fico emocionada por tê-la de volta à cidade depois de


longos meses afastada. — Nunca mais faça isso.

— Não, querida, dessa vez eu vim para ficar. — Sinto-me

aliviada por ouvi-la e saber que terei a minha fiel escudeira de volta.
— E você, anda tão sumida! — Abraço uma Maya que nem de

longe lembra a mesma de dois anos atrás. — Você acredita, Ângela,


que essa traidora me trocou pelo MamaMia? — falo, divertida. Elas

sabem o quanto eu fiquei feliz quando minha amiga conseguiu uma

vaga no restaurante mais badalado da cidade e hoje é considerada


uma das chefs mais renomadas do local.

— Pare de drama, que eu venho te visitar sempre que posso.

Elas terminam de entrar e eu concluo que não falta mais


ninguém. Aqui estão alguns poucos e necessários amigos para um

simples jantar comemorativo, além, é claro, dos meus pequenos

Floquinho de Neve e Thor, que, sapecas como sempre, correm pela


casa derrubando tudo o que veem pela frente.

— Esqueceu com quem está falando, Maya? Se não fizesse


drama, nem seria a Marina que conhecemos — o comentário de

Ângela arranca risada de todos, inclusive do meu marido, que até

então estava entretido com o seu celular.

— Olá, meninas — Erick se levanta e cumprimenta cada uma

com um beijo no rosto. — Ainda bem que chegaram, a amiga de

vocês já estava se corroendo de ansiedade.


— Claro, não queria viajar sem antes vê-las. — Lanço-lhe uma

piscadela e as duas entendem que precisamos ter o nosso típico


papo onde falamos coisas que os ouvidos masculinos não teriam
paciência para ouvir.

— Itália de novo? — Ângela pergunta.

— Fazer o quem, não é, se a minha mulher gostou tanto da

nossa lua de mel que quer repeti-la todos os anos. — Erick vem por

trás e enlaça a minha cintura enquanto entrega o meu fascínio pelo

país.
Está aí uma coisa que nem o decorrer dos anos consegue

mudar. Não muito diferente da fase de namoro, Erick e eu ainda

vivemos em uma eterna lua de mel, inclusive na parte de não

conseguirmos estar no mesmo ambiente sem nos tocarmos.

— Não vou negar, pois todo mundo aqui sabe que é verdade.

— Encosto minha cabeça no seu peito, enquanto as meninas

sentam-se no sofá.
Pela terceira vez e daqui dois dias, Erick e eu estaremos

partindo para a Itália, mais precisamente para Veneza, um dos

lugares mais lindos que eu já tive o prazer de conhecer. Gostei tanto

da nossa primeira lua de mel, que decidimos repeti-la todos os anos

seguintes. A cada novo aniversário de casamento, lá estamos nós

atravessando a Ponte dos Suspiros dentro de uma balsa, visitando


os principais pontos turísticos e experimentando as melhores
comidas. Em cada uma dessas viagens, eu e meu amor dividimos

os nossos dias em duas partes: se durante manhã e tarde usamos


as horas para turistar, as noites e madrugadas nós utilizamos para

fazer amor e qualquer outra coisa que envolva nós dois nus e
atracados um ao outro.
De toda forma, as viagens para a Itália se transformaram em

uma coisa só nossa como casal e creio que não tem época do ano
em que eu fique mais animada do que os dias que antecedem a ida

para o nosso paraíso particular.


— E a Lua, não vem? — Maya pergunta.

Sento-me na poltrona que fica em frente ao sofá, enquanto


meu marido serve bebidas para as meninas.
— Talvez só mais tarde, para curtir a piscina com a gente —

respondo a pergunta de Maya. Apesar de nenhuma das duas terem


criados um laço mais forte com a minha sócia, elas estranham

quando a mesma não aparece, já que estão acostumadas a vê-la


por aqui na maioria dos eventos que eu e Erick oferecemos. — O

estúdio está bombando, meninas, e justamente hoje ela tinha uma


reunião para fechar uma nova campanha.
— E a senhorita aqui, dando uma festinha? — Maya brinca.
— Lua sabe que esse período é muito importante para mim —

explico. — Então nem foi surpresa o meu aviso de que estaria


saindo para umas pequenas férias.

— Que compreensiva, não é? — Ângela comenta, sem fazer


questão de esconder o tom de ironia na voz.

A verdade é que existe uma certa animosidade entre as duas


desde a primeira vez em que se viram e eu não quero nem imaginar
os motivos para isso. Os da Ângela eu até suspeito — apesar de

não querer —, mas a resistência da Lua para com a minha amiga é


uma coisa que não consigo entender, porque simplesmente ela não

tem motivos para isso.


— Vamos deixar esse assunto para depois — mudo a
conversa e logo fico em pé. — Vem, meninas, vamos lá para cima,

que o almoço ainda vai demorar um pouquinho.


As duas pegam as suas bolsas e antes de sair, eu me viro para

o meu amor, que está digitando novamente no celular, e pergunto:


— Algum problema, querido? — Minha voz tira a sua atenção

do que está fazendo e ele se limita a dizer:


— Não. É só que tem uma visita surpresa vindo por aí.
— Visita surpresa? Mas que tipo de surpresa?
— Do tipo que tem muito tempo que não vemos essa pessoa,
mas acho que você vai gostar.
— Espero que sim — digo somente, pois mesmo estando me

corroendo de curiosidade, não vou perguntar, porque sei que Erick


não vai me contar. — Vou lá para cima com as meninas. Vai ficar

tudo bem?
— Claro, minha linda, quando o almoço estiver pronto, eu
mando alguém chamar vocês — fala e quando vou lhe dar um

selinho de despedida, ele abocanha a minha boca em um longo e


delicioso beijo, que só termina quando as garotas protestam, sem

paciência.
Como eu disse, por aqui nada mudou.

— E aí, comprou as peças que te eu falei? — Maya indaga


assim que nós entramos no meu quarto e elas vão logo mexendo na
infinidade de peças que mais cedo joguei sobre a cama. Ainda não

tive tempo de terminar de separar as que vão para a Itália.


— Comprei, mas será que é realmente preciso isso tudo? —

digo e as duas me lançam olhares exasperados.


— É óbvio que é preciso, Marina. Pelo amor de Deus, você
tem vinte anos e não quarenta — Ângela fala no momento em que
começa a revirar as roupas em cima da cama. — Tem que
apimentar essa relação, se é que isso é possível.
— Ah, amiga. Se você soubesse...

— Até parece que não conhecemos vocês dois. — Maya se


junta à Ângela na busca pelas peças indecentes. — Mas com um

homem como o seu marido, não custa nada deixar a chama tão
acesa quanto for possível — Maya fala, ela é um pouco mais velha
do que eu e Ângela, e apesar de estar me fazendo de difícil, eu sei

que elas têm razão. Além de ser mais velho, meu marido é um

homem que chama atenção e vive cheio de belas mulheres à sua


volta, então, apesar de saber que não tenho motivos para me

preocupar e que nossa paixão anda tão acesa quanto no início do

namoro, concordo que devo usar meus truques para manter tudo da

forma como está e se para isso for preciso me encher de mais


lingeries do que posso usar, então eu vou fazer.

Me vendo assim, fazendo charme para mostrar simples peças

de roupas, elas nem imaginam o antro de devassidão em que eu e


meu marido transformamos o apartamento dele. Como o planejado

no nosso primeiro dia de casados, o apartamento ficou e nós o

usamos com mais frequência do que imaginávamos no início. Se o


vibrador fez meu rosto arder de vergonha, os vários outros
brinquedos sexuais que vieram depois já não foram capazes de me

tirar esse tipo de reação. O que restou foi apenas a excitação e a


curiosidade de experimentar cada coisa vinda do sexshop, que ele

deve ter se tornado cliente.

Quanto as lingeries que deixam pouco à imaginação, não vou


dizer para elas que as peças são o que de mais leve vou tentar,

Erick já me fez perder a timidez há muito tempo.

Sim, ele fez isso, o que não significa que não vou ter a mesma

timidez quando o assunto é outras pessoas.


— Podem parar, que elas não estão aí — aviso, vou até um

cantinho escondido do nosso closet e de lá tiro uma sacola preta e a

jogo próximo de onde elas estão.


— O que é isso? — Maya pendura uma peça no dedo e as

duas ficam de risadinhas sacanas. — Esse pedacinho de renda é

mesmo uma calcinha?


— Pergunte à Ângela, foi ela quem trouxe a revista.

— Foi mesmo e você deveria me agradecer — fala,

convencida. — Tenho certeza de que essa terceira lua de mel vai

ser bem divertida.


— Isso se o Erick sobreviver a ela — Maya fala e nós

encaramos uma a outra e caímos em uma risada sem motivo


aparente, rimos apenas por estarmos felizes.

Ao olhar para tudo o que me aconteceu nesses últimos anos,

percebo que realmente tenho motivos para sorrir, me alegrar, porque


a vida sorriu para mim. Aos vinte anos, eu consegui me estabelecer

na minha carreira de fotógrafa, casei com o homem que amo e

tenho as melhores amigas que uma garota poderia querer.

Então, sim, hoje eu tenho motivos para me sentir a mulher


mais feliz do mundo.

— Olhe isso, Maya. — Agora é Ângela que pega outra peça.

— Imagine os peitões dela dentro disso? Eu aposto que o Erick não


volta vivo mesmo, e você?

— Já chega, acabou a palhaçada. — Vou tentar tomar a peça,

mas ela é mais rápida e pula por cima da cama, indo parar do outro

lado do cômodo. — Vem aqui, sua peste. — Tendo como trilha a


risada gostosa da Maya, Ângela e eu corremos como duas crianças.

— Me dá isso aqui, Ângela — peço entre risos. — Ficou tantos

meses fora da cidade e voltou para me atormentar, foi? — digo da


boca para fora, pois só eu sei o quanto essa maluca, que tanto me

irrita quanto me faz rir, me fez falta. Tudo o que sei é que estava em

busca de um sonho, uma paixão que, segundo as suas palavras, eu

só vou descobrir quando ela se concretizar por completo. A mim só


resta esperar e torcer para que a minha irmã de alma encontre a

paz e a felicidade que tanto busca.


— Fala isso, mas sabe que me ama, senhora Marina Estevan.

— Tenta mais uma vez escapar, mas sou mais rápida e agarro o

sutiã que está na sua mão.


— Amo sim, agora me devolve isso aqui. As duas já se

divertiram demais as minhas custas. Solte, peste.

— Pare de ser chata, casou ontem e já perdeu o senso de

humor? — Ela puxa uma alça para um lado e eu puxo para o outro.
A palhaça da Maya não faz nada além de se divertir e o nosso

embate continua, até que uma coisa muito estranha acontece. De

repente, o quarto começa a girar e até as forças para me mexer eu


perco.

— O que foi? — Vejo Ângela jogar a peça no chão e, de

maneira preocupada, abraçar a minha cintura. — Você está pálida.

— Traz ela para cama, Angel.


Com a visão turva, vejo Maya empurrar todas as roupas para o

canto e quando me dou conta, já estou sem os meus sapatos e

deitada contra o colchão.


— Chame o Erick — é Ângela quem dá a sugestão.
— Não, por favor. Estou bem, foi só uma tontura — afirmo. —

Não quero preocupá-lo sem necessidade.

Tenho certeza de que o meu marido iria pirar se soubesse

desse mal-estar repentino. É assim que ele tem agido desde o dia
em que tomei um tiro e fiquei entre a vida e a morte. Para ele, não

importa o que seja, se uma simples dor de cabeça ou algo mais

sério, a preocupação vai ser sempre a mesma.


— Tudo bem. — Ângela levanta e vai para a janela. — Vamos

abrir isso aqui para você respirar melhor.

— Amor. — É o Erick. Ouço uma batida e a voz dele

ressoando pelo quarto. — Estou entrando.


Puta que pariu!

— Tudo bem por aqui? — Adentro o meu quarto e as meninas

me olham assustadas, com uma expressão estranha no rosto. Não


demora e eu vejo a minha mulher deitada, e junto com a visão de

Marina, uma sensação nada boa começa a comprimir o meu peito.

— Linda, o que houve? — Sento ao seu lado e vejo seu rosto mais
pálido do que uma folha de papel em branco.
— Não foi nada, só um leve mal-estar — Marina tenta

amenizar a situação, mas eu já estou doente de preocupação.


Ela não tem ideia do quanto a iminência de perdê-la me afeta,

ou talvez até tenha, já que tenta esconder coisas como essa. Isso

tudo para não me preocupar, mas mal sabe ela que tudo me

assusta, até mesmo uma respiração mais alterada.


E quem pode me culpar? Como julgar uma pessoa que

alcançou a felicidade plena e tem medo de um dia perdê-la de forma

tão repentina, assim, como já quase aconteceu?


Viver esse amor e o meu casamento com ela é como ter a

certeza de que a vida entrou nos trilhos e que aconteça o que

acontecer, eu nunca deixarei de agradecer pela benção de ter


encontrado a minha pessoa. A minha doce e amada, Marina.

— Não diga isso, você não está bem — afirmo enquanto

acaricio o seu rosto. — Vamos ver um médico, faça isso. Por mim?

— Tudo bem, querido — diz, contrariada. — Mas tenho certeza


de que não é nada demais.

— Isso é o médico quem vai dizer, princesa. — Deixo um

beijinho nos seus lábios. — Ângela, ligue para o doutor Roger, por
favor — peço. — O contato está naquela mesinha ali.

—Tudo bem.
— Ainda sente alguma coisa? — Analiso seu corpo enquanto
as amigas dela tentam falar com o médico.

— Foi só uma tontura mesmo. Vai ser essa a resposta do

senhor Roger.
— Mari...

— O almoço vai ser aqui mesmo? — da porta, a voz que não

ouço há quase dois anos interrompe a minha fala.


— Bruno, redescobriu o caminho de casa?

Do seu jeito que não muda, vejo Bruno dar alguns passos e

para próximo de onde eu e minha esposa estamos.

— Não precisa chorar, meu amigo. Eu sei que você estava


com saudades, mas estou de volta e vim em definitivo.

Apesar de estar zombando da minha cara, ele sabe que o seu

mau humor e entradas repentinas fizeram falta.


— Que bom, porque aquele escritório não é o mesmo sem

você — revelo e me volto para a minha linda. — Tudo bem? — Ela


só afirma com um aceno de cabeça.
— Tudo bem com você, Marina? — indaga, pois só agora se

deu conta da situação.


— Claro que sim, Bruno. Foi só uma tontura — responde. — E
seja bem-vindo de volta.
— Obrigado.
— Ele já está a caminho, Erick — Ângela se limita em dizer e
depois fica muda e tensa, assim como o meu amigo ficou.

O que há de errado com esses dois? Passaram-se dois anos,


porra. Ainda é como se não pudessem ficar no mesmo ambiente
que o outro. Eu só não sei se querem se matar ou transar.

— Tudo bem, Ângela? — ele cumprimenta.


— Ótimo — a chatinha responde mordaz. — Fica bem, amiga.
O doutor Roger chega em cinco minutos e eu tenho certeza de que

estará tudo bem com você.


Eu espero muito que ela esteja certa.

— Calma, cara. — A voz do Bruno está me irritando e ainda


assim eu não paro de gastar o chão da sala ao andar de um lado
para o outro.

Já passou das uma da tarde e o que era para ser um almoço


comemorativo, passou a ser uma verdadeira tortura, pois ao invés
de estar comemorando alguma coisa, estou ouvindo Bruno me pedir
para ficar calmo. Mas como ficar calmo enquanto a minha mulher,
que me expulsou do quarto e preferiu ficar com as amigas, está há
vários minutos sendo examinada?

— Não me peça para ficar calmo — aviso. — Quando for a sua


mulher, a gente volta a ter essa conversa.

— Ouça, ali vem eles. — Bruno fala, e das escadas descem


três pessoas e nenhuma delas é a minha esposa.
— Me falem, cadê a minha mulher? Por que ela não está com

vocês?
— Calma, meu rapaz — o homem mais velho repete a frase
odiosa. Volto meu olhar para Ângela.

— Está tudo ótimo com Marina — a chatinha afirma com um


sorriso no rosto, o mesmo sorriso que Maya tem. — Ela só pediu
que você suba por um instante.

Ângela mal termina de falar, e eu já estou subindo as escadas


de dois em dois degraus.
Ao entrar no quarto, minha menina está sentada chorando

como um bebê.
— Meu Deus! — Corro para perto e pergunto, preocupado: —

O que está acontecendo com você, princesa? Me fala o que eu


posso fazer para... — paro de falar quando ela coloca a mãozinha
em cima da minha boca.

— É um choro de alegria, meu amor. Só de alegria.


— Alegria? Desculpe, mas eu não...
— Nós vamos ter um filho, Erick. Eu estou grávida.

— Como? — No susto, me levanto da cama e viro-lhe as


costas.

Um filho.
Eu e o meu amor vamos ter um bebê.
Pai, vou ser pai. Porra!

— Eu pensei que você quisesse, já tínhamos até parado de


fazer sexo protegido.
Me viro em sua direção e a sua voz e a expressão triste me

fazem entender que passei a impressão errada.


Você é um burro, Erick!
— Eu quero, princesa. — Sento do seu lado e lhe abraço bem

apertado. — Perdão se a surpresa me faz passar os sinais errados.


— Seguro seu rosto e o beijo por todos os lados. — Hoje você me
fez o homem mais feliz do mundo.

— De verdade? — Limpa as lágrimas e me abre o mais lindo


dos sorrisos.
— É claro, princesa, nós já estávamos tentando, não é?

— Sim, só não pensei que seria tão rápido.


— Para você ver como sou bom no que faço — lhe provoco. —
Só mirei e acertei em cheio. O importante é que o garotão do papai

já está aqui dentro. — Toco em sua barriga, que ainda não dá


nenhum sinal da recente gestação.
— Não se esqueça que pode ser uma garotinha.

— Não me importa, meu amor. — Com cuidado, empurro seu


tronco e ela termina deitada como estava antes. — O que vale é que

o nosso filho já está aqui dentro. — Levanto a sua blusa e começo a


distribuir beijos por todos os lados da sua barriga.
— A nossa sementinha deve ser tão pequena ainda, querido.

— Sim, mas o papai já ama muito, não é, meu amor? —


converso com o bebê que há poucos minutos não sabia da
existência, mas que já tenho um amor incondicional.

— Eu tenho certeza de que vai ser um excelente pai — diz,


emocionada.
Ao ouvir sua declaração, subo o meu corpo e quando tenho

meu rosto bem próximo do seu, declaro:


— E você vai ser uma excelente mãe, assim como é uma
excelente esposa — digo. — Eu te amo, hoje ainda mais por me dar
esse presente e tornar a nossa felicidade completa.
— Para sempre — afirma.
— Eu, você, nosso amor e a família que construiremos.

O dia em que era para comemorarmos o aniversário do nosso


segundo ano de casamento, ficou marcado como um dos dias mais
especiais, não só para mim e minha mulher, mas também para os

nossos amigos, que ficaram felizes por estarem presentes na dupla


comemoração.
E como o planejado, dois dias depois estávamos viajando para

Itália e lá curtimos a nossa novidade, mas não tão intensamente


como das outras vezes, pois, devido ao estado da Marina,
preferimos deixar as nossas aventuras sexuais para depois do

nascimento do bebê. Quer dizer, eu decidi, Marina passou toda a


gravidez me testando e tentando me induzir a fazer o sexo

selvagem que costumávamos fazer. Como não sou de pedra, acabei


sucumbindo algumas vezes, mas não o suficiente para que pudesse
de alguma forma prejudicar o nosso filho.

Oito meses depois e com bem menos trabalho e sexo


selvagem, nasceu o nosso pequeno e saudável João Guilherme.
Em um ambiente rodeado pelos amigos mais próximos,

inclusive pela mãe e irmãos da minha pequena, o nosso menino


veio para coroar a nossa felicidade e para ser a prova viva de que
quando o amor bate à porta e é de verdade, como o meu e o da sua

mãe, não adianta fugir, como eu tentei, ele sempre voltará para uma
segunda chance. A oportunidade de reparar os erros e agarrar o
que a vida tem para oferecer.

A recompensa? Essa eu tenho aqui, dentro dos meus braços e


perto do meu coração.
— Papai te ama muito, pequeno.

Minha linda nos olha da porta do nosso quarto e tem nos lábios
o sorriso mais belo do mundo. Sorriso que me deixa um pouco mais
apaixonado a cada vez que o lança em minha direção. Para sempre,

Marina e Erick, e agora João Guilherme também.


PERFEITA PARA MIM
SINOPSE

Por amor, Erick e Marina lutaram e superaram obstáculos que

pareciam intransponíveis. Tiveram o “feliz para sempre”, mas a vida


não é um conto de fadas. E mesmo que o amor que os uniu seja tão
forte quanto a paixão do início do relacionamento, as diferenças e

desafios existem, e quando questões mal resolvidas do passado


surgem para colocar em risco o casamento de quatro anos, eles
terão que decidir se vale a pena continuar lutando para se
manterem juntos.

*** É um rápido vislumbre da vida de personagens queridos e


intensos, um presente para as leitoras queridas que acompanham a

minha trajetória como escritora desde o início.


CAPÍTULO 1

— Eu acho que essa pose está ótima — digo com uma câmera

na frente do meu rosto, enquanto a mulher linda faz caras e boca.


No meu estúdio, que vai muito bem, porque eu e a minha sócia
temos dedicado muito dos nossos esforços para sermos as

melhores nos últimos anos, estou fotografando o ensaio de Carlota


e Stefano Castanhão.
Vindo direto de Madri, os modelos internacionais, e irmãos,

serão a sensação do São Paulo Fashion Week. A imprensa não fala


de outro assunto, e queria eu ter que lidar com os dois apenas aqui
no estúdio.

Ter um sobrenome de peso e ser esposa de Erick Estevan

também tem o seu ônus, então nós estamos mais envolvidos do que
deveríamos com as visitas internacionais.

— Não acha que já está bom? — A morena, que aparenta ter

uns trinta e poucos anos, reclama com o irmão, que, por sua vez, é
mais jovem do que ela.
— Apenas colabore, minha irmã. Se você fotografasse tão bem

quanto reclama, seria a modelo número um do mundo, não a


número dois — ele alfineta.

Stefano é um homem bonito, e eu teria que ser cega para não

notar, mas nem de longe tão bonito quanto o meu marido, no auge
dos seus quarenta e dois anos.

Cansada de lidar com essa dupla há mais de uma hora, tento

manter um sorriso simpático e discreto no rosto, além de fingir que


não estou prestando atenção na interação entre os dois.

Ao meu lado, como uma espécie de apoio moral, a minha

sócia e amiga, vez ou outra, troca olhares comigo. Ela deve estar
pensando o mesmo que eu. Sim, já são seis horas da tarde e

poderíamos estar em qualquer outro lugar, como acontece em dias


típicos.

Os meus seios estão doloridos e cheios de leite. O meu bebê

já deve estar sofrendo de saudade, pois embora seja tão pequeno,

com apenas um ano e três meses de idade, parece que ele entende

algumas coisas, como, por exemplo, o horário em que costumo

chegar para o alimentar.


Depois que termino de amamentá-lo, me dedico por completo

a matar a saudade das horas que fico fora, sem poder sentir o seu
cheiro. Quando o pai do meu bebê chega do escritório, divido a
minha atenção entre os dois, até que o mais jovem durma.

Quando ficamos apenas nós dois…

— Ei, garota! — O som da voz irritada me derruba da minha

nuvem cor de rosa. Tomo um susto que quase derruba a câmera

caríssima do estúdio. — Pensando no namoradinho?

Garota?
Namoradinho?

Querida, eu sou uma mulher de vinte e dois anos, mas bem

casada e mãe de um príncipe lindo.

É o que tenho vontade de falar, mas me seguro. Tenho que ser

profissional. Esse ensaio é muito importante para mim e para a Lua.

— Não fale assim com a Marina, Carlota! — Stefano repreende

a irmã, que revira os olhos para cima.


Ela parece uma criança geniosa. Diz o ditado que Deus não dá

asas à cobra, mas não é verdade, porque deu para essa.

— Ela está um pouco distraída nos últimos minutos, porque a

gente acabou atrasando um pouco, mas está tudo bem, não é,

Marina? — Lua intervém. Eu balanço a cabeça em sinal de

concordância. — Acredito que as fotos que foram tiradas estão


ótimas, e são suficientes para a divulgação digital do desfile.
Ufa!

Eu não acredito que acabou.


Ao caminhar para perto da mesa onde deixo o material de

trabalho para guardar a minha câmera, sou seguida de perto pelo


modelo. Está perto até demais.
Se o meu marido possessivo estivesse aqui, teria chegado à

mesma conclusão.
— Perdoe-me pela minha irmã, ela não tem nada contra você.

Só tem o gênio difícil. — E é mimada, completo no pensamento.


— Está tudo bem. — Mal olho para o cara enquanto falo, pois

estou mais preocupada em juntar os meus pertences na bolsa. Só


quero ir para casa.
— Gostei muito de você — o modelo avisa.

— Obrigada, mas agora eu tenho que me despedir. Tenho um


marido e um filho em casa me esperando — digo ao erguer a mão e

mostrar o dedo com a aliança.


É um gesto necessário, porque, nem de longe, não dá para

acreditar que a sua gentileza é desinteressada.


— Tinha visto a aliança no seu dedo, mas não queria acreditar
que uma moça tão jovem fosse realmente casada.

A forma como ele fala e faz uma careta…


As pessoas estão cada dia mais cínicas sobre o amor.

— Casada e apaixonada — digo. — Boa sorte com o desfile.


— Passo por Stefano, mas o modelo continua falando.

— Espero te ver por lá — diz, eu não me dou ao trabalho de


responder.

Se as minhas palavras e uma aliança da largura de um aro de


bicicleta não o fizeram se tocar, talvez a minha presença ao lado do
meu Erick no evento, que possivelmente vamos nos encontrar,

possa cumprir o papel.


— Ossos do ofício, querida — Lua fala baixinho perto do meu

ouvido quando passo por ela. — Você é linda, rica e jovem. O seu
marido vai ter que aprender a lidar com isso.
— Ele sabe. — Sinto a necessidade de o defender.

O fato de alguns Stefanos surgirem de vez em quando não é


um problema para a nossa relação, até porque, prefiro poupá-lo de

coisas sem importância que não precisa saber.


O meu advogado fodão tem algumas questões de insegurança

por causa da nossa diferença de idade, apesar de fazer de tudo


para fingir que não. Além do mais, não é algo que influencie
negativamente no nosso casamento.
Também não posso ser hipócrita, porque amo tudo sobre o
meu homem, até mesmo o fato de ser possessivo e um pouco
ciumento.

Vou me atrasar também, dê um beijo adiantado no nosso


filho por mim.

Recebo o aviso de notificação e leio a mensagem do meu


marido, antes de colocar o carro em movimento.
Eu estou a caminho de casa. Não demore, meu amor,

estou morrendo de saudade de você.


Envio.

Faz apenas três dias, pequena.


Leio com um sorriso no rosto.

Mas parece uma eternidade.


Estou me referindo ao período menstrual que me faz sofrer
quase todos os meses, mas o Erick continua sendo o mesmo do

início do nosso relacionamento e faz de tudo para aliviar as minhas


dores.

Derreto-me quando ele faz chocolate quente para mim, ou


quando me deita dentro de uma conchinha e faz carinho na minha
barriga com a sua mão grande e quente.
Então me espere, porque vou apagar seu fogo, garota
safada.
Te amo.

Dirija com cuidado.


Não esqueça do beijo do meu amigão.

Dou um suspiro profundo e, com um sorriso no rosto, dirijo-me


para a mansão onde cresci.
O meu pai morreu há alguns anos, mas ainda sinto muita

saudade, a sua presença está em cada canto onde vivo. Mesmo

que não esteja aqui fisicamente, sinto a proteção do meu querido


João Junqueira.

Ao adentrar a sala, me deparo com a babá ninando João no

carrinho. Este está distraído com o mordedor, que é o seu melhor

amigo contra com dentinhos incômodos.


O meu coração chega a ficar apertado de tanto amor quando

me aproximo, descarto a bolsa no sofá e o pego no carrinho. Dou

um beijo demorado no seu pescoço, porque o cheiro do meu bebê é


capaz de curar tudo, inclusive, o estresse e o cansaço do dia a dia.

— Boa noite, Nanah, como foi o dia dele? — indago para a

mulher de meia idade.


— Ele ficou um pouquinho enjoado por causa dos dentinhos,

mas melhorou agora à tarde. A senhora sabe que o seu filho é um


anjinho que não dá muito trabalho.

— É claro que eu sei. Você é um príncipe, não é, meu amor?

— falo com uma vozinha infantil, cheia de orgulho do meu rebento.


— Pode ir agora, Nanah — digo, ao me sentar no sofá.

— Não vai mais precisar de mim hoje? — questiona.

Nanah mora junto com o esposo na casa de funcionários que

fica na parte de trás da mansão. Jacinto trabalha no jardim e na


piscina, então decidimos dar utilidade para a casa quando, há três

meses, ainda relutante, voltei a trabalhar.

Eu esperei que o pequeno completasse um ano para começar


a sair de casa sem ele, mas ainda é muito difícil.

— Está tudo certo. Vá descansar.

Quando fico sozinha com o pequeno, tiro o meu seio para fora
da camisa vermelha e ele o suga com avidez. Como da primeira

vez, me sinto a mulher mais afortunada do mundo por poder

amamentá-lo. A sensação é de que nasci para ser mãe.

Sou muitas coisas, uma boa esposa e profissional, mas a


minha maior realização é ser mãe do João. O amo porque nasceu
de mim, mas também por ser tão desejado, por ser o fruto de um

amor intenso e inabalável.

Quando eu olho para o meu filho, e a cada batida do meu


coração, lembro-me que devo ser grata por tudo, agradecer a vida

por ter me permitido viver esta realidade.

Por ter me dado a minha própria família. Não me falta nada.

Sou feliz, e tudo o que desejo é continuar sendo.


— Não feche seus olhinhos lindos, filho. A mamãe está

morrendo de saudade e você já quer dormir? — Falo baixinho, mas

é inútil, porque ele só queria mamar para dormir profundamente.


Vai dormir agora e acordar no meio da madrugada. Erick se

levanta, as vezes eu nem percebo, o pega no berço do seu quarto e

o deita entre a gente.

— O seu papai te mandou um beijo — sussurro, ao beijar sua


testa.

Quando meu filho adormece, subo as escadas com cuidado, o

deito no berço e pego a babá eletrônica, antes de ir para o meu


quarto.

Já entro tirando as roupas e indo direto para o chuveiro. Tomo

um banho rápido, porque não gosto de ficar longe da babá

eletrônica por mais do que cinco minutos.


Desacelero um pouco quando saio do banheiro enrolada com

uma toalha. O aparelho está em cima da cama, vejo que está tudo
em paz no quarto do João, então começo a pensar no que vestir,

enquanto caminho na direção do closet.

Como estou particularmente fogosa hoje, e cheia de saudade


do meu homem que tem cara de mau, escolho uma lingerie bem

provocante. O sutiã deixa os meus seios empinados, a calcinha

preta de renda é tão pequena e transparente que deixa pouco

espaço para a imaginação.


Por cima, para não ser tão óbvia, visto um robe preto de seda.

Dou um nó frouxo na cintura, pois a sensação de tê-lo desatando

cheio de pressa, com os olhos queimando a minha pele de desejo, é


indescritível. Erick me faz sentir a mulher mais linda e desejável do

mundo. Eu sei que me enxerga dessa forma.

Deixo o meu quarto depois que fico pronta, decidida a esperá-

lo no quarto do nosso bebê. Sento-me na cadeira de amamentação


e curto um dos meus cômodos preferidos da casa, enquanto

converso com a minha melhor amiga através de mensagens.

Pelo menos, você teve que suportar apenas uma hora. Eu


vou ter que suportar mais do que isso. É esse preço que tenho

de pegar por ter pais influentes. Eles decidiram hospedar os


modelos, e eu terei que marcar presença como a filha exemplar

que nunca fui.

Tenho um sorriso no rosto enquanto leio o texto da Ângela. De

fato, ela não é a filha ideal para o casal da mídia que os seus pais
são, mas sabe que é amada como merece por eles e pelo seu

marido, o melhor amigo e sócio do Erick no escritório.

Ângela e eu sempre fomos como unha e carne, mas saber da


verdade sobre os meus problemas emocionais, e ter estado perto

nos momentos em que mais precisou de mim, nos deixou ainda

mais ligadas. Quando lembro que a minha irmã de alma é tão feliz

quanto eu sou, o meu dia fica melhor.


Eu sei que você aguenta, querida. Só não deixe que a tal

de Carlota te irrite como me irritou durante o ensaio fotográfico

da dupla.
Envio.

Eu acho o irmão dela bem bonito.

Leio. Ângela tem o dom de mudar o rumo da conversa sem

avisar. Às vezes, ela me deixa tonta.


Deixa o Bruno ficar sabendo disso.

Envio uma mensagem para provocá-la.


Ângela só tem olhos para o marido, e foi assim desde a

primeira vez que o viu. Ele a amou como ninguém tinha amado, mas
conheço a minha anjinha o suficiente para saber que estaria

insistindo nele até hoje se as coisas não tivessem dado tão certo.

E quem pode julgá-la?

Ângela tem o jeitinho dela. É uma mulher para ser aceita, não
entendida por completo. Eu a aceito, amo, e conheço o suficiente,

tanto as qualidades quanto os defeitos.

O Bruno sabe que não sou cega, que outros homens


podem ser bonitos, mas nenhum é tão lindo e gostoso quanto

ele.

Leio.
Eu não disse?

Já que estamos falando do Stefano, preciso te contar uma

coisa.

Eu não sei o porquê de voltar para esse assunto sem


importância, mas não consigo controlar o meu lado fofoqueiro com a

minha amiga.

Ela deu em cima de você?


Ângela se adianta.

Como sabe?
Ela não me deixou torturá-la, da mesma forma que faz comigo,
antes de fazer a fofoca.

Até eu daria em cima de você, Marina.

A resposta espirituosa tira uma risada de mim. Durante mais


alguns minutos, fico distraída com a nossa troca de mensagens, até

que o cheiro que conheço muito bem rouba a minha atenção e

desperta o meu corpo.


Quando levanto a cabeça, vejo o homem lindo, alto e sexy

parado no umbral da porta. É como se fosse a primeira vez.

Estamos casados há quatro anos. Eu engravidei depois de

dois anos de casamento, agora o nosso bebê tem um ano e três


meses, mas parece que estou o vendo pela primeira vez.

A primeira vez que eu, uma adolescente de quinze anos, olhei

de um jeito diferente para o melhor amigo do meu pai, o homem que


me ensinaram a ver como alguém que era quase da família.

Ele foi o meu primeiro amor, o meu primeiro coração partido e


o meu primeiro beijo. Erick foi o meu primeiro e único amor, e
quando me olha como faz agora, volto a ser a Marina que se

apaixonou pelo tutor, a garota insaciável que se deixava guiar pela


paixão.
CAPÍTULO 2

Depois de um dia bastante produtivo no escritório, fazendo


valer o fato de sermos o grupo mais renomado da cidade, chegar
em casa tem um sabor especial.
Eu demorei trinta e sete anos para morar pela primeira vez

com uma mulher, para manter uma relação séria e me apaixonar.


Anos depois, eu não consigo me lembrar qual era o sentido da
minha vida antes da Marina.

Na verdade, de formas diferentes, a minha vida nunca fez


sentido sem ela.

Marina sempre foi a luz da minha vida, por isso senti tanta

raiva de mim mesmo quando os sentimentos mudaram


drasticamente e o carinho fraterno e respeitoso se tornou paixão.

Tentei resistir até onde pude, mas perdi a guerra quando percebi
que só tinha duas saídas: vivia a paixão, jogando para o alto tudo o

que depunha contra a gente, ou me afastava de vez da garota.


Depois de um ano e meio afastado, com o mínimo de contato

possível, me entreguei, porque manter-me afastado deixou de ser


uma opção.

Agora estou aqui, na porta do quarto do nosso filho, o meu

pequeno João, e tenho plena ciência de que devo valorizar o que


construí, porque tenho toda a minha vida dentro desse cômodo. A

minha mulher e o meu filho, as pessoas que amo com tudo o que há

em mim.
Como um homem que já experimentou a dor de quase perder

a mulher que amava, e que até hoje acorda assustado a procurando

em algumas noites, sei o que me custaria perder a felicidade que


tanto lutei para ter.

Ela me olha com o mesmo rosto jovem de anos atrás, embora


tenha vinte e dois anos. A mesma expressão que une inocência e

ousadia. Essa é a mulher por quem sou completamente apaixonado.

Ela me mantém tão preso com a voz doce, as palavras de amor e

toques ousados, que tenho a sensação de que estou voltando para

o passado.

O meu coração está disparado, ardendo no peito cheio de


paixão e amor, mas ele não é a única parte do meu corpo que está

pulsando.
O meu pau se anima, porque ele e eu imaginamos o que a
minha mulherzinha deve estar usando por baixo do robe de seda.

Ela sempre usa essa tática, eu sempre fico ansioso para desatar o

nó, como se fosse a primeira vez.

— Que bom que chegou, amor. Eu estava te esperando — diz

ao se levantar.

Marina deixa o aparelho celular em cima da cadeira de


amamentação e se joga nos meus braços. A primeira coisa que a

minha mulher faz é enfiar o nariz no meu pescoço.

O fato de estar me cheirando faz com que eu me arrepie até a

alma. O membro que estava se animando, agora está dolorido.

— Saudades, bebê? — Provoco-a com as duas mãos na sua

bunda.

— Pelo visto, você também estava — sussurra.


Provavelmente, ela está sentindo a minha ereção cutucando a sua

barriga.

— Sempre estou — afirmo. — Você está bem? — indago,

recordando-me do motivo de estarmos assim.

A minha mulher sofre um pouco no período menstrual, e tudo o

que queremos quando acaba é matar a saudade de nos amarmos,


ou de fodermos.
Sabe aquele fogo que nos levava a transar todos os dias, mais

de uma vez ao dia? Então, ele continua bem acesso. Muitas vezes
sobra vontade e falta tempo, mas estamos sempre tentando achar

brechas.
— Deixe-me ver como ele está — falo e, com carinho, tiro os
seus braços que estavam em volta do meu pescoço. Beijo os seus

dedos e depois me dirijo para o berço.


Com o corpo curvado sobre o berço, beijo os meus dedos e os

pressiono levemente na testa do meu bebê. João, junto com a sua


mãe, é a melhor parte de mim. Um dos momentos mais prazerosos

da minha vida é quando o seguro em meus braços.


Tudo sobre o meu herdeiro me emociona — deve ser a idade.
— O papai te ama, garotão — falo baixinho.

Depois dele, Marina e eu não falamos sobre termos outro filho,


e eu não teria nem como desejar mais, pois embora seja feliz, e veja

como ela ama ser mãe, sei que é jovem demais para ser mãe de
um, imagina de dois.

— Ele está ficando muito parecido com você — Marina se


aproxima e fala baixinho.
— João é a sua cara — rebato.
Vivemos esse eterno dilema, porque ninguém, nem mesmo

nós dois, sabe dizer com quem o nosso filho realmente se parece
fisicamente. Estou começando a dar o braço a torcer e aceitando

que ele é cinquenta por cento eu e cinquenta por cento a mãe. Um


dia vai acordar com a minha cara, outro dia vai acordar com a cara

dela.
O pensamento bobo me diverte, fazendo com que eu deixe
escapar uma risada.

— O que está te divertindo, posso saber? — Minha mulher


pergunta.

— Nada que mereça a sua atenção, bebê — afirmo ao voltar-


me para ela e abraçá-la pela cintura fina.
Quando os seus olhos ficam suaves, quando o seu corpo fica

todo relaxado contra o meu, as batidas do meu coração ficam


aceleradas. O meu cacete, que havia voltado a dormir por causa do

meu momento com o meu bebê, volta a dar sinais de vida.


Parece que somos muito ligados no sexo… Mas é porque

somos mesmo. E não é porque a nossa relação se baseia apenas


nisso. Na verdade, nunca pensamos que fosse.
Eu sempre acreditei que a fome que sentimos um pelo outro é

a única forma que temos de externar o imenso amor que nos une, a
paixão que não pode ser reprimida.
É um amor que não pode ficar preso. Sentimentos que
sufocam, que nos tiram dos eixos, mas que trazem paz, que nos

mostram que a luta valeu a pena.


Quando estamos transando, na maioria das vezes fodendo

duro, dizemos sem palavras, mas com mãos e toques…


— Eu te amo — falo baixinho no seu ouvido, logo depois de
dar uma mordida provocativa na orelha pequena.

— Então mostre — pede.


— Putinha — rebato ao apertar a sua bunda com as mãos

cheias.
— Amo o seu lado romântico — a provocação arranca um

sorriso tenso, porque os pensamentos românticos foram embora,


sobrou o desejo de mostrar com o corpo o que a boca acabou de
falar.

— Eu nem treino para ser assim. É natural — brinco, pego os


seus braços e os envolvo no meu pescoço.

Com o agarre firme de alguém que me conhece bem e sabe o


que vou fazer, seguro os lados da sua bunda, impulsiono o seu
corpo para cima e envolvo as pernas alvas e macias na minha

cintura.
— Durma bem, filho. Se puder, não acorde mais hoje, porque o
papai vai estar um pouco ocupado cuidando da mamãe. Ele é uma
garota má, mas prometo que vou ser bonzinho com ela — falo, sem

tirar os olhos da minha jovem esposa.


Marina me mostra o seu sorriso bonito, que fica ainda mais

bonito com esse toque de malícia. Eu beijo os seus lábios de leve e,


cegamente, saímos pela porta de conexão para o nosso quarto.
O beijo leve se torna quente quando a minha mulher toma a

iniciativa e coloca a língua macia dentro da minha boca. Como não

sou de negar nada que ela queira, entro no jogo e dou exatamente o
que está buscando.

Antes de tudo começar, a gente se excita até o limite do

suportável com beijos quentes e ousados. Eu queria arrancar o

pouco que ainda veste, mas a levo para a parede mais próxima,
lembrando-me brevemente da primeira vez que a comi em uma.

Fico mais duro só com a lembrança de como foi gostoso.

Marina ainda era inexperiente, mas, ao mesmo tempo, tão safada.


Não sabia de nada, mas queria me dar tanto quanto eu queria

comer a sua boceta apertada.

Com o meu corpo pressionando o seu, que é muito menor,


beijo a sua boca gostosa. Rolo as nossas línguas com habilidade,
até que a minha barba por fazer deixe a sua boca vermelha, e

esfrego o meu sexo no seu.


— Gostoso… — a fala é quase um gemido quando a minha

pequena finca as unhas nos meus ombros e começa a rebolar para

me sentir melhor.
Mesmo que eu esteja vestido com as roupas do trabalho,

posso sentir o seu calor e ter a certeza de que está molhada. Muito

molhada para mim, doida para me ter socando até as bolas na sua

boceta.
— Amor, eu… — tento falar quando separo as nossas bocas e

chupo o pescoço esguio. — Estou sujo, preciso de um banho.

— Não vai tomar banho agora. Além do mais, gosto do seu


cheiro — afirma ao lamber o meu pescoço lentamente. — Quero

que me toque, Erick.

— É claro que quer — provoco ao morder o seu lábio inferior e


depois puxá-lo para dentro da minha boca.

Enquanto a minha mulher abre os botões da minha camisa, eu

desço a mão entre os nossos corpos e encontro a frente úmida de

sua calcinha.
Como imaginava, ela está molhada e pronta para mim. Ao

invés de afastar o tecido e enfiar os dedos de uma vez, escolho


provocá-la um pouco, e então faço movimentos lentos e giratórios

com o dedo indicador e o médio contra o tecido. Sei que é gostoso

para ela, que o contato do tecido com o sexo a deixa mais sedenta.
— Você é um homem muito mal — diz, olhando para mim, mas

os seus olhos estão perdidos de desejo.

— Eu sou, e você me ama por isso, esposa gostosa.

— Por isso, e por isso. — De alguma forma, Marina consegue


descer a mão entre os nossos corpos e segurar o meu cacete, que

já está babando na ponta.

— Por que não enfia de uma vez esse pauzão em mim?


Essa é a minha esposa, que não era inocente nem mesmo

quando era virgem.

— Onde? — Faço a pergunta provocativa, porque adoro

provocá-la. Restaram poucas coisas que fazem Marina corar, e a


menção ao sexo anal é uma delas.

A garota, que é viciada em dar o cuzinho para o marido, fica

sem graça quando tem que falar sobre o assunto.


— Não me faça falar — diz.

— Isso quer dizer que quer? — indago esperançoso, porque

enfiar o meu pau no seu cuzinho apertado é quase tão bom quanto

foder a sua boceta, minha esposa dá de ombro.


Quando deixo o meu dedo médio escorregar para o seu

orifício, seu corpo tenciona, mas logo tremula de prazer.


Depois de anos, sei de tudo o que a fez se desmanchar de

prazer nos meus braços, mas não abro mão de estar sempre

tentando apimentar ainda mais o sexo entre a gente.


Com um dedo na boceta lambuzada e o outro no seu cu, sinto

que estou levando-a para muito perto do orgasmo, considerando a

forma como aperta os meus ombros com as unhas e os seus

gemidos, mas um som diferente no ambiente faz nós dois ficarmos


estáticos. Um olhando para o outro em silêncio durante no máximo

três segundos.

Depois, a gente cai na risada, porque não tem como não nos
divertirmos com a lembrança da primeira vez, mas não a última, que

a cena aconteceu.

— Você esqueceu a porta aberta? — Marina pergunta ao

descer de cima do meu corpo.


Ela está com as pernas um pouco fracas, dá para notar, e toda

melada de desejo. Eu estou tão duro que chega a ser doloroso, mas

a gente tem que ser responsável.


— Culpado — digo, enquanto minha esposa caminha para

perto da porta e pega a bola de pelos brancos que estava nas


costas do Thor.

— O que a mamãe falou sobre entrar no quarto quando estiver

tendo intimidades com o seu pai? — Sim, sou pai de dois meninos e

uma menina.
— E você, campeão? — indago ao me curvar e fazer carinho

na orelha do meu golden retriever, que já é um senhorzinho de

idade. — Não deveria ser responsável e não trazer a Floquinho para


uma festa de adultos?

Os nossos bichinhos amados fazem parte da nossa história

desde o início. Eles são amados e tão mimados que ambos estão

sempre de dieta para manterem o peso.


Thor e Floquinho deixam a nossa felicidade ainda mais

completa, menos quando nos interrompem na hora do sexo.

— Pode deixar que eu os levo para a sala — digo para a


minha esposa, que dá um beijinho carinhoso na cabeça da gatinha e

depois a coloca em cima das costas do seu melhor amigo.

— Estarei aqui te esperando — a safada fala com o tom de

insinuação, depois desce a mão até o laço do seu robe.


— Não toque nele — peço. — Já volto.

Desço as escadas praticamente correndo atrás dos animais.


— Fiquem aqui, não podemos dar atenção para vocês agora

— digo, Thor late.


— Coisa de adultos — aviso e volto a subir as escadas,

fazendo nota mental para não esquecer de trancar a porta dessa

vez.

A gente deixa os dois tomarem conta da casa, porque embora


eles tenham o próprio canto, com caminhas, água e ração, querem

ficar onde os donos estão. Fora os momentos em que estamos

fodendo, deixamos que fiquem onde quiserem.


Ambos gostam do João, mas parece que se sentem um pouco

ameaçados pelo bebê.

Ao entrar no quarto, passo a chave na porta. Quando viro na


direção da cama, quase tenho um ataque cardíaco ao me deparar

com a minha pequena deitada de bruços e pelada.

Sim, a safada desobediente tirou o meu prazer de me desfazer

das peças que vestia. Em silêncio, ela me olha por cima dos
ombros, e empina um pouco mais a bunda para mim.

Já que ela se apressou, faço o mesmo e começo a tirar as

minhas próprias roupas. Quando fico como vim ao mundo, toco o


meu pau indo e vindo algumas vezes, apenas para deixá-la no
limite, e depois cubro o seu corpo com o meu, equilibrando o peso
para não sufocá-la.

— Por que você é assim? — indago, enquanto passo o meu

membro entre os lados da sua bunda.


— Assim como? Gostosa? — provoca.

— Safada e gostosa — digo. Coloco a mão por baixo do seu

quadril e toco no seu sexo.


— E sua — diz.

Gosto de ouvir, pois não consigo evitar de sentir medo de

perdê-la a qualquer momento. Deve ser assim porque sou feliz,

muito mais do que mereço.


— Até o fim — assevero.

— Até o fim — Marina devolve. — Agora meta até o fim,

marido. — O seu pensamento esperto me faz gargalhar.


Eu também não aguento mais esperar, então afasto as suas

pernas e, cobrindo o seu corpo com o meu, invado centímetro por


centímetro a sua boceta apertada e viciante.
— Era pau que queria, meu amor? — falo no seu ouvido, e

quando já estou socado até as bolas dentro dela, faço um


movimento giratório bem lentamente, depois começo a entrar e sair
com rapidez, batendo os nossos corpos.
Sou duro, mas sei que é assim que a minha mulher quer.
Gosta de foder ao invés de fazer amor gostoso na maior parte dos
dias. Na verdade, só somos delicados no sexo quando estamos na

terceira rodada, e não aguentamos mais o peso dos nossos corpos.


— Eu queria que ficássemos juntos dessa forma. O dia hoje foi
exaustivo, mas suportei, porque sabia que iria voltar para casa, para

o meu filho e para você — ela tenta falar, enquanto empina o quadril
contra o meu pau, que a come com dureza sem cessar e sem se
cansar. — Tinha em mente que teria isso aqui…

Tenho vontade de perguntar o que aconteceu para tê-la


esgotado tanto, mas deixo para depois, pois, no momento, o meu
foco é fazer a minha mulher gozar.

Levo-a ao orgasmo com o corpo cobrindo o seu, depois,


Marina me faz gozar no banho, enquanto chupa o meu pau. Ao
voltarmos para a cama, chega o momento do amor lento e gostoso

que eu havia mencionado.


Quando finalmente nos sentimos saciados e nos

aconchegamos um no outro, começamos a falar sobre como foram


os nossos dias. É um hábito que temos.
Não tenho muito o que dizer, pois o meu dia foi exatamente

como todos os outros: pilhas de processos e visitas a fóruns. Até a


ansiedade que sinto para dar o expediente por encerrado e voltar
para a minha família é igual todos os dias.
— Eu pensei que você soubesse, amor — diz. Minha esposa

tem a cabeça deitada no meu peito, enquanto a mão faz carinho no


meu peito.

— Eu sabia da vinda deles, mas não sabia que o ensaio era


hoje. — Não tem como não saber da presença de modelos tão
famosos na cidade. Só se fala nisso em tudo quanto é canto.

A minha esposa ficou muito feliz por ter sido escolhida para
fotografar o ensaio do casal para o desfile na São Paulo Fashion
Week.

— Pois é. A mulher era insuportavelmente mimada. Ela não


gostava das fotos, mesmo com a Lua e eu dizendo que estavam
lindas. Tive que fazer em uma hora um ensaio que deveria ter

durado trinta minutos. Antes disso, todas as atividades foram


voltadas para o bendito ensaio.
— Pense que já acabou, pequena. Você pôde voltar para casa

e o seu marido te fez relaxar em grande estilo. Você está bem, bebê
— digo, ao beijar o canto da sua boca sem parar, até que abra um

sorriso bonito para mim.


— Pensar em você e no que iria fazer comigo quando eu
chegasse em casa me impediu de colocar a chata para correr —

afirma.
— Não me falou do tal Stefano. Ele não te encheu o saco
como a irmã? Como ele era? — pergunto, e não existe nada além

de curiosidade na minha fala.


Confio na minha esposa, embora os cabelos brancos que

estão nascendo cresçam mais rápido quando lembro que tem um


bando de filhos da puta desejando o que é meu.
Eu não sou cego. Sei que a minha Marina é uma jovem linda e

gostosa, além de ser muito simpática. Lido bem com o fato de saber
que sempre terei algum homem querendo concorrer comigo. Estarei
seguro enquanto continuar sentindo que a minha pequena só tem

olhos para mim, que me ama e que nunca se arrependeu


minimamente de ter se casado com um homem muito mais velho do
que ela.

Ela demora um minuto inteiro para voltar a falar, e não sei o


que isso quer dizer.
— Ele não é como a irmã. Stefano Castanhão foi simpático

para compensar a chatice dela. É mais novo, mas parece que é


mais velho na maturidade.
Quero perguntar se o achou bonito, se ele deu em cima dela,

mas não quero parecer que sou um homem inseguro, patético e


ciumento.
Na maior parte do tempo, não sou mesmo. Mas ter completado

quarenta e dois há alguns dias talvez tenha me deixado um pouco


carente e inseguro. O medo de ser trocado, de que um dia a minha
mulher acorde decidida a ficar com alguém da sua idade, tornou-se

mais latente, embora eu tenha fingido bem até agora.


Ela pensa que está tudo bem, e talvez esteja. O problema sou

eu.
— Ele não te cantou? — indago.
— Não — fala rapidamente. Conheço Marina desde sempre, e

sei quando está mentindo pelo tom de sua voz. — Stefano só foi
educado.
Minha mulher está mentindo, e não sei porque ela sente a

necessidade de me esconder esse tipo de coisa.


— Que bom, senão o idiota teria que se ver comigo — brinco,
apesar de estar com o humor um pouco abalado.

— A má notícia é que os Albuquerque vão oferecer um jantar


para os irmãos no fim de semana depois do desfile. A gente vai ter
que comparecer, portanto, eu não estou livre daqueles dois. Ainda
não — diz.
— Por que temos que ir a esse jantar? — questiono.

— Porque somos os Estevan.


— Em momentos como esse, queria não ser — afirmo.
— Eu não quero mais falar disso, amor — Marina avisa, e sobe

em cima do meu corpo.


Ela não quer transar novamente, apenas gosta de se deitar em
cima de mim. Fica com o corpo sobre o meu até pegar no sono.

— Te amo — diz, depois de muitos minutos de conversa. Ela


está quase cochilando.
— Eu sei… — falo.

É claro que me ama, somos Erick e Marina. O nosso amor é


tão forte que daria um poema. Sei que não tenho motivos para

neuras, porque o que temos e o que somos é real. Sempre será a


nossa maior verdade.
CAPÍTULO 3

Nove horas de uma noite de sábado. Eu poderia estar em

casa, ou em qualquer lugar, curtindo o meu final de semana com


minha família. No entanto, deixei o meu filho em casa e estou aqui,
na casa de Mara e Tarcísio Albuquerque.

Eu não os odeio, embora ainda me lembre de como foram


péssimos pais para a minha anjinha até alguns anos atrás, mas o
meu programa de casal ideal seria bem longe dessa mansão, de

pessoas granfinas com as quais convivo mais vezes do que


gostaria.
Erick e eu chegamos depois do jantar, agora, todos os

convidados estão espalhados pela sala e pelo jardim, fazendo o que

se faz em jantares da alta sociedade: bebendo e conversando. Na


maior parte do tempo, os assuntos não são nada interessantes.

Quer dizer, não é interessante para mim, pois o meu marido

está com o seu melhor amigo no meio de uma rodinha de


empresários, provavelmente falando sobre negócios. Eles não vão
aguentar durante muito tempo, mas sempre fingem um pouco

quando temos que comparecer a eventos como esses, afinal,


precisam manter a reputação do escritório.

Carlota e Stefano Castanhão são apenas modelos

internacionais. Tudo bem que até eu me animei com a vinda deles


para o desfile, e por ter tido a oportunidade de pegar um trabalho

que pagasse tão bem para o estúdio, mas esse jantar para as

pessoas mais importantes da cidade, inclusive, socialites e políticos,


é um exagero.

Os homenageados são rodeados de pessoas que fazem

perguntas e se surpreendem com o fato de estarem falando com


famosos. Da minha parte, só tenho que agradecer, porque me

poupam do estresse de ter que lidar com a mimada e o irmão


galanteador.

Quer dizer…

No canto discreto onde estou há quinze minutos esperando a

Ângela voltar do banheiro, e não duvido nadinha que esteja

buscando uma forma de escapar dos pais com o Bruno, que

claramente está impaciente na roda de conversa, vejo o momento


em que Carlota começa a se aproximar da conversa que só tem

homens.
Antes que me joguem pedras, preciso explicar que não vejo
problema algum em uma mulher falar de igual para igual com um

bando de engravatados. Só não consigo imaginar o que poderia

interessá-la na conversa chata que acredito que estão tendo.

A mulher bonita que para ao lado do meu marido usa um

vestido curto e decotado, que a deixa parecida com uma divindade

bela e sensual.
Ela se colocou entre ele e outro senhor, mas, de onde estou,

vejo claramente que está com o braço encostado no braço do Erick.

Ele não se mexe, ele não faz nada para desgrudar da mulher.

Fora os momentos em que está comigo, o meu marido é um

homem contido que preza pela discrição, mas não posso evitar de

me sentir enciumada.

Ele só tem olhos para mim, não é?


É claro que é verdade. Às vezes, em situações raras e

específicas como essa, quando o vejo perto de uma mulher tão

linda, certamente mais experiente e com a idade mais próxima da

sua, me questiono se Erick não se ressente nem um pouquinho por

não ter se casado com alguém como ela.

Nos raros momentos como esse, porque quase sempre sou


tão feliz que até sinto medo que acabe, me pergunto se não passa
por sua cabeça que poderia ter casado com qualquer outra mulher.

Alguém com mais de vinte e dois anos, que conseguiria aguentar


cinco minutos em uma conversa mais séria entre os seus amigos.

A modelo que está com eles parece se sentir à vontade. É uma


conversa de “adultos”, onde eu me sentiria perdida.
Para mim é mais simples, porque eu sou eu, conheço melhor

do que ninguém os meus pensamentos e os meus sentimentos e sei


que nunca houve e nunca haverá espaço para questionamentos ou

arrependimentos.
Eu o quis quando não deveria querer, fiz o necessário para

ficarmos juntos, e não tenho dúvidas de que, se preciso fosse, faria


muito mais para não o perder.
Erick é o meu marido e amante. Ele é o pai do meu filho, e o

homem que eu amo. Meu, apenas meu.


Algumas pessoas passam por mim, tento manter o sorriso

discreto quando ergo a taça que carrego na mão em comprimento,


mas minha atenção está em cada detalhe da interação que ocorre a

alguns metros de onde estou.


Não posso nem mesmo responsabilizar o meu marido por eu
estar aqui, sofrendo por ser uma boba que, de vez em quando, se

dá ao luxo de ser insegura e ciumenta, pois fui eu que disse que


precisava dar uma volta para espairecer. O problema é que não

retornei, escolhi ficar em um canto pensando em como o assunto


deles era chato e dei brecha para a mimada da Carlota chegar tão

perto do meu homem.


Ela não tem noção de espaço, é isso? Ou talvez não esteja

vendo a aliança enorme no dedo do Erick.


— Eu quase consigo ver as fumaças saindo pelas suas
orelhas, igual acontece nos desenhos animados — a voz de Ângela

ao meu lado me distrai, mas ela também está vendo o que vejo.
A mulher mais velha está passando a mão de unhas afiadas

no ombro do meu marido. Ele, por sua vez, está dando o sorriso que
sempre foi capaz de fazer calcinhas caírem, um sorriso que não
deveria ser usado em lugar algum fora do nosso quarto. Um sorriso

que deveria ficar guardado apenas para mim.


— O Erick só tem olhos para você — Ângela fala, tentando

fazer com que eu me sinta melhor.


Ela, melhor do que eu, sabe o que é ter um marido que

arranca suspiros pelo simples fato de respirar. Depois de tudo o que


viveu, a minha melhor amiga passou a enxergar o mundo de outra
forma, com leveza e otimismo. Eu queria ser mais Ângela e menos

Marina.
Queria não estar me segurando para não agir como uma
garota de dezessete anos, para não ir até lá e fazer o meu marido
se lembrar porque teria sido melhor se tivesse se casado com

alguém como ela, não comigo.


— Desfaz essa carinha, amiga. Você não é assim, o que está

acontecendo? — indaga. Os meus olhos já estão ardendo.


— Eu não sei… — admito.
— Não é a primeira e nem será a última vez que você terá

mulheres dando em cima do seu marido — Ângela fala de algo que


estou cansada de saber. — Assim como têm homens que se

interessam por você e o Erick lida com o fato.


Normalmente, é mais fácil, mas eu menti para ele quando não

disse que o Stefano deu em cima de mim. Também escondi que me


mandou mensagens, que não foram respondidas, nos últimos dois
dias. Não achei que fosse necessário falar de algo tão sem

importância para mim, mas agora estou morrendo de ciúme.


Será que eu gostaria se ele me escondesse algo como o que

está acontecendo aqui?


Não, eu não gostaria. Deve ser por causa das minhas próprias
omissões sobre algo tão bobo que estou assim agora: insegura,

chorosa e com ciúme.


— Por que não vai até lá? — pergunta. — Talvez ela tenha
problemas de vista e não enxergou a aliança enorme no dedo do
Erick — fala, mas os seus olhos estão no Bruno, que sabe

exatamente onde a esposa está e não tira os olhos dela.


O amor desses dois chega a ser estranho de tão grande. É

impossível vê-los e não notar.


— Eu preciso ir ao banheiro — digo.
A verdade é que preciso respirar, voltar a ser quem eu sou de

verdade, não essa bagunça infantil, insegura e ciumenta, antes de

mostrar para a oferecida a quem Erick Estevan pertence. Pensando


bem, eu duvido que ela não saiba que a mulher que a fotografou é a

esposa do cara que está dando em cima.

— Vai lá. Eu vou ficar aqui, esperando que o Bruno entenda o

meu sinal de que consegui encontrar um lugar perfeito para a


gente…

— A gente? — Pressiono para provocar. Por incrível que

pareça, ela sabe ser tímida em alguns momentos. Ângela é uma


contradição ambulante, e não gosto de pensar em como isso

começou.

Felizmente, ela está bem. E se a minha irmã de coração está


bem, eu não tenho motivos para não estar.
— Quero transar um pouquinho. Esse jantar, como todos que

acontecem aqui, porque os meus pais têm o dom de se relacionar


com pessoas maçantes, está chato! Tenho que relaxar.

— Você é uma peste, Ângela — falo aos risos e me afasto

para dentro da mansão dos Albuquerque.


Tenho a impressão de que tem um par de olhos azuis

queimando as minhas costas, mas não olho para trás. Preciso me

afastar e respirar um pouco.

Embora tenha dito para a minha amiga que iria ao banheiro,


acabo optando por um lugar mais discreto, onde imagino que não

vai ter ninguém para me incomodar nos poucos minutos que preciso

para colocar a minha cabeça no lugar.


Andando rapidamente, dou a volta pela propriedade, até

chegar na parte de trás da mansão, na área onde fica a piscina.

Como eu imaginei, o lugar belo está calmo e vazio.


Paro na beira da piscina, agacho-me na borda e começo a

brincar com a água, passando os dedos para frente e para trás.

Rapidamente, um sorriso se abre no meu rosto quando surgem as

lembranças das tardes de sábados e domingos em que o meu Erick


e eu passamos um tempo com o João na piscina da nossa casa.
São momentos tão felizes que a menor ameaça, mesmo que

não seja real, e eu tenho convicção disso, me tira do eixo. Amo a

minha vida e não saberia viver de outra forma, não quero viver de
outra forma.

A última frase fica fazendo eco, se repetindo na minha cabeça

durante vários minutos.

— Você tem que parar de ser boba e ir buscar o seu homem —


digo em voz alta.

— Eu não sabia que falava sozinha — a voz masculina quase

me faz cair na piscina por causa do susto.


Levanto-me em um pulo, ajeitando o meu vestido preto. Hoje

eu optei por um tomara que caia justo de estampa lisa e acinturado.

O seu comprimento alcança somente a metade das minhas coxas.

Deixei os meus cabelos soltos e com ondas naturais. A


maquiagem é discreta e, segundo o meu marido, me deixa com cara

de menina. Ele não falou como uma crítica, mas eu estou me

criticando agora por não ter passado um batom vermelho.


Se bem que…

— Não falo. Só estou pensando alto — digo, um pouco sem

jeito, para Stefano Castanhão.


Não tenho como agir naturalmente depois ele me mandou

mensagens que eram convites claros para sairmos e foi ignorado.


Na verdade, o cara ignorou totalmente o fato de eu ser uma mulher

casada.

A Irmã, pelo visto, age da mesma forma.


Quando é que eles vão embora mesmo?

— Você ignorou as minhas mensagens — diz.

Ele é bem direto.

Será que pensa que pode tudo, inclusive, ter a mulher que
quiser, só porque é bonito e famoso?

— Ignorei, sim. — Eu também vou ser direta, deixar as coisas

aqui mais óbvias do que elas já estavam. — Eu sei que você está
ciente de que sou uma mulher casada e que, portanto, não posso e

não quero sair com você. A nossa relação foi profissional, ela

começou e acabou no dia em que fotografei você e a sua irmã.

— Nossa, eu não imaginava que as brasileiras fossem tão


bravas — fala com um sorriso de deboche, e um português quase

perfeito.

O cara está mostrando que é igual a irmã, que só foi gentil


porque queria sair comigo.
Incomoda-me o fato de ele estar chegando muito perto de

mim, mas não vou correr, porque posso falar de igual para igual e

me defender de idiotas como esse.

— Eu acho que falamos o suficiente. Se me der licença, tenho


que voltar para o meu marido — falo, tento pensar por ele, mas

Stefano me segura pelos dois braços e me impede.

— Solte-me — peço, me debatendo, mas o agarre é mais


forte.

— Calminha, eu não vou fazer mal para você — afirma ao

perceber que os meus olhos estão arregalados. Estou com medo

agora.
— O Erick Estevan é o seu marido? Eu já tinha ouvido falar do

grande advogado — comenta. O seu sorriso, que antes achei

bonito, agora parece odioso. — Ele tem idade para ser o seu pai.
— Mas não é! — Falo entredentes. — Solte-me, agora! —

exijo, mas não sou ouvida.

— Você é tão linda, Marina. Me excitou desde o primeiro

instante em que te vi — declara, o meu sangue fica gelado. — Não


posso sair desse país sem te provar.

Quando o cara aproxima a cabeça da minha, sinto que o meu

coração parou de bater. No espaço de um milésimo de segundo, me


arrependo de ter vindo até aqui.

Tudo acontece ao mesmo tempo. Eu bato no peito do nojento


com todas as minhas forças, ele encosta os lábios nos meus e a voz

da última pessoa que poderia presenciar essa cena chama pelo

meu nome.

— Marina…
Ele nunca vai me perdoar por isso.

O meu casamento acabou.

O caminho para a infelicidade está aberto.


Os pensamentos acelerados passam pela minha mente e

diante dos meus olhos. Enquanto tudo desmorona, mal consigo me

mover, ou sequer respirar.


CAPÍTULO 4

Se eu não fosse tão devoto a minha esposa, se não a amasse


a ponto de ter noção de que existem pouquíssimas coisas que eu
não faria por ela, não teria deixado que me convencesse que era
importante comparecer a esse jantar.

Ainda me lembro de quando a gente começou a namorar, onde


eu era a pessoa que tinha que ensiná-la que não poderia fugir das
coisas chatas, porém, necessárias da vida. Eu a fiz entender que,

em eventos formais e importantes para os negócios como esse, não


poderia agir como na adolescência em que ficava no quarto, ou se

escondendo pelos cantos.

Marina aprendeu, tornou-se adulta e se adequou de certa


forma à minha vida, assim como eu me adequei a sua. Em

momentos como esse, queria que ela não tivesse aprendido tão
bem. Queria que tivesse aceitado o convite para ficarmos em casa,

ignorando esse jantar.


Como tem coisas que não mudam, tanto eu quanto o meu

sócio deixamos as nossas esposas em segundo plano para os


devidos cumprimentos e conversas necessárias com homens

importantes que foram, ou podem vir a ser, clientes.

Como Marina não se tornou outra pessoa, e ainda é muito


jovem para se interessar por assuntos de negócios que não a

interessam, deu um jeito de escapar, algo que não consegui fazer

antes que outra mulher brotasse ao meu lado.


Carlota Castanhão, a homenageada da noite, é uma mulher

muito bonita, não posso negar. Tem mais de trinta anos, mas não é

a minha mulher e, portanto, me incomoda muito que esteja me


tocando com tanta naturalidade e intimidade.

Tento não ficar tenso e continuar prestando atenção no que os


homens falam, mas é difícil ignorar o perfume forte e os toques nada

sutis. Aposto que todos, embora finjam que não para manterem a

pose, estão notando o que está acontecendo.

O pequeno alvoroço que se iniciou quando a mulher surgiu

acabou, assim como os cumprimentos. A conversa segue, agora

com ela mostrando que entende sobre todos os assuntos falados,


algo bem impressionante, ao mesmo tempo desconcertante, porque
a modelo tenta, a todo instante, tornar a conversa privada quando
se vira em minha direção.

Ela sorri para mim, eu me obrigo a sorrir de volta, mas, por

dentro, estou me questionando onde a minha Marina se meteu, e

porque não está aqui mostrando a quem eu pertenço. Sei que tenta

fingir que não, que se segura muito para não agir como pedem os

seus instintos, mas é ciumenta.


Quando já não consigo mais suportar tantos sorrisos e toques

que não são da minha esposa, giro a cabeça para trás e a procuro.

A alguns metros de onde estou, a chatinha está transando com

os olhos com o Bruno, e a minha esposa está se afastando. Imagino

que esteja indo para a piscina, o lugar ideal para um casal se

esconder e foder. Lugar para onde pretendo ir, porque, depois de ter

sido tocado por outra, o seu toque é tudo o que preciso no


momento.

Estou morrendo de saudade.

Discretamente, despeço-me do grupo com a desculpa de que

vou pegar uma taça com bebida.

Dou um, dois, cinco… dez passos e…

— Erick — ouço Carlota Castanhão me chamando. Sim, ela


veio atrás de mim. Viro-me em sua direção, porque não posso
simplesmente ignorá-la, posso?

— Deseja alguma coisa? — indago com um sorriso simpático.


— Queria conversar um pouco com você, sobre assuntos mais

pessoais do que negócios — fala.


Ela sabe que sou casado. Muito bem casado, então vai
merecer a resposta que terá.

— Perdoe-me pela franqueza, mas a gente não se conhece e


não precisamos falar de assuntos pessoais. Eu vim acompanhado

da minha esposa…
— É muito bonita ela. Mas um pouco jovem para um homem

como você — comenta.


— Se me der licença — digo, e sigo o meu caminho sem dar a
ela a chance de falar mais.

Ansioso, e contente por ter me livrado dos homens e da


modelo, caminho apressado, antecipando o que vou fazer para

convencer a minha pequena de que podemos ter um bom momento


perto da piscina.

O que vejo ao me aproximar é algo para me assombrar pelo


resto da minha vida. O espaço entre uma respiração, uma desilusão
e um coração sendo quebrado.
— Marina — chamo, e não sei se fiz alto o bastante para ser

ouvido, quando outro a beija.


No mesmo instante, a minha mulher o empurra, e devo ser

justo, porque Marina estava tensa e com os punhos contra o peito


do babaca antes de ser beijada.

E apesar de ter certeza de que ela não quis isso, que não iria
trair a mim e ao nosso amor dessa forma, nada me impede de
sentir-me mal. De não saber o que fazer. Mas eu tenho que fazer

alguma coisa, não é mesmo?


Encurto a distância entre nós três sem tirar os olhos da minha

esposa. Ela está com os olhos arregalados, balançando a cabeça


de um lado para o outro, repetindo que não fez nada de errado com
o gesto, enquanto olha para mim e depois para ele. Acho que

Marina espera que o cara fale alguma coisa.


Será que não vê que ele quer mais que ela se foda? Seria uma

forma de se sentir vingado pela rejeição.


Ao chegar, incapaz de desfazer a carranca, paro ao lado da

minha esposa e a abraço pela cintura.


— Quem te deu o direito de beijar a minha mulher? —
pergunto entredentes, sem alterar o tom de voz, mas por dentro

estou fervilhando.
A imagem de outro homem beijando a minha pequena,
infelizmente, vai ficar guardada na minha memória por muito tempo.
— Ela deu mole para mim desde o primeiro instante que me

viu — a sua fala abala um pouco as minhas convicções. Olho para o


lado, a pequena está negando, os seus olhos estão cheios de

lágrimas.
— Não é verdade — diz.
— Fale das mensagens — ele pede.

— Mensagens? — questiono, para ninguém em específico.


— A sua esposinha, que deve estar cansada de ser casada

com um velho, é uma pequena vadia sedutora… — Ele não tem


tempo de respirar quando termina de falar, porque eu perco a minha

razão e dou dois socos no seu rosto. Um de cada lado.


O rapaz de carinha bonita está no chão, com o olhar cheio de
ódio, enquanto limpa o filete de sangue que escorre pelo canto de

sua boca. A minha vontade é de acabar com ele, mas o fato de


Marina estar segurando-me assustada me impede de fazer mais

besteiras.
Se esse babaca abrir a boca sobre o que aconteceu aqui,
amanhã o meu nome estará envolvido em polêmica e circulando em

todos os veículos de comunicação do Estado.


Que se foda!
Não podia ouvir esse idiota sendo desrespeitoso com a minha
esposa. Ele a beijou, porra!

— Se eu ainda tiver o desprazer de esbarrar com você, quero


te ver longe da minha mulher. Se chegar perto, descobrirá que

esses socos foram carinhos, perto do que sou capaz de fazer com a
sua carinha bonita — ameaço.
O cara que foi ousado o suficiente para ofender a Marina não

tem coragem de me retrucar. Eu olho para o lado e vejo a minha

pequena mordendo o lábio inferior, se segurando para não chorar.


Ela está assustada com tudo isso.

Embora queira beijar sua boca até que se esqueça de magoar

o próprio lábio, depois abraçá-la até que se esqueça dessa cena,

não sei como estou me sentindo com tudo isso, então me limito a
tirá-la daqui.

Dirigimo-nos para a saída, porque está claro que a noite

acabou para nós dois. No início da viagem, ela parece perdida e mal
olha em minha direção. Agradeço o silêncio, pois preciso organizar

os meus pensamentos também.

— Ele me mandou duas mensagens me convidando para sair,


mas eu não respondi — diz.
Estava bom demais para ser verdade. Mas eu não tiro a minha

atenção do volante e continuo dirigindo como antes.


— Stefano…

— Não mencione o nome dele — exijo.

— Ele me olhou de um jeito diferente desde o primeiro


instante.

— É claro que olhou.

— Não seja irônico! — exige irritada.

— Eu te perguntei sobre o cara, mas você não achou


importante me falar sobre o que estava acontecendo. O que quer

que eu pense?

— Para o bem da nossa relação, vou fingir que não ouvi o que
quis insinuar, Erick — minha esposa fala. — Mas é curioso que

esteja dessa forma, quando você estava todo sorridente com a irmã

dele, e não se importou em nenhuma das vezes que ela te tocou


naquela rodinha idiota de conversa. Foi bom ficar tão próximo de

uma mulher da sua idade?

— Talvez tenha sido — falo, me arrependendo em seguida

pela mentira.
Frustrado, dou um soco no volante, e assim a conversa morre.

Nenhum de nós dois fala, ou sequer olha na direção do outro até


chegarmos em casa.

Quando guardo o carro, Marina sai na frente sem ao menos

me olhar. Eu mereço ficar para trás, recebendo o troco enquanto


chupo o dedo e babo na sua bunda que, diga-se de passagem, está

linda no vestido que colocou hoje.

Na verdade, a minha mulher era uma das mais lindas do jantar.

Antes de ele se tornar um pesadelo, eu estava muito ansioso pelo


momento em que voltaríamos para casa.

Se tudo tivesse sido diferente, eu teria terminado essa noite

enterrado na sua boceta, ou no seu cuzinho.


Mas as coisas são como são, e apesar de o nosso casamento

não ser perfeito, os nossos desentendimentos nunca são tão sérios.

A gente não fica sem se falar, não desconfiamos um do outro, e nem

trocamos acusações.
Eu fico na minha, apenas observando enquanto Marina se

despede da babá e enche o nosso filho de beijinhos e abraços

apertados. Mesmo quando não estou no melhor dos meus


momentos, aprecio os dois juntos, porque é uma das cenas que

mais gosto de presenciar.

Ela, por sua vez, está focada no filho, fingindo que não estou

aqui. Marina está sendo infantil, mas eu também não agi com a
maturidade que um homem de quarenta e dois anos precisa ter.

Além do mais, não consigo não pensar na cena da boca de


outro contra a sua a cada cinco segundos. Talvez seja melhor nos

mantermos afastados por enquanto, até que a irritação de ambos

passe e não corramos mais o risco de nos ofendermos mutuamente


por ciúmes de pessoas que não valem a pena.

— Vou subir para tirar essa gravata que está me sufocando —

digo, o silêncio é a minha resposta.

No nosso quarto, o cômodo da casa que mais valorizamos,


porque é nele que nós amamos e temos conversas que nos mantêm

em sintonia, faço tudo o que preciso fazer antes de deitar. Passa

mais de uma hora sem que Marina entre no cômodo.


Fico com vontade de ir atrás dela, mas não vou. Os meus

pensamentos e sentimentos estão muito confusos e eu não saberia

o que falar. Pela primeira vez em muitos anos, me deito sozinho. A

ausência da minha pequena causa desconforto dentro do meu


peito.

Tudo sobre o jantar que não deveríamos ter comparecido foi

errado. Ela falou sobre o fato de eu ter estado perto de uma mulher
mais velha. Uma mulher que muitos poderiam dizer que combina

mais comigo. Mas ela também esteve perto, perto até demais, de
um cara que poderia ser mais adequado do que um marido com

vinte anos a mais em idade.

Nos últimos dias, andei pensando algumas vezes sobre o

assunto, talvez pela crise antecipada de meia-idade, e seria até


natural que a cena dela ao lado de um rapaz tão jovem quanto ela

mexesse comigo, que me deixasse mais inseguro, porque estaria

vendo um fato sendo jogado na minha cara.


Mas não foi o que aconteceu. Eu morri de ciúme e quis acabar

com o idiota por causa do beijo, quis porque tenho ciúme da minha

mulher, e teria em qualquer outra situação. Eu olhei para eles e me

senti inseguro, cheio de questionamentos que vinha alimentando.


Quando vi a cena, senti que estava tudo errado, porque a

Marina não é apenas uma mulher mais jovem do que eu, ela é a

minha Marina, a mulher da minha vida. O amor em sua forma mais


plena, que não se importa com idades ou quaisquer outros

obstáculos. Antes de nos casarmos, muitas barreiras surgiram, mas,

juntos, derrubamos uma por uma.

Diferente do que a minha esposa falou, não me importou em


nada o fato de ter estado perto e ter sido alvo do interesse tão óbvio

de uma mulher mais madura do que ela, pois enquanto estava


suportando a conversa daqueles homens, os toques e os convites

silenciosos da irmã do babaca, pensava na minha esposa.


Da minha parte, nunca senti que precisava de alguém que não

fosse a minha pequena, pois mesmo sendo jovem, ela é madura e

companheira, é com ela que tenho as minhas melhores conversas.

E se Marina é o suficiente para mim, porque eu não seria para


ela? Questiono-me sem um pingo de sono, enquanto olho para o

teto.

Não sei o que deu em mim nos últimos dias, mas ainda bem
que estou acordando antes de causar danos ao meu casamento.

Quanto às falas do modelinho, confio cegamente na pequena,

e sei que não correspondeu de maneira nenhuma as suas


investidas. Sobre o beijo? Só preciso beijá-la até que as nossas

bocas fiquem inchadas e dormentes, preciso foder a sua boceta até

ouvi-la gritando que é minha, apenas minha para sempre.

Decidido, levanto-me da cama e, usando apenas uma boxer


branca, rumo para a porta do quarto. Ao abri-la, deparo-me com

uma mulher gostosa pra caralho, vestindo somente um conjunto de

calcinha e sutiã. As suas peças são vermelhas e transparentes nos


lugares certos.
Hoje, o meu pau vai ficar em carne viva, não tenho dúvida
disso.
CAPÍTULO 5

Uma grande bobagem!

Isso tudo é uma grande bobagem, penso, enquanto me olho


na frente do espelho do banheiro que fica no quarto do meu filho.
João, inocente e alheio ao que acontece no mundo dos

adultos, não demorou para dormir. E da forma como o sono parece


profundo, deve acordar só amanhã cedo.
Eu fiquei sozinha com os meus pensamentos irritados pelo que

aconteceu. Não existem motivos plausíveis para estarmos cada um


em um cômodo, brigamos por besteira.
Tudo bem que ele viu um otário me beijando, mas eu sempre

achei que Erick confiasse em mim. Não, eu sei que ele confia em

mim e não acreditou que eu tenha aceitado o beijo, ou dado


abertura para Stefano. Eu também surtei quando o vi com a Carlota,

e também confio que jamais faria algo para me machucar. É por isso

que julgo tudo uma grande besteira.


Eu não sei o que aconteceu com a gente, mas estou certa de

que não podemos deixar que desconhecidos, que não tem a menor
importância nas nossas vidas, nos abale dessa forma.

Eu diria que foi o ciúmes mútuo, mas ele nunca foi um

problema, e não será agora que passará a ser. Erick Estevan é o


meu homem, sempre vai ser, e está na hora de pegar o que me

pertence. De dar a ele o que o pertence.

Com um sorriso satisfeito no rosto, tiro o vestido, pois ele tem


que me ver e entender o que fui buscar no quarto que faz ligação

com esse, o nosso ninho de amor, ou seria da putaria?

Felizmente, eu estava com planos para depois do jantar, então,


a imagem refletida no espelho é de um corpo que ganhou algumas

curvas nos últimos anos, coberto por uma lingerie que deixa pouco
para a imaginação.

Decido sair pela porta convencional, e não pela de ligação,

porque preciso surpreendê-lo. Na frente do quarto, com o coração

disparado, mal tenho tempo de levantar o braço para tocar na

maçaneta, pois ela gira antes e a porta é aberta.

O meu homem gostoso e belo está usando apenas uma boxer


branca, que marca com perfeição o seu pau grande. É impossível

não olhar para ele antes de fitar o seu rosto.


Também deixo que me olhe por um tempo, e gosto da fome
que vejo em seus olhar, que passeia pelo meu corpo, que sempre

está muito consciente dele. Erick me consome, o fato de olhar para

mim já é o suficiente para roubar o meu fôlego. Nunca vou me

acostumar, ou acreditar cem por cento que ele é meu.

O olhar, que se demora mais um pouco na junção entre as

minhas pernas, me faz queimar, depois ele sobe para a minha


barriga, que gosta de morder, e então os peitos, que doem de

vontade de serem chupados pelo homem que nunca se importou

com um pouco de leite.

Quando nós dois nos olhamos de fato, olhares que se

conhecem profundamente, que se buscam de maneira incansável

dia após dia, falamos através do silêncio, pois, no momento,

palavras são desnecessárias.


Juntos, unimos os nossos corpos e as nossas bocas com um

beijo cheio de possessividade, porque queremos gritar através dele

que nos pertencemos.

Na ponta dos pés, aperto o meu corpo contra o seu, porque

parece que não estamos juntos o suficiente. Somos gananciosos e

apressados, por isso o meu homem sobe a mão e aperta com gosto
o meu seio. Eu levo a minha para o seu membro.
Começo a masturbar o meu marido com movimentos de ir e

vir, trabalhando incansavelmente até que esteja duro como uma


barra de ferro entre os meus dedos. A minha boca está cheia

d’água, porque começo a pensar em como seria cair de joelhos e


engoli-lo até que gozasse para mim, mas a vontade de o ter
rasgando a minha boceta é mais urgente.

Tenso com o meu toque, que o tira completamente dos eixos, e


sim, eu consigo muitas coisas dele dessa forma, Erick dá uma

mordida de força moderada nos meus lábios, antes de terminar o


beijo.

Depois tiro a minha mão do seu pau, ele a ergue até o seu
rosto e beija a palma. Como conheço muito bem o meu esposo, sei
que vem dureza depois da suavidade, então não me surpreendo

quando segura com firmeza os cabelos da minha nuca e me obriga


a olhá-lo.

— Quando eu te comer, quando eu rasgar a sua bocetinha,


você vai gritar o meu nome, está entendendo? — exige com o olhar

feroz. — Tem que me dizer com seus gritos que sabe a quem
pertence, quem é o único macho que pode tocar no seu corpo e
beijar a sua boquinha doce.

— Erick…
— Sim, Erick. Eu sou o seu marido e você é a minha esposa, e

ninguém fica entre a gente, porra!


— Ninguém — repito. — As pessoas não podem nos separar.

Temos que ficar juntos — falo com o nó na garganta que se forma


em meio ao tesão, pois não posso nem imaginar a minha vida sem o

meu amor.
— Sempre — falo, um pouco desconcertada de perceber mais
uma vez a que extremo a nossa relação vai.

Não me assusto, porque somos assim e isso sempre nos fez


bem.

Com o pé, meu marido fecha a porta, me pega em seus braços


e me leva para a cama. Ele me coloca sentada, ao invés de me
deitar

— Tire a boxer — peço, afeita, doída de tesão.


Sim tirar os olhos de mim, o meu marido se desfaz da peça,

deixando o membro duro livre para apreciação. Sinto-me derretendo


como cera quente quando o homem de quase dois metros se

ajoelha aos meus pés.


As suas mãos morenas e grandes começam a acariciar as
minhas coxas, e a unidade na minha calcinha se torna notável.

Estou pronta, muito pronta para que ele faça o que quiser comigo.
— Você está cada dia mais linda, esposa — elogia ao afastar
as minhas pernas e colocar se colocar entre elas.
— Não podemos dizer que é graças à academia, não é

mesmo? — provoco.
— Não, pois tenho uma esposa safada, que gosta de transar

tanto quanto gosta de beber água — rebate ao se livrar do meu


sutiã.
Depois da primeira vez que o vi malhando na academia aqui

de casa, e senti tesão por assisti-lo suando e gemendo ao puxar


peso, estou sempre inventando uma desculpa para comparecer aos

seus treinos.
Não só compareço, como arrumo maneiras de fazê-lo transar

comigo no chão, ou sobre um aparelho. As nossas aventuras na


academia são excitantes, apesar de eu mal saber para que serve
cada um.

— Delícia… — a mordida no mamilo, junto com as memórias


que vieram com o meu comentário, me deixam sedenta por mais.

O meu homem está chupando um seio com avidez, enquanto


faz carícias na minha boceta por cima do tecido da calcinha.
Quando a boca desliza para o outro seio, Erick rasga a minha

calcinha da lateral em uma puxada mais forte.


Dois dedos passam a entrar e sair até a metade, pois o
homem quer me provocar, me ouvir implorando por ele.
— Erick, amor… — gemo. — Quero o seu pau.

— Terá em breve, minha gostosa, mas antes vou comer sua


boceta com a boca, porque tudo o que aconteceu me deixou com

fome, sedento para provar do que é somente meu — fala com o tom
de voz gutural.
O meu amor está muito excitado, a cabeça robusta do seu

membro deve estar babando, doida para meter em mim.

— Prove-me — peço. Normalmente, sou sem pudores na


cama, mas hoje estou particularmente safada.

Quero tudo e um pouco mais.

Antes de me atender da forma como sabe que eu quero, Erick

tira lentamente os dedos de dentro de mim e os leva até a boca.


Com o olhar safado, passa a língua em volta, tomando da minha

umidade, e depois os leva para os meus lábios.

Chupo dedos como se fossem o seu membro, sem me


incomodar de sentir o meu próprio gosto. Erick dá mais um de seus

sorrisos sacanas e, antes de cair de boca, literalmente, passa a

língua habilidosa pelos meus lábios, apenas para garantir que vai
me deixar insana de desejo.
Mas até o meu homem mau tem o seu limite do quanto de

desejo reprimido pode suportar, é por isso que ele, depois de


colocar as minhas pernas arreganhadas em cima dos seus ombros,

enfia a cabeça no meio duas e começa a me começar com a boca.

Ele me chupa com maestria e me faz delirar de desejo quando


dá uma mordidinha nos grandes lábios. Depois, uma longa e

molhada chupada, que me faz ir do céu para o inferno, onde as

labaredas flamejantes me fazem perder de vez o controle. Não sou

nada além de tesão. Tudo deixa de existir, menos a gente se


consumindo.

Sem conseguir sustentar o peso do meu tronco com os

cotovelos, deixo-me cair de costas na cama, mas o meu quadril


trabalha, e eu rebolo a minha boceta no seu rosto. Eu, a sua mulher,

a única que pode lambuzar o seu rosto, a única que vai dar prazer

para esse homem que é o sonho de consumo de onze entre dez


mulheres.

— Não pare, porra, eu estou quase lá… — faço uma súplica,

enquanto aperto os meus próprios seios em busca de algum alívio.

— Por favor, faça parar…


Nem sei mais pelo que estou implorando.
— Ainda não, gostosa. Quero estar todo dentro de você,

batendo incessantemente na sua bocetinha quando a encher de

porra — fala com a voz abafada, depois de uma longa e última


chupada.

Depois de vários minutos de sexo gostoso, intenso e suado, tê-

lo gozando dentro de mim todas as vezes é a cereja do bolo.

Felizmente, o anticoncepcional está em dia, pois só ele nos impede


de termos metade de um time de futebol.

Muito maior e mais forte do que eu, tão alto que é

particularmente excitante quando paro para pensar no fato, meu


homem se coloca em pé e ajeita o meu corpo meio sem forças, mas

ainda sedento, sentado na ponta da cama.

— O que pretende… — as palavras morrem porque, muito

rapidamente, entendo em qual posição quer foder.


Erick se senta na ponta da cama e eu subo em cima de suas

pernas. Uma perna em cada lado de sua cintura. O olho no olho

enquanto quico no seu pau e torno o ato mais quente.


Do jeito que estou, poderia apenas colocar a mão entre os

nossos corpos, pegar o seu membro e o colocar de uma vez dentro

de mim, mas sei que gosta de controle na cama, que ele só fica nas
minhas mãos quando Erick quer que esteja. Apesar de ser uma

tortura, espero pelo seu tempo.


Felizmente, o seu tempo é o mesmo que o meu, então o meu

marido, com os olhos desejosos presos nos meus, segura o seu

cacete em riste e faz um gesto com a cabeça para que eu sente.


— Não precisa pedir duas vezes, meu amor — digo no seu

ouvido, depois mordo a sua orelha e só então começo a sentar no

seu cacete. — Caralho! — digo entredentes quando ele entra muito

justo, esticando a minha vagina até o limite para acomodá-lo.


Por mais que estejamos transando quase diariamente há anos,

isso não se tornou mais fácil, pois simplesmente é uma conta que

não fecha: eu sou pequena e o Erick é grande em todos os


sentidos.

Deu para notar que não estou usando o tom de reclamação? É

porque eu não estou reclamando.

Na verdade, eu adoro que a entrada seja dura, que minha


pobre vagina tenha que cortar um dobrado para ter o seu

brinquedinho. E se entra justo na boceta, imagina como é no cu.

Dói pra caralho todas as vezes, como se fosse a primeira, mas


sempre se torna prazeroso, e nunca nego um cuzinho para o meu

moreno.
Quando começo sentar, tirando quase tudo até que fique só a

cabeça robusta, e voltando até tê-lo todo dentro de mim, os meus

peitos se esfregam no seu rosto, as suas mãos apertam a minha

cintura com firmeza.


— Esfola o meu cacete, sua cachorra. Deixe o pau do seu

macho em carne viva, vai?

Erick falando sacanagem na hora do sexo… poucas coisas na


vida são melhores do que isso.

— Senta, bebê. — Até o seu gemido é bonito.

— Assim? — Ao invés de pular no seu pau, fico sentada,

completamente empalada, fazendo movimentos giratórios que sei


que o deixam louco.

Tão louco que meu marido dá um giro de noventa graus, me

coloca de quatro, estapeia um dos lados da minha bunda e começa


a penetrar-me com rapidez, fazendo com que o som da sua pelve

batendo na minha bunda reverbere.

Eu não preciso de muito mais para fazer o que ele me pediu de

maneira tão crua e possessiva antes de começarmos.


— Erick… Erick! — grito pelo seu nome de maneira insana, a

ponto de gozar. — Por favor…


Ele ainda tem forças para me deitar de costas na cama e,

entre as minhas pernas, exigindo que o olhe enquanto me beija, me


leva a um orgasmo intenso com um vai e vem lento e profundo.

Não grito quando a meu corpo começa a sofrer espasmos, e o

seu pau despeja o esperma dentro da minha boceta, pois a sua

língua está namorando com a minha em um beijo sensual, porém,


carinhoso, que destoa do sexo sujo.

Assim que a gente se acalma, Erick deixa que o seu corpo

suado caia em cima do meu e, apesar do peso, gosto de senti-lo


grande, suado e ainda em mim.

O que acaba de acontecer, a forma como está em cima de

mim ofegante, e como gosto que esteja assim, mostra que, apesar
dos problemas que irão surgir, porque a vida não é um conto de

fadas, nós estaremos dessa forma depois que a tempestade passar,

nos amando ou trepando da maneira mais suja.

No final dos dias problemáticos, estaremos aqui, trocando


declarações de amor e posse que só nós dois entendemos, pois

somos assim, é a forma como aprendemos a nos amar.

— Baby… — sussurra ofegante. Tentar sair de mim, mas eu


não deixo e abraço a sua cintura com as pernas.
— Fique mais um pouco — peço, enquanto beijo o pescoço
suado, ainda com os resquícios de seu perfume.

— Sou pesado, querida.

— Não importa, só mais um pouquinho.


Ele me atende, pois também não quer se afastar de mim

ainda. Ainda não. O nosso desentendimento, que já passou, apesar

de uma conversa ainda ser necessária, nos deixou com medo,


precisando mostrar com os nossos corpos, antes das palavras, que

nada pode nos abalar.

Depois de alguns minutos, meu Erick sai de cima de mim e eu

lamento. Ele beija de leve os meus lábios, prometendo que não vai
demorar.

Depois que volta, me pega em seus braços e me leva para o

banheiro. Senta-se na banheira cheia com água morna, e então me


ajeita entre as suas pernas. Durante vários minutos, ficamos apenas

curtindo a hidromassagem em silêncio.


— Quer conversar agora? — ele pergunta.
— Quero — digo, pois embora tenhamos transado, sinto que

não estamos bem, ainda não. — Eu posso começar?


— Fique à vontade, bebê — fala.
Eu estou à vontade, sobretudo, porque estou com as costas
apoiadas no seu peito duro, tendo o bico saliente do meu seio
sovado distraidamente pelos seus dedos.

Essa é uma conversa que precisa acontecer olho no olho, por


isso me viro de frente para o meu Erick. Os seus olhos caem direto
nos meus peitos, mas ele logo volta o olhar para o meu rosto,

tentando se controlar e levar o momento com a seriedade que ele


merece.
— Primeiro, eu preciso que me perdoe por não ter contado que

aquele cara havia demonstrado interesse por mim durante o ensaio


fotográfico. E também por não ter falado sobre as mensagens que
me enviou — falo com sinceridade, pois embora tenha feito com a

melhor das intenções, o inferno está cheio de boas intenções.


— Por que não me contou? — questiona, mas não há
acusação no seu tom, ele só quer me entender.

— Acreditei que era algo tão sem importância que não merecia
a sua chateação. E daí que um cara havia dado em cima de mim?

Não foi a primeira vez.


Pode parecer convencido, mas é a realidade. E apesar da
minha fala, esse episódio não foi igual aos outros, pois eu trabalhei

com o cara.
— É claro que não foi — faz o comentário com um sorriso sem
humor.
— Eu não dei nenhuma abertura, ao contrário do que ele

insinuou. Eu não provoquei aquele beijo, e nem respondi as


mensagens… — as palavras morrem quando noto a sua expressão

mudar. Erick fica mais sério, e até um pouco triste.


— O que foi? — indago. Mesmo que por um momento tenha
se fechado dentro de si, estamos fisicamente próximos, e o ato de

enrolar os braços no seu pescoço é uma forma patética de ficar


ainda mais perto do homem da minha vida.
— Você não pensou que poderia ficar com um cara como ele?

Eu não sou cego sabia? Vi que é bonito, bem-sucedido e jovem.


Talvez você possa ter olhado, nem que seja só por um segundo e...
— Não continue falando, Erick — peço. As suas palavras me

atingem em cheio, agora sou eu que preciso me afastar.


Sem parar para pensar, saio de cima das suas pernas. Pelada,
e com o corpo pingando com água e espuma, ando pelo banheiro

com a intenção de voltar para o quarto, mas o meu marido me


segura com firmeza por trás, me leva para a parede e prensa o

corpo contra o meu.


Erick me abraça, e passa um minuto inteiro antes que um de
nós dois diga alguma coisa.

Como ele pôde… Mas, espera um pouco! Eu estou sendo


hipócrita também, pois morri de ciúme de uma mulher que ficou
muito perto dele e fiz o mesmo questionamento.

Será que ele não se arrependeu de ter se casado com uma


mulher tão mais jovem?

Foi mais ou menos esse o meu questionamento. O que eu


poderia dizer para ele neste momento, depois de termos sido
precipitados?

No fim, faço a única declaração possível, e talvez a única


necessária.
— Eu amo você, Erick.

— Eu sei, mas…
— Não tem nada de “mas”. Te amo como sempre amei, nada
do que falou passou pela minha cabeça. Só tenho olhos para você,

e nunca, ouça bem o que estou dizendo, eu nunca vou querer outra
vida ou outra pessoa. Te amo tanto que chega a doer — falo com os
olhos marejados. E enquanto faz carinho na minha bochecha, ele

também está emocionado.


— Eu fui uma idiota nos últimos dias, amor. Comecei com

inseguranças bobas que não fazem sentido, não quando você


nunca me deu motivos, muito pelo contrário — justifica-se. Eu não
tenho dificuldade para entendê-lo, juro que não tenho. Como

poderia, se o meu teto é de vidro também?


Quando se há um amor como esse, o medo faz parte, ele até
serve para nos fazer valorizar ao máximo o que temos. O medo só

não pode ser um empecilho.


— Eu sei que sentiu ciúme daquela mulher…

— Eu quis tirá-la do seu lado no tapa, mas acho que iria


apanhar — interrompo-o para fazer o comentário, meu marido sorri
e continua.

— Se teve a mesma dúvida estúpida que eu tive, esqueça.


Apesar de o ciúme ter falado mais alto, eu sempre soube. Você é
tudo o que quero, pode aparecer dezenas de Carlotas e, ainda

assim, você continuará sendo a minha escolha. A melhor escolha.


Nunca houve e nunca haverá arrependimentos, meu amor.
Depois do ciúme exagerado que senti naquele jantar, as suas

palavras me deixam leve como uma pluma, eram tudo o que eu


estava precisando ouvir.
Nunca houve arrependimento da parte de nenhum de nós dois,
e algo dentro de mim tem a certeza de que nunca haverá outras
pessoas para a gente.

— Você promete que é só meu, e que sempre será só meu? —


peço sem jeito, mordiscando o lábio.
Apesar das conclusões, preciso ouvir com todas as letras.

— Sempre seu, pequena, assim como você sempre será


minha, porque não pode ser de outra maneira, não quando penso
em você o tempo todo, quando o meu maior desejo em todas as

horas é estar dentro de você — ouvir declarações tão bonitas é


bom, mas ouvi-las de um homem como o Erick, que é lindo e cuja
voz deixa as minhas pernas bambas, é melhor ainda.

— Sinto-me da mesma forma, querido tutor — o tratamento é


para o provocar, pois tenho certeza de que as suas lembranças

voltam para o passado sempre que o ouve, assim como acontece


comigo.
— Quero te comer de novo. Essa conversa fofa me deixou

com tesão — fala, ao pressionar a ereção na minha barriga.


— Você sempre está com tesão perto de mim — aponto, mas
a minha pele já está toda arrepiada por causa da sua mão

acariciando os lados da minha bunda com firmeza.


— Dessa vez, quero o cuzinho — sussurra no meu ouvido,
como se fosse um segredo sujo, um pecado que já cometemos

dezenas de vezes e vamos cometer mais algumas dezenas.


— O meu cu é seu — devolvo com um sorriso.
Assim, depois de uma conversa franca, e no meio de um sexo

anal quente, palavras sacanas e gemidos altos, voltamos a ficar


bem.
Passaram-se quatro anos de um casamento cuja paixão nunca

diminuiu, e vai ser assim por muito tempo, pois queremos que seja,
porque as lembranças do que fizemos para chegar até aqui nunca
nos deixarão esquecer porque vale a pena lutar.
CAPÍTULO 6

Expectativa: não ter mais o desprazer de estar na presença do


tal Stefano e sua irmã mãos de polvo.
Realidade: eu sentado na primeira fila, enquanto o idiota
desfila na passarela com uma sunga colorida e ridícula.

Ao lado da minha esposa, que está com os seus dedos


entrelaçados nos, tenho o prazer de mostrar para o cara que,

apesar da sua tentativa patética, a minha esposa e eu estamos


bem.
A sua cena, e tudo o que deu errado naquela merda de jantar,

teria nos deixado mais próximos e apaixonados do que sempre

fomos, se fosse possível.


Dias se passaram após a nossa conversa no banheiro e a

minha crise de insegurança foi embora. Estou me sentindo como

sempre fui, somos o que as pessoas à nossa volta veem: um


homem de quarenta e dois anos, que é sortudo por ter se casado
com uma jovem mulher que, além de linda e gostosa, me deu um

filho perfeito.
Quando o cara passa na nossa frente e olha rapidamente para

nós dois, ajo como um garoto que quer marcar território, curvo a

cabeça e beijo o pescoço da minha esposa. É uma demonstração


clara de pose, que a minha linda retribui ao beijar demoradamente o

canto da minha boca na vez da irmã do otário desfilar.

Os nossos melhores amigos também estão presentes,


sentados duas cadeiras depois da gente. Ângela perdeu o lugar ao

lado da amiga, porque estava trepando com o Bruno em algum

canto e se atrasou. É claro que eles sabem da nossa pequena crise,


pois Marina não consegue esconder nada da garota a quem ama

como uma irmã. Eu aprendi que não devo contar nada para o Bruno,
porque ele sempre usa os meus dramas para me provocar. Não que

eu seja inocente, pois faço o mesmo com ele.

Assim que o bendito desfile acaba e começa a recepção, fico

com medo de ficar longe de minha esposa e, por isso, tenho

dificuldade de me despedir quando diz que vai ao banheiro. Só não

vou atrás para tentar ficar com ela porque está indo com a chatinha,
a sua gêmea siamesa.
— Deixe-a respirar — o ex-advogado cego provoca. Como um
maldito galã de cinema, Bruno por si só chama muita atenção, mas

é impressionante como parece não perceber, ou então não se

importar, pois só tem olhos para a sua esposa, que surgiu na sua

vida para mudá-la completamente.

— Como quer que eu deixe a minha mulher respirar? Da

mesma forma que deixa a sua? — rebato as suas palavras, porque


gosto de azucrinar o homem que se tornou o meu amigo mais

próximo depois da morte do João.

É estranho pensar que o meu melhor amigo seria o meu sogro,

e mesmo sabendo que seria difícil, daria tudo para que estivesse

com a gente.

— Exatamente! — Ele diz aos risos, sabendo que venci essa.

Felizmente, o público de hoje é mais diversificado, então o


meu sócio e eu não precisamos ficar atuando. Ficamos conversando

amenidades, embora esteja bem claro que nós dois preferimos

companhias melhores.

E por falar em companhia melhor…

Com o seu melhor sorriso, que é uma mistura de maturidade

com a inocência que sempre carregará no olhar, minha esposa


caminha até mim, enquanto conversa distraidamente com Ângela.
Ao me perder nela, acabo tirando totalmente a minha atenção

da conversa que estava tendo até agora. Algo torna o momento


especial, então volto para o passado.

O momento assustador em que a olhei e não a enxerguei mais


com amor fraternal, da forma tinha sido a vida toda. Tive nojo de
mim mesmo, quis fugir dela e de mim mesmo para evitar cometer o

erro que acreditava que seria. Ela era menor de idade, estava perto
dos dezoito, mas ainda não tinha.

E mesmo que fosse maior de idade, era muito mais jovem e,


sobretudo, a filha do meu melhor amigo, a garota que vi crescer que

achei que fosse proteger de todos os babacas do mundo.


Por mais difícil que fosse, preferia acreditar que ficaria tudo
bem, que em algum momento iria passar, mas ela começou a gostar

de mim como homem, e não fazia a menor questão de esconder,


muito pelo contrário.

Para ela, era coisa da adolescência. Qual era a minha


desculpa?

Eu me afastei, até que não pude mais me manter afastado.


Neguei os sentimentos, até que tornou-se impossível continuar
negando.
O meu melhor amigo me pediu para protegê-la, mas eu a fiz

mais do que isso. Ele imaginava que a filha fosse me ver um pouco
como o via, uma figura paterna. O problema é que os seus

sentimentos eram outros. Os desejos eram outros.


O tutor rapidamente tornou-se o namorado. Era estranho, mas

era a melhor coisa que eu já havia feito, porque a minha pequena


me tornava um homem muito melhor. Ela me tornava apaixonado e
dedicado.

Primeiro veio a paixão, que nos fazia arrancar as roupas um do


outro. Era tanto desejo, que muitos de fora poderiam dizer que era

apenas sexo, uma paixão que logo iria acabar. Mas não lutaríamos
como lutamos se fosse apenas sexo.
A convivência, que era quase perfeita, apesar das idades tão

distantes, e o entrosamento sexual diário, nos firmou e mostrou algo


que estava claro para nós dois: era amor, sempre foi amor.

Um amor que passou por muitos obstáculos, o principal deles,


uma mulher obcecada que quase nos tirou um do outro de maneira

definitiva. Estávamos tão bem, tão certos das nossas escolhas que
só a morte poderia nos separar, e ela quase nos separou.
As lembranças ainda causam pesadelos, mas eu acordo com o

seu corpo quente contra o meu e digo a mim mesmo que acabou,
que faz muito tempo que o pesadelo real acabou, que as pessoas
que quiseram nos fazer mal estão presas, apenas no início da pena,
e vão ficar por muito tempo ainda.

Sempre que o passado quer me abalar, lembro-me dos


momentos bons, momentos como esse, por exemplo, da minha

Marina vindo para os meus braços com um sorriso no rosto e os


olhos brilhando. Neste momento, não tem ninguém aqui além de
nós dois.

O meu amigo some e a Ângela desaparece quando seus


braços envolvem o meu pescoço. O seu calor, o seu sorriso e o

cheiro do seu perfume, é tudo o que eu tenho no momento, tudo o


que preciso.

— Você é linda — sussurro no seu ouvido. Poderia dizer que


ela está linda com o seu longo vestido branco, mas para mim é
perfeita todos os dias.

— Pensei em você quando escolhi — diz, olhando


discretamente para os lados. Pessoas circulam e, por enquanto, nos

deixam em paz. — Você é lindo também — devolve o elogio, mas


estou mais interessado no seu vestido.
— Fale mais sobre o vestido — peço.
— Não vou falar. Deixarei que descubra por si mesmo —
afirma, com um sorrisinho safado no rosto.
Sabendo que existem chances de surgirem fotos indiscretas

amanhã cedo, não é uma certeza porque o casal que a mídia ama é
outro, deixo que a minha mão suba da cintura para o seu peito.

— Sem sutiã, amor? — faço a pergunta retórica.


— Está quente aqui — diz, dando a dica, mas não quero
acreditar no que estou pensando. Seria muita sorte para um pobre

homem.

— Na verdade, está pegando fogo — devolvo, então desço as


duas mãos pela cintura, até que elas estejam sobre a sua bunda.

O meu pau ganha vida no momento em que procuro e não

encontro nada que acuse a presença de uma lingerie por baixo do

vestido que deixou o seu corpo mais perfeito do que já é.


As minhas mãos passeiam um pouco mais, e não me importo

muito com o fato de as pessoas estarem vendo que estou tocando a

bunda da minha esposa. Ela também não se importa, senão não


teria tido a ideia de me provocar aqui.

— Será que eu rasguei todas as suas calcinhas?

Não foram tantas assim, mas tem vezes que a urgência é


maior que o cuidado.
— É uma reclamação? — indaga. Ela sabe da resposta, mas

gosta de me seduzir, de me levar ao limite.


Esse é um dos motivos de a nossa relação não esfriar. Nunca

deixamos a chama apagar. Para nós dois, locais proibidos, ou

poucos convencionais, são temperos a mais no sexo.


— Nós estamos em uma recepção, um local cheio de pessoas

polidas que, felizmente, estão nos deixando em paz. Pode ter

alguém nos observando e não se importa de me deixar com tesão.

Agora, por exemplo, estou pensando em…


— No que está pensando? — pergunta, apenas para garantir

que não deixarei de dar a resposta mais sacana possível.

— Quero levantar o tecido do seu vestido até que sua


bundinha perfeita fique desnuda para mim, então vou te colocar de

costas, deixar os dois lados vermelhinhos, e depois vou te comer

por trás. Só sairei de você quando as suas pernas estiverem


bambas.

— Então me come — pede baixinho no meu ouvido, entrelaça

os nossos dedos e me puxa para algum lugar, que não me importa

qual é, desde que me dê o que quero.


Essa fuga faz parte de pequenos momentos da nossa vida,

que é perfeita à nossa maneira. Por mais que momentos como


esses existam, ainda somos os mesmos quando acaba.

Somos os pais que tiveram dificuldade para deixar o filho em

casa com a babá, porque mal suportamos as horas dos dias longe
dele. Somos marido e mulher, que têm suas crises e seus

momentos bons, como todo e qualquer casal, mas, acima de tudo,

somos feitos do nosso amor.

O amor nos moldou. O amor que nos fez crescer é perfeito em


suas imperfeições, assim como a nossa história.

Fim
NÃO RESISTO A VOCÊ
SINOPSE

Considerado o melhor advogado criminalista do país, Bruno


Pires é um homem pragmático e calculista. Apesar de amar a sua
noiva, ama muito mais a ideia de uma carreira de sucesso.

A sua vida muda por completo quando um terrível acidente tira


tudo o que ele mais preza, sobretudo, a independência e a
capacidade para fazer as coisas mais básicas. O que fica é apenas

a sombra triste e amargurada do homem que um dia foi.


Linda e refinada, Ângela não é nada mais do que uma mentira.
Se aos olhos do mundo é a herdeira perfeita, no seu íntimo esconde

segredos, e carrega feridas profundas do passado que nem mesmo


o tempo foi capaz de curar.

Ao se conhecerem, eles encontrarão na intensa relação

motivos para voltarem a sorrir, em um romance que fala sobre


segundas chances, superação e uma paixão irresistível.
PRÓLOGO

Dois anos antes...

— Inferno! — esbravejo, depois de bater com o dedo no


batente da porta do banheiro.

— Ângela, minha filha, que cabelo é esse? — Ouço a voz de

anjo assim que entro no banheiro.

Se o plano era ficar longe de problemas, acho que não estou


fazendo isso direito.

— É você, Marina? — indaga, quando os meus passos

incertos me denunciam. — Ah, é você...

— Desculpa por ter entrado dessa forma. Não sabia que você
estava aqui dentro.

— Não precisa se desculpar — a moça diz sem jeito. — Essas


coisas acontecem.

Por algum motivo, a garota está tentando fazer com que eu me


sinta bem. Não tenho ideia dos motivos para isso, nem sei se quero

saber.
— Quem sabe não foi o destino querendo nos dar uma

mãozinha. — Com os ouvidos apurados, ouço seus passos lhe


trazendo para mais perto de mim. O cheiro gostoso que seu corpo

exala a denuncia sem que eu precise vê-la.

Esse cheiro... Será que é o seu perfume, ou algum hidratante

para a pele?

É um aroma que traz sentimentos desconhecidos. É uma

sensação de conforto e paz, como se depois de uma longa viagem

eu finalmente chegasse ao meu verdadeiro lar. São sentimentos que


trazem medo, pois, há quanto tempo não sinto nada que não seja

vazio e frustração?

A ausência de bons sentimentos me acompanha há tanto

tempo que o fato de uma simples voz e cheiro me trazerem tantas

sensações diferentes me assustam como o diabo.

— Não sei do que você está falando, garota e, por favor,


mantenha-se afastada de mim — aviso de maneira séria, que beira

a grosseria. — Não suporto que pessoas desconhecidas me toquem

da forma como fez mais cedo — esclareço, pois apesar de sempre

ter sido mais reservado, essa característica tornou-se ainda mais

evidente depois do que aconteceu.


A única inverdade nisso tudo é associar a questão ao fato dela
ter colado o corpo ao meu, e me tocado com intimidade agora há

pouco na piscina. Para ser sincero, apreciei mais do que deveria a

sua ousadia de chegar tão perto de mim

— Não te entendo, cara. Eu sou linda, você também é muito

bonito, por que não podemos ficar juntos?

A diabinha não só ignorou a parte em que eu pedi para que

não me tocasse como já está fazendo exatamente o contrário ao

parar na minha frente e, com o seu cheiro hipnotizador, apoiar as

duas mãos em cima do meu peito. Mesmo por cima da blusa, sinto o

calor do seu corpo através do toque.

— Não fale besteiras. Além de ser convencida, você também é

fútil? — pergunto mordaz, porque nada me tira mais do sério do que

pessoas que não veem além das aparências. Antes eu era

exatamente esse tipo de pessoa, mas a vida tratou de ensinar da

maneira mais cruel possível que nem sempre a aparência, ou classe


social, diz muito sobre caráter.

— Você não me conhece. — Por um momento, a sinto

fraquejar, mas isso muda quando se apoia em mim com mais

firmeza. Subindo as mãos para o meu pescoço, ela continua a falar.


— Para de ser ranzinza, são só alguns beijinhos e um sexo gostoso.

Prometo que depois te deixo em paz. — Fica mais perto, sinto seu
peito espremendo-se contra o meu.

Tenho a sensação de que, de repente, o lugar ficou mais


quente do que uma sauna. Começo a suar como se tivesse corrido

meia maratona.

— Solte-me Ângela! — falo pela primeira vez o seu nome e

gosto de como o som sai da minha boca. — Para de ser oferecida.

Levo as mãos até as suas e as tiro do meu pescoço.

— Eu não quero você. — Solto as suas mãos, me aproximo do


seu rosto a ponto de sentir a respiração ofegante. — Garotas fáceis

não me atraem.

Na verdade, estou muito atraído por essa chatinha, e isso não

pode continuar. Ela não é qualquer uma que eu posso comer e virar
as costas no dia seguinte. Tem muitas coisas em jogo nessa

equação. Ela é a melhor amiga da Marina, que é a mulher do meu


amigo mais próximo. Ou seja, vamos nos esbarrar muito por aí.

— Não me acha bonita o suficiente para você, é isso? —


Insistente, Ângela pega as minhas mãos e leva até o seu corpo.
Meu pau fica duro de maneira instantânea quando sinto suas curvas

com os dedos.

Primeiro ela me leva para os seios cheios, que são capazes de


encher as minhas mãos, em seguida, passa por sua barriga plana e,
finalmente, para na bunda durinha e aparentemente perfeita.

— Garota... — Intencionalmente, tira as suas mãos de cima


das minhas, e não tenho forças para soltar a carne macia.

— Por que não tira esses óculos e me deixa ver os seus


olhos? — Sem que possa impedir, a menina irritante desnuda os

meus olhos e, surpresa, diz: — Eles são lindos.

— Para de ser idiota! Por que não diz a verdade? — Em um

segundo, me afasto do seu corpo e, cambaleante, dou vários


passos para trás. Para longe da tentação.

A vida já me tirou demais para eu começar a desejar o que não


posso ter.

— Cego! Eu sou cego, porra! Será que você não tinha


percebido? — pergunto, mordaz.

— Eu não... Eu...eu
— O que foi? A sua vontade de dar a boceta sumiu de
repente?

— Eu não sabia. — Sua voz parece sincera, mas isso não


muda nada.

— Agora já sabe — falo, decidido a acabar com essa cena


ridícula. — Mais uma vez: fica longe de mim. Não te quero, você
não me atrai nem um pouco.

— Não é isso que o seu amigo pensa — diz, irritada.

— Normal, meu pau fica duro para qualquer puta que aparece
se oferecendo. — Sou cruel, pois já não sei agir de outra forma. —
Então, se não quer a sua vidinha perfeita completamente destruída,

nunca mais apareça com esse tipo de abordagem.

— Eu quero que você se foda, seu desgraçado — responde


furiosa. Acredito que seja pelas ofensas, mas também pela rejeição.

Posso nunca ter visto o seu rosto, mas imagino o quanto deve

ser linda, e nada acostumada a ser dispensada como foi agora.

— Desejo o mesmo para você, baby — digo por fim, virando-


lhe as costas.
Sem os meus óculos, saio do banheiro com a sensação de que
as coisas não serão como antes. Agora eu tenho boas memórias.
Tenho um cheiro, uma voz de anjo e lembranças de um corpo

perfeito. Memórias de algo que jamais terei, pois a vida tratou de


levar de mim a opção de escolha.

— Ângela. — Caminhando o mais rápido que a minha


condição permite sem que ocorra um acidente, experimento o seu
nome na minha boca pela última: — Anjo.
CAPÍTULO 1

ÂNGELA

— Me conta, o que você andou aprontando nos últimos


meses? — Marina pergunta, com a sua enorme barriga de sete

meses. Barriga que não era para estar tão grande assim, tendo em
vista ela ser uma pessoa magra e pequena.

Como nos velhos tempos, estamos reunidas na sua mansão,


trancadas dentro do seu quarto, pois o Erick prefere assim. Sim,

sempre o Erick! Ele vê uma simples dor nas pernas — algo normal
no estágio de gestação em que ela está — como uma sentença de

morte. A minha amiga não poderia estar mais saudável.

— Nada que mereça ser contado — digo uma meia verdade.


— O que de tão interessante eu poderia ter feito em um país como a

Grécia?

— Não sei. Diz você que fugiu para lá e ficou mais de quatro

meses.
Fugir. Marina usou a palavra adequada para o que eu fiz nos

últimos meses. Eu me mandei, fugi de um destino mais do que certo


e de uma realidade em que não posso nem mesmo decidir sobre a

minha própria vida.

— Nada demais, sua curiosa. — Solto os seus pés, que mais

parecem duas bolas, que até então recebiam uma massagem muito
bem-feita por mim, a rainha das massagens. — Fiz vários passeios,

comi nos restaurantes mais caros, e foi só isso mesmo. — Prefiro

não entrar em detalhes.

É isso, ou confessar a parte da bebida e do sexo com

desconhecidos. Caras que já não estavam ao meu lado no dia

seguinte.

— Eu vou fingir que não te conheço, sua doidinha. Vou

acreditar que a única coisa que fez foi passear e comer.

Marina realmente me conhece, afinal, são anos e anos de


amizade, mas não conhece tão bem quanto imagina.

Ninguém me conhece, ou se interessa em ver além das

aparências.

— Vamos mudar de assunto, por favor — peço, ela se ajeita na


cama pela milésima vez, como se nenhuma posição fosse
confortável o suficiente para a sua circunferência.

— Tudo bem, vou te deixar em paz, por enquanto — avisa, eu

acredito.

Marina é de insistir e lutar pelo que deseja, tanto que hoje está

casada e esperando um filho do cara que sempre desejou. O


homem que quis quando nem eu mesma levava fé nos seus

sentimentos por ele, muito menos que Erick um dia daria uma

chance.

Eles se entenderam. Agora agem como adolescentes que

começaram a namorar ontem, não como dois adultos que estão


casados há dois anos. Se um dia a relação deles me incomodou,

hoje não sinto nada além de contentamento por ver que a minha

amiga alcançou a felicidade almejada.

A Ângela de hoje já não tem inveja, ou esperança de ter pelo

menos um terço da felicidade que a amiga merecidamente vive. A

Ângela de hoje não lembra em nada a de anos atrás. A menina que


ousou sonhar com o “felizes para sempre”, e que recebeu como

resposta o desprezo do único homem que tinha a real possibilidade

de tornar a fantasia em realidade.

Só uma fantasia idiota de uma garota mais idiota ainda.


— Graças a Deus, mulinha empacada. — Brinco com ela, que

mais uma vez muda de posição.

— Vai ficar para almoçar, não é? — pede, fazendo uma

carinha toda meiga. Não que precise, Marina é toda meiga, mesmo
que não se veja assim. É o meu oposto em quase tudo, e como os

opostos se atraem, nos tornamos praticamente irmãs desde a


primeira vez em que nos encontramos. — Você saiu do país duas

vezes em pouco tempo... Sinto a sua falta.

— Pensei que o seu amado Erick te bastasse, senhora


Estevan.

— Estou falando sério, chatinha — fala, e nós duas rimos do

apelido besta que Erick colocou e ficou. — Fica? O Erick já deve


estar chegando do escritório.

— Está bem, eu fico, mas é só porque você insistiu muito.

Somente dessa forma ela consegue convencer-me a vir até

aqui. Se antes eu tinha prazer em sair de casa para passar um


tempo ao seu lado jogando conversa fora, agora me esforço ao

máximo para não correr o risco de esbarrar com o Bruno por aqui.

O Bruno que eu já tinha esquecido da existência durante os


dois anos em que ficou fora, mas que, meses depois da sua volta,
acabou sendo um dos motivos para me fazer sair do país por quatro

meses.

Voltar a vê-lo depois do episódio do banheiro foi como reviver


a rejeição e as palavras duras ditas. Sentir as pernas trêmulas e o
coração acelerado cada vez que os seus lindos olhos azuis me

fitavam. Parecia que eles podiam desnudar a minha alma.

É até irônico ter esse tipo de sensação com ele, o homem que

não é capaz de enxergar, que tão friamente me dispensou.

— Que bom que vai ficar. Quer olhar as novas roupinhas do

bebê? — pergunta.

Marina está tão feliz e empolgada com a chegada do bebê que

o seu esporte favorito é mostrar tudo que compra e ganha. Sei de


tudo, porque mesmo não estando por perto, Maya e Marina fizeram

questão de me deixar a par de todos os detalhes do eminente


nascimento do meu afilhado.

— Quero, sim, querida. — Levanto-me do sofá, vou até a cama


e ajudo a grávida a se levantar. Acho que é muita barriga para

pouca Marina. — Mas não vamos demorar, porque estou morrendo


de fome.
— Quando é que você não está com fome? — Ela brinca a
respeito de um assunto recorrente entre nós.

— Só quando estou dormindo, senhora Estevan — digo, e nos


dirigimos para o quartinho montado para o bebê, que faz conexão

com o quarto do casal.

Eu realmente como mais do que aparento e, sim, o meu


estômago parece ser um saco sem fundo, que vive rugindo em

busca de comida. O bom disso tudo? As toneladas de arroz e feijão


não vão para a minha barriga. Felizmente, os privilegiados são

meus seios e a bunda.

Ao contrário das mocinhas dos romances eróticos que a

própria Marina me fez gostar, ao ponto de não viver mais sem, não
acho que tenho mais peito do que devia. A bunda maior do que o

necessário.

Sou diferente das tontas, pois me sinto feliz por ter tais
atributos. Acho meus seios lindos, do tamanho ideal para ficarem

bonitos nos decotes que gosto de usar, e a bunda não fica nada mal
quando estou dentro de um jeans apertado. Por onde passo só ouço

elogios do quanto sou linda e sensual.


Se é só o que veem quando me olham, por que não posso me
aproveitar disso?

O tempo passa e nós duas nem percebemos, só notamos que


já é meio-dia quando a governanta bate na porta para avisar que o

almoço já está na mesa, e que o Erick chegou com uma visita.

— Visita? Marina, por que não me disse que teria outra pessoa

além de nós duas e o seu marido? — indago um tanto quanto


afetada.

Não é como se eu fosse uma pessoa tímida, jamais.

Para ser sincera, sou a pessoa menos tímida desse mundo.

Ser reservada e menos popular do que a Marina, por exemplo, não


faz de mim a jovenzinha recatada que finjo ser dentro de casa.

Significa que não tenho paciência para gente chata e vazia.

O que faz soar um alarme mais barulhento que a sirene de

uma ambulância é imaginar quem seja o tal convidado.

— Deixe de bobagem, amiga, é só o Bruno, não uma estrela

de Hollywood. — Ela termina de guardar as últimas peças de roupas

no closet do meu neném e dá de ombros, como se o meu rompante

fosse uma grande besteira.


Realmente é uma coisa sem importância. E daí se o cara que

me deixa com a periquita em chamas está lá embaixo e,


provavelmente, mais lindo e gostoso do que nunca com aquele

porte alto, braços fortes, cabelos pretos e os olhos azuis mais lindos

que já vi na minha vida?

Tudo bem que os meus também são azuis, mas quem fica na
frente do espelho se admirando e atribuindo para si o título de mais

linda do pedaço? Eu fazia isso? Fazia! Mas foi antes de arrancar os

óculos do rosto perfeito e ver de perto olhos tão perturbadores.

— Estamos falando do mesmo Bruno?

Por favorzinho, diga que não!

Não passei meses fora para dar de cara com o responsável

pelo maior e único fora que levei na vida, e também o protagonista


dos meus sonhos eróticos mais picantes, na primeira oportunidade

que surge.

— Sim, o Bruno, o mesmo que você disse que um dia seria

seu. — Marina, que para coisa que não deve tem a memória de um
elefante, termina de arrumar a bagunça que fizemos enquanto

namorávamos as coisas do bebê. Ela vem para perto de mim e fica

aguardando uma resposta para a provocação.


— Você ainda se lembra disso? Pelo amor de Cristo, falei essa

bobagem há dois anos. Eu era uma boba, me iludia com facilidade.

— Não é mais? Só se passaram dois anos. Não foram dez —

assevera.

Qual é o problema da Marina? Quer ficar me lembrando de

coisas que prefiro esquecer?

— Dois anos é tempo o suficiente para apagar o fogo no rabo

— desdenho do que senti na ocasião, pois para Marina o meu


interesse se resume a essa frase e suposições que não teve

confirmação, e nem vai ter.

Marina, depois de muito insistir, ficou sabendo do encontro no

banheiro, mas é tudo que sabe. As merdas faladas entre nós dois,
ela jamais saberá. E se a minha gravidinha supõe alguma coisa, tem

por base a minha frase infeliz e ao fato de o clima ficar um pouco

estranho sempre que eu e o gost... Bruno estamos no mesmo


ambiente.

— Não me confunda com a sua sócia, a Sol. Essa, sim, não

deve ter superado o pé na bunda.

Meto a outra na conversa. Nunca fui com a cara da mulher


perfeita. Pode ser inveja e ciúme por ela ter tido a chance que não
tive com o Bruno? Pode. Mas nunca vou admitir isso em voz alta.

— Olha essa implicância! O nome dela é Lua. — Marina avisa,


eu penso que só não tenho ciúme da relação delas porque sei qual

é o meu espaço na sua vida e o quanto a nossa ligação é forte. É a

irmã que eu não tive. — Ela não superou, mas está quase lá. Basta

que o Bruno não se aproxime novamente.

Ele não vai! É assim que eu quero. É assim que as coisas vão

ser!

Não! Deleta esse pensamento, brigo com a voz chata e

inconsequente que vive dando palpite dentro da minha mente. Essa


voz ainda arde pelo homem que me chamou de oferecida.

— Tomara que se casem — debocho. A responsável pela frase

é a minha voz da razão. Ela não aparece com muita frequência. —


Esse Bruno aí, apesar de gato, não me importa nem um pouco.

— Tudo bem, não está mais aqui quem disse o contrário. — A

barrigudinha levanta as mãos em rendição. — Estamos esperando o

que para descer?


CAPÍTULO 2

BRUNO

— Não durma, Bruno, estamos quase chegando em casa, só


mais um pouco... — digo a mim mesmo em voz alta, enquanto os

faróis dos carros que circulam nessa noite chuvosa quase cegam.

Eu devia ter ouvido a minha mãe quando me pediu para não


ficar trabalhando até tarde. Já passa da meia-noite, estou exausto e
quase dormindo ao volante. Esse é o preço que se paga para ter o

título do mais jovem advogado criminalista a ser considerado o


número 1 na lista da Forbes.

— Merda! — Atendo o meu celular que volta a tocar, e

continuo dirigindo com uma mão só. — Oi, amor — cumprimento


Carolina, minha noiva há mais de dois anos.

— Onde você se meteu? — indaga em um tom de irritação. —

Está desde cedo sem dar notícias, esqueceu que hoje é o

aniversário da mamãe?
— Perdão, querida. — Prevejo a briga e tento de antemão

acalmá-la. — Não foi por mal, estou trabalhando em um processo


complicado e acabei perdendo a hora — minto, pois apesar de não

ter lembrado que teríamos um compromisso hoje, a minha

permanência além do horário no Pires Advogados e Associados foi


premeditada.

— Você sempre perde a hora, não é mesmo, Bruno? — A

estrada difícil pela forte chuva que cai e o barulho dos trovões não

são suficientes para abafar o som furioso de sua respiração, muito


menos da sua voz. — Afinal, o trabalho vem sempre em primeiro

lugar.

— Não fale isso, querida, só estou pensando no nosso futuro.

— Acabou, Bruno. Cansei da sua falta de atenção, das suas

desculpas. Vou tirar as minhas coisas do seu apartamento. Por

favor, não me procure mais. — Desliga o telefone na minha cara.


Irritado, acelero ainda mais, louco para chegar em casa e conversar

com Carolina. O nosso relacionamento não pode terminar assim.

— Vai, porra! — Bato no volante como se ele fosse capaz de

criar asas e sair voando até o meu apartamento. — Só mais um

pouco, se mantenha acordado. — Na minha mente passa um


turbilhão de sentimentos, é adrenalina misturada com exaustão, um
sono fora de propósito, onde meu corpo cobra a conta dos vários

dias sem o descanso necessário. Tudo em nome do trabalho e de

uma grande causa que nem estava fora do prazo.

Em um milésimo de segundo, ou um minuto, talvez, a minha

atenção já não está mais na direção do carro, na estrada alagada


pela chuva torrencial. Tudo que me lembro é de uma luz se

agigantando sobre mim. Um baque muito forte, o veículo capotando

várias vezes e depois disso mais nada, apenas escuridão. A

escuridão que vivo até hoje.

— Meu caro, Bruno — ouço o barulho da porta e a voz do

Erick cada vez mais próxima da minha mesa, interrompendo a


lembrança que me persegue dia após dia, incansavelmente.

Detalhes do fatídico dia, em que me lembro de cada pormenor como

se fosse hoje, apesar dos cinco anos decorridos.

Queria muito poder eliminar da minha mente cada uma dessas


lembranças, fingir que aquele Bruno nunca existiu, que sempre fui

isso aqui, o homem que aprendeu a conviver com as suas

limitações. Que vive para o trabalho e não espera nada da

vida, apenas que ela passe da melhor maneira possível.


— Algum motivo especial para ter descido até aqui? — Vou

direto ao ponto, sabendo pelo arrastar da cadeira, geralmente


posicionada à frente da minha mesa, que ele acabou de se sentar.

— No andar dos reles mortais?

— Não posso vir até a sala do meu amigo, jogar conversa

fora? — brinca com o seu bom humor que, às vezes, chega a ser
irritante.

Erick nem sempre foi assim, isso se deve à sua jovem esposa,
Marina Junqueira Estevan. A mulher do cara está prestes a lhe dar
um filho e ele jura que todos têm de estar sorrindo para as paredes.

É claro que eu estou contente, afinal, sou o padrinho de casamento


do casal, mas também não é para tanto.

— Diga logo o que quer, Erick, te conheço e sei que é prático

demais para entrar aqui sem um motivo — digo, pois apesar de


tudo, Erick não perdeu completamente o seu jeito pragmático de ser.

— Não gostaria de almoçar lá em casa? Marina tem um

comunicado para fazer, e sua presença é mais que bem-vinda, diria


que é necessária.

— Não tem como quebrar essa para mim? Hoje estou atolado
de processos aqui... — Pego um deles e balanço contra o ar na
tentativa de parecer mais convincente.

Eles estão sempre me incluindo em seus programas familiares,

eu sempre arrumando desculpas esfarrapadas e nunca conseguindo


me safar.

— Poxa, foi a Marina quem insistiu, vai mesmo fazer essa

desfeita com uma mulher grávida?

— Tudo bem! Eu vou, mas é só por causa do bebê, não quero


ser o responsável por nada — digo, e nem sei se minha recusa
mudaria alguma coisa na vida da mãe ou da criança, mas é melhor

não arriscar.

— Ela vai ficar feliz — diz o pai do ano.

— Vamos? Ou está esperando a hora do jantar? — pergunto

ao tocar os ponteiros do meu relógio de pulso, notando que já passa


do meio-dia.

— Não sabia que estava com tanta fome, Bruno. — Arrasta

mais uma vez a cadeira, presumo que está se dirigindo para a porta.

— Tenho pressa de me livrar de você. — Tateio a mesa e


acompanho os seus passos.
Apesar do constante tom de provocação entre nós, Erick é
uma pessoa que admiro muito, um homem que sempre me tratou de
igual pra igual. Não cheio de dedos, como algumas pessoas ainda

fazem, mesmo sabendo que estou longe de ser o pobre cego


indefeso.

— Vai com o motorista, ou prefere ir de carona? — pergunta,


assim que o elevador apita.

— Aceito a carona, de qualquer forma, teremos que voltar. A


menos que pretenda tirar o resto do dia de folga — comento ao

entrarmos no elevador, aparentemente vazio.

— Ainda tenho algum trabalho para fazer hoje. Não se

preocupe, sua carona de volta está garantida.

— Perdi até a fome pelo medo de ficar sozinho e me perder

pela cidade — brinco, e ele começa a sorrir.

Após uma viagem curta até a mansão onde Erick mora com a

esposa, adentramos a sala silenciosa.

— Tem certeza de que a Marina está nos esperando para o

almoço? — Desconfiado, e acostumado com o ambiente, conto vinte


passos até chegar ao sofá.
— Ela deve estar lá em cima com a chatinha. — Erick termina
de falar e meu coração dá um salto mortal dentro do peito.

— A Ângela está de volta ao país? — Depois do nosso


encontro no banheiro, os próximos que tivemos foram embalados

por uma enorme tensão.

— Voltou, sim. — Meu amigo confirma a sua volta, depois de

meses fora.

Não que eu tenha contado o tempo, pois apesar de me


despertar certo sentimento, o que a chatinha faz e deixa de fazer

não é da minha conta. Sei da sua vida porque Erick e Marina fazem

questão de mencionar o nome dela a cada oportunidade que temos


de estarmos reunidos. Eles me contaram que depois dos nossos

poucos encontros Ângela foi para a Grécia e só voltou agora.

No casamento dos nossos amigos, onde fomos obrigados a

estar muito próximos por sermos os padrinhos do casal, a aberta


hostilidade entre nós dois foi percebida por qualquer um que

estivesse por perto. O que ninguém sabia, era que por baixo da

aparente antipatia mútua, e o fato de mal conseguirmos ficar no


mesmo ambiente, existia a menina rejeitada e o homem que a

rejeitou.
O homem que, ao contrário dela, levou do infeliz encontro mais

que o sentimento de raiva. Ficaram também as lembranças que nem


o tempo foi capaz de apagar, uma pequena chama do que não

aconteceu, mas que eu daria a vida por uma prova.

Um único beijo. Apenas um toque, reviver a sensação da pele

macia nas minhas mãos. Sentir o seu cheiro, o som da sua voz,
desejos que passei mais de dois anos tentando esquecer, varrer

para o fundo da minha mente. Um esforço que eu não diria ter sido

em vão, já que obtive certo êxito. Tudo vai por água abaixo quando
ouço o nome dela.

— Por que não mencionou que ela estaria aqui? — indago

desconfiado para um Erick que acaba de se sentar do meu lado.

— Não achei que seria uma informação relevante para você.


Eu estava errado?

— Não, Ângela não me interessa em nada — aviso.

— Eu disse alguma coisa nesse sentido? — Erick pergunta.

Sei que pensa exatamente o contrário do que acabei de negar, que


só não faz nada a respeito porque me conhece bem demais para

saber que essa, sim, seria uma péssima ideia.


Nós dois, e até Marina, se soubesse do que aconteceu,

concordaria que eu e a princesinha com voz de anjo juntos seria a

receita certa para o desastre.

— Não. — Limito-me a negar. Não preciso do Erick e da sua


mulher imaginando coisas que não existem.

— Senhor, o almoço já está na mesa. — Ouve-se o aviso.

— Avise para a minha esposa, por favor? — Erick pede para a

governanta, eu volto a ficar apreensivo.

Que grande bobagem.

E só uma garota!

Meu corpo pode até gostar dela, mas eu não. Particularmente,

não tenho apreço por ela, e apesar de não ter tido tantas
oportunidades de estar na sua companhia, as poucas que tive não

me causaram boas impressões.

Eu sou linda, você também é muito bonito, por que não

podemos ficar juntos?

Como pode ser convencida?

— Meu amor, ainda bem que chegou. — Ouço passos

apressados, depois barulhos dos beijos típicos do casal açúcar. Eles


estão sempre se agarrando.

— O que foi que eu falei sobre descer as escadas correndo?


— Pelo tom de bronca, presumo que ainda estão vestidos.

— Eu tentei segurar, mas você sabe como essa barrigudinha

é.

Essa voz... Tão doce e sexy ao mesmo tempo. Eu queria

poder...

— Bruno, que bom que você veio. — Cheia de empolgação,

Marina se aproxima e dá um soquinho no meu braço. — Não vai

cumprimentá-lo, Ângela? — indaga para a amiga. Tenho certeza de


que faz com a intenção de me avisar que ela está presente.

Como se fosse possível ignorar o que não saiu da minha

mente depois de anos.

— Desculpa a minha indelicadeza — fala mansamente, não


me dando tempo para prever as suas ações, quando percebo, a

mulher se jogou na minha frente, tão colada quanto é possível. —

Tudo bem, Bruno? Voltei, sentiu a minha falta?

A cena termina com ela tentando se equilibrar na ponta dos


pés — sei, pois cabe a mim tentar impedir que caia—, e dando um
beijo na altura do meu pescoço.

— Tudo ótimo.

É só o que consigo dizer. A cena deve ter durado um segundo

para todos, mas para mim foi uma vida.

Essa pele macia... O mesmo cheiro que a minha mente


gravou.

Não respondo a segunda pergunta, é melhor assim.

— Ótimo. — Tão rápida quanto veio, Ângela some dos meus

braços. Como se nada tivesse acontecido, ela diz. — E esse almoço


sai? Estou faminta.

A pergunta da garota me faz pensar em outro tipo de fome.

Definitivamente, eu estou muito fodido. Ou ela está.

Se mantenha afastada, garota, eu não quero machucar você.


CAPÍTULO 3

ÂNGELA

— Porra, eu vou explodir. — Constato um fato quando


terminamos de almoçar e nos dirigimos com as nossas taças com

bebidas para a sala.

Não existe nada melhor do que jogar conversa fora de barriga


cheia.

— Sempre comendo demais, não é mesmo, chatinha? — Erick

provoca, algo que se tornou comum entre nós dois.

Se no início da relação dele com Marina nós não conseguimos


nos entender de jeito nenhum, hoje nos damos tão bem quanto

cunhados postiços poderiam se dar. Entendi que, se ele faz minha

melhor amiga tão feliz, não tenho motivos para continuar com a
implicância de antes.

— Você sempre falando demais — devolvo a ironia. Como eu

disse, nós nos tornamos amigos, mas não significa que trocamos
nossas personalidades.

— Vocês dois! Não comecem — Marina pede, segurando a

barriga como se ela fosse fugir a qualquer momento. — Querem


assustar o Bruno? — indaga, me deixando consciente da presença

que eu estava quase conseguindo ignorar.

Quase

Não tem como esquecer por completo do Bruno com seu


cheiro bom e olhos lindos.

— Precisa de muito mais do que provocações entre o Erick e

uma garotinha para me assustar — diz, todo antipático. Como se


fosse o dono da casa, caminha com estranha firmeza até o sofá de

uma sala que não é sua e se senta bem no meio do estofado.

Marina e Erick, como o belo par de siameses que são, se


acomodam no estofado de dois lugares. Tenho apenas duas

opções: ficar em pé, ou me sentar ao lado do idiota de olhos azuis.

— Está falando de mim?

Propositalmente, sento-me ao seu lado, tão colada quanto é

humanamente possível sem que esteja em cima do seu colo.

Bem que eu queria.


O pensamento irritante vem, colocando meu amor-próprio e o
fogo no rabo lado a lado, onde obviamente o fogo no rabo vence,

pois quando se trata desse homem, perco completamente a

compostura e deixo meus instintos me guiarem. Instintos que não

podem vir à tona, não quando sou duas pessoas: o meu verdadeiro

eu, e a Ângela que finjo dentro de casa. Um ambiente onde as

minhas escolhas nunca foram aceitas.

— Estou, chatinha — responde, virando o rosto na minha

direção. É como se os seus belos olhos estivessem me enxergando.

Ele não se afasta um centímetro sequer da minha invasão ao seu

espaço pessoal.

Será que vai se importar se eu me sentar no seu colo?

— Fico feliz de saber — falo com falsa simpatia.

Não vou negar que a sua frieza e distanciamento me

incomodem, mas isso não tem a ver com a leve atração que sinto,

só não gosto de me sentir invisível para ele.

— Não é comovente ver como nossos amigos se dão bem? —

A voz sarcástica do Erick chama a minha atenção para o fato de não

estarmos sozinhos no recinto. Também não é surpresa ver que o


futuro papai tem Marina em seu colo, enquanto acaricia a barriga

redonda.

— Para, Erick. — A traidora repreende o marido, mas não

consegue esconder o sorriso. Será que somos uma piada? — Não


percebe que os dois estão tentando se entender?

Tentando nos entender? Marina só pode ter bebido suco


batizado com titica de galinha. É isso, ou ela está...

Não! Minha amiga não pode acreditar que eu e esse coração


de pedra estamos com uma espécie de tensão sexual.

Não estamos! Ele nem ao menos gosta de mim ... E nem eu


dele.

— Não é nada disso — falamos em uníssono, deixando os


dois aos risos.

— Querido, não quer subir por alguns minutinhos? Meus pés


estão muito inchados, preciso que dê aquela massagem que só

você sabe fazer. — Assim que termina, Marina lança o seu olhar de
quem está aprontando. Eu devolvo com um que diz:

Se prepare, seu cupido de meia tigela, o que é teu está


guardado.
— Faço, sim, meu amor. — Com o máximo de cuidado, Erick a

tira de suas pernas. Quando Bruno vai se levantar, Erick o


interrompe.

— Pode esperar por um instante, Bruno? A carona ainda está


de pé, mas antes preciso dar um pouco de atenção para a minha

mulher.

— Não demore, por favor. Tenho muito trabalho para fazer no

escritório — pede, sem paciência, voltando a acomodar as costas


no estofado cinza da mansão.

— Está bem, Bruno. Quando você chegar, o seu querido


escritório e os seus amados processos ainda estarão no mesmo

lugar que os deixou há algumas horas.

Ele fala de igual para igual, não como um superior com o seu

subordinado. Nota-se de longe que antes de serem companheiros


de trabalho, eles são amigos.

— Vai se foder! — Meu gato reage.

— Com certeza eu vou, meu caro...

— Eu ouvi isso, Erick. Sou cego, não surdo. — O moreno fala,


mas Erick está mais preocupado em subir as escadas com Marina,
que está mais ansiosa para chegar ao antro de safadeza do que
estava na hora de descer para o almoço.

— Não vai embora, Ângela — grita do alto da escada. — Ainda


tenho algumas coisas para te mostrar.

— Tudo bem, querida.

Tenho tempo de falar, antes que o som dos passos do casal

vinte suma por completo.

— Já foram — ele diz. Será que se deu conta de que estamos

a sós?

Não que isso signifique alguma coisa, considerando o fato de

ele estar visivelmente incomodado com a minha presença. Se não


tivesse combinado a carona com o Erick, já teria arrumado uma

desculpa para fugir.

— Eu vi... quer dizer, percebi. — Começo dando uma bola fora,


ele fica ainda mais carrancudo.

— Não precisa se corrigir, garota — mordaz, Bruno me

repreende. — Você viu e eu percebi, é assim que funciona. Não


precisa pisar em ovos todas as vezes que nos encontramos.
— Eu não faço isso — defendo-me, antecipando o que virá a
seguir.

— Você acabou de fazer. — Como ainda estamos colados, ele


aproxima o rosto bem perto do meu e continua. — Esse tipo de

atitude faz com que eu goste ainda menos de você.

Suas palavras são tão duras — apesar de eu merecer por não

saber agir de outra forma que não seja a mais idiota possível
quando estou ao seu lado. Mesmo assim, ter seu rosto tão próximo

do meu faz com que eu fique parada, apenas admirando a beleza

dos seus olhos azuis.

— Amo os seus olhos. — Sem pensar, faço o elogio. Também


sem pensar, levo a mão até o seu rosto, fazendo o gesto de carinho

que há muito tempo desejo fazer. — Não usa mais os óculos

escuros?

— Uso, sim — fala ao tirar a minha mão do seu rosto e a


devolver calmamente para cima das minhas pernas. — Por favor,

não volte a me tocar. Nós já falamos sobre isso, ou será que

esqueceu? — Faz questão de lembrar do episódio que me causa


vergonha.
— As lembranças ainda estão claras como água na minha

memória — revelo. — E na sua?

— Apenas o necessário. Não aconteceu nada de especial para

que fosse inesquecível.

— Teve momentos que pareceu gostar muito do meu toque,

disso você lembra? — indago, notando que nós dois continuamos


sentados lado a lado.

Ele está ereto com as duas mãos em cima das pernas e

olhando para frente. Eu, como não me aguento, continuo com o

corpo virado em sua direção. Os meus olhos não deixam de admirar


a beleza que não combina nada com a personalidade intragável.

A cena por si só é bem interessante, já que o nosso

comportamento corporal esconde a animosidade das nossas


palavras. Se alguém adentrasse o recinto agora, teria a falsa

impressão de uma conversa amigável entre um casal de amigos,

não da realidade em que estamos prestes a pular na jugular do

outro.

— O meu pau gostou de quando você — coloca ênfase no

você —, de maneira ousada, e agindo contra as minhas palavras,


me tocou sem autorização. Levou as minhas mãos até o seu corpo,

que estava praticamente desnudo.

— Você, ou o seu pau, isso realmente não importa. Só não aja

como se o que aconteceu fosse algo sem importância, que não


causou nada além de irritação em você, pois nós sabemos que não

é verdade — desabafo o que vinha entalado na minha garganta

durante todo esse tempo.

Eu preciso falar, ou jamais superarei a lembrança do encontro


que, vez ou outra, permeia os meus pensamentos. A cada uma

delas fico me perguntando o porquê de ele agir na defensiva quando

estamos próximos.

Ele me quis, mesmo negando veementemente, sei que quis


me beijar, tocar, passar as mãos fortes pelo meu corpo.

— Acredite no que quiser, mas saiba que a verdade é somente

uma, eu não te quis no passado, apesar da ação involuntária do


meu membro, continuo não te querendo agora. Você não é tão

irresistível quanto acredita.

— Belas palavras, grande advogado. — Enquanto ele continua

falando no seu tom de voz normal, sem fazer grandes movimentos


corporais, eu já perdi de vez a compostura — se é que essa palavra
existe no meu vocabulário quando não estou presa na mansão dos

Albuquerque.

Na tentativa de fazê-lo engolir tudo o que disse, fico de joelhos

sobre o sofá, com o corpo inclinado sobre o seu que começou a

ficar tenso. Aproximo a boca bem perto do seu ouvido e peço:

— Prove. — O senhor olhos azuis vira o rosto na direção da


minha voz no mesmo instante em que afasto o rosto do seu ouvido.

Tal ação nos deixa com os rostos muito próximos, com as bocas

praticamente unidas. A sua respiração faz com que um calor infernal


suba por todo o meu corpo, e o desejo de ser dele pelo menos uma

vez volta à tona.

— O que disse? — indaga contra a minha boca.

— Prove que não me quer. Eu quero que você me beije,


Bruno.

Faço o pedido com todas as letras, sabendo que posso me dar

mal e sair muito machucada, mas também com a certeza de que

essa será a última vez. O ponto final para uma cisma sem propósito.
CAPÍTULO 4

BRUNO

Prove que não me quer. Eu quero que você me beije, Bruno.

Como num passado distante, a voz ecoa na minha mente,


misturando-se com o cheiro que me enlouquece e a presença que

não consigo ignorar. Fico perdido em uma realidade onde,


surpreendentemente, fui pego de surpresa, onde não tenho certeza
de como e nem se devo agir.

— Você não devia pedir isso, garota — digo sem querer me


afastar minimamente do seu corpo que, pela proximidade, deve

estar quase em cima do meu.

O que eu não daria para que o quase se tornasse uma

realidade...

O pensamento me invade, já não tenho como negar o que


tanto tentei reprimir no tempo em que fiquei fora do país. Cada

encontro me mostra o quanto esse sentimento não é algo que eu


consiga controlar, não se apenas estar ao seu lado faz com que eu

tenha desejos de cometer loucuras.

Eu me sinto muito atraído por Ângela Albuquerque. Contra


tudo o que penso e preciso para a minha vida tão bem planejada, a

chegada desse furacão é um risco para a minha sanidade mental.

Para o meu coração que há muito tempo não sabe mais o que é
desejar algo a ponto de perder o controle sobre os próprios atos.

— Não? — indaga, destemida. Tão próxima que consigo sentir

seu seio firme se apertar contra o meu braço. Se a tentação já não


fosse grande o bastante, Ângela decide ir mais longe. — Pensei que

uma garotinha como eu não fosse capaz de assustar você, não foi

isso que disse? — Sinto a sua mão pousar no meu peito, iniciando
movimentos circulares que me permitem — mesmo por cima da

camisa — sentir o calor do seu toque delicado.

— Não assusta — falo uma meia verdade. Mesmo que seja


verdade, o tesão que estou sentindo neste momento me faz querer

correr a léguas de distância, apenas para me ver livre da tentação.

Da sensação de estar prestes a cometer uma loucura. — Apenas

acredito que você não precisa disso.


— Disso o quê? — Interrompe o carinho e já não sinto o seu
corpo tão colado ao meu.

— Se oferecer dessa forma, como uma prostituta barata —

digo. Por reflexo, viro o rosto na direção de onde está o seu, mas

não tenho tempo de impedir o soco certeiro bem no meio do meu

nariz. Ela pode até ser delicada, mas bate como um homem.

— Caralho! — esbravejo e toco no lugar agredido. Sinto um

líquido quente e viscoso começando a escorrer.

— Meu Deus, Bruno! — A pequena agressora puxa os meus

dedos, que até então cobriam o meu nariz. Suponho que está
verificando o resultado do seu ato impensado. — Fica quieto, vou

dar um jeito nisso. — São as suas últimas palavras. Depois, tudo o

que consigo ouvir são os sons de seus passos ficando cada vez

mais distante.

Inferno de garota louca!

Mas eu bem que mereci. Não devia ter a ofendido de uma

maneira que nenhuma mulher merece ser.

Porra! Ela é uma Albuquerque, filha de Tarcísio e Mara

Albuquerque, um dos casais mais ricos e influentes da grande São


Paulo. O que diria o rei da Hotelaria se soubesse o que acabou de

acontecer aqui?

A princesinha oferecendo o que o meu corpo está doido para

aceitar, mesmo contra os comandos da minha mente.

A princesinha de mão pesada, socando forte o suficiente para

conseguir tirar sangue do meu nariz.

Aliás, por que os pensamentos me agradam tanto, quando


deveriam me deixar irritado?

Não deveria ficar encantado por ver quão bem ela consegue

se defender, menos ainda por mostrar que sabe o que quer quando
me persegue sempre que pode com tanto fervor.

Depois que saí da fase da adolescência, tomei ciência do


quanto o meu corpo e aparência chamam a atenção do sexo

feminino. Sempre usufruí das armas que tenho e nunca precisei de


muito para ter a mulher que desejo. Talvez, esse seja o principal

motivo que me faz rejeitar as mulheres que se tornam caçadores ao


invés de caças.

Com Ângela é diferente. Por isso fui capaz de ofendê-la de


forma tão dura. Tudo para esconder o quanto a sua ousadia e
confiança me enchem de tesão. O quanto o seu cheiro — que nunca
fui capaz de esquecer — traz à tona o cru desejo que senti há mais

de dois anos.

Uma vontade louca de enrolar suas pernas — que imagino


serem lisas e macias — na minha cintura, prensá-la entre o meu
corpo e uma parede e fazer o que o instinto do momento pedir,

mesmo sabendo que pode ser a maior merda que já fiz na vida.

— Prontinho. — A voz melodiosa volta a preencher o

ambiente, tirando-me subitamente do meu devaneio. Para esconder


a evidente ereção, pego a almofada que usava como apoio para as

costas e a coloco em cima das minhas pernas.

— Me deixa ver como está o seu nariz.

Ângela puxa minha mão. Pelo movimento corporal e


proximidade do seu corpo, suponho que esteja na mesma posição

de antes, sobre os joelhos, perigosamente próxima.

— Porra! — reclamo como um bebê, assim que a sinto

encostar a bolsa de gelo no meu nariz dolorido.

Por incrível que possa parecer, agora a garota pressiona o

gelo com uma delicadeza que em nada lembra do caminhoneiro que


há pouco me socou com toda a força do seu punho.
— Perdoe-me por isso — pede.

O hálito doce pela bebida está bem próximo do meu rosto,

assim como os peitos, que pressionam meu braço e fazem as


minhas mãos formigarem de vontade de apertá-los entre os dedos.

— Parece que não sangrou muito, mas está bem vermelho. Eu


não devia ter te socado. — Ela se martiriza.

— Não devia — concordo.

— E você não tinha o direito de me tratar como tratou. Mas

não se preocupe, não vai voltar a acontecer. Não quero te


importunar mais, muito menos ter o tipo de atitude que tive — fala,
resignada.

Eu deveria ficar contente com a sua decisão. Não era o que eu

queria?

Então, por que me sinto tão incomodado ao ouvi-la afirmar que


não pedirá beijos, que não conduzirá minhas mãos por todas as

curvas do seu corpo?

— Me perdoe por tê-la desrespeitado — digo. Com o nariz


menos dolorido, e satisfeito com o toque delicado, me sinto mais
confortável para falar. É até irônico, considerando que foi ela quem
causou tudo isso.

— Não deveria ter te ofendido — finalizo e, por instinto, talvez


esperando que sinta e perceba a sinceridade do meu pedido, giro o

corpo na direção do seu. Seguro a cintura fina e, nos deixando


frente a frente, eu sentado de lateral e ela de joelhos, contínuo:

— Você não age como uma prostituta, menina. Você é como


um anjo e não deve se aproximar, muito menos se interessar por

mim. Seja para apenas um beijo, uma noite de sexo, ou um caso

sem compromisso, você merece mais, muito mais do que um

homem como eu tem a oferecer.

— Não se deixe enganar, Bruno, não sou um anjo, apesar do

que possa parecer. — A sua fala me deixa curioso.

Ela não agiu com a pureza de tal divindade nos encontros que

tivemos ao longo dos anos, mas, por alguma razão, algo me faz
enxergá-la dessa forma.

— Para mim você é, mesmo querendo me beijar a cada

oportunidade que aparece — brinco.

— Você é lindo e me atrai. Como não gosto de passar


vontade, quis provar se é tão bom quanto parece. — Ângela é
sincera e gentil ao abaixar a mão que pressionava o meu nariz. —

Pronto, está um pouco vermelho, mas acredito que não vai inchar.

Com a mão gelada, toca o lado esquerdo do meu rosto. Ao

aproximar o seu, faz um gesto de carinho e deixa um beijinho bem

próximo do local atingido.

— Ângela... Eu não...

— Desculpa. Sei que não curte toques sem autorização.

— Não é isso... Quer dizer, realmente não gosto que invadam

o meu espaço pessoal. Mas com você as coisas são diferentes —

admito.

— Diferentes?

— Sua proximidade não me incomoda como acontece com as

outras pessoas, e apesar de não enxergar o seu rosto, tudo o que

sinto sobre você me atrai — confesso, talvez seja melhor assim,


deixar tudo esclarecido entre a gente. — A maciez da sua pele nos

meus dedos — começo a enumerar, fechando a mão em punho, me

impedindo de tocar seu rosto para sentir com os meus dedos se é


tão linda quanto imagino e falam. — O cheiro do seu perfume, o

som da sua voz...


— Então, por que não podemos...

— Porque não é o suficiente, os desejos do corpo não podem

prevalecer ao comando da mente, é ela quem sabe até onde posso

ir, o que quero e o que não quero para mim. Sobretudo, o que não
posso mais ter.

— Não entendo, Bruno. É tão triste isso que você está

dizendo.

— É a minha realidade há mais de cinco anos.

— Tudo bem, nós podemos pelo menos ser amigos? —

indaga, fazendo movimentos bruscos do meu lado.

O distanciamento dos nossos corpos revela que já não está

na mesma posição de antes. Agora, a sua perna encostada na


minha passa a impressão de dois amigos em um papo corriqueiro.

Não um homem e uma mulher chegando à conclusão de que é

melhor manterem as roupas no lugar, não se atracarem no meio da

sala de seus amigos. Não foderem até caírem aos frangalhos,


porém satisfeitos por aplacar o desejo de anos.

— Prefiro que não fique um clima chato entre nós quando

estivermos juntos, ainda mais agora que vai acontecer com mais
frequência.
Ela tem razão. Depois que fomos convidados e aceitamos

sermos os padrinhos do bebê dos nossos amigos, teremos que


aprender a conviver bem um com o outro.

— Também não quero traumatizar o nosso afilhado — afirmo.

— Não vou mais te pedir pra me beijar — Ângela promete.

— Não vou mais sentir vontade de te beijar — devolvo.

— Não te obrigarei a passar as mãos pelo meu corpo. — Aí


está uma promessa de tempos sombrios.

— Deixarei de desejar ter o seu corpo perto o suficiente para

que tenha a chance de te ter novamente me conduzindo por cada

pedacinho dele.

A cada promessa dita por nós, fomos nos aproximando um do

outro. Sem que eu saiba como aconteceu, tenho a mão apertando

sua cintura com possessividade, nossos peitos colados e os rostos


tão juntos que bebo do calor da sua respiração alterada, assim

como ela bebe da minha.

— Vai ser doloroso.

— Não me importa.
— Vou destruir você, mesmo que eu não queira te machucar,

pois é isso que me tornei.

— Não deixarei que faça isso.

— Vou morrer se não te beijar, se não sentir a doçura dos seus


lábios...

— Anseio por isso... Me beija, Bruno.


CAPÍTULO 5

ÂNGELA

Não passou uma hora inteira da minha promessa de não pedir


mais que me beije. Minutos atrás, decidimos ser amigos para o bem

do nosso afilhado e, no entanto, aqui estou eu, PEDINDO PARA


SER BEIJADA.

Mas agora é diferente. O Bruno finalmente admitiu que me


quer com o mesmo fervor que o desejo. A sua admissão veio

acompanhada de promessas nada animadoras. Senti que ele estava


querendo me dizer algo nas entrelinhas, mas, como a ótima teimosa

que sou, prefiro me apegar na parte prazerosa disso tudo, na

realidade em que eu e ele estamos, pela primeira vez, conseguindo


conversar de verdade.

Nada de alfinetada, ou fugas mútuas.

— Eu não deveria admitir, chatinha, porque você já é

convencida demais sem isso, mas a verdade é que venho


desejando o seu beijo há muito tempo, mais tempo do que seria

confortável admitir.

Bruno — sem afastar os nossos corpos — diz tantas coisas


maravilhosas que para mim fica difícil decidir qual me agrada mais.

Saber que o nosso interlúdio provavelmente o marcou da

mesma forma que marcou a mim é um alento para a minha alma,


me faz perceber que não passei anos com uma lembrança que para

ele poderia não ter significado nada. Agora eu sei que nunca estive

sozinha com essa fixação.

Embora possa parecer estranho para outras pessoas, fico feliz

de estar me chamando pelo apelido carinhoso. Mas quem fica feliz


quando é chamada de chata?

Bom, essa pessoa sou eu, Ângela Albuquerque de Mendonça.

Quando Erick usou o apelido pela primeira vez, o fez para me

ofender. Ele não tinha uma boa impressão de mim, assim como eu

não aceitei bem o seu namoro com a minha amiga. Hoje, depois de

termos construído uma boa relação de amizade, não me incomodo

com o tratamento. Pelo contrário, eu gosto porque sei que é usado

apenas por duas pessoas, e elas me amam e me aceitam como

sou.
— Bruno. — De antemão, tenho ciência de que é uma
pergunta boba e arriscada para se fazer, mas sou incapaz de

controlar a minha língua grande dentro da boca. — Você acha que

sou chata?

Quando vejo o sorriso se formando na sua boca, tenho a

confirmação de que realmente foi uma pergunta idiota.

— Não, particularmente.

— Como assim? — Ultrajada, afasto minimamente o rosto do

seu, preocupada com questões idiotas ao invés de beijar, algo que

quero mais do que a próxima respiração. — Só têm duas


alternativas para essa pergunta. Sim, ou não — pressiono.

— Achava você difícil, não vou negar.

Ok, já esperava por isso, porque apesar de ter dado indícios

da atração física no dia do nosso encontro no banheiro, ele também


não escondeu a falta de paciência para as bobagens que saíram da

minha boca.

— E agora?

— Acho que ainda não tive tempo de formar uma opinião,


considerando que a senhorita fugiu do país — diz, apertando o
braço em volta da minha cintura, me deixando quase em cima das

suas pernas. — Mas saiba que gostei muito da forma como se


defendeu, mesmo que o atingido tenha sido o meu nariz.

— Gostou? — Mudo drasticamente o tom da conversa,


esquecendo-me completamente da indagação anterior. Foda-se se

me acha chatinha ou não, prefiro acreditar que, como os meus


amigos, ele o usa como forma de carinho.

— Mais do que você imagina — confessa e, com a mão livre,


joga a almofada que cobria seu colo no chão. — Tenho tesão por
mulheres fortes, decididas, e que sabem se defender — elogia. —

No momento, sinto tesão por você — afirma, referindo-se apenas ao


presente.

Não fico muito chateada por mim, afinal, não sou uma

adolescente que fica criando altas expectativas baseadas na


atração mútua, mas fico um pouco triste, pois sei que Bruno impõe
esse distanciamento por motivos misteriosos, que eu daria tudo para

saber quais.

Mais do que ter momentos fugazes de prazer, gostaria de

conhecer a pessoa, Bruno Pires. Conhecer a história por trás do


advogado de sucesso; descobrir o que o faz sorrir, se é que ele

ainda sabe como fazer isso.

— Estou vendo, nem precisava me falar — brinco, assim que


meu foco volta para o presente e meus olhos decidem checar o que
tanto ele escondia debaixo da almofada.

— Perdoe-me por isso — pede. — Não posso controlar essa


parte. — Mesmo não podendo ver meu rosto corado, meu silêncio e

respiração alterada devem estar denunciando onde tenho a minha


atenção.

— Não precisa se desculpar, na verdade, eu nem sei o que fiz


para merecer tamanha honra — digo.

— Estou falando sério, Ângela — reclama e, pela primeira vez,


Bruno faz um gesto espontâneo de carinho ao aproximar o rosto do

meu. Depois ele dá uma mordida no meu pescoço, em seguida o


lambe para acalmar o lugar.

— Eu também estou. — Desvio o olhar do seu colo e volto


para o seu rosto, que tem os olhos azuis fixos em um ponto

qualquer atrás de mim.

A vontade de ficar admirando o seu belo rosto por horas a fio é


quase irresistível.
— Sabia que você fala muito? — questiona. Não vejo como
uma crítica, ele está apenas tentando me provocar. — Daqui a
pouco o casal desce e nós teremos perdido a nossa chance — diz.

— Não podemos ir para um lugar mais reservado? — Dou a

dica, torcendo para que ele entenda o convite.

— Não existirá local mais reservado para nós dois, Ângela. —


Joga o balde de água fria sem dó nem piedade. — Um beijo,

lembra? Foi isso que você pediu.

— O que acontece se gostar mais que devia? E se sentir


vontade de ir além do beijo? — Meu lado convencido fala mais alto
quando pergunto.

— Sei que vou gostar muito, meu anjo, mas isso não quer
dizer nada. Com você sei exatamente até onde ir. Para o bem da

minha sanidade mental, preciso saber.

— Tudo bem, somente um beijo, aqui e agora.

Digo o que ele quer ouvir e acreditar, mas nem por um


momento tal ideia passa pela minha cabeça.

Se o beijo for bom e tivermos a química que aparentemente


temos, não vou deixar Bruno escapar. Não vai fugir novamente para
as colinas.

Com a criação que tive, passei a vida sendo privada das

minhas vontades. Hoje, mais madura, tendo me acostumado a viver


com a sensação de me sentir sufocada e pressionada por todos os

lados, aprendi a ser destemida, a não desistir do que desejo. Se é


ele quem desejo, vou até o fim.

Terei de Bruno tudo o que quero, ele não vai resistir ao


chamado dos nossos corpos, mesmo com a sua boca negando.

Exploraremos a atração sexual que vem nos perseguindo até que

seja completamente saciada.

— Sim, meu anjo, um beijo.

— Nada mais que isso — assevero sentido um delicioso

arrepio quando a mão forte segura a minha coxa e a puxa para cima

da sua perna esquerda.

Agora, sentados desajeitadamente, virados de frente um para


o outro, Bruno e eu estamos em uma tão deliciosa quanto perigosa

proximidade. Mais um pouco e estarei sentada sobre as pernas

fortes, sentindo com o corpo a potência da impressionante ereção.

— Uma prova. — Bruno fala baixinho no meu ouvido. Em


seguida, ele afasta a cabeça, desce a boca até minha e dá uma bela
mordida no meu lábio inferior. — Anjo.

— Bruno... — chamo o nome como uma prece. Não tenho


tempo de falar mais nada, pois ele põe fim no falatório ao abocanhar

os meus lábios.

No início, tanto eu quanto ele ficamos alguns segundos em um

beijo superficial. Não envolvemos nada além dos nossos lábios,


saboreamos o gosto um do outro e, puta que pariu! Ele tem os

lábios mais macios que já provei.

Logo de cara, decido que é mais fácil o inferno congelar a me

contentar com um mísero beijo. Esse homem precisa ser meu!

Como se o pensamento ligasse um gatilho, resolvo esquentar

mais as coisas. Após envolver as duas mãos na nuca dele, tomo o

controle do beijo e empurro pouco a pouco a minha língua dentro da


boca experiente. Bruno, tão envolvido quanto eu, também parte para

o ataque e envolve a minha língua com a sua.

No ambiente silencioso, o único som que se ouve é o das

nossas bocas trabalhando. Um ruído de salivas sendo trocadas.

— Porra, Ângela...
Com uma mão me segurando com força — a ponto de quase

me ter sobre o seu colo — Bruno leva a outra até a parte de trás da

minha cabeça, puxa os cabelos da minha nuca e, com a voz


abafada por ter os lábios colados aos meus, fala:

— Tão bom... Irresistível...

— Só mais um...

— Necessito te sentir, de todo o seu corpo...

Louca de tesão por ver a sua boca deliciosamente úmida pela


voracidade do nosso beijo, sou surpreendida quando, com uma

manobra rápida demais — considerando sua condição —, Bruno

inverte drasticamente nossas posições. Ele me deita de costas

sobre o estofado, em seguida deita seu enorme corpo sobre o meu.


Como o cavalheiro que é, equilibra seu peso com uma mão, ao

passo que a outra inicia provocativos movimentos na lateral das

minhas costelas.

— Melhor assim. — Abaixa a cabeça. Como se estivesse


farejando o cheiro do meu perfume, enfia o nariz no início do decote

que a blusinha deixa em evidência. — Esse cheiro...

— Seu toque... — digo, levando a mão novamente para os


seus cabelos.
— A voz de um anjo...

— O gosto do seu beijo... — sussurro e inclino a cabeça para


aproveitar melhor a delícia do beijo no meu pescoço.

— Eu não resisto a você... — Volta a abocanhar a minha boca

com sofreguidão. Querendo forçar mais contato entre os nossos

sexos, enrosco as pernas no seu quadril, quase indo à loucura com


a intimidade.

— Tão bom. — A sua voz sai abafada. Bruno faz leves

movimentos com o quadril, esfrega o pau duro contra o meu centro

pulsante.

— Vamos para outro lugar, Bruno, só dessa vez — imploro.

— Só dessa vez — confirma, mas nem dá tempo de

comemorar a minha conquista. O som de passos denuncia que

seremos pegos.

— Merda! — Bruno esbraveja, para de me beijar e tocar. Não

sei o que posso fazer além de lamentar que tudo tenha acabado

rápido demais.
CAPÍTULO 6

BRUNO

O som dos passos cada vez mais audíveis me impedem de


cometer a maior loucura dessa fase da minha vida. Devo agradecer

a quem quer que seja a pessoa responsável pela interrupção.

— Eu não acredito, vou matar o Erick — reclama baixinho, não


escondendo a frustração, enquanto, com cuidado, tiro meu corpo de
cima do seu.

Ainda tonto de desejo, ajeito-me como posso, para em seguida


tatear seu corpo com a mão. Encontro o seu braço e a ajudo a

sentar.

— Bruno... — A voz melodiosa sai meio rouca e, se a situação

fosse outra, mandaria tudo para o inferno e continuaria de onde


paramos.

Pena que as coisas são como são e não tenho como me dar

ao luxo de agir por impulso, não mais do que já agi.


— Desculpa, pessoal. — A voz que invade o ambiente é do

Erick, mostrando que ela tinha razão na sua suposição. — Sabem


como a minha pequena está manhosa nesses últimos meses... —

Com a rapidez de quem desceu as escadas correndo, meu amigo

fala com empolgação, mas logo se interrompe para perguntar:

— Está tudo bem aqui? — Parece estar desconfiado. Imagino


que está parado bem à nossa frente, analisando os nossos rostos à

procura de alguma resposta, ou um indício. É assim que os

advogados agem. — Ângela?

— Por que não estaria? — Parece que, além de frustrada, o

meu pequeno anjo também está irritado.

Meu pequeno anjo, de onde saiu isso?

Porra! Não posso ir por esse caminho, simplesmente não

posso.

Se fosse uma garota qualquer, eu poderia simplesmente

explorar a porra dessa atração e depois seguir em frente, assim

como fiz com Lua — minha última namorada — e com todas as

outras que passaram pela minha cama depois do acidente.

O que fode com a minha vida é o fato dela ser quem é. A


Ângela, por conta dos nossos amigos, e até mesmo pelo que
acabou de acontecer, merece muito mais do que posso dar.

Se não posso ser o que ela merece, é melhor que não

tenhamos nada além dos beijos que acabamos de trocar.

Tenho a resolução na minha mente, mesmo sabendo que a

chatinha não gostará nem um pouco.

— Ei, não precisa morder. Foi apenas uma pergunta, não a

acusação de um crime. — Erick se defende da braveza da gatinha

de unhas afiadas. — A Marina pediu para você subir.

— Tudo bem. Bruno, será que poderíamos...

— Suba para falar com a sua amiga, Ângela — corto, pois sei

o que pediria e o que eu diria. — De qualquer forma, acabaremos

nos esbarrando novamente. Não é o que tem acontecido desde o

dia em que nos conhecemos?

Falo com frieza, insinuando que não haverá encontros entre


nós sem que envolva os nossos amigos e os nossos compromissos

como padrinhos do bebê. Espero ter passado a mensagem correta

para que esqueça o que acaba de acontecer, assim como eu farei.

Sei que estou sendo um babaca, mas estou fazendo mais por
ela do que por mim. Antes eu só queria proteger a minha alma
quebrada, mas depois que a tive nos meus braços, fiquei mais

convicto que estou fazendo o que é certo, pois alguém como ela não
merece um homem pela metade.

— Tem razão, até qualquer dia — fala sem emoção na voz e,


aparentemente, consegui o meu intento. Pena que estou longe de

me sentir contente e aliviado pela decisão tomada.

Apesar do que possa parecer, para mim vai ser muito mais

difícil. Se antes as lembranças já não eram tão nítidas e me faziam


questionar se algumas nuances não eram frutos da minha
imaginação, inventadas para preencher lapsos de lembranças que

meu subconsciente lutava para manter vívidas, hoje sei que a


realidade é muito melhor do que lembranças distantes.

— Vai me contar o que aconteceu aqui? — Erick pergunta,

assim que o som dos passos da Ângela desaparece.

— Não sei do que você está falando. Aqui não aconteceu nada
que mereça ser mencionado. — Levanto-me, tirando do bolso o

bastão guia — que eu reluto em usar. Só o uso em situações


emergenciais, como agora que quero fugir da curiosidade e

perguntas invasivas de Erick Estevan.


Não que eu o julgue por isso, sei que a pergunta dele não se

trata de mera curiosidade. É uma preocupação genuína pela melhor


amiga da sua esposa. Se não fosse por isso, seria pelo fato de

Ângela — apesar de parecer forte e destemida — ter alguma coisa


que invoca o instinto protetor nas pessoas.

— Tudo bem, mas fecha a blusa — pede. — Os três primeiros


botões estão abertos.

Merda! Em que momento Ângela fez isso que não percebi?


Por outro lado, seria difícil me concentrar em algo que não fosse

comer a sua boquinha gostosa.

A lembrança vem e, irritado, termino de abrir o bastão.

— Eu realmente tenho assuntos urgentes para tratar no


escritório. Se pudermos ir agora, agradeço — falo sério.

Só agora que estou de costas me lembro da ereção que


carrego. Torço para que o homem não tenha reparado em mais

nada depois dos botões abertos.

— Está legal, vou pegar as chaves. — Ouço o seu caminhar

apressado, então saio para o jardim, aproveitando o pouco tempo


que tenho para dar um jeito na minha situação.
— Prontinho, meu caro. — O tempo da sua demora foi o
suficiente para conseguir o meu intento e, mais uma vez, a tática de
pensar em situações nojentas — ao invés de lembrar do sabor e do

cheiro da gostosa da chatinha — conseguiu atingir o objetivo de


fazer o grande soldado dormir novamente.

Durante o trajeto, permaneço em silêncio, perdido em


pensamentos. Não tão perdido assim, já que o irritante tamborilar de

dedos no volante denuncia a impaciência e o pedido silencioso de


Erick para que eu diga alguma coisa.

Ele sabe, de um jeito, ou de outro, sabe que aconteceu alguma


coisa entre Ângela e eu. Se não fosse o seu jeito irritantemente
observador para coisas que não lhe dizem respeito, às nossas

reações nada naturais quando ele entrou teriam nos entregado.

— Eu não resisti — despejo, não aguentando o barulho dos


meus próprios pensamentos. Erick também não desistiria de saber o

que fiz com a menininha indefesa.

— Como assim, não resistiu, porra? — A voz está um tom


mais alto, só não sei se é irritação ou surpresa. Talvez, um misto

dos dois.

— Isso mesmo que você está pensando.


— Não acredito que você transou com a chatinha em cima do
meu sofá — fala com perplexidade, mas não tão perplexo quanto eu
estou por vê-lo preocupado com o sofá, quando estou insinuando

que comi a protegidinha do casal.

— Está preocupado com o sofá, é isso mesmo? — confronto.

— Não, porra! Você me deixou surpreso e acabei me

expressando mal — se explica. — Você e a Ângela... Eu devia ter


imaginado que algo assim aconteceria.

— Imaginou errado, nós não transamos.

— Não? — indaga. Imagino que esteja aliviado, ele sabe que,

de maneira nenhuma, sou um bom partido.

— Foi quase.

— Será que dá para parar com a porra desse jogo? Eu não

sou um dos seus clientes idiotas, portanto, chega de meias palavras

e me diga o que fez com a amiga da minha mulher!

— Meu Deus! O que eu poderia fazer com o demônio de


saias? Sou apenas um pobre cego.

— Quem não te conhece que te compre, Bruno. Pobre de

quem cai na tua rede.


— Nós nos beijamos, foi só isso — falo a verdade, como se

fosse tão simples assim.

— Só um beijo?

— A ideia era essa, somente um beijo. Quando dei por mim, já

estávamos atracados em cima do sofá. Se você não tivesse

aparecido e interrompido, a essa altura estaríamos fodendo como


dois condenados.

— Caralho, Bruno! Por isso ela estava tão desconcertada

quando saiu da sala. — Esperto, Erick liga os pontos.

— Como vocês ficam agora?

— A minha relação com Ângela se restringirá aos eventos

sociais que não posso fugir, porque, se pudesse, iria até Marte para

fugir da tentação que aquela menina representa para mim.

— Tão forte assim? Não acredito que o grande Bruno...

— Pode ir parando por aí, Romeu — corto a conclusão rápida

que só um eterno apaixonado tiraria. — Não tem nada de paixão, ou

a história de um grande amor — afirmo. — O que Ângela e eu

temos um com o outro é apenas uma enorme atração. Um desejo


que, dessa vez, foi impossível de resistir.
— Então, qual é o problema? — Erick indaga.

— Eu não me relaciono, Erick.

— E a Lua? — Lembra-me da bela sócia da sua esposa, a

fotógrafa que conheci em um bar, com quem mantive um


relacionamento que durou alguns meses.

— Um namoro despretensioso, que nunca tive a intenção de

prolongar, por isso acabou.

Alegre e de fácil convivência, Lua foi a minha tentativa de


firmar um relacionamento, o primeiro e único depois do acidente.

Nós dois demos certo no início. Éramos leves e não havia cobrança,

apenas dois adultos curtindo o sexo monogâmico e a companhia um

do outro.

Quando percebi que Lua estava começando a se apegar

demais e a querer mais do que eu estava disposto a dar, acabei

terminando o nosso caso. Foi a experiência que me fez entender

que não preciso de mais do que casos que duram apenas uma
noite.

— Não é o que ela pensa.


— Sinto muito por ela — afirmo. Ao terminar, deixei tudo

esclarecido e, desde então, não gastei um único pensamento com o


assunto.

— E quanto a Ângela? Fará o mesmo que fez com a Lua?

— Você não está me ouvindo? Foi um beijo, um momento de

fraqueza. Não tem futuro para nós, nem mesmo para uma transa de
uma noite.

— Meu amigo, você não precisa se impor...

— Não quero mais falar sobre isso agora. — Freio o início da

conversa que já tentamos ter algumas vezes. — Você gosta da


chatinha, não gosta?

— Você sabe que sim.

— Então, não deveria cogitar que nós dois juntos seria algo

bom para ela.

— Eu te conheço, Bruno. Por conhecer a sua história, estou


cansado de saber que não é um bom material para

relacionamentos, mas isso só acontece porque você mesmo se

coloca nessa condição.


— Sou como um cristal quebrado, e tal qual os cristais, não há

conserto — falo com amargura.

— Se pensa assim, é melhor que fique longe dela. Ângela não

precisa de mais complicações na vida.

— Do que você está falando? — Fico cada vez mais curioso,

pois todas as vezes em que o nome dela é mencionado, eles agem

como se Ângela carregasse o peso do mundo nas costas.

— Não se envolva, Bruno. — Erick avisa. — Se você quer


assim, que seja em todas as áreas.

— Não está mais aqui quem falou. — Levanto as mãos em

rendição, mesmo que a curiosidade insista em martelar a minha

mente.

Fazemos o resto do caminho em silêncio. A minha mente está

cheia com as lembranças dos beijos, do carinho das suas mãos, a

voz, o cheiro... Tudo passa como um filme bom, lembranças

renovadas da única garota que realmente me fez lamentar não ser


um homem completo.

Estar com ela ressuscitou o desejo de tentar voltar a ser o que

eu era antes, de explorar a energia boa que sinto emanando do seu


corpo para o meu a cada encontro.
Se não for para ter o sabor dos seus beijos, anseio por vê-la

novamente, mesmo que seja apenas para ouvir o som da sua voz.

A voz do pequeno anjo.


CAPÍTULO 7

ÂNGELA

Dois meses depois...

— Merda! — esbravejo de um lado para o outro, gastando o


piso branco e brilhante do pátio da sala de espera do hospital. —

Que aflição.

— Calma, minha amiga, está tudo dentro do horário previsto.


Não tem que ficar tão nervosa. — É Maya quem tenta acalmar o

meu nervosismo.

— Não sei, a barriga dela estava tão grande, não acha? Uma
melancia, só que maior. — Olho para a minha amiga mais próxima

depois da Marina, e ela tenta a todo custo esconder o sorriso.

Não está me levando a sério.

— Eu estou falando sério, Maya. — Agindo como uma pessoa


mimada, coloco a mão na cintura e bato os pés em claro sinal de

birra.
Para meu eterno desgosto, o sentimento de insatisfação

envolve algo que vai além da preocupação com a minha amiga em


trabalho de parto.

— Desculpa, Angel, mas você é muito maluquinha com essa

história de barriga de melancia — fala. — Não tem nada de errado,

está tudo saindo como o previsto.

Não sei se fico mais calma, ou ofendida com o seu comentário,

até porque, ser chamada de "maluquinha", tendo a Marina como

amiga em comum, é no mínimo ofensivo.

— Você está coberta de razão. Deve ser por isso que não

sente frio. — Faço piada, ela me olha com cara de espanto.

Pois é, talvez eu seja mesmo a "maluquinha" do trio.

— Quando eu digo que você é maluca, é por esse tipo de


atitude, garota. Sei também que a mudança repentina de humor tem

nome e sobrenome — afirma e, discretamente, olhamos para o

casal sentado um pouco à frente. Bruno Pires e Lua oferecida, que

não me lembro do sobrenome.

— Eu não devia ter te contado. Nem para você, muito menos

para a Marina — reclamo, pois é só isso que sei fazer ultimamente,


mais especificamente, depois do amasso bem dado, seguido do
fora, mais caprichado ainda.

Agora, além do ego ferido, tenho que ver ele do lado dessa

oferecida — não que eu seja diferente dela —, que não perde uma

oportunidade de se jogar nos braços dele. Pelo menos, eu me

coloquei no meu lugar e não voltei a me aproximar desse ser, depois


de ter sido rejeitada pela segunda vez.

Não exagero quando falo em rejeição. A forma como ele falou,

deixando bem claro em que pé ficaria a nossa relação, mesmo

quando estávamos a ponto de transar, me magoou profundamente.

Além de tudo, o filho da puta fez na frente do Erick, que age

igual a esposa. Se Marina tem quase certeza de que é a minha

mãe, Erick tem certeza de que é o meu pai.

Depois que contei para as meninas sobre o amasso no sofá, e

do Bruno, com certeza, ter contado para o Erick, o clima que nunca

foi natural entre nós dois passou a ser péssimo.

Agora, os três ficam girando a nossa volta como moscas.

Quatro, se eu contar com a intrometida da Lua. Ela, por ser sócia da

Marina no estúdio de fotografia, vira e mexe participa dos nossos


programas. Só não sei se esperam uma lavagem de roupa suja, ou

se torcem para que a gente se acerte de alguma forma.

Para as minhas amigas, a nossa tensão só se resolverá com

sexo sujo e suado — a parte do sujo e suado saiu da boca delas.

Erick e Lua não pensam da mesma forma e eu os entendo.

Acredito nas boas intenções do meu cunhado postiço, que deve


saber de fatos da vida do Bruno que não sei. No fundo, ele quer

apenas me proteger.

Lua por motivos não tão nobres, finge sentir simpatia por mim.

Eu finjo que não sei que ela faz questão de estar sempre por perto
para rondar o ex-namorado. Ou atual, já não sei mais, considerando

o fato de estarem juntos aqui.

A verdade é que tudo isso não passa de uma grande

bobagem. Ele já deixou claro que não quer nada comigo e, mesmo
se quisesse, não pretende fazer nada a respeito. Eu cansei de ser
rejeitada. Dois foras vindo da mesma pessoa já estão de bom

tamanho.

Além disso, a vida é curta demais. Sou jovem e tenho


consciência da minha feminilidade e do meu poder com o sexo
oposto, não vou ficar gastando energia com um homem que me

rejeita.

— Acorda! — Maya estala os dedos bem na frente do meu


rosto. Estava esse tempo todo encarando o casal com indisfarçável
desgosto. — Você fugiu da terra e me deixou falando sozinha.

— Perdão, querida.

— Como eu ia dizendo, você tem, sim, que contar tudo para


mim. Marina e eu somos suas amigas. Somos mais sensatas
também — fala brincando, ou não.

— Acho que vocês têm que parar de pensar que tudo que faço
e sinto tem a ver com o Bruno. Já superei, não temos nada um com

o outro, e está claro que nunca teremos — falo baixo para que o
casal não nos ouça.

— Tudo bem, acredito em você — assevera, depois me abraça


apertado.

— Pessoal. — A voz animada de Erick enche o ambiente,


chamando minha atenção para a principal preocupação: Marina e o

nascimento do pequeno. — Nasceu, o meu filho nasceu — diz, entre


risos e lágrimas.
Quando ele termina de dar a boa notícia, todo o resto some da
minha mente, só penso na alegria de finalmente poder segurar o
meu afilhado nos braços.

Ficamos todos alvoroçados por alguns minutos, até que vem o

aviso de que Marina já está no quarto, e que podemos entrar para


visitar ela e o bebê.

— Tudo bem com você? — Aproximo-me da minha amiga.

Está tão linda que nem parece que acabou de dar à luz a essa coisa
linda chamada João Guilherme.

— Tudo ótimo. — Sorri como uma boba para o pequeno


pacote azul. — Não é a coisa mais linda do mundo? — Permanece

encantada, enquanto o pequeno esfomeado suga seu peito com


avidez.

— Puxou ao pai — o convencido fala, do outro lado da cama,


quase babando em cima do filho.

— Não precisa nem ser cego para saber que o fato de ele ser
lindo significa que não se parece em nada com você. — Bruno

provoca, chamando minha atenção para a sua presença. Estou tão


feliz com o meu afilhado que no momento nada mais me importa. O

bebê tem toda a minha atenção.


— Não quer segurar ele, amiga?

— Muito — digo com empolgação.

— Vem aqui — sussurra. Com todo o cuidado, Marina me


passa o bebê e, no mesmo instante, sinto algo mudar.

Um amor imenso invade o meu peito, trazendo a certeza de


que, se preciso for, enfrento o mundo por ele, meu anjinho.

— Titia já ama tanto você, meu amor. — Inconscientemente,

me afasto alguns passos, encantada com a carinha de joelho mais


fofa que já vi. — Como você é bonito...

— Posso? — Bruno chega do meu lado, falando bem baixinho

para não o acordar. Essa também é a primeira vez que estamos tão

próximos nos últimos dois meses.

Sua presença me faz acordar do transe que João me colocou,

fazendo com que os meus olhos façam uma rápida checagem pelo

quarto.

Todos estão em volta da cama conversando com Marina,


dando a privacidade necessária para que Bruno e eu possamos

curtir um pouco o nosso afilhado. Óbvio que Lua não se enquadra


nesse grupo, já que está nos observando, ao invés de prestar

atenção na conversa que se desenrola bem na sua frente.

Não sei qual é o problema dela. Tenho certeza de que nem

Marina e nem Erick contaram a respeito do que aconteceu entre o

Bruno e eu. Ela não tem motivos para se sentir ameaçada.

Se eles estão juntos novamente, precisa entender que o meu


time está fora de campo, que não sou do tipo que se sente atraída

por homens comprometidos.

— Ele também é seu afilhado, pode segurá-lo quando quiser

— digo. Viro o corpo na direção do seu e, com cuidado, coloco o


seu braço na posição correta, depois ajeito o João nele — Seu

padrinho, meu amor.

— Ei, garotão — fala com a voz mansa, a mão, aos poucos,


começa a subir pela mantinha azul até chegar ao rostinho do

afilhado. — Será que você é tão bonito como dizem?

Com uma expressão serena, e o ensaio de um sorriso sincero,

Bruno começa uma inspeção pelo pequeno rosto. Ele vai da


orelhinha para o queixo, depois passa para as bochechas e em

seguida para o nariz.

— Não é um amor?
— Realmente, tão lindo quanto dizem ser. — A fala curiosa me

faz entender que ele desenvolveu essa percepção através do toque.

— Carinha de joelho — digo.

— O joelho mais belo do mundo — ele contrapõe, agora bem


próximo do meu corpo.

— Concordo.

— Está tudo bem com você? — Bruno muda completamente o

rumo da conversa. — Senti sua falta na recepção para os Prado na


semana passada. Acho que me acostumei com a ideia de que você

e Marina são uma dupla.

— Tive outro compromisso — falo, deixando a informação

pairando no ar.

— Namorado novo? — indaga. O seu corpo, ainda colado ao

meu, parece tenso.

— Ainda não tenho certeza. — Na verdade, tenho. Até porque,

esse cara não existe. — Também fico feliz que você superou o que
te prendia e decidiu dar uma chance para o seu relacionamento com

a Lua.
— Nós não voltamos — nega, depois joga o balde de água fria.

— Ainda.

— Espero que dê certo entre vocês. — Por educação, obrigo-

me a falar.

— Dará — afirma. Quando, disfarçadamente, dou um passo

para frente, com a intenção de fugir o mínimo que seja da sua


presença, Bruno me segura pelo braço.

— Solte-me, por favor — peço.

Quando sou atendida, viro as costas para ele. Mesmo sabendo

que não pode me ver, um lado irracional teme que Bruno sinta a
minha decepção, que saiba o quanto sua declaração mexeu comigo.

Aparentemente, não o superei, e não é nada agradável estar

obcecada.

— Por que você não abre os olhinhos para a madrinha te ver?


— Volto a minha atenção para o que realmente importa, ignorando o

cara que, infelizmente, ainda tem a capacidade de abalar as minhas

estruturas.
CAPÍTULO 8

BRUNO

A minha cabeça dói, está prestes a explodir, uma


consequência do maldito acidente, que vem me acompanhando ao

longo dos anos, como um lembrete doloroso — literalmente — das


minhas limitações, e das heranças da fatídica madrugada.

— Bruno, o que aconteceu? — Lua fala, dez segundos após


eu ter saído da sala, que de repente pareceu pequena demais para

mim e Ângela Albuquerque estarmos dentro dela. — Saiu sem falar


nada com ninguém.

Por ninguém, ela se refere a si mesma, já que foi a única a vir

até aqui me importunar.

— Não vi necessidade — esclareço. — Pode voltar para lá,


sua amiga acabou de ter um filho — peço, não me importando de

estar sendo grosseiro com ela.

Não agora que estou no meio de uma crise de enxaqueca.


— Por que você está me tratando dessa forma? — A voz

estridente, três tons mais altos, faz com que a dor aumente e,
pontadas finas, como picadas de agulhas, se alastram por todos os

lados da minha cabeça. — Pensei que nós dois estávamos...

— Pensou errado, Lua — corto. — Foi apenas uma transa, que

só aconteceu porque você apareceu na porta da minha casa se


entregando de bandeja. Naquele momento eu precisava do que

você estava oferecendo.

— Você é um idiota, Bruno — esbraveja, a tontura vem, tenho


que me segurar na parede mais próxima a mim.

— Sei disso. — Levo os dedos até a têmpora, massageando o


local. Técnica que uso na tentativa de, pelo menos, amenizar as

dores. — Agora, por favor, me deixe sozinho. — Dessa vez sou

mais direto. Prefiro não falar sobre a dor de cabeça, isso seria

apenas mais uma desculpa para ela ficar aqui, como esteve desde a
hora em que chegamos para aguardar o parto do pequeno Estevan.

Sem dizer mais nada, ela sai e me deixa em paz. Com um

copo cheio com água em uma mão, coloco a outra dentro do bolso e

tiro o comprimido analgésico que sempre carrego comigo. As dores

pós-traumáticas — que mesmo depois de cinco anos continuam a


persistir — vêm sem aviso prévio, mais intensas quando acontece
algo que afete de forma direta as minhas emoções.

O motivo da dor ter vindo com força total hoje não poderia ser

mais contraditório, pois é um sentimento que vai contra tudo o que

venho afirmando e tentando convencer a mim mesmo.

O simples fato de a Ângela ter praticamente afirmado que está

com outro fez com que um sentimento muito ruim nascesse em

mim. Se na hora me segurei para não quebrar tudo à minha frente,

sacudi-la até que entenda que não pode fazer isso, agora o esforço

para agir com civilidade cobra o seu preço.

A entrada dessa garota na minha vida está mexendo com

coisas que não deveriam ser mexidas. Perto dela me torno um ser

irracional, fazendo tudo ao contrário do que me impus. De tudo o

que disse quando afirmei que não queria nada com ela.

— Porra! — Uma nova pontada me faz ficar zonzo, então tomo

o analgésico.

Devidamente medicado, e ansioso pelo alívio, abro o meu

bastão guia e, com o seu auxílio, dou alguns passos até alcançar o

banco mais próximo do corredor. Pela quietude, suponho que o local


esteja vazio e agradeço por isso. Tudo o que preciso no momento é

de um pouco de paz e silêncio.

— Está tudo bem com você? — Não sei quanto tempo passou,

mas meu momento de bem-vinda solidão é interrompido pela voz


que menos desejo ouvir agora.

Ângela, o pequeno anjo.

Não que ela tenha culpa de algo, o culpado sou eu mesmo por
não conseguir controlar os meus sentimentos quando estou do seu
lado. Na verdade, é o resultado por me esforçar tanto para medir

minhas ações e palavras quando estou prestes a explodir de ciúme.

O ciúme nunca foi um problema em nenhum dos meus

relacionamentos anteriores, sempre prezei pela confiança e a


segurança passada de um parceiro para o outro.

Dessa vez, e sem que eu tenha o menor direito, ele me afetou


de tal forma que foi capaz de desencadear uma das maiores crises

que já tive. Ciúme de uma garota que dispensei, logo depois de tê-la
segurado nos meus braços.

— Estou bem, só preciso de um tempo — digo ao levantar a


cabeça para poder conversar com ela. Só de ouvir a sua voz já me
sinto melhor.
— Não, Bruno, você não está bem. — A voz está alarmada. —

Está pálido, cara. — Ela, tão carinhosa quanto pensei que fosse,
acaricia o meu rosto, indo da bochecha para o pescoço. — Vou

chamar a sua namorada.

— Não! — digo, imediatamente após ela terminar de falar. —

Não faz isso, por favor — peço, sem medo de parecer estranho,
afinal, Ângela pensa que estou em um relacionamento com a Lua.

— Tudo bem, então eu vou te levar para casa — insiste.

— Não precisa se incomodar, chatinha. Só preciso entrar em

contato com o motorista. Sou cego, não inválido — digo. O embate


com ela quase me faz esquecer a dorzinha que ainda não passou

por completo.

— Pelo visto, a capacidade de ser um grosso não foi afetada

— rebate. — Não é incômodo nenhum, eu faria isso por qualquer


pessoa. Não se sinta especial por isso — assevera, me deixando
incomodado pela simples comparação.

— Nem passou pela minha cabeça — falo com ressentimento.

Ângela me segura pelo braço e me ajuda a ficar em pé.

— Você tem sorte de eu ter vindo de carro — debocha,


enquanto caminhamos. — Pensei em pegar a moto hoje.
— Eu não sobreviveria sem você — devolvo, sentindo-me
muito melhor. Só não vou dizer isso pra ela.

Hoje, só um pouco da sua companhia tornará o meu dia


melhor.

— Ângela, você avisou para o casal açúcar que estava indo


embora? Não quero te atrapalhar

— Não está atrapalhando. Além disso, eu estava indo embora.


Tenho algumas coisas para resolver, mas não é nada que não possa

esperar até que te leve em casa.

— Posso te ajudar em algo? — indago e, por um momento,


todas as insinuações a respeito dos mistérios que envolvem a sua

vida começam a passar pela minha cabeça.

— Não se preocupe comigo, o momento agora é de cuidar de


você — desconversa.

Fico preocupado, então decido que preciso saber mais sobre

Ângela Albuquerque. De alguma forma, essa garota faz parte da


minha vida, e eu cuido de quem gosto.

Após dispensar o motorista, que tive de contratar depois do


acidente, Ângela e eu nos encaminhamos para a garagem da
maternidade. É somente quando ela abre a porta do carona que eu
me lembro de uma informação tão interessante quanto perturbadora
que deu minutos atrás.

— Uma moto, é sério? — indago. Não devia ter ficado

surpreso. É tão ousada e sexy, é a cara dela ter uma moto.

— Isso te assusta? — O barulho da batida da porta do

motorista ressoa e, em seguida, ela dá partida.

— Não, meu anjo — nego. — Isso me parece sexy pra caralho


— revelo sem ter certeza se devia tocar em assuntos delicados.

Delicado, porque corro o risco de agarrá-la novamente, de mandar

para o inferno todos os medos e planejamentos.

— Tudo bem, agora quero que diga onde você mora —

Passados alguns minutos, isso é tudo o que Ângela tem para dizer.

O que eu esperava? Que ela entrasse em um jogo de

sedução, que terminaria com a gente se pegando como loucos?

Tudo para quê? Para depois ser rejeitada, como aconteceu

outras duas vezes?

Como pedi, a garota se manteve afastada durante os dois

últimos meses e, ironicamente, tive poucas oportunidades de estar


do seu lado. Quando estivemos juntos, ela foi apenas educada e

amigável, nada diferente da forma como trata qualquer pessoa.

Não deveria me incomodar. Não tenho direito, mas é

exatamente o que vem acontecendo. Foi difícil ouvi-la falando de

outro, então reagi de forma pouco madura ao insinuar que estou

com a Lua.

Após ouvir as coordenadas até a casa do meu irmão, Ângela

liga o rádio, deixando claro que não quer conversar comigo. Só fala

para perguntar se estou melhor da dor de cabeça.

— Algum problema? — Bem perto de casa, falo por cima da


porra do som. Ela acaba desligando.

— Nenhum, por quê?

— Você está me ignorando desde o início da viagem —

reclamo. — Eu não te pedi que fizesse isso. Se soubesse que te


deixaria tão desconfortável, não teria aceitado. — Posso estar

sendo injusto com ela e sua boa vontade, mas, porra! Ângela não

está facilitando a minha vida.

— Fiquei preocupada com você — defende-se.


— Agradeço a sua preocupação, mas não precisa fazer o que

não deseja só porque sente pena.

— Eu não sinto pena, Bruno — fala com a firmeza de quem

acredita no que diz. — Diferente do que pensa, gosto de você e


quero ser sua amiga.

— Fico feliz que tenha seguido em frente, que tenha

encontrado alguém — falo da boca para fora.

O que eu sinto pode ser tudo, menos felicidade.

— Lamento não poder dizer o mesmo para você. A Lua não é

a santa da minha devoção, e acredito que a recíproca é verdadeira.

Você merece coisa melhor — finaliza com a petulância que lhe é

característica.

— Então, a minha torcida vai para a Ângela — falo, querendo

ver a sua reação.

— Que feio, Bruno. Você não pode ir contra a sua namorada

— rebate, nunca ficando por baixo.

— Ela não é a minha namorada.

— Perdão, quase namorada. — Ângela não esconde a ironia

na voz. — Pronto, Bruno Pires, o senhor está entregue. Estamos na


frente do endereço que você passou. — Desliga o carro, mas não

pretendo sair sem esclarecer tudo com ela.

— A Lua não é minha namorada, e não está prestes a voltar a

ser. Eu menti quando insinuei o contrário.

— Por que você fez isso, Bruno?


CAPÍTULO 9

ÂNGELA

Poucas coisas são capazes de me deixar sem fala, mas o que


Bruno acabou de falar, com certeza, é uma delas. Ele está

admitindo que mentiu para mim sobre a Lua e mal posso esperar
para ouvir o motivo. O homem parece não ter pressa, pois está
olhando fixamente para frente, sem dizer uma palavra.

— Bruno? — chamo. Ele precisa reagir, me tirar desse estado

de aflição.

Estou ansiosa demais para uma pessoa que tomou dois tocos

e resolveu consigo mesma que não iria atrás do terceiro. Mas não

tenho culpa se foi ele quem começou. Primeiro admitiu que acha
sexy a ideia de eu possuir e pilotar uma moto. Agora, está dizendo

que fez questão de mentir sobre algo tão pessoal.

Simplesmente não tem como não começar a, mais uma vez,

me iludir. Não quando o meu corpo e meu coração já estão tão


tomados de sentimentos por este homem. Não se trata de amor,
pois acredito que não o reconheceria nem se passasse por cima de

mim. Mas gosto muito do Bruno, gosto a ponto de querer passar


mais tempo ao seu lado.

— Senti ciúme. Tão forte, de um jeito que não senti nem da

minha ex-noiva — ele faz duas revelações em uma só frase.

Uma noiva, ele teve uma noiva.

E agora, quem está com ciúme?

Eu não acredito que Bruno está admitindo que sentiu ciúme de

mim!

Eu não devia estar tão feliz.

Não que ele tenha direito, ou mesmo motivos, mas eu sou a

pessoa menos indicada para julgá-lo, pois se mentiu quanto a Lua,

eu inventei um namorado imaginário.

— Ciúme de mim? — É uma pergunta idiota, considerando que

ele acabou de afirmar isso. Só preciso ouvir mais uma vez, para me

convencer de que não estou delirando. Difícil de acreditar, depois de

dois meses tentando ignorar a sua existência

Não sou masoquista. Acredito que nunca me conformei porque

sempre soube que ele sentia algo por mim, mesmo negando.
— É o que estou dizendo.

Porra! Eu não sou maluca, o Bruno gosta de mim!

De repente, fiquei com vontade de sair correndo pela rua.

— É difícil agir com maturidade quando se trata de você.


Quando falou de outro cara na sua vida, me vi mentindo. Não queria

ficar por baixo. Queria que se sentisse atingida.

— Eu não estou ficando com outro, Bruno — confesso.

Chegou a minha vez de confessar a minha própria mentira. — Ver a

Lua tão grudada em você me deixou louca da vida. Queria te

provocar, não me sentir tão rejeitada.

— Nós somos uma bagunça, meu anjo — diz, não parecendo

nem um pouco surpreso por eu ter usado a mesma tática idiota dele.

— Nem adolescentes se valem das artimanhas que usamos.

— Pelo menos eu tenho a desculpa de ter acabado de sair da


adolescência — exagero. Ter vinte e um anos não combina com ter

acabado de sair da adolescência. — E você?

— Com os meus trinta e quatro, tenho a desculpa de que você

me tira do sério. Às vezes quero te matar, outras quero te foder. É


assim que tenho me sentido desde que nos conhecemos.
Vira-se pela primeira vez na minha direção e, mesmo com a

penumbra dentro do carro, ainda sou capaz de ver o seu rosto. Pelo
que parece, Bruno Pires — finalmente — decidiu colocar as cartas

na mesa, cartas que muito me agradam.

— Costumo causar esse tipo de reação nas pessoas. — É

meu lado narcisista quem fala por mim.

— Sempre tão modesta, não é mesmo? — fala com os dentes

brancos e bem alinhados à mostra. — Pena que eu não possa...

— O que pretende fazer? — Interrompo.

Eu preciso aprender a controlar a minha língua. Sempre que


falo alguma bobagem convencida, Bruno se ressente de não poder

me ver.

Alardear beleza e atributos físicos para quem não pode

enxergar é o mesmo que oferecer doce para quem está de dieta.

Na tentativa de mudar o seu foco, fiz a pergunta que o coloca

contra a parede.

Já estou sentindo a dor de um novo fora.

— Apesar de saber que é um erro, eu não posso...


— Se permita, Bruno. — Aproximo-me do seu corpo, abro o

meu cinto de segurança, depois o seu. — Vamos ficar juntos, eu


prometo que vai valer a pena.

— Eu sei que vai, minha chatinha — fala com carinho, e leva a


mão até o meu rosto. — Mas, se vamos fazer isso, tenho duas

coisas para te pedir.

— Não sendo algo ilícito, topo tudo — brinco com o fato de ele

ser Bruno Pires, o grande advogado criminalista.

O meu advogado criminalista. Não da Lua e nem da ex-noiva,

meu!

— Preciso que continue tendo um pouco de paciência comigo.

É o que tem feito, não é? Mesmo que eu não mereça — admite. —


Faz tempo que não sei mais o que é me importar com uma mulher

de verdade. Então, se eu fizer algo que te machuque demais, não


hesite em chutar a minha bunda.

— Não tenha dúvidas que farei.

— Eu me importo com você, anjo. Quero tudo, menos te

magoar. — A mão que acariciava o meu rosto desce pelo meu


braço, até alcançar a minha mão e entrelaçar os nossos dedos.
— Também não quero te machucar — digo, mas a ficha ainda
não caiu.

Não acredito na conversa que estamos tendo, menos ainda


que, finalmente, vai ser meu.

— Preciso pedir que a gente vá com calma. Nós precisamos


de tempo.

— Vamos fazer como você quiser. Por motivos que ainda não
conheço, vejo como é difícil para você recomeçar, mas estou aqui e

te quero. Sinto que podemos dar certo, só me deixa ficar perto.

— Eu deixo. — Ele me puxa para o seu corpo e, finalmente,


declara o que tanto quis ouvir: — Preciso de você, do seu cheiro —

leva o nariz até o meu pescoço e cheira o local —, da sua voz doce.
Quero o seu corpo — fala com a boca a centímetros da minha, sinto

o meu corpo trêmulo da cabeça aos pés. — A sua boca, tão gostosa
e macia. — Sem os óculos escuros, como eu gosto de vê-lo, Bruno
termina a declaração fechando os olhos e colando a boca

experiente à minha.

Como da outra vez, Bruno, com toda a sua experiência, inicia o


beijo com calma, envolvendo apenas os nossos lábios desejosos e

pequenos gemidos de contentamento. Ele muda de delicado para


esfomeado sem aviso prévio e só resta corresponder e aproveitar a
delícia que é o seu beijo.

Se é assim com a boca, imagina como deve ser na hora do


sexo.

— Você conseguiu — fala, muitos minutos depois, longe da


minha boca apenas o suficiente para respirar. — Ângela

Albuquerque, conseguiu o que queria.

— Sempre consigo o que quero, meu lindo. — Sou


convencida, e ele se diverte. — A palavra impossível não faz parte

do meu dicionário — finalizo, analisando a sua reação.

Não preciso que pense que foi apenas um capricho meu.

Ainda que o meu histórico deponha contra mim, ele não sabe o
que se passa dentro da minha casa. Mesmo se soubesse, não faria

diferença, simplesmente porque nada entre nós tem a ver com os

meus problemas pessoais.

Por Bruno sinto algo genuíno. Um sentimento bom, que não

lembro de ter sentido por homem nenhum na minha curta vida

amorosa. Com ele, me sinto como uma adolescente à espera do

encontro com o primeiro namorado. Anseio pelo beijo, pela


presença, pelo toque. Por tudo, desde que seja com ele que, apesar
do início conturbado, veio como uma boa novidade na minha

previsível e enfadonha vida.

— Agradeço a sua persistência. E agora que você me tem,

pequeno anjo — fala o apelido carinhoso que faz cócegas no meu

estômago, como centenas de borboletas batendo as asas. — O que

pretende fazer? — Bruno provoca, colocando-me em cima do seu


colo, com as costas pressionadas contra o volante.

— Que bom que perguntou.

Tomo iniciativa e parto para o ataque. Segurando a sua cabeça

com as duas mãos, reinicio o beijo faminto, louca para recuperar


todo o tempo perdido com sua negação e receios. Tão afoito quanto

eu, Bruno toma as rédeas ao capturar a minha língua para dentro da

sua boca, passando a controlar a nossa dança sensual.

Cheia de tesão, mal sabendo controlar meus desejos e

sentimentos, abro o primeiro e o segundo botão da blusa dele. Ao

passar para o terceiro, sua mão pousa sobre a minha, me

impedindo de prosseguir.

— Ângela, com calma, lembra? — A voz é de repreensão, mas

as mãos não saem da minha cintura e muito menos a boca deixa de


beijar partes do meu rosto. — Na primeira hora, você já está

querendo transar dentro do carro.

— Desculpa. Não consigo resistir.

— Você também parece ser muito gostosa, mas a nossa


primeira vez juntos não será hoje, muito menos dentro de um carro

apertado. Além do mais, você disse que tinha assuntos para

resolver, não quero te atrapalhar.

— Eu menti — confesso. Por mais que um lado meu estivesse


feliz pelo nascimento do bebê, o outro só queria fugir. — Tudo bem

irmos devagar, vou saber esperar pelo seu tempo — falo com

resignação, já sabendo que não será hoje o dia em que tirarei o

cabaço do Bruno.

— Deve estar cansada, depois de tantas horas naquele

hospital — diz, dando um último beijo na minha boca. — Vai

descansar, querida.

— Estou cansada, mas feliz. Muito feliz — digo, depois saio do


seu colo. — Vamos, vou com você até a porta da sua casa —

chamo.

— Não precisa, eu sei me virar sozinho — avisa calmo, mas


não consegue esconder o incômodo. Parece que a sua cegueira
será um problema entre nós.

— Eu sei que você pode, Bruno — afirmo com a voz doce,


querendo convencê-lo. — Só quero ficar mais um pouco com você,

faça isso pela sua...

Dou uma pausa para pensar no que dizer e, como de costume,

falo a pior coisa possível.

— O que seremos um para o outro?


CAPÍTULO 10

ÂNGELA

Enquanto andamos pela calçada, com o braço do Bruno me


abraçando pela cintura, a minha pergunta sem resposta paira no ar.

Se tivesse um buraco aqui por perto, eu certamente já teria enfiado


minha cabeça dentro dele.

Porra, o cara acabou de aceitar a nossa mútua atração, e eu


fiz um comentário que parece que estou louca para me tornar a sua

namorada.

Logo eu, que nem sei o que é isso. A única experiência que

tive foi com um cara que tirou a minha virgindade. Mantivemos um

namoro que durou poucos meses, logo tive a desilusão de descobrir


que ele sempre esteve mais interessado no status social e no

dinheiro dos meus pais do que em mim.

Não que tenha sido uma verdadeira desilusão, até porque,

esse namoro só começou por pressão dos dois, que sentem prazer
em tentar me controlar de todas as formas. No fim, fiquei feliz, pois
foi o meu primeiro ato de rebeldia quando mandei o idiota para o

inferno e terminei a relação insossa e sem futuro.

— Sobre a sua pergunta, não sei o que te responder, Ângela.


Você realmente me pegou de surpresa. — Ele decide quebrar o

pesado silêncio, de repente parando de caminhar. Nós estamos na

frente do portão da casa onde mora com o irmão. — O que você


quer.

Porra! Como vou responder a isso?

— Eu... eu... — gaguejo.

Calma, Ângela! Foi você quem criou a situação, agora dê um


jeito de sair disso sem parecer uma carente em busca de enlaçar

um namorado, mas também sem parecer uma devassa que só quer

usar o corpo dele para satisfazer a própria lascívia.

Na verdade, eu quero os dois...

Epa! Pensamento errado.

— Não sei bem — confesso. — Podemos nos curtir sem

rótulos — digo, depois me parabenizo por ter conseguido elaborar a

melhor resposta possível. — O que acha? — Fico na ponta dos pés.


Quando sente o peso do meu corpo apoiado no seu, Bruno curva
levemente o tronco para baixo, deixando a cabeça ao alcance da
minha boca, que já se encontra irremediavelmente viciada na sua.

— Meu Deus, Ângela... — Ele abre os intensos olhos azuis, e

depois de minutos incalculáveis emenda: — Se você foder como

beija, nós vamos passar muito tempo na horizontal — promete e,

como de costume, passa o nariz pelo meu pescoço, a fim de sentir o


cheiro do perfume que passei mais cedo.

— Você só vai saber quando me pegar. — Insinuo-me

descaradamente. Não tenho mais medo de levar um pé na bunda.

— E vou te pegar, minha linda, muito. — Com os braços em


torno da minha cintura, Bruno afirma perto do meu ouvido, e um

arrepio de prazer atravessa o corpo.

Prazer e contentamento por perceber que estou onde desejei

estar todas as vezes que me insinuei, e até quando neguei.

O dia de hoje foi todo cheio de surpresas e alegrias. Mais cedo

foi o nascimento do meu pequeno João Guilherme, agora estou

aqui, no calor dos braços de Bruno Pires, o meu sonho molhado há

mais de dois anos.

— Quanto ao outro assunto, espero que você tenha incluído a

exclusividade aos planos — diz. — Pelo tempo que durar, quero


você só para mim, ninguém além de mim terá o direito de te tocar —

avisa. — Será minha, somente minha.

— Digo o mesmo para você. Eu quero a Lua e todas as outras

longe de você, aqui só cabem duas pessoas: Bruno e Ângela.

— Não vejo a hora de nos tornarmos oficiais. — Ele se

agiganta sobre mim, sussurrando no meu ouvido. — No meu


dicionário, será oficial quando tiver o seu corpo nu nas mãos.

— Parece um ótimo plano.

— Ele é, meu anjo — Bruno assevera e, abraçados, voltamos

a caminhar. — Vem deixar o seu não namorado indefeso na porta


de casa, está anoitecendo e você precisa descansar.

Apesar do portão da residência ser grande, em nada lembra a


mansão onde vivo com os meus pais. Um lugar grande demais para

três pessoas viverem. Não que isso importe, para o casal


Albuquerque, o que importa é poder mostrar para a sociedade o

porquê de sermos considerados umas das famílias mais abastadas


e influentes do estado.

Aqui, nesse bairro classe média, na frente da casa do meu


Bruno, já me sinto mais confortável do que dentro da minha própria
casa. Não preciso entrar para ter certeza de que dentro dela, com a
família que tem, Bruno é rodeado de aconchego e de pessoas que o

amam.

— Boa noite — despeço-me.

Só agora me lembro que não trocamos os nossos números.


Preciso disso, ou não vou conseguir dormir com medo de ele mudar

de ideia.

— Bom descanso, meu anjo. — Bruno coloca as suas mãos no


meu rosto, está a ponto de me dar o último beijo quando uma forte
luz cai sobre nós. — Ah, não! — reclama.

A claridade vem da varanda da sua própria casa e, no


momento, tem uma mulher muito bonita abrindo a porta.

— Ignora. — Bruno pede sem ao menos saber quem é,

deixando-me sem entender nada.

Aparentando ter a idade próxima dos quarenta, a mulher loira


logo nos avista e, por alguns segundos, encara a cena do Bruno e

eu bem próximos com surpresa. Se fosse madrugada, o seu grito


teria acordado os vizinhos.

— Felipe, querido, venha aqui um momento — chama. O


homem que sai é muito parecido com Bruno. — Ele chegou
acompanhado.

— Por essa eu não esperava. — Ele vem para mais perto de

onde estamos e, como a esposa, não esconde o misto de


curiosidade e surpresa.

Isso pode significar que Bruno não tem o costume de trazer


mulheres para casa, o que me deixa mais contente do que deveria.
A ideia de possessividade não cabe nessa equação.

— Não começa, irmão — pede, visivelmente incomodado.

Esse encontro não estava nos seus planos para hoje e, talvez, nem
para um futuro próximo.

— Essa moça é sua namorada, mano? — Ignorando o pedido

do irmão, Felipe faz a pergunta indiscreta. Ao notar o quanto Bruno


está desconcertado, decido eu mesma responder.

— Prazer, Ângela — estendo a mão em cumprimento –, sou


amiga dele.

— Amiga — repete, mas parece não acreditar no que digo. —


Muito bonita a amiga dele, não é, meu amor? — Ele abraça

carinhosamente a cintura da loira. Pelo clima, nota-se que se trata


de um casal que se ama.
— Realmente, você é muito linda, Ângela. O meu cunhado tem
muito bom gosto para as amizades.

— Vamos deixar de conversar na porta como um bando de


mexeriqueiras. Vai, irmão, convide a sua amiga para entrar e jantar

conosco. Está quase pronto, certo, Ana? — Ela acena com a


cabeça. No rosto tem um sorriso e a expectativa pela minha
resposta.

— Não precisam se incomodar. Prometo que venho outro dia

— digo para poupar Bruno do constrangimento.

— Fique, chatinha. — Bruno segura minha mão quando estou

prestes a virar-lhes as costas. — Fique e jante conosco. — Seu


pedido me deixa surpresa, e só saberei se fez por querer, ou apenas

por educação, se entrar e ficar para o jantar.

— Tudo bem, eu fico — contente, o casal volta para dentro da

casa, mas não sem antes comentar entre si:

— Chatinha?

— Isso é coisa minha, Felipe! Meta-se com a sua vida e para

de ser fofoqueiro. — Bruno responde e entrelaça os nossos dedos,

me pergunto se ele não se importa que irmão e a cunhada nos


vejam assim, andando de mãos dadas como um casal de

namorados. Não de amigos, como acabei de dizer.

Dentro da casa — que se parece exatamente como imaginei

— noto uma sala espaçosa e sem móveis espalhados pelo espaço.

Deve ter relação com a adaptação de um ambiente apropriado para

as necessidades de Bruno. O piso antiderrapante e os móveis com


cantos arredondados são apenas algumas das diferenças desta

para as casas comuns. Diferenças que me deixam muito contente,

vejo que aqui ele tem tudo que precisa para uma vida confortável e
adequada.

O jantar é tudo o que os da minha casa não são. Envoltos em

uma atmosfera de alegria e descontração, vejo uma família de

verdade, onde se provocam a todo o momento, mas não escondem


o quanto se amam e se respeitam.

No final, me ofereço para ajudar Ana com as louças. Apesar da

sua resistência, aqui estou eu, com um pano de prato nas mãos.

Nunca tinha feito algo parecido, mas sempre existe uma primeira
vez para tudo.

— Ângela... — Ana quebra o silêncio. Eu sabia que esse

momento chegaria, porque desde o começo do jantar percebo o seu


olhar atento em cima de mim.

— Pode falar, Ana. Sei que tem perguntas e quer saber de

coisas a meu respeito — digo. Não me sinto incomodada, pois

suspeito que a sua curiosidade está relacionada a preocupação com


o cunhado.

— Não sei o que existe entre vocês, mas eu nunca vi o Bruno

assim.

— Assim?

— Ele estava diferente durante o jantar, mais feliz do que tem

estado ao longo dos últimos anos. E se essa mudança tem alguma

coisa a ver com você, te peço para que seja sempre sincera e boa

com o meu cunhado. O Bruno não precisa de uma nova decepção.

— Você está falando da ex-noiva? — indago, curiosa para

saber mais sobre ele e o seu passado.

— Ele te contou algo a respeito dela? — pergunta, surpresa. A

loira não está mais lavando louça, assim como não estou mais
enxugando. No momento, a nossa conversa é mais importante do

que os serviços domésticos.


— Não, só mencionou por alto a existência de uma ex-noiva.

Nada mais que isso. Qual a história deles?

— Querida, não cabe a mim te abrir essa história. — Ela

coloca a mão úmida em cima da minha e continua: — Quando se

sentir seguro, vai te contar tudo o que aconteceu na vida dele nos

últimos cinco anos. Só posso dizer que, apesar de tudo, Bruno é um


homem bom, que essa máscara de durão é apenas uma capa

protetora, vestida por uma pessoa que já perdeu muito e não

suporta a ideia de estar exposta a novas decepções.

— Eu gosto muito dele, Ana — confesso, revelando os meus

sentimentos, assim como ela está sendo sincera comigo. — É mais

provável que eu saia machucada, não ele — exponho a minha

vulnerabilidade.

— Não pense assim, querida. Eu vejo longe, e sinto que há

uma energia muito boa entre vocês dois, tentem ser felizes. — Ana

me abraça, e agora entendo o motivo de ter simpatizado com ela de

graça.

— Minha loira, vem aqui. — Felipe aparece na cozinha e a

puxa pela mão. — Vem dar atenção para o seu homem. — Eles

saem juntos, não me resta outra saída, além de jogar o pano de


prato em cima do balcão da cozinha e sair atrás do Bruno. Encontro

ele sentado no sofá da sala pensativo.

— Eles foram para o quarto — falo o óbvio.

— Eles não acreditam que somos apenas amigos. Queriam


nos dar privacidade — explica.

— É melhor eu ir, você também precisa descansar — digo e,

no mesmo instante, ele fica em pé. Com a mão estendida para

frente, tateia o ar até conseguir tocar no meu braço.

— Já que estamos aqui, o que acha de conhecer o meu

quarto?
CAPÍTULO 11

BRUNO

Depois de fazer exatamente o que vinha me negando desde o


perturbador encontro no banheiro, aqui estou eu, mais uma vez,

fazendo o contrário do que planejo ao chamar a chatinha para


conhecer o meu quarto. Tudo isso depois de ter sugerido irmos com
calma na nossa relação confusa e sem rótulo.

Por enquanto, é até bom que seja assim, pois a única coisa

que me interessa é saber que ela é minha, assim como eu sou dela.

Quando Ângela pediu para me acompanhar até a porta, não

imaginei que acabaria dessa forma, com a gente jantando com a

minha família e ela sendo convidada para o meu quarto. Ainda


estamos no primeiro dia do "acordo" e tudo saiu do controle, mas

quem se importa com o controle? Desde o momento em que ela


entrou no meu caminho essa palavra deixou de ser a mais

importante no meu dicionário.


Agora, dentro dos limites que ainda consigo manter, vou deixar

meus instintos me guiarem, e explorar com ela todo o desejo que


temos um pelo outro. O fim? Mais dia ou menos dia chegará. Não

tenho a ilusão de algo duradouro. Não quando sou um maldito cego,

que se viu obrigado a morar com o irmão para, pelo menos,


sobreviver sem causar mais danos a si mesmo e,

consequentemente, dar mais trabalho para a família que não tem

nenhuma obrigação com um homem de trinta e quatro anos.

— E aquela história de vamos com calma? — Óbvio que ela


não deixaria passar batido.

— Ângela, também não estava nos planos o jantar com o meu

irmão e minha cunhada. No entanto, ele aconteceu e foi muito


agradável. Já que está aqui, não custa nada te apresentar o único

cômodo da casa que a Ana não te mostrou. Logo o mais importante

— brinco. Segurando a sua mão, com a segurança que não

encontro em nenhum outro lugar, a levo para o meu quarto.

— Faz tempo que mora com o Felipe? — Ângela indaga

quando toco na maçaneta da porta.

A pergunta já era esperada, e não vejo o porquê de me

incomodar com a sua curiosidade. Já é o momento de ela conhecer


algumas coisas sobre a minha vida, tanto a de antes quanto a de
depois do acidente. Ângela vai entrar nessa sabendo exatamente o

que a espera ao se relacionar com um deficiente visual.

— Cinco anos. Ele me convidou para morar aqui depois do

acidente — revelo, não gostando de lembrar. — Do hospital vim

direto para cá.

Quando fecho a porta atrás de nós, tenho na mente

lembranças que gostaria de esquecer, memórias tão claras que é

como se tivesse acabado de acontecer. Quando elas surgem, sinto

o desespero de acordar de um coma e perceber que não posso

enxergar, me dar conta de que estou na escuridão, tendo que

escolher entre incomodar o irmão, na época recém-casado, ou os


pais, que não têm mais idade para lidar com um filho que, de

independente, tornou-se completamente dependente.

Eu, conhecido como o grande advogado criminalista, passei a

ser ainda mais admirado, não uma admiração que me cause


orgulho, pelo contrário, ela serve para me lembrar todos os dias

quem eu sou, o que me tornei. O criminalista que, mesmo cego,

ainda mantém o seu posto de melhor.


Posto mantido pela necessidade de permanecer com a mente

sã. Foi graças a Erick e seu sócio que tive a oportunidade de, aos
poucos, voltar a minha rotina de trabalho, seis meses depois de ter

acordado do coma. Foi um período difícil para mim, considerando o


retrocesso que a minha vida profissional teve.

De dono de um escritório em ascensão, passei a ser somente


mais um dos advogados do renomado J & E Advogados e

Associados. Escritório escolhido por mim mesmo, uma vez que já


tinha tido oportunidades de encontrar os sócios em alguns eventos

e, na pouca interação, os homens me causaram boa impressão.


Nada diferente da fama que os precedia.

No dia em que fui em busca de um recomeço, conversei com

Erick Estevam. Ele me explicou como funcionava o escritório, e foi


gentil ao mencionar que eu não seria o primeiro deficiente visual a

integrar o quadro de advogados do escritório. Na época, já existia


no J & E o programa que dá melhores condições de trabalho para
portadores de necessidades especiais.

Hoje, me felicito por ter feito a melhor escolha, pois além de ter

encontrado um lugar totalmente apto para suprir as minhas


necessidades, ganhei um amigo como o Erick Estevan, o homem

que desde o início me tratou como um igual.

— Diferente? — indago.

Sinto Ângela do meu lado, e não preciso da visão para saber


que está olhando para tudo com curiosidade, assim como deve ter

reparado algumas diferenças em todo o resto da casa. Tudo ideia


do meu irmão mais velho que, ao saber da minha escolha, fez todas

as mudanças necessárias à minha adaptação na nova realidade.


Não que isso impeça a aparição de alguns roxos pelo meu corpo,

mas eles são menos do que seriam se ele não tivesse sido tão
cuidadoso.

— Não muito — diz, o som de seus passos denuncia o


afastamento. — Tenho certeza de que tem tudo que precisa aqui.

— Meu irmão e minha cunhada foram muito gentis — digo num


tom de voz mais alto, porque não sei exatamente onde ela está.

— E seus pais, onde eles estão? — indaga, e logo emenda. —


Bruno, me desculpe por tantas perguntas, se estou sendo invasiva

demais...

— Não precisa se desculpar por isso. É normal você querer


saber mais sobre mim, assim como tenho curiosidade de saber
sobre você — pondero. Ela não comenta sobre eu ter afirmado que
quero saber mais da sua vida.

— Vem, vamos nos sentar aqui na cama — chama. Sento-me


na ponta, e minha chatinha se senta ao meu lado. O pensamento

vem, percebo o quanto a palavra "minha" tem aparecido no meu


vocabulário quando o pensamento tem a ver com essa garota. —
Fale-me dos seus pais — pede.

— Eles estão casados há mais de quarenta anos, têm idades


avançadas e moram a apenas alguns quarteirões daqui da casa do

meu irmão. Quando se casou, Felipe decidiu ficar o mais próximo


possível deles.

— E você?

— Quando abri o escritório, comprei um apartamento em um

prédio de luxo do outro lado da cidade. Hoje, tanto o apartamento


quanto o escritório estão fechados.

— Você sente muita falta da vida que levava antes, não é? —


questiona.

— Sinto, mas não tanto quanto no início. Foi a vida que levava
e o vício em trabalho que me trouxeram até aqui.
— Eu sinto muito, Bruno. — Sinto sua mão macia no meu
pescoço, um gesto de carinho, acompanhado de sentimentos que
em nada me agradam.

— Não sinta pena de mim, meu anjo. — Levo a mão até a sua,

a afasto do meu rosto. — Sinta raiva, paixão, tesão, menos pena.

— Já disse uma vez e vou repetir. Não tenho pena de você,

Bruno. Sabe por quê? Você, apesar de não pensar assim, é um


homem completo e bem-sucedido. Não merece menos que os

outros. É tão lindo... — Ela toca o meu rosto novamente, fazendo

um carinho que, dificilmente, não se tornará uma necessidade para

mim.

— Ângela, depois de aprender a viver com as minhas

limitações e a não me lamentar por elas, você tem feito com que

isso aconteça. Hoje lamento não poder ver o seu rosto, o corpo que

tanto tem me tentado...

— Não diga isso. — Ela coloca a ponta dos dedos contra a

minha boca e continua: — Vamos pensar no que temos aqui, eu

quero que me sinta. — Leva as minhas mãos para o seu rosto e,


como fez há mais de dois anos, auxilia no início, para em seguida

deixar que eu mesmo continue com a exploração.


Me deliciando com cada segundo, viro meu corpo para o seu

lado. Começo pelos cabelos macios e lisos.

— São escuros como uma noite sem estrelas. — Ângela revela

quando chego nas pontas, que terminam na altura dos seus seios.

— Tem o cheiro doce de frutas vermelhas. — Levo uma mecha

ao nariz. Descubro que, diferente do que pensava, o cheiro que me


persegue há anos vem do seu cabelo, não de um perfume.

Dos cabelos, subo novamente para o alto do rosto, passando

pelas sobrancelhas, bochechas e pelo nariz pequeno e arrebitado.

Por fim, passo os dedos pelos lábios cheios, e não preciso de mais
nada para me convencer de que ela é linda. Tão linda quanto ouço

sempre que o seu nome é mencionado.

— Perfeita, meu anjo. — Deixo-a ciente da minha constatação.


Quando penso em me afastar, ela desce a minha mão mais para

baixo, até que esteja na altura do seu seio.

— Não quer continuar? Gosto tanto do seu toque — confessa,

tornando as coisas muito difíceis para mim.

— E eu adoro poder te tocar assim.


Atendendo aos nossos desejos, acaricio os peitos médios e

firmes. A carne, certamente tão macia quanto as outras partes do

seu corpo, me deixa com a boca salivando de vontade de


abocanhá-los entre os meus lábios, para chupar até que fiquem

quentes e marcados pela minha posse.

— Assim — ofega, deixando claro quão sensível é ao meu

toque.

— Linda, não foi para isso que te chamei até aqui — digo a
verdade, porque, dessa vez o meu convite não teve segundas

intenções, ou não tinha. Agora que estamos na minha cama, pela

minha cabeça passam segundas, terceiras e quartas intenções. —


Me peça para parar, você está cansada e a nossa primeira vez

juntos não precisa ser hoje — falo, mas a puxo para mais perto de

mim.

— Vamos namorar só mais um pouquinho — pede. — Logo


terei que ir, os meus pais vão me matar se eu chegar tarde. — O fim

da sua frase chama a minha atenção, mas não tenho tempo para

pensar, porque a minha gata parte para o ataque.

O namorar um pouquinho da Ângela demora mais do que um

pouquinho. O beijo dela se transforma em mordidas no meu


pescoço, e vice versa. Em algum momento entre as mordidas e

lambidas, a parte de cima das nossas roupas somem. Quando não


dá mais para aguentar, peço licença e vou ao banheiro em busca de

preservativos.

Mesmo sem estar vendo, sei que deixei a minha chatinha à

minha espera. Pensar nisso me deixa ainda mais excitado e


possessivo.

Para a porra do meu azar, não encontro preservativos no

banheiro, muito menos dentro da minha carteira, lugar em que


sempre deixava um.

Ao saio do quarto para pedir emprestado com o meu irmão, o

idiota me faz perder mais tempo com suas gracinhas. Quando,

finalmente, consigo voltar para os braços do meu anjo, não a


encontro do jeito que deveria.

— Aqui está, espero que a minha demora não tenha acabado

com o clima — digo, e recebo o silêncio como resposta.

— Ângela, tudo bem? Por que não responde? — O desespero


começa a me tomar, fazendo-me amaldiçoar o maldito dia em que

fiquei cego.
— Mantenha a calma, Bruno — digo em voz alta, começando a

tatear a cama perto de onde a deixei.

Toco em uma Ângela inerte e respirando calmamente. Eu não

acredito que você está...

— Estava mesmo cansada, minha linda. — Ajeito-a melhor

sobre a cama, depois cubro o seu corpo com o lençol que Ana,

gentilmente, deixa dobrado em cima do criado. — Tenha bons

sonhos, Anjo.

Quando me deito do seu lado e abraço o seu corpo, sinto que

a minha vida, que antes era apenas escuridão, está se enchendo de

luz.
CAPÍTULO 12

ÂNGELA

É tão bom estar com o corpo colado ao dele, o braço forte em


volta da minha cintura. Eu só queria ficar mais um pouco. Quem

sabe acordar com ele ao meu lado pela manhã.

É uma pena que não seja possível, que não tenha opções de
escolha. O fato de eu ainda estar presa a uma teia, tecida à minha
volta desde muito nova, me impede de perseguir todos os meus

sonhos e desejos. É como se eu fosse uma menina de quinze, não


uma mulher de vinte e um anos. Dou satisfações, e tenho que fugir

da casa do namorado no meio da noite, apenas para não irritar os

pais, que não gostam quando chego tarde e não digo onde, e com
quem estive.

Como eu poderia agir de outra forma?

Eles não dão abertura para me abrir. Não posso falar que

estou conhecendo alguém, porque seria bombardeada de críticas


precipitadas, pois o único homem ideal para mim será o que eles

escolherem e aprovarem.

— Tenho que ir. — Após me livrar da maravilhosa conchinha,


desço a cabeça até a altura do seu ouvido e me despeço: — Tente

não ficar muito bravo quando acordar, eu preciso fazer isso.

Ele nem se mexe. O belo rosto carrega uma expressão serena


e tranquila. Beijo no canto da sua boca, depois levanto e visto a

minha roupa.

— Já está indo, querida? — Quase caio de susto quando saio

do quarto do Bruno e me deparo com Felipe e Ana. Eles estão

sentados no sofá, aparentemente assistindo a um programa de


culinária.

— Já deu a minha hora. — Na verdade, já passou da hora.

— Por que não passa a noite aqui? Se quiser, temos um

quarto de visitas — Ana sugere.

— Meus pais não entenderiam — explico, tiro o celular da

bolsa e me surpreendo. Pensei que já fosse madrugada, mas ainda

não é meia-noite.
Aconteceram tantas coisas nas últimas horas que acabei
perdendo a noção do tempo. Bruno me fez esquecer dos problemas,

eu sei que as minhas ações sempre trazem consequências, mas,

nem assim, deixo de viver o que me faz feliz.

— Então é melhor você ir, querida. — Eles se levantam para

se despedir. — Não queremos que tenha problemas, e tenho


certeza de que o Bruno também não iria querer.

— Ele está dormindo — falo sem jeito.

— É claro que está. Se não estivesse estaria aqui, colado em

você — o irmão afirma.

— Podem me emprestar caneta e papel? — peço, quando me

lembro que preciso pegar o contato do Bruno.

— Só um instante. — Felipe vai até a mesinha de centro e

pega o que pedi.

Anoto os meus dois números — não quero arriscar. Se não

receber nenhuma chamada sua, é porque mudou de ideia quanto ao

nosso caso.

— Entregue para o Bruno, por favor. — Ana assente, mas


reforço para que fique mais claro. — São meus contatos, não
esquece de entregar para ele.

— Pode deixar. — Ana parece estar se divertindo com o meu

desespero, isso porque não sabe do perrengue que foi para chegar

até aqui.

— Foi um prazer conhecer vocês. — No portão, despeço-me.

Foi realmente um prazer. Adorei os dois, e eles são tudo o que uma
família deveria ser. Bruno, apesar de tudo, tem o apoio de pessoas

que o amam. Saber disso me deixa feliz e triste em igual proporção.

Feliz por ele, triste por mim.

****

Pé ante pé, caminho discretamente pela sala de casa, tudo


para não chamar atenção.

Quando alcanço o último degrau da escada, o alívio toma


conta do meu corpo, mas a alegria dura pouco. A luz da sala é
acesa pela minha mãe, que me fuzila com o olhar.

Dona Mara Albuquerque, com os seus quase cinquenta anos,

aparenta ter menos. Os cabelos escuros e olhos azuis,


características herdadas por mim, formam um conjunto harmonioso.

Ela é uma mulher bela e elegante, beleza que esconde


perfeitamente a frieza e dureza do seu coração.

— O que fazia na rua tão tarde? — fala com aparente calma,


mas está irritada. — Não minta ao dizer que esteve na mansão da

Marina Estevan, porque eu sei que ela acabou de ter o bebê.

Sempre que posso, passo algumas horas na companhia da

minha amiga. Mas nem todas as vezes que saí de casa dizendo que
iria visitá-la realmente fui, e mamãe sabe disso. Parece que fareja

as minhas mentiras.

— Estava no hospital, o meu afilhado acabou de nascer e

tenho a obrigação de estar ao lado deles — justifico-me.

Eu realmente deveria ter ficado com eles, auxiliando em tudo

que fosse necessário, mas o Bruno apareceu no meu caminho e eu


não consegui pensar em nada que não fosse ajudá-lo. Até esqueci
que boas moças não podem ficar na rua depois da meia-noite.

— Não, você não estava até essa hora no hospital, Ângela —

desmente. — Liguei mais cedo para lá, falei com o próprio Erick e
ele disse que você tinha saído há horas. Onde esteve?
Ela está se segurando para não explodir, então desço as
escadas novamente, me aproximo e confesso:

— Fui levar o Bruno para casa, ele estava passando mal.

— Se refere a Bruno Pires, o advogado cego? — fala com

desdém, e isso não me agrada em nada.

— O grande advogado Bruno Pires. O cego fica por sua conta

— defendo, dando munição para as suas desconfianças.

No dia que eu aprender a manter a boca mais fechada, ou,

pelo menos, pensar antes de falar, os problemas irão diminuir.

— Desde quando você tem amizade com esse homem? Sim,

para estar o defendendo dessa forma, imagino que sejam íntimos.

— Ele é o melhor amigo do Erick, padrinho do bebê junto

comigo. A senhora devia saber disso, porque também foi padrinho


de casamento dos Estevan. A senhora e o papai estavam
presentes.

Mas dona Mara não sabe de nada. Isso mostra que não presta

atenção na filha que tem. Para os meus pais, o nome da família é


tudo o que importa, então eles tentam me controlar, já que sempre
fui o problema. Nunca fui comportada, ou adequada o suficiente,
mesmo tendo passado a vida tentando agradá-los.

— Eu não tenho tempo para perder com bobagens, minha


filha.

É claro que não.

Ela realmente é muito ocupada. Ocupada em escolher a roupa

e o sapato que vai usar na próxima festinha que comparecer.

— Vou subir, estou morta de cansada. — Dou dois passos,


mas era óbvio que não seria tão fácil assim.

— Ainda não terminamos, garota. Você não explicou o que

fazia na rua até agora. Esse Bruno mora tão longe assim?

— Não — confesso, pois há situações que não adianta mentir.


Mara é muito esperta, e quando percebe algo errado, me pressiona

até ouvir o que deseja. — Fiquei para jantar com a família dele.

Deixo de fora a parte em que quase transei com o meu gato.

Pena que o sono venceu e não pude desfrutar do banquete


completo que é aquele corpo.

— Ângela, escute bem o vou te dizer! Você não se atreva a ter

qualquer tipo de relação amorosa com esse Bruno. Não dê mais


esse desgosto para o seu pai.

— Vocês não têm o direito... — Meus olhos ardem, porque sei


que eles têm, sim, o direito.

Eu dei esse poder a eles, não só pelo que aconteceu, mas

também pelo que aceitei durante os vários anos que se passaram

depois.

— Nós temos, querida. — Ela chega mais perto e acaricia o

meu rosto.

Frágil, tornando-me outra pessoa, como sempre acontece

quando estou dentro desta casa, começo a chorar. A monstrar um


lado meu que não gosto, mas que, infelizmente, aparece mais vezes

do que gostaria.

— A sua rebeldia sempre trouxe desgraça para a nossa

família. Agora, cabe a você tomar cuidado para que outra não
aconteça.

— Eu sei... — Fungo, limpando o rosto com as costas da mão.

— Suba, tome um banho quente e descanse. Amanhã será

outro dia — fala carinhosa, ao dar um beijo na minha testa.


Um carinho que só vem quando tem certeza de que estou sob

controle, como um cachorrinho adestrado para fazer as vontades do

dono.

A Ângela de verdade, a que sempre foi alegre e irreverente,


essa não serve, e talvez eles tenham razão.

— Boa noite, mãe — despeço-me.

Finalmente posso seguir o meu caminho. Recolher-me na

minha concha. Nada diferente do que sempre faço quando estou


entre estas paredes.

No quarto amplo e luxuoso, onde as cores pastel e roxo

predominam no ambiente, jogo a minha bolsa no chão. Em seguida,

me jogo sobre a cama.

Ainda soluçando, me repreendo por demonstrar tamanha

fraqueza, por me permitir desabar dessa forma. É sempre assim,

uma batalha psicológica a cada passo que eles consideram fora da

curva.

Assim que as lágrimas secam, um sorriso se abre no meu

rosto. A minha mente fica cheia das coisas boas que aconteceram

hoje. O nascimento do meu pequeno príncipe, tão lindo e tão


amado. A rendição do Bruno, sincero e despindo-se dos temores.
Ele dizendo com todas as letras que me quer tanto quanto eu o

quero.

Os beijos apaixonados, as suas mãos explorando o meu corpo

com perícia por cima das roupas. Tudo foi bom, melhor que os

devaneios.

Por tudo isso, não permitirei que tirem a minha alegria. Hoje,
só tenho motivos para estar feliz.

Com esses pensamentos, acabo me entregando ao sono.

Satisfeita e cheia de expectativas para o novo dia, o dia que

acordarei com as forças renovadas, afinal, consegui o que queria.

O Bruno é meu!

Finalmente, meu!
CAPÍTULO 13

BRUNO

Acordo com o toque estridente do despertador programado


para todos os dias, sem exceção, tocar às sete horas da manhã e,

diferente do esperado, o meu lado da cama está vazio. O cheiro dos


seus cabelos é a única prova de que esteve aqui.

Ângela me deixou sem se despedir em algum momento depois


que dormi, e não faço ideia dos motivos que a levaram a tomar essa

atitude. Bom, pensando melhor...

A garota mora com os pais e, certamente, deve lhes dar

alguma satisfação. Eu nem posso reclamar, porque eu estou ciente

de que ainda é muito jovem.

É até irônico que eu, que provoquei tanto o Erick por


ter se apaixonado por uma ninfeta, esteja começando um caso com

outra ninfeta. Ângela tem vinte e um anos, mas, ainda assim, é treze

anos mais jovem que eu. Não que esse seja um fator determinante
para a nossa relação, pelo contrário, eu gosto da sua vivacidade e o

espírito jovem que a vida levou de mim.

Depois de levantar e fazer a higiene matinal, dirijo-me para a


cozinha e sou recebido pelo bom humor do meu irmão.

— Meu amor, veja só, o belo adormecido acordou. — Com

segurança, caminho para a mesa e puxo a cadeira, que nunca muda


de lugar. Antes que minha cunhada comece a encher o meu prato,

dou a atenção que o Felipe procura.

Irreverente, ele passou a vida me zoando pelas mínimas

coisas, e nem a cegueira foi capaz de mudar isso. Sua atitude,

apesar de tudo, só me faz amar e admirar ainda mais a pessoa que


ele é. Felipe me faz sentir mais como o Bruno de antes, não como o

homem dependente que me tornei.

— Bom dia para você também, meu irmão. — Toco a xícara à

minha frente, e como ela faz de tudo para tornar a minha vida mais
fácil, pego a garrafa de café que Ana deixou no centro da mesa

pequena. — Como passou a noite?

— Melhor que você, isso eu posso garantir — assevera. — O

que houve, Bruno? Em um momento você estava igual doido a

procura de preservativo, no outro a menina estava fugindo.


— Ele te pediu camisinha? — Ouço Ana sorrindo. Felipe não
poderia ter escolhido mulher mais parecida com ele.

Ana, a garota que conquistou a minha simpatia e amizade

desde o primeiro encontro. Amizade que ainda não havia construído

com nenhuma mulher. Foi Ana, com a sua capacidade de ler as

pessoas, quem primeiro duvidou do caráter da Carolina.

Minha cunhada virou o nariz para Carolina no segundo em que

foram apresentadas. Todos pensamos que estava com ciúme, mas

o tempo tratou de mostrar que ela estava certa todas as vezes que

duvidou do caráter da minha noiva.

— Pediu, sim, mas nós vamos guardar essa informação para

rirmos mais tarde, quando ele não estiver aqui para cortar o nosso

barato.

— Vocês viram a hora que ela saiu? — pergunto, ignorando os

palhaços.

— Sua garota saiu um pouco antes da meia-noite. Agradeceu

o jantar e mandou eu te entregar os números do celular dela. Acho

que ainda não está acostumada com o fato de você ser cego — Ana

comenta.
— Me empresta o seu celular, deixe-me colocar os números da

Ângela na sua agenda — pede, mesmo sabendo que posso fazer


isso. Basta que me diga os números.

O meu aparelho tem recursos de voz que me dizem


exatamente o que estou fazendo ao tocar na tela. Mas, como não

quero arrumar uma briga com ela, mais do que as que já causei no
casal por causa da proteção excessiva da minha cunhada, entrego o

aparelho, e deixo que faça o serviço.

— Prontinho — diz. — Ângela, namorada.

— Ela não é a minha namorada, Ana — nego. Pego o aparelho


e o guardo no bolso da calça, sem me dar ao trabalho de mudar a

forma como a minha cunhada salvou o contato.

— Bruno tem razão, querida. — Finalmente, Felipe dá uma

dentro. — Ela não é a namorada dele, são apenas amigos.

— Sim — confirmo.

— Tão amigos que ele veio até o irmão mais velho atrás de um
preservativo. — Felipe provoca e cai na risada.

Eu passei toda a vergonha, dei munição para dez anos de


provocações, e nem transei ontem à noite.
— Acho que você está perdendo a prática, irmão. Ela saiu

rápido, e apressada demais. — O tom de voz é teatral. — Estava


quase correndo.

— Ela tinha motivos para sair correndo daqui — defendo


Ângela, e a mim também.

— Fala sério, mano! Esse papo de amigos não cola. Você e


Ângela Albuquerque, a princesinha da cidade, estão tendo um caso.

— Como sabe quem é ela?

— E quem não conhece a família Albuquerque nesta cidade,

Bruno? — Ana, indaga. — Soube quem era a garota na hora que


coloquei os olhos em cima dela.

— Então, já que estão sabendo demais, entendam que a

minha relação com ela não diz respeito a vocês. Nós estamos bem,
e isso é tudo o que precisam saber.

— Não está mais aqui quem falou. — Ana diz, mas o assunto

volta a ser mencionado pelo menos três vezes, só no café da


manhã.

**
Depois de me arrumar, ligo para o motorista, Jânio. Apesar de
ser sábado, tenho que segurar as pontas no escritório, enquanto o
pai do ano baba no rebento.

No meio do dia, recebo uma mensagem. Ao destravar e tocar

a tela, a voz feminina começa a ler o conteúdo do texto.

Perdão por ter ido embora sem me despedir, eu realmente


precisava ir para casa.

Beijos, AA

Sem conseguir esconder o sorriso de contentamento, toco


novamente o visor. Começo a digitar a resposta, ouvindo, a cada
letra digitada, a confirmação pelo sistema de voz instalado no

aparelho.

Está desculpada, meu anjo. Mas saiba que vou cobrar pelo
abandono.

Do frustrado, Bruno.

Envio.

Quando vamos nos ver novamente?

Assim como eu, Ângela ficou com um gostinho de quero mais.


Ainda não sei, linda. Vamos deixar que a vida se
encarregue de nos juntar novamente. Ela sempre faz isso, não é
mesmo?

Falo da boca pra fora, não tenho a menor intenção de deixar

que o acaso cuide dos nossos encontros.

Tomara que não demore muito. Tenha uma boa tarde, e um

ótimo fim de semana, Bruno. Eu estarei aqui, esperando que o


acaso marque para logo o nosso próximo encontro.

— Boa tarde, doutor Bruno. — A voz do Wallace ressoa, e logo

o sorriso bobo some do meu rosto. — O que temos pra hoje.

Quando cheguei ao escritório, soube da preocupação deles em


dar as melhores condições de trabalho para os advogados com

necessidades especiais. Para mim, foram designados dois

estagiários, Wallace e Vanessa, cada um em um turno. Hoje eles

são advogados efetivados, mas também responsáveis por tornar o


meu trabalho dinâmico e produtivo.

— Pega a pasta do caso Armando Ribeiro, artigo 168 do CP.

Vamos começar as leituras — digo.

Apesar de conseguir fazer muitas coisas sozinho no


computador, através dos softwares que reproduzem tudo o que tem
armazenado dentro dele, a maioria dos processos ainda são físicos,

então conto com a ajuda de Wallace e Vanessa, que fazem leituras


e digitam as minhas considerações a respeito dos casos que

passam por mim.

— Obrigado, Wallace. — Ao fim do produtivo dia, despeço-me

do garoto. Quando ele me deixa sozinho, levo somente o tempo


necessário para arrumar tudo o que preciso e dou o expediente por

encerrado.

ANGELA

Quase a ponto de gritar de tanto tédio, permaneço deitada de


barriga para cima. Olho fixamente para o teto e espero que um

milagre torne esse dia menos arrastado e mais instigante. Já troquei

mensagens, que foram o ponto alto do dia, com o meu Bruno. Sim,
ele não mudou de ideia sobre a gente.

Do café da manhã ao almoço, minha mãe agiu como se

estivesse me acusando de alguma coisa. Por horas, ela manteve a

expressão diabolicamente enigmática. Tive a sensação de que


estava preparando uma armadilha para mim, algo para me manter

mais presa em suas garras.

Tudo pela manutenção do bom nome da família.


— Você vai passar o dia inteiro trancada no quarto, menina?

Na verdade, queria estar em qualquer lugar, menos aqui. Eu

poderia estar paparicando o meu afilhado, ou tentando seduzir o

Bruno, mas, depois de ontem, tenho que tomar cuidado. Do jeito


que os dois agem, são capazes de colocar detetives atrás de mim.

Foi o que fizeram durante as minhas viagens, mas fiz o necessário

para despistar os cães de guarda.

— Não vejo problemas em ficar aqui dentro, dona Mara —


digo, sem deixar de encarar o teto.

— Mas eu vejo — rebate. — Anda, se levanta daí! O seu pai

precisa falar com você.

— Ele está bem? — Sento-me tão rápido que minha cabeça


fica zonza. — Fala! O meu pai está bem? — indago, pois nada me

preocupa mais que a saúde dele. Tarcísio Albuquerque, com

cinquenta e cinco anos de idade, apelidado por todos que o


admiram, e também os que não admiram, de rei da hotelaria, não é

mais o homem de antes.

Apesar de ainda ser jovem, Tarcísio sofre com vários

problemas de saúde. Problemas causados pela minha imprudência


na infância, o principal motivo de eu nunca ter conseguido me
perdoar. Cabe a dona Mara o papel de sempre me lembrar da minha

culpa. Além de tudo, ela coloca nas minhas costas a


responsabilidade do que pode vir a acontecer.

— Está tudo bem com o seu pai, não se preocupe — respiro

aliviada —, ele só precisa conversar com você.

— Avise para ele que já vou descer. — Depois que ela sai,
vários cenários passam na minha mente, e nenhum deles é

animador. Quando Tarcísio me chama para dentro do escritório, é

porque o assunto é sério.

— Pai, o senhor pediu para me chamar? — Entro falando no


escritório, mas nada me preparou para o que estou vendo.

— O que você está fazendo aqui? Como tem coragem de

ainda pisar nesta casa? — esbravejo.

— Olá, priminha. Vejo que sentiu a minha falta — Mateus


debocha, com o sorriso odioso no rosto. A minha vontade é de ir até

ele e encher a cara idiota de porrada. Não parar, até que entenda de

uma vez por todas que não o quero perto de mim.

Isso não pode acontecer. Não agora.


CAPÍTULO 14

ÂNGELA

— E esse vestido, Ângela? Um Dolce & Gabbana. — A garota


deslumbrada toca no tecido, e nesse momento eu tomo mais um

gole de champanhe.

Se pensei que esse evento não poderia piorar, ter sido


encontrada por essa garota fútil, que dá um pequeno chilique a cada
frase, mostrou que nada é tão ruim que não possa piorar. As horas

se arrastam e não posso fazer nada para dar fim a esse martírio.

— É um modelo exclusivo — propositalmente, revelo. Agora

Alice Fraga, filha única de um dos sócios do meu pai, terá o que

comentar com as suas amigas quando eu me afastar. — Sinta-se à


vontade. — Dou o último gole, antes de me livrar da taça.

Finalmente me livro da cabeça de vento, mas não tenho a

esperança de ficar mais do que dez minutos sem ser interpelada por

algum puxa saco do papai, que não pôde vir, mas me mandou para
representá-lo.
Foi tomada por um misto de incredulidade e raiva quando

entrei no escritório do Tarcísio e me deparei com Mateus. Naquele


momento me lembrei que suas ações quase mataram a minha

melhor amiga. Fiquei sem acreditar que o meu pai teve coragem de

trazê-lo para dentro de casa, depois de tudo que aconteceu.

Meu pai me chamou para comunicar da inauguração de mais


um de seus hotéis, algo que, a princípio, não entendi. Ele não

costuma me deixar a par dos seus negócios, a menos que precise

de mim para alguma coisa, e só precisa de mim quando quer passar


a imagem de família perfeita.

Ele me comunicou que não estava se sentindo bem e que,

dessa vez, eu não só teria que comparecer, como representá-lo ao


lado da dona Mara. Quando perguntei o porquê da presença do meu

primo, o senhor, no auge do machismo, disse que não seria bom

que duas mulheres comparecessem sozinhas ao evento.

Fiquei chateada, mas não surpresa, quando descobri que

Mateus havia retornado à cidade há duas semanas e meus pais não

acharam importante me avisar.

Não tendo para onde correr quando o assunto é a saúde do

meu pai, aqui estou eu, como uma fugitiva da polícia, tentando me
esquivar dos meus dois cães de guarda, e das socialites
entusiasmadas.

— Obrigada. — Pego mais uma taça de champanhe, a terceira

da noite. Só assim para não sair correndo desse enterro.

Ao me encaminhar para um canto mais propício para


conseguir ter um pouco de paz, os meus olhos se deparam com a

cena que me faz amaldiçoar o momento em que me livrei da Alice.

O que ele está fazendo aqui, ao lado dessa garota?

Nunca imaginei que pudesse encontrar o Bruno aqui, ainda

bem assim, sendo seduzido pela chata, que toca no seu braço a
todo momento.

Quando Bruno disse que o acaso se encarregaria de nos juntar

novamente, não imaginei que seria assim. Principalmente hoje, com

toda a minha família por perto. Se tem a mão do destino nesse


encontro, ele tem um péssimo humor, porque tem tudo para dar

errado.

Muito errado.

Tudo seria mais fácil se eu o ignorasse da mesma forma que


estou tentando fazer com grande parte das pessoas presentes. No
entanto, jamais usaria do fato de ele não poder enxergar em meu

próprio benefício. Seria cruel.

— Ângela, algum problema? — Alice fala quando me

aproximo. O rosto já não demonstra o mesmo entusiasmo de antes


pela minha companhia. Aposto que, se pudesse, chutaria a minha

bunda até a lua.

— Não, só estou com sede — digo. — Uma água, por favor —

peço. Propositalmente, paro do lado do Bruno. Os lados dos nossos


corpos estão colados. Sem que Alice perceba, ele entrelaça os
nossos dedos.

É estranho como esse gesto parece natural para a gente. Ele

não deixa com que me sinta insegura, pois, apesar da Alice


predadora, Bruno sabe que é meu.

Quando foi que me tornei tão possessiva?

— Eu iria te apresentar o Bruno, mas eu tenho certeza de que

você já o conhece — Alice fala, olhando de mim para ele, não


disfarçando a insatisfação por nos ver tão perto um do outro. Isso

porque não se deu conta de que estamos de mãos dadas.

— Só de vista — minto, sem peso na consciência,


considerando que farei novamente. — Alice, acabei de lembrar, a
senhora Fraga está te procurando. — Olho para Bruno, e ele tem o

rosto tenso. Aposto que está tentando conter o sorriso.

— Estranho, não me falaram nada — diz.

Porra! Que garota chata. Será que não percebe que está
sobrando?

— Foi agora há pouco, quando estava vindo buscar uma

bebida. — A verdade é que nem cheguei a ver a mãe dela. Tive


sorte de ter inventado uma boa desculpa, pois não saberia me
justificar, caso a mãe dela não tivesse vindo. — Vá ver o que ela

quer, querida. Pode ser algo sério — dissimulo. — Não precisa se


preocupar, farei companhia para o seu amigo.

— Tudo bem — fala, a contragosto. — A gente se fala?

— Claro. — Bruno, até então calado, responde. Ela se


despede com o beijo no seu rosto.

Assim que a garota se afasta, solto a mão do Bruno.

— Algum problema? — indaga.

— Tudo ótimo — limito-me a dizer.

— Você está com ciúme daquela garota? — pergunta. Ele está

se divertindo com isso? — Estávamos apenas conversando.


— É claro que estavam — digo com ironia. — Eu não esperava
te encontrar aqui — revelo.

— Não deu para avisar com antecedência, então decidi te


fazer uma surpresa. — Estica o braço novamente e, sem me

importar com o público em volta, seguro a sua mão. — Eu sei que


ficou com ciúme, mas não precisava. Nós estamos juntos, lembra?

A versão fofa do Bruno não deixa de surpreender, e depois dos

dois últimos dias, eu deveria estar um pouco mais acostumada com


essa faceta.

Bruno e eu, como se estivéssemos protelando o inevitável,


decidimos fazer como ele propôs. Não marcamos nenhum encontro,

passamos os últimos dois dias sem nos vermos, e foi a melhor coisa
que poderia ter acontecido.

Depois da minha primeira mensagem, com o pedido de


desculpas por ter ido embora de sua casa sem me despedir, não
paramos mais de escrever um para o outro. Sempre que o meu dia

parecia ruim, era só receber uma mensagem sua que tudo mudava.

Nós nos conhecemos melhor através de perguntas


despretensiosas, falamos da nossa infância e fase adulta de
maneira leve. E a cada mensagem trocada mais íntimos nos
tornávamos. Foi uma experiência diferente, mas foi perfeita.

Ontem, depois que relembramos o episódio do banheiro, o


clima ficou mais quente, e o teor das mensagens começou a mudar.

Mudou o suficiente para fazer o meu gato me ligar e dizer


sacanagens com a sua voz sexy no meu ouvido. Elas fizeram a
minha calcinha ficar úmida de desejo. Entre sacanagens e
promessas para quando tivermos a nossa primeira vez, Bruno

encerrou a ligação dizendo que iria direto para o banheiro tomar um

banho frio. Também tive que fazer o mesmo.

Sem que precise de rótulos, nós sabemos o que somos, ou o


que seremos para o outro. O tempo que tivemos para pensar,

apenas mostrou a certeza de que não estamos errados em dar esse

passo, que o que existe entre nós precisa ser vivido, pelo tempo e
intensidade que os nossos desejos ditarem.

— Estamos juntos — reafirmo.

— Sobre eu estar aqui hoje, o Erick me incumbiu de

representá-lo na missão — explica. — Um evento como esse é um


prato cheio para clientes em potencial.

— Veio sozinho?
— Não. Vim com o meu assistente, mas já o liberei para me

divertir um pouco.

— Ficou sozinho, e deu a oportunidade perfeita para a Alice

atacar — digo, ainda não tendo superado o assunto.

— Como você pode ser tão ciumenta? — O tom não é de

crítica, pelo contrário, tem um sorriso de satisfação no rosto.

— Não é ciúme — nego.

— Sei que não é. — Bruno está se divertindo às minhas

custas.

— Vem, vamos sair daqui. — Puxo seu braço. Dou uma olhada
em volta e não vejo a minha mãe, ou o idiota do Mateus.

— O que você está planejando, mocinha? — indaga, mas não

hesita em seguir os meus passos.

— Um lugar para termos privacidade.

Discretamente, levo Bruno pela ala lateral do hotel, um lugar

pouco iluminado, onde os convidados, que lotaram não só o salão,

mas também o jardim do cinco estrelas, não costumam circular.

— Agora, sim, a sós — digo, depois apoio às suas costas


contra o concreto.
Bruno não perde a oportunidade de me agarrar pela cintura.

Era tudo o que eu queria.

— Eu estava com saudade de você — declaro, o abraço pelo

pescoço, e meu namorado me aperta ainda mais entre os seus


braços. — Me beija, Bruno — Fico na ponta dos pés, e ele toma os

meus lábios com a fome e a paixão que foi reprimida por dois dias.

Bruno me devora sem piedade. Ele chupa minha língua para

dentro da sua boca e, rendida, o deixo tomar o que quiser de mim.


Saciar a fome que fiz questão de alimentar.

— Você é a minha perdição, Ângela. Porra!

— Bruno, não posso mais... — gemo quando ele, querendo me

deixar respirar, transfere os beijos para o meu pescoço. A forma


como me toca faz o vestido curto subir a ponto de quase mostrar

minha bunda.

— Se não te comer nos próximos minutos, linda, eu vou

enlouquecer...

— Vamos embora daqui, me diz aonde quer ir — convido,

apertando-me contra a evidente ereção.


— Qualquer lugar onde eu possa te ter toda para mim. — Volta

a me beijar, como um viciado em contato com a sua droga preferida.

Eu estou louca de tesão, completamente entregue e certa de

que nada pode nos atrapalhar.

— Interrompo, priminha?
CAPÍTULO 15

BRUNO

O desejo de esganar o dono da voz que nos interrompeu serve


como prova do quanto estou dominado por essa menina.

O sentimento de frustração prova que quando estou com

Ângela nos braços, o resto deixa de existir, tudo o que penso é no


desejo de tê-la mais próxima, de estar dentro do seu corpo. O Bruno
de antes, o que não via com bons olhos os casais indiscretos e

propensos a exagerarem nas demonstrações de afeto em público,


esse não existe mais. No momento, tudo o que eu quero é esganar
esse filho da puta, cujas duas únicas palavras ditas pingaram

sarcasmo.

— Dá o fora daqui, Mateus — Ângela pede, afastando-se dos


meus braços.

— Você não vai me dizer o que fazer! — assevera, e não gosto


nada do seu tom de voz ao falar com ela. — Achou mesmo que

conseguiria se esconder? — indaga. Pergunto-me o que ele está


querendo dizer. Não é possível que esse cara esteja vigiando a

prima.

Que motivos ele teria para fazer isso?

— Vamos, você tem que agir como a anfitriã da noite, foi o que

seu pai pediu que fizesse. — Assim como o Erick fez comigo,

Tarcísio Albuquerque passou para a filha o dever de o representar.

Não imagino o que pode ter acontecido para impedir a vinda


do homem, e muito menos por que a minha garota se sujeitou a

isso. Embora deva estar acostumada, esse não parece o tipo de

evento que preencheria os seus sábados. Mas posso estar

enganado, talvez não a conheça como penso.

— Você sabe muito bem que já fiz o que precisava ser feito. —

Ela não mente, a festa começou há horas, e a parte chata de dar

atenção para os convidados já passou. Eu mesmo fiz política com

os clientes em potencial, e quando me convenci que era o


suficiente, sentei-me para relaxar e tomar uma bebida.

Nada saiu como o planejado, logo fui presenteado com uma

companhia indesejada. A garota falava de assuntos nada

interessantes, enquanto tentava acabar a noite na minha cama, mas

os meus pensamentos estavam na Ângela, na expectativa de


encontrá-la antes de ir embora. Em algum momento, comecei a criar
teorias para o fato de não termos nos esbarrado, dentre elas a

hipótese de a garota ter fugido de mim.

Respirei aliviado quando, sem qualquer aviso, o meu pequeno

anjo se materializou ao meu lado, livrando-me da presença da tal

Alice, e me presenteando com a sua presença.

Também não posso negar que fiquei feliz pela forma como

agiu. Não sei se é saudável, ou pouco recomendável, mas vê-la

toda enciumada — mesmo negando — trouxe uma incontrolável

vontade de agarrá-la ali mesmo no bar, reafirmar na frente da

garota, e de quem mais estivesse vendo, que o que existe entre nós

é real. Somos um casal.

— O que seu pai vai pensar quando souber que esteve pelos

cantos, quase transando com um desconhecido? Está agindo como

uma vagabunda.

— Cuidado com a boca. Acho melhor você dar o fora e


respeitar as vontades dela — aviso. Tenho as mãos em punhos,

tento conter a raiva.

— Não se envolva, cara. Eu sou o primo dela, e você não

conhece essa garota.


— Cala a porra dessa boca, Mateus — pede. Tenho a

sensação de que ouvi esse nome recentemente. — Vamos, Bruno.


— Ela segura a minha mão, então a minha ficha cai. Esse é o

mesmo moleque que por pouco não foi responsável pela morte da
Marina.

— Seu filho da puta. — Esquecendo-me da minha situação,


avanço na direção dele.

— O que foi? — pergunta surpreso. — Não está me vendo?

— Bruno, não vale a pena. — Ângela segura o meu braço e

me puxa para o seu lado.

— Você não tem limites, prima. Além de louca, decidiu se

esfregar em um maldito cego. Um homem cego, Ângela! — fala com


escárnio. Apesar de tudo, não deixa de ter razão.

Muitas pessoas pensarão como ele, porque na hora que o


preconceito vem, não importam títulos, beleza física, ou conta

bancária. Tirando isso, o que sobra é o homem incapaz de defender


a namorada de um idiota qualquer.

— Posso ser cego, mas nem isso será capaz de me impedir de


acabar com a sua vida, moleque idiota — afirmo ao segurar Ângela
pela cintura. — Sugiro que vá embora e mantenha a boca fechada a
respeito do que viu aqui. Pesquise um pouco sobre mim e saberá

que a sua próxima fuga não será para um lugar tão agradável.

— Você está muito ferrada, priminha — ameaça, antes que o


bater de pés contra o piso denuncie a sua fuga.

Junto com o fim da cena desagradável vem o latejar na

cabeça. Tenho que me apoiar novamente contra a parede em busca


de equilíbrio.

— Bruno, me perdoe. — Ela desce as mãos que cobriam o


meu rosto, depois começa a dar beijinhos carinhosos. — São as

dores de cabeça? — indaga, confirmo com um aceno.

— Vamos sair daqui. Você quer que eu te leve para casa?

— Vim com o motorista, mas não quero ir para casa agora —

afirmo.

— Não? — Será que ela é tão inocente assim?

— Preciso ficar com você — revelo, cada vez menos temeroso


de dar poder, de deixar que saiba quão necessitado dela estou. — A

dor vai passar.

— Vamos para onde você quiser. — Cheia de ternura, que é


apenas um dos motivos que me deixam tão atraído, Ângela faz
carinho no meu rosto. Nem a dor de cabeça é capaz de diminuir o
desejo crescente de fazê-la tão minha quanto é humanamente
possível.

Quando ela puxa a minha boca para um último beijo, chego à

conclusão de que não dá mais para adiar. Não importa a situação de


agora há pouco, a minha cabeça dolorida, e muito menos o acordo
de não precipitar as coisas. O que nós dois queremos já foi adiado

por tempo demais. Hoje, nada me impedirá de amar o seu corpo, de


adorá-la por ter me mostrado uma beleza que vai além do que os

olhos podem enxergar, a beleza de ser quem é.

Ângela, o meu pequeno anjo.

— Não me dê ideias, minha linda — ameaço quando estamos


indo para a porta do hotel, lugar onde o motorista disse que me

esperaria.

— Não está em condições de fazer isso que está pensando —


fala, como se explicasse para um garoto. — Primeiro você tem que

ficar bem, depois o sexo.

— Eu não disse nada, é você quem está chegando a uma


conclusão. — Faço-me de inocente. — Será que só pensa em sexo,

senhorita convencida?
— Confesso que é um pensamento recorrente, ainda mais
depois de todas as promessas que fizemos na madrugada de
ontem.

— Você é dona dos meus pensamentos, é a razão de eu estar

com as mãos calejadas — provoco.

Não que seja apenas provocação, pois nunca me masturbei

tanto no chuveiro como tenho feito nos últimos dias, depois que
entrei no seu jogo e comecei a detalhar tudo o que farei quando tiver

minhas mãos no seu corpo nu.

— Cale a boca, ele vai nos ouvir. — A garota se refere ao

motorista. — Boa noite.

— Boa noite, senhorita.

— Nos leve para o hotel Houston, por favor — peço, depois

entro com ela no banco de trás do carro.

— Você está melhor? — Ângela está preocupada e,


aparentemente, não se importa se estamos indo a um hotel.

Poderia levá-la em casa, ou até mesmo para a minha, mas

quero passar mais tempo com ela, e não preciso do meu irmão

pegando no meu pé para saber se transei.


Depois de fechar a porta da suíte presidencial, Ângela me

abraça por trás e deita a cabeça nas minhas costas.

— A dor passou? — Permanece preocupada.

— Praticamente não existe. — Segurando a mão delicada, a

puxo para a minha frente e abraço sua cintura fina. — Não se

preocupe, meu anjo, é somente uma das consequências do


acidente. E apesar de incomodar muito, não é nada que não tenha

acontecido milhares de vezes.

— Não quero que fique mal por causa daquele idiota —

assevera, deitando a cabeça no meu peito. Mesmo estando de


saltos altos, continua sendo bem mais baixa que eu.

— Linda, o que existe entre você e aquele cara?

— Ele é um babaca que os meus pais insistem em abrigar.

Usam o Mateus para me vigiar — revela.

— Por que eles fazem isso? — Acho estranho o que acaba de

dizer.

Por que uma garota como ela precisa ser vigiada?

— Eles não confiam em mim, acreditam que não tenho


capacidade de me comportar, que coloco em risco a reputação e o
nome da família — diz. A história vai ficando mais estranha. — Eles

não estão errados, Bruno, eu não sou um bom exemplo de ser

humano — afirma contra o meu peito.

— Não fale assim de si mesma, Ângela. Não quero mais ouvi-


la se menosprezar dessa forma, promete? — peço, decidido a

mudar de assunto.

Ela falou muito hoje, e não quero pressioná-la a contar mais.

Diferente do que deixa transparecer, Ângela tem a alma tão, ou


mais, quebrada que a minha. O que falta em mim, e sobra nela, é o

entusiasmo, a sede de viver.

Mesmo sendo tudo que não preciso para a minha vida, mesmo

trazendo uma bagagem gigante, a sua fragilidade, escondida atrás


da máscara da mulher alegre e irreverente, despertou em mim o

desejo de protegê-la, de ficar. De apertá-la forte entre os meus

braços e nunca mais soltar.

Que ironia, uma alma ferida querendo curar outra.

— Prometo. — Está toda dengosa contra o meu peito ao

declarar. — Não acredito que estamos aqui, sem a barreira da linha

telefônica, sem o risco de o Erick aparecer para nos interromper. —


Quando termina, nós dois sorrimos com a lembrança.
— Hoje você não escapa, minha chatinha. — Desço a boca até

o seu ombro desnudo e deixo uma leve mordida. — Se estiver


pronta, hoje te farei minha. Também precisa não cair no sono

enquanto coloco a camisinha — brinco.

— Conte com isso, meu homem de olhos azuis. — Ela começa

a afrouxar o nó da minha gravata. — A única coisa que não quero


fazer é dormir.

— O que você quer, Ângela?

— O que venho desejando há mais de dois anos. Quero me

entregar a você de todas as formas possíveis. Me ame com a


mesma fome com a qual devorou minha boca mais cedo. — Seu

pedido fez mais pela minha libido do que vinte minutos de

preliminares fariam. — Faça de mim a sua mulher, Bruno.

— Farei, minha garota ousada. — Mordo o seu pescoço

cheiroso com um pouco mais de força, a força que precisarei

controlar na nossa primeira transa. — Depois que terminar com

você, pelo seu corpo, e entre as suas pernas, ficarão as marcas e


as sensações do que significa ser a minha mulher.
CAPÍTULO 16

ÂNGELA

As palavras proferidas por sua voz sexy, e rouca pelo tesão,


me deixam com as pernas bambas, o coração acelerado e os pelos

do corpo arrepiados em expectativa pelo que virá a seguir. É o que


venho desejando há tanto tempo que não lembro qual é a sensação
de não passar os dias sem o desejo de tê-lo entre as minhas

pernas.

— Isso é tudo o que eu mais quero. — Jogo a gravata em cima


de uma das cadeiras de madeira que compõem a decoração do

quarto luxuoso, o mais caro do hotel cinco estrelas. — Bruno...

Interrompo-me, pois seria precipitado falar tudo o que sinto por


ele. A nossa relação está começando agora e Bruno pode querer

correr ao se deparar com tanta intensidade.

Uma intensidade que nada lembra do meu eu dentro das

paredes da minha casa. A energia que traz o desejo de me rebelar


contra a pessoa que preciso ser para ser aceita em uma sociedade

que não tem nada a ver com a minha verdadeira essência.

— Não se cale, minha linda. — Bruno acaricia o meu rosto


com umas das mãos, enquanto a outra me aperta junto ao seu

corpo. Dos olhos, ele deixa transparecer uma intensidade, que nem

de longe lembra o olhar de uma pessoa que vive na escuridão.

Com Bruno, tenho vontade de me despir por completo, antes

que os seus olhos sem luz enxerguem a escuridão da minha alma.

— Não quero que se esconda de mim, me deixa ver você.

Tudo de você.

— Ia falar que do seu lado não me importo com mais nada, os

temores se vão, e só quero estar aqui, nos seus braços, sendo eu

mesma, a Ângela que não é perfeita, mas também não é um

monstro. — De forma involuntária e inconveniente, lágrimas grossas

escorrem por meus olhos. Não sei se foi pelo fungar baixinho, mas
Bruno percebe e seca com carinho o meu rosto.

Que vergonha! Estamos aqui para finalmente fazermos sexo e,

ao invés disso, ele tem que consolar uma garota chorona.

— Não chore, meu anjo. — Abraça-me com força e, entre os


braços fortes e calorosos, sinto-me protegida. — Você não tem nada
que lembre a um monstro, e já disse que não gosto da forma como
fala de si mesma. — Ele desfaz o nosso abraço e volta a

inspecionar meu rosto com as mãos. Felizmente, me recompus

rápido, não caí no choro desesperado, como costumo fazer depois

das batalhas psicológicas que travo com a minha mãe.

— Desculpa, Bruno. Você não veio aqui para ouvir os meus


dramas.

— Paguei esse quarto para ficar com você, seja do jeito que

for. Além disso, tem a noite inteira para fazer o seu tão sonhado

sexo com o grande Bruno. — Ele brinca, com um senso de humor

que poucas pessoas presenciam.

Apesar do desejo de nos encontrarmos ter existido, não

fizemos nada a respeito. As conversas, tidas na intimidade dos

nossos quartos, criaram um elo maior entre a gente. Elas me

deixaram à vontade para desabar nos seus braços. Fiz porque sinto

que é uma pessoa digna da minha confiança.

Contra todas as probabilidades, sabendo que tem tudo para

dar muito errado, eu me sinto protegida nos braços de Bruno Pires.

— O grande Bruno Pires deveria alimentar o pequeno anjo.

Para aguentar o grande soldado guardado dentro desta calça, o


pequeno anjo precisa estar bem alimentado — provoco.

— Não se preocupe, chatinha — diz, então começa a descer

as mãos pelas minhas costas, e para quando estão nos lados da

minha bunda, apertando as carnes macias de maneira que nossos


corpos fiquem mais colados. Com o ventre, consigo sentir toda a

potência da grande ereção. — Quando eu te pegar, você vai estar


bem alimentada, tão bem alimentada que vai me aguentar a noite

inteira em cima de você, te comendo até o dia amanhecer. Vou te


montar por horas a fio, e você vai me tomar sem reclamar uma

única vez, sabe por quê?

— Não sei... — A minha respiração está curta. As lembranças


ruins e as lágrimas estão bem no fundo da minha mente.

A Ângela que sou agora está completamente dominada por um

homem, atracada ao pescoço dele e esfregando uma perna na


outra, a fim de aliviar a dor do vazio, do desejo de ser preenchida,
de ficar tão cheia que não haja espaço para mais nada. Apenas ele

dentro, em cima, e por todas as partes de mim, aplacando a vontade


que tenho dele, somente dele.

— Sabe, você sabe, minha linda. — Bruno afirma ao abaixar


minimamente o corpo, para em seguida pedir: — Segure firme. —
Só tenho tempo para me agarrar ao seu pescoço quando Bruno me

iça para frente e envolve as minhas pernas na sua cintura.

Queria estar de joelhos, agradecendo ao vestido floral de


frente única, cujo comprimento não chega à metade de minhas
coxas. Sem ele, seria impossível estar tão perto do meu homem

como estou agora. Só vai melhorar quando ele estiver dentro de


mim.

— Linda, quero que você me guie — pede. Quando chego com


o rosto bem perto, Bruno fala contra a minha boca. — A nossa

integridade física vai depender única e exclusivamente de você —


avisa com seriedade. — Leve-me até o lugar por onde pretende
começar a nossa diversão — explica, uma ideia vem à minha

cabeça e espero não está fazendo merda.

A cama seria muito previsível, então vou deixar os meus


instintos me guiarem.

— Dê dois passos para a esquerda — inicio os comandos e,

sem questionar, ele faz como pedi — Conte seis passos para frente
e descubra quão ousada o seu caso é.

— Você não é o meu caso, Ângela — diz, enquanto caminha.


Ele não esconde o incômodo pelo que acabo de falar.
— Se não somos um caso, somos o quê? — Bruno para de
caminhar, e dá a resposta que não sei interpretar, mas que soa bem
aos meus ouvidos.

— Se veja como minha — pede, e segue o meu comando. —

Você é minha. Eu sou seu tanto quanto é possível uma pessoa


pertencer a outra sem se desprender de si mesma.

— Gosto disso — afirmo quando ele bate com as pernas no

tampo amadeirado da mesa redonda. Com paciência, me segura


com um braço, com outro tateia o móvel.

Quando percebe do que se trata, abre um sorriso malicioso,


que não esconde as suas intenções.

— Sei que gosta, Ângela. — Com cuidado, me coloca sentada


em cima da mesa e abre as minhas pernas o suficiente para se

colocar entre elas. — Também foi muito ousada em nos trazer para
a mesa que daqui a pouco será colocada a nossa janta — assevera.

Assim que chegamos ao hotel, Bruno quis saber se eu queria


jantar. Não tive como negar a oferta, pois além de não ter comido

nada na festa, as taças de champanhe me deixaram com mais


fome.

— Quer ser comida onde vai se alimentar mais tarde, é isso?


— A minha ousadia te assusta? — provoco, respondendo a
sua pergunta com outra.

— Não, anjo. — Sobe as duas mãos pelas minhas coxas


desnudas. — A sua ousadia e falta de pudor me excitam. — Bruno

desce a cabeça até a minha orelha e deixa uma mordida bem na


pontinha. Eu enrolo as pernas em volta da sua cintura e o trago para
junto do meu corpo.

— Mal posso esperar para te ver cumprindo tudo o que

prometeu — digo.

— Pela manhã, acordará exausta e sabendo que não faço

promessas vãs, minha linda — afirma, mordendo o meu lábio


inferior com um pouco mais de força que o normal.

Quando o gosto metálico de sangue se espalha pelo meu

lábio, o que sinto passa longe da dor. A minha dor é pela ausência

do seu membro me preenchendo, do tesão que vem me


consumindo a cada minuto que passo sem a experiência completa.

Após a mordida, Bruno toma a minha boca com um beijo voraz

e desesperado, o gosto pungente do pequeno filete de sangue serve

como um ingrediente a mais para o que não poderia estar melhor. O


homem imprime força ao segurar a minha cabeça com as duas

mãos e envolver a minha língua com a sua.

Nos seus braços, meu corpo está trêmulo, as carnes estão

fracas e minha calcinha úmida a ponto de incomodar.

— Deliciosa... — Termina o beijo puxando o lábio inferior entre

os dentes. Ao deixá-lo, leva os dedos até a carne e fala: — Estão


inchados... Perdoe-me por tê-lo mordido — pede, e dá um selinho

que nem de longe lembra a impetuosidade de agora há pouco.

— Não tem do que se desculpar, gostei muito do seu jeito de

me beijar. Não sei como explicar, mas dessa vez foi diferente das
outras.

— Foi diferente — o homem passeia as mãos pelas minhas

costas, e os olhos parecem escuros como o céu que prevê uma


forte tempestade —, porque não preciso mais controlar as minhas

ações com você. Agora que aceitei que não tem como fugir de nós,

sinto-me livre para te apresentar o meu pior lado. Um que pode

fazer com que saia correndo.

— Não tenho medo de você, Bruno — aviso. — Sei que não é

capaz de fazer nada para me machucar.

— Acabei de ferir o seu lábio com o único beijo.


— Não foi bom? — pergunto.

— Foi mais do que bom, você sabe disso, minha garota de

cabelos escuros, mas preciso que me diga quando a minha

intensidade for demais para você.

— Nunca será demais, querido. — Acaricio os cabelos da sua

nuca com a ponta dos meus dedos. — Não para mim.

— Eu não posso mais esperar, Ângela — avisa em um

rosnado que deixa transparecer o quanto a minha última declaração


o excitou. Se não fosse isso, o seu pau duro apertado contra a

minha barriga teria denunciado o fato. — Tenho que te comer agora

mesmo.

— Necessito que me foda com tudo o que tem.

Antes que eu termine de falar, Bruno tem as mãos na barra do

meu vestido, levantando-o com pressa. Com a intenção de ajudá-lo,

levanto os braços para cima.

— Está vendo? Mesmo cego, o seu homem ainda sabe como


despir uma mulher — fala com a boca encostada no meu ouvido e

as mãos conhecendo a minha lingerie.


Felizmente, as peças não são algo que mereçam a minha

preocupação, considerando que tenho prazer em comprar lingeries


sensuais. Além delas, a depilação também está em dia, porque eu

tinha esperança de que isso fosse acontecer.

— Espero que esse seu talento seja usado apenas comigo —

aviso, mas logo me arrependo.

Estou muito possessiva, e a gente nem transou ainda.

— Você é ciumenta — comenta, divertido.

— Perdão.

— Não precisa se desculpar, porque eu não vou pedir por

sentir ciúme de você, que é linda.

— Mas você não... — O cérebro age tarde demais, e não

consigo impedir a minha boca grande de falar merda.

— Eu não te vejo, mas sei. Sempre ouço sobre o quanto

Ângela Albuquerque é linda. Sinto quando toco o seu rosto e corpo.


Para mim, você não é nada menos do que linda, o mais próximo da

perfeição que uma mulher pode chegar. Se um dia puder ver o seu

rosto... — ele se interrompe.


— Eu e minha boca grande não merecemos a sua gentileza,

Bruno — afirmo, ainda que a frase inacabada tenha ficado na minha

memória.

Se um dia puder ver o seu rosto...

— Você fala muito, minha linda — diz, me distraindo das

conclusões que estava prestes a chegar. — Estou aqui, doido para

te foder até o esquecimento e você não para de falar — provoca,

quando, cuidadosamente, deita o meu corpo sobre a mesa.

Deitada, o vejo desabotoando a camisa social. O seu abdômen

definido evidencia que é um frequentador assíduo de academias.

Que gostoso!

— Promessas e mais promessas — provoco, ciente que agora


fui longe demais. Quando Bruno volta para perto, ele desliza as

mãos pelas minhas panturrilhas, até pegar os meus pés e tirar os

sapatos de saltos.

— Agora, minha garota que não tem medo do perigo, vou te


dar o que vem querendo há tantos anos. Sempre quis me dar a

boceta, não é verdade? — Abre mais as minhas pernas e volta a se

colocar entre elas.

— Sim... — digo a verdade.


Quando sinto suas mãos subindo pelo meu abdômen, e o

corpo finalmente descendo sobre o meu, me regozijo pelo que irá


acontecer, por finalmente estarmos aqui.

— Muito gostosa. —Beija-me novamente, enquanto a mão

esquerda puxa a minha perna para cima do seu quadril.


CAPÍTULO 17

BRUNO

Se for sonho, não quero acordar nunca mais, pois nos meus
braços, sob o meu corpo, e ao alcance das minhas mãos, está

Ângela Albuquerque, a mulher que desejo ter há muito tempo, um


desejo que até pouco tempo não acreditei ser possível de ser
saciado. Agora, com o corpo pressionado ao seu, prestes a invadir o

calor pulsante, percebo que nunca existiu outro caminho além


desse.

Desde o início, a voz, e o cheiro do perfume dos seus cabelos,

chamaram a minha atenção. Antes mesmo de tomar ciência de

quem era ela, uma conexão se estabeleceu, uma química


inexplicável cresceu aos poucos, mesmo em meio às nossas

negações, até se transformarem numa atração irresistível e


impossível de ignorar.

Em meio à vida de resignação e aceitação de uma nova

realidade, ela apareceu como um furacão, sem pedir licença, tirando


tudo do lugar. Ângela é diferente. Com as outras era mais fácil,

porque eu não tinha que me controlar para não me envolver muito,


era muito mais fácil manter a cabeça no lugar e lembrar porque não

queria mais me relacionar de verdade com ninguém.

Resisti por um tempo, tempo demais, considerando onde

estamos agora, e o que estamos prestes a fazer, mas nunca houve


uma chance contra isso, tudo o que consegui foi adiar o inevitável.

O fim, de uma forma ou de outra, seria esse: Ângela e eu

prestes a fazermos amor. Sim, amor, porque ela é mais do que uma
noite de sexo para mim, desperta sentimentos de afeto e proteção.

Ângela representa uma nova chance de voltar a sentir, de voltar a

acreditar que, apesar de tudo, tenho uma razão para sorrir, para
esperar com entusiasmo pelo novo dia.

— Bruno, me beija — pede. Não é a primeira vez que ouço a

frase vindo dela, assim como não é a primeira vez que sinto um
prazer inexplicável em ouvir.

— Vou fazer mais do que beijar. Durante toda a noite, você vai

sentir o tamanho do desejo reprimido que sinto por você — aviso,

bem próximo ao seu rosto, sentindo a sua respiração curta e


ofegante. — Você vai poder ficar? — indago, lembrando-me do
momento que o moleque nos interrompeu.

Por um momento, tive a impressão de que ele estava nos

seguindo, mas não vou pensar na questão agora, porque só quero

foder com essa garota e, pelo ritmo da sua respiração, ela quer o

mesmo.

— Vou ficar pelo tempo que você me quiser ao seu lado —

assevera, apertando mais a perna esquerda contra o meu quadril,

trazendo-me para mais perto do seu corpo deitado sobre uma mesa,

e completamente entregue.

O que eu não daria para poder vê-la agora.

— Vou cobrar. — A minha mão sobe pela sua coxa lisa e

macia. — Agora, só quero sentir você. — Puxo a outra perna, tendo-

a com as duas em volta da minha cintura. — Como você e eu

queríamos, não é mesmo, meu anjo?

— Sim, eu só pensava nisso — diz, e os seus dedos fazem

carinho na minha nuca. Eu, entre uma palavra e outra, mordisco o

seu lábio inferior. — Perto do que estou sentindo agora, todos os

outros parecem lembranças pálidas e sem graça. E a gente nem

transou ainda.
— Ângela, não quero que mencione outras experiências

enquanto estiver comigo — peço, sendo surpreendido com a minha


possessividade, sentimento que nunca fez parte dos meus

relacionamentos antes do acidente, nem mesmo pela mulher que


pretendia ter como esposa. — Gosto de imaginar que você não foi
de mais ninguém — revelo meus pensamentos.

É irracional pensar assim, porque ela nunca se fez de virgem

puritana, mas não posso evitar o gosto amargo na minha boca


quando penso nela com outros caras.

Sim, estou com ciúme de uma das mulheres mais lindas do

país. A mulher que me faz querer gritar para todos dizendo que é
minha.

— Imagine que nunca fui, e eu farei o mesmo. — A sua fala se

torna música para os meus ouvidos. — Para mim será uma primeira
experiência. A primeira vez que quis tanto ser de alguém, como
queria ser sua. — As palavras dispensam preliminares, e o meu

tesão aumenta a um nível insuportável.

— Ângela, estou começando a suspeitar que de anjo você não

tem nada, e acreditar que, como disse o Erick algumas vezes, você
é o próprio demônio de vestido.
— Demônio por quê? — indaga, sem que o tom de voz

denuncie irritação.

— Minha diabinha — falo, ajeitando-me melhor para deixar os


nossos sexos em contato. Mesmo com a minha calça social e a sua
calcinha como barreira, sou capaz de sentir o calor da sua boceta.

Se tocar agora entre nossos corpos, encontrarei a sua calcinha


úmida.

Ângela e eu iniciamos um beijo quente, dando continuidade ao


que começou dentro do carro, onde o meu motorista teve que agir

com discrição, fingindo que não via a nossa transa a seco no banco
de trás.

— Fica me incitando a cometer pecados. — Enquanto falo,


passo a moer meu pau contra a sua boceta desejosa. — E eu quero

muito cometer pecados com você, minha diabinha.

— Então vem — chama, levantando levemente os quadris da


mesa e se esfregando em mim, que faço movimentos circulares. —

Estou aqui, entregue e disponível para você.

— Minha linda — digo, tomando sua boca com mais um beijo


urgente. Com a dança sensual que as nossas línguas fazem se
explorando mutuamente, ditamos como vai ser o nosso sexo. —
Como é bom beijar você, que boca macia... — digo, depois de um
tempo de beijos desesperados e intensos. — Me fale, eles são
rosados? — pergunto, desenhando os seus lábios com o dedo para

sentir a maciez.

— Bruno — chama o meu nome como uma prece, movendo-se


incomodada, tentando manter o contato dos nossos sexos. — Eu
preciso...

— Devem estar inchados da minha ganância por eles. Vão


ficar mais inchados ainda, quando eu meter o meu pau dentro da

sua boca. Você quer, minha garota insaciável?

— Quero, porra! — fala com tesão. — Quero tudo, quero você

dentro de mim, Bruno. Agora! — pede. Compadecendo-me da sua


súplica, desço uma das mãos para a sua bunda e a afasto da mesa.

Agora, tendo as costas na mesa e a bunda sustentada pelas


minhas mãos, dou-lhe a dose de alívio pela qual implora ao
friccionar meu membro na sua boceta. Faço movimentos circulares,

intercalo com bombadas que simulam movimentos de penetração,


do jeito que faríamos se já estivéssemos sem roupas e meu pau

dentro dela, comendo-a como implora para que eu faça. Do jeito que
quero fazer.
— Melhor assim? — indago, ela geme em resposta. — Você
quer gozar, minha linda?

— Sabe que sim, Bruno — fala de maneira compassada,


enquanto tenta encontrar o foco para falar e sentir o prazer que a

nossa preliminar proporciona. — Não seja cruel, me faça gozar, ou


eu mesma cuidarei disso — impõe. No mesmo instante a solto e dou
passos curtos para trás.

— Ângela, quero você nua, agora — exijo, enquanto tiro a

minha própria roupa. — Nada de calcinha ou sutiã. — Jogo a

camisa no chão, e antes que faça o mesmo com a calça, lembro de

pegar o preservativo que guardei no bolso. Depois do vexame com


meu irmão, nunca mais fico sem.

Espero que tenha mais em algum lugar do quarto, pois

suspeito que um só não será suficiente. Foram anos de desejo

frustrado. Estendo a mão para frente e ela pega o preservativo.

— Fez o que pedi? — A chatinha não responde, mas se

aproxima de mim, pega as minhas duas mãos e as leva para os

seus seios despidos.

— Eu estou pronta, Bruno — afirma a voz doce, parecendo


mais sexy agora que está afetada pelo desejo. — Pronta para deixar
você fazer o que quiser comigo. — É ousada, e eu não resisto a

vontade de amassar seus seios médios com as duas mãos. Em


seguida, belisco os mamilos duros.

— Vou fazer tudo, baby. Chegará uma hora que você não vai

suportar o que tenho para te dar, mas, ainda assim, estará

implorando por mais doses de prazer. O meu maior prazer vai ser
me derramar dentro de você. O meu pequeno anjo, corrompido pela

devassidão e luxúria.

— É tudo o que mais quero... — Ofega quando me curvo e


abocanho o seio farto. A minha mão se reveza entre apertar e

beliscar o gêmeo carente.

— Deliciosa. — Volto a minha postura, beijando mais uma vez

a sua boca macia. Desço os beijos para o seu pescoço, e quando


chego perto da sua orelha, sussurro baixinho:

— Para a cama, meu anjo. Me guie para a cama. — Fazendo

como pedi, ela me guia.

— Tem certeza? Não tem mais volta, linda — pergunto, mesmo


sabendo da resposta. — Depois de hoje, nada entre nós será como

antes, não seremos apenas conhecidos que têm amigos em


comum. Seremos tão íntimos quanto duas pessoas que são

amantes podem ser.

— Não quero que seja como antes, quando eu me segurava

para não tentar te fazer mudar de ideia a cada oportunidade. Quero


o hoje, a realidade onde você finalmente vai me fazer sua, como eu

sempre quis ser.

— Desde o início quis te fazer minha — devolvo a sua

declaração, nos mudando de posição. Quando sinto a minha perna


encostar na cama, sento-me na ponta dela e chamo:

— Senta-se aqui, baby. Quero sentir todo o seu corpo dentro

dos meus braços. — Ângela vem, fique de frente para mim, uma

perna para cada lado do meu quadril.

— Assim que você quer, meu homem de olhos azuis? —

Provoca ao falar baixinho no meu ouvido, terminando com um

assopro, jogando uma lufada de ar quente que me deixa louco para


jogar para o alto os cuidados que essa primeira vez pede e pegá-la

com força, com a mesma força do meu tesão.

— Não me provoque, diabinha — peço, firmando sua cintura,

tentando impedi-la de continuar esfregando a boceta molhada no


meu pau, que está roxo pela vontade de se jogar dentro da

bocetinha gulosa.

— Me fode, Bruno — ignora o meu pedido e continua a

sussurrar no meu ouvido, ainda passando a boceta molhada pelo

meu eixo. — Não precisa se segurar, sei que é isso que quer fazer.

— Ela pega a minha mão e a leva até o seu sexo. — Também


quero, está sentindo?

Fazendo como ela quer, aliso superficialmente o núcleo quente

e molhado pelo desejo. Ângela é lisinha, o que torna o toque mais


escorregadio.

Aos poucos, meto dois dedos na sua vagina úmida, e a

encontro pronta para me receber.

— Deliciosa... — falo dentro da sua boca, e enquanto me


devora com língua e dentes, a fodo com os dedos. — Tão

molhada... — Estimulo clitóris inchado, enquanto a fodo.

— Bruno, eu vou... — morde meu ombro com força quando

sinto seu sexo se fechar nos meus dedos.

— Você não vai gozar, anjo. — Tiro os dedos e digo: — Vai

gozar no meu pau. O preservativo, onde ele está?


— Ficou na mesa.

— Porra — esbravejo, frustrado.

— Bruno, eu faço exames e tomo anticoncepcional, se você

quiser... — Se constrange com a proposta.

— Quer transar sem camisinha?

— Eu não queria...

— Estou limpo, baby — aviso, animado com a ideia. — Se

confiar em mim, podemos fazer sem proteção.

— Eu confio, e não vamos fazer sexo com outras pessoas por


enquanto.

— Não, Ângela, seremos só eu e você — assevero. — Nada

me dará mais prazer do que te sentir sem barreiras.

— Só eu e você — repete.

— Quero que me coloque dentro, amor — peço, não me


importando de usar o termo carinhoso. — Tome tanto quanto puder,

sou seu.

Dito isso, firmo a sua cintura, ela se levanta apenas o

suficiente para pegar a minha ereção e guiá-la para dentro da sua


boceta.

— Ah! — Ângela grita enquanto, aos poucos, sua boceta vai

me engolindo — Bruno...

— Como você é apertada, porra! — falo entre dentes, quando

um prazer inesgotável passa por todo o meu corpo, desde os dedos

dos pés até o último fio de cabelo da minha cabeça. —


Deliciosamente apertada.

Ângela geme baixinho, enquanto é preenchida até o fim.

Quando acontece, ficamos sem nos movermos, apenas sentindo a

delícia de finalmente estarmos assim. Foi tudo em que pensei


quando ela roubou o nosso primeiro beijo.

Esperando que se acostume com a invasão, que não deve ser

tão cômoda da primeira vez, grudamos nossas bocas num beijo que

faz os movimentos que meu pau ainda não está fazendo dentro da
boceta. Rolo nossas línguas em movimentos indecentes de sucção,

enquanto ela decide me enlouquecer quando passa a fazer

movimentos circulares, completamente empalada pelo meu pau.

— Você é uma gostosa, Ângela. Gostosa e safada — falo


quando interrompo o beijo para dar uma mordida no seu lábio

superior. — Vamos, quero que você se mova, senta no meu pau até
cansar, até que caia suada, ofegante e satisfeita — digo ao estapear
a parte externa da sua coxa. — Aqui estamos nós, Ângela

Albuquerque, finalmente fodendo.

— Antes tarde do que nunca — diz, com as unhas compridas

cravadas no meu pescoço.

Ângela começa com movimentos cadenciados de sobe e

desce, tomando meu pau até o fim. É tão apertada, tão

deliciosamente apertada.

— Assim, diabinha. — Enrolo os cabelos compridos na minha


mão, posiciono sua cabeça no meu ombro e, segurando a bunda

gostosa, torno mais fácil o entra e sai.

— Assim, Bruno — incentiva, já cansada do esforço inicial. —


Mais rápido, quero gozar.

Com o pedido desesperado, tomo as rédeas da transa e


começo a socar com mais força e profundidade.

— Gostosa... — Sinto sua pele começando a ficar úmida,

assim como o suor que ameaça escorrer pelas minhas costas. —


Como é bom comer você, porra! — Com cuidado, levanto-me da
cama e, sem sair de dentro dela, ou parar de me mover, deito-a de
costas. Com suas pernas abraçando a minha cintura, as estocadas
ficam mais profundas e fortes.

Sob o som dos seus gemidos cada vez mais altos, permaneço

por um bom tempo metendo, beijando a boca gostosa e acariciando


os seios, mas chega o momento que não dá mais para segurar o
orgasmo.

— Bruno... — É mais um gemido sussurrado do que

propriamente um chamado.

— É isso que você quer, linda? — Começo a meter com mais


força e sem dó, agora tendo o seu corpo gostoso e completamente

suado entre os meus dedos. — Vem comigo.

— Hum — ofega com as arremetidas bruscas. Os gemidos


ecoam pelo quarto quando o som de batidas na porta se mistura ao
som das respirações alteradas e dos nossos corpos se chocando.

— É... a nossa janta... — falo com dificuldade.

— Porra... — Com uma última e profunda bombada, Ângela


goza e me leva junto. Com o nosso alívio, ela solta um grito, alto o

suficiente para fazer a pessoa desistir de atrapalhar o casal que


claramente está transando.
— Ângela, você é perfeita — falo sôfrego, após alguns
segundos. O coração nunca esteve tão acelerado. Não quero sair
dela, ainda não.

— Nunca foi tão bom — fala baixinho, alisando as minhas


costas suadas. A garota está uma bagunça de suor misturada com o

sêmen que jorrei dentro dela.

— Eu daria um braço para poder te ver agora, o rosto de


satisfação e o corpo suado. Observar a minha porra escorrendo
entre as suas coxas.

— Não pense nisso agora, querido. — A voz volta a ser doce,


mesmo ainda ofegante. — Tudo foi perfeito, não faltou nada.

— Tem razão. — Sinto os seus braços e pernas me abraçando


e aqui, ainda dentro do seu calor acolhedor, com o corpo em cima

do dela, percebo que não há mais volta para mim.

Algo mudou, coisas que não posso definir, mas que trazem a
certeza de que não posso deixá-la ir ainda. Sei que não vai ficar

para sempre e, quando o dia da sua partida chegar, de mim restará


menos do que ficou depois do acidente. Ficará o Bruno que
conheceu a alma e amou o corpo de um anjo. Um anjo em forma de

mulher.
Como não associar tal divindade a ela que só trouxe luz para a
minha vida?
CAPÍTULO 18

ÂNGELA

— Tem certeza de que está tudo bem? — Deitado atrás de


mim, com a mão em volta da minha cintura ele pergunta, depois de

eu ter desligado o celular que insistentemente tocava agora há


pouco. — Não quero te causar problemas — diz, e eu me
aconchego melhor no seu abraço, aperto-me mais ainda contra o

seu corpo nu.

Mal sabe ele que, de qualquer forma, terei problemas. Sérios


problemas, levando em consideração a gravidade do que fiz aos

olhos dos meus pais. Além de ter sido pega aos beijos, fugi antes do

fim da recepção. Isso, na cartilha de bom comportamento dos meus


pais, é uma falta gravíssima.

Se me importo neste momento? O conceito do que é certo e


errado dos meus pais é a última das minhas preocupações. É claro

que as consequências virão, mas não quero pensar nisso.


Tudo o que desejo é ficar aqui, a noite toda em claro nesse

quarto de hotel, ao lado do homem que me provou que tudo que vivi
antes foram experiências pálidas e sem importância perto do prazer

que senti ao ser amada por ele. O cuidado, e a forma carinhosa

como me tratou nas duas vezes que transamos, mostrou que não
estava errada em desejar tanto esse momento.

Em detrimento à sua personalidade dura, e até fria em

algumas ocasiões, Bruno me tocou como um homem que sabe

como tratar uma mulher. Foi a relação sexual mais quente e intensa
que experimentei.

— Você não respondeu, linda. — Bruno diz, a sua voz me traz

para o presente, que é tão gostoso quanto o passado de minutos


atrás. — Você sabe que eu não enxergo, não é? Só saberei que

está bem se conversar comigo — explica e, dessa vez, não sinto o

tom ressentido na sua voz. Está apenas esclarecendo pontos da

sua condição.

— Está tudo bem. — Sem aviso, troco de posição, saindo da

conchinha que estávamos desde a hora que saímos do banho e

devoramos o carrinho de comida que estava nos esperando na

porta. — Não se preocupe com o telefonema, quando chegar em


casa eu resolvo. — De frente para ele, admiro o corpo nu, mas
meus olhos são atraídos para o rosto, mais especificamente, para

os olhos azuis escuros que, infelizmente, não conseguem enxergar.

— Estava pensando em tudo que fizemos em um espaço tão curto

de tempo.

— Você fez. Seduziu-me sem chances de defesa, chatinha. Só


porque sou um homem que não pode se defender — brinca. —

Você é insaciável — diz, ao enlaçar a minha cintura novamente,

deixando nossos corpos de lado sobre a espaçosa cama do luxuoso

quarto.

— Sou insaciável? — Faço a ofendida.

— É uma gulosa, sempre querendo mais e mais — diz com

malícia. — Você que consegue enxergar, vê se o meu pau não está

em carne viva. — Abre o sorriso de dentes certinhos e brancos, o

que não o livra de receber um tapa estalado no braço.

Ele não mente quando me acusa de ser uma tarada, porque


fui. Mesmo não sendo tímida, também nunca fui liberal a ponto de

me insinuar como fiz quando o provoquei até que consegui tê-lo

completamente dentro de mim.


Da segunda vez, depois que ele propôs um banho para

limparmos o esperma e lavarmos o suor dos nossos corpos,


terminamos transando no chuveiro, eu com as costas contra a

parede do box, ele na minha frente, sustentando o meu corpo.

Quando terminamos, caímos exaustos sobre a cama e só não

deixamos o sono nos levar porque a alegria é maior e não queremos


perder nenhum minuto da nossa primeira noite juntos. Da minha

parte, sinto que as horas estão passando mais rápido e com ela a
sensação de que, ao sair do quarto pela manhã, nunca mais o verei.

Nunca mais ver seus olhos azuis. Nunca mais ouvir o som da

sua voz me chamando de pequeno anjo. Nunca mais sentir o seu


toque.

Nunca mais.

Nunca mais...

— Ei, meu anjo. — Sem perceber, enterrei a minha cabeça no

seu peito. — Você está chorando?

— Não... — Começo a mentir, mas lembro do que ele acabou

de pedir, não é justo usar da sua cegueira para esconder coisas. —


Quer dizer, estou, mas é só um pouquinho.
— Você está bem? — Ele se empertiga, desfaz o nosso abraço

e, com habilidade, começa a inspecionar meu corpo com as mãos.


— Se te machuquei de alguma forma...

— Não, Bruno — falo mais alto do que o necessário, tiro


bruscamente as suas mãos do meu corpo e me sento. Perco o

controle e, com a cabeça apoiada nos meus joelhos dobrados,


choro.

— Por favor, Ângela, fale comigo. — Ele se senta atrás de mim


e me abraça. — Você está me assustando.

— Estou tão feliz aqui, Bruno. — Soluço, descontrolada e


envergonhada por ter uma crise na sua frente. — Feliz como nunca

antes estive. Eu... eu tenho medo de que acabe. — As palavras


saem sem que consiga controlar a minha boca, e talvez não precise

de muito para afastá-lo de mim, eu mesma posso fazer isso ao


despejar minhas merdas.

— Não vai, minha linda. — Apoio minha cabeça no seu ombro

e entrelaço os nossos dedos. — Não foi bom o que aconteceu aqui?


— Quando respondo afirmativamente, ele continua: — Então, nós

estamos apenas começando. Não vai acabar, nós não queremos,


isso que importa.
— Você promete? Promete que não vai desistir, mesmo
quando as circunstâncias dizerem o contrário? — A frase pode
parecer estranha e definitiva, mas um dia ele vai entender e se

lembrar dela.

— Vou ficar com você pelo tempo que me quiser ao seu lado.

— Desculpa por estragar a nossa noite dessa forma — peço,


depois de perceber que ele não vai questionar os motivos da crise

repentina.

Bruno parece querer respeitar o meu espaço, o que me deixa


muito satisfeita, pois ainda não estou pronta pra desnudar um lado
meu que eu e meus pais sempre fizemos questão de manter

escondido, até mesmo da minha melhor amiga.

— Não estragou, linda — afirma, ainda me abraçando por trás

com uma mão, enquanto a outra encontra caminho para os meus


seios. Percebi que ama ele ama tocar e beijar essa parte do meu
corpo — Me diga, já parou de chorar? — Bruno indaga ao beijar o

meu ombro. — Não vou te perguntar o que aconteceu, mas espero


que chegue o dia que você vai confiar em mim o suficiente para se

abrir.
— Obrigada por isso — agradeço, o soluço e a pequena crise
são substituídos por um arrepio de prazer quando a mão forte
começa a brincar com o mamilo enrijecido. — Eu adoro as suas

mãos, a forma como me tocam...

— Ficaram mais hábeis depois do acidente, quando tive que


aprender a viver com as minhas limitações — explica.

— Quer falar sobre isso? — indago, muito curiosa para saber


mais sobre ele.

— Ainda não. — Se limita a dizer. Nem tenho direito de me

sentir ofendida, não quando eu mesma não quis falar.

— Quando quiser — afirmo, dando-me conta do quão certo é o


nosso relacionamento. Não existem paranoias e cobranças.

Nós dois sabemos que escondemos coisas difíceis demais

para serem abertas com facilidade e, mesmo assim, não há

desconforto. Acontece porque temos medo. Medo de que sejam


revelações pesadas, que possam interferir entre a gente. É assim

que eu me sinto.

— Além disso, hoje não é o dia para os assuntos sérios —

afirma e, como quem não quer nada, a mão desce pela minha
barriga até alcançar o início do meu sexo.
— É dia de quê, baby? — provoco com o apelido que ele

passou a usar.

— De trepar, conversar sacanagens e voltar para foder mais

um pouco — fala no meu ouvido, e o dedo indicador invade pouco a

pouco a minha boceta. Depois ele começa a fazer movimentos

lentos de entrar e sair. — Pensei que fosse isso que você queria.

— É que eu quero... — falo rapidamente, já me sentindo

afetada com uma de suas mãos acariciando os meus seios,

enquanto a outra toca o meu sexo castigado.

— Você é muito safada, diabinha — diz. — Eu também tenho


muita vontade de te foder mais uma, duas e quantas vezes forem

preciso para aplacar pelo menos um pouco do desejo que vem me

perseguindo há anos. No entanto, já abusamos muito e eu não


quero desgastar a minha namorada dessa forma.

Na hora que ele fala, meu corpo enrijece pela surpresa, a boa

surpresa de ouvi-lo referir-se a mim como a sua namorada.

— Bruno... — chamo baixinho, não sabendo como abordar o


tema.

Questioná-lo vai parecer que estou louca para ter o título de

namorada, e adivinha? Eu estou mesmo.


É o que eu quero, mesmo que o resto do mundo não saiba, o

importante é nós dois sabermos.

— Fale, sei o que está querendo perguntar. — Olho para trás e

vejo que tem um sorriso incontido no rosto.

— Você acabou de dizer que sou... — Por que parece tão

difícil?

— Minha namorada — completa. — Acho que é isso que

estamos fazendo, baby. — Suas palavras são músicas para os


meus ouvidos. — Isso se você quiser, é claro.

— Sempre quis, Bruno — afirmo entre um gemido involuntário,

considerando que é impossível ignorar seus dois dedos me

penetrando preguiçosamente enquanto discutimos o status do


nosso relacionamento.

— Então tá, namorada — diz, quando os dentes cravam no

meu pescoço e a mordida dolorosa é precedida pelo carinho que a

língua fez no local magoado. É assim que Bruno faz, uma mistura
de força com leveza, de dor com prazer, tudo na medida certa, tudo

o que preciso. — O que você quer fazer agora, além de gozar? — O

vai e vem se torna mais frenético e profundo quando, com perícia,


ele faz movimentos circulares.
— Gozar — digo, não consigo pensar em mais nada que não

seja o alívio que meu corpo almeja.

— O que você quiser, baby — sussurra no meu ouvido quando

puxa a minha cabeça para trás e me beija com a mesma voracidade

com que me masturba.

— Hum. — Gemo dentro da sua boca, sentindo o prazer


máximo rapidamente se aproximando do meu centro pulsante.

— Goze, diabinha, goze para o seu namorado — pede dentro

da minha boca, puxando com os dentes o meu lábio inferior.

Quando faz isso, o gozo vem forte, junto com o grito de satisfação.

— Bruno! — Sou uma massa quente e trêmula apoiada no seu

peito. Bruno morde com mais força o meu lábio, e a dor ajuda a

aumentar ainda mais a intensidade do pico de prazer alcançado.

— Porra, Ângela, seu corpo é tão receptivo ao meu toque Te


dar prazer está se tornando o meu maior vício — afirma. Eu, como

uma pessoa que se encontra hipnotizada, acompanho o seu

movimento de tirar os dedos do meu sexo e levar até a boca. —


Você é muito gostosa. — Chupa os dedos com aparente prazer.

Levo a mão para trás e agarro a ereção que durante todo esse

tempo esteve cutucando a minha bunda.


— Ângela, baby, pare com isso — diz, com o corpo todo tenso

às minhas costas, quando imprimo força ao meu aperto em volta do

membro ereto.

— Eu quero cuidar de você da forma que cuidou de mim. —


Saio do meio das suas pernas, me ajoelho na sua frente e aproveito

para admirar o belo corpo. — Deita-se. — Com a mão, empurro

seu peito para trás e o homem cai deitado de costas na cama. — A

sua namorada vai fazer você se sentir bem.

— Já fez, duas vezes, quando me deixou te comer — afirma,

mas estou com a boca salivando de vontade de chupar seu pau,

orgulhosamente ereto por minha causa.

— Cale a boca, Bruno. — Monto a sua cintura e, ao descer o


meu tronco e esmagar meus seios no seu peito, começo beijando

seus olhos. Depois desço para a sua boca, ele tenta iniciar um dos

seus beijos fodedores de mente, mas não deixo.

— Nada disso, eu estou no controle agora. — Desço a boca

pelo seu peito, revezando mordidas com lambidas, enquanto

imagino quanto peso levanta para manter o abdômen tão firme, sem

gordurinha fora de lugar.


— Ângela... — As mãos já estão segurando a minha cabeça

quando aproximo a boca do seu umbigo e começo a masturbar seu


membro com uma mão. — Porra, onde você... esquece, não quero

saber.

Como um homem grande e forte, o seu membro faz jus em

tamanho e espessura, que quase é grande demais para mim, mas


depois das primeiras e cuidadosas penetrações, o prazer de me

sentir completamente preenchida levou embora o incômodo e a

sensação de que iria me partir em duas. No fim das contas, não só

consegui levá-lo como fiquei viciada na sensação de ser


completamente dele.

Quando passo a língua pela cabeça rosada e robusta do seu

pau, vejo Bruno trincar os dentes e os dedos das mãos se alinharem


nos meus cabelos.

— Você não precisa... Ah! — Ofega quando, aos poucos, e até

onde consigo, vou engolindo seu membro de veias saltadas. — É

claro que precisa... isso, baby. — Quando tiro e volto novamente,


ele já está sem controle, forçando o quadril para cima. — Que

boquinha gostosa, anjo. Se não parar, vou acabar esporrando nessa


boquinha gulosa — avisa quando a sensação de ter o seu pau mais
grosso dentro da minha boca denuncia que está prestes a gozar.

Sabendo disso, aumento a intensidade das chupadas até que,

com o urro, ele se desmancha dentro da minha boca, jorrando a sua

semente. Sem parar para pensar, engulo o líquido viscoso.

— Merda. — Sua respiração está ofegante, eu continuo

chupando até deixar seu membro limpinho.

— Sobe, linda. — Bruno estende as mãos, deixo seu pênis

satisfeito sobre a parte baixa da barriga e faço o que pede. Deito do


seu lado com a mão apoiada no peito úmido e a perna no seu

quadril. — Me beija. — Pela primeira vez, faz o pedido que algumas

vezes saiu da minha boca.

Abraçados, e sexualmente satisfeitos, permanecemos nos

beijando por vários minutos. Um beijo calmo, bem diferente da


urgência dos anteriores.

— Você me rouba o fôlego, amor. — Bruno beija o meu rosto


depois de vários minutos com as bocas grudadas.

— Digo o mesmo.
— No momento, não consigo lembrar dos motivos para não
termos feito isso antes. — Surpreendo-me com suas palavras.

— Talvez nosso momento não tivesse chegado, ou não

estávamos preparados. — Decido usar da sensatez, embora a


lembrança do período de espera me incomode.

— Você está certa, baby. — É a sua última frase, antes de


voltarmos a nos beijar. Não conseguimos parar.

Antes de o sono levar a melhor, ficamos até o meio da


madrugada namorando, nos acariciando e beijando como se a vida
dependesse disso. Como ele preferiu, o sexo ficou fora de questão,

mas antes de dormirmos, ele se aconchegou atrás de mim e me


abraçou. Com a sua cabeça aconchegada entre meu ombro e
pescoço, ficamos em silêncio, cada um com os seus pensamentos,

mas tenho certeza de que os seus pensamentos são bons, de


satisfação por finalmente estarmos juntos.

Bruno é a força que me fará enfrentar um novo dia, a força


para lutar por nós e enfrentar as consequências por me permitir

estar aqui, nos braços do homem por quem sou apaixonada há mais
tempo do que sou capaz de calcular.
CAPÍTULO 19

BRUNO

— Você tem certeza de que está tudo bem? — pergunto


quando paramos em frente à sua residência, que imagino ser uma

imponente mansão. — Se quiser, posso entrar e falar com eles. —


Ofereço, pensando na ironia da proposta. Bruno Pires, aos trinta e
quatro anos, se oferecendo para entrar e falar com os pais da

namorada doze anos mais jovem.

— Não! — Ela se apressa em dizer. — Você não vai entrar —


emenda com veemência.

A forma que ela fala me incomoda muito, trazendo à tona

todas as inseguranças que luto para manter escondidas, me


fazendo imaginar os piores motivos para a negativa.

— Compreendo — digo, frio. — Se eu estivesse no seu lugar,

talvez fizesse o mesmo. — Na frente do táxi que pedir, ao invés de

incomodar o pobre motorista no domingo, me afasto do seu toque.


— Não, Bruno — começa a falar, e eu me pergunto se não

estou me precipitando. Os anos de sexo sem compromisso afetaram


a capacidade que eu tinha de me relacionar. — Não me envergonho

de você.

— É melhor você entrar, esse vento pode te deixar resfriada —

falo. Não quero estragar o seu dia com a minha baixa autoestima.

Ouço o som dos seus passos quando se afasta de mim sem

falar nada. Sou um idiota e, com poucas palavras, consegui afastar

a minha namorada.

— Diabinha — chamo e estendo os braços, mesmo não

sabendo se terei uma chance. — Perdoe-me — peço, Ângela se


joga nos meus braços e eu a abraço apertado.

— Não me envergonho de você — fala contra o meu peito.

Mesmo estando de saltos, ela é bem mais baixa do que eu. —

Como poderia? Você é o homem mais maravilhoso que conheci.

— Espero que tenha sido poucos — digo, cheio de ciúme. —

Agora, me beije e entre. Não quero que fique doente por causa do

frio.

— Eu amei a nossa noite Bruno, nunca vou esquecer —


afirma, e noto um ligeiro tom de melancolia. — Nunca. — Agarra o
meu pescoço e, como pedi, inicia o beijo de despedida.

Abraçando-a com firmeza, deixo que dite o ritmo do preguiçoso

beijo, enquanto me delicio com os lábios macios.

— Me ligue, está bem? — peço.

— Vou ligar. — Dá um último selinho, e fala antes de se

afastar: — Você não vai mais se livrar de mim.

— Não quero. Ficarei feliz por perder-me dentro de você, dia

após dia — declaro.

— Preciso ir — fala alarmada, com a pressa que não tinha

antes. — Não vejo a hora de te ver novamente, namorado. — Beija

meu rosto e sai. O ritmo acelerado evidencia que está correndo, não

andando.

— 45 B, por favor — falo com o taxista que estava me

esperando.

Enquanto o veículo trafega pelo trânsito calmo, minha mente

trabalha frenética, juntando alguns pontos de coisas que

aconteceram ontem à noite e agora há pouco.

O comportamento da minha chatinha vem a minha mente e me


faz suspeitar que tenha algo errado acontecendo com ela, e preciso
descobrir para tentar ajudá-la.

Talvez seja apenas paranoia minha, considerando que a

cegueira me transformou em uma pessoa mais desconfiada.

ÂNGELA

Enquanto atravesso o jardim, meus olhos são atraídos para o


alto. Mateus estava na janela me observando com o Bruno.

Sei que os meus pais vão me criticar. Para eles, nada do que
faço está certo. Fui a criança problemática, que as pessoas

elogiavam pela beleza física, mas se escandalizam pelo


comportamento livre, alegre e comunicativo demais. Eu era pura
intensidade até o dia que as minhas asas foram cortadas, mas não

completamente. Sob as rachaduras tenha cicatrizes das asas que


lutam para voltar a crescer. Bonitas asas que me permitirão ser livre

e voar. Ser o pequeno anjo que o Bruno acredita que sou.

— Você realmente não tem jeito, Ângela Albuquerque. — Ao

adentrar a ampla sala, encontro o que já esperava. Sentada em um


sofá, minha mãe tem a postura ereta e altiva, enquanto nas mãos

segura uma xícara e um pires.

Ela me questiona com uma calma de dar inveja. Quem a


conhece sabe que é a sua forma de agir, mesmo quando está
irritada como neste momento.

Do seu lado, papai me avalia em silêncio, o silêncio da pessoa


que sabe de tudo, de quem sabe que é o principal motivo de eu ter

uma vida difícil há mais tempo do que uma pessoa mais frágil
poderia suportar. Ainda assim, ele se mantém passivo. Não move

um dedo para me libertar, ou parar a esposa.

Para Tarcísio Albuquerque, só os negócios e o status que o

seu sucesso traz importam. Para ele, quanto mais comportada a


única filha for, melhor será, afinal, manter as aparências é o mais

importante.

— Seu pai te pediu para representá-lo no maldito evento e


você saiu antes, na companhia de um qualquer.

— Fiz como o papai pediu. — Enfrento, já que a covardia não

faz parte do meu vocabulário. — E o Bruno não é um cara qualquer,


vocês sabem disso. — Não deixo de defendê-lo.
— Claro, o responsável por te fazer agir como uma sem
vergonha em público. — Deve estar se referindo ao beijo que o
fofoqueiro do Mateus flagrou.

— Não estávamos em público, e se o Mateus não tivesse me

seguido, ele teria visto.

— Não se justifique, Ângela! — Ela esbraveja e coloca a xícara


com o pires em cima da mesinha de centro. — Você nunca soube se

comportar. Se esqueceu que é a responsável pela saúde frágil do


seu pai?

Ela é cruel ao lembrar de um assunto que prefiro esquecer. Se


pudesse voltar no tempo, teria agido diferente.

— Não fale assim com ela, querida. — Seu Tarcísio intervém,


pois nem ele fica confortável quando um assunto tão doloroso é

usado para me atingir. — Não agora que Ângela está tão bem.

— Bem demais, até mesmo para perder o controle dos

próprios atos.

— Não estou perdendo o controle, mãe. Estou apenas vivendo

como uma mulher de vinte e um anos que tem capacidade de dormir


fora de casa, de ter um namorado e viajar sozinha, sem que tenha
cinco seguranças na cola — desabafo em resposta à rasteira que
ela me deu agora há pouco.

— Você sabe que isso não é verdade, minha filha. Você não é
uma mulher normal. Se realmente gosta desse homem, deveria ter

consideração e mostrar para ele com quem está lidando.

— Já chega! — Meu pai intervém novamente na discussão. —

Mara, deixe a sua filha em paz, você sabe que não gosto quando
tocam nesse assunto. E você, Ângela, pense bem no que está

fazendo. Bruno Pires é um homem respeitado no país, não é como

os garotos que você namorou antes — avisa, e eu não tenho como

discordar da última afirmação.

— Você não pode apoiar essa sandice, meu bem! O homem é

mais velho, tem influências, eu sei, mas isso não muda o fato de ele

ser cego.

— Qual é o problema? Bruno é muito melhor do que o seu


querido sobrinho — aviso, virando-lhes as costas. — E falem para

ele pensar bem no que está fazendo, porque o Bruno não parece

disposto a perdoar algo do cara que quase matou a esposa do


melhor amigo dele. Imaginem o que Erick seria capaz de fazer. —

Dou a última palavra, e antes de virar o corredor ouço:


— Você precisa fazer alguma coisa, Tarcísio. Ela não pode...

— Ouça voz embargada, e imagino que esteja chorando nos braços


do esposo.

— A nossa filha está bem, minha querida. — A voz do meu pai

é condescendente. — Quando não estiver, nós vamos saber o que

fazer.

Sumo pelo corredor com a última frase ressoando na minha

mente.

Dentro do quarto, tiro os sapatos e escancaro a porta da

varanda.

Enquanto o vento frio do dia chuvoso invade o quarto, sento-

me na ponta da cama e as lembranças invadem a minha mente.

Boas e ruins, elas se misturam e, de repente, a parte em que o


Bruno me faz feliz com os seus beijos some. Sou transportada para

um passado distante.

Me vejo aos seis anos em lugar cheio de árvores e gramas,

enfeitado com diversos balões nas cores rosa e azul. Meu vestido
está todo sujo de terra, porque corro de um lado para o outro sem

me importar com os avisos da mamãe.


Do lado do meu pai, vejo um menino lindo. Ele tem os mesmos

olhos azuis e cabelos escuros que eu.

Diferente de mim, sua roupa não tem um grão de terra sequer

e ele sorri timidamente. O mais estranho é que o menino parece


feliz por estar limpinho como as outras crianças. Eu também estou

feliz, muito feliz de estar com os pés na grama, correndo de um lado

para o outro.

— Mas é tão lindo lá, mamãe. — Aponto para o sul, na direção


em que fica o bonito lago que as minhas aventuras me fizeram

descobrir.

— Não vá para o lago, Ângela, você e o seu irmão não sabem

nadar — fala, sem paciência. — Olha a cor do seu vestido, esse


cabelo e os pés descalços. Não percebe que só você está assim,

minha filha? Será que nunca vai aprender a se comportar?

Ela tinha razão em tudo, só eu não sabia me comportar. Caio e


eu não sabíamos nadar, mas insisti até que o convenci a ir até o

maldito lago.

— Caio... — O nome sai da minha boca enquanto tento secar

o rosto úmido pelas lágrimas que caem.


O meu irmão gêmeo se foi por culpa minha. Tão jovem, o filho

preferido do meu pai.

As águas que tanto me hipnotizaram, fizeram o mesmo pelo

meu irmão. Eu avisei para ele não entrar, mas Caio pensou que não

fosse tão fundo.

Eu avisei, mas do que adiantou o aviso se antes fui


desobediente? Se o levei para o lago quando mamãe avisou para

não ir?

— Bruno. — A minha mente confusa muda bruscamente o

rumo dos pensamentos e as antigas lembranças são substituídas.


Quando um sorriso surge entre as lágrimas, é o rosto dele que vejo.

— Meu namorado. — Experimento falar em voz alta. — Só queria

ouvir o som da sua voz — falo. Como um sinal, o celular começa a


tocar.

— Bruno. — Não espero um segundo toque, nem olho para a

tela antes de atender. — Chegou em casa?

— Sim, liguei para saber se está tudo bem — preocupa-se.

— Melhor agora que estou falando com você — digo, e ele não

faz ideia da veracidade da frase.


— Que bom, meu anjo. Mas não quero atrapalhar, você deve

ter muitas coisas para fazer.

— Não — nego. — Converse comigo, amor. Só um pouquinho.

— Não sei se ele percebeu o meu desespero.

— Tudo bem, fico o quanto você quiser — afirma. — Ângela?

— Pode falar.

— Você acabou de me chamar de amor. — Ele parece

surpreso, mas feliz. Não sei se lembra que foi o primeiro a me


chamar assim.

— Isso é ruim?

— Não, amor — fala, e o meu sorriso se abre. Bruno tem o

dom de afastar para o fundo da minha mente as lembranças ruins,


assim como o presente conturbado.

Ele é a minha cura, não tenho dúvida.


CAPÍTULO 20

BRUNO

— Você acha que eles ficarão muito surpresos? — Minha


namorada pergunta, assim que estaciona o carro na garagem da

mansão do casal açúcar.

Uma semana passou desde a nossa primeira noite e, desde


então, nos encontramos mais duas vezes. As duas foram no mesmo
quarto de hotel que usamos na nossa primeira vez. Entre nos

conhecermos melhor e fazermos sexo com um desejo que a cada


dia parece mais intenso, acabamos as noites nos braços um do

outro.

Para compensar o fato de não termos ficado juntos tanto


quanto gostaríamos, o celular foi o nosso melhor amigo, e não teve

uma noite sequer que eu não tenha ligado, ou recebido com


ansiedade a ligação que se tornou o ponto alto do meu dia.

— Acho que vão, amor. Eles não esperam a convivência de


duas pessoas civilizadas, imagina se vão acreditar que há uma
semana me deixei seduzir por você.

— Eu te seduzi, não foi? — Sinto-a arrastando o corpo para

perto do meu no espaço apertado do veículo. A sua mão começa a


subir pelo meu peito. — Eu sou irresistível.

— Irresistível e convencida — brinco, sentindo o toque macio

por cima da minha camiseta. — Mas você tem razão, é impossível


resistir a você. A boceta é irresistível, os seus seios são irresistíveis

e a boca também é. Tudo em você se tornou um vício para mim,

minha diabinha.

— Diz isso, mas eu demorei mais de dois anos para conseguir

ter você só para mim — queixa-se. — Então, não sou tão irresistível
assim.

— Você não tem ideia do esforço que fiz para não sucumbir à

atração que sempre senti por você. Tive que me segurar para não te

foder naquele banheiro.

— Você foi cruel — acusa com razão.

— Me perdoe por aquilo — peço, pego a sua mão de cima do

meu peito e beijo seus dedos. — Saiba que não foi fácil te rejeitar.

Eu vivia um dilema entre o que desejava e o que não me permitia


ter, não queria impor as minhas limitações a ninguém.
— Você não pode pensar assim, Bruno. Precisa dar para a
pessoa o direito de escolha. As suas limitações nunca foram

importantes para mim, sempre te quis.

— Eu sei. Foi você quem enraizou em mim o desejo de tentar

novamente, de me permitir mais uma chance de ser um homem

completo. Obrigado.

— Eu que agradeço por ter me deixado entrar — diz, e sinto

seus lábios macios no meu rosto, beijando-o repetidas vezes. —

Estar com você me faz feliz, muito feliz.

— Somos um casal estranho, não acha? Tendo essa conversa


dentro de um carro — falo aos risos.

— Tem ideia de coisas mais interessantes para fazermos

dentro de um carro? — Ângela muda o rumo da conversa.

É sempre assim, ela joga a isca e eu mordo. O fim é o


mesmo: nós dois em qualquer superfície, fodendo como dois

condenados.

— Posso pensar em algumas bem interessantes — assevero.

— Nós podemos ir para o banco de trás, ou aqui mesmo, nos dois

casos você vai estar em cima de mim, pulando no meu pau

enquanto meto na sua boceta e chupo os seus peitos deliciosos —


insinuo, sabendo que não podemos fazer nada aqui. Não no

estacionamento dos nossos amigos.

— Você e suas ótimas ideias — fala ao pegar o meu rosto com

as duas mãos e colar os nossos lábios. — Pena que não temos


tempo. Hoje é o dia de darmos boas-vindas ao nosso afilhado, e não

podemos ser os últimos a chegar.

— Vamos de uma vez, antes que eu te sequestre e deixe o

nosso pequeno Estevan na mão — falo.

— Não reclamaria de ser sequestrada — revela quando

saímos do carro.

— Sei que não, minha linda. Das outras vezes, os seus

gemidos e gritos de satisfação não deixaram a menor dúvida de que


estava satisfeita dentro do seu cativeiro.

— Fazer o que se o meu sequestrador sabe usar bem o seu


instrumento? — rebate, então encosta as nossas mãos, deixando

claro que a escolha é minha. Como não tenho motivos para agir de
outra forma, entrelaço os nossos dedos e, com tranquilidade, nos

dirigimos para o interior da mansão.


ANGELA

A sala da mansão está cheia. Vários amigos e familiares estão

em volta da Marina e do Erick, paparicando o pequeno João


Guilherme. As primeiras pessoas que notam a nossa presença não
podem esconder a surpresa em suas expressões.

— Eles agem como se estivessem vendo fantasmas. — Deixo


Bruno a par dos acontecimentos.

— Eu teria a mesma reação se visse duas pessoas que não se


davam bem chegando juntos.

— Podíamos ter contado para eles — digo quando vejo a


forma como Marina nos encara de longe.

— A decisão foi sua — assevera, cheio de razão.

Quando o assunto surgiu, eu fui a primeira a sugerir não


contarmos nada de imediato, porque queria que a gente curtisse o
nosso momento sem ter que responder perguntas, ou dar

explicações.

De explicações já bastam as que tenho que dar dentro de


casa. Pelo menos por enquanto, as coisas estão indo bem por lá, e
não ouvi mais palavras de desaprovação quanto ao meu namoro.
— A decisão foi minha, e não me arrependo dela — afirmo. —
A última semana foi maravilhosa. Tivemos nosso tempo, sem
ninguém nos olhando da forma que fazem agora.

— É hora do show, minha linda. A vida real nos chama — diz

e, ao virar o rosto na minha direção, vejo que está bem tranquilo e


confortável com toda a situação. Deve ser porque não sabe que a
sua ex-namorada está aqui. Lua nos fuzila com um olhar nada

amistoso.

Quando volto a minha atenção para o centro da sala, Marina já

se recuperou no susto, e vem com um belo sorriso no rosto nos


receber. Ao chegar perto, minha amiga esconde os dentes e não se
acanha em dizer:

— Quando o pessoal for embora, a senhorita vai me explicar

isso direitinho. Você tinha me dito que o Bruno não fazia o seu tipo,
que não o suportava. — Agora sou eu quem a fuzilo com o olhar,

repreendendo por repetir as minhas bobagens na frente do meu


namorado.

Para completar a cena, Erick se aproxima e pega o pequeno

dos braços da esposa. Como ela, ele olha para as nossas mãos
entrelaçadas com curiosidade, mas não tão surpreso quanto o resto
das pessoas que aqui estão.

— Quer dizer que você não me suportava, amor? — pergunta,


obviamente me provocando.

— Amor? Já se chamam por apelidos carinhosos? Erick,


quanto tempo eu dormi?

— Pequena, eu te falei que por trás de toda a hostilidade entre

eles existia algo a mais. — Enquanto fala, ele tem a atenção no


filho, que aperta o seu dedo com a mãozinha minúscula. — Mas

devo confessar que os ver assim me deixa surpreso. Não foi você

que afirmou que não ficaria com ela, mesmo depois de tê-los
pegado se comendo em cima do meu sofá?

— Você disse isso? — questiono, Marina faz o mesmo com

marido.

— Por que escondeu de mim que já sabia do rolo dos dois? —


Ela está curiosa, não furiosa. Conheço minha amiga o suficiente

para afirmar isso.

— Perdoe-me, querida, mas era um assunto deles. Além disso,

Bruno garantiu que tinha sido apenas um momento de fraqueza.


— Erick, dá para calar a porra da boca?! — Reclama. — Tudo

o que eu disse foi da boca para fora, e Ângela e eu já falamos sobre


isso.

— Está legal, pessoal. — Marina intervém, pois a conversa

estava tomando rumos indesejáveis. — Vamos nos juntar aos outros

convidados. A nossa conversa fica para depois, está ouvindo dona


Ângela?

— Sim, mamãe. — Pisco para ela, o seu sorriso me mostra

que está tudo bem entre a gente.

É óbvio que ela vai querer saber dos detalhes de como Bruno
e eu chegamos a um entendimento, mas sua curiosidade não é

nada mais que o desejo de checar se estou bem, e segura do que

estamos fazendo. A sua curiosidade não me incomoda, e nem teria


motivo, uma vez que fiz a mesma coisa quando ela começou a

namorar com o Erick.

— Deixe-me segurar o bebê, Erick — peço, solto a mão do

Bruno e Erick coloca o pacotinho nos meus braços.

— Vamos deixar eles curtirem um pouco o afilhado, querido. —

Minha amiga chama, dá um beijo no filho antes de se juntar aos

outros presentes e ficamos sozinhos novamente.


— Vamos dar uma volta no jardim? O sol deve fazer bem para

o bebê — proponho. Quero curtir a companhia dos meus amores

sem ter os olhos da Lua em cima da gente. Ela não para de olhar.

— Ficou quieta de repente, algum problema? — ele pergunta


assim que nos sentamos no banco de dois lugares que fica no canto

esquerdo do jardim.

— A Lua está aqui, e a forma como tem olhado para a gente

me incomoda um pouco — revelo, porque não sou obrigada a


guardar para mim o que ele não pode ver. — Ela ainda gosta de

você.

— Eu sinto muito por ela — fala. — Fui sincero quando

terminei o nosso relacionamento e quando...

— Transou com ela, mesmo sabendo que não seria mais do

que isso — completo, porque parecia estar com um pouco de

dificuldade.

— Isso é solidariedade feminina ou ciúme, chatinha?

— Um pouco de cada coisa. Para o seu bem, é bom que não

se aproxime mais dela. — Passo o recado e o recibo de que estou

com ciúme.
— Deus me livre de fazer isso e ter problemas com certa

diabinha ciumenta. — Bruno debocha, eu fico dividida entre


conversar com ele e babar o meu lindinho, que agora dorme

tranquilamente nos meus braços. — Não que tenha motivos para ter

insegurança, acho que ela sabe o quanto estou dominado, viciado


na sua bocetinha quente e apertada. — Quando diz isso, Bruno

coloca a mão no meu ombro e desce a alça do meu vestido. Ele

começa mordendo, depois passa a língua.

— Pare, pode ter alguém nos observando.

— Dois dias sem você, estou com saudade — reclama ao

fazer uma carinha de cachorro sem dono.

— Eu vim preparada para dormirmos juntos. Se quiser, pode

ligar para o hotel e reservar o nosso quarto — aviso, porque dois


dias é tempo demais.

— Você sabe como fazer o meu dia mais feliz — elogia. — Só

não gosto dos quartos de hotéis, é tão impessoal.

— Seria bom se tivéssemos um lugar só nosso.

— Tenho esse lugar, mas vou precisar da sua ajuda — fala, e

não me parece uma decisão fácil de tomar. — Vai ser difícil...


— Estou aqui — com a mão livre, seguro a sua —, do seu

lado.
CAPÍTULO 21

BRUNO

Depois de uma tarde inteira na casa dos nossos amigos,


cumprindo com o nosso papel de padrinhos do pequeno João

Guilherme, minha pequena pega o carro e nos leva para o endereço


indicado por mim.

O lugar que há muito não visito e fico surpreso que ainda


lembre do endereço. No fundo, gostaria de ter esquecido. Mas tudo

está mudando, o Bruno de agora está ficando cada dia mais


parecido com o de antes do acidente. Não o que trocava amigos e

familiares por trabalho, mas o que era capaz de sorrir.

Em pouco tempo, Ângela tem feito por mim o que ninguém fez
nos últimos anos. Ela me faz querer ser melhor para que nunca

tenha vontade de se afastar de mim, me faz quebrar barreiras entre


o presente e um passado que não queria revisitar.

— Tudo bem? — questiona ao acariciar o meu rosto com a


mão livre. — Você está tão calado, foi alguma coisa que aconteceu
na casa dos Estevan?

— Não, minha linda, está tudo bem — digo. — Só estou um

pouco pensativo, e logo você vai entender o porquê — aviso e,


respeitando o meu momento, ela nada mais diz. O resto do caminho

é feito no mais absoluto silêncio.

— Para a cobertura, apartamento 17 — aviso, assim que


entramos no elevador. Suponho que esteja vazio, levando em conta

o silêncio.

— Esse prédio é muito bonito, Bruno. — Meu anjo elogia o

lugar que foi o meu lar por um curto período de tempo, onde fiz

planos com a mulher que dizia me amar.

— Isso porque você não viu o interior do apartamento. Tenho

certeza de que vai amar — respondo ao posicioná-la na frente do

meu corpo e abraçar a sua cintura.

Não deixo de perceber a sua tentativa de amenizar a minha

tensão ao puxar um assunto tão aleatório. Se possível, neste

momento gosto mais dela do que gostava há segundos.

Quando saímos, o corredor nos recebe com total silêncio. A

cada passo que damos até a porta, sinto-me mais preparado para
enfrentar as lembranças do passado, ou o mais preparado possível.
Ao entregar as chaves, também entrego a minha confiança. A
confirmação de sentimentos que só agora me permito nomear.

Posso finalmente admitir a mim o que sabia há muito tempo, mesmo

que fizesse de tudo para negar.

— Prontinho — avisa. Ângela segura minha mão, como se

soubesse que é exatamente disso que preciso.

Dentro do apartamento que cheira a poeira, mal me dou conta

do momento em que ela se afasta para trancar a porta, quando

começo a caminhar pelo ambiente, cujos detalhes estão nítidos na

minha mente. Toco nos móveis cobertos por tipos de tecidos, e a

cada passo que dou, uma enxurrada de lembranças se misturam na

minha cabeça.

Memórias do homem que havia alcançado o auge na carreira,

o homem prestes a pedir a namorada em casamento, mas, acima

de tudo, o homem que colocou a carreira na frente da família e da

mulher que amava.

Eu perdi a minha vida, a noiva, e até mesmo o meu lar. Esse

lugar que cheira a poeira e velhas recordações.

Dos meus olhos, as lágrimas escorrem. Elas rolam livres,

depois de muitos anos presas. Nelas têm o peso das minhas


escolhas erradas, escolhas que me limitam, me aprisionam em

quem sou hoje.

— Não, Bruno. — Mansamente, meu pequeno anjo se

aproxima e me abraça por trás.

Precisando dela mais do que nunca, subo as mãos até às suas

e as seguro com força.

— Eu fiz essa bagunça, anjo — falo aos soluços, sem me


envergonhar por desmoronar na sua frente. — Perdi tudo o que me
era sagrado, e quando tive uma segunda chance, escolhi me

entregar à autopiedade.

— Eu não entendo...

— Não quero ser assim. Quero ser o melhor por você, Ângela
— afirmo, trazendo seu corpo para frente, abraçando-a com todas

as minhas forças. — Só por você.

— Quero que faça algo por si mesmo. — A chatinha limpa o

meu rosto, para depois beijar cada lado da minha face. — Não só
por mim. Faça por nós, sobretudo, por você.

— Não sei o que fiz para merecer uma namorada como você.
— A voz está embargada, e os sentimentos explodindo dentro do
meu peito. — Seja o que for, farei o que estiver ao meu alcance para

fazer jus ao presente.

— Você já faz, meu amor — afirma com doçura. — Agora eu


quero que me conte sobre o lugar. Suponho que seja seu
apartamento? — Pergunta, mais uma vez tentando mudar o

assunto.

— É, sim — digo quando ela se desvencilha do meu abraço e,

com expectativa, aguardo pelo fim da sua inspeção pelo ambiente,


pelas perguntas que certamente virão.

— Imagino que seja difícil para você voltar até aqui. — Quando
volta a falar, minha chatinha também volta para o meu lado, mas é

só para pegar na minha mão e me levar para o sofá, que deve ter
descoberto. — Só me diga o porquê de ter vindo se te causa tanto

sofrimento? — No seu tom não há acusação. Ela só está curiosa


porque não entende ainda o que significa estar aqui.

— Fiz por você — revelo, ainda tentando me recompor e

esconder dela toda a minha vulnerabilidade. — Por nós, na verdade.


Eu não quero mais ficar em quartos de hotéis. Estamos em um

relacionamento, e não em um caso sem importância. Além disso,


pensei que aqui seria o lugar ideal para isso, para ficarmos juntos
sempre que sentirmos vontade — explico. — Não foi fácil tomar
essa decisão. Estar aqui é enfrentar fantasmas do passado, mas eu
vim. Fiz porque preciso estar inteiro por mim mesmo e por você, que

merece o melhor.

— Eu só quero que fique bem — diz, deitando a cabeça no


meu peito, e aconchegando-se ainda mais nos meus braços.

— Vou ficar, Ângela — afirmo, e acredito na verdade do que

falo. — No fundo, sei que era isso que eu precisava. Tinha que
voltar a esse lugar para enfrentar mais um fantasma escondido no

armário.

— Vamos ser felizes aqui dentro, e eu quero começar agora.

— Sem pudor, ela começa a deslizar a mão pela minha barriga.

Poderiam ser também as minhas intenções, se não fosse um

pequeno inconveniente.

— Não vamos transar em meio à poeira que deve estar sobre

os móveis, Ângela. — Seguro a mão pequena que estava prestes a


tocar no zíper do meu jeans.

— Não seja por isso, agora mesmo vou resolver esse pequeno
inconveniente — fala e some dos meus braços.
— Ângela você não vai...

— Vou, Bruno. Quer dizer, nós dois vamos dar um jeito na

bagunça — afirma.

Fico feliz de comprovar mais uma vez que ela não me vê

como alguém incapaz de fazer coisas que qualquer outra pessoa


faria. Ângela sabe que posso tirar poeira de móveis.

Nas horas que seguem, e sob o comando de uma Ângela

surpreendentemente mandona, dedicamos o nosso tempo a


deixarmos o local habitável. Não estava tão ruim porque a Ana paga

alguém para vir aqui de vez em quando.

Enquanto trabalhávamos, Ângela não se absteve de me


provocar, aproveitou-se para tocar e beijar-me a cada oportunidade

que teve. Fiquei mais do que satisfeito de receber e retribuir os seus

bem-vindos e ousados carinhos.

— Acho que terminamos no lugar certo — digo com malícia,


assim que ela joga o corpo sobre a cama, que só tocou depois que

garanti que não é a mesma que dividia com a minha ex-noiva.

— Você tem razão, meu amor — devolve quando deixo meu

corpo pousar ao seu lado. A minha diabinha não perde a chance de


se arrastar para cima de mim. — Mas eu estou toda suja e suada...
— Pare com isso — peço. — Eu quero você do jeito que

estiver. Suja ou suada, ainda será a minha gostosinha.

— Bruno Pires, você sabe como agradar uma mulher — diz

quando monta no meu quadril e aperta seus peitos em mim.

— Só você, a minha diabinha. — Seguro a sua cintura com um

braço, enquanto uso a mão livre para segurar a sua nuca e


posicionar a boca safada na minha. — Só você — afirmo, ela me

beija.

Quando o desejo se intensifica, o beijo inocente se torna

indecente e as roupas desaparecem dos nossos corpos.

Ofegante pela volúpia do meu pequeno anjo, que está

montada em cima do meu quadril recebendo com prazer às minhas

investidas contra o seu centro apertado e pulsante, mais uma vez


me ressinto por não poder enxergar o seu rosto e o seu corpo

gotejante pelo suor que a nossa transa produz.

— Isso... Mais rápido, gostosa. — Tenho as duas mãos

fincadas na sua cintura, auxiliando nos seus movimentos de subir e


descer em cima do meu pau, que pulsa por ela. — Porra, Ângela...

— Mais rápido, Bruno. — Ela tem as duas mãos apoiadas no

meu peito, tentando recuperar o equilíbrio que os movimentos


frenéticos tiram. — Eu vou gozar... — A mão que estava na sua

cintura desce para o clitóris. Brinco com ele durante alguns

segundos, até que ela começa a gozar, trêmula e ofegante nos


meus braços. Eu a penetro mais algumas vezes, o prazer se torna

insuportável quando me derramo dentro da sua boceta.

— Fico mais viciado em você a cada dia que passa —

confesso, lânguido.

— É bom que esteja mesmo — assevera cheia de marra


quando, aos poucos, quebro a nossa conexão física. — Assim terá

disposição para saciar o vício que eu tenho em você.

— Eu iria sugerir que tomássemos um banho, mas não quero

sair daqui tão cedo. É tão bom te ter em cima de mim, entre os
meus braços. Só sinto falta... — interrompo quando me dou conta

do que iria dizer, quando pensamentos anteriores voltam a minha

mente.

Pensamentos guardados há muito tempo, e que agora vieram

à tona por desejos que até então estavam adormecidos.

Esquecidos até que ela veio como um furacão, varrendo tudo à

sua volta, inclusive a minha resignação e o arrependimento por


decisões tomadas em momentos de desespero e depressão.
— Fale comigo, Bruno — pede. — Quando chegamos aqui,

você estava tão estranho. Eu só queria...

— Eu vou falar, Ângela — afirmo, decidido. — Espero que

você não se afaste de mim. Agora que te encontrei, não quero te

perder.

— Isso não vai acontecer, querido — assegura. — Pode falar o


que quiser, nada pode me afastar de você.

— Quando disse que fui o culpado pela bagunça que a minha

vida se transformou, eu não estava me referindo apenas ao

acidente.

— Eu não estou entendendo. — A voz denota confusão, e

percebendo a seriedade do assunto, ela se desvincula dos meus

braços, afasta-se do meu toque.

O gesto simples traz um gosto amargo para a minha boca,


sinto como se estivesse indo embora da minha vida.

— O acidente me deixou cego, Ângela, mas a escolha de

continuar assim foi minha. Eu fiz isso comigo — revelo.


CAPÍTULO 22

ÂNGELA

Eu fiz isso comigo...

Sentados sobre a cama, o silêncio entre nós é pesado. As


suas palavras dão voltas na minha cabeça, e por mais que tente,

não consigo encontrar uma explicação lógica para o que acabo de


ouvir. Talvez possa imaginar, mas a ideia é triste demais para que
eu admita a possibilidade.

Não! Só posso ter entendido errado. Ele não pode estar me


dizendo que impôs um castigo tão grande quanto a cegueira e as

limitações a si mesmo. Não posso aceitar. Ele era jovem e tinha um

futuro brilhante.

Esse não é o Bruno que eu conheço. Esse não é o Bruno pelo


qual sou apaixonada.

Meu corpo treme pelas ideias tristes que passam pela minha

cabeça, pela agonia de imaginar o sofrimento que causou a si


mesmo e às pessoas que o amam.

— Amor, fala alguma coisa? — pede, e na sua voz tem a

angústia de alguém que acabou de revelar coisas da qual se


envergonha.

— Preciso que você fale, pois o que passa pela minha cabeça

é cruel demais para ser verdade.

— E cruel, anjo — diz. Eu mal estou suportando ver profunda


tristeza no seu rosto. — Quando despertei, depois de meses de

coma induzido... — A sua voz embarga, e percebo que está com

dificuldades de prosseguir. Me dou conta de que estou indo longe

demais, exigindo saber de algo que ele não está preparado para
falar.

— Está tudo bem, meu amor. Não precisa falar agora se não

estiver pronto, depois nós conversamos sobre isso — digo, mesmo

sabendo que a história não vai mais sair da minha cabeça.

— Não. Eu preciso falar — diz, decidido.

— Tudo bem, só não se sinta pressionado. Eu estou aqui do

seu lado, independente de qualquer coisa — falo, mesmo que minha

garganta esteja fechada e, no fundo, a minha tristeza seja tão


grande quanto a dele no momento.
— Quando despertei naquele quarto de hospital, eu não tinha
me dado conta da gravidade do acidente, e não fazia ideia de como

a minha vida iria mudar. Tinha perdido tudo, não só a capacidade de

enxergar. A vida de antes, o escritório, e a Carolina, tudo perdido. —

De maneira irracional, sinto ciúme de ouvi-lo mencionando a perda

da noiva.

— Eu sinto muito. — No momento, é só o que eu consigo

dizer.

— Segundo os médicos, a batida na cabeça foi muito forte, e

ocasionou um descolamento na retina. Assim que eles perceberam,

me levaram para a sala de cirurgia na tentativa de recuperar a

minha visão. — Ele para por um momento, como se tentasse


organizar as ideias. — Por motivo desconhecido pelos próprios

médicos, a cirurgia não foi bem sucedida e eu não consegui

recuperar a visão. — Ele termina o que parecia ser a parte mais

difícil, eu estou me esforçando para não chorar.

— Como isso é possível Bruno? — indago. — Eles não

tentaram uma nova cirurgia?

— Eu não permiti que tentassem novamente — revela, abaixa

o rosto e o esconde entre as mãos. — Naquele momento, tudo era


demais, a frustração, o sentimento de impotência. Sentimentos

fortes o suficiente para me impedirem de fazer alguma coisa por


mim mesmo. Eu só queria ficar afundado na autopiedade,

questionando o porquê de tudo aquilo.

— A sua família...

— Eles sofreram muito. Passaram meses e meses me dando


apoio, tentando me convencer a procurar ajuda, principalmente

depois que os médicos propuseram a intervenção de outros


profissionais.

— Outros profissionais? — questiono, cada vez mais confusa e


chateada por tudo que ele passou, e tem passado nos últimos anos.

— Psicólogos, meu amor. Eles sugeriram que talvez eu


estivesse com algum tipo de transtorno emocional, que poderia ter

sido a causa do insucesso da primeira cirurgia.

— Está querendo me dizer que você se conformou com o

estado e não procurou mais ajuda, Bruno? — Mal termino de falar


quando começo a chorar.

O que meu namorado está dizendo é triste, pesado demais


para que qualquer pessoa possa suportar. Agora, sabendo de parte
da sua história, percebo que ele é mais quebrado do que eu
imaginava, ferido a ponto de se negar uma chance de voltar a ser

feliz, assim como negou o que sentíamos um pelo outro durante


dois anos.

— Não fique assim, meu anjo. — Ele se aproxima sobre os


joelhos, puxa-me pela cintura e me abraça. Enquanto choro por

tudo, meu namorado me consola. — Alguém aqui precisa ser forte,


lembra?

— Você tem que fazer alguma coisa, meu amor — digo,


tocando o seu rosto quando me desvencilho minimamente dos seus

braços. Na verdade, eu não me importaria de ficar aqui pelo resto


dos meus dias. — Você tem ideia do castigo que impôs a si mesmo?
Por quê?

— Minha mente estava fodida, diabinha — continua e,

arrumando um jeito de não pararmos de nos tocar, Bruno me puxa


para suas pernas. Me sento de frente para ele, uma perna em cada
lado da sua cintura.

— Quando eu acordei e percebi que não estava conseguindo


enxergar nada, mesmo depois da cirurgia, o medo bateu, a

depressão veio com força e permaneceu por um mês. Depois de


quatro semanas, no alto do meu desespero, e tentativa de provar a
mim mesmo que ainda conseguiria ser o mesmo de antes, voltei a
trabalhar. Não me permiti mais pensar no assunto, nem que os
meus pais e meu irmão tentassem me convencer a procurar

psicólogos, ou a tentar uma nova intervenção.

— Por que não tentou novamente em todo esse tempo? —


pergunto, e dentro de mim existe um misto de sentimentos. Se às
vezes sinto tristeza por tudo o que ele passou, e sei que ainda

passa, em outras sinto raiva por ter feito isso consigo mesmo.

— Medo — diz. — Medo de descobrir que já não tem mais

volta, que o castigo que quis impor a mim mesmo trouxe


consequências irreversíveis.

— Eu sinto muito, querido — falo, e o abraço com todo amor


que tenho guardado dentro de mim e sou retribuída com a mesma

intensidade. — Não faz ideia do quanto.

— Também sinto, meu anjo — diz, beijando o vão entre o meu


ombro e pescoço. — Nos dois anos que passei fora do país,

aproveitei para me consultar com especialistas e, segundo eles,


existe uma chance de eu voltar a ver total, ou parcialmente, caso

faça acompanhamento psicológico e uma nova intervenção


cirúrgica. Eles seguiram a linha de raciocínio, desconfiando que
possa ter sido psicológico

— Isso é bom, não é? — questiono, pois apesar de estar


falando boas notícias, o seu rosto mostra sentimentos contrários.

— Eu tenho tanto medo, anjo — revela com pesar. — Medo de


voltar a ter esperança, de ser fraco novamente e frustrar a minha

família e você — confessa.

— Não vai, você só precisa querer mais do que tudo, lutar com
todas as forças do seu ser. — Dou forças, e só depois me lembro de

fazer a principal pergunta: — Você quer voltar a enxergar?

— Quero, diabinha — fala contra o meu pescoço, deixando


evidente o quanto está frágil com tudo o que revela.

Hoje, mais do que nunca, tenho certeza dos meus sentimentos

por ele. Sem que tenha me dado conta, ou ao menos planejado, a

atração física transformou-se em amor.

Amo o Bruno, e tenho esperança de que um dia vai me amar

com a mesma intensidade.

— Quando visitei os especialistas há alguns meses, eles me

deram notícias relativamente boas, e eu fiquei muito esperançoso. O


problema é o medo de dar falsas esperanças, de decepcionar a

todos com mais uma tentativa frustrada.

— Ficaremos orgulhosos, independente do resultado — afirmo.

— Eu sei, anjo. — Quando afasta a boca do meu pescoço,

aproveito para beijar por cima dos seus olhos, imaginando a alegria

que sentirei no dia que ele voltar a enxergar.

Como havia dito, a sua cegueira não me incomoda, e muito

menos envergonha. No entanto, a possibilidade me deixa cheia de

esperanças, porque sei que ele tem a chance de voltar a ser o que

era antes, que vai superar seus traumas, vai sorrir mais e me fazer
ainda mais feliz.

Além de tudo, sempre vou querer o melhor para o Bruno,

mesmo que ele ainda não consiga perceber com clareza. Mesmo se
um dia eu não estiver mais do seu lado, sendo aconchegada pelo

seu abraço como agora.

— Você fez isso comigo — afirma, deixando-me confusa.

— Fiz o quê? — Remexo-me no seu colo, internamente


achando graça do fato de estarmos pelados e abraçados enquanto

falamos de um assunto sério.


— Resignado. Era como eu estava antes de você aparecer na

minha vida, diabinha — diz, enquanto as duas mãos me acariciam.

— Depois de você, e do que estamos vivendo em um período tão


curto de tempo, tudo o que eu mais desejo é consertar os meus

erros. Poder voltar atrás e reverter a cegueira.

— Bruno... — Interrompo com um nó na garganta, emocionada

por estar ouvindo coisas tão bonitas.

— Sinto-me frustrado como nunca antes estive — continua,


como se a minha tentativa de interromper não tivesse acontecido. —

Frustrado por não poder dar rosto à sua voz, ao toque que tanto me

excita e dá prazer. — Enquanto fala, as mãos continuam a trabalhar


nas minhas costas, e quem está começando a ficar excitada sou eu.

— Queria poder ver o rosto da mulher que eu amo.

— V-você... não — gaguejo, nervosa pelo que acho que ouvi.

— Eu amo você, Ângela Albuquerque.


CAPÍTULO 23

BRUNO

— Repete, porque eu não estou acreditando — ela pede. e


diferente do que imaginei, percebo que não me precipitei em

declarar o que talvez soubesse há algum tempo e não tinha


coragem de admitir nem para mim mesmo.

O que sinto por essa garota deixou de ser uma intensa atração
física há muito tempo, o desejo carnal vai além de tudo que já senti

por outras mulheres. O que aconteceu hoje, junto com a coragem de


me abrir quanto a assuntos tão difíceis para mim, foi apenas a gota

d'água para ter coragem de admitir a intensidade e a grandeza de

tudo que venho guardando nos últimos anos.

Então, sim, eu amo essa mulher. Indo na contramão de tudo o

que eu planejei, e contra todos os meus medos, estou aqui,


admitindo que a amo.

Amo muito, e espero que um dia ela possa me retribuir com a


mesma intensidade.
— Não estou conseguindo acreditar nos meus ouvidos, Bruno.

— Com os braços em volta do meu pescoço, ela me abraça o mais


apertado que pode, e suponho que tenha gostado do que ouviu, ou

talvez esteja me iludindo com a minha própria vontade de ser

retribuído em todos os meus sentimentos.

Sei que é recente, muito cedo para sentimentos tão definitivos


e intensos, porém, não sei se consigo agir de outra forma, não

depois de tudo, não depois de sentir o seu carinho, demonstrado

quando joguei assuntos tão pesados no seu colo, uma bagagem


pesada demais para mim e para todas as pessoas que estão do

meu lado.

Também não menti quando disse que por ela faço o que for
preciso para voltar a enxergar, para desfazer a maldita cegueira,

que por cinco anos tem me acompanhado. Uma deficiência que é

muito mais que sequelas de um terrível acidente de carro, é também

consequência das minhas fraquezas, dos meus temores.

— Vem, só um pouquinho — peço baixinho, e quando ela

encosta o rosto no meu, seguro a lateral do seu pescoço com uma

das mãos e falo no seu ouvido: — Eu amo você, Ângela. — Com a

outra mão, a ajeito melhor sobre o meu colo e prossigo:


— Não se assuste se eu te abraçar apertado e não soltar
nunca mais, pois essa é a minha vontade desde o momento em que

finalmente tornou-se completamente minha. Saiba que não existe

um só dia que eu não durma e acorde pensando em você. Estar

com você se tornou a melhor parte dos meus dias, e quando não

acontece, eles se tornam pálidos e sem sentido.

— Estou surpresa de ver o quanto você pode ser romântico

quando quer, meu amor — brinca, aparentemente feliz com as

minhas declarações.

— Só você para tirar esse lado romântico de mim. — Não

contente com um simples abraço, deito-a de costas sobre a cama,

em seguida apoio metade do meu corpo contra o seu ainda nu


depois do sexo.

— Fico muito feliz por isso, o Bruno de hoje nem de longe

lembra aquele ranzinza que tão cruelmente me rejeitou.

— Anjo, jamais me perdoarei por tudo aquilo, e não cansarei


de passar a vida te recompensando com muito amor e sexo de

qualidade — brinco e, com a ponta do dedo, faço cócegas na sua

barriga plana.

— Sexo de qualidade? — provoca.


Entrando no modo sedutor, a minha namorada enrola a perna

no meu quadril, deixa os nossos sexos em contato e traz de volta o


desejo de fazer amor novamente. O desejo por ela é inesgotável e,

se pudesse, passaria horas amando o seu corpo, ouvindo a sua voz


que tanto amo.

Amor. Uma palavra que agora parece tão fácil de dizer e, ao


mesmo tempo, fácil de viver e sentir.

— O que acha de começarmos agora, senhor romântico? —


sugere com malícia, e emenda com a frase que não esperava ouvir
hoje. Não sou tão otimista — E só para que saiba, eu também te

amo, e aposto que há muito mais tempo do que você a mim. — Com
o seu jeito direto de ser, Ângela declara como se estivesse falando a

receita de um bolo.

— De verdade? — desconfio. Não se sinta pressionada a...

— Não fale besteiras, Bruno — esbraveja. — Você não tem


ideia do que representa para mim. Se soubesse, essa dúvida não

passaria pela sua cabeça — afirma. — Te amo, e hoje você é a


melhor parte de mim. Nunca duvide disso. É tudo o que eu te peço.

— O tom de sua voz é melancólico.


Minha namorada fala com uma urgência que me deixa

preocupado. Estou muito preocupado.

— Nas piores situações, mesmo quando não parecer, não


duvide de que você foi a melhor coisa que me aconteceu.

— Por favor, não fale assim, meu pequeno anjo — peço,

quando a angústia ameaça comprimir o meu peito. — Você fala


como se algo pudesse nos separar. Entenda que não vou te deixar,

que enquanto me quiser, vou estar aqui para você, em cima de


você, beijando sua boca doce e macia. — Demonstro com uma leve

mordida no seu lábio superior. — Amando o seu corpo até que


nossas respirações não sejam suficientes — prometo, depois
afundo o quadril contra o seu, moendo o meu pau contra a boceta

quente e viciante.

— Como é bom com as palavras, meu advogado fodão. —


Agora, Ângela me abraça com as pernas, e o nosso recente namoro
já me permite saber quando está com vontade de fazer sexo. — E

não perca seu tempo pensando nas bobagens que falo às vezes. De
qualquer forma, fica o aviso de que nada e ninguém irá me afastar

de você.
— E por que alguém iria querer nos separar? — questiono,
não conseguindo deixar passar despercebidas as suas falas. Sinto
que tem alguma coisa errada acontecendo.

— Como eu disse, esqueça as bobagens que acabei de falar.

— Incomoda-se, e como sei que pressionar não é o melhor


caminho, decido que, por enquanto, deixarei o assunto de lado. No
momento, preciso tratar de assuntos mais urgentes, como o fato de

estarmos excitados, nos roçando enquanto conversamos. — Chega


de assuntos sérios. Sugiro que cuide da coisa grande e dura que

não para de me cutucar. — A safada rebola o quadril e me deixa


mais excitado.

Em questão de segundos, saí de uma conversa séria para a

necessidade latente de foder a própria mulher. E quem pode me


julgar?

Porra! Estou falando de Ângela Albuquerque, cujo nome

sempre veio atrelado a palavra “gostosa”.

Sim, é assim que os marmanjos se referem a ela. Se antes


não dava a menor importância, nem ao menos procurava saber

quem era a tal gostosa, há mais de dois anos, depois que tive a
chance de tê-la entre os meus braços, os elogios desrespeitosos
passaram a me incomodar. Da maneira mais irracional possível, a
simples menção do seu nome me fazia reagir. Como poderia
esquecê-la, se estava em todos os lugares?

Quando eu estava fora do país, a fama internacional de

Tarcísio Albuquerque levou a sua filha até mim. Quando apareciam


na TV, ela chamava atenção pela beleza. Eu não via, mas ouvia os
comentários.

Tenho muitos motivos para estar tão excitado, por desejá-la

com intensidade. Desejo que está longe de ser minimamente

satisfeito, talvez nunca seja. A mulher que todos veneram pela

beleza é a minha namorada. Somente eu tenho o privilégio de tocá-


la, de dar e receber prazer. De saciar os seus desejos mais íntimos.

— Quem te cutuca é o meu pau, ele está obcecado pela sua

bocetinha apertada — falo com a boca colada na sua. — Será que

ela está pronta? — Levo a mão até seu sexo, testando se está
preparada para me receber.

— Isso, você mesmo pode dizer. — Se insinua contra a minha

mão, enquanto meus dedos adentram seu sexo deslizante de tesão.

— Você é muito safada, meu anjo, que de anjo não tem nada
— digo, lambendo seu lábio inferior, substituindo os dedos pelo meu
pau.

— Deus... como é bom. — Sem desgrudar as pernas do meu


quadril, e nem as unhas das minhas costas, aos poucos me recebe

dentro do seu corpo.

— Bom é estar dentro de você — afirmo, saio vagarosamente,

e seguida volto com mais força e rapidez. — Te amar com carinho e


te comer com loucura, minha diabinha gostosa. — Os movimentos

se intensificam, e o barulho dos nossos corpos se batendo ecoa.

Quando ouço, vem à mente a constatação de que agora

teremos liberdade. No nosso lugar poderemos fazer o barulho que


quisermos, sem termos medo de interrupções. Estou feliz por ter

tido a ideia, pois apesar de tudo o que foi falado antes, nada é

melhor do que transar sem o receio de os sons de satisfação da


minha namorada serem ouvidos por desconhecidos.

— Assim, Bruno, mais forte — pede com a voz arrastada no

momento em que as unhas passeiam pelas minhas costas de fora a

fora. Com força, soco o seu sexo. Ao invés de causar dor, os


arranhões me fazem sentir mais tesão pela causadora da agressão.

— Nada — meto —, está me ouvindo? — Tiro com rapidez. —

Nada se compara ao que sinto por estar aqui com você — afirmo,
penetrando mais uma vez com força. — Satisfação maior eu só terei

quando enxergar o seu rosto pela primeira vez. — Tiro, e quando

volto para mais uma arremetida, termino em meio ao prazer


supremo que toma tanto o meu quanto o seu corpo. — Te ver como

deve estar agora. — As nossas testas estão coladas, e com bocas e

narizes próximos, compartilhamos mesmo ar. — Com o rosto

contorcido de prazer, e o corpo suado. Ver o meu esperma


escorrendo do meio de suas pernas e saber que fui o responsável

por tudo.

— Esse dia vai chegar, amor — diz, e mesmo em meio aos

espasmos do orgasmo, ainda me abraça com braços e pernas. —


Você vai poder me ver. Quando acontecer, no meu rosto

estará estampado todo o amor que sinto por você.

— Eu te amo — devolvo com o nó na garganta, pois somente


agora me dou conta do tamanho e profundidade dos meus

sentimentos por ela.

— Com todas as minhas forças — completa. Ainda dentro

dela, começo a ficar duro novamente. Com curtos e preguiçosos


movimentos, recomeço.
— Eu quero de novo. — Beijo o canto dos lábios cheios,

enquanto brinco com os seus seios, que são sensíveis a mim.

— Sou sua.

— Só minha. — Volto a me mover, reafirmando com o corpo

todos os sentimentos que nos unem.

Sentimentos que falam de amor, paixão e a esperança que ela

trouxe de volta. Quero estar completo para a Ângela, não só porque


a amo, mas por saber que do seu lado me torno forte o suficiente

para enfrentar velhos fantasmas.


CAPÍTULO 24

ÂNGELA

Três semanas depois...

— Pare, meu amor... — Com um sorriso de canto a canto,


peço. Luto para fugir do seu agarre, enquanto corremos descalços

com os pés tocando a areia branca e fofinha da praia. — Socorro. —


Entre risos consigo falar, mas não obtenho resposta.

Por algum motivo, a praia está vazia. Parece até um sonho.

Um sonho bom.

Eu uso um biquíni de estampa vermelha. Atrás de mim, o meu

namorado gostoso veste a sunga preta que deixa seu corpão

tentador quase todo exposto. Para minha sorte, estamos a sós no


paraíso, do contrário, não estaria tão tranquila vendo as assanhadas

com os olhos em cima do meu homem.

— Te peguei, diabinha. Achou mesmo que seria mais rápido do

que eu? — Quando me alcança, Bruno me abraça pela cintura. —


Peça desculpas, ou então... — insinua.

— Então?

— Vou te jogar na areia e fazer cócegas na sua barriga —


ameaça com o sorriso de dentes bonitos à mostra. — Fale: Amor,

você é forte e viril, os anos a mais não afetam o seu bom

desempenho. Você é perfeitamente capaz de dar conta de mim e do


meu fogo que nunca apaga.

— Homens e suas fragilidades! — Rolo os olhos para cima, e

Bruno me encara com surpresa. — Você tem mesmo doze anos a

mais do que eu, não disse que não dá conta do recado. É mais fácil

eu não dar conta da sua voracidade. — Tento consertar, mas seus


olhos desafiadores deixam claro que não vai cair no meu papo.

— Sua última chance, chatinha. Vou contar até três — avisa e,

num movimento brusco, me pega nos braços e me deita sobre areia

quentinha. Em seguida se deita com o corpo parcialmente em cima


do meu. A mão que alisa a minha barriga é um aviso de que a

tortura vai começar.

Em silêncio, encarando sua expressão divertida, não escondo

o encantamento. Mesmo nos momentos de descontração, ainda é


difícil de acreditar que ele possa estar enxergando, olhando-me de
perto e vendo no meu rosto o quanto o amo.

Fomos tão felizes nos últimos dias que tenho medo do dia que

a vida vai aparecer e cobrar a conta. Não lembro se dia fui

plenamente feliz. Talvez tenha sido antes do meu aniversário de seis

anos, quando eu não carregava um fardo pesado demais em cima


dos ombros.

— Deus, como você é linda, Ângela. Bem de pertinho, meu

namorado olha no fundo dos meus olhos, como se ainda fosse difícil

de acreditar no que está acontecendo. Sonhamos e lutamos tanto

para que esse dia chegasse. Agora que aconteceu, parece mais um

sonho bom do que a realidade.

— Obrigada, mais uma vez — agradeço com um sorriso

amarelo. Todos os dias Bruno fala sobre o quanto sou linda. Eu,

pelo visto, não sei mais lidar com elogios, principalmente vindo dele,

o homem que não faz ideia do quão atraente é.

— Jamais cansarei de falar isso, meu pequeno anjo. —Ao

invés de esticar os dedos para me torturar com cocegas, meu

namorado desliza as mãos pela minha cintura e me abraça do jeito

que gosto, do jeito que nós dois gostamos. — Amo você.


— Bruno... — Ainda consigo dizer, antes de ele grudar os

nossos lábios no beijo sensual, o beijo que não faz promessas,


apenas nos leva para onde os nossos desejos querem ir.

— Bruno... — clamo pelo seu nome mais uma vez e, de uma


forma brusca, sou interrompida quando um clarão quase me cega.

Assustada, sento-me sobre a cama e vejo a minha mãe terminando


de arregaçar as cortinas.

Claro que era apenas um sonho. Só mesmo o meu


subconsciente para projetar uma realidade tão feliz, sem máculas,
ou obstáculos.

— Por que a senhora fez isso? — questiono, agora mais

desperta. Com os braços cruzados, dona Mara me encara.

— Onze horas da manhã, minha filha — avisa, e me pergunto

por que está aqui. Hoje é domingo e, pelo que me lembro, não tenho
nenhum compromisso como integrante da família Albuquerque.

Compromissos que fazem o sobrenome pesar como um bloco


de concreto em cima dos meus ombros. Prefiro quando sou

ignorada, quando o medo de eu perder o controle faz com que a


minha presença seja dispensada.
Infelizmente, não é sempre que acontece. Por mais vezes do

que gostaria, sou obrigada a fingir que sou a socialite fútil e perfeita,
a herdeira que nem mesmo um curso superior pôde fazer.

— Algum problema com o fato de ser onze horas de um


domingo qualquer? — pergunto, primeiro limpando a baba

imaginária do canto da boca, em seguida as remelas com a ponta


do dedo. Ela detesta que eu seja tão mal-educada. Segundo a boa

etiqueta da dona Mara, são gestos vulgares demais para se fazer


em um ambiente que não seja dentro do banheiro. Fazer na frente

de outra pessoa? É o fim do mundo, conforme está escrito no seu


dicionário.

— O problema é você, minha filha. Não percebe que está cada

dia mais incontrolável?

Recomeça a ladainha de sempre, que nas últimas semanas


está se intensificando, junto com a percepção de que o meu namoro
com o Bruno não é só um caso passageiro. É diferente do único

namoro que eles me pressionaram a manter com um garoto que eu


nem gostava.

Felizmente, o momento de lucidez chegou rápido e,


pouquíssimos meses depois do início, dei fim à farsa.
A ilusão de que eles estavam aceitando o meu relacionamento
era apenas isso, uma ilusão. O passar dos dias mostrou que o medo
de perder o controle sobre mim sempre falará mais alto quando a

ameaça de uma sonhada liberdade se aproxima.

— Não estou incontrolável, mamãe — inutilmente me defendo.


— Será que a senhora não pode ficar do meu lado ao menos uma
vez?

— Minha filha... — Desconcertada ela começa, mas se cala


em seguida. Talvez por não saber o que falar, por não ter justificativa

para o seu incômodo com a minha felicidade.

— Será que não percebe que estou feliz? — Tento fazer com

que enxergue que não há o que temer.

Ser eu mesma é a minha cura, ter liberdade para fazer as

minhas próprias escolhas sem ser julgada por isso.

— Você está ficando muito dependente daquele homem. —

Mara se aproxima um pouco mais da minha cama, e o tom de voz é


suave. — Tenho medo de que seja prejudicial e acabe

desencadeando algo que você já superou.

— Não é por dependência, ou obsessão, como devem estar

pensando. O Bruno e eu temos um relacionamento saudável, cheio


de afeto e cuidado. Pelo menos dessa vez, me deixem viver
plenamente a história que escolhi.

— Seja razoável, Ângela. — Ela reluta em me ouvir, mas, para


o seu azar, estou completamente lúcida e consciente das minhas

decisões. Dessa vez vai ser diferente.

— Vocês precisam superar o que aconteceu, deixar que eu

mesma supere e siga em frente — peço. — Se perceberem em


algum momento que não estou bem, vocês podem interferir, como já

fizeram tantas outras vezes, mas agora só preciso viver em paz com

as minhas próprias escolhas.

— Eu espero que saiba o que está fazendo. Seria muito


doloroso enfrentar mais uma crise. Só traria mais sofrimento para a

família, e para esse advogado que diz gostar.

— A senhora pode me deixar sozinha, por favor? — De

alguma forma, o seu último aviso me afetou. Não há surpresa, é o


que acontece quando nos falamos.

Tenho a impressão de que faz de caso pensado. Quando não

consegue facilmente, recorre aos avisos que me lembram de quem

sou, das marcas que carrego de um passado sombrio demais.


Quando ela sai, volto a me jogar de costas na cama. No

processo, me cubro da cabeça aos pés com o pesado edredom.


Como um mecanismo de defesa, é uma mania que desenvolvi

quando criança, e até hoje carrego comigo nos momentos em que

as incertezas e inseguranças me abatem.

No momento, tudo o que queria era estar com Bruno no nosso


canto. Longe das ameaças à nossa felicidade que já dura um mês

completo. Semanas de puro amor, paixão e conhecimento mútuo.

Estivemos tão próximos nas últimas semanas que até


consegui chamar a atenção dos meus pais para nós.

Se para a minha mãe estou obcecada e dependente demais,

no meu íntimo não existe dúvida de que é mentira. O que vivemos e

sentimos não é mais que a prova do amor recém-revelado. A


plenitude de se entregar de corpo e alma a quem me faz bem. Bem

de uma forma inédita.

Só quero estar com o meu namorado, receber a sua ligação

me chamando para o nosso canto, o lugar que rapidamente recebeu


toques pessoais tanto meus quanto dele. O apartamento nem de

longe lembra o lugar que o deixou tão frágil, que trazia recordações

dolorosas semanas atrás.


Fizemos do apartamento o nosso refúgio para amar, e não

existe outro lugar onde gostaria de estar agora.

Toque celular, desejo com intensidade.

Me ligue, meu amor. Preciso de você.

Com a voz abafada pelo casulo de edredom, peço baixinho,


como se a força da minha vontade fosse o suficiente.

— Não acredito! — Pulo sentada quando, imediatamente

depois de me calar, o celular começa a vibrar perto da minha


cabeça.

— Bruno, eu estava louca por essa ligação. Estou com

saudades, querido. — Animada, empurro o cobertor para os meus

pés, sentindo o frio desaparecer de repente.

— Quero te ver, minha linda — fala, deixando-me exultante. —

Estou indo para o apartamento, posso te esperar?

— Deve — afirmo. — Em breve chego aí.

— Só tome cuidado com a estrada, Ângela — pede, como


sempre faz quando combinamos alguma coisa juntos.

É mais que um aviso, é uma herança do acidente. Mais um

dos traumas herdados que, aos poucos, com a ajuda que está
recebendo conseguirá superar.

No meu íntimo, tenho esperança de que além de voltar a


enxergar, meu namorado conseguirá dirigir. Vai recuperar tudo que

perdeu, menos a noiva.

Tudo, menos ela!

Eu não suportaria, não só pelos meus sentimentos, mas

porque ela é a mulher que o abandonou no pior momento. Foi uma


das maiores responsáveis por sua mente ter ficado tão fodida.

— Tomarei — assevero. — Espere por mim, meu homem de

olhos lindos. Amo você.

— Te amo mais, anjo. — Desligo e, apressada, corro para o


banheiro.

Ao descer com uma bolsa média na mão, recebo o olhar de

desaprovação de dona Mara, mas, felizmente, ela não fala nada.

***

Com as chaves que ele me deu na mão, destranco a porta e o

encontro sentado no sofá com o notebook em cima das pernas. De

imediato, Bruno coloca o computador sobre o sofá, e vem me


encontrar. Não sei se é uma espécie de habilidade, mas Bruno
sempre sabe onde estou. Quando me abraça, sinto que tudo está

em seu devido lugar.

— Isso tudo é saudade? — provoca, mas a boca já está

beijando o meu pescoço, e as mãos me sustentando pelo bumbum.

— Muita — confesso, afasto rapidamente o cabelo do pescoço

para dar acesso aos seus beijos. — Demorei?

— Parece que demorou uma vida — reclama, e nos leva para

o sofá. Sentindo a alça da bolsa no meu ombro, Bruno tira e a joga


no outro canto do estofado.

— Estou aqui à sua disposição, meu amor. Pode fazer o que

quiser de mim. — Insinuo-me.

— Não tenha dúvidas que vou fazer — fala. Meu namorado


coloca as duas mãos dentro da minha blusa e começa a acariciar a

minha barriga com movimentos lentos e excitantes.

Quando sua boca toma minha, a minha respiração se torna

mais fácil. Aqui, nos braços dele, sou apenas a Ângela. Não a
Albuquerque, somente a mulher que, nos braços de um homem tão,

ou mais quebrado que ela, consegue encontrar a paz e o equilíbrio

que não tem dentro da própria casa.


CAPÍTULO 25

BRUNO

— Muito cansada, minha garota insaciável? — Ainda com o


fôlego errático, tenho o corpo parcialmente sobre o dela e, deitada

de bruços, tendo os braços dobrados onde a própria cabeça


descansa, Ângela se recupera do nosso sexo explosivo e voraz.

Explosivo da forma como acontece todas as vezes que a ouço


chegar, ou vice-versa. Quando chego depois dela, sou recebido com

o mesmo entusiasmo com o qual deixei de lado o trabalho que


estava fazendo, somente pelo prazer de tê-la dentro do meu abraço,

de sentir o cheiro dos cabelos da minha menina bonita.

— Apenas recuperando o fôlego, você sabe como acabar


comigo. — Tem a voz lânguida e, por baixo da minha mão, sinto o

toque macio da bunda que daria um membro para ver e comer. Um


desejo cru e perverso que me acomete sempre que estamos

transando e, de maneira involuntária, meus dedos teimam em

querer acariciar zonas proibidas. Deliciosamente proibidas.


Quando acontece, a minha namorada fica tensa por alguns

segundos, mas logo relaxa, mostrando a mulher voraz e receptiva


que é. Ela sempre entra no clima e me deixa fazer dela o que quiser,

incluindo a invasão dos dedos no seu orifício apertado e irresistível

para mim.

Se Ângela se sente inclinada a me entregar tudo de si, eu, com


o dobro de vontade, tenho desejo de tê-la por completo, de uma

forma irracional e possessiva. São nuances da minha personalidade

que antes não existiam. Sentimentos nascidos com o amor e o


tesão que essa menina mulher desperta. Já não tenho certeza se

amei outra antes dela.

Talvez não soubesse o verdadeiro significado do amor, não no


sentido pleno da palavra, do sentir e da entrega. Com Carolina

Guimarães, que hoje tenta carreira internacional de atriz, amei a

ideia do amor, de uma vida padrão tendo sucesso no amor e na

carreira antes dos 30 anos.

Hoje, depois de tudo que passei, estou aprendendo que nada

é mais importante do que estar aqui, amando a mulher que me deu

razões para acreditar que o dia mais difícil terminará bem se eu

puder voltar para os seus braços ao fim dele.


— Só algumas vezes? — questiono quando, sem conseguir
resistir, mordo o meio das suas costas, que até então distribuía

beijos de boca aberta. — Acho que terei que me esforçar mais nas

próximas vezes.

— Seu bobo, todas elas são maravilhosas, mas têm dias,

como hoje, que o senhor parece estar mais faminto.

— Acontece porque horas longe de você se parecem anos, e

dias se parecem uma vida inteira — justifico-me e, com uma das

mãos, aliso uma pequena porção de pele áspera do lado esquerdo

de suas costas. Creio que sejam marcas das minhas chupadas.

— É isso que significa estar apaixonada? Se for, eu estou

assustadoramente apaixonada por você — fala com a naturalidade

de quem está falando sobre o clima, e não fazendo uma declaração

de tamanha grandeza.

— Meu amor... — Estou sem palavras, e sem vontade de

afastar a minha boca da sua pele macia e perfumada, mesmo


depois do sexo tão sujo quanto suado que acabamos de fazer.

— Porra... — protesta numa mistura de reclamação e gemido.

— Doeu, minha diabinha? — Afasto minha boca da sua carne,

em seguida passo os dedos pelo local quente da minha mordida e


chupada. — Não te ouvi reclamando agora há pouco, enquanto

pedia que metesse mais rápido, ou quando pedia para estapear sua
bundinha com mais força. Cadê a garota safada?

— Ela se escondeu debaixo da cama, depois que foi


deliciosamente saciada. Quem está aqui agora é o seu pequeno

anjo. — Ao toque da minha mão, sinto o momento em que o seu


corpo muda de posição. Agora a tenho deitada de costas, com a

parte da frente à disposição das minhas mãos e boca. — Me diga,


qual versão você prefere? — pergunta de uma forma só sua de me

provocar, e me faz perceber que não tenho resposta.

A pergunta dela é muito mais que uma brincadeira, pois em


vários momentos sinto como se duas dela existissem. A diaba e o

anjo, como eu mesmo apelidei. Primeiro conheci a garota alegre e


ousada, que tomou para si o que vinha querendo há anos. Essa sua

versão me enche de desejo, um tesão que nos torna livres nos


nossos momentos de loucuras em nome do sexo, da vontade de
fazê-lo até estarmos plenamente saciados.

Existem momentos que o meu pequeno anjo dá as caras,

então Ângela fica mais quietinha e introspectiva. Ela diz coisas


estranhas, que muitas vezes não consigo entender. Quando
questiono a minha namorada, ela me pede para não dar importância

para as suas bobagens.

Por mais que Ângela tente me convencer de que são somente


frases aleatórias e sem importância, eu não consigo acreditar nisso.
Fico com a sensação de que está querendo me dizer algo, coisas

óbvias, mas que não consigo perceber com clareza.

Pelo meu pequeno anjo, sinto um amor, uma ternura que traz

consigo a vontade de protegê-la entre os meus braços, apertá-la até


que possa garantir que ninguém lhe alcançará, que o mal não

chegará perto dela. Não da minha Ângela, que não merece sofrer.

— Eu prefiro... Que rufem os tambores. — Contra a sua boca,

que nunca cansarei de beijar, faço o suspense antes de dar a


resposta mais sincera possível. — A minha diabinha que, de vez em

quando, é um anjo. Ou seria o meu anjo que às vezes me tenta


como se fosse o próprio demônio? — questiono, ajeitando-me
melhor sobre o seu corpo e continuo: — Quem é você, Ângela

Albuquerque? Anjo, ou demônio?

— Você vai ter que descobrir, namorado. E quando isso

acontecer, me conta. Pode ser perigoso guardar o segredo.


— Pode deixar, gostosinha — asseguro, puxando sua perna
para o meu quadril. — Eu conto e te como.

— Muito safado você, grande advogado. — Embaixo de mim,


minha garota faz o de sempre, quando quer levar-me às raias da

loucura. Começa a esfregar a boceta ainda melada e inchada da


nossa última transa no meu pau semiereto, e sempre disposto a
recomeçar. Com ela, nunca é demais. O tempo passa, a intimidade

entre os nossos corpos aumenta e, consequentemente, o desejo de


estarmos sempre juntos física e emocionalmente.

— Você quem faz isso comigo, só você.

— Acho bom mesmo, Bruno. Eu não suportaria te perder, juro

que não. — Quando fala, tem a mesma urgência das outras vezes.

— Isso não pode ser ciúme, amor. — Tento descontrair,

mesmo sabendo que o que disse tem muito mais que o simples
ciúme. — Porque você, perfeita como é, não teria motivos para
sentir ciúme de um homem que nem ao menos pode reverenciar a

sua beleza.

— Não se trata de ciúme, é só um aviso. — Como todas as


outras vezes, ela tenta despistar ao enrolar a outra perna no meu

quadril. Quando os calcanhares fincam na minha bunda, trazendo o


meu pau para o contato direto e apertado com a bocetinha melada,
fica difícil pensar em outra coisa que não seja fazer sexo. Mais uma
vez.

Porra! E quem pode me julgar? Eu sou homem e ela é a minha

mulher, deliciosamente nua e quente sobre o meu corpo igualmente


nu e pronto.

— Bruno.

— Fale, meu amor.

— Não sou perfeita, muito pelo contrário — afirma. — E não

fale da sua cegueira. Logo você se livrará dela e voltará a ser um

homem completo, como gosta de dizer, pois para mim sempre foi o
Bruno, o homem que chamou a minha atenção pela presença

marcante e beleza fora do comum.

— Você faz bem para minha autoestima, anjo — digo, beijando

o seu pescoço. Uma de minhas mãos amassa os seus seios, que


têm o tamanho exato para comportar o meu pau entre eles. Adoro

fodê-los, e depois sentir a minha porra escorrendo deles para a sua

barriga. — Obrigado por me apoiar — falo e, com a ponta do pênis,

pincelo superficialmente entre as dobras do seu sexo. — Mal vejo o


dia de te conhecer fisicamente. Se tudo der certo, não quero mais
ninguém na minha frente além de você, Ângela — revelo. — Não

permita que me tirem isso, por favor. Só você, a minha primeira


visão.

— Não permitirei, estarei sempre ao seu lado. E se precisar,

segurarei na sua mão... Assim, amor ... — Não termina, porque eu

meto profundamente no seu corpo, fazendo a última e íntima


conexão.

— Minha linda... — Palavras e pensamentos se perdem

quando começo o vai e vem lento, onde o sexo é muito mais fazer
amor do que foder. O lugar não produz outro barulho que não seja o

dos nossos gemidos, respirações alteradas e corpos se batendo.

Na minha mente, o prazer carnal se mistura com as

lembranças de tudo o que vivemos nas últimas três semanas, da


nossa ida aos especialistas recomendados para o meu caso.

Lembro do caminho percorrido em poucas sessões, onde eu tive a

certeza de que posso ter a esperança de não me frustrar. Posso

acreditar que, depois de mais uma cirurgia, a venda será tirada e


verei a mulher que amo com tudo o que há em mim.

A minha mulher.
— Me fode, Bruno — o pedido agoniado é acompanhado por

costas sendo rasgadas com unhas afiadas. A ardência me deixa

ainda mais cheio de tesão, me atiça a fazer exatamente como pede.

Tirando as mãos do seu corpo, seguro na cabeceira da nossa


cama com força e, do jeito que necessita, penetro a sua boceta em

movimentos bruscos o suficiente para ter seu corpo sacudido e

içado para cima.

— Toma, porra! — Meto e tiro com rapidez e força. — Muito


gostosa... — Apoiando-me com uma só mão, levo a outra ao seu

clitóris e brinco com ele para deixá-la mais louca de desejo.

— Isso, baby — elogia, quase não conseguindo falar.

— Eu quero te pegar por trás, amor — aviso, abruptamente


saindo de dentro dela e me jogando na ponta da cama. — Fique de

quatro e me leve para dentro de você. Seja a minha guia, diabinha.

Ouço atentamente os sons de ela se movendo sobre a cama.

Em seguida, ouço a voz doce transformando-se em algo mais sexy,


um poder que ela tem quando estamos em momentos de extremo

prazer sexual.

— Pode tomar tudo o que quiser, baby — ela diz, segura a


minha mão e, de joelhos, arrasto-me pelo colchão até sentir o meu
quadril em contato com a bunda empinada.

Ao tocar a bochecha da sua bunda na intenção de me


posicionar, sinto a sua mão agarrar o meu pau, fazendo alguns

segundos de masturbação perfeita que me deixa perto do orgasmo.

Ângela dá um jeito de me guiar até a boceta gotejante e recomeço

de onde parei.

— Você tem a bunda deliciosa, não é mesmo? — Enquanto a

fodo, tenho as mãos fechadas no seu quadril, de vez em quando

deslizando para as bochechas da bundinha deliciosa para estapeá-


la com gosto. — Me fale, namorada, quando é que me dará o prazer

de comer o seu buraquinho apertado? — A frase é acompanhada do

meu dedo indicador que, aos poucos, penetra o seu ânus.

— Quando você for um bom menino, fizer o que tem que ser
feito e puder ver o que está fazendo — fala aos tropeções. — Já

pensou? Finalmente desvirginar a minha bunda e enxergar o

presente que ganhou? — Finaliza muito ensandecida, jogando o

quadril para trás na tentativa de me auxiliar nas arremetidas.

— Eu não acredito nisso, sua chantagista! — Dou um tapa na

sua coxa esquerda, penetrando até o fim. Passo a mover o meu

pênis dentro da sua boceta, em movimentos circulares e intensos.


Intensos a ponto de me fazerem esporrar seu sexo a qualquer

momento. — Se era de um incentivo que eu precisava, você acaba

de me dar o melhor deles. — Envolvo a minha mão na cintura

esguia, e quando trago suas costas escorregadias para junto do


meu peito mais suado ainda, afirmo ofegante no seu ouvido: —

Saiba, diabinha chantagista, que em breve estarei comendo o seu

cuzinho, e da sua boca sairão apenas gemidos de contentamento. É


isso que quer?

— Tanto quanto queremos o sucesso da sua cirurgia — fala,

levando a mão para a minha nuca.

No momento em que sinto o meu sexo engrossar dentro do


seu corpo, minha boca toma a sua, mas não sem falar:

— Então, nós temos um trato, chatinha.

Beijando-a com sofreguidão, diminuo o ritmo e, penetrando-a

mais algumas vezes, chego ao pico do prazer logo depois dela.

Ao cairmos exaustos, pela segunda vez em pouco mais de


duas horas, ainda me atrevo a provocar:

— Como da outra vez, consegui acabar com você? — Faço

carinho nos fios de seus cabelos suados, aproveitando-me do fato


de ter a sua cabeça descansando no meu peito.
— Tanto que amanhã não conseguirei andar — avisa, sem

conseguir segurar o bocejo.

— Tadinha, meu Deus. — Enlaço a sua cintura e aconchego


melhor contra o meu corpo. — Quem foi o homem malvado que fez

isso com um anjo?

— Foi o meu namorado, ele me devora com a sede de mil


anos sem tocar o meu corpo.

— Muito esperto o seu namorado.

— Muito — Ouço o som do seu sorrisinho. — Só espero que

ele não esteja pensando que passaremos o dia trancados


transando.

— Não?

— Não — fala baixinho, e presumo que esteja prestes a

dormir. — Deixe só eu me recuperar — pede. — Nós vamos sair,


tenho um passeio especial, e acho que você vai gostar.

— Sei que vou — digo, e não obtenho mais resposta.

A minha chatinha dormiu, e mesmo ela não tendo ouvido, a

minha resposta não deixou de ser sincera e verdadeira. Confio na


minha namorada, sei que tudo que propor será bom pelo simples
fato de poder estar na sua companhia.
CAPÍTULO 26

ÂNGELA

— Você não pode estar falando sério, não vou subir nessa
coisa, de forma nenhuma — reclama ao tocar no assento e no aço

da minha bebê.

— A coisa, meu amor, se chama moto — rebato, divertindo-me


com a sua relutância em fazer o que proponho. — E te garanto que
ela não morde.

— Sinto meu sangue gelar só de imaginar você montada nisso


daí — revela, quando me aproximo e, ficando na pontinha dos pés,

beijo o canto da sua boca.

— Poxa, mas eu pensei que a ideia de me imaginar montada

em cima de uma moto te enchesse de tesão, não foi isso que disse?
— relembro, enquanto tento persuadi-lo a fazer o que eu quero.

— Eu disse — confirma, me abraça com mais vontade e traz o

meu corpo para bem próximo do seu. — Mas eu estava falando com
a gostosa com quem queria transar. — Enquanto fala, as mãos vão

despretensiosamente deslizando para as bochechas da minha


bunda, coberta com o jeans justo que faz par com a jaqueta de

couro preto. — Agora estou falando da minha namorada, e não

suporto a ideia de que algo de ruim possa acontecer com você.

— Tudo bem, você tem seu ponto — admito, com o coração


prestes a explodir por receber dele tamanho cuidado e carinho,

coisas da qual sou carente. — Mas você não tem que se prender

por esses temores, meu amor. Lembre-se do que a psicóloga falou?


Precisa enfrentá-los e superá-los da melhor forma possível. Nada

vai nos acontecer, é só uma voltinha.

— Você tem certeza? — Ao sentir a sua mão rapidamente


subindo para a minha cintura, e os dedos apertando-a com mais

força, percebo que está mesmo com medo.

— Eu tenho, e garanto que você vai gostar — afirmo. Com as


pontas dos dedos, acaricio os cabelos de sua nuca. — Imagine só,

sentir a liberdade e o vento frio nos nossos rostos...

— A bunda da minha gata se apertando contra o meu pau —

completa.
— Meu Deus, Bruno. — Não contendo o riso, dou um soquinho
no seu braço e emendo: — Você só pensa em sacanagem.

— Admita que é a melhor parte do seu plano de aventura —

justifica-se e continua. — Por falar nisso, pode me dizer o motivo de

a sua moto estar aqui, e não na garagem da sua casa? — indaga.

Eu já esperava por essa pergunta, afinal, nós saímos do


apartamento com o meu carro e viemos direto para o

estacionamento pago, onde costumo deixar a minha moto.

O motivo é bem óbvio para quem conhece os pais que tenho.

— Fica aqui porque meus pais não sabem que a possuo —


revelo, sem ter como esconder. — Um belo dia, saí para almoçar

com a Marina, no caminho vi a belezinha aqui, e o resto dá pra

imaginar: comprei a moto, tirei a habilitação, tudo sem que dos dois

tenha ao menos desconfiado. Estou com ela há três anos, a minha

inseparável companheira de aventuras.

— Por que fez escondido, amor? — Enquanto fala, sua boca


beija meu pescoço, e os braços permanecem envolvendo-me com

carinho.

É tão natural estarmos assim. Se pudesse aqui seria a minha

morada permanente. Dentro do abraço protetor, recebendo carinho


acolhedor e beijos arrebatadores.

— Eles não permitiriam — assevero.

— Entendo, e não os julgo por isso. Eles devem ter os seus

motivos — diz, certamente atribuindo o fato à comum preocupação


de todos os pais quando têm seus filhos no trânsito, seja com um

carro, ou uma moto.

No caso dos meus pais, a questão vai muito além, pois, o


temor deles não se restringiria à motocicleta, caso soubessem da
existência. Por saber como agem em diversas situações, escolhi

fazer por mim, ao invés de abaixar a cabeça e aceitar a negativa de


ambos para algo que gosto. Já basta tudo o que perdi nos anos

mais preciosos da minha vida.

Na época em que tinha acabado de sair de uma fase muito

difícil, a compra da moto e a escola de habilitação foram um grito de


liberdade. A primeira vez que fiz algo por mim mesma.

A mesma batalha que comecei a travar pelo meu namoro, pelo


amor que me foi dado, e da qual não estou disposta a desistir.

Lutarei pelo Bruno até que não haja mais forças dentro de mim.

— Preocupação, coisa de pai e mãe — escondo. — Pare de


me enrolar, senhor Bruno. Vamos, suba, a gente vai dar uma volta
— chamo e, ao me desvencilhar do seu abraço, monto a minha

menina.

Quando percebe que não vou desistir, Bruno acaba subindo e


se ajeitando atrás de mim. Por atrás de mim, quero dizer que ele
está muito perto. O peito colado nas minhas costas, e nem preciso

dizer que tem o sexo esmagado contra a minha bunda. Os braços


estão tão apertados em volta da minha cintura que é quase difícil

conseguir respirar.

Não que isso seja uma reclamação, pois tirando a parte do não

conseguir respirar com naturalidade, sinto que estamos numa


posição muito excitante. E se não fosse o seu medo, tenho certeza
de que teria se dado conta e arranjado um jeito de nos deixar loucos

de desejo em cima da motocicleta.

— Querido, menos apertado. — Alisando o seu braço, tento


acalmá-lo. — Está tudo bem, percebe? Vamos fazer o nosso
passeio, depois a guardaremos aqui novamente. Nada vai nos

acontecer — afirmo, pedindo ajuda para o universo. — Confia em


mim?

— Com a minha própria vida — declara e, no processo,


começa a relaxar e afrouxar o aperto do seu abraço.
Ainda assim, Bruno não se afasta um milímetro sequer do meu
corpo, e não estou reclamando. Quer dizer, não sei até que ponto
estarmos tão próximos é bom. Prometi nos levar e trazer sem

incidentes, o que não é tão fácil de cumprir quando a mente está


cheia de fantasias sacanas.

— Está preparado? — Checo, antes de ligar a moto.

— Isso é você quem precisa dizer. — Totalmente recuperado

da tensão inicial, Bruno faz a pergunta sussurrada no meu ouvido. A


mão direita sobe para o meu seio e o aperta com gosto. Depois ele

belisca o mamilo até deixá-lo duro de excitação, fazendo com que


eu tente me esfregar nele, tudo sem nos derrubar. — Está
preparada?

— Só se você também estiver. Somente depois disso, darei

partida — provoco, deliciando-me com o toque de uma mão no meu


seio, enquanto a outra brinca com o cós do meu jeans.

Cheia de tesão, faço questão de empinar a bunda, quase me

sentando em cima do seu pau ereto. Como estou a fim de deixá-lo


louco, começo com leves esfregadas, que logo se transformam em

lentas reboladas que deixam seu membro ainda mais duro.


— É melhor você parar, amor — avisa quando as mãos deixam
meu peito e cintura e vão para a minha bunda. Na contramão do
que acaba de pedir, Bruno aperta as bochechas com gosto,

esfregando-as com mais vigor no seu sexo rijo. A minha calcinha já


está ensopada há um bom tempo.

— E se eu não parar? — Vou além, aproveitando-me do


ambiente escuro, e do fato de não ter ninguém por perto no
momento. — O que você vai fazer?

— Vou te comer aqui, em cima dessa moto. E te garanto que

não será só a sua boceta. — Suas palavras causam arrepios de

prazer — Vou querer tudo, a sua boca safada, e até mesmo a


bundinha deliciosa. — Suas ameaças não são capazes de me fazer

parar, pelo contrário, deixam-me mais excitada e doida para pagar

para ver. — Vem, me beije. — Voltando-nos para a posição anterior,


Bruno cola as minhas costas no seu peito, puxa minha cabeça

minimamente para o lado e inicia um beijo calmo e delicioso.

Aos poucos, não fazendo nada além de nos beijarmos,

conseguimos nos acalmar e amenizar o fogo que nos queimava


como brasa viva. Quer dizer, ele me acalmou, depois de ter

provocado a fera que há em mim.


— Melhor? — Termina com vários selinhos, os braços

novamente me envolvendo.

— Ainda quero gozar. — Sou sincera.

— E eu ainda quero te devorar de todas as formas possíveis e

imagináveis, mas só vamos fazer isso em casa, longe do perigo de

sermos flagrados — diz, eu agradeço por alguém aqui ser racional.

— Você me enfeitiçou — acuso. — Pareço uma pervertida, e

não com alguém que transou até a exaustão mais cedo.

— Isso é normal com pessoas que se desejam e se amam

muito. Elas precisam extravasar de alguma forma.

— Você e o seu dom com as palavras, meu advogado

gostosão.

— Amei o apelido — brinca, beijando o meu rosto. — Saiba

que me sinto da mesma forma. Se pudesse, ficaria a vida toda te


amando.

— Você não existe.

— O que não existirá é o passeio de moto se você não nos

tirar daqui imediatamente, diabinha depravada.


Respeitando o seu trauma, faço os primeiros quilômetros com

a velocidade reduzida. Pouco a pouco, depois de o sentir mais

relaxado, acelero a motocicleta, mas não acima do limite permitido.


Como todas as outras vezes, a sensação que sinto é indescritível,

mas hoje é especial, porque carrego o meu amor comigo. Estou

feliz, e torço fervorosamente para que ele também esteja.

Nós dois estamos em silêncio, ouvimos apenas o som do

vento e sentimos a brisa fria beijando os nossos rostos. O vento que


traz a sensação de liberdade.

Depois que estaciono perto do parque arborizado, cuja grama

é verdinha e bem aparada, Bruno e eu entrelaçamos os nossos


dedos e começamos a caminhar. O lugar está barulhento, pessoas

andam de patins, outras fazem piqueniques e crianças correm de

um lado para o outro.

Ao chegarmos a um banco, o meu namorado tateia o concreto


e se senta. Gentil, ele procura a minha mão e me coloca em suas

pernas.

— Já disse o quanto você é importante para mim hoje? —


Depois do confortável silêncio durante toda a corrida, ele volta a

falar, e não poderia ter começado de um jeito melhor.


— Hoje, ainda não.

— Você é o que de mais importante existe na minha vida. Isso


te assusta?

— Não, pois me sinto da mesma forma em relação a você —

devolvo, quase não conseguindo conter dentro do peito a alegria de

poder falar em voz alta sobre todos os meus sentimentos, de não


precisar reprimir, pois sei que sou retribuída na mesma medida.

— Obrigado por ter me trazido aqui, pela volta de moto. Foi tão

boa a sensação de liberdade. O cheiro dos seus cabelos trazido

pelo vento. Estive inebriado, inundado de amor e gratidão — ele


declara.

— Andar de moto é algo que me faz tão bem, queria

compartilhar com você a minha paixão.

— Eu amo você, meu anjo.

— E eu a você, meu homem de olhos de tempestade. — Como

todas as vezes, beijo sobre a sua têmpora.

Por pouco mais de uma hora, permanecemos no parque,

sentados no mesmo banco, somente conversando e desfrutando da


companhia um do outro ao fim da tarde.
Já anoitecendo, e depois de ter guardado a moto no

estacionamento, Bruno e eu pegamos o meu carro e nos dirigimos

para o restaurante mais próximo do seu apartamento. Isso

aconteceu depois de o meu estômago ter denunciado o tamanho da


minha fome.

Já acomodados em um canto reservado, retomamos a nossa

conversa, enquanto os nossos pratos estão sendo preparados. O

principal assunto é a evolução que ele teve em duas semanas, não


deixo de elogiar e falar sobre o quanto estou orgulhosa da sua força

de vontade e disciplina na decisão de retomar o tratamento. Temos

esperança de que volte a enxergar total, ou parcialmente.

Tendo o apoio do irmão, da cunhada e do melhor amigo, Bruno

voltou a consultar os médicos especialistas no seu caso, dentre eles

o psicólogo que o ajudará com os traumas do passado, para que

agora o resultado seja diferente. Apesar de ainda estar no início do


tratamento, e muitas questões a serem superadas, tento passar o

meu otimismo todos os dias, fazer com que acredite que vai dar

tudo certo.

— Está calada. Algo de chateou? — indaga, e me dou conta


de que estava tão perdida em devaneios que não vi quando
trouxeram as nossas refeições. Muito menos que devorei o prato de

comida no modo automático.

— Estava pensando em algumas coisas — justifico ao limpar a


boca com o guardanapo de tecido.

— Pensamentos bons?

— Pensar em você está diretamente ligado a boas memórias,

Bruno.

— Boas a ponto de te fazer dormir comigo hoje?

— Dê o seu melhor, me convença.

— Estive pensando, o que acha de eu comprar uma moto

como a sua? Podemos continuar a brincadeira que começamos no


estacionamento. Acredito que você iria adorar ser comida em cima

daquela coisa. Pense bem, seriam lembranças inesquecíveis.

— Já me convenceu — afirmo, excitada com a hipótese.

— Sabia que seria fácil.

— Mas não sabia que eu já tinha decidido dormir com você

hoje. Só queria testar o tamanho da sua vontade.


— Se chegar mais perto poderá sentir o tamanho... — deixa no
ar a insinuação, nós dois começamos a sorrir como dois bobos.

— Que grande coincidência. — Uma voz nos interrompe. Na

nossa frente, está parada uma mulher mais velha com cabelos

tingidos de loiro. — Bruno Pires, há quanto tempo não nos vemos.


Dois anos? — fala diretamente para ele. Tenso, Bruno não é mais o

mesmo.

Não é o meu Bruno, o homem alegre e irreverente de


segundos atrás.
CAPÍTULO 27

ÂNGELA

Não sei calcular se passaram segundos, ou minutos, mas o


clima está muito estranho e tenso demais para um ambiente como

esse.

A mulher permanece parada à nossa frente e, com os punhos


fechados sobre a mesa, Bruno continua mudo. O corpo está duro
feito uma pedra. Tão quieto que parece não respirar.

— Não acredito que não está me reconhecendo, meu caro. —


A senhora insiste, ao invés de virar as costas. Não percebe que sua

presença é indesejada? — Não se passaram tantos anos assim. Da

minha filha, tenho certeza de que você não se esqueceu — finaliza,


no rosto tem o sorriso sarcástico de quem conseguiu acertar o alvo.

Bruno permanece indecifrável, e eu estou começando a ficar


incomodada.

— Ruth Guimarães. — Bruno finalmente decide cumprimentar


a senhora. — Tudo bem?
— Estou muito bem, obrigada — devolve afetada. — Pelo que

vejo, você está ótimo. E a mocinha, é alguma parente sua? — A tal


Ruth volta o olhar, analisando-me com aberta curiosidade. — Ela é

muito bonita — assevera, não fazendo o elogio diretamente para

mim. Age como se eu não estivesse presente.

— Obrigada — agradeço, apesar de não ter se dirigido a mim


ao elogiar.

— Ângela Albuquerque, a minha namorada. — Quem é essa

senhora que o deixou tão tenso?

A forma segura como me apresentou como sua namorada pela

primeira vez me deixou com vontade de saltar no seu colo e encher


o seu rosto de beijinhos. Algo me diz que é uma informação

importante, principalmente para a tal Ruth. Por alguma razão

desconhecida, sei que é importante.

— A herdeira do Tarcísio Albuquerque? — Surpresa, ela


questiona.

A sua pergunta é respondida por Bruno com um gesto de

cabeça, porque, mais uma vez, ela se dirigiu a ele.

— Parabéns, meu caro. — O seu cumprimento nem de longe


parece sincero. — Vejo que escolheu uma substituta à altura.
Substituta? Eu sou substituta de quem? Olho dela para Bruno,
que tem no rosto uma expressão séria. Ele não esconde a irritação.

— Ruth, poderia, por favor, se retirar? — pede o mais educado

que consegue, enquanto a última frase dela permanece nos meus

pensamentos.

— Não se incomodem comigo, meus queridos — pede, com

falsa simpatia. Se não quisesse incomodar não teria vindo até nós.

— Espero que ela esteja sendo tratada com cuidado e atenção,

muito mais do que deu a sua ex-noiva. Que tenha aprendido a

priorizar a relação, ao invés do maldito trabalho — fala com rancor

e, na minha cabeça, as peças começam a se encaixar.

— Ruth, por favor — pede mais uma vez. Não está mais

irritado com ela, agora parece triste.

O confronto está mexendo com suas emoções. Em prece,

peço para que ele não jogue fora todo o progresso das últimas

semanas. Bruno está mais alegre, cheio de planos e confiante.

— Estou de saída — Ela vira as costas, mas antes de sair,

volta-se novamente e diz: — Já ia me esquecendo. Se te interessa

saber, a sua ex-noiva estará de volta à cidade na próxima semana.

Quem sabe vocês não se encontram e tentam se entender? O


relacionamento de vocês não terminou bem, e talvez só precisam de

uma boa conversa — ela joga a bomba e bate em retirada.

Na minha frente, Bruno parece uma folha de papel em branco,

afetado de uma forma como nunca vi. Para mim está óbvio que a
notícia mexeu com ele. Mais do que deveria, e muito mais do que

sou capaz de suportar. Fico insegura de uma forma que nunca


experimentei, experimento o gosto amargo do ciúme.

Ela está voltando, a ex-noiva, a mulher que ele amou e com


quem fez planos para o futuro. No mesmo país, na mesma cidade, e
quem sabe próximo à sua casa. Ela não é qualquer uma, é a pessoa

que Bruno escolheu antes de terem perdido a oportunidade por


causa do acidente. Se não fosse a fatalidade, talvez estivessem

juntos até hoje. Talvez casados e com dois filhos. Eu não seria a sua
namorada e nós não estaríamos aqui.

Talvez... Talvez...

Substituta, foi a palavra que a megera usou, e que agora dá

voltas e mais voltas na minha cabeça.

Não queria ser a pessoa que fica insegura pela simples


menção do nome de outra mulher, muito menos a que fica cheia de
cobranças, mas como agir de outra forma vendo-o no estado que

está agora?

É óbvio que o assunto e a mulher ainda mexem com ele, de


uma forma que pode não ter percebido.

— Bruno — chamo, ele não responde. Permanece olhando

fixamente para a porta por onde a sua ex-sogra acabou de sair. É


como se tivesse visto e quisesse correr atrás dela para pedir mais

informações.

Não seja paranoica, Ângela. Não vá por aí. Você está bem, ele

disse várias vezes o quanto te ama. O Bruno não mentiria se não


fosse verdade, ele não tem motivos para fazer uma coisa dessas,

tento convencer-me, mesmo que as suas reações estejam contando


outra história.

— Bruno — chamo com mais ênfase.

— Perdoe-me por isso, era a mãe da Carolina, a minha

intragável ex-sogra — explica, não parecendo disposto a estender o


assunto, e muito menos iniciar outro.

Ele está com a cabeça cheia, precisa ficar sozinho para


colocar os pensamentos em ordem. Me dói entender isso, mas, se
estivesse numa situação parecida, iria querer o mesmo.
Bruno não precisa estar, ou falar comigo agora. Queria que
fosse diferente, mas não se trata do que eu gostaria, mas sim do
que precisa ser feito.

— Não precisa se desculpar, essas coisas acontecem — digo

no automático. — E se estiver satisfeito, eu gostaria de ir agora.

— Ângela... — começa confuso, eu o interrompo e torno tudo


mais fácil para ele.

— Está tudo bem, Bruno — aviso. — Você precisa colocar a

sua cabeça no lugar, pensar em tudo que ouviu aqui. — Enquanto


falo, luto para não chorar, para não tornar a situação ainda mais
complicada para nós. — Eu também preciso ficar sozinha.

— Não faça isso, Ângela, você não entendeu... — A mão tateia


a mesa em busca da minha, que fiz questão de esconder. Sinto meu

coração apertado por estar fazendo isso com ele. Pela primeira vez,
uso a cegueira para evitar o seu toque. — Prometeu que iria dormir
comigo hoje — fala e, apesar de confuso, sua voz não esconde

quão magoado está com o meu afastamento.

— Precisamos disso, por favor — peço.

— Você está entendendo tudo errado, amor. — Mais uma vez

procura a minha mão sobre a mesa, nesse momento percebo que


para mim já foi o suficiente. — Fique comigo? — pede outra vez.
Indo na contramão do que desejo, me mantenho firme na decisão.

— Não é de mim que você precisa no momento, Bruno. — Me


dói até os ossos ter que falar isso. — Quando estiver na intimidade

do seu quarto, perceberá que tenho razão.

— Se é assim que você quer. — Ele se dá por vencido ao jogar

várias notas sobre a mesa e se levantar. — Vamos, te acompanho


até em casa, depois chamo um Uber — sugere ao sairmos lado a

lado, mas sem nos tocarmos.

As últimas palavras da senhora zombam da nossa cara, e

parecem afastar-nos tanto física quanto emocionalmente.

— Tudo bem. — Acato sem discutir. Se a situação fosse outra,

eu faria questão de deixá-lo na casa do irmão.

Depois de um caminho percorrido no total silêncio, o mais

completo e incômodo silêncio, estaciono em frente à minha


residência. Ficamos no carro enquanto esperamos o carro de

aplicativo chegar.

— Por que não chamou o motorista? — questiono para

quebrar o silêncio, mas também por me preocupar com sua


segurança.
— Só o chamo quando de fato é necessário — diz seco. —

Além disso, o Uber que chamei é de um velho conhecido meu.

— Que bom — falo baixinho, quase a ponto de me encolher

sobre o assento.

— Perdão, não devia ter falado assim com você. — Desta vez,

não faz nenhuma menção de me tocar. — Dia maravilhoso, noite de


merda.

Porque você permitiu que fosse assim, sinto vontade de falar,

de brigar até que entenda que ninguém irá tirá-lo de mim.

Pensamentos errados, Ângela. Pensamentos errados!

— Amor, nós precisamos conversar — fala, porém o farol do

carro chamado por ele bate bem nos nossos rostos, impedindo-me

de fraquejar na minha decisão.

Por um momento, me pergunto se não estou exagerando, mas


é só por um momento mesmo. A dúvida some rapidamente quando

me lembro da forma como ele ficou com a notícia da volta da ex-

noiva, do quanto ficou perturbado com a presença da mãe da dita


cuja.
Não estou sendo injusta, e apesar de todos os meus

problemas, tenho a capacidade de discernir certas coisas. Por mais

que esteja sentindo um aperto sufocante no peito, sei que o


afastamento é necessário. Pelo menos até que ele entenda os

próprios sentimentos.

Tudo o que não preciso é ser substituta.

— Não hoje, não aqui. — Sou firme, ainda que tenha vontade

de chorar, de agarrar na sua perna e provar de maneira indiscutível


que é a mim quem ele ama. Só a mim.

— O carro acabou de encostar, três passos, e você estará

tocando nele — instruo. — Obrigada pelo dia de hoje, eu me diverti

muito. — É minha forma de despedida, deixo de fora o fim do jantar.

— Boa noite — despede-se e abre a porta, mas antes de sair,

Bruno se volta mais uma vez na minha direção. Meu namorado me

agarra com possessividade pela cintura e me puxa para o seu peito.

Bruno toma a minha boca com força, a invadindo com a língua


e exigindo a mesma resposta da minha parte.

— Chupe a minha língua, Ângela. — Com a mão segurando a

parte de trás dos cabelos da minha nuca, ele retoma o beijo. Como
ele exigiu, enrolo as nossas línguas numa dança frenética e
sensual, no processo chupo a sua por incontáveis vezes para dentro

da minha boca, do jeito que gosta de fazer comigo.

Ao separarmos as nossas bocas, estou tremendo da cabeça

aos pés. Após limpar com o dedo a umidade dos meus lábios, ele

sai do carro.

Depois que o carro some das minhas vistas, permaneço inerte


por alguns segundos. Dando vazão aos meus sentimentos, encosto

minha cabeça sobre o volante e choro. Um choro copioso e sofrido.

De medo do futuro, medo de perder umas das melhores coisas que


me aconteceram. De fraquejar e deixar à mostra o que não deve ser

visto.

Não faço questão de esconder o meu abalo emocional quando

entro em casa. A minha mãe percebe e me fita com preocupação.

— Filha, o que houve?

— Estou bem mãe, não se preocupe. Só preciso descansar —

falo no automático e subo as escadas correndo.

Dentro do quarto, tiro minha bota e toda a roupa. Usando


apenas calcinha e sutiã, caminho de um lado para o outro até parar

perto de um som portátil, que raramente uso. Quando ligo, significa

que as coisas não estão bem.


O som de um rock muito pesado toca, os sentimentos vão se

misturando, minha mente fica confusa e as lágrimas voltam a

escorrer. Sendo tomada por uma fúria incontrolável, varro todos os

objetos da minha penteadeira, o barulho estrondoso é prontamente


encoberto pelo som da música alta.

Depois de arrancar todos os panos e lençóis que cobrem a

cama, arrasto-me por ela até terminar sentada no chão com as

pernas dobradas e a cabeça deitada nos joelhos. Choro baixinho,


por tudo e por nada ao mesmo tempo. Balanço-me para frente e

para trás, como uma criança protegendo a si mesma em meio a

uma crise que nem sempre é capaz de controlar.

A música alta não é capaz de calar o barulho dos meus

pensamentos e, dessa vez, não tenho para quem ligar. Não para a

minha amiga, que agora tem a sua própria família, mas que antes

me ajudava sem saber. Não para o Bruno, que mandei em


CAPÍTULO 28

BRUNO

As paredes do quarto parecem a ponto de me sufocar, é como


se estivessem se fechando à minha volta.

Fora o perturbador encontro com a mãe da Carolina no

restaurante, e a informação jogada bruscamente na minha cara, no


meu interior acontecem coisas que não consigo compreender. Meu
coração está apertado dentro do peito, tão sufocante quanto a

sensação de estar dentro desse quarto. O meu quarto, abrigado na


casa do meu irmão.

O meu pequeno anjo, o nosso dia não deveria ter terminado da

forma como terminou. Não devia tê-la deixado como fiz.

Sem uma única palavra.

Tomei os seus lábios com fúria e crueza, como se estivesse


punindo-a por me afastar. Como pude se tão idiota se não fiz nada

para evitar que o fim do nosso dia fosse desagradável?


Se eu realmente quisesse, e tivesse tentado, teria facilmente

lhe convencido a ficar comigo, que precisávamos conversar sobre


tudo o que aconteceu no maldito restaurante. Mas ela, mostrando o

porquê de ser a mulher da minha vida, percebeu que eu precisava

de tempo e espaço.

Não seria justo prendê-la do meu lado quando minha mente e


meus sentimentos estavam em tamanha desordem. Meu anjo não

merece nada menos que um homem emocionalmente inteiro do seu

lado.

Sim, foi a escolha mais acertada naquele momento, digo a

mim mesmo.

Então, por que sinto que tudo está fora do lugar? Sinto que

estou mais distante dela a cada minuto que passa.

Agoniado, caminho de um lado para o outro. Luto para colocar

os meus pensamentos e sentimentos em ordem, sobretudo, luto


para entendê-los.

Não tenho dúvidas dos meus sentimentos por Ângela. O amor

que sinto por ela é a única certeza que tenho na minha vida. Ela é a

pessoa que só me faz bem, e eu seria capaz de destruir quem se

atrevesse a macular o que temos com questionamentos.


Ângela é a mulher da minha vida, aconteça o que acontecer,
ela é e sempre será a forma perfeita da minha felicidade.

O incidente do restaurante foi um acontecimento fora da curva

que me tirou totalmente dos eixos. Não pelos motivos que a minha

ciumentinha deve estar imaginando, e não tive a capacidade de

refutar naquele momento.

Tudo deu errado quando ouvi a voz da Ruth Guimarães, a

mulher que me achava indigno de estar ao lado da filha, uma atriz

em busca de fama e reconhecimento. A mulher que, apesar de tudo,

jamais foi alvo de qualquer grosseria da minha parte. O nosso

relacionamento nunca foi hostil, mas também não foi amigável.

Éramos pessoas que se ignoravam na maior parte do tempo, ela


deixando claro o desejo de um homem melhor para a filha, eu ciente

da sua contrariedade.

A reação ao vê-la está diretamente ligada às lembranças

imediatas que a sua presença trouxe. As cenas do acidente, que eu


vivia através dos pesadelos, passaram em câmera lenta na minha

frente enquanto a mulher falava no restaurante. Cenas do telefone

tocando, e da Carolina reclamando porque eu estava atrasado para


o jantar de aniversário da sua mãe, desfilaram para os meus olhos

cegos.

Muito perturbado pelas repentinas memórias, eu queria me

livrar da presença perturbadora e incômoda. Quando pedi para ela


se retirar, o aviso do retorno da filha deixou claro a intenção de

causar um mal-estar.

Bom, o propósito foi atingido. Eu permiti que acontecesse ao

não reagir bem à informação. Por um tempo, fechei-me como uma


ostra dentro de mim mesmo e deixei a minha chatinha de fora.

Não posso negar o incômodo que senti ao saber da volta da


Carolina. Lembrei-me do quão mal me senti quando, ao retornar do

coma, recebi a ligação da minha noiva que, por telefone, colocou fim
a um relacionamento de anos. Ela disse que não estava preparada

para lidar com um parceiro com as minhas limitações.

Limitações. Essa foi a palavra que ficou enraizada na minha


memória, a ligação que me deixou com raiva do mundo. Primeiro

me senti injustiçado, depois passei a culpar a mim mesmo pela


imprudência e ambição. Perceber a minha culpa foi pior do que

acreditar na injustiça. Continuar revoltado poderia significar o


inconformismo com a cegueira, a não aceitação do peso da culpa.
Não teria me resignado, e muito menos me tornado um homem

amargurado. Sentimentos fortes que me aprisionaram na teia que a


minha mente criou.

Agora que estou dando os passos para a liberdade, fico


sabendo que Carolina Guimarães está voltando. Ficarei perto da

mulher que pensei ter amado. Hoje entendo que não sabia nada
sobre o amor,

Eu quero ficar frente a frente com ela, fazê-la ver que,


apesar de tudo, estou bem, que mesmo não sendo o melhor dos

homens, a vida me deu uma nova chance ao me presentear com o


amor que não merecia. A minha diabinha, a mulher que ela nem
sonha ser.

— Está tudo bem? — Tenho um pequeno sobressalto quando

ouço a voz do meu irmão. Estive tão perdido em pensamentos que


não notei sua presença. — Da sala consigo ouvir os seus passos
varrendo o piso. Quer conversar? — oferece. Imagino que a minha

perturbação esteja evidente.

— Acho que fiz merda — confesso

— Que tipo de merda? Com quem? — ouço quando fecha a


porta com um click.
— Com a minha namorada. Agora mesmo ela deve estar
duvidando dos meus sentimentos.

— O que foi que você fez, cara? Uma menina tão linda e gente
boa feito ela. — Felipe, assim como Ana, gosta muito da Ângela.

Quando a trouxe aqui em casa, os três interagiram como se fossem


amigos de muitos anos. Ana trata Ângela de uma forma como nunca
tratou outras namoradas minhas.

— Ruth apareceu no mesmo restaurante em que estávamos e


fez questão de ir falar comigo. Antes de sair, ela informou que a filha

estará de volta na próxima semana.

— Puta merda! — Felipe esbraveja.

— Pois, é.

— E você, como reagiu a isso? — Ele chega à parte mais


interessante.

— Não muito bem, as lembranças do acidente vieram com

força total, e fiquei muito perturbado naquele momento. A minha


garota foi embora chateada comigo

— Ela tinha motivos? — Felipe não seria ele se não me fizesse


a pergunta que toca diretamente na ferida. Pergunta que respondo
sem titubear, plenamente consciente do que falo.

— É lógico que não. Eu amo muito aquela garota, meu irmão

— declaro. — E agora que fiz exatamente o que ela pediu, que


coloquei as ideias em ordem, estou morrendo com o medo de

perdê-la.

— Calma, Bruno. — Ele tenta apaziguar.

— Eu não posso nem imaginar a minha vida sem ela —

confesso. — Você tem ideia quão fundo eu caí por essa menina, do
quão fodido estou?

— Te vendo assim, estou começando a ter. — O idiota tenta

fazer piada, na porra do momento errado. — Por que não pega o


telefone e liga pra ela? Explique-se e diga tudo o que acabou de

falar para mim.

Receoso, pego o meu aparelho. O celular dela chama, mas a

ligação cai na caixa de mensagens.

— Não atende. — Jogo o celular dentro do bolso da calça,

tomado pela frustração e temor de perdê-la.

Por que não atendeu? Será que está tão brava assim?
— Mau sinal, meu caro. — Ele se aproxima e dá tapinhas

condescendentes no meu ombro. — Por que não dorme e esfria a


cabeça? Amanhã você volta a ligar.

— Não posso. Preciso ter notícias dela. Eu percebi o quanto

estava fragilizada quando saí do carro. — Um nó gigantesco se

forma na minha garganta, a culpa vem com força e, no íntimo, tenho


certeza de que Ângela está precisando de mim. — Me leve até a

casa dela — peço resoluto.

—Tão tarde?

— Ainda não é meia-noite — rebato. — Só me leve até ela.

— Tudo bem, se acalme. Vou pegar as chaves do carro para te

levar até sua mulher. — Deixa-me sozinho, e antes de sairmos, me

pergunto o que devo dizer para consertar a grande bagunça que fiz
ao ter a deixado com uma impressão completamente equivocada de

tudo o que aconteceu.

***

Quando meu dedo insistentemente toca a campainha pela


décima vez, a porta finalmente se abre.
— Pois não, quem o senhor procura? — A maneira formal de

falar deixa claro que se trata de uma funcionária da casa, talvez

uma governanta. — Os senhores não se encontram no momento —


avisa.

— Sou Bruno Pires, namorado da senhorita Albuquerque. Ela

está à minha espera — minto. De uma forma, ou de outra, preciso

falar com a minha namorada.

— Ela não avisou nada. Na verdade, está trancada no quarto


desde a hora que chegou. Ouve o barulho ensurdecedor? Isso é

coisa da menina.

— Sei como é, ela gosta de música alta. — Não que eu saiba.

— Posso entrar?

— Claro, levarei o senhor até ela — oferece, cheia de tato,

assim como fazem todas as pessoas quando percebem que sou

cego.

Depois que subimos o que me pareceu uns mil degraus,


viramos mais um corredor. Após caminhar mais alguns passos, sua

voz avisa que estamos na frente da porta do quarto da Ângela.

— Obrigado — agradeço, a mulher não diz mais nada, apenas


se afasta.
Realmente, o som está muito alto. A cada passo que dou para

dentro do recinto, sinto que meus sapatos pisam em cacos de


vidros, e em outras coisas que não consigo identificar. Pelo

caminhar, noto que o quarto está completamente destruído.

— Amor, sou eu — falo, mas o som não me deixa saber se ela

ouviu e respondeu.

Com um braço erguido para frente, ando com cuidado pelo

quarto. Depois de encontrar a cama, tateio-a até tocar no corpo

quente da minha linda.

Quando me deito com o meu corpo colado ao seu, a encontro


toda encolhida sobre o colchão. Meus toques me permitem perceber

que está deitada em posição fetal, abraçando o seu próprio corpo

como se quisesse se proteger do mundo.

Mesmo em meio ao barulho ensurdecedor, ainda consigo ouvir

o seu fungar baixinho quando encosto a cabeça perto do seu

pescoço. Tudo indica que chorou até dormir.

— Bruno — Ângela chama, mas a maldita cegueira não me


deixa saber se está acordada, ou no meio de um sonho.

— Estou aqui meu anjo. Eu vim te buscar — informo no seu

ouvido, alto o suficiente para que me escute. No meio da minha fala,


o quarto cai no mais completo silêncio. Ao tocar a mão macia,

percebo que Ângela segura o controle do som.

— Está mesmo? — pergunto baixinho, estica o braço e puxa o

meu corpo para mais perto do seu.

— Não pude fazer o que me pediu. Não poderia dormir sem

saber como você se sente, amor — digo, aconchegando meu rosto

na curva sempre cheirosa do pescoço delgado — Nós temos que

conversar.

— Você me ama? — É tudo o que ela quer saber.

— Mais que a minha própria vida — afirmo convicto.

— Leve-me com você — pede com a voz estranhamente

arrastada, mais arrastada que o fato de ter acabado de acordar


possa justificar.
CAPÍTULO 29

BRUNO

— Porra, mano. Você foi mais rápido do que imaginei. —


Assim que a porta da propriedade da família Albuquerque se fecha

às minhas costas, a voz do Felipe quase me mata de susto.

Estava tão concentrado na tarefa de carregar a minha mulher


escada abaixo, e passar pela funcionária sem parecer um criminoso,
que acabei esquecendo do meu irmão. Para minha sorte, ele é

teimoso demais, e não obedeceu quando pedi que fosse para casa.
Disse que daria um jeito de chegar em casa, assim que me

entendesse com a minha namorada.

Abraço com carinho uma Ângela que pouco se comunica.


Quando acontece, a voz sai estranhamente arrastada, e o corpo

parece não ter firmeza. Ela é incapaz de se sustentar sobre as


próprias pernas.

— Felipe Pires, pela primeira vez estou satisfeito por não ter
feito o que te pedi — digo.
— Fico feliz de poder te agradar, meu irmão. — O tom

transborda a ironia. — Não sabe o quanto me esforço para isso.

— Idiota — rebato, sem, contudo, estar realmente bravo com


ele. As suas piadinhas fora de hora tornam tudo mais fácil, e Deus

sabe o quanto preciso que seja fácil. — Me fala, sem olhar por mais

que um segundo: A Ângela está vestida corretamente? — indago.

Quando a encontrei toda encolhida sobre a cama, vestindo

somente calcinha e sutiã, meu coração se partiu ao ouvir fungados

baixinhos, que o som altíssimo não foi capaz de encobrir os meus


ouvidos muito apurados. Fora a dor de perceber quão abalada a

minha menina ficou, também não pude ignorar a destruição no seu

quarto, percebida através do toque.

Quando me deitei do seu lado, notei que não havia um pano

cobrindo o colchão. O meu estômago embrulhou quando pensei

nela arrancando as cobertas em um momento de descontrole. Tive a


sensação de ter a garganta se fechando a ponto de não conseguir

respirar, então soube que não poderíamos ficar por mais um

segundo sequer. Sabia que precisava tirar a minha chatinha da

casa.
Apesar de a decisão ter sido tomada com rapidez, o mesmo
não posso dizer sobre o tempo gasto até me decidir como tirá-la tão

rápido de casa, se nem vestida apropriadamente estava. Por mais

que a situação pedisse uma medida drástica e urgente da minha

parte, o meu lado homem das cavernas não me deixou prosseguir

com ela da forma como estava.

Eu não queria sair com ela praticamente despida e correr o

risco de um desconhecido qualquer ver seu corpo, cobiçando a

beleza que é somente para os meus olhos, ainda que no momento

estejam abdicando da visão do paraíso.

— Bom... — Felipe tenta fazer um mistério, dando ênfase

desnecessária na palavra. — Fora o fato de o vestido estar do


avesso, a sua namorada está composta.

Fico contente, porque não foi nada fácil andar em círculo pelo

quarto gigante até encontrar seu closet.

Para a minha sorte, e também preocupação, Ângela estava


alternando momentos de lucidez e inconsciência, então foi um

pouco mais fácil vesti-la e calçar os seus sapatos. A parte mais

difícil da missão foi descermos as escadas, mas ajudou o fato de eu


ter contado os degraus quando subi, assim como contei da porta até

as escadas.

Um pouco grogue, minha namorada avisou para a empregada

que estava saindo comigo. Ela parece não ter notado o estado da
garota, já que não fez nenhum comentário.

— Estou bem... — Ângela fala pela primeira vez, depois de um


tempo em silêncio. Pensei que tivesse dormido em pé. A voz

arrastada me causa preocupação.

— Mano, preciso da sua ajuda mais uma vez, e espero que

seja sincero. — Começo, apreensivo, mas ele me conhece bem


demais e sabe o que preciso saber sem que tenha que abrir a boca.

— Ela não parece bem, parece ter chorado muito, e os olhos


estão perdidos e desfocados. Acredito que esteja sob efeito de um

calmante.

— Merda — esbravejo, enfurecido por não saber o que

aconteceu depois que a deixei. Sinto-me culpado e impotente como


nunca antes. — Vamos, irmão, nos leve para casa — peço,

pegando-a nos braços e acompanhando os passos do meu irmão


que, de forma estratégica, coloca a mão no meu ombro.
— Casa? — questiona, assim que entro no banco de trás e

acomodo Ângela do meu lado. Com a cabeça dela deitada no meu


peito, abraço a cintura fina de forma possessiva. A respiração

tranquila mostra que ela caiu em um sono profundo.

— Para sua casa — falo. Apesar de querer ir direto para o

nosso apartamento, acredito que a Ana possa ajudar a minha


namorada, caso precise.

— É sua casa, também meu irmão — corrige, e fico surpreso


com o quanto esse assunto ainda o afeta. Para Felipe, não bastou

que eu tenha ido viver com ele, sempre foi essencial que me
sentisse em casa.

— Nossa casa — corrijo para agradá-lo, enquanto trafegamos


pela avenida pouco movimentada no fim de domingo.

***

— Se precisar de algo é só gritar, a gente está aqui do lado —

Ana, muito atenciosa e discreta, ao não fazer comentários a respeito


do estado da minha namorada, avisa.

— Obrigado, querida — devolvo. — A você também, Felipe.


Parabéns por exercer sua obrigação de irmão mais velho.
Após bater a porta com o pé, encaminho-me para a cama e
deito o meu amor. Cuidadosamente, tiro seu vestido, calcinha e
sutiã. Deixo-a livre para que possa ter uma noite tranquila de sono.

Depois tiro a minha própria roupa, ficando apenas com a cueca


boxer.

Ao me deitar atrás do seu corpo, abraço-a de conchinha,


deixando por um momento a minha cabeça entre seu ombro e

pescoço, local onde posso sentir o cheiro do seu cabelo e o calor da


respiração calma.

— Bruno — chama bem baixinho, e entrelaça os nossos dedos


quando minha mão desliza pela barriga plana.

— Amor, precisa de alguma coisa? — pergunto no seu ouvido,


mas não obtenho resposta. — Durma, querida — sussurro quando

noto que voltou dormir.

Fico horas velando o seu sono tranquilo, aliviado por tê-la nos
meus braços. Com Ângela aqui, poderemos conversar para

esclarecermos os acontecimentos de mais cedo. Ela precisa saber o


quanto a amo, caso a noite de hoje tenha suscitado alguma dúvida.

Irei convencê-la, e se não for com palavras, será amando o seu


corpo, dando prazer até que veja que no meu coração não existe
espaço para mais ninguém além dela.

ÂNGELA

Acordo do que parece ter sido um sono de dez anos. Tento me


espreguiçar, mas as minhas mãos estão presas.

Uma onda de prazer começa a se espalhar pelo meu corpo, e

me sinto completamente desperta. Quando levanto a cabeça, vejo


que são as mãos do Bruno prendendo as minhas. Os nossos dedos

estão entrelaçados e as minhas pernas estão no seu ombro. Ele

está com a cabeça no meio, a sua boca me chupa com força e


maestria.

— Bom dia, meu amor. — Levanta 0 cabeça por um instante,

mas logo retorna para a atividade que exerce com disciplina.

— Bom dia — cumprimento entre gemidos. — Como vim parar


nua na sua cama? — O prazer está grande demais, mas não o

suficiente para fazer-me ignorar que estou no seu quarto. Minha

última lembrança é de ter me arrastado para a minha cama, depois

de ter tomado um suco que Lourdes levou. — Por que estou na sua
cama? — A pergunta demora uma vida para ser finalizada,
considerando que estou mais preocupada em puxar os cabelos

desse homem enlouquecedor, em não fazer um escândalo capaz de


acordar os donos da casa. — Porra!

— Você ainda está falando? Acho que não estou fazendo isso

direito — diz, e começa a me chupar com mais força, adicionando

um dedo e depois mais outro. — Eu quero que você goze para mim,
meu amor. Agora — pede. Muito sensível aos seus toques e

comandos, chego ao orgasmo na sua língua.

Sem dar trégua, Bruno monta em mim. O contato com a sua


dureza me deixa ainda mais excitada, como se não tivesse acabado

de gozar, com vontade de fazer novamente. A sensação aumenta

quando ele inicia um beijo desesperado, que me abriga sentir o meu

próprio gosto.

Aos poucos acalmando o beijo e, de certa forma, manipulando

o meu corpo, Bruno termina o beijo e encosta a testa na minha.

Com o sorriso mais doce do mundo, declara:

— Quero te acordar assim para sempre. — É a coisa mais


sexy, e ao mesmo tempo doce, que alguém me falou. Disse com

uma firmeza que trouxe à tona o desejo de acreditar que será fácil.
A minha mente retoma tudo o que aconteceu ontem à noite.

Lembro-me da senhora amarga falando sem parar, da reação do

Bruno e da forma como me deixou no carro, cheia de incertezas que


levaram à uma crise que há muito tempo não vinha tão intensa.

— Eu preciso que você me foda, Bruno — peço, levando a

mão à sua ereção, em uma tentativa de limpar a minha mente de

toda a confusão de pensamentos e sentimentos.

— Não existe nada que eu queira mais na vida do que fazer


amor com você. — Dá ênfase no fazer amor, repudiando o termo

usado por mim, assim como repudia a mão que estava tocando seu

pau. — Mas nós precisamos conversar. Vamos falar sobre o que


aconteceu naquele restaurante, esclarecer todos os pontos — fala

calmamente, como se explicasse a uma criança. — Depois, vou te

levar para o nosso apartamento e te comer até nos cansarmos.


Tomará meu pau até colocar algumas coisas importantes nessa

cabecinha dura.

— É uma ameaça?

— Uma promessa — afirmo. — Vamos, Ângela, pergunte o


que quiser. Vou responder da forma mais honesta possível.
— Você sente alguma coisa por ela? — Começo pela pergunta

mais difícil, e mais dolorosa de ser feita.


CAPÍTULO 30

ÂNGELA

— Sinto. — Sem pensar, Bruno responde com uma única


palavra, fazendo com que meu coração dispare dentro do peito e o

sangue que corre pelas minhas veias congele. No entanto, o susto


não foi grande o suficiente para impedir-me de agir por impulso e
tentar sair dos braços do insensível, que não sabe fazer outra coisa

que não seja partir o meu coração em mil pedaços.

— Me solte, por favor — peço, mas já estou presa debaixo do


seu corpo. Utilizando-se de uma manobra rápida demais para

alguém nas suas condições, Bruno nos troca de posição, deita-se

por cima de mim e torna impossível a minha fuga.

— Você não pode ficar o tempo todo agindo por impulso. Nem

ao menos me deixou terminar de falar, antes de tentar sair correndo.


— Lamenta-se. Só consigo pensar que ele acabou de me

proporcionar um maravilhoso sexo anal, e não era o momento para

essa conversa.
— Se me pressionar mais um pouco contra o colchão, logo

terei o seu pau furando a minha barriga — falo, aparentemente com


o filtro entre o cérebro e a boca desligado. Fazer o que se é um fato

difícil de ignorar?

— Ângela, foco na conversa — pede, tentando equilibrar o

peso do corpo sobre o meu para não me sufocar. — Não dê atenção


para o meu pau te cutucando, ele está ansioso para te foder. Sinta-

se lisonjeada por isso — pede com a cara mais descarada do

mundo, agindo como se não tivesse saído de sério para depravado


na velocidade da luz. — Não quer fazer um afago como forma de

agradecimento? — Insinua, mas prende os meus braços com mais

rigidez na altura da minha cabeça quando vou fazer o que sugeriu.

— Foi você quem pediu — defendo-me, ao perceber que está

carrancudo.

Não sou eu quem deveria estar assim?

— Estava apenas te provocando — corrige-se. — Eu vou

aceitar a sua oferta, mas não agora.

— É claro que não — ironizo.

— Não seja debochada comigo, garota. — Aperta a minha


coxa com a mão, no exato momento em que abaixa a cabeça e
morde meu lábio inferior com força suficiente para fazer-me sentir
uma dorzinha fina e o gosto metálico de sangue. — Você me faz

perder o controle. Do desejo de te amar, passo rapidamente para o

de te foder com força, te comer incontáveis vezes até que esteja

com a boceta tão machucada que precisaria de dias se

recuperando, antes de poder transar novamente.

— Achei excitante. — Sou tão sincera quanto o meu sexo

molhado e latejante de desejo.

— Não é para achar — avisa. — Eu nunca fui assim, Ângela,

você faz isso comigo. Portanto, não me provoque até que eu saiba

que posso controlar o animal que parece residir dentro de mim.

— Você deseja o meu corpo — falo como posso, uma vez que

a sua língua está acariciando o meu lábio magoado.

Diferente de antes, constatar o que causo nele não trouxe

nenhum contentamento, pelo contrário, sei que o desejo não

depende de sentimentos.

— Não só o corpo, é tudo. Não sei que impressão passei

ontem à noite com as minhas reações idiotas à presença daquela

mulher, mas eu preciso que saiba que nada mudou.

— Não? Mas eu pensei...


— Eu sei o que pensou. — Me corta ao cobrir meus lábios com

um único dedo. — Ou melhor, o que eu permiti que você pensasse.


Te amo, Ângela, e nada pode mudar isso.

— Você ficou tão perturbado que me deixou insegura e com


medo de te perder — confesso, sem sentir vergonha de expor os

meus sentimentos e fraquezas.

— Não vai acontecer, meu amor. Nunca — afirma e, no

momento, meu coração está leve. — Como eu disse, nada do que


sinto pela Carolina se parece com amor, ou saudade pelo que
vivemos. Ver aquela mulher trouxe lembranças que eu gostaria de

esquecer. — Sobre o meu, o seu corpo está tenso. Envergonho-me


das crises de insegurança e ciúme, porque sei que ele enfrenta

coisas muito piores.

— Me sinto tão idiota — digo, tentando esconder a cabeça no


seu peito.

— Não, querida, você não tem culpa de ter se sentido mal com

o que aconteceu. Eu me fechei nos meus próprios problemas e te


deixei do lado de fora. Em casa me dei conta do que estava fazendo

e tudo que queria era estar com você para esclarecer tudo.
— Tive tanto medo — confesso. — Não posso ficar sem você.

Nunca.

— Te amo mais que a vida, nunca mais se esqueça disso. — A


boca amada desce até o meu pescoço e do seu jeito, morde ao
invés de beijar ou chupar. É quase como se ele quisesse me marcar

como sua propriedade. Não me sinto nem um pouco assustada com


a hipótese.

— Obrigada por ter ido me buscar. Ontem fui dormir da pior


forma e acordei com a prazerosa sensação de estar no paraíso.

— Que bom que a minha boca te agrada. Só espero que ele


não fique enciumado — fala, passando o membro ereto sobre o meu

sexo, reacendendo a chama que não tinha apagado. — Quer falar


sobre o que aconteceu na sua casa? — A pergunta não me

surpreende. Se entrou mesmo no meu quarto, deve ter sentido a


bagunça que fiz no momento de descontrole emocional.

— Não lidei bem com a ideia de perder você. — Envergonha-

me a confissão, porém, é preferível que me veja como uma mimada


que destrói coisas quando elas não saem como eu queria a mostrar

que sou uma doente que não tem controle sobre as próprias
emoções.
— Eu também não lidaria se a situação fosse invertida —
avisa. Na sua boca tem um sorriso triste. — Quão
ferrados nós somos, meu amor?

— Do tipo que encontramos no outro a medida ideal para

mantermos a sanidade mental — brinco.

— Ontem você não parecia bem. O que você ingeriu? —


pergunta. — Tem ideia de como fiquei preocupado?

— A governanta deve ter pingado calmante no meu suco a

pedido da minha mãe — falo, como se fosse a coisa mais natural do


mundo de se dizer.

Bom, no meu caso, realmente é a coisa mais natural do

mundo. Ontem, como já aconteceu outras vezes, minha mãe não


achou que a ocasião merecesse atenção especial, não quando eles

tinham mais um evento para comparecer. O papel — não pela


primeira vez — foi passado para a funcionária que, sem receber
qualquer tipo de objeção minha, entregou-me o suco. Do lado da

bandeja estavam os comprimidos que costumo tomar. Na sua frente,


para que contasse aos meus pais, tomei o calmante.

Quando as lágrimas começaram a secar e o remédio fez

efeito, dei boas-vindas ao entorpecimento, ao sono que levou para


longe o medo e o barulho dos meus pensamentos.

Acordar com Bruno me amando foi como despertar de um

sonho ruim. Gostei de desfrutar do prazer que me deu, de ouvi-lo


mandando embora todos os medos e inseguranças. As suas

palavras podem ser gravadas na minha lápide quando eu partir, pois


elas serão as mais lindas que terei ouvido em vida.

— Desde quando te dão calmantes? — Seu corpo está tenso,


a feição tem um misto de dor e preocupação que partem o meu

coração por estar escondendo fatos importantes da minha vida.

Ele não pode saber que namora uma pessoa que esteve

internada em clínicas psiquiátricas algumas vezes, após surtos


emocionais sérios o suficiente para medidas drásticas terem sido

tomadas. Ele não pode saber que o meu desgaste psicológico vem

de uma infância traumática que me impossibilita de ter total controle

sobre as minhas emoções.

Nunca foi fácil controlar momentos de alegria e de depressão.

De euforia, ou cansaço. A ansiedade e a insegurança. A menina de

seis anos se foi e deixou a mulher psicologicamente abalada. Frágil


a ponto de deixar o controle da própria vida nas mãos de terceiros,
de pessoas que têm muito a perder com o escândalo que uma

notícia como essa poderia causar.

Se fui uma criança alegre demais, livre demais para a cartilha

de bom comportamento dos Albuquerque, a tragédia que causei

trouxe como consequência tanto para mim quanto para eles a minha

incapacidade de controlar cem por cento as minhas emoções.

Fico bem durante meses, saudável e alegre como uma garota

da minha idade deve ser, mas sempre me policiando para ser a filha

perfeita aos olhos dos meus pais. Quando os pesadelos começam a


me perseguir, ou até mesmo sem motivo aparente, as crises voltam

com mudanças de humor, crises de ansiedades e períodos de

depressão.

É assim que levo a vida desde os seis anos de idade. Por


imprudência minha, vi meu irmão morrendo afogado e o meu pai

sofrendo um ataque do coração, depois de ter tentado inutilmente

salvar a vida dele. Ele nunca mais foi o mesmo homem e até hoje

tem a saúde frágil. Para mim ficou a culpa pela tragédia que se
abateu sobre a minha família e a certeza de que jamais serei

completamente dona de mim.


Estava resignada e levando a vida da melhor forma, mas o

Bruno entrou no meu caminho. Mesmo que tenha

começado como um desafio para mim, aos poucos ele foi tomando
espaço na minha mente e coração. Hoje, tudo o que quero é me

libertar, ser inteira e completamente dele. Acredito que mereço uma

chance, que os meus pecados já foram pagos. Preciso ser feliz.

Eu quero ser feliz.

— Por que você não responde, minha linda? Não me deixe


preocupado. — Carinhosamente, ele sobe as duas mãos pelo meu

rosto e encontra o que me esforcei para esconder. — Está

chorando?

— Só me abrace, Bruno — peço em tom de súplica. — É um


choro de alívio por finalmente entender que posso ser feliz. Eu

mereço isso.

— É claro que merece, meu amor. — Atendendo-me, ele se


ajeita como pode, deita-se de costas sobre a cama e me traz para

os seus braços. — Não conheço ninguém que mereça mais.

— Existem coisas que eu ainda não estou preparada para

falar. Será que você pode entender? — peço, mesmo sabendo


como é difícil pedir isso para uma pessoa e esperar que ela aceite

sem questionar.

— Vou respeitar o seu tempo, mas não demore — fala. — Me

deixe cuidar de você e saber quando não estiver bem, a minha

sanidade depende disso. Prometa, anjo? — Sei que a sua

preocupação se refere ao presenciou no meu quarto, ao estado que


fiquei depois dos comprimidos

— Eu prometo — falo com sinceridade, sentindo que não falta

muito para me revelar por inteira para ele, assim como fez comigo.
Antes preciso me convencer de que não sairá correndo quando os

meus problemas forem despejados no seu colo.

— Meu amor... — Tenho a cabeça deitada no seu peito,

ouvindo as batidas erráticas do coração que tão rapidamente


aprendi a amar.

— Não vai para o escritório hoje? — Ainda soluçando por

causa das lágrimas, indago. — Meu advogado fodão.

— Me dei uma folga. — A notícia me surpreende. —Quero te


levar para o nosso apartamento.

— Nosso?
— Nosso — repete para o meu total deleite. — Meu e seu, o

nosso refúgio onde poderei tê-la nos meus braços, onde o seu

cheiro está impregnado nos lençóis e por todos os cômodos.

— Que coisa mais linda de se dizer, senhor romântico —


elogio, pois simplesmente não tem como pensar em coisas tristes

quando o tenho se declarando assim.

— Como eu ia dizendo, hoje eu quero te levar para o nosso

apartamento. Vou te comer até que não sinta mais as pernas, até
que sua boceta esteja ardida o suficiente para que nunca mais

duvide do meu amor por você. Colocará na sua cabeça que sou só

seu e você é minha. Me pertence.

— Que coisa mais indecente de se dizer, senhor pervertido. O


que estamos esperando para irmos?

— Sabe que não sei? Talvez eu esteja pensando em aceitar a

sua oferta. — Levo a minha mão até a sua ereção e, pelo visto, nem
toda a conversa conseguiu acalmá-lo. — Não posso sair assim,

amor.

— Ele não amolece nunca? — Minha pergunta mal colocada o

faz gargalhar.
— Do lado da minha mulher nua, não — declara. — Você tem

um minuto para fazer a sua mágica, ou serei obrigado a resolver do


meu jeito. Isso inclui os donos da casa tomando ciência de que você

ama ser fodida o tempo todo por mim.


CAPÍTULO 31

BRUNO

— Pare com isso, Bruno Pires. — Minha diabinha pede aos


risos, enquanto é carregada nos meus braços pelo corredor do

prédio. Com os braços em volta do meu pescoço e pernas no meu


quadril, faço o percurso já conhecido até a porta que parece ter se
transportado para o fim do corredor. É isso, ou a minha tensão

sexual está num nível fora do normal.

Não que eu não tenha razão de estar assim, a safada da


minha namorada passou a viagem inteira me provocando com

toques nada sutis, brincando com o fogo porque sabe que eu não

faria nada na frente do motorista.

O tesão queima a fogo alto, como se não tivéssemos nos

aliviado na casa do meu irmão. Porra! Mas o que são bocas e mãos
quando se deseja o banquete completo? E dela, eu não almejo

menos que a porra do banquete completo.

— Não me diga que tem medo de eu te deixar cair? — brinco.


— Bom dia, meus jovens. — Pela voz, suponho ter esbarrado

em uma senhora.

— Era disso que eu estava falando. — Agora ela esconde a


cabeça na curva entre o meu pescoço e o ombro. Quem a vê assim,

tão tímida, não pensa que é a mesma garota que até pouco tempo

estava me fazendo passar por maus bocados, enquanto insistia em


colocar a mão na parte da frente do meu jeans. Ela deixou-me

excitado a ponto de suar frio na tentativa de não dar na vista o que

acontecia.

Como castigo às suas provocações fora de lugar, mantive o

meu toque na sua cintura, quer dizer, não tão platônico assim, já

que, como forma de retaliação, deixava que a minha mão deslizasse


da cintura até a parte de dentro das suas coxas. Em busca de alívio,

ela esfregava uma perna na outra e pressionava a minha mão.

O controle, no entanto, não se estendeu a sua boca, irresistível


para mim. Tocá-la na frente de outro cara — mesmo sendo o

motorista — pareceu-me uma ideia inconcebível, o mesmo não

posso dizer dos nossos beijos. No caminho, a beijei como se a

minha vida dependesse disso, demonstrando com os lábios o que


pretendo fazer com o resto do seu corpo cheio de tesão e vontade
de ser meu.

— Pense pelo lado bom — digo, quando os sons dos passos

da mulher ficam mais distantes. — Pelo menos ela não te flagrou se

esfregando no meu pau. — Termino com um tapa estalado em um

dos lados da sua bunda.

— Porra! — A reclamação é acompanhada de um gemido

quando meus cálculos dizem que finalmente chegamos à nossa

porta. — Eu faço isso. — Cheia de pressa, Ângela pula dos meus

braços e rapidamente destrava a porta.

— Enfim, chegamos. — Mal termina de falar e já está

novamente nos meus braços.

Sem que precise de palavras, nossos corpos falam por nós

mesmos, como se soubessem exatamente do que precisamos. Se

normalmente eu a desejo com uma fome insaciável, depois de

ontem, e do irracional medo de a qualquer momento a perder,


parece que os sentimentos triplicaram de tamanho. O amor, o

desejo sem limites, o sentimento de posse, tudo parece ter se

elevado à máxima potência. No momento ter o seu corpo é a única

coisa capaz de me acalmar


Abraçados no meio da sala, tomo seus lábios mais uma vez, a

beijo até as nossas respirações se tornarem escassas.

— Quero te comer agora, Ângela — falo com a voz grossa de

tesão. — Não me torture mais, tire a porra dessa roupa. — Sem


nada dizer, a minha garota desfaz o nosso abraço, e tudo o que se

ouve são os sons da respiração ofegante e do zíper do vestido


escolhido por mim ontem à noite sendo aberto.

— E agora, meu amor, o que pretende fazer? — Querendo me


provocar além do limite, ela se aproxima e cola o corpo inteiro no
meu.

Com as duas mãos apoiadas no meu peito, ela puxa a minha

cabeça levemente para baixo, deixando nossas bocas a centímetros


de estarem se tocando. É como se estivessem apenas se

conhecendo, desejando-se e esperando o momento de se


encontrarem. Eu, ao invés de beijá-la, decido torturá-la mais um
pouco e prolongar a deliciosa sensação que é ter a sua doce

respiração misturando-se com a minha.

As minhas mãos tomam a decisão contrária e deslizam pelo

corpo macio e desnudo. Elas vão passando pelas costas arqueadas,


pela cintura fina, terminando a tour quando estão sobre a bundinha
firme. Aperto com gosto as duas bochechas tão macias quanto o

resto do seu corpo.

— Coloque os braços em volta do meu pescoço e segure


firme. — Ao tê-la na posição desejada, curvo o seu corpo para trás
e, ainda apertando a sua bunda, esfrego a minha ereção no sexo

desejoso. Começa os movimentos circulares e vagarosos, à medida


que o som dos seus gemidos se torna mais audível, passo a bombar

com mais força e precisão, simulando movimentos que eu faria se


estivesse sem roupas, investindo contra a sua boceta.

— Amor, por favor... — implora, tentando trazer uma das


pernas para o meu quadril para aumentar o contato dos nossos
sexos.

— Me fale, anjo, o que você deseja? — Aumento a torturante

fricção. — Quer o meu pau? Te garanto que estou louco para meter
até o fim dentro da sua bocetinha, mas antes quero que implore com
a mesma falta de pudor que teve minutos atrás dentro do carro.

— Você precisa... Eu preciso que você...

— Precisa?

— Necessito que me foda com força — pede. — Sinto a sua


falta.
— Eu vou te foder, durante todo o dia — prometo, sentindo que
está cada vez mais difícil segurar os chamados do meu próprio
corpo. — Depois vou amar seu corpo da maneira que merece ser

reverenciada e, no fim, meu amor, você saberá, sem que restem


quaisquer dúvidas, o tamanho do meu amor por você; entenderá

que não existe ninguém além de você. Tudo que eu tenho é seu.

— Faça-me sua. — Seu pedido é o estopim. Ao posicionar o

seu corpo e capturar o lábio há pouco magoado por mim, passo a


língua pelo local em carne viva e ordeno:

— Tire a minha roupa.

Sem nada dizer, as suas mãos, que mal vejo a hora de

tocarem o meu corpo, começam a subir a minha blusa pelo


abdômen, aproveitando-se para tocá-lo durante o processo. Ela

passa para o jeans e desce a calça com cueca e tudo até tê-la
enrolada nos meus pés.

Louco para saciar pelo menos um pouco do tesão que me

consome desde a hora que despertei com ela nos braços, chuto os
sapatos e a calça. Tomo-a novamente nos meus braços, lugar onde,

se dependesse de mim, ela faria morada permanente.


Caralho! Eu estou tão apaixonado por essa mulher que às
vezes os meus próprios pensamentos me assustam.

Tão rápido e definitivo, como um furacão que passa e não


deixa nada no mesmo lugar. É assim que eu me sinto nessa nova

fase. Da vida minimamente planejada e sem qualquer perspectiva


de mudança não restou quase nada. O futuro já não me parece
pálido, quando penso nele, não posso imaginá-lo sem a presença
do meu anjo.

— Enrole as pernas na minha cintura. — Quando a tenho nos

braços, instruo: — Nos leve para a parede mais próxima, eu quero

te foder em pé, sentindo-a tão fundo, até que não exista nenhuma
parte minha que não esteja em você. É o que você deseja, amor?

— Da forma que você quiser — fala contra o meu pescoço,

enquanto tem a cabeça enfiada nele e a boca faz mágica com

dentes e língua que me deixam a ponto de terminar tudo antes de


começar. — Tente pequenos passos para trás — instrui. — Pronto,

aqui estamos. E agora, o que vai fazer, meu homem que tem olhos

cor do céu em dias de tempestade?

— O que você e eu estamos querendo desde cedo. —

Segurando-a firme contra a parede, levo a mão até o seu sexo e o


encontro escorregadio.

— Você está molhada, tão deliciosamente molhada para mim,


gostosa. — Meus dedos acariciam os grandes lábios vaginais,

enquanto a outra mão pressiona os mamilos duros de excitação.

— Não me torture mais — suplica quando as unhas afiadas se

firmam na parte de trás do meu couro cabeludo. — Preciso de


você...

— Assim? — Meto profundamente e com força. — Diga, minha

safada. — Tiro com lentidão e volto com brutalidade, fazendo com

que o seu corpo dê um solavanco para cima e as pernas afrouxem


um pouco na minha cintura, como se estivesse perdendo as forças.

— Se segure em mim, pernas e braços. — Tiro o apoio da sua

cintura e, sem perder o ritmo das fortes arremetidas, levo a boca até
os seus seios, mamando-os de forma alternada e recebendo dela

choramingo de satisfação.

— Mais, eu quero mais... — implora, desvairada.

— Não posso te machucar, amor — digo, porém não faço nada


para diminuir o ritmo. Estou descontrolado, mesmo sabendo quão

desproporcionais em tamanhos são os nossos corpos.


— Não pare, porra... — Desce as unhas pelas minhas costas,

suscitando um dolorido arrepio. — Sinto-me tão cheia... — Deixo

seus seios, levo as mãos de volta a bunda gostosa, agora batendo-a


contra o meu quadril, enquanto penetro-a sem sentido.

— Goze, Ângela. — Acelero mais e mais as estocadas e a

tenho se desfazendo nos meus braços. — Isso, porra! — Agarro a

sua bunda, fazendo um esforço sobrenatural para não gozar, não

ainda.

— Vamos, amor, o sofá... — Está difícil de falar, mas ela

entende.

— À sua esquerda, você sabe... — Faço como pede, e até o

fato de tê-la como os meus olhos me excita além da razão.

— Dê o seu melhor, diabinha. — Ajeito-a nas minhas pernas,

ainda completamente duro e ligado a ela. — O controle é seu,

pegue o quanto quiser.

Ela pega e, como uma perfeita amazona, a minha namorada


me toma incontáveis vezes para dentro de si, levando-me tão

profundamente que fica difícil saber onde ela termina e eu começo.

O orgasmo vem intenso e me leva junto para a beira do abismo.


— Não sinto as minhas pernas. — Ângela fala, com a cabeça

na minha barriga suada.

— Fui muito duro com você? Não minta para mim, amor —

indago.

— Sei que é assim que faz sexo e eu gosto.

— Só não quero te machucar — brinco com a sua barriga

úmida. — Já pensou se você fica machucada? Teremos que ficar


dias sem transar — explico. Quando os meus dedos tocam o seu

sexo, o corpo fica tenso. — Está sensível?

— Só um pouco dolorida, mas nada que nos impeça de transar


mais uma vez.

— Você é insaciável — constato sem, contudo, deixar de

acariciá-la.

— Responsabilidade sua.

— Melhor título eu não poderia receber.

— Tem o título de advogado criminalista mais fodão do

pedaço, é tão excitante, meu amor — ela brinca.

— Não mais do que a ideia de namorar a mais linda de todas.

A mais gostosa, a minha herdeira do rei da hotelaria — brinco.


— Acho que a mais linda de todas está precisando de um

banho. Você, como foi um bom menino, ganhou o direito de ter o

corpo lavado por mim.

— O que estamos esperando? — Rapidamente, pego-a nos


meus braços e, esquecendo que sou cego, tento correr. Escorrego

na nossa própria bagunça de roupas e sapatos e a nossa

aterrissagem no chão não é nada elegante.

— Está tudo bem, chatinha? — pergunto, ela não responde,


mas a sua risada contagiante ressoa pelo apartamento.

A mulher, o sorriso e o corpo. Tudo nela me satisfaz por

completo. Nos meus braços, fazendo-me rir do que um dia só me

trouxe tristeza e desilusão, tenho a forma perfeita da minha


felicidade.
CAPÍTULO 32

ÂNGELA

Alguns dias depois...

— Deus! Você deve ser uma bruxa, Marina — digo espantada


quando ela e o marido se aproximam de mim, que estou sentada em

uma das muitas mesas que lotam o enorme campo de golfe, local
escolhido pela diretoria dos Empresários do Estado de São Paulo
para a tradicional cerimônia de entrega dos prémios para os

melhores do ano em diversas categorias.

O evento mais importante do ano premia profissionais e

empresas de diversas modalidades, tantas que a minha falta de

interesse nunca me permitiu assistir o entediante evento por tempo


suficiente para saber metade delas.

Tudo o que sei é que o meu pai será um dos premiados —

como todos os anos anteriores — e nem vale a pena mencionar

quão transparente é essa grande premiação, considerando que,


além de ser sempre indicado e ganhar, papai também faz parte do

comitê de organização.

— Devo tomar isso como um elogio? — Com Erick a


abraçando pela cintura, minha melhor amiga olha com curiosidade

para a nossa mesa. Conhecendo-a como conheço, imagino que

deva estar procurando uma forma de escapar sem precisar sentar-


se à mesa da família Albuquerque.

De maneira nenhuma julgo a sua falta de entusiasmo, até

porque, ela e os meus pais não tiveram muita proximidade em todos


os anos de amizade que nós duas mantemos. Mesmo quando ainda

éramos crianças, os meus pais e o dela não tinham uma amizade

mais estreita. Eram pessoas que socializavam, impelidos pelo fato


de estarem inseridos no mesmo círculo social e por terem filhas tão

amigas como eu e Marina sempre fomos.

Na adolescência, Marina e eu decidimos em conjunto que seria


muito mais divertido se nos reuníssemos na casa dela, e até hoje é

assim. A casa dos Junqueira passou a ser o meu refúgio, o meu

lugar preferido do mundo, onde encontro amor e a paz que encobre

a loucura.
— É um elogio, querida. Como pode estar tão linda e em ótima
forma pouco tempo depois de ter dado à luz? — elogio, reparando

como parece bem com o seu longo vestido lilás e um sorriso no

rosto. Ela está tão feliz ao lado do homem que sempre amou.

Houve um tempo em que me ressentia do amor que ela

alcançou. Hoje, tendo o Bruno, percebo que nutri um sentimento de


inveja. Não por ela ter encontrado um homem como o Erick, ou por

dividi-la com ele, invejei o amor deles, a conexão que pode ser

sentida de longe. Almejei ter com quem compartilhar, alguém para

dividir alegrias e angústias.

— Obrigada. Você também não está nada mal — elogia e,

sem falsa modéstia, aceito com um sorriso no rosto, afinal, não


passei horas escolhendo o longo vermelho para ficar menos do que

magnífica. Deixei o cabelo preso em uma trança embutida que deixa

o meu pescoço perfeitamente à mostra.

— E o meu pequeno, não veio? — questiono ao levantar-me


da cadeira.

— Com muito custo, eu a convenci a deixá-lo com a babá. —

Erick fala pela primeira vez. — Só consegui depois de prometer que


não vamos nos demorar, mas isso não quer dizer que não esteja

ligando a cada dez minutos — acusa.

— Não gosto de deixar o meu bebê — afirma.

— Vamos caminhar um pouco. — Dou uma piscadinha para os


dois e eles entendem exatamente o que estou tentando fazer. Não

quero que sejam obrigados a aturar a dona Mara, que estava


prestes a se aproximar de nós.

Assim que ficamos longe o suficiente, Erick dá um selinho na


esposa e se afasta com o celular no ouvido. Estamos sozinhas, é o

momento ideal para falar de um assunto que vem martelando na


minha cabeça há dias.

— Está vendo como ele é? Depois sou eu quem fica ligando a


cada dez minutos para casa — fala, mal disfarçando a baba que

escorre do canto da boca enquanto olha para o marido gostoso.

— Vocês vão acabar estragando o meu afilhado — acuso em

tom de brincadeira. — Marina...

— Fale, amiga. Te conheço muito bem e sei que está querendo

dizer alguma coisa.


— O Mateus voltou à cidade. — Solto de uma vez o que preferi

guardar só para mim por um tempo. Não queria preocupar os meus


amigos, mas o Bruno me aconselhou a contar.

Ele estava certo, Marina precisa saber que eu sempre fui o


foco do meu primo doente. Ele se meteu em uma história que não

era dele, atormentava a vida da Marina no colégio, mas nem por um


segundo acreditei no seu real interesse. Sempre esteve óbvia a sua

intenção de me infernizar. A mim e a amizade que era tudo de mais


precioso que eu tinha na vida até a chegada do Bruno.

Nos últimos dias, Mateus tem aparecido muito em casa, e o


que vejo nos seus olhos causa medo. Sinto como se ele estivesse à
espreita, a par de todos os meus passos. Só não entendo qual o seu

interesse na minha vida, pois apesar dos pesares, somos primos e


costumávamos nos dar bem quando éramos crianças.

— Sinto muito, amiga. — Marina não tem a reação esperada.


— Você está bem?

Ela realmente entendeu o que eu disse?

— Meu amor, o Mateus, aquele babaca que se envolveu com a


Patrícia e que quase... quase... — Minha voz fica embargada a
ponto de não conseguir falar sobre o assunto.
— Não vamos falar dele. Me fale de você, está tudo bem com
isso? Me preocupo tanto com você perto desse cara.

— Você não precisa...

— Amiga, eu sei que ele tem alguma coisa com você. De tudo

o que aconteceu, a intenção dele foi mexer com você, chatinha. —


Não tendo como negar, apenas balanço a cabeça. É a primeira vez
que voltamos ao assunto. Depois de tudo, todos nós seguimos em

frente e deixamos para trás o que não merecia ser lembrado. Foi
assim até a volta dele. — Por favor, tenha cuidado, Ângela. Nós

sabemos do que o Mateus é capaz.

— Não se preocupe, querida, ele não tem poder de agir contra

mim — afirmo, tentando acalmá-la. — Meu primo não faria nada que
pudesse mudar a opinião que os meus pais têm sobre ele.

— Tudo bem, confio em você e na sua palavra de que sabe se


cuidar.

— E o Erick? — pergunto.

— Por enquanto, vamos deixar ele fora disso — sugere. —

Não sei o que ele faria se estivesse frente a frente com o seu primo,
mas imagino que agir como advogado seria o último dos seus
pensamentos. — Marina tem razão, Mateus foi o motivo de ele ter
ficado a ponto de perdê-la.

— Está certo. Vamos deixar tudo como está. Não acho que ele
vá se aproximar de vocês novamente, Mateus tem muito a perder —

finalizo, segundos antes de o Erick voltar.

— Está tudo bem com o nosso pequeno?

— Tudo ótimo, meu amor — diz, enquanto a abraça por trás.

Eles são como ímãs que se atraem, simplesmente não podem estar
lado a lado sem estarem se tocando de alguma forma. — Não se

preocupe, em breve estaremos com ele.

— Estou com saudades daquele gordinho — falo.

— Eu sei que está, você é uma tia babona — acusa aos risos,
mas não mentiu.

Estou tão apegada com o João que preciso me policiar para

não passar os meus dias na mansão mimando o meu pequeno. Nos


dias em que não vou ver o bebê, fico com Bruno. A diferença é que

com esse não posso me conter, se pudesse, já estaria morando com

ele.

Rápido demais, Ângela, rápido demais!


Morar junto, é sério isso?

Não sei se poderia, mesmo se recebesse o convite.

— Por falar em tia babona, cadê o seu namorado? — Erick

indaga, olhando em volta do campo bem cuidado e cheio de

pessoas bem vestidas. Elas agem como se estivessem na

premiação do Oscar. Não que estejam erradas. No meio em que


vivemos, o status é tudo, e não há nada que confira mais poder do

que receber o tipo de reconhecimento que essa premiação traz. —

Estou estranhando o fato de não ter encontrado vocês aos beijos


em algum canto. Não é assim que vocês têm agido desde o dia que

decidiram colocar para fora o tesão acumulado?

— Erick! — Minha amiga o repreende ao dar uma cotovelada

no seu abdômen. Pelo seu sorriso, o gesto não fez nem cócegas. —
Olhe só quem fala de demonstrações de carinho em público. — Ela

rola os olhos para cima, recebendo um beijo no pescoço. — O

Bruno não vem? Não seria hoje que receberia pela milésima vez o

prêmio de criminalista do ano? — debocha.

— Mais cedo ele me disse que viria com a família — explico,

não mais contrariada por ter vindo sem ele. — Eu não pude fugir de

vir com os meus pais.


— Vejam se não é o próprio Romeu vindo ali. — Erick olha

sobre os meus ombros. Quando o vejo, sinto que não poderia ficar

mais apaixonada do que estou agora.

Ao lado de toda a sua família, o meu Bruno caminha como se


fosse o dono do mundo, como se as pessoas à sua volta tivessem a

obrigação de reverenciar a sua presença. Ele é tão lindo e confiante,

com a sua bengala de metal batendo sobre a grama, que nem de

longe parece um homem que não enxerga o que acontece à sua


volta.

Com o seu terno azul marinho, a camisa branca e uma gravata

vermelha, Bruno Pires tem toda a aparência do advogado fodão,


pronto para mais uma vez ter para si o título e o reconhecimento.

— Ela chega a babar, amor. — Escuto Erick provocar, mas a

sua voz parece distante. — Você quer ficar a sós com os seus

pensamentos, chatinha?

— Se importam se eu for cumprimentá-los? — questiono.

— Claro que não, amiga. Fique com o seu namorado, se não

nos encontrarmos mais hoje, me liga amanhã cedo.

— Tudo bem. — Beijo seu rosto em despedida e saio. Os


meus saltos parecem afundar na grama a cada passo dado,
impedindo-me de caminhar rápido o suficiente até ele.

A minha empolgação acaba quando, no meio do caminho, vejo


a família Pires ser interpelada pela senhora do restaurante. Mais

uma vez ela, a mãe da tal Carolina. Sempre ela.

Observo a interação entre ela e a senhora Pires, que parece

mais receptiva, enquanto os outros demonstram certo incômodo.


Decidida a fazer diferente da outra vez, e certa do que tenho com

Bruno, continuo caminhando até eles.

— Boa noite — cumprimento. A expressão tensa do Bruno

relaxa. Ele estende a mão, eu a seguro e sou puxada para o seu


lado.

— Boa noite, querida. — Ana responde.

— Felipe, pode acompanhar os nossos pais até a mesa?

Preciso de um tempinho com a minha namorada.

— Cuidado para não se perderem — Felipe provoca o irmão.

Enquanto nos afastamos, penso em como é bonita a relação

dos dois. Os irmãos têm um amor e cumplicidade de causar inveja.

Felipe deve ter sido uma das razões de ele ter se mantido firme
quando tinha tudo para fraquejar.
— Pensei que tivesse desistido de comparecer, meu amor —

digo ao nos encaminharmos para longe dos olhares das centenas

de pessoas que por aqui estão.

— Eu não faria isso com você — afirma, abraçando-me e


beijando demoradamente o canto da minha boca. — Prometi que

viria, e eu nunca descumpro uma promessa, ainda mais uma feita

para você, a minha mulher.

— Eu sou a sua mulher, não sou? — Meu sorriso está


rasgado. É o sorriso de quem ainda não se acostumou a ouvir o

termo saindo de sua boca.

Amo ser a mulher dele, ouvi-lo me tratando como tal.

— Minha mulher, tão linda e cheirosa. Eu amo o cheiro dos


seus cabelos — confessa, com o nariz entre os fios escuros. —

Agora me fale, como está vestida? Imagino que seja a mais bela

entre todas as mulheres que vieram.

Quando ele termina, levo as mãos fortes aos meus ombros,


onde está a alça fina do vestido de seda.

— Ele é de seda, longo e vermelho — explico, levando as

mãos dele pelos meus seios, que o decote em V deixa uma


pequena porção à mostra. Em seguida, as desço pela minha cintura
bem agarrada ao tecido que se abre levemente na parte alta das

minhas coxas, lugar onde suas mãos terminam o passeio. — Aqui


nós terminamos. Espero estar à altura do meu advogado fodão.

— Você está perfeita, amor. Sou eu que preciso me esforçar

para merecer estar ao seu lado — fala e, quando tento protestar,

sou calada pelos lábios que me beijam com ternura. — Amo você.
Hoje será o dia em que todos saberão que a bela herdeira está

comprometida com o criminalista.

— O que você pretende fazer?

— Cale a boca, minha chatinha. Daqui a pouco começa a


bendita cerimônia de premiação, e quero aproveitar o tempo livre

para curtir você.

— Estarei torcendo por você cheia de orgulho — afirmo e

recebo um novo beijo.

Ficamos namorando no nosso canto durante alguns minutos,

mas chega o momento de nos separarmos para a tradicional

entrega de prêmios.

— Você precisa ir, querido. — Tento empurrar seu peito e a


boca que teima em não sair da curva que liga meu ombro e
pescoço. — Ficarei aqui te esperando, mas lembre que a nossa
verdadeira comemoração pelo prêmio será em casa.

— Se eu ganhar.

— Você vai ganhar, tenho certeza — digo.

— Me espere, minha gostosa — pede. Ao se aproximar mais,


fala baixinho no meu ouvido: — Não vou demorar.

Ele não sai sem antes dar um tapa na minha bunda.

Com a mão alisando a pele ardida, o observo fazendo o

caminho de volta para o centro do furacão com a sua fiel bengala.


Sozinha, rogo a todos os santos para que saiamos ilesos essa noite,

que tudo corra da melhor forma possível.


CAPÍTULO 33

ÂNGELA

Em pé no meu canto, olhando por cima das cabeças que estão


sentadas nas centenas de cadeiras de madeira enfileiradas

milimetricamente, observo a entediante entrega dos prêmios. São


tantas e desnecessárias categorias que eu me pergunto qual a
necessidade. Às vezes penso se isso não é uma forma de bajular

metade da alta sociedade paulistana, fazê-los se sentirem mais


importantes do que realmente são.

Óbvio que o mico não se estende a todos, e como para toda

regra tem suas exceções, existem concorrentes e categorias que

merecem serem levadas com seriedade. A que o meu namorado


concorre é uma delas.

Meu maior desafio é manter meus olhos abertos e não cochilar


em pé.

— Para entregar o merecido prêmio nas mãos de Tarcísio


Albuquerque, chamo ao palco Tito Villanova, apresentador do Jornal
Bom dia SP. — Sob o som fortes e merecidos aplausos, porque ele

construiu um império a partir de uma pequena soma de dinheiro


deixado pelo avô, meu pai sobe no palco.

Os flashes disparam de todos os cantos, mas isso se deve

mais à presença de celebridades do que aos premiados. Com toda

pompa e circunstância, os organizadores têm dado mais prestígio


ao evento depois que começaram a trazer pessoas famosas.

Celebridades que vão de apresentadores a modelos. No fim, todos

saem ganhando, o evento e os artistas ganham notoriedade


internacional.

Radiante de felicidade e orgulho, dona Mara fica perto, ouvindo

o discurso do marido. Ele fala sobre como a família o ajudou a


construir tudo o que conquistou. É difícil não ficar emocionada

quando o vejo assim, mesmo com a saúde tão frágil como

consequência dos meus erros. Apesar de não suportar esse tipo de

evento, presenciar as conquistas do meu pai é como um bálsamo

para minha alma. Como um peso ficando mais leve sobre os meus
ombros.

Quando ele termina, o apresentador anuncia a categoria que

rouba a minha atenção.


É a vez do Bruno. O seu nome é o primeiro anunciado e, em
ordem alfabética, os outros quatro concorrentes seguem.

— E o vencedor da categoria advogado do ano é... — O

homem baixinho faz o esperado suspense, e o meu coração fica a

ponto de sair pela boca. — Bruno Pires — anuncia. Os aplausos se

repetem como foi com o papai. O meu coração ainda está pulando
de alegria e orgulho.

— Enquanto ele se aproxima, vamos convidar a estrela que

entregará a estatueta do nosso premiado — diz. — Aplaudam a

nossa querida atriz, Carolina Guimarães.

Quando ele termina, sinto que o tempo parou de passar, estão

todos congelados na minha frente, e na minha mente ecoa apenas o

nome dela.

Carolina Guimarães...

Carolina Guimarães...

Ela está aqui. Ela vai entregar o prêmio do meu Bruno. Vai

ficar muito próxima a ele e vai tocá-lo.

Não pode... Isso não!


Sinto a minha carne trêmula, as mãos voltam a suar. No

ombro, um toque leve e inesperado.

— Querida, estou aqui do seu lado — Marina está segurando a

minha mão com força, dando-me apoio.

Ela sabe disso, sei que sabe. Marina pode não conhecer toda

a minha história, mas a nossa ligação pisca o alerta quando a outra


não está em um bom momento.

Não. Eu não deveria estar assim, o Bruno me ama. Ele disse


isso. Diz todos os dias.

Então, por que me sinto tão insegura?

— Você sabia? — indago, sem desviar os olhos da bela mulher


que acaba de ficar de pé e roubar todos os holofotes para ela. —
Sabia que ela estava aqui todo esse tempo?

— Não, meu amor. Se soubesse teria te avisado — afirma,


deve estar assustada de sentir o quanto estou tremendo. É uma

reação exagerada para qualquer outra pessoa, mas não para mim.
— Ouvi o burburinho há poucos minutos. Só queria saber de quem

foi a ideia de escolher logo ela para entregar o prêmio para o Bruno.
É até irônico, se pararmos para pensar.
— Sim. Logo a mulher que não fez nada que não fosse colocar

em risco a carreira dele quando o deixou lidar com as próprias


feridas e foi para a Europa em busca dos sonhos. Não se importou

com o que deixou para trás.

— Não dá para ser ingênua a ponto de acreditar que a escolha

não passou de uma coincidência. — Sei que não foi, e poderia


apostar que tem o dedo de alguém da minha família.

— Não foi coincidência, Marina — afirmo. — Alguém tramou


essa cena, mas não sei quem e nem o porquê disso tudo — minto

angustiada, vendo o meu final feliz ficando cada dia mais distante.

— Não pense nisso agora. Confie no amor do Bruno por você.

Ele te ama, e qualquer um pode notar. Sei que vai saber contornar
essa situação sem deixar-se atingir por quem quer que tenha

armado para vocês.

— Olhe, eles estão no palco.

Vejo de longe — não longe o suficiente quanto gostaria — um


Bruno sério e tenso ao lado da loira sorridente e satisfeita. Ela o

olha com aberta admiração, talvez surpresa por ver que não
conseguiu acabar com ele. Ao contrário do que deixou, Bruno se
reergueu.
O cerimonialista fala mais algumas palavras que não prendem
a minha atenção o suficiente para saber do que se trata. Quando a
loira pega a estatueta e entrega nas mãos do Bruno, ela faz questão

de arrastar as unhas pelo seu braço, abraça com entusiasmo e fala


algo no seu ouvido, insinuando uma intimidade que chama a

atenção de todos que se lembram que um dia foram noivos.

Bruno permanece sério e tenso. Os braços estão soltos e não

fez nenhum movimento para repelir, muito menos para corresponder


aos toques indiscretos. Continuo trêmula, as mãos suando e uma

sensação de embrulho no estômago.

Meu namorado pega o microfone para o discurso e a mulher


continua do seu lado. Age como se tivesse algum direito.

Não tem, porra!

— Boa noite, pessoal — cumprimenta com a voz tranquila.


Está tão calmo que nem parece o homem tenso de segundos atrás.
Deve ter sido coisa da minha cabeça.

— Primeiramente, gostaria de agradecer aos organizadores

pela escolha, dizer que é uma honra ser reconhecido pelo exercício
de um trabalho que faço com total dedicação. — Enquanto fala,
todos prestam atenção. Bruno exerce certo fascínio com o seu dom
com as palavras.

— Por isso ele é considerado o melhor. — Marina fala. — Que


o meu marido não me ouça.

— Ele também é bom, só não tanto quanto o Bruno.

— Agradeço à minha família que sempre me apoiou,

principalmente nos momentos em que nada parecia fazer sentido.

— O agradecimento emocionado arranca palmas e assovios. Até


que elas cessem, ele permanece em silêncio, esperando o momento

de finalizar o discurso. Carolina também não arredou o pé, e está

tão fascinada quanto todos os outros aqui presentes. Não posso


culpá-la por isso.

— Por último, mas não menos importante, agradeço à mulher

da minha vida, Ângela Albuquerque.

Essa é a hora que não sei o que fazer, a sensação de desmaio


é grande demais. Não sei se olho para a minha amiga, que tem uma

expressão de "eu sabia" no rosto, ou se olho para o palco, onde

meu amor acaba de roubar-me completamente o fôlego.

— Meu anjo, você poderia vir aqui um instante? — Chama.


— Agora você vai até lá e pega o que é seu. — Marina

incentiva. Com as pernas bambas, e sentimentos de alívio e


felicidade, vou até ele. Minha amiga me segue pelo corredor

As pessoas tiram fotos, todas as cabeças se voltam para mim.

— Ela, que provavelmente é a mulher mais linda da noite, e

não preciso estar enxergando para ter certeza, é também a melhor


coisa que me aconteceu no último ano.

— Olhe a cara de idiota da atriz. — Marina sussurra e, por

alguns segundos, desvio a minha atenção para Carolina. Ela não

parece tão satisfeita agora. — Seja feliz, minha amiga. — Ela beija o
meu rosto e se dirige para a cadeira vazia ao lado do esposo.

Poucas cadeiras depois, os meus pais têm expressões difíceis de

serem decifradas.

— Cadê você, meu amor? — Bruno faz charme enquanto me

aproximo.

— Estou aqui. — Passo quase encostando na loira. Ao parar

ao lado dele, entrelaço os nossos dedos para que sinta a minha


presença.

— Obrigado, amor — agradece, depois beija o meu ombro.


Olhando para frente, vejo que todos esperam pelo

desenvolvimento da cena como quem acompanha uma novela.

— Como eu ia dizendo, gostaria de dedicar esse prêmio a ela,

a razão dos meus melhores sorrisos, quem me fez enxergar o


mundo de outra forma — declara. Quando ele se vira na minha

direção, os meus olhos lutam para não transbordarem em lágrimas.

— É seu, meu pequeno anjo. Eu te amo, e me faltam palavras para

agradecer o bem que você me faz. Obrigado.

Ele me entrega a estatueta, e depois de colocar o microfone no

pedal, envolve a minha cintura e me beija.

Perante toda a sociedade e centenas de fotógrafos, meu

namorado me reivindica.

Agora os cliques estão frenéticos a ponto de as luzes

incomodarem os meus olhos e os aplausos parecerem muito mais

altos do que se ouviu nas categorias anteriores.

Quando nossas bocas se afastam em meio a comoção que a


declaração causou, finalmente tenho a oportunidade de falar.

— Eu amo você, Bruno. Me leve embora daqui — peço

baixinho para que somente nós dois possamos ouvir.


— Eu preciso de você, mais que a próxima respiração —

declara.

Ao nos encaminharmos de mão dadas para fora do palco,

Carolina Guimarães já não está mais no meu caminho. Quando

passamos pelas cadeiras onde a família Pires está, entrego o

prêmio nas mãos de Ana.

Depois que saímos, a premiação continua, mas me importa

menos que antes. Longe dos holofotes e da atenção que já tivemos

demais para uma única noite, tudo o que espero é voltar para o meu
mundinho com meu namorado.

— Eu disse que voltaria, não disse? Não precisei voltar, porque

simplesmente não pude passar por aquilo sem você. Não sem a

minha chatinha, a minha diabinha e o meu pequeno anjo.

— Você ainda me mata, Bruno. Sempre me surpreendo

positivamente, agindo diferente do que...

— Diferente? — Estranha. — O que passou pela sua cabeça

quando viu a Carolina? — Ele questiona, pois conhece as minhas


fraquezas. Sei que é a hora de falar, de colocar para fora as

inseguranças que existem, mas que luto todos os dias para vencê-

las.
CAPÍTULO 34

BRUNO

Depois de ser questionada, a minha mulher permanece em


silêncio nos meus braços, mas preciso que fale comigo. Às vezes

ela tem reações exageradas em relação a coisas pequenas, e a


insegurança quanto à Carolina é só mais um exemplo. Não, não a
julgo por isso, porque não sei como reagiria se a situação fosse

contrária.

O que me preocupa é a intensidade com que ela reage, o


sofrimento pelo qual passa mesmo antes de parar e pensar.

Eu sei que Ângela guarda alguns segredos. E se antes não

pude cobrá-la por isso, já que eu mesmo tinha os meus próprios


esqueletos escondidos no armário, hoje vejo que não podemos

continuar assim, pois estou começando a ficar muito preocupado


com ela.

É doloroso pensar que a minha namorada esteja passando por


situações difíceis, que sofra sem que eu possa ajudar, considerando
que estou no escuro.

Seria fácil contratar um investigador para tentar desvendar o

que esconde. Também poderia conversar com a Marina, mas sei


que não posso agir dessa forma. Não vou trair a sua confiança

depois de ter dito que esperaria até que estivesse pronta para se

abrir. Espero que esse dia não demore a chegar, pois não me
perdoarei se algo acontecer antes que tenha ao menos a chance de

ajudar.

Às vezes me pergunto se não é paranoia da minha cabeça,


impelida pelo medo de perder o que parece ser uma vida feliz

demais para ser real, porém, logo me lembro do tal primo, o mesmo

que teve participação na tentativa de assassinato de sua melhor


amiga. Ângela sempre me acalma, diz que ele não tem se

aproximado, que não fará nada por respeito aos tios.

A sua família também é um assunto nebuloso entre nós dois, e


fora as ocasiões que encontro Tarcísio Albuquerque em eventos

como o de hoje e nos falamos com cordialidade, a minha garota

pouco fala sobre ele ou a mãe. Ângela nem mesmo me convida

para ir até a sua casa. Não que isso seja um desejo meu, mas é no

mínimo estranho e evidente que ela tem problemas familiares.


Ah, meu anjo, o que você esconde?

Por que não me deixa te proteger do que está te

atormentando? Abraço seu pequeno corpo com força, como se não

fosse ter outra oportunidade de fazê-lo, caso perca essa chance.

— Pensei que pudesse me deixar, foi uma sensação de quase


morte — confessa contra o meu ombro, e seu corpo começa a

tremer em espasmos fortes, como se estivesse tendo um surto.

— Ei, olhe para mim — peço, desfazendo o nosso abraço. —

Me fale o que está pensando, meu amor.

— Penso que você me ama e não tenho motivos para sentir


ciúme e insegurança.

No momento em que o nome da Carolina foi mencionado, eu

soube que ela se sentiria insegura e enciumada.

Para mim foi um choque ouvir esse nome, estar ao seu lado e
sentir o toque depois de tantos anos. Por um momento, minha

cabeça ficou confusa e não soube como agir. Tudo clareou quando

ela se aproximou do meu ouvido revelou o quanto estava com

saudades. Lembrei-me da mágoa, do abandono e da raiva que senti

por cinco anos. Depois disso, a minha mente esvaziou-se de tudo o


que restava de sentimentos pela mulher. Não sobrou resquícios de

mágoa ou raiva. Nada.

Com a mente vazia de tudo o que não fossem os sentimentos

de amor e de gratidão, iniciei o meu discurso, e não pude esquecer-


me dela, sempre ela, o meu amor. A mulher da minha vida. Além de

querer revelar para o mundo a respeito do nosso namoro, pensei em


como estaria se sentindo ao ver a minha ex-noiva entregando-me o

prêmio, tendo a atenção de todos enquanto forçava a intimidade que


não existe.

— Você pensou certo, diabinha, e sabe por quê? — Faço

carinho no seu rosto, aos poucos sentindo o corpo dela mais


relaxado e menos trêmulo.

— Não, fale. — A voz é mais doce que o normal, um charme

que gosta de fazer quando quer ser mimada por mim.

— Porque é a verdade. Pelo tempo que estive naquele palco,


só pensava na hora de tudo acabar e poder voltar para você. Por

isso não aguentei e te chamei.

— Foi lindo — agradece com beijos pelo meu rosto.

— Linda é você. — Beijo-a como não pude fazer em cima do


palco. Tivemos que ser discretos de uma forma que passa longe do
nosso modo habitual de agir. — Quer beber alguma coisa, ou já

podemos fugir?

— Precisamos ficar mais um pouquinho — afirma, mas me


consola com um beijo no pescoço. — Prometo recompensá-lo mais
tarde, mas a bebida vou ter que aceitar. Confesso que os últimos

acontecimentos me deixaram com a boca seca.

— Vem, vamos até o bar. — Enlaço a cintura fina, mas somos

interrompidos no caminho por uma voz conhecida.

— Bruno, fiquei feliz em poder revê-lo. Vejo que está muito

bem.

— Obrigado, Carolina, espero que esteja tendo sucesso com a

sua carreira — digo com educação. — Essa é a Ângela, minha


namorada.

— Prazer, Carolina Guimarães, ex-noiva do Bruno. Imagino


que tenha ouvido falar de mim — diz prepotente.

— Apenas como a ex-noiva do meu namorado. — Ângela


ataca e me enche de orgulho e excitação, não posso negar.

— Bruno, posso falar com você um instante? — pede,


ignorando o que Ângela falou. — A sós.
— Creio que não temos nada para falar que não seja na
presença da Ângela.

— Meu amor, converse com ela. Vou providenciar as nossas


bebidas. — Minha namorada beija-me de leve e deixa-nos a sós.

O silêncio entre nós reina, me pergunto o que Carolina pensa


que ainda temos para falar. O tempo de conversarmos já passou.
No momento ideal, ela estava partindo para uma nova vida, sem se

importar com o que deixou aqui.

— Pode falar — começo.

— Não precisa me tratar com frieza, Bruno. Sei que ainda está
magoado comigo...

— Está enganada. Eu não estou magoado com você. Esse é

um sentimento que ficou para trás, quando decidi que merecia mais
uma chance de tentar recomeçar.

— Não teve um dia sequer durante todos os últimos anos em

que eu não tenha me arrependido de tê-lo deixado daquela forma.


Quando me dei conta do erro que tinha cometido, tentei voltar atrás,

mas a sua família me impediu de me reaproximar de você.


— Do que está falando, como assim voltar atrás? Se
reaproximar?

— Uma semana depois de ter ido embora, dei-me conta de


que não poderia ter agido daquela forma, que um momento de

desespero não poderia apagar tudo o que estávamos construindo


juntos. Eu tentei, tentei muito chegar perto de você, mas a sua
família me afastou. Eles batiam o telefone na minha cara e pediam
que eu não voltasse a ligar. Desisti depois de um ano, mas nunca

consegui te esquecer.

As revelações dela são como um soco no estômago, me tiram

todas as certezas de segundos atrás.

Passei anos acreditando que tinha me deixado sem sequer

olhar para trás. Agora descubro que tentou falar comigo, mas foi

impedida. Eles esconderam as ligações por mais de cinco anos,

deixando que o pior passasse pela minha cabeça.

Acreditei em uma mentira.

— Por que está me falando isso agora? — indago, sem

paciência. — Não acha que é tarde demais para termos o momento

revelação? Foi um ano, Carolina, depois disso se passaram mais


quatro. Deixe-me adivinhar o que aconteceu: você conseguiu um

bom papel e o sonho de carreira de sucesso falou mais alto?

— O mesmo sonho que você tinha de se tornar o advogado

que é hoje, lembra?

— Carolina, nós não temos o porquê de estarmos discutindo

— digo quando, por um instante, sou transportado para cinco anos


atrás. Assim como agora, as nossas carreiras foram motivos de

divergências.

Ela com o sonho de sair do país para tentar uma carreira

internacional, porque no Brasil não tinha conseguido nada além de


papéis menores em novelas. Eu querendo ser o melhor do meio,

constantemente acusado de negligenciar a relação por causa de

trabalho.

— Eu não te esqueci — confessa.

— Sinto muito por você, pois eu te esqueci. No momento em

que pude pensar com clareza, quaisquer resquícios de amor que

ainda poderia sentir sumiram.

— Não fale assim, Bruno. Não acha que a gente pode...


— Por favor, não sugira isso — peço, sabendo o que vai pedir

e a resposta que não titubearia em dar. — Amo a minha mulher, é

com ela que pretendo formar uma família. Eu segui em frente,


Carolina, sugiro que faça o mesmo.

— Se a sua família não tivesse se metido — acusa.

Ela tem razão, eles não deviam ter agido pelas minhas costas,

pois sabem que a mentira é sempre o pior caminho. Todavia, não

posso ser injusto com as pessoas que estiveram do meu lado


quando ela foi embora. O fato de ter voltado atrás não apaga as

ações anteriores, que mostraram que o amor não era tão forte

quanto pensávamos. Se esconderam coisas, fizeram para me


proteger. Fizeram o melhor para mim na época.

— Não os responsabilize pelo fim do nosso relacionamento —

peço. — Além disso, quem garante que estaríamos juntos até hoje

se as coisas tivessem acontecido de outra maneira? Não tem como


prever, Carolina — explico, dando-me conta de como mudei nas

últimas semanas. Graças a força do meu amor e o tratamento com o

psicólogo, consigo vivenciar tudo com mais clareza, entender o que


antes parecia uma neblina na minha mente. — Tudo aconteceu

como tinha que acontecer.


— De nós dois, espero guardar somente as boas lembranças,

porque o tempo passou e tomamos caminhos diferentes. A vida me


presenteou com um amor tão grande que às vezes parece que não

vai caber dentro do peito. Estou feliz, e espero que você possa ser

com um homem que te ame tanto quanto amo a minha namorada.

— É um adeus? — A voz dela parece chorosa.

— É um ponto final definitivo em uma história que há muito

tempo deixou de existir. Seja feliz, Carolina.

— Você também — devolve.

— Eu sou. — Me aproximo, seguro com delicadeza o seu rosto


e beijo a sua testa antes de virar as costas.

Enquanto faço o caminho para o bar, o contar dos passos, e o

bater do bastão guia sobre a grama não são capazes de encobrir o

alívio que sinto, o sentimento de que finalmente esse capítulo da


minha vida foi encerrado.
CAPÍTULO 35

ÂNGELA

— Bruno, aqui — chamo-o quando, poucos minutos depois de


o deixar com a loira deslumbrante, ele se aproxima do bar.

— Aqui onde, amor? — pergunta com um sorriso charmoso no

rosto e aparentemente relaxado. Tão lindo e independente que


muitas vezes é difícil lembrar-me da sua cegueira.

— Onde mais eu estaria? — falo, após ter ido encontrá-lo no

meio do caminho entre o início da área do bar e o balcão onde o


barman deposita as bebidas.

— Já pediu? Preciso ficar a sós com você.

— O nosso vinho está no balcão, pedi o tinto para nós dois, e


espero ter acertado.

— Você nunca erra, minha linda — elogia, afasto-me para


pegar as nossas taças.
— Aqui está — pego a sua mão e coloco a taça. — Vamos?

Tenho um lugar ideal para nos escondermos. — Ao me ouvir, os


seus olhos brilham de interesse, uma questão surge na minha

mente enquanto o guio para o nosso esconderijo.

— Sabe o que acabei de notar? Você nunca mais usou os

óculos escuros que costumava usar quando nos conhecemos.

— Verdade. Deixei de usar quando perdi o primeiro e não

comprei outro — explica. — Usava para esconder os meus olhos,

numa tentativa de chamar a menor atenção possível para o fato de


ter ficado cego. Só não consigo lembrar onde foi que os óculos

foram parar, na época eu perdi alguns pensamentos tentando

lembrar.

— Ficaram comigo — falo baixinho, envergonhada com a

confissão. Um fato que, ao passar dos anos, apagou-se quase por

completo da minha lembrança. Na época passei os primeiros meses


guardando-o como um tesouro, ainda que a raiva pela rejeição fosse

grande.

— O que? Quando? — Ele para de caminhar e traz o meu

corpo para frente do seu.

— No dia que nos encontramos no banheiro, lembra?


— Não tem como esquecer — assevera.

— Eu tirei os seus óculos do seu rosto quando te confrontei e

pedi para que me olhasse nos olhos. Depois você saiu muito irritado

e eles ficaram comigo.

— Meu Deus, amor! Não lembrava. Eles ainda estão com


você?

— Guardei como uma garota boba, que mesmo depois da

cruel rejeição continuou a nutrir desejos por você.

— Não chame a minha namorada de boba — brinca. — A

Ângela de antes não desfez a lembrança do nosso encontro porque


sabia que ficaríamos juntos.

— Você acredita nisso? Na ideia de que eu e você estávamos

destinados a acontecer?

— Nunca fui um cara particularmente religioso, amor, mas


acredito que, de um modo ou de outro, eu e você ficaríamos juntos.

Houve rejeição e fugas de ambas as partes, mas não adiantou.

Meses e anos se passaram e o sentimento persistiu.

— Não tinha pensado assim, mas tem razão. Sabia que um dia
você seria meu, afinal, quem resiste a Ângela Albuquerque?
— Pois é, quem resiste a você? Eu não resisto. — Ele me beija

com força e intensidade, enquanto a língua invade a minha boca e


os braços apertam a minha cintura com força e possessividade. O

tipo de carinho explícito demais para ser dado em público.

— Querido, ainda não estamos a sós — falo com a boca

colada na sua.

— Estamos esperando o quê para ficarmos? Eu preciso de

você.

— Não vamos... — começo, mas vejo que é uma coisa idiota

de se falar, considerando que o seu sorriso sacana diz tudo. —


Aqui?

— Sim, meu amor, aqui — afirma. — Estou louco de frustração


e saudades de você. A culpa é sua por ter se recusado a dormir

comigo ontem à noite.

— Você sabe que não seria uma boa ideia. Eu não estava no

melhor humor. Na verdade, estava assustadora e com a aparência


de um cão sarnento — justifico-me quando voltamos a caminhar.

— Não entendeu ainda que te quero em qualquer


circunstância? Quero da forma que for, na TPM e com a aparência
de um cão sarnento, mesmo duvidando que isso seja possível. Só

não me prive da sua companhia, amor. Me deixe cuidar de você.

— Deixo, sim. No próximo mês você vai conhecer quem é a


sua namorada no auge da TPM.

— Vou conhecer e amar, assim como amo todas as suas

outras versões.

— Pronto, aqui estamos — aviso. — Sinta. — Assim que


paramos do lado da árvore, cujos galhos e ramificações quase
alcançam o chão, seguro o seu braço e o levo até o tronco para que

saiba onde estamos. — Já esteve aqui?

— Uma vez, antes do acidente. Estamos na parte mais baixa

do campo de golfe, pelo que me lembro, um lugar pouco iluminado e


propício para um casal de namorados se pegar da maneira mais

discreta possível — fala ao me encurralar contra o tronco. — Me


fale, você consegue ver alguém lá em cima?

— Apenas silhuetas — assevero.

— Eles sabem que tem um casal aqui, amor — avisa. — Mas

não que é a gente.


— Ainda bem, não sei se os seus carinhos se encaixam no
padrão de moral e bons costumes da alta sociedade paulistana.

— Foda-se a porra da alta sociedade paulistana. Estão ali,


cheios de regras e não me toques, nem imaginam que a princesinha

e o advogado cego estão aqui, à procura de descrição para fazerem


coisas que os escandalizariam.

— Seríamos banidos. — Minha voz sai esganiçada quando

sua boca começa a subir beijos pelo meu ombro, carinhos sensuais
que me deixam ensandecida.

— Por amar demais. O nosso pecado é amar demais, meu


pequeno anjo — brinca, com a voz sendo abafada pelos beijos no

pescoço.

— Indiscretos, você quer dizer — corrijo.

— Você tem culpa por ser tão gostosa, tentadora e cheirosa.


— Ao chegar à minha boca, Bruno se divide entre beijar com fome

e, aos poucos, puxar o tecido do meu vestido longo para cima. Ele
tem um bocado de pano enrolado em uma mão, enquanto a outra

está sobre o meu seio tentando me enlouquecer.

— Não, amor... Vamos para casa. Não vou conseguir com o

risco de nos verem aqui. — Protesto com dificuldade, assim que ele
dá uma trégua no beijo faminto. — Já imaginou o escândalo?

Apesar de termos concordado a respeito da discrição do lugar,

o meu medo vai além do temor aceitável, que em alguns casos


torna tudo mais excitante.

Em se tratando de mim, a excitação do momento é manchada


pela ideia do desastre que seria se fôssemos parar em tabloides de

fofocas. Para os meus pais seria o fim do mundo, e as


consequências imprevisíveis. Por imprevisível, refiro-me ao medo de

que vacilo prejudique o nosso namoro de alguma forma.

Pensar na hipótese me deixa doente, pois não sei se

sobreviveria a uma existência sem a presença desse homem na


minha vida. Mal lembro que tinha uma vida antes dele

Por um momento, lembro-me das palavras da dona Mara

quando me acusa de estar muito dependente. Em outras palavras,

ela quis insinuar que estou obcecada pelo Bruno.

Falar em dependência é o mesmo que colocar em dúvida o

meu amor. Como se estivesse transferindo para ele a minha

necessidade de afeto.

Não é verdade, eu sei que não é verdade.


Não preciso de psicólogos ou psiquiatras para ter certeza da

veracidade do que sinto, e aconteça o que tiver de acontecer, nada


mudará isso. A minha verdade ninguém irá tirar.

— Está bem, amor. — Maravilhoso como sempre, meu

namorado afasta-se do meu corpo, solta as camadas do meu

vestido e propõe: — Vamos terminar isso em casa.

Rapidamente, voltamos para o meio das pessoas e apenas

pelo tempo suficiente para despedir-nos do casal açúcar e das

nossas famílias.

O momento não foi nada natural, pois apesar de a nossa


relação ser de conhecimento dos dois, os meus pais o olham com

desconfiança e certo desconforto. Fora os cumprimentos

necessários, não houve vontade de ambas as partes para prolongar


o diálogo.

***

— Para que tanto pano, amor? — Bruno mal fechou a porta

atrás de nós e já tem metros de tecido nas mãos. — Não! Esquece


isso, muito tecido é bom. — Esse é o lado ciumento dando as caras.

— Ciúme? — Provoco, tão afobada quanto ele ao tentar

desfazer o nó da gravata vermelha.


— De você? Sempre, minha gostosa. — Bruno desistiu de tirar

o meu vestido. Agora está com as duas mãos agarradas à minha

bunda, esfregando-me contra a sua ereção.

A loucura toda é justificada pelos amassos e mãos bobas no


banco de trás do seu carro. Mais uma vez, o motorista teve que

fingir que não via nada.

— Pelo visto, quem não tem mais ciúmes é você, senhorita

Albuquerque. Nem mesmo quis saber sobre a minha conversa com


a Carolina — provoca, mas sei que está querendo falar e enterrar de

vez o assunto "ex-noiva".

— O que ela queria? — pergunto. Posso não estar insegura,

mas tenho curiosidade. Quero saber o que a mulher tanto tinha para
falar com ele, depois de ter feito a sua escolha anos atrás.

— Algumas bobagens que você não gostaria de saber —

afirma. — Só precisa saber que ela está ciente de que não existe
outra além de você para mim, que é a mulher da minha vida.

— Sinto o mesmo, e tenho medo de como tudo está

começando dar certo para a gente.

— Não precisa, meu anjo — meu namorado fala com uma


certeza que não deixa outra alternativa que não seja confiar,
acreditar que temos a nossa felicidade ao alcance de nossas mãos.

— Nada pode nos separar, nem mesmo a morte.

— Pesado. — Uma única palavra e começamos a sorrir

descontroladamente, depois voltamos para a árdua tarefa de

arrancarmos as roupas um do outro.


CAPÍTULO 36

ÂNGELA

Três meses depois...

É um sono perturbador, onde as recentes boas lembranças se


misturam com as tristes do passado. Um pesadelo permeia o meu

descanso e sinto que não sou capaz de despertar dele. Sinto-me


presa de alguma forma.

Quando as lembranças se misturam de forma mais veloz

diante dos meus olhos, o desespero e desejo de lutar é mais forte.


Ao finalmente despertar, deparo-me com Mateus com o corpo sobre

o meu e as mãos prendendo a minha no alto da cabeça. De repente,

descubro o verdadeiro significado da palavra desespero.

— Calma, priminha — fala próximo ao meu rosto, e o odor não


esconde o fato de ele estar muito alcoolizado. Os olhos estão

vermelhos e a expressão de uma pessoa alterada. — Não precisa

ter medo, não vou te machucar. — Ele leva uma das mãos para a
minha boca, agora me prendendo com uma só. Neste momento,

começo a chorar de verdade.

Baixinho, nada além de leves fungados, choro de medo. Muito


medo, e incapaz de me defender.

— Sabia que você é muito gostosa? — Se aperta contra o meu

corpo, sinto muito nojo ao perceber que está excitado.

Há quanto tempo está dentro do meu quarto?

Como conseguiu entrar?

As perguntas giram na minha mente, mas não consigo me


mexer, defender-me do que está prestes a acontecer. Só posso

chorar e lamentar que tudo esteja prestes a se tornar sujeira e

escuridão.

— Eu sempre fui louco por você. A vida toda à espreita,


esperando por uma única chance. Será que é tão louca a ponto de

não ter percebido?

Não. Ele jamais deu sinais de que nutria sentimentos que não

fossem fraternais. Mesmo tendo atitudes questionáveis, a hipótese

nunca passou pela minha cabeça.


— Você não pode ficar com aquele cego, Ângela. Tem que
ficar comigo, nós vamos nos casar e administrar toda a fortuna dos

meus tios quando eles se forem.

— Saia de cima de mim, seu desgraçado — falo, depois de dar

uma mordida na sua boca.

Ouvir o nome do meu amor me fez acordar do entorpecimento

e lembrar os motivos pelos quais preciso lutar.

Lembro-me do meu namorado, de tudo que vivemos nas

últimas semanas, o acompanhamento e a nova intervenção

cirúrgica, prestes a ser feita.

— Não, princesinha. Eu já disse, você vai ser minha. —

Quando as mãos nojentas começam a levantar a barra da minha

camiseta de flanela, me vem à memória as vezes em que Bruno fez

a mesma coisa, o suficiente para que a fúria e o descontrole

cheguem com força.

— Não me toque, seu nojento. — Quando meu joelho o acerta

no meio das pernas, e ele se joga gemendo de dor em posição fetal

sobre o colchão, aproveito do surto de coragem e fujo para o outro

lado do quarto. Encostada na parede, o meu corpo todo treme, o

medo e a adrenalina deixam meu coração a ponto de sair pela boca.


— Sua vadia, louca. Volte aqui, você não vai escapar. — No

momento em que o bêbado nojento consegue se levantar e ameaça


vir na minha direção, faço jus ao apelido de louca e começo a jogar

objetos na sua direção. Berro os piores nomes possíveis, e sabendo


que estou surtando e precisando de ajuda, grito por socorro.

Grito por Mara e Tarcísio, em meio às lágrimas que deixam a


visão embaçada, noto o quarto cheio. Chamei a atenção do meu pai

e de todos os empregados.

Ao ver todos à minha frente, não tenho outra atitude que não
seja me jogar nos braços do meu pai e chorar.

Tarcísio Albuquerque

Nos meus braços, frágil e tremendo muito, tenho a minha


bonequinha de olhos azuis. Ela parece estar tendo um dos seus

surtos emocionais, o que de uma forma preocupante tem acontecido


com certa frequência nos últimos meses.

Desde muito nova, quando a tragédia da perda do irmão


gêmeo se abateu sobre a família, nós nunca mais fomos os

mesmos. Ela nunca mais foi a mesma menina alegre e livre da


infância. Mas a quem estou querendo enganar? Eu não sei quem é
a minha filha hoje em dia. Só posso afirmar com convicção que a
versão apresentada dentro destas paredes não é a mais feliz. É

uma Ângela apática e sem brilho, que praticamente não sai de


dentro do quarto.

— Fale com seu pai, meu amor. O que aconteceu aqui dentro.
— Com cuidado, aliso o seu braço tentando trazê-la à realidade, e

aos poucos acalmá-la. — Fale comigo, estou aqui.

A cena não é inédita, pelo contrário, há anos se repete. Ela era

jovem demais, uma criança tendo que lidar com uma


responsabilidade que acabamos jogando sobre o ombro dela sem

nos darmos conta.

No início, ainda aos seis anos, quando percebemos

comportamentos estranhos para uma menina que era alegre,


pensamos que era o trauma de alguém que tinha acabado de perder

o irmão gêmeo com quem mantinha uma ligação profunda. Aos


poucos, a situação foi ficando preocupante, principalmente quando
os pesadelos com o afogamento aconteciam. Nos demos conta de

que a nossa menina não estava bem.

Quando fomos atrás de ajuda, descobrimos através de

especialistas que ela não estava conseguindo lidar com o sofrimento


e as emoções, o que culminou em crises pontuais e esporádicas.
Parecíamos lidar bem com os momentos bons que duravam
meses, ou com as crises de depressão, ansiedade, fobia e pânico.
Tudo se complicou quando Ângela entrou na adolescência, e até

hoje não sabemos como lidar com a nossa filha. Tentamos, ainda
que de forma falha, protegê-la do mundo e de si mesma.

Existem momentos que Ângela clama por socorro sem que


precise dizer com todas as letras. É o que tem feito nos últimos dias.

— O que você fez com a minha filha, seu moleque? —


Passado o susto dos gritos histéricos e do barulho de objetos sendo

quebrados, a minha atenção se volta para toda a cena, só agora me


dou conta de que ele estava no quarto da minha filha.

— Fique calmo, Tarcísio — Mara pede, falando pela primeira


vez. Não que a sua apatia seja uma surpresa, pois ela

simplesmente não sabe como cuidar da própria filha.

Na sua cabeça, tê-lo por perto a deixaria mais tranquila de


como a filha estava se saindo, principalmente no colégio. Com

reservas acatei a ideia, e até o chamei para acompanhar a minha


filha em alguns eventos. Tomamos a decisão errada, colocamos a

nossa filha em perigo e eu jamais vou me perdoar por isso.


— Não me peça para ficar calmo — esbravejo, ainda
segurando o corpo trêmulo da minha menina, que parece não estar
mais aqui.

— Eu não fiz nada, o senhor não está percebendo que ela está

surtando? Será que não está na hora de interná-la novamente?

— Cale-se! — esbravejo. — Eu não vou fazer isso com a

minha filha. — Nego-me a, mais uma vez, passar pela dor de ver a
minha filha saindo das minhas vistas, sabendo que não é porque

conquistou a independência e tem plena capacidade de viver

sozinha.

A minha boneca já chegou a ficar mais de um mês internada,


sendo constantemente acompanhada por psicólogos e psiquiatras

na fazenda onde se respira ar puro e priorizam o contato com a

natureza. O lugar nada mais é do que uma clínica de reabilitação.

Quando retorna para casa, ela ainda parece uma menina triste
e sem ânimo, mas sei que ela não é assim, que em algum lugar, e

certamente fora desta casa, está aquela garota doce e espevitada

que desafiava a tudo e a todos para ser quem desejava ser.

Meu maior desejo na vida é ver o dia em que a minha filha


ficará bem o suficiente para ter nas mãos o controle da própria
felicidade. Ângela parecia estar muito perto depois do namoro com o

advogado, por isso sei que algo muito sério aconteceu aqui.

— Eu estava tendo um pesadelo. — Com a voz trêmula em

meio às lágrimas e o olhar perdido, Ângela começa a falar.

— Eu e o Bruno estávamos na praia, ele estava me vendo... —

Começa uma divagação, deixando clara a sua confusão mental. —


Meu irmãozinho, ele não conseguiu se salvar... Eu estava presa,

não conseguia me mexer, ele estava em cima de mim, falando

coisas nojentas.

Quando finalmente entendo o que aconteceu aqui dentro, os


meus olhos se voltam para o infeliz. Quando dou por mim, estou

com as duas mãos no pescoço dele.

— Como ousou tocar na minha filha, seu desgraçado? — A


minha intenção é sufocá-lo até ter certeza de que não terá a chance

de repetir a atrocidade que tentou com a minha menina.

— Tarcísio, por favor, não faça uma besteira. Lembre-se da

sua saúde. — A minha esposa está desesperada, mas só penso em


sufocar o verme, que tenta de toda forma se desvencilhar. —

Façam alguma coisa, ele vai matá-lo. — Depois do seu pedido sou

contido por Hermes e Augusto, o jardineiro e o caseiro da mansão.


Quando fica livre, o abusador sai correndo, mas não sem antes

ouvir:

— Nem pense em fugir, seu moleque. Você vai pagar muito

caro, nem que para isso eu tenha que te caçar no inferno.

Quando volto novamente a atenção para a minha filha, a vejo

se desvencilhando dos braços da mãe. Como aconteceu das outras

vezes, ela caminha para o canto do quarto, falando coisas que não

sei se são fantasias ou realidade.

— Eu não gosto dele... O Bruno, papai, somente o Bruno pode

me tocar... Amanhã... — repete a mesma palavra por diversas

vezes. Ela se senta no chão encostada na cama, abraça os joelhos

e descansa a cabeça sobre eles. Seu corpo balança calmamente


para frente e para trás, como se tentasse buscar o equilíbrio

sozinha. — Eu vou ficar muito bonita para ele. Nós combinamos, eu

vou ser a sua primeira visão.

Ela fala coisas sem sentido, mas está se referindo ao

namorado de quem tanto gosta. O homem mais velho que a faz feliz

de uma forma como uma a vi.

— Amanhã, meu amor... Mateus, não. — Ângela mistura as


ideias. Atrás de mim, Mara chora baixinho, sofrendo pelo estado da
filha. — O dia mais feliz para nós dois. Meu vestido é vermelho,

você vai amar... — As últimas frases vão morrendo, seu corpo para
de se movimentar e sou rápido o suficiente para ampará-la quando

desfalece.

Pesaroso, viro-me para a minha esposa. Concordamos com os

olhares que, para o bem da saúde física e mental da nossa filha,


chegou o momento de agirmos.
CAPÍTULO 37

ÂNGELA

— Calma, meu amor, está tudo bem. — Ao despertar, sem ter

ideia de onde estou, e muito menos se é dia ou noite, uma voz


mansa conversa comigo, enquanto alisa o meu braço — Pode ficar
tranquila, mamãe está aqui com você, nada de ruim vai acontecer.

Por que ela está falando dessa forma?

Fazendo um esforço maior, aos poucos abro os olhos. A


claridade entrando pelas cortinas lilás mostra que a madrugada
nebulosa deu lugar ao dia de sol. Olhando em volta, percebo que

não estou no meu quarto, sim no dos meus pais.

— Mãe, por que eu... — Tento me levantar, mas sou impedida

por ela.

— Não precisa falar agora, meu amor. Tome o café, depois o


seu pai e eu vamos conversar com você. — Ela coloca uma bandeja

com suco, bolos e uma fatia de mamão sobre as minhas pernas.


Faço como ela pede, e mesmo sem fome me alimento.

Aproveito para colocar a minha cabeça em ordem, organizar as


ideias, ainda que tudo esteja confuso.

— O Mateus... — Recordo-me de ter acordado de madrugada

com ele em cima de mim, falando coisas nojentas.

— Ele não está mais aqui, e não sairá impune, meu amor —
afirma, mas não é capaz de olhar para o meu rosto. Suponho que

esteja se sentindo desconfortável e culpada por tudo o que

aconteceu. Foi ela quem motivou a vinda dele para dentro de casa,
foi ela quem fez vista grossa aos defeitos do sobrinho, mesmo

depois de ele ter parte da culpa por tudo de ruim que aconteceu na

vida da Marina. — Não vamos falar sobre isso agora. Só tome o seu
café, por favor.

— O meu pai, onde está ele? — indago, vejo que fica

magoada com o meu distanciamento emocional. Sempre foi assim,


e Mara nunca fez nada para mudar a situação, então não há razão

para se ressentir por não ser o meu porto seguro.

Meu pai, apesar de tudo, deu-me tudo de si. Se muitas vezes

fingi ser o que não era, fiz para agradá-lo, pois o pouco de afeto que

tive devo a ele, que sempre esteve presente nos momentos em que
mais precisei. São para os seus braços que corro quando preciso de
abrigo.

— Bom dia, meu amor. — Antes que minha mãe tenha tempo

de falar alguma coisa, ele adentra o quarto e beija a minha testa. —

Tomou o seu café?

— Sim. — Afasto a bandeja das minhas pernas e os avalio.

Ambos estão sérios, encaram um ao outro como se tivessem algo

muito sério para me falar.

— Minha filha, nós temos um assunto para tratar com você. —

É meu pai quem começa.

— Pode falar, papai.

— Você sabe que eu e sua mãe te amamos e queremos te ver

bem, não sabe?

— Eu sei.

— Por isso, nós sabemos quando não está bem e precisa de

ajuda. — Apenas uma frase e já sei o que vão dizer.

— Não, eu não vou fazer isso. — Encolho-me sobre a cama,

abraçando minhas pernas, como se isso fosse capaz de me


proteger do mundo. — Não, não posso. O Bruno, o meu Bruno,
papai. Ele está precisando de mim — afirmo, pois apesar de as

ideias estarem confusas dentro da minha cabeça, e a desconfiança


de que estou deixando alguma coisa importante passar, sei que

estou certa. O meu amor precisa de mim.

De alguma forma, eu sei.

— Meu amor, você precisa se acalmar. Como pode querer


ajudar o seu namorado se não está conseguindo ajudar a si

mesma? — Ele volta a segurar a minha mão, ao olhar-me de perto,


pergunta:

— Você confia no seu pai? — Não digo nada, apenas sinalizo


afirmativamente com a cabeça, então ele sugere:

— Deixe-me te levar novamente para a fazenda. Você ficará


melhor e poderá sair forte o suficiente para ajudar o seu namorado

no que ele precisar. Não é isso que quer?

— É, mas...

Não termino de falar, pois duas lágrimas grossas caem do meu


rosto, porque sei que não tenho para onde fugir. Eles têm razão, não

estou bem. Estou com o psicológico muito abalado, basta um


acontecimento fora da curva para que eu perca o controle.
É triste ter que admitir, mas a verdade é que eu não estava

preparada para seguir a vida sem o acompanhamento do doutor


José Carlos. Da última vez, muitos meses atrás e depois de

semanas na fazenda, convenci meus pais, a mim mesma e a todos


de que ficaria bem e não precisaria nunca mais ser internada.

Eu errei, pois apesar de ter dado essa impressão por vários


meses, nos últimos sofri duas grandes crises, e os pesadelos

voltaram a me atormentar durante as noites.

Sei o que precisa ser feito. Agora que tenho muito a perder, a

decisão parece mais fácil de ser tomada.

— Pai, o Bruno não me ligou ainda? — Olho para a mesinha

na frente da minha cama, mas não vejo o meu celular. — O meu


celular? Quanto tempo eu dormi? — De uma única vez, vários

questionamentos me vêm à cabeça.

— Aqui está. — Ele tira o aparelho do bolso e me entrega. Fico


decepcionada por não ter ligação do meu namorado.

— Ele poderá me visitar? — indago. — Se o Bruno quiser, ele

vai poder me ver? — Preciso assegurar, mesmo que pareça uma


coisa idiota de se esperar, afinal, durante todo esse tempo não tive
coragem de contar sobre os meus surtos emocionais. Não mostrei
quão perturbada sou, quando ele mesmo vinha enfrentando seus
próprios demônios.

— É claro, minha menina. Eu não faria isso com você. —


Papai acaricia o meu rosto, eu choro mais um pouquinho.

Choro de pesar e de saudades. Meu coração e todo o meu


corpo doem só de imaginar os dias sem a presença do meu amor.
Dias que não sei se serão apenas dias, semanas ou meses. Só sei

que não posso continuar assim. Preciso estar inteira por mim, por
ele, e por nós dois. Sonho com o futuro, com uma família e poder

estudar um dia. Se saber a verdade não acabar com tudo, pretendo


realizar todos os meus sonhos ao lado dele.

Bruno provou diversas vezes a sinceridade do seu amor e


devoção, luta para superar o passado e voltar a ser inteiro por mim.

Agora é a minha vez, o momento de pelo menos tentar ser a melhor


versão da mulher que ele ama.

— Eu vou, papai. — Decido, olhando dele para a minha mãe,

que até o momento não abriu a boca. Apenas observa a interação


entre o marido e a filha. — Só preciso ficar sozinha para pensar um

pouco, mas quero ir ainda hoje.

— Tudo bem, querida.


Quando os dois saem, a primeira coisa que faço é ligar para o
Bruno. O celular chama até cair na caixa de mensagem, mas ele
não atende. É muito estranho, o celular dele nunca fica desligado.

Como posso deixá-lo sem antes conversarmos para explicar o

que está acontecendo? Não posso deixá-lo em um momento tão


importante para nós dois.

Com a cabeça a mil, e prestes a explodir de dor, seco o meu


rosto ainda úmido. Caminho em círculo no quarto dos meus pais, e

quando meus olhos se fixam na mesinha de centro, o bloco de notas

e as canetas me dão uma ótima ideia.

Pelos próximos minutos, fico debruçada sobre a mesa e,


através das palavras, falo tudo o que covardemente não tive

coragem antes. Despejo todos os meus sofrimentos e angústias,

quando a última palavra é escrita, rezo para que não seja tarde

demais, que a minha covardia e a vergonha de ser quem sou não


tenham afastado permanentemente as pessoas que mais amo no

mundo. Não poderia viver sem a melhor amiga e o meu amor.

Sei que fui covarde ao esconder coisas, mas a covardia


justifica-se pelo medo, o temor de ser tratada de forma diferente,

exatamente como a pessoa doente que sou.


**

— Fique bem, meu amor. — Em um raro momento de carinho,

minha mãe tem a mão no meu rosto, e os olhos cheios de lágrimas.

Nós duas estamos no meu quarto na fazenda, que para muitos

não é nada mais do que um SPA. Para os podres de ricos, que tem
na família um membro com problemas, aqui também é uma clínica

psiquiátrica. Um lugar agradável, que deixa os pacientes em contato

com a natureza e, principalmente, com os melhores psicólogos e

psiquiatras do país. Os dias que passei aqui sempre foram


agradáveis, permitiram-me voltar para casa com as energias

renovadas e psicologicamente equilibrada.

Sei que não será como das outras vezes. Tenho convicção de
que cada segundo longe do meu namorado será como uma

pequena morte, mas anseio pelo dia em que ele virá até aqui, então

saberei que está tudo bem.

— Vou ficar, mamãe. É para isso que estou aqui — digo, mais
para mim mesma do que para ela.

— Amanhã nós viremos te ver, minha princesa. —Tarcísio me

abraça, mas não sai sem antes assegurar: — Tem certeza de que
está bem instalada? — Seus olhos viajam pelo pequeno chalé, o

mesmo que fiquei das outras vezes, mas nunca deixa de se

preocupar.

Ele é pequeno e aconchegante. No estilo rústico que orna com


toda a fazenda. Aqui, tudo é bem organizado, inclusive o

cronograma de atividades a serem feitas durante os dias e os

horários com os médicos especialistas no meu caso.

— Está tudo bem, pai. Podem ir tranquilos — aviso, quase a


ponto de pedir com todas as letras para irem embora.

Preciso ficar sozinha com os meus pensamentos e o meu

celular, tenho que tentar falar com o Bruno. O seu silêncio está me

afligindo, e não sei mais o que pensar.

— Boa noite, querida. — Minha mãe beija o meu rosto e eles

saem. Quando fico sozinha, decido dar uma volta pela grama da

clínica. Como já é noite, os outros internos estão nos seus


respectivos chalés, então posso ter um pouco de paz, ar puro e

natureza.

Fora o barulho das cigarras, e as luzes dos vagalumes

embelezando o lugar, o único barulho que se ouve é o dos meus


pensamentos lutando para fazerem sentido.
Fico olhando para a tela do aparelho, mas ele permanece

desligado. Nenhuma notificação de mensagem, ou ligação.

Ainda sem conseguir tirar os olhos do papel de parede, reparo

na hora e, um pouco menor, a indicação da data. Só agora me dou

conta de como estou perdida da realidade. Não tinha noção de hora,

muito menos da data.

Dia 15...

Terça feira, dia 15... às 8:30min da manhã.

Repito até a minha cabeça ficar a ponto de explodir, tentando

lembrar de algo importante envolvendo a data, o dia de hoje.

Quando acontece, o celular cai das minhas mãos, eu penso


que preferia estar morta a fazer o que fiz com o meu amor.

A minha última lembrança é de ter gritado a plenos pulmões

pelo nome do Bruno, depois cercada de pessoas tentando me


conter.

Eu não podia ter feito isso com você, meu amor. Não podia!
CAPÍTULO 38

BRUNO

Algumas horas antes...

— Calma, meu irmão. Essa tensão não vai te ajudar em nada.

Na casa dos meus pais, às 8h30min da manhã, estou muito

ansioso e tenso pelo passo que estou prestes a dar.

— Não me peça para ficar calmo, Felipe — esbravejo. — Você


não está na minha pele para saber o que estou sentindo. — Sei que

não estou sendo justo, pois todos eles também estão tensos pela
situação. A diferença é que tentam esconder as fraquezas, fazem de
tudo para passar a força de que preciso no momento. — A Ângela,

por que não está aqui? Ela disse que viria cedo.

— Ligou para ela?

— Não faço outra coisa, mas o celular está desligado — digo.


É o principal motivo do meu nervosismo. Simplesmente não posso

passar por isso sem ela.


Ângela é a minha força, a principal razão de ter chegado até

aqui, no dia em que entrarei em uma sala de cirurgia para refazer o


procedimento de anos atrás.

Depois de mais de três meses de tratamento, principalmente o

último, em que as visitas a psicólogos se tornaram mais constantes,

e as conversas com o cirurgião mais animadoras, o dia finalmente


chegou. Hoje serei operado, e tenho fé de que tudo sairá como o

esperado.

Ao lado da minha namorada, sempre muito otimista, a jornada


tornou-se menos dolorosa. O dia de hoje foi esperado com muita

ansiedade.

Além do tratamento, que tomou boa parte da nossa atenção,

os últimos meses foram maravilhosos. Não havia brigas, e

passamos mais tempo juntos nos conhecendo. A parte do sexo está

cada dia melhor.

Como todo casal, chegamos a falar sobre o futuro, ainda que

de maneira superficial, já que entre nós existe o entendimento tácito

de que são assuntos a serem discutidos com mais seriedade

quando a questão da minha cegueira estiver totalmente resolvida.

Sei que casamento e filhos são uma consequência da nossa


relação, pois não tem como ser diferente. Ângela e eu somos o
típico casal apaixonado que mal consegue ficar algumas horas

longe um do outro.

Nas nossas conversas, o tema "morar junto" tem surgido com

mais frequência, e apesar da vontade de tornar o desejo realidade,

a minha garota ainda tem as suas questões a resolver. E mesmo


que não tenha me revelado nada, tenho algumas suspeitas de que

seja algo com a sua saúde emocional. Ela tem algumas oscilações

que me causam preocupação, mas ainda não posso enfrentá-la, não

se não se sente à vontade ainda para falar.

Independente de qualquer coisa, e do que ela tenha a dizer,

sei que nada será capaz de mudar o que sinto. Ângela nasceu para
ser minha, e depois de hoje mostrarei que pode confiar em mim

para falar o que quiser, porque, independente do que for, estarei do

seu lado, cuidando e amando.

— Vamos para o hospital, meu filho. — Meu velho sugere. —


O seu irmão vai continuar tentando localizar a sua garota.

— Mas eu não posso...

— Se acalme, Bruno. — Ele vem para o meu lado e afaga o

meu ombro. — Ela estará lá, sei que nada a impediria de ficar com
você hoje. Deve ter acontecido algum imprevisto.

— Papai está certo, mano. Vamos, você tem hora marcada, e

não dá mais para adiar. — Felipe relembra o quanto o Doutor

Severo é requisitado, do quanto de trabalho tivemos para tê-lo como


cirurgião. — Está tudo bem com a sua garota. Fique tranquilo que

vou garantir a presença dela com você. Eu prometo.

Ele tenta e, mesmo assim, não consegue desfazer o nó na

minha garganta, a dor que começa a comprimir meu peito. No


fundo, tenho medo de ser abandonado.

Da outra vez doeu muito, a ponto de eu ter me tornado o


homem duro do qual não me orgulho, mas, mesmo destruído,

consegui me reerguer e seguir em frente. Agora seria diferente,


tenho plena convicção. Não suportaria o abandono vindo dela, não

do meu anjo, a mulher que me ensinou que sempre é possível se


superar, que a felicidade é para quem luta por ela, assim como nós
dois lutamos pela nossa, e tiramos uma a uma das pedras que se

interpuseram no meio do caminho.

A minha dependência emocional é tão grande que um simples

atraso se torna um presságio de que algo muito estranho está


acontecendo. Como se nunca mais fosse ver o meu pequeno anjo.
Pare de pensar nessas coisas, caralho! Está tudo certo, eu vou

chegar naquele hospital e a minha mulher estará lá, à minha espera.

É o que digo a mim mesmo repetidas vezes, e em várias


versões diferentes, enquanto a minha família termina os últimos
preparativos para a nossa ida ao hospital.

**

No hospital, enquanto estou sendo preparado para entrar na


sala de cirurgia, as horas passam devagar e se tornam o meu
tormento. Apesar do otimismo e da esperança, Ângela não aparece

no hospital, o atraso de uma hora se torna duas.

— Está na hora, meu filho. — É minha mãe quem fala, mas

continuo nervoso.

— Me perdoem, mas não vou fazer isso. — Decido, e não há


nada que me faça mudar de ideia. — Simplesmente não posso.

— Não faça isso consigo mesmo, Bruno. — Meu irmão, que

parece muito estranho, fala. Não preciso dos meus dois olhos para
perceber. — Não depois de tudo. Faça por si mesmo, pelos nossos

pais.
Seu pedido me irrita além do que posso segurar e, quando dou
por mim, estou despejando sobre ele toda a minha frustração,
angústia e tristeza.

— Por que vocês estão agindo como se nada estivesse

acontecendo? — Grito furioso com todos. — A minha mulher não


está aqui, vocês não estão percebendo?

— Bruno, por favor, se acalme, meu filho. — Minha mãe chega

perto, mas não aceito o seu toque.

— Não me peçam para ter calma, muito menos que entre


naquela sala de cirurgia. Não sem antes ter notícias da minha
mulher. Ela não está aqui, e tem de haver uma explicação para isso.

Ângela era a mais entusiasmada, não desapareceria dessa forma.

— Meu irmão... — Felipe começa, não pela primeira vez, tem

tempo que ele parece desconfortável. O tom de voz o denuncia.

— Felipe, se você sabe de alguma coisa, é melhor que fale de

uma vez — peço, pois só agora, parando para pensar com mais
calma, noto o óbvio:

Felipe esconde alguma coisa.


— Fale, porra! O que aconteceu com a minha mulher? Por que
ela não veio? — Tenho medo do que posso ouvir, meu coração está
acelerado, as mãos estão geladas e, mesmo assim, sei que preciso

de respostas.

— É melhor você fazer a sua cirurgia, meu irmão. — Guiando-


me pelo som da voz, avanço no meu irmão e o seguro pelo
colarinho.

— Se não quiser proporcionar um show aqui, é melhor que fale

agora, porra! — Aperto com mais força, mãos tentam nos apartar,

mas a minha força e raiva são grandes demais para que possam

deter-me.

— Me solte, mano. — Felipe segura os meus pulsos.

— Você vai matar o meu marido, está louco? — Ana esbraveja

e a confusão está armada.

Em poucos segundos, todos começam a falar ao mesmo


tempo. Entre todas as vozes, a única que se sobressai é a do

Felipe. Com uma única palavra ele consegue acabar com a

confusão e com a minha vida.

Viajou....
Viajou...

Ela viajou...

As palavras dançam na minha mente quando pouco a pouco

vou soltando o Felipe e, consequentemente, todas as outras mãos

deixam de me tocar.

— Não pode ser verdade. — Recuso-me a acreditar, sentindo-


me como se estivesse sufocando, o chão sumindo dos meus pés. —

A Ângela não faria isso comigo. Isso é mentira Felipe.

— Bruno...

— Não tem graça, Felipe — digo, tendo um fio de esperança.


— Não é o momento para brincadeira, meu irmão.

— Infelizmente, não se trata de uma brincadeira, mano. Mais

cedo, em mais uma das muitas tentativas de falar com a sua

namorada, a mãe dela atendeu o celular da filha e, segundo ela,


estavam a caminho do aeroporto. A garota decidiu de última hora

visitar outro país.

O meu anjo não fugiu, ela não faria isso comigo, afirmo para

mim mesmo.

Não faria, ela me ama.


— Isso é mentira — afirmo com veemência em estado de

negação, que eu prefiro chamar de confiança. — Eu conheço a

mulher que tenho.

— Se conhece tanto, me diga: Por que ela não está aqui? —


Felipe questiona.

— Está querendo insinuar que a mulher que amo me

abandonou no dia da maldita cirurgia?

— Não sei o que pensar — ele confessa, pois, no fundo,


também não acredita que o meu anjo tenha me deixado. Ele a

conhece e sabe o quanto Ângela esperou por isso.

— Vocês todos, escutem bem o que vou dizer. — Mesmo

destroçado, e sem ter certeza de como agir, no meu íntimo só tem


uma que não é passível de dúvidas. — Ela não me deixou. Se não

está aqui, é porque alguma coisa a impediu. — Os meus olhos

ardem, e o meu coração comprime pela angústia de não a ter aqui


comigo. — Não quero ouvir mais uma palavra a respeito desse

assunto.

— Tente ser racional, irmão. — Felipe aconselha.

— Estou sendo, Felipe. Você não sabe o que isso está me


custando — afirmo, segurando-me para não desabar na frente da
minha família em um quarto de hospital.

— Eu sinto muito. — Ele me consola.

— Não sinta — peço, pois isso torna as coisas mais definitivas.

— Eu posso contar com a sua ajuda?

— Você sabe que sim. Hoje e sempre.

— Eu sei, e preciso que faça algo por mim.

— Pode falar. Faço o que você pedir. — Se apressa em dizer.


Ele sempre foi assim, um parceiro para todas as horas.

— A Marina e o Erick Estevan afirmaram que virão assim que

a cirurgia terminar. Eu quero que você fale com eles e os

encarregue de descobrir o que aconteceu com a minha mulher. Eles


saberão o que fazer.

— A cirurgia?

— Eu vou fazer, imediatamente. — Sem tempo para pensar e

decidir se estou fazendo a coisa certa, tomo a minha decisão.

Escolhi o caminho mais difícil por ela, pois, quando tudo

acabar, nunca mais precisarei dar a outras pessoas o dever de

cuidar do meu bem mais precioso.


Confio no meu julgamento e nos nossos amigos. Se tem algo

de errado no que mãe dela falou ao telefone, o Erick vai descobrir.

— Vai dar tudo certo, Bruno. — Felipe me puxa para um

abraço emocionado e, ao fundo, posso ouvir soluços que suponho


serem da minha mãe e da minha cunhada. — Trate de ficar bem, e

te prometo que o seu anjo estará aqui te esperando quando acordar.

Ela será a sua primeira visão.

— Isso é tudo o que mais quero. Se não acontecer, sou capaz


de ir até o inferno para tê-la de volta. Não vivo sem aquela garota,

Felipe.

— Sei que não, e não vai precisar. Ela também não deve

querer viver sem você. — Quando se afasta de mim, a sala de


visitas é invadida pelo som da voz do médico cirurgião.

— Bruno Pires, está tudo certo? Podemos começar.

— Podemos, doutor Severo.

Após dar o sinal, toco seu ombro e o acompanho para a sala


de cirurgia. Antes de sair, pergunto mais uma vez:

— Estou confiando em você, irmão.


As coisas não estão acontecendo da forma como eu e minha

namorada tanto planejamos, pelo contrário, entro para a cirurgia


como um homem completamente destroçado, mas esperançoso de

que as minhas certezas não estão completamente equivocadas. Se

o meu anjo tiver me deixado, não tenho razões para continuar

respirando.
CAPÍTULO 39

MARINA

— Meu amor, o que você está esperando? — Desço as


escadas toda esbaforida e cheia de pressa, mas encontro Erick bem

relaxado, sentado no sofá conversando com o nosso pequeno.


Quando acontece, ele fala com tamanha seriedade e concentração
que nem parece que o filho não tem nem cinco meses completos,

incapaz de entender o que ele diz.

— Você está muito gostosa com esse vestidinho, e toda


ofegante. Faz com que eu tenha ideias nada apropriadas para o

momento. — Meu marido, que não mudou nada quando o assunto é

o seu modo safado e insaciável de ser, mede o meu corpo


lentamente, da cabeça aos pés. Quando retorna novamente para o

meu rosto, ele lança a típica piscadinha. Eu fico a ponto de derreter


ante o olhar quente, um fato que os anos de relação também não

foram capazes de mudar.


— Nem pense nisso, Erick, pode esquecer essas suas ideias,

nós temos que sair agora. Mais tarde... — prometo, devolvendo a


piscadela provocativa.

— Não precisa correr, pequena. — Ele permanece sentado. Ao

chegar perto, noto que o meu bebê está dormindo novamente, o que

me deixa muito satisfeita, porque o meu coração fica apertado


quando tenho que chamar a babá. — Ainda está cedo, o Bruno

ainda deve estar na sala de cirurgia.

— Eu sei, mas preciso ficar ao lado da minha chatinha,


lembra? — Sento-me e pego João dos seus braços. — Ela deve

estar uma pilha de nervos. Eu estaria se estivesse no lugar.

— Não tinha parado para pensar assim, Marina — revela. —

Ainda é difícil acreditar, Ângela e Bruno, o casal mais apaixonado da

cidade.

— Pensei que fosse a gente — brinco, mas não o julgo. É


mesmo difícil de acreditar que eles estejam tão apaixonados.

Eu, apesar de saber da leve fixação da minha melhor amiga

pelo Bruno, sempre imaginei que fosse apenas uma atração física.

Bruno jamais deu indícios de que nutrisse algum sentimento que

não fosse indiferença por ela. Felizmente, o tempo mostrou que


estava completamente cega, e me presenteou com o casal mais
lindo que já tive a chance de colocar os olhos. Por presente, refiro-

me ao bem que o relacionamento tem feito para a minha anjinha. Eu

nunca a vi tão feliz e sorridente como agora.

O mesmo acontece em relação ao Bruno, ele é outra pessoa

depois que o furacão Ângela passou por sua vida. Sem medo de
errar, sou capaz de jurar que não existe casal que combine tão bem

como eles parecem se encaixar. É olhar para eles e ver que foram

feitos para ficarem juntos. Inclusive, esse é um fato que já cansei de

explicar para Lua, a minha sócia, e ex-namorada do Bruno.

Ela, apesar de afirmar que está bem, não esconde o quanto o

assunto ainda mexe com as suas emoções. O que é uma pena, já


que Lua é uma mulher muito bonita e poderia muito bem levar a

sério os casinhos que diz ter. Não sofrendo por uma história que há

tempos acabou, por um homem que é apaixonado por outra mulher.

— Eles estão com o título, mas nada que não consigamos


reverter. — Erick afirma, claramente me provocando, considerando

que nós dois sabemos o saco que é ter esse título e a atenção da

mídia em tudo que fazemos. — Sobre o casal, eu sempre soube que


ele queria comer a sua amiga estranha, só não imaginava que era

amor de verdade.

— Ela não é estranha. — De tudo o que ele falou, somente

essa parte chamou a minha atenção.

— Não é, meu amor, só estou brincando — defende-se. —

Você sabe que eu gosto muito da chatinha, mas não vou negar que
a achei estranha logo que nos conhecemos.

— Ângela é especial, meu amor. Sempre foi assim — afirmo,


sem querer entrar em detalhes da nossa infância e adolescência

juntas.

— Eu sei que é, pequena.

Erick é muito perspicaz nas suas avaliações, e não é


necessário dizer muito. Ele tem um bom relacionamento com a

minha amiga e deve entender do que falo.

A vida toda foi assim, nós duas sempre juntas aqui em casa,

nunca na dela. Havia dias que ela era uma adolescente muito alegre
e cheia de vida, outros em que se retraía e quase não falava. O fato

nunca foi motivo de preocupação, porque sempre pensei que fosse


da sua personalidade.
Para mim, ela sempre foi apenas Ângela, a menininha que me

lembro de ter associado a um anjo quando, no auge da inocência,


liguei tal divindade ao nome dela. Se não fosse por isso, ainda

assim pareceria com um anjinho com a sua pele branquinha, os


enormes olhos azuis e os cabelos muito escuros.

É a imagem que tive, e sempre terei da minha melhor amiga, a


irmã que não tive. Ela é especial, e merece tudo de melhor que a

vida tem para oferecer.

— Sério, querido, nós precisamos ir de uma vez. — Assim que

termino de falar, desvio a atenção para a porta de onde o jardineiro


pede permissão para entrar.

— Pode vir, meu caro. Aconteceu alguma coisa? — Erick


indaga preocupado. Nós dois desviamos nossa atenção para as

mãos do homem, que carrega um envelope pequeno e branco.

— Está tudo em ordem aqui na residência, senhor —


assegura. Quando olho para o Erick, vejo seu rosto relaxar. Ele

nunca mais foi o mesmo depois de tudo o que passamos, é muito


cuidadoso e protetor. Seu modo de agir não me incomoda, pois

imagino o que sofreu quando quase morri.


— Correspondência para a senhora Estevan. — Estende-me o
envelope, mas antes que eu pegue, meu marido se apressa em
perguntar.

— Quem trouxe?

— O pai da senhorita Ângela Albuquerque. — Assim que ele


revela, pego o papel. — Assegurou-me de entregar nas mãos da
senhora — esclarece.

— Ele não quis entrar? — Estranho o fato de ele ter preferido

deixar com um funcionário a entrar e nos cumprimentar. Tudo bem


que não somos os mais próximos, mas entre as famílias sempre
prevaleceu a relação de cordialidade.

— Ele parecia estar com pressa, dona Marina. Apenas pediu


que entregasse o envelope. Tenham uma boa tarde. — Quando o

jardineiro se retira, olho da carta para o meu marido. É ele quem me


tira do entorpecimento que a estranha situação causou.

— Não vai abrir, meu amor? — Erick percebe a minha tensão.


Isso nunca aconteceu, e junto com a certeza de que dentro do

envelope tem algo relacionado à Ângela, também sei que é sério.


Ela não mandaria se não fosse.

— Estou com medo, Erick e se...


— Ei, não fique imaginando coisas, pequena. Está tudo bem
com a chatinha — afirma. — Vem, deixe que eu seguro ele. — Ele
pega João dos meus braços e o deita no berço portátil que está na

nossa frente. — Abra. Eu estou aqui do seu lado — insiste, notando


a minha indecisão.

Com as mãos trêmulas e o coração disparado de quem sabe


que não receberá boas notícias, abro o envelope e logo reconheço a
letra da minha chatinha. Com o meu marido ao meu lado, começo a

ler a carta escrita de próprio punho, e o que eu pensava ser ruim,

mostra-se muito pior.

A cada linha lida, onde algumas palavras são difíceis de


entender pelas manchas que as suas lágrimas causaram, meu

coração vai ficando cada vez mais destroçado dentro do peito. É

impossível segurar as minhas próprias lágrimas.

Quando as lágrimas me impedem de continuar, meu marido a


pega das minhas mãos e continua de onde parei. Quanto mais ele

lê, mais coisas descubro, o peso da culpa começa a abater os meus

ombros. Dou-me conta de como fui cega.

— Se acalme, Marina — Erick pede ao perceber o meu estado

quando lê a última palavra. — Você precisa ser forte agora.


— Você não entende? Ela passou por tudo em silêncio. A vida

toda, e eu não fui capaz de perceber que tinha algo errado


acontecendo com ela, a minha anjinha. — Desabo nos seus braços.

— Ei, olhe para mim. — Carinhosamente, meu marido tira meu

rosto do seu peito e, ao segurá-lo para que o olhe nos olhos, tenta

me confortar: — Você leu o que ela disse? A chatinha quer ficar


bem, meu amor. Ela está lutando e precisa do nosso apoio.

— O Bruno... Ela não contou para ele. — Quando suas mãos

soltam o meu rosto, eu o seco, decidida que não é o momento para


lágrimas. Eu preciso agir, tenho que ser forte por ela.

— Não, ela não teve coragem. A Ângela confiou em você,

amor.

— Eu estou perdida. Não sei o que fazer, nem como fazer. —


Penteio os cabelos com os dedos muito nervosos, me levanto do

sofá e começo a andar de um lado para o outro.

— Nós temos que seguir os planos e fazer o que ela pede na

carta. Bruno a ama e vai superar.

— Tem razão, vamos para o hospital. — De imediato, pego a

minha bolsa, e só então lembro que a babá ainda não chegou.


Percebendo minha preocupação, Erick — sempre prático —

propõe a solução. A melhor de todas.

— Vamos levar o nosso filho com a gente, lá terá um berçário

para ele.

No caminho, com o coração aos pedaços, penso em tudo.

Estou triste comigo mesma, porque não consigo entender como fui

tão cega, estou triste pelo Bruno, o homem que ela ama. Ele estava

se preparando para um novo recomeço, mas não sei o quão doce


será sem a presença dela. Pergunto-me se ele foi capaz de seguir

em frente.

De qualquer forma, e se estiver disposto a ouvir, Bruno saberá

de tudo o que a namorada vem enfrentando em silêncio durante


toda uma vida. Torço para que o seu amor seja o motor que

impulsionará a recuperação do seu pequeno anjo.


CAPÍTULO 40

BRUNO

Aos poucos, começo a voltar à realidade. Na mesma escuridão


que tenho estado há mais de cinco anos, agora sinto a presença de

algo sobre os meus olhos.

— Aí está você, meu jovem. — Ouço a voz do médico, o


mesmo que teve para si a responsabilidade de trazer de volta a
minha visão. — Se sente bem? — questiona.

— Um pouco zonzo, mas acho que estou bem. — Pelo menos


fisicamente.

Quanto ao emocional, esse não poderia estar mais fodido. A

cirurgia recém-terminada não foi capaz de tirar dos meus

pensamentos a minha namorada. A angústia de não saber onde ela


está me sufoca, e a expectativa pelo resultado da cirurgia ficou em

segundo plano.
— Que bom, Bruno. Você não perguntou, mas vou falar. Como

nós supúnhamos, a intervenção foi simples e, felizmente, a cirurgia


anterior conseguiu conter os danos que a sua parcial ineficácia

durante os últimos anos poderia causar. Como você bem sabe,

houve indícios de cegueira psicológica, então, com mais essa


intervenção, e o tratamento que veio fazendo nos últimos meses, há

grandes chances de obtermos sucesso no seu caso. O apoio da

família e das demais pessoas que você ama será essencial nas
próximas duas semanas. O nosso sucesso depende de você, meu

jovem.

— Está certo, Doutor. Espero não decepcionar a minha família

mais uma vez. Tem também a minha namorada.

— Pelo seu sorriso, vejo que está apaixonado. — Ele não faz

ideia do quanto. — Pense na sua amada, e no quanto ela ficará

orgulhosa de você.

No momento, ouvindo mais uma vez que depende de mim,

pergunto-me como posso fazer isso, como tentar não me abater

sem o apoio da minha diabinha e o pior, sem saber onde ela se

encontra. É exigir demais de um homem que agora sente medo.


— A minha família... Onde eles estão? — Mudo de assunto,
não querendo falar sobre ela neste momento, ainda mais com um

desconhecido.

Tudo o que eu quero é falar com Felipe, saber o que ele

descobriu durante o tempo em que estive na sala de cirurgia.

Ele tem que ter descoberto alguma coisa, preciso saber do

meu amor, ou sou capaz de enlouquecer.

— Estão todos lá fora, a sua família e um casal de amigos —

comenta.

— Marina e Erick? — pergunto, mais para mim mesmo do que


para o médico.

— Não sei dizer.

— Eles já podem entrar para me ver? Eu preciso falar com o

meu irmão.

— Claro que podem, espere só um momento que a enfermeira

virá checar se está tudo certo com o seu pós-operatório.

Assim que o som da porta denuncia a saída do cirurgião,

aproveito o tempo sozinho para terminar de colocar os meus


pensamentos em ordem. Penso nos próximos passos que terei de
dar, e uma forma de encontrar Ângela, estando preso a uma cama

por mais duas semanas.

Animo-me com a notícia de que o casal açúcar está aqui.

Marina é a melhor amiga da minha mulher, e se tem uma pessoa


que pode me ajudar nisso, ou até mesmo dar-me respostas, essa

pessoa é ela.

— Como está você, meu irmão? — A voz entusiasmada do

Felipe invade o quarto, e mesmo que nada esteja saindo como


imaginei, é sempre uma satisfação tê-lo por perto com a sua alegria
contagiante. — Está feliz?

— O que você acha?

— Perdão, foi uma pergunta idiota de se fazer. Imagino como


deve estar se sentindo.

— Descobriu alguma coisa?

— Nada. Depois que você entrou fiz algumas pesquisas, fui à

casa dos Albuquerque, mas os três funcionários que perguntei


disseram a mesma coisa.

— Ela não viajou, mano. Eu tenho certeza disso.


— Foi o que eles disseram, eu sinto muito — lamenta-se, e

vejo escorrer pelo ralo o último fio de esperança que havia me


restado.

No fundo, tinha esperança de que o meu irmão traria boas


notícias, que diria que a minha Ângela está bem. Um ledo engano, e

agora não sei o que fazer.

— Eu tenho que sair daqui. — Desesperado, tento me levantar

da cama. Quando os meus pés tocam o chão, sinto uma forte


vertigem, que teria me derrubado se não fosse o auxílio do meu

irmão. — Ela está precisando de mim, sinto que está — digo quando
ele me ajuda a deitar na cama do quarto de visitas.

— Ela precisa de você, mano, mas tem que ficar bem para dar
o amor que Ângela merece. Não aja como se tivesse acontecido

algo de muito ruim com a sua mulher. Mantenha o pensamento


positivo por você e por ela também. — Ele tenta me animar. — A
mãe e o pai estão doidos lá fora, vou pedir para eles entrarem, tudo

bem?

— Depois, irmão — aviso. — Eu preciso falar com o Erick e a

Marina.
— Meu irmão, tente se acalmar primeiro. Você não está 100%
lúcido.

— Chame eles, agora! — exijo, não me importando com mais


nada que não seja a minha mulher.

— Está bem, vou pedir para que eles entrem. Papai e mamãe
podem esperar mais um pouco.

Quando Felipe se retira, mal posso conter a minha ansiedade.


Quando os passos do casal denunciam as suas presenças no

quarto, pulo a parte dos cumprimentos e vou direto ao assunto que


me interessa.

— Marina, você tem notícias da Ângela? — dirijo-me a ela, a

pessoa mais próxima da Ângela. — Como vocês podem ver, ela


deveria estar aqui e não atendeu as minhas ligações. Obtive

notícias através da mãe dela, que afirmou que a filha viajou.

— Eu sabia que tinha o dedo daquela senhora odiosa. —

Marina fala, evidenciando que seja qual for o problema com a minha
namorada, eles já sabem.

— Marina, onde está a Ângela. Me fale, por favor. — Não me


envergonho de implorar.
— Meu amigo, você precisa se acalmar.

— Não me peça para ficar calmo, caralho! — Direciono minha

fúria para o Erick. — Queria saber se você estaria calmo se


estivesse no meu lugar, sem ter notícias da sua esposa. — Decido

tocar na ferida, pois só assim o farei entender exatamente o que


estou sentindo. Erick já esteve do outro lado, no lugar frio onde
mora o medo de perder para sempre a mulher da sua vida.

— Tudo bem, cara, você está certo.

— Erick! — Marina esbraveja para ele.

— Perdoe-me, amor, mas entendo o que Bruno está sentindo.

Ele tem o direito de saber.

— Você sabe que vou falar, só preciso prepará-lo antes —


Marina rebate.

— Preparar? Você não está querendo dizer que a Ângela... —

Não sou capaz de completar, e passo segundos de tormenta até


Marina começar a falar.

— Ela está bem, é no que prefiro acreditar — diz, mas o alívio

da primeira frase foi apagado pelo tom de incerteza da segunda.


— Sente-se mais perto dele, pequena. — Esse é o Erick,

cuidando da mulher e da mãe do seu filho. Cuidado e cumplicidade


que almejo ter com a minha diabinha.

— Bruno, a Ângela deixou uma carta e pediu que eu lesse

para você. Mas só vou fazer isso se prometer que não vai fazer

nada sem pensar, que vai agir com a razão, antes de tomar
qualquer atitude.

Meu coração está batendo disparado dentro do peito, minhas

mãos estão trêmulas e suadas por saber que estou a ponto de


descobrir coisas a respeito da mulher da minha vida, fatos que

mesmo não tendo ideia do que seja, sinto que foi algo doloroso de

revelar. Não preciso ser uma pessoa espiritualizada para saber

disso, basta o fato de eu estar no mesmo espaço que eles dois,


onde o clima é de tensão. Os meus amigos estão pisando em ovos

o tempo todo. Especialmente Marina, que tem uma ligação forte

com Ângela.

— Antes de tudo, entenda que a Ângela não te deixou, se é


que essa hipótese passou pela sua cabeça em algum momento.

Mesmo se não existisse essa carta, eu seria capaz de colocar a

minha mão no fogo por ela, que nunca levou nada tão a sério como
leva namoro de vocês — fala, e apesar do misto de sentimentos,

não posso deixar de me emocionar com a ferrenha defesa.

— Nunca duvidei do amor dela, por isso estou tão preocupado.

Ângela estava muito ansiosa pelo dia de hoje, e ela não deixaria de
vir se tivesse escolha. Só preciso saber o que aconteceu.

— Na carta que ela deixou, você terá todas as respostas. —

Sinto o meu coração acelerar quando ouço o som do papel sendo

manejado.

— Pode começar.
CAPÍTULO 41

BRUNO

Querida, Marina. Melhor amiga, irmã de alma. Me perdoe se a


letra for ficando ilegível, mas, em minha defesa, digo que é o melhor
que posso fazer na situação em que me encontro.

Agora, enquanto luto para organizar as minhas ideias, para ser

sincera como não fui em todos esses anos, pergunto-me se mereço


o presente que foi ter você na minha vida. Não! Não precisa dizer,
no fundo, sei que não mereço a sua amizade, assim como não

mereço o maior de todos os presentes, o amor e a presença do


Bruno na minha vida.

Mesmo sem merecer, mesmo sendo uma pessoa fraca,

acredito que existe uma força muito maior, boa e misericordiosa que

teve compaixão e me concedeu não só uma, mas duas chances.

Primeiro foi você, aos 8 anos, no nosso primeiro dia na

escolinha, lembra?
Fomos colocadas sentadas lado a lado, depois de alguns

minutos de timidez (mais minha do que sua) olhamos para o lado, e


bastou um olhar para que nos tornássemos inseparáveis. Você foi, e

ainda é, o fio condutor que muitas vezes me manteve conectada à

realidade. O seu carinho, mesmo nos momentos em que eu ficava


insuportável (às vezes mal-humorada, às vezes elétrica, ou cruel),

sempre esteve ligado às poucas coisas que fui capaz de fazer na

vida, como ter terminado o ensino médio, ou ter tido a coragem de


comprar e pilotar a minha moto).

Percebe? Foi você, minha querida amiga, a lufada de ar puro

nos momentos em que estive prestes a me afogar no lamaçal.

Depois, quando encontrou a sua própria felicidade...

A leitura torna-se impossível quando a voz da Marina não

consegue mais segurar as lágrimas. Eu, por outro lado, tenho um nó

formado na minha garganta, o pesar de ouvir palavras tão bonitas


vindo da minha pequena. Além de belas, suas palavras também são

tristes e confusas em alguns momentos. É como se ela estivesse

fazendo um esforço sobre-humano para colocá-las para fora.

Pelas suas palavras e com a errônea crença de que não

merece a amizade da Marina e nem o meu amor, começo a


perceber que a insegurança demonstrada algumas vezes, vai muito
além do que poderia ser considerado normal para uma mulher que

se vê ameaçada, como ela imaginou estar só com a menção do

retorno da Carolina.

Minha mulher carrega um fardo muito maior do que eu poderia

supor, e não sei se estou preparado para ouvir o que está por vir,
porque, de um jeito ou de outro, sei que depois de tudo o que tem

acontecido nas últimas horas, as nossas vidas nunca mais serão as

mesmas.

— Está tudo bem, pequena. Vem, vou ler para você. — Erick

intervém, certamente notando como está sendo difícil para ela.

Do ponto onde a esposa parou, Erick continua a leitura.

Depois, quando você encontrou a sua própria felicidade,

apareceu no meu caminho alguém para dividir com você a

responsabilidade que carregava sem saber.

Bruno Pires, o homem que logo me chamou atenção pela

beleza, talvez até mesmo pelo desafio de querer tocar no que

parecia inatingível, mas hoje, no momento em que escrevo essa

carta, dou-me conta de que consegui exatamente o que eu queria,


quer dizer, muito mais do que queria. O Bruno veio e, aos poucos,

foi invadindo meu coração e ganhando espaço na minha vida.

Eu não preciso de mais linhas ou palavras para expressar para

você como é grande o meu amor e dependência por ele. Até me


questiono se a minha mãe não tem razão ao dizer que estou

obcecada demais, dependente além do que é saudável, mas


quando algum sentimento ou emoção minha foi saudável?

Obcecada ou não, para mim ele é o amor e a esperança de


finalmente ter encontrado o meu ponto de equilíbrio. Se hoje estou
nesta situação, escrevendo ao invés de falar pessoalmente, é

porque eu estava enganada, minha querida.

Um doce engano que me permitiu, durante meses, viver a


ilusão de que estava tudo bem, que o pesadelo de uma vida

finalmente tinha acabado.

Ele não acabou e não vai acabar nunca. Não serei uma
pessoa inteira novamente, e a decisão que acabo de tomar é mais

uma tentativa de melhorar, pelo menos o suficiente para que o


Bruno consiga continuar enxergando-me como da primeira vez, a

garota saudável e cheia de vida (um pouco oferecida).


Sim, vou fazer por ele. E se eu fosse uma pessoa boa e menos

egoísta, o deixaria livre para viver a vida e encontrar um novo amor


(ou um antigo amor).

— Está tudo bem, Bruno? — Erick, de maneira sensata, faz


uma pausa para que eu possa assimilar tudo. — Precisa de um

tempo? Você acabou de passar por uma cirurgia...

Alegro-me na mesma medida em que me comovo com a

intensidade e a sinceridade dos sentimentos da minha namorada.


Depois os seus pensamentos partem para uma parte mais confusa,

que me lembram momentos em que tentou dar sinais, mas preferi


não enxergar e fingi que estava tudo bem.

— Não preciso de tempo, só continue, por favor.

Eu não estou bem, pelo contrário, a minha vontade é de tirar a

porra da venda dos meus olhos e correr para a minha mulher. Que
se dane a cirurgia, só queria chegar até ela e obrigá-la a falar
comigo, a revelar tudo o que erroneamente permiti que me

escondesse

Lembra-se dos momentos em que me torno insuportável, os


mesmos que mencionei há pouco?
Dos dias que fico agitada demais, às vezes insegura e até das
viagens feitas fora de hora? Então, esses momentos não foram e
nem são marcas da personalidade de uma garota mimada que

sempre teve e quis as coisas do seu jeito. As viagens nunca foram


apenas viagens.

Nada é o que parece na minha vida, eu sempre fui uma


mentira, uma casca perfeita que por dentro esconde uma alma

ferida e sem cura.

Não pense que sempre foi assim, querida. Eu fui uma criança

feliz. Até os meus seis anos era uma garota feliz. Tinha o Caio, o
meu irmãozinho, ele era tudo o que nunca consegui ser: a criança
perfeita e bem comportada. Graças a mim e a minha desobediência,

ele se foi. Morreu aos seis anos. Tudo por minha culpa.

Ele levou com ele os meus pais e a menina que um dia fui.
Naquele dia não foi só ele quem morreu. A minha imprudência de

levar um menino que não sabia nadar para o lago trouxe


consequências. A pior de todas, levou com ele a Ângela livre e
deixou a triste, presa dentro de si mesma.

Marina, eu não sou o que você e o Bruno pensam, vocês não


me amariam se soubessem disso, por isso não tive coragem de
contar antes. Não suportariam conviver com uma pessoa que
passará a vida à base de remédios.

As viagens não foram passeios para conhecer outros países,


como fiz você acreditar. Estive em clínicas psiquiátricas por mais

vezes do que é confortável pensar, em busca de tratamentos que


me traziam a ilusão de estar bem. Até fico por um tempo, mas
depois os pesadelos voltam a me perseguir. Minhas emoções se
tornam impossíveis de controlar, o desânimo me abate a ponto de

não conseguir levantar da cama por dias. Vem o medo, a

insegurança, às vezes a irritabilidade...

São coisas demais, e tenho certeza de que tudo começa a


fazer sentido na cabeça de vocês.

Não sou dona de mim mesma, minha irmã, não das minhas

vontades e nem das minhas emoções. Como posso querer que

vocês convivam com isso?

Crise emocional, é o que eles dizem, mas, no fundo, sei que

não importa o nome que se dê, pois essa sou eu, a Ângela

Albuquerque que as pessoas que mais amo desconhecem.

Enquanto me preparo para recomeçar, rezo para fazer por


merecer uma segunda chance, para que vocês não deixem de me
amar nem por um segundo. Que nada mude na nossa relação. Eu

amo muito você, minha irmã de alma, a você devo mais do que um
dia poderei retribuir.

E se tenho o direito de pedir algo, quero que leia essa carta

para o meu amor. Em alguns dias (que agora a minha mente não é

capaz de lembrar exatamente qual é) será a cirurgia dele, a


realização do meu maior desejo no momento.

Por isso eu vim. Quero estar do lado do meu amor. Lembra do

pedido para que eu seja a sua primeira visão? Não esqueci. Se


mantenha firme, será só por uns dias e, quando precisar estarei aí

do seu lado, segurando a sua mão, se mesmo depois de tudo o meu

toque ainda for bem-vindo.

Se concluir que não dá mais para você, que não há motivos


para continuar, saiba que eu te amo muito mais do que imaginei ser

possível amar alguém. Você, Bruno, foi a melhor coisa que me

aconteceu em muito tempo, em poucos meses eu vivi os dias mais

felizes da minha vida. E se não voltarmos a nos ver, guardarei os


momentos felizes. Até o último dia da minha vida as lembranças me

acompanharão como lembretes de que mesmo tendo uma vida

difícil, tudo valeu a pena por ter amado e sido amada plenamente.
Eu amo você, meu amor, mais que a minha própria vida.

Jamais se esqueça de que você foi a razão dos meus melhores

sorrisos.

Com carinho, Ângela Albuquerque.

— Sinto muito, meu amigo. — É o que Erick consegue dizer ao

terminar de ler.

— Não mais do que eu, pode ter certeza — falo, duro.

De tudo o que foi revelado, ficou o homem com o coração


quebrado.

A dor está sufocante e insuportável. Sofro pela criança que ela

foi um dia e pela mulher que se tornou. O meu pequeno anjo tem

sobre os ombros um peso maior do que pode suportar, e eu estava


preocupado com os meus próprios problemas.

O meu pobre amor não merece passar por tudo isso, não

sozinha, nunca sem o meu apoio.

— Eu sei o que você está sentindo, Bruno. — Marina ainda


chora, e agora tenho certeza de que a frase não é dita de maneira

indevida. As palavras da minha Ângela evidenciaram a ligação

delas, que é muito maior do que eu imaginava.


— Se sabe, também devem saber que não vou ficar aqui de

braços cruzados, enquanto a minha mulher está em algum lugar,


tendo que enfrentar mais uma internação sozinha. Eu não vou

esperar que ela passe por tudo e só volte para mim quando estiver

bem o suficiente. Eu quero estar com ela hoje.

— Bruno, não acha melhor...

— Não continue, Erick — corto. — Por favor, me levem até a

minha namorada, ela precisa de mim.


CAPÍTULO 42

ÂNGELA

Três semanas, passaram-se três semanas sem que eu tenha


conseguido me perdoar pelo erro cometido.

Como eu pude ter me esquecido de uma data tão importante?

O dia tão esperado por nós dois, pelo qual viemos correndo atrás
por meses sem descanso. De um canto a outro, em conversas com
cirurgiões e consultas com psicólogos, nós estávamos preparados

para o grande dia. Ele só pensava no momento em que poderia


abrir os olhos e me ver na sua frente. Eu, no auge da minha

insegurança, não deixava de pensar em qual roupa usar, que tipo de

maquiagem fazer e até mesmo como deixar o cabelo.

Eu prometi estar ao lado dele e não estive, fugi por medo da

rejeição quando descobrisse a verdade sobre tudo o que vivi e ainda


vivo. Agora, depois da carta, e de provavelmente ele já saber o

tamanho do fardo que teria de carregar, caso ainda quisesse ficar

comigo, estou conformada. Aos poucos, fui aceitando que se eu tirei


dele a chance de escolha durante vários meses, não seria justo

julgá-lo por simplesmente seguir em frente.

— Vejo que está melhor hoje, está tranquila e até veio tomar
sol. — Luciana, a simpática terapeuta, senta-se ao meu lado na

grama bem cuidada no dia em que completa três semanas que

cheguei aqui.

— Bom dia. — Miro seu rosto, forçando um sorriso e uma

alegria que está longe de ser real, pelo contrário, depois do último

surto que tive no dia em que cheguei, as coisas foram se tornando


cada dia mais difíceis.

Eu não suportava a ideia de ver outras pessoas na primeira


semana, e não sabia fazer outra coisa que não fosse ficar encolhida

sobre a cama chorando. Só chorava e nem a visita dos meus pais

despertava em mim algum tipo de reação. Quando alguém

perguntava os motivos das minhas lágrimas, o meu silêncio era a


resposta. Não quis dividir que além de me culpar por ter esquecido

da cirurgia, também estava louca de saudade do meu namorado.

Desde o início do namoro, não houve um dia sequer em que

não tenhamos pelo menos nos falado por telefone, então, quem
pode me culpar por estar achando difícil passar tanto tempo longe
dele?

Na segunda semana, quando consegui perceber que quanto

mais preocupada eu os deixar com o meu estado, mais distante

ficaria do dia da minha alta, passei a me esforçar para sair da cama,

para conversar com outras pessoas e com os profissionais. Passei a


fazer caminhadas pelo lugar de belas paisagens.

Hoje, em uma manhã de sexta-feira, sinto que estou

melhorando, o medo de perdê-lo está cada vez maior e mais

sufocante, mas continuo tentando seguir em frente, porque sei que

me entregar só aumentará a nossa distância, mais longe do dia em

que estarei na sua frente para descobrir se ainda me ama como eu


o amo.

— Bom dia, querida. Você está se sentindo bem? — A

pergunta dela tem relação com a minha saúde mental, mas também

a física, porque sofro com tonturas e desmaios.

Embora os sintomas fossem mais raros das outras vezes, nos

últimos dias os desmaios têm sido mais frequentes. — Desmaios,

tonturas e enjoos, mais alguma coisa?


— Hoje senti enjoo, e isso está começando a me preocupar.

Não era para os sintomas estarem se apresentando agora, era?

— Não, minha querida. Não era, mas não se preocupe, nós

vamos fazer alguns exames e ver o que está causando tudo isso. —
Ela parece estranha ao me fitar com um misto de curiosidade e

preocupação.

— Exames, que tipo de exames, Luciana? — indago,

preocupada. Não vou suportar se tiver que ficar aqui por mais tempo
do que imagino.

— Quando foi a sua última menstruação, você lembra? — A


sua pergunta me surpreende. Aconteceram tantas coisas que não

parei para fazer as contas, mas agora percebo que estou atrasada.

— Pelas minhas contas, era pra ter descido sete dias atrás —

revelo. Agora o meu coração está a ponto de sair pela boca pela
suspeita que começa a se formar na minha mente.

— Como eu disse, temos de providenciar um exame de


sangue. Não precisa entrar em pânico, lembre-se que você passou

por um estresse muito grande, que pode ser a causa dos sintomas e
do atraso do seu período menstrual.
— Acredita que eu posso estar grávida? — Preciso que ela

fale, que diga que não estou tão louca como pareço.

A ideia é tão assustadora quanto maravilhosa, e mesmo eu


sendo a pior pessoa, e esse o pior momento, não consigo me sentir
mal com a suspeita. Pelo contrário, pergunto-me se realmente não

estou perdendo a sanidade, pois simplesmente não consigo rejeitar


a ideia de ter um bebê com o homem que amo.

Permito-me ser egoísta por um momento ao pensar que ter um


pedaço dele dentro de mim seria como carregar para sempre uma

parte do meu amor.

Contra os motivos que tornam o pior momento para uma

gravidez acontecer, desejo com todas as minhas forças que seja


verdade. Que se danem os contras, tudo o que mais quero é esse

pedacinho do Bruno crescendo dentro da minha barriga.

Se Luciana abrir a boca para dizer que é uma possibilidade


remota, é justamente a essa pequena chance que me agarrarei.

— Sempre existe chance de acontecer quando se tem uma

vida sexualmente ativa. — Rio internamente ao pensar quão


sexualmente ativa sou.
Bruno e eu fizemos uma quantidade obscena de sexo, não
tenho como negar, e espero que a minha expressão não esteja
entregando a informação.

— Mas? — indago, sabendo que vem um "mas" ao fim da sua

frase.

— Você não é como as outras mulheres e sabe disso. Em


outros casos, os sintomas físicos e o atraso da menstruação seriam

indícios fortes de uma possível gravidez. No seu caso, nós sabemos


que podem existir outras explicações que não estejam relacionadas

a uma gestação.

— Eu sei. — Não consigo esconder a minha decepção.

— Você tem que se cuidar, querida. — Toca a minha mão,


agindo mais como uma amiga do que como a profissional que

certamente está analisando todas as minhas reações e,


principalmente, tudo o que digo. — Agora não é o momento de você
se preocupar com essas questões.

— Não estou — garanto, recriminando-me por ter deixado

transparecer para ela o meu entusiasmo com tal possibilidade.

No estágio em que está o meu tratamento nos últimos dias, de

notar que todos parecem contentes com a minha colaboração e


vontade de melhorar, o que menos preciso é colocá-los em alerta.
Não quero que passem a ver a alegria pela perspectiva de ter um
filho como algo prejudicial, que julguem como uma obsessão, como

algo que eu esteja querendo me agarrar.

Sei que não é verdade, posso ser toda errada, mas o meu
amor é real. Não suporto quando o meu relacionamento é pauta
para o tratamento, e até mesmo alvo de questionamentos. Nada é
mais real do que os meus sentimentos por Bruno e a alegria sentida

pela ideia de dar a ele um filho.

Não é sobre dependência, ou obsessão, é tudo sobre amor, o

mais puro e sincero amor.

— Que bom ouvir isso, Ângela. Agora vamos mudar de

assunto? — sugere, eu agradeço. Prefiro guardar só para mim a

maravilhosa suspeita. — O que quer fazer hoje? — questiona,

querendo iniciar mais uma das atividades que tem o intuito de me


instruir como me portar quando voltar ao convívio social.

— Hoje está nas suas mãos — falo. Quando ela sai, deito-me

de costas sobre a grama fresca.

Permito-me abrir o sorriso ao levar as mãos ao meu ventre


coberto pelo tecido leve do vestido longo. Aliso por todos os lados,
uma forte emoção me toma e, no íntimo, tenho certeza de que não

vivo uma ilusão, sei que ele está aqui. Uma sementinha bem
pequenina, que de alguma forma será a minha cura.

— Sei que está aí, meu amorzinho, preciso que cresça forte. A

mamãe te ama muito.

Meu sorriso bobo e sonhador é interrompido quando uma


enorme sombra cobre o sol. Em pé, e com a expressão séria de

sempre, está Russo, um dos seguranças da clínica.

— A senhorita tem visita. — Nessa hora meu coração bate

forte como a bateria de uma escola de samba em plena avenida,


pois além dos meus pais, que me visitam sempre na parte da noite,

não recebo mais ninguém.

— Quem é?

— A pessoa não disse o nome — afirma.

Pessoa?

Porra! Tem horas que a discrição dele me irrita profundamente,

ainda mais quando ela não serve para nada que não seja atrapalhar

a minha vida. Custa falar se a pessoa é homem ou mulher?


Mas não posso culpá-lo por estar apenas fazendo o seu

serviço. O homem não tem motivos para me dar mais informações

do que já deu. Basta que eu me levante e vá conferir com os meus


próprios olhos.

— Avisa que estou indo — falo, com medo de estar me

iludindo.

— Na entrada do seu chalé — fala, e me vira as costas.

Sem me preocupar com aparência, ou qualquer outra coisa


que não seja ele, dirijo-me para o meu chalé, torcendo pela

confirmação de que hoje, em plena manhã de sexta-feira, a vida

esteja finalmente voltando a sorrir para mim e eu receba a segunda

melhor notícia do mundo.

Se for o Bruno, será mais que uma visita, será a concretização

das minhas fantasias delirantes desde o dia em que cheguei aqui.

Mesmo estando muito perturbada, sonhei com o dia em que ele viria
e me levaria para casa.

Por favor, que seja o Bruno.

Que seja o Bruno.


Rogo baixinho ao me aproximar do chalé que tem sido o meu

refúgio nas últimas três semanas.


CAPÍTULO 43

BRUNO

— Bem me parece vago demais, Russo — reclamo com o


homem negro que tem por volta de quarenta e cinco anos e não

deve medir menos do que dois metros de altura de pura massa


muscular. — Conte-me mais, quero detalhes. Você sabe que tem
sido o único elo entre nós dois.

Há três semanas, quando me convenci de que não se passaria

mais um minuto sem a presença da minha diabinha, me vi tendo


que ouvir os conselhos do casal açúcar. Eles, os que não tiveram

medo de enfrentar todos os tipos de obstáculos em nome do amor e

do desejo de estarem juntos, independente de qualquer coisa.

Marina e Erick Estevan me fizeram entender que antes de agir,

eu precisava me recuperar 100% para dar o apoio, carinho e


cuidado que Ângela merece e precisa. O casal me fez compreender

que não valia a pena colocar o pós-operatório em risco, não depois

de a minha mulher e eu termos lutado tanto.


Carregando no meu peito a dor da saudade, vi os últimos dias

se arrastarem em câmera lenta, e se não fosse pela ideia que tive


no auge do meu desespero dois dias após a leitura da bendita carta,

ainda estaria sem ter notícias da minha linda. No escuro e tendo

como base apenas as páginas de uma carta onde ela não diz muito,
apenas menciona por alto mais uma internação.

Fui obrigado a ficar longe, mas fiz o sacrifício valer a pena.

Permaneci duas semanas com os olhos vendados, trancafiado em

um maldito quarto. Recebi visitas, mas só queria ficar sozinho. Sei


que estou sendo injusto com quem me ama, mas não posso dar

atenção para alguém que não seja a minha mulher.

Tudo ficou em segundo plano, e nem mesmo a expectativa


pelo resultado da cirurgia foi capaz de gerar ansiedade. Quando o

tão esperado momento chegou, cinco dias atrás, a alegria de todos

à minha volta foi encoberta pela saudade que ficou mais forte, pela

tristeza de não a ter aqui. Ela era a primeira pessoa que eu queria

ter visto, mas não pôde estar comigo.

Quando o médico começou a desenrolar a faixa que cobriu os

meus olhos durante duas semanas, permaneci por um tempo sem

coragem de abri-los. Mantive-os fechados e só naquele momento


parei para pensar o que o simples abrir de olhos significaria para
mim.

Minutos de silêncio se passaram, até que o Severo me pediu

para tentar abri-los e, durante o processo, aconteceu como ele disse

que aconteceria. Me vi tendo que voltar a fechá-los por várias vezes,

até ficar acostumado com a pouca luz do ambiente. Depois de mais


ou menos duas horas tentando adaptar-me, e seguindo todas as

instruções do Doutor, a luz da sala foi gradativamente aumentando,

então pude discernir cada objeto e móvel que compunham o quarto.

Eu tinha conseguido, estava conseguindo enxergar. Naquele

momento só pude chorar. Pedi para ficar sozinho por um tempinho

e, ainda com a cabeça latejando pelo esforço, e com a visão


embaçada deixei que a emoção me tomasse. Em meio às lágrimas

e sorrisos, me veio à mente todo o caminho percorrido até aquele

dia.

Lembrei-me de tudo que sofri, da tentativa de reerguer-me


quando finalmente renasci para a vida. Retornei para o dia em que

percebi que não podia negar a paixão que nutria por uma garota

petulante. Desde então, a cada novo dia ao lado dela, sinto-me

menos como o Bruno de antes, o que vivia pelas ambições


profissionais e mais como o Bruno da Ângela, o que aprendeu que

nada é mais forte que o amor.

Sorri, chorei e guardei para mim a convicção de que nada será

diferente dos nossos planos, pois ela será a minha primeira visão.
Somente quando estiver vendo o meu pequeno anjo sentirei que

isso realmente está acontecendo. Não poder vê-la é como ainda


estar na escuridão.

— Você deveria ir pessoalmente tirar as próprias conclusões.

— Oi? — A voz de trovão do homem me chama para a

realidade, então me dou conta de que estive distraído, perdido nos


meus próprios pensamentos, como não raramente tem acontecido

ultimamente.

Enquanto a minha família está em festa, e a imprensa em

polvorosa, tento aprender mais sobre o transtorno da minha mulher,


sobre a melhor forma de apoiá-la e ser um bom parceiro.

— Vá até ela, nada mais o impede de entrar naquele lugar e


ver com os seus próprios olhos a sua garota. — Observando-o

parado à minha frente, enquanto temos essa conversa no meio da


sala do meu irmão, percebo que pegou num bom ponto. Sim,
porque não existem mais motivos para estar parado e não correndo

até ela.

Hoje, dias após a intervenção cirúrgica ter sido considerada


um sucesso pelos especialistas, e de ter herdado óculos de graus
como lembrança do que passei, sinto-me feliz pelas pequenas

coisas, como poder olhar as horas, presenciar os raios do sol


tentando invadir o quarto pelas frestas deixadas pela janela de

madeira e, principalmente, sentir que voltei a ser independente para


ser o que a minha mulher precisa.

— Você está certo Russo — assevero ao homem que tem me


ajudado a não enlouquecer.

Através dele, tenho estado ciente de tudo o que acontece com


Ângela na tal clínica disfarçada de fazenda de luxo. O papel de ir até

lá e fazer o serviço sujo foi encarregado ao Erick, e como não é de


fugir de desafios, ele deu um jeito de ir até a clínica. Sem dar
maiores explicações dos meios usados, trouxe para mim um dos

seguranças.

Soube através dele que, nos primeiros dias, a minha namorada

não foi vista pela fazenda, o que nos fez supor que ela permaneceu
trancada no pequeno chalé que, aparentemente, tem sido o seu
refúgio. Esses foram os piores dias para mim, tive ganas de mandar
tudo para o inferno e ir até ela. Na minha mente passaram os piores
cenários possíveis e isso só mudou a partir da segunda semana,

quando Russo afirmou que, aos poucos, ela começou a sair para
fazer caminhada.

Expressão tristonha e muito quieta. Foram as palavras usadas


mais vezes do que posso contar. Russo deixou-me a par das suas

atividades, do tratamento que vem fazendo com psicólogos,


psiquiatras e terapeutas. Disse-me que a sua aparência se torna

mais saudável a cada dia que passa, ainda que os olhos não
consigam esconder a tristeza.

— Nada impede que eu acabe agora mesmo com esse

tormento — confirmo, percebendo que o tempo de espera acabou.

Hoje eu vou ver a minha namorada, e nada impedirá que isso


aconteça. Por algum motivo, os pais dela barraram outras visitas

que não eram as deles, mas, para a minha sorte, tenho ao meu lado
o chefe da segurança.

— Estamos esperando o quê? — Russo incentiva.

— Madrugou, meu irmão? — Felipe adentra a sala, agindo

como se já não fosse dez da manhã. Ele pode se dar ao luxo de


ficar trancado com a esposa até tarde, eu também faria, caso
trabalhasse como programador de jogos eletrônicos e não tivesse
horários tão rígidos a cumprir.

— E você, acordou para o almoço? — provoco.

— Bruno Pires, sempre tão simpático — brinca e, como tem


acontecido, permanece algum tempo me olhando como se eu fosse

uma vitrine. Felipe parece não acreditar que eu esteja enxergando


tão bem quanto antes — apesar de ter herdado óculos de grau — e

que esteja o vendo na minha frente, com a cara amassada.

Depois de vários dias, ainda não consigo definir a emoção que

tive em poder vê-los novamente, parecia que era a primeira vez.


Tudo parece novo, ainda que nada tenha mudado em cinco anos.

— Hoje eu vou visitar a Ângela, irmão — revelo, olhando dele

para o Russo.

— Acha que está na hora, que será bom para ela? — Sua
questão me faz parar e pensar, mas não existe outra resposta.

— Sei que será bom para ela. Além de tratamento, Ângela

precisa de mim.
— Vá ser feliz, irmão. Ângela e você não merecem menos que

isso. — Felipe me abraça, dando tapas puramente masculinos no


meu ombro.

— Vamos? — dirijo-me ao segurança e, discreto, ele apenas

acena com a cabeça.

— Boa sorte, Bruno. Manda um beijo para a minha


cunhadinha.

— Pode deixar.

Assim que deixo a casa do meu irmão, avisto Russo já

entrando no veículo de vidros escuros. Também vejo a mulher que


não esperava encontrar vindo em minha direção.

— Carolina — cumprimento.

— Você está muito bem com esses óculos, ficou ainda mais

charmoso — elogia a mulher muito bonita com os cabelos loiros e


roupas de grife. Uma beleza clássica, que deve ser muito diferente

da única pessoa que ainda não conheço o rosto.

Mesmo que a curiosidade tenha sido insuportável, eu me

mantive firme na decisão de conhecer seu rosto somente quando


também pudesse tocá-lo. Para mim que amei sem conhecer o físico,
além dos toques, vê-la através de imagens seria como admirar a

beleza de uma desconhecida. Tudo o que eu quero é beber da sua

beleza, tocar enquanto aprecio, abraçar, ouvir o som da doce voz.


Saber que vejo e toco o meu anjo.

— Obrigado. O que faz aqui? — Sou direto, pois não vejo

motivos para estar perdendo tempo com ela.

— Vim te visitar, saber como tem se sentido depois da cirurgia.

— Age como se fôssemos bons amigos.

— Eu estou muito bem e, como pode ver, estou indo visitar a

minha namorada — menciono, caso esteja com alguma ideia errada

em mente.

— Quem, a pirralha Albuquerque? — finge surpresa. — Achei


que o casinho tinha terminado. É o que a mídia vem especulando

ultimamente, afinal, que namorada vai viajar quando o parceiro está

passando por uma situação tão delicada? Pelo que tenho lido, a sua
namorada nem mesmo te visitou.

— Eu sei exatamente o que vem circulando na mídia, Carolina.

E já que está tão interessada no meu relacionamento, diga para

esse bando de urubus que o namoro vai muito bem. O caso, como
você prefere chamar, não está nem perto de chegar ao fim, aliás,
nunca vai chegar. O ex-cego e a pirralha Albuquerque ainda vão se

casar e terão uma penca de filhos. Um bom título, não acha?

— Casar-se, você e ela? — A mulher age como se fosse um

absurdo.

— Eu realmente estou com pressa. Obrigado pela visita. —

Sigo meu caminho, deixando-a para trás resmungando alguma


coisa que não me interessa saber.

Estou completamente irritado. Não com a mulher, que não tem

esse poder, mas por ter perdido preciosos minutos ouvindo

bobagens que não tem um pingo de verdade. As fofocas teriam me


irritado muito mais se eu não soubesse que é preferível ouvir esse

tipo de bobagens a ter a mídia a par dos problemas que a minha

Ângela tem enfrentado. Seria um desastre completo e, no momento,


ela não precisa desse tipo de atenção.

— Acelera, meu caro — peço, após bater a porta do carona.

Espera, meu amor. Estou chegando.


CAPÍTULO 44

BRUNO

— Só te peço que tenha cuidado e seja o mais discreto


possível — o segurança avisa, porque todos sabem que Ângela

Albuquerque não recebe visitas que não sejam dos pais.

Nada de parentes, amigos ou namorado, somente os pais. A


exigência em si é muito estranha, e ainda que eu não seja
especialista no assunto e não tenha passado pela situação outras

vezes, como aconteceu com eles, posso supor que ela esteja
precisando do carinho de quem a ama, não de isolamento.

No tempo que tive para pesquisar, descobri muitas coisas.

Além do tratamento necessário, quem tem crises precisa de apoio e


amor. Não imagino como deve estar se sentindo sem a presença da

melhor amiga, que sempre foi seu ponto de equilíbrio. Marina tem
estado muito chateada com a situação, sente saudades da Ângela.

Quanto a mim, não consigo deixar de lado o egoísmo ao


desejar que esteja sentindo a minha falta e desejando com todas as
forças a minha presença ao seu lado. É dessa forma que venho me

sentindo a cada minuto longe dela. Uma longa espera, um doloroso


afastamento que terá fim hoje.

Finalmente conhecerei o meu anjo, pelo menos no que diz

respeito ao aspecto físico, já que todas as outras nuances que me

foram apresentadas em meses de relacionamento fizeram com que


eu a amasse de uma forma que não consigo imaginar a minha vida

sem ela.

— Pode deixar, meu caro — digo. — Obrigado pela ajuda —


agradeço, pois sem ele seria muito mais difícil conseguir entrar aqui.

— Está vendo aquela ala? — Aponta para uma fileira de


chalés, cinco no total, um do lado do outro. As pequenas moradias

são construídas em madeira, todas na cor marrom. — O da sua

namorada é o terceiro.

— Tudo bem, eu assumo a partir daqui — aviso.

— Vá para o chalé dela e, mais uma vez, seja discreto —

pede. — Ela deve estar com uma das médicas, vou avisar que tem

visitas.

Faz como planejamos e, assim que ele vai, me encaminho


para a moradia. Enquanto percorro a pouca distância que me
separa do destino, tenho meus olhos atentos a tudo à minha volta.

Eu poderia imaginar qualquer pessoa sendo muito feliz em um

ambiente como esse, se não soubesse que aqui é uma clínica de

reabilitação. Assim como Ângela, ninguém está aqui por prazer.

Na frente da casinha, sinto sobre os meus ombros a tensão e a


ansiedade de perceber que a hora chegou. O momento pelo qual

venho desejando com tudo o que há em mim.

Verei a minha mulher com olhos que não estão mais

encobertos pela escuridão. O rosto e o corpo que as minhas mãos

não se cansam de tocar e sabem exatamente como ela é perfeita.


Uma das mulheres mais lindas do país, é o que dizem e, felizmente,

tenho o privilégio de saber que a beleza não é apenas física.

Conheço e sei que Ângela Albuquerque é muito mais do que uma

bela mulher.

— Olá. — O cumprimento é dito baixinho. Ouvir a sua voz traz

eletricidade para o meu corpo. É como voltar para a superfície


depois de dias submerso.

— Ângela — devolvo e, sem coragem de me mexer,

permaneço de costas. Meu coração está a mil e a respiração difícil.


Ao tomar a iniciativa, minha pequena namorada encurta a

distância e, sem que outra parte do seu corpo esteja me tocando,


ela deita a cabeça nas minhas costas. Sentir o perfume dos seus

cabelos me faz compreender que tudo está bem, ou vai ficar.

— Eu sinto muito. — Sei que ela está chorando, e como não

posso suportar ouvi-la se culpando por algo que estava fora do seu
controle, me viro. O impulso faz com que eu dê dois passos para

trás, terminando escorado na porta do chalé. Ainda bem que tenho


em que me apoiar, senão teria passado a maior vergonha da minha

vida neste exato momento.

Se eu achei que estava preparado, agora percebo que não


poderia estar mais enganado. Nada poderia me preparar para o

impacto desse encontro.

Deus, como ela é linda!

Muito mais do que na minha imaginação, do que tanto fantasiei


sem parar por três longas semanas enquanto a agonia da espera

esteve a ponto de me levar à loucura.

Não existe exagero por parte de quem a considera umas das


mulheres mais lindas do país, pois Ângela Albuquerque não é nada
menos que a exata definição da palavra perfeição.
Perfeita e minha, somente minha e de mais ninguém. Tão

minha quanto uma pessoa pode pertencer à outra sem desprender-


se de si mesma.

Do turbilhão de pensamentos e sentimentos que tomam conta


da minha cabeça e coração, fica a constatação de que o seu apelido

não poderia ser mais adequado. Ela é como um anjo. A começar


pela pele branquinha, sem qualquer mácula ou resquícios de

maquiagem. Os cabelos escuros formam o conjunto perfeito com os


enormes e expressivos olhos azuis. A boca pequena, e os lábios

cheios e naturalmente vermelhos formam o conjunto completo de


um rosto perfeito.

Desço os olhos lentamente pelo corpo da minha mulher e

entendo o porquê de ser tão viciado nele. Um delicioso vício do qual


não quero jamais me livrar. Ela é naturalmente magra, tem os seios

médios e nem precisa estar de costas para eu ter a certeza de que


tem a bunda tão linda quanto todo o resto que os meus olhos

puderam alcançar.

Pelo que imagino terem sido vários minutos, permanecemos

em silêncio, eu bebendo da sua beleza estonteante, ela me fitando


confusa, com os olhos vermelhos pelas lágrimas.
Meu pobre amor, como eu te amo. Se soubesse o quanto, não
estaria com a sombra do medo estampada no seu rosto.

— Vem, amor — digo ao abrir os braços. Ela sorri entre as


lágrimas, mas não titubeia antes de se jogar nos meus braços, me

abraçando com força, pelo menos com toda a força que tem no
momento.

Quando todos os sentimentos transbordam de uma vez só,

faço como ela e permito-me chorar. São lágrimas que falam de


saudade, alívio e a alegria de saber que não importa quão árdua

seja a nossa luta, se estivermos juntos, sairemos vencedores e mais


fortes. A mim cabe o dever de garantir que nada nos separe
novamente.

Aos poucos nos afastamos e, ainda com os braços em volta da

sua cintura coberta pelo tecido leve do vestido longo e esvoaçante,


analiso seu rosto mais de perto e, dessa forma, ela parece ainda

mais linda. Um anjo. O meu pequeno anjo.

— Você é tão linda.

— Eu não posso acreditar que esteja mesmo acontecendo.


Você está mesmo me enxergando? — Soluçando, e fazendo um
biquinho fofo, faz carinho no meu rosto e na barba por fazer. Analisa
os meus olhos com atenção e recomeça a chorar.

Ângela está muito sensível, e nem ao menos sei se é algo


relacionado às crises.

— Estou, sim, amor. E nenhuma das minhas fantasias fizeram


jus à realidade. Você é tão linda, tão minha. — Com carinho, seco

seu rosto úmido. No processo, sigo beijando por cima dos seus
olhos, como tantas vezes fez comigo. — Me vejo com cabelos

brancos muito antes da hora, pois você me fará muito ciumento.

— Não diga isso, Bruno. — Encabulada, ela esconde o rosto

no meu peito. — Estou de cara lavada, toda desarrumada. Planejei


tanto esse momento...

— O que importa é estarmos juntos, princesa — afirmo, sem

conseguir afastar minhas mãos do seu corpo, ou deixar de olhar o

seu rosto, pois, de todos os benefícios que o retorno da visão


poderia trazer, nada me trouxe mais ansiedade do que conhecer o

rosto da minha Ângela.

Desconhecer a sua aparência física nunca foi um fator

determinante, pois, antes de tudo, amei a pessoa que ela é. Depois,


quando a sua empolgação se tornou contagiante, e ela esperava
com expectativa pelo dia em que veria o seu rosto, passei a nutrir o

mesmo desejo, o de dar rosto à beleza que o meu toque tinha


atestado.

— Eu senti tanto a sua falta. — Volta a chorar ao me abraçar

novamente. Por mais que eu saiba que isso se deve ao momento, a

sensibilidade excessiva causa uma ponta de preocupação. —


Passou tanta coisa pela minha cabeça. Pensei que você tivesse

desistido de mim, que não queria ficar ligado a uma pessoa que...

que... — Sente dificuldade em completar o raciocínio. Ao afastar seu


rosto do meu peito, percebo que seu olhar está perdido, a

expressão não esconde o sofrimento.

— Amor — chamo baixinho, e com carinho. — Olhe para mim,

princesa. — Fazendo carinho no seu rosto, beijo mais uma vez seus
olhos, o canto da boca e, como mágica, vejo o momento em que

parece despertar para a realidade e seus olhos enfim focam nos

meus. — Eu jamais desistirei de você, essa possibilidade


simplesmente não existe. Eu prefiro perder um braço a ter que viver

mais um dia longe de você. Diz que está me entendendo, Ângela —

ordeno, segurando os dois lados da sua cabeça, encarando-a de


perto, tendo seus enormes olhos azuis me fitando com genuína

adoração.
— Eu te amo tanto, não teve um segundo nas últimas

semanas em que os meus pensamentos não tenham estado em

você. Jamais me perdoarei por ter esquecido da sua cirurgia.

— Não pense mais nisso. O importante é que estou aqui, e


não vamos mais nos afastar, meu anjo de olhos azuis.

— Nunca mais, se você me aceitar toda errada, como deve ter

descoberto que sou, não te solto nunca mais. — Minha namorada

não chora mais.

— Você não é toda errada. É perfeita em todas as suas

imperfeições, e se alguma coisa mudou desde a leitura daquela

carta foi o meu amor por você, porque eu te amo muito mais.

— Meu advogado fodão. — Vejo a sombra de um sorriso no


seu rosto. — Você está ainda mais lindo com os óculos e a barba

por fazer.

— Imagine quando ela estiver roçando no meio das suas

pernas, quando a minha boca... — Estou levando o elogio para


outro lado, mas sou impedido pela pequena, que se apressa em

cobrir a minha boca. Ao fazer isso, ela olha de um lado para o outro,

provavelmente por temer que sejamos pegos.


A alegria do reencontro foi tanta que esqueci dos cuidados que

precisamos ter. Ficarmos aqui fora não é uma forma de mantermos


a discrição.

— Me leve para dentro?

— Dentro? — Vejo que ficou confusa.

— Primeiro para dentro do seu chalé. — Como costumo fazer

quando quero provocar, falo baixinho no seu ouvido e dou o golpe


final. — Depois para dentro de você. Estou cheio de saudade.

— Eu também, você não faz ideia do quanto. — Ângela solta

as minhas mãos, mas ao invés de entrar, pula nos meus braços e


enrola as pernas na minha cintura.

Ao darmos os poucos passos até o interior do pequeno abrigo,

tenho a mente vazia e o coração cheio. Cheio de contentamento e

bons sentimentos, pois apesar de saber que ainda temos muito a


conversar e a esclarecer, tenho também a certeza de que tudo ficará

bem.

— Espero ansioso pelo momento em que você demonstrará


para mim o tamanho da sua saudade. — São minhas últimas

palavras, antes que a porta de madeira se feche às nossas costas.


CAPÍTULO 45

ÂNGELA

Parece que é mentira, um sonho bom que o subconsciente dá


como prêmio durante as noites frias e solitárias.

Assim que a porta se fecha, isolando-nos do mundo lá fora,

Bruno varre o local com os olhos. Quando retorna ao meu rosto, o


sentimento é o mesmo de quando o encontrei de costas, à minha
espera.

Sentir o seu abraço protetor foi como voltar para casa depois
de vários dias perdida. O vazio da minha alma foi preenchido e, no

fundo, sei que os dias de tormenta estão chegando ao fim, porque

nada é tão ruim quanto estarmos afastados por tanto tempo, que
não saber qual foi a sua reação quando descobriu a verdade sobre

mim.

Sem que eu mereça tamanha consideração, Bruno momento

só me deu carinho e provas de que a espera valeu a pena. Fantasiei


com esse reencontro, mas nada fez jus à realidade.
— Gostei desse lugar, parece confortável. — Enquanto fala,

meu namorado, que conseguiu ficar ainda mais deslumbrante com


os óculos de grau e a barba por fazer, segura a minha mão e me

puxa para dentro do seu abraço.

— Eu gosto, mas não como gosto do seu apartamento —

confesso, lembrando-me de termos ficado muito lá antes de tudo


acontecer. Passei a sentir como se fosse o meu lar, de uma forma

que há muito tempo não sinto dentro da mansão.

— Nosso — corrige. — E saiba que não consegui voltar lá


depois que você veio para a clínica.

— Pobrezinho. — Ao ficar na ponta dos pés, retiro os óculos


do seu rosto e o coloco sobre a pequena mesa. — Quero olhar os

seus olhos para sempre.

— E eu para os seus, meu anjo.

— Tenho tantas coisas para te falar que nem sei por onde

começar.

— Eu vou te ouvir, amor. Não quero que haja mais segredos

entre nós, ainda mais esse tipo de segredo — pede, ao passo que

as mãos passeiam carinhosamente pelas minhas costas. — Eu


preciso conhecer tudo sobre você, mas não neste momento.
— Não? — indago, curiosa.

Pela gravidade de tudo o que escondi, imaginei que ele

estivesse ansioso para falar sobre o assunto o mais rápido que

pudesse.

— Tudo o que preciso no momento é sentir você. Tocar o seu


corpo, beijar cada pedacinho dele e matar a saudade que a sua

ausência deixou. Foram dias de angústias, e o meu único consolo

foi saber que voltaríamos a ficar juntos em algum momento. — Ao

declarar sentimentos que deixam meu coração leve, ele aproveita o

momento para subir uma das mãos pelas minhas costas e,

lentamente, descer o zíper do meu vestido.

— Nos meus sonhos você era tão safado quanto as minhas

lembranças de um passado recente, regado com muito sexo e

promessas sujas ao pé do ouvido.

— Teve sonhos eróticos? — Minha confissão capta a sua

atenção, que até então estava em tentar me despir o mais rápido


possível.

— Muito, principalmente na última semana — afirmo, achando

curioso o fato de ter percebido vários comportamentos diferentes

nos últimos dias.


A minha mente está menos perturbada, mas os sintomas

físicos começaram a aparecer. Sofri dois desmaios que foram


entendidos como queda de pressão decorrente do uso dos vários

remédios combinados. Há as ânsias de vômitos, porque,


aparentemente, o meu organismo não suporta mais o cheiro do
tempero utilizado no preparo das refeições.

— Como eram esses sonhos, estou louco para ouvir — ele me

provoca, terminando de descer as mangas do vestido pelos meus


braços. Quando o tecido cai embolado nos meus pés, os olhos do

Bruno no meu corpo parecem duas brasas de fogo. Ele não


esconde que gosta do que vê, e sua ereção é visível — Eu sabia
que você era gostosa, mas é muito mais do que eu pensava. Você é

muito, muito gostosa, meu amor. Quero adorar o seu corpo, todos
os recantos dele até que ele saiba que você me pertence. A sua

beleza é apenas para os meus olhos, que agora podem apreciá-la.

— Bruno, eu fico doida quando você diz essas coisas —


confesso, olhando para a sua roupa e imaginando a melhor forma

de tirar toda ela o mais rápido possível.

— Essa é a minha intenção — confessa com uma expressão


sacana no rosto. — Eles parecem maiores, ou é impressão minha?
— Da minha calcinha bege e confortável, Bruno sobe para os meus

seios, e chega à conclusão depois de segurar um deles com a mão.


— Parece mais pesado.

— E sensível também — completo, depois de sentir um leve


incômodo quando toca o mamilo.

— Sabe a razão disso? — Com carinho, abaixa a cabeça e,


cuidadosamente, dá dois beijos, um em cada seio cheio. — Tão

lindos. — Olha com fascínio para uma das suas partes preferidas do
meu corpo. Bruno é capaz de passar horas brincando com os meus

seios sem se cansar.

— Não faço ideia, deve ter a ver com o estresse das últimas

semanas — minto, ainda não quero falar sobre as minhas suspeitas.


Já basta que eu esteja cheia de expectativas quanto a uma possível

gravidez. Antes de iludir o meu namorado, preciso confirmar as


suspeitas.

Eu até posso ter certeza de que estou grávida, mas até que

ponto é seguro para uma pessoa doente como eu acreditar nas


próprias certezas?

— Eu vou cuidar deles — afirma, tirando a própria camisa,


dando-me de presente a visão do belíssimo abdômen.
Como senti saudade dessa visão. O período de abstinência
não fez nada além de deixar-me ainda mais fogosa e louca por esse
homem. Pela pegada bruta, o sexo quase sempre duro e até mesmo

as mordidas, que logo são aliviadas pela língua quente e perita em


me dar alívio de todas as formas possíveis e imagináveis.

— Vem cuidar. — Dou-me o direito de ser ousada e, apesar de


tudo, a forma como me olha faz com que eu me sinta feminina e

desejada. — Sou toda sua.

— Você é. — Agora o meu amor tem as mãos no zíper da

bermuda e, sob o meu olhar atento, faz questão de descê-la com


cueca e tudo.

— Nós teremos que ser silenciosos, amor. — Acho importante


avisar, pois além de não sermos um casal discreto, preciso lembrá-

lo de que não estamos no nosso apartamento, mas em uma clínica


onde ele não deveria estar.

— Isso acaba hoje mesmo. Eu não vou visitar a minha mulher

às escondidas, como se fosse um criminoso.

— Não vá arrumar problemas, querido. Não quero nem pensar


na ideia de ficar sem você novamente — revelo meu temor quando
ele chuta a bermuda e a cueca para longe. Bruno me pega nos
braços e me leva para a cama de solteiro.

Ao deitar-me de costas sobre a cama, deixa o rosto bem


colado ao meu e, olhando-me nos olhos, promete.

— Não vai acontecer, esqueceu que eu sou o seu advogado


fodão?

— Fodão, parece o Superman — elogio.

— O que veste a cueca por cima das calças? — debocha com


o corpo pairando sobre o meu, e a boca chupando a veia do meu

pescoço.

No toque, ele faz a pressão necessária para deixar a pele

marcada. Eu não digo nada e deixo que faça como tem vontade,
pois entendo muito bem o que sentiu com a separação forçada.

Bruno tem a necessidade de deixar a sua marca, não o julgo,

porque desejo fazer o mesmo para que o mundo saiba que sou sua
mulher.

— Você é muito mais sexy — garanto ao senti-lo se arrastando

pelo meu corpo até ficar com o rosto na minha boceta, coberta pela

calcinha bege e sem graça. — Perdoe-me não poder dizer o mesmo


da minha calcinha.
— Você não está menos gostosa do que estaria se estivesse

com uma daquelas minúsculas que parece usar com o intuito de


levar-me à loucura. Além do mais, o que importa é o presente que

tem dentro do embrulho, a minha bocetinha, que deve estar

esfumaçando de tanto tesão acumulado.

— Os sonhos foram um alento e um tormento. Eles me


lembravam de como somos bons juntos, mas depois do alívio raso,

a saudade vinha com mais força — lamento-me, levantando o

bumbum do colchão para que ele retire a única peça que restava.

— Meu pobre amor. — Beija o osso do meu quadril e promete:

— Eu vou cuidar de você, de todas as formas que você precisar. A

partir de agora, vou me encarregar de curar a carência que a dor do

afastamento deixou no seu corpo.

— É tudo o que preciso — confesso.

Bruno volta a se arrastar, dessa vez para cima. Quando

abocanha os meus lábios, ele os beija com calma, degustando e

agindo como se fosse o nosso primeiro beijo.

— Ângela Albuquerque. — Depois de um tempo, Bruno me

olha nos olhos e se assegura de que tem a minha inteira atenção. —

Eu amo você. Esses foram os piores dias da minha vida. Nem


quando estive sobre aquela cama e descobri que estava cego me

senti tão mal.

— Não me deixe, nunca — suplico, sentindo a necessidade de

ouvir da sua boca.

— Jamais, meu pequeno anjo — promete, levando a mão

esquerda ao meu sexo e, superficialmente, verificando se estou

suficientemente preparada para recebê-lo. — Não chore novamente,

sei que está com vontade só de ver o biquinho que está fazendo
agora.

— Não vou chorar — asseguro, porque sua fala arranca

sorrisos ao invés de lágrimas.

Malditos hormônios!

Eu nunca fui tão sensível, mas hoje não fiz outra coisa além de

me desmanchar em lágrimas.

— Quero amar você todinha — assevera, levantando o quadril

o suficiente para encaixar a ponta do sexo na minha entrada e, aos


poucos, vai me invadindo sem desviar o olhar do meu rosto. — Tão

apertada... Porra, amor! Foram apenas três semanas. — Todo

dentro de mim, ele começa a se mover vagarosamente, num


gostoso vai e vem.
— Parece que foram anos — reclamo, sentindo minha pele

arrepiar-se quando segura meu seio com possessividade e o beijo


no bico rijo me deixa ainda mais excitada.

— Você está protegida? — Depois de vários minutos, quando

os movimentos de entrar e sair já estão mais frenéticos, e os nossos

corpos mais suados, ele lembra de perguntar.

— Estou... — minto, se estiver grávida não tem razão para se

preocupar. Se não estiver, essa será a chance de tornar a fantasia

realidade. — Deus, Bruno...

— Eu sei, bebê, eu também estou prestes a explodir. —


Penetra-me com mais força e rapidez. Quando passa a estimular o

clitóris, gozo e o carrego junto comigo. Bruno despeja o seu sêmen

quente e viscoso dentro de mim.

Úmido e ofegante, o meu homem se deita ao meu lado.

— Jamais esquecerei da primeira vez em que vi a minha

mulher com o rosto contorcido de prazer. A visão mais bela do

mundo somente para os meus olhos.

— Se você quiser, nós temos o dia todo de mais visões como

essa — insinuo, deitando a cabeça sobre o peito liso e suado.


— O dia todo? — questiona, animado ao levantar seu queixo e

analisar meu rosto.

— Para todos os efeitos, terminei as atividades do dia e estou

tendo a minha tarde de descanso na privacidade do meu chalé —


digo, descendo a mão pelo abdômen firme. Agarro o seu pau, que

ameaça voltar a vida entre os meus dedos.

— De novo? — surpreende-se com a minha disposição.

— Eu disse que estava com saudade — justifico-me,


mortificada de vergonha.

— Você está corando como uma virgem — fala encantado,

observando cada pequena nuance das minhas expressões. Para

mim está sendo um prazer ser o alvo do seu deslumbre com cada
nova descoberta. — Mas é a minha garota safada e insaciável.

— Se você não quiser...

— Tudo o que eu quero é passar o dia inteiro dentro de você,

amor. — Se apressa em falar e agir ao trazer meu corpo para cima


do seu e pedir. — Sou todo seu, me leve para dentro de você. Tome

tudo que tiver vontade.


CAPÍTULO 46

BRUNO

Como um perfeito anjo, a expressão serena no rosto e a


pequena mão sobre o meu peito, a minha menina dorme. Eu já nem

sei há quanto tempo estou assim, velando o seu sono. Ela é tão
pequena e delicada que aparenta ter menos idade do que na
verdade tem.

Ela só é diabinha na cama mesmo, chego à conclusão agora

que, além de sentir, pude enxergar todas as suas nuances e


camadas que até pouco tempo estavam escondidas de mim. Sua

força e ousadia só é dada a quem a conhece bem. É

completamente diferente do furacão que imaginei que fosse quando


nos conhecemos.

Se foi moldada para ser assim, ou se a Ângela vivaz e ousada


de dois anos atrás era apenas uma tentativa de ser a pessoa que

não é, ainda não sei, mas não descansarei até desvendar cada um

dos seus segredos. A única certeza que tenho é a de que ela ainda
não se revelou por completo. De tudo o que sofreu desde a infância,

e vem sofrendo até agora, tenho a impressão de que a família está


diretamente envolvida.

A mãe não titubeou em mentir ao dizer que ela tinha decidido

viajar no dia da minha cirurgia. O pai entregou a carta para um

funcionário, e não teve a capacidade de entrar para dar uma


explicação para a pessoa mais próxima da garota. Eles colocaram o

cara que está diretamente envolvido em um quase assassinato

perto da filha.

— Meu amor, quero tanto cuidar de você — falo baixinho,

fazendo carinho na pele alva e macia do seu rosto. Ela está muito

cansada, depois de termos transado como se o amanhã não fosse


existir.

Ângela está mais fogosa do que costuma ser, e isso nem é

uma reclamação. Por mim ela pode continuar assim, e se


morrermos de tanto foder, morrerei sorrindo.

— Se deixar, te farei tão feliz que não haverá espaço para

crises, apenas para o nosso amor. Eu, você e a família que nós

iremos construir — prometo.


Quando ela se ajeita, se deitando de costas, o meu olhar cai
direto na barriga plana. Enquanto a aliso com carinho e cuidado

para não a acordar, uma ideia começa a se formar na minha mente.

Algo definitivo, mas que me deixaria mais seguro de que não seria

tão fácil nos separar, caso tentassem.

É óbvio que é um plano idiota, e certamente não irá para


frente. Ângela passa por uma fase muito complicada e não sei até

que ponto a responsabilidade de carregar um filho no ventre poderia

ser boa para ela.

Esse sou eu tentando ser responsável, mas um sorriso se

forma no meu rosto, o coração aquece, e o desejo surge só de

imaginar a minha mulher com a barriguinha cheia, carregando no


ventre o nosso bebê.

— Bruno! — Ângela grita, sentando-se de repente e fazendo

com que eu quase caia da cama pelo susto que tomo. Assustada,

ela olha de um lado para o outro, e quando se depara comigo ao


seu lado, no mesmo lugar onde estava quando caiu no sono, seu

corpo imediatamente relaxa, e um tímido sorriso se abre.

— Deite-se aqui, amor — chamo, Ângela volta para os meus

braços. Ela deita a cabeça na curva do meu pescoço e seu corpo


relaxa.

— Já anoiteceu? — indaga. Está tímida porque perdeu a

noção do tempo, depois de ter passado o dia transando.

— Está quase. Você não sente fome? — pergunto preocupado,


só agora me lembrando que nós dois estamos sem almoçar. —

Estou preocupado, não quero que a minha garota se alimente só de


sexo.

— Estou com muita fome — confessa. — Vou me vestir e


buscar algo para nós dois comermos na cozinha da sede — avisa

ao pular da cama e me dar o prazer de vê-la se vestindo.

— Vai sair sem calcinha? — questiono, sentindo-me ciumento

e possessivo. Para falar a verdade, sempre me senti assim, mas


agora, podendo enxergar, os sentimentos elevaram-se à máxima

potência.

— Para que colocar calcinha se vai tirar novamente? — A

garota safada lança uma piscadela e, antes de sair, se aproxima e


me beija.

**
Ângela volta com uma bandeja farta. Entre alimentarmos um

ao outro e não pararmos de namorar nem mesmo enquanto


fazemos a nossa refeição, Ângela e eu ainda ficamos um tempo em

silêncio, eu sentado sobre o sofá único de dois lugares, ela nas


minhas pernas, com cabeça deitada no espaço entre o meu

pescoço e ombro.

Quando o silêncio dá lugar à fala, entendemos que chegou a

hora de conversarmos sobre tudo o que ainda precisa ser


esclarecido.

Ângela revela como era a sua infância, ri saudosa da criança


que um dia foi, da menina que só queria ser livre para ser ela
mesma. Fala do dia em que uma fatalidade levou seu irmão gêmeo.

De tudo o que diz, fica muito claro que os pais dela são os principais
culpados das crises terem começado quando a garota ainda nem

tinha a capacidade de compreender as coisas mais básicas da vida.

Colocaram sobre os seus ombros frágeis a responsabilidade

de uma morte, sem ter a menor responsabilidade emocional com os


sentimentos da própria filha. O mais triste a respeito da forma como

a Ângela vive é perceber que a fizeram acreditar que é a culpada


pela morte do irmão, pela saúde do pai e por tudo de ruim que
acontece com a família.

Eles deveriam apoiá-la, porra! É o que tenho vontade de gritar


a cada nova informação.

Ao invés de darem carinho e amor quando as crises


começaram, a maior preocupação deles foi manter as aparências de
família perfeita, assegurar que estivesse bem apenas o suficiente

para não os envergonhar perante as câmeras.

Depois de tudo, chego à conclusão de que Ângela foi moldada


para ser a herdeira perfeita para o mundo, mas estava quebrada.
Deixaram que a situação chegasse longe demais.

Minha namorada explica que precisa que algo desencadeie


crises mais sérias, e quando se recusa a revelar o que houve dessa

vez, presumo que algo muito grave e traumático aconteceu.

— Estou preocupado, querida. — Levanto o seu rosto e vejo

quando uma lágrima escorre. — Fale para mim, o que fizeram com
você?

— Não quero que se meta em problemas por minha causa —


revela seu medo.
— Prometo que não vou, só quero cuidar de você, mas tem
que falar comigo.

— Eu lembro que estava tendo um pesadelo, quando acordei...


— Não consegue prosseguir, pois chora copiosamente. Ela se

levanta do meu colo e se afasta. É como se não suportasse ser


tocada. — Ele estava em cima de mim, passando a mão no meu
corpo.

— Eu vou acabar com a vida daquele desgraçado! — A fúria

me toma por completo e, sem pensar, viro as costas e saio do chalé.

Na minha mente, tudo o que restou foi a imagem do filho da

puta com as mãos imundas em cima da minha mulher, abusando


dela quando não conseguia se defender. Só penso em caçá-lo no

inferno se preciso for. Estou prestes a fazer isso, mas o som de um

choro sofrido invade a minha mente. Neste momento, a raiva dá

lugar à dor e as minhas pernas não parecem rápidas o suficiente


para chegarem até o meu anjo.

Encontro-a sentada no chão, toda encolhida, enquanto tem a

cabeça deitada sobre o assento do sofá. Está chorando muito, um


choro sofrido que tem o poder de destruir o meu coração.
Sem dizer uma palavra, sento-me do seu lado e, com as

costas apoiadas no sofá, trago o corpo para cima do meu. Por um


tempo, apenas a abraço apertado, deixo que as suas lágrimas

aliviem a dor que está sentindo.

— Ele... — Tento fazer a pergunta mais difícil, mas parece

impossível quando a minha garganta se fecha.

— Não fez nada. Mesmo em choque, usei as poucas forças

que me restavam e lutei, pedi socorro.

— Você é uma lutadora, amor. — Levanto seu rosto do meu

ombro e, ao assegurar que me ouve bem, continuo. — Não percebe,


mas você é a pessoa mais forte que conheço, e isso me enche de

orgulho. — Beijo os olhos e o rosto úmido, pensando que não irei

descansar até ver o infeliz atrás das grades, pagando por todos os
seus crimes.

— Não sou forte. Lembrar do que aconteceu faz com que eu

me sinta suja — lamenta, e o corpo está tenso.

— Não diga isso, amor — peço, descendo novamente o zíper


do vestido. — Eu vou tocar em cada pedacinho do seu corpo, até

que se esqueça que outras mãos além das minhas te tocaram. —

Quando levanta os braços, termino de tirar o vestido. — Vou te


chupar todinha, você quer? — Insinuo-me, querendo distrair a sua

mente de um assunto que só traz sentimentos ruins.

— Você gosta de morder, não é mesmo? — Ainda tem a voz

embargada por causa das lágrimas, mas não chora mais.

— Sim, gosto de pensar que estou te marcando como minha

— explico, olhando para o pescoço que tem uma mancha

avermelhada. Olhá-la faz com que eu me sinta subitamente mais

excitado. Não sei se chegou a ver a marca, se viu preferiu não


comentar.

— Possessivo.

— Sempre. — Ao deixá-la mais bem acomodada sobre as

minhas pernas, pego seus seios. Brinco com um, e quando levo o
gêmeo à boca, ela tem um leve sobressalto.

— Dói?

— Um pouco. Está sensível.

— Temos que ver isso, amor. Não quero te machucar de


maneira nenhuma.

— Só vai machucar se ficar longe de mim — afirma,

levantando a bunda das minhas pernas, descendo a frente da minha


cueca e levando a cabeça robusta até a boceta.

Aos poucos, desce no meu pau até ficar completamente


empalada e cheia de mim.

— Não vai mais acontecer. — Tenho dificuldade de falar

quando a safada passa a rebolar. O tesão está me consumindo —

Lembrei de algo. — Sigo o papo na tentativa de distrair-me e não


acabar gozando tão rápido.

— Depois, Bruno. — Ela acelera e... Porra! Eu vou explodir.

— Você prometeu que me deixaria comer seu o cu e, como

pode ver, cumpri a minha parte do trato.

O plano tem o efeito contrário, porque a surpresa faz com que


ela se sente de uma vez, e eu acabo gozando como um louco.
CAPÍTULO 47

ÂNGELA

Acordar sobressaltada todos os dias não é legal, ainda mais se


o fato tiver relação com o medo de ter somente sonhado com tudo o

que vivi nas últimas vinte e quatro horas. Foram horas intensas,
onde pouco se falou e muito se sentiu. Bruno e eu estávamos mais
concentrados em permitir que os nossos corpos nos dessem a

recompensa por tamanho sofrimento, depois de tantos dias sem nos


tocarmos.

Foi uma quantidade de sexo considerável, e a minha boceta

ardida, em conjunto com as marcas que estrategicamente deixou

pelo meu corpo, são a prova do dia e madrugada intensos. Na


verdade, o Bruno está mais intenso. O Bruno carinhoso e

apaixonado tem o meu coração, mas o intenso, que perde o controle


fácil na cama, essa é a sua melhor versão, a que é dona do meu

corpo e quem guia as minhas vontades.


— Bom dia, minha gata insaciável. — A voz dele me alcança.

Da cozinha compacta, mas bem equipada, meu namorado maneja


alguns utensílios. — Você parecia um pouco inquieta durante a

noite, será que abusei muito do seu corpinho gostoso? — A pouca

distância, vejo-o piscar com malícia.

— Não o suficiente — confesso. De repente, me pareço com


uma ninfomaníaca. Só penso em sexo, nunca parece ser o

suficiente. Deve ser pelo medo de que alguém entre aqui e me tire

dele.

— Nem pense nisso. Sem sexo para você até que a bocetinha

esteja sarada do intenso uso de ontem. O meu pau está em carne

viva, minha diabinha safada.

— O que está fazendo. — Levanto-me com o cobertor fino

enrolado no corpo, e pela pequena divisória que separa o espaço da

sala e cozinha, espio.

— O café da manhã para a minha mulherzinha. Então, não

estrague os meus planos de café da manhã na cama. — Pisca para

mim, se antes eu estava perdida, agora estou muito mais.

Para falar a verdade, nem sei como vou controlar o meu ciúme

e insegurança, agora que o interesse e fascínio que desperta nas


mulheres será dobrado.

— Que cara é essa, amor, ficou séria de repente?

— Não é nada — falo, sem, contudo, conseguir encará-lo.

— Ângela Albuquerque, o que foi que nós dois conversamos


sobre mentir e esconder coisas um do outro? Da última vez que

escondeu coisas importantes passamos semanas separados. —

Lembra-me, chateado.

— Estava pensando em como será difícil lidar com o meu

ciúme — revelo, envergonhada das minhas fraquezas, pois eu e ele

sabemos exatamente de onde vem a insegurança, transformada em


ciúme. — Eu sonhei tanto com o dia em que você estaria assim,

todo lindo, vendo como pareço um espantalho ao acordar, que

agora sou egoísta o suficiente de pensar que terei concorrência. Já

acontecia antes, agora então...

— Você não é egoísta, amor. É apenas humana, e quanto a

sentir ciúme, nós dois teremos de trabalhar essa questão. — Bruno

para de mexer na comida para dar atenção a mim. — Tentei

parecer civilizado para os elogios nada respeitosos de alguns caras

a respeito da sua beleza física, e isso vem de muitos anos. Sempre

soube que você era linda, meu anjo, fizeram-me saber disso muito
antes de nos conhecermos. Depois pude sentir que falavam a

verdade com as mãos, mas hoje tenho ganas de trancá-la dentro do


nosso quarto, longe de qualquer um, homem ou mulher, que possa

desejá-la como eu desejo.

— Somos doentes, Bruno. — Constato tristemente, pois entre

nós dois só existe uma pessoa doente, e certamente não é ele.

— Doentes de amor — descontrai. — Vem aqui, deixa o teu

homem te dar um beijo de bom dia. Como estou especialmente


bonzinho hoje, você pode até escolher onde será o beijo.

Ele ameaça se aproximar e, sorrindo, saio correndo para o


banheiro. Não tem nem chance de eu permitir que ele me beije,

antes de escovar os dentes e limpar as remelas brilhosas do canto


dos meus olhos.

Depois de fazer a minha higiene e me vestir com uma


minissaia jeans e uma blusa preta de alças finas, parto para onde
ele está. Não é surpresa ver a bandeja cheia de comida sobre a

cama. Ele está muito gostoso, vestido com a mesma roupa que
chegou ontem.

— Espero que goste, senhorita gostosa. Fiz o que pude com


as poucas opções que tinha em uma cozinha que você obviamente
não usa. — Revela, sendo modesto, pois na minha frente vejo

comida gostosas para umas quatro pessoas. Como de tudo, mas


viro a cara para o pão de queijo. Não é de hoje que o cheiro vem

embrulhando o meu estômago.

— Algum problema, amor? — Bruno pergunta, alarmado. —

Você parece um pouco verde.

— Os pães, tira eles de perto de mim — peço quando o cheiro

impregna no meu nariz.

— Tudo bem, pães fora. — Ele leva tudo para a pia.

— Ângela, o que aconteceu? Você sempre adorou esses pães.


— Volta a se sentar na minha frente aos pés da cama e questiona,

cheio de razão.

— Enjoo, acho que enjoei, e não suporto sentir nem o cheiro.


— Assim que falo, meu namorado, branco como um papel, se
levanta num pulo e indaga:

— Você está grávida, amor?

Homens! Um simples enjoo e eles já estão como loucos


pensando em gravidez. Outra hipótese não existe, tem que ser
gravidez.
Isso é o que eles fazem, o que não muda o fato de ele ter
pensado certo, pois, ao contrário dele, não estou me baseando em
um único sinal para suspeitar.

— Não sei — digo, sem ter outra explicação para dar.

— Meu Deus, eu judiei tanto de você ontem à noite. — Agora


ele está andando de um lado para o outro, passando a mão pelos
cabelos. — Será que não fiz mal ao nosso bebê?

Ok. Ele está passando dos limites e eu preciso acabar com

isso. Já basta que um de nós esteja fantasiando com algo que pode
nem ser real, apenas um desejo meu e, pela reação, dele também.

— Bruno, se acalme. Vem aqui, por favor — chamo e, batendo

no colchão, espero que ele se aproxime. — Pode não ser gravidez,


então não crie expectativas.

— Eu já estou criando — confessa, os olhos vão direto para a


minha barriga plana.

— Amor, olha bem para onde nós estamos, onde eu estou.


Não era para você estar tão animado com a possibilidade — aviso,

não sabendo definir meus sentimentos. Talvez seja um misto de


tristeza pela situação, e a emoção de ver como ele ficou contente

com a ideia.
— Desculpa.

Merda! Agora eu o fiz sentir culpado por uma reação que eu

mesma tive.

Você é péssima, Ângela Albuquerque.

— Só pensei em um mini anjinho, ou anjinha crescendo na sua


barriga.

— Eu também me senti assim, querido — consolo, com a

intenção de consertar o mal-estar que criei. — Na hora que a


doutora perguntou pela minha menstruação, só pensei em como

seria estar grávida, fiquei tão feliz com a possibilidade. Nada me

faria tão bem em um momento como esse do que ter um filho seu —
afirmo e, ao levar as mãos para o meu ventre com um sorriso no

rosto, ele acompanha o meu movimento com o olhar.

Quando devolvo com o mesmo sorriso esperançoso, Bruno se

agiganta para cima de mim e me puxa para cima das suas pernas.
Por um tempo, me abraça com ternura, com um carinho que não

tem nada de carnal.

— Ângela. — Assim que a sua cabeça desgruda do meu

pescoço, ele me encara de perto e pergunta: — A sua menstruação


está atrasada? — Aparentemente, ele não ouviu nada do eu disse e
está mais do que contente com a ideia de ter um filho ou filha, não

importa em que circunstância aconteça.

— Uma semana, mas vamos esperar até que eu possa fazer o

exame para confirmar — peço, imaginando que seja a coisa certa a

se fazer no momento.

— Tudo bem, amor — diz, beijando-me com carinho. — Se


cuida.

— Pode deixar, não vou fazer nada que possa ser prejudicial

ao nosso possível bebê — prometo.

— Não quer me dar um beijo? Tenho de ir embora daqui a


pouco — avisa, e meu ânimo de um segundo atrás cai

drasticamente.

— Não vá, Bruno. Por favor. — Não me importo de implorar ao

abraçar com força o seu pescoço. — Não me deixe aqui.

— Ei, olhe para mim, princesa. — Com gentileza, meu amor

afasta o meu rosto, e olhando dentro dos meus olhos, indaga: —

Você confia em mim? — Em resposta, eu aceno com a cabeça.

— Então acredite quando digo que não vou te deixar sozinha.


Prometo que virei todos os dias te ver.
— Você jura, Bruno? — Devo me parecer com um bebê chorão

e mimado, mas não tenho vergonha de demonstrar as minhas

fraquezas, pautadas pelo medo de ter tido uma dose de felicidade


plena, para em seguida ser novamente jogada em um mundo de

medo e incertezas. — Promete?

— Prometo pelo nosso pequeno, que eu tenho certeza de que

cresce aqui no seu ventre. Tudo o que mais quero é passar o dia

inteiro cuidando e amando você.

— Você não pode ficar entrando escondido, amor — assevero,

lembrando que estamos fazendo planos sem levarmos em

consideração que as visitas são proibidas.

— Não vou. Hoje darei um jeito de resolver isso. — Ele parece


convicto, enquanto acaricia as minhas costas.

— O que pretende fazer? — Preocupo-me com um confronto

entre ele e os meus pais, que podem tornar as suas visitas


impossíveis.

— Não se preocupe, meu anjo. Vou garantir que ninguém me

impeça de visitar a minha mulher quantas vezes forem necessárias

— afirma. — E você, trate de fazer direitinho o seu tratamento para


voltar logo para casa — recomenda, lembrando o que tem sido o

meu maior desejo.

— Agora tenho motivos em dobro para querer ficar bem —

revelo. Fitamo-nos cúmplices, os dois convictos da minha gestação.

— Agora eu quero que você me beije, meu amor, faça isso até

que o seu gosto fique marcado nos meus lábios.

Eu faço, sem que ele precise pedir outra vez. Por incontáveis
minutos, ficamos tão juntos quanto possível. O momento da

despedida é particularmente difícil. Entre estar feliz pelas últimas

horas, também fica o medo pelo que está por vir. Sinto que o
momento das grandes escolhas se aproxima, e espero ter a

sabedoria de agir da melhor forma possível.


CAPÍTULO 48

BRUNO

— Você precisa pensar bem no que fazer, meu amigo. —


Erick, sentado em uma cadeira na minha sala, que se parece muito

com o que a minha mente imaginou esses anos todos, está fazendo
o que costumava ser o meu papel até pouco tempo. Está me
aconselhando a não agir sem pensar, apesar de ser a minha

vontade. — Não torne essa situação ainda mais difícil do que está
sendo.

— E o que você sugere, meu caro? Que eu fique de braços

cruzados, ou que fique visitando a minha namorada escondido como

um criminoso? — indago, irritado, vendo o dia chegar ao fim e nada


da situação se resolver.

Não posso falhar na minha promessa de visitá-la todos os dias,


mas ainda estou aqui, ouvindo conselhos.

— Eu não falei isso, Bruno, mas você tem de pensar muito


bem no que dizer para os Albuquerque. Não sabe ao certo o que
eles pensam a respeito do namoro da filha com você.

— Desde quando você é esse poço de sensatez? — provoco,

apenas para não admitir que ele está certo quanto aos Albuquerque.
Eu realmente não tenho a menor ideia de como irão me receber.

Não sei o que pensam do namoro da filha comigo, considerando

que ela nunca falou muito a respeito dos dois.

Mas sei que eles têm o controle de tudo o que diz respeito à

filha e, de uma forma ou de outra, preciso inteirar-me em que pé

está o tratamento. Saber quanto tempo ela terá que permanecer


naquele lugar. Sobretudo, preciso de permissão para visitá-la. Não

podem me impedir de vê-la, afinal, estamos falando da minha

mulher e, provavelmente, mãe do meu filho.

— Admita, Bruno, você sabe que eu tenho razão.

— Você tem razão, Erick, mas admitir isso não resolve nada.

Eu disse para a minha garota que amanhã irei visitá-la, e vou visitá-
la. Garanto que não será pela porta dos fundos.

— Tudo bem, vou com você à casa deles — sugere. Eu o olho

com estranheza, Erick prossegue: — Só para assegurar que não irá

meter os pés pelas mãos.


— Está bem, mas nós temos de fazer isso agora — aviso. —
Amanhã pela manhã, de uma forma ou de outra, estarei com a

Ângela, mas prefiro que não seja escondido, como se o fato de

querer ver a minha mulher fosse um crime.

— Tudo bem, espera um momento — pede ao se levantar e

rumar para a porta do requintado escritório. — Só vou ligar em casa


e avisar para a pequena.

— Como ela está com essa situação? — pergunto, mas

imagino que deve ser difícil não poder visitar a amiga.

Descobri que as coisas são mais graves do que imaginei,


porque além de não permitir visitas, os Albuquerque interceptaram o

celular da filha. Deixando-a sem qualquer contato com o mundo fora

das paredes da maldita fazenda.

Indignado com o absurdo da situação, me pergunto que tipo de

tratamento é esse que mantém a pessoa longe do mundo, de todas

as pessoas que a amam. Pessoas que poderiam dar parte do apoio


necessário, a força para que se recupere mais rápido.

Ao me revelar aspectos do seu passado e as condições em

que viveu por todo esse tempo, Ângela fez de tudo para tirar a

responsabilidade dos pais de uma culpa que nem mesmo cheguei a


suspeitar, ela age como se merecesse sofrer por uma fatalidade e

imprudência de duas crianças.

— Muito mal. Marina e Ângela são muito unidas, e estar tanto

tempo sem ver ou falar com a chatinha tem deixado ela triste, às
vezes nem consegue dormir — revela, chateado.

— Não se preocupe, meu amigo. Eu vou resolver essa


situação, e logo as duas estarão juntas novamente — afirmo, Erick

ensaia o rastro de um sorriso. Ele sabe que, salvo as devidas


proporções, estamos no mesmo barco, loucos de paixão por duas
mulheres que são muito amigas. Quando uma está com problema, a

outra é afetada.

— Eu só quero a minha mulher de volta, então trate de fazer


tudo do jeito certo — pede ao abrir a porta. Antes de ele sair,

alfineto:

— Erick?

— Fale, Bruno.

— Você é ainda mais feio do que eu imaginava.

***
— Só um segundo, eles estão descendo. — A senhora

rechonchuda nos fita com curiosidade, como se fôssemos dois


atores de Hollywood. Ela não esperava por esse encontro. O fato é

estranho, pois foi ela quem me recebeu e levou até o quarto da


Ângela quando vim resgatá-la na noite em que tivemos o nosso

primeiro desentendimento.

Tudo bem que eu mudei um pouco com a adoção da barba,

que não pretendo tirar tão cedo, já que a minha mulher gostou
muito, mas não são motivos suficientes para não saber quem sou.

— O namorado da Ângela, lembra? — Não resisto e acabo


perguntando.

— Eu sei que é um título do qual você se orgulha muito, meu


caro, mas acho que ela sabe disso, não é, querida? — Bem

acomodado sobre o luxuoso sofá da mansão, meu amigo alfineta. —


Foi como você se apresentou quando ela abriu a porta. — Pisca
charmoso para a mulher.

Nem parece o mesmo Erick que aprendi a gostar quando


comecei a trabalhar no escritório. Vendo-o dessa forma, percebo

refletido em mim a minha própria mudança. Por motivos


completamente diferentes, já me vi como o Erick de antes da
Marina, e hoje me vejo como o Erick de agora, após conhecer e
vivenciar o amor pleno.

— O senhor parece diferente. — Sem qualquer


constrangimento, me analisa atentamente procurando o que pode

ter mudado além do óbvio.

— Não o olhe assim, querida. Ele vai ficar constrangido. —


Erick brinca, uma mudança acontece no seu rosto.

— O senhor consegue me ver?

— Sim, Lourdes — digo.

— Como o senhor sabe?

— A sua roupa. — Aponto para o broche pequeno fixo no


uniforme, que tem o seu nome escrito.

— O senhor está muito bonito, muito mais do que antes —


elogia. — Se a minha menina...

— Se a sua menina? — Incentivo que continue falando.

— Se ela estivesse aqui estaria muito contente. Não falava em


outra coisa que não fosse no namorado. Ela gosta muito do senhor.
— A mulher está triste agora.
— Sente falta dela? — indago, olhando dela para o Erick, que
permanece calado. Assim como eu, ele não pode separar o homem
do advogado e está analisando tudo o que é falado à procura de

sinais e respostas, caso exista algo para ser descoberto.

Agora, por exemplo, tanto ele quanto eu tentamos saber qual a


relação da governanta com a jovem patroa. Se, além dos pais, ela
tem alguém com quem contar dentro de casa.

— O senhor não imagina o quanto — revela, e parece sincera.

— Mesmo a menina sendo calada e muito quietinha, é sempre muito

carinhosa comigo e com todos os funcionários aqui da mansão.

Todos a têm em grande estima, sentimos falta dela — revela.

— Ela logo estará aqui, tenha certeza disso — prometo, sem

ter muita certeza, pois não importa como, ou o que eu tenha de

enfrentar, garantirei que minha mulher viva no lugar onde possa ser

feliz. Se não for aqui, ela não voltará.

— Senhores, boa noite. — Ao ouvir a voz masculina, Erick e

eu colocamo-nos em pé para cumprimentarmos os donos da casa.

Um casal de boa aparência, e até mesmo jovem para a idade que


eles têm. — Erick Estevan e Bruno Pires. — Ele aperta as nossas

mãos e prossegue. — É uma honra ter os maiores nomes da


advocacia do país aqui. Só estou curioso para saber o que os

trouxe. — O homem age como se não soubesse que sou o


namorado de sua filha, como se não fosse de conhecimento geral

que Erick é marido da melhor amiga da garota.

— Bom, imagino que os senhores saibam que Ângela e eu

temos somos namorados.

— É claro que sim. — Se atém a dizer, e a minha querida

sogra permanece em silêncio, agarrada ao braço do marido. Ela não

parece feliz.

— Viemos falar sobre a sua filha — revelo, vendo a senhora


Mara ficar tensa. Tarcísio Albuquerque está tranquilo, apesar da

visível surpresa com a visita inesperada.

— Claro, mas antes me deixe felicitá-lo pela cirurgia e pronta


recuperação. — O homem é irritantemente formal, o que torna a

situação ainda mais estranha, levando-se em conta o tema da nossa

eminente conversa. — Sentem-se, fiquem à vontade. — Aponta

para o sofá, Erick e eu voltamos para o mesmo lugar de antes.


Sentados no estofado de dois lugares à nossa frente, percebo como

minha garota é diferente dos pais.


Apesar de não perceber, ela ainda guarda um pouco da

menina espevitada e bocuda que era antes da morte do irmão. Se

fosse como esses dois eu não teria me apaixonado, porque até o


olhar deles é de tédio.

— Algo sobre a minha filha? — É a mulher quem começa. Age

como se não existissem quaisquer motivos para a filha ser tema de

uma conversa entre nós quatro.

— Sim, a sua filha. A minha namorada, que não vejo há mais


de três semanas. A última notícia que tive dela foi através da

senhora, que disse para o meu irmão que ela decidiu viajar no dia

da minha cirurgia.

Digo, escondendo o jogo. Percebo quando Tarcísio encara a


esposa com surpresa. Parece que ele não faz parte da mentira

inventada pela mulher.

— Minha filha é assim mesmo, quando coloca uma coisa na


cabeça não tem quem a faça mudar de ideia. Quis viajar naquele

dia, e foi o que fez. — Mara mente com naturalidade, fato que me

irrita além do limite, então decido colocar fim à farsa.

— Até quando pretendiam esconder que a Ângela está


internada em uma clínica psiquiátrica?
CAPÍTULO 49

BRUNO

O silêncio sepulcral se estende por algum tempo, onde eu


espero por uma resposta que eles, principalmente a minha futura

sogra, aparentemente não têm. Não uma que fuja da verdade que
teimam em esconder.

— Vá com calma, meu jovem. — Tarcísio pede, quebrando o


silêncio. — Não foi a minha intenção esconder de você um assunto

tão sério como esse, e se permaneci em silêncio foi porque a minha


esposa garantiu que haviam conversado e você tinha entendido —

explica ao lançar um olhar exasperado para ela, que o retribuiu sem

aparentar culpa, ou constrangimento pela mentira.

Imagino que, de uma maneira muito equivocada, ela pensa

que está fazendo o melhor para a filha. Pelo menos é isso que
prefiro pensar para justificar decisões tão erradas.

— Eu agi com a intenção de proteger a minha filha, sou a mãe


e sei o que é melhor para ela — assevera, sem dar o braço a torcer.
— O melhor para ela não é ficar isolada do mundo, das

pessoas que a amam. — Encaro e, ao fitar o Erick, ele me fuzila


com o olhar. Deve estar percebendo que não adiantou muito vir

como meu guarda-costas. Não consigo agir de outra forma com

pessoas dissimuladas, que mentem com tamanha naturalidade.

— Quem é você para me dizer a forma como devo cuidar da


minha filha? — A mulher se irrita.

— Mara, por favor! — Tarcísio esbraveja.

— Eu sou o homem que ama a sua filha, o que a tirou dessa

casa quando estava sozinha e dopada de calmantes. Sou o homem

que hoje cedo ela recebeu com o sorriso no rosto e falou da


saudade que sente de mim e da amiga, que está há semanas sem

notícias. — Nessa hora, volto-me para o Erick, caso ainda reste

alguma dúvida de qual amiga me refiro.

— Está dizendo que entrou na clínica sem autorização?

— Exatamente isso — respondo a Tarcísio que tem a

expressão passível, não deixando transparecer o que sente. —

Passei o dia inteiro com ela ontem — revelo.

— Um bando de incompetentes.
— Eu diria que é o contrário, foi muito difícil conseguir colocar
meu amigo aqui lá dentro. — Erick se mete na conversa para se

gabar da sua proeza.

Quando eu não sabia mais o que fazer, ele confidenciou que

Russo devia um favor, e facilitar a minha entrada foi a maneira de

eles ficarem quites.

— Agem como criminosos, não como advogados. — Mara

alfineta, claramente a fim de briga, e quem sabe desviar o foco do

real motivo da conversa.

— Tudo bem, acho que posso conviver com isso — devolvo.

— Você não pode ficar invadindo a fazenda sem autorização,

meu jovem — o homem fala como se eu fosse um adolescente

fugindo de casa com a namoradinha.

— Não vou ficar, porque vocês dois vão liberar as visitas.


Permitirão que eu e Marina visitemos a sua filha.

— Isso não vai acontecer, Bruno. Ângela precisa de descanso,

de paz para se recuperar e voltar para casa bem.

— Tarcísio, o que a sua filha precisa é de apoio e carinho, das


pessoas que a amam por perto — falo de algo que ele deveria
saber. — Vocês chegaram a conversar com Ângela? Perguntaram

se quer ficar sozinha para se recuperar?

— Não.

— Eu sei do que a minha menina precisa.

Tenho duas respostas, e não preciso pensar a qual devo


responder.

— Fale com ela, seu Tarcísio. Converse com a sua filha e


pergunte o que ela quer, porque a Ângela que deixei mais cedo
estava feliz porque me viu — digo, percebendo que tocar no seu

lado mais sensível é a melhor tática, ele parece ser mais racional do
que a esposa e, consequentemente, mais disposto a ceder.

— Tudo bem, só um momento. Vou pegar o telefone — diz e


se levanta.

Felicito-me pela iminente vitória. Ao olhar para o Erick, vejo a


mesma expressão de contentamento, mas não posso dizer o

mesmo da minha sogra.

— Você não sabe o que está fazendo.

— Eu sei exatamente o que vi ontem, e te garanto que deixá-la


isolada não é a melhor forma de agir.
— É por fazer só o que quer que o irmão dela morreu, que o

pai está com a saúde debilitada. Minha filha precisa de direção.

— A sua filha precisa de amor, de não se sentir culpada por


uma tragédia da qual não teve qualquer responsabilidade. Era
apenas uma criança.

— O que você sabe dessa história para falar com tamanha


certeza? — Ela se levanta e, dessa vez, está verdadeiramente

irritada.

Como eu imaginava, a culpa que a minha menina pensa que

tem não é fruto das próprias convicções. A mãe, assim como faz
agora, parece fazer questão de lembrar a filha da trágica morte e, da

maneira mais cruel, joga sobre ela o peso da responsabilidade.

— Sei que a minha namorada está com o psicológico

completamente fodido, e só precisei de algumas frases suas para


entender o porquê.

— Está me acusando de fazer mal a minha própria filha? — A


mulher está horrorizada, o que evidencia que ninguém teve coragem

de ao menos insinuar o que está tão escancarado.

— Não tem problema interromper por alguns instantes a


consulta. — A fala do Tarcísio ao telefone me impede de dar a
resposta que a minha sogra não gostaria de ouvir.

— Eu preciso falar com a minha filha — avisa. — Tudo bem.

— Foram chamá-la. — Ele vem para perto de nós com o


telefone sem fio na mão. Enquanto aguardamos em silêncio, faço

uma prece para que a minha linda colabore e não tenha medo de
falar o que quer e o que sente.

Seja corajosa, meu amor. Preciso que você seja corajosa.

— Papai, boa noite. Já é noite, eu acho. — A sua voz é ouvida

através do aparelho, que foi colocado no alto-falante. — Aqui dentro


parece que é noite o tempo todo. — Ela dá uma risadinha,
mostrando que está feliz.

— Já é noite, meu amor. — Tarcísio a trata com carinho, e

mesmo que esteja ausente, demonstra amar muito a filha. — Você


parece bem, está feliz? — indaga, investigando a veracidade do que
eu disse instantes atrás.

— Muito feliz papai. Cheia de disposição, e ansiosa para voltar


para casa. Prometo que vou fazer tudo o que me mandarem — fala,

ele não esconde a satisfação pelo que ouve.

— Esteve com o seu namorado?


— Como o senhor sabe? — pergunta e, pelo tom de voz, a
pergunta a deixou alarmada e temerosa. — Não fique com raiva
dele pai, só estávamos com saudade.

— Eu pensei que estava agindo certo em proibir visitas que

não fossem minhas e de sua mãe, mas parece que não te conheço
bem, não é, meu amor? — De perto, vejo o grande Tarcísio
Albuquerque emocionado, sendo o pai, não o empresário.

— Eu amo o senhor. — Essa é a resposta da minha namorada.

A melhor que ela poderia dar.

— Eu te amo muito mais, minha princesa — devolve com a voz

embargada pela emoção. — Você quer as visitas?

— Sim, quero ver o meu namorado, a minha amiga Marina

com o principezinho, e até mesmo o chato do Erick. A Maya

também, sinto falta dela.

— Está bem, querida. Esse assunto está resolvido, você


poderá receber quem bem entender, mas faça tudo o que os

médicos disserem.

— Farei, seu Tarcísio. Vou ficar bem, e o senhor se orgulhará

de mim — afirma. Noto a sua necessidade de aceitação pelo pai.


— Eu já me orgulho. Faço qualquer coisa para te ver bem e

feliz.

— Que bom. Mande um beijo para a mamãe — pede,

evidenciando pela fala maior proximidade com o pai e falta de

intimidade com a mãe.

— Agora deixe-me falar com a Cíntia, ela está por perto?

— Está, sim. Boa noite, pai.

— Tenha um bom sono, querida.

— Tarcísio Albuquerque. — Depois de um minuto, a tal mulher

assume a ligação. — Deseja alguma coisa?

— Libere as visitas para o Bruno Pires, Marina e Erick Estevan

e Maya Souza. Deixe que eles passem um tempo com a minha filha.

— E o tratamento?

— Vai continuar normalmente. É para isso que eu pago uma


fortuna para vocês. Quanto ao resto, eu decido o que é melhor para

a Ângela.

— Está bem. — A mulher é esperta e não discute com Tarcísio

Albuquerque. — Era só isso?


— Sim. Boa noite.

A mulher corta a chamada, ele fica encarando o aparelho,

espantado com a ousadia dela.

— Tudo resolvido. Vocês podem ir vê-la — assevera. — Mas


tenham cuidado para não a distrair das atividades. Entendam que,

apesar de tudo, aquele lugar faz bem a ela.

— Não se preocupe, senhor. — Feliz, aproximo-me e o abraço.

— Sou o mais interessado na recuperação da minha mulher.

— Mulher? — Um coro com três vozes e expressões surpresas

me questiona.

— Minha namorada — corrijo para eles, porque Ângela é a

minha mulher, e não vai demorar para que seja esposa.

Todos estão assim por causa de uma palavra, imagina como

reagiriam se soubessem da nossa suspeita de gravidez.

— Tarcísio, poderíamos falar a sós? — peço. Precisamos

discutir a respeito do abusador desgraçado, e não pode ser na


frente do Erick. Não sei como ele reagiria.

— Claro, vamos ao escritório — chama. Mesmo estranhando a

minha atitude, Erick diz:


— Te espero no carro.

***

— Onde está o moleque que tentou abusar da Ângela? —

indago assim que nos acomodamos no espaçoso e bem equipado

escritório. Seu rosto tem a expressão de uma pessoa atormentada

pela culpa de ter deixado o maldito tão perto da filha. — Não pense
que ele vai se safar pela segunda vez.

— Eu não quero que isso aconteça. Mateus ficará preso até o

dia do julgamento. — Fico aliviado com a sua revelação. — Ele

tentou fugir, mas eu mesmo tratei de levá-lo à delegacia. Ângela foi


ouvida, e mesmo que tenha tentado insinuar que ela estava

fantasiando porque tem problemas mentais, o meu testemunho foi

suficiente — afirma, mas meu desejo é de ir até ele e garantir com


as minhas próprias mãos que nunca mais vai se aproximar da minha

namorada.

— Eu vou assumir esse caso — assevero.

— Meus advogados já estão agindo.

— Eu quero acompanhar de perto para ter certeza de que a

justiça será feita, que ele não tenha chances de tentar se aproximar

da Ângela.
— Faça como quiser. E se achar que deve, pode o acusar de

outro crime — afirma.

— Outro crime?

— Você vai entender. — Ao afastar minimamente a cadeira da


mesa, ele abre uma gaveta e tira de dentro um envelope grande e

marrom. — Abra — pede ao me entregar.

— Ele tentou me chantagear com essas fotos.

As fotos são minhas e da Ângela em uma situação bem


comprometedora no dia da premiação, quando estivemos prestes a

transar contra a árvore. Apesar de não termos transado, as imagens

fazem parecer o contrário. Nós fomos seguidos e as fotos foram

tiradas de uma distância boa o suficiente para que não fiquem


dúvidas de que somos nós.

— Pediu dinheiro?

— Sim, uma quantia exorbitante para deixar a cidade e o país.

Não se engane, pois eu teria cedido à chantagem sem pensar duas


vezes se as circunstâncias fossem outras.

— Não duvido disso. — Sei exatamente a imagem que Tarcísio

quer passar para a sociedade paulistana, e um escândalo como


esse não está incluído nos seus planos.

— Eu cederia porque tenho um nome a zelar e não gostaria de

ver minha filha estampando jornais e revistas por estar transando


em público.

— Não estávamos transando. — Tenho a necessidade de nos

defender.

— Não é o que parece nas imagens. Nesse caso, são elas que
contam.

— Você tem razão — digo, vendo como o meu sogro está

desconfortável com a situação.

— Ele só não conseguiu o que queria porque amo a minha


filha, e nada no mundo é mais precioso do que ela para mim.

Mesmo ainda correndo o risco de um escândalo, eu jamais deixaria

o homem que tentou estuprá-la solto.

— Acredita que as fotos ainda podem vazar?

— Não há como ter certeza. Mateus garantiu que não eram as

únicas cópias.

— Posso ficar com elas? — peço. — Serão úteis no processo.


— Pode levar e, por favor, meu jovem, seja mais discreto na
próxima vez. Não é nada agradável para um pai ver a filha nessa

situação.

— Pode deixar, seremos mais cuidadosos — digo, sem dar

garantia de que não haverá uma próxima vez.

— Obrigado por se preocupar com a minha filha. Saiba que só

fiz essa concessão porque tenho certeza de que você faz bem para

ela — declara.

— Não tem o que agradecer, senhor. Eu faço tudo com prazer,


porque a sua filha é o amor da minha vida. E no que depender de

mim ela viverá plenamente feliz. Eu mesmo me encarregarei disso.

Com um aperto de mãos, eu e o pai da minha namorada


chegamos a um entendimento. Ao sair da casa, levo comigo a

satisfação de ter conseguido o que queria.


CAPÍTULO 50

ÂNGELA

— Bom dia, Russo. — Ainda é bem cedo, mas já estou no


portão, ansiosa e aguardando a chegada do meu Bruno. Se é que

ele vem mesmo, pois apesar da ligação do meu pai ontem à noite,
ainda não tenho um celular comigo, então não posso ter certeza de
nada. O que resta é ficar no portão importunando o segurança a

cada dois minutos com perguntas que ele não saberá responder. —
O Bruno não ligou enquanto eu tomava café?

— Não, senhorita. O seu namorado não ligou durante os dois

minutos em que esteve no refeitório tomando café.

Ele está mesmo sendo irônico comigo?

Tudo bem que estou há mais de uma hora enchendo o saco,


mas é porque estou com tempo livre. Tentei comer alguma coisa,

mas meu estômago não aceitou. Se estou grávida, não faço ideia de

quando aconteceu.
Bruno e eu estávamos fazendo sexo como loucos. Era

estarmos no mesmo lugar que as roupas sumiam. Era a nossa


forma de lidar com a ansiedade.

Como nós nunca fomos adeptos ao uso do preservativo,

porque eu tomava anticoncepcionais, suspeito que tenha falhado em

algum momento e o nosso bebê foi concebido.

A expectativa está me matando, e tudo o que preciso no

momento é da minha amiga por perto. Marina já teria providenciado

um teste de farmácia.

— Tudo bem, Russo. — Essa é a quinta vez que uso a mesma

frase. — Se ele chegar, promete que vai imediatamente me avisar?

— E por que eu faria isso? Ele esteve aqui ontem e sabe

exatamente onde encontrar a senhorita — diz, percebo que estou

conseguindo a proeza de deixar o homem armário sem paciência.

— Você tem razão, mais uma vez — assevero, porque também

não é a primeira vez que ele me fala algo parecido.

Andando vagarosamente, vou para a área de descanso e

lazer, construída atrás dos chalés. Apesar dos vários outros jogos, o

que mais atrai a minha atenção no ambiente aberto e cercado por


árvores frutíferas são as redes de tecidos.
Para manter a individualidade de cada interno, e por questões
de higiene, elas são numeradas, cada uma montada na direção do

dono do chalé a que ela pertence.

Precisando relaxar e aproveitar que o lugar ainda está vazio,

deito-me em cima do pedaço de tecido macio e florido, esperando

que a brisa fria leve embora a ansiedade e relaxe a minha mente.

Com as duas mãos sobre a minha barriga, fecho os olhos e

deixo que o balanço da rede traga a paz que o momento pede.

— Acorde, menininha preguiçosa. — Uma voz invade o meu

sonho bom. Nele, o Bruno e eu estamos sozinhos e nus em uma


ilha deserta.

— Bruno... — Com um sorriso no rosto, vejo o meu homem

escrevendo os nossos nomes na areia. Logo depois, mais dois

nomes.

Caio e Sofia.

— Será que terei que acordar a princesinha com um beijo? —

A sua voz não parece mais distante, só quero que deixe a areia de

lado e faça o que está prometendo. — Abra os olhos, meu amor.


Lábios conhecidos tocam os meus e mãos fortes estão sobre

as minhas, que continuam protegendo a barriga. Quando começo a


sair do torpor, alegro-me por perceber que não se trata de um

sonho. O meu amor está aqui, de joelhos sobre a grama e me


beijando.

— Madruguei à sua espera — confesso.

— Não precisava ficar tão ansiosa, pequeno anjo. Eu disse

que viria, não disse?

— Disse, e você cumpre as suas promessas — digo, afagando

seu cabelo quando a cabeça repousa sobre o meu peito.

— E você, cumpre as suas promessas? — insinua, meu rosto

queima de vergonha quando lembro de ontem, quando ele cobrou


uma promessa feita no momento de pura explosão sexual.

— Não sei do que você está falando — brinco, pois não só


lembro como tenho convicção de que é impossível esquecer. Nos

momentos de saudades, não só relembrei cada momento que


passamos juntos como também fantasiei outros tantos.

— Quer que eu te lembre, chatinha? — provoca, encarando-


me de perto. — Eu sei que já cumpri com a minha parte do trato e,
como você pediu, fiz o que devia ser feito. Agora posso ver com
detalhes como é linda quando cora como uma virgem. Mas nós

sabemos que não poderia estar mais longe da verdade, não é


mesmo? Está até grávida. — Quando diz, meu namorado abaixa a

cabeça, levanta a blusa estilo bata e deixa um beijo sobre a minha


barriga.

— Ainda não sabemos, Bruno — digo, mesmo contrariada.


Queria estar comemorando e fazendo planos, mas temo uma

decepção.

— Nós temos que acabar com a dúvida, Ângela. Não aguento

mais esperar. — Ainda de joelhos na grama e o corpo curvado sobre


o meu, o ouço reclamar e penso que não posso amá-lo mais do que
faço agora.

Um homem como ele, lindo e bem sucedido, literalmente

ajoelhado aos meus pés. Cheio de ansiedade, almejando pela


concretização de algo que colocaria para correr nove entre dez
homens que estiveram na mesma situação. Correndo o risco de ter

engravidado a namorada, que é mais problemática do que a maioria


das mulheres.

— Hoje é apenas o segundo dia, querido. — Acaricio seu rosto


ao dizer.
— Parece que foi há um ano — reclama. — Não podemos dar
um jeito nisso? — indaga quando uma ideia cruza a minha mente.

— Bom, talvez eu tenha um plano. — Quando falo, Bruno se


levanta da grama e, ansioso, estende-me as mãos para me ajudar a

levantar da rede.

— Seja o que for, estou dentro. Só quero ter a confirmação de


que serei pai de um filho seu.

Caio e Sofia

Os nomes que apareceram no meu sonho vêm a minha mente


e, como ele, também tenho certeza.

— Marina tem permissão para entrar aqui?

— Tem. Ela e o marido, a Maya e o nosso pequeno João.

— Estou morrendo de saudades dele, amor — confesso.

— Eu sei que está. Ele também deve sentir falta da madrinha

coruja.

— Como você sabe que eu pedi para ver Maya? — questiono,


lembrando-me da ligação do meu pai, que me deixou tão feliz
quanto surpresa.
— Eu estive na sua casa. Fui falar com o seu pai e o convenci
a liberar as visitas — explica, como se não tivesse feito muita coisa.

— Já disse que te amo hoje? — Na ponta dos pés, e com os


braços em volta do seu pescoço, beijo várias vezes a boca viciante.

— Não disse, mas prefiro que faça quando estiver nua se


sentando no meu pau — provoca ao beijar o meu pescoço.

— Podemos providenciar isso agora, ou nos ocupar em

descobrir se você será pai. A escolha é sua, amor, o que quer fazer
nessa manhã fria?

— O teste — assevera sem pensar duas vezes.

— Tudo bem, vamos acabar com isso de uma vez. Está com o

seu celular? — Desfaço o nosso abraço e desço as mãos pelas


suas costas até alcançar o bolso traseiro e pegar o iPhone.

— Me lembre de providenciar um celular para você, diabinha.

— Pode deixar — falo, enquanto digito uma mensagem de

texto para Marina.

Assim que a mensagem é enviada, minha amiga visualiza e,

sem fazer qualquer pergunta, responde com um simples "OK".

— Tudo bem? — ele questiona.


— Mandei mensagem para a Marina. Ela vai providenciar o

teste de farmácia.

— Está falando sério?

— Estou, amor. Em breve saberemos se as nossas suspeitas

irão se confirmar.

Ficamos nos fitando em um misto de ansiedade e expectativa.


Nenhum dos dois ousa falar, mas, no fundo, sabemos que

dependendo do resultado do tal teste, as nossas vidas vão mudar

para sempre. AAAA


CAPÍTULO 51

BRUNO

Enquanto olho para o relógio redondo na parede, faço o


mesmo que ele e não paro de andar. De um lado para o outro, indo

e voltando, marcho e gasto o piso de textura amadeirada. Estou


nervoso, muito nervoso.

Do momento em que a minha Ângela falou dos rápidos, porém


eficazes, testes de farmácia se passaram mais de duas horas.

Sim, eu estou contando.

Marina veio com o teste, mas também trouxe o marido e o


filho. Ela não captou a mensagem, não percebeu o nível da nossa

ansiedade e decidiu que hoje seria um bom dia para conversar tudo

o que não tinha conversado com a amiga nas últimas semanas.

Para o meu desespero, ver a amiga fez com que a minha


garota não só se esquecesse do teste como também de mim. Erick,
o outro abandonado, não teve outra saída que não fosse pegar o

pequeno Estevan e juntos o levamos para conhecer a fazenda.

Como um bom casal açúcar, eles não têm o hábito de


esconder coisas um do outro, então Erick sabe das nossas

suspeitas, mas a sua reação foi estranha.

Ele não comentou nada e não deu nenhum conselho, como


gosta de fazer. Falou de qualquer assunto que não tivesse relação

com bebês. Compreendo se estiver preocupado com o fato de

Ângela e eu não sermos exemplos de pessoas normais.

Apesar da alegria com a expectativa de ser pai, tenho ciência

de que esse não é o melhor momento. Há muitas coisas para serem


acertadas e um tratamento em andamento.

O casal foi embora antes de o teste ser feito, mas Marina

implorou para que a amiga ligasse quando saísse o resultado.

— Está tudo bem aí, amor? Estou começando a ficar

preocupado — pergunto mais uma vez, questionando-me como não

invadi o banheiro ainda.

— Tudo bem — diz, depois sai do banheiro com cinco tirinhas

na mão. Ela chora copiosamente.


— O que foi, meu amor? — Analiso o seu corpo de cima a
baixo procurando respostas. — Está tudo bem?

Fazendo um biquinho muito fofo com a boca, igual quando

está carente, ela diz que sim.

— Os testes. — Ela apenas balança a cabeça em confirmação


e, ao se aproximar de onde estou, entrega as cinco tirinhas. Todas

elas têm duas marquinhas rosas em algum ponto.

— Isso quer dizer...

— Nós estamos grávidos, meu amor — fala entre sorrisos e

soluços, demonstrando estar muito feliz com a confirmação de algo


que nós dois estávamos desejando secretamente desde o momento

em que a suspeita surgiu.

— Eu sabia, eu sempre soube! — Sem aviso, a tomo nos

meus braços e, exultante de felicidade, giro-a no ar. Repito sem


parar o que gostaria de gritar para o mundo.

— Eu vou ser pai. Pai, porra! — Sinto-me poderoso, como se

fosse capaz de dominar o mundo, e essa é uma sensação para

jamais ser esquecida. O dia em que a minha família começa a ser

criada. Eu, a minha mulher, e o primeiro de tantos filhos quanto ela

desejar ter.
A mim não importa se dois ou cinco, vindo dela, sei que será

um presente perfeito, porque é o que Ângela Albuquerque


representa para mim, o meu presente perfeito.

— Sim, você vai ser pai, querido. Depois de cinco testes não
existe qualquer dúvida.

— Eu nunca duvidei — digo, colocando-a no chão, mas ainda


sem conseguir soltá-la. — Eu sabia.

— Como? — indaga mais calma.

— Sabia que depois de tudo nós dois merecíamos essa

recompensa que marcará uma nova fase nas nossas vidas, onde
não teremos batalhas tão árduas a pelejar.

— É tudo o que desejo, Bruno. Quero ser a mulher que você


merece — declara.

— Você é muito mais do que mereço. Sempre foi — declaro.

— Eu estou feliz, e ao mesmo tempo sinto tanto medo —


confessa.

— Não tenha medo, nós somos um time, lembra? Vou cuidar

de você e do nosso bebê. — Pego-a nos braços sem fazer o mínimo


esforço e a levo para a cama. Ajeito-a cuidadosamente sentada

contra os travesseiros. — Confortável?

— Vou ficar mal acostumada e insuportavelmente mimada —


avisa.

— Pode ficar, diabinha. Farei todas as suas vontades. Dele

também, para que nasça amando o pai.

— Bobo. — Ela bate a mão no colchão, chamando-me para o


seu lado. Sem que precise de um segundo convite, tiro somente o
tênis e aconchego-me ao seu lado.

Levanto a sua blusa até a altura dos seios, deixando a barriga


plana totalmente livre para o meu toque. Carinhosamente, faço

movimentos circulares de cima a baixo. Fico assim por muito tempo,


apenas curtindo o meu presente e velando o sono da Ângela, que

acaba dormindo com o carinho preguiçoso.

Depois de um tempo, levanto-me e saio para conhecer melhor

o lugar. Pelo horário de almoço, o pátio está cheio, são pessoas de


todas as idades, mas ninguém veio a passeio.

Trata-se de um ambiente onde se respira paz e tranquilidade.


Existem árvores frutíferas e bem cuidadas por toda a área, hortas
que provavelmente produzem ingredientes para as refeições, e a
área dos animais, onde o estábulo é o que mais enche os olhos.
São belos cavalos, que não muito longe da área própria para eles,
correm livres pela hípica, sendo montados por pessoas que muitas

vezes só precisam de dar e receber carinho. Para isso, não existem


melhores amigos do que os animais.

No fim, chego à conclusão de que, apesar de não concordar


com muitas das atitudes que os Albuquerque tomam, aqui é o

melhor lugar para a minha menina estar quando as crises se tornam


graves demais. Ângela tem a tranquilidade, a natureza e,

principalmente, a ajuda de profissionais competentes. Agora que


consegui convencer o Tarcísio de que liberar as visitas é o melhor
para Ângela, tenho fé de que sairá daqui mais rápido do que pensa,

porque além de ter as pessoas que ama por perto, carrega o nosso
bebê no ventre.

No refeitório, apresento-me como namorado da Ângela, e os


deixo cientes de que me verão muitas vezes por aqui. Como um pai

de primeira viagem, tenho vontade de fazer várias perguntas, mas


me seguro para não meter os pés pelas mãos antes de conversar
com a Ângela.
Com uma bandeja com comida suficiente para nós dois, volto
para o chalé. Na mesma posição em que a deixei, Ângela segue
dormindo.

— Amor, você precisa acordar — digo, depois de ajeitar a

nossa refeição sobre a mesa. — Já passa da hora do almoço e


ainda não vi você comendo hoje. — Beijo-a na boca, na ponta do
nariz e nas bochechas até que acorde.

— Só mais um pouquinho. Deite aqui comigo e me abrace —

pede manhosa.

— Depois eu me deito, bebê. Deixo você dormir por quantas

horas quiser, mas agora precisa almoçar e alimentar o seu filho —


digo, então ela desperta e se senta na cadeira.

— O cheiro está uma maravilha. — Os olhos azuis chegam a

brilhar para o prato recheado com lasanha. Enquanto devora a

massa, aproveito para decidirmos algumas questões.

— Tem algo marcado para hoje?

— Mais tarde, tenho hora com o psicólogo — diz.

— Tudo bem, daqui a pouco vou embora. Não quero

atrapalhar suas atividades e consultas.


— Não vai, por favor? — pede ao segurar a minha mão em

cima da mesa.

— Amor...

— A consulta não demora mais do que uma hora. Depois

estarei completamente livre para você. Não esqueça que nós temos

que comemorar — insiste.

— Pensei que já estivéssemos comemorando — provoco-a,

sabendo que não precisa insistir. Na verdade, sou eu quem preciso

me controlar para não ficar muito tempo e correr o risco de tirar o

foco do tratamento e do propósito de estar aqui.

— Não é o meu tipo de comemoração.

— Você só pensa em sexo, Ângela Albuquerque?

— Desde que conheci o homem mais lindo da cidade, sim —

afirma quando passa o pé pelo meu calcanhar, mas mantém a


expressão de garota inocente. — Só penso em sexo.

— Não te julgo, pois desde o dia em que fui assediado no

banheiro por uma garota chatinha e muito convencida, não penso

em outra coisa.
— Vou perguntar para o psicólogo se essa doença tem cura —

brinca.

— Nós não precisamos de cura, garota gostosa. Você tem

cinco segundos para se sentar no meu colo, ou perderá o direito à


recompensa chamada: foda comemorativa pela vinda do nosso

bebê. Mal acabo de falar e Ângela já não está mais na sua cadeira.

Nas horas seguintes, a minha namorada e eu ficamos no

nosso mundo particular comemorando a nossa benção. Outros


assuntos e preocupações ficam esquecidos e, entre conversas a

respeito da gravidez e planos para o nosso futuro como casal,

terminamos o dia nos amando com paixão.

Quando ela cai em um exausto e merecido sono nos meus


braços, demoro alguns minutos para encontrar o meu próprio

descanso, porque a minha mente não cansa de maquinar ideias

para tê-la sempre assim, dormindo e acordando nos meus braços


todos os dias.
CAPÍTULO 52

ÂNGELA

Em uma rotina muito bem planejada, e sendo acompanhada


de perto por Bruno, passaram-se três semanas desde o dia em que

tivemos a confirmação da minha gravidez. Desde então, estamos


curtindo cada segundo dela. Fora Marina e Erick, ninguém mais
sabe da novidade, porque decidimos manter o segredo e curtirmos o

momento. Tive que mudar o tratamento para que as drogas não


prejudicassem o meu filho.

A liberação das visitas mostrou-se eficiente. Com a presença

das minhas amigas Marina e Maya, e até mesmo do meu pequeno

João, estive tão animada e feliz que às vezes até me esquecia de


onde estava. Com mais empolgação e vontade de ser liberada,

continuei fazendo o que fazia antes. Foram diversas conversas com


a psicóloga, onde — como das outras vezes — tive que ser sincera,

falar e ouvir o que precisava, com psiquiatras, terapeutas e várias

atividades ao ar livre onde pude exercitar a minha mente.


Quando a equipe médica me liberou, eles entenderam que eu

estou bem o suficiente para conseguir lidar com os fatos da vida


sem sofrer em demasia a cada passo fora da curva. Fui instruída a

sempre conversar e me abrir com as pessoas mais próximas, e

nunca esconder quando não estiver bem. Foi um conselho que


pretendo seguir à risca, pois sei que ter sofrido em silêncio foi um

dos motivos de eu ter vindo para cá.

Depois de ter revelado tudo para o Bruno e para a Marina, as

pessoas que mais confio, será mais fácil do que quando só podia
contar com meus pais, que apesar de me amarem como os pais

devem amar seus filhos, não são tão próximos como deveriam.

É sempre assim a cada nova internação, entro completamente


perdida e desequilibrada emocionalmente, e saio com a sensação

de que um peso enorme foi tirado das minhas costas. Fico bem até

que, aos poucos, tudo começa a voltar. Dessa vez tenho motivos

para lutar, para pedir socorro, e mesmo sabendo que é uma

condição que me acompanhará pelo resto da vida, tenho fé que algo


dentro de mim mudou, uma boa mudança.

Além de fazer por mim mesma, como foi batido na tecla pela

psicóloga, faço também pelas pessoas que amo. Por todos que
amo, tenho vontade de ser melhor, de fazer o máximo possível para
não me entregar.

Agora, enquanto acabo de guardar os meus pertences na

mala, não consigo evitar o sentimento de nostalgia. As últimas

semanas foram na mesma medida desafiadoras e felizes. Bruno

veio me ver todos os dias. Acompanhou de perto o tratamento e,


com muita atenção, ouviu como deve lidar comigo.

Estamos muito felizes com a gravidez, e o sexo se tornou mais

recorrente. Não que não fizéssemos com muita frequência antes,

mas agora é de manhã, de tarde, de noite e de madrugada quando

dorme comigo. Ainda bem que posso dizer que são os hormônios da

gravidez.

— Pode entrar. — Fechando o zíper da última mala, grito para

a porta que está sendo esmurrada.

— Você está fazendo todo mundo te esperar lá fora. — É

Marina quem fala ao se aproximar do sofá coberto de malas e vários


outros pertences meus. — Cheguei menos atrasada no meu

casamento do que você à sua festa de despedida. — Constata um

fato. Eu nunca fui conhecida pela pontualidade.


— Não dizem que o melhor da festa sempre chega por último?

— Dou de ombros, ela não consegue manter-se séria.

— Deixe-me adivinhar, o melhor da festa é você? — Ela ri, e

até o bebê nos seus braços fica agitado. — Estava com saudade do
seu lado convencida, chatinha. — É tão bom te ver feliz. Só agora

percebo o quanto fui cega durante todos esses anos. Você já me


perdoou?

— Não tenho o que perdoar, só a agradecer. Você não faz


ideia do que fez por mim sem saber.

— Eu não sei exatamente o que fiz, querida, mas farei de novo


quantas vezes forem necessárias. Você é a minha irmã do coração,

a minha confidente de toda vida, e faria qualquer coisa para te ver


bem.

— Você não pode apelar desse jeito, Marina. Sou uma mulher
grávida, que chora assistindo desenho animado. — O tom é de
brincadeira, mas não deixa de ser verdade.

Aos poucos, os sintomas típicos de gravidez começam a se

apresentar. Não é para menos, uma vez que o ultrassom revelou


que eu estava grávida de quatro semanas quando a gestação foi
confirmada com os testes de farmácia.
— Ângela Albuquerque grávida do Bruno, às vezes é difícil de

acreditar. Nem nos meus melhores sonhos imaginaria que nós duas
ficaríamos com amigos de profissão e de escritório.

— É porque temos bom gosto — falo ao terminar de arrumar


todos os meus pertences.

Apesar de não termos falado sobre o assunto, Bruno e eu


queremos a mesma coisa: ir para o seu apartamento, onde me sinto

melhor do que na minha própria casa, mas tenho que pensar nos
meus pais. Eles estão há semanas longe de mim, então não posso

deixá-los assim. Além disso, eles precisam saber que serão avós.

Sei que serão duas reações distintas. A do papai, que apesar

de torcer o nariz para a gravidez antes do casamento, ficará feliz por


ser avô. A da minha mãe, que se acha nova demais para ser mãe

de uma mulher, imagino o que pensará sobre ser avó. Até consigo
visualizar ela muito apegada ao neto e, ainda assim, o ensinando a
chamá-la pelo nome.

— Você tem razão, fisgamos os melhores partidos da cidade,


os desejos de onze entre dez mulheres. — Marina se gaba.

— E eles têm sorte de terem nos conquistado.


— Não tenha dúvidas disso, gravidinha. Você está pronta? —
Seus olhos vão para o pequeno que dorme tranquilo, pouco se
importando com o papo da mãe e da tia.

— Agora estou — aviso, passando a mão pelo meu vestido

solto, depois pelo meu cabelo preso em rabo de cavalo frouxo.

Ao sairmos para o pátio, é impossível não me emocionar com


o que vejo. Em fileira, está toda a equipe e responsáveis pela

clínica. Pessoas que foram minhas amigas todas as vezes que


estive aqui. Vejo outros internos, homens e mulheres de todas as

idades. Pessoas novas, outras que sempre estiveram aqui. Muitas


delas foram companhia nos momentos em que me vi sozinha e sem
ter com quem conversar.

Meus pais também estão presentes, e apesar de se fazer de

dura, vejo a minha mãe emocionada. O meu pai não faz questão de
esconder o orgulho e a emoção. Ver meu pai bem e orgulhoso é

uma satisfação para mim, um prazer que gosto de sentir, porque


sinto que tenho uma dívida a ser paga com ele. O fato de me sentir
amada por ele, apesar das falhas, é a certeza de que alcancei a

misericórdia depois dos erros que cometi. É a prova de que o meu


irmão me perdoou. Esteja onde estiver, Caio sabe que nós jamais o
esqueceremos. Seguimos as nossas vidas, cada um com o seu
próprio fardo, mas sempre levando no coração a criança linda que
por pouco tempo viveu entre nós, e logo tornou-se um anjinho.

Sinto-me feliz pela homenagem, mas também estou frustrada

porque ele não veio. A pessoa mais importante nessa caminhada.


Quem sempre esteve aqui, me lembrando dos motivos pelos quais
deveria lutar.

Todos estão aqui, menos ele. Saber disso acaba com a minha

animação, mas também me deixa preocupada. Sei que estaria aqui

se pudesse, como não está, suponho que algo aconteceu.

Alheias a minha atual preocupação, as pessoas


confraternizam. Aproximam-se, me parabenizam e se despedem de

mim. Sendo filha de quem sou, me obrigo a manter a pose, e recebo

os cumprimentos com um sorriso no rosto.

Mais de uma hora depois, quando todos já estão com suas


bebidas e petiscos nas mãos, comendo e tendo conversas

descontraídas, me aproximo dos meus pais e do casal açúcar. O

assunto termina quando me notam. Todos eles estão estranhos, e


eu não titubeio antes de começar o interrogatório.
— Pai, Marina, onde está o Bruno. — Os quatro se entreolham

e agem como se não soubessem o que falar. Fico ainda mais aflita.
— Por favor, se sabem de alguma coisa, falem de uma vez.
CAPÍTULO 53

ÂNGELA

— Vocês estão me assustando. Pai? — Aproximo-me do meu


velho e só então tenho certeza de que algo está acontecendo.

— Quero que você seja muito feliz, minha filha. Já sofreu tanto,

e por mais tempo do que deveria. Por muitos anos carregou um


peso maior do que poderia suportar, e acredito que o seu momento
chegou. Seja feliz, é só o que eu te peço.

— Eu não entendi, papai — digo, mesmo que as suas palavras


tenham me tocado fundo. — Aconteceu alguma coisa com o meu

namorado? — Olho para a minha mãe ao seu lado, mas não

consigo ler o que vejo no seu rosto.

— Vem comigo — chama, segura a minha mão e me leva para


a parte mais ampla do jardim.

Alguns metros à frente do pátio, existe uma espaçosa área a

céu aberto, onde são feitas algumas comemorações, mas não tenho
ideia do porquê seu Tarcísio estar me levando para lá, muito menos

porque estão todos nos seguindo.

— Devo me preocupar? — indago e, segurando a minha mão,


ele se recusa a responder.

Com ele ao meu lado sinto-me mais tranquila, com a certeza

de que não estaria tão calmo e sorrindo se algo de ruim tivesse


acontecido.

— Alguém tem uma surpresa para você — revela.

— O Bruno? — pergunto.

— Olhe para frente e descubra, princesa. — Quando olho para

longe, reconheço o meu amor parado no campo. Bruno tem as

mãos escondidas nas costas e se veste com elegância. Ele não

esconde o sorriso de satisfação, nem o nervosismo.

— Olá, meu amor. Pensou mesmo que eu não estaria aqui em

um momento especial como esse? — fala alto para que eu possa

ouvir, considerando que ainda estamos distantes um do outro.

Estou louca de vontade de correr e o encher de beijos, mas

não quero estragar os planos que suspeito que ele tem.


— Estava estranhando a sua ausência — confesso tão alto
quanto ele, deixando de fora o fato de que foi bem mais que

estranhamento. A realidade é que eu estava ficando desesperada.

— Amor, preciso que dê cinco passos para frente — pede.

Olho para trás e todos estão no mais completo silêncio, com os

rostos cheios de expectativas.

— Apenas você, querida. É o seu momento — meu pai fala

quando tento o levar comigo. Concordo com a cabeça, dou um beijo

no seu rosto e faço o que Bruno pediu.

Cinco passos depois, vendo o meu namorado ainda com as


duas mãos para trás, ouço um barulho diferente e uma forte

ventania começa a espalhar os meus cabelos em todas as direções.

Olho para o céu e vejo que é um helicóptero sobrevoando a

fazenda.

De uma forma que jamais imaginei, vejo o momento em que a

porta da aeronave se abre e pétalas de rosas começam a cair em


cima de mim. É a cena mais linda que já presenciei, o gesto é de um

romantismo e delicadeza sem igual, e saber que o Bruno foi capaz

de fazer isso para mim tem o poder de deixar-me com as pernas

bambas, as carnes trêmulas e o coração acelerado.


Bruno se aproxima com um sorriso deslumbrante no rosto.

Quando fica a um palmo de distância de mim, ele coloca um joelho


sobre a grama e segura a minha mão. Na esquerda tem uma caixa

de veludo azul, o meu coração vem à boca e lágrimas enchem os


meus olhos quando penso no que pretende dizer.

— Bruno, amor...

— Ângela Albuquerque, você é a minha chatinha, o meu

pequeno anjo e a minha diabinha. Sei que já falei milhares de vezes,


mas continuarei repetindo enquanto eu respirar que amo você, que
apareceu sem pedir licença, abriu o meu coração e mudou a minha

vida por completo. — As lágrimas rolam e, dessa vez, não posso


culpar os hormônios da gravidez. — Por você me tornei um novo

homem, e até voltei a enxergar. Eu nunca fui cético a respeito do


amor, mas também não acreditava na força que atribuíam a ele.

“Aprendi que não existe nada mais poderoso que a força de


um grande amor, e desejo passar o resto dos meus dias amando e

sendo amado por você. Não existe maior verdade do que o fato de
nos pertencermos. Sou seu e você é minha, mas não é o suficiente.

Quero muito mais. Quero dormir e acordar ao seu lado todos os


dias. Compartilhar as alegrias e as dores, e nada me fará mais feliz

do que te chamar de minha esposa.”

— Ângela Albuquerque, você aceita se casar comigo?

— Sim, mil vezes, sim — grito. Bruno se levanta, coloca o anel


de noivado no meu dedo, me pega em seus braços e me gira no ar,

enquanto ouvimos aplausos e ainda sentimos as pétalas caindo na


gente.

— Meu amor, eu sou o homem mais feliz do mundo. — Ao


colocar-me novamente no chão, o meu noivo me beija com ternura.

Por um tempo, ficamos em um mundo só nosso comemorando


do nosso jeito. Quando o beijo acaba e abro os olhos, não existem

mais pessoas em volta. Todos sumiram, inclusive o helicóptero.

— Espantamos o pessoal, senhor romântico — brinco.

— Tinha que dar carinho para a minha gestante — devolve.


Não sei se na história existiu um homem mais coruja com o filho que

nem nasceu do que o Bruno. Ele tem estado cuidadoso e atencioso


a todas as minhas necessidades.

— A sua gestante está um pouco cansada e quer ir para casa


— confesso. Sinto-me cansada e sonolenta.
— Está bem, vamos para casa. E não se preocupe com as
malas, porque o seu pai já levou. — É difícil de acreditar que os
meus pais estiveram envolvidos em tudo o que aconteceu hoje,

tanto na confraternização quanto no pedido de casamento. E se


foram para casa sem mim, não se importam de eu ir com o Bruno

para o apartamento.

— Não acredito que esse dia chegou — falo e, de mãos dadas,

dirigimo-nos para a saída da fazenda. Enquanto caminhamos, um


filme passa pela minha cabeça e o sentimento de nostalgia invade o

meu peito.

Não é a primeira vez que faço o mesmo percurso, nem que


eles me dedicam uma festa de despedida, mas sinto que dessa vez

tudo está diferente, que os sentimentos são mais intensos de uma


forma saudável. Sei que, de uma maneira muito estranha, vou sentir

falta do lugar que faz parte da minha vida há mais anos do que sou
capaz de me recordar.

Foi aqui que vivi as minhas maiores alegrias até o momento.


Reencontrei o meu amor da melhor maneira possível e, por fim, mas

não menos importante, fui pedida em casamento pelo homem que


me conhece por completo, que viu o meu pior lado e ainda quis ficar.
Talvez eu não seja tão maluca por acreditar que sentirei falta
de uma clínica psiquiátrica.

Nós saímos com o motorista, porque Bruno ainda não superou


o trauma de dirigir, e não deixamos de passar vergonha.

— Foi só um beijo — ele se defende quando saímos do


elevador.

— As suas mãos estavam apertando os meus peitos!

— Porque eles são grandes e irresistíveis — rebate.

— O seu pau também estava duro, grande e irresistível, e nem

por isso eu o coloquei na boca. — Não foi por falta de vontade, pois

o clima estava quente pelo simples fato de o Bruno beijar como

fode. Ou seja, divinamente.

— Não sabe o que perdeu. Eu teria deixado se você quisesse.

— Provoca, não levando a sério o meu constrangimento pela nossa

safadeza na frente do motorista.

— Safado.

— Cadela — devolve.

— Cadela é a senhora sua... — Dou uma pausa. — Meu Deus,

Bruno, você é perfeito!


— Não era safado? — brinca, e enlaça a minha cintura por

trás.

— O meu safado. — Olho maravilhada pelo caminho de

pétalas que nos leva até o nosso apartamento. O chão do corredor

parece um tapete perfumado e vermelho.

— Exagerei?

— Não. Está tudo perfeito.

— Ainda bem, senão teria que entregar a Marina. Foi ela quem

sugeriu isso tudo.

— Lá dentro?

— Teremos a nossa comemoração particular. No melhor estilo

Bruno e Ângela de ser. — Sem avisar, ele me pega nos seus braços

e nos leva até a porta. — Escandalizaremos os vizinhos com os

seus gritos de satisfação.


CAPÍTULO 54

BRUNO

Eu a tenho nos meus braços, e a sensação é de estar


segurando com as mãos todo o meu mundo. Nada importa além

dela.

— Nada de escandalizar os vizinhos, amor — protesta quando


fecho a porta com o pé.

— Quer que eu amordace a sua boca? Pois só assim para

conseguir frear o seu entusiasmo — provoco, mas, quando a coloco


no chão, a minha Ângela já não está mais prestando atenção em

nada do que estou falando.

— Não acredito que você fez isso, Bruno. — Está estática no

lugar onde a deixei. Os seus olhos não escondem a surpresa e o


encantamento pelo que preparei.

— Eu faria qualquer coisa por você, isso aqui é o mínimo pelo

que merece — digo e me silencio, deixando que tenha o seu tempo


para curtir e entender o que tudo isso significa, se é que não está

suficientemente claro.

Dia após dia, enquanto ia fazer visitas, vi a minha namorada


ficando melhor. Vi ela sorrindo mais e chorando com menos

facilidade. Minha namorada deixou que eu a visse por completo, e

hoje eu finalmente tenho a resposta para um antigo, porém legítimo,


questionamento.

Anjo ou diabinha?

Nenhum nem outro. A minha pequena é uma mistura dos dois.

Já não consegue ser como a criança que foi antes da tragédia, mas

também não é a garota retraída que a vida e os seus pais tentaram


forjar. É simplesmente Ângela, a garota forte e decidida. A frágil e a

forte. Dentro dela, as duas se misturam e formam a garota perfeita.

A minha garota perfeita.

O meu pequeno anjo, a minha diabinha. Agora a minha noiva.


Ela pode ser todas, ou apenas Ângela.

O apartamento está completamente livre de móveis, ou

qualquer outra coisa que não seja um lugarzinho no quarto para que

possamos dormir. Existe uma razão para eu ter me livrado de tudo,

e espero que ela compreenda.


Livrar-me de tudo foi a primeira coisa que fiz quando voltei da
casa da minha namorada. Antes mesmo de saber da alta dela, o

desejo de pedi-la em casamento não saia da minha mente. Além da

vontade, também contou o medo de vê-la voltando para perto dos

seus gatilhos. Não precisei ir muito longe para entender que a

relação difícil com a mãe lhe fazia muito mal.

Não sei se é intencional, ou só imprudência, mas uma mãe

fazendo tortura psicológica com a própria filha é grave, e fica pior

quando começa na infância. O pai leva a culpa por ter negligenciado

a filha, mas ele reconhece os erros e tenta consertá-los pelo bem da

filha.

Tarcísio Albuquerque não só não impôs obstáculos quando


pedi a mão da sua filha em casamento, como também se mostrou

ansioso para a celebração dos votos o mais rápido possível. Para

mim ficou claro que também tem medo de que a volta para casa

seja o gatilho para novos surtos emocionais a longo prazo.

Ao fim, meu sogro deu os conselhos que todo homem casado

e mais experiente daria para o futuro genro. Pediu-me para fazer a

filha feliz, e fez ameaças para o caso de eu fazê-la sofrer. Saí da


mansão com o sorriso de orelha a orelha, e com a cabeça cheia de

ideias do que faria para surpreendê-la com o pedido.

Felizmente, a minha diabinha tem uma ótima amiga, e foi ela

quem deu a melhor ideia, quem me ajudou a preparar tudo. Ângela


adorou a surpresa, ficou claro pelos beijos na presença do

motorista. Sobre eu ter doado todos os móveis antigos do


apartamento, a ideia foi única e exclusivamente minha, e Ângela

não precisa abrir a boca, a sua expressão mostra que entendeu a


mensagem.

— O começo da nossa vida junto — diz, voltando para os

meus braços visivelmente emocionada.

— Do zero. Como esse apartamento vazio. — Enlaço a sua


cintura e, olhando nos olhos bonitos, prossigo. — Nós iremos

transformar isso daqui no nosso lar. Terá a nossa cara, e sem


nenhum resquício do passado.

— Você pensou em tudo, não é mesmo? — O sorriso é

incontido. Se Ângela Albuquerque pareceu linda à primeira vista,


não sei como classificá-la na sua versão grávida, pois apesar de a

barriga não ter despontado ainda, o brilho no olhar é inconfundível.


Se eu pudesse usar uma única palavra, diria que Ângela está

brilhando, radiante de felicidade e, como o sol, transmitindo calor


por onde passa.

— Em tudo, e somente para agradar a minha mulherzinha


gostosa e guerreira — elogio, trazendo seu corpo cheiroso para

mais perto. Diria que nós dois estamos grudados.

— Vai me agradar muito mais se formos para o nosso quarto.

— Os olhos brilham, só que agora é um brilho diferente. Ângela


passou de fofa para safada. Essa é a minha diabinha.

— Eu não acredito que você é tão safada, Ângela — digo para


provocá-la, porque se tem uma coisa que me deixa louco é esse

fogo que ela tem. — Estou tentando ser romântico, e você pensando
em ir para o quarto transar. Não temos feito outra coisa nos últimos

dias — falo, mas a minha mão discorda da boca. Ela aperta a sua
bunda redonda por cima da roupa.

— Desculpa, senhor romântico, pensei que o momento tinha

acabado, que estávamos liberados para a parte suada do plano —


afirma e, por algum motivo, o rosto está rosado. Sinais de uma

timidez que surge em momentos inimagináveis. — Se for uma


reclamação, nós podemos diminuir um pouco a quantidade de sexo
— sugere, mas nem ela acredita nisso.

— Você achou certo, eu só queria te ver assim, corando como


uma freira, quando na verdade é uma safada. Quanto ao sexo,

jamais será uma reclamação, porque eu poderia passar o resto dos


meus dias em cima de você, gostosa.

— Belas palavras — fala aos risos quando a pego nos meus

braços e a carrego para o quarto, especialmente preparado para


esse momento.

— Está vendo como eu aprecio esse seu lado gata fogosa?

Sem a intenção de soltá-la tão cedo, espero até que veja o

lugar que, assim como os outros cômodos, está vazio de móveis,


mas as semelhanças se resumem a isso.

Como o quarto é o lugar mais importante, onde teremos os


nossos momentos de maior intimidade e compartilhamento do nosso

amor, decidi dar uma atenção especial para ele. No lugar onde
ficava a cama, montei algo para substituí-la no chão. Entre o

colchão e lençóis de seda, consegui que ficasse o mais confortável


possível para uma mulher grávida. Ao lado, deixei uma bandeja com
algumas frutas frescas, e duas taças de cristal com suco para
brindarmos pelo nosso noivado.

Nas paredes foram colocados alguns retratos dos momentos


que passamos juntos desde o início do nosso namoro, até minha

última visita à clínica. São molduras de todos os tamanhos, a maior


delas é a imagem dela sentada sobre a grama da fazenda. A minha
pequena tem a cabeça baixa e as mãos sobre a barriga.

Lembro-me do momento e da emoção que senti como se fosse

agora. Emoção que me impeliu a pegar o celular e eternizar o

momento através de uma foto.

— Você não é real, meu amor — diz. Imagino que na sua


cabeça esteja passando um filme do que vivemos em nome do amor

e da paixão incontrolável que nos uniu quando nenhum dos dois

queria, ou estava preparado.

— Eu existo, sim. — Beijo o seu rosto e completo: — Existo, e


sou cheio de defeitos, mas prometo que farei de tudo para não errar

com você, para provar todos os dias o quanto te amo.

— Te amo, muito — diz olhando dentro dos meus olhos, e

agradeço a benção de poder vê-la, enxergar a beleza física e os


sentimentos estampados no seu rosto.
— Eu amo você mais que a vida. — Com ternura, paixão e

todos os sentimentos que vêm à tona, beijo os seus lábios. O início


é lento, é o momento de experimentar. Depois, como uma chama

que pouco a pouco se acende, o beijo ganha intensidade, então a

levo para cima da nossa cama improvisada.

Sem que palavras precisem ser ditas, começo a tirar peça por
peça da sua roupa, aproveitando-me para beijar cada parte do seu

delicioso corpo que a minha boca alcança. Ao tirar as minhas

próprias roupas e deitar-me sobre o seu corpo, sinto nela a mesma


urgência e expectativa do meu.

Sem nenhuma pressa, e sem desviar os nossos olhares por

muito tempo, começo dando especial e cuidadosa atenção para a

tentação que são os seus seios mais cheios e muito sensíveis ao


toque das minhas mãos e boca. Depois, e ao som dos seus

gemidos de prazer, desço para a barriga. O toque de erotismo se

transforma em um toque de puro carinho e devoção, pois não é só a


barriga da minha mulher, é também a morada do meu filho.

Quando minha boca desce mais para baixo e alcança a virilha,

meus olhos batem na sua boceta úmida e, como mágica, o


momento de ternura passa. Resta o homem faminto pelo sabor da

sua mulher.

Com as mãos nos deliciosos seios, abocanho o sexo desejoso.

Brinco com ele sem, no entanto, permitir que tenha o alívio pelo qual
implora. Ângela geme e se contorce, e quando noto que está

chegando ao seu limite, arrasto-me novamente para cima do seu

corpo. Fitando-a nos olhos, levo-me para dentro, centímetro a

centímetro invadindo o seu calor apertado e viciante.

— Você é deliciosa. — Entro e saio lentamente, as suas

pernas agarram o meu quadril, me puxando com ganância para

perto. — O bebê...

— Está tudo bem com ele. Eu quero que você me foda —


exige.

— Vou te comer até apagar seu fogo, minha gravidinha safada.

— Então se prepare, porque pode demorar um pouco.

— Temos a vida inteira, futura senhora Pires. — Os


movimentos se tornam intensos, os gemidos fazem eco pelo

apartamento vazio.
Como um casal de namorados que acabam de ficar noivos,

ficamos várias horas namorando e planejando como seguiremos a


nossa vida a partir de hoje. Decidimos dedicar o fim de semana para

montarmos o nosso apartamento e fazer a sua mudança. Apesar de

não termos definido a data para o casamento, ficou estabelecido


que ela virá morar comigo antes de ele acontecer.

Os pais tiveram uma vida inteira para cuidar da filha e não

fizeram da forma mais correta, então chegou o momento de eu

mesmo cuidar e garantir o bem-estar da minha mulher. É um direito


e um desejo meu, porque os últimos anos me ensinaram que o

sucesso profissional não importa se o cuidado com a pessoa que se

ama ficar em segundo plano.

É um erro que não vou mais cometer, pois já não posso


imaginar a minha vida sem a Ângela e o nosso bebê do meu lado.
CAPÍTULO 55

ÂNGELA

Semanas depois...

— Sinto-me a dona do mundo, vendo a cidade aqui de cima.


— Encantada, observo as deslumbrantes luzes da grande São

Paulo. Faço isso do oitavo andar do prédio que pertence ao Erick e


a Marina, mas em breve também será do Bruno. As salas
comerciais são ocupadas por advogados de várias áreas de

atuação, e entre eles estão os associados que juntos com Erick e


Bruno tornam o J & E Advogados e Associados o maior e mais bem

sucedido escritório de advocacia do Estado.

— Realmente, uma bela vista. — O meu noivo levanta da sua


cadeira, onde trabalhava em assuntos que não podem esperar até

amanhã. — Uma deliciosa vista — reafirma e, ao olhar para trás,


vejo que não encara outro lugar além da minha bunda.

— Terminou? Estou um pouco cansada — reclamo com razão.


Mais de um mês depois da minha saída da clínica, ainda não

paramos de nos movermos de um lado para o outro.

Depois de horas de prazer no nosso apartamento sem móveis,


no dia seguinte fomos para a minha casa fazermos a minha

mudança definitiva para o apartamento.

Sim, mesmo com o Bruno falando que era uma loucura, e


estranhamente sugerindo que eu ficasse na casa do casal açúcar

até que conseguíssemos montar o nosso apartamento, eu terminei

me mudando com ele.

As duas mudanças foram muito difíceis, mas as despedidas

terminaram com risos e algumas lágrimas de alegria quando


revelamos a minha gravidez para Ana e Felipe. O seu Tarcísio e a

minha mãe não conseguiram disfarçar a alegria, embora quisessem

manter as poses de durões.

Os pais dele ficaram muito emocionados com a chegada do


primeiro neto, uma emoção compreensível, levando-se em

consideração o que eles passaram quando viram o filho perder tudo.

— Se quiser, tenho um ótimo remédio para te deixar bem

relaxada. — Ele cola o peito nas minhas costas e as mãos vão para

a minha barriga, que começa a despontar.


— Eu vou ter que aceitar sua massagem, meu homem
prestativo.

— As minhas mãos e meu pau são mesmo bem prestativos, se

você for considerar.

— Para de ser safado, Bruno. Estamos no seu local de


trabalho, pelo amor de Deus — peço, mas a minha cabeça já está

preguiçosamente apoiada no seu peito forte, coberto pela camisa

social branca. O traje típico de trabalho, o deixa ainda mais lindo.

Nunca vou me acostumar com tanta beleza

— Cala a boquinha, meu amor. Continue apreciando essa bela


vista. Deixa que eu cuido de você — pede, as mãos sobem para os

meus ombros. A massagem começa, os meus pensamentos voam

para as lembranças do que foi a nossa vida desde que tomamos a

grande decisão.

A nossa mudança para o apartamento foi rápida, mas não

posso dizer o mesmo quanto ao resto. Bruno e eu cuidamos de


cada detalhe para deixar tudo no nosso novo lar com a nossa cara.

De tudo que fizemos, nada nos deu mais prazer do que o quarto do

bebê, que ainda não sabemos o sexo.


Os primeiros dias juntos foram maravilhosos, como uma lua de

mel sem ter tido o casamento. Ele seguiu a vida saindo pela manhã
e voltando no fim da tarde do escritório. Eu, sentindo-me diferente

do que sempre fui, comecei a me incomodar com o fato de ficar em


casa sem nada para fazer. Mesmo que muitas vezes eu vá à casa
da Marina, e passe um bom tempo na companhia dela e do bebê,

ainda sobram muitas horas livres.

A insatisfação não é de agora e, sendo sincera comigo


mesma, é um sentimento que sempre esteve enraizado dentro de

mim. A proteção dos meus pais sempre tirou algo de mim, até
mesmo o meu irmão, considerando que éramos as únicas crianças
que não sabiam nadar, porque mamãe não queria nos levar para

aprender. Só agora consigo admitir isso, mas não tiro a minha


parcela de culpa por sempre ter sido tão passiva.

Terminei o colégio da melhor forma que pude e, graças a


minha amizade com Marina, foi o período em que levei uma vida
quase normal. Fiz amizades, saí com alguns garotos, mas a pior

fase veio depois da formatura. Eu já não tinha a Marina como ponto


de apoio. Ela se apaixonou muito cedo e teve outras prioridades.

Em casa, meus pais jamais tocaram no assunto faculdade, ou


alguma ocupação que pelo menos os ajudasse nos negócios.
Eu, como me sentia insegura para começar algo sozinha,

guardei para mim o desejo e decidi viver com o que tinha. Sempre
acompanhada por seguranças, viajei para alguns lugares que não

fossem clínicas psiquiátricas, e as viagens foram fugas de casa, de


uma realidade em que nada me satisfazia e o tédio ameaçava levar-

me à loucura.

Agora, mais de um mês após ter saído de uma internação, de

ter a minha própria casa e estar construindo a minha própria família,


estou preparada para dar mais um passo. Ocupar a minha mente e

o meu tempo com algo que gosto, mas nada que atrapalhe o meu
lado de futura mãe e esposa.

Ainda não pensei no que vou fazer, e espero contar com o

apoio do meu amor, que nunca decepciona quando o assunto é


tentar me fazer feliz. Bruno não traz consigo características de um

passado que o levou a situações dolorosas e, dia após dia, mostra


que valoriza a família acima de qualquer coisa.

— Dormiu, amor? — sussurrando ao meu ouvido, Bruno situa-


me na realidade. — Está melhor?

— Sim, mas acho que não são só os meus ombros que estão
carentes de atenção — provoco.
— Já disse que você é safada? — Morde a ponta da minha
orelha, as mãos descem novamente para minha cintura, apertando-
me contra o seu corpo.

— Hoje não.

— Estou dizendo agora — fala. — Prefere aqui, ou na mesa


entre as suas pernas?

— Não, amor — nego sem firmeza. — Lembra da última vez


que nos agarramos em público? Fomos seguidos, e o meu pai foi

chantageado com a prova da nossa safadeza.

Lembro de como foi a minha reação quando descobri sobre a


tentativa de chantagem. Fiquei aliviada por meu pai não ter cedido,

e não me importo com o risco que ainda existe, afinal, vamos nos
casar. No mesmo dia me deixaram ciente da situação do Mateus

que, felizmente, está preso. Ele responderá por tentativa de estupro


e extorsão, o meu sentimento foi de alívio ao saber que o meu primo
não será mais uma ameaça.

— Poxa, logo você negando fogo? — Meu noivo desce a mão

até a barra do meu vestido e começa lentamente levantá-la — E a


nossa foda de comemoração?
— Comemoração? — Faço-me de desentendida, pois sei o
tamanho da sua conquista.

— Sim, o seu homem, além de ser o seu advogado fodão,


também é um dos donos desse império da advocacia.

Quando se viu recuperando coisas que o acidente e a perda


da visão haviam roubado, Bruno se lembrou saudosista da ambição

e dos sonhos do passado. Lembrou do escritório que tinha aberto e


de como ele começava a ir bem. Quando pediu a minha opinião

sobre o que fazer, aconselhei que conversasse com Erick sobre o

seu desejo de reabrir o escritório. Erick mostrou-se chateado por

perder o amigo e o advogado que tinha se tornado seu braço direito.


Um dia depois de conversarem, Erick chamou Bruno para outra

conversa e sugeriu que se tornassem sócios. Meu noivo não

precisou pensar muito para aceitar o convite.

Foi algo natural de acontecer, e seria estranho ver a dupla


imbatível se separando. Passada a parte burocrática e chata da

mudança, Marina e eu estamos para explodir de orgulho e alegria

pelos nossos amores.

— Realmente, esse poder todo me deixa excitada.


— Quão excitada você está, minha deliciosa? — continua

sussurrando e me provocando. — Vou encontrar a sua bocetinha


molhada se te tocar agora? — Bruno tem as mãos brincando com o

elástico da minha calcinha.

— Sim, Bruno. Por favor... — Já estou implorando, como sabia

que aconteceria quando comecei a provocá-lo.

— Vem comigo, meu amor. — Sem me soltar, ele nos gira e

ruma na direção da mesa de trabalho.

Ao posicionar-me com a bunda encostada no móvel, meu

noivo se coloca entre as minhas pernas e, com a boca bem perto da


minha, diz:

— Eu vou te comer em cima dessa mesa, e todos os dias vou

me lembrar da sorte que tenho por ter você, minha gostosa. — Mal
termina de falar e já tem a boca na minha, devorando-a com

sofreguidão e desejo. As mãos terminam de subir o meu vestido, o

deixando enrolado na altura dos meus quadris.

— Eu preciso de você, Bruno — imploro.

— Quero chupar os seus peitos, mas isso vai ter que ficar para

outra hora — diz. — No momento, só preciso te fazer minha. —

Com urgência, Bruno começa a abrir primeiro o botão, depois o


zíper da calça social. Em seguida, ele puxa a minha calcinha para o

lado e o toque de conhecimento me faz revirar os olhos de prazer —

Você é muito linda, sabia? — O elogio inocente é feito enquanto


dois dos seus dedos invadem o meu sexo, o encontrando pronto

para recebê-lo. — Bendito seja o dia em que tirei a venda dos olhos

e pude finalmente te ver.

— Só sua. — Minhas pernas envolvem o seu quadril. Ao tirar o

pênis para fora da cueca com a mão livre, ele tira a outra do meu
sexo e os chupa sem desviar o olhar do meu rosto.

Acompanhando o seu movimento de sucção, sinto-o pincelar a

cabeça robusta do pau no meu centro carente. Quando ele começa


a me penetrar, sinto como se fosse derreter a qualquer momento

sobre a mesa.

— Você é o meu vício, amor. — Segura as minhas coxas com

firmeza e passa a penetrar-me com mais força. — Simplesmente


não resisto a esse corpo delicioso, esse rosto perfeito. A voz doce, o

cheiro dos seus cabelos que sempre chega antes. Não resisto a

você.

— Não precisa. Nunca. Eu sempre estive aqui para você,

mesmo quando não quis enxergar, sempre estarei — afirmo com


dificuldade de falar, segurando o seu rosto enquanto o recebo

dentro do meu corpo cada vez mais frenético. Ele é enérgico a


ponto de a mesa ranger contra o piso.

O momento é de intensidade, não só um encontro de corpos.

Sempre foi assim entre nós dois, porque assim como gostamos de

transar, também gostamos de reafirmar o nosso amor através de


gestos de carinhos e de palavras. Nunca é só sexo, é também o

encontro de almas e corações que se pertencem.

— Puta que pariu, Ângela! Que gostoso. — As nossas


respirações estão ofegantes, as expressões alteradas pelo almejado

alívio que se aproxima. — Eu preciso gozar. — Estando nós dois

atracados de uma forma em que não se sabe onde um começa e o

outro termina, Bruno coloca a mão entre nós dois. Quando os dedos
tocam no meu clitóris, bastam apenas mais duas estocadas para me

fazer gozar. Ele solta diversos palavrões, mas cobre a minha boca

com a mão para evitar que meus gritos nos denunciem para o
prédio inteiro.

— Está tudo bem? — Depois de algum tempo, estou deitada

de costas sobre a mesa, com o vestido todo embolado e as

evidências da nossa arte escorrendo pelas minhas pernas. — Será


que não machuquei o bebê? — Quem pergunta é o pai do bebê,

ainda curvado sobre mim.

— Não vai acontecer algo só porque estamos transando, amor

— explico.

— Não é só transar, e você sabe disso. É como nós transamos

— rebate.

— Está menos intenso do que antes e está tudo bem. Você me

fez passar vergonha na primeira consulta, lembra? — A expressão


relaxa e ele emenda.

— Se está tudo bem, vamos fazer outra vez? Ainda não estou

satisfeito. — A mudança é brusca, e Bruno volta a se agigantar

sobre o meu corpo. Dessa vez desce as mangas do meu vestido,


deixando o sutiã à mostra.

— Não, Bruno, vamos fazer em casa. — Tento agir com

sensatez.

— Só mais uma rapidinha, e juro que nunca mais insisto para


fazermos sexo aqui no escritório — diz, mas nem por um segundo

acredito.

— Bem rapidinho?
— Sim, gostosa. — Tira as minhas costas da mesa, enrola

minhas pernas no seu quadril e os braços no pescoço. Antes de me


pegar, pergunta:

— No sofá?

— No sofá — confirmo.
CAPÍTULO 56

ÂNGELA

— Gêmeos? Você não pode estar falando sério, doutora. —


Na sala de exames, olho dela para Bruno, e ele está tão surpreso

quanto eu estou.

Mãe de gêmeos aos vinte e um anos.

Mãe de gêmeos aos vinte e um anos.

Estamos fazendo o segundo ultrassom, mas me lembro como

se fosse hoje da minha reação quando descobrimos que teríamos


dois bebês.

— Querem saber os sexos? — Nós dois concordamos, pois

estávamos ansiosos por esse momento.

— Ambos estão com as perninhas abertas, e aqui está: um

menino e uma menina.

De imediato, lembro-me do sonho que tive enquanto ainda


estava na clínica.
Caio e Sofia.

— Vou deixá-los a sós por um momento. — A doutora avisa,

dando-nos privacidade.

— Ainda não acredito que vamos ter dois bebês, meu anjo. —

A mão acaricia a minha barriga com a mesma devoção de sempre.

— Eu ainda estou morrendo de medo — confesso, os seus

olhos caem sobre os meus. — E se eu... — Não concluo, pois o


pensamento me provoca arrepios.

—Não tenha medo, você está bem e será a mãe perfeita para

os nossos filhos — afirma, e está certo. Até o momento, as crises


não têm dado sinais, e prefiro acreditar que eu só precisava de

carinho e exorcizar velhos fantasmas.

— Você me ajuda, se um dia eu fraquejar? — Tenho seus


olhos presos aos meus e, ao segurar o meu rosto com duas mãos,

ele declara:

— Não vai acontecer, e independente de onde estivermos,

sempre estarei do seu lado. Sabe por quê? Não existe outro lugar

onde eu queira estar que não seja perto de você.


— Amo você mais ainda por me aguentar louca com os
hormônios da gravidez.

— É por isso que é a minha chatinha. — Beija meus lábios e

cobre a minha barriga com a bata.

— O apelido nunca foi tão apropriado quanto agora que estou


grávida e chata.

— Eu deveria saber as razões desse apelido?

— Por tempo, eu tornei a relação do casal açúcar um pouco

difícil. Tratei o Erick mal, e tive ciúme da Marina. Enchi ela de

cobrança sobre estar me deixando de lado por causa de um


namorado. Uma completa babaquice.

— Não é babaquice, amor — pondera, ajudando-me a levantar

da maca. — Tenho certeza de que Marina te entende.

— Está feliz? — questiono, tendo a necessidade de confirmar.

— É mais do que estar feliz, pequena. É um sentimento que

não pode ser nomeado, mas é muito bom. Eu sei que às vezes é

assustador pensar que a responsabilidade será dobrada, mas o

amor também será dobrado. Será também uma bagunça e nós dois
vamos superar, porque somos Bruno e Ângela, a dupla imbatível.
— Nós somos mesmo, mas essa dupla imbatível tem que

correr para a mansão do casal açúcar.

— Temos? — indaga, confuso.

— Hoje é a festinha do João, lembra? — esclareço, ele me


olha como se tivesse nascido uma terceira cabeça no meu pescoço.

— De novo? Não teve isso no mês passado e nos anteriores?

Homens!

— Sim, querido. É para ser comemorado todos os meses até

que ele complete um ano.

— Está bem, anjo. Vamos para a casa do casal açúcar. Só

espero que você me recompense por ter que ver a cara feia do Erick
até aos finais de semana.

— A grávida sou eu, mas parece que é você quem está com
os hormônios em ebulição. Só pensa em sexo.

— Quer mesmo falar sobre hormônios? Não foi a senhorita


quem me acordou no meio da madrugada chupando o meu pau?

— Não lembro de nada disso — finjo.


— Mais tarde te foderei com bastante força, tenho certeza de

que a sua memória voltará.

— Cale a boca, e vamos sair daqui. — Puxo a sua mão e pego


a minha bolsa. Antes de sair, passamos na sala da doutora Kelly
para algumas recomendações.

*****

— Então quer dizer que terá uma menina, meu caro? — Erick
provoca o amigo.

— Sim. E ainda passei na sua frente, considerando que fui

certeiro e fiz dois bebês — Bruno devolve.

Eles fazem isso na frente de todos os convidados, que param


para prestar atenção no show.

— Não acho isso ruim, porque a minha futura afilhada pode ser
também a minha nora.

— O João não faria isso comigo, não é meu amor? — Bruno


conversa com o bebê em seus braços. Alheio a tudo, João sorri e

agita os bracinhos.

— Vocês dois! Parem já com as provocações. A festa é do


pequeno, não de vocês — Marina interfere e os convidados se
dispersam.

Tento curtir da melhor forma, mas é difícil. A cada passo que

dou, alguém me interpela para dar os parabéns e fazer perguntas


sobre a gravidez de gêmeos, embora eu não tenha tanto a dizer.

Para falar a verdade, esse foi um dos motivos do meu medo inicial,
porque simplesmente não sei nada sobre ser mãe de dois.

A parte boa é que não estou sozinha, e até para receber os

parabéns e as perguntas curiosas ele fica ao meu lado. Sempre com


a mão nas minhas costas, atento a tudo o que as outras mães

dizem.

— Obrigada, Cristina. Com certeza seguirei esse conselho —

falo para a mãe da Marina, que está passando uma temporada no


Brasil.

— Você vai ver como dormirá melhor depois disso. — O


conselho é sobre babá eletrônica, e eu achei esse conselho o mais
pertinente até o momento. — Deixe-me ver o que aqueles dois

estão aprontando. — Ela se refere aos irmãos gêmeos da Marina,


que são dois menininhos fofos.

— Vai lá — despeço-me com um beijo no seu rosto.


— Está tudo bem, minha linda? — Preocupado, depois de
tanta conversa, Bruno indaga. — Vamos para casa que eu faço uma
massagem bem relaxante em você. — Ele não esconde o seu olhar

sacana e eu brinco.

— Será que não tem pena de uma pobre mulher grávida?

— Está bem, minha gordinha. Vou só colocar você para dormir,

nada de massagem. — Fecho a cara, e fica claro que usou as


palavras erradas.

— Está me achando gorda, por isso não quer mais me tocar?

— indago, e os meus olhos já estão cheios de lágrimas.

— Você não está gorda, meu amor. — Me abraça como quem


acalenta a uma criança. — Eu quero muito te tocar. Te desejo tanto,

ou mais do que antes.

— Está bem — digo, envergonhada pela maldita sensibilidade

que decide dar as caras nos momentos mais inoportunos.

— Então desfaça esse biquinho, ou então vou beijá-lo até que

isso aconteça. — Termina de falar e ataca o meu rosto, distribuindo

beijos por todas as partes.


— Desculpa interromper. — Uma voz feminina chama a nossa

atenção, Bruno solta a minha boca e tem a sua atenção na ex-


namorada.

— Lua, tudo bem? — Bruno a cumprimenta com um beijo no

rosto, depois volta para o meu lado e me abraça.

O que vejo no rosto dela é impossível de negar. Lua continua


nutrindo sentimentos pelo Bruno. Lembro-me de a Marina ter dito

que ela tem saído com alguém, mas parece que isso ainda não foi o

suficiente.

Apesar de tudo, e de nunca termos sido próximas, não posso


julgá-la por isso, afinal, não se manda no coração. Não se controla o

sentimento.

— Estou bem. E você, Ângela, como tem passado? — Olha


para a minha barriga, no rosto tem a mesma curiosidade e fascínio

das outras pessoas. — Vim parabenizá-los pelos gêmeos.

— Obrigada — agradeço, um pouco constrangida pela

situação, afinal, ela é a ex-namorada dele.

Bruno veio com duas na bagagem, mas Lua só me incomodou

no início. Eu senti inveja por ela ter tido com Bruno a chance que

não parecia disposto a dar para mim, e apesar de o namoro entre


eles não ter sido completamente superado por ela, a respeito por

jamais ter tentado interferir entre nós.

Carolina Guimarães, essa foi a verdadeira pedra no sapato.

Abandonou ele no pior momento, depois voltou como se nada


tivesse acontecido. Hoje, Carolina usa o nome e a influência do

Bruno para se promover, e não deixa que ninguém se esqueça que

já foi noiva dele.

— Fico contente de te ver bem, Bruno. — Ela se dirige


exclusivamente a ele e meu noivo retribui com um sorriso sincero.

— Encontrou o que estava procurando, não é? — diz, e eu

estranho.

— Espero que seja feliz, que encontre a felicidade, assim


como eu encontrei a minha.

— Saúde aos bebês. — Lua se aproxima, beija o rosto do

Bruno, em seguida o meu e depois nos vira as costas.

— Ela é uma boa mulher — ele comenta.

— Por que não quis ficar com ela? — Bruno me olha confuso,

eu emendo com rapidez. — Não que seja uma reclamação, mas ela

é uma mulher de bom coração e gosta de você.


— Você ouviu o que ela falou? Foi com você que encontrei o

que estava procurando. Lua pode ser tudo, mas não era a pessoa
certa para mim. Nem sabia que isso existia até você aparecer e

tomar para si tudo de mim.

— Sem ex-namoradas?

— Nem ex e nem ninguém, minha futura funcionária —


provoca, insistindo em uma hipótese que nem temos certeza de que

se concretizará.

— Não serei a sua estagiária. — O soco no seu braço não

surtiu efeito, considerando o sorriso sacana no rosto.

— Posso saber por quê? Você aprenderia com o melhor —

gaba-se.

— Porque o melhor iria querer comer a estagiária cada vez

que ela entrasse na sala.

— Culpado. Isso não posso negar. Mas ela bem que gostaria,

não acha?

— Resistiria bravamente — afirmo só para contrariá-lo. Bruno

sabe que não seria assim, até porque, não resisti quando ele
descumpriu por mais de uma vez a promessa de não fazermos sexo

no escritório.

Já estamos discutindo esse assunto há um tempo.

Começamos depois que falei para ele dos meus desejos de sentir-
me mais útil, de arrumar uma ocupação para a mente. Revelei o

meu ressentimento de não ter feito um curso superior e, de maneira

nada surpreendente, Bruno entendeu o meu sentimento e desejo de

ir além. Envolveu-se no assunto, e quando perguntou o que eu


desejava fazer, percebi que não sabia, que nunca tive um grande

sonho, ou talento.

Nos primeiros dias me senti frustrada, quando percebi que não


existia nada que eu realmente gostasse, e nem alguns testes

vocacionais mudaram o fato. As coisas mudaram quando Bruno

passou a estudar os processos na cama. Ao seu lado, é impossível

não notar a paixão pelo ofício e não sentir curiosidade. Uma


curiosidade que se tornou descoberta quando comecei a fazer

perguntas que pacientemente respondia. O padrão virou rotina e, ao

nos perceber conversando sobre processos, Bruno apontou o que


eu não tinha me dado conta, eu havia descoberto uma paixão.
Não pude discordar, e estamos esperando os bebês nascerem

para que eu possa começar o curso. Nesse período, ocupo o meu


tempo estudando para o vestibular, descobrindo mais sobre o ramo

jurídico pelo qual me sinto cada dia mais apaixonada.

— Você é uma provocadora de pau, Ângela Albuquerque, essa

é a sua especialidade. E estou contando que venha provocar-me no


meu local de trabalho. — Esse é o seu lema, pois não basta me

ajudar, Bruno tem que operar no modo safado, ao mesmo tempo em

que age com seriedade.

— E eu estou contando com uma bela massagem. Os seus


filhos estão esgotando a minha energia hoje.

— Eu esgotarei o resto — afirma, sussurrando no meu ouvido,

sabendo que é o meu ponto fraco.

— Estou contando com isso. Inclusive, já estou preparada, se


é que você me entende.

Uma única frase, e eu tenho Bruno como um doido, ligando

para o motorista, despedindo-se dos nossos amigos e dando a festa

por encerrada.
CAPÍTULO 57

BRUNO

O relógio marca onze horas de uma noite de terça feira. Ao


invés de estar dormindo, como faz a minha gravidinha, que tem a

barriga tão grande que às vezes me assusta, estou estudando


exaustivamente um processo grande. Ele levará o nome do
escritório para outro patamar. Tanto eu quanto o Erick temos

mantido dedicação total, mas nada que interfira no nosso convívio


com as nossas famílias.

Família.

Às vezes me pego sem acreditar em como a minha vida

mudou desde o momento em que escolhi dar uma oportunidade a


mim e para o amor que tinha que ser vivido. A melhor escolha

Quando tudo parecia conspirar contra, escolhemos resistir,

agora aqui estamos, mais de um ano de relacionamento. Dentro do

nosso apartamento, onde estamos há meses vivendo juntos da


forma mais harmoniosa e prazerosa possível. Estamos esperando

os nossos bebês com ansiedade, e eu não poderia estar mais feliz.

— Bruno, tem alguma coisa estranha aqui embaixo. — Com a


voz bem baixinha e sonolenta, Ângela avisa. Ao sentar-se,

acrescenta. — Está frio?

— Não, meu amor, o ar-condicionado está na temperatura


agradável. Quer que eu modifique? — Enquanto falo, ela começa a

puxar o grosso cobertor.

— Ângela, você fez xixi na cama? — Olho para o colchão

molhado e ela faz o mesmo. — Será que foi o suco?

— Não é xixi, amor — fala preocupada. — Acho que a minha

bolsa estourou — explica, e só então entendo o motivo da

preocupação.

— Cedo demais? — Ela balança a cabeça.

— E agora, corremos para o hospital? — A minha Ângela tem

os olhos assustados, mas não é para menos, pois além de sermos

pais de primeira viagem, estamos cientes que a gravidez de gêmeos

inspira cuidados especiais, da mesma forma que sabemos que

ainda não é o dia de eles nascerem.


— Sim, eu estou apavorada, Bruno. Não está na hora — diz, e
quando tenta se levantar, coloco o computador no criado mudo e

corro para o seu lado. — Me leve para o hospital.

— Deixa-me te ajudar a trocar a roupa, depois nós saímos,

tudo bem? — Minha mulher confirma com um gesto de cabeça. — A

bolsa deles está no quarto?

— Sim. — Ainda não era para os bebês estarem nascendo,

mas nós já estávamos preparados há um tempo. — No berço do

Caio.

Caio e Sofia.

São os nomes que ela escolheu depois de um sonho. Não

houve objeção da minha parte, pelo contrário, achei os nomes muito

bonitos, além de gostar da homenagem para o irmão.

Depois de rapidamente nos prepararmos, dirigimo-nos para a


sala, enquanto eu, a todo o momento, asseguro de que ela não está

sentindo dor.

— O motorista, preciso ligar para ele.

— Não, amor. Precisamos ir agora — pede, e o meu sangue


fica gelado nas veias. — Pega a chave do meu carro e nos leve até
o hospital.

— E se eu... Jamais iria me perdoar caso... — Sinto-me

estarrecido com a ideia de ficar na direção de um carro. É como

estar no meu pior pesadelo, o medo de falhar e de não lembrar mais


de como se dirige.

— Eu confio em você. Faça isso, por mim e por eles. — O meu


anjo pega a minha mão e a leva até a sua barriga estufada,

arredondada e linda. Tão linda quanto sempre foi. — Vamos?

Apenas aceno com a cabeça e, sentindo que as minhas mãos

estão muito geladas, pego as chaves que estão sobre a mesinha de


centro e a levo para o estacionamento.

Dentro do carro, os meus dedos estão brancos de tanto


apertar o volante, mas a forma como me olha me faz ver que por ela

faço qualquer coisa.

— Eu amo você. — Aproximo-me e beijo de leve os seus

lábios. Em seguida ligo o carro, deixando para trás a única coisa


que me ligava a um passado de amargura e frustração. Mais uma

vez, ela foi a causa. Sempre será por ela. Será também pelos
nossos bebês, que estão prestes a nascer.

Porra! Estou a ponto de me tornar pai.


****

No hospital, somos atendidos pela equipe que já estava

preparada. O parto, por ter sido cesárea, não durou muito.

Emocionados, vimos o momento em que o primeiro bebê foi


tirado. Um rapazinho saudável e de bons pulmões, considerando o

seu choro alto. Um minuto depois, veio a minha princesinha, que


tem os cabelos escuros como os da mãe

O momento mais bonito, que ficará marcado nas nossas


memórias, foi quando colocaram os nossos filhos nos seus braços.

Foi um momento de ternura e realização. Quando os nossos olhares


se encontraram, não foi preciso palavras para entendermos que eles

são o nosso maior feito. Os frutos do nosso amor.

— São perfeitos, amor. — Ela está fascinada, tão linda que

nem parece que acabou de dar à luz.

— Obrigado por isso. — Abaixo-me e distribuo três beijos, um

na minha mulher, um no meu menininho e, por último, na minha


princesinha.

— Eu que agradeço por me salvar.


— Faria milhões de vezes para te ver sorrindo como está
agora — diz. Quando termina, ouvimos um burburinho.

— Acho que a galera está ansiosa lá fora. — Por galera,


Ângela se refere às nossas famílias e amigos.

— Preciso levar eles agora. — Uma enfermeira chega e, com


certa relutância da mamãe coruja, acaba levando os dois para
limpar e dar o primeiro banho.

— Está tudo bem, logo estarão nos nossos braços — conforto

com a verdade, pois antes de começar a fazer o parto, a médica nos


assegurou que, por terem nascido tão próximos à data marcada
para o parto, eles não precisarão ficar na incubadora.

— Acho melhor você ir falar com o pessoal, antes que sejam


expulsos daqui — pede.

— Já volto, anjo — despeço-me com um beijo no seu rosto.

Na recepção, encontro todos que imaginei que fosse encontrar.

Eles recebem com alegria a notícia do nascimento dos bebês, de


que está tudo bem com eles e a mãe. Sou bombardeado de

perguntas, principalmente das mulheres, pois todas acham que


Ângela e eu fizemos os filhos perfeitos. A conversa delas é confusa,

mas entendo que tem a ver com a nossa aparência física.


Apesar da ansiedade, todos compreendem quando informo
que ainda não é o momento para visitas, porque nossos filhos
precisam de mais um tempinho. No hospital fica apenas eu e a

senhora Albuquerque. Ângela precisa de alguém que a auxilie e ela


se prontificou antes que Marina abrisse a boca.

Quando entramos no quarto, fico na torcida para que mãe e


filha consigam se entender, que a visita não cause gatilhos, agora
que Ângela está bem e feliz.

ÂNGELA

— Eles são muito lindos, querida. — Já estou no quarto de


visitas, bem composta e babando nos meus pacotinhos, que

descansam tranquilos no berço emprestado ao lado da minha cama.

— Entre, mãe. A senhora está bem? — O cumprimento é

acompanhado de uma pergunta, pois a primeira pessoa que


imaginei entrando aqui era Marina, sem contar com o Bruno, que

não quer largar mais dos filhos.

— Tudo ótimo. Vim ficar um pouco com você e com os meus

netos — avisa. — Posso pegar? — Pede autorização, e não dá para


negar o constrangimento da situação.
— É claro que pode, dona Mara. Eles são os seus netos,

lembra? — Com um sorriso amarelo no rosto, tento descontrair


quando Mara pega caio nos braços. Ela o olha de um jeito diferente,

com carinho e devoção. Não acredito que seja apenas coincidência

que tenha pegado Caio primeiro.

Acredito que a perda de um filho seja a pior coisa que uma


mulher possa passar, ainda mais da forma que aconteceu. Todos

sofreram pela perda, mas não como a minha mãe. A vida passou,

ela não superou e isso refletiu na nossa relação. Mas não a culpo.

— Parece o seu irmão quando nasceu. — Os olhos dela

começam a lacrimejar enquanto encaram o neto com adoração, e

isso soa como um soco no meu estômago. Sem que possa resistir,

me vejo falando:

— Me perdoe mãe. — É a primeira vez que tenho coragem e

sinto abertura para pedir.

— Não, querida. Você não tem que se desculpar por nada, era

apenas uma criança e, no fundo, eu sempre soube disso. Mas o


meu luto nunca me deixou ver e sentir com clareza. Eu não fui a

mãe que você precisava.

— Não diz isso, mãe. Fui eu quem...


— Não, minha filha. Eu fui a grande responsável por tudo de

ruim que você passou quando nem entendia direito o mundo a sua

volta. Você não tem culpa pela morte do seu irmão. Entendi isso faz
um tempo, mas não tive coragem de sair da minha zona de conforto,

de tirar o peso que tão cruelmente coloquei sobre os seus ombros.

Não espero que você passe uma borracha em tudo e aja como se o

nosso afastamento não existisse.

— Sinto a sua falta — confesso o que venho guardando há


mais tempo do que deveria.

— Eu sei, minha bonequinha. Se ainda não for tarde demais,

peço que me deixe ficar mais perto de você e dos bebês, quero
construir a relação que nunca permiti que tivéssemos.

— Nunca é tarde demais, dona Mara — recebo o seu abraço

emocionado. Entre nós, o pequeno olha para algum ponto, sem ter o

mínimo entendimento da conversa importante.

— Você tem muito para me ensinar, minha filha — confessa e

me surpreende. A verdade é que não sei o que aconteceu para ter

mudado tanto, mas tenho esperança de que essa conversa mudará


a nossa relação para melhor. — Estou orgulhosa da mulher que se
tornou, do seu pai não preciso nem falar. Ele nunca esteve tão

saudável como agora, vendo você bem e feliz.

— O seu Tarcísio mostrou-se o melhor dos pais no momento

em que mais precisei dele. — De tudo de ruim que passei com mais

uma internação, perceber o amor do meu pai foi como ver retribuído

todo o amor, respeito e a proximidade que sempre imaginei que


tivesse com ele.

— Nós falhamos, amor, eu muito mais do que ele, mas somos

os seus pais, e você é o nosso bem mais precioso. Sei que muitas
vezes erramos na tentativa de te proteger do mundo, mas se tem

algum consolo nisso, é que você não cometerá os mesmos erros

com os seus filhos.

— Vamos esquecer do passado e olhar para frente, dona


Mara. O momento é de alegria, de dar toda a nossa atenção para

essas coisinhas lindas.

**

Nos cinco dias que seguiram, a minha mãe e eu tivemos a


chance de passarmos um bom tempo juntas. E apesar de esse

tempo não ter sido suficientemente longo para recuperarmos toda

uma vida de distanciamento, eles me permitiram ter a esperança de


que um dia seremos tão próximas quanto uma mãe e uma filha

devem ser.

— Que carinha é essa? — Assim que entra, os olhos do meu

amor vão de mim para os bebês, que dormem tranquilamente.

— Estou cansada de ficar nesse quarto. Quero levá-los para

casa — reclamo, sem poder resistir. O meu tédio e frustração estão

nas alturas.

— Você vai, e será hoje — Bruno afirma.

— Está falando sério? — Meu corpo se empertiga, a frase é

recebida como uma injeção de ânimo.

— Seríssimo. A doutora está vindo te dar alta.

— Não está assustado? Agora seremos só nós dois correndo


de um lado para o outro, acordando de madrugada com choros e

fraldas sujas.

— Estou apavorado, meu amor. Mas fraldas e choros não

serão grandes problemas, não para nós dois, a dupla imbatível.


Tiraremos de letra.

— Como sempre, você está certo. — Beijo os seus lábios,

pensando quanto tempo levará até que a doutora Kelly apareça para
nos liberar.
CAPÍTULO 58

BRUNO

Três meses depois...

Passaram-se três meses desde o nascimento dos gêmeos e,


diferente do que eu acreditei, nós não tiramos tão de letra.

No início, eu estava otimista de que não precisaríamos de


ninguém nos auxiliando, mas a realidade é que Ângela passou os
primeiros dias pendurada no telefone, pedindo ajuda para a mãe e

Marina. Fomos acordados com choros durante as madrugadas,


sofremos com as cólicas que eles sentiram, mas nada disso diminui

a experiência prazerosa que estamos tendo.

A minha rotina mudou, e a carga horária de trabalho foi

reduzida. Às vezes fico em casa para ajudar a minha mulher com os


nossos filhos. Além dos bebês, estou sempre prestando atenção na

Ângela, não esqueço que, de certa forma, ela não é como as outras

mulheres. Enfrentou batalhas que poucas enfrentam e,


surpreendente, tem levado da melhor forma as grandes mudanças
que aconteceram na sua vida. Ela continua com as idas aos

psicólogos, exercitando tudo o que aprendeu na clínica. Para o meu


completo orgulho e alívio, não tenho percebido atitudes e falas que

mereçam a minha preocupação no seu comportamento.

Sei que é um transtorno que talvez a acompanhe a vida toda,

mas me sinto mais tranquilo quanto a isso, pois tenho convicção que
vamos superar e enfrentar juntos tudo que vier a acontecer no

futuro. Nós vamos ficar bem.

Fomos liberados para voltarmos a fazer sexo depois de seis


semanas do parto, mas a adaptação com a nova rotina colocou o

assunto em segundo plano. Mas o tempo passou, as coisas se

acalmaram e eu voltei a ser o mesmo de antes. Estou subindo pelas


paredes, mas não tenho coragem de falar com a minha mulher. Não

sei se quer e não quero pressioná-la.

— Finalmente dormiram, quer dizer, a sua filha dormiu — diz,


sentando-se ao meu lado no sofá. Apesar de eu ter me oferecido

para ajudar na tarefa, a minha garota negou, então aproveitei o

tempo para trabalhar um pouco.

— Ela é geniosa — digo.


— Caio é mais quietinho. — Os gêmeos têm três meses, mas
nós já percebemos que as personalidades são completamente

diferentes.

— E você, como se sente? Cansada? — Investigo. Meus olhos

vão do rosto para o corpo, que ficou mais gostoso e desejável da

gravidez. Ângela ainda é a mesma, e sinto muito orgulho de ver


como encara bem as mudanças, que são grandes demais para uma

pessoa tão jovem.

Com maestria, consegue ser uma mãe dedicada e atenciosa,

tira um tempo para sua vaidade, para dar-me atenção e, além de

tudo, usa o tempo livre para continuar se dedicando aos estudos

para o vestibular que pretende prestar. A minha noiva se apaixonou


pela minha profissão e tenho certeza de que será uma advogada

competente, pois se tem uma coisa que Ângela não faz é deixar

coisas pela metade. Quando se propõe a fazer algo, faz da melhor

forma possível. Por tudo o que viveu, dá valor às pequenas coisas e

às pessoas que estão à sua volta.

— Não. Hoje os gêmeos dormiram bastante e eu aproveitei

para estudar um pouco.

— Você é linda, sabia?


— Você acha mesmo? — questiona, então a minha atenção

está sobre ela, que não consegue esconder a insegurança. — Você


ainda me deseja, Bruno? — Vejo o medo e a expectativa no seu

rosto.

— Que pergunta é essa, amor? É claro que eu te desejo —

afirmo.

— Mesmo que eu tenha engordado, com os peitos vazando e

herdado uma cicatriz do parto? — Enumera, e parece predisposta a


não acreditar que nada disso tem a menor importância para mim.

— Nada disso importa, entende? — Aproximo-me do seu


corpo e toco com carinho o rosto perfeito. Prendo o seu olhar no

meu para que veja a sinceridade do que direi. — Você não engordou
mais do que cinco quilos, e isso te deixou ainda mais gostosa. Seus

seios são as minhas tentações. Eles são grandes e apetitosos, e


espero que os nossos filhos não se importem de dividir o alimento
comigo, porque não tenho o menor problema em tocá-los. Na

verdade, as minhas mãos estão coçando e a boca salivando.


Quanto a cicatriz, essa marca me orgulha, ela simboliza a vinda dos

nossos bebês ao mundo, os maiores presentes que você poderia


me dar.
— Está distante fisicamente — reclama. Eu gosto disso, pois

demonstra a confiança e a abertura que temos para conversarmos


sobre tudo.

— Estava respeitando o seu tempo. Não pense que está sendo


fácil, porque estou doido para te foder — confesso.

— Se você quiser, a tortura acabou — avisa toda dengosa,


vindo com o seu short curto para cima de mim.

— Você está falando sério? — indago, não acreditando que a


minha seca de três meses está prestes a chegar ao fim. — Não

brinque com isso, gata. Não com um homem que está subindo pelas
paredes.

— Se você quiser, eu também quero. — De repente, parece


adoravelmente tímida, e a Ângela tímida é o meu ponto fraco.

— Está agindo como uma virgem, meu amor? Foram apenas


três meses — provoco, e aproveito para trazê-la para as minhas

pernas. — Nem parece que é uma safada provocadora de pau.

— Nem sei mais se lembro de como seduzir você.

— Você sabe, minha gostosa. Veja só. — Acomodo-a melhor


sobre a minha ereção, mostrando literalmente o tamanho do seu
engano. — Como pode achar que não sabe como seduzir se só o
fato de respirar perto de mim me deixa jogado aos seus pés?

— Você sabe como usar as palavras, não é mesmo? Nem sei


como ainda me surpreendo, meu advogado fodão.

— As palavras, as mãos, a boca e, principalmente, o pau.


Resta saber se a minha gata está interessada nos meus diversos
talentos.

— Pensei que você nunca fosse perguntar. — As mãos vão

para o meu pescoço e os dedos habilidosos chegam aos cabelos da


minha nuca, o que me deixa muito excitado, pois além de ser muito
gostosa e receptiva aos meus toques, qualquer carinho dela é algo

que me excita de uma forma inexplicável.

— Você poderia ter pedido, já que está tão carente —

assevero, enquanto subo a sua blusa e meus olhos caem nos seios
que de médios passaram a grandes e muito apetitosos.

— Não podia, e você sabe por que — ela fala.

— Não precisaríamos fazer sexo, amor, mas eu te faria se

sentir bem. Lembra-se do que acabei de falar sobre mãos e boca?

— Você é tão prestativo, não é mesmo? — zomba, divertida.


— Tudo pela minha mulherzinha gostosa e carente do meu
pau. — Vou cada vez mais longe, trazendo-a até a borda,
relembrando como costumávamos ser antes do longo período de

abstinência.

— Faça de uma vez. — O tom de voz é de súplica, e eu não


poderia estar mais satisfeito com o desfecho desse dia e da noite
que imaginei que terminaria no chuveiro, em busca do meu próprio
alívio.

— Era tudo o que eu queria ouvir — digo. Quando aprisiono a

boca macia em um beijo, que tem sido tudo o que temos feito desde

o nascimento dos gêmeos, as minhas mãos não se intimidam e vão


direto para o fecho do sutiã.

Tão cheia de pressa quanto eu, a minha noiva termina de tirar

a blusa branca, que até então estava embolada na altura dos seios.

Junto com ela, também tira o sutiã aberto por mim. Desejando estar
o mais próximo possível, faço como ela e tiro a camisa.

— Eu acho melhor... — Ela olha para os seios alvos e cheios,

quando uma gota do líquido esbranquiçado vaza e cai sobre o jeans


escuro da minha calça, vejo o rosto contorce-se de puro

constrangimento.
— Não pense nisso. — Seguro o pulso fino quando faz

movimento para tentar pegar o sutiã de volta. — Eu vou cuidar


dessa bagunça. — Quando curvo levemente às suas costas para

trás, capturo com a língua outra gotícula que está prestes a cair. —

Tudo o que é seu me pertence, até mesmo o leite que é o alimento


para os nossos filhos. Tudo sobre você é fascinante, mas os seios,

com ou sem leite, são minhas fraquezas — declaro, e seus olhos

veem o momento em que a minha boca ávida se fecha sobre um

deles, enquanto a outra brinca com o gêmeo, se revezando entre


brincar com o mamilo durinho e amassá-lo entre os dedos.

O leite que jorra para a minha boca é morno, e se pudesse

classificar a experiência, poderia dizer que é uma das mais

prazerosas da minha vida. Sem sombra de dúvida é a mais íntima.

— Bruno... — Enquanto troco de seio, dando para o segundo a

mesma atenção que dei ao primeiro, a minha diabinha já não está

se segurando, ela agarra com força ao meu cabelo e esfrega o sexo


no meu.

— Eu preciso de você, Ângela. Agora! — Com as batidas do

coração erráticas, digo muito próximo da sua boca.

— Eu também — devolve.
— Vamos para a cama. — Quando nos levanto, ela enrola as

pernas em volta da minha cintura e, aos beijos, caminho devagar

para o nosso quarto, que passou por uma reforma e hoje é


conjugado com o dos gêmeos.

Mesmo sendo interrompidos duas vezes, uma para ela

amamentar a Sofia e o Caio, que têm o dom de acordarem juntos

para tudo, e a outra para trocar fraldas, a nossa noite é muito

movimentada. A saudade, que está longe de ser saciada, é


amenizada. Relembramos como somos bons na cama.

Por volta de quatro horas da madrugada, quando ela se vira

para o lado e dorme, permaneço acordado por um tempo. Apesar do


cansaço, o sono não vem, mas sei que é porque estou muito feliz.

A nossa história começa a passar diante dos meus olhos como

um filme. O encontro no banheiro, que culminou na minha rejeição.

A minha cegueira, que me fez cego de tudo, não só dos olhos. As


crises que a levaram para longe de mim. A descoberta da gravidez

no momento nada propício. Foram tantas coisas que nos trouxeram

até aqui, para o nosso lar e a nossa própria família. Se eu pudesse


voltar atrás, não mudaria nada.
As nossas vidas não foram fáceis, mas prefiro pensar que

cada uma das provações foram responsáveis por nos colocar no


caminho um do outro para a história que precisava ser vivida. A

história de um amor inabalável, que resistiu às maiores provações.


EPÍLOGO

ÂNGELA

Alguns anos depois...

— Parabéns, esposa gostosa. Estou muito orgulhoso de você,


e mal posso esperar para te levar para um lugar mais reservado e

descobrir o que usa por baixo de toda essa roupa.

Como existem coisas que nunca mudam, essas foram as


palavras faladas pelo Bruno no meu ouvido quando pego o canudo

que simboliza o fim e o começo de mais um ciclo na minha vida das


suas mãos.

No auditório espaçoso da universidade, hoje acontece a

cerimônia de colação de grau da minha turma de Direito. Aqui estão

todas as pessoas que amo e, como não poderia deixar de ser,


Bruno Pires, o meu marido e pai dos meus filhos, foi o profissional

escolhido para ser o homenageado da noite. De onde eu estava,

vestindo o traje típico para o evento, vi o Bruno apenas entregando


o papel enrolado na mão de cada aluno que fora anunciado.
Na minha vez, e tendo a atenção de todos os presentes, que

sabem que somos casados e pais de duas crianças, o meu marido


não faz questão de agir com discrição ao puxar-me pela cintura e

falar sacanagens sussurradas no meu ouvido. Temos como trilha

sonora o burburinho da plateia às nossas costas.

— Tenho certeza de que o meu marido vai apreciar e


aproveitar muito o que tenho para ele — devolvo, antes de seguir o

meu caminho e cumprimentar o resto dos professores.

Quando a fila termina e desço do palco, tento me ater em


apenas caminhar para onde estão sentadas as nossas famílias que,

nos últimos anos, tornaram-se bem próximas e o meu casal de

amigos, Erick e Marina. Eles não poderiam faltar, considerando que


fazem parte de tudo o que acontece na minha vida e na do Bruno.

Ao lado deles, três crianças brincam entre si, alheias ao que

acontece no mundo dos adultos. Um pouco mais velho, João


Guilherme é um rapazinho de quase sete anos. Ele tem a aparência

do pai e a personalidade da mãe. É amoroso e muito cuidadoso com

os gêmeos.

Caio e Sofia são muito parecidos fisicamente, os dois têm

peles claras, olhos azuis e os cabelos bem escuros como os meus.


Mas fora a parte física, os dois não poderiam ser mais diferentes,
pois enquanto Sofia é muito agitada e extrovertida, Caio é tímido e

mais calmo. Apesar das diferenças, são muito unidos, um está

sempre protegendo o outro.

Enquanto tento caminhar para o meu lugar, sinto que estou

sendo tudo, menos discreta. Se estivesse, as pessoas estariam


prestando atenção na cerimônia, não em mim.

Se a mídia já se interessava pela nossa vida pelo simples fato

de sermos quem somos, piorou depois do vazamento das fotos.

Sim, as benditas fotos do Mateus, que depois de mais de um


ano vieram à tona. Elas vieram a público depois que o responsável

por elas foi condenado por tentativa de estupro e extorsão. Da

cadeia, e sem que tenhamos conseguido descobrir como aconteceu,

o maldito conseguiu nos atingir. As imagens pareciam piores do que

realmente eram. Quem as viu ficou com a nítida impressão de que

estávamos fazendo sexo em público.

Foi o período mais difícil, que durou muito tempo. Passamos a

ser espécies de subcelebridades, e tudo que fazemos merece

clique. Tive que aprender a lidar com a falta de privacidade e com o

medo de surtar novamente. Bruno, me conhecendo como ninguém,


esteve atento às pequenas mudanças e, pelo seu amor e dos

nossos filhos, a ameaça não passou disso. Quando a vontade de


me entregar veio à tona, tive alguém para segurar a minha mão e

manter-me de pé. Tive o amor da minha pequena família e a


compreensão de um homem que é o meu alicerce.

Tantos anos se passaram, mas ainda tenho que lidar com


algumas questões. Em detrimento disso, sei que sou completa e

plenamente feliz. Pedras no caminho sempre aparecerão, mas sei


que elas existem para serem tiradas. A vida me ensinou, e hoje me

sinto forte como nunca, sendo reconhecida como uma das melhores
alunas da turma. Foram anos de pura correria, mas também
maravilhosos.

Bruno e eu optamos por não termos babás, e se durante o dia


eu me virava para tomar conta de dois bebês, na parte da noite ele

assumia e eu ia para a faculdade. As nossas rotinas se encaixaram


perfeitamente e a nossa relação como homem e mulher nunca
esfriou.

— Você está perfeita, meu amor. — É meu pai quem elogia

quando me sento ao seu lado. — Estou muito orgulhoso da mulher


que se tornou.
— O mesmo aqui. — Dona Mara assevera.

A minha relação com os dois mudou bastante, e se antes

pareceu que não souberam lidar com os meus problemas, o tempo


me fez compreendê-los melhor. Sei que os erros existiram, que eles
não podem ser apagados da nossa história, mas depois de ser mãe

e lutar todos os dias para dar o melhor para os pequenos, vejo que
fizeram o melhor que puderam na situação que nos encontrávamos.

Foi preciso que eu saísse de casa, e esse afastamento foi


essencial para nos conhecermos e construirmos uma verdadeira

relação entre pais e filha. Hoje eles são essenciais na minha vida e
na dos netos.

Ao lado dos meus pais e amigos, vejo a cerimônia de colação


de grau com mais tranquilidade. Quando acaba, todos se dirigem

para o baile de formatura, que foi organizado no salão do principal


hotel que a família Albuquerque possui. Meu pai ficou tão orgulhoso
com a minha conquista que decidiu ceder o salão para o baile.

*****

— Está feliz? — Ao volante, meu marido desvia por um


segundo a atenção da estrada.
— Feliz e realizada — afirmo. — Se cheguei até aqui, foi
graças ao seu apoio e amor incondicional.

— Sempre. — Continua dirigindo com apenas uma mão, a


outra pega a minha e a beija.

Sempre.

Essa foi a última palavra dita por ele no seu voto de

casamento, um dia mágico e inesquecível.

Diferente do combinado, o nosso casamento aconteceu mais

de um ano após o nascimento do Caio e da Sofia. A cerimônia foi


íntima, e não contou com mais de cinquenta convidados.

Tendo o pôr do sol como pano de fundo, nós dois entramos


descalços com os pés na areia. A sua calça e blusa social branca

combinou perfeitamente com o meu vestido branco, todo bordado a


mão. Ele foi justo até a cintura e se abria a partir das coxas. As
manchetes e as revistas classificaram como o perfeito casamento

praiano, e até hoje serve como inspiração para as noivas da cidade.

A lua de mel não aconteceu de imediato porque não

queríamos ficar tantos dias longe dos nossos filhos, que na época
tinham um pouco mais de um ano de idade. A noite de núpcias foi

em um quarto de hotel, e enquanto nos amávamos madrugada


adentro, ficou claro que não importa o lugar, o que vale é estarmos
juntos.

A viagem aconteceu quando os nossos filhos tinham quase 2


anos e não mamavam mais. Eles passaram duas semanas na casa

dos meus pais, enquanto nós dois fomos conhecer algumas belezas
do nosso país. Do norte ao nordeste, tiramos dias só para nós e,
como no início do namoro, a nossa única preocupação foi curtirmos
os pontos turísticos e transarmos. Uma quantidade obscena de

sexo, nada diferente do que costumamos fazer hoje, depois de

tantos anos de relacionamento. Um relacionamento que foi

amadurecendo com o tempo.

— Está com os pensamentos longe, diabinha? — Bruno fala,

fazendo-me perceber só agora que não estamos mais na estrada.

Passa das onze horas da noite, Caio e Sofia foram passar a noite na
casa dos tios, um programa que amam fazer, considerando que, aos

cinco anos, pensam que podem cuidar do primo de dois anos.

— Pensando nas partes boas da vida. — Levo a mão até a sua

nuca e afago os cabelos escuros, que começam a apresentar


alguns charmosos fios brancos. Os anos só fizeram bem para o

Bruno, e a cada amanhecer ao seu lado, tenho a impressão de que


está mais lindo do que no dia anterior. — Estamos parados no meio

da estrada? — indago.

— Sim, amor. Preste atenção onde estamos — pede e, quando

os meus olhos observam melhor, percebo que estamos na praia. O

som inconfundível das ondas traz uma sensação boa. A brisa fresca

diz que não poderíamos terminar a noite melhor.

— O que pretende? — Estou curiosa, não posso negar.

— Pensei que poderíamos caminhar com os pés na areia,

como foi no dia do nosso casamento.

— Excelente ideia — aviso, destravando a porta do carro.

Quando alcançamos a areia branca, paramos para tirar os

nossos sapatos e iniciamos a nossa caminhada pelo lugar vazio.

Ouve-se apenas os sons das águas calmas e do vento fresco contra

os nossos rostos, espalhando os meus cabelos e esvoaçando o


meu longo vestido preto.

O momento é mágico e nada me preocupa. Quero apenas

sentir, relembrar e agradecer ao lado do meu marido, que foi o maior


responsável por tudo que conquistei até aqui. Bruno não gosta que

eu fale assim, porque para ele foi o contrário.


— Algum motivo especial para estarmos aqui? — questiono

quando ele entrelaça os nossos dedos.

— Porque eu passei a amar esse lugar desde o dia em que

você disse sim. O sim mais importante de todos os que disse para
mim. E foram muitos, meu pequeno anjo.

— Muitos?

— Parece que terei que relembrar — diz ao interromper o

nosso caminhar. — No seu primeiro sim, você me atacou no


banheiro dos nossos amigos e me enfeitiçou com o seu cheiro e a

voz inesquecível, que me perseguiram por anos. Fez com que eu

não conseguisse te esquecer.

— Você disse não naquele dia. — Relembro. Na época foi o


fim do mundo para a jovem acostumada a ter o sim de todos, até

mesmo dos que não queria.

— Disse, mas no fundo queria ter dito sim. Só não estava

preparado.

— Eu te esperaria — confesso, porque foi exatamente o que

fiz, ainda que inconscientemente.


— Dois anos depois, você disse sim mais uma vez. Me aceitou

como o seu namorado, deu-me a chance que eu não merecia e tudo


mudou. Tornei-me um novo homem, depois de você recuperei a

autoestima e a fé.

— Amor... — Falho na tentativa de falar. O meu coração bate

acelerado, no estômago a sensação de milhares de borboletas


batendo asas.

Sete anos de relacionamento, mas os sentimentos e

sensações são os mesmos do início do namoro.

— Aceitar ser a minha mulher, dar-me os nossos filhos, a sua


recuperação, a minha cirurgia; foram tantas coisas e tantas

conquistas. Muitos anos se passaram, mas o meu amor só cresce.

Sou apaixonado por você como no dia em que se preocupou comigo


e me levou para casa. Nós dois estávamos afastados, lembra?

— É claro que lembro. Eu menti que estava com alguém

porque estava com ciúme da Lua — revelo e, involuntariamente, os

nossos sorrisos se abrem, relembrando o tumultuado início.

— Naquele dia, eu comecei a entender que não poderia mais

resistir a você.
— Sou irresistível — digo, ele me agarra e morde o meu

pescoço.

— É convencida também, e amo você por isso — declara ao

tomar minha boca. O beijo começa calmo, mas logo se torna íntimo
e intenso demais para um lugar público.

Quando as nossas roupas começam a sumir, Bruno nos deita

sobre a areia fofa e, encarando-me com os seus olhos escuros

como o céu em dia de tempestade, me ama com carinho. Sussurra


palavras de carinho e me toca com devoção.

— Até o meu último suspiro — declara quando o alívio toma os

nossos corpos. — Vou te amar para sempre, minha mulher, mãe dos

meus filhos. O meu pequeno anjo salvador. Vou te amar nesta e em


todas as outras vidas.

— Até o meu último suspiro, meu amor — devolvo, olhando

nos seus olhos azuis.

Sentindo o peso do seu corpo, e o coração ainda batendo


acelerado contra o meu peito, vejo refletido no seu rosto o que

provavelmente está no meu.

São sentimentos intensos demais, que fizeram mudanças


muito grandes nas nossas vidas.
Encontramo-nos como duas pessoas quebradas, mas nós nos

reconstruímos juntos. Bruno e eu somos provas vivas de que não se


pode fugir do destino e do amor que precisa ser vivido. Quando é

para acontecer, não existem dificuldades capazes de impedir. Elas

servem apenas para fortalecer e reafirmar.

A vida é um eterno aprendizado. Hoje entendo que todo o


sofrimento foi necessário, um aprendizado que me fez enxergar o

amor quando ele bateu à porta, a valorizar as pequenas coisas. Se

tivesse oportunidade de voltar no tempo, acredito que não mudaria

nada na minha história, pois foi ela quem me trouxe até aqui, aos
braços do meu amor, vivendo a felicidade plena de saber que tenho

uma profissão, amigos, família e filhos. Coisas essenciais,

conquistadas a partir de um amor que parece ter vindo de outras


vidas.
SEMPRE FOI VOCÊ
SINOPSE

Depois de um início de relacionamento conturbado, em


que ambos escondiam do mundo e até si mesmos quem eram de

verdade, eles encontraram um no outro a cura para suas feridas,


sobretudo, sentimentos tão fortes que sequer eram capazes de
compreender.

Bruno e Ângela venceram obstáculos que pareciam

intransponíveis para ficarem juntos, viveram anos de um casamento


com alguns altos e baixos, e apesar de nunca ter faltado amor,
compreendem que nem sempre ele é o suficiente para manter duas

pessoas juntas.

Quando sente que a esposa está ficando cada dia

mais fria e distante, Bruno se verá em uma posição tão difícil quanto

a que esteve no passado, e sabe que terá que agir rápido para
salvar seu casamento, pois das poucas certezas que tem na vida,

nenhuma é maior de que a convicção de que não pode viver sem o


seu pequeno anjo.
CAPÍTULO 1

BRUNO

Dez anos depois, e eu ainda não me acostumei com o


fato de que estou dormindo e acordando há uma década com a

mesma mulher. A mesma por quem me apaixono tão intensamente


todos os dias, com quem tenho a vida tão interligada que não sei
onde ela começa e eu termino.

Sem poder me conter, mas com cuidado para não a

despertar, desço o pano que cobria da bunda até os seus pés. O


meu pequeno anjo, que só dorme de bruços, agradeço a chance de
poder ver as costas bonitas e a bunda empinada todos os dias, nem

se mexe quando afasto a coberta.

Aproveito para beijar as costas alvas e perfeitas, desço


para a bunda, sigo para as pernas e termino nos pés bonitos.

Quando o beijo, ela solta uma risadinha, pois sente cócegas.

O não só o som da sua risada, mas o fato de estar

sorrindo enche o meu corpo de calor. Com uma mulher como a que

amo, que aos meus olhos sempre foi perfeita, mesmo com as
rachaduras que sempre carregou na alma, um sorriso nunca é

apenas um sorriso.

A sua risada, ainda que seja um repuxar de lábios, que


preciso ver todos os dias para sentir que está tudo bem, funciona

como uma bússola para mim. Nos dias em que não quer sorrir, e

esses dias existem, mesmo que nunca tenha deixado de fazer


acompanhamentos psicológicos, tenho a sensação de que falhei.

E não pense que é muito difícil, que é um fardo pesado

demais para mim, pois não é. A minha esposa é a minha alma,


antes de eu ser a cura dela, ela foi a minha cura. Só sou o Bruno

Pires de hoje, o homem que me orgulho de ser, porque a amei.

Amar a minha diabinha foi um ato de coragem, quando

tudo que queria era continuar me afogando em um mar de

amargura e frustrações, continuar a amando todos esses anos é a

melhor coisa que sei fazer, e não acredito que preciso que nada seja
diferente, a vida tem que seguir o seu rumo do mesmo jeito que tem

sido nos últimos anos.

Quando sinto que tem uma pequena chance de ameaça

para ela ou para o nosso amor, algo em mim se quebra, e então se

conserta quando estou com a minha linda advogada nos meus


braços. Sei que não é fácil para a diabinha, pois nesses momentos
me torno duro e insaciável na cama.

Ontem foi um bom exemplo disso. Faz uns três dias que

a advogada mais bela do escritório renomado de advocacia que

possuo tem estado mais quieta. Não chega a ser uma tristeza tão

grande que outros consigam notar, mas, conhecendo-a como a


palma da minha mão, liguei o pisca alerta.

Claro que eu quero perguntar diretamente para ela o que

está acontecendo, quero saber por que está tão distraída, um pouco

menos sorridente e tímida, mas ainda estou me segurando para não

a pressionar.

A forma como o nosso relacionamento foi construído e

como o levamos no decorrer dos anos me ensinou que não posso

sufocá-la com os meus cuidados, que preciso deixar as paranoias

de lado e só agir quando tenho embasamento para tomar alguma

atitude.

A gente sempre soube que doenças psicológicas são

tratadas e mantidas sob controle, mas que elas não desaparecem

como num passe de mágica. A opção é viver da melhor forma e não

pirar.
Foi o que a minha esposa fez, e embora tenha tido crises

durante os anos, nenhuma foi tão séria quanto a ocasião em que


quase enlouqueci quando fui forçado a ficar longe. Foi um momento

difícil, porque tudo o que eu queria era ficar perto da mulher da


minha vida.

Ângela não voltou a ser internada. Ela ainda é duas


versões de si mesma: a minha diabinha nos melhores dias, toda

animada com a sua vida, que sou eu, os filhos e o seu trabalho, e o
meu pequeno anjo, que aparece com menos frequência. Esse anjo

precisa de mais atenção, fica no seu canto e não se abre para


ninguém além de mim.

Eu amo as duas com a mesma intensidade, porque a

conheci assim. E mesmo que os dias como os últimos que vivi me


roubem anos de vida por causa da preocupação, eu não me ressinto

de nada. Não trocaria a minha garota de olhos azuis como o mar por
um modelo de perfeição, até porque, embora para os outros possa
não ser, Ângela Pires é o meu ideal de perfeição.

— Hum… — ela geme e se contorce um pouco por causa

do sono. — Pare com isso, amor. Eu estou com sono — reclama


com o rosto no travesseiro.
Eu, sem fazer-me de rogado, uso da nossa total

intimidade para subir a mão dos pés para os lados de sua bunda
perfeita.

Quando ainda era apenas a herdeira dos Albuquerque


aos olhos do mundo, Ângela era considerada a garota mais linda da

cidade. Eu não podia enxergar, mas ouvia que era perfeita e


acreditava.

O momento em que a vi pela primeira vez está guardado


na minha memória como um dos mais importantes da minha vida.

Até hoje tenho a lembrança nítida do baque que senti. Ângela não
era apenas linda, ela era a definição exata da palavra perfeição. O
rosto angelical, os olhos que viram a minha alma.

Eu me senti o homem mais sortudo do mundo, porque eu

a conheci antes de vê-la. Quando vi, já sabia que o que tinha por
dentro conseguia ser ainda mais belo do que a aparência
arrebatadora.

A Ângela de agora é uma mulher em todos os sentidos da


palavra e está estonteante. A beleza madura de uma mulher que

passou dos trinta me faz morrer de ciúme em silêncio, apenas


porque não posso quebrar a cara de todos os homens que babam
nela em todos os lugares onde coloca os pés.

Você sabe o que é ter a mulher que é sempre a mais


linda de qualquer evento como esposa?

Ao mesmo tempo que é uma merda, é uma benção, pois


eu sei que só eu a toco, que podem tirar as suas roupas com os
olhos, mas eu as tiro de verdade com muita frequência.

Como advogada, minha esposa é muito competente

atuando na área criminal. Ela tem a sua própria sala no escritório,


mas sempre que pode dá uma escapada para a minha sala.

Eu não preciso dizer que a gente faz mais do que discutir

processos, preciso?

Se a minha esposa é bem sucedida em todas as áreas da


sua vida, as maiores realizações são os nossos filhos, Caio e Sofia.

E por falar na Sofia...

— Por favor! Vocês não estão sem roupas, estão? —

Minha filha bate na porta, mas sei que não vai se atrever a entrar.
Não depois de ter nos flagrado aos amassos na piscina há um
tempo.
Em nossa defesa, preciso dizer que não tivemos culpa.
Acreditamos que a barra estava limpa, afinal, já passava da meia-
noite, e as crianças costumam ir para os seus quartos até às onze

da noite.

Sofia contou do ocorrido para o seu irmão gêmeo e,


desde então, traumatizados, eles fazem de tudo para nos evitar
quando estamos de chamego. Os entendo perfeitamente, pois
também não gosto de pensar que os meus pais transam.

— Sinto informar, mas nós estamos pelados, meu amor

— digo, com os olhos na porta.

— Que saco, papai!

— Cuidado com essa boca, menina! — esbravejo para a

porta, mas sem a rispidez necessária aos pais quando precisam

educar seus filhos.

— Só não demorem, o Caio e eu estamos ansiosos para


irmos passar o fim de semana na casa da tia Marina. O João está

nos ensinando alguns jogos diferentes.

— Tudo bem, princesa, espere na sala com o seu irmão,

o pai já vai descer para levar vocês.


Sim, eles são unha e carne com o meu afilhado, João,

que é um pouco mais velho e age como se fosse o líder e protetor


dos amigos gêmeos.

— Você é o melhor, pai.

— Não deixe a sua mãe ouvir — brinco.

— Ela é a melhor — rebate, e o som de passos denuncia


a sua partida.

No quesito ser firme com os filhos, minha diabinha ganha

de lavada de mim. Eu faço bem a minha parte ao dizer amém para

tudo o que ela ensina aos nossos filhos, considerando que é uma
excelente e sempre pensa no melhor para eles.

Aos dez anos, os nossos filhos são ótimas crianças, e sei

que são assim graças à mãe que têm, porque além de sempre ter

feito de tudo para ser a melhor, nunca os deixou perceber que não é
a mulher maravilha que enxergam.

Eu tentei fazê-la entender que não pode protegê-los de si

mesma, que os nossos filhos têm idade suficiente para entenderem


certas coisas, mas Ângela se negou a falar sobre os seus antigos

transtornos e eu respeitei a sua vontade, porque faço tudo pela


minha mulher. Gosto de fazer coisas por ela, mesmo as que não

pareçam corretas.

Entendo o seu posicionamento, mas não compreendo.

Não é como se existisse alguma chance de os nossos filhos a


amarem menos porque não é uma super-heroína sem fraquezas.

— Amor da minha vida, luz dos meus olhos… — falo no

seu ouvido, ela funga, mas não desperta para a vida. — Você não

vai sair dessa cama hoje? É sábado, a gente está de folga e livre
das crianças o fim de semana inteiro… — Cito fatos que podem

animá-la, mas já imagino a resposta que vou ouvir.

— Você fala como se as nossas pestinhas fossem um

inconveniente — diz baixinho, meio grogue pelo sono infinito.

— Meu anjo, você sabe que eles são os maiores e

melhores presentes que você me deu, mas se tornaram dois empata

foda. A gente não pode transar em outro lugar que não seja na
cama quando estão em casa.

— É por isso que me come na sua mesa quase todos os

dias? — pergunta.

Ela está bem falante agora, e isso me deixa animado,


pois significa que despertou e vai se animar para curtir o dia.
— Por isso, e porque a advogada mais gostosa do

escritório é a minha esposa.

— Sou muito gostosa. — A minha chatinha brinca, com o

seu jeito convencido de sempre.

— Dormiu bem? — questiono quando ela se ajeita e se

deita de costas na cama. Agora, está olhando para mim com os


seus olhos impressionantes.

— Desmaiei. Ontem você acabou comigo. Parecia que

estava há anos sem sexo. Algum problema? — indaga ao levantar a

mão pequena e enfiar os dedos nos meus cabelos, que já contêm


alguns fios grisalhos.

Eu hesito na hora de responder, porque faço um trabalho

muito bem-feito na hora de poupá-la, então ela não sabe que amá-la
até não restar mais forças nos nossos corpos é uma forma de

afastar as fraquezas que não posso admitir.

— Problema nenhum — digo. — Só te amo muito.

— Eu também te amo, meu advogado fodão.

Quando desço a cabeça para beijá-la, Ângela coloca a


mão sobre a própria boca para impedir.
— Gosto e cheiro de esgoto — o som que sai abafado me

faz gargalhar.

Dez anos de casamento, e a minha chatinha ainda tem

esse tipo de pudor.

— Pare de bobagem, amor — digo, tiro sua mão da

boca, mas ela a mantém fechada e, sorrindo com os olhos, permite

que eu dê apenas um selinho demorado em seus lábios.

E apesar de não querer beijos, ela se vira de lado, puxa a


minha mão para a sua barriga e nos deixa de conchinha. Ângela

aconchega a bunda no meu pau, que está semiereto, porque

mesmo que não fosse comum para os homens, eu ainda acordaria

duro ao lado da gostosa que chamo de esposa.

— Diabinha, a gente tem que levar os gêmeos à casa dos

Estevan. Esqueceu que combinamos que esse é o fim de semana

que dois vão lidar com os três pestinhas? — brinco.

Nem a gente e nem os nossos amigos mais próximos


estão livres de três crianças entrando na fase da pré-adolescência.

Quando eles querem passar um tempo juntos, algo que acontece

com frequência, cabe a nós quatro dividir a responsabilidade. Há


finais de semana em que o João vem para casa, e outros que os

nossos gêmeos vão para a mansão dos Estevan.

— Eles são uns anjos, e você não vai sair sem antes…

— Sem antes o que, meu amor? — pergunto, e aproveito

para morder o seu pescoço.

— Ontem eu tive um sonho erótico. Deve ter sido porque

você estava dentro de mim quando caí no sono.

— Uma ótima hipótese — rebato. — Mas ainda não

entendi aonde você quer chegar — falo, só para ouvi-la falar.

Capacidade para ser safada, a minha esposa tem de sobra.

Antes de eu finalmente deixar de negar o que tanto


queria, ela me perseguiu um pouco. Não foi nada sutil em suas

abordagens. Ainda bem, pois sempre amei a sua forma de mostrar o

que quer.

— Estou com a boceta molhada, algo que está me

incomodando muito, então, preciso que o meu marido lindo e

gostoso me faça gozar.

— Não temos tempo, princesa — digo, embora a sua fala


direta tenha feito o meu pau, que estava a meio mastro, ficar duro
feito uma tora de madeira.

Eu quero muito fazê-la gozar. Sinto que vim ao mundo

para isso. Essa é a cabeça do meu pau falando alto.

— Você é ótimo em me satisfazer. Dê o seu melhor,

querido — pede, então torna impossível de negar ao dar uma


rebolada gostosa no meu cacete.

Felizmente, estamos sem roupa, o que facilita o

processo.

— Deite-se de costas — peço. No momento em que se


vira, o som alto de uma dessas músicas que os jovens gostam

invade o ambiente.

A minha esposa e eu nos olhamos e sorrimos. As

crianças colocaram música, isso quer dizer que estão distraídas e


podem esperar um pouco mais.

Depois que a diversão passa e os sorrisos morrem, fica a


tensão sexual que a sua fala sobre estar molhada e querer gozar

trouxeram.

Eu olho para os seus peitos bonitos, depois para sua


boca gostosa. Ela balança a cabeça negativamente, dizendo que
não vai ter beijo, então me contento com a visão dos peitos mais
bonitos que já toquei.

Desço a cabeça sobre o biquinho rosado e duro, dou uma

longa lambida e depois uma mordida que a faz soltar um gritinho de


protesto.

— Seus peitos são tentadores — digo, enquanto a minha


mão desce lentamente pela barriga plana. — Eles me hipnotizam.

— Eu sei. No escritório, têm clientes e associados que


não acreditam que você saiba da existência de um pescoço e uma
cabeça acima do meu decote — o comentário me faz rir alto.

Desde o início do nosso namoro, ficou claro que discrição

não é o nosso forte. Não tem quem não saiba que somos um casal
extremamente apaixonado, porque além de estarmos sempre
juntos, também nos esquecemos que não estamos sozinhos quando

o tesão bate à porta.

E não, o passar dos anos não nos tornou mais maduros


quanto a isso.

Não gostamos que a mídia goste tanto de vender a nossa

imagem de casal perfeito no quesito aparência, tanto que chega a


ponto de parecer que somos vazios por dentro, e em
demonstrações de carinhos, mas não nos comportamos como
deveríamos.

Não fazemos de propósito, apenas somos fracos.

— Eles não sabem de nada. A culpa é sua, que me deixa

louco quando se veste de advogada sexy e gostosa para me


provocar — afirmo.

Quando a minha boca se torna ávida chupando seus


peitos, intercalando um com o outro até deixá-los vermelhos e
sensíveis por causa da minha barba por fazer, a minha mão entra no

meio das suas pernas e, com dois dedos, começo a acariciar a


boceta que está úmida de desejo para mim.

Levanto a cabeça quando começo a enfiar e tirar os meus


dedos no seu sexo. Fico olhando para o seu rosto, porque me sinto

especialmente excitado quando sua expressão de prazer começa a


surgir, fico a ponto de gozar sem nenhum toque quando rola os
olhos para cima, quando morde o lábio inferior e arqueia o quadril

de encontro aos meus dedos.

— A sua bocetinha é tão gostosa, esposa. A minha boca


está salivando… — falo. Estou doido por um sinal. Preciso prová-la

agora.
Comer a sua boceta poderia perfeitamente ser a minha
primeira refeição diária. De certa forma, é, pois são raros os dias em

que não transamos pela manhã.

— Ela é sua. Faça como quis… — antes que conclua, já

estou me ajeitando com a cabeça entre as suas pernas.

Sem parar de enfiar os dedos, passo a chupar os lábios

vaginais e o clitóris inchado da minha diabinha, que está puxando os


meus cabelos, tentando forçar ainda mais minha cabeça no seu
sexo.

— Bruno, querido… — sussurra, mas quer gritar. Como


não quero traumatizar ainda mais as crianças, coloco uma mão em

cima da sua boca quando acelero as chupadas e ela começa a


gozar.

O som está alto, mas sinto a necessidade de calar o seu


grito, apenas para garantir.

— Que gosto delicioso, meu amor — digo, enquanto o


seu corpo convulsiona de prazer em meio ao gozo e eu bebo cada
gota. — Eu amo sentir você — digo, quando ela começa a se

acalmar e o quadril finalmente pousa no colchão.


— Eu vou cuidar de você, vem cá… — fala, um pouco

ofegante por causa do orgasmo.

— Não temos tempo agora, meu anjo, mas prometo que


deixo você cuidar de mim do jeito que quiser quando a gente chegar

da casa dos Estevan, está bem? — falo, aproveitando para tocá-la


mais um pouco, beijando com carinho as suas coxas.

Não obtenho nenhuma resposta, mas creio que não


preciso, porque a minha chatinha sempre está a fim de me chupar.

Ela não pode se conter.

Quando tiro a cabeça do meio de suas costas, Ângela

simplesmente vira de lado e se aconchega entre os lençóis.

— Amor, você não… — as palavras morrem na minha

boca quando me aproximo para ver melhor o seu rosto e noto que
está dormindo novamente.

Não sei o que é mais preocupante, o fato de a minha


mulher ter simplesmente ter dormido depois de eu tê-la feito gozar,
ou o fato de ela ter dormido tão rápido.

Por um momento, penso em acordá-la, porque sei que


gostaria de conversar um pouco com a melhor amiga, mas acabo
mudando de ideia. Não vou fazer essa maldade com o meu
pequeno anjo.

Quando ando na direção do banheiro, olho mais uma vez

para a cama com o cenho franzido. Ela tem estado diferente nos
últimos três dias, e o fato de estar dormindo neste momento é só
mais um indício.

Isso não pode acontecer novamente.

Não pode.
CAPÍTULO 2

ÂNGELA

Um lado meu diz que preciso me levantar dessa cama,


porque o dia está lindo lá fora me esperando para aproveitar, o outro

só quer ficar aqui mais um pouco, porque a minha cama com


certeza é a mais perfeita do mundo, tanto para dormir quanto para
fazer todo tipo de safadeza com o homem mais lindo do mundo.

Já tem alguns dias que venho me sentindo estranha. No

início, era algo mais sutil, mas, de três dias para cá, está sendo
impossível disfarçar e não me preocupar.

É engraçado como antes eu não tinha tanto medo, até

porque, na maior parte do tempo, nem tinha noção do que estava

vindo, e não aceitava a minha condição.

Hoje, qualquer mudança de humor, ou vontade de dormir

mais um pouco, faz uma sirene soar na minha cabeça. É cansativo


ter que estar o tempo todo com medo, me controlando para não

surtar, pois, por mais que eu faça tratamentos, nunca me sinto

segura o suficiente.
Na maior parte do tempo é mais fácil, sou apenas a

Ângela Pires, a esposa do Bruno, a advogada e, sobretudo, a mãe


do Caio e da Sofia. Sou a minha versão feliz, a que sorri para o

mundo e ama sem medidas, tanto que seria capaz de fazer qualquer

coisa pelas pessoas que amo.

Mas o pequeno anjo do Bruno mora dentro de mim, e


nem sempre posso mantê-la distante. Ele não falou nada, não fez

qualquer pergunta, mas sei que o meu amor está preocupado com

esse sono idiota e com o fato de eu estar mais retraída nos últimos
dias.

Não existe qualquer razão para eu estar querendo ficar

mais comigo mesma, eu só… estou um pouco cansada.

Agora, por exemplo, enquanto a minha mente trabalha,

mal consigo abrir os meus olhos, quero dormir mais um pouco,

talvez até a hora do almoço. Para que ficasse perfeito, o meu


marido teria que estar aqui na cama, abraçando-me e velando o

meu sono.

Nos momentos em que quero ficar sozinha no meu canto,

Bruno é a única pessoa que desejo ter por perto, com ele me sinto
protegida e amada, tão amada que o seu amor sempre me manteve
de pé.

Desde o primeiro momento, ainda que não entendesse na

época, Bruno Pires foi a luz de que precisava. Ainda bem que eu,

sem entender bem o que estava fazendo, insisti. Sabia que

precisava do meu marido, o queria para mim como fazia tempo que
não desejava algo ou alguém com tanta intensidade.

Quando foi meu, tive mais do que a sua paixão. Por ele,

me tornei sã. Por ele, quis ser a minha melhor versão. Os anos se

passaram, o nosso relacionamento não é perfeito todos os dias,

mas fazemos de tudo para que seja o melhor para nós dois, e Bruno

ainda é o meu farol.

O homem por quem sou insanamente apaixonada me

deu outros dois motivos para estar bem, para desejar estar na

minha melhor versão todos os dias. Os meus filhos são a minha

vida, ser mãe é a minha maior realização, e por saber que não sou
igual as outras em alguns aspectos, dou tudo de mim para eles.

No fundo, tenho muito medo de que me vejam no estado

que fiquei há pouco mais de dez anos. Sei que é um temor que
pode parecer infundado, mas tenho medo que pensem que sou

louca. Que me amem menos se descobrirem.

Existem rachaduras na minha alma que eles e o mundo

desconhecem. Estou mais próxima dos meus pais do que estive na


infância, adolescência e início da vida adulta. Eu os amo, mas eles

não me conhecem tanto.

A única pessoa que conhece até o ritmo das batidas do

meu coração é o meu Bruno.

— Bruno… — sussurro contra o travesseiro, desperta,

mas sem vontade de levantar. — Eu preciso de você, querido. Por


que não vem de uma vez?

Com dificuldade, levanto-me, mas sinto uma tontura leve.


Acredito que seja porque sentei-me rápido demais na cama.

Caminho para o banheiro e escovo bem os dentes. Não vou correr o


risco de beijar o meu marido com mau hálito matinal, ele não se
importa, mas eu me importo.

Crio coragem e lavo os meus cabelos negros e

ondulados, cujo cumprimento alcança metade das minhas costas. A


água morna me faz bem e me sinto um pouco mais leve e bem
disposta quando saio do chuveiro vestindo um roupão felpudo

branco.

Penteio com calma o meu cabelo na frente da


penteadeira, tão distraída que demoro quinze minutos para terminar.
Sento-me na cama e passo hidratante corporal nas pernas, depois

subo para o restante do corpo.

Tendo recuperado parte da minha dignidade, volto para a

cama e, com as costas apoiadas na cabeceira da cama, pego um


dos meus romances eróticos e tento começar uma leitura.

Limpinha, cheirosa e lendo um livro, pareço a Ângela de


sempre. É dela que o meu advogado fodão precisa. Ele não tem que

ficar se preocupando comigo.

Eu estou bem, simplesmente porque não tenho motivos

para não estar bem. Inclusive, a minha terapia e consultas com


psicólogos estão em dia.

Antes de passar da primeira página, meu celular apita


com uma notificação de mensagem. Deixo o livro de lado e o pego.

O seu marido acabou de sair daqui. Fiquei chateada


porque você preferiu a sua cama a vir passar um tempo com a
sua melhor amiga.
Leio, e me sinto um pouco mal pelo que fiz. Marina e eu
sempre temos os nossos momentos durante os finais de semana. E
quando não podemos nos ver durante a semana, nos comunicamos

através de mensagens.

Eu sinto muito, querida. Estava precisando descansar


um pouco.

Envio. Prefiro não conversar com ela sobre o que estou

sentindo, até porque, nem sei o que estou sentindo de verdade.

Descansar? Aposto que ontem a sua noite foi


agitada.

Sorrio para a tela do celular. Realmente, ontem o Bruno

estava insaciável, e eu não reclamei. Adoro quando se torna uma


fera na cama.

Ele é um gostoso que fode bem, e quando fode sem


querer parar, faz com que eu sinta tanto prazer que tudo some da

minha mente, menos o fato de que estou gemendo, suando e


gozando para o homem mais lindo, sexy e bem-sucedido da cidade

Esse é o meu marido, o meu super-homem.


Não quero que deixe de aproveitar os dois dias que
terá sem as crianças por minha causa. Curta o seu marido e a
sua própria companhia. Durante a semana, a gente sai para

tomar um café.

Leio com um sorriso no rosto. Ela é a irmã que eu não


tive. Guardei um segredo dela durante anos, mas foi a pessoa para
quem corri no momento em que mais precisei de ajuda.

Não pode ficar uma semana inteira sem me ver?

Mando a mensagem provocativa.

Não. Se o Erick é o homem da minha vida, você é a

mulher da minha vida.

Não dá para brincar com Marina. Ela tem o costume de


responder provocações com mensagens fofas. Tão diferente de mim

que nem sei como nos damos tão absurdamente bem. Talvez seja

porque a gente se completa.

Que fofa, senhora Estevan. Te amo.

Encaminho a mensagem.

Vou te deixar esperar pelo seu marido. Ele parecia ter

pressa de chegar em casa.


O meu coração dispara só de pensar. Anos e anos se

passaram, mas ainda sou aquela garota apaixonada perto dele, a


garota que queria poucas coisas da vida que não fossem os seus

braços.

Beijos

Mando a última mensagem e deixo o celular de lado. Até


tento voltar para o livro, mas a minha mente já está distraída demais

para isso.

Estou tão ansiosa para ver o meu amor, e também para

mostrar que estou bem, que os meus olhos estão grudados na porta
há alguns minutos, e parecem incapazes de sair dela.

Quando Bruno, o meu senhor olhos azuis, entra no

quarto, o seu olhar de preocupação suaviza quando me vê sentada


na cama com um livro na mão.

O meu coração está disparado quando ele se aproxima,

se senta perto de mim e circula o braço na minha cintura. A primeira

coisa que ele faz, depois de me abraçar, é enterrar o nariz no meu


pescoço. Fica assim por um tempo, eu apenas aproveito com o

corpo levemente tenso, porque não tenho como não sentir-me

atingida quando estou perto desse homem.


— Eles estão bem? — indago, um pouco chateada de

não ter visto os dois, antes de saírem para o fim de semana na casa

dos padrinhos.

— Esqueceram de mim no momento em que viram o


nosso afilhado — comenta com a boca contra a minha. Agora, ele

pode me beijar o quanto quiser, não estou mais com gosto de

esgoto. — E você, tudo bem? — Sei que ele quer saber mais, que

não é só uma simples pergunta.

— Você está preocupado, mas está tudo certo, amor. Só

estou no meu inferno astral nos últimos dias, por isso ando retraída.

Quanto ao sono… não sei explicar — confesso.

— Você tem sentido mais alguma coisa? — questiona,


penso em mentir para não o preocupar, mas não consigo.

Tenho a necessidade de ser sempre sincera com esse

homem, que é perfeito demais para mim, e mesmo quando tento


esconder algo para o poupar, por menor que seja a omissão, sinto-

me mal, como se tivesse traindo uma das razões dos meus

sorrisos.

— Senti tontura algumas vezes nos últimos dias —


confesso, o seu corpo fica tenso e o rosto se reveste de
preocupação. — Mas foram torturas leves. Não precisa…

— Você tem que ir a um médico, amor — diz, antes que


eu conclua a minha fala.

— Não, eu não preciso. Estou bem.

— Ângela Pires, não seja teimosa. Você quer me matar?

— questiona, fazendo certo esforço para manter a compostura.

— Quero te matar de prazer — digo ao beijar o canto da


sua boca.

— Não tente me distrair com beijos, ou sua bocetinha

tentadora. Não vai conseguir — avisa, mas seus olhos caem nos

meus peitos quando desato o nó do roupão branco.

— Eu estou bem de verdade. Se não estivesse, iria te

contar.

— Você está diferente nos últimos dias, diabinha.

— Eu sei que estou. Não pense que não notei, mas é


diferente das outras vezes, entende? Não posso explicar como, mas

é diferente, e sinto que não precisamos ligar as sirenes ainda.

— Tem certeza? — questiona, enquanto analisa o meu

rosto em busca de verdades que talvez a minha boca não esteja


dizendo.

Mas estou sendo sincera, pois embora também sinta

medo, não sei dizer o que há de diferente nas minhas formas de

pensar, sentir e agir dessa vez. Preciso de mais tempo.

— Se eu notar que estou perto de ter uma crise, vou te

falar. Não escondo nada de você, querido — digo, enquanto acaricio

o seu rosto perfeito.

Eles têm razão quando espalham aos quatro ventos que


somos o casal mais lindo do estado. Somos mesmo. O Bruno, que

teve a chance de voltar a enxergar, foi sortudo de não ter comprado

gato por lebre.

Embora uma clínica psiquiátrica não tenha sido o lugar


ideal para o reencontro que me emociona até hoje, eu vi os seus

olhos brilharem de admiração quando me enxergaram pela primeira

vez.

Houve a surpresa pela aparência física, mas a surpresa


passou, então o seu olhar mudou e me fez sentir como se sempre

tivesse me enxergado.

— Qual a razão desse sorriso lindo? — indaga.


— Estava pensando no quanto somos lindo, em como os

anos só não fazem bem — a minha fala o faz sorrir alto.

— Você não mudou nada, pequeno anjo. Lembro do dia


que me atacou no banheiro dos Estevan como se fosse hoje. Você

disse que tínhamos que ficar juntos porque éramos lindos. Um ótimo

motivo, não acha? — fala, eu sorrio junto com ele.

— Eu não estava errada nesse ponto. Além do mais, eu

não te ataquei.

— Sim, você me atacou, me deixou duro e me obrigou a

passear as mãos pelo seu corpo gostoso. Depois daquele dia, ficou
um pouco difícil te tirar da cabeça.

— É, eu sempre fui irresistível — brinco, mas é verdade.

— Chatinha!

— Você me ama — aviso.

— Mais do que a mim mesmo. Nasci para te amar —


declara e beija em cima dos meus olhos, na pontinha do meu nariz

e, por fim, no canto da minha boca. — Por você, venci os meus

medos e traumas. Fiz o que era preciso para ver com os olhos a
beleza da qual sempre ouvia falar e que o meu coração já sabia.
— Você… — depois disso, eu não sei mais o que dizer.
Depois de anos de casamento, ele ainda me deixa sem palavras.

— Não precisa falar, apenas me beija — pede.


CAPÍTULO 3

BRUNO

Os nossos lábios se encontram e todas as preocupações


e problemas deixam de existir. Tenho a minha mulher nos meus

braços, beijando-me como beijou no início, quando a gente mal


podia manter as nossas roupas em nossos corpos, e sinto que está
tudo certo.

Ela toma a iniciativa de tornar o beijo mais quente quando

coloca a língua cálida dentro da minha boca e passa a exigir a


minha em troca. Eu amo essa mulher e a forma como me beija tão
intensamente. Eu amo essa mulher e o fato de sempre se entregar

tão completamente na hora do sexo que faz parecer que é a nossa


última transa.

— Você está querendo me distrair? — indago.

O fato de termos falado sobre a sua saúde mental me


deixou um pouco mais aliviado, porque a conheço e sei que foi

sincera em suas palavras. Se estivesse preocupada com uma

recaída, me diria.
Mas as tonturas não passaram despercebidas, e vou

convencê-la a consultar o nosso médico.

— Amor, estou querendo te foder — fala abertamente.


Tão gostosa e perfeita… Meu pau já aceitou a proposta.

— Foi por isso que não colocou uma calcinha? —

provoco quando a ajeito em cima das minhas pernas. A boceta


quente entra em contato com o meu membro, que está sedento para

furar a boxer e o zíper da calça jeans.

— Estou te dando acesso livre — avisa e rebola. O

sorriso que carrega no rosto parece um pouco mais sincero do que

os que deu nos últimos três dias.

Durante o fim de semana inteiro, tendo a casa e o tempo

livre apenas para nós dois, vou garantir que não tenha nada além do

seu sorriso lindo enfeitando seu rosto.

— Eu vou fazer bom proveito do meu presente, senhora

Ângela Pires, mas não será aqui no quarto — aviso, ao morder de

leve a sua bochecha.

— Não?
— Nem pensar. Hoje, eu quero a minha sereia na água.
O sol está maravilhoso, quero ver a mulher mais gostosa do planeta

em seu biquíni azul que mal cobre a bunda. Será que ela pode fazer

isso por mim?

— Ela pode, sim — fala com empolgação. Acho que eu

estava pirando sem motivo. O meu pequeno anjo está bem.

Quando Ângela sai de cima das minhas pernas e corre

para o closet, a primeira coisa que faz, depois de se enfiar dentro

dele, é jogar uma peça na minha direção.

— Safada — digo com a sunga na mão.

— Não é culpa minha se você fica gostoso vestindo

sunga branca — rebate.

Ela está distraída colocando o biquíni que pedi, e eu não

perco um único detalhe das peças indecentes sendo ajeitadas em


seu corpo que as veste tão bem.

— Não esqueça do protetor solar, linda — digo, porque o

momento em que passamos um no outro é um prazer à parte.

Com saída de praia, óculos escuros, um chapéu e


protetor solar nas mãos, Ângela se aproxima de mim. Ela não perde
a oportunidade de manjar o meu pau na sunga branca que adora.

— Deixe que eu te ajudo — digo, beijando de leve os

lábios carnudos e rosados. Depois pego o chapéu e o protetor de

suas mãos. — Você está deliciosa.

— Você está mais — devolve com o olhar preso no meu.

Desde o início, ficou bem claro que ela só tem o nome e o

rosto de anjo, porque é uma pecadora da cabeça aos pés.

— Não vejo a hora de comer você — declaro ao


entrelaçar os nossos dedos para sairmos do quarto.

— Eu estou pronta há algum tempo — avisa para me

provocar. Descemos as escadas da casa grande que compramos


depois do nascimento das crianças. Pensando nelas, decidimos que
era primordial termos espaço e uma boa área de lazer. — Eu ainda

não me desculpei por ter te deixado na mão mais cedo. Como você
resolveu o probleminha?

— Problemão, você quis dizer.

— E que problemão — ela brinca, eu ergo as nossas

mãos e beijo em cima de cada um dos seus dedos.


Lembra que eu disse que viver com medo não é um

problema para mim?

É por esse e por outros motivos. Eu sou imensamente


feliz com a família que tenho. Sempre penso em tudo que a vida me
deu na última década e sorrio, pois houve um tempo em que eu não

tinha esperanças e nem ousava sonhar com essa realidade.

Faria qualquer coisa para garantir no mínimo mais

cinquenta anos de felicidade. Por essa mulher, que é muito mais do


que a mãe dos meus filhos e o amor da minha vida, eu iria até o

inferno, pois foi do inferno que ela me tirou certa vez.

— O que foi, querido? Está tão distante — Ângela me

questiona, enquanto forra a espreguiçadeira que fica na beira da


piscina. Estava tão distraído que cheguei até aqui sem me dar

conta.

— Estava pensando em como resolvi o meu problema


mais cedo.

— E como foi?

Ela sabe, mas quer ouvir os detalhes sórdidos. Fico


animado para falar e para fazer uma demonstração ao vivo quando
a minha chatinha coloca a bunda deliciosa para cima, enquanto
termina de forrar a espreguiçadeira com uma toalha. Está fazendo
de propósito para me provocar, é claro que está.

Minha esposa se senta, coloca os óculos escuros e ergue


a cabeça. Fica me encarando e esperando uma resposta. Preciso

voltar a mim, porque os últimos dias me tiraram levemente dos eixos


em todos os sentidos.

Geralmente, consigo me controlar mais, ou ao menos

tento.

— Fechei os dedos em volta do meu pau, que ficou duro


depois que experimentei o doce sabor da sua bocetinha. Pensando
na minha esposinha tomando o meu pau até cair desmaiada e sem

forças, gozei nos meus próprios dedos.

— Que pena que tenha sido tão solitário — fala, mas não

tem cara de que está com pena.

Anjo safado!

Ela bate com a mão no espaço vazio da espreguiçadeira


e eu me sento próximo das suas pernas. Como não posso estar nos

mesmos metros quadrados sem a tocar, deixo que a minha mão


deslize tranquilamente por sua coxa, não perto o suficiente do calor

onde eu preferia que ela estivesse.


— Foi solitário, mas foi bom como todas as outras vezes
que me masturbei para evitar te atacar. Foi bom porque não foi uma
ilusão tola. Nós sabemos que, depois de dez anos casados, você

continua insaciável, esfolando o meu pau constantemente com a


boceta deliciosa.

Enquanto falava, notei que começou a esfregar


sutilmente uma perna na outra. A minha esposa continua tão
deliciosamente sensível a mim.

— Quero que passe protetor nas minhas costas… — as

palavras saem como um sussurro.

Eu sorrio de canto para ela, mais feliz do que nunca por


estarmos a sós. Nem mesmo os funcionários da casa estão aqui

hoje.

Sem dizer nada, sento-me atrás do seu corpo, primeiro

beijo o seu pescoço, depois pego o elástico no seu pulso e prendo a


longa e cheirosa massa de cabelos escuros no alto de sua cabeça.

Esse é um gesto de carinho que sei que o meu pequeno

anjo adora.

Ao pegar o tubo de protetor, despejo uma boa quantidade


do creme em minha mão, espalho com a outra e então começo a
passar nas costas alvas.

Para nós dois, uma passada de protetor é uma preliminar.


As minhas mãos não ficam apenas nas costas, elas partem para a

barriga, que fica tensa de desejo. Depois, elas sobem para os seus

peitos perfeitos, cujos bicos duros denunciam quando está com

vontade de fazer amor, ou ser fodida sem cuidado.

— Hum… — a diabinha geme com a cabeça jogada no

meu peito. Ela mostra o que quer quando pega a minha mão e a

coloca em cima do tecido da parte de baixo do seu biquíni.

— Dói aqui? — pergunto no seu ouvido, a pele macia se


arrepia.

— Muito — afirma, então eu começo a, lentamente, fazer

movimentos circulares com as pontas dos dedos.

Não vou muito longe, mas faço o suficiente até sentir que
o tecido do biquíni está úmido do seu desejo.

Ela está pronta. É claro que está. Eu também estou tão

pronto que seria capaz de gozar aqui e agora. Mas a minha esposa
não é chamada de diabinha dentro do nosso quarto sem motivo. Sei

que não vai facilitar para mim.


A mulher linda pega o frasco que eu havia deixado de

lado e, mesmo tremendo de leve e sem muita firmeza na mão, ela

se vira de frente na espreguiçadeira e começa a passar o creme no


meu peito.

Eu prendo o meu olhar no seu, como é bom o simples ato

de poder fazer isso, e não corto a nossa troca silenciosa por nada.

São olhares que fazem promessas muito sacanas, enquanto as

suas mãos descem cada vez mais para o sul. Os dedos ultrapassam
o elástico da sunga, mas não tocam no meu pau, que está prestes

a explodir em jatos de porra de tão duro que está.

— Quero nadar — fala, eu arqueio a sobrancelha e


penso em dizer que a única coisa que quer fazer agora é sentar no

meu cacete até que eu a encha com o meu esperma, mas me

contenho, porque suspeito que tenha planos.

— Tem certeza? — pergunto, só para garantir. Talvez


esteja mesmo querendo nadar, enquanto sofro de desejo reprimido.

— Tenho — falo com um sorriso travesso no rosto.

Ângela mudou pouco nos últimos anos, seja na

aparência, seja na forma de pegar para si tudo o que deseja. Além


de linda, é cheia de atitude.
— Só vai depois que me der um bei… — antes que eu

termine de falar, minha esposa, sem fechar os olhos, aproxima a


boca da minha e me beija.

As nossas línguas se buscam, os nossos olhares falam

sobre os momentos de paixão que vamos viver em breve. A minha

mão circula a sua cintura fina, fico a ponto de a deitar e começar a


transar, mas a diaba esperta empurra o meu peito e pula da

espreguiçadeira.

Ela fica na borda da piscina grande de nossa casa, me


olha por cima do ombro e joga uma piscadinha. Em seguida, Ângela

tira a parte de cima e a de baixo do biquíni.

Ela pula na piscina, eu sorrio pelo tesão frustrado, mas

também de felicidade. Ângela está querendo me enlouquecer com


suas provocações, e isso é a prova incontestável, não que os

tratamentos e medicamentos não sejam, de que está bem.

Eu fico de olho na minha sereia durante alguns minutos,

mas logo me canso de ver de longe e faço o que a minha chatinha


espera que eu faça: descarto a minha sunga e pulo na água.

Com braçadas fortes, a persigo durante milésimos de

segundos até que, finalmente, a tenho dentro dos meus braços.


Abraço-a com firmeza pela cintura, só para garantir que não vai

fugir.

— Já chega de brincar! Eu não aguento mais esperar —

assevero, caminhando com ela até que apoie as costas na borda da


piscina.

— Esperar pelo quê? — a minha esposa morde o meu

lábio com força e a fisgada de dor vai direto para o meu pau duro.

— Para te comer todinha — digo, devolvendo a mordida


no seu pescoço.

— Você pode fazer isso agora — fala.

— Eu preciso que me dê autorização para pegar o que é

meu?

— Precisa — diz com rebeldia, eu aperto a sua bunda e

sorrio com a boca colada na sua.

Enquanto pressiono o corpo no da minha mulher e beijo a

sua boca, seguro o meu membro e o pincelo na entrada da sua


boceta. Ângela força o quadril para frente e eu não mais forças para

adiar o momento com jogos provocativos.


Entro lentamente, esticando a boceta apertada até que

fique todo no meu lugar preferido no mundo.

— Que delícia, meu amor… — digo entredentes,


iniciando um vai e vem lento, forçando o quadril para frente e para

trás.

Eu preciso que se acostume primeiro, garantir para mim


mesmo que estou controlado e não vou machucá-la, antes de me

mover da forma que o desejo desesperado precisa.

— É tão bom quanto foi na sua imaginação enquanto se

masturbava pensando nisso? — pergunta, ao jogar o quadril para


frente e para trás, encontrando as minhas estocadas.

— Muito melhor. Você nem faz ideia do quanto —

garanto, sentindo as ondas de calor tomarem o meu corpo da

cabeça aos pés, o fazendo se arrepiar.

— Me foda do jeito que o seu corpo quer — pede.

— Amor…

— Eu estou bem — afirma, porque me conhece tanto

quanto a conheço e sabe das preocupações que passavam pela


minha cabeça.
Em outra situação, a teria pegado com força, porque,
quando não está fazendo amor, o meu anjo é uma devassa que

gosta de sexo selvagem.

Eu enrolo os seus cabelos nos meus punhos com a

mesma firmeza que o outro braço firma a sua cintura, então passo a
socar com batidas vigorosas.

A água que está à nossa volta se agita, como ondas

gigantes se formando e se quebrando no mar. Eu meto sem cessar,


e esta é sempre a melhor sensação da minha vida.

— Mais duro, querido. Eu quero mais… — implora com

as unhas nos meus ombros e a cabeça enfiada no meu pescoço. O

calor de sua respiração está me deixando tonto de desejo.

— Você terá, amor. Durante dois dias inteiros… — afirmo,

cansado, e as águas da piscina continuam revoltas.

É por isso que a gente precisa dos nossos momentos

longe das crianças. Seria impossível disfarçar de qualquer pessoa,


até mesmo de crianças, o sexo que acontece aqui.

Louco para me entregar, desço as duas mãos para a sua


bunda e torno as batidas mais frenéticas.
— Eu não aguento mais… goze, diabinha, goze! — Dou
uma última rebolada com o meu pau cutucando o seu útero, nós
dois começamos e terminamos de gozar juntos.

Respirações difíceis, corpos que estariam suados se não


fosse a água. Nós dois agarrados enquanto tremulamos, como se a
nossa sobrevivência dependesse um do outro. Na verdade, eu acho

que depende mesmo.

A gente se acalma e se beija profundamente durante


alguns minutos e, mesmo que as palavras não saiam das nossas
bocas, estamos gritando que não queremos nos afastar.

É como se fosse a última transa na piscina, como se


fosse o último beijo, mesmo que eu saiba que não será assim, que
temos muito o que viver.

— Eu… — começo. O coração acelerado enquanto olho

para o seu rosto bem de perto, vendo o meu reflexo nos seus olhos
claros.

— Não precisa falar nada, eu sei — minha esposa diz.

— Uma palavra com apenas três letras parece pequena

demais para definir o que sinto por você — declaro.


Não é como se eu ficasse o tempo todo me declarando
para a minha esposa, embora mostre todos os dias de outras
formas o quanto é valiosa para mim. Mas sempre que sinto alguma

ameaça, por menor que ela seja, me torno esse homem que precisa
falar.

— Vejo a verdade nos seus lindos olhos e em cada


respiração sua, Bruno. O que vejo quando te olho é a razão de eu
ser quem sou hoje. O nosso casamento não é um mar de rosas,

porque nenhum é, mas você me dá razões para sorrir todos os dias


— ela termina a sua declaração com beijos leves e demorados nos
meus lábios.

Cheguei a acreditar que seria um fim de semana atípico,

mas estou feliz porque estava errado, ou, talvez, não tão errado
assim.

Depois da primeira rodada, Ângela e eu saímos da

piscina perto do horário do almoço. Sempre dando um jeito de


tocarmos um no outro, seja com beijos ou nos esfregando,
preparamos a nossa refeição.

Durante a refeição, ela já está diferente do que vi na

piscina. Ângela fala muito, mas quase não abre a boca enquanto
almoça. Geralmente come muito, não sei como mantém a boa
forma, considerando que não gosta de academias, mas hoje ela

está apenas remexendo o alimento de um lado para o outro no


prato.

Vez ou outra, Ângela me pega olhando, então trata de


abrir um sorriso para me convencer de que está feliz. Um lado
irracional meu, até infantil, quer ignorar as preocupações, afinal, que

motivo ela tem para não ser extremamente feliz?

Não basta o fato de termos uma casa perfeita e filhos

lindos? Não basta que sejamos pessoas bem-sucedidas no trabalho


e na vida de modo geral? Que motivos ela tem para não ser feliz o

tempo todo, como uma mulher normal seria em seu lugar?

Mas esses pensamentos duram apenas um segundo,


porque logo a sensatez fala mais alto e eu me recordo que ela não é

como outra mulher de quem sequer tenha ouvido falar, e não é só


por conviver com transtornos psicológicos.

A minha Ângela é única de várias maneiras possíveis, e


eu gosto de cada uma de suas particularidades, até as que me

deixam de cabelos brancos.


Como eu sei que o seu estado de espírito mudou, subo

com ela para o nosso quarto. Depois que escovamos os nossos


dentes e tomamos banho juntos, sugiro que a gente deite um pouco
para descansar.

— Eu quero aproveitar mais o dia — avisa.

— Me diga que não está com sono que a gente desce —


peço, porque estou vendo no seu rosto que não quer falar para não
me chatear, mas o seu desejo é se enrolar nos lençóis e no meu

corpo e simplesmente fechar os olhos.

— Deita comigo só um pouquinho? — pede, fazendo

biquinho com a boca rosada. Eu beijo os seus lábios, desço as


mãos até a sua bunda, que está coberta pela camisola ínfima de
seda, e falo no seu ouvido:

— Pelo tempo que você quiser, meu anjo. — Ângela sorri


para mim, puxa a minha mão e nos deitamos agarrados.

Esvaziando a minha mente, permito-me descascar junto


com a minha mulher e só acordamos perto das quatro da tarde.

Ela sugere assistirmos a um filme. Eu aceito, pois amo a


forma como nos acomodamos no nosso sofá retrátil e ficamos
algum tempo trocando carinhos inocentes, enquanto nos distraímos
com cenas de amor fofas.

O filme escolhido não é tão fofo assim, já contei o casal

se pegando umas três vezes, na próxima devem finalmente fazer


sexo. Concentrada, porém, nem tanto, meu pequeno anjo, que tem
a cabeça apoiada no meu peito, faz carinhos distraídos na minha

barriga.

Será que não percebe que a sua mão está indo para
muito perto do cordão da minha calça moletom? Não vê que tem um
soldado lutando para não bater continência?

— Amor, pause o filme um pouquinho? — pede.

Será que estou sendo esperançoso demais de acreditar


que fez o pedido porque quer chupar o meu pau?

— Não está gostando? — indago.

— Estou amando, mas quero mais pipoca — diz, ao

erguer a cabeça e beijar de leve os meus lábios.

— Não quis se alimentar direito no almoço, mas está indo


para a segunda rodada de pipoca? — questiono-a com a

sobrancelha erguida.
— Pipoca também é alimento, meu amor — diz, e cola a
boca na minha. Se o beijo era para me distrair, ela conseguiu.

— Vou pegar para você — digo.

— Não precisa se incomodar, meu amor, pode deixar que


eu vou — Ângela, viciada em beijar desde o momento em que
tentou pela primeira vez no banheiro da casa dos nossos amigos,

me beija antes de sair.

Eu fico sentado olhando para a bundinha linda, enquanto


ela vai para a cozinha. Dou uma ajeitada na frente do meu moletom,

porque não é fácil ficar trocando carícias tão platônicas com uma
mulher gostosa, principalmente, quando é a minha mulher gostosa.

Ainda a fitando, vejo o momento em que apoia a mão no


portal de cozinha. Imediatamente, pulo do sofá e corro para ampará-

la.

— Meu anjo, você está bem? — pergunto, a viro de frente


para mim e me sinto morrer mil vezes quando fito o seu rosto pálido

e completamente sem vida.

— Bruno… — sussurra, enquanto perde os sentidos


muito rápido. — Eu sinto muito.
O meu coração parte, o desespero toma conta de mim e
a culpa recai nos meus ombros, porque, no fundo, eu sabia que iria

perdê-la em algum momento. Anjos não podem ficar muito tempo na


terra.

Se alguma coisa acontecer com ela, que é a minha alma,


também não tenho mais razões para continuar aqui.
CAPÍTULO 4

BRUNO

Já andei tanto de um lado para o outro que devo ter


desgastado o piso do meu quarto. No momento, não consigo

controlar nem mesmo as batidas do meu coração, imagina se faria


isso com a minha ansiedade.

Depois que a minha esposa desfaleceu nos meus braços,


por um minuto inteiro entrei em desespero e não soube o que fazer,

quis apenas chorar, mas então voltei a mim, disse que não poderia
falhar com ela e entrei em ação.

Hesitei para decidir o que fazer, mas fiz a escolha mais

sensata e a trouxe para a cama do nosso quarto. Felizmente, o

nosso médico particular, que mora no condomínio, não demorou


mais do que dez minutos para chegar até aqui.

Faz quinze minutos que ele a examina. Depois que o meu


anjo voltou a si, desnorteada e perguntando por mim, imediatamente

me aproximei e segurei a sua mão. O médico começou a fazer

perguntas e não parou mais.


O Doutor Campos pediu da maneira mais gentil possível

para que eu não ficasse em cima dela, eu atendi, mas ouço com
atenção cada uma de suas perguntas.

Perguntas estranhas, diga-se de passagem.

Ele quer saber da nossa rotina sexual, se usamos algum

método contraceptivo, a respeito das tonturas e sobre a sua última


menstruação.

O homem deveria estar querendo saber a respeito do

ciclo do meu anjo?

Estou um pouco irritado, não penso com clareza no


momento, mas a minha ficha cai e quem fica a ponto de desmaiar

sou eu.

Ângela está sentada na cama, usando a minha camisa e


um shortinho curto por baixo das cobertas. Eu me viro de frente para

ela e, sentindo que as palmas das minhas mãos estão suando,

busco pelo seu olhar.

Ela também está pensando o mesmo que eu, por isso, a

expressão é um misto de surpresa e medo.


O seu médico está sugerindo que talvez esteja grávida
novamente, é isso?

Eu não…

Engulo em a seco.

Eu quero…

Não sei o que pensar e nem o que sentir, mal posso

formar um pensamento coerente. Os meus olhos estão ardendo, e

agora as minhas mãos estão geladas.

Não é possível! Nós estamos entendendo errado, o

médico não deve estar pensando…

Bem de longe, o som de sua voz ecoa e então invade a

minha mente, respondendo o meu questionamento.

— Antes de pensar em outras hipóteses para as suas

tonturas e o sono em excesso, preciso que faça um exame de

sangue e elimine a hipótese de uma gravidez.

Meu Deus!

Estamos casados há dez anos, somos tão felizes que, às


vezes, parece que não é real. Nós temos os nossos filhos, que

daqui uns anos já estarão adultos. Eu não poderia desejar mais do


que já tenho, não pediria mais um filho. Um bebê nosso sendo

gerado na sua barriga.

Mas, olhando com sinceridade para dentro de mim,

admito que seria o homem mais feliz da face da terra se tivéssemos


mais um bebê. A possibilidade me deixa feliz e não posso negar

esse fato.

Só que não sou eu a pessoa que gera bebês lindos da

relação e não sei o que Ângela pensa sobre mais filhos,


considerando que tivemos dois de uma vez e não voltamos a falar
sobre fazermos mais. Além de termos nos dedicado aos dois, e só

agora que estão grandinhos as coisas se acalmaram, também nos


dedicamos às nossas carreiras e não tivemos energia e nem tempo

para sequer cogitarmos aumentar a família.

Com medo do que posso ver, fito o seu rosto perfeito,


mas agora ela está com uma expressão neutra. Fui lidar com a
minha própria surpresa e me esqueci de reparar na sua. Agora,

enquanto o médico fala coisas que não posso compreender, porque


mal consigo focar na conversa, não faço ideia do que a minha

chatinha está pensando.


Mais dez minutos se passam, ele passa algumas

recomendações, deixa o encaminhamento para o exame e vai


embora. Depois de descer para levá-lo até a porta, subo as escadas

de dois em dois degraus.

Encontro o meu amor abraçando os próprios joelhos e

chorando com a cabeça deitada sobre eles. Por um breve momento,


fico incerto de como agir, mas depois de soltar um palavrão, me

aproximo e a abraço.

É a minha mulher, porra! Eu a conheço como ninguém, a

amo e a conheço. Não a solto até que se acalme e pare de chorar.

Com carinho, seguro o seu rosto com as duas mãos e

olhos dentro dos seus olhos vermelhos por conta do choro.

— O doutor pode estar certo, talvez eu esteja mesmo

grávida — diz, ainda não sei se a ideia é boa ou ruim para ela. —
Mas eu sou tão cheia de problemas…

— Você não é assim, e sabe disso.

— Não percebi que o sono e as tonturas poderiam ser

gravidez. Imaginei que fossem as crises… — Eu coloco um dedo


em cima dos seus lábios para impedi-la de falar mais, mas Ângela
abaixa a minha mão e prossegue. — Você…
— Eu?

— Quer que eu esteja grávida? — A sua pergunta faz o

meu coração bater na garganta, porque tenho que pensar bem na


resposta, não tenho?

No fim, não se trata do que eu quero.

— Você quer estar grávida? — devolvo a pergunta. Com

os olhos alagando novamente, minha diabinha balança a cabeça


dizendo que sim.

Com o peito explodindo de felicidade, a abraço


novamente e aproveito para puxá-la para cima das minhas pernas.

— Eu quero que você esteja esperando o nosso filho —


digo, enquanto beijo o seu pescoço, depois subo a boca para a

ponta do nariz fino, as bochechas e, por fim, para o canto da boca


macia. — Olhe para mim — peço, ela se perde no meu olhar. — Eu
estou feliz com isso, princesa. Muito feliz, e quero que esteja, que se

sinta bem ao pensar que pode ser mãe novamente.

— Depois que você entrou na minha vida, meu amor,

nada parece difícil. Sempre que um problema surge, ele se torna


mais fácil quando lembro que terei você comigo. Quando tenho uma
notícia boa, ela se torna melhor porque dividirei a minha alegria com
você. Um bebê não me assusta, porque você é o pai.

As suas palavras me deixam emocionado, porque me


sinto da mesma forma com relação a ela. Como poderia ser de outra

forma se enfrentamos os piores momentos das nossas vidas um


pelo outro?

Existem coisas que não mudam, e o fato de sermos a


força um do outro é uma delas.

— Não acredito que depois de tanto tempo a gente vai ter

outro bebê aqui.

— Vai com calma, Bruno. Ainda é uma hipótese. Temos


que fazer o exame de sangue antes — diz.

— Quer ir agora? — Sugiro, pois ansiedade é o meu

sobrenome neste momento.

Com um sorriso ansioso, ela balança a cabeça


afirmativamente.

Em tempo recorde, nos arrumamos e partimos para o

laboratório que, felizmente, ainda está aberto em plano fim de

sábado.
Ela não demora muito para ela terminar o exame.

Voltamos para casa sabendo o que precisamos fazer. No nosso


quarto, ficamos sentados na cama, ansiosos e com o notebook ao

lado.

Depois que passa o tempo que deveríamos esperar pelo

o resultado, finalmente ligamos o notebook. Ela está com o


computador nas pernas, e parece que passam mil anos até que a

minha mulher levante a cabeça e olhe para mim.

ÂNGELA

Eu sempre soube que o que vinha sentindo era diferente


das outras vezes. O desânimo era mais sono do que propriamente

falta de vontade de sair na cama.

Como eu descobri a gravidez dos gêmeos quando estava


internada na fazenda, uma clínica de tratamento psiquiátrico, e na

época fui levada a pensar que os sintomas característicos eram por

causa dos remédios, dessa vez foi da mesma forma e sequer pensei

na hipótese de uma gravidez.

Eu tomo o mesmo anticoncepcional há muito tempo, qual

seria a chance de uma gravidez nessas circunstâncias?


Bom, a palavra POSITIVO, escrita em negrito no exame

que leio na tela computador, mostra que era perfeitamente possível.

Levanto o olhar e me divirto com o meu Bruno

completamente ansioso pelo resultado. Então eu desligo o


notebook, o coloco em cima do criado e me levanto da cama.

Chego bem pertinho do meu amor, até os nossos corpos

ficarem colados, e o abraço pelo pescoço. Ele circula a minha

cintura com as mãos.

— Parabéns, você vai ser papai pela terceira vez — digo.

Bruno abre o seu sorriso que faz as mulheres suspirarem por onde

quer que passe distribuindo charme, tira os meus pés do chão e

começa a me girar no ar.

— Você é a coisinha mais perfeita que o mundo já viu,

caralho! Te amo. Te amo. Te amo! — Cada palavra foi pontuada com

um beijo em um lugar diferente do meu rosto.

— Seremos pais pela terceira vez — repito quando ele


me coloca com cuidado na nossa cama.

— Seremos pais fodas, como fomos da primeira vez —

comenta. Deixo que tire a sua camisa do meu corpo. Meu marido
precisa me ver e eu permito, pois esse é o seu momento. Eu sei o
quanto Bruno gosta de ser pai, e pensar que seremos novamente o

deixa em êxtase.

— Você não está procurando uma evidência, está? —

pergunto divertida, enquanto ele, pairando o corpo sobre o meu,

toca nos meus seios para ver se estão maiores, e depois na barriga,

que não dá nenhum sinal de que estará como uma melancia daqui
alguns meses.

— Os seios estão do mesmo tamanho, a barriga também

— ele se aproveita do comentário para deixar um beijo no meu


ventre.

— Ainda é recente. Cinco semanas — aviso, ele faz cara

de que não entende do assunto.

— Acho que vou ter que aproveitar enquanto posso,


amigos. Depois terei que dividir vocês. — Sim, o meu marido, que

não esconde a sua alegria, está falando com os meus seios. Depois,

ele chupa um dos mamilos de uma forma que faz as minhas

entranhas se apertarem.

— Tive uma ideia… — O tom da minha voz já não é mais

o mesmo.
— Eu amo as suas ideias. — É claro que ele ama.

Geralmente, as minhas ideias envolvem nós dois sem roupas.

— A gente pode comemorar… Ai! — reclamo quando

morde o outro mamilo, mas não quero que pare, já que as lambidas
depois das mordidas sempre me deixam quente.

— Como? Quer fazer uma festa, ou ligar para o casal

açúcar e contar a novidade para eles e para os gêmeos? — Faz a

pergunta, mas está distraído, tirando o meu short curto junto com a
calcinha. — Ou prefere algo mais íntimo?

Bom, acho que ele teve a ideia antes de mim, mas vou

falar mesmo assim.

— Pensei que a gente poderia fazer sexo para


comemorar, considerando que praticamos tanto que até burlamos a

eficácia do anticoncepcional.

— Como uma espécie de homenagem?

— Exatamente! — brinco. O sorriso não deixa os meus


lábios.

Problemas me acompanham e sempre me

acompanharão. Lido com transtornos psicológicos dos quais não


vou me curar, mas me trato e os mantenho sob controle quase o

tempo todo, e não deixo que estraguem a minha vida.

Como disse para o meu marido, trazer um bebê ao


mundo sabendo que ele será o pai parece a coisa mais fácil do

mundo. Quase não tenho tempo para o medo, porque gasto o meu

tempo sendo feliz.

— Por que você está vestido? — pergunto.

— A senhora está com pressa? — Ele me provoca, mas

se levanta para começar a tirar as suas roupas. — Não é possível

que já esteja pronta.

— Se não me engano, você estava chupando os meus

peitos segundos atrás. Se eu estivesse usando calcinha, ela estaria

molhada — falo com ousadia, o seu olhar fica tão quente que

poderia causar queimaduras de primeiro grau em mim.

— Não sei se uma mulher grávida deveria ser tão safada

— brinca, ao se posicionar entre as minhas pernas.

No decorrer dos anos, a gente transou em todas as

posições possíveis e imagináveis, mas uma das que mais sinto


prazer é a boa e velha papai e mamãe. Gosto de ter o peso do seu
corpo em cima do meu, o seu pau grande e duro cutucando a minha
barriga, sempre pronto para me invadir.

— Se quiser, a gente pode ficar todos os meses da

gestação sem sexos, só assim para eu me comportar como uma

gestante — falo, mas é só uma provocação.

Lembro-me de ter feito muito sexo no início da gravidez

dois gêmeos. Era um fogo que mal podia suportar, mas tive que ficar

longe do seu pau rápido demais, já que gravidez de gêmeos era


delicada e não podíamos arriscar. Eu me contentava com a sua

boca, mãos e dedos.

— Você sabe que não podemos ficar sem trepar mais do

que dois dias, amor. Vai ter que lutar com os hormônios, e eu estarei
aqui, como o seu fiel escravo, pronto para ser usado para apagar e

acender novamente o seu fogo.

Aparentemente, o fogo já está aceso, porque suas

palavras, e o fato de estar passando a cabeça do pau entre as


dobras do meu sexo, estão me deixando alagada de desejo.

— Pode começar agora, meu fiel escr… — Bruno não


espera que eu termine de falar, começa a invadir a minha boceta e
eu gemo ruidosamente. É impressionante como ainda é tão
apertado.

— Era assim que queria comemorar, minha esposa? —

pergunta com a boca junto da minha, enquanto me alarga com o


seu pau gostoso.

Transar com Bruno Pires foi uma das melhores coisas


que fiz na vida, sabia que seria assim desde o início, por isso insisti,

mas eu mereço um prêmio por ter conseguido continuar transando


quase todos os dias com ele. O troféu de mulher mais sortuda do
mundo, talvez?

Ele está entrando e saindo, saindo e entrando. O seu


cheiro e calor me fazem perder o controle de mim mesma, porque
desligo todos os outros pensamentos e deixo apenas o sexo, o fato

de estar fazendo com o homem da minha vida, o lindo e gostoso


Bruno Pires, que me deu um presente inesperado.

— Não pare… — sussurro na sua boca, que não


desgruda da minha enquanto me come sem parar.

— Eu nunca vou parar, meu anjo. Nunca!

Ele nunca vai parar de me amar, de fazer o melhor sexo


do mundo. Ele nunca vai parar de me fazer tão imensamente feliz.
Ele se tornou esse Bruno, o homem que se dedica de corpo e alma
a tudo o que faz.

— Eu estou tão perto… — digo, quando a onda de prazer


se aproxima.

— Então goze para mim, minha diabinha.


CAPÍTULO 5

BRUNO

Não é tão incomum termos fins de semanas apenas para


a gente, dois dias em que fazemos tudo o que não podemos fazer,

não com tanta liberdade, quando os nossos filhos estão em casa.

Mas eu não me lembro de um fim de semana que tenha


sido tão diferente e especial quanto ao que descobrimos que
seríamos pais novamente. No domingo, ainda em êxtase por causa

da notícia, e tendo tirado o rastro de preocupação que estava no


nosso caminho, curtimos o dia de sol na piscina, passeios e sexo
incansável.

Os dois dias passaram, a segunda chegou e a nossa

rotina voltou ao normal. Não que seja algo ruim, pois tanto eu
quanto a minha esposa gostamos da nossa rotina. Mas nós dois

sabíamos que havia algo diferente que guardávamos apenas para


nós dois.

Na mesma semana, tivemos uma conversa na nossa

cama, depois que fizemos amor, e decidimos esperar um pouco


para contarmos a novidade para as nossas famílias e amigos.

Descobrimos a gestação cedo demais, e optamos por guardar


segredo durante dois meses pelo menos.

É claro que ficamos ansiosos, mas, ao mesmo tempo, foi

gostoso aproveitarmos sozinhos a novidade, por mais egoísta que

possa parecer.

A minha esposa, que acaba de entrar com os seus saltos

altos e terninho, cuja saia justa me tira anos de vida quando os

caras viram os rostos na direção da sua bunda, está com três


meses de gestação, e decidimos que chegou o momento de

compartilharmos a nossa benção com o mundo.

— Você ainda não está pronto para ir para casa, querido?

— pergunta ao se aproximar, inclinar o corpo e beijar a minha boca.

Que advogada gostosa. Se eu fosse juiz, daria causa

ganha para ela só pela ousadia se ser tão absurdamente perfeita. O


meu pau pensa igual, porque bastou ver a sua dona para ficar todo

animado.

— Só mais um minuto, meu anjo — digo. Ela deixa a sua

bolsa e a pasta de trabalho sobre a minha mesa e vai rebolando

para perto da janela.


A gente já transou algumas vezes contra o vidro, tendo
como vista o movimento da cidade.

Eu tento me concentrar no que estou fazendo, mas, a

cada dois toques no teclado, a minha cabeça vira e os meus olhos

caem na sua bunda, que estou há mais de um mês sem comer.

Porra, cara!

Você tem coisas mais urgentes e importantes para pensar

do que no sexo com a sua mulher, que está grávida e mantém

segredo dos filhos e dos pais.

A gente quis esconder por vários motivos, o mais


importante era garantir que tudo correria bem no comecinho da

gestação. No decorrer das semanas, comecei a notar que, para ela,

os motivos iam além, e não posso julgá-la por isso.

A minha esposa não é apenas uma mulher que está


grávida. Ela é uma mulher que luta para se manter sã com

tratamentos e medicamentos durante a gravidez. Apesar dos seus

bons momentos durarem anos, não faz nada sem a autorização dos

seus médicos.

Depois que a gravidez foi confirmada, a sua forma de

agir, que estava me mantendo em estado de alerta, não mudou


tanto assim. Era a gravidez, mas também havia indícios leves de

pânico e depressão.

Os seus médicos confirmaram as minhas suspeitas Eles

explicaram que seria mais difícil no período de gestação, porque,


por si só, a gravidez muda muita coisa no emocional de uma mulher,

e quando a pessoa trata transtornos psicológicos, a chance de


haver recaídas é maior.

De modo geral, levando em conta o estado que ficou


quando eu soube dos transtornos anos atrás, e os episódios que
foram mais raros ao longo dos últimos anos, ela está bem. Muito

bem.

O que não está fazendo tão bem para a mulher da minha


vida é o medo. Ângela tenta ser forte por todos, finge bem, mas ela

é a minha alma e eu a conheço como tal. Vejo nos seus olhos que
tem medo, principalmente por causa dos nossos filhos.

Mesmo que seja irracional, que esteja fazendo o

tratamento como sempre fez, sei que Ângela tem medo da


fragilidade que vem junto com uma gravidez. Está nesta posição

depois de muito tempo, e eu tento me colocar no seu lugar, embora


saiba que nunca vou estar.
O meu papel é tirar o medo e a negatividade de sua

mente, o faço com prazer, como tudo o que faria por ela. Mas sei
que só tem uma forma de a minha esposa se sentir mais segura, de

não sentir tanto receio de coisas pelas quais já passou, de lutas que
já venceu, e que sei que venceria muitas outras vezes, se preciso

fosse.

Chega de tentar trabalhar!

Depois de olhar mais uma vez para a sua bunda, embora


os pensamentos fossem mais profundos, desligo o computador e

dou o expediente por encerrado.

A única que merece toda atenção agora é a minha

esposa.

Com cuidado para não assustá-la, pois está tão distraída

vendo a cidade de cima que nem se mexe, me aproximo por trás e


envolvo a sua cintura com os braços. Faço carinho na barriga linda,
que ainda não deu sinal de que carrega um bebê.

— Está pensando em que? — indago, ao dar um beijo no

seu pescoço.

— Em você — a resposta faz o meu coração acelerar,


como se fosse a primeira vez que ouço tais palavras da minha
esposa. — Estou sempre com você nos meus pensamentos, não
muito diferente de quando eu era uma jovem cheia de ilusões de
vinte e um anos.

— Espero que sejam bons pensamentos — digo.

— Estava imaginando como teria sido a sua vida se


tivesse se casado com outra mulher. — O meu coração erra a
batida. — Como seria a sua vida se não tivesse se casado com uma

mulher que sofreu a vida toda com transtornos emocionais? Você


ainda seria bem-sucedido, estou certa disso. Teria uma esposa

linda, com certeza saudável…

Eu não deixo que termine de falar. Viro-a de frente para

mim e faço com que me olhe. A fragilidade do seu olhar me


desarma, e não gosto de me sentir dessa forma, porque é um sinal

de alerta.

— Se eu tivesse casado com outra mulher, talvez ainda


fosse cego. Na verdade, se eu não tivesse me casado com você,

não teria me casado com nenhuma mulher.

— Não fale assim… — pede ao tentar fugir da conversa,


mas impeço-a quando seguro os seus braços. Ela começou, então

vamos continuar.
— O Bruno que está na sua frente, esse que enxerga
além do que olhos físicos podem ver, só existe por sua causa,
porque te amei.

— Bruno… — Agora os seus olhos estão brilhando pelas

lágrimas que não quer deixar cair.

Sabe a mulher linda, que entrou agora há pouco com um

sorriso no rosto? Ela era uma farsa. Agora, ela não está fingindo
que é forte quando está frágil. Está sendo ela mesma, sem

máscaras.

— Não fale sobre a mulher perfeita, porque você é a

mulher perfeita para mim. Tenho certeza de que mostro todos os


dias o quanto você me faz feliz, que eu não trocaria a vida que

tenho por nada. Eu não te trocaria por nada, Ângela Pires — falo a

maior verdade que existe em mim. — Amo tudo sobre você, será

que não entende?

— Até esse lado que é uma bagunça, que luta pela

sanidade e te deixa em constante estado de alerta? Pensa que eu

não noto?

— Sobretudo, esse lado. Sim, eu fico em estado de alerta


o tempo todo, mas não use isso como se fosse um fardo para mim,
porque não é. Preocupo-me porque quero te ver feliz, e quando está

feliz e bem, eu também estou.

— A nossa relação é saudável? Psicólogos diriam que

existe uma dependência emocional extrema entre a gente —

comenta.

Ângela nunca tinha falado em voz alta, mas, assim como


eu, ela sabe que somos assim.

— Você nunca falou sobre isso com sua terapeuta e

psicóloga? — questiono. Eu nunca falei sobre o assunto na terapia,

até porque, está tudo bem com o fato de me sentir emocionalmente


dependente da minha mulher. Foi dessa forma que encontrei a

minha felicidade.

— Não. Já tenho problemas demais para ter alguém


analisando o nosso relacionamento. A gente se ama, não é? —

Ângela parece apreensiva, como se houvesse a possibilidade de

uma resposta diferente.

— A gente se ama, e não há nada de errado com o nosso


amor — afirmo, ela concorda.

Se somos muito dependentes um do outro, não importa,

não quando o amor que sentimos foi capaz de verdadeiros milagres


depois que o assumimos.

— Do que tem medo? — Faço a pergunta mais

importante.

— Estou me sentindo vulnerável e com medo. Por mais


que eu esteja bem, sinto-me sufocando de medo. Às vezes, sonho

acordada e não são sonhos bons.

— Por que não me falou antes?

— Eram apenas sonhos… — Eu arqueio a sobrancelha,


minha esposa prossegue. — Estou internada na fazenda, como

estava quando descobrimos que eu estava grávida dos gêmeos. Em

alguns, estou tendo um surto psicótico na frente deles e os meus

filhos choram de medo. Medo de mim.

— Eles jamais teriam medo de você. Caio e Sofia te

amam mais do que tudo no mundo. Eu até tenho ciúme — brinco. A

parte que amam a mãe é verdade. Para os gêmeos, o meu anjo é

uma super-heroína. Ela não tem defeito.

O problema todo é esse, não é? Sempre foi, e se mostra

como um enorme elefante na nossa sala, agora que está grávida e

com medo.
— Amor, você sabe o que tem que fazer, não sabe? —

pergunto, ela concorda com a cabeça. — Não é justo com você e


nem com os nossos filhos que esconda algo tão importante.

— Tenho tanto medo de eles… — Calo a sua boca com

um beijo leve.

— Te amarão mais ainda. Como uma super-heroína, você


tem o seu ponto fraco, mas é muito forte, porque luta todos os dias e

vence todas as batalhas contra monstros invisíveis.

— Você vai estar ao meu lado? — Questiona. Sei que

tomou uma decisão muito difícil, que vai ter o seu próprio tempo
para pensar em como e quando será a conversa.

— Sempre, até a eternidade.

— O que eu seria sem você? — pergunta. O meu anjo

não só não chorou, como tem um sorriso no rosto agora.

— O mesmo que eu seria sem você: uma pessoa

incompleta.

A gente se beija com amor durante vários minutos e, a

cada beijo que começa e termina, mais distantes os maus


pensamentos e angústias vão ficando. Quando chegamos em casa
e nos sentamos para jantarmos com os nossos filhos, somos os pais

que eles conhecem.

Ângela e eu trocamos olhares e sorrisos à mesa, mas

também mensagens de que, em algum momento, a conversa vai


acontecer.

ÂNGELA

De maneira típica, a minha mão está suando frio. Dois

dias depois da conversa, e da decisão que tomei com o meu amor


na sua sala no escritório, estou pronta para conversar com os meus

filhos.

Estou nervosa, andando de um lado para o outro na sala,

mesmo que o meu marido tenha feito o seu melhor para me


acalmar. Quando ele desce com as crianças e pede para que se

sentem lado a lado no sofá pequeno, tenho a sensação de que vou

desmaiar.

Você precisa se acalmar, Ângela! Todo esse nervosismo


pode fazer mal para o bebê.

— Mamãe, eu me declaro inocente — Caio fala, e o pai

sorri. Ninguém tem dúvida de que vai seguir os seus passos na


carreira. — A Sofia, junto com o João, pregou uma peça na Marília

da escola.

— Vou querer saber dessa história direito, senhorita


Sofia. Você e o João não podem ficar juntos, porque são como uma

bomba relógio.

— O Caio está mentindo!

— Depois a gente fala sobre isso, querida. A mãe de


vocês quer conversar — meu marido interfere, eles voltam as

atenções para mim.

O meu coração está muito acelerado agora. Busco o


olhar do meu marido, o simples fato de ele se aproximar, pegar a

minha mão e me sentar ao seu lado no sofá grande é o suficiente

para fazer com que eu me acalme.

— A senhora está doente, mamãe? — Sofia faz a


pergunta inocente.

— Não seja boba, Soso, a mamãe nunca fica doente —

Caio a repreende. Ele costuma fazer isso, porque se intitula o irmão

mais velho.

A mamãe nunca fica doente…


Se você soubesse, meu filho.

— Filho, não é verdade que a mamãe nunca fica doente.

Tenho que contar uma história que começou muito tempo atrás,

antes de vocês nascerem, antes de eu conhecer o papai — digo,

olho para o Bruno e ele acena.

Sei que está me dando apoio ao segurar a minha mão,

que está me dizendo com o olhar que comecei bem. Eles conhecem

a história de conto de fadas sobre como o pai voltou a enxergar por


amor a mim. Lembro-me que na época fiz de tudo para que

entendesse que tinha que voltar a viver por si mesmo, mas até hoje

o meu marido não reconhece esse fato.

Joga o mérito no meu colo, eu me sinto feliz, porque


prova como realmente me amava.

Eu começo falando da minha infância, do meu


irmãozinho, que recebeu homenagem com o nome do meu filho, e

como a minha relação com os seus avós era difícil.

— Vovó Mara e vovô Tarcísio eram maus com a senhora?

— Caio pergunta.

— Eles não eram maus, meu amor, mas eram muito

diferentes da mamãe, assim como você é diferente dos seus


coleguinhas.

Começo a tomar ainda mais cuidado com as minhas


palavras, pois não quero que amem menos os meus pais. Eu

mesma me dou bem com eles e os amo como sempre deveria ter
amado.

Falo de como comecei a me sentir perdida e sozinha. Da


melhor forma possível para não confundir a cabecinha de crianças

de dez anos, tomo cuidado na parte em que cito o pânico, as crises


de ansiedade e depressão.

— Às vezes, a mamãe fica triste, muito triste. Ela não

quer brincar com vocês, mas não é porque está chateada… — O


Bruno tenta explicar melhor do que eu, mas não consegue ir tão
longe.

— A tristeza é como a kryptonita da mamãe, Soso. Às

vezes, vai quase perder a batalha, mas ela nunca perde, porque os
heróis não perdem — as palavras inocentes do meu filho me
emocionam.

— Eu posso ajudar, mamãe? — Sofia pergunta.

— Ajudar como, querida?


Eles querem me matar de emoção.

— Quando ficar triste, posso colocar música para a

senhora. Posso ajudar a não esquecer dos remédios e das


consultas contra a tristeza.

Eu falei muitas coisas, como, por exemplo, do pânico e


da ansiedade, mas eles só entenderam sobre a tristeza, e está tudo

bem, porque, no fim, me abrir para eles é o que mais me importa.

— Eu também posso ajudar, mãe. A gente não vai deixar


você ficar triste. Nunca mais — ele fala como um hominho, e eu não

consigo mais segurar as lágrimas.

Os dois se jogam nos meus braços e me abraçam


apertado.

— A gente não queria te fazer chorar. Papai, ela está

triste agora? — Sofia pergunta.

— Não, meu amor. O nosso anjo está chorando de


alegria — Bruno fala, deixa que me abracem e façam suas
perguntas sobre o que explicamos por um tempo.

— Eu não choro, nem de alegria — Caio fala, nós dois


sorrimos, porque ele chora, sim.
Eu estou tão aliviada por ter tomado a decisão de falar.
Só de ter me exposto para os meus filhos já me sinto mais forte.

— Eu disse que ia ser assim — meu marido sussurra no


meu ouvido quando nossos filhos voltam para os seus lugares,

porque a conversa ainda não acabou. — Eles sempre terão um


amor incondicional por você, assim como eu — declara e beija os
meus lábios de leve.

— Eca! — Os gêmeos falam juntos e viram os rostos.

— Temos uma notícia boa — Bruno diz, eles ficam com


os olhos arregalados de expectativa. — A mamãe e eu vamos dar
um presente para vocês dois.

— Que presente? — Sofia quer saber.

— Já tenho todos os brinquedos que queria, vovô me


deu. — O meu sogro mima muito essas crianças. Ainda bem que os
meus pais são mais rígidos, apesar de amarem muito os netos.

— Não se trata de brinquedos — falo. Eu não sei o que


eles vão pensar sobre um irmão. Como sempre tiveram um ao

outro, além do meu afilhado, nunca pediram mais um irmão, ou


irmã.
— A mãe de vocês e eu estamos esperando um bebê —

Bruno fala de uma vez.

Os gêmeos me olham com surpresa, depois olham um


para o outro e sorriem.

— Quero que seja uma menina. Vou ajudar a cuidar dela

— Sofia fala para o irmão.

— Eu quero que seja menino. Papai e eu vamos ensinar


ele a andar de bicicleta, não é, papai?

— É claro, filho.

— Menina!

— Menino!

Diante dos nossos olhos, eles começam uma disputa,


mas logo estão brincando e fazendo planos para quando o bebê

nascer.

Eu olho para o meu marido e ele olha para mim. Me jogo


em seus braços, ele me segura.

— Vai ficar tudo bem — ele sussurra dentro da minha

boca.
— Eu sei que vai — digo. Apesar das minhas fraquezas
momentâneas, e dos dias que não são tão bons, sempre estive
bem.

— Quero te beijar — diz, olhando nos meus olhos. As


minhas mãos estão formigando de desejo de o tocar.

— As crianças… Hum… — gemo, quando ele enfia o


nariz no meu pescoço.

— Eles não estão prestando atenção. Na verdade… —


Quando nós dois olhamos para o sofá onde deveriam estar, ele está
vazio. — Estão no jardim. Qual desculpa vai dar agora para não

beijar o seu marido?

— Nenhuma — falo, subo em cima de suas pernas e


então o beijo.

Hoje, assim como todos os dias que vivi depois que me

apaixonei, só tenho motivos para sorrir. Nos dias que não quero
sorrir, a sua presença constante me lembra que dias melhores virão,

que nenhum obstáculo, nem mesmo a minha mente, será maior do


que o nosso amor.
CAPÍTULO 6

ÂNGELA

Dois meses depois

As nossas famílias não precisam de desculpas para se


reunirem. Quando queremos, simplesmente marcamos um almoço,

ou jantar.

Hoje é domingo, estamos fazendo um churrasco na


piscina. Os meus sogros e os meus pais vieram. Minha melhor
amiga está chegando agora com o marido e os filhos, João e Maria

Alice, de três anos de idade.

O meu pai e o meu sogro, que se tornaram amigos há

alguns anos, estão tomando conta da churrasqueira. Nossas mães

estão na sala fofocando, porque nem a altiva Mara resiste a uma


fofoca. Meu marido está na beira da piscina conversando com o

meu cunhado, Felipe e a esposa, enquanto observa os filhos e os


sobrinhos na piscina.

Eu, como a anfitriã, deveria estar de um lado para o


outro, tomando conta de tudo e garantindo que estão todos bens, é
assim que mamãe age. No entanto, estou aqui, com o meu biquíni e

saída de praia por cima, encostada em uma palmeira.

O que você acha que estou fazendo?

Não é como se tivesse paisagem melhor do que a do

meu marido de sunga na piscina. Ele deveria dar mais atenção para

o irmão, mas está me observando o tempo todo. Sei que está


tentando vir até aqui para ficar um tempo comigo.

— Vocês dois não mudam, não é? Por isso são figuras

carimbadas nos perfis de fofocas do Instagram.

Marina quase me mata de susto quando começa a falar,


mas ela fala tanto que dá tempo de me recuperar e pensar na

resposta.

— Não temos culpa de eles serem incansáveis — afirmo,


faz muito tempo que deixei de me estressar com a mídia. Pelo

menos não soltam mentiras graves sobre a gente.

— Vocês são lindos, exalam paixão pelos poros. É normal

que queiram saber da vida de vocês — minha amiga fala.

Ela está mais bonita a cada dia que passa.

— Você e o Erick são assim.


— A diferença é que somos discretos — ela afirma
sorrindo. — Depois nós vamos conversar mais, querida. Vou te

deixar sozinha agora, porque te conheço muito bem e sei que está

esperando pelo momento em que o seu marido virá te pegar.

Ficarão se pegando pelos cantos como dois adolescentes, enquanto

todos procuram por vocês.

Eu respondo com um sorriso, porque ela está certa.

Quando Marina se afasta, penso em procurar alguma coisa para

fazer, mas a ideia de esperar é melhor. Ele está sempre me

buscando com o olhar, e não é porque vive preocupado comigo.

Não. Depois que voltou a enxergar, nunca mais os olhos

do meu marido quiseram se afastar de mim. Depois da minha última


internação há mais de dez anos, eu nunca mais quis sair do seu

lado.

Uma ideia de amor que pode parecer sufocante para

outras pessoas, mas não para a gente. Esse amor nos fez bem
desde o primeiro instante e sempre será assim entre nós, porque há

coisas para as quais não existem explicações.

Os últimos dois meses foram tranquilos e, pouco a pouco,

fui me acalmando e deixando de me sentir na corda bamba, frágil


como um pedaço de papel.

Depois que contei sobre as minhas crises para os meus

filhos, um peso deixou os meus ombros, porque agora eu sinto que

não tenho mais que fingir, não preciso ter medo que me vejam no
meu pior estado, porque, embora seja mais difícil com o tratamento,

um surto não é impossível de acontecer.

Eles ficaram tão felizes com a chegada da nova

irmãzinha, sim, nós soubemos há alguns dias que será uma menina,
que estão sempre me mimando de alguma forma. Querem garantir
que ficarei bem e saudável por mim e pela irmã.

Bruno não tem agido muito diferente. No escritório, não

posso carregar o peso de uma pena. Mal dou dois passos sem que
o meu marido esteja correndo atrás de mim oferecendo ajuda.

Apesar de estar exagerando, não ouso reclamar, porque,


no fundo, amo os seus cuidados exagerados e o fato de sempre
estar comigo.

Em casa, meu esposo é pior, só que sem roupas. A gente

tem estado mais grudado do que nunca, sempre se agarrando pelos


cantos e sorrindo. Quando podemos, ficamos até mais tarde na
cama, trocando carícias e tendo conversas sobre o futuro em que

seremos pais novamente.

Estamos ansiosos pelo nascimento da nossa menina,


mas curtindo juntos cada fase da gravidez. Decidimos que eu iria
deixar o escritório por um tempo, pelo menos até o primeiro

aniversário da nossa filha. Bruno chega mais cedo em casa, porque,


assim como eu, embarcou de cabeça na nova fase que começou

em nossas vidas.

— A incrível história de um casal que não pode ficar cinco

minutos separado. — Não me assusto quando ele chega por trás


me abraçando e falando no meu ouvido. Estava distraída, mas o
esperava.

As mãos do meu amor já se acostumaram ao caminho

que deve percorrer. Ele sabe quais carinhos deve fazer na minha
barriga, que não dá para ser notada, por isso espero pelo seu toque
todos os dias e em todos os momentos. A nossa filha também

espera, porque tenho a sensação de que ela fica tranquila dentro da


minha barriga quando o pai faz carinho nela.

— Será que é doença? — brinco, ao girar dentro dos


seus braços.
— Alguns dizem que é paixão, um fogo que se apaga,
mas o nosso parece estar aumentando ano após ano.

Ele está certo. Todos diziam que com o tempo a paixão


iria ficar mais branda, que iria sobrar o amor e o companheirismo.

Eu não sei em que somos diferentes, porque o fogo da paixão está


mais alto. Agora que estou grávida então…

— Venha comigo — ele entrelaça os nossos dedos e me

puxa para fora da área da piscina.

Eu tenho a desculpa dos hormônios para estar tão


fogosa. O meu marido? Ele me disse que sente tesão de pensar que
estou carregando um filho seu, que a minha barriga crescendo o

deixa a ponto de explodir de orgulho.

— Onde está me levando? — Ele não me responde,

apenas sorri quando abre a porta do banheiro daqui de fora, que foi
feito para os convidados que frequentam a área de lazer.

— Essa cena parece familiar — digo, quando a gente fica


frente a frente, muito perto um do outro, como ficamos no banheiro

da casa dos nossos amigos no dia em que a nossa história


começou.
— Só que agora eu estou te vendo, meu anjo. O seu
cheiro não mudou — afirma ao enterrar o nariz no meu pescoço e
me sentir profundamente. — O meu desejo por você ainda é o

mesmo — declara, dessa vez sem óculos, olhando em meus olhos.

Como daquela vez, decido ser ousada. Pego as suas


mãos e as deixo sobre os meus seios. O seu olhar muda. Era
suave, agora é desejo puro.

Como da primeira vez, guio as suas mãos pelo meu

corpo. Dos seios, elas descem para a minha barriga, meu marido se

curva e deixa um beijo carinhoso em cima. Por fim, as palmas

terminam nos lados da minha bunda.

— Depois que fez algo parecido anos atrás, eu nunca

mais fui o mesmo. O seu cheiro e a sua voz me perseguiram. Que

bom que perseguiam, porque não pude mais fugir de você, não

pude mais negar. Por não ter negado, hoje eu estou aqui,
vivenciando as mesmas emoções com mais intensidade.

— O final não será como aquele? — provoco.

— O que me propõe? — indaga, eu sorrio.

— Podemos ficar juntos, afinal, somos lindos — ele sorri


alto, me abraça e me beija com voracidade.
Eu o beijo de volta, me sentindo vitoriosa por ter

entendido tudo desde a primeira vez que estivemos em um banheiro


como esse. No fundo, eu sabia que a gente ia ficar junto e seria

perfeito dessa forma, porque, além de lindos, sempre fomos

perfeitos um para o outro, até mesmo nas partes que estavam


quebradas de nós dois.

— Eu te amo, meu pequeno anjo — sussurra dentro dos

meus lábios. É como se estivesse soprando as palavras para dentro

da minha alma.

— Eu te amo, Bruno — devolvo. Sorrio quando,

mostrando que desta vez vai ser diferente, ele desata o nó da parte

de cima do meu biquíni.

Fim
SOBRE A AUTORA

É maranhense de 29 anos, mora em Brasília, Distrito

Federal. No seu apartamento, ao lado dos pais e um sobrinho,


mergulha no mundo da imaginação escrevendo livros de romances
eróticos, comédias românticas e dramas. Com quase 3 anos de

carreira, conta com 11 títulos lançados na Amazon e mais de 50


milhões de páginas lidas pelo kindle. Títulos como O tutor, vendida
para Gabriel e Marcada por mim tornaram-se Best-seller na

Amazon.

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autora nas redes sociais.

INSTAGRAM: https://bit.ly/autorajoanesilva

WATTPAD: https://bit.ly/joanesilva

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