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Psicologia.

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ISSN 1646-6977
Documento publicado em 07.10.2018

SOMATIZAÇÃO, CONVERSÃO E PSICOSSOMATIZAÇÃO:


A DIALÉTICA DE UMA BREVE HISTÓRIA
DO TRANSTORNO SOMATICO

2018

Rivaldo Mendes da Silva


Acadêmico do Bacharelado em Psicologia pela FAINTVISA e Pedagogia pela UFRPE (Brasil)

E-mail de contato:
rivaldomendespsi@gmail.com

RESUMO

O presente artigo buscar estudar os signos da somatição, conversão e psicossomatização


como elementos dialéticos na história do transtorno somático, por apresentarem uma ligação direta
nessa patologia. O objetivo desse estudo é refletir como esses signos refletem na história do
transtorno somático numa perspectiva psicológica. Para realizar a dialética foi realizado um estudo
bibliográfico em artigos e livros sobre a temática em tela, através de fichamentos. O transtorno
Somático apresenta dentro das patologias mais complexas no campo das ciências médicas pela sua
configuração psicológica que é elaborada em sintomas físicos, seu diagnóstico é levantado de
forma mais eficaz quando o médico apresenta estudos nessa área do conhecimento. Portanto, ele
demarca a importância do conhecimento sobre a interação psíquica na construção da doença que
afetara os sistemas humano e o papel do psicólogo para trabalhar com esses conflitos que implicam
na ligação psique e sintoma.

Palavras-chave: Doença, transtorno somático, somatização.

Copyright © 2018.
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INTRODUÇÃO

Estudos sobre a psicossomática tem avançado entre as pesquisa, pois a relação mente e corpo,
como um fenômeno de influência tem levado as ciências médicas a descobri várias doenças que
são implicados por sintomas físicos, que ao ser examinados não apresentam justificativa biológica.
Segundo Araújo e Neto (2013), o homem busca conhecimento para responder seus
questionamentos, desde o uso de classificações para remediar a dor. Esse fenômeno remete a um
sofrimento que pode ser apresentado em sintomas físicos que devem ser avaliados pelo médico.
Alguns sintomas não são identificados quando examinados por uma perspectiva fisiológica, pois
pode ser configurações das doenças de teor psicossomático.
A patologia denominada Transtorno Somático deve ser diagnosticado pelo profissional
adequado, pelos signos representativos conforme o DMS-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais) ou a CID 10 (Código Internacional de Doenças). Esses instrumentos foram
desenvolvidos para rotular os sintomas e classifica-los dentro de um campo de sofrimento e deve
ser utilizado de forma coerente pelo profissional habilitado (ARAÚJO; NETO,2013).

Camon (2012), relata que a doença em seu processo de formação, deve ser compreendida
pelas suas totalidades. O adoecer está ligado aos sistemas humanos que são configurados pela
psique, o sujeito que não consegue simbolizar seus conflitos pode desenvolver sintomas físicos que
são considerados psicossomáticos. Portanto, torna-se importante realizar um diagnóstico
diferencial para compreender os signos das doenças expressar pelo paciente, levando em
consideração a psique como um local de investigação que pode gerar sofrimento e implicar no
corpo humano.
O artigo é desenvolvido com objetivo de estudar a reflexo dos signos psiquicos que refletem
na história do transtorno somático numa perspectiva psicológica. Esse estudo foi elaborado através
de um levantamento bibliográfico em artigos e livros sobre a temática em tela, através do método
de fichamentos utilizando com referencial as palavras somatização, psicossomatização e o
transtorno somático.

CONCEITO ANTIGO DE DOENÇA

As civilizações em seu desenvolvimento apresentaram reflexões particulares em pensar sobre


saúde e doença, apresentando o senso comum como o padrão para avaliar os casos diante a cultura
(MIRANDA,2007). O conceito de doença apresenta um enfermo se encontra, possibilita uma ação

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médica- aquele que cura. A arte de curar, não foi praticada sem que deixasse de apresentar a sua
fundamentação e sua legitimação.

É possível dizer que a doença é uma ocorrência sobrenatural (HEGENBERG, 1998). A


doença tem suas dolorosas consequências, ao qual se manifestam por meio de algo que está errado
no corpo ou organismo. Os povos primitivos entendem que doença é algo que tem a ação de
projeteis, ou seja, o projetil é um organismo, que por meio dos movimentos na pessoa afetada,
sentem dores agudas ou mal-estar súbito.
A medicina tem início com Hipócrates, a sua existência é problemática. A tradição hipócrita
é deriva do nome do próprio autor de vários tratados, a cerca da tradição.
Dotado de notável espírito de observação, conhecendo profundamente o ser humano e
exercendo intensa atividade médica, Hipocrates consolida as informações das tábuas votivas de
Cos e de Cnidos, dando-lhes aspecto sistemático em um livro de Aforismos - ainda hoje consultado,
graças aos importantes ensinamentos que encerra. Hipocrates descreveu numerosas doenças e
recebeu, com justiça, o cognome Pai da Medicina (HEGENBERG, 1998).
Uma pessoa poderia adoecer em função de algum ferimento, alguma batalha ou acidente, em
alguns casos a razão era obvia, mas mesmo assim as pessoas ficavam doentes sem motivo aparente.
Era preciso conhecer porque as perturbações afetavam as pessoas, para que evitasse que se
repetisse.
As explicações sobre doença foram construídas como causa, se não tinha como determina-
las, alguns termos eram concebidos, como de agentes invisíveis que afetam o corpo.
Na época de Hipócrates, a natureza com seus quatros elementos, que são: terra, agua, ar e
fogo, contemplavam uma combinação que delineavam as propriedades dos objetos, que são: o
seco, o úmido, o quente e o frio (HEGENBERG, 1998).

Dessa forma Hipócrates associa os quatro elementos a quatro humores do corpo humano,
que são: o sangue, o flegma, a bile amarela e a bile negra, com isso eram delineados os atributos
dos seres humanos, em que associariam males a ação de medicamentos. Com essa primeira base a
respeito da doença, que trata-se de uma patologia humoral, denominada dessa forma por que o seu
papel desempenham os humores, ou líquidos dos organismos.

CONCEITO DE DOENÇAS CONVERSIVAS ( HISTERIA)

A histeria nos remete á neurose, a hipocondria ao delírio e á psicose e aos fenômenos


psicossomáticos a um mal- estabelecida e intrigantemente pesquisada relação corpo- mente

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(FILHO, 1992, p. 108). As manifestações corporais da histeria apresentam resultados do


processamento do material libidinal recalcado. Assim a representação que não pode ser consciente.
(FILHO, 1992, p 108). As representações são de ordem inconsciente que faz o homem elaborar na
doença, como um recurso de fuga, por não suportar o material no inconsciente, necessitando
converge para uma representação simbólica que será descarregado pela somatização.
Torna-se importante à relação com subjetividade da elaboração do ser, demarcando a sua
realidade. É mantido e há implícita neste jogo de esconder e de mostrar, uma possibilidade de
subjetivação do sujeito histérico (FILHO, 1992, p. 109).

TRANSTORNO SOMÁTICO (DSM)

O DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais-5) apresenta em sua


classificação mudanças referentes ao transtorno Somatoforme, pois não apresentava clareza em
alguns diagnósticos sintomáticos. Portanto o DSM-5, busca desdobrar de forma mais compreensiva
e clara o diagnóstico, para que a doença seja identificada de forma mais assertiva para o tratamento.

Na atual classificação, o DSM-5 adotou o diagnóstico do “Transtorno com sintomas


somáticos, ao sujeito que apresenta qualquer número de sintomas somáticos. Para ser
diagnosticado com esse transtorno Segundo Araújo e Neto

‘’esses sintomas sejam acompanhados por pensamentos, sentimentos ou comportamentos


excessivos relacionados aos sintomas somáticos ou preocupações associadas com a saúde.
Algumas características são: pensamentos desproporcionais e persistentes sobre a
gravidade dos próprios sintomas; nível persistentemente elevado de ansiedade sobre a
saúde ou sintomas; excesso de tempo e energia dedicados a estes sintomas ou problemas
de saúde. A ênfase dada aos pensamentos e comportamentos que acompanham o sintoma
permite que o diagnóstico seja aplicável, ainda que na presença de uma doença clínica.’’
(2013,p.108).

Conceito de Psicossomatização
Nas últimas décadas, o termo psicossomática, passou a ser usado no meio médico e pela
comunidade cientifica, porém já era compreendida pela psicanalise desde a conversão da histeria
revelada por Freud (MELO FILHO, 2002). Desde o início do pensar psicanalítico, os analistas
apresentavam interesses pelo adoecimento do corpo.

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A palavra psicossomática remete a uma doença que é compreendida como um processo mais
amplo que os sintomas físicos apresentados (MELO FILHO,2002). A expressão doença
psicossomática refere-se a um dano psíquico que apresenta mudanças clinicas detectadas no corpo.
O conceito de Medicina Psicossomática está associado à uma patologia de matriz psíquica de
conteúdos consciente e inconsciente (MELO FILHO,2002). Esse termo foi utilizado pela primeira
vez pelo psiquiatra Heinroth, em 1808, nos estudos sobre insônia. “

Mello Filho (2002), afirma que psicossomática é uma doença crônica empregada para referir
aos sintomas de unidade patológica associados entre uma expressão fisiológica e uma expressão
psicológica. Trata-se de fenômenos físicos expressivos em doenças somáticas que manifesta de
forma crônica os conflitos psíquicos liberando em sintomas e doenças no corpo.

ESCOLAS

Segundo Cerchiar (2000), a piscossomática e suas escolas como a escola de Boston de 1970,
onde o era incapaz de nomear e expressar o sentimento, o sujeito não conseguia simbolizar.
Realizavam pesquisas sobre a comunicação dos pacientes psicossomáticos, através de entrevistas
psiquiátricas, gravadas com pacientes que apresentavam alguma doença psicossomática, eram
analisadas para entender sua psicodinâmica.
Na escola de Chicago em 1940, foi verificado que toda doença tinha ligação entre o biológico
e o emocional, ou seja, toda doença é psicossomática. CERCHIAR (2000), afirmou que essa escola
apresentou uma ligação entre a personalidade e a doença psicossomática. Alexander e Dunbar da
Escola de Chicago, dirigiam seus trabalhos na intenção sentido estabelecer relações entre os
conflitos psíquicos e a personalidade com algumas doenças somáticas, como úlceras, enxaquecas,
alergias, asma e distúrbios digestivos.
Na escola de Paris em 1960, o sujeito apresentava pouca ligação com o inconsciente, estava
vulnerável ao estresse que acarretava sintomas físicos de uma matriz pulsional que necessitava de
uma descarga, pois apresentava pouca simbolização dos signos. O objetivo inicial era compreender
as patologias somáticas cuja dinâmica não correspondiam ao modelo da conversão histérica,
utilizando o conceito psicanalítico de neurose atual, para entender esse fenômeno.

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DOR

Segunda a perspectiva fenomenológica, a dor é uma limitação das possibilidades de ser e


estar no mundo, pois é elaborado uma raptura das possibilidades na existência humana
(COSTA,2017). Nessa leitura é compreendida a dor como um fenômeno de movimento das
manifestações existenciais. O homem ao convive com a dor por ela fazer parte da sua existência e
implicar na sua construção, alertando mudança.
As dores somáticas são matrizes emocionais que existem e doem no físico (no corpo) Elas
se alojaram no corpo quando os conflitos psíquicos não são simbolizados - em termos
psicossomáticos.

DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS

As doenças psicossomáticas têm componente psíquico, e são manifestadas em doenças


orgânicas é ocasionada por problemas emocionais. O corpo possui suas próprias defesas
biológicas, mas conteúdos psíquicos não resignificado manifesta em tremor, dores de barriga,
gestos e travamento de dentes, etc.

Doenças psicossomáticas, psique (mente) e soma (corpo), são as patologias relacionados


com a mente e corpo em conjunto podendo se manifestar em diversos sistemas que constituem
nosso corpo (LUDWIG et al ,2006).
Segundo Bueno e Silva (2012) doenças como Gastrointestinal (Úlcera, Gastrite, Retocolite);
Respiratório (Asma,Bronquite); Cardiovascular (Hipertensão, Taquicardia, Angina);
Dermatológico (Vitiligo, Psoríase, Dermatite, Herpes, Urticária, Eczema). E também as dos
sistemas Endócrino e Metabólico (Diabetes); Nervoso (Enxaqueca, Vertigens); Articulações
(Artrite, Artrose, Tendinite, Reumatismos). Doenças auto-imunes (Alergias variadas; Rinite
Gastrite). Bueno e Silva (2012) e as Impotência e outras Disfunções sexuais; Fibromialgia, Insônia,
Depressão, Gripes, Estresses, Transtorno de Ansiedade, Diarréia, são exemplos de doenças
psicossomáticas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A psicossomática, tem apresentado como um destaque na área da medicina, por ser um


estudo que envolve a subjetivação do ser e elabora na formação psíquica, movimentando toda
psicodinâmica do homem.
Estudos mostram com o transtorno somatofome, surgiu pelos estudos psicanalíticos,
seguidos por Freud, categorizando como uma doença histérica que simbolizava e conversava em
somatização no corpo, elaborados por eventos recalcados do inconsciente, onde o sujeito não
conseguia administra em sua psicodinâmica, surgindo uma doença psicodinâmica.

As escolas da psicossomática contribuíram para relatar seu entendimento sobre a mesma em


suas épocas de surgimento e seus enfoques. Contribuindo para o conceito de dor, como um
fenômeno existente na vida humana, mas que apresenta suas vertentes, não visualizadas no campo
consciente.

O DSM, elege caracteres para compreender essa patologia com mais precisão, pois os signos
passados se convergiam com outros aspectos psicopatológicos. Diante o exposto em tela, foi
possível compreender a história do transtorno Somatoforme e seus significados de raízes culturais
elegidos para sua formação e elaboração. Apresentando o nome de Transtorno com sintomas
somáticos, vistos em diversas doenças do sistema humano.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, A. C.; NETO, F. L. L. A nova classificação americana para os transtornos


mentais – o dsm-5. Jornal de Psicanálise, nº 46 (85), p.99-116,2013.

BUENO, L. M.; SILVA, L. C. O “PSICOLÓGICO” NA CAUSA E NO


DESENVOLVIMENTO DAS DOENÇAS DO CORPO: O QUE DIZEM OS ARTIGOS
CIENTÍFICOS PRODUZIDOS NO BRASIL NA ÚLTIMA DÉCADA. Anais V CIPSI -
Congresso Internacional de Psicologia Psicologia: de onde viemos, para onde vamos?
Universidade Estadual de Maringá,2012.

CAMON, A. Psicossomática e suas interfaces: o processo silencioso de adoecimento. São


Paulo: Pioneira Thompson Learning,2012.

CERCHIAR, E. A. N. Psicossomática um estudo histórico e epistemológico. Psicologia


Ciência e Profissão. v.20.nº. 4 . Brasília. Dezembro, 2000.

COSTA, B. A. Sofrimento e existência: uma leitura daseinsanalitica. Revista


Latinoamericana de Psicologia Existencial um enfoque compreensivo del ser, n.14 ,2017.

FILHO, J.M. Psicossomática de hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

HEGENBERG, L. Doença: um estudo filosófico [online]. Rio de Janeiro: Editora


FIOCRUZ, 1998.

LUDWIG,M.W.B.;REDIVO,L.B.;ZOGBI,H.;HAUBER,L.;FACCHIN,T.H.;MÜLLER,M.
C.Aspectos psicológicos em dermatologia: avaliação de índices de ansiedade, depressão, estresse
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FILHO, J. M. Concepção psicossomática: visão atual. São Paulo: Casa do Psicólogo,2002.

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MIRANDA, J. J. SAÚDE E DOENÇA NA ANTIGUIDADE: a influência do conceito


greco-romano sobre o judaísmo bíblico e o novo testamento.Hermeneutica, V.11, n. 11.p.135-
157,2007.

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