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30/06/2021 Obras - Obras analisadas - Cabaça d’água | PAS Digital

Obras

Cabaça d’água

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Cabaça D'água

Cabaça d’água, Alberto Salgado, 2017.

Letra

Se agora no mundo acabasse água de beber


E no fundo de um copo restasse sede de viver

Que que cê ia fazer, camarada?


Que que cê ia fazer?

A vaidade do homem consome


Sede de viver
Tanto pingo que pinga que some
Água de beber

Água de beber, camarada


Água de beber

Águas de março do Rio de Janeiro


Verão em fevereiro lua de Yemanjá

Se não restasse nenhuma cabaça d'água


Que que cê ia fazer?

Comentários sobre a música


A canção “Cabaça d’água” foi composta em 2008 por Alberto Salgado quando o mesmo vivia em
um condomínio na cidade satélite de Sobradinho. O artista abraçou a causa dos recursos
hídricos ao se deparar com uma enorme expansão de construções próximas à sua residência,
direcionando sua crítica aos descuidos do governo e da população diante de questões
ambientais.

A música “Cabaça d’água” foi exibida somente em 2017 e deu nome ao álbum de Alberto
Salgado, que a escolheu como música tema do disco. Quando ainda estava sendo produzida para
o álbum, Salgado fez algumas alterações na canção e no seu arranjo, para que a letra escrita
anos antes se relacionasse com o contexto das tragédias ambientais daquele momento.

O artista introduziu na música um trecho de uma reportagem a respeito do rompimento da


barragem de Mariana (MG) para reforçar sua crítica à negligência das autoridades
governamentais diante da natureza.

O ritmo da música é uma fusão de vários gêneros musicais, Alberto Salgado aborda em suas
canções a técnica da experimentação, e por isso ocorre grande variação instrumental. Além
disso, o ritmo da canção indica o caráter de protesto da letra, que adota um discurso direto com
ouvinte na intenção de aproximá-lo da causa ambiental. No verso “Que que cê ia fazer,
camarada”, é possível assimilar a ideia de conscientização que a música busca levar ao público
por meio de uma linguagem informal e regional.

Quando Salgado fala sobre a vaidade do homem, ele se refere à priorização que a sociedade tem
dado aos bens materiais, construções em massa e ambição por dinheiro. Aspectos como esses
geram uma re exão sobre a nitude dos recursos hídricos, que estão sendo consumidos sem
consciência, sem levar em consideração as gerações futuras. Por isso o compositor insere uma
indagação na letra, provocando o público a perceber que a água é uma prioridade na vida e tem
sido pouco valorizada.

https://loope.bsb.br/projetopas/obras/obra/86 1/4
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No verso “tanto pingo que pinga que some”, o compositor quis abordar o desperdício que ocorre
Obras como indiferentes mas acarretam
no dia a dia das pessoas. Os descuidos são considerados
graves consequências. Estima-se que, a cada 100 litros de água tratada no Brasil, 37 litros sejam
desperdiçados.

Sobre Alberto Salgado

Cantor e compositor brasiliense, Alberto Salgado possui um estilo de música alternativa que se
baseia na experimentação dos sons e arranjos. Distante do mercado fonográ co, o artista busca
em suas canções a abordagem de assuntos da contemporaneidade, tendo papel ativo na crítica
às questões ambientais.

Salgado possui dois álbuns, sendo que seu trabalho mais recente foi o álbum “Cabaça d’água”,
que chegou a ganhar o prêmio nacional da música brasileira como melhor disco brasileiro na
categoria regional. O álbum possui grande mistura rítmica, resultante da experimentação
característica do artista.

Alberto exibe seu trabalho apenas por meio das plataformas digitais, que têm se tornado
grandes aliadas dos músicos mais distantes da mídia. Inserido no âmbito da música brasileira,
Salgado busca renovar a estética da MPB e resgatar o entusiasmo nacional que existiu nas
décadas de 70 e 80 diante desse gênero.

Atualmente o mercado fonográ co está voltado para outro tipo de abordagem musical. Para
Salgado, arranjos e letras precisam estar em constante mudança, negando uma tendência do
mercado da música em fazer “hits” repetitivos que estão sempre inseridos em um mesmo ritmo
ou meio social.

Alberto Salgado possui fortes in uências da música africana em suas canções, pelo fato de ter
começado seu contato com a música sendo percussionista, tendo contato com instrumentos
como berimbau e pandeiro nas cantigas de roda da capoeira. O seu processo inovador de
produção musical começou quando ele percebeu que precisava de mais instrumentos em suas
canções, indo além do uso do violão e de elementos do pandeiro e do tambor, por exemplo. Uma
característica marcante em sua instrumentação é a separação feita entre a linha do baixo em
relação às outras cordas, criando uma sonoridade diferenciada.

Dentro das características instrumentais de Salgado, devemos destacar também o uso do violão
erudito em algumas de suas canções. O artista conta que a música erudita foi responsável por
lhe ensinar a de nir melhor o seu som, trazendo por meio do violão percussivo, adotado por ele
desde o princípio, uma sonoridade rica e bem arranjada. Salgado também tem gosto pelo
dedilhado nos violões.

Instrumentos

Na canção “Cabaça d’água” foram utilizados, dentro de uma grande mistura rítmica, o berimbau,
bateria mixada, baixo elétrico, cavaco de 5 cordas, violão de nylon e violoncelo. Vale citar a
presença de backing vocals em determinadas partes da música.

Características dos instrumentos


Berimbau: Instrumento de percussão (corda percutida);
Baixo elétrico: instrumento de corda que serve para executar as notas musicais mais
graves;
Cavaco de 5 cordas: instrumento da família dos cordofones;
Violão de nylon: instrumento de corda dedilhada;
Violoncelo: Instrumento de cordas.

Características técnicas musicais

A canção “Cabaça d’água” começa com um berimbau, trazendo a in uência da capoeira e da


África no estilo de Alberto Salgado. Logo em seguida começa uma batida mais parecida com o
pop, com sons de hip hop, remetendo a um estilo mais moderno ao fazer uso da bateria
eletrônica, berimbau e baixo sintetizador.

Ocorre uso de sample na canção, que consiste em um artifício eletrônico de produção musical
que con gura “pedaços” ou “amostras” de músicas produzidas eletronicamente em programas
digitais. Eles ajudam a compor o beat da canção e oferecem um groove constante no arranjo.

Destaca-se também a ligação entre a letra e o instrumental da canção, que dialogam ao longo de
todo o arranjo, conectados à experimentação multisonora proposta por Salgado, e teve como
intuito transmitir a ideia passada na mensagem da música. Além disso, podemos classi car o
tom da canção como sendo alto e aberto, com a presença de compassos marcantes.

Contexto Histórico

A música foi escrita em 2008 e exibida em 2017. Em ambos os momentos é possível evidenciar
https://loope.bsb.br/projetopas/obras/obra/86 2/4
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os problemas ambientais apontados pelo artista, colocando em evidência a questão hídrica
ambiental. Obras
A constância com a qual essa pauta está inserida na sociedade con gura o contexto da canção
em análise. A música foi adaptada à tragédia ecológica ocorrida em Mariana (MG), mas poderia
se enquadrar em diversos outros acontecimentos e desastres ambientais que têm ocorrido com
frequência em nosso país.

A canção é extremamente atual e trata da crise hídrica, dos descuidos com o meio ambiente,
ganância das produções em massa e falta de consumo consciente.

Rompimento da barragem em Mariana (MG)


No dia 5 de novembro de 2015, aconteceu o rompimento da barragem de resíduos de
mineração Fundão, da mineradora Samarco, que é controlada pela Vale e pela BHP Billiton no
município de Mariana, em Minas Gerais. O rompimento da barragem causou uma enxurrada de
lama, que devastou cidades, deixando várias pessoas desabrigadas e 19 mortos. Os prejuízos
ambientais causados pelo incidente são incalculáveis e, muito provavelmente, irreversíveis.

A lama afetou o rio Gualaxo, que é a uente do rio Carmo, que deságua no rio Doce, o qual é
responsável pelo abastecimento de várias cidades da região. Quando a lama atinge os
ecossistemas aquáticos, causa morte de peixes e algas, comprometendo a quantidade de
oxigênio presente na água e obstruindo as brânquias dos peixes.

A lama compromete também os ecossistemas terrestres à medida que endurece e forma uma
espécie de cobertura que é pobre em matéria orgânica, deixando o solo infértil.

Reservatório da Usina Hidrelétrica Risoleta Neves (Candonga) atingido pelo rompimento da barragem de
rejeitos da mineradora Samarco, em Rio Doce, Minas Gerais. Felipe Werneck - Ascom/Ibama

O rio de lama matou 19 pessoas, afetou 39 municípios e percorreu mais de 600 km pelo rio
Doce, até chegar ao oceano Atlântico. Quatro anos depois da tragédia, restam apenas ruínas de
cidades, uma natureza devastada e milhares de brasileiros sem indenização.

Por dentro da matriz

Obras musicais como Crab Canon (Bach), Cavalgada das Valquírias (Wagner) e Reisado do
pastoreio / batuque - dança de negros (Lorenzo Fernandez) exempli cam formas expressivas
distintas de musicalidades, contrastadas com as das músicas Cabaça d'água, (Alberto Salgado),
Flor amorosa (Joaquim Callado), ou Mar de Brasília (Engels Espíritos).

Estão postas questões relativas à gura do artista como agente de mudanças sociais e as suas
produções culturais. Obras como Cavalgada das Valquírias (Wagner), Crab Canon (Bach),
Reisado do Pastoreio/ Batuque - Dança de Negros (Lorenzo Fernandez), O Sal da Terra (Beto
Guedes), Eu estou apaixonada por você (na versão de Gina Lobrista), Cabaça D'água (Alberto
Salgado), Flor amorosa (Joaquim Callado) e Mar de Brasília (Engels Espiritos) ampliam o
reconhecimento dessas questões.

Preservar o meio ambiente signi ca garantir a continuidade também da espécie humana e sua
diversidade étnica e cultural. A música Cabaça d’água - faixa 5 do disco homônimo (Alberto
Salgado)- faz referência à devastação da natureza e seus impactos no acesso à água. A poluição
dos cursos d’água afeta comunidades indígenas que muitas vezes dependem diretamente de
recursos pesqueiros. Essa poluição e mudança nas margens dos rios também são responsáveis
pelo assoreamento e pode provocar a falta de água.

África, Ásia e América Latina foram submetidas e expostas a situações dramáticas relacionadas
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à expansão dos modelos capitalistas industriais europeus e norte americano em sua fase
Obras
imperialista. Re exões acerca dessa temática estão presentes em: O Sal da Terra (Beto Guedes),
Cabaça d’água (Alberto Salgado), O rompimento da barragem de Mariana e seus impactos
socioambientais (Luciano M. N. Lope), Um Inimigo do Povo (Henrik Ibsen) e Conservar a
Amazônia, uma questão ambiental, social e econômica (Agência FAPESP) ao criticarem os
impactos sociais e ambientais relacionados ao Imperialismo.

A discussão sobre matéria e suas transformações, como a sua destruição e modi cação no meio
ambiente, pode ser enriquecida a partir de músicas como O Sal da Terra (Beto Guedes) e Cabaça
D’água (Alberto Salgado), nas quais 32 possível veri car distintos usos dos materiais naturais
disponíveis, tais como o berimbau, acompanhado por instrumento eletrônico.

Itens que já caíram no PAS

Ainda não encontramos itens no PAS acerca dessa obra.

https://www.youtube.com/watch?v=w_BeNXmbtRM http://www.achabrasilia.com/alberto-
salgado-2/ https://www.tempo.pt/noticias/actualidade/2017-ano-com-o-maior-numero-de-
vitimas-devido-aos-desastres-naturais.html http://cuica.tripod.com/instrumentos.htm
https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/acidente-mariana-mg-seus-impactos-
ambientais.htm
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2019/11/02/interna_gerais,1097978/quatro-anos-
apos-desastre-de-mariana-cidades-fantasmas-emergem-da-la.shtml
https://www.eosconsultores.com.br/consumo-e-desperdicio-de-agua/

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