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REPUBLICA DE MOCAMBIQUE TRIBUNAL ADMINISTRATIVO PRIMEIRA SECCAO Processo n.° 178/2017 - 1." ACORDAO N.%4 [2019 Acordam, em sessio de julgamento, na Primeira Secggo do Tribunal Administrativo: LUCIA CONSTANCIA PENE, recorrente, com os demais elementos de identificagSo_constantes dos autos do processo & margem indicada, inconformada com a deciséo proferida através do Despacho n° 03/MJCR/2017, de 29 de Setembro, do Ministro da Justice, Assuntos Constitucionais e Religiosos, ora recorrido, veio, ao abrigo do disposto no artigo 34, alineas c) e d), da Lei n.° 7/2014, de 28 de Fevereiro, interpor, perante esta instancia da jurisdicéo administrativa, o presente recurso contencioso para declaragao de nutidade do referido despacho, louvando-se nos factos e fundamentos seguintes: * E funcionaria do Ministério da Justica, Assuntos Constitucionais e Religiosos, com 35 anos de efectividade, afecta ao Cofre Geral dos Registos e Notariado, onde exerce a funcSo de Secretaria Executiva; No dia 14 de Setembro de 2017, foi notificada da “Nota de Culpa” que a acusa de ter violado o dever previsto no artigo 39, n.”" 4 € 1%, do EGFAE, pelo facto de ter praticado o descaminho de cheques; Sob alegacdio de a mesma ter facilitado 0 extravio freudulento de cheques no valor total de 6.256.773,53Mt (seis milhGes, duzentos e cinquenta e seis mil e setecentos e setenta e trés meticais e cinquenta e trés centavos), o recorrido instauroulhe um processo disciplinar, que culminou com a aplicado da pena de demissdo, com fundamento no disposte no artigo 87, 124, alinea b) en. 2, alinea a), do Estatuto Geral des Funciondrios e Agentes do Estado (EGFAE), aprovado pela Lei n.° 14/2009, de 17 de Marco, conjugado com o artigo 142, n° 1, alinea b) e, n° 2, alinea a), do Regulamento do Estatuto Geral dos Funciondrios e Agentes do Estado (REGFAE), aprovado pelo Decreto n.° 62/2009, de 8 de Setembro; Desconhece a origem e o nome do titular da conta bancaria COFG. R. NOTA, sediada no Banco Ecobank que, de acordo com a “Nota de Culpa”, serviu para receber depdsitos de cheques provindos de valores cobrados pelas diversas Conservatérias e Cartdrios Notariais do pats; Nunca foi advertida sobre irregularidades resultantes de extravio de cheques ou desvio de fundos pertencentes ao Cofre Geral dos Registos ¢ Notariado (CGRN), porém depositados em contas bancérias estranhas a0 Ministério da Justigas Quando recebesse cheques emitidos pelas delegacdes do CGRN, procedia ao devide endosso, com a indicago da conta bancaria destinatéria, remetia-os para 0 sector de Contabilidade para efeitos de registo e contabilizacio; Para efeitos de prova, os cheques recebidos eram imediatemente digitalizados e registados no respectivo livro “Guia Modelo 1”; Jamais poderia imaginar que alguém pudesse rasurar ou modificar os ndmeros de contas para as quais os cheques eramn endossados; ( pa . * No CGRN nao existem mecanismos de deteccdo de desvio de fundos ou extravio de cheques, salvo nos casos de denUncias ou auditorias; + Realizada uma acco de Inspecco ao CGRN, a mesma velo a concluir que nao existe um mecanismo eficaz de controlo interno de entradas ¢ saidas de receitas provenientes das delegagdes do CGRN; * Nesses termos, & recorrente ndo se pode imputar 2 responsabitidade decorrente das referidas fragilidades do sistema de controlo interno, bem assim pelo extravio das cheques em causa; * Os factos incriminatérios que sobre si pesam, constantes da “Nota de Culpa”, so falsos e visam denegrir a sua imagem, prejudicar o exercicio da sua funggo profissional e, injustamente, demitila do respectivo cargo de gestora e Secretéria Executiva do CGRN; «Em violagéo ao disposto no n.° 2 do artigo 106 do EGFAE ¢, n.* 2 do artigo 166 do REGFAE, na “Nota de Acusacdo”, assim como na Decisdo, ndo foram, claramente, indicadas as infraccGes e as datas em que as mesmas foram praticadas; * Ao contratio do que dispSe o n.°3 do artigo 111 do EGFAE en? 3 do artigo 175 do REGFAE, a deciséo proferida pelo recorrido, através do referido Despacho, n3o foi fundamentada, 0 que constitui fundamento do presente recurso contencioso, nos termos do disposto na alinea c) do artigo 34 da Lei n.? 7/2014, de 28 de Fevereiro; * No praticou as infracgGes aludidas na “Nota de Acusagéo”, ndo violou nenhuma norma juridica e nao participou no referido extravio de cheques e desvio de fundos do Estado; Conclui que, no faltou ao cumprimento dos seus deveres especiais, previstos hos n.* 4 e 11 do artigo 39 do EGFAE, aprovado pela Lei n.* 14/2009, de 17 de 3 ay ae, t f Marco, devendo-se ser anulado o despacho do recorrido, por ser injuste e ilegal; Termina, no pedido, requerendo o provimento do presente recurso contencioso e, por conseguinte, a declaracao de nulidade do Despacho n." o3/MJCR/2017, de 29 de Setembro, do Ministro da Justica, Assuntos Constitucionais e Religiosos. : Juntou os documentos constantes de folhas 2 a 29, dos presentes autos. Regularmente citado, 0 recorride, Ministro da Justica, Assuntos Constitucionais ¢ Religiosos, respondeu nos termos seguintes: + Arecorrente foi punida com a pena de demissdo, nos termos do disposto na alinea b) do n.* te alinea a) do n." 2 do artigo 87 do EGFAE, conjugado com a alfnea b) do n.° te alinea a) do n.” 2 do artigo 141 do REGFAE, por se ter provado que cometeu as infraccdes constantes da “Nota de Culpa”; « A data dos factos, a recorrente exercia a fungdo de Secretéria Executiva do Cofre Geral dos Registos e Notariado, sendo, portanto, verdade tudo quanto tenha aludide nos seus articulados 1a 5 do presente recurso contencioso; + Todavia, no so legitimas as alegagdes da recorrente, constantes do articulado 6 do recurso, segundos quals nao the é imputavel as infraccées de que € acusada, pois, no exercicio da sua fungo “demonstrou incompeténcia _profissional grave, designadamente —_ignorancia indesculpdvel, inaptidéo e erro indesculpdvel, punivel nos termos do disposto na alinea b) do n." 1 do artigo 87 do EGFAE; * Sendo Secretéria Executiva, recorrente competia, ao abrigo do disposto no artigo 8 do Decreto 23/89, de 5 de Agosto, e agindo nessa qualidade, assegurar, de forma responsdvel, com profissionalismo, zelo, dedicacéo e rigor, a gest8o criteriosa e segura dos fundos do CGRN, 0 que nao 0 fez; Com recurso ao Sistema Integrado de Gestao Administrativa (SIGA), a recorrente deu conformidade dos cheques, no valor total de 6.256.773,53Mt, sem que tivesse, em sua posse, o competente documento de suporte, tendo, esse facto, contribuido para a pratice de descaminho e extravio dos cheques em causa, numa clara violagSo dos procedimentos instrugées internas; Nestes termos, a recorrente violou o seu dever especial de zelar pela conservaciio e mantitengdo dos bens do Estado, bem como o de dedicar a0 Servigo a sua inteligéncia e aptidao no exercicio das suas fungdes, nos termos do disposto no artigo 39, n.°s 4 e 11, do EGFAE, aprovado pela Lei n° 14/2009, de 17 de Margo; Outrossim, a mesma (recorrente) “ndo acompanhou o circuito do movimento de entrada e saida dos referidos cheques, através dos registos no livro de protocolo e de conciliagées bancdrias”, ficando evidente a sua “incompeténcia profissional grave, ignordncia indesculpdvel, inaptiddo e erro indesculpdve”; Com 0 seu comportamento, a recorrente colocou em causa a relagdo laboral com o Estado, em virtude da gravidade dos factos, bem como a impossibilidade moral e material de manuteng3o do seu vinculo no Aparelho do Estado, termos em que Ihe foi instaurado 0 aludide proceso disciplinar que culminou com a sua demisso, com o fundamento no disposto no n.° 1 do artigo 78 do EGFAE, conjugado com o n.°1 do artigo 133 do REGFAE; Nao so atendivels as alegacées constantes do articulado 6 do recurso, em virtude de que se a recorrente tivesse cumprido as suas obrigacées de Gestora de Fundos, nomeadamente, fazendo a conciliacdo de contas do CGRN, conferindo os valores dos cheques registados e os depositados na conta bancdria do CGRN, o extravio dos mesmos no teria acontecido; igualmente, no séo atendiveis as alegagdes da recorrente, constantes nos articulados 6 2 17 do recurso, porquanto a tinica nulidade Tasuprivel, em processo disciplinar, é a imposstbilidade de defesa do arguido por ndo Ihe ter sido dado conhecimento da “Nota de Acusagao” e do prazo de que dispunha para exercer 0 seu direito de defesa, nos termos do disposto no n.°1 do artigo 108 do EGFAE, o que ndo foi o caso; Conclui, que se justifica a manutengdo do seu posicionamento, relativo & punigéo da recorrente com a sancSo disciplinar de demisséo, por se ter provado que a mesma violou os procedimentos de gestdo financeira dos fundos ptiblicos, demonstrou incompeténcia profissional grave, inaptidao e erro. indesculpavel, facto que permitiu que o valor monetério de 6.256.773,53Mt fosse fraudulentamente extraviado; Termina, requerendo que o presente recurso seja julgado improcedente e, consequentemente, condenada a recorrente ao pagamento de custas. Os autos foram continuados com vista inicial a0 Ministério PUblico, tendo o Dignfssimo Magistrado promovido, nos termos seguintes: “Ndo se vislumbram quaisquer questées que obstem ao prosseguimento dos autos” No prosseguimento, foi a recorrente notificada para apresentar alegagées facultativas, tendo-o feito, em suma, articulando os mesmos factos e fundamentos que constam das alegacGes do recurso, centrados em questées de forma da “Nota de Acusagdo”, contrariamente ao que dispde 0 n.° 3 do artigo 81, da Lein.? 7/2014, de 28 de Fevereiro, segundo o qual, nas alegacdes facultativas, “o recorrente pode alegar novos fundamentos do seu pedido, desde que se trate de conhecimento superveniente, podendo, ainda, os restringir expressamente”’. Arrolou as alegagdes constantes de folhas 59 a 67, dos autos, que se dao por integralmente reproduzidas, para todos os efeitos legais. bas referidas alegagées, fol o recorrido notificado para apresentar contra alegagGes, o que o fez, em suma, nos termos seguintes: M5 O presente recurso deve ser rejeitado, visto que a recorrente, baseando-se em expedientes dilatérios, pretende excluirse das _respectivas responsabilidades, pelo que se mostra irrazodvel o seu pedido de declaraggo de nulidade do despacho recorrido; O despacho recorrido resulta do proceso disciplinar instaurado &fecorrente, por ter violado os seus deveres e pelas circunstancias previstas no artigo 92 do EGFAE, tendo-Ihe sido aplicada a san¢ao prevista na alinea b) do n.°1do artigo 87 do EGFAE; Conclui que, “a decisdo recorrida no merece reparo, pois, resultou da livre apreciagiio € valoragéo das provas, segundo critérios praticos e realistes ¢ légico-intuitivos colhidos, quer da audigéo da declarante, quer da prova documental junto aos autos do processo disciplinar”. Termina, requerendo que o recurso seja jugado improcedente e, consequentemente, a confirmagao do despacho ora recorrido. No visto final, 0 Dignissimo Magistrado do Ministério PUblico pronunciouse © promoveu nos termos seguintes: 1. Analisados os autos, verifica-se que 0 proceso disciplinar instaurado contra @ arguida, ora recorrente, obedeceu todas as formalidades legais, tendo o processo sido tramitado nas termos do disposto no artigo 109 do Estatuto Geral dos Funciondrios e Agentes do Estado (EGFAE), aprovado pela Lei n.® 14/2009, de 17 de Margo, vigente na altura da ocorréncia dos factos, ndo se podendo pér em causa; 2. Outrossim, em sede do processe disciplinar, ficou provado que a arguida facilitou e permitiu que o montante de 6,256,773.53MT (seis milhées, duzentos e cinquenta e seis mil, setecentos e setenta e trés meticais e cinquenta e trés centavos) fosse, fraudulentamente, desviado, conduta que caracteriza @ violagiio dos deveres especiais dos funciondrios do Estado, previsto nos n.*s 4 e 11 do artigo 39 do EGFAE, cuja cominagdo é a expulsao, nos termos do disposto na alinea i) do artigo 88 do EGFAE, tendo sido aplicada a pena de demissdo nos termos do disposto na alineab) s te alinea a) do n.° 2 do artigo 87 do EGFAE, pena menos gravosa, néo havendo, por isso, fundamento para a declaragéo de nulidade do despacho recorrido; 3. Pelo exposto, 0 Ministério Puiblico promove a improcedéncia do recurso, por faita de fundamento legal. Colhidos os vistos legais, cumpre, agora, apreciar e decidir. Compete a Primeira Secc3o do Contencioso Administrativo, instancia, conhecer, de entre outros, os recursos dos actos administrativos ou em matéria administrativa praticados por membros do Conselho de Ministros, nos termos do disposto na alinea a) do artigo 28, conjugado coma alfnea b) do n.° 2 do artigo 3 da Lei n.? 24/2013, de 1 de Novembro, alterada e republicada pela Lei n.° 7/2015, de 6 de Outubro. em primeira © presente recurso contencioso tem como objecto a deciséo proferida através do Despacho n.° 03/MJCR/2017, de 29 de Setembro, de Ministro da Justisa, Assuntos Constitucionais ¢ Religiosos, sendo este, portanto, membro do Consetho de Ministros, nos termos do disposto na parte final do n° 2 do artigo 200 da Constituicdo da Republica de Mocambique (CRM). Assim, dessa preposicdo, indubitavelmente, se afere que o presente tribunal & competente, o recurso é préprio € nao ocorrem excepg6es ou nulidades que obstem 9 seu conhecimento. Na presente lide, dé-se por provado que a recorrente mantinha vinculo laboral com o Estado, estando afecta ao Cofre Geral dos Registos e Notariado, onde exercia a fungSo de Secretaria Executiva. Nao obstante a Ordem de Servico n." 1!2016, de 30 de Junho (vid. fls. 74.377, dos autos do Processo Disciplinar, em apenso), referir, no cltimo parégrafo que, & recorrente competiathe, de entre outras, a responsabilidade de proceder © controlo bancério, na presente lide dé-se, igualmente, por provado que a responsabilidade da recorrente se circunscrevia na realizacéo de servigos burocraticos (secretariado), nos termos do disposto novartigo & do referido Regulamento do CGRN. ‘ Tanto & assim que, nos termos do disposto no artigo 3 do Regulamento do Cofre Geral dos Registos e Notariado, aprovado pelo Decreto n.* 23/89, de 5 de Agosto, a gestdo do CGRN cabe a um Conselho Administrative, composto pelo respectivo presidente, dois vogais e um secretério sem direito de voto, portanto, sen paderes de decisdo. © aludido processo disciplinar fol instaurado & recorrente na sequéncia das recomendacées constantes do Relatério de uma actividade de inspeccao, realizada pela Inspeccfo da Justia, do Ministério da Justica, Assuntos Constitucionais € Religiosos, como consequéncia de uma dentincia andnima de desvio de fundos do Estado, provenientes de receitas cobradas pelos servicos de Registo e Notariado (vid. folhas 15 a 22, do “Relatério de Inspeccéio”, apenso aos presentes autos). De acordo com 0 artigo 13 do Regulamento do Cofre Geral dos Registos ¢ Notariado, aprovado pelo Decreto n.* 23/89, de 5 de Agosto, 0 valor do saldo anual (parte nao utilizada das autoriza6es anuais), bern como os valores das receitas excedentes, cobrados pelas delegagdes do CGRN, devem ser, por estas delegacies, depositados na conta bancéria do CGRN, no fim de cada ano eno fim de cada més, respectivamente. Nesses termos, tem-se que as delegacdes do CGRN no sé so responsaveis pela cobranca e arrecadacao de receitas, como também 0 so pela realizagdo de depésitos na conta bancaria do CGRN. Portanto, no se pode compreender que as delegagdes do CGRN, agindo & margem do disposto na lei supramencionada, possam, igualmente, emitir cheques de valores postos a sua guarda ou comiss&o. De facto, as receitas cobradas pelas delegag6es do CGRN so passiveis de constituir objecto de gestao pelo Conselho Administrative do CGRN, apenas se tiverem sido depositadas na conta bancaria sob gestéo desta. No procede a alegacao do recorrido, segundo a qual se a recorrente tivesse fazendo a conciliagéio de contas de CGRN, conferindo os valores dos cheques registados e os depositados na canta bancéria do CGRN, 0 extravio dos mesmos nao teria acontecido. Na verdade tais funces sdo, na sua origem, de natureza contabilistica financeira, adstritas, portanto, ao sector ou departamento de contabilidade do Cofre Geral dos Registos e Notariado (CGRN). Compete ao departamento financeiro orientar e controlar a execugao dos planos financeiros (orgamental, de divisas, de crédito e de tesouraria) a seu cargo, fazer a contabilizagSo da execu¢do orcamental, tanto da despesa, assim como da receita, a seu cargo, elaborar e manter actualizados os registos do patrimdnio do Estado, coordenando e dando instru¢des a todas as estruturas do seu dmbito para a realizag&o desta tarefa, nos termos do disposto nos artigos 3.°, n.°1, alfnea b) e, 4.°, alineas d) e f), ambos do Decreto n° 13/78, de 20 de Julho. No caso sub judice, tem-se que tais competéncias (poderes de direccSo, controlo e supervisSo financeira) esto adstritas ao Presidente do Conselho Administrativo a quem, igualmente, compete certificar-se da legalidade dos actos que resultem no recebimento de numerério, realizagSo de despesa, criagSo ou extingdo de direitos e de obriga6es, proceder conferéncia do numerario, valores e outros bens sob responsabilidade do ordenador de despesas, bem como autorizar a emissdo de Ordens de Pagamento, nos termos do disposto no artigo 26 do Diploma Ministerial n.° 181/2073, de 14 de Outubro. Tais competéncias (obrigacdes) esto, ainda, adstritas aos deveres especificos do Presidente do Conselho Administrative do CGRN, previstos nos n.°5 1 e 2, alineas b) e c), do artigo 41 do EGFAE. Ao contrario da administracao que é uma actividade de direccao, planificaggo e controlo para o alcance dos objectives macro institucionais, a gestao & essencialmente executiva, sendo que, por isso, 4 recorrente, por exercer 3 fungi de Secretaria Executiva do CGRN, Ihe competia a responsabilidade de executar as tarefas buracraticas (actos de secretaria), nos termos dodisposto 10, nos artigos 8 e 3, in fine, ambos do Regulamento do CGRN, aprovado pelo Decreto n.° 23/89, de 5 de Agosto. Compulsados os autos do referido processo disciplinar (n.° 04/2017), em apenso ao presente recurso, constata-se que foram emitidos e registados cheques no valor total de 7.461.960,25Mts (vid. folhas 19, dos autos), porém, no foram depositados na conta do CGRN nas referidas datas de 10 de Marco, 43 de Marco, 16 de Margo, 8 de Maio, 14 de Junho, 16 de Junho, 21 de Junho, 40 de Julho, 26 de Julho e 9 de Agosto, nos termos em que consta do Relatério de Inspeccao (vid. folhas 15 a 22, dos autos). Entretanto, 0 Relatério de Inspeccao peca por centrarse em actividades de gesto realizadas em datas diversas das que o Regulamento do CGRN alude para se proceder 0 depésito de valores de receitas cobradas pelas delegagoes do CGRN, designadamente o fim de cada més, entendendo-se os dias 30 ou 31, consoante o caso, ou o fim de ano (31 de Dezembro). © facto de os cheques ndo terem sido depositados nas datas referidas no Relatério de Inspecedo, por sino configura “fraude”, nos termos em que se alude na “Conclusao” (fls. 19, do Processo Disciplinar). O Relatério refere, ainda, que os referidos cheques eram depositados na conta COF. G. R. NOTA, sediada no Banco Ecobank, tendo como co- assinante um certo individuo de nome Imamo Abdul Satar (vid. foihas 19, §2 e 3, do “Relatério de Inspeccao”). Todavia, dé-se por provado que, tal alegagdo no pode consubstanciar froude, nos termos em que se alude no referido Relatério de InspeccSo, porquanto os cheques eram nominativos, isto é, emitidos a ordem do Cofre Geral dos Registos ¢ Notariado, conforme se vislumbra nos autos. Na hipétese levantada pelos Inspectores da Justica, no sentido de que os cheques foram extraviados para beneficiar ilegalmente a recorrente, seria necessirio que 0 nome desta constasse dos referidos cheques ou que estes Loe ws tivessem sido endossados a recorrente, 0 que nao sucedeu. ¢ Py Mais, se a pretensdo da recorrente consistisse no extravio dos aludidos cheques, no se pode compreender, por ser irracional, que a mesma tivesse feito o competente registo no Livro de entradas de expediente, para de seguida lograr 0 alegado extravio. Na verdade, competiia ao referido Banco Ecobank, no momento em que se realiza 0 depésito de cheques, aferir se o nome do benefictério do cheque confere com o do titular da conta visada. Por ora, importa aduzir que o despacho recorrido carece de fundamentacao, pois, refere que o comportamento da recorrente permitiu que fosse fraudulentamente extraviado 0 montante de 6.256.773,53Mt (vid. folhas 26, dos autos), ao contrario de 7.461.960,25Mts, referido nos autos do Processo Disciplinar em apenso (vid. folhas 98, dos autos do Processo Disciplinar). Portanto, nos autos, no se vislumbram provas, ainda que virossimeis, da alegada preteric3o dos deveres especiais previstos nos n.°s 4 11 do artigo 39 do EGFAE, aprovado pela Lei n.° 14/2009, de 17 de Margo, nos termos em que o recorrido aduz. Por todo o exposto, os Juizes Conselheiros deste tribunal, deliberam, em primeira instncia, dar provimento 0 recurso contencioso interposto por LUCIA CONSTANCIA PENE, por provado e, consequentemente, dectarar nula e de nenhum efeito juridico 2 decisdo proferida através do Despacho n° 03/MJCR/2017, de 29 de Setembro, do Ministro da Justica, Assuntos Constitucionais e Religiosos, por estar eivado de vicios de violagdo da lei e falta de fundamento, nos termos do disposto nos artigos 129, n.° 2, alinea b) &, 130, 1.4, ambos da Lei n.° 14/2011, de 10 de Agosto, aplicdvel por forca do disposto no artigo 2 da Lei n.° 7/2014, de 28 de Fevereiro. Sem custas, a0 abrigo do disposto no n.°1 do artigo 2.° do Cédigo de Custas Judiciais (CC), aplicdvel por forca do disposto no artigo 2 da Lei n.° 7/2014, de 28 de Fevereiro. Registe-se e notifique-se, com a mencio da possibilidade de interposiggo de recurso de apelacio, em matéria de direito, junto do Plendrio do Tribunal Administrativo, no prazo de 30 (trinta) dias, 20 abrigo do disposto nos artigos 163 & seguintes da Lei n.° 7/2014, de 28 de Fevereiro, conjugado com 0 disposto no n.°2 do artigo 40 da Lein.* 24/2013, de 1 de Novembro, alterada ¢ republicada pela Lei n.* 7/2015, de 6 de Outubro. Maputo, 23 de Abril de 2019. Os Juizes- Capselheiros: José Luts Maria Pereira Cardoso - Relator Paulo Daniel Comoane vl a gavid Sint Sibambo. Pelo Ministério Publico, Fui presente “ey 0 Caetand Mucébora, Pfocurador-Geral Adjunto

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