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XVII CONGRESSO BRASILEIRO DE ASSISTENTES SOCIAIS

11 a 13 de outubro de 2022

“Crise do capital e exploração do trabalho em momentos pandêmicos: Repercursão


no Serviço Social, no Brasil e na América Latina”
Autores: Darana Carvalho De Azevedo 1

POSSIBILIDADES E LIMITES DO TRABALHO PROFISSIONAL EM TEMPOS DE


BÁRBARIE

RESUMO: O presente ensaio é um esforço de resistência,


de ruptura e de transformação social. Alicerçado com o
compromisso ético-político da profissão aponta para a
necessidade de conhecimento da teoria marxiana no
processo de trabalho profissional, imbuído de
instrumentalidades versadas no campo das possibilidades
e limites.
PALAVRAS-CHAVE: Trabalho profissional; Possibilidades
e limites; crítico-dialético.

ABSTRACT: The present essay is an effort of resistance,


rupture and social transformation. Based on the ethical-
political commitment of the profession, it points to the
need for knowledge of Marxian theory in the professional
work process, imbued with instruments versed in the field
of possibilities and limits.
KEYWORDS: Professional work; possibilities and limits;
critical-dialectical.

1INTRODUÇÃO

O cenário sociopolítico brasileiro manifestado pela última eleição presidencial

1Universidade Federal Fluminense


é marcado por práticas de incitação à violência e ao ódio, chanceladas em discursos
misóginos, sexistas, racistas e xenófobos que põem em risco a liberdade
democrática, os direitos sociais, apontando para a progressiva extinção da proteção
social, aumento das desigualdades sociais e, obviamente, o aumento da violência.
Não coincidentemente, a conjuntura é também, de fortalecimento do projeto
econômico que tende a radicalizar o neoliberalismo em busca da fundamentação
capitalista de maximização dos lucros, arraigando os interesses egoístas, a
exploração do trabalho, a decadência da natureza e das formas de sobrevivência,
referimo-nos tanto às condições de reprodução da força de trabalho, o acesso ao
trabalho, quanto às formas de sociabilidade, manifestação e resistência.
Em tempos não muito longínquos, o desemprego foi justificado pela
incompetência dos países em realizar o pleno emprego, não cabendo mais tal
justificativa, transferiram-na para a falta de mão-de-obra especializada até que
surgissem os trabalhadores altamente especializados desempregados também, e
hoje se teme estar diante de um quadro em que as justificativas, mesmo sendo
essas ideologias fetichizadas da realidade, estejam pautadas em “soluções”, que
permitam a expansão dos lucros, alicerçadas por discursos de preconceito e
discriminação que validam/ justificam o não direito, o não merecimento ao trabalho,
à proteção social, dentre tantos outros direitos sociais.
O tempo, em sentido cronológico, parece brincar conosco, em um lampejo
nos vemos diante o discurso de Símon Bolívar, quando esse lutava pelo fim da
escravidão e da submissão aos países, da época, colonizadores. Não se conseguiu
mais distinguir de que tempo ele falava, pois se depara hoje ainda com a escravidão,
mesmo que apresentada de outras formas, porém com a mesma hegemonia
ideológica que infesta a miséria em nome da liberdade, enfim, está-se cada vez mais
próximo da barbárie.
Como diz o personagem Riobaldo, no livro Grande Sertão: Veredas, de
Guimarães Rosa; “eu quase nada sei, mas desconfio de muita coisa”. A multidão
que sobe o cume das consequências, esperando deliciar-se com a visão do céu, das
belas nuvens de uma nova era, esquece que se encontra sob os seus pés um
gigante precipício!
É diante de todo este contexto que se encontra em estado de inquietação
consciencial, convidada-se a refletir sobre o fazer profissional, resistência que
somos, como bem nos lembra o manifesto “É preciso não ter medo, é preciso ser
maior” (CFESS, 2018)2. É necessário pesquisar, é necessário refletir sobre as
possibilidades e limites postos na atualidade.
O ensaio em si, se justifica tanto pela massa crítica insuficiente, em razão das
constantes transformações sociopolíticas e econômicas, postas por uma realidade
que é dinâmica, quanto pela massa crítica que é mistificadora desta realidade. Com
efeito, concorda-se amplamente com Guerra (2009), de que a pesquisa é um
requisito essencial para a qualificação da formação e do trabalho profissional.
Reforça-se que, sem a pesquisa da realidade, sem o conhecimento ontológico do
ser social e de suas manifestações, sem recorrer à razão dialética, torna-se
impossível lançar luz e direcionamento à atuação profissional. Apesar da extrema
relevância, não é objeto deste trabalho o estudo do atual cenário sociopolítico, mas
o apontamento de fatores precípuos para essa realização sem a qual é impossível
encontrar possibilidades e reconhecer os limites.
Dessa forma, nesse cenário de incerteza e retrocessos, o presente artigo vem
relembrar a importância da teoria social marxiana para a produção do conhecimento
necessário ao desvelamento da realidade e à compreensão de categorias
importantes ao nosso agir profissional e levantar alguns pressupostos para uma
ação profissional comprometida com seu projeto ético-político. Em tempos de
transformações, apropriar-se desses conhecimentos se torna um requisito para
resistência à ideologia dominante.

2POSSIBILIDADES E LIMITES DO TRABALHO PROFISSIONAL

Como podemos aprender com a teoria marxiana, a produção e reprodução da vida


social, isto é, as condições materiais que permitem a vida social são movidas pelas
contradições, campo de atuação do assistente social, do qual ele não apenas faz
parte enquanto ser em reprodução de suas condições de vida, mas também como
interventor à medida que irá mediar essas contradições, mais especificamente seu
objeto de trabalho que são as expressões da questão social, por meio de políticas
sociais de proteção social.
Apesar desses dois momentos fazerem parte de um mesmo processo que não

2Disponível em: http://www.cfess.org.br/arquivos/2018-CfessManifesta-Conjuntura-EprecisoNaoterMedo.pdf.


existem de formas separadas, vai-se, para fins didáticos, tratá-las, dentro do
possível, em tempos diferentes. Sendo assim, começa-se pelas “etapas” de sua
própria reprodução, seu processo de intervenção profissional, momento em que ele
produz uma ação teológica sobre a matéria, objeto de seu trabalho, para
posteriormente compreendê-lo no momento de sua própria formação como ser
social, em que ele se relaciona consigo e com os outros seres.
O ser humano, no processo de reprodução, intervém de forma teleológica sobre a
natureza, ao mesmo tempo em que se relaciona com outros seres, tornando-se um
ser social. Seu objeto de intervenção, sua matéria prima, como já tratado, são as
demandas apresentadas pelo usuário, ser ontologicamente social.
A primeira apreensão dessas demandas é a aparência, camuflada da sua realidade.
Os fatos aparecem distorcidos e fragmentados; reconhecer sua essência requer
sucessivas aproximações do objeto, negar no sentido de questionar o fato em si, de
superar o que se apresenta na demanda singular, identificando suas diversas
categorias determinantes, isto é, sua universalidade, assim como suas contradições.
Fazer essa mediação, no entanto, só é possível a partir do conhecimento de uma
massa crítica.
Dessa forma, a matéria-prima da profissão aparece primeiramente no campo da
singularidade, ao não ser desvelada não se transita pelo universal, não alcança o
que de coletivo tem nas demandas que lhes chegam, as expressões se transformam
em fenômenos subjetivos, isolados, inestruturados, pois a medição não se realizou,
a consequência é práticas burocratizadas, pois sua intencionalidade é amorfa.
A aderência pragmática aos fatos imediatamente dados exclui da concepção de
conjunto certas conexões efetivamente existentes, mas que se apresentam com
menor imediaticidade, com o frequente resultado de se desembocar numa
falsificação objetiva dos fatos fetichisticamente divinizados (LUKÁCS, 1979, p. 23).

À vista disso, somente pela razão dialética pode-se navegar do campo da


singularidade para o universal, já que ela é uma racionalidade objetiva imanente ao
processo da realidade e um sistema capaz de reconstruir, ideal e subjetivamente
essa processualidade, compreendendo, assim, a particularidade das demandas,
num rompimento com a visão imediatista, e apreendendo-as como processos
históricos.
Sem essas mediações, os instrumentos utilizados no trabalho tornam-se um
fim em si mesmos, pois se altera a ordem das coisas, apropriam-se dos fenômenos
mais simples como se esses fossem capazes de explicar os mais complexos, são
olhares positivistas e pós -modernos que se dirigem na contramão da teoria
marxista, que tem como princípio metodológico fundamental a compreensão do
fenômeno a partir do mais desenvolvido, visto que é pelo conhecimento geral do
processo de produção que é possível compreender as categorias ao todo inerente. É
preciso conhecer a gênese, mas seu conhecimento não fornece saberes do
desenvolvimento. O produto gerado por essas ações são respostas manipulatórias,
fragmentadas, imediatistas, isoladas, individuais, tratadas nas suas
expressões/aparências.
O desconhecimento também causa uma alienação da sua própria força de trabalho,
não consegue se enxergar enquanto classe para si, momento em que vemos
atitudes de reprodução dos discursos capitalistas.

[...] cujo critério é a promoção de uma alteração no contexto empírico, nos processos
segmentados e superficiais da realidade social, cujo parâmetro de competência é a
eficácia segundo a racionalidade burguesa. São operações realizadas por ações
instrumentais, são respostas operativo-instrumentais, nas quais impera uma relação
direta entre pensamento e ação e onde os meios (valores) se subsumem aos fins
(GUERRA, 2000, p. 10).

A outra “etapa” referida, qual seja o que o assistente social se relaciona com os
outros seres, tanto seu empregador, como outros profissionais que também atuam
para a obtenção do produto teleológico solicitado, como com os usuários
recebedores de seus serviços, transformando-se a si próprios. Nesse momento de
constituição do ser social, o sujeito subjetivo se relaciona com a universalidade e
expressa uma particularidade. Nesse campo de mediação, ele é tanto resultado da
história formada pelos homens, de suas determinações universais, isto é, produto
dessa quanto fazedor de sua história ao imprimir nela também toda sua herança
cultural, sua liberdade, suas necessidades. Produzem um mundo material e
espiritual (a consciência, a linguagem, os hábitos, os costumes, os modos de operar,
os valores morais, éticos, civilizatórios).

[...] somente no terreno das formações histórico-sociais embasadas no capitalismo


que a produção e a reprodução da vida social podem aparecer aos homens como o
resultado das suas relações com a natureza e consigo mesmos - donde, também,
ser possível, apenas em tais formações, a emergência de teorias especificamente
sociais (NETTO, 1994, p. 31).

Por conseguinte, apresenta-se um campo de possibilidades para uma práxis


revolucionária conforme a direção da historicidade. Sobre essa direção, a partir da
teoria de Marx pode-se determinar, que o atual modelo de produção está fadado ao
fim, por sua teoria sabe-se que a mesma tem sua gênese, desenvolvimento e fim.
Outros apontamentos podem ser citados, tais como:
1. O modo de produção capitalista é o mais dinâmico dos que existiram até o
momento, porém tem essa dinamicidade marcada necessariamente por
crises;
2. O desenvolvimento capitalista implica necessariamente concentração e
centralização de capital;
3. Quanto mais crise mais polarizada será a distribuição.
São nesses momentos de crise que se abrem as possibilidades para novos
rumos, é por meio das contradições que as rupturas acontecem. Segundo Mészáros
(2011), o sistema do capital, por não ter limites para sua expansão, converte-se
numa processualidade incontrolável e destrutiva. É uma contradição vital: se as
taxas de desemprego continuam aumentando, ampliam também, de forma explosiva
os níveis de degradação e barbárie social. Porém, se ao contrário, se retornar o
aumento das taxas de crescimento do mundo produtivo (modo de vida baseada na
superficialidade e desperdício), ter-se-à a intensificação ainda maior da destruição
da natureza. Enfim, como dizem os militantes da esquerda: socialismo ou barbárie.
No entanto, a revolução só acontece com uma práxis revolucionária da
sociedade como um todo, os profissionais não devem ter a ingenuidade que
somente por meio do cotidiano de nossas práticas, vai-se alcançar a transformação,
as ações no cotidiano fazem parte dessa práxis, mas não é ela. Como disse
Iamamoto (2004), juntamente com outros setores de melhor envergadura, podem-se
instruir conhecimentos para a superação da alienação, a teoria, no caso, não
garantirá uma práxis revolucionária, essa depende das ações dos homens em sua
história, mas fortalece e fornece subsídios necessários para tal. Da mesma forma
que a ação do assistente social, comprometida com a transformação depende de

intervenções que emanem de escolhas, que passem pelos condutos da razão crítica
e da vontade dos sujeitos, que se inscrevam no campo dos valores universais
(éticos, morais e políticos). Mais ainda, ações que estejam conectadas a projetos
profissionais aos quais subjazem referenciais teórico-metodológicos e princípios
ético-políticos (GUERRA, 2000 p. 11)

Conforme nos aponta Marx, faz parte da característica do ser social a


liberdade, entendendo essa como possibilidade de escolher entre alternativas
concretas e a teleologia. Dessa forma, o profissional define sua finalidade, aponta
uma direção política e, a partir de então, define os melhores instrumentos para
atingi-la. O conhecimento teórico imprime uma razão crítica dialética que lhe fornece
subsídios necessários para essa leitura especificada ao longo deste artigo. A partir
de então, a conectividade dessas dimensões converge-se numa instrumentalidade
compromissada e competente.
Logo, num todo, atuar no campo da reprodução das relações sociais, e, portanto, das
contradições já é por si, um campo de limitações, mas também, de possibilidades. Destarte,
sem prejuízo dos demais, cujas bases são gestadas os fundamentos de uma prática
inovadora como se acabou de relatar, destacar-se-iam alguns processos de trabalhos e
instrumentos os quais, seus produtos são, por excelência, promissores, desde que adotadas
desta instrumentalidade.
O instrumento que se destacaria é a linguagem, momento em que a realidade pode
penetrar na consciência dos homens. E aqui se retorna ao questionamento inicial:
Qual conhecimento que se utiliza para balizar essas práticas? A linguagem é a
concretude dessa ação no cotidiano desse profissional.
Iamamoto e Carvalho (1983) ressaltam que a linguagem é o meio privilegiado
através do qual se efetiva a peculiar ação persuasiva ou de controle por esse profissional.
Trata-se de uma ação global de cunho socioeducativo ou socializadora, voltada para
mudanças na maneira de ser, de sentir, de ver e agir dos indivíduos, que busca a adesão
dos sujeitos.
Concernente aos processos de trabalho, em razão da inserção profissional nas
contradições, das possibilidades inerentes ao cotidiano e, também, em razão da imprecisão
quanto à delimitação das atribuições do assistente social - que pode ser um fator de
ampliação da margem de possibilidade de redefinição de suas estratégias de trabalho -,
todos são campos para uma prática revolucionária, no entanto, destacar-se-á o processo
cujo produto demandado é a própria inquirição da realidade.
Fala-se do planejamento, da análise e da formulação de políticas públicas, podendo,
dentro dos limites estruturais, incitar programas, projetos, ações comprometidas com
universalidade e com a qualidade dos serviços, rumo à criação de novas bases de vida em
sociedade. Esse processo pode ainda ser composto por mecanismos de participação e de
controle social, de fóruns de debates, de conferências, de participação de conselhos na
elaboração das propostas.
A participação social por intermédio dos fóruns, dos espaços de debates e de
conferências temáticas oferecem também, uma oxigenação ao fazer profissional, à medida
que permitem trocas de experiências e atualizações teóricas. Os problemas encontram sua
coletividade, as militâncias se fortalecem, assim como os projetos se unem e as esperanças
se renovam com os novos objetivos delimitados.
No processo de participação social, o profissional pode, também, por meio da
pesquisa, fornecer elementos que ajudem uma melhor apreensão da realidade, nutrindo os
usuários de informações para a tomada de decisões, assim como oferecer subsídios
necessários para que políticas não contempladas sejam incorporadas a partir de pressões,
por parte da população, para que entrem na agenda política.
Sobre a pesquisa, Iamamoto (2004) já reivindicava que ela se afirmasse como:
[...] uma dimensão integrante do exercício profissional, visto ser uma condição para
se formular respostas capazes de impulsionar a formulação de propostas
profissionais que tenham efetividade e permitam atribuir materialidade aos princípios
ético-políticos norteadores do projeto profissional (IAMAMOTO, 2004, p. 56).

A pesquisa e análise não são competências exclusivas de uma categoria específica,


portanto é um campo de investimento. Conhecimento teórico, práticas-operacionais e
racionalidade crítica dialética.
Enfim, os processos de trabalho do serviço social, assim como as dimensões
constitutivas da profissão e sua instrumentalidade alinhadas a uma razão dialética são
essenciais para a construção do trabalho profissional comprometido com uma sociedade
mais justa.

3CONCLUSÃO

Lícito reconhecer a idoneidade e a seriedade das diversas teorias sociais que


adentram a formação do serviço social, sejam elas conservadoras, positivistas, pós-
modernas, marxianas, todas buscam uma explicação para o quadro de extrema
pobreza que assola o planeta, assim como para as diversas manifestações da
questão social, o objetivo de todas, com certeza, é a busca de soluções ou
amenizações desta conjuntura.
Reconhecemos que os escritos de Marx não deram conta de explicar todas as
dinâmicas que se desdobraram no porvir dos tempos que lhe sucederam, mas
reconhece-se ser essa teoria que explica a atual conjuntura, suas contradições etc..
O que se diz é que suas categorias fundamentais ainda estão em vigência. Que
outra maneira de entender a sociedade em que vivemos, isto é a burguesa, senão
pelo que a forma: o modo de produção capitalista, como discorrer sobre riqueza ou
pobreza, senão por sua ontologia primária: o trabalho?!
Em outras palavras, só é possível entender a vida social (a estética, o
imaginário, o lazer, o trabalho, a família, e outros) determinando quais as condições
da produção material que lhe permitem a sua vida social (não somente suas
expressões materiais).
Para esse interim, necessário se faz reconhecer os sistemas de mediações
que constituem nossa cultura, quanto mais socializada nossa vida, mais mediatizada
ela é, mais complexa ela é. Seria, portanto, um engodo tentar explicar um sistema a
partir do menos complexo, o menos desenvolvido, o mais simples, suplantar, assim
o universal pelo subjetivo. As analogias são um tanto arriscadas, mas pede-se
licença para usá-la, desconsiderando as figuras de linguagem e o posicionamento
das mesmas e salvaguardando o efeito a que se quer exprimir, é como se tentar
explicar a partir de uma peça do quebra-cabeças como será sua imagem final, ora
muito mais lúcido após conhecer sua imagem final compreender o que significa
aquela peça, quais são suas inúmeras possibilidades e desdobramentos.
Sendo assim, para Marx, é somente no processo de socialização da
sociedade que se configura a essência humana do ser social. Portanto cada
indivíduo é singularidade e universalidade, explicar suas particularidades sem fazer
essa mediação ou é pensar que o sujeito não existe no mundo ou então é cair em
seu outro extremo e acreditar que a estrutura o vence, esquecendo que esse sujeito
é histórico, ao mesmo tempo que é formado por ela, ele a forma também, seus
valores, crenças, suas intencionalidades se encontram no exato momento de sua
práxis.
O conhecimento da teoria social marxiana é o que nos permite não ofuscar o
sujeito em relação à estrutura, atuar no cotidiano, na reprodução das relações
sociais é um campo aberto para o conhecimento libertador aos sujeitos ao quais nos
relacionamos, como também, é o que nos possibilita expressar uma intencionalidade
comprometida com uma nova era. Parafraseando Marx, diríamos que a teoria não
garante a revolução, mas é uma arma essencial para nós homens históricos que
somos.
Como diria o amigo Cartola: “todo pranto tem hora, vejo seu pranto cair no
momento mais certo [...] chora, disfarça e chora, aproveita a voz do lamento, que já
vem a aurora”. São nos momentos de crises que as contradições se acirram e a
ruptura se torna iminente, novas oportunidades surgem.
REFERÊNCIAS:

CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL (CFESS). Manifesto: É preciso não


ter medo, é preciso ser maior, 22 de outurbro de 2018. Disponível em:
http://www.cfess.org.br/arquivos/2018-CfessManifesta-Conjuntura-
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