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REPUBLICA DE MOCAMBIQUE TRIBUNAL ADMENISTRATIV! PRIMEIRA SECCAO Process n.°03/2018 — 1. ACORDAO Nef? [2018 Acordam, em SessSo de julgamento, na Primeira Seccio do Tribunal Administrativo: ERNESTO SEVERIANO MANHICA, com os demais sinais de identificagaio nos autos do processo & margem indicado, veio perante esta jurisdicgio administrativa, interpor recurso contencioso contra o despacho de demisso do aparelho do Estado, datado de 09/03/2017, da Ministra da Satide, que Ihe foi comunicado pelo Departamento de Recursos Humanos do Hospital Central de Maputo, através de Nota datada de 28/04/2017. Alega, fundamentalmente, o facto de 0 despacho acima citado padecer do vicio de falta de fundamentacao de facto e de direito, violando-se, deste modo, “os requisitos da validade do acto administrativo da Lei n.? 4/2003 no seu artigo 5, bem como 0 Decreto n.° 30/2001, de15 de Outubro, no seu artigo 15”. Por outro lado, ha “‘violagdo da lei na medida em que cita 0 artigo 80 ¢ 90 do EGFAE”, sendo “contraditério” pois ele no retine requisitos para a Demissdo agravado pela situacao de que o art 90 do supracitado diploma refere-se a atenuantes que o beneficia”, O despacho ¢ ilegal devendo ser declarado nulo. Deste modo, encontra fundamento do recurso contencioso ao abrigo do disposto nas alfneas c) e d) do artigo 34 da Lei n° 7/2014, de 28 de Fevereiro. Termina, requerendo a declaracao de nulidade do referido despacho. No mais, déo-se, aqui, por integralmente reproduzidas, para tocios os efeitos legais, as alegaces constantes da peticao de folhas 2 a 6 dos autos. Juntou documentos de folhas 7 a 37 dos autos. Citada a entidade recorrida, com a indicagSo clara de as contra-alegacées serem subscritas pelo Mandatdrio Judicial, que deve ser constituido, em cumprimento do disposto no n.° 1 do artigo 8 da Lei n.° 7/2014, de 28 de Fevereiro, sob pena de cominag6es legais, ndo respondeu. Por insisténcia da citacéio, expirou 0 prazo, sé tendo respondido depois de os autos terem sido remetidos a vista do Ministério Publico, tendo sido ordenado o seu desentranhamento por intempestividade da apresentacéio, bem como a falta de constituigdo de advogado, nos termos acima referidos (vide folhas 57 a 61 e 66 dos autos). Em sede de visto, o Ministério Publico promoveu a procedéncia do recurso através da anulabilidade do acto administrativo, nos termos do disposto no artigo 131 da Lei n.° 14/2011, de 10 de Agosto, tendo por fundamento a violagéo do prazo de instauragdo do processo disciplinar, na medida em que, a nota de acusacao é datada de 13 de Novembro de 2016 eo despacho recorrido foi exarado no dia 9 de Marco de 2017, passados cerca de 120 dias (vide folhas 62 dos autos). Colhidos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir. O impetrante iniciou a causa dando entrada da sua peti¢go no Tribunal Administrativo da Provincia de Maputo, no dia 20 de Julho de 2017, 3 conforme carimbo de entrada da Secretaria do referido tribunal, aposta a folhas 3 dos autos. Na referida instancia desta jurisdi¢do administrativa foram praticados actos jurisdicionais que culminaram com 0 Acérdao n.° 30/2017, de 24 de Outubro em que o colectivo de Juizes declarou incompetente, em razio do autor do acto — membro do Consetho de Ministros -, cuja competéncia 6, de lei, da 1.* Seccdo do Tribunal Administrative, ao abrigo do disposto na alinea a) do artigo 24/2013, de 1 de Novembro, alterada e reproduzida pela Lei n° 7/2015, de 6 de Outubro, tendo as partes sido devidamente notificadas (vide folhas 40 a 53 dos autos). Consequentemente, o processo foi oficiosamente remetido e distribuido nesta Seco (vide folhas 54 a 56 dos autos). Por despacho do juiz relator nesta instancia a entidade recorrida, autora do acto administrativo, Ministra da Satide, foi citada endo respondeu. Por insisténcia da citacdo, também nao respondeu no prazo que estabelecido (folhas 57 a 61 dos autos), tendo, mais tarde, dado entrada das contra- alegacées que, por intempestividade, foram desentranhadas do processo (folhas 63 a 66 verso). A falta de contestacdo tem como cominagao legal a confisstio dos factos articulados pelo recorrente, excepto se tais alegagdes estiverem em contradiggéo com os documentos que constituem o processo administrativo instrutor. No caso sub judice 0 impetrante refere a falta de fundamentaggo do despacho recorrido que the foi comunicado pelo Departamento de Recurso Humanos do Hospital Central de Maputo. Compulsados os autos, o referido documento da comunicago do despacho encontra-se a folhas 8 e da transcri¢o despacho que aqui se repete, consta apenas 0 seguinte: “Aplique-se com a pena de Demissio, nos termos dos artigos 87 e 90 do EGFAE”. Tem razio o impetrante quando ataca a decisio por carecer de fundamento de facto e de direito, pois nos termos do artigo 87 a pena de demissao é aplicada em diversos casos (n.°1, alineas a) e b) en.° 2, alineas a), b), ©), d) ee) que no caso nao vem especificado. 0 artigo 90 estabelece © regime das circunstancias atenuantes que, mesmo beneficiando ao arguido, nao indica quais delas se aplicou ao ora recorrente. Com efeito, a fundamentacao dos actos administrativos e particularmente 0s que imponham sang¢6es, constitui dever da actuagao da Administragao. Publica, sendo expressa através de resumida exposicao dos fundamentos de facto e de direito, podendo constituir uma simples declaracdo de concordancia com os fundamentos de anteriores pareceres, informacées ou propostas que serdo parte integrante do respectivo acto, conforme o disposto nos artigos 14, 121, n."1, alinea a), in fine, e 122, n° 1, todos da Let n° 14/2011, de 10 de Agosto (Lei do Procedimento Administrativo). A falta de fundamentacao é um vicio de violacéio tanto da forma como da lei, conduzindo & invalidade do acto e fulminada com a nulidade, nos termos do disposto no artigo 129, n.°s 1 e 2, alinea b) da mesma Lei do Procedimento Administrative), bem como o disposto nas alineas c) ¢ d), do artigo 34, respectivamente e artigo 35, n.° 1, ambos da Lei n.° 7/2014, de 28 de Fevereiro, Quanto & violago do prazo de instrucdo do processo disciplinar, suscitado pelo Ministério Puiblico, uma vez que ngo consta das alegacées do impetrante, como fundamento do recurso interposto e, por nado conduzir: 3 nulidade, mas, sim, & anulabilidade, conforme bem se referiu o Dignissimo Representante, em sede de vista, 0 tribunal no pode, oficiosamente, conhecer sob pena de extravasar os seus limites. Relativamente a falta de constituigo de advogado, por parte da entidade recorrida, a sua apreciac§o fica prejudicada pela intempestividade de apresentagdo da resposta (contestagdo) & citagdo, facto que ditou o seu desentranhamento, ficando sem efeito a defesa, o mesmo que consta da cominacio legal, nos termos da parte final do artigo 33.° do Cédigo de Processo Civil, aplicdvel por forga do disposto no artigo 2 da Lei n2 7/204, de 28 de Fevereiro. ow Pelo exposto, acordam os Juizes Conselheiros desta Seco em julgar procedente o recurso interposto por Ernesto Severiano Manhica, por provados os vicios de forma, por falta de fundamentacdo e de violacéio da lei, do despacho da Ministra da Satide que demite o impetrante do aparelho do Estado, datado de 09/03/2017, declarando-o nulo e de nenhum efeito, nos termos do disposto no artigo 129, n.°s 1 e 2, alinea b), da Lei n.’ 14/2011, de 10 de Agosto, conjugado com 0 disposto nas alineas ) ed) do artigo 34 en.°1 do artigo 35, ambos da Lei n.° 7/2014, de 28 de Fevereiro. Sem custas, por delas estar isento nos termos da lei. Registe-se e notifique-se, com a possibilidade de interposi¢So de recurso ao Plendrio do Tribunal Administrativo, no prazo de 30 (trinta) dias, a0 abrigo do disposto nos artigos 163 e seguintes da Lei n.° 7/2014, de 28 de Fevereiro. Maputo, 03 de Outubro de 2018. Os Juiz elheiros: José Luis Maria Pereira Cardoso — Relator 6 — Paulo Daniel Comoane Pelo Ministério Publico, Fui Presente ‘ii. ‘ajbo Caetano Mucobora, Procurador-Geral Adjunto

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