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NÃO CONFORMIDADES NA CONSTRUÇÃO:

Identificação com base na elaboração de árvores de


diagnóstico

LUÍS BERNARDO MENDES BARROSO

Dissertação submetida para satisfação parcial dos requisitos do grau de


MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL — ESPECIALIZAÇÃO EM CONSTRUÇÕES

Orientador: Professor Doutor Rui Manuel Gonçalves Calejo Rodrigues

Coorientador: Engenheiro Rui Micael Silva Bessa


Engenheiro Carlos Valdemar Morais Gonçalves

JULHO DE 2018
MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL 2017/2018
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
Tel. +351-22-508 1901
Fax +351-22-508 1446
 miec@fe.up.pt

Editado por
FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Rua Dr. Roberto Frias
4200-465 PORTO
Portugal
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Fax +351-22-508 1440
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Reproduções parciais deste documento serão autorizadas na condição que seja mencionado
o Autor e feita referência a Mestrado Integrado em Engenharia Civil - 2017/2018 -
Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto,
Porto, Portugal, 2018.

As opiniões e informações incluídas neste documento representam unicamente o ponto de


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Este documento foi produzido a partir de versão eletrónica fornecida pelo respetivo Autor.
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

AGRADECIMENTOS

Ao Professor Doutor Rui Calejo, orientador desta tese, agradeço todos os ensinamentos e apoio dado ao
longo deste trabalho. A sua motivação e incentivo para se trabalhar desde o início do semestre permitiu
que este trabalho se realizasse sem problemas e sem preocupações maiores.

À empresa Afaplan – Planeamento e Gestão de Projectos, S.A. – agradeço a possibilidade de realizar


este trabalho em ambiente empresarial. Um agradecimento especial ao Eng. Carlos Gonçalves, co-
orientador desta tese, pela oportunidade de trabalhar e aprender numa das maiores obras do Porto e pela
disponibilidade e apoio demonstrados. Ainda, um grande agradecimento ao Eng. Fábio Neves por me
ter acompanhado em obra durante todo o meu período de estadia, estando sempre disponível a esclarecer
dúvidas, a ensinar e a ajudar no desenvolvimento deste trabalho. Sem a sua ajuda, este trabalho não seria
possível.

Ao Eng. Rui Bessa, criador do software SICCO, um agradecimento pela disponibilidade e apoio dados
para que a utilização do programa em obra corresse sem problemas.

Aos meus pais e a toda a minha família, muito obrigado por estarem sempre do meu lado e me ajudarem
sempre no que preciso.

A todos os meus amigos em especial ao Lança, Fraga, Piny, Lela, Manel, Tiago, Custy, Bruno, Zé Diogo
e Berna, muito obrigado por todos estes anos de irmandade, diversão e por serem a família que escolhi.

Ao Kiko que, para além de amigo, foi meu companheiro durante estes 5 anos de faculdade. Não só
companheiro de estudo uma vez que estudamos e fizemos todas as cadeiras juntos mas, também,
companheiro de tudo o que foram festas.

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

RESUMO

Numa área científica tão importante e tão influente como a Engenharia Civil é necessário garantir a
qualidade dos seus produtos finais de maneira a que esta possa servir a sociedade nas suas melhores
capacidades. No entanto, no panorama nacional, a construção civil não cumpre esta garantia, ocorrendo
inúmeras falhas no decorrer das obras sejam estas de origem humana, tecnológica ou acidental. Assim
surge a ideia de se investigarem não conformidades com base num caso de estudo de maneira a se
identificarem ações a tomar que aproximem os níveis de qualidade dos produtos finais dos níveis
esperados pela sociedade. Esta investigação foi realizada com o apoio de um programa informático
desenvolvido pelo Eng. Rui Bessa denominado de SICCO – Sistema Integrado de Controlo de
Conformidade em Obra – que permite a identificação de não conformidades em obra.

Os objetivos do trabalho em questão passam pela identificação e análise de não conformidades através
de metodologias de análise, neste caso da metodologia FMEA e Fault Tree Analysis, e pela avaliação
do programa informático utilizado através de uma análise SWOT. A análise das não conformidades
através da fault tree analysis permite identificar as causas básicas das não conformidades e, assim,
determinarem-se medidas preventivas que evitem ou diminuam a probabilidade estas ocorrerem. A
metodologia FMEA é utilizada numa função mais complementar que é a de organizar toda a informação
sobre cada não conformidade e de as classificar em termos de prioridade de resolução. Por sua vez a
análise SWOT do programa permite identificar as suas potencialidades e limitações, dando uma ideia
do seu estado atual e do que deve ser ainda desenvolvido.

Para se poderem atingir os objetivos do trabalho, o autor esteve presente numa obra de geotecnia que
serviu como caso de estudo. A informação recolhida do caso de estudo foi introduzida no programa
informático permitindo, assim, realizar o controlo de conformidade da obra no terreno e obter os dados
necessários. Os resultados obtidos demonstram que o principal problema das falhas na construção são
os erros humanos devido a negligência. As medidas de prevenção necessárias estão evidenciadas na
apresentação dos resultados . Relativamente ao programa informático, este revela-se eficaz no controlo
de conformidade em obra, embora ainda tenha bastantes funcionalidades a introduzir e a melhorar antes
de estar pronto a ser lançado para o mercado.

PALAVRAS-CHAVE: Controlo da Qualidade, SICCO, Não Conformidades, FMEA, Fault Tree Analysis,
Análise SWOT

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

ABSTRACT
In a scientific area as important and as influential as Civil Engineering, it’s necessary to guarantee the
best possible quality in its final products so that it can serve society at the best of its abilities. However,
in the national panorama, civil construction does not fulfill this guarantee, occurring numerous failures
in the course of the construction works which can be of human, technological or accidental origin. Thus
arises the idea of investigating nonconformities based on a case study in order to identify actions to be
taken that bring the quality levels of the final products closer to the levels expected by society. This
research was carried out with the support of a software developed by Eng. Rui Bessa called SICCO -
Integrated System of Conformity Control in Construction - that allows the identification of
nonconformities in the construction site.
The objectives of the work in question are to identify and analyze nonconformities through analysis
methodologies, in this case FMEA methodology and Fault Tree Analysis, and to evaluate the software
used through a SWOT analysis. The analysis of nonconformities with the fault tree analysis allows the
identification of the basic causes of nonconformities and thus to determine preventive measures that
avoid or reduce the probability of these occurring. In this case, FMEA has a complementary role in
which it’s used to organize information about each nonconformity and to rank them according to priority
of resolution. In turn, the SWOT analysis of the program allows the identification of its potentialities
and limitations, giving an idea of its current state and what still must be developed.
In order to reach the objectives of this work, the author was present in a geotechnical construction work
that served as a case study. The information gathered from this case study was input into the software
program, enabling the conformity control to be carried out on the field and thus obtaining the necessary
data. The results demonstrate that the main problem of the failures in this construction work are human
errors due to negligence. The necessary preventive measures are referred in the results chapter.
Regarding the software, it proves to be effective in the on-site compliance control, although it still needs
a lot of features to be added and improved before it’s ready to be launched on the market.

KEYWORDS: Quality Control, SICCO, Nonconformities, FMEA, Fault Tree Analysis, SWOT
Analysis

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

ÍNDICE GERAL

AGRADECIMENTOS ...........................................................................................................................i
RESUMO ..........................................................................................................................iii
ABSTRACT .......................................................................................................................................v

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 1
1.1. ENQUADRAMENTO .................................................................................................................. 1
1.2. PROBLEMÁTICA ...................................................................................................................... 2
1.3. MOTIVAÇÃO............................................................................................................................. 2
1.4. ÂMBITO E OBJETIVOS............................................................................................................. 2
1.5. METODOLOGIA E ESTRUTURA ................................................................................................ 3

2. SÍNTESE DO CONHECIMENTO .............................................................. 5


2.1. ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL........................................................................................... 5
2.1.1. QUALIDADE ............................................................................................................................. 5

2.1.2. CUSTO DE QUALIDADE ............................................................................................................. 6


2.1.3. GESTÃO DA QUALIDADE TOTAL ................................................................................................. 7

2.1.4. ABORDAGEM POR PROCESSOS ................................................................................................. 9

2.1.5. NORMAS DA SÉRIE ISO 9000 ................................................................................................. 11


2.1.6. COMPARAÇÃO ENTRE A METODOLOGIA TQM E A NORMA ISO 9000 ......................................... 12

2.1.7. GESTÃO DA INFORMAÇÃO....................................................................................................... 12

2.1.8. FAULT TREE ANALYSIS ........................................................................................................... 13


2.1.9. METODOLOGIA FMEA ........................................................................................................... 13

2.1.10. INFOLOGIA ........................................................................................................................... 14


2.2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................................... 14
2.3. ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA...................................................................................................... 16

3. CASO DE ESTUDO ............................................................................................ 19


3.1. APRESENTAÇÃO DO CASO DE ESTUDO ............................................................................... 19
3.1.1. DEMOLIÇÃO........................................................................................................................... 20
3.1.2. CONTENÇÃO DE FACHADA ...................................................................................................... 20
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

3.1.3. ESCAVAÇÃO .......................................................................................................................... 22

3.1.4. CONTENÇÃO PERIFÉRICA ....................................................................................................... 22


3.2. FASEAMENTO CONSTRUTIVO................................................................................................ 23
3.3. APRESENTAÇÃO DAS EMPRESAS......................................................................................... 23
3.3.1. EMPRESA DE FISCALIZAÇÃO .................................................................................................... 23

3.3.2. EMPREITEIRO ....................................................................................................................... 23


3.4. MODELO DE CONTROLO DE QUALIDADE PRATICADO ......................................................... 24
3.4.1. FLUXO DE INFORMAÇÃO ......................................................................................................... 24

3.4.2. APROVAÇÃO DE MATERIAIS .................................................................................................... 24


3.4.3. RECEPÇÃO DE MATERIAIS ...................................................................................................... 26

3.4.4. CONTROLO DE FATURAÇÃO ................................................................................................... 28

3.4.5. RELATÓRIO DIÁRIO DE OBRA .................................................................................................. 30


3.4.6. CONTROLO DE PLANEAMENTO ................................................................................................ 30

3.4.7. ROTINAS DE INSPEÇÃO .......................................................................................................... 31

3.4.8. FICHAS DE CONTROLO DE CONFORMIDADE ............................................................................. 32


3.4.9. NÃO CONFORMIDADES ........................................................................................................... 32

3.4.10. ATAS DE REUNIÃO ................................................................................................................ 34

3.4.11. RELATÓRIO MENSAL DE FISCALIZAÇÃO .................................................................................. 34

4. UTILIZAÇÃO DO SOFTWARE ................................................................ 35


4.1. APRESENTAÇÃO DO SOFTWARE .......................................................................................... 35
4.1.1. MENU INICIAL......................................................................................................................... 36

4.1.2. MENU RELATIVO AO PROJETO ................................................................................................. 37


4.1.2.1. ASSUNTOS ...................................................................................................................... 38

4.1.2.2. LISTA DE ASSUNTOS ......................................................................................................... 39

4.1.2.3. RELATÓRIO DIÁRIO DE OBRA ............................................................................................. 40


4.1.2.4. ARQUIVO ......................................................................................................................... 41
4.2. INPUTS DO SOFTWARE .......................................................................................................... 42
4.2.1. DASHBOARD DE PROJETO....................................................................................................... 42
4.2.1.1. ENTIDADES ...................................................................................................................... 42

4.2.1.2. CATEGORIAS DE TAREFAS E TAREFAS ............................................................................... 42

4.2.1.3. LOCAIS E ELEMENTOS ...................................................................................................... 43


4.2.2. BANCO DE FICHAS .................................................................................................................. 44
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

4.2.2.1. FICHAS DE RECEPÇÃO DE MATERIAIS ................................................................................ 44


4.2.2.2. FICHAS DE EXECUÇÃO DE ELEMENTOS .............................................................................. 45

5. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS ............ 47


5.1. ANÁLISE DE NÃO CONFORMIDADES ..................................................................................... 47
5.1.1. FICHAS DE CONTROLO DE CONFORMIDADE .............................................................................. 47
5.1.1.1. FICHAS DE RECEPÇÃO DE MATERIAIS ................................................................................ 47

5.1.1.2. FICHAS DE EXECUÇÃO DE ELEMENTOS .............................................................................. 48

5.1.2. NÃO CONFORMIDADES ........................................................................................................... 49


5.1.2.1. FAULT TREE ANALYSIS ..................................................................................................... 50

5.1.2.2. NÃO CONFORMIDADE 1 – FALTA DE HUMIDIFICAÇÃO DE ARMADURAS E COFRAGEM .............. 50

5.1.2.3. NÃO CONFORMIDADE 2 – RECOBRIMENTO INSUFICIENTE.................................................... 52


5.1.2.4. NÃO CONFORMIDADE 3 – ARMADURA INSUFICIENTE ........................................................... 53

5.1.2.5. NÃO CONFORMIDADE 4 – COMPACTAÇÃO INADEQUADA DO BETÃO ...................................... 54

5.1.2.6. NÃO CONFORMIDADE 5 – DESALINHAMENTO DOS PAINÉIS DE COFRAGEM DOS CACHORROS . 56


5.1.2.7. NÃO CONFORMIDADE 6 – PERFURAÇÃO DO COLETOR ........................................................ 58

5.1.2.8. NÃO CONFORMIDADE 7 – MATERIAIS UTILIZADOS DIFERENTES DOS MATERIAIS APROVADOS . 60

5.1.2.9. NÃO CONFORMIDADE 8 – ARMADURA DEFORMADA ............................................................ 61


5.1.2.10. NÃO CONFORMIDADE 9 – EXECUÇÃO DE ELEMENTOS NÃO CUMPRE DESENHO DE PREPARAÇÃO
............................................................................................................................................... 62

5.1.2.11. ANÁLISE GERAL DAS CAUSAS DAS NÃO CONFORMIDADES ................................................. 63


5.1.3. METODOLOGIA FMEA ........................................................................................................... 65
5.2. ANÁLISE SWOT DA APLICAÇÃO INFORMÁTICA .................................................................. 68

6. CONCLUSÕES ....................................................................................................... 73
6.1. PRINCIPAIS CONCLUSÕES .................................................................................................... 73
6.2. CUMPRIMENTO DE OBJETIVOS ............................................................................................. 73
6.3. DESENVOLVIMENTOS FUTUROS ........................................................................................... 75

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................. 77

ANEXOS
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
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ÍNDICE DE FIGURAS

Fig.1 – Problemas relacionados com os clientes que afetam a qualidade na construção ...................... 6

Fig.2 – Custos de prevenção e de falhas em relação ao custo total de qualidade ................................. 7


Fig.3 – Ciclo PDCA ................................................................................................................................. 9

Fig.4 – Ciclo de melhoria continua ........................................................................................................ 10

Fig.5 – Nº de artigos analisados por tema ............................................................................................. 17


Fig.6 – Nº de artigos por ano ................................................................................................................. 18

Fig.7 – Delimitação do empreendimento ............................................................................................... 19

Fig.8 – Divisão das duas fases de demolição ........................................................................................ 20


Fig.9.1 – Localização dos edifícios com fachada de interesse patrimonial ........................................... 21

Fig.9.2 – Fachada dos edifícios com interesse patrimonial ................................................................... 21

Fig.9.3 – Fachada dos edifícios com interesse patrimonial ................................................................... 21


Fig.9.4 – Estrutura de contenção da fachada ........................................................................................ 21

Fig.10.1 – Local de escavação............................................................................................................... 22

Fig.10.2 – Pormenor da zona de retenção de água ............................................................................... 22


Fig.11 – Fluxo de informação entre intervenientes da obra ................................................................... 24

Fig.12 – Procedimento de aprovação de materiais ................................................................................ 25

Fig.13 – Procedimento de aprovação de betão ..................................................................................... 26


Fig.14 – Procedimento de recepção de betão ....................................................................................... 27

Fig.15 – Procedimento de recepção de materiais .................................................................................. 28

Fig.16 – Procedimento relativo ao auto de medição .............................................................................. 29


Fig.17 – Procedimento relativo ao relatório diário de atividades ........................................................... 30

Fig.18 – Procedimento relativo ao balizamento ..................................................................................... 31

Fig.19 – Procedimento relativo a uma não conformidade ...................................................................... 33


Fig.20 – Configuração do programa informático .................................................................................... 36

Fig.21 – Visualização da opção “Dashboard Geral” .............................................................................. 37

Fig.22 – Visualização da opção “Banco de fichas” ................................................................................ 37


Fig.23 – Menu “Assuntos” ...................................................................................................................... 38

Fig.24 – Exemplo de “Não Conformidade” ............................................................................................. 39

Fig.25 – Exemplo de lista de FCC .......................................................................................................... 40


Fig.26 – Campos a preencher no Relatório Diário de Obra ................................................................... 41

Fig.27 – Arquivo de fotos........................................................................................................................ 41


Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Fig.28 – Folha Excel utilizada para carregamento de “Locais e Elementos” ........................................ 44

Fig.29 – Folha Excel utilizada para carregamento de FCC ................................................................... 45

Fig.30 – Número de diferentes fichas de recepção de materiais preenchidas ..................................... 48


Fig.31 – Número de diferentes fichas de execução de elementos preenchidas ................................... 48

Fig.32 – Número de ocorrências das diferentes não conformidades .................................................... 49

Fig.33 – Estrutura da árvore de causas ................................................................................................ 50


Fig.34 – Árvore de causas relativa à falta de humidificação de armaduras e cofragem....................... 51

Fig.35 – Árvore de causas relativa à negligência na NC 1 ................................................................... 51

Fig.36 – Árvore de causas relativa ao recobrimento insuficiente .......................................................... 52


Fig.37 – Árvore de causas relativa à negligência na NC 2 ................................................................... 53

Fig.38 – Armadura insuficiente devido a condições do local de execução ........................................... 53

Fig.39 – Armadura insuficiente devido à falta de colocação de varões ................................................ 53


Fig.40 – Árvore de causas relativa à armadura insuficiente ................................................................. 54

Fig.41 – Árvore de causas relativa à compactação inadequada do betão ........................................... 55

Fig.42 – Árvore de causas relativa à negligência na NC 4 ................................................................... 55


Fig.43 – Excentricidade da escora de canto ......................................................................................... 56

Fig.44 – Árvore de causas relativa ao desalinhamento dos painéis de cofragem dos cachorros ........ 57

Fig.45 – Árvore de causas relativa à negligência na NC 5 ................................................................... 57


Fig.46 – Filmagem da perfuração do coletor pelo furo de ancoragem ................................................. 58

Fig.47 – Filmagem da perfuração do coletor pelo interior do mesmo ................................................... 58

Fig.48 – Árvore de causas relativa à perfuração do coletor .................................................................. 59


Fig.49 – Árvore de causas relativa à negligência na NC 6 ................................................................... 59

Fig.50 – Marca da bucha química trazida para obra pelo subempreiteiro ............................................ 60

Fig.51 – Árvore de causas relativa à utilização de materiais diferentes dos aprovados ....................... 60
Fig.52 – Árvore de causas relativa à negligência na NC 7 ................................................................... 61

Fig.53 – Árvore de causas relativa à armadura deformada .................................................................. 61

Fig.54 – Árvore de causas relativa à negligência na NC 8 ................................................................... 62


Fig.55 – Má selagem dos rufos ............................................................................................................. 62

Fig.56 – Largura insuficiente dos rufos na cobertura do edifício........................................................... 62

Fig.57 – Árvore de causas relativa ao incumprimento do desenho de preparação .............................. 63


Fig.58 – Árvore de causas relativa à negligência na NC 9 ................................................................... 63

Fig.59 – Nº de ocorrências de cada tipo de causa relativamente a cada tipo de NC verificada........... 64

Fig.60 – Gráfico RPN ............................................................................................................................. 68


Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 – 8 dimensões da metodologia TQM ....................................................................................... 8

Quadro 2 – Sete princípios fundamentais da gestão da qualidade ....................................................... 11


Quadro 3 – Pontos de controlo dos 3 tipos de elementos existentes na obra em questão .................. 46

Quadro 4 – Escala de severidade .......................................................................................................... 65

Quadro 5 – Escala de ocorrência ........................................................................................................... 66


Quadro 6 – Quadro de análise FMEA .................................................................................................... 67

Quadro 7 – Matriz SWOT relativa ao software SICCO .......................................................................... 69


Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
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SÍMBOLOS, ACRÓNIMOS E ABREVIATURAS

BAME – Boletim de Aprovação de Materiais e Equipamentos

COQ – Custo de Qualidade


DO – Dono de Obra

EMP - Empreiteiro

FISC – Fiscalização
FMEA – Failure Mode and Effects Analysis

ISO – International Organization for Standardization

NC – Não Conformidade
SICCO – Sistema Integrado de Controlo de Conformidade em Obra

TIC – Tecnologia de Informação e Comunicação


TQM – Total Quality Management
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INTRODUÇÃO

1.1. ENQUADRAMENTO

A Engenharia Civil é uma área que está muito ligada à sociedade e na qual tem grande influência. Todo
o tipo de infraestruturas que se observam num meio urbano como estradas, redes de eletricidade, redes
de águas, edifícios, pontes, entre muitos outros elementos têm intervenção da Engenharia Civil e o
desenvolvimento das cidades depende completamente desta. Em termos sociais tem um grande impacto
uma vez que as construções podem ter variadas funções como de habitação, comércio, serviços,
indústria, lazer, entre outros.. as quais são indispensáveis para a subsistência da sociedade. Em termos
económicos tem igualmente uma elevada expressão visto que envolve investimentos consideráveis que
variam conforme o tipo de construção em questão e, após as construções estarem em utilização, traz
desenvolvimento económico na região. Mesmo a nível cultural tem influência uma vez que a arquitetura
das cidades reflete a cultura integrante em cada país. Assim, sendo uma área com tanta importância, é
essencial assegurar que as construções são executadas corretamente e que mantêm um bom desempenho
durante o seu tempo de vida útil.

Em Portugal, a consciência dos intervenientes da área de construção civil impede que estas seguranças
estejam garantidas. A característica de ser cumpridor não está interiorizada em grande parte dos
operadores o que leva a que ocorram falhas durante a execução das obras, as quais causam repercussões
numa fase posterior. Uma vez que as consequências de má construção normalmente não têm
consequências imediatas para o trabalhador, apenas se verificam mais tarde, este realiza as suas funções
com menor preocupação e maior descuido. O espiríto de “desenrasque” é uma outra característica que
embora seja positiva noutro contexto, pode ter efeitos negativos numa obra. Um grande exemplo é,
durante a execução de uma atividade, ser utilizado um qualquer material disponível no estaleiro para
substituir um material que falta, não proporcionando o mesmo desempenho. Um outro fator relevante é
a constante procura de variantes por parte dos empreiteiros que muitas vezes não equivalem às soluções
originais de projeto. Esta situação, por mais que se tente controlar e evitar, ocorre levando a que a
execução de certas atividades possam afetar o desempenho da solução final.

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

É por isso necessário tentar arranjar medidas capazes de prevenir a ocorrência destas situações de
maneira a que, com o decorrer do tempo, se consiga alterar a mentalidade dos operadores na área da
construção e permitir que esta se torne mais eficaz e eficiente.

1.2. PROBLEMÁTICA

Num mundo cada vez mais evoluído onde as exigências dos clientes a nível de qualidade, custos e prazos
são cada vez maiores, é importante que a área de construção civil seja capaz de acompanhar estes
requisitos. Para tal acontecer, as obras têm de decorrer com o menor número de percalços possíveis, o
que tal não se verifica atualmente.

Durante a execução de uma obra verificam-se inúmeras falhas nas suas atividades. Estas falhas têm
impactos com diferentes graus de severidade, podendo afetar o aspeto visual e/ou o desempenho das
soluções onde, em casos mais graves, a sua correção pode exigir custos acrescidos e causar atrasos na
obra. Estas falhas têm, quase na totalidade dos casos, origem em erros humanos e tecnológicos, os quais
podem ser minimizados com recurso a medidas preventivas. Assim, a identificação de falhas e a sua
respetiva análise de maneira a determinarem-se as suas causas possibilita a definição de medidas que as
evitem. A implementação destas medidas para além de ter benefícios imediatos, ao serem aplicadas ao
longo do tempo motivam a sua integração no método de trabalho das empresas, tornando os seus
trabalhadores mais capazes e qualificados. Desta forma é possível garantir a satisfação das necessidades
dos clientes.

1.3. MOTIVAÇÃO

O controlo da qualidade é da responsabilidade do empreiteiro e da fiscalização. Em todas as obras


ocorrem erros e defeitos que na sua grande maioria têm de ser corrigidos, podendo acarretar custos e/ou
atrasos na obra. Ao se estudarem as causas que levam à ocorrência destas falhas, é possível definirem-
se e aplicarem-se medidas preventivas que evitem ou reduzam a sua probabilidade de ocorrerem. Como
tal é de grande interesse, tanto para o empreiteiro como para a fiscalização, a identificação e análise
destas não conformidades de maneira a que seja possível facilitar o seu trabalho e garantir que a obra é
executada adequadamente sem necessidade de maior trabalho e maiores custos.

Ainda relativamente ao controlo da qualidade mas numa óptica diferente, a consciencialização do setor
da construção para a aplicação de tecnologias mais recentes é algo que, para o autor, é visto cada vez
como uma necessidade. Daí a utilização de um programa informático para auxiliar o controlo da
qualidade em obra de forma a se poderem demonstrar as capacidades e potencialidades que a integração
de novos meios traz ao setor da construção.

1.4. ÂMBITO E OBJETIVOS


Numa fase inicial será realizado o estudo de conceitos e metodologias que estão relacionados com o
trabalho em questão cujo assunto se centra no controlo de qualidade em obra. Este estudo é importante
para se ter uma perspectiva do estado atual desta área do setor de construção, para além de um
conhecimento mais profundo sobre o assunto.

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Após este estudo introdutório, procede-se para o caso de estudo onde será realizado o controlo de
qualidade da obra com auxílio do software SICCO. Os objectivos do presente trabalho centram-se na
análise de não conformidades de forma a serem avaliadas e se determinarem as suas causas, para além
da avaliação da aplicação de um programa informático em obra.
Tratando-se de uma obra de geotecnia com um empreiteiro de grande dimensão a nível nacional e com
bastante experiência neste ramo, os resultados deste trabalho têm expressão para quem tenha interesse
e/ou trabalhe na área de geotecnia. Os resultados podem servir de base para outros estudos dentro desta
área sendo que, no entanto, em obras com empreiteiros de menores dimensões pode-se verificar um
maior número de resultados com uma maior variação.

1.5. METODOLOGIA E ESTRUTURA

Inicialmente é desenvolvida uma pesquisa sobre as temáticas em que se insere a tese de mestrado, onde
se procura o conhecimento existente relacionado com controlo da qualidade e metodologias de análise.
Este conhecimento é extraído através de teses de mestrado, artigos científicos, websites e conteúdos
retirados da unidade curricular “Qualidade na Construção”. Com a informação obtida pretende-se fazer
um enquadramento atual dos conceitos envolvidos nestes temas, dando ao leitor bases para compreender
o que será desenvolvido no trabalho.

Numa segunda fase realiza-se uma análise do caso de estudo onde se recolhe toda a informação relevante
para a definição da obra e se descrevem os procedimentos praticados pela empresa. Com a recolha de
informação pertinente da obra, introduzem-se os dados necessários no software e preparam-se os
processos necessários para a sua utilização no terreno.

A etapa seguinte consiste na presença em obra e na obtenção de dados. Inicialmente, o autor realizará o
controlo da qualidade em obra com os procedimentos da empresa de forma a aprender e a adaptar-se
aos processos utilizados. Numa fase posterior, este utilizará a aplicação informática para realizar o
controlo da qualidade ao mesmo tempo que realiza o controlo tradicional. Durante este período, o autor
irá identificar não conformidades e utilizar o programa de forma a verificar as suas vantagens e
limitações no estado atual.

Após a recolha de todos os dados obtidos procede-se à sua análise. Relativamente às não conformidades,
que é o assunto principal deste trabalho, utilizam-se as metodologias de análise referidas no capítulo 2.
Em relação ao software é realizada uma análise SWOT de forma a fazer uma avaliação global deste.

Por fim, descrevem-se as conclusões retiradas com a realização do trabalho sendo propostos
desenvolvimentos futuros para o programa.

A divisão dos conteúdos por capítulos tem como objetivo seguir uma ordem de ideias bem orientada de
forma a facilitar a leitura e compreensão por parte do leitor. Como tal, esta tese de mestrado encontra-
se dividida em 6 capítulos principais.

O 1º capítulo, intitulado “Introdução”, consiste no enquadramento do tema da tese de mestrado, onde


são expostas as problemáticas em estudo. É referida a motivação que levou à realização deste trabalho
e são definidos os objectivos e a metodologia que se irá seguir ao longo da realização do trabalho. No
final é apresentada a estruturação da tese.

3
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

O 2º capítulo, intitulado “Síntese do Conhecimento”, pretende dar a conhecer os principais conceitos e


metodologias relacionadas com o tema da tese de mestrado de forma a fazer o seu enquadramento no
desenvolvimento do trabalho e fazer um ponto de situação desta área da construção.

O 3º capítulo, intitulado “Caso de Estudo”, consiste na apresentação da obra, dos intervenientes e do


controlo da qualidade praticado na obra, sendo que o foco é na apresentação dos procedimentos
utilizados pela empresa de fiscalização.

O 4º capítulo, intitulado “Utilização do Software”, incide sobre as funcionalidades do programa


utilizado para apoio do controlo da qualidade em obra, sendo indicados os dados a ser introduzidos antes
da sua utilização.

O 5º capítulo, intitulado “Apresentação e Análise de Resultados”, apresenta os resultados do controlo


da qualidade efetuado em obra, do qual se retiram as não conformidades verificadas para uma análise
através da metodologia FMEA e da fault tree analysis. Por fim é realizada uma análise SWOT
relativamente à aplicação informática utilizada.

Por fim, o 6º capítulo, intitulado “Conclusões”, onde se apresentam as conclusões que se retiram da
análise feita às não conformidades e da avaliação do software utilizado sendo, posteriormente, feita uma
proposta de desenvolvimentos futuros para o programa informático.

4
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

2
SÍNTESE DO CONHECIMENTO

2.1. ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL


2.1.1. QUALIDADE

O conceito da qualidade tem vindo a evoluir ao longo do tempo de acordo com a mentalidade e
necessidades dos diferentes períodos que se têm atravessado. Inicialmente, durante o período da
produção em massa, a inspeção era o principal meio de assegurar a qualidade. Esta era realizada nos
produtos finais de forma a verificar se estavam suficientemente conformes, filtrando os produtos com
defeitos. Nesta época havia uma grande quantidade de desperdícios uma vez que os produtos eram
executados e se no final se verificassem erros, voltavam para trás de forma a serem reparados, levando
a custos e gastos de tempo elevados. O foco era apenas na procura e reparação de defeitos.

Após este período, com os crescentes requisitos em termos de prazos, custos e qualidade, o foco
expandiu-se da qualidade dos produtos para a qualidade dos processos. Os processos eram pensados de
forma a otimizar o tempo de produção, não sendo considerados os aspetos da qualidade, o que levava a
custos e desperdícios superiores. Nesta altura compreendeu-se que encontrar as causas dos defeitos e
removê-las é mais eficiente que procurar erros e repará-los, pelo que se passou a estudar os produtos
com defeitos de maneira a identificar as suas causas e prevení-las. É aqui que métodos como o ciclo
PDCA surgem, tendo como base uma ideia de melhoria contínua.

Com a cada vez maior abrangência da qualidade nas empresas, a perspetiva passou do controlo dos
processos de produção para o controlo de todos os processos da empresa. Verificou-se que os processos
que não acrescentam valor têm influência nos processos de produção e como tal, ao se aplicar um
controlo mais rigoroso nestes processos, a produção é mais eficiente e efetiva. As interligações entre
todos os processos de uma organização passaram então a ser considerados e a perspetiva de um processo
linear deu lugar a uma perspetiva orientada para um sistema.

Por fim, aparece o TQM ou Gestão da Qualidade Total que trouxe consigo uma grande evolução em
relação ao conceito da qualidade. Com esta metodologia, a satisfação dos requisitos dos clientes passa
a ser o foco central das empresas e todos os seus colaboradores passam a ter um papel relevante na
conquista dos objetivos. A sua utilização fornece ferramentas para melhorar o desempenho e a qualidade
dos produtos ou serviços de uma organização, sendo que a motivação para a sua implementação já não

5
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

passa só pela competitividade do mercado mas também pelo desejo de evoluir e ser cada vez mais
efetivo. Na fig. 1 está esquematizada a evolução no tempo do conceito de qualidade.
Importância da qualidade

TQM

Gestão da Garantir
qualidade a qualidade
da empresa
Garantia da Asssegurar
qualidade a qualidade
dos processos
Controlo da Asssegurar
qualidade a qualidade
dos produtos
Inspeção Eliminação
de causas
de defeitos
Deteção de
defeitos

1910 2000
Fig. 1 – Evolução do conceito de qualidade

A definição de qualidade mais recente é atribuida pela norma ISO 9000:2015 que a descreve como “O
grau no qual um conjunto de características inerentes satisfaz os requisitos” [1]. É uma definição breve
e um pouco vaga mas que indica que a qualidade está associada à satisfação das necessidades dos
clientes.

2.1.2. CUSTO DA QUALIDADE

De acordo com a American Society for Quality a definição de COQ ou Custo de Qualidade é descrita
como “custos especificamente associados com o sucesso ou insucesso na qualidade de um produto ou
serviço” [2]. Outra definição possível é “soma dos custos de conformidade e de não conformidade” [3]
em que os custos de conformidade correspondem aos custos de prevenção de má qualidade e os custos
não conformidade correspondem aos custos de falha do produto ou serviço devido à má qualidade.

Tendo estes conceitos como base, é possível dividir o COQ nos seguintes custos [4] :

 Custos de prevenção para não conformidade com os requisitos


 Custos de avaliação de produtos ou serviços para requisitos de conformidade
 Custos de falhas devido aos produtos ou serviços não cumprirem os requisitos

6
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Agrupando os custos de prevenção com os custos de avaliação, pode-se considerar que o COQ está
dividido em dois tipos de custos: custos de falhas, quando ocorrem erros e existem defeitos, e custos de
prevenção e avaliação de maneira a assegurar o melhor possível a qualidade. Ao se aumentarem os
custos de prevenção e avaliação, os custos de falhas vão diminuir e vice-versa. A solução que se deve
procurar sempre é um equilíbrio óptimo entre os dois tipos de custos uma vez que a partir de um certo
ponto o excesso de prevenção e avaliação passa a levar a um custo de qualidade acrescido e antes de se
atingir esse ponto os custos de falhas são demasiado elevados com consequência no custo de qualidade.
Com isto depreende-se que a prevenção e avaliação devem ser sempre consideradas numa obra de forma
a que o custo desta seja mais baixo. Com a observação do gráfico na fig. 2 esta relação entre os custos
de prevenção e falhas pode ser melhor compreendida.

Fig.2 – Custos de prevenção e de falhas em relação ao custo total de qualidade [5]

2.1.3. GESTÃO DA QUALIDADE TOTAL

A Gestão da Qualidade Total ou Total Quality Management é uma metodologia de gestão em que o
principal foco é a satisfação das necessidades e expectativas do cliente. ”É geralmente considerada uma
viagem e não um destino” [6], ou seja, é um meio utilizado para se atingirem objetivos definidos. É uma
forma de pensar que tem de ser implementada todos os dias, em todos os intervenientes de forma a
mudar os processos, a organização, a cultura, etc. de uma empresa. Considera-se geralmente que com o
TQM a distinção de cargos dentro de uma empresa perde relevo e dá-se maior importância às
capacidades de cada trabalhador, uma vez que todos têm um objetivo comum e cada um é responsável
por garantir que o seu produto ou serviço é bem executado.

Esta metodologia dá maior importância à identificação das causas dos problemas e não à sua correção,
de forma a prevenir que estes voltem a ocorrer. Ao assegurar que as coisas ficam bem feitas logo à
primeira vez, as empresas inspiram maior confiança aos clientes da sua capacidade de garantir os seus
requisitos.

As oito dimensões do TQM são [7]:

7
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Quadro 1 – 8 dimensões da metodologia TQM

Dimensão Descrição

Apoio da direção O compromisso por parte da direção é


essencial para a aplicação do TQM. Tem de
ser a primeira a aplicar e a incentivar a
metodologia TQM e tem que aceitar a máxima
responsabilidade pelos produtos ou serviços
oferecidos.

Informação e relatório de qualidade A informação de qualidade tem de estar


sempre disponível e deve fazer parte do
sistema de gestão. Tem de ser mantidos
arquivos sobre indicadores de qualidade
incluindo custo de qualidade e custo de
rework

Gestão dos trabalhadores Os princípios de formação, capacitação dos


trabalhadores e trabalho de equipa são os
guias da gestão dos trabalhadores. Têm de
ser implementados planos adequados para a
contratação e formação de trabalhadores e
estes têm de ter as capacidades necessárias
para participar no processo de melhoria
continua

Atitudes e comportamento dos trabalhadores As empresas têm de estimular atitudes


positivas em relação ao trabalho incluindo
lealdade à empresa, orgulho no trabalho, foco
nos objetivos da empresa e habilidade de
trabalhar em várias funções

Relação com os fornecedores Na seleção de fornecedores, a qualidade é


um fator mais importante que o preço. Têm de
ser estabelecidas relaçãos de longo prazo
com os fornecedores e tem de haver
colaboração entre a empresa e os
fornecedores para ajudar a melhorar a
qualidade dos produtos ou serviços

Relação com os clientes As necessidades e satisfação dos clientes


têm de ser sempre considerados por todos os
trabalhadores. É necessário identificar estas

8
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

necessidades e avaliar o seu grau de


satisfação

Processo de concepção do produto Todos os departamentos têm de participar no


processo de concepção e trabalhar em
conjunto de forma a satisfazer os requisitos
do cliente, tendo em consideração as
limitações técnicas, tecnológicas e de custos
da empresa

Gestão do fluxo de processos Instrumentos estatísticos e não-estatísticos


devem ser aplicados quando apropriados.
Tem de haver uma política de “zero defeitos”
em todos os processos. A auto-inspeção deve
ser realizada com a utilização de instruções
de trabalho claras

2.1.4. ABORDAGEM POR PROCESSOS

Todas as organizações são formadas por um conjunto de processos interligados, sendo que processos
são conjuntos de atividades que utilizam recursos para transformar inputs em outputs. A abordagem por
processos considera a interação entre estes processos e os inputs e outputs que ligam estes processos
entre si. A eficácia de um sistema é determinado pela eficácia de cada processo e da interação entre estes
dentro do sistema. Ao se estabelecerem objetivos e avaliar a eficácia com que os processos cumprem
esses objetivos, as organizações podem determinar se esses processos têm valor.

Um dos métodos de gestão mais utilizados é o ciclo PDCA que foi difundido em grande escala por
William Edwards Deming e que assenta em 4 fases:
 Planear (Plan) – Definição dos objetivos e processos necessários até se atingir o produto/serviço
final requerido pelo cliente tendo em consideração a política da empresa. Realização de um
plano de ação
 Executar (Do) – Implementação do plano de ação idealizado
 Verificar (Check) – Monitorização e avaliação dos resultados obtidos, comparando-os aos
objetivos delineados
 Atuar (Act) – Se os objetivos foram atingidos, implementar a solução. Caso contrário, criar um
novo plano de ação e voltar a realizar o ciclo

Fig. 3 – Ciclo PDCA [8]

9
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Com este ciclo, os processos estão constantemente a serem renovados e melhorados até se atingirem os
objetivos pretendidos, havendo melhoria continua. Com base neste método de gestão surge o sistema de
gestão da qualidade baseado em processos, apresentado na figura seguinte.

Fig. 4 – Ciclo de melhoria continua [9]

A figura representa a inclusão do ciclo PDCA num sistema de gestão da qualidade. Inicialmente os
objetivos são delineados pela direção da empresa com base nas necessidades do cliente. São atribuidos
recursos para dar resposta aos objetivos estabelecidos, sendo realizado o produto ou serviço. Após a
realização do produto ou serviço é feita uma análise do desempenho por parte da empresa através de
indicadores e pela informação transmitida por parte do cliente. Por fim, através dos resultados obtidos,
são propostas medidas que melhorem o desempenho sendo estas aplicadas pela direção no ciclo
seguinte, permitindo assim uma melhoria continua em todo o processo.

Esta é a abordagem que deve ser aplicada na resolução da problemática deste trabalho uma vez que
inicialmente é feito o controlo da qualidade em obra, recolhendo as falhas verificadas. Após a recolha
de dados é realizada uma análise de forma a determinarem-se as causas dessas falhas. Com essa análise
são propostas medidas de prevenção que são depois aplicadas em obra. Através do controlo da qualidade
voltam a ser analisadas de forma a avaliar a sua eficácia e a necessidade de alterações ou melhorias das
medidas.

Em relação ao programa informático, esta abordagem é também aplicável visto que inicialmente o
programa conta com algumas funcionalidades. Após a sua utilização em obra é realizada uma avaliação
relativa às suas mais-valias e às suas limitações. Com esta avaliação são propostas alterações e melhorias
às suas funcionalidades atuais e desenvolvimentos futuros, que ao serem implementados devem voltar
a ser testados em obra e avaliados de forma a identificar o que é possível melhorar.

10
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

2.1.5. NORMAS DA SÉRIE ISO 9000

Este conjunto de normas desenvolvidas pela International Organization for Standardization (ISO) tem
o intuito de promover uniformidade através de padrões que podem ser aplicados a empresas de todo o
mundo em diversas áreas de serviços e comércio. Estes padrões relativos à gestão da qualidade fornecem
orientações para que as empresas possam garantir que os seus produtos ou serviços cumprem os
requisitos e necessidades dos seus clientes. A certificação ISO serve como uma garantia da qualidade
das empresas e por isso grande parte das empresas procura obtê-la. Não só permite melhorar os
procedimentos e a documentação das empresas mas serve também como uma ferramenta de marketing,
dando-lhes maior reputação dentro do mercado.

Os sete princípios fundamentais da gestão da qualidade de acordo com a organização ISO são os
seguintes [10]:

Quadro 2 – Sete princípios fundamentais da gestão da qualidade

Princípio Descrição

Foco no cliente Os principal objetivo da gestão da qualidade


é atender aos requisitos e necessidades do
cliente

Liderança Os lideres estabelecem a união e direção de


uma empresa, criando condições em que os
trabalhadores se empenhem para atingir os
objetivos da empresa

Participação de pessoas É essencial envolver trabalhadores de todos


os níveis de uma organização. O seu
reconhecimento, capacitação e formação faz
com que participem e contribuam para o
cumprimento dos objetivos da organização

Abordagem por processos As atividades devem ser compreendidas e


geridas como processos inter-relacionados
que funcionam como um sistema. Assim,
percebendo-se como é que os resultados são
produzidos pelo sistema, é possível otimizar o
sistema e o seu desempenho

Melhoria contínua A melhoria contínua do desempenho das


organizações deve ser um foco permanente

Tomada de decisões com base em evidências A tomada de decisões baseada na análise e


avaliação de dados e informação leva a uma

11
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

maior probabilidade de se produzirem os


resultados desejados

Gestão de relações A relação de uma organização com entidades


interessadas como fornecedores ou
organizações parceiras tem impactos no seu
desempenho. Quanto melhor for a gestão
destas relações, melhor o desempenho e o
sucesso contínuo de uma organização.

2.1.6. COMPARAÇÃO ENTRE A METODOLOGIA TQM E AS NORMAS ISO 9000

A metodologia TQM e a norma ISO têm muitas semelhanças nos seus principios mas há uma diferença
importante que as distingue. Enquanto que a melhoria continua no TQM se aplica tanto nos processos
onde ocorreram falhas de forma a corrigí-las e prevení-las como nos processos que decorreram com
sucesso de maneira a melhorá-los e torná-los mais eficientes, na norma ISO este aspeto da melhoria
continua apenas ocorre nos processos onde ocorreram falhas.

Esta diferença demonstra que a metodologia TQM procura sempre melhorar o que for possível
aperfeiçoar, que é a filosofia que se tem que aplicar no desenvolvimento do software utilizado neste
trabalho, de forma a que este seja cada vez mais completo e eficaz. À medida que o programa é testado
em obras diferentes, o feedback recebido por parte dos seus utilizadores permite a introdução de novos
processos, correção de processos onde ocorrem falhas e melhoria dos processos existentes para que
possam ser cada vez mais eficientes.
Para a problemática em estudo, as duas metodologias são bastante relevantes dado que ambas têm como
um dos princípios fundamentais o conceito de melhoria contínua onde se procuram prevenir e corrigir
as falhas que ocorrem nos processos. Este corresponde ao aspeto principal deste trabalho no qual se
prentende determinar as causas de falhas que ocorrem na execução da obra e definir medidas que as
evitem.
2.1.7. GESTÃO DA INFORMAÇÃO
Numa indústria como a da construção, onde se gera uma enorme quantidade de informação, é crucial
haver uma gestão de informação efetiva e eficiente. Nas empresas onde existe um sistema de gestão de
informação adequado, a informação necessária para as pessoas que tomam as decisões tem de estar
sempre disponível e ser completa, clara e relevante de maneira a que estes possam tomar decisões
informadas e benéficas para o desenvolvimento e competitividade da empresa.
Embora já exista integração de TIC nas empresas, a maioria da informação continua a ser armazenada
em papel uma vez que os processos das empresas estão desenvolvidos em torno da utilização de
documentos. Para tal é necessário as organizações reestruturarem os seus processos de forma a
integrarem e maximizarem o impacto das TIC. Hoje em dia, com os avanços nas tecnologias móveis,
particularmente no desenvolvimento de aplicações, há cada vez mais incentivos para as empresas
empregarem novas tecnologias, embora estas tenham receio visto não haverem estudos significativos
que demonstram os seus benefícios.
No presente trabalho pretende-se exatamente demonstrar os benefícios da aplicação de um programa
informático que foi desenvolvido com a gestão de informação como um dos seus maiores focos. A

12
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

comunicação entre intervenientes numa só plataforma e a maior facilidade na organização e busca de


informação são algumas das funções centrais tidas em mente aquando do seu desenvolvimento.
2.1.8. FAULT TREE ANALYSIS
A antecipação de falhas ou a sua identificação na fase inicial do desenvolvimento de um produto ou
processo é fulcral para se conseguir evitar ou reduzir a probabilidade de estas acontecerem. É com esta
premissa que surge a ferramenta fault tree analysis ou árvores de causa. Trata-se de um método dedutivo
introduzido pela Bell Laboratories, muito utilizado para a análise de falhas, onde se apresentam
visualmente as cadeias de eventos que levam a uma determinada falha. Através da utilização de símbolos
é realizada a ligação entre cada evento até se determinarem as causas básicas.
A metodologia a seguir para a realização destas árvores de causa é a seguinte:
1- Definir a falha que se quer analisar e escrever o evento indesejado no topo da árvore;
2- Determinar as possíveis razões para o acontecimento desse evento;
3- Continuar a detalhar cada uma dessas razões, especificando cada vez mais as causas. Devem-se
utilizar os símbolos para exprimir as relações entre si;
4- Finalmente determinar as causas básicas que despoletaram a falha e avaliar a árvore criada.

Esta ferramenta é utilizada em conjunto com a metodologia FMEA de maneira a realizar uma análise
mais completa das não conformidades verificadas neste trabalho. No capítulo 5 é apresentada a
representação visual das árvores de causa adoptadas no presente trabalho juntamente com uma
explicação dos símbolos utilizados e dos vários elementos das árvores.
2.1.9. METODOLOGIA FMEA

Semelhante ao método anterior, o FMEA – Análise de Modos de Falha e Efeitos – é uma abordagem
passo-a-passo para identificar as possíveis falhas dentro do desenvolvimento de um produto, processo
ou serviço. Os Failure Modes ou Modos de Falha referem-se ao modo como algo pode falhar. A Effects
Analysis ou Análise de Efeitos trata do estudo das consequências dessas falhas. O principal objetivo do
FMEA é definir medidas que evitem ou reduzam a probabilidade de as falhas acontecerem, começando
pelas que têm maior prioridade [11].

O procedimento relativo a este método é o seguinte:


1- Criar uma equipa multifuncional com diversos conhecimentos acerca do processo, produto ou
serviço e das necessidades dos clientes;
2- Listar as atividades a realizar na primeira coluna;
3- Identificar os modos de falha possíveis para cada atividade;
4- Identificar os efeitos que cada modo de falha causa;
5- Avaliar a severidade de cada um dos efeitos com base numa escala acordada entre todos os
elementos da equipa;
6- Identificar as causas de cada modo de falha e avaliá-las de acordo com o seu grau de ocorrência.
A escala adoptada tem de ser igualmente aprovado e establecida por todos os elementos da
equipa;
7- Identificar os meios de controlo existentes para detetar as falhas e avaliá-los com base numa
escala;
8- Multiplicar o valor de severidade, de ocorrência e de deteção, obtendo assim o número de
prioridade de risco (RPN). Este valor é utilizado para determinar quais as falhas que devem ser
focadas em primeiro lugar;

13
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

9- Determinar ações a tomar de forma a evitar ou reduzir o risco da falha acontecer;


10- Após se porem em prática as ações determinadas, anotar os resultados obtidos e voltar a
classificar a severidade, ocorrência e deteção de cada uma das falhas.

No presente trabalho, a deteção não é considerada uma vez que esta ao ter influência na hierarquização
das falhas, leva a que nem sempre se considerem mais críticas as falhas mais severas. A severidade e a
ocorrência são os únicos fatores considerados no desenvolvimento deste trabalho.

O FMEA é um método que deve ser realizado o mais cedo possível no desenvolvimento de produto,
serviço ou processo mas que deve ser continuamente refeito ao longo desse desenvolvimento de forma
a garantir uma melhoria contínua da qualidade e confiança nas soluções adoptadas.
2.1.10. INFOLOGIA
A infologia é a ciência da apresentação verbo-visual e interpretação de informação, isto é, a apresentação
de informação através de palavras e imagens de forma a optimizar a sua comunicação. A utilização de
meios visuais como imagens e gráficos para transmissão de informação permite uma compreensão mais
fácil e rápida. Quanto mais estimulante for a informação apresentada, maior a captação da atenção das
pessoas.
No caso desta tese de mestrado, este conceito é bastante relevante uma vez que a utilização de quadros
e árvores de causas é essencial para o desenvolvimento do trabalho. A transmissão de informação através
destes meios permite uma visualização e compreensão mais fácil da lógica considerada na análise das
não conformidades. A utilização de fluxogramas para apresentar o método de controlo praticado pela
fiscalização no caso de estudo é mais uma evidência da necessidade de se apresentar a informação de
forma gráfica, caso contrário, seria mais difícil e aborrecida a sua compreensão. Por fim, relativamente
à aplicação informática adoptada, este conceito já é aplicado em algumas circunstâncias das quais umas
destas se podem observar no 3º capítulo. No entanto, a sua aplicação nos relatórios diários de obra ainda
não é possível. A possiblidade de dar um toque pessoal à apresentação visual dos relatórios através da
utilização de logótipos, fotografias e alteração da disposição da informação não existe.
Assim, seria uma mais valia a integração deste conceito no programa numa maior escala, tanto no
exemplo dado como em futuras funcionalidades acrescidas. A utilização deste tornaria-se mais intuitiva
e acessível aos seus utilizadores, potencializando os seus benefícios. A utilização desta noção em
trabalhos deste âmbito deve ser vista também com bons olhos visto que acrescenta valor e simplifica a
transmissão de informação aos leitores.

2.2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

De todos os documentos analisados durante a investigação sobre a temática em que se centra esta tese
de mestrado, foram escolhidos os 7 que se consideram mais relevantes tanto pelos conhecimentos que
transmitem como pelo realçe que dão à problemática em estudo.

Em 2004 foi publicado no Journal of Management in Engineering um artigo sobre a implementação do


TQM nas empresas de construção denominado “Implementing Total Quality Management in
Construction Firms”, dos autores Low Sui Pheng e Jasmine Ann Teo [12]. Foram estudadas duas
empresas de construção em Singapura que implementaram TQM nas suas organizações, sendo
examinado como cada uma implementou a metodologia e que ferramentas utilizou. A comparação entre
as duas empresas é realizada através de alguns princípios fundamentais da metodologia TQM, onde se

14
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

avalia como cada empresa os aborda. Com este estudo foi possível identificar as maiores dificuldades e
barreiras na aplicação do TQM, sendo ainda proposto um sistema de implementação para esta
metodologia.

A qualidade na construção é um assunto já bastante estudado e discutido, contudo continuam a existir


muitas barreiras à sua implementação efetiva. É nesta perspetiva que foi realizada uma análise à indústria
da construção do Chile de forma a identificar estas barreiras e fazer um diagnóstico ao nível de qualidade
verificado. O artigo em questão intitula-se “Quality in construction: the situation of the Chilean
construction industry”, o qual foi desenvolvido pelos autores Alfredo Serpell, Hernan de Solminihac e
Claudio Figari [13]. Embora esta análise tenha sido realizada há alguns anos e num país em
desenvolvimento, os problemas verificados ainda hoje se aplicam, o que demonstra que ainda há
bastante áreas onde se tem que evoluir.

Incluídos na temática anterior, estão os custos de qualidade onde os encargos devidos a não
conformidades perfazem grande parte destes. A análise das causas e dos custos associados a não
conformidades leva a uma sensibilização do peso que estes têm e das principais fontes que levam à sua
ocorrência. Para tal, foi realizado um estudo na indústria da construção sueca onde são analisados vários
casos de estudo, numa tentativa de identificar as causas e o peso que a correção de não conformidades
tem tanto nos custos como nos prazos de uma obra. Este estudo foi realizado pelos autores Per-Erik
Josephson, Bengt Larsson e Heng Li e é intitulado “Illustrative Benchmarking Rework and Rework
Costs in Swedish Construction Industry” [14]. Nesta publicação verificou-se que, no período observado,
os custos de correção de não conformidades correspondiam a 4,4% do valor total das construções e o
tempo dispendido na correção era da ordem dos 7% do tempo de trabalho total. Trtam-se de valores
elevados que não podem ser ignorados. A implementação de um programa informático que permita um
controlo de conformidade mais rigoroso no terreno leva a uma diminuição destes custos.

A aplicação de softwares na construção é algo que tem sido cada vez mais estudado, numa tentativa de
arranjar ferramentas que facilitem o trabalho dos profissionais nesta área. É com esta premissa que o
software em estudo foi desenvolvido tal como o programa informático que é objeto de estudo do artigo
“Cost-Benefit Analysis of Construction Information Management System Implementation: Case Study”.
Publicado em 2013 no Journal of Construction Engineering and Management, da autoria de Joshua L.
Vaughan, Michael L. Leming, Min Liu e Edward Jaselskis [15], trata-se de um caso de estudo sobre a
implementação do Vela Systems, um software de gestão de informação na construção. Este estudo
baseia-se numa análise do custo de compra e implementação e manutenção do software e numa
avaliação das suas vantagens de acordo com entrevistas realizadas aos seus utilizadores. Estas vantagens
refletem-se no tempo que é dedicado a cada atividade, sendo que se verificou uma redução do tempo
gasto globalmente, havendo assim mais tempo disponível para dedicar ao planeamento da obra. Este
estudo demonstra a investigação a ser realizada na aplicação dentro da construção e dá relevância a um
dos assuntos do presente trabalho.

Ainda dentro do tema das TIC, foi publicado no Records Management Journal um artigo sobre a
implementação de sistemas de gestão de informação intitulado “Information management systems on
construction projects: case reviews”. Da autoria de Nigel Craig e de James Sommerville [16], este artigo
tem como principais objetivos a realização de um ponto de situação acerca da utilização ou não deste
tipo de sistemas na construção e a análise da implementação do sistema Sysdox em três projetos de
construção distintos. Os benefícios que trouxe a cada projeto são relativos às necessidades dos seus
intervenientes mas em todos os casos a sua aplicação foi positiva. Tanto este artigo como o artigo

15
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

anterior mostram a cada vez maior importância que é dada à integração de novas tecnologias no setor
da construção e das potencialidades que estas trazem.

Relacionado com o assunto principal da tese, o qual se trata da análise das causas de não conformidades,
foi publicado um artigo desenvolvido por Pei-Yuan Hsu, Marco Aurisicchio e Panagiotis Angeloudis
intitulado “Investigating Schedule Deviation in Construction Projects through Root Cause Analysis”
[17]. Este artigo serve de base para o desenvolvimento do trabalho em questão, sendo utilizada a
metodologia adoptada neste para análise das anomalias. A metodologia considerada é a fault tree
analysis que é uma ferramenta que permite determinar a cadeia de eventos que levou à ocorrência de
um problema, identificando a sua causa primária. Esta ferramenta foi aplicada na construção de uma
infraestrutura utilizando elementos pré-fabricados, a qual sofreu um grande atraso. Com a utilização
desta ferramenta, determinaram-se os várias motivos responsáveis pelo atraso da obra. Como se trata de
uma obra que utiliza um sistema de construção ainda em desenvolvimento como é o caso de elementos
pré-fabricados, é interessante identificar as principais causas de atrasos de forma a trabalhar na sua
resolução e tornar este sistema o mais eficiente possível.

Para complementar a análise das não conformidades, é necessária a utilização de uma outra metodologia.
A metodologia em questão é o FMEA, a qual permite avaliar a gravidade das não conformidades de
acordo com a sua severidade, ocorrência e dificuldade de deteção. Uma vez que todas as não
conformidades têm diferentes graus de gravidade, torna-se necessário distinguí-las de forma a
determinar quais merecem maior atenção e devem ser priorizadas na sua resolução. Assim surge o artigo
“A methodology for evaluating construction innovation constraints through project stakeholder
competencies and FMEA” desenvolvido por Martina Murphy, George Heaney e Srinath Perera [18],
onde um dos assuntos tratados é a avaliação da criticalidade de obstáculos à inovação na construção.
Através da análise de 30 casos de estudo são identificados os principais obstáculos à inovação e é feita
uma avaliação destes com base no FMEA, identificando-se medidas mitigar os seus efeitos. Com este
estudo foi possível determinar uma base de dados de dificuldades e uma metodologia de análise de risco
que servem de referência para projetos futuros onde se queira introduzir algum tipo de inovação.

2.3. ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA

Após uma pesquisa sobre os temas mais relevantes para o desenvolvimento do assunto do presente
trabalho, procede-se a uma análise estatística dos mesmos.

Uma vez que este trabalho se foca na análise de não conformidades decorrentes numa obra, a temática
relacionadas com metodologias de análise como é o caso da metodologia FMEA e da fault tree analysis
são, obviamente, muito importantes e de grande valor para o desenvolvimento deste trabalho. É com
base nestas ferramentas que o autor fará a avaliação das não conformidades verificadas no caso de estudo
e a respetiva determinação das suas causas.

O controlo da qualidade realizado em obra será realizado com base numa aplicação informática e é a
partir daqui que serão obtidas as não conformidades verificadas no local, pelo que as temáticas de Gestão
de Informação e de Tecnologias de Informação têm igualmente um elevado valor. Através do estudo
destes assuntos é possível verificar o estado atual da integração de softwares no setor da construção, ou
seja, quais as principais dificuldades e benefícios na sua aplicação e que tipo de softwares são já
utilizados no setor. Como o controlo da qualidade é a essência desta tese de mestrado, é importante

16
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

investigar as principais metodologias praticadas atualmente. É aqui que os temas do TQM e das normas
ISO surgem tanto na ótica de se compreender melhor a sua aplicabilidade e necessidade na construção
como de identificar alguns pontos interessantes que podem auxiliar a integração do software no
mercado.

A questão dos Custos de Qualidade é uma temática com alguma relevância neste âmbito devido ao peso
que estes custos têm no custo total das obras e da necessidade que há de os otimizar. Ainda referente ao
tema da Qualidade, no que respeita à evolução temporal do conceito apenas é feita uma breve referência
visto que sai um pouco do âmbito do trabalho.

Por fim, do ponto de vista do autor, é interessante a aplicação do conceito de Infologia tanto na escrita
do presente trabalho, de forma a facilitar a compreensão dos assuntos tratados, como na integração do
conceito no programa informático de forma a tornar a sua utilização mais intuitiva.

Para se ter uma ideia da importância de cada tema no desenvolvimento deste trabalho, foi elaborado um
gráfico circular onde se distribui o número de artigos analisados por tema pesquisado.

3
4

1 3

2 2
2

Gestão da Informação/TIC TQM Normas ISO

Custo de Qualidade Controlo de qualidade Qualidade

Infologia Metodologias de análise

Fig. 5 – Nº de artigos analisados por tema

Como é possível concluir, os temas de Metodologias de Análise, Gestão de Informação/Tecnologias de


Informação e de Gestão de Qualidade Total (TQM) são os que têm maior expressão no desenvolvimento
deste trabalho sendo que os restantes têm uma função mais complementar. A Gestão de Informação e
as Tecnologias de Informação foram aglomeradas no mesmo grupo uma vez que estão intimamente
ligadas.

Fazendo agora uma análise relativa à data de publicação dos artigos estudados apresenta-se, para o
efeito, o gráfico seguinte que diz respeito ao ano em que os artigos foram publicados.

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Nº de artigos 3

0
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
Ano

Fig. 6 – Nº de artigos por ano

Os artigos consultados são consideravelmente recentes, variando desde o final da década de 90 até ao
presente ano, o que demonstra que estas temáticas são atuais e vão sendo constantemente estudadas ao
longo dos anos. Os artigos relativos às temáticas mais importantes para o desenvolvimento do trabalho
corrrespondem aos artigos mais recentes, nomeadamente de 2016 e 2017, de maneira a se obter a
informação mais atual e precisa sobre esses assuntos. Para o efeito apresenta-se o gráfico seguinte que
diz respeito ao ano em que os artigos analisados foram publicados.

O propósito desta análise bibliométrica está em compreender quais as temáticas mais relevantes e que
merecem maior destaque por parte do autor, para além de demonstrar a sua atualidade na indústria da
construção. Assim é possível ter um panorama atual do que se passa nesta área da construção.

18
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

3
CASO DE ESTUDO

3.1. APRESENTAÇÃO DO CASO DE ESTUDO


Uma vez que o presente trabalho se foca na utilização de um software é necessário pô-lo em prática e
testar as suas funcionalidades em obra. O caso de estudo onde o software será aplicado é um
empreendimento localizado no Quarteirão D. João I que é delimitado pela rua do Bonjardim, Travessa
do Bonjardim, Rua de Sá da Bandeira e Pátio do Bonjardim. Trata-se de uma empreitada de demolição,
contenção de fachada, escavação e contenção periférica.

Fig. 7 – Delimitação do empreendimento

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

3.1.1. DEMOLIÇÃO

Os trabalhos de demolição foram divididos em duas fases. Na 1º fase, a maior parte dos edifícios foram
demolidos com excepção dos edifícios com fachada de interesse patrimonial e do edifício do “LOOP”
como se pode observar na figura 3.2. O edifício do “LOOP”, cuja sigla foi adoptada no projeto e se
refere ao antigo banco de Angola, tem a particularidade de se encontrar entre dois edifícios sendo que,
através de informação recolhida no local, se constatou que é muito provável haver uma interligação das
paredes de meada com os edifícios vizinhos. É, então, necessário realizar a demolição com muito
cuidado devido às vibrações. Há, também, o facto de este edifício ter dois pisos de cave cuja parede
pode servir de suporte ao passeio, havendo o risco de desabamento. A realização de ensaios é importante
de forma a averiguar o perigo associado à demolição da parede. Esta 1ª fase já estava concluída aquando
do começo desta obra. A 2º fase integra-se na obra e engloba, portanto, os edifícios com fachada de
interesse patrimonial e o edifício do “LOOP”.

Fig. 8 – Divisão das duas fases de demolição

3.1.2. CONTENÇÃO DE FACHADA

A Porto Vivo, SRU, entidade licensiadora responsável pela fiscalização admnistrativa da obra, decidiu
que as fachadas dos edifícios da rua de Sá da Bandeira e da rua Formosa têm que ser mantidas devido
ao seu valor patrimonial. De forma a assegurar a sua estabilidade após a demolição do edifício e durante
o decorrer da obra, será realizada uma estrutura de contenção pelo pavimento exterior, na zona do
passeio, estando concebida para permitir a passagem pedonal. A estrutura será constituída por perfis
metálicos normalizados Fe430 (HE 160A, HE 160B, IPE160, UNP160 e CSH 76,1x5,0) e a sua
cravagem será realizada até uma altura de 3,5m no solo através de perfurações no passeio com diâmetro
exterior de 250mm em que antes será realizada uma verificação das infraestruturas existentes no passeio,

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

de forma a não afetá-las. Como medida de segurança serão retiradas temporariamente as janelas e as
portas de forma a evitar riscos para os peões e para não as danificar devido à estrutura de contenção.

Fig. 9.1 – Localização dos edifícios com fachada de interesse patrimonial

Fig. 9.2 e 9.3 – Fachada dos edifícios com interesse patrimonial

Fig. 9.4 – Estrutura de contenção da fachada

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

3.1.3. ESCAVAÇÃO

O terreno não é totalmente plano havendo zonas com diferentes inclinações. A profundidade máxima
de escavação é de 15 metros sendo que varia entre os 10 e os 15 metros. O solo é constituido por maciços
graníticos com três graus de alteração (decomposto, medianamente alterado e muito alterado) e solos
arenosos com três graus de compacidade (muito soltos, medianamente compactos e compactos).

O nível freático encontra-se geralmente entre os 3 e os 5 metros de profundidade e por isso grande parte
da escavação será abaixo deste, sendo necessária a drenagem de água que irá afluir à base de escavação.
Para tal, e de forma a ser adaptada à obra, será criada uma rede de drenagem de águas pluviais na zona
de retenção de água (fig. 3.7) que servirá os edifícios adjacentes e para onde a água do solo será
bombeada. Na zona de retenção de água, antes da execução da rede, será drenada a água existente e
executado um aterro de forma a ser possível a demolição do edifício do “LOOP”.

Fig. 10.1 e 10.2 – Local de escavação e pormenor da zona de retenção de água

3.1.4. CONTENÇÃO PERIFÉRICA

A contenção periférica será realizada através de uma cortina de estacas secantes com 10 a 15 metros de
altura e que será escorada e ancorada temporariamente em zonas intermédias. A cortina de estacas
secantes é construida através da interseção de estacas consecutivas. Primeiro são executadas as estacas
“plásticas” com diâmetro 600mm que são constituidas apenas por betão C12/15, um betão mais fraco,
estando afastadas 1 metro entre eixos. Após o encastramento abaixo do fundo de escavação em 1 metro
no maciço rochoso, prossegue-se com a execução das estacas “estruturais” com diâmetro 600mm
constituidas por betão C30/37 e de armadura A500NR, por entre as estacas “plásticas”, intersetando-as
e fixando-as. O encastramento destas estacas “estruturais” é feito abaixo do fundo de escavação em 2,5
metros no maciço rochoso.

O posicionamento das estacas é realizado através de moldes de esferovite e de um muro guia, de forma
a evitar alterações acidentais da posição dos moldes. Após a construção da cortina é colocada uma viga
de coroamento de forma a realizar a distribuição de esforços das estacas.

O equilíbrio da cortina é assegurado com ancoragens e escoras. As ancoragens são realizadas em 3 ou 4


nivéis dependendo da zona do terreno e são aplicadas em vigas longitudinais de repartição de esforços
de betão armado C30/37.

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

3.2. FASEAMENTO CONSTRUTIVO

Após a construção da cortina de estacas existe um procedimento para a escavação e execução das
ancoragens até chegar à cota de fundo de escavação. O procedimento é o que se passa a descrever:
1- Saneamento das cabeças das estacas, isto é, remoção do betão “pobre” ou betão misturado com
lama;
2- Execução da viga de coroamento;
3- Escavação até ao 1º nível de ancoragem;
4- Colocação de viga longitudinal e aplicação das ancoragens no 1º nível;
5- Escavação até ao 2º nível de ancoragem;
6- Colocação de viga longitudinal e aplicação das ancoragens no 2º nível;
7- E assim sucessivamente, até se atingir o último nível de ancoragens (3º ou 4º nível, dependendo
da zona);
8- Por fim, escavar até à cota de fundo de escavação.

3.3. APRESENTAÇÃO DAS EMPRESAS


3.3.1. EMPRESA DE FISCALIZAÇÃO

Inicialmente foi fundada em 1985 a “AFA – Consultores de Engenharia, Lda.” que prestou serviços na
área de Projetos de Engenharia e Coordenação e Gestão de Obras até 1994. A partir deste ano, devido à
procura do mercado, foi criada a “Afaplan – Planeamento e Gestão de Projetos, SA” para onde transitou
toda a atividade e conhecimento adquirido na AFA.

Atualmente integra um grupo de empresas de engenharia cujo órgão principal é a “Propor – Projetos,
Construções e Imobiliária, SA”. Tem filiais espalhadas em vários países como Portugal, Brasil,
Roménia, Polónia, Moçambique e Angola, onde a área à qual dedicam maioritariamente a sua prestação
de serviços é à Gestão de Empreendimentos.

Em Portugal, a Afaplan tem certificação ISO 9001, ISO 14001, OHSAS 18001 e SA 8000 e possui
alvará de “Gestor da Qualidade” atribuído pelo LNEC para as três categorias nas classes máximas.

A equipa de fiscalização na obra onde se desenvolve o presente trabalho é constituída por um diretor de
fiscalização, um fiscal permanente e um coordenador de segurança, uma vez que a segurança faz parte
das responsabilidades da fiscalização nesta obra. Apenas o fiscal permanente está afeto à obra a 100%,
a afetação dos restantes membros da equipa varia conforme as necessidades da obra.
3.3.2. EMPREITEIRO

A Teixeira Duarte – Engenharia e Construções, SA é a principal sociedade do Grupo Teixeira Duarte


que foi fundado em 1921 e atualmente é um dos maiores Grupos Económicos Portugueses, tendo como
atividade central a construção. Atua em diversas áreas do setor da construção nomeadamente, geotecnia
e reabilitação, edificações, infraestruturas, metalomecânica, obras subterrâneas, obras ferroviárias e
obras marítimas, operando em vários países como Portugal, Angola, Argélia, Brasil, Moçambique e
Venezuela.

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

A equipa do empreiteiro é formada por um diretor técnico, dois diretores de obra e um técnico de
segurança. Um dos diretores de obra é responsável pela contenção periférica e escavações e o outro é
responsável pelas restantes atividades.
3.4. MODELO DE CONTROLO DE QUALIDADE PRATICADO
3.4.1. FLUXO DE INFORMAÇÃO
A fiscalização funciona como o elo de ligação entre os vários intervenientes, passando por si toda a
informação relativa à obra. A organização, registo e transmissão da informação é uma das suas funções
principais. O fluxo de informação entre os intervenientes da obra em questão é o que se observa na fig.
11.

Dono de Obra Projetista

Fiscalização

Empreiteiro Entidades
licensiadoras

Fig. 11 – Fluxo de informação entre intervenientes da obra

Como se verifica, a fiscalização é a grande difusora de informação na obra tentando-se evitar o máximo
possível a comunicação entre os vários intervenientes. A comunicação da informação é realizada de três
maneiras diferentes: pessoalmente, por chamada ou por email. A comunicação no local é comum, seja
para conhecimento de informações simples como para quando surge algum problema inesperado, em
que dependendo da gravidade e urgência, pode ou não ser tratado por email posteriormente. A
comunicação por chamada é outro meio comum de comunicação utilizado com a mesma finalidade da
comunicação no local. O aspeto em comum destes dois meios de comunicação é que não há qualquer
registo de informação, o que envolve algum risco de conflito entre intervenientes no caso de ocorrerem
falhas em algo que foi falado usando estes meios. Finalmente, a comunicação por email, que é o meio
mais seguro, onde fica registada toda a comunicação. Normalmente é usado para tratar de assuntos
importantes e dos quais é necessário ter confirmação/aprovação de algum dos intervenientes. Embora
haja sempre um número elevado de troca de emails, nesta obra a troca de emails funciona bem, havendo
sempre a preocupação de ler todos os emails e responder ao que for necessário.
3.4.2. APROVAÇÃO DE MATERIAIS

No início da obra e no decorrer desta, o empreiteiro realiza propostas de materiais a serem utilizados
nas diferentes atividades da obra para aprovação por parte do projetista. Esta aprovação é essencial para
garantir que os materiais propostos cumprem os requisitos de projeto e para definir os diferentes tipos
de cada material e quais os fornecedores aceites para cada um deles. O betão tem um procedimento de
aprovação ligeiramente diferente dos restantes materiais devido a um controlo mais rigoroso e por isso
serão demonstrados os dois procedimentos. No procedimento dos materiais com excepção do betão, esta
proposta é feita com o documento BAME – Boletim de Aprovação de Materiais e Equipamentos – o

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

qual é realizado para cada material e entregue à fiscalização para análise. Dúvidas que surjam durante a
análise são expostas por email ao EMP e este esclarece-as, sendo que caso seja necessário faz correções
ao BAME e volta a enviar à FISC. Após o esclarecimento de dúvidas ou caso estas não existam, a FISC
realiza o seu parecer e envia ao PROJ para sua análise. Se este aceitar a proposta, a FISC informa o
EMP que o seu BAME foi aprovado, e se não aceitar, o BAME é rejeitado. Juntamente com o BAME o
EMP tem de enviar as fichas técnicas e caso necessário, a certificação CE do material de forma a que os
materiais possam ser aprovados.

Fig. 12 – Procedimento de aprovação de materiais

No caso do betão, o procedimento é quase igual excepto na análise da proposta em que como o betão
engloba um número considerável de constituintes, utiliza-se um documento entitulado “Análise do
estudo da composição do betão”. Este documento tem como objetivo auxiliar a comparação de cada tipo

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

de betão com o que foi projetado, sendo realizado um documento para cada tipo diferente. A análise
deste material é a mais demorada e complexa, daí merecer destaque em relação aos restantes materiais.

Fig. 13 – Procedimento de aprovação de betão

3.4.3. RECEPÇÃO DE MATERIAIS

Nesta obra, o número de materiais diferentes é reduzido mas no entanto, há uma grande quantidade de
materiais a serem recebidos. Estes materiais são betão, armaduras pré-fabricadas para estacas, armaduras
para ancoragens, perfis metálicos e acessórios, blocos em EPS, cimento e varões de aço para armaduras
de muros guia, vigas de coroamento e vigas intermédias.

Os perfis metálicos e acessórios são utilizados na execução da estrutura de contenção da fachada. O


cimento é usado para calda na cravação dos perfis metálicos e para calda de injeção das ancoragens. Os
restantes materiais são utilizados na execução da cortina de estacas secantes.

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Em relação ao procedimento de recepção, o procedimento relativo ao betão será separado dos restantes
materiais como na aprovação de materiais pela mesma razão já descrita.

O procedimento de recepção de betão começa com a chegada do betão à obra em que o motorista entrega
uma guia de transporte de betão. Realiza-se uma verificação da guia focando-se em três aspetos: marca
do fornecedor, matrícula do camião e tipo de betão. Caso não esteja conforme, contacta-se o empreiteiro
e explica-se as causas da rejeição. Caso esteja conforme, prossegue-se com o ensaio de abaixamento
onde se verifica a trabalhabilidade do betão. Aqui, se não cumprir os requisitos realiza-se um ensaio de
despiste que consiste em colocar o camião a girar o betão durante 1 minuto e voltar a realizar o ensaio
de abaixamento, onde se voltar a não cumprir é rejeitado. Quando o betão cumpre os requisitos, permite-
se a betonagem e realiza-se uma ficha de recepção de material. Por fim, preenche-se, também, na lista
de controlo de recepção de materiais e no boletim de recepção de betão.

Fig. 14 – Procedimento de recepção de betão

As fichas de recepção estão preenchidas previamente considerando o material conforme, sendo apenas
necessário alterar os campos relativos à identificação. Caso haja alguma não conformidade, alteram-se
os campos que forem necessários nas fichas. Os outros dois documentos indicados permitem uma

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

melhor organização e registo da informação. A lista de controlo de recepção de materiais é uma lista
onde se registam todos os materiais recebidos ordenados por data e se referem os fornecedores e as
quantidades. O boletim de recepção de betão é um documento específico da recepção do betão onde se
registam os dados do seu transporte nomeadamente, a matrícula do camião, número da guia, quantidade
transportada, horas de entrada e saída de obra, horas de início e fim de descarga e o valor do ensaio de
abaixamento. Como se verifica há um grande número de registos, tornando este procedimento moroso
e como normalmente se fazem várias recepções num dia, acaba-se por dedicar bastante tempo a este
processo.

Quanto aos restantes materiais, o procedimento é semelhante ao da recepção do betão sendo mais
simples. Quando o material chega à obra é realizada uma verificação das suas características a ver se
estão de acordo com o que foi projetado. Se houverem falhas, o empreiteiro é contactado e informado
da rejeição do material. Caso esteja tudo conforme, é preenchida uma ficha de recepção de material e
preenche-se na lista de controlo de recepção de materiais.

Fig. 15 – Procedimento de recepção de materiais

Como se verifica há um grande número de registos a realizar, tornando este procedimento moroso e
como normalmente se fazem várias recepções diárias, acaba-se por gastar uma quantidade de tempo
expressiva neste controlo.
3.4.4. CONTROLO DE FATURAÇÃO

No controlo de faturação o foco está nos autos de medição e nos trabalhos a mais e a menos. Todos os
meses, o empreiteiro realiza um auto de medição para análise e aprovação por parte da fiscalização.
Como se trata de uma obra de valor global, o preço total da empreitada é fixo e a medição de quantidade
das tarefas é mais simples não sendo, neste caso, necessário o envolvimento de um medidor
orçamentatista. Através de observação visual dos trabalhos e de uma planta do empreendimento onde
se vai registando a cores os elementos que se vão executando, é possível determinar uma percentagem
aproximada da execução das tarefas. Caso existam dúvidas ou entendimentos diferentes em relação a
determinadas quantidades, o empreiteiro e a fiscalização realizam uma medição no local ou então,
contam com o auxílio de um medidor orçamentatista.

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Fig. 16 – Procedimento relativo ao auto de medição

Na entrega do auto de medição ao DO é assinado por este uma guia de entrega de documentos onde
comprova que recebeu os documentos por parte da fiscalização. Deve haver sempre este comprovativo
de forma a que a fiscalização tenha sempre evidências da entrega de documentos. Por fim, a guia de
entrega é adicionada a uma lista de entrega de documentos onde se registam todas as guias entregues e
assinadas pelo destinatário.

Quando o EMP indica que terá de ser realizado um trabalho a mais, é necessária a realização de um
parecer técnico por parte da fiscalização onde expõe ao DO as razões pela qual esse trabalho a mais tem
de ser realizado. Após o envio ao DO, este decide se aprova ou não o trabalho a mais sendo que, se
aprovar é feito pelo EMP um auto de medição separado. Caso não aprove quem suporta os custos é o
EMP.

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

3.4.5. RELATÓRIO DIÁRIO DE ATIVIDADES

Todos os dias a fiscalização tem que enviar um relatório diário de obra ao DO. Estes relatórios têm como
função dar um ponto de situação da obra, tentando expor a informação o mais simples e visualmente
possível, isto é, com a utilização de fotografias, gráficos e imagens, de forma a que o DO compreenda
facilmente a informação. O relatório é constituido pelos seguintes dados: data do dia em questão; registo
fotográfico das atividades de maior relevância a decorrer na obra; indicação do prazo estando associado
a uma cor (verde, amarela ou vermelha) conforme a obra esteja a cumprir os prazos ou sofra atrasos e
no caso de sofrer atrasos, é colocada uma breve justificação das causas desses atrasos; listagem das
tarefas a decorrer na obra; gráfico do nº de estacas realizadas em cada dia durante o mês, uma vez que
é uma atividade de grande relevo; indicação do nº de trabalhadores em obra por empresa; e por fim, uma
indicação da meteorologia que faz em cada dia. Após esta compilação de informação, o relatório é
enviado por email ao DO.

Fig. 17 – Procedimento relativo ao relatório diário de atividades

3.4.6. CONTROLO DE PLANEAMENTO

Os balizamentos são a grande atividade no que toca ao planeamento. A partir do momento em que o
empreiteiro apresenta o plano de trabalhos ajustado e este é aprovado, é realizado todos os meses um
balizamento ao plano de trabalhos de forma a verificar o estado da obra. No caso de existir atraso e este
ser inferior a 15 dias, o plano de trabalhos mantém-se mas é discutido com o empreiteiro de forma a

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

determinar que medidas pretende tomar para recuperar o atraso. No caso de o atraso ser superior a 15
dias, é solicitado ao empreiteiro um plano de trabalhos de recuperação.

Fig. 18 – Procedimento relativo ao balizamento

Em relação a mapas de mão-de-obra e mapas de equipamentos, uma vez que existe um técnico de
segurança afeto a 100% à obra e que faz um controlo rigoroso destes recursos, a fiscalização não realiza
o seu próprio controlo, pedindo ao técnico de segurança os seus registos.
3.4.7. ROTINAS DE INSPEÇÃO

As rotinas de inspeção não são definidas sendo que ao longo do dia se fazem visitas à obra conforme o
tempo disponível. Durante a visita à obra, o fiscal percorre as várias frentes de trabalho e verifica as
atividades a serem realizadas, registando com fotografias. É importante haver sempre o re

A betonagem de vigas intermédias e vigas de coroamento são, na sua grande maioria, controladas
durante a sua execução. Os parâmetros que são controlados durante a betonagem são:
 Antes da betonagem, quer as armaduras quer as cofragens têm que ser humedecidas. Pois, caso
estes elementos estejam secos aquando da betonagem, irão absorver a água que é necessária à
hidratação do betão, havendo o risco das superfícies em contacto com estes elementos
apresentarem uma resistência menor;
 O betão deve ser compactado por camadas de forma a garantir que as bolsas de ar conseguem
ser expelidas;
 Utilização de um compactador e verificar que este não é colocado em contacto contínuo com a
armadura;
 Assegurar que o betão chega a todos os pontos do elemento a betonar.

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

O controlo de betonagem de estacas é feito esporadicamente uma vez que são executadas várias
betonagens por dia e não é possível estar sempre presente devido a outras responsabilidades do fiscal.
Inicialmente o controlo era mais rigoroso mas com o tempo, ao se verificar que a execução de estacas é
realizada corretamente, passou a realizar-se um controlo mais pontual.
Quando há chegada de betão à obra, um dos encarregados geralmente liga por chamada ao fiscal para
este fazer a recepção do material, sendo que esta atividade é quase sempre realizada excepto por motivos
de força maior. Quando há chegada de outros materiais, realiza-se uma verificação durante as visitas à
obra.
3.4.8. FICHAS DE CONTROLO DE CONFORMIDADE
Uma vez que o empreiteiro realiza o controlo de qualidade, tendo documentos próprios para o efeito, a
fiscalização não tem necessidade de utilizar os seus documentos e, assim, duplicar os registos. As fichas
de controlo de execução realizadas nesta obra são controlo de execução de estacas, controlo de execução
de ancoragens, ensaios prévios de ancoragem e ensaios de recepção simplificados de ancoragens. O que
a fiscalização faz é acompanhar a execução destes elementos e verificar o preenchimento das fichas por
parte do empreiteiro, a ver se tem toda a informação necessária e se esta corresponde ao que foi
verificado no local.
3.4.9. NÃO CONFORMIDADES
Quando se verifica uma não conformidade no terreno, a fiscalização regista através de fotografias e faz
uma adversão verbal ao empreiteiro. Se este resolver o problema, o assunto dá-se por concluído. Se não
resolver, é enviado um email de maneira a haver registo que o empreiteiro foi informado do
incumprimento. Se nesta fase resolver o problema, não se toma mais nenhuma medida. Se continuar a
não resolver o problema, é aberta uma ficha de não conformidade para conhecimento de todos os
intervenientes. Se tratar do problema, é realizado o fecho da ficha de não conformidade. Se não resolver,
é tomada uma de duas medidas. Ou não se realiza o pagamento da tarefa no auto de medição ou, como
o empreiteiro tem certificação ISO 9001, informar as entidades responsáveis pela certificação do
sucedido.

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Fig. 19 – Procedimento relativo a uma não conformidade

Uma vez que a abertura de uma não conformidade é uma medida gravosa que pode gerar conflitos entre
o empreiteiro e a fiscalização, esta só é tomada em último caso. Tenta-se sempre resolver os problemas
por outros meios de maneira a garantir boas relações entre os intervenientes para que a obra decorra o
melhor possível dentro do previsto.

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

3.4.10. ATAS DE REUNIÃO


Todas as semanas são realizadas reuniões de obra à segunda-feira logo pela manhã. Estas reuniões
contam com a presença assídua de todos os elementos da equipa de fiscalização e do empreiteiro salvo
algumas excepções em que por vezes faltam um ou dois elementos regulares. Caso seja necessário há
presença de outros elementos como os projetistas, o representante do DO ou entidades como a Porto
Vivo, SRU.
Antes de se iniciar a reunião ou no fim desta, é passada a ata de reunião anterior para ser assinada por
todos os intervenientes. A condução da reunião é da responsabilidade da fiscalização sendo seguida uma
ordem de assuntos já definida que é do conhecimento de todos os intervenientes. À medida que são
abertos os assuntos pendentes, estes são discutidos de forma a verificar o seu ponto de situação, sendo
feito o registo no momento e lido em voz alta de forma a ver se todos os intervenientes concordam ou
se têm algo mais a acrescentar. Caso existam assuntos novos a tratar, o procedimento é exatamente o
mesmo, sendo criado um assunto novo na ata.
Os anexos que fazem parte da ata de reunião são o plano de trabalhos quinzenal, que tem de ser entregue
todas as semanas pelo empreiteiro; o mapa controlo de BAMES, onde estão registados todos os BAMES
aprovados; o mapa de controlo de pedidos de esclarecimento, onde estão registados todos os pedidos de
esclarecimento que vão surgindo no decorrer da obra; e outros documentos que possam ser relevantes
para algum assunto particular.
No decorrer das reuniões, também é registado no livro de obra os assuntos mais importantes que são
discutidos, remetendo-os para as atas de reunião onde foram registados.
3.4.11. RELATÓRIO MENSAL DE FISCALIZAÇÃO
No início de cada mês é enviado para o DO um relatório do mês passado onde se registam as ocorrências
mais significativas do desenvolvimento dos trabalhos da obra nesse período. Neste relatório são
referidos elementos relacionados com as várias áreas de atuação da fiscalização, nomeadamente,
Conformidade, Planeamento e Economia. A Segurança e Ambiente também está integrada uma vez que
a coordenação de segurança pertence à equipa de fiscalização. Juntamente com o relatório são colocados
como anexos todos os documentos realizados e necessários para o controlo da obra, sendo estes:
 Compilação de relatórios diários de atividades
 Controlo de planeamento → Balizamento
 Controlo de custos → Controlo de faturação, controlo de autos de faturação, auto de medição
assinado, resumo de trabalhos a mais e a menos,
 Controlo de conformidade → Lista de aprovação de BAMES, lista de recepção de materiais,
lista de documentos e desenhos recebidos, boletim de recepção de betão em obra, lista de ensaios
de controlo do betão, relatórios de ensaio a estacas estruturais, Ensaios prévios de ancoragens,
ensaios de recepção simplificados de ancoragens e leituras de inclinómetros
 Atas de reunião assinadas
 Planos de trabalhos quinzenais
 Mapa mensal de mão de obra
 Mapa mensal de equipamentos
 Mapa mensal de meteorologia
Como último anexo é colocado o relatório mensal realizado pelo empreiteiro. A compilação de todos
estes dados é um processo longo e trabalhoso que normalmente ocupa um dia inteiro de trabalho.

34
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

4
UTILIZAÇÃO DO SOFTWARE

4.1. APRESENTAÇÃO DO SOFTWARE


O presente trabalho baseia-se na aplicação de um software de controlo de conformidade em obra. O
software em questão é o SICCO – Sistema Integrado de Controlo da Conformidade em Obra – cujas
áreas de foco são a centralização de informação, a partilha de informação em tempo real e o
preenchimento de documentos. Visto que a obra já se encontrava a meio aquando da entrada do autor e
este é o único utilizador do programa informático na obra, não é possível analisar as duas primeiras
áreas de foco referidas. Assim, este trabalho apenas se desenvolverá em torno do preenchimento de
documentos.
A apresentação da interface e funcionalidades do software já foi realizada em teses de mestrado passadas
mas verifica-se que existem alterações tanto em termos estéticos como em termos de funcionalidades,
pelo que é importante voltar a fazer uma apresentação breve. Desta forma o leitor fica a par da última
versão do programa e das suas funcionalidades.

35
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Atualmente a configuração do programa é constituída por 2 menus, um menu inicial e um menu relativo
ao projeto. Nos capítulos seguintes é realizada uma descrição resumida dos dois menus.

Fig. 20 – Configuração do programa informático

4.1.1. MENU INICIAL


Quando se entra no programa, este é o primeiro menu que aparece. Está dividido em 5 opções, sendo
estas:
 Dashboard Geral - Onde se encontram os diferentes projetos no qual o utilizador está envolvido,
podendo aceder a qualquer um;
 Configurações – Informações gerais sobre o software;
 Utilizadores – Identificação dos utilizadores do programa;
 Tabelas – Adição ou remoção de dados relativos a entidades, tarefas, tipos de ocorrências em
obra e não conformidades

36
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

 Banco de FCC – Carregamento e armazenamento de FCC

Fig. 21 – Visualização da opção “Dashboard Geral”

O Banco de FCC é indispensável para a utilização do software e é a partir de aqui que se colocam as
fichas de controlo a utilizar em obra para além de se poder utilizar fichas já realizadas por outros
utilizadores. O carregamento das fichas é feito através de folhas Excel previamente preparadas, tendo
apenas que se preencher os campos conforme a informação pedida em cada campo.

Fig. 22 – Visualização da opção “Banco de Fichas”

4.1.2. MENU RELATIVO AO PROJETO


Após se aceder ao projeto desejado, surge um segundo menu onde se encontram as várias
funcionalidades do programa. Este menu está dividido em 7 opções:

 Dashboard Geral – Leva ao menu inicial, saindo do projeto em que se está a trabalhar;

37
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

 Dashboard de Projeto – Introdução de dados relativos ao projeto, nomeadamente, tarefas,


entidades, utilizadores, locais, elementos e plantas;
 Assuntos – Principal ferramenta do programa na medida em que é aqui que se criam os
documentos que servem de base às áreas de foco do programa;
 Lista de Assuntos – Listagem de todos os documentos criados dentro de cada tipo de assunto;
 Relatório Diário de Obra – Registo diário das principais ocorrências em obra;
 Arquivo – Armazenamento de todas as fotos, desenhos, plantas e FCC criadas;
 Reports
4.1.2.1 ASSUNTOS
Neste menu é possível criar documentos e verificar o seu estado conforme o prazo estabelecido para
cada um. Para finalizar um documento é necessário preencher os campos obrigatórios de maneira a que
o programa permita a sua finalização. Todos os documentos que não tenham sido finalizados até ao
prazo estabelecido passam a ser considerados em atraso.

Fig. 23 – Menu “Assuntos”

Existem 4 tipos de documentos que se podem criar:


 Ordem de Serviço
 Pedido de Informação
 Não Conformidade
 Ficha de Controlo de Conformidade
O documento “Ordem de Serviço” tem como ideia ser utilizado quando há uma tarefa que tem de ser
realizada e se quer atribuí-la a um determinado utilizador. No caso do presente trabalho uma vez que o
autor é o único utilizador, este documento é utilizado durante as visitas à obra para indicar as atividades
a decorrer diariamente e anexar fotos dessas atividades.

38
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

O template dos três primeiros documentos é muito semelhante, sendo apenas alterado o campo relativo
ao assunto de que se trata. Na Ordem de Serviço, este campo é intitulado de “Checklist”, onde se coloca
a tarefa a realizar e o utilizador responsável pela sua realização coloca um visto quando a conclui. No
Pedido de Informação, este campo tem o nome “Pedidos de Esclarecimentos / Respostas” e é um espaço
dedicado a perguntas e respostas. Por fim, nas Não Conformidades, este campo é denominado de
“Anomalias / Medidas Corretivas” onde a sua denominação corresponde exatamente às informações que
se colocam. Existe a possibilidade de definir uma prioridade para cada um dos 3 tipos de documentos,
sendo ainda possível adicionar alertas que podem ser estabelecidos em diferentes intervalos de tempo e
enviar os documentos diretamente a determinados utilizadores.

Fig. 24 – Exemplo de “Não Conformidade”

Em relação ao último documento, Fichas de Controlo de Conformidade, este é utilizado no controlo de


qualidade no terreno. As fichas são carregadas no Banco de FCC, referido anteriormente, e abertas neste
menú para serem utilizadas.
No presente trabalho, apenas são relevantes para o seu desenvolvimento os documentos “Não
Conformidade” e “Ficha de Controlo de Conformidade” visto que os outros dois documentos dizem
respeito a áreas de foco do programa que não podem ser avaliadas.
4.1.2.2 LISTA DE ASSUNTOS
Todos os documentos criados no menu anterior são agrupados em listas conforme o seu tipo. Cada lista
é composta pelos seguintes campos:

39
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

 Nome
 Estado
 Data de abertura
 Prazo
 Data de fecho
 Criado por
 Data de criação
Assim é possível identificar facilmente se o documento se encontra em aberto ou finalizado e se está
dentro do prazo estabelecido ou não. Caso haja a necessidade da busca rápida de um documento, existem
um campo para pesquisa.

Fig. 25 – Exemplo de lista de FCC

4.1.2.3 RELATÓRIO DIÁRIO DE OBRA


O relatório diário de obra permite um controlo do que se passa diariamente na obra e permite que o
cliente tenha conhecimento de como a obra decorre. Para o efeito existe um conjunto de informações
que são registadas no programa nos seguintes campos:
 Calendário
 Meteorologia
 Mão de Obra
 Tarefas
 Equipamentos
 Ocorrências
 Visão Geral da Empreitada
 Anexos
A Visão Geral da Empreitada diz respeito ao estado da obra relativamente ao prazo da empreitada.

40
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Embora todas estas informações sejam importantes para o fiscal nem todas o são para o cliente e por
isso neste caso, na versão pdf do relatório, não aparecem as informações relativas aos equipamentos. O
relatório foi desenvolvido de maneira a ser o mais semelhante possível ao relatório diário adoptado na
obra em questão, tendo para esse efeito sido utilizados elementos visuais como fotos e imagens de forma
a tornar o relatório mais apelativo. Um exemplo deste relatório está colocado no anexo 3.

Fig. 26 – Campos a preencher no Relatório Diário de Obra

4.1.2.4 ARQUIVO
Como já foi referido, este é o menu dedicado ao armazenamento de todas as fotos, desenhos, plantas e
FCC carregadas e utilizadas no programa. Todos estes anexos são organizados pelo dia em que são
carregados ou usados, sendo depois possível pesquisar a partir de várias informações associadas a estes
anexos.

Fig. 27 – Arquivo de fotos

41
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

4.2. INPUTS DO SOFTWARE


4.2.1. DASHBOARD DE PROJETO

Como já foi mencionado no ponto 4.1.2, neste menu é onde se introduzem os dados relativos ao projeto.
Os dados a ser introduzidos são:
 Entidades
 Utilizadores
 Categorias de tarefas
 Tarefas
 Locais e Elementos
 Plantas

De todos estes elementos, apenas se pode fazer o carregamento de uma folha Excel com os dados
relativos a “Locais e Elementos”, para além do carregamento das plantas de projeto. Os restantes dados
têm de ser introduzidos manualmente no programa.

Como o único utilizador é o autor, não há necessidade de introduzir nenhuma informação neste campo.
4.2.1.1. ENTIDADES
No momento em que o autor entrou em obra, os intervenientes presentes na execução dos trabalhos
eram:
 Teixeira Duarte - Engenharia e Construções, S.A.
 Construções Cidade Nova do Marco
 Vilaplano Construções Lda.
 Transmelo - Construções Lda.
 Escand - Equipamentos Industriais, Lda.
 VLP - Engenharia e Construção, Lda.
 Nuno Almeida - Construção Civil, Lda.
 Demolidora Penafidelense - Sociedade de Demolições de Penafiel, Lda.
4.2.1.2. CATEGORIAS DE TAREFAS E TAREFAS
Nestes dois campos, os dados introduzidos correspondem integralmente às atividades que constam no
plano de trabalhos elaborado pelo empreiteiro. Nas categorias de “Contenção Periférica” e “Escavação”
as mesmas tarefas encontram-se divididas em duas zonas dado que houve uma prorrogação de prazo da
obra devido a atrasos na construção da estrutura de contenção de fachada, pelo que o empreiteiro viu a
necessidade de dividir os trabalhos em 2 zonas.
 Montagem de Estaleiro
o Demolições
o Escavação e contenção periférica
 Manutenção de Estaleiro
o Demolições
o Escavação e contenção periférica
 Trabalhos Preparatórios
o Implantação e piquetagem
o Levantamento topográfico do terreno
 Contenção de Fachada

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

o Estrutura metálica
o Perfis verticais
 Contenção Periférica
o Construção da viga de coroamento até zona de contenção de fachada
o Construção da viga de coroamento na zona de contenção de fachada
o Construção de muros guia até zona de contenção de fachada
o Construção de muros guia na zona de contenção de fachada
o Construção de vigas de distribuição até zona de contenção de fachada
o Construção de vigas de distribuição na zona de contenção de fachada
o Execução de ancoragens até zona de contenção de fachada
o Execução de ancoragens na zona de contenção de fachada
o Execução de estacas até zona de contenção de fachada
o Execução de estacas na zona de contenção de fachada
 Escavação
o Escavação geral até zona de contenção de fachada
o Escavação geral na zona de contenção de fachada

4.2.1.3. LOCAIS E ELEMENTOS


Como já foi mencionado anteriormente, a introdução destes dados é feita através do carregamento de
uma folha Excel. Existem 5 campos para preencher (edifício, frente de obra, local, tipo e elemento) em
que o seu grau de especificação vai aumentando de campo para campo. Não é obrigatório o
preenchimento de todos os campos, dependendo das necessidades do utilizador. No caso desta obra,
consideraram-se os campos de “frente de obra” e de “local” como iguais e preencheram-se da mesma
maneira uma vez que não há necessidade de maior especificação entre esses dois campos.
No total foram introduzidas 515 estacas e 242 ancoragens divididas pelas 5 frentes de trabalho diferentes
(Rua do Bonjardim, Travessa do Bonjardim, Rua Formosa, Rua de Sá da Bandeira e Pátio do
Bonjardim). A nomenclatura das estacas está dividida em 2 grupos: estacas “plásticas” (P) e “estacas
“estruturais” (E), cada uma seguindo a mesma ordem sequencial.
- Estacas “plásticas”: P1 a P257
- Estacas “estruturais”: E1 a E258
Em relação às ancoragens, a sua nomenclatura segue o mesmo princípio que a nomenclatura das estacas.
No entanto como só há um tipo de ancoragens, estas encontram-se ordenadas de A1 a A242.
No caso das vigas de distribuição e de coroamento, apenas se introduziu a sua denominação visto que
não existe divisão por troços pré-definida, tendo-se só conhecimento dos troços aquando da colocação
de armadura no local e respetiva betonagem.

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Fig. 28 – Folha Excel para carregamento de “Locais e Elementos”

4.2.2. BANCO DE FICHAS

Para o controlo da qualidade em obra foram introduzidas 6 fichas de controlo de conformidade, onde 3
destas são relativas à recepção de materiais e as outras 3 são relativas à execução de elementos. O
carregamento destas fichas é feito através de folhas Excel tal como no sub-capítulo anterior. No anexo
2 encontra-se um exemplo de cada uma das 6 FCC utilizadas pelo autor durante a sua estadia em obra.
4.2.2.1. FICHAS DE RECEPÇÃO DE MATERIAIS

Dentro das fichas de recepção de materiais, duas destas são referentes à recepção do betão de maneira a
replicar o melhor possível os registos efetuados pelo método tradicional. Uma ficha é utilizada para a
recepção do betão em obra e a outra é utilizada para registo de informações contidas na guia de
transporte. Uma vez que não existe a opção de criar outro tipo de documento para além dos já existentes,
utilizou-se uma FCC para realizar o registo de informações onde, todavia, os campos relativos à
conformidade não se aplicam.

A terceira ficha é utilizada para a recepção dos restantes materiais em obra. Esta ficha tem exatamente
os mesmos campos que a ficha de recepção de betão, sendo que a única diferença está nas observações
colocadas. O betão como é alvo de um controlo mais rigoroso, introduziram-se observações de forma a
auxiliar o seu controlo no ato de recepção.

Os pontos de controlo nas recepções de materiais em obra são os que observam na figura seguinte.

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Fig. 29 – Folha Excel utilizada para carregamento de FCC

4.2.2.2. FICHAS DE EXECUÇÃO DE ELEMENTOS

Relativamente às fichas de execução, foi criada uma ficha para cada um dos 3 elementos principais da
contenção periférica, nomeadamente vigas, estacas e ancoragens. Como já foi referido no capítulo 3, o
controlo de qualidade é realizado pelo empreiteiro tendo documentos próprios para o efeito, enquanto
que a fiscalização realiza um controlo visual e faz uma verificação dos documentos preenchidos pelo
empreiteiro. Assim, de forma a conjugar o controlo realizado pelos dois intervenientes, foram criadas
FCC na forma de checklists onde se controlam parâmetros monitorizados por ambos. Estas checklists
seguem uma ordem lógica de verificação que vai desde a sua implantação no local até à sua
betonagem/carga.

De seguida é demonstrada uma tabela onde se indicam os pontos de controlo de cada um dos elementos
a executar.

45
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Quadro 3 – Pontos de controlo dos 3 tipos de elementos existentes na obra em questão

Pontos de controlo
Vigas Ancoragens Estacas
1. Identificação da viga 1. Identificação da ancoragem 1. Identificação da estaca
2. Implantação 2. Cota 2. Diâmetro
3. Cofragem 3. Inclinação 3. Armadura
4. Armaduras e recobrimento 4. Diâmetro 3.1. Cota superior da armadura
5. Condições de betonagem 5. Comprimento 3.2. Comprimento da armadura
6. Betonagem 5.1. Comprimento livre 4. Betonagem
6.1. Tipo de betão 5.2. Comprimento do bulbo 4.1. Cota superior de betonagem
6.2. Slump 6. Pré-esforço 4.2. Cota do fundo de estaca
6.3. Compactação do betão 6.1. Valor de pré-esforço inicial 4.3. Profundidade da estaca
6.4. Cota final de betonagem 6.2. Nº de cordões 4.4. Volume de betão
7. Injeção de calda 4.5. Volume real de betão
7.1. Razão A/C 5. Coluna de betonagem
5.1. Comprimento da coluna de
7.2. Pressão de injeção betonagem
5.2. Corte da coluna de
betonagem

46
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

5
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE
RESULTADOS

5.1. ANÁLISE DE NÃO CONFORMIDADES

Após a estadia em obra onde se utilizou o software para auxiliar o controlo da qualidade em obra, é
necessário apresentar e analisar os resultados obtidos. O controlo realizado resulta do preenchimento de
FCC e deteção de não conformidades soltas no decorrer dos trabalhos. Através deste controlo é realizada
uma análise das não conformidades com base na metodologia FMEA e com recurso à ferramenta “fault
tree analysis” ou análise por árvore de causas. Por fim, é feita uma discussão das vantagens e limitações
do software no seu estado atual.
5.1.1. FICHAS DE CONTROLO DE CONFORMIDADE
Como já foi referido, as FCC são o principal método de controlo adoptado para a garantia da qualidade.
Durante o período de aproximadamente 2 meses, desde o final de Fevereiro até final de Abril, foram
preenchidas no total 94 fichas, onde 41 correspondem a fichas de controlo de execução e 53
correspondem a fichas de recepção de materiais.
5.1.1.1. FICHAS DE RECEPÇÃO DE MATERIAIS
Dentro das fichas de recepção de materiais, estas encontram-se divididas em 3 grupos: recepção de
betão, recepção dos restantes materiais e recepção de betão em obra. Esta última diz respeito aos registos
de informação nas guias de transporte de betão, já falado no capítulo 4.2.2.1 , de forma a se ter um
registo rigoroso de todas as informações importantes para o controlo de betão. Estas fichas não têm
como objetivo a verificação de conformidade mas sim replicar o controlo feito tradicionalmente, pelo
que não têm signifância para os resultados. Das 53 fichas preenchidas, 36 dizem respeito à recepção de
betão, 14 à recepção de betão em obra e 3 à recepção de restantes materiais. A discrepância entre as
recepções de betão e recepções dos restantes materiais deve-se ao facto de haver um número muito
elevado de betonagens de elementos e relativamente a outros materiais como cimento ou ancoragens,
apenas é feita uma recepção de cada tipo de material por mês, embora seja sempre em grande quantidade.

47
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Fichas de recepção de materiais


3
14

36

Recepção de materiais Recepção de betão Recepção de betão em obra

Fig. 30 – Número de diferentes fichas de recepção de materiais preenchidas

5.1.1.2. FICHAS DE EXECUÇÃO DE ELEMENTOS

Relativamente às fichas de execução de elementos, foram preenchidas 41 fichas, das quais 8 são
referentes à execução de estacas, 7 à execução de ancoragens e 26 à execução de vigas. Na altura em
que o autor começou a realizar o controlo da qualidade, a tarefa relativa à execução de estacas estava
muito perto de ser concluída, pelo que não há um grande número de fichas preenchidas. No entanto,
algumas fichas contêm o controlo de 2 estacas uma vez que estas eram executadas uma a seguir à outra
e com o mesmo camião de betão.

A mesma situação passa-se no caso das ancoragens visto que há um número reduzido de fichas, onde
cada ficha comporta múltiplas ancoragens. Como estas são executadas em grupos, aglomeram-se todas
de cada grupo numa só ficha de forma a facilitar o seu controlo.

Por fim, as fichas de controlo de execução de vigas são realizadas uma a uma, onde cada ficha é referente
a um troço.

Fichas de execução de elementos

7
26

Execução de vigas Execução de ancoragens Execução de estacas

Fig. 31 – Número de diferentes fichas de execução de elementos preenchidas

48
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

5.1.2. NÃO CONFORMIDADES


O grande objeto de estudo desta tese de mestrado prende-se com a análise de não conformidades. No
decorrer dos trabalhos, estas foram obtidas através das FCC ou através de não conformidades soltas que
por vezes ocorreram. Todas as não conformidades verificadas são relativas à execução de elementos
com excepção de uma não conformidade relativa às recepções de materiais.
No total foram verificadas 26 não conformidades, sendo que estas são relativas a 9 tipos diferentes de
não conformidades onde algumas se repetiram ao longo do decorrer da obra. As não conformidades
detetadas são as seguintes:
1- Falta de humidificação de armaduras e cofragem
2- Recobrimento insuficiente
3- Armadura insuficiente
4- Compactação inadequada do betão
5- Desalinhamento dos painéis de cofragem dos cachorros
6- Perfuração de coletor
7- Materiais utilizados não correspondem aos aprovados
8- Armadura deformada
9- Execução de elementos não cumpre desenho de preparação
Das 9 não conformidades, 6 destas ocorreram na execução de vigas enquanto que na impermeabilização
de fachada ocorreram 2 e nas ancoragens apenas uma.
De seguida apresenta-se um gráfico onde se apresentam o número de ocorrências de cada tipo de não
conformidade observada.

Não conformidades
1 1
1
1
9

2 5
Falta de humedecimento de armaduras e cofragem
Recobrimento insuficiente
Armadura insuficiente
Compactação inadequada do betão
Desalinhamento dos painéis de cofragem dos cachorros
Perfuração de coletor
Materiais utilizados não correspondem aos aprovados
Armadura deformada
Execução de elementos não cumpre desenho de preparação

Fig. 32 – Número de ocorrências das diferentes não conformidades

49
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

5.1.2.1. FAULT TREE ANALYSIS


Esta ferramenta foi adoptada para identificar a(s) causa(s) de cada não conformidade. Para cada não
conformidade foi concebida uma cadeia de eventos possível até se determinarem as possíveis causas da
sua ocorrência. Destas causas possíveis, com base no que o autor verificou na obra, são identificadas as
causas reais e as recomendações para a sua prevenção.
Considerando o artigo que serviu de base para este trabalho, já referido nos capítulos 1 e 2, foi utilizada
a mesma metodologia se bem que com algumas adaptações. A árvore de causas adoptada está dividida
em 3 estratos: a não conformidade, que se encontra no topo da cadeia; as causas intermédias, onde se
determinam as causas gerais da não conformidade e dentro destas se vão especificando os eventos
possíveis que levaram à ocorrência de cada uma; e por fim, as causas primárias que correspondem aos
eventos concretos que levam à ocorrência da não conformidade. Para interrelacionar as causas são
utilizados dois símbolos:
- tem o significado de “e”, ou seja, os eventos que estejam ligados com este simbolo
têm que ocorrer em conjunto para levar à ocorrência do evento superior;

- tem o significado de “ou”, ou seja, ao ocorrer qualquer um dos eventos que estejam
ligados com este simbolo, o evento superior acontece.

Não conformidade

Causas intermédias

Causas primárias

Fig. 33 – Estrutura da árvore de causas

Uma vez que são colocadas várias causas possíveis para cada não conformidade, serão utilizadas caixas
de texto com cor de forma a identificar quais as causas reais. As restantes caixas de texto têm a cor preta.
O sentido das setas vai das causas primárias para a falha que estas causam.
5.1.2.2. NÃO CONFORMIDADE 1 – FALTA DE HUMEDECIMENTO DE ARMADURAS E COFRAGEM

Na execução de vigas, esta foi a não conformidade verificada mais vezes (9 vezes) apesar de
aparentemente ser fácil de garantir que esta não aconteça. Para se garantir a hidratação adequada do
betão é necessário humidificar as armaduras e cofragem, algo que não aconteceu por duas razões. A
primeira razão é negligência por parte do encarregado que não informou os operários, uma vez que este
sabe que se devem humidificar as armaduras e a cofragem antes da betonagem. É uma ação muito
simples mas que por falta de empenho do encarregado não foi executada várias vezes. A segunda razão

50
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

é os operários não estarem sensibilizados para a importância da hidratação do betão e por isso não dão
atenção a esta situação.

Fig. 34 – Árvore de causas relativa à falta de humidificação de armaduras e cofragem

Fig. 35 – Árvore de causas relativa à negligência na NC 1

A recomendação para a prevenção da situação de insensibilidade dos operários é a realização de ações


de formação e sensibilização por parte do empreiteiro de forma a consciencializá-los relativamente a
este assunto. Esta medida é também aplicável para o caso de negligência juntamente com um reforço de
responsabilização por parte do empreiteiro de maneira a dar maior consideração a estas situações e
chamar a atenção dos seus operários para que estas não voltem a ocorrer.

51
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

5.1.2.3. NÃO CONFORMIDADE 2 – RECOBRIMENTO INSUFICIENTE

Esta foi a segunda não conformidade mais verificada, com 5 não conformidades, novamente durante a
execução de vigas. Nesta situação existem duas vertentes de falha diferentes que são a transmissão de
informação e condicionantes de execução. Numa das ocorrências desta não conformidade verificou-se
que esta foi devido à existência de uma anomalia numa atividade anterior, nomeadamente no desvio de
verticalidade das estacas. Infelizmente não há maneira de assegurar a verticalidade das estacas para além
do uso de tubos guia, os quais foram utilizados na obra, mas que apenas garantem a verticalidade nos
metros iniciais. As restantes ocorrências deveram-se exatamente às mesmas causas verificadas na não
conformidade anterior. Mais uma vez, a falta de empenho dos encarregados é uma das principais razões
pela qual não foi assegurado o cumprimento do recobrimento. Como as vigas de distribuição executadas
têm um carácter temporário, os encarregados não dão a mesma atenção e importância à execução destes
elementos, levando à ocorrência de anomalias como a não conformidade em questão.

Fig. 36 – Árvore de causas relativa ao recobrimento insuficiente

52
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Fig. 37 – Árvore de causas relativa à negligência na NC 2

Neste caso, as recomendações para prevenção são as mesmas que na não conformidade anterior uma
vez que não há nenhuma medida adicional a tomar em relação ao desvio de verticalidade das estacas.
No entanto, existe uma recomendação que não está diretamente relacionada com nenhuma das causas
identificadas que é a utilização de espaçadores de forma a garantir o recobrimento. Esta é a medida mais
simples de se aplicar de forma a evitar esta anomalia.
5.1.2.4. NÃO CONFORMIDADE 3 – ARMADURA INSUFICIENTE

A não conformidade em questão teve duas ocorrências durante o período em que o autor esteve presente
em obra. Uma ocorrência deveu-se ao facto de se estar a executar a viga numa zona muito próxima da
fundação da fachada dos edifícios demolidos e em determinadas secções, a fundação é mais saliente,
levando a que não seja possível colocar toda armadura projetada. Esta situação pode-se verificar na fig.
38 onde o varão longitudinal na extrema direita da secção teve de ser cortado devido à saliência das
pedras. A outra ocorrência foi devida ao esquecimento tanto por parte dos encarregados como por parte
dos operários de colocar uns varões numa secção da viga. Na fig. 39 pode-se observar a falta dos 3
varões longitudinais na extrema direita da secção que se verificam na fig. 38. Como houveram algumas
secções do elemento onde não se pôde colocar toda a armadura projetada, houve uma zona em que se
esqueceram de colocar uns varões no qual tinham uma secção suficiente para os colocar.

Fig. 38 e 39 – Armadura insuficiente devido a condições do local de execução e devido à falta de colocação de
varões

53
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Fig. 40 – Árvore de causas relativa à armadura insuficiente

No caso da existência de elementos estruturais de outras construções no local de execução, a única


medida preventiva é a realização de sondagens por parte do empreiteiro de maneira a verificar que a
implantação da viga no local é possível. Na situação de esquecimento, o que se faz é alertar os
encarregados e operários para que tomem conhecimento da situação e explicar as consequências de
faltarem varões no elemento. Deve-se integrar esta falha no controlo de “Falhas Frequentes” desta
atividade de maneira a garantir-se que no futuro não ocorrem mais esquecimentos.
5.1.2.5. NÃO CONFORMIDADE 4 – COMPACTAÇÃO INADEQUADA DO BETÃO

Relativamente a esta não conformidade existiram 2 ocorrências. A primeira ocorrência foi devido a uma
falha de tecnologia, nomeadamente por não haver número suficiente de operadores na equipa
responsável pela execução da tarefa. A equipa responsável pela betonagem da viga era constitúida
apenas por 2 operários quando, no mínimo, são necessários 3 operários. Isto levou a que o betão tenha
sido compactado todo de uma só vez em vez de ter sido compactado por camadas uma vez que não havia
nenhum operário responsável pela utilização do vibrador.

54
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

A segunda ocorrência foi por negligência por parte dos operadores e encarregado que não tiveram o
cuidado de compactar o betão por camadas.

Fig. 41 – Árvore de causas relativa à compactação inadequada do betão

Fig. 42 – Árvore de causas relativa à negligência na NC 4

55
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Relativamente às situações de negligência, a maneira mais eficaz de prevenir que estas ocorram é através
da realização de ações de formação e sensibilização por parte do empreiteiro. Um reforço de
responsabilização por parte do empreiteiro também ajuda a evitar a ocorrência destas situações. Na
situação das equipas com número insuficiente de elementos, a prevenção passa por alertar o diretor de
obra para a revisão do dimensionamento das equipas de trabalho.
5.1.2.6. NÃO CONFORMIDADE 5 – DESALINHAMENTO DE PAINÉIS DE COFRAGEM DE CACHORROS

Ainda relativamente à execução de vigas, verificaram-se 4 ocorrências desta anomalia. Uma das
ocorrências foi causada por negligência por parte dos encarregados, visto que não tiveram o cuidado de
verificar que os painéis se encontravam desalinhados e que impossibilitavam a entrada direta das
escoras, tendo que levar, posteriormente, 2 soldaduras. As restantes anomalias deveram-se à execução
desta atividade de forma diferente do que consta no projeto. Como a esquadria dos vários cantos da
contenção periférica não é sempre igual, obrigaria à alteração constante dos painéis de cofragem. De
forma a evitar um maior trabalho, os encarregados decidiram manter os painéis originais e alterar muito
ligeiramente o alinhamento dos painéis para que permitissem a entrada direta das escoras de canto. Na
fig. 43 observa-se a excentricidade de uma escora de canto devido ao desalinhamento dos painéis de
cofragem dos cachorros.

Fig. 43 – Excentricidade da escora de canto

56
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Fig. 44 – Árvore de causas relativa ao desalinhamento dos painéis de cofragem dos cachorros

Fig. 45 – Árvore de causas relativa à negligência na NC 5

As medidas de prevenção relativas à situação de negligência são as mesmas que as descritas em não
conformidades anteriores. Na situação de o encarregado resolver a situação de maneira diferente da que
está no projeto, caso se queira ser rigoroso, a solução passa por abrir uma não conformidade e obrigar o
empreiteiro a fazer conforme está no projeto. No entanto, como a solução do empreiteiro funciona,
obriga a menos trabalho e a única diferença que se verifica é a nível visual embora com um impacto
baixo, não é necessário tomar nenhuma medida preventiva. Trata-se de um elemento de caractér

57
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

provisório que será depois retirado, pelo que o aspeto visual não tem o mesmo grau de importância,
desde que cumpra a sua função conforme projetado.
5.1.2.7. NÃO CONFORMIDADE 6 – PERFURAÇÃO DE COLETOR
Em termos de ancoragens, apenas se verificou uma não conformidade. No decorrer da obra aferiu-se
que o cadastro de infraestruturas públicas não correspondia ao existente no local, pelo que o empreiteiro
realizou um levantamento prévio de infraestruturas. Verificou-se que uma das ancoragens passava muito
perto de uma conduta de rede pública de águas residuais. No entanto, o diretor de obra não passou esta
informação ao encarregado arriscando, assim, a interseção do coletor. A negligência do diretor de obra
é a responsável pela ocorrência desta anomalia. Nas figs. 46 e 47 observa-se a perfuração do coletor de
duas perspetivas diferentes sendo que na primeira figura vê-se pela perspetiva do furo de ancoragem e
na segunda figura vê-se pela perspetiva do interior do coletor perfurado.

Fig. 46 – Filmagem da perfuração do coletor pelo furo de ancoragem

Fig. 47 – Filmagem da perfuração do coletor pelo interior do mesmo

58
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Fig. 48 – Árvore de causas relativa à perfuração do coletor

Fig. 49 – Árvore de causas relativa à negligência na NC 6

Como se trata de uma falha de comunicação entre o diretor de obra e o encarregado resultante de
negligência por parte do primeiro interveniente, as medidas de prevenção a implementar são as mesma
já identificadas anteriormente.

59
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

5.1.2.8. NÃO CONFORMIDADE 7 – MATERIAIS UTILIZADOS DIFERENTES DOS MATERIAIS APROVADOS


Na atividade de impermeabilização de fachada foi detetada uma não conformidade. Aquando do início
dos trabalhos, constatou-se que um dos materiais não correspondia ao que tinha sido aprovado pelo
projetista. Esta anomalia aconteceu devido a uma falha de comunicação entre o empreiteiro e o
subempreiteiro resultante de negligência por parte do subempreiteiro dado que trouxe um material para
a obra que não correspondia ao pedido pelo empreiteiro. Na fig. 50 verifica-se a marca da bucha química
que o subempreiteiro trouxe para a obra, a qual corresponde à marca Resipec. No entanto, a marca
aprovada para a bucha química é a Pecol.

Fig. 50 – Marca da bucha química trazida para obra pelo subempreiteiro

Fig. 51 – Árvore de causas relativa à utilização de materiais diferentes dos aprovados

60
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Fig. 52 – Árvore de causas relativa à negligência na NC 7

Mais uma vez trata-se de uma situação de negligência pelo que as medidas a tomar são as já referidas
anteriormente.
5.1.2.9. NÃO CONFORMIDADE 8 – ARMADURA DEFORMADA
Verificou-se uma ocorrência deste tipo de não conformidade durante o controlo de execução de vigas.
A origem desta anomalia deve-se a causas acidentais no entanto, a não conformidade verifica-se na
negligência por parte do encarregado que constatou a situação mas não reparou os estribos danificados.
Uma vez que o elemento em questão tem um carácter temporário e como os estribos deformados não se
encontravam junto a ancoragens, o encarregado não tomou nenhuma medida para resolver a situação.

Fig. 53 – Árvore de causas relativa à armadura deformada

61
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Fig. 54 – Árvore de causas relativa à negligência na NC 8

Tal como nas não conformidades anteriores, a principal medida de prevenção a tomar é a realização de
ações de formação e sensibilização por parte do empreiteiro.
5.1.2.10. NÃO CONFORMIDADE 9 – EXECUÇÃO DE ELEMENTOS NÃO CUMPRE DESENHO DE PREPARAÇÃO

Dentro da atividade de impermeabilização de fachada verificou-se ainda outra não conformidade. Esta
consiste no incumprimento pelo subempreiteiro do desenho de preparação aprovado. O incumprimento
do desenho de preparação ocorre em duas situações distintas: a selagem dos rufos em algumas zonas da
cobertura do edifício encontra-se mal executada e na cobertura do edíficio, os rufos não cumprem uma
das distâncias indicadas. A primeira situação é considerada grave uma vez que a solução não garante a
impermeabilização do edifício. Na fig. 55 observa-se a selagem de um dos rufos que se encontra mal
executada, estando o rufo um pouco solto na zona de selagem. A segunda situação considera-se como
ligeira visto que a distância em questão não afeta o desempenho da solução mas sim o aspeto visual uma
vez que a solução foi projetada para ter o mesmo aspeto visual que a solução adoptada do outro lado do
edifício. Na fig. 56 observa-se que a largura do rufo na parede visível é bastante pequena (cerca de 3-4
cm) sendo que a largura projetada é de 10 cm. Esta não conformidade ocorreu devido a negligência por
parte do subempreiteiro dado que apressou a execução destes elementos, não tomando o devido cuidado.

Fig. 55 e 56 – Má selagem dos rufos e largura insuficiente dos rufos na cobertura do edifício

62
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Fig. 57 – Árvore de causas relativa ao incumprimento do desenho de preparação

Fig. 58 – Árvore de causas relativa à negligência na NC 9

Tratando-se de mais um caso de negligência, as medidas preventivas a tomar são as já conhecidas de


outras não conformidades anteriores.
5.1.2.11. ANÁLISE GERAL DAS CAUSAS DAS NÃO CONFORMIDADES
Depois de analisadas todas as árvores de causas e de determinadas as causas que levaram ao
acontecimento destas não conformidades, é interessante analisar o número de vezes que cada uma destas
foi responsável pela ocorrência das não conformidades. É de notar que algumas não conformidades têm
mais do que uma causa e nesses casos se contabilizam todas as causas identificadas.

63
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Fig. 59 – Nº de ocorrências de cada tipo de causa relativamente a cada tipo de NC verificada

Observando o gráfico verifica-se que a negligência é a grande causa das não conformidades verificadas
na obra em questão. Através das árvores de causas analisadas anteriormente, conclui-se que a falta de
empenho e a falta de cuidado são as principais causas de negligência em obra. É, assim, muito importante
tomar medidas preventivas relativamente a estas situações. As medidas de prevenção, já referidas nos
sub-capítulos anteriores, passam pela realização de ações de formação e sensibilização por parte do
empreiteiro para todos os operários em obra e de um reforço de responsabilização por parte do
empregador. A primeira medida deve ser aplicada o mais rapidamente possível uma vez que é de
implementação mais simples e traz valor tanto para a empresa como para os trabalhadores. Quanto mais
conscientes e preparados os operários estiverem para a realização das suas tarefas, menor o número de
erros que estes cometem e consequentemente, melhor a qualidade das obras. A segunda medida leva a
que o empreiteiro dê maior consideração a estas falhas independemente da sua gravidade, chamando a
atenção dos seus operários para a sua resolução e numa tentiva de garantir que estas não voltam a ocorrer.

Relativamente às restantes causas, a maioria destas apenas se verificaram num tipo de não conformidade
com a excepção do caso de insensibilidade dos operários, a qual foi identificada 2 vezes. A medida
preventiva a aplicar nesta situação corresponde à medida já identificada de realizar ações de formação
e sensibilização. É de realçar que não foram consideradas todas as causas possíveis para cada não
conformidade, ou seja, apenas se considerou um número suficiente e adequado de causas de maneira a
realizarem-se árvores de causa bem estruturadas e não demasiado complexas. Como exemplo tem-se
outros tipos de causas que poderiam ter sido abordadas como o stress e estabilidade emocional dos
trabalhadores, a falta de qualificação dos operários e o atravacamento do local de trabalho.

Passando de um âmbito específico para um âmbito geral, nas árvores de causas observa-se que a
transmissão de informação tem uma grande influência na ocorrência de não conformidades. Isto
demonstra a importância de se definir um sistema competente de transmissão de informação e de
sensibilizar todos os envolvidos da sua importância. Ao atuar sobre esta, é possível reduzir em grande

64
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

quantidade as não conformidades verificadas em obra. As falhas de tecnologia e as condicionantes de


execução, embora neste caso de estudo não tenham a mesma relevância, são áreas que se devem ter
igualmente em atenção e que com alguma ação preventiva se evitam males maiores.
5.1.3. METODOLOGIA FMEA
Para complementar a análise realizada com as árvores de causa, será utilizada a metodologia FMEA –
Failure Modes and Effects Analysis. Com esta metodologia pretende-se determinar o grau de severidade
e ocorrência de cada não conformidade de forma a identificar o nível de risco e quais destas devem ser
priorizadas na sua prevenção. Para tal é necessário, em primeiro lugar, criar uma escala de severidade e
ocorrência com critérios relativos à construção e à obra em questão, seguido do preenchimento do
quadro de análise.

Quadro 4 – Escala de severidade

1 O efeito não é detetável pelo DO/FISC

2 Efeito muito ligeiro, detetável pelo DO/FISC; No entanto, não necessita de correção

3 Efeito ligeiro; Tem algum impacto visual mas não é suficiente para pedir correção

4 Efeito ligeiro; não cumpre com as "boas práticas" da construção, sendo pedida a sua correção

5 Efeito moderado; Tem impacto visual mais acentuado e é necessária a sua correção imediata

Efeito moderado; Afeta o desempenho do elemento e necessita de correção imediata com


6
recurso a equipamentos leves

Efeito significativo; Afeta o desempenho do elemento e necessita de correção imediata com


7
recurso a equipamentos pesados

Efeito significativo em que há afetação de serviços; Correção necessita de acompanhamento


8
de entidades municipais

9 Efeito crítico com impacto na arquitetura/funcionalidade final do empreendimento

10 Efeito crítico com risco de colapso e segurança

A escala de severidade foi adaptada da escala existente no tema “Análise de riscos” dos apontamentos
da unidade curricular “Qualidade na construção”. Através dessa escala foram feitos ajustes de maneira
a que esta se enquadra-se no contexto da obra. Os fatores considerados para avaliação da severidade
foram a afetação do desempenho dos elementos e o grau de correção necessário. Estes dois fatores são
os que melhor classificam as não conformidades encontradas, havendo assim uma diferenciação real
entre estas. Uma vez que quase nenhuma destas tem implicações de custos ou de prazos não faz sentido
usar uma escala baseada nestes fatores.

65
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Quadro 5 – Escala de ocorrência

1 Extremamente remota < 0,01% < 1 em 10000

Remota, muito pouco


2 0,011 - 0,20 % 1 em 10000
provável

Probabilidade muito
3 0,21 - 0,60 % 1 em 500
reduzida

4 Probabilidade reduzida 0,61 -2 % 1 em 150

5 Ocasional 2,001 - 5,00 % 1 em 50

6 Moderada 5,001 - 9,999 % 1 em 20

7 Frequente 10,0 - 14,999 % 1 em 10

8 Alta 15,0 - 19,999 % 1 em 6,5

9 Muito alta 20,0 -25,0 % 1 em 5

10 Certa > 25% > 1 em 4

No factor de ocorrência, a escala utilizada é exatamente a mesma que a que se encontra no tema “Análise
de riscos” dos apontamentos da unidade curricular “Qualidade na construção”. Os valores dados neste
fator baseiam-se na percentagem relativa ao nº de ocorrências de um tipo de não conformidade sobre o
nº de elementos controlados onde se verificou esse tipo de não conformidade, ou seja, por exemplo, na
anomalia relativa à hidratação do betão verificou-se que esta se repetiu 9 vezes e no total foram
controlados 26 troços de viga, pelo que a relação entre os 2 é de (9/26)*100=35%. Como a cada nível
da escala corresponde um intervalo de percentagens, apenas se compara a percentagem obtida com o
intervalo onde se insere.

66
Objetivo Modo de falha Nº de Causas Efeitos Controlo Recomendações S O
ocorrências

1- Betonagem de viga Hidratação do betão 9 Antes da betonagem, - Ações de formação e 4 10


Falta de humedecimento Menor resistência do verificar o estado de sensibilização por parte
de armaduras e cofragem elemento humidade das armaduras do empreiteiro
e da cofragem - Reforço de
responsabilização por
parte do empreiteiro

2- Colocação de Recobrimento insuficiente 5 - Colocação de 6 8


armadura de viga espaçadores nos estribos
Armadura não está Medição de distância - Ações de formação e
Delaminação do betão e
suficientemente afastada entre os estribos e a sensibilização por parte
oxidação das armaduras
da cofragem cofragem do empreiteiro
- Reforço de
responsabilização por
parte do empreiteiro

3- Colocação de Armadura insuficiente 2 - Realização de 6 4


armadura de viga Ausência de alguns sondagens no local de
Menor resistência do Verificação visual após a
varões numa determinada execução
elemento nessa secção colocação de armadura
secção do elemento - Alertar o encarregado e
sensibilizá-lo para as
consequências

4- Betonagem de viga Compactação do betão 2 - Revisão do 4 4


Secção do elemento pode dimensionamento das
não ser constante em todo equipas de trabalho
Compactação não foi Verificação visual durante - Ações de formação e
o seu comprimento e a
realizada por camadas a execução da betonagem sensibilização por parte
armadura pode não estar
totalmente envolvida do empreiteiro
- Reforço de
responsabilização por
parte do empreiteiro

5- Implantação de viga Implantação de cachorros 4 Desalinhamento dos Excentricidade das Medir a distância entre os 3 10
para execução de escoras painéis de cofragem dos escoras relativamente ao parafusos colocados nos
de canto cachorros centro dos painéis 2 painéis de cofragem
Quadro 6 – Quadro de análise FMEA

6- Execução de Implantação no local 1 Afetação da rede pública Levantamento das redes 8 2


ancoragem Perfuração de coletor existentes no local de
de águas residuais
furação de ancoragem

- Ações de formação e
7- Impermeabilização Materiais utilizados 1 Materiais podem não ter sensibilização por parte 6 2
Materiais utilizados não Verificação visual durante
de fachada as características do empreiteiro
correspondem aos que a chegada dos materiais à
necessárias para a - Reforço de
foram aprovados obra
execução adequada da responsabilização por
tarefa parte do empreiteiro

8- Colocação de Armadura deformada 1 Armadura não terá a Verificação visual após a 6 3


armadura de viga Estribos danificados mesma resistência em colocação de armadura
toda a secção do

informação necessária para a sua ponderação em termos de severidade (S) e ocorrência (O).
elemento

9- Impermeabilização Execução 1 Elementos executados Solução projetada pode 6 4


de fachada não correspondem ao que Verificação visual durante
não ter a mesma
a execução

67
está no desenho de eficácia/aspeto visual
preparação

O preenchimento do quadro permite uma avaliação completa de cada não conformidade, contendo
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

As recomendações colocadas correspondem às medidas preventivas consideradas na análise das árvores


de causas.
Após o preenchimento, são dados valores de severidade e de ocorrência com base nas escalas
apresentadas acima. Com estes valores é possível criar o gráfico RPN – Risk Priority Number – onde se
identificam as diferentes áreas de risco e se agrupam nestes as não conformidades com base nos valores
dados. Para tornar a identificação de cada não conformidade no gráfico mais simples, foi associado no
quadro de análises um número a cada uma.

Fig. 60 – Gráfico RPN

Das 9 não conformidades verificadas, 3 destas apresentam um risco elevado e por isso merecem maior
preocupação e atenção para a sua prevenção. As anomalias em questão são a falta de humedecimento
de cofragem e armaduras, recobrimento insuficiente e desalinhamento dos painéis de cofragem dos
cachorros. O fator que as distingue das restantes não conformidades é a ocorrência visto que estas são
as que foram verificadas o maior nº de vezes. Apesar da severidade das anomalias 1 e 5 ser relativamente
ligeira, como ocorrem muitas vezes, a sua prevenção torna-se um assunto prioritário. Já a anomalia 2
alia uma severidade bastante moderada com uma frequência elevada pelo que não há dúvida da sua
gravidade. Nas anomalias observadas na área de risco médio, existem 3 anomalias (3, 6 e 9) que estão
muito próximas do risco elevado e que por isso merecem uma maior atenção.
A identificação do risco destas anomalias ajuda a determinar quais devem ter maior foco numa primeira
fase de maneira a se conseguirem arranjar medidas que reduzam a sua severidade, ocorrência ou ambas.

5.2. ANÁLISE SWOT DA APLICAÇÃO INFORMÁTICA

Uma vez que foi utilizada a aplicação informática SICCO para realizar o controlo de conformidade em
obra e identificar as não conformidades que servem de base a este trabalho, é necessário realizar uma
avaliação em relação ao seu desempenho e potencialidades. Para tal, será utilizada a matriz SWOT que

68
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

permite fazer uma análise dos pontos fortes e fracos do programa e, dentro da área em que insere,
identificar oportunidades e fatores que podem ser ameaças para o seu desenvolvimento futuro. Como o
nome indica e foi explicitado na frase anterior, a matriz SWOT encontra-se dividida em 4 pontos:
 Forças
 Fraquezas
 Oportunidades
 Ameaças

Para cada um destes pontos serão introduzidos fatores sendo, posteriormente, feita uma avaliação geral
do software com base nesses fatores.

Quadro 7 – Matriz SWOT relativa ao software SICCO

Forças Fraquezas

 Simplificação de preenchimento de  Necessidade de ligação à internet


FCC no terreno  Tempo de carregamento de
 Acesso à informação em tempo informação para o programa
real demorado
 Associação de fotos e plantas aos  Dimensão ainda não totalmente
documentos criados abrangente do controlo de
 Arquivo de todas as fotos e conformidade
documentos criados  Impossibilidade de extração de
 Registo e tratamento de não documentos em versão PDF
conformidades  Dificuldade na identificação de
 Pesquisa rápida de documentos FCC – não é possível alterar o seu
criados título
 Relatório diário de obra  Impossiblidade de remoção de
anomalias/medidas corretivas no
preenchimento de Não
Conformidades
Oportunidades
 Impossibilidade de copiar/manter
informação entre documentos do
 Criação de atas de reunião mesmo tipo
 Introdução de outros tipos de
documentos (aprovação de
materiais, controlo de recepção de Ameaças
materiais, etc.)
 Introdução de controlo de  Resistência do setor
planeamento e controlo financeiro
 Quantidade de softwares com
 Criação de relatórios mensais outro de tipo de recursos e
 Edição de relatórios diários de obra abrangência
 Internacionalização do programa  Requisitos cada vez maiores por
parte dos utilizadores

Após o contacto com o software durante cerca de 2 meses, constata-se que o programa em termos de
controlo de conformidade é bastante competente, permitindo um preenchimento de FCC no terreno fácil
e simples tal como o registo de não conformidades. Neste tipo de documentos, a associação de fotos e

69
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

plantas é valiosa de forma a melhorar os registos efetuados. No entanto, notou-se que ainda falta alguma
abrangência no controlo de conformidade nomeadamente na possiblidade de criar outros registos
importantes como controlo de recepções de materiais, aprovação de materiais ou ainda os documentos
criados na realização deste trabalho referentes à recepção de betão em obra, onde se faz o registo de
informações integrantes nas guias de transporte de betão. A identificação das FCC é difícil devido ao
facto de não ser possível alterar o título e por isso não é fácil identificar qual(is) o(s) elemento(s) que
estas controlam. Ainda relativamente ao controlo de conformidade, o facto de não ser possível alterar
as anomalias/medidas preventivas no registo de não conformidades leva a que se tenha que eliminar a
ficha e voltar a criá-la levando a uma perda de tempo desnecessária.

Os relatórios diários de obra são uma adição muito vantajosa visto que permitem um controlo diário do
que se passa na obra seja relativamente às tarefas a decorrer ou aos equipamentos e trabalhadores em
obra. Não é benéfico apenas internamente na equipa de fiscalização mas é também um meio importante
para os donos de obra acompanharem o desenvolvimento da obra e poderem ter uma ideia de como esta
decorre. Daí ser importante a possibilidade de editar os relatórios diários de forma a se poder transmitir
informação de forma mais visual e colocar apenas informação relevante.

Uma grande limitação desta aplicação é a necessidade de ligação à internet. Nos estaleiros de obra, o
sinal de rede nunca é o melhor pelo que, a utilização do programa é afetada. No caso da obra em estudo,
o autor teve algumas dificuldades na sua utilização no local dado que o tempo de carregamento de
informação para o programa é algo longo tal como o carregamento das páginas web. Falando ainda sobre
o tempo de carregamento de informação, este é um fator que tem de ser melhorado porque mesmo com
uma boa conexão à internet, qualquer informação carregada no programa demora alguns segundos a ser
guardada e é um pouco aborrecido ter que se esperar constantemente sempre que se introduz alguma
coisa. A passagem do programa informático de uma aplicação web para uma aplicação sem necessidade
de internet é muito importante para o seu sucesso no mercado.

A maior abrangência do software tanto no controlo de conformidade como para o controlo de outras
áreas centrais como a economia, o planeamento e a segurança são passos que devem ser tomados para
tornar o programa numa ferramenta essencial para qualquer equipa de fiscalização. No caso de estudo
deste trabalho, a equipa de fiscalização dá ao controlo financeiro e de planeamento uma grande
importância dado que o controlo de conformidade não é realizado de forma exaustiva, pelo que via com
muito bons olhos a introdução destas funcionalidades no programa. A introdução de outros documentos
como relatórios mensais e atas de reunião seriam uma ajuda para dinamizar esta abrangência. A
internacionalização do programa é uma oportunidade que também deve ser considerada pois assim seria
possível ter uma base de utilizadores muito superior e poder receber feedback de utilizadores de diversos
países com diferentes necessidades, para não falar também do aumento de reconhecimento do software.

Com todas estas oportunidades para o futuro existem, também, alguns fatores a ter em consideração.
Atualmente com a quantidade de softwares que são criados por todo o mundo, em que alguns têm uma
grande quantidade de recursos à disposição, não é fácil conseguir ter sucesso nesta área. Juntamente
com este facto, sabe-se que os requisitos e as necessidades dos utilizadores estão sempre aumentar,
sendo cada vez mais exigentes. Assim, à medida que se desenvolve o programa, é preciso ter estes
requisitos em conta de forma a que quando este for lançado para o mercado esteja devidamente
preparado para responder ao que os utilizadores precisam. Por último, há a resistência do setor da
construção relativamente à tecnologia. Embora, hoje em dia, cada vez mais se verifique a necessidade
de as empresas se adaptarem às novas tecnologias e de haver uma maior aderência a estas, continua a
não ser fácil realizar esta transição. Daí a necessidade de se utilizar e avaliar este programa como é o

70
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

caso desta tese de mestrado e de outras já realizadas por outros colegas, de forma a verificar o seu
desempenho e determinar o que é que o mercado necessita para que este seja bem sucedido.

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

72
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

6
CONCLUSÕES

6.1. OBJETIVOS
Durante o desenvolvimento deste trabalho, o tema sofreu uma alteração. Inicialmente o tema centrava-
se na utilização do programa informático SICCO em obra de forma a realizar uma comparação entre a
eficiência da sua utilização em relação aos métodos tradicionais. O objetivo passava por identificar o
tempo que os fiscais gastam em cada área funcional e nos respetivos processos e, posteriormente, fazer
uma comparação com o tempo gasto em cada um dos processos do programa. Com a estadia em obra
verificou-se que a identificação desses tempos é dificíl de ser realizada. Isto deve-se ao facto do tempo
dispendido em cada área funcional ir variando ao longo do desenvolvimento da obra de acordo com as
necessidades desta e, assim, haver igualmente uma variação do tempo gasto em cada processo. Ao
mesmo tempo, durante a presença em obra, constatou-se que ocorrem bastantes falhas na execução das
atividades e como tal, seria interessante tentar identificar as causas destas falhas e determinar medidas
de prevenção. É assim que surge o tema atual desta tese de mestrado onde a análise de não
conformidades em obra passou a ser o assunto principal e a utilização do software passou para segundo
plano agora numa perspetiva de auxiliar no controlo da qualidade.
Os objetivos deste trabalho prendem-se com a identificação das causas de não conformidades verificadas
em obra e das respetivas medidas de prevenção, para além da avaliação do programa informático
utilizado para apoio no controlo da qualidade. Para se atingirem estes objetivos foram necessários 5
capítulos onde o seu encadeamento permite ao leitor ter toda a informação necessária para compreender
como se chegou às conclusões tiradas.

Com este trabalho pretende-se motivar a realização de uma nova forma de atuação em relação ao
controlo da qualidade que passa pelo aumento de controlo com base nas causas remotas das falhas e não
com base nas falhas em si e nas consequências que estas acarretam.

6.2. PRINCIPAIS CONCLUSÕES

Em cada um dos capítulos é possível retirarem-se ilações relativas aos assuntos abordados dentro de
cada um destes. Começando pelo 1º capítulo, verifica-se que devido à importância da Engenharia Civil

73
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

na sociedade é necessário garantir que os seus produtos têm as melhores condições de funcionamento.
No entanto, existe um grande número de falhas que ocorrem durante a execução de uma obra devido,
nomeadamente, a erros humanos que podem condicionar o funcionamento do produto final. É com base
nesta ideia que surgem os objetivos traçados no capítulo anterior.

No 2º capítulo observa-se que os temas relacionados com controlo da qualidade, tecnologias de


informação e metodologias de análise são muito estudados atualmente, havendo muitos artigos recentes
referentes a estes temas e uma grande quantidade de informação disponível. Como referência, os artigos
[14], [15], [16] e [17] são um bom exemplo da investigação que se faz atualmente nesses assuntos.

De seguida, no 3º capítulo, identifica-se o facto de quando se tem um empreiteiro de grande dimensão


com procedimentos rigorosos de controlo da qualidade, ser possível aliviar o controlo da qualidade da
fiscalização relativamente ao número de documentos que tem de realizar. Isto permite à fiscalização
focar-se nas noutras áreas funcionais da sua responsabilidade as quais envolvem também uma
considerável dedicação de tempo.

No 4º capítulo é possível verificar que a aplicação informática em termos de controlo de conformidade


já se encontra bem desenvolvida e com bastantes funcionalidades. Em relação a outras áreas funcionais
já se começa a expandir, especialmente no que se refere à área de informação, estando já preparada para
a realização de relatórios diários.

Por fim, em relação ao capítulo 5, constata-se que as duas metodologias de análise utilizadas – fault tree
analysis e FMEA – se complementam bem e permitem uma análise detalhada de não conformidades. A
análise SWOT realizada ao programa informático apresenta-se como uma forma de avaliação simples e
eficiente.

Relativamente ao assunto principal deste trabalho verifica-se, através da análise realizada às não
conformidades verificadas em obra, que a sua principal causa é a negligência, nomeadamente devido a
falta de empenho e de cuidado. Esta falta de empenho e de cuidado levam a que hajam falhas ao nível
da comunicação entre os vários elementos do empreiteiro resultando, assim, nos problemas detetados.
Com a identificação desta causa determinaram-se medidas de prevenção que ao serem implementadas
permitem reduzir em grande escala a ocorrência deste grave problema no setor da construção. Estas
medidas passam pela criação de um sistema de responsabilização mais rigoroso por parte de associações
profissionais, onde estas passam a aplicar punições mais severas, e pela realização de ações de formação
e de sensibilização por parte do empreiteiro aos trabalhadores.

Falando sobre a avaliação do programa informático, constata-se que este permite um controlo de
conformidade em obra eficaz, embora com alguns pontos a melhorar e adicionar. A sua aplicação no
terreno sofre pela necessidade de internet e de tempos de carregamento lentos mas as funcionalidades
que já incorpora permitem uma utilização prática. A sua principal limitação é o facto de apenas realizar
o controlo de conformidade, não estando ainda desenvolvido para integrar outras áreas importantes da
fiscalização como o planeamento e custos.
Durante a realização deste trabalho, a única dificuldade com que o autor se deparou foi na identificação
das causas das não conformidades encontradas. A identificação das causas foi realizada com base nas
observações do autor em obra e em conversas com os encarregados embora, em alguns casos, não se
possa ter a certeza absoluta de que foram essas causas ou que não existem outras para além das
identificadas.

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

6.3. DESENVOLVIMENTOS FUTUROS

A identificação das causas de falhas que ocorrem nas obras e das respetivas medidas de prevenção
possibilitam o desenvolvimento acentuado do setor da construção seja em termos de qualidade, de custos
ou de prazos das obras. Assim, a investigação neste âmbito deve ser reforçada com casos de estudo de
outros tipos de obras onde o foco da investigação pode variar desde a execução de tarefas a atrasos em
determinadas tarefas ou na obra em geral. Esta abrangência a diferentes tipos de obras e a diferentes
tipos de falhas permite um diagnóstico do setor e tomar ações que levem a uma melhoria geral deste.

Relativamente ao programa informático SICCO, embora este já seja eficaz em certos aspetos,
especialmente no que se refere ao controlo de conformidade, ainda existem bastantes funcionalidades a
adicionar e a melhorar. Através da análise SWOT realizada identificam-se várias funcionalidades e
melhorias a introduzir no programa, das quais se passam a enunciar as mais importantes:
 Criação de atas de reunião
 Introdução de outros tipos de documentos de controlo de conformidade (aprovação de materiais,
controlo de recepção de materiais, etc.)
 Introdução de controlo de planeamento e controlo financeiro
 Criação de relatórios mensais
 Edição de relatórios diários de obra
 Funcionamento sem necessidade de internet
 Extração de documentos via PDF
 Criação de templates de documentos pré-definidos de maneira a não ter que se repetir
constantemente o preenchimento de certos documentos
 Edição de documentos, por exemplo no que se refere à alteração de títulos de FCC para facilitar
a sua identificação ou a possibilidade de remover determinados campos preenchidos dos quais
não existe essa possibilidade e obriga a ter que se eliminar um documento e voltar a fazê-lo

Com estas adições e melhorias o programa ganha uma maior capacidade de resposta às necessidades da
fiscalização e tem a possibilidade de se tornar uma ferramenta de referência nesta área.

A utilização desta aplicação em diferentes obras tem de continuar a ser realizada tal como se tem feito
até ao momento. A integração do programa numa obra onde os vários intervenientes o utilizem seria
uma grande mais valia de maneira a se poderem testar não só as funcionalidades relativas ao controlo
de conformidade mas também relativas à comunicação entre intervenientes.

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

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[36] Bessa, Rui . "Desenvolvimento e Implementação de um Sistema de Controlo da Conformidade


numa Aplicação Web" . Dissertação de Mestrado . FEUP. (2016)

[37] Oliveira Marinho, João . “Utilização de Software de Controlo de Conformidade” . Dissertação de


Mestrado . FEUP . (2017)

[38] Ribeiro, Tiago . “Controlo da Qualidade com Recurso a Meios Informáticos” . Dissertação de
Mestrado . FEUP . (2017)

[39] Soutinho, Filipa . “A ética no setor da construção civil - o concelho de Viseu” . Dissertação de
Mestrado . ISCA . (2012)

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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

ANEXO 1
FICHAS DE NÃO CONFORMIDADE PREENCHIDAS
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
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Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

ANEXO 2
EXEMPLOS DE FICHAS DE CONTROLO DE CONFORMIDADE PREENCHIDAS
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

Para visualizar as restantes FCC que foram preenchidas no desenvolvimento deste trabalho visite o
seguinte link: http://app.sicco-supervision.goupbuzz.com
1- Após o login, na página inicial, selecionar o projeto Quarteirão D. João I
2- No menu apresentado do lado esquerdo do ecrã selecionar a opção “Lista de Assuntos” e
depois a opção “Fichas de Controlo de Conformidade”

Com o login a seguir apresentado pode aceder à aplicação informática utilizada como apoio no controlo
de qualidade em obra e verificar as funcionalidades que este atuamente suporta.

Username: luisbarroso
Password: 102030
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

ANEXO 3
EXEMPLO DE RELATÓRIO DIÁRIO DE OBRA
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico
Não Conformidades na Construção: Identificação com base na elaboração de árvores de diagnóstico

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