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Formação e perfil profissional mesma, como coisa

‘natural’. Essa naturalização


da vida social e essa
1 A prática profissional coisificação própria da
sociedade capitalista – são
Esta aula é sobre o perfil e formação aprendidas unilateralmente
profissional, no entanto começaremos a com se fosse reveladora da
aula falando sobre a prática profissional, concretude do real. Assim,
considerando que esta revela o perfil e as expressões da auto-
formação do profissional, isto é, a partir suficiente, em um processo
da prática profissional podemos de parcialização progressiva
identificar os saberes e habilidades do da totalidade da vida social.”
assistente social. (p.35)
Sobre a prática profissional, Iamamoto
(2002) nos diz que a compreensão da
prática social predominante no meio 2 Fatalismo e messianismo
profissional oscila entre o fatalismo e o
Para um melhor entendimento,
messianismo.
prosseguimos com Iamamoto (2002, 38)
Mas o que isso quer dizer? nos dizendo que tais distorções na
Iamamoto (2002) fala que análise da prática social desdobram-se
aparentemente opostas e excludentes, dois comportamentos diante da prática
tais interpretações encontram-se profissional:
estreitamente articuladas, expressando,
de um lado, o reconhecimento da
existência de conflitos e tensões sociais;
e, de outro, a impossibilidade de
enfrentá-los com os próprios meios
oferecidos pelo desenvolvimento
histórico. Neste sentido a autora nos
coloca que alguns mitos precisam ser
superados, tais como:
 a) A prática social reduzida
Fatalismo: De um lado, o fatalismo,
a qualquer atividade, à
inspirado em análises que naturalizam a
atividade geral;
vida social, traduzido numa visão
 b) A concepção utilitária da ‘perversa’ da profissão. Como a ordem
prática social, traduzida do capital é tida como natural e perene,
profissionalmente na apesar das desigualdades evidentes, o
preocupação com a eficácia Serviço Social encontrar-se-ia atrelado
técnica, com o resultado às malhas de um poder tido como
imediato e visível, monopolítico, nada lhe restando a fazer.
quantificadamente No máximo, caberia a ele aperfeiçoar
mensurável; formal e burocraticamente as tarefas que
são atribuídas aos quadros profissionais
 c) A prática social aprendida
pelos demandantes da profissão;
na sua imediaticidade, como
um dado, que teria o poder Messianismo: De outro lado, o
miraculoso de revelar-se a si messianismo utópico, que privilegia as
intenções, os propósitos do sujeito Sobre a formação profissional,
profissional individual, num Iamamoto (2002, 38) destaca que a
volutarismo marcante, que não dá conta competência assim definida, fruto da
do desvendamento do movimento social formação e do exercício profissionais,
e das determinações que a prática implica:
profissional incorpora nesse mesmo
movimento. O messianismo traduz-se
numa visão ‘heroica’ ingênua das a) Um diálogo crítico com a herança
possibilidades revolucionárias da intelectual incorporada no discurso do
prática profissional, a partir de uma Serviço Social e nas auto representações
visão mágica da transformação social.” do profissional. Desvelando ao mesmo
tempo as bases sócio-históricas desse
discurso e as teorias de que se nutre.
3 Análise crítica da realidade Supõe uma abordagem para além do
Serviço Social, cuja a porta de entrada
Assim Iamamoto (2002, 39) aponta que para a profissão passa pela história da
a prática profissional não tem o poder sociedade e pela história do pensamento
miraculoso de revelar-se a si própria. social na modernidade, construindo um
Ou seja, é preciso fazer uma análise diálogo fértil e rigoroso entre a teoria e
crítica da realidade. A formação a história.
profissional aqui referida não se reduz à
oferta de disciplinas que propiciem uma
titulação ao Assistente Social para b) Um redimensionamento dos
responder a uma condição para sua critérios de objetividade do
inserção no mercado de trabalho. Se conhecimento para além daqueles
este é um elemento presente no promulgados pela racionalidade da
processo de formação, ele o extrapola: organização e da burocracia,
trata-se de preparar cientificamente privilegiando sua conformidade com o
quadros profissionais capazes de movimento da história, isto é, da
responder às exigências de um projeto sociedade e da cultura. A teoria como
profissional coletivamente construído e apreendido nas suas relações e múltiplas
historicamente situado. determinações, isto é, como ‘concreto
pensado’. Esse conhecimento se
Estas considerações remetem à constrói no contraponto permanente
formação de profissionais qualificados com a produção intelectual herdada,
pra investigar e produzir conhecimentos incorporando-a criticamente e
sobre o campo que circunscreve sua ultrapassando o conhecimento
prática, de reconhecer o seu espaço acumulado. Exige um profissional
ocupacional no contexto mais amplo da culturalmente versado e politicamente
realidade sócio-econômica e política do atento ao tempo histórico; atento para
país e no quadro geral das profissões. decifrar o não-dito, os dilemas
Formar profissionais habilitados teórica implícitos no ordenamento epidérmico
e metodologicamente (e, portanto, do discurso autorizado pelo poder;
tecnicamente) para compreender as
implicações de sua prática, reconstruí-
la, efetivá-la e recriá-la no jogo das c) Uma competência estratégica e
forças sociais presentes. técnica (ou técnico-politica) que não
reifica o saber fazer, subordinando-o à
direção do fazer, recusando os
4 As competências da formação espontaneísmos, os voluntarismos, os
profissional determinismos, e demais ‘ismos’ que
cindem o exercício profissional, competência e habilidades necessárias
desviando as rotas desejáveis da ação. para negociar seus projetos profissionais
Em outros termos, é preciso estabelecer no espaço sócio-ocupacional onde
os rumos e estratégias da ação a partir desenvolve sua atuação, que saiba
da elucidação das tendências presentes decodificar as questões inerentes à
no movimento da própria realidade, realidade social e, assim, propor ações
decifrando suas manifestações que se materializem na busca da
particulares no campo sobre o qual efetivação dos direitos da população
incide a intervenção profissional. Uma usuária, do cidadão.” (2002, 42)
vez decifradas, essas tendências podem
ser acionadas pela vontade política dos Sendo assim, cabe ao assistente social
sujeitos, de forma a extrair estratégias transformar a sua atuação profissional,
de ação reconciliadas com a realidade, devido à demanda que lhe é colocada e
objetiva, de modo a preservar sua da necessidade de responder às
viabilidade reduzindo assim a distância exigências do mundo contemporâneo. É
entre o desejável e o possível. preciso acompanhar o movimento da
sociedade e identificar os possíveis
espaços de intervenção profissional.
5 Novas demandas profissionais
Iamamoto (2002) nos convida a refletir 6 Educação permanente
sobre as novas demandas profissionais,
registrando que estas são decorrentes Outro ponto que não podemos deixar de
inclusive das novas relações abordar nesta aula é sobre o tema
estabelecidas entre o Estado e a educação permanente. Iamamoto (2002)
Sociedade Civil – um Estado “mínimo”, fala que cabe um constante
cada vez mais submetido aos interesses investimento no processo de apreensão
e políticas dominantes e uma sociedade da realidade concreta e das mudanças
que, paulatinamente, vem assumindo sociais em movimento, para identificar
grande parte do conjunto das novas possibilidades de intervenção
responsabilidades sociais do país. profissional, por meio de qualificação
continuada para desenvolvimento de
É o chamado encolhimento dos espaços novas competências e habilidades para
públicos e o alargamento dos privados. atender as novas demandas postas à
Associado a tais questões, as mudanças profissão.
no mundo do trabalho incidem
diretamente nas condições e relações de Isto significa assumir o pressuposto da
trabalho do assistente social. ação investigativa como novas
possibilidades de intervenção, na
 O profissional polivalente; medida em que desvela o contraditório e
 A terceirização dos serviços; produz as condições necessárias para o
 A subcontratação; enfrentamento e superação das questões
 A ampliação de contratos sociais que se apresentam
temporários; cotidianamente. Isso significa dizer que:
 O baixo padrão salarial;
 O desemprego.
Identificar possibilidades
Exigindo mudanças no perfil “É a atitude investigativa que permite
profissional. E posteriormente a autora revelar a essência do problema e pensar
complementa dizendo que: o novo, e por isso, teoria e método
mesmo sendo elementos distintos
“Hoje, a exigência é a de um assistente devem ser coerentes entre si. A teoria
social qualificado, que tenha fundamenta a prática e encontra-se no
nível da abstração e, o método, por sua aprimoramento de competência técnico
vez norteia a prática. Ambos devem ser operativo e intelectual, consolidando o
incorporados no agir profissional.” compromisso político com a classe
(Iamamoto, p.47) trabalhadora. (GUERRA, 2005).

7 O assistente social desenvolvendo 9 Educação permanente


capacidades
E mais uma vez retornamos ao assunto
E assim observamos que o assistente da educação permanente para finalizar a
social deve desenvolver a capacidade de aula. Fernandes (2007), ter clareza que
propor e implementar políticas sociais, e um dos grandes desafios da vida é o de
ainda, avaliar projetos na área social, e refletir permanentemente sobre nossa
ainda criar a habilidade de realizar atuação profissional, o que significa
perícias técnicas, emitir pareceres, considerar os elementos constitutivos do
exercer funções de direção na processo de trabalho dos assistentes
administração de serviços sociais, ou sociais: o objeto, os meios e o produto.
seja, uma postura pra além do foco
Estudar e debruçar-se continuamente
executivo.
sobre os problemas de nossa época é
reconhecer à complexa e dinâmica
realidade que o assistente social interage
8 Estratégias de ação em seu cotidiano profissional.
É preciso lembrar que as estratégias de Sabe-se quanto o trabalho dos
ação influenciará a modificação de uma Assistentes Sociais está sempre sujeito a
realidade, contribuindo para que as imprevistos, o que exige clareza na
pessoas sejam ator e autor de sua intencionalidade de nossas ações,
história, consequentemente da história criatividade e iniciativa para lidar com
coletiva. as diferentes situações que surgem nas
A construção de estratégias de ação dinâmicas dos serviços e/ou espaços
Para Faleiros (2005) a construção de ocupacionais. A capacitação e a
estratégias de ação envolve a qualificação profissional no Serviço
disponibilidade de recursos, o poder, a Social devem ser discutidas não como
organização, a informação e a um requisito de empregabilidade, mas
comunicação, para o enfrentamento, como forma de organização coletiva de
pelo sujeito da ação profissional, das uma categoria profissional que tem a
questões relacionais. intenção de contribuir com a promoção
social e defesa dos direitos humanos na
A luta está centrada na capacidade de sociedade atual. Prossegue Fernandes
fortalecer os sujeitos sociais, por meio (2007):
do fortalecimento da condição de
cidadãos, desenvolvimento da sua auto- “As exigências postas na atualidade
estima, valorização das condições requerem iniciativas que mobilizam os
singulares de sobrevivência individual e profissionais no sentido de buscarem
coletiva, de modo a capacitá-lo para respostas para as demandas que
construção e projeção de sua existência emergem. Nos últimos tempos, trazendo
social. como exemplo a categoria, tem-se
mobilizado para discussão e
Deste modo, compete aos profissionais consolidação do Sistema Único de
uma constante e permanente formação Assistência Social (SUAS), um projeto
técnica capaz de garantir o hegemônico que visa à universalização
e à eqüidade num ambiente capitalista e
que tem em seu cerne a desigualdade
social. Este paradoxo permeará,
necessariamente, a formulação de uma
política de formação profissional dos
assistentes sociais para o momento
histórico atual. Desta forma, a
interlocução – educação, trabalho e
Serviço Social – é um caminho a ser
fortalecido através da orientação da
educação permanente e do
envolvimento dos diferentes sujeitos
que fazem parte deste processo:
trabalhadores em geral, assistentes
sociais, escolas formadoras, sociedade
civil e usuários. Ainda, como exemplo,
não podemos deixar de citar a
experiência preconizada pelo Ministério
da Saúde do Brasil, desde 2003, que
toma a educação permanente como idéia
central da política de gestão da
educação no trabalho em saúde e
desenvolve um conjunto de ações no
interior do Sistema Único de Saúde –
SUS, sendo então os profissionais.”
(p.10)

10 A formação profissional e
educação continuada
A formação profissional e educação
continuada são elementos primordiais
para assumir uma busca constante pela
prática profissional cada vez mais
qualitativa, lapidando o próprio perfil
profissional frente às demandas
apresentadas na contemporaneidade.
Formação profissional e educação
continuada

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